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Os Lusíadas Os Lusíadas Os Lusíadas Os Lusíadas Luís Vaz de Camões Dado que vamos estudar uma obra do século XVI, convém esclarecer os conceitos de Renascimento , Humanismo e Classicismo . I- REASCIMETO, HUMAISMO E CLASSICISMO (pág. 114/115) 1- Renascimento Iniciou-se em Itália em meados do séc. XIV e espalhou-se na Europa nos séc. XV e XVI; Movimento cultural baseado no conhecimento e na imitação dos clássicos (latinos e gregos); Nova concepção do Homem encarado na sua integralidade; Não constitui uma ruptura em relação à literatura anterior, mas uma busca de conciliação entre dois modelos; Defende-se o Antropocentrismo (o Homem conhece-se a si próprio: é Sujeito e Objecto do Saber), em oposição ao Teocentrismo da Idade Média (Deus visto como centro do Universo). 2- Humanismo Conceito ligado ao Renascimento que consiste na descoberta e revalorização das obras culturais da Antiguidade Clássica; Concepção do Homem como ser integral e harmonioso de corpo e de espírito. Humanismo Português Enriquecido através da experiência dos Descobrimentos; Comprova as teorias humanísticas. 3- Classicismo Época literária que abrange os séc. XVI e XVII e XVIII, isto é, os períodos do Renascimento, Barroco e Neoclassicismo; Imitação dos antigos com uma nova orientação de espírito (clareza, sobriedade, harmonia e equilíbrio). Classicismo Português Aspectos novos resultantes da expansão ultramarina (enriquecimento dos motivos ornamentais: exóticos e marinhos). 4- Principais inovações do Renascimento Literário Introdução do decassílabo como metro poético; Introdução de novas formas estróficas; Introdução de formas clássicas, tais como a tragédia, a comédia, a epopeia, entre outras.

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Os LusíadasOs LusíadasOs LusíadasOs Lusíadas Luís Vaz de Camões

Dado que vamos estudar uma obra do século XVI, convém esclarecer os conceitos de

Renascimento, Humanismo e Classicismo.

I- RE�ASCIME�TO, HUMA�ISMO E CLASSICISMO (pág. 114/115)

1- Renascimento

� Iniciou-se em Itália em meados do séc. XIV e espalhou-se na Europa nos séc. XV e XVI;

� Movimento cultural baseado no conhecimento e na imitação dos clássicos (latinos e gregos);

� Nova concepção do Homem encarado na sua integralidade;

� Não constitui uma ruptura em relação à literatura anterior, mas uma busca de conciliação entre dois modelos;

� Defende-se o Antropocentrismo (o Homem conhece-se a si próprio: é Sujeito e Objecto do Saber), em oposição ao Teocentrismo da Idade Média (Deus visto como centro do Universo).

2- Humanismo

� Conceito ligado ao Renascimento que consiste na descoberta e revalorização das obras culturais da Antiguidade Clássica;

� Concepção do Homem como ser integral e harmonioso de corpo e de espírito.

� Humanismo Português

� Enriquecido através da experiência dos Descobrimentos;

� Comprova as teorias humanísticas.

3- Classicismo

� Época literária que abrange os séc. XVI e XVII e XVIII, isto é, os períodos do Renascimento, Barroco e Neoclassicismo;

� Imitação dos antigos com uma nova orientação de espírito (clareza, sobriedade, harmonia e equilíbrio).

� Classicismo Português

� Aspectos novos resultantes da expansão ultramarina (enriquecimento dos motivos ornamentais: exóticos e marinhos).

4- Principais inovações do Renascimento Literário

� Introdução do decassílabo como metro poético;

� Introdução de novas formas estróficas;

� Introdução de formas clássicas, tais como a tragédia, a comédia, a epopeia, entre outras.

II- OS LUSÍADAS: TIPOS DE I�SPIRAÇÃO E FO�TES (pág. 115/116)

“Os Lusíadas” podem considerar-se como a obra literária que melhor sintetiza o Renascimento dentro

da literatura portuguesa: além do seu interesse literário, apresenta um interesse documental e humano

representativo de uma época.

1- Tipos de inspiração

� Inspiração patriótica: orgulho nacional e amor à pátria;

� Inspiração clássica: estrutura clássica do poema e intervenção da mitologia;

� Inspiração cristã: presença do pensamento cristão e do ideal de expansão da Fé (espírito de Cruzada);

� Inspiração medieval: referência a episódios da história da Idade Média e recriação do ambiente cavaleiresco;

� Inspiração renascentista: busca de um novo ideal estético e humano e curiosidade em relação aos povos recém-descobertos e aos seus costumes;

� Inspiração exótica: busca do efeito estético e ornamental baseado nos aspectos da paisagem, fauna e flora exóticas e marítimas;

� Inspiração científica: curiosidade perante as novidades científicas baseadas nas experiências vividas e interesse pelos fenómenos naturais.

