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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INVESTIGAÇÃO DAS PRÁTICAS DE AUTOMEDICAÇÃO EM PACIENTES CRÔNICOS SOB TERAPIA MEDICAMENTOSA CHRISTINA ZACKIEWICZ Profa. Dra. Maria Celi Scalon Prof. Dr. Miguel Murat Vasconcellos Prof. Dr. Alberto Lopes Najar (orientador) Rio de Janeiro 2003

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

INVESTIGAÇÃO DAS PRÁTICAS DE AUTOMEDICAÇÃO EM PACIENTES

CRÔNICOS SOB TERAPIA MEDICAMENTOSA

CHRISTINA ZACKIEWICZ

Profa. Dra. Maria Celi Scalon

Prof. Dr. Miguel Murat Vasconcellos

Prof. Dr. Alberto Lopes Najar (orientador)

Rio de Janeiro

2003

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, pelo incondicional. Ao meu irmão

Mauro, pelas valiosas e variadas contribuições.

Ao Alberto, pela oportunidade de orientação, por sua dedicação irrestrita, e acima de

tudo, pelo amigo que é.

Aos Professores Takumi Iguchi e José de Azevedo Lozana, do Serviço de

Bioestatística da ENSP, pelo auxílio prestado na elaboração da amostra e pelas

discussões metodológicas.

À Liane, pelo apoio no trabalho de campo, pelo incentivo e amizade.

Aos professores Luis David Castiel e Brani Rozemberg, pela participação na

banca de qualificação, sugestões e discussões.

Ao pessoal da secretaria do DCS, e também à Dona Geralda, pela disposição e

boa vontade com que conduzem seu trabalho e por diversos auxílios prestados.

A todos do Serviço de Farmácia do IPEC, pela amizade, pelas dicas e pelo

auxílio no trabalho de campo e, em especial, ao José Liporage (Zé), pelo irrestrito apoio

durante a realização do trabalho de campo e pela habitual presteza.

Aos pacientes que participaram desta pesquisa, pela disponibilização de tempo e

pelo compartilhar de suas vidas.

Também à FIOCRUZ, pelo apoio financeiro concedido.

Aos meus colegas de mestrado, pelo caminho percorrido juntos e pelo que nos

une: Andréa, Christiane, Danielle, Gabriel, Michel, Sônia, Vanessa e Violeta.

Ao pessoal da equipe de pesquisa e dos seminários, pelo companheirismo e

apoio mútuo.

E finalmente, aos meus amigos queridos, que perto ou longe, estão sempre ao

redor.

i

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RESUMO

Este trabalho é um estudo exploratório sobre as práticas de automedicação de

um grupo de pacientes com doenças crônicas sob terapia medicamentosa assistido em

unidade hospitalar pertencente à Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), durante o

primeiro semestre de 2002. Sobre automedicação, compreendeu-se a utilização de

substâncias ou recursos para combater uma dor ou uma doença, sem que tenham sido

indicados por um profissional de saúde habilitado para tanto. Realizou-se uma

caracterização socioeconômica do grupo, bem como avaliação da percepção do estado

de saúde e das dificuldades enfrentadas no convívio com a doença e com o tratamento.

Como instrumento de pesquisa elaborou-se um questionário, o qual foi aplicado a uma

amostra extraída da população de interesse. A partir da exploração dos dados coletados,

discutiu-se os fatores que mais auxiliaram na compreensão dos motivadores das práticas

de automedicação declaradas pelos pacientes, entre as quais destaca-se a rede social.

Palavras chave: automedicação, metodologia de análise de dados, apoio social, doenças

crônicas, Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas – IPEC/FIOCRUZ.

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ABSTRACT

This work is an exploratory study about practices of self-medication in a group

of chronic disease patients under medical treatment cared by a hospital unit belonging to

Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), during the first semester of 2002. About self-

medication one can understand the use of substances or resources employed as

painkillers or against the disease, without being prescribed by a qualified health

professional. The group socioeconomic characterization was accomplished as well as

the evaluation of the health status perception and the difficulties in coping with the

disease and its treatment. A survey was applied in a sample of patients and from the

collected data it was possible to discuss the factors that most influenced the

comprehension of motivations for self-medication, especially those concerned to social

support.

Key words: self-medication, data analysis methodology, social support, chronic illness,

Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas – IPEC/FIOCRUZ.

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SUMÁRIO

1 Apresentação _____________________________________________________ 1

1.1 Automedicação: definição e semântica____________________________ 1

1.2 Práticas de automedicação______________________________________ 2

1.3 Objetivo _____________________________________________________ 6

1.4 A automedicação em estudos e considerações anteriores _____________ 7

1.5 As doenças dessa pesquisa ______________________________________ 9 1.5.1 HIV-AIDS ______________________________________________ 10 1.5.2 HTLV-I_________________________________________________ 11 1.5.3 Doença de Chagas ________________________________________ 13 1.5.4 PCM ___________________________________________________ 14

2 Materiais e Métodos_______________________________________________ 15

2.1 Os bancos de dados___________________________________________ 15

2.2 A amostragem _______________________________________________ 15

2.3 O procedimento da entrevista __________________________________ 17

2.4 O questionário_______________________________________________ 18

2.5 A tabulação dos dados ________________________________________ 22

3 Resultados ______________________________________________________ 24

3.1 Caracterização socioeconômica dos pacientes entrevistados _________ 24

3.2 Automedicação para acompanhar/auxiliar a prescrição médica______ 27

3.3 Automedicação para diminuir as reações adversas_________________ 34

3.4 Caracterização dos pacientes que não se automedicam _____________ 40

4 Discussão _______________________________________________________ 43

4.1 Instrumento de coleta de dados x resultados ______________________ 43

4.2 Prevalência da automedicação _________________________________ 43

4.3 Caracterização dos pacientes___________________________________ 45

4.4 Rede e apoio sociais __________________________________________ 47

4.5 Os recursos de automedicação utilizados ________________________ 52

4.6 Discussão Final ______________________________________________ 56

5 Considerações finais ______________________________________________ 59

6 Bibliografia _____________________________________________________ 61

Anexo 1: QUESTIONÁRIO ____________________________________________ 66

Anexo 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ________ 67

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SUMÁRIO DE QUADROS

Quadro 2-1: Distribuição das doenças segundo sexo dos pacientes ______________ 16

Quadro 3-1: freqüências e percentuais das faixas de renda per capita desejada ____ 26

Quadro 3-2: número de pacientes declarando algum tipo de dificuldade__________ 30

Quadro 3-3: recursos citados (automedicação junto à prescrição) ______________ 31

Quadro 3-4: número de pacientes e resultados da utilização de recursos de

automedicação junto à prescrição ________________________________________ 32

Quadro 3-5: correlações encontradas _____________________________________ 33

Quadro 3-6: número de pacientes declarando algum tipo de dificuldade__________ 36

Quadro 3-7: recursos citados (automedicação contra as reações adversas) _______ 37

Quadro 3-8: número de pacientes declarando algum tipo de reação adversa ______ 38

Quadro 3-9: correlações encontradas _____________________________________ 39

Quadro 3-10: número de pacientes declarando algum tipo de dificuldade_________ 42

Quadro 4-1: caracterização conjugal dos pacientes __________________________ 49

Quadro 4-2: percentuais do tipo de apoio social recebido em cada um dos grupos

definidos ____________________________________________________________ 51

SUMÁRIO DE FIGURAS

Figura 1: percentual dos graus de escolaridade declarados____________________ 25

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1 Apresentação

1.1 Automedicação: definição e semântica

O termo automedicação, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,

significa consumo de medicamentos sem prescrição médica. Medicamento, pela

definição encontrada no mesmo dicionário, é substância ou preparado usado no

tratamento de uma afecção ou de uma manifestação mórbida; medicação, remédio,

fármaco. Ainda, o termo medicação se refere a: 1. ato ou efeito de medicar(-se), 2.

emprego de medicamentos ou de outros processos curativos, de acordo com

determinada indicação ou orientação; tratamento terapêutico, medicamentação. Por

sinonímia, o verbete remédio: 1. substância ou recurso utilizado para combater uma

dor, uma doença; 3. tudo que serve para eliminar uma inconveniência, um mal, um

transtorno; recurso, solução, ou ainda, 4. aquilo que protege, auxilia; e também o

verbete remediar: 1. dar remédio a; atenuar com remédio; 2. tornar mais suportável ou

aceitável; atenuar, minorar (Houaiss 2001).

A partir dos sentidos acima apresentados, adota-se, no presente trabalho, a

seguinte definição abrangente de automedicação: a utilização de substâncias ou recursos

para combater uma dor ou uma doença. Compreende-se que, para a população estudada,

a doença já é parte constitutiva de sua vida, e que o convívio com a mesma, tanto pelas

dificuldades enfrentadas em função da condição deste paciente no seu cotidiano, quanto

pela excessiva carga de medicamentos a ser tomada pela prescrição médica, fazem-no

procurar meios de eliminar os inconvenientes daí advindos.

A proposta deste trabalho é conhecer, através de um estudo exploratório de dados,

os meios e as práticas utilizadas pelos pacientes entrevistados, todos crônicos e em

tratamento, para suportarem sua rotina medicamentosa e terem facilitada a convivência

com a doença, bem como determinados estigmas associados a ela.

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1.2 Práticas de automedicação

A automedicação, ao menos no que se refere aos pacientes investigados por esta

pesquisa, é uma prática que se insere no cotidiano de convivência com uma doença

crônica, e que tem relações com a autonomia no cuidado com a saúde e com o

restabelecimento de um estado de saúde perdido, mas desejado pelo usuário, que decide

o quanto, como e quando vai fazer algum tipo de uso de remédios que lhe pareçam

benéficos ou que possam suprir ou alterar algum estado de seu organismo. Aquilo que o

usuário experimenta pode lhe ter sido indicado por terceiros, tais como amigos, parentes

ou vizinhos, ou, intuitivamente apreendido, pela captação informal de informações, pela

exposição a propagandas e notícias ou ainda por um conhecimento tácito, adquirido sem

uma transmissão formal de conhecimentos.

A experiência da automedicação pode vir a ser compreendida, pela perspectiva do

usuário, como prática terapêutica, quando associada a bons resultados para o tratamento

de sua patologia. Dessa forma, encontram-se vários pacientes que não chegam a

substituir a medicação prescrita pelo médico que o acompanha em sua enfermidade,

mas utilizam a automedicação como uma via alternativa, ou paralela, no cuidado de sua

saúde e aquisição de bem-estar.

Para o presente trabalho, considerou-se cinco grandes grupos ou tipos de práticas de

automedicação, divididas a partir da origem pela qual o benefício advém. São elas:

recursos fitoterápicos,

recursos alimentares ou utilização de vitaminas e sais minerais,

recursos religiosos e espirituais,

utilização de medicamentos alopáticos, além daqueles prescritos pelo médico

responsável pelo tratamento do paciente, ou a modificação da prescrição médica.

utilização de substâncias químicas ou de origem biológica sem designação

terapêutica de base científica

Pode-se estranhar, à primeira vista, a presença de uma categoria que classifica o uso

de recursos religiosos e espirituais como prática de automedicação, mas deve-se atentar

que o interesse do estudo esteve focado nas diversas estratégias desenvolvidas para lidar

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com a doença, sendo estas relacionais e/ou societárias. Nesta perspectiva, perguntas que

procuraram indicações a respeito da rede social do paciente ou mesmo questões que

ajudaram a interpretar o sentido de não consumir a medicação prescrita, são de todo o

interesse para o presente estudo, uma vez que sendo um estudo exploratório, seu

compromisso maior foi o de procurar abrir outras perspectivas sobre o tema. Em suma,

procurou-se conhecer como pacientes, em contato com o ambiente hospitalar, e

submetidos a um tratamento de caráter permanente, desenvolvem outros recursos e

possibilidades de enfrentamento de sua doença, para com ela estabelecer um convívio

mais ameno, mais facilitado e mais facilmente suportável.

Definições para a automedicação e propostas investigativas para a sua apreensão

nem sempre são partilhadas por pesquisadores, médicos, população e indústria

farmacêutica. Como conseqüência, discussões sobre o tema nem sempre são oriundas de

uma mesma perspectiva, ou seja, suas apreensões podem variar enormemente, tornando

possível a utilização do termo de maneira a favorecer determinados interesses,

principalmente no que concerne às práticas propagandísticas das indústrias

farmacêuticas, ou julgamentos exclusivamente baseados em evidências biomédicas que

não levam em consideração conhecimentos e práticas não cientificamente construídas.

Sobre o fato de uma prática de automedicação nem sempre estar baseada em

preceitos científicos e ainda assim trazer bons resultados a quem dela faz uso, uma

interessante discussão sobre o que se considera efeito placebo pode ser travada.

Segundo Pignarre (1999:27), “entre cura espontânea, cura por efeito placebo e (...)

cura por uma ação biológica, farmacologicamente induzida, nenhum limite preciso

pode ser traçado.”

Apesar da dificuldade de se compreender completamente o que é o efeito placebo,

entende-se que “...efeito placebo é o efeito psicológico ou fisiológico de qualquer

medicamento que não é devido a sua atividade farmacológica. A palavra ‘placebo’

originou-se do latim placere, que significa ‘agradar’. Sua primeira menção se faz na

Bíblia (Salmos). No século XIX era definida como ‘qualitativo dado a toda a medicação

prescrita mais para agradar ao enfermo do que para lhe ser útil’.” (Schneider apud

Paulo & Zanini 1988: 71).

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Ainda que não se possa falar de cura para os pacientes investigados nesse estudo,

um possível benefício, advindo de práticas classificadas como não-científicas em seus

estados de saúde, pode ser creditado ao efeito placebo (Paulo & Zanini 1988; Pignarre

1999). Compreender as motivações para a automedicação e caracterizá-la através de

seus meios e práticas, mostrou-se como o melhor caminho de investigação, visto que

analisar sua validade, sob o ponto de vista estritamente médico, farmacológico ou

psicológico, é deixar-se levar por um inevitável reducionismo a respeito das questões

que envolvem o indivíduo, o adoecer e a cura, além de tornar questionável e refutável

qualquer apreensão dada neste sentido.

“A noção de psicossomático tem pouco sentido para os pacientes. Assim

como um paciente dificilmente pode assumir que foi curado pelo efeito

placebo, ele também não admite com facilidade que um de seus distúrbios,

claramente real, seja atribuído ao domínio marginal e vago da

psicossomática” (Pignarre 1999:108).

É possível encontrar na literatura algumas hipóteses sobre as motivações para a

automedicação:

“A necessidade da prescrição para a obtenção do medicamento representa

limitação pessoal de busca imediata do alívio da sintomatologia, o que

impede que o indivíduo faça preponderar sua própria experiência e

vontade” (Vilarino et al. 1998: 44).

De um ponto de vista mais formal, o trabalho apóia-se na definição de Paulo &

Zanini (1998:69), que entendem a automedicação como :

“... um procedimento que tem como característica principal a iniciativa do

paciente ou de seu responsável para aquisição, elaboração e utilização de

um produto que ele acredita que proporcionará benefícios no tratamento de

doenças e alívio de sintomas.”

Barros (1995) analisa a automedicação como um conjunto de práticas

envolvendo terapêutica variada e que está presente em todas as civilizações e nas

diversas etapas de sua evolução histórica. Para ele a automedicação é uma decisão do

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próprio indivíduo, ainda que o comportamento frente à doença esteja sujeito a uma série

de influências socioculturais e dos agentes socialmente legitimados para exercer o papel

de “curador”.

Os pacientes dos diferentes grupos que compõem este trabalho, relatam suas

principais práticas de automedicação encontradas e, apesar de terem, muitas vezes,

naturezas completamente diferentes, traduzem, cada um a seu modo, a vontade ou o

desejo e a necessidade que o usuário experimenta, de alterar o seu estado de saúde, ao

notar que este nem sempre é satisfatoriamente restabelecido pela medicação prescrita

pelo médico ou quando a terapia medicamentos acarreta reações adversas indesejadas

ou pouco tolerados pelo paciente.

“Já o paciente, em uma ótica individual, estará interessado no máximo de

bem-estar que possa alcançar, o que não necessariamente será compatível

com a avaliação técnica, pois seu juízo estará fundamentado em valores

pessoais e socioculturais. Seu julgamento sobre o uso de um medicamento

ou tecnologia que lhe traga efeitos colaterais desagradáveis mais imediatos

ou mais importantes, a seu juízo, que os possíveis benefícios, poderá variar

substancialmente em relação ao julgamento do profissional” (Castro 2000:

67).

A automedicação praticada pelos pacientes crônicos que integraram a amostra

deste estudo foi abordada de duas maneiras. A primeira delas se preocupou em conhecer

o que é utilizado de modo complementar à medicação prescrita, seja para auxiliar,

segundo julgamento do próprio paciente, a terapia da qual faz uso, seja porque a

considera pouco satisfatória, acreditando assim que pode prestar um auxílio a seu

tratamento a partir de práticas que conhece e acredita. A segunda se preocupou em

conhecer a automedicacão como prática auxiliar para suportar a rotina medicamentosa à

qual o paciente precisa se submeter, principalmente na tentativa de amenizar as reações

adversas sem lançar mão de mais medicamentos alopáticos. Incluem-se aqui os

pacientes que alteram a posologia a fim de conseguir um regime terapêutico que lhe

traga menos sofrimento e seja mais tolerável do ponto de vista das reações adversas.

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Uma vez sentida uma destas necessidades, o paciente parte em busca de

alternativas possíveis, baseando-se no diagnóstico médico que foi feito de sua doença

(Arrais et al. 1997; Vilarino at al 1998). Descobrir-se portador de uma doença para a

qual não há uma ação terapêutica definitiva “atribui a cada indivíduo características

novas, transitórias ou não, mas cujo principal efeito é separá-lo cruelmente da

comunidade dos que estão bem de saúde: algo se acrescenta ao que é a característica

individual de cada um e que eventualmente irá determinar de vários modos o conjunto

de sua existência.” (Pignarre 1999: 112).

1.3 Objetivo

O objetivo deste projeto é caracterizar, por meio de análise exploratória de dados,

as diferentes práticas de automedicação encontradas durante o trabalho de campo

realizado a fim de investigar como estas práticas se relacionam com os hábitos de vida,

a situação socioeconômica a intensidade e o tipo de tratamento ao qual o paciente está

submetido, procurando verificar se as motivações para a automedicação se relacionam

ao estado crônico e à terapêutica utilizada para a doença vivenciada pelos pacientes

investigados.

Os pacientes de interesse para este projeto são atendidos pelo ambulatório do

Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC), unidade técnico-científica de

atendimento médico-hospitalar especializado em doenças infecciosas e parasitárias,

pertencente à Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). A missão do IPEC é estudar as

doenças infecciosas através de programas de pesquisa e ensino interprofissionais,

integrados a programas de atendimento, voltados para a recuperação, promoção e

proteção da saúde e prevenção de agravos (MS 2002).

