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frestas

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Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicação e Artes da

Universidade de São Paulo.

Orientador: Prof. Dr. Marco Francesco Buti

São Paulo, novembro de 2005

Ana Lúcia Calzavara

fres

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ban ca exam inado ra

prof. Dr. Marco Fancesco Buti

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À Nara e à Tita, pela dedicação e trabalho que possibilitaram a concretização do meu.

A Fabrício Lopez, Priscila Rufinoni, Rita Luciana Bredariolli, amigos de olhos e ouvidos disponíveis.

A Lucinda Capovila Calzavara, Sérgio José Calzavara, Maria Cristina R. Frugis.Em especial a Paulo Roberto R. Frugis e André Calzavara Frugis, pela descoberta de um mundo novo.

À atenção de Evandro Carlos Jardim, Léon Kossovitche Paulo Pasta.

A Marco Francesco Buti, com quem aprendi que não há nada a temer.

Aos artistas que através de suas obras, sempre impulsionaram-me, sobretudo nos momentos de impasse.

ag rade c imen to s

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esta dissertação relaciona alguns trabalhos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, em especial durante o ano de 2005. Trata-se de pinturas e fotografias que pretendem dialogar entre si a partir de um olhar sobre a cidade, sobretudo em lugares marcados por um certo abandono. São muros, vãos, fachadas, que se apresentam como testemunhos de tempos passados e sobrepostos, onde o acúmulo de matéria empresta às imagens elementos da natureza da pintura.

Como se insere na linha de pesquisa ‘Poéticas Visuais’, pretende ser uma reflexão que se estabelece a partir do próprio processo de criação desses trabalhos, o que envolve necessariamente questões de caráter teórico.

palavras-chavefotografia, pintura, cidade, espaços, paisagem

r e sumo

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is dissertation relates some works produced during the last years, with especial emphasis on those from 2005. ey include paintings and photographs which intend to establish a dialogue from the perspective of a look upon the city, mainly focusing places characterized by certain abandon. ey are walls, facades and alleys, which appear as witnesses of overlapped past times, during which the accumulation of materials lends elements of the nature of painting to the images.

Since it is inserted in the “Visual Poetics” branch of the research, it aims to be a reflection based on the very creation of these works, which necessarily involves theoretical issues.

Key words: photography, painting, cities, spaces, landscape.

ab s t r a c t

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s umár i o

16 introdução

19 frestas fotografias e pinturas 45 janelas, frestas, pinturas50 pinturas e fotografias recentes: algumas considerações59 fotografias27 pinturas

120 bibliografia

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“Aqui está o nosso desejo pinçado através do tempo, revelando a eternidade atrás dele. E isso acontece quando sabemos como transformar o que quer que aconteça, não importa o que seja,

em objeto de nosso desejo”.

Simone Weil

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Os trabalhos que apresento nesta publicação compreendem um período que se estende além daquele circunscrito pelo mestrado.

As fotografias e pinturas apresentadas na parte final são os mais recentes: foram realizados em sua maioria no ano de 2005. É certo, porém, que fazem parte de um processo de reflexão mais amplo, que se iniciou nos anos de graduação. Já neste período, interessava-me pela pintura, embora tenha sido a gravura o meio de expressão mais recorrente com o qual então trabalhava. Contudo, o modo como gravava já revelava um desejo de pintar – camadas de água-tinta sobrepostas e raspadas, a procura pela densidade da superfície, a sutileza dos meios-tons, a conquista de uma imagem que se formava aos poucos, de dentro para fora. Às massas negras e compactas das montanhas contrapunha-se a atmosfera branca-acinzentada do céu e me fascinava o limite cambiante entre elas: em dias nublados, o ar adensava-se e cobria a matéria espessa das montanhas. Gostava das imagens rodeadas e preenchidas de ar.

A esse grupo de gravuras, de natureza contemplativa diante de paisagens silenciosas e horizontes, sucedeu-se outro, norteado pela experiência da paisagem urbana. Mas o que me atraía era sempre o limite (agora preciso) entre os prédios e os recortes do céu; novas fronteiras se apresentavam, janelas entreabertas, ângulos, cenas fragmentadas que podíamos entrever, os espaços sucessivos e entrecortados da paisagem através da janela do ônibus. As frestas.

i n t r odu ção

sem título, 1996, gravura em metal

sem título, 1996, gravura em metal

sem título, 1996, gravura em metal

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Frestas. Pausas. Vislumbres de um instante em suspensão. As frestas nos induzem a entreolhar. Ou a olhar com mais atenção para podermos ver. Decifração do todo a partir de um recorte. Intervalo e limite entre coisas. Hiato no tempo, descontinuidades que revelam outras durações.

f r e s t a s f o t og ra f i a s e p i n t u ra s

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O olhar a partir da realidade circundante. O tempo da experiência, tentativa de compreensão. O interesse pelo cotidiano e suas impurezas.