2- Fontes de “Os Lusíadas”

A- Fontes literárias

Sendo a epopeia um género clássico, baseia-se, quanto ao plano e estrutura, nas epopeias greco-

-latinas e segue o exemplo das epopeias modernas.

� Epopeias antigas: “Ilíada” e “Odisseia” de Homero e “Eneida” de Virgílio;

� Epopeias modernas: “A Divina Comédia” de Dante, entre outras.

B- Fontes históricas

Luís de Camões baseou-se em fontes históricas para a narração do descobrimento e

estabelecimento dos Portugueses na Índia e para a narração da parte anterior aos Descobrimentos.

III- AS IDEIAS DO RE�ASCIME�TO, DO CLASSICISMO E DO HUMA�ISMO EM “OS LUSÍADAS” (pág. 116/117)

1- Universalismo do poema

� será divulgado por toda a parte;

2- Experimentalismo

� saber livresco dos antigos em oposição à experiência dos rudes marinheiros;

3- Classicismo

� carácter erudito/culto do poema, baseado nas epopeias de Homero e de Virgílio.

Semelhanças entre a “Odisseia” e “Os Lusíadas”

� Viagem marítima;

� Oposição deuses / homens;

� Vitória dos homens sobre os deuses;

� O herói tem conhecimento do futuro;

� O amor como recompensa no regresso da viagem;

� Existência da Proposição e da Invocação;

� Início da narração “in media res” (no meio da viagem);

� Presença de deuses adjuvantes e oponentes que interferem na acção (Vénus e Marte são os deuses protectores dos Portugueses, Baco e Neptuno são os deuses que os perseguem);

� O herói assume o papel de narrador numa parte significativa do poema;

� Existência de profecias que anunciam o futuro do herói.

IV- O HERÓI

No poema, não encontramos o retrato de um herói concreto, mas um modelo de heroísmo. Vasco da

Gama é um herói sem força, depende das decisões dos deuses, que usam a sua capacidade de intervenção

quando esta se torna necessária.

Estamos perante um herói colectivo, o Povo Português. Assim, os heróis de “Os Lusíadas” serão os

portugueses que se imortalizaram em actos heróicos. O assunto que Camões se propõe cantar está bem

patente na terceira estrofe do canto I: o peito ilustre Lusitano.

Ao longo do poema, vai contar-nos a história de Portugal, usando como pretexto a viagem de Vasco

da Gama para a Índia.

V- O PROJECTO DE CAMÕES – OS LUSÍADAS (pág. 118/119)

� Poema que conta a viagem do descobrimento do caminho marítimo para a Índia;

� A narrativa inicia-se no meio da viagem “in media res”;

� Os episódios anteriores à viagem são narrados por Vasco da Gama ao rei de Melinde, durante uma pausa na viagem;

� Nesse discurso, Vasco da Gama narra a História de Portugal por ordem cronológica, desde Viriato até D. Manuel;

� Mais tarde, Paulo da Gama também apresenta episódios e personagens da história passada de Portugal;

� Os acontecimentos futuros, gloriosos ou trágicos, são contados por personagens divinas (Júpiter, Vénus e uma sereia);

� Os homens não têm que lutar contra os deuses, que se manifestam sob a forma de fenómenos naturais, humanos ou sonhos;

� separação do mundo maravilhoso e do mundo histórico para afirmar a verdade histórica do seu poema.

� No final, os homens e os deuses encontram-se numa ilha encantada que Vénus preparou e povoou de belas ninfas, levando-a ao encontro dos heróis.

VI- O GÉ�ERO ÉPICO ou EPOPEIA (pág. 188)

O género épico remonta à Antiguidade Clássica, grega e latina, tendo como exemplos universais a

“Odisseia” e a “Ilíada”, do poeta grego Homero, e a “Eneida”, do poeta latino Virgílio. Trata-se de um

género narrativo, em verso, destinado a celebrar feitos grandiosos de um herói ou heróis fora do comum,

reais ou lendários, em estilo elevado. Tem, pois, um fundo histórico, embora não se trate de narrativas

históricas.