Definiram-se como os grupos de doenças crônicas de interesse para esta pesquisa,

aqueles que formam as 4 maiores demandas por medicamentos do Serviço de Farmácia

do Hospital, a saber: HIV/AIDS, HTLV1, Doença de Chagas e Paracoccidioidomicose,

cada qual com seus regimes terapêuticos específicos e estigmas próprios.

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Tal escolha se deu pela compreensão de que estudar esses grupos, traria maiores

contribuições para se conhecer os pacientes que mais retiram e utilizam medicamentos

em regime terapêutico auto-administrado e por longos períodos. A assistência

farmacêutica do IPEC se caracteriza pelo trabalho de excelência na estruturação da

Farmácia Clínica e no atendimento aos diferentes pacientes que para ali se dirigem. O

universo formado pelos pacientes de interesse desta investigação é responsável por mais

da metade da retirada de medicamentos do Serviço de Farmácia do IPEC.

1.4 A automedicação em estudos e considerações anteriores

Segundo o relatório Self-medication in health care (1986:17), as principais razões

para a prática de automedicação são o desejo popular de aumentar o controle individual

sobre as decisões pessoais de bem-estar e, possibilitar sua prática individualizada de

acordo com as demandas de saúde específicas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê a necessidade da automedicação,

inclusive como função complementar aos sistemas de saúde, particularmente em países

pobres. Foram publicadas diretrizes para a avaliação dos medicamentos que poderiam

ser empregados em automedicação, criando certas categorias de uso que estariam de

acordo com o que se passou a denominar automedicação responsável. Segundo esse

informe, tais medicamentos devem ser eficazes, confiáveis, seguros e de emprego fácil e

econômico (OMS, 2000).

As motivações para se automedicar são geralmente associadas ao uso de receitas

antigas, no caso de utilização de medicamentos ou por sugestão de parentes e

conhecidos. De acordo com Arrais et al. (1997), ela é praticada principalmente por

mulheres entre 16 e 45 anos e a escolha de medicamentos é baseada principalmente na

recomendação de pessoas leigas (51,0%), sendo também relevante a influência de

prescrições anteriores (40,0%). As grandes campanhas publicitárias, assim como a

extensa gama de informação veiculada pela mídia assim como pela internet sobre saúde,

também podem influenciar o consumo de medicamentos e remédios nesses pacientes.

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Alguns autores, bem como alguns informativos de indústrias farmacêuticas,

delimitam o termo, separando-o da “autoprescrição”. Por este ponto de vista, os

medicamentos vendidos sem prescrição médica seriam produzidos e utilizados

especialmente e livremente para a automedicação e, apenas a autoprescrição, ou o

consumo leigo de medicamentos éticos, seria problematizada e necessitaria de maior

controle e coerção. Evidentemente, essa postura é adotada pelas empresas farmacêuticas

que se preocupam em ampliar suas vendas lançando constantemente produtos

farmacêuticos para a venda livre e lutando para liberar cada vez mais substâncias sob

controle e inclui-las em preparações de acesso irrestrito (Blekinsopp & Bradley 1996).

Na área de estudos farmacêuticos, é bastante comum a denominação de

automedicação responsável, prática inserida nos Estudos de Utilização de

Medicamentos (EUM). A denominada automedicação responsável é tributo a um

consumo de medicamentos que serviria como apoio ao sistema de saúde, liberando-o de

prestar atendimentos a pequenos problemas de saúde. A OMS, bem como as indústrias

farmacêuticas, são as principais divulgadoras desse tipo de assistência. Formalmente e

legalmente, o conceito de automedicação responsável é aceito na maioria dos países, e

está representado pelos medicamentos de venda livre, sem tarjas e isentos de prescrição

médica.

Entretanto, deve-se ampliar a discussão sobre a possibilidade real de se praticar

uma automedicação racional/responsável. Aspectos mais diversificados que o

conhecimento técnico sobre uma substância estão presentes no momento em que um

indivíduo decide intervir por julgamento próprio em seu corpo. Não é possível, por

exemplo, deixar de lado as considerações simbólicas relativas às práticas de

automedicação. Este aspecto foi profundamente trabalhado por Lefèvre (1983), que

realizou uma minuciosa análise dos fenômenos da simbolização do fenômeno da saúde,

com ênfase na sua concretização no medicamento, discutindo as relações no plano

simbólico, mantidas com este produto, tanto pelo médico como pelo paciente:

“...a saúde, para passar de desejo à realidade e, deste modo, gerar

mercadorias (que são os instrumentos que operam esta passagem) precisa

ser “biologizada”. A conseqüência disto é deixar no limbo (considerando

por exemplo, em termos de alocação de recursos, a Saúde Pública como

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uma atividade menor em relação à atenção curativa de saúde) as esferas

“nebulosas” e “acadêmicas” do social, do comportamental, as verdadeiras

sedes da saúde/doença, privilegiando como terreno de jogo o universo

concreto e seguro do organismo e da biologia” (Lefèvre 1983: 501).

Nas pesquisas realizadas anteriormente e aqui citadas, buscou-se conhecer as

práticas de automedicação em indivíduos pertencentes à população em geral, não em

pacientes específicos, inseridos num programa de pesquisa e tratamento assistido por

hospital especializado. Indivíduos doentes carregam em si percepções da doença e saúde

que são transformadas e estigmatizadas pela sua nova condição. É razoável supor que

existam diferenças nas práticas de automedicação de acordo com o paciente. Um doente

crônico carrega não só o agente causador da doença e suas conseqüências fisiológicas,

mas toda uma caracterização social que é dada a ela, e que pode ser incorporada ao

indivíduo e à percepção de si mesmo. As determinações e percepções variam de acordo

com a história de cada doença, sua repercussão na sociedade, o grau de preconceito e

esclarecimento, sua virulência e as marcas deixadas nos corpos afetados, pressupostos

esses que demandam investigação apropriada.

1.5 As doenças dessa pesquisa

O primeiro aspecto a ser considerado a respeito das doenças investigadas pelo

presente trabalho é o caráter crônico presente em todas elas. Ainda que de naturezas

diferentes e sob terapias também distintas, os quatro grupos de doentes investigados são

considerados grupos que necessitam de avaliação e acompanhamento constantes e por

tempo indefinido. Disso decorre um envolvimento maior por parte do paciente com o

ambiente e a estrutura hospitalar, demandando visitas mais ou menos freqüentes ao

hospital. Na maioria das vezes, requer-se do paciente a tomada de medicamentos em

horários e condições bastante rígidas, de forma que essa terapêutica passe a fazer parte

integrante de sua vida, levando o paciente a uma nova e diferente rotina, marcada por

horários a serem lembrados e obedecidos, novas condutas alimentares, entre outras

modificações em suas atividades cotidianas.

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A experiência de ser um paciente de doença crônica é certamente muito diferente

daquela vivenciada por uma outra pessoa que adoeça, faça tratamento e seja considerada

curada. A doença crônica exige do paciente uma reestruturação de sua vida nos mais

diversos aspectos de sua rotina e a aceitação de sua nova condição, às vezes, com

limitações de ordem biológica, outras, com enormes estigmas a serem superados.

“Uma característica que diferencia a doença crônica (em oposição à

aguda), é sua dimensão temporal. A doença crônica persiste no tempo; ela

não vai embora. Desta forma, ela não é um episódio discreto no curso da

narrativa de vida, mas sim um componente permanente desta narrativa.

Viver com uma doença crônica é viver um certo tipo de vida. A natureza

permanente de tal desafio requer uma resposta social e pessoal que é

distinta daquela necessária para um episódio temporário da doença

aguda.” (Toombs, Barnard et al. 1995)

Ser um paciente de doença crônica traz novas considerações sobre a vida de um

indivíduo. Ele passa a integrar um novo grupo social, formado por outros pacientes com

a mesma doença, e também com a equipe hospitalar que o assiste, interagindo dentro

deste novo universo compulsoriamente. Tal convívio pode estabelecer novas redes

sociais para este indivíduo, que podem auxiliá-lo na construção de novas percepções

sobre sua condição de vida. Estudos com pacientes crônicos descrevem que “... viver

com uma doença crônica é experimentar um senso de diferenciação, de solidão, de

rejeição, de separação dos outros, de alienação da sociedade “. Ao mesmo tempo, as

narrativas dos pacientes salientam a importância de relacionamentos, do encontro com

outros para compartilhar tal “jornada”. Falam do poder redentor que possuem o cuidado

e o companheirismo, provendo importantes dicas sobre como conviver com aqueles que

são doentes crônicos (Toombs, Barnard et al. 1995).

1.5.1 HIV-AIDS

O vírus HIV (sigla inglesa que significa Human Immunodeficiency Virus) é o

retrovírus reconhecido como responsável pela aids (adquired immunodeficiency

syndrome, ou síndrome da imunodeficiência adquirida - sida), identificado em 1983 nos

Estados Unidos como o agente etiológico da doença. Segundo a Coordenação Nacional

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de DST e Aids, o número de casos notificados de aids no Brasil é de 222.356 pessoas,

entre 1980 e setembro de 2001. Estima-se que haja aproximadamente 600 mil

portadores do vírus HIV, a maioria dos quais desconhece este fato. Diferente da

notificação dos casos de aids, os dados de HIV são estimados. Em média, a pessoa

infectada pelo HIV demora entre 8 e 10 anos para começar a desenvolver os sintomas

de aids (Rachid and Schechter 2003). Só então ela é notificada como tal. Estão sob

tratamento cerca de 90 mil pessoas, que recebem os medicamentos anti-retrovirais

(ARV) na rede pública de saúde. (Oliveira 2002). No Brasil, 100% das pessoas que

preenchem os critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde têm acesso ao tratamento

com os medicamentos ARV.

A partir de 1996, quando o governo começou a distribuir gratuitamente o

coquetel anti-aids, o crescimento da epidemia se estabilizou numa média de 20 mil

novos casos por ano, até 1999. Em 2000, houve indício de declínio, com o registro de

15 mil novos casos. O primeiro semestre de 2001 confirmou a queda, embora os

números só possam ser considerados definitivos após três anos de notificação. Neste

período, ocorreu uma mudança progressiva do perfil da morbi-mortalidade da epidemia,

com redução de 50% na mortalidade por aids e de 80% no aparecimento das infecções

oportunistas associadas a ela, queda de internações hospitalares e, o que é mais

importante, aumento significativo da qualidade de vida dos indivíduos portadores do

HIV.

A utilização dos medicamentos ARV traz incontestável melhora à perspectiva de

saúde do paciente de aids, embora o tratamento nem sempre seja fácil de seguir e

suportar. As dificuldades, principalmente referentes às fortes reações adversas

produzidas – diarréia, náuseas, tontura, sonolência, pesadelos entre outras - podem levar

tanto a problemas de adesão quanto à automedicação.

1.5.2 HTLV-I

O vírus HTLV-I (sigla da língua inglesa que indica vírus que infecta células T

humanas: Human T leukemia-limphoma virus type 1) é um retrovírus que está

implicado em doença neurológica e leucemia. Alguns pacientes podem desenvolver

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problemas neurológicos, geralmente queixando-se de dores nos membros inferiores

(panturrilhas), na região lombar (parte inferior da coluna lombar), dificuldade de

defecção ou micção.

A transmissão do HTLV-I pode acontecer da mãe para a criança, pelo contato

sexual, pela transfusão de sangue e pelo compartilhamento de agulhas contaminadas.

Duas doenças estão associadas com HTLV-I: leucemia/linfoma de células T do adulto

(ATL), e mielopatia/ paraparesia espástica tropical associada ao HTLV-I (HAM/TSP)

conhecida também como mielopatia associada ao vírus linfotrópico de células T

humanas (TSP/HAM), que se caracteriza por um quadro neurológico degenerativo

crônico, com distúrbio esfincteriano, perda sensorial e ausência de compressão de

coluna espinhal.

É predominante em determinadas regiões, como as ilhas do Caribe, regiões

subequatoriais africanas, América Latina e ilhas ao sul do Japão, locais de alta

prevalência desta infecção, onde chega a responder por 40% a 60% das mielopatias de

etiologia indeterminada (Casseb and Penalva-de-Oliveira 2000).

A TSP/HAM acomete mais as mulheres, a partir dos 40 anos. O tempo de

incubação é bastante longo, porém, em pessoas contaminadas por transmissão

sangüínea, este período pode ser abreviado para menos de 10 anos.

Os critérios de tratamento são variáveis, porém os casos assintomáticos não

devem ser tratados, considerando a baixa possibilidade do desenvolvimento de doença.

Assim, apenas os pacientes com diagnóstico de entidades clínicas correlatas à infecção

pelo HTLV-1 devem ser tratados especificamente. Várias referências de estratégias

terapêuticas permeiam a literatura, usando medicações de ação antiviral,

imunomodulatória e imunossupressora, acompanhadas de grande diversidade de

reações adversas tais como náuseas, irritação gástrica e tonturas.

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1.5.3 Doença de Chagas

A Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e representa

o quarto maior impacto social entre as doenças infecciosas e parasitárias prevalentes em

toda a América Latina. (WHO, 1991 apud (Dias 2001)

A Doença de Chagas apresenta mortalidade importante em sua fase aguda e pode

resultar em cardiopatia grave em 10 a 40% dos indivíduos infectados (Dias e Coura,

1997 apud idem). É transmitida pela contaminação do local da picada do triatomídeo

com as fezes do inseto Triatoma infestans, conhecido como “barbeiro”, que se alimenta

exclusivamente de vertebrados homeotérmicos, sendo chamados hematófagos. No

homem vive no sangue periférico e nas fibras musculares, especialmente as cardíacas e

digestivas.

Apesar dos esforços desenvolvidos por pesquisadores, a terapêutica da doença

de Chagas continua em fase de investigação. Os derivados do nitrofurano e

nitroimidazol destacam-se por seus melhores resultados. Em geral devido ao tratamento

prolongado, exige-se um seguimento dos pacientes a fim de se detectarem as reações

adversas decorrentes da toxicidade destes fármacos. Os nitrofuranos produzem

inapetência, náuseas e às vezes vômitos, provocando emagrecimento do paciente;

sensação de fraqueza, irritabilidade e insônia. O nitroimidazol produz polineuropatia

periférica, erupções cutâneas, distúrbios de hematopoese (Rey 1992). O tratamento

aplicado e os resultados dependem também da fase em que o paciente se encontra. Na

fase crônica, quando as lesões cardíacas e digestivas ainda estão no início, ou são

ausentes, o emprego das drogas proporcionam redução ou retardamento do

aparecimento das lesões. Em casos de já existir insuficiência cardíaca crônica, a

terapêutica deve ser sintomática. Seu tratamento é complexo e difícil na fase crônica –

que afeta 16 milhões de latino-americanos e 5 milhões de brasileiros-, não havendo

maior interesse comercial para as grandes empresas internacionais no sentido do

desenvolvimento de fármacos específicos. O paciente de Chagas sofre redução de sua

capacidade laborial, muitas vezes afastando-se de suas atividades, seja por uma real

incapacidade imposta pela doença, seja pelo estigma a ela associado.

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1.5.4 PCM

A paracoccidioidomicose (PCM) é causada pelo fungo Paracoccidioides

brasiliensis e é a micose sistêmica de maior importância no Brasil, que concentra a

maioria das áreas endêmicas dessa doença, cuja ocorrência se dá apenas nas Américas

do Sul e Central. No Brasil, distribui-se de forma não homogênea, apresentando maiores

taxas de mortalidade nas regiões Sul e Sudeste. A mesma destaca-se como oitava causa

de mortalidade por doença crônica ou repetitiva, entre as infecciosas e parasitárias, e

possui a mais elevada taxa de mortalidade entre as micoses sistêmicas. (Coutinho, Silva

et al. 2002)

O PCM é predominantemente prevalente em indivíduos adultos do sexo

masculino, em idade de 20 a 50 anos, especialmente em trabalhadores rurais, expostos

ao contato freqüente com a terra, onde o fungo habita. Nesse sentido, pode ser

considerada uma doença ocupacional, acometendo especialmente os estratos de

população de baixa renda que se ocupam de atividades rurais. Ela tem um alto custo

social e econômico, derivado não apenas da doença em atividade, que ocorre em

indivíduos na sua fase produtiva da vida, como também das freqüentes seqüelas

secundárias, motivo comum de incapacitação do trabalho, e que quando não tratada,

pode levar à morte do paciente.

A contaminação se dá através da via respiratória, pela inalação do fungo, pela boca

ou nariz. A doença se caracteriza por comprometimento pulmonar, lesões ulceradas de

pele e mucosas (oral, nasal e gastrointestinal); em sua forma disseminada, pode

acometer todas as vísceras, sendo freqüentemente afetada a supra-renal. O tratamento,

para controle da doença, pode ser realizado usando-se drogas antifúngicas tais como

Cetoconazol e Fluconazol (Berkow 1990).

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2 Materiais e Métodos

2.1 Os bancos de dados

A construção dos bancos de dados dos grupos de doenças incluídos nesta

pesquisa, HIV/AIDS, Doença de Chagas, HTLV1 e Paracocciodioidomicose, na forma

que interessava a esta investigação, exigiu a obtenção dos mesmos a partir de duas

fontes complementares: uma fornecida pelos médicos responsáveis pelos programas de

cada doença, e a outra, fornecida pelo serviço de estatística do Hospital.

A listagem obtida pelos médicos forneceu o número de prontuários dos pacientes

que estavam em tratamento no momento da requisição, mas muitas vezes não

apresentavam, pelo menos de maneira desejável para esta pesquisa, as informações

sobre sexo e idade, necessárias à extração da amostra. Por isso, uma listagem com as

informações sobre sexo e idade para cada programa foi obtida no serviço de estatística

do Hospital, que contém em seus arquivos, informatizados em sua maior parte, todos os

registros dos pacientes ali já cadastrados. Esta última fonte de banco de dados

apresentava, de forma mais completa, dados sobre sexo e idade dos pacientes, entre

outras informações. O procedimento adotado foi cruzar as informações dos dois bancos

de dados obtidos, a partir do número do prontuário, a fim de se complementarem as

informações disponíveis em cada um deles. O resultado foi a obtenção dos bancos de

dados das 4 doenças, constituídos de 3 variáveis cada, a saber: o número do prontuário

do paciente, seu sexo e sua idade.

2.2 A amostragem

O desenho e a extração da amostra de tamanho N=82, foi feito com o auxílio do

Serviço de Bioestatística da Escola Nacional de Saúde Pública – Fiocruz tendo sido

definido uma amostra do tipo aleatória, sistemática e proporcional ao número de

pacientes em cada um dos quatro grupos de doenças estudado (36 para Doença de

Chagas, 22 para HIV-Aids, 15 para HTLV-1 e 9 para PCM). Os 82 integrantes do

estudo foram, então, identificados através do número de seus prontuários, relatado nos

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bancos de dados. A listagem com os pacientes identificados foi encaminhada ao

ambulatório do Serviço de Farmácia do IPEC, onde se realizaram as entrevistas.