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22 23sem título, 1999

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Mas somente aderir ao cotidiano e ali permanecer não satisfaz. O que procuro nas pinturas e fotografias é constituir um outro lugar, que embora não vise uma representação, traga em si a potência que a realidade comporta. Algo próximo ao significado proposto pelo pintor Barnett Newman1: uma pintura que possa dar ao homem um sentido de lugar – que ele saiba que está ali, que o torne consciente de si mesmo.

1 Barnett Newman. In: Selected Writings and Interviews. California: University of California Press, 1992, p.92

sem título, 1999

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Os prédios, os ângulos, as frestas.Recortes de luz traçando linhas e planos quase sempre

geométricos.As sombras projetadas em seus muros, calçadas.Aos poucos, meu imaginário foi sendo povoado pela

cidade.Nesse processo, a fotografia também se apresentou

como meio utilizado para dar visibilidade a esse olhar. Suas possibilidades expressivas ampliaram-se na proporção das imagens que ela própria gerava.

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Ao tempo em que um olhar sobre a cidade se fazia projetado para o espaço externo; também um olhar era construído em sentido inverso: frestas de luz que se insinuavam, projetadas para dentro das construções.

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Visões preenchidas pelo silêncio. Resgate de uma materialidade primeira e elementar,

que permanece entre as superfícies de concreto.

Também as pinturas dessa época, o que mais revelavam,era o vazio.

A cidade, ecos de outras construções. Memórias pictóricas nos espaços desabitados.

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36 37sem título, 2001

óleo sobre madeira, 50 x 50 cm

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38 39sem título, 2001óleo sobre madeira, 50 x 50 cm

sem título, 2001óleo sobre madeira, 50 x 50 cm

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38 39sem título, 2002

óleo sobre madeira, 50 x 50 cm

sem título, 2000óleo sobre madeira, 50 x 50 cm

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Busca pela lentidão do viver cotidiano.A força de ser. Espécie de tragédia das coisas que não acontecem.

sem título, 2003óleo sobre madeira, 50 x 50 cm

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O gosto pela repetição. Repetir, repetir, para falar das diferenças sutis.

Pequenas nuanças entre supostas igualdades.

Colorido quase monocromático, onde os tons diferem principalmente em intensidade e valor.

sem título, 2003óleo sobre madeira, 50 x 50 cm

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A cidade embebida pela chuva. Os limites das coisas desaparecem; os primeiros e últimos planos fundem-se numa cortina de cinzas.

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sem título, 1997

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É certo que as janelas sempre exerceram um fascínio sobre os artistas, sobretudo para os pintores. Talvez isso se deva ao fato de serem a passagem entre dois mundos, o exterior e o interior. Essa condição alude à própria natureza da superfície pictórica e ao dilema entre o espaço real e o representado.

De certa forma, acho que sempre me interessei pelas janelas, antes mesmo de associá-las à pintura. As janelas de minha adolescência na casa de meus pais que mais tarde apareceram em muitas das gravuras e pinturas da graduação. As janelas dos vários quartos que habitei ao longo dos anos, as janelas da classe, do carro, dos ônibus. Mas acredito que esse interesse tenha se tornado mais consciente durante minha estada fora do país, nos anos de 1996 a 1998, quando ganhei uma bolsa de estudos em pintura. Foi também nessa época que, estimulada pela minha condição de estrangeira, comecei a fotografar mais regularmente.

Em uma de minhas viagens, fotografei várias fachadas e dentre elas, uma imagem chamou minha atenção: a de uma janela cuja superfície de vidro havia sido recoberta por tinta, a fim de impedir a visão para o seu interior. Isso conferiu-lhe uma beleza cercada de mistério, mais parecia uma pintura: o vidro vedado ganhou materialidade e um caráter de superfície pictórica, enquanto as barras de metal pareciam linhas desenhadas.