O género épico é um género narrativo, o que exige na sua estrutura a presença de uma acção ou

enredo, desempenhada por personagens, num determinado tempo e espaço. Possui uma estrutura própria,

cujos principais aspectos são:

� a existência de uma Proposição em que o autor apresenta a matéria do seu poema;

� a existência de uma Invocação às Musas ou outras divindades e entidades míticas protectoras, das artes;

� uma Dedicatória (facultativa);

� uma �arração “in media res”, ou seja, em que a acção não é narrada pela ordem cronológica dos acontecimentos, mas se inicia já no decurso dos mesmos acontecimentos, sendo a parte inicial narrada posteriormente, num processo de retrospectiva, ou analepse, pelo próprio herói;

� a inclusão de Profecias;

� a presença da mitologia greco-latina, contracenando heróis mitológicos e heróis humanos;

� a unidade de acção (os factos devem ter uma ligação entre si);

� a inclusão de episódios, de pequenas narrativas reais ou imaginárias, que servem para embelezar e enriquecer a acção;

� a intervenção do poeta com breves considerações pessoais.

VII- OS LUSÍADAS – A EPOPEIA DESEJADA (pág. 119)

Sendo a epopeia considerada no Renascimento como a expressão mais alta da poesia, Portugal, como

tantos outros países europeus, ansiava pelo poema épico que prestigiasse a literatura nacional.

A partir do século XV, começam a surgir alguns poemas de conteúdo histórico sem grande relevância

literária. Entretanto, grandes nomes da nossa literatura, como Garcia de Resende ou António Ferreira,

alertavam para a necessidade de se cultivar o género épico, estimulando outros poetas à criação da epopeia

de Portugal.

Portugal tinha, de facto, no século XVI, as condições ideais para a criação de um grande poema épico.

As viagens de descoberta de caminhos marítimos, os perigos desconhecidos, o heroísmo dos

navegantes prestavam-se à comparação com as viagens marítimas da “Eneida” e da “Odisseia”.

Além disso, a importância dos Descobrimentos, para além do interesse nacional, revestia-se de um

carácter universal.

O orgulho nacional estimulava a celebração dos feitos portugueses. À própria corte interessava a

apresentação da política de expansão ultramarina como forma de dilatação da Fé cristã, para contrariar a

ideia de que a verdadeira motivação dessa política fosse meramente comercial.

Fazer renascer a epopeia nos moldes clássicos e glorificar os feitos recentes da História de Portugal

poderão ter sido factores determinantes para que Luís de Camões se lançasse a escrever “Os Lusíadas”, a

epopeia desejada.

Luís Vaz de CamõesLuís Vaz de CamõesLuís Vaz de CamõesLuís Vaz de Camões –––– Vida e Obra Vida e Obra Vida e Obra Vida e Obra ––––

1- BIOGRAFIA � Camões terá nascido em Lisboa, por volta de 1524 ou 1525;

� Frequentou a Corte, o que lhe teria possibilitado o acesso a estudos superiores em Coimbra, facto não confirmado. No entanto, está documentado em toda a obra, nomeadamente em “Os Lusíadas”, o saber erudito do poeta;

� Passou dezassete anos no Oriente;

� Teve uma vida amorosa agitada e, por isso, foi expulso da Corte;

� Combateu, como militar, no Norte de África, onde ficou cego do olho direito (1547-1548);

� Passou vários meses na prisão em Lisboa (1552);

� Entre 1553 e 1558, esteve na Índia, onde participou em expedições militares, e em Macau, tendo aí desempenhado cargos públicos de natureza administrativa;

� Durante a sua estadia no Oriente, foi vítima de um naufrágio e conseguiu salvar o manuscrito das suas obras;

� Entre 1567 e 1569, esteve em Moçambique;

� Em 1570, regressa a Portugal, na miséria, mas com o texto da sua epopeia quase pronto para ser editado;

� Foi recebido pelo Rei, D. Sebastião, a quem leu “Os Lusíadas” e dedicou o seu poema. A obra foi publicada em 1572;

� Recebeu, na sequência do seu trabalho, uma pensão anual, dada pelo Rei, o que não o impediu de viver na miséria;

� A partir de 1570, não se sabe mais nada da sua biografia, salvo o facto de ter sido invejado pela grandeza da sua obra;

� Camões terá morrido em 1579 ou 1580, ficando as despesas a cargo de um nobre da altura, que mandou colocar na sua sepultura a seguinte inscrição: «Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu.»

De tudo o que é possível apurar-se sobre a existência deste poeta, importa salientar aquilo que deixou

reflexos na sua obra:

� a cultura a que pôde ter acesso;

� o facto de ter sido militar, o que poderá justificar a importância que deu ao valor militar;

� o facto de ter conhecido a rota seguida por Vasco da Gama e todo o Oriente;

� a importância da sua “longa experiência” humana;

� a referência a temas e metros tradicionais típicos da poesia palaciana, sobretudo na obra lírica, justificável pelo seu contacto com a Corte.

2- OBRA Para além do real valor e genialidade da sua obra lírica e do seu teatro, Camões foi o criador da única

epopeia conseguida depois de Homero e Virgílio, “Os Lusíadas”.