Deve-se registrar que o tamanho da amostra - 82 pacientes - levou em

consideração dois constrangimentos principais. Em primeiro lugar, a ausência de

estudos anteriores que pudessem dar idéia da prevalência da automedicação em

pacientes crônicos sob regime medicamentoso; em segundo lugar o fato de tratar-se de

uma pesquisa exploratória, que cumpria um cronograma rigoroso em termos de tempo e

de quantidade de tarefas, cujos dados seriam colhidos através de entrevistas,

conduzidas, basicamente, por uma única pessoa, no contexto de desenvolvimento de

uma dissertação de mestrado.

Disso decorre a principal restrição analítica que deve ser observada na

interpretação dos resultados da presente investigação, a saber, a amostra que foi

desenhada não autoriza procedimentos de inferência estatística. Para tanto teria sido

necessário o desenho de um plano amostral com um número muito maior de pacientes,

por um lado altamente desejável, mas por outro, comprometedor da realização completa

e a tempo do estudo.

O quadro 2-1 corresponde ao número de pacientes em cada um dos grupos

estudados, bem como a divisão por sexo. Essas informações foram reunidas no período

de janeiro a março de 2002.

Quadro 2-1: Distribuição das doenças segundo sexo dos pacientes

Doenças Feminino Masculino Ignorado Total %

Chagas 606 563 3 1172 43,93

HIV 427 302 0 729 27,32

HTLV-I 258 235 0 493 18,48

PCM 22 251 0 273 10,23

TOTAL 1313 1351 3 2668 100,00

% 49,21 50,64 0,11 100,00

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2.3 O procedimento da entrevista

O trabalho de campo desta pesquisa foi realizado no ambulatório do Serviço de

Farmácia do IPEC. É para lá que os pacientes, ao saírem de suas consultas com os

médicos do ambulatório do Hospital, dirigem-se a fim de retirarem seus medicamentos

prescritos. Há também a possibilidade de irem diretamente ao Serviço de Farmácia, caso

o paciente não tenha consulta agendada para aquele mês.

O Serviço de Farmácia dispensa os medicamentos suficientes para o tratamento

dos pacientes pelo período de um mês, não sendo permitida a dispensação para períodos

maiores. Apenas uma vez ao ano o paciente tem direito a retirar medicação por dois

meses, para que possa assim fazer um planejamento de férias. A maior parte dos

pacientes retira sua medicação por conta própria, mas há casos em que algum familiar

ou conhecido o faz, situação que geralmente acontece quando se faz necessária a

retirada dos medicamentos sem que o paciente tenha consulta agendada. Para tanto, é

necessário apenas que sejam apresentados o cartão e a receita válida do paciente,

ocorrendo tal situação geralmente quando o paciente é idoso ou extremamente

debilitado, com dificuldade de locomoção.

Em alguns casos, a não ida ao Hospital para a retirada de medicamentos

funcionou como um impeditivo da entrevista, já que o paciente não se encontrava no

local onde estavam sendo realizadas as entrevistas. O agendamento de uma entrevista

domiciliar fora dificultado por motivos éticos concernentes à pesquisa. Um outro tipo de

perda de entrevistas foi relativo ao óbito de alguns pacientes selecionados, perda que

pode ser considerada como esperada, uma vez que estavam em tratamento pacientes já

extremamente debilitados. Houve ainda casos em que os pacientes, que pelos mais

diversos motivos, recusaram-se a participar da pesquisa, o que também era esperado,

uma vez que o paciente deve ser deixado extremamente à vontade em sua decisão de

participar ou não como respondente da entrevista. Dos 82 pacientes selecionados para a

entrevista, foram entrevistados 61 (74,39%). Dos 21 pacientes que faltaram para

completar a amostra, 9 não compareceram ao hospital durante o período de entrevistas,

2 faleceram e 10 recusaram-se a participar da pesquisa, alegando principalmente falta de

tempo para responder o questionário.

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O paciente que fosse de interesse para a pesquisa e estivesse presente no momento

da dispensação era então convidado a participar da entrevista e, ao concordar,

encaminhado a uma sala reservada para total privacidade do mesmo juntamente com a

pesquisadora. Antes de iniciar a aplicação do questionário, o paciente era esclarecido

sobre o projeto com seus objetivos e suas implicações, sendo entregue a ele um termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2), onde constava um resumo do projeto

de pesquisa bem como todos os detalhes da participação do paciente na pesquisa. O

paciente estando de acordo e ciente das condições da investigação, assinava o Termo,

recebendo uma cópia assinada pela pesquisadora responsável.

Após todos os esclarecimentos, iniciava-se a aplicação do questionário. As

perguntas e respostas de múltipla escolha foram lidas pela pesquisadora, cabendo ao

paciente escolher uma ou mais respostas que lhe parecessem adequadas, e, em algumas

questões, o paciente era orientado a responder livremente à pergunta colocada, cabendo

à pesquisadora, a sua anotação por escrito. A aplicação dos questionários variou de15 a

110 minutos, com média de 33,36 minutos.

2.4 O questionário

O questionário (Anexo 1) para esta investigação foi elaborado com a intenção

principal de averiguar se, entre os pacientes dos programas escolhidos, ocorre a prática

de automedicação, no sentido dado a este termo por esta pesquisa, e quais são seus

principais motivadores, quando apreendida.

Procurou-se confeccionar um questionário com a maior sofisticação possível, que

pudesse dar conta de associações que auxiliassem na compreensão da prática da

automedicação dos pacientes desta pesquisa.

Para tanto, o questionário foi elaborado com questões fechadas e algumas

questões abertas, que são as relacionadas à prática de automedicação, dado que não

seria possível esgotar, em respostas de múltipla escolha, todas as possibilidades de

respostas dos pacientes para as suas práticas de automedicação. As respostas livres para

a prática de automedicação, inicialmente não categorizadas, foram posteriormente

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trabalhadas a fim de serem agrupadas em categorias, operacionalizando a análise dos

dados.

A construção de um questionário como instrumento de pesquisa envolve uma

cuidadosa preparação a fim de que ele possa apreender aquilo que se deseja para a

investigação. O questionário apresentado neste trabalho é uma versão final, que foi

criticada por pares e aperfeiçoada, a partir de versões anteriores do mesmo. Fez parte de

sua elaboração a realização de um pré-teste, aplicado em pacientes do Hospital,

selecionados sem procedimento amostral, prática normalmente adotada que serve para

verificar se a compreensão e a lógica das perguntas estavam adequadas. Desta forma, o

questionário aqui apresentado foi testado previamente à sua efetiva aplicação,

permitindo uma série de modificações finais, na intenção de torná-lo um instrumento o

mais ajustado possível para a pesquisa.

A elaboração de um instrumento de pesquisa deve ser pensada como uma

maneira, ou uma via, através da qual o pesquisador possa apreender aquilo que pretende

investigar com o trabalho de campo realizado. É necessário que o instrumento cumpra,

na melhor medida do possível, o seu papel no que tange a interação com o objeto

investigado.

A presente pesquisa elaborou um instrumento do tipo questionário, contendo

questões fechadas, na sua maior parte, e também questões abertas. Essas questões foram

estruturadas com preocupações relativas à interação que ocorreria no momento da

aplicação do questionário. Tal interação consistia numa entrevista, conduzida pela

pesquisadora responsável e pelos pacientes selecionados para participarem da mesma.

Uma das maiores preocupações foi a da provável heterogeneidade dos pacientes

que seriam entrevistados, preocupação confirmada ao longo das entrevistas. Desse tipo

de situação decorre uma interação cognitiva extremamente diferenciada quando se

aplica o mesmo questionário a pessoas com graus de escolaridade que vão do nenhum à

pós-graduação. Assim, é desafiante propor questões que possam ser compreendidas de

maneira adequada por todos aqueles que participam da entrevista. Mais do que isso, é

concebível que, mesmo sendo compreendida a questão, essa compreensão nunca se dê

da mesma forma em todos os pacientes, tendo como resultado respostas coletadas que

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nem sempre se referem a uma perspectiva comum. Entretanto, este tipo de dificuldade é

inerente ao próprio instrumento, e que, no caso específico da presente pesquisa, se

ameniza ao se tratar de pessoas que têm em comum a situação de serem doentes

crônicos e assim estarem experimentando a vivência da doença acompanhada de terapia

medicamentosa. Deve ser considerado que a maior parte das questões do instrumento

referem-se justamente à experiência da doença e das maneiras possíveis de se lidar com

ela.

Um outro bloco de questões está relacionado a variáveis socioeconômicas a fim

de se obter uma caracterização do paciente entrevistado. Assim, é possível ter dados

para gerar mais e melhores informações sobre os pacientes entrevistados, conhecendo-

os mais profundamente e possibilitando um enriquecimento da questão sobre como eles

convivem e se adaptam a uma forma de viver diferenciada.

No questionário são apresentadas diversas perguntas para as quais o pesquisador

fornece alternativas de respostas. Estas perguntas visam apreender a prática de

automedicação, e quando existente, possibilitar a correlação da mesma com os fatores

sociais, culturais e econômicos, além da própria experiência do paciente como doente

crônico. A elaboração do questionário foi feita pensando-se em variáveis que pudessem

ser relacionadas à prática de automedicação, e assim auxiliassem na construção de um

cenário mais apropriado e detalhado sobre sua prática, tais como o nível de instrução, o

grau de informação geral, a percepção da doença e do estado de saúde em geral, e

também algum conhecimento sobre as redes sociais que compõem a vida desses

pacientes.

Uma parte das questões relacionadas aos aspectos socioeconômicos foi adaptada

da Pesquisa sobre Padrões de Vida - PPV (1996-1997) da Fundação Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística – IBGE (IBGE 1997). O questionário aplicado pelo IBGE

auxiliou na elaboração das questões de número 11-14 e 28-38. As outras questões foram

elaboradas de forma bastante específica para tratar do conhecimento, informação e

tratamento das doenças pesquisadas.

Pode-se conhecer as intenções do questionário ao se explorar suas múltiplas

partes, ou os conjuntos de questões que visam a determinadas informações, a saber:

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Questões 1 a 7: visam conhecer o paciente quanto às suas características pessoais, tais

como cor, idade, sexo, estado civil e local de residência.

Questões 8 a 11: buscam informações a respeito do tempo de conhecimento e

tratamento da doença e a opinião pessoal do paciente em relação à sua saúde.

Questões 12 a 14: procuram identificar práticas de esporte e intensidade de atividade

física.

Questões 15 a 21: informações sobre freqüência de consultas para a doença em

tratamento, conhecimento e informações recebidas a respeito da doença, e de seu

contágio e tratamento.

Questões 22 a 26: são as questões que tratam propriamente da prática de automedicação

nos pacientes, verificando o conhecimento de práticas não médicas para o tratamento de

suas doenças, e averiguando também se as reações adversas sentidas pela medicação ou

sensações desagradáveis advindas da própria doença levam a alguma prática no sentido

de aliviar sintomas indesejados pelos pacientes.

Questões 27 a 35: procuram identificar o nível sociocultural do paciente:

Questões 36 a 38: procuram identificar o nível socioeconômico do paciente.

A opção por um questionário fechado, ou fechado em sua maior parte, foi feita

por trabalhar-se com um número razoavelmente grande de pacientes para a entrevista,

fator necessário para se conseguir observar características ou até algum tipo de

tendência na prática de automedicação na população estudada. Uma entrevista aberta e

aprofundada, certamente enriqueceria a pesquisa por uma perspectiva da investigação

qualitativa, em que seria possível apreender as motivações individuais para a prática de

automedicação. Porém, o desenho desta dissertação prioriza o conhecimento da prática

de automedicação de um grupo determinado de pessoas (pacientes de doenças crônicas

do IPEC), na busca de tendências advindas da vivência da doença crônica e de seu

tratamento. Por essas considerações, a aplicação de um questionário fechado se mostrou

como a melhor opção.

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2.5 A tabulação dos dados

Após o término do trabalho de campo, os questionários, compostos de questões

abertas e fechadas, foram reunidos para que se fizesse a tabulação de suas respostas.

Essa tabulação foi feita no programa SPSS, versão 10.0. Para as questões fechadas

foram criadas, na base de dados, variáveis onde se pudesse colocar diretamente a

resposta obtida no questionário. Para as questões abertas, foram propostas

categorizações a fim de permitir sua tabulação de forma simplificada e passível de

análise.

A questão 22, que trata dos conhecimentos e usos das práticas de automedicação

permitia ao paciente discorrer sobre tudo o que conhecia a respeito do assunto e também

sobre como fazia uso desse conhecimento. Respostas bastante variadas foram obtidas,

levando à necessidade de categorizá-las num grupamento lógico e que agregassem suas

características mais importantes. Dessa forma, foram criadas quatro possibilidades de

categorias para as respostas, a saber:

Recursos fitoterápicos: aqui incluídas ervas, plantas, raízes etc. e seus preparados, tais

como chás e garrafadas.

Alimentos, vitaminas e sais minerais: foi considerado o uso de alimentos ou partes

específicas dos mesmos quando escolhidos por fornecerem uma fonte de vitamina ou

mineral específica.

Recursos religiosos e/ou espirituais: neste grupo foram incluídas as práticas religiosas

tais como rezas e orações específicas para amenizar a doença, ou ainda a adesão a um

grupo religioso em busca de conforto espiritual para o enfrentamento da doença.

Medicamentos alopáticos: medicamentos utilizados além daqueles descritos na

prescrição médica, ou seja, medicamentos adquiridos em farmácias comerciais e não

junto ao Serviço de Farmácia do IPEC. Nesta categoria também foram incluídos os

relatos de pacientes que declararam alterar a prescrição médica ao modificar a

posologia, seja em termos de horário, seja na maneira de tomar o medicamento,

tomando-o em excesso ou escassez.

Um outro processo de categorização de respostas abertas foi feito para a questão

26, que trata das reações adversas sentidas pelo paciente, decorrentes do tratamento ao

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qual o paciente está submetido. Uma lista destas possíveis reações era lida ao paciente,

tendo ao final espaço para a anotação de alguma outra reação adversa, que fosse por ele

relatado e que não estivesse previsto pela mesma. As reações foram então agrupadas,

usando-se o critério de órgão/sistema afetado, segundo a classificação proposta pelo

Centro Internacional de Monitoramento de Medicamentos, centro colaborador da

Organização Mundial da Saúde (WHO). As respostas colhidas foram então reagrupadas

em reações adversas para os seguintes órgãos/sistemas:

Gastrointestinais

Cardiovasculares

Nervoso Central e Periférico

Pele e Anexos

Respiratório

Muscoesquelético

Outros – aqueles não classificáveis nas categorias anteriores

Para a questão 26B, também relacionada à utilização de práticas de automedicação,

porém especificamente para as reações adversas advindas da terapia medicamentosa

prescrita, usou-se as mesmas categorias propostas na questão 22 com a inclusão de mais

uma categoria, a saber, a utilização de recursos químicos, que foi considerado como o

uso de algum produto químico não indicado ou conhecido pela sua aplicação no corpo

humano.

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3 Resultados

Os dados obtidos em trabalho de campo, pela aplicação do questionário, foram

transferidos para o Programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão

10.0, onde foram realizados os procedimentos de interesse tais como: crosstabs (tabelas

de dupla entrada) que permitiram verificar o número e porcentagem dos pacientes que

se automedicam em relação a diversas variáveis de interesse; correlações para averiguar

associações entre variáveis dummy (variáveis que aceitam resposta sim/não),

freqüências simples de parâmetros de interesse e gráficos diversos, para facilitar a

visualização dos dados selecionados.

As variáveis dependentes de interesse, que tratam especificamente da

automedicação, são:

O paciente fez uso de algum recurso para acompanhar/auxiliar a prescrição médica

O paciente fez uso de algum recurso para diminuir reações adversas advindos da

prescrição médica

3.1 Caracterização socioeconômica dos pacientes entrevistados

A idade dos pacientes entrevistados varia de 30 a 82 anos, com média de 50,3

anos e mediana de 48,8 anos. Quanto ao sexo, 34 (55,7%) são homens e 27 (44,3%) são

mulheres, conservando a distribuição de sexo encontrada no banco de dados original,

onde havia 1351 (50,64%) homens e 1313 (49,21%) mulheres.

Em relação ao estado civil, 25 (41,0%) são solteiros, 24 (39,3%) são casados, 6

(9,8%) são separados e 6 (9,8%) são viúvos, e quando perguntados se viviam

conjugalmente com alguém, 31 (50,8%) responderam positivamente contra 30 (49,2%)

que dizem não viver conjugalmente com alguém. Essa informação contrasta, em certa

medida, com os dados do estado civil oficial e se mostra mais confiável para esclarecer

se o paciente tem ou não um convívio estabelecido, o que estaria ligada a um tipo de

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suporte social, qual seja um apoio afetivo e emocional. Ainda, 41 (67,2%) entrevistados

declararam ter filhos.

Quanto à escolaridade, 23 (37,7%) têm o primeiro grau incompleto, 10 (16,4%) o

primeiro grau completo, 4 (6,6%) o segundo grau incompleto, 12 (19,7%) o segundo

grau completo, 5 (8,2%) têm o superior completo e apenas 1 (1,6%) entrevistado

possuía pós-graduação. Ainda, 6 (9,8%) entrevistados declararam-se analfabetos. Há

uma clara predominância de baixa escolaridade entre os entrevistados, com

praticamente 64,0% deles tendo completado, no máximo, o primeiro grau (Figura 1).

Figura 1: percentual dos graus de escolaridade declarados

grau de escolaridade do entrevistado

nenhumpós-graduação

superior completo2o grau completo

2o grau incompleto1o grau completo

1o grau incompleto

Per

cent

40

30

20

10

0

A questão referente à renda do entrevistado não demandava a renda real do

paciente, mas sim aquela que ele consideraria como a mínima necessária para cobrir

todos os gastos do domicílio e de sua família durante um mês. A partir do conhecimento

do número de moradores no domicílio do entrevistado, criou-se uma variável

denominada renda per capita desejada a qual possibilita ter uma idéia sobre a percepção

do que seria uma situação socioeconômica mínima percebida pelo paciente. Seus

valores variaram de R$100,00 a R$3000,00, sendo que 46 (78,0%) pacientes disseram

ter como renda per capita desejada até R$500,00 (Quadro 3-1), faixa de rendimentos tal

que não é elevada e que se associa a estratos sociais menos favorecidos. Relacionando-

se a esses dados, ao serem perguntados sobre suas condições de vida, a maior parte - 25

25

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(41,0%) - respondeu levar a vida com dificuldade ou com um pouco de dificuldade -

para 26 (42,6%) deles - e apenas 10 (16,4%) pacientes responderam levar a vida com

facilidade, apesar de esta questão refletir uma impressão subjetiva do entrevistado.