Ao serem transpostas para o plano fotográfico, essas características acentuaram-se ainda mais.

j ane l a s , f r e s t a s , p i n t u ra s

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Essa espécie de jogo visual intrigou-me. Pensei na tão discutida “crise da pintura” e o naufrágio de sua tradicional visão enquanto “janela para o mundo”. A imagem da janela pintada aludia a essas questões de um modo interessante, indireto e mesmo com uma pequena dose de humor.

Pintar sobre objetos reais – janelas e portas.Seria possível, ao fazê-lo, outorgar-lhes algo que fosse além de sua já

dada materialidade?

E o caminho inverso? Pintar janelas e portas que derivassem dos objetos reais, tentando imprimir às telas, algo de sua natureza primeira? Uma imagem que fosse capaz, como na janela fotografada, de oscilar entre algo representado e a coisa em si.

Essas ambigüidades entre ilusão e realidade reportaram-me a indagações sobre a essência da pintura.

sem título, 1998 - 2000óleo sobre madeira, 66,5 x 54 cm [cada]

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Ao trabalhar nessas pinturas, acabei naturalmente me impondo certas regras que foram respeitadas na maioria das vezes. Por exemplo: partir sempre das cores primárias; fragmentar um objeto para depois uni-lo (dessa forma, um novo desenho nascia da linha-fresta entre a junção dos fragmentos); desenhar as divisões da janela com a fita crepe (que já possuía, em si, a espessura de uma divisória de janela), “emoldurar” os objetos reais (qualificando-os como pintura), tentar imprimir uma carga expressiva a estes objetos recobrindo sua superfície original com pinceladas visíveis, etc.

Desse modo, criou-se um sistema em que pude operar mais livremente.

sem título, 1998óleo sobre madeira, 53,5 x 75 cm [cada]

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sem título, 2001óleo sobre madeira, 130 x 57 cm

sem título, 1998óleo sobre madeira, 86,5 x 75 cm

sem título, 1998óleo sobre madeira, 103 x 47 cm

sem título, 1998óleo sobre madeira, 103 x 47 cm

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As imagens que povoam o mundo contemporâneo são, de modo geral, descartáveis. Conseqüência inevitável da imediatez e dinamismo da linguagem publicitária, cada vez mais presente na paisagem urbana. É tanto o acúmulo de imagens que mal notamos aquilo que vemos, o que constitui um paradoxo já bastante discutido.

Não sei se por essa razão, tenho predileção por imagens que, assim como as frestas, pedem daquele que olha, um tempo maior para serem vistas. Talvez também venha daí, o meu interesse sobretudo por pinturas – a qualidade de sua natureza, solicita, de modo geral, uma dedicação mais ativa do espectador. Diferentes da maioria das imagens produzidas atualmente, elas não apresentam movimento ou recursos sonoros, oferecendo, em contrapartida, a materialidade do fazer artístico, conservando algumas marcas e elementos de sua construção pela mão do homem. Nesse sentido, possui um senso de concretude muito maior que a maioria das imagens. Acredito que tanto sua potência quanto sua fragilidade como meio de expressão tenham sua origem neste ponto2.

2 “Tenho a impressão de que se pode falar da pintura como uma forma de arte redundante – e compreendo isso muito bem, porque, de certa maneira, se você olhar para a história e para a maneira como nossa sociedade se moveu do singular ao produzido em massa e ao tecnológico, a pintura forma uma oposição obstinada e absurda a isso. Mas parece-me que, à medida que o mundo ficou mais tecnológico, a necessidade humana de mistério e de experiência individualmente autêntica tornou-se mais desesperada. E a pintura, por estar fora do giro da evolução tecnológica, pode lidar com isso.” Sean Scully, in “A

beleza do real”; entrevista para Hans-Michel Herzog.

p i n t u ra s e f o t og ra f i a s r e c en t e s : a l gumas c on s i de ra çõe s

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É bastante comum e mesmo consensual a idéia de que “o tempo da pintura é outro”. Acredito que de fato seja. O tempo embutido nas pinceladas, na procura pela construção da cor, no ato de velar/revelar.É preciso tempo para pintar. E tempo para olhar para uma pintura e dela desfrutar. O espectador deve também oferecer algo de si ao relacionar-se com a obra: sua disponibilidade.

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Talvez seja por isso que, justamente no campo da pintura, mais se explicitem algumas contradições da cultura contemporânea. A descrença em valores ligados a uma tradição humanista, a crise de expressividade do sujeito, a questão da arte frente às novas tecnologias, a relação obra de arte e mercado, a produção de imagens (figurativas ou não) em um mundo cada vez mais saturado delas.