Quadro 3-1: freqüências e percentuais das faixas de renda per capita desejada

16 26,2 27,1 27,19 14,8 15,3 42,4

12 19,7 20,3 62,79 14,8 15,3 78,07 11,5 11,9 89,82 3,3 3,4 93,24 6,6 6,8 100,0

59 96,7 100,02 3,3

61 100,0

até R$200,00R$200,01 a R$300,00R$300,01 a R$400,00R$400,01 a R$500,00R$500,01 a R$800,00R$800,01 a R$1000,00mais de R$1000,00Total

Valid

SystemMissingTotal

Frequency Percent Valid PercentCumulative

Percent

faixas de renda per capita desejada

Com a finalidade de melhor caracterização, manteve-se a proposta de averiguar

as características relativas aos dois tipos de automedicação descritas neste trabalho:

aquela que tem como objetivo acompanhar a prescrição médica, e a automedicação que

visa diminuir as reações adversas advindas desta prescrição. Para aumentar a

possibilidade de comparação entre aqueles que se automedicam e os que não, formou-se

ainda um terceiro grupo, pela reunião daqueles que não declaram qualquer tipo de

automedicação. Para operacionalizar esta proposta, foram gerados, usando o SPSS, três

novos bancos de dados: o primeiro contendo somente os pacientes que declararam

utilizar algum recurso de automedicação acompanhando a prescrição; o segundo

contendo somente os pacientes que declararam utilizar práticas de automedicação para

minimizar as reações adversas da prescrição; e um terceiro que se formou com aqueles

pacientes que NÃO declararam nenhum tipo de uso de automedicação. Os três bancos

de dados gerados têm respectivamente 28, 31 e 14 pacientes, o que não corresponde à

soma total dos 61 pacientes, já que existem alguns pacientes em comum nos dois

primeiros grupos, referentes àqueles que declararam realizar automedicação para as

duas funções aqui especificadas. Metodologicamente, essa separação torna possível

apreender melhor quais as motivações para a prática da automedicação nestes dois

contextos, que embora estejam relacionados, tratam de percepções e necessidades

26

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diferentes do paciente em tratamento e permitem travar discussões distintas. Ainda, por

uma caracterização do terceiro grupo – formado pelos pacientes que não praticam

automedicação – consegue-se um maior discernimento sobre aquilo que pode sugerir a

motivação para a utilização de recursos fora de prescrição médica.

Antes de passar aos resultados encontrados em cada um dos três grupos formados,

cabe ressaltar que as relações encontradas e sugeridas pelos resultados aqui

apresentados não pretendem ser considerações definitivas, ao contrário, a proposta do

trabalho é fornecer subsídios, indícios para o levantamento de hipóteses que poderão ser

discutidas e posteriormente testadas em estudos desenhados especificamente para se

empregar ferramentas estatísticas e analíticas mais refinadas e apropriadas a cada tipo

de análise requerida.

3.2 Automedicação para acompanhar/auxiliar a prescrição médica

Especificamente em relação à automedicação praticada como acompanhamento

ou auxílio à prescrição médica, ela foi verificada em 28 pacientes.

Quanto ao estado civil destes pacientes, 13 (46,4%) são casados, 8 (28,6%) são

solteiros, 3 (10,7%) são separados e 4 (14,3%) são viúvos, sendo que 16 (57,1%) deles

vivem conjugalmente com alguém e a maior parte – 18 (64,3%) - declara ter filhos.

Quanto ao sexo, os pacientes que usaram recursos de automedicação dividem-se em 16

(57,1%) homens e 12 (42,9%) mulheres.

O grau de escolaridade está composto da seguinte maneira: 10 (35,7%) com

primeiro grau incompleto, 7 (25,0%) com primeiro grau completo, 1 (3,6%)

respondente com segundo grau incompleto, 5 (17,9%) com segundo grau completo, 1

(3,6%) respondente com superior completo, 1 (3,6%) respondente com pós-graduação e

3 (10,7%) sem nenhum grau de escolaridade. Neste grupo, mais da metade dos

pacientes também alcançaram apenas até o primeiro grau completo.

27

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A opinião do paciente em relação ao seu estado de saúde pode ser resumida, em

termos de freqüência, às seguintes respostas: 5 (17,9%) consideram seu estado de saúde

muito bom; 13 (46,4%) bom; 5 (17,9%) regular; 4 (14,3%) ruim; e 1 (3,6%)

respondente a declarou como muito ruim. É interessante observar que quase dois terços

dos pacientes percebem sua saúde como muito boa ou boa. A respeito disso, é

importante considerar que muitos pacientes ao começarem um tratamento médico

específico para sua doença, sentem-se assistidos e bem amparados, melhorando a

própria percepção de saúde ao compreenderem que o estado crônico de suas patologias

é irreversível mas monitorável através de exames laboratoriais e principalmente por

meio dos medicamentos prescritos, proporcionando-lhes uma sensação de controle

sobre sua saúde.

Em relação ao grau de preocupação com a saúde destes mesmos respondentes, o

mesmo padrão de distribuição foi observado, obtendo-se 13 (46,4%) pacientes

declarando ter uma preocupação muito alta, 5 (17,9%) alta, 6 (21,4%) regular, 3

(10,7%) baixa e 1 (3,6%) respondente com preocupação muito baixa. A maioria das

respostas se concentrou em ter preocupação alta ou muito alta, revelando do paciente

um envolvimento com o seu caso clínico e podendo se associar ao fato de que estes

pacientes estejam mais receptivos a práticas em favor de sua saúde.

Quanto ao conhecimento da doença, antes de ter sido diagnosticada, encontrou-se

19 (67,9%) pacientes declarando já conhecê-la previamente ao seu diagnóstico, contra 9

(32,1%) que não a conheciam. Mais especificamente em relação aos 19 respondentes

que declararam já conhecer a doença antes do tê-la, 8 (40,0%) não conheciam a maneira

de transmissão da mesma e 16 (80,0%) não conheciam a maneira de tratá-la através de

um acompanhamento medicamentoso. Percebe-se que vários pacientes só tomam

conhecimento da doença no momento em que o médico lhe dá seu diagnóstico e explica

ao paciente o que é a doença, como ela é transmitida e que a partir daquele momento um

tratamento medicamentoso será utilizado para o seu caso. Antes disso, a doença é

percebida como um agravo na saúde para o qual o paciente muitas vezes experimenta

diversos recursos na tentativa de saná-la, não se furta a comentários e sugestões de

pessoas leigas na tentativa de melhorar seu quadro de saúde, imagina que seus sintomas

clínicos se referem a alguma outra doença mais presente no imaginário popular (câncer,

28

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por exemplo) ou ainda, acreditando não poder tratá-la adequadamente, chega mesmo a

pensar num desfecho iminente e fatal para seu caso.

Quando estes pacientes são indagados sobre se consideram haver informações

suficientes sobre a transmissão e o tratamento de sua doença nos veículos de informação

e mídia em geral aos quais estão expostos, a maioria deles - 19 (67,9%) - declara achar

que não há informação suficiente sobre o modo de transmissão de sua doença e, da

mesma forma, a maioria - 20 (71,4%) - não considera haver informação suficiente sobre

a possibilidade de acompanhamento medicamentoso para a doença que possuem. Várias

considerações podem ser feitas a partir destes dados, tais como o fato dos pacientes

terem, em sua maior parte, um baixo grau de escolaridade, estarem menos expostos a

veículos de informação que não a televisão e rádio, e de que algumas doenças como

Doença de Chagas e PCM serem doenças negligenciadas, ou seja, há sobre elas muito

pouco investimento e divulgação ao afetarem principalmente populações de países

pobres. O HTLVI é ainda muito pouco difundido para a população em geral e mesmo

em relação à aids, sabe-se que nem sempre as campanhas sobre prevenção e tratamento

são eficientes e eficazes, com suas mensagens nem sempre sendo apreendidas da

maneira que seus responsáveis desejam. Considerando a inserção do indivíduo no

Hospital, onde passa a receber todas as informações necessárias e as que demanda sobre

sua doença e o tratamento, 11 (39,3%) pacientes declararam ter um grau muito bom de

informação sobre a doença, 6 (21,4%) bom, 5 (17,9%) regular e 6 (21,4%) ruim. Ainda

assim, não é pequena a proporção de pacientes que dizem ter conhecimentos sobre a

doença entre razoável e ruim.

A respeito de como convivem com a doença, 4 (14,3%) disseram ter um convívio

muito bom com a mesma, 14 (50,0%) bom, 3 (10,7%) regular, 4 (14,3%) ruim e 3

(10,7%) muito ruim, ou seja, a maior parte declara ter um convívio bom com a doença,

porém sempre deve ser levado em conta que o paciente relativiza sua resposta no

sentido de que compreende sua doença como crônica, o que muitas vezes lhe impõe

determinadas limitações e imposições, as quais são incorporadas a seu critério de saúde.

Em relação ao tempo em que se encontram em tratamento, este varia de 1 mês a

12 anos, com média de 6,3 anos e mediana de 6,0 anos, e quanto ao tempo que sabem

estar com a doença, mesmo sem ter iniciado terapia medicamentosa, este varia de 11

29

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meses a 42 anos, com média de 8,8 anos e mediana de 8,0 anos. Em média, o tempo de

defasagem entre saber que tinha a doença e o início da terapia com medicamentos é de

dois anos e meio.

Quanto ao tratamento medicamentoso seguido por estes pacientes, 11 (39,3%)

sentem dificuldades em seguir a prescrição médica. Mais especificamente, 10 (35,7%)

pacientes declararam achar que tomam muitos medicamentos, 7 (25,0%) deles relatam

problemas de esquecimento, 4 (14,3%) consideram os horários inconvenientes e difíceis

de serem seguidos e 1 (3,6%) paciente disse achar o gosto da medicação desagradável

(Quadro 3-2).

Quadro 3-2: número de pacientes declarando algum tipo de dificuldade

Dificuldades Número de pacientes

Seguir a prescrição 11

Muitos medicamentos 10

Esquecer de tomar o medicamento 7

Horários inconvenientes 4

Gosto desagradável 1

As dificuldades para este grupo se concentram principalmente no tocante à

seguir a prescrição médica e ao achar excessiva a quantidade de medicamentos a serem

tomados diariamente.

Para fins de categorização, os recursos de automedicação citados pelos

entrevistados (Quadro 3-3) foram reunidos em quatro grupos, a saber:

Grupo 1: recursos fitoterápicos, onde estão incluídos todos os tipos de ervas, utilizadas

das mais diversas maneiras e também quando associadas a preparações específicas tais

como garrafadas ou junto a bebidas alcoólicas.

30

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Grupo 2: recursos alimentares ou partes específicas de alimentos, quando utilizados de

maneira a obter alguma vitamina ou mineral específico, ou ainda a utilização de

preparados de vitaminas e sais minerais.

Grupo 3: recursos religiosos ou espirituais.

Grupo 4: outros recursos: utilização de produtos químicos não formulados com fins

terapêuticos ou outras substâncias também não reconhecidas com esse fim.

Quadro 3-3: recursos citados (automedicação junto à prescrição)

GRUPO RECURSOS CITADOS

Grupo 1 Capim limão, erva cidreira, quebra-pedra, aroeira, macaé, boldo, semente de

urucum, folha de chuchu, semente de passarinho, parraceia, mifomi, colônia,

alecrim, pata de vaca, flor de maracujá, casca de côco, anador, novalgina,

sabugueira, sambacaitá, barbatimão, transagem, chá de maçã, antraz, romã,

água de berinjela, batatinha de teiú com vinho branco, babosa e babosa

associada a whisky e mel, maconha, evelói, cana do brejo, ervas em cápsulas

(Mulher de São Cristóvão), ervas diversas da Amazônia, da Bahia e do

interior de Minas Gerais e garrafadas da Dona Conceição de Piratininga

Grupo 2 Inhame, pimentas (malagueta e dedo de moça), tomate e brócolis, fígado

com beterraba, cogumelos, rã, pó de casca de ovo, comprimidos de

cartilagem,

NPK

Grupo 3 Corrente de oração com benzedeira, promessa para a Nossa Senhora, milagre

de Deus, cirurgia espiritual (Tupiara)

Grupo 4 Creolina, éter, iodo, urina

Não é propósito desta investigação avaliar tecnicamente os recursos citados, a

fim de estabelecer alguma conexão sobre potenciais princípios ativos encontrados nas

substâncias usadas e as doenças ou sintomas combatidos com elas, de modo que fosse

possível pensar em seu uso a partir de uma eficácia desejada. No entanto, tal

procedimento é passível de ser realizado, interessando sobretudo aos que se dedicam ao

estudo do uso popular de ervas, com intuito de elaborar medicamentos fitoterápicos.

31

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Dos 28 pacientes que utilizaram algum recurso de automedicação para

acompanhar a prescrição médica, 17 deles utilizaram algum recurso caracterizado como

pertencente ao Grupo 1. Dentre estes, a maior parte -10 pacientes - declarou ter obtido

bons resultados com seu uso, 4 pacientes tiveram resultados indiferentes e 3 pacientes

declararam ter tido resultados ruins. O uso de recursos fitoterápicos parece ser mesmo

considerado um bom coadjuvante pelos seus usuários, cuja maioria declarou ter obtido

bons resultados a partir dela. Para os 7 pacientes que experimentaram algum recurso

relacionado ao Grupo 2, 3 disseram ter tido bons resultados e 4 tiveram resultados

indiferentes. Para aqueles 11 pacientes que declararam fazer uso de algum recurso do

Grupo 3, a grande maioria - 10 pacientes - teve bons resultados e 1 respondente disse ter

obtido resultado indiferente, o que leva à consideração de que os recursos religiosos são

bons auxiliantes para estes pacientes. Já os 2 pacientes que optaram pela utilização de

algum recurso ligado ao Grupo 4, ambos declararam ter obtido maus resultados com as

tentativas (Quadro 3-4).

Quadro 3-4: número de pacientes e resultados da utilização de recursos de

automedicação junto à prescrição

Resultado Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5

Bom 10 3 10 3 -

Indiferente 4 4 1 - -

Ruim 3 - - - 2

Para este grupo de pacientes, cuja automedicação visa acompanhar ou auxiliar a

prescrição médica feita, foram selecionadas as variáveis que mais se relacionaram com

a decisão em se automedicar, quais sejam:

Viver conjugalmente com alguém (rede social)

Conversar com outras pessoas sobre a doença (rede social)

Grau de preocupação com a saúde

Grau de informação sobre a doença

Convívio com a doença

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Foram testadas correlações para as variáveis dummy, obtendo-se, com nível de

significância de 0,05: ´viver conjugalmente com alguém` correlação negativa com

´sentir dificuldade para seguir a prescrição` (r = -0,320); ´sentir dificuldade para seguir a

prescrição` correlacionando positivamente com ´acha que toma muitos medicamentos`

(r = 0,686) (Quadro 3-5).

Quadro 3-5: correlações encontradas

Correlações (r) Sentir dificuldade para seguir a prescrição

Vive conjugalmente com alguém - 0,320

Acha que toma muitos medicamentos 0,686

Em termos das freqüências dos pacientes que declararam utilizar algum recurso

de automedicação em relação a essas variáveis, encontramos 16 (57,1%) pacientes

vivendo conjugalmente com alguém contra 12 (42,9%) deles não vivendo

conjugalmente. Viver conjugalmente com alguém, dentro da perspectiva do tipo de

automedicação praticada por este grupo, pode servir como uma maneira de se alcançar

uma rede social mais ampla, que serviria como fonte de sugestões e conselhos leigos

para a utilização de recursos que visem auxiliar o paciente diretamente sobre sua

doença. Um outro aspecto é que viver conjugalmente com alguém se mostra como um

apoio no sentido de auxiliar o paciente a se relacionar com sua condição de doente e

com os medicamentos, suportando-os melhor.

Já em relação ao tratamento dado ao paciente, é considerável que aqueles que

têm de tomar muitos medicamentos, ou que assim o considerem, são os mesmos que

sentem mais dificuldades para seguir a prescrição médica. Este fato está muito

relacionado com uma rotina de horários que deve ser seguida, interferindo nas

atividades cotidianas e também devido às reações adversas que acompanham a

medicação, como será visto mais a diante, fatores estes que estimulam o paciente a

procurar formas de se adaptar ao regime terapêutico.

A grande maioria - 23 (82,1%) - dos pacientes que se automedicam, declara

conversar a respeito de sua doença com outras pessoas que não apenas o médico ou

outros profissionais de saúde que o assistem, aumentando as chances de receber

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sugestões sobre como tratar de sua doença e seus sintomas clínicos. Em relação a outras

pessoas com quem declara conversar especificamente sobre sua doença, encontrou-se

que estes pacientes conversam principalmente com seus parentes (60,7%) e com outros

pacientes (35,7%). Uma menor parte conversa com seus companheiros (28,6%), colegas

de trabalho (21,4%) e amigos (28,6%).

Quase metade -13 (46,4%) - desses pacientes que se automedicam tem grau de

preocupação muito alto com sua saúde. Se agruparmos também os que declararam ter

grau alto de preocupação, chega-se a 18 (64,3%) pacientes, formando um grupo

predominante que estaria mais exposto e receptivo a informações concernentes à sua

condição.

O paciente que se automedica também considera ter um grau de informação

muito bom sobre a doença em sua maior parte (39,3% ou 11 pacientes). Agrupando-se o

grau de informação bom, soma-se 17 pacientes ou 60,7%. Tais dados permitem cogitar

que estes pacientes têm um maior envolvimento com os aspectos informativos de sua

doença, permitindo-lhes de certa forma, mais autonomia em seu próprio cuidado.

3.3 Automedicação para diminuir as reações adversas

A automedicação quando utilizada para diminuir reações adversas advindas da

prescrição médica foi verificada em 31 pacientes, sendo relatada por 17 (54,8%)

mulheres e 14 (45,2%) homens. Em relação ao estado civil destes pacientes, 10 (32,3%)

são casados, 14 (45,2%) são solteiros, 4 (12,9%) são separados e 3 (9,7%) viúvos, sendo

que uma menor parte - 12 (38,7%) deles - vive conjugalmente com alguém, declarando

ter filhos 22 (71,0%) deles.

O grau de escolaridade se compõe da seguinte maneira: 11 (35,5%) com primeiro

grau incompleto, 5 (16,1%) com primeiro grau completo, 2 (6,5%) respondentes com

segundo grau incompleto, 6 (19,4%) com segundo grau completo, 4 (12,9%) com

superior completo e 3 (9,7%) sem nenhum grau de escolaridade, acompanhando a

mesma distribuição do grupo anterior e do grupo total.

34

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Quanto à opinião do paciente em relação ao seu estado de saúde, 4 (12,9%) o

consideram muito bom, 15 (48,4%) bom, 8 (25,8%) regular, 3 (9,7%) ruim e 1 (3,2%)

respondente declarou-o como muito ruim. Já em relação ao grau de preocupação com a

saúde destes mesmos respondentes, obteve-se 7 (22,6%) pacientes com uma

preocupação muito alta, 8 (25,8%) alta, 9 (29,0%) regular, 6 (19,4%) baixa e 1 (3,2%)

respondente com preocupação muito baixa.

Com relação ao conhecimento prévio da doença, 16 (51,6%) pacientes a

conheciam quando esta foi diagnosticada, e deste grupo de respondentes, 10 (62,5%)

conheciam o modo de transmissão da mesma, porém em relação ao acompanhamento

medicamentoso para a doença, apenas 3 (18,8%) pacientes tinham informações a

respeito. Esses dados parecem reforçar a noção de que muitas vezes o paciente não

conhece a doença até o momento de ser apresentado a ela como seu portador, e que

mesmo quando declara já conhecê-la, isto não significa que o paciente saiba como a

contraiu e ainda menos como tratá-la.

Quando indagados sobre se consideram haver informações suficientes sobre a

transmissão e o tratamento de sua doença nos veículos de informação e mídia em geral

aos quais estão expostos, 23 (74,2%) pacientes declaram não haver informação

suficiente sobre o modo de transmissão da doença e 22 (71,0%) deles declararam achar

que não há informação suficiente sobre a possibilidade de acompanhamento

medicamentoso para a doença que possuem, ou seja, na sua grande maioria os pacientes

parecem se ressentir de não estarem expostos a informações que pudessem tê-los

ajudado a se prevenir ou a conhecer melhor o agravo de sua saúde.

A respeito de como convivem com a doença, 20 (64,5%) pacientes disseram ter

um convívio bom com a mesma, 6 (19,4%) regular, 3 (9,7%) ruim e 2 (6,5%) muito

ruim. Da mesma forma como no grupo anterior, a maior parte dos pacientes considera

ter um convívio bom com a doença.

Em relação ao tempo em que se encontram em tratamento, a variação está entre 1

a 15 anos, com média de 7,8 anos e mediana de 9,0 anos, e quanto ao tempo que sabem

estar com a doença, mesmo sem ter iniciado terapia medicamentosa, a variação está

entre 2 a 42 anos, com média de 9,5 anos e mediana de 10,0 anos. O tempo de

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defasagem entre saber que tinha a doença e o início da terapia com medicamentos é de

aproximadamente um ano e oito meses.

Quanto ao tratamento medicamentoso seguido por estes pacientes, 17 (54,8%)

deles declararam sentir dificuldades em seguir a prescrição. Mais especificamente, 16

(51,6%) pacientes declararam achar que tomam muitos medicamentos, 10 (32,3%) deles

têm problemas de esquecimento, 4 (12,9%) consideram os horários inconvenientes e

difíceis de serem seguidos e 2 (6,5%) disseram achar o gosto da medicação

desagradável (Quadro 3-6).

Quadro 3-6: número de pacientes declarando algum tipo de dificuldade

Dificuldades Número de pacientes

Seguir a prescrição 17

Muitos medicamentos 16

Esquecer de tomar o medicamento 10

Horários inconvenientes 4

Gosto desagradável 2

Este grupo de pacientes é o que mais relata dificuldades com a prescrição, o que

era esperado ao terem declarado utilizar recursos de automedicação que servissem

justamente para atenuar os incômodos da posologia a ser seguida, seja por conta das

reações adversas intensas, seja por horários difíceis de serem seguidos ou ainda pelas

outras razões relatadas.

Da mesma maneira como foi feita uma categorização dos recursos de

automedicação na primeira etapa de caracterização da mesma, formando-se quatro

grupos para reunir os relatos dos pacientes, nesta segunda etapa o mesmo foi feito

(Quadro 3-7), formando-se grupos aproximadamente semelhantes, que podem ser

resumidos a:

Grupo 1: recursos fitoterápicos, onde estão incluídas ervas, utilizadas de maneiras

diversas e também medicamentos fitoterápicos comerciais.

36

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Grupo 2: recursos alimentares ou partes específicas de alimentos, quando utilizados de

maneira a obter alguma vitamina ou mineral específico, ou ainda a utilização de

preparados de vitaminas e sais minerais.

Grupo 3: recursos medicamentosos, pela ingestão de outros medicamentos fora da

prescrição médica, ou pela alteração na posologia dos medicamentos indicados para o

tratamento do paciente.

Grupo 4: outros recursos: utilização de produtos químicos não formulados com fins

terapêuticos ou outras substâncias também não reconhecidas com esse fim.

Quadro 3-7: recursos citados (automedicação contra as reações adversas)

GRUPO RECURSOS UTILIZADOS

Grupo 1 Erva cidreira (calmante, prisão de ventre) , boldo (enjôo, azia, gastrite, má

digestão), chá mate (sonolência, diarréia), macaé (azia, insônia, prisão de

ventre), chá de sene (prisão de ventre), espinheira santa (azia), erva doce

(flatulência), chá de camomila (calmante), chá preto (diarréia), chá de louro

(azia, má digestão), cabelo de milho (calmante), quebra pedra (calmante),

chapéu de couro (calmante), cana do brejo (calmante), alfavaca (calmante),

aniz (gastrite, irritação no estômago), pata de vaca e abajero

(hipoglicemiantes), Vida e Vigor (fortificante comercial), salsinha crua ou

seu suco (acidez no estômago), Eparema (medicamento fitoterápico

comercial para desconfortos hepáticos)

Grupo 2 Mamão, pêra (prisão de ventre), limão espremido tomado em jejum

(gastrite), farinha de mesa com limão (diarréia), refrigerante – soda (má

digestão), miolo bovino e cabeça de peixe (fosfato para melhorar a

memória) vitamina C e Complexo B, sulfato ferroso, complexo de vitaminas

Grupo 3 Bicarbonato de Sódio (azia), Plasil (enjôo), Imosec, Diazepan (alterações na

posologia), Dimeticona (flatulência), Atroveran (dores abdominais)

Grupo 4 Creolina (inflamações tópicas)

Talco (prurido)

37

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Os pacientes que utilizaram algum recurso de automedicação para diminuir as

reações adversas advindas da prescrição médica fizeram, na sua maior parte – 24

(77,0%) pacientes - uso de recursos do Grupo 1, novamente os recursos fitoterápicos

como grupo predominante. O uso de recursos do Grupo 2 foi declarado por 6 (19,4%)

respondentes. Para o Grupo 3, encontrou-se 10 (32,3%) pacientes fazendo algum tipo de

uso ou modificando a posologia de seu tratamento, sendo este grupo aquele que mais se

associaria a questões de adesão ao tratamento e cujas práticas de automedicação

poderiam causar algum prejuízo mensurável em seu tratamento. Para o Grupo 4, apenas

1 (3,2%) entrevistado declarou resposta. Um aspecto que diferencia este grupo do

anterior é o fato de que todos os seus usuários sofrem algum tipo e grau de desconforto

causado pelas reações adversas aos medicamentos que utilizam. Em relação a isso, esse

grupo foi avaliado também pelas reações adversas que relatou, com o objetivo de se

conhecer quais os desconfortos mais freqüentes e os meios mais utilizados para saná-

los. Quanto às reações adversas relatadas, 28 (90,3%) pacientes sentem alguma reação

adversa referente ao sistema gastrointestinal; 9 (29,0%) pacientes relataram reações

adversas no sistema cardiovascular; 18 (58,1%) pacientes relataram reações no sistema

nervoso central ou periférico; 9 (29,0%) pacientes relataram reações sentidas na pele ou

em seus apêndices; 6 (19,4%) pacientes relataram reações adversas no sistema

respiratório; 8 (25,8%) pacientes disseram sentir algum tipo de reação adversa no

sistema musculoesquelético e 15 (48,4%) pacientes relataram ainda outras reações que

não se enquadravam em nenhuma das categorias anteriores (Quadro 3-8).

Quadro 3-8: número de pacientes declarando algum tipo de reação adversa

Órgão ou sistema afetado pacientes

Gastrointestinal 28

Cardiovascular 9

Sistema Nervoso Central ou Periférico 18

Pele e apêndices 9

Sistema Respiratório 6

Sistema Musculoesquelético 8

Outros 15

38

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Nota-se que o sistema mais afetado pelas reações adversas é o gastrointestinal, e

para o qual os pacientes mais conhecem formas de automedicação para atenuá-los,

como será discutido posteriormente.

Para este grupo de pacientes, cuja automedicação visa diminuir as reações

adversas procedentes da prescrição, foram selecionadas as variáveis que mais

aparentaram se relacionar com a decisão em se automedicar, quais sejam:

Viver conjugalmente com alguém (rede social)

Achar que toma muitos medicamentos

Sentir dificuldades em seguir a prescrição

Foram realizadas correlações para as variáveis dummy obtendo-se, com nível de

significância de 0,05: ´viver conjugalmente com alguém` e ´sentir dificuldade em seguir

a prescrição` com coeficiente negativo (r = -0,451); ´sentir dificuldade em seguir a

prescrição` com ´conhecia algum recurso para o tratamento` com coeficiente negativo (r

= -0,386) e ´sentir dificuldade em seguir a prescrição` com ´acha que toma muitos

medicamentos` com coeficiente positivo (r = 0,471) (Quadro 3-9).

Quadro 3-9: correlações encontradas

Correlações (r) Sentir dificuldade para seguir a prescrição

Vive conjugalmente com alguém - 0,451

Acha que toma muitos medicamentos 0,471

Conhece algum recurso para o

tratamento

- 0,386

Em termos das freqüências das características dos pacientes que declararam

utilizar algum recurso de automedicação em relação a essas variáveis, a maioria – 19

(61,3%) dos pacientes - não vive conjugalmente com alguém. Mais uma vez, viver

conjugalmente com alguém se mostra compatível com sentir menores dificuldades em

seguir a prescrição médica. Especificamente para este grupo, a maior parte de seus

pacientes não vive conjugalmente com alguém e este fato parece se relacionar com uma

39

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maior necessidade de outros tipos de suporte, que não o social ou afetivo para

acompanhar a rotina medicamentosa.

Considera-se que tomar muitos medicamentos é um fator que está associado a

sentir dificuldades em seguir a prescrição médica como também com o fato de sentir

mais reações adversas, como será discutido posteriormente. Também parece que o fato

de o paciente não conhecer recursos de automedicação, que podem ser considerados

como recursos de apoio à sua condição de doente crônico, tornam o seu tratamento mais

difícil de ser seguido.

Dos pacientes que declararam se automedicar, 16 (51,6%) acham que tomam

muitos medicamentos, sendo interessante observar que a mesma pergunta quando feita

para o grupo total dos entrevistados, têm apenas 38,3% dos pacientes declarando achar

que tomam muitos medicamentos, o que torna essa característica enviesada para este

grupo de respondentes. Ainda, desses pacientes que se automedicam, 17 (56,7%)

declararam sentir dificuldades em seguir a prescrição médica.

3.4 Caracterização dos pacientes que não se automedicam

Em relação aos 14 pacientes que não fizeram uso de recursos de automedicação, é

predominante o sexo masculino – 10 (71,4%) pacientes – para 4 (28,6%) pacientes do

sexo feminino, se mostrando congruente com a literatura disponível.

Quanto ao estado civil, 6 (42,9%) são solteiros e 8 (57,1%) são casados,

entretanto 10 (71,4%) pacientes vivem conjugalmente com alguém, contra 4 (28,6%)

pacientes que declararam não viver conjugalmente. A maior parte deles – 9 (64,3%) –

declara ter filhos. Viver conjugalmente com alguém se associa novamente com a

decisão de se automedicar. Dos pacientes que não praticam nenhum tipo de

automedicação, a grande maioria vive conjugalmente com alguém, o que volta a indicar

que a presença afetiva de um(a) companheiro(a) é ponto importante e auxiliar para um

doente de patologia crônica.

40

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Ao se verificar as respostas para a rede social desse grupo, percebe-se que esses

pacientes têm o mais amplo convívio social quando comparado aos dois grupos

anteriores, e que ele está concentrado no convívio e trocas com os parentes (57,1%) e

companheiros(as) - 57,1% - ao contrário dos grupos anteriores, onde a concentração da

rede social se dava entre ‘parentes’ e ‘outros pacientes do IPEC’.

O grau de escolaridade está composto da seguinte maneira: 6 (42,9%) com

primeiro grau incompleto, 2 (14,3%) com primeiro grau completo, 1 respondente

(7,1%) com segundo grau incompleto, 3 (21,4%) com segundo grau completo, 1 (7,1%)

respondente com superior completo e 1 (7,1%) respondente sem nenhum grau de

escolaridade. Novamente, predomina o grau de escolaridade que vai até o primeiro grau

completo.

A opinião do paciente em relação ao seu estado de saúde, em termos de

freqüências, pode ser resumida a: 12 (85,7%) consideram seu estado de saúde bom, 1

(7,1%) o considera regular e 1 (7,1%) o declarou como ruim. Portanto, a grande maioria

dos respondentes considera o seu estado de saúde bom, o que parece ter a ver com o fato

de não sentirem necessidade de recursos de atenuação da terapia medicamentosa ou de

recursos para amenizar o convívio com sua doença. Quanto ao grau de preocupação

com sua saúde, 4 (28,6%) têm uma preocupação muito alta com a saúde, 4 (28,6%) alta,

5 (35,7%) regular, e 1 respondente (7,1%) a declarou como baixa.

Com relação a um conhecimento prévio da doença, a maioria desses pacientes –10

(71,4%) - já conhecia a doença antes de tê-la diagnosticado em si, e deste grupo de

respondentes, a maior parte – 8 (80,0%) pacientes – conhecia o modo de transmissão da

mesma, havendo apenas 2 (20,0%) pacientes que conheciam o acompanhamento

medicamentoso para a doença. Este é o grupo em que há a maior proporção de

respondentes declarando conhecer o modo de transmissão da doença.

Ao serem indagados se consideram haver informações suficientes sobre a

transmissão e o tratamento de sua doença nos veículos de informação e mídia em geral

aos quais estão expostos, apenas 4 (28,6%) dos respondentes acham que ela é suficiente,

tanto para a divulgação do modo de transmissão quanto para o acompanhamento

medicamentoso. Esse percentual, em termos exploratórios, se mostra compatível com os

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dos dois grupos anteriores, não apontando que tal característica estaria envolvida como

fator predisponente para a automedicação

Quanto ao tempo em que se encontram em tratamento, a variação está entre 1 mês

e 27 anos com média e mediana de 7,0 anos. Já quanto ao tempo que sabem estar com a

doença, este também varia de 1 mês a 27 anos, mas com média de 8,0 anos e mediana

de 7,0 anos.

Considerando o tratamento medicamentoso seguido por estes pacientes, apenas 3

(21,4%) disseram ter dificuldades em seguir a prescrição 3 (21,4%) pacientes

declararam achar que tomam muitos medicamentos e 2 (14,3%) deles se queixaram de

esquecimento da tomada de seus medicamentos, o que são resultados bastante

discrepantes dos obtidos nos grupos anteriores. Inversamente, todos eles -14 (100%) –

consideram os horários inconvenientes e todos eles também acham o gosto de seus

medicamentos desagradável, sendo curioso observar que “achar o gosto dos

medicamentos desagradável” foi pouco citado nos grupos anteriores mas consenso neste

(Quadro 3-10).

Quadro 3-10: número de pacientes declarando algum tipo de dificuldade

Dificuldades Número de pacientes

Seguir a prescrição 3

Muitos medicamentos 3

Esquecer de tomar o medicamento 2

Horários inconvenientes 14

Gosto desagradável 14

Tais características podem denotar uma maior sensibilidade desses pacientes em

termos de ingestão de substâncias, o que lhes manteriam reticentes à experimentar

outras possibilidades terapêuticas. Outra variável que obteve consenso para este grupo

foi a de “considerar os horários inconvenientes”, também pouco citada nos grupos

anteriores, permitindo considerar que esses pacientes se sentem pouco estimulados a

seguir os horários dentro de uma conduta posológica específica, e talvez por isso,

queiram tampouco condutas paralelas.

42

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4 Discussão

4.1 Instrumento de coleta de dados x resultados

O instrumento utilizado (Anexo 1), teve como propósito fundamental, estabelecer

um canal de contato entre o pesquisador e o entrevistado, para que este último

comunicasse ao entrevistador, ou o resultado do que compreendeu, ou o que recuperou

de sua memória e arranjou na forma de uma opinião (Eisenhower 1991). Este conjunto

de etapas cognitivas é crucial para a formulação da resposta do entrevistado, tanto para

as questões fechadas, onde o respondente se baseia numa série de julgamentos próprios

para escolher a alternativa que melhor se adapte à sua opinião, quanto para as questões

abertas em que o paciente é demandado a formular uma resposta.

A compreensão das questões da entrevista é o ponto de partida para o processo de

resposta que vai ser elaborado pelo entrevistado. É, portanto, desejável que haja um

significado compartilhado entre o entrevistador e o entrevistado no momento da

entrevista, o qual não depende somente de um entendimento das palavras e frases

expressas pelo pesquisador. A impressão que o entrevistado forma dos objetivos da

pesquisa, o contexto em que as questões são apresentadas e o próprio comportamento do

pesquisador no momento em que está fazendo uma pergunta, interferem no

entendimento do que o paciente imagina dever dizer ao entrevistador. É bastante natural

que o paciente escolha suas respostas de forma a escolher aquelas que representem uma

característica socialmente desejável dentro da interação individual e social que fica

estabelecida no momento, local e situação da entrevista. No caso particular dessa

pesquisa, estabeleceu-se uma situação onde o paciente estava, ao longo da entrevista,

cercado justamente pela estrutura hospitalar que é responsável pelo seu acolhimento e

cuidado, sendo o entrevistador um profissional de saúde – o farmacêutico.

4.2 Prevalência da automedicação

Inicialmente serão comparados alguns dos resultados obtidos nessa investigação

com outros trabalhos que também trataram da questão da automedicação. Da

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perspectiva do presente trabalho, as informações sobre sexo, idade e grau de

escolaridade dão subsídios para uma compreensão sobre como esses fatores influenciam

o uso de possibilidades terapêuticas além daquela designada por um profissional de

saúde habilitado para tanto.

Ao se verificar a ocorrência da automedicação num panorama mais geral, ou seja,

quando realizada como complementar à prescrição e/ou se usada para amenizar alguma

reação adversa decorrente da prescrição, ela é observada em 47 (77,0%) dos 61

pacientes entrevistados, sendo observada em 85,2% das mulheres e 70,6% dos homens.

Outros trabalhos que investigaram a automedicação, ainda que não tratando tal prática

com as mesmas particularidades desta pesquisa, encontram prevalência maior de

automedicação entre as mulheres. (Arrais 1997; Vilarino et al. 1998) como também

prevalência maior de automedicação para o sexo masculino (Loyola Filho et al 2002).

No presente trabalho, a automedicação, se realizada como complementar à

prescrição e/ou se usada para amenizar alguma reação adversa decorrente da prescrição,

foi observada em 77,0% dos pacientes entrevistados, ocorrendo em 85,2% das mulheres

e 70,6% dos homens. Em estudo sobre o perfil de automedicação no Brasil, Arrais et al

(1997), encontrou como grupo majoritário da prática de automedicação, mulheres entre

16 e 45 anos. Vilarino et al. (1998) encontrou 53,3% de prevalência de automedicação

na população estudada, sendo que o sexo feminino se automedicava mais (65%).

Simões (1988) encontrou prevalência de 19,6% na população estudada, sendo que o

grupo de mulheres com 50 anos ou mais alcançou prevalência de 33,1%. Loyola Filho

et al (2002) encontrou prevalência de 52,5% para o sexo masculino e 47,5% para o

feminino. No Brasil, são raros os estudos sobre automedicação que procuram associar a

prática com fatores que a predisponham. Isso possibilita o reconhecimento da

automedicação principalmente em relação ao que é utilizado, mas não permite formular

pressupostos sobre suas principais causas e motivações. Haak (1989), em estudo sobre a

automedicação e fatores associados a ela, constatou prevalência da mesma em 74,0%

dos entrevistados. Já Loyola Filho et al. (2002) verificou prevalência de automedicação

igual a 50,0%, embora com predominância do sexo masculino.

No presente estudo, buscou-se conhecer fatores que predispusessem o paciente à

prática de automedicação, evitando conhecer apenas a prevalência da mesma ou

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somente descrevendo aquilo que foi utilizado, de forma a contribuir tanto para a

investigação de tais fatores como para uma proposta mais ampla de se conhecer

recursos variados, que não somente os de alopatia.

4.3 Caracterização dos pacientes

Inicialmente deve-se observar que, os itens que pretendiam avaliar a opinião do

usuário do IPEC quanto ao atendimento médico, o atendimento ambulatorial e o do

Serviço de Farmácia (Questão 20), obtiveram predominantemente respostas bom e

muito bom. Independentemente da qualidade do atendimento prestado pelo IPEC, não

se pode perder de vista a intenção do paciente em ser socialmente agradável, dada a

situação em que se passou a entrevista. Apesar das respostas estarem concentradas nas

avaliações bom e muito bom, isso não autoriza relacionar a qualidade das relações

travadas pelo paciente no ambiente hospitalar com uma predisposição diferenciada para

a automedicação.

Deve-se observar também que, algumas questões demandavam estimativas ou

cálculos matemáticos por parte dos pacientes: reportar o número de medicamentos

ingeridos diariamente, o número de consultas que têm durante o período de um ano, a

renda desejada necessária, o tempo em que está em tratamento e o tempo que sabe ser

portador da doença. Esse tipo de questão demandou um esforço cognitivo extra de

certos pacientes, especialmente daqueles com baixa escolaridade, causando muitas

vezes, dificuldades para fornecer uma resposta, a qual pôde eventualmente ter sua

qualidade afetada. Em geral, o erro produzido por este tipo de questão é uma resposta

superestimada quando o tempo é curto ou a freqüência do evento é rara, e subestimado

quando o inverso ocorre (Eisenhower 1991).

A questão sobre o número de medicamentos (em unidades) que o paciente ingeria

diariamente, obteve valores variando entre1 e 25 medicamentos, com média de 7,5

medicamentos. A maior parte – 37 pacientes (61,7%) declara achar que não toma

muitos medicamentos. Ainda que não mensurado formalmente, observou-se que os

pacientes muitas vezes declaravam uma resposta negativa comparando-se

espontaneamente com outros usuários, pela observação da quantidade de medicamentos

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retirada que, quando maior, funcionou como um indicador subjetivo de um pior estado

de saúde.

Sobre o número de consultas a que o paciente se submete ao longo de um ano, as

respostas não foram consideradas fidedignas pela hesitação demonstrada pelos pacientes

ao responder tal questão (Questão 15). Portanto optou-se pela não utilização da mesma

como parâmetro para tentar medir se uma maior ou menor freqüência ao Hospital

interfere na percepção de saúde do paciente, relação que pode ter alguma influência na

possibilidade de automedicar-se.

A questão sobre a renda per capita mínima desejada também exigiu dos pacientes

um cálculo minucioso, ao terem de avaliar seus gastos e de toda a família durante o

período de um mês. Tal questão exigiu momentos de reflexão do paciente, não sendo

uma resposta fácil ou rápida de fornecer. Entretanto, apesar de não medir a renda do

paciente, cuja mensuração é uma das mais difíceis de ser feita com qualidade e para a

qual diversos índices vêm sendo propostos, a questão apresentada se mostrou como um

bom indicador da condição ou estrato socioeconômico ao qual o paciente pertence. Seus

valores foram dados com base num diagnóstico do valor pago pelo aluguel, contas

domésticas, gastos com alimentação, educação dos filhos entre outros relatados no

momento em que o paciente elaborava sua resposta.

Para recuperar o tempo em que o paciente se encontrava em tratamento e sobre o

tempo em que sabia ser portador da doença, o entrevistado também tinha que elaborar

uma estimativa baseando-se no fato de que, iniciar o tratamento, ou receber o

diagnóstico da doença, são momentos marcantes e repletos de emoção (Sudman 1996).

O entrevistado conseguiu ter uma boa recuperação destes dois momentos, associando o

diagnóstico, ou o início do tratamento medicamentoso, como um ponto de transição em

sua vida e, não raro, relatando um cenário e uma história pertencentes a estes

momentos.

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4.4 Rede e apoio sociais

A questão 21 se referia à rede social e ao apoio social empregado pelo paciente,

buscando conhecer se este se comunicava com outras pessoas, e com quem, a respeito

especificamente de sua doença. Encontrou-se resposta positiva para a maioria – 49

(80,3%) - dos entrevistados, e entre as pessoas mais citadas, os entrevistados disseram

conversar com parentes (52,5%), outros pacientes (32,8%), companheiro(a)s (31,1%) e

amigos (24,6%), tendo menor expressão colegas de trabalho (16,4%) e outros (4,9%). O

fato de a maior parte dos indivíduos conversarem com outras pessoas a respeito de suas

doenças pode estar ligado a um maior intercâmbio de conhecimentos e sugestões

adquiridas especialmente para o cuidado e atenção com a mesma. Destaca-se aqui o

papel dos familiares no que tange ao apoio necessário para que o paciente de doença

crônica receba cuidados, atenção e inserção social.

O conceito de apoio social é multidimensional e pode ser definido como a

totalidade de recursos providos por outras pessoas (Cohen 1985). Entre suas dimensões,

a direção deste apoio (dado ou recebido), a disposição (disponível ou demandado), a

forma de medição (descrito ou avaliado), seu conteúdo (emocional, instrumental,

informativo, avaliador). A rede social se definiria a partir de onde tal apoio é

encontrado, ou seja, refere-se aos contatos sociais de um grupo de pessoas (família,

amigos, vizinhos, colegas de trabalho, comunidade e outros) (Tardy 1985). Num sentido

mais amplo, em que se considera a inserção do paciente no Hospital e também no

âmbito social e político concernentes a esta estrutura, entende-se que “... as instituições,

a estrutura social e as características de indivíduos e grupos são cristalizações dos

movimentos, trocas e ‘encontros’ entre as entidades nas múltiplas e intercambiantes

redes de relações ligadas e superpostas.” (Marques, 2000). Mais especificamente no

campo da saúde, estudos sobre apoio social têm evidenciado que relações bastante

próximas travadas entre as pessoas podem assumir tanto aspectos positivos quanto

negativos na saúde do indivíduo, havendo cada vez mais evidências de que os aspectos

negativos produzem uma resposta mais importante sobre a saúde do que os positivos

(Coyne & Downey 1991 apud Marmot, 1999)

“O apoio social não tem apenas um efeito protetor na prevenção ou na

diminuição do risco de desenvolvimento de doenças, mas é também um

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auxílio para as pessoas que precisam se adaptar ou enfrentar o estresse de

uma doença crônica. Nesse sentido, o apoio social não contribui apenas de

uma forma pragmática, provê também um apoio emocional que é crucial

para manter a moral frente à doença crônica. É também possível que o

apoio emocional tenha um efeito benéfico sobre o sistema imune na doença

crônica.” (Marmot, 1999:164)

Uma das premissas principais da teoria é a de que o apoio social exerce efeitos

diretos sobre o sistema de imunidade do corpo, ou como buffer, no sentido de aumentar

a capacidade de as pessoas lidarem com o stress (Bermann 1995). Outro possível

resultado do apoio social seria sua contribuição geral para a sensação de coerência da

vida e o controle sobre a mesma, que por sua vez, afeta o estado de saúde de uma pessoa

de uma forma benéfica (Cassel 1976)

Também se atribui à rede social muita importância no que se refere ao apoio

frente à doença crônica, especialmente ao fato do paciente viver ou não conjugalmente

com alguém. Os resultados analisados neste trabalho, sugere que, viver conjugalmente

com alguém faz com que o indivíduo procure menos recursos de automedicação. A

investigação sobre apoio social sustenta que a presença ou a ausência deste apoio afeta

diretamente a saúde dos indivíduos. Isso explicaria porque os indivíduos com relações

de apoio, na forma de família, amigos, companheiro etc., freqüentemente têm melhores

condições de saúde física e mental – dados os recursos emocionais e/ou materiais que

obtêm destas relações (Castro 1997) e por reforçar a sensação de controle sobre a

própria vida, o que por sua vez implicaria em efeitos positivos sobre a saúde (Rodin

1986 apud Chor 2001). Tais considerações são concernentes também ao indivíduo que

já é portador de uma doença. No caso de quem convalesce, o sofrimento não ocorre

exclusivamente durante o decorrer de uma doença, mas também freqüentemente como

resultado do seu tratamento (Cassell 1976b).

O tratamento cuja rotina exige mais esforços do paciente, pelas reações adversas

decorrentes, pelos horários a serem seguidos e até mesmo pelo estigma de estar

consumindo determinado tipo de medicação, parece se atenuar quando o paciente

declara conviver conjugalmente com alguém. Ocorrendo o contrário, encontra-se um

maior consumo de recursos – automedicação – na tentativa de atenuar o sofrimento daí

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advindo através de meios não afetivos, mas materiais, e em grande parte das vezes, com

conotações simbólicas (Lefèvre, 1983).

Viver conjugalmente com alguém se mostrou no trabalho realizado como uma

das mais consistentes hipóteses que explicam a motivação de se automedicar. O banco

de dados original, com os 61 pacientes, apresentava distribuição homogênea para esta

característica, com 50,8% dos pacientes vivendo conjugalmente para 49,2% não

vivendo conjugalmente. Quando se verifica a automedicação como forma de

acompanhar a prescrição médica, ela tende a ser mais encontrada naqueles pacientes

que vivem conjugalmente (57,1%), porém a diferença é pequena. Cabe ressaltar que

praticar automedicação junto à prescrição não é uma forma de atenuar a tratamento,

sendo este efeito investigado para o grupo que se automedicou na tentativa de diminuir

as reações adversas e incômodos advindos do tratamento. Considerar que os pacientes

que utilizaram mais recursos de automedicação para acompanhar a prescrição vivem em

sua maioria de forma conjugal, pode estar relacionado a possuir uma fonte a mais de

informações e sugestões de possibilidades de tratamento para sua patologia. Já para o

grupo que se automedicou na tentativa de diminuir o sofrimento vivido pelo tratamento,

uma tendência no sentido de procurar formas de atenuá-lo foi encontrada, com 61,3%

de seus respondentes não vivendo conjugalmente. Ao se observar o grupo que não

praticou qualquer tipo de automedicação, o que se averiguou foi que a maior parte vive

conjugalmente (71,4%), levando à consideração de que este grupo teria melhores

condições sociais e emocionais de suportar o tratamento (Quadro 4-1).

Quadro 4-1: caracterização conjugal dos pacientes

Vive conjugalmente Não vive conjugalmente

Todos os pacientes 50,8% 49,2%

ATM junto à prescrição 57,1% 42,9%

ATM contra RAM 38,7% 61,3%

Ausência de ATM 71,4% 28,6%

ATM: abreviação para AUTOMEDICAÇÃO

RAM: abreviação para REAÇÕES ADVERSAS ao MEDICAMENTO

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De maneira complementar, buscou-se conhecer mais sobre a rede social do

paciente – família, amigos, colegas de trabalho etc., com resultados que pudessem

corroborar para a consideração da importância das relações sociais e afetivas travadas

pelos pacientes e o grau de necessidade de se buscar recursos auxiliares. Primeiramente,

verifica-se a importância de conversar e obter apoio do companheiro(a) para aqueles

pacientes que não se automedicam, o que não é igualmente observável para os dois

outros grupos praticantes de algum tipo de automedicação. Inversamente, o grupo que

não se automedica costuma conversar menos com outros pacientes do IPEC, ao

contrário daqueles que se automedicam, sugerindo que este tipo de contato social pode

estar envolvido com a aquisição de conhecimentos extra-prescrição. Estabelecer mais

contatos com familiares também se aplica mais aos que não se automedicam e àqueles

que conhecem e usam recursos junto à prescrição médica, considerando-se que este

envolvimento pode ser responsável pela tentativa da família em se mostrar solidária no

que concerne a transmitir seus conhecimentos passíveis de serem utilizados contra a

patologia em questão. O grupo que se automedica com o intuito de suportar melhor o

tratamento é, mais uma vez, aquele que estabeleceu menos contatos, desta vez com sua

família, considerada sempre como um apoio social bastante significativo e um dos mais

importantes para o indivíduo doente (Castro 1997). Estabelecer contato com amigos e

colegas de trabalho apresentou tendências comparáveis entre si: o grupo que não se

automedica é aquele que menos trava esse vínculo de comunicação, aparentando

permanecer mais reservado quanto à divulgação e discussão de sua doença com estas

pessoas. Em segundo lugar, encontra-se o grupo que busca recursos para enfrentar

melhor o tratamento e em primeiro, o que usa recursos junto à prescrição médica,

cabendo aqui novamente a possibilidade de conhecerem mais sobre esses recursos ao

estabelecerem mais contatos em sua rede social. As porcentagens obtidas para essa

averiguação encontram-se no quadro a seguir (Quadro 4-2) e referem-se ao total de

indivíduos em cada um dos três grupos formados. Embora nem sempre as diferenças

observadas sejam de grande magnitude, a proposta foi encontrar tendências observáveis

que pudessem ter sua importância considerada ao se estudar o apoio e rede sociais na

motivação de se automedicar.

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Quadro 4-2: percentuais do tipo de apoio social recebido em cada um dos grupos

definidos

ATM - prescrição ATM - RAM Ausência de ATM

Companheiro(a) 28,6% 22,6% 57,1%

Pacientes 35,7% 32,3% 28,6%

Parentes 60,7% 48,4% 57,1%

Colegas de trabalho 21,4% 16,1% 14,3%

Amigos 28,6% 25,8% 21,4%

Outros 10,7% 3,2% -

ATM: abreviação para AUTOMEDICAÇÃO

RAM: abreviação para REAÇÕES ADVERSAS ao MEDICAMENTO

Na pesquisa realizada, a maior dificuldade encontrada pelo paciente para

conseguir manter rigorosamente a prescrição médica foi a ocorrência de reações

adversas, eventualmente tão rigorosas que obrigam os médicos a modificar a medicação

ou a posologia, quando possível. Achou-se correlação positiva com o número de

medicamentos utilizados pelo paciente e a dificuldade em seguir a prescrição nos dois

grupos de usuários de automedicação. Esta informação, embora verdadeira para o grupo

de pacientes entrevistados, deve ser tratada com cautela, uma vez que, mesmo a

utilização de apenas um medicamento pode ser responsável por alguma reação adversa

bastante importante. Entretanto, é plausível que pacientes que tomem mais

medicamentos tenham mais chances de sofrerem mais reações adversas, ao se exporem

a mais substâncias e a mais interações entre as substâncias ingeridas. Estes pacientes

portanto, devem receber uma atenção maior no que tange à preocupação médica de que

o paciente apresente boa adesão ao tratamento. Ao mesmo tempo, atentar para o fato de

que este paciente é mais susceptível a práticas de automedicação, que podem de alguma

forma prejudicá-lo, se houver utilização de substâncias potencialmente tóxicas,

sinergéticas ou interferentes àquelas contidas em seus medicamentos.

‘Erros’ cometidos pelo paciente em relação à ingestão dos medicamentos

prescritos e a ‘não-adesão’ são alterações que podem ser feitas pelo paciente frente à

prescrição médica, não sendo trivial compreender em que extensão isto é um ato

consciente e deliberado, ou falta de atenção e cuidado ou ainda outro tipo de

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comportamento sugerido pelo paciente. Entretanto, sugere-se que o paciente aja, não

como um ente passivo e receptor de conselhos médicos inquestionáveis, mas sim lhes

atribuindo seu próprio julgamento (Dean 1981).

Por outro lado, o conhecimento de práticas que sirvam para atenuar o sofrimento

do tratamento pode ser transmitido e compartilhado com outros pacientes em situações

semelhantes, inclusive com o apoio e incentivo dos profissionais de saúde, contribuindo

para ampliar a comunicação entre profissional e usuário do IPEC.

Em relação às reações adversas mais freqüentemente relatadas pelos pacientes

do grupo que declara sentir reações adversas em decorrência da prescrição médica, as

principais foram as gastrointestinais, acometendo mais de 90% destes entrevistados. Em

segundo lugar, ficaram as reações no sistema nervoso central e periférico, declaradas

por quase 60% deles. Esses dados são comparáveis aos encontrados em estudo sobre a

automedicação no Brasil, onde se verificou que a maior procura (60,0%) era por

medicamentos para o aparelho digestivo, seguido da procura por medicamentos para o

sistema nervoso central (18,2%) {Arrais et al. 1997). Outros estudos sobre

automedicação também encontram maior procura por remédios para distúrbios

gastrointestinais e do sistema nervoso central, sendo também grande a procura por

medicamentos para problemas do sistema respiratório (Vilarino et al 1998; Loyola Filho

2002; Simões 1988; Bradley 1996). O que se deve observar a respeito das reações

adversas relatadas em maior freqüência, é que elas são as mesmas para as quais a

população em geral está mais acostumada a utilizar recursos de automedicação, sendo

portanto bastante vasto o repertório sobre as mesmas. Em particular, para os pacientes

desse estudo que já se encontram sob terapia medicamentosa, encontra-se em grande

escala, a utilização de recursos não alopáticos, sobretudo recursos tradicionais como

aqueles relacionados à fitoterapia e alimentos específicos.

4.5 Os recursos de automedicação utilizados

Quanto aos recursos de automedicação utilizados, cabe examinar o que foi

relatado pelos pacientes tentando estabelecer considerações que visem compreender

tanto aquelas práticas que fazem sentido dentro dos conhecimentos biomédicos e

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farmacológicos, como aquelas que aparentemente não têm qualquer valor terapêutico

dentro desses mesmos conhecimentos.

A exemplo das práticas religiosas e espirituais experimentadas pelos pacientes,

observou-se que são, muitas vezes, as únicas nas quais o paciente declara jamais perder

a fé, valendo-se de sua crença num milagre para que possa alcançar a cura, ciente de que

seu tratamento medicamentoso definitivamente não pode proporcionar-lhe tal

esperança. Há também aqueles pacientes que utilizam práticas de benzedeiras, por um

suposto benefício que esta prática traria ao organismo como um todo1.

Explícita ou implicitamente, a questão de saúde está presente, seja pela busca da

cura, seja pela idéia subjacente do apoio social. Levanta-se a hipótese, inclusive, de que

as igrejas, mediante a proposta espiritual e/ou religiosa, oferecem aos fiéis em sentido

de solidariedade, respeito e prestígio, como também um sentido de coerência da vida e

controle sobre a mesma. Certamente cabe uma investigação sobre o apoio social que as

igrejas proporcionam e como isso se relaciona com a manutenção e/ou recuperação da

saúde, seja pela prevenção, seja pela cura (Valla 1999).

A religiosidade no Brasil comporta elementos mágicos que não devem ser

subjugados nessa discussão mas que fogem ao escopo da pesquisa. Também em outros

países, como na Bolívia, algumas experiências têm demonstrado a importância da

etnomedicina, para a qual as relações sociais, a questão religiosa, a doença e a

manutenção da saúde fazem parte de um tecido só. Nesse sentido, os resultados obtidos

por alguns curandeiros bolivianos indicam que métodos aparentemente “mágicos” têm

um forte efeito psicológico, afetando assim, de uma forma benéfica, os sistemas de

imunidade de algumas pessoas doentes da população (Bastien 1992 apud Valla 1999).

1 A credibilidade que benzedeiras têm em diversas e amplas camadas da população é tão

importante que já existe um projeto social que as inclui em postos de saúde, onde são treinadas

por membros das equipes do Programa Saúde da Família (PSF), como forma de criar um

vínculo mais próximo com a população local. Folha de S. Paulo (25/12/2002)

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Entretanto, é difícil explicar, com base na lógica árida dos esquemas

medicamentosos prevalentes, o porquê destas práticas funcionarem ou não. No presente

trabalho cabe somente registrar tais práticas, como forma de ilustrar aquilo que estes

pacientes buscam, sabendo que suas motivações se remetem de fato à questão da doença

crônica e das dificuldades e estigmas associados a ela.

A utilização de produtos ou substâncias estranhos a uma possibilidade terapêutica

conhecida, ou sendo até mesmo potencialmente tóxicos, se refere ao único grupo em

que talvez se possa efetivamente realizar alguns comentários no sentido de alertar ou até

mesmo tentar evitar seu uso por parte dos pacientes. Não passa sem causar espanto

verificar pacientes que ingiram creolina ou éter para tentar sanar suas manifestações

clínicas ou “matar” o agente responsável pela doença. Essas práticas partem do

conhecimento que o paciente tem das propriedades desinfetantes, antissépticas e

germicidas da creolina, a qual foi inclusive consumida dentro de cápsulas e com

posologia específica, indicando certa sofisticação e empenho na sua utilização. Também

se relatou a utilização de éter em mucosas com feridas, creolina em inflamações tópicas,

e ingestão de iodo ou da própria urina, todos como tentativa de cura de suas patologias.

Utilizar alimentos como meio terapêutico foi citado, dentro do grupo que os

utilizou, de maneira complementar à prescrição, principalmente no sentido de fortalecer

o organismo, com vistas a uma melhor resposta imunológica. É interessante notar

algumas práticas pouco convencionais, como ingerir rãs com essa finalidade e NPK,

fertilizante utilizado na agricultura que contém nitrogênio, fósforo e potássio com

concentrações específicas de acordo com a necessidade da cultura cultivada. Já para o

grupo que ingeriu alimentos como meio de diminuir reações adversas da prescrição, o

seu uso foi delineado para funções específicas tais como para os incômodos

gastrointestinais ou outros mal-estares.

O grupo mais citado para os dois tipos de automedicação foi aquele que se refere

ao consumo de recursos fitoterápicos. Muito embora se saiba que a utilização de ervas e

chás seja amplamente difundida na população, é preciso sempre esclarecer que o uso

desses recursos não é inócuo ou apenas benéfico. Existem compostos tóxicos em muitas

plantas e ervas, e a maneira e dose em que são consumidas podem chegar a afetar de

maneira não desejada o organismo em alguma extensão. Em relação a algumas ervas

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citadas, sabe-se que o macaé deve ser evitado por mulheres grávidas; a alfavaca também

não é recomendada a mulheres grávidas até o terceiro mês de gestação; o chá preto,

quando em altas doses, tem relatos de intoxicação caracterizada por excitação do

sistema nervoso central, taquicardia, convulsões, delírio e dor de cabeça, e está contra-

indicado para pessoas com histórico de problemas cardíacos, especialmente arritmia. O

chá de quebra pedra é potencialmente tóxico devido a presença de alcalóides, sendo

contra-indicado utilizá-lo com grande freqüência; o chá da salsinha, em grande

quantidade, pode causar inflamação dos nervos, aborto, danos ao fígado e rins e

hemorragia intestinal, sendo que suas sementes não devem ser ministradas às mulheres

grávidas e a pacientes com doenças renais. O alecrim, se ingerido em grandes doses

pode provocar intoxicação com aparecimento de sono profundo, espasmos,

gastroenterite, sangue na urina, irritação nervosa, e em altas doses, pode levar à morte.

A sabugueira tem seu uso restrito às flores e frutos, sendo que as folhas são tóxicas se

ingeridas. A romã pode causar intoxicação do sistema nervoso central provocando

paralização dos nervos motores e conseqüente morte por parada respiratória e, a babosa,

em altas doses, pode causar grave crise de nefrite aguda (Lorenzi 2002).

O grupo que declarou fazer uso de ervas como auxiliar na prescrição médica o fez

baseando-se principalmente na indicação e tradição populares do uso desses recursos ou

como potencializadores do estado orgânico geral, ou como possuidores de propriedades

específicas contra a patologia de interesse. Quanto ao grupo que fez uso para diminuir

reações adversas sentidas devido ao tratamento, encontrou-se utilização bastante

específica, muitas das quais, têm respaldo científico quanto ao seu potencial de ação

farmacológica, apresentam poucas contra-indicações, sendo acessíveis e também

bastante palatáveis, podendo efetivamente proporcionar uma série de benefícios ao seu

usuário.

Mais especificamente, o uso de garrafadas foi freqüentemente relatado, e embora

alguns pacientes dissessem serem formuladas apenas com uma mistura de ervas com

propriedades ”medicinais”, houve também quem dissesse que em sua composição

constava sangue de cavalo, imaginado como próprio para fortalecer o sangue do

paciente. O fato é que a composição real destas garrafadas é desconhecida, dificultando

qualquer que seja a discussão sobre sua potencialidade farmacológica ou tóxica. O que

permanece são as considerações de seu uso sob um enfoque que privilegia as

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considerações que o paciente formula e que o motiva a fazer uso das mesmas. A relação

com a pessoa encarregada de preparar as garrafadas (Dona Conceição de Piratininga,

em Niterói ou “Mulher” de São Cristóvão) denota um tipo de apoio social, onde o

paciente recebe, além de um preparado de ervas feito para ele, palavras de conforto,

segurança e confiança para continuar em sua luta contra a doença.

4.6 Discussão Final

Atribuir poderes transformadores a substâncias materiais ou a práticas religiosas

pode ser apreendido ao longo da história da humanidade, a exemplo do extraordinário

sucesso alcançado por pajés, feiticeiros e sacerdotes desde 2000 AC até o início de

nosso século (Paulo & Zanini 1988). Por definição, remédios são substâncias que têm a

capacidade de provocar uma mudança na condição de um organismo vivo,

especialmente aliviando a enfermidade de quem faz seu uso, e o significado último de

um remédio para a maioria das pessoas é a sua eficácia curativa. O que tornou os

remédios tão populares como soluções em momentos de aflição, dando-lhes potência e

confiabilidade é a sua concretude, que proporciona aos pacientes e aos profissionais um

modo de lidar com o problema pelas próprias mãos. Um remédio pode ser engolido,

espalhado na pele ou inserido em orifícios – atividades tais que carregam a promessa de

um efeito físico. Essa ação transforma um estado de disforia em algo mais concreto, em

algo sobre o qual o paciente possa direcionar seus esforços e operacionalizar

logicamente o seu tratamento em busca da cura. A lógica cultural e simbólica a respeito

de remédios acompanha todos os povos e é tema de investigação de antropólogos

(Durham 1996). Atualmente em nossa sociedade coexistem a busca por medicamentos

modernos e eficazes com potencial de ação estabelecido cientificamente, e as

denominadas terapias alternativas, que resgatam conhecimentos e práticas populares

bem como outras possibilidades, que, em sua maioria, não têm como preocupação o

seguimento de preceitos científicos.

Os efeitos de uma medicação são também sociais, culturais, psicológicos e mesmo

metafísicos. Entretanto, as opiniões diferem a respeito da origem do efeito terapêutico

dos remédios. Farmacologistas clamam que seu poder curativo é parte inerente de sua

substância, uma opinião que é também largamente difundida em outras culturas

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médicas. Para muitos, a capacidade inata é o maior trunfo dos produtos farmacêuticos

porque permite às pessoas encontrar uma terapia sem se tornar dependente de outros.

Freqüentemente se argumenta que os remédios derivam seu poder curativo a partir

daquilo que o agente curador remete a eles. Exemplos na literatura descrevem

populações que tornam seus remédios eficazes ao cantarem para eles, ou relata agentes

curadores que declaram que não fazer diferença qual erva é usada, dado que é o poder

pessoal adicionado às ervas que as tornam funcionais (Geest 1988). A idéia de se

adicionar potência a um remédio pode também ser aplicada aos produtos farmacêuticos,

acreditando-se que estes podem ser mais eficazes se recebidos de boas mãos ou

acompanhados pelas palavras certas (Lefèvre 1983; Pignarre 1999).

A antropologia trabalha com o termo eficácia como sendo uma construção com as

dimensões biológica e social. Eficácia é acarretada num contexto de crenças e

expectativas e através de interação e comunicação sociais. O denominado efeito placebo

– ou efeito inespecífico – é hoje quase universalmente aceito como parte inerente de

qualquer remédio e é responsável por 10 a 90% de sua eficácia (Pignarre 2002; Paulo &

Zanini 1988).

Remédios marcam a identidade dos indivíduos tal como fazem outros bens

materiais. Eles afetam as pessoas tão intimamente como a comida ou como uma

ornamentação corpórea e parecem particularmente bem desenhados para pontuar a

noção existencial das pessoas e o seu sentimento de pertencimento. Os remédios podem

ser usados para facilitar, marcar e reforçar as relações sociais. O uso de um remédio

desejado pelo paciente pode ser mais eficaz, e mais convincente, do que palavras

comunicando conhecimento e emoção.

Em relação à automedicação, há uma tênue linha que a separa da medicação

prescrita, dado que o médico, ou enfermeiro, nunca poderão ter certeza de que os

pacientes irão tomar seus medicamentos exatamente como instruído, a não ser que estes

mesmos o administrem, caso reservado quase que unicamente para o caso de pacientes

internados. Assim, todo a medicação feita pelo próprio paciente é numa certa extensão

automedicação (Durham 1996).

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Centenas de estudos são publicados a respeito da adesão ao tratamento

(compliance) medicamentoso. Em praticamente todos, a adesão é vista a partir de uma

perspectiva medicocêntrica, e a não-adesão – o não seguimento das instruções

profissionais para o tratamento – é vista como um problema. Estes estudos têm sido

realizados com o intuito de investigar as causas da não-adesão com a finalidade de

aumentá-la. Alguns autores entretanto argumentam que a não-adesão precisa ser

estudada a partir do ponto de vista do paciente (Conrad 1985). Os pacientes

provavelmente têm boas razões para tomar seus remédios de maneira distinta daquela

indicada pelo médico que a prescreveu. Alguns pacientes deixam de tomar seus

remédios para testar os limites de resistência de seu corpo (por exemplo medicamentos

para pressão alta) e tentarem ganhar um maior controle sobre a situação, para escapar da

estigmatização associada ao medicamento ou ainda por razões práticas. Raramente

porém, a não-adesão é resultado da falta de compreensão do paciente frente às

informações fornecidas pelo médico, mas sim devido aos pacientes terem idéias

diferentes e, em particular, interesses diferentes. É a expressão da racionalidade do

paciente, do seu ponto de vista, que inclui não apenas as considerações médicas

recebidas, mas também suas próprias considerações sociais, políticas e culturais.

Neste sentido, qualquer que seja a maneira de automedicação empregada e a

questão da não-adesão ao tratamento, ambas são questões que poderão ser mais bem

compreendidas quando se apreender também a perspectiva do paciente, que é quem, em

última instância, decide, baseado em múltiplos critérios, como seguirá a sua rotina

medicamentosa.

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5 Considerações finais

O presente trabalho se insere num contexto de cooperação entre uma unidade

voltada aos estudos das Ciências Sociais ligados à Saúde Pública (Departamento de

Ciências Sociais da ENSP-FIOCRUZ) e um Instituto de Pesquisa Clínica, com unidade

hospitalar tradicionalmente voltada a prestação de serviços médico-hospitalares (IPEC-

FIOCRUZ). Dada essa especificidade, o estudo conduzido em caráter exploratório,

remeteu-se a uma abordagem diferenciada sobre um tema quase sempre tratado e

estudado apenas pelos profissionais da saúde, privilegiando o seu ponto de vista e seus

julgamentos baseados em preceitos científicos biomédicos. Desta forma, pensa-se que a

o presente trabalho tenha contribuído para ampliar a discussão sobre o tema na tentativa

de compreender fenômenos sociais a partir de uma leitura diferente daquela

tradicionalmente usada como referência para os estudos e discussões sobre

automedicação.

“Tratando-se de Pesquisa Clínica, não se devem ignorar os diversos

enfoques científicos e operacionais que podem ser desenvolvidos a partir da

relação com o paciente, tanto para a ampliação do conhecimento clínico

como para a qualificação dessa relação, considerando-se o próprio

princípio da integralidade que rege a assistência à Saúde. Ela requer,

portanto, participação de múltiplas doutrinas do conhecimento profissional

e científico, ao lado ou além das áreas médica e biológica, constituindo

oportunidades para questionamentos e desenvolvimentos de propostas

aplicáveis diretamente à rede de Saúde”. (IPEC-MS 2002)

A discussão que esse trabalho pretende levantar, direcionada sobretudo ao IPEC,

mas também àqueles que se dedicam ao estudo de utilização de medicamentos, em

particular com pacientes crônicos, é de que ainda que o acompanhamento do paciente

seja feito com os melhores níveis de excelência médico-hospitalares, somente ao se

investigar as percepções do usuário, suas origens e os conhecimentos que traz consigo, é

possível reunir mais informações sobre a conduta de tratamento e a própria questão da

aderência e de “interferentes” na prescrição médica. É importante um maior

conhecimento das relações dinâmicas que envolvem o paciente crônico, sua terapêutica

e o meio social em que se insere. A cronicidade da patologia leva o indivíduo a novas

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percepções e padrões de saúde, os quais parecem estar ligados ao tipo e quantidades de

medicamentos em uso e ao grau de relações de apoio social que recebe, em particular o

afetivo, oriundo das relações conjugais.

A investigação de todos os possíveis recursos utilizados em favor da saúde dos

pacientes permite considerações de espécies variadas. Em particular, aos profissionais

de saúde, é importante considerar que estes podem ser inócuos, pelo uso comedido de

receitas tradicionais no combate a afecções, como também utilizações que demandam

sua maior atenção, a exemplo do emprego de substâncias tais como o éter em mucosas,

garrafadas contendo sangue animal ou mesmo a utilização de plantas com efeito

potencialmente tóxico, que podem efetivamente prejudicar seu usuário. Atentar, não

para julgamentos ou punições, mas para uma maior integração do paciente no que diz

respeito a incentivá-lo a relatar suas experiências e conhecimentos sem que se sinta

ameaçado ou vigiado pelos profissionais de saúde poderá prover, ao menos no que diz

respeito a pacientes crônicos em tratamento, um melhor aproveitamento da terapia a ele

indicada, e dessa forma, permitir que tanto os profissionais responsáveis pela utilização

de medicamentos quanto os que os utilizam possam dialogar em favor de mais saúde e

bem-estar.

Uma possível troca dos conhecimentos e práticas dos profissionais ali inseridos e

dos pacientes assistidos pode fortalecer a conduta da promoção da saúde em suas bases

mais relevantes, que é certamente a de um trabalho conjunto, construído a várias mãos e

que permita sempre o exercício do diálogo e da compreensão de suas diferentes partes.

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Anexo 1: QUESTIONÁRIO

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Anexo 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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Investigação das práticas de automedicação em pacientes crônicos sob terapia medicamentosa

Parecer n. 62/01 aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa ENSP/FIOCRUZ

QUESTIONÁRIO

INVESTIGAÇÃO DAS PRÁTICAS DE AUTOMEDICAÇÃO EM PACIENTES

CRÔNICOS SOB TERAPIA MEDICAMENTOSA

Caracterização e compreensão das motivações para a automedicação dos principais

grupos de usuários do Serviço de Farmácia do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro

Chagas IPEC/FIOCRUZ

Pesquisador responsável: Christina Zackiewicz Tel: (21) 2598-2658 Leitura do termo de consentimento

Data da entrevista

Dia _____ Mês_____ Ano_____ Local da entrevista: Serviço de Farmácia do Instituto de Pesquisa Clínica

Evandro Chagas Av. Brasil, 4635 - Manguinhos, Rio de Janeiro - CEP: 21.045-900 Tel: (0xx21) 2598-4260 / 4263 / 4266 Fax: (0xx21) 2590-9988 Tempo de duração da entrevista

Início às :____h____min Término às :____h____min

Questões

1 Data de nascimento ____/____/______ 2 Estado civil ( ) solteiro (a) ( ) casado (a) ( ) separado (a) ( ) viúvo (a) 3. Sexo ( ) masculino ( ) feminino 4. Cor ou raça (de acordo com o entrevistado) ( ) branca ( ) preta

Escola Nacional de Saúde Pública – Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas Fundação Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro - RJ

1

( ) parda

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Investigação das práticas de automedicação em pacientes crônicos sob terapia medicamentosa

Parecer n. 62/01 aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa ENSP/FIOCRUZ

( ) amarela ( ) indígena 5. O (A) sr(a). vive conjugalmente com alguém? ( ) sim ( ) não 6. O(A) sr(a). possui filhos? ( ) sim ( ) não 7. Local e área de residência do entrevistado ______________________________________________ ( ) urbana ( ) rural 8. Há quanto tempo o (a) sr (a). está em tratamento para esta doença ? __________anos __________meses 9. Há quanto tempo o (a) sr (a). sabe que está com esta doença? __________anos __________meses 10. Como avalia seu estado de saúde? ( ) muito bom ( ) bom ( ) regular ( ) ruim ( ) muito ruim ( ) não sabe 11. Nas questões abaixo, favor indicar qual alternativa melhor expressa sua opinião, de acordo com as possibilidades dadas:

1. Muito alto 2. Alto 3. Regular 4. Baixo 5. Muito baixo

Seu grau de preocupação com sua saúde ( ) Efeitos colaterais dos medicamentos ( ) Dificuldade em conciliar a tomada de medicamentos com as atividades cotidianas

( )

12. Em relação às suas atividades cotidianas, o(a) sr(a). se consideraria: ( ) muito sedentário(a) ( ) sedentário(a) ( ) moderadamento ativo(a)

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( ) ativo(a)

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( ) muito ativo(a) ( ) não sabe 13. Praticava exercício físico ou esporte antes de saber que estava com esta doença? ( ) sim (por favor, responda as questões 13A –13E) ( ) não

13A. Que tipo de exercício ou esporte praticava? (registrar o mais freqüente) ( ) futebol, vôlei, basquete ( ) corrida, caminhada, ciclismo ( ) ginástica, musculação ( ) natação, pólo aquático, hidroginástica ( ) judô, caratê e outras lutas ( ) outro__________________ 13B. Praticava exercício ou esporte quantas vezes na semana? (incluir todos os exercícios ou esportes praticados) ( ) uma a duas ( ) três a quatro ( ) cinco a sete ( ) não pratico exercício ou esporte em freqüência semanal

13C. Qual o tempo, em média, de duração por dia? (incluir todos os exercícios ou esportes praticados) ( ) menos de 30 minutos ( ) De 30 a 60 minutos ( ) mais de 60 minutos 13D. Como avaliaria sua respiração quando praticava exercício ou esporte? ( ) normal ( ) pouco ofegante ( ) ofegante ( ) muito ofegante ( ) não sabe 13E. Qual o principal motivo para que praticasse exercício ou esporte? ( ) saúde ( ) conselho médico ou fisioterapia ( ) lazer, diversão ( ) estética ou beleza ( ) outro_____________________

14. Atualmente, pratica exercício físico ou esporte? ( ) sim (por favor, responda as questões 14A – 14E) ( ) não

14A. Que tipo de exercício ou esporte pratica? (registrar o mais freqüente) ( ) futebol, vôlei, basquete ( ) corrida, caminhada, ciclismo

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( ) ginástica, musculação

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( ) natação, pólo aquático, hidroginástica ( ) judô, caratê e outras lutas ( ) outro______________________ 14B. Pratica exercício ou esporte quantas vezes na semana? (incluir todos os exercícios ou esportes praticados) ( ) uma a duas ( ) três a quatro ( ) cinco a sete ( ) não pratico exercício ou esporte em freqüência semanal 14C. Qual o tempo, em média, de duração por dia? (incluir todos os exercícios ou esportes praticados) ( ) menos de 30 minutos ( ) de 30 a 60 minutos ( ) mais de 60 minutos

14D. Como avalia sua respiração quando pratica exercício ou esporte? ( ) normal ( ) pouco ofegante ( ) ofegante ( ) muito ofegante ( ) não sabe 14E. Qual o principal motivo para praticar exercício ou esporte? ( ) saúde ( ) conselho médico ou fisioterapia ( ) lazer, diversão ( ) estética ou beleza ( ) outro_____________________

15. Em geral, quantas consultas faz por mês, ou ano, em função desta doença? Número de consultas Freqüência anual Freqüência mensal ( ) 1 consulta ano mês ( ) 2 a 3 consultas ano mês ( ) 4 a 5 consultas ano mês ( ) 6 a 7 consultas ano mês ( ) 8 a 9 consultas ano mês ( ) 10 a 11 consultas ano mês ( ) mais de 12 consultas ano mês 16. O (A) sr (a). tomou conhecimento de sua doença: ( ) por tê-la percebido por conta própria ( ) por alguém tê-la percebido e avisado o (a) sr (a). ( ) por alguém, de sua relação íntima, ter ficado doente ( ) por exames requisitados pelo médico ( ) por propaganda na TV, ônibus, rádio etc. ( ) outro_________________________________

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17. O (A) sr (a). já havia ouvido falar da doença para a qual está se tratando antes de tê-la? ( ) sim (por favor, responda as questões 17A - 17B) ( ) não

17A. O(A) sr(a). conhecia o modo de transmissão desta doença? ( ) sim ( ) não 17B. O(A) sr(a). conhecia o tratamento para esta doença? ( ) sim ( ) não

18. O (A) sr (a). considera que existem informações suficientes sobre o contágio e a transmissão de sua doença nos veículos de informação, tais como rádio, TV, internet, jornais, revistas, cartazes, folhetos etc? ( ) sim ( ) não 19. O (A) sr (a). encontra informações sobre o tratamento de sua doença nos veículos de informação, tais como rádio, TV, internet, jornais, revistas, cartazes, folhetos etc? ( ) sim ( ) não 20. Nas questões abaixo, favor indicar qual alternativa melhor expressa sua opinião, de acordo com as possibilidades dadas:

1. Muito bom 2. Bom 3. Regular 4. Ruim 5. Muito ruim

Seu grau de informação sobre sua doença ( ) Convívio com a sua doença ( ) Relação com seu médico ( ) Atendimento na farmácia do Hospital ( ) Instalações da farmácia ( ) Atendimento no ambulatório do Hospital ( ) Instalações do ambulatório do Hospital ( ) 21. O (A) sr (a). costuma conversar com outras pessoas, além do seu médico, a respeito de sua doença? ( ) sim (por favor responda a questão 21A) ( ) não

21A. Com quem? ( ) outros pacientes do IPEC ( ) parentes ( ) esposo(a), companheiro(a)

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5

( ) namorado(a)

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( ) colega de trabalho ( ) amigos ( ) outros___________________

22. O (A) sr (a). já ouviu falar de alguma coisa que pudesse fazer ou tomar contra essa doença, além do tratamento médico? ( ) sim (por favor, responda as questões 22A-22E) ( ) não

22A. O quê? ( ) chás ________________________________________________________________ ( ) rezas ________________________________________________________________ ( ) simpatias ________________________________________________________________ ( ) benzedeiras ________________________________________________________________ ( ) milagres ________________________________________________________________ ( ) algum tipo de bebida ________________________________________________________________ ( ) algum tipo de alimento ________________________________________________________________ ( ) alguma erva ________________________________________________________________ ( ) algum medicamento alopático ________________________________________________________________ ( ) algum medicamento fitoterápico ________________________________________________________________ ( ) algum medicamento homeopático ________________________________________________________________ ( ) uso de vitaminas, minerais etc. ________________________________________________________________

( ) outros ________________________________________________________________

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22B. O (A) sr (a). chegou a testar, tomar ou fazer alguma dessas práticas citadas anteriormente? ( ) sim (por favor, responda a questão 22C - 22E) ( ) não (por favor, responda a questão 22F)

22C. Quais e quando?

Práticas/Ingestão Antes de iniciar o tratamento

Algum momento do tratamento

Atualmente

Chás Rezas Simpatias Benzedeiras Milagres Bebida Alimento Erva Medicamento alopático Medicamento fitoterápico Medicamento homeopático Vitaminas, minerais etc. Outros

22D. Os resultados foram bons? 1. sim, foram bons 2. não, não foram bons 3. foram indiferentes

Práticas/Ingestão Antes de iniciar

o tratamento Algum momento

do tratamento Atualmente

Chás ( ) ( ) ( ) Rezas ( ) ( ) ( ) Simpatias ( ) ( ) ( ) Benzedeiras ( ) ( ) ( ) Milagres ( ) ( ) ( ) Bebida ( ) ( ) ( ) Alimento ( ) ( ) ( ) Erva ( ) ( ) ( ) Medicamento alopático ( ) ( ) ( ) Medicamento fitoterápico ( ) ( ) ( ) Medicamento homeopático ( ) ( ) ( ) Vitaminas, minerais etc. ( ) ( ) ( ) Outros ( ) ( ) ( )

22E. De quem o(a) sr(a). recebeu essas sugestões? 1. Outros pacientes do IPEC 2. Parentes 3. Esposo(a) 4. Companheiro(a), namorado(a)

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7

5. Colegas de trabalho

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6. Amigos 7. Outros__________________________________

Práticas/Ingestão Antes de iniciar

o tratamento Algum momento

do tratamento Atualmente

Chás ( ) ( ) ( ) Rezas ( ) ( ) ( ) Simpatias ( ) ( ) ( ) Benzedeiras ( ) ( ) ( ) Milagres ( ) ( ) ( ) Bebida ( ) ( ) ( ) Alimento ( ) ( ) ( ) Erva ( ) ( ) ( ) Medicamento alopático ( ) ( ) ( ) Medicamento fitoterápico ( ) ( ) ( ) Medicamento homeopático ( ) ( ) ( ) Vitaminas, minerais etc. ( ) ( ) ( ) Outros ( ) ( ) ( )

22F. Por que não? ( ) medo ( ) descrença ( ) não tinha acesso ( ) outro____________________________

23. Em relação ao tratamento feito pelo IPEC, quantos medicamentos o (a) sr (a). toma por dia ou mês?

Número de medicamentos

__________ por dia por mês 24. O (A) sr (a). acha que toma muitos medicamentos? ( ) sim ( ) não 25. O (A) sr (a). sente algum tipo de dificuldade para seguir a prescrição médica? ( ) sim (por favor, responda a pergunta 25A) ( ) não

25A. Qual? ( ) muitos medicamentos ( ) esquecimento ( ) horários incovenientes ( ) efeitos colaterais ( ) outro___________________

26. O (A) sr (a). sente efeitos colaterais devido aos medicamentos que toma? ( ) sim (por favor, responda as questões 26A a 26B)

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( ) não

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26A. Quais são esses efeitos colaterais? Listar e depois ordenar os cinco principais efeitos colaterais, de acordo com o incômodo que provocam, em ordem crescente, ou seja, aquele que mais incomoda deve ser numerado com o número 1(um).

( ) dor de cabeça/enxaqueca____ ( ) feridas/manchas no corpo____ ( ) mal-estar, náuseas, enjôo____ ( ) distrofia muscular____ ( ) febre____ ( ) neuropatia periférica____ ( ) fraqueza, fadiga____ ( ) prurido____ ( ) perda de peso____ ( ) falta de apetite____ ( ) ganho de peso____ ( ) incontinência ou retenção urinária____ ( ) desordens de coordenação motora____ ( ) alterações de libido____ ( ) dificuldade de aprendizagem____ ( ) alterações menstruais____ ( ) perda de memória____ ( ) diarréias, disenterias____ ( ) perda de concentração____ ( ) dores abdominais____ ( ) alterações de humor____ ( ) ânsia, vômitos____ ( ) sonolência____ ( ) problemas circulatórios____ ( ) insônia____ ( ) hipotensão____ ( ) irritação____ ( ) hipertensão____ ( ) tontura____ ( ) falta de ar____ ( ) alucinação____ ( ) braquicardia, taquicardia ou arritmia__ ( ) agitação____ ( ) problemas no fígado____ ( ) confusão____ ( ) azia____ ( ) zumbidos no ouvido____ ( ) má digestão____ ( ) rinite____ ( ) gastrite/irritação no estômago____ ( ) dor de garganta____ ( ) úlcera____ ( ) perda de cabelo____ ( ) outros____________________/____

26B. O quê o (a) sr (a). costuma fazer na tentativa de diminuir os cinco efeitos colaterais que mais o incomodam? O entrevistador deverá anotar se a prática é conselho médico ou não. ( ) chás ________________________________________________________________ conselho médico ( ) rezas ________________________________________________________________ conselho médico ( ) simpatias ________________________________________________________________ conselho médico ( ) benzedeiras ________________________________________________________________ conselho médico

( ) algum tipo de bebida

________________________________________________________________

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conselho médico

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( ) algum tipo de alimento ________________________________________________________________ conselho médico ( ) alguma erva ________________________________________________________________ conselho médico ( ) algum medicamento alopático ________________________________________________________________ conselho médico

( ) algum medicamento fitoterápico ________________________________________________________________ conselho médico ( ) algum medicamento homeopático ________________________________________________________________ conselho médico ( ) uso de vitaminas, minerias etc. ________________________________________________________________ conselho médico

( ) deixar de tomar algum dos medicamentos ________________________________________________________________ conselho médico

( ) alterar a ordem, ou o horário, da tomada de seus medicamentos ________________________________________________________________ conselho médico

( ) outros

________________________________________________________________ conselho médico

27. O (A) sr (a). lê algum jornal ou revista? ( ) sim (por favor, responda a questão 27A) ( ) não

27A. Qual (quais) e em que freqüência? 1. Diariamente 2. Semanalmente 3. Mensalmente

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Jornal Revista ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

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28. O (A) sr (a). freqüenta estabelecimento de ensino? ( ) sim ( ) não (por favor, responda a questão 28A)

28A. Por que não freqüenta? ( ) trabalha ( ) por falta de vaga ( ) não existe estabelecimento perto de casa ( ) concluiu a série desejada ( ) dificuldades financeiras ( ) não tem interesse ( ) outros____________________________

29. O (A) sr (a). possui qual grau de escolaridade? ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo ( ) pós-graduação ( ) nenhum 30. A maior parte de seu ensino foi realizada em ( ) instituição pública ( ) instituição privada ( ) outro______________________ 31. Ocupação atual do entrevistado: ______________________________ 32. Qual o grau de escolaridade de sua mãe? ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo ( ) pós-graduação ( ) nenhum ( ) desconhece 33. Qual o grau de escolaridade de seu pai? ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo

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( ) pós-graduação

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( ) nenhum ( ) desconhece 34. Qual o grau de escolaridade de seu (sua) companheiro (a)? ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo ( ) pós-graduação ( ) nenhum ( ) desconhece ( ) não se aplica 35. Qual a ocupação de seu (sua) companheiro (a)?________________________ 36. Em relação a sua família, qual seria a menor renda mensal necessária para cobrir todas as despesas com sua manutenção? R$ _______,____ Número de pessoas residentes no domicílio:_______ 37. Na opinião do (a) sr (a)., a renda total de sua família permite que vocês levem a vida com: ( ) dificuldade ( ) um pouco de dificuldade ( ) facilidade 38. Nas questões abaixo, favor avaliar as condições de vida dos moradores do seu domicílio, classificando-as segundo as possibilidades dadas:

1. Muito boa 2. Boa 3. Regular 4. Ruim 5. Muito ruim

Educação/escolaridade ( ) Saúde/assistência médica ( ) Habitação/saneamento ( ) Segurança pública ( ) Lazer/diversão ( ) Alimentação ( ) Vestuário/roupa ( ) Emprego/trabalho ( ) Transporte ( )

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O(A) sr(a). está sendo convidado(a) para participar da pesquisa INVESTIGAÇÃO

DAS PRÁTICAS DE AUTOMEDICAÇÃO EM PACIENTES CRÔNICOS SOB

TERAPIA MEDICAMENTOSA. O(A) sr(a). foi selecionado(a) através de sorteio

aleatório, segundo procedimentos estatísticos de amostragem, e sua participação não é

obrigatória. A qualquer momento o(a) sr(a). pode desistir de participar e retirar seu

consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador

ou com a instituição, o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC) e toda a

sua equipe de trabalho.

O objetivo deste estudo é verificar as práticas de automedicação em pacientes das

principais doenças crônicas atendidas no ambulatório do Instituto de Pesquisa Clínica

Evandro Chagas (IPEC), e que retiram os medicamentos ali prescritos no Serviço de

Farmácia do Hospital, tendo como objetivos específicos:

Verificar se existe a prática de automedicação nos pacientes crônicos de

HIV/AIDS, Doença de Chagas, HTLV1 e Paracocciodioidomicose atendidos no

ambulatório do IPEC, averiguando quais os remédios, medicamentos, ou

quaisquer outros produtos, preparações ou substâncias, assim como práticas com

fins terapêuticos, são usados em cada grupo de doenças;

Caracterizar e oferecer explicações possíveis para as principais motivações da

prática de automedicação;

Estabelecer, sempre que possível, associações entre as principais motivações

para a automedicação e os produtos utilizados e os contextos social e cultural,

buscando observar se existe, ou não, alguma tendência ou padrão de

automedicação, definido pelo grupo de doença a que o indivíduo pertence.

Sua participação nesta pesquisa consistirá em participar de uma entrevista, no

formato de um questionário de múltipla escolha, com questões relacionadas a:

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Sexo

Idade

Escolaridade

Ocupação

Condições de vida

Tempo de tratamento

Intensidade de efeitos colaterias decorrentes da medicação prescrita, de acordo

com a percepção do paciente

Satisfação com a relação médico-paciente

Grau de preocupação com a saúde

Grau de conhecimento da doença

Investigação a respeito de remédios, medicamentos ou práticas que o paciente

faz uso, por conta própria, em favor da manutenção de sua saúde

Motivações para buscar outras possibilidades terapêuticas

Os riscos relacionados com sua participação são praticamente inexistentes, uma vez

que a pesquisa consiste tão somente em um questionário a ser respondido, e cuja

participação é facultativa. Pode existir a possibilidade de o(a) sr(a). sentir-se

envergonhado(a) de responder questões em entrevistas, ou de dizer verdades que

possam lhe incomodar. Pode ainda acontecer desconforto em fornecer informações que

não gostaria que seu médico ou outra pessoa da equipe do Hospital venha tomar

conhecimento.

É importante o(a) sr(a). estar ciente de que nenhum benefício pessoal está previsto

em sua participação nessa pesquisa. Os benefícios relacionados com a sua participação

são a possibilidade de se compreender melhor a convivência do indivíduo com uma

doença crônica, e sobre suas práticas terapêuticas particulares frente a esquemas

terapêuticos de longo prazo, contribuindo para um conhecimento mais aprofundado

sobre a automedicação nesses casos.

No caso de o(a) sr(a) ser analfabeto, este Termo de Consentimento será lido na

frente de uma testemunha imparcial, sem envolvimento direto com o projeto de

pesquisa, que assinará o documento pelo(a) sr(a)., certificando que todas as informações

foram compreendidas, bem como que suas eventuais perguntas tenham sido

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amplamente esclarecidas pelo pesquisador. Diante de todos os esclarecimentos que

forem necessários, o(a) sr(a). deverá fornecer sua impressão datiloscópia ao Termo de

Consentimento.

As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e asseguramos o

sigilo sobre sua participação. Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua

identificação. Além disso, o(a) sr(a). tenha segurança de que as informações serão

coletadas em sala reservada, onde somente o(a) sr(a). e o pesquisador estarão presentes.

O(A) sr(a). receberá uma cópia deste termo onde constam o telefone e o endereço do

pesquisador principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação,

agora ou a qualquer momento.

O presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será preenchido em duas

vias, uma retirada pelo participante e uma arquiva pelo pesquisador.

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro estar ciente do inteiro teor deste Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, decidindo-me a participar da investigação proposta, depois de ter

formulado perguntas e de ter recebido respostas satisfatórias a todas elas, e ciente de

que poderei voltar a fazê-las a qualquer tempo. Declaro, pois, dar meu consentimento

para participar desta investigação recebendo uma cópia do Termo, estando ciente,

ainda, de que uma outra cópia permanecerá arquivada pelo pesquisador.

_________________________________________

Local e Data

Nome do entrevistado: ___________________________________________________

Assinatura do entrevistado: ______________________________________________

Nome da testemunha: ___________________________________________________

Assinatura da testemunha: _______________________________________________

Nome do pesquisador: Christina Zackiewicz

Assinatura do pesquisador:____________________________________________

Endereço do pesquisador: Rua Leopoldo Bulhões 1480/sala 917, Departamento de

Ciências Sociais, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de

Janeiro, RJ, 21041-210, Brasil.

Telefone do pesquisador: (21) 2598-2658