Ao mesmo tempo, falar sobre os dilemas da modernidade também se tornou de certa forma sem sentido, o que tampouco torna estas questões menos contundentes.

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Um dos primeiros destinos da pintura foi, como se sabe, o de criar fantasias, ilusões – a tinta e a tela transformando-se, indo além da própria matéria. A chamada “crise da pintura” ou “morte da pintura” questiona justamente essa natureza, atribuindo-lhe uma insuficiência e falência frente às novas questões e experiências colocadas pela modernidade, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. “(...) O plano já não nos interessa em absoluto – o que nos resta? Novas estruturas a descobrir. É a carência de nossa época – estruturas que correspondam absolutamente a novas necessidades do artista se expressar.”3 Muitos artistas dessa época passaram a se ocupar do caráter concreto da superfície pictórica e sua interação com o ambiente à sua volta.

Longo caminho, o da pintura: do olhar que buscava o infinito à opacidade do mundo. A janela fecha-se, torna-se muro.

Ainda hoje, o plano continua a fascinar alguns artistas contemporâneos, justamente por suas características próprias: o que é visto como limitação pode, na verdade, servir de alimento e estímulo ao trabalho.

3 In: Lygia Clark - Hélio Oiticica: Cartas, 1964-74, p. 34.

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Quando penso na pintura hoje me lembro de uma frase de Murilo Mendes, “não devemos ser sobreviventes, mas contemporâneos de nós mesmos”. Sim, a pintura, como qualquer outro meio expressivo, deve ter qualidades que possam fazer dela um meio presente. E sua relação com a história não deve preceder sua procura por tais qualidades.

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Minhas pinturas e fotografias mais recentes ainda reportam-se a um olhar que vagueia pela cidade.

Muros e paredes, testemunhos de lugares que deram vez a estaciona-mentos, galpões de aluguel ou que simplesmente restaram em meio à caótica paisagem urbana. Nesse sentido, a própria paisagem pode ser vista como acúmulo, processo de sedimentação, o que a faz próxima da linguagem pictórica. As pinturas refletem a tentativa de construir uma espacialidade expressiva, e mesmo as fotografias revelam essa predileção pela materialidade: a visão, como modo de apalpação pelo olhar, como modo de descoberta paulatina e progressiva das coisas que formam o mundo.

São trabalhos que mantêm um diálogo estreito entre si – a pintura alimenta-se muitas vezes das fontes fotográficas e a fotografia nasce de um olhar cuja formação vem da pintura, relacionando luz, plano e cor.

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Ao mesmo tempo em que mantêm uma forte ligação com os trabalhos que os antecederam, acredito que também se caracterizem por uma escolha mais clara quanto à configuração de um espaço. Em muitas pinturas e na maioria das fotografias, a profundidade espacial sobressai-se em relação aos planos frontais que predominavam nos trabalhos anteriores, em que as distâncias eram insinuadas através da cor.

Essa decisão deve ser compreendida não como mera vontade representativa do espaço, mas como desejo de construir uma espacialidade específica, um lugar. “O lugar é qualquer coisa, mas ele inegavelmente possui uma potência própria (dynamis)”4. O lugar como aquilo onde se “manifesta a matéria”5.

4 Aristóteles. In: Georges Didi-Huberman. Fra Angelico – dissemblance et figuration. Paris: Flammarion, 1995. p. 34.

5 Georges Didi-Huberman. Fra Angelico – dissemblance et figuration. Paris: Flammarion, 1995. p. 34.

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Na fotografia, assim como no cinema, a operação entre aquilo que a câmera vê (a suposta realidade) e a imagem apresentada (no papel fotográfico ou na tela do cinema) levanta algumas questões próximas ao campo da pintura. “Uma realidade filmada pelo cinema é sobretudo uma realidade de cinema”.6 “Seja documentário ou ficção, o todo é sempre uma grande mentira que contamos”.7

6 Jean Mitry, citado em Abbas Kiarostami. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.

7 Abbas Kiarostami. Abbas Kiarostami. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. Ainda nesse mesmo sentido, podemos adicionar as palavras de Vilém Flusser: “Se imagens são para ser decifradas, seu caráter mágico tem que ser levado em conta. É um erro decifrar imagens como se elas fossem “eventos congelados”. Ao contrário, elas são traduções de eventos em situações; elas substituem os eventos por cenas. O seu poder mágico deve-se à sua estrutura de superfície; sua dialética inerente e suas contradições internas devem ser apreciadas sob a luz dessa mágica que elas possuem.” Vilém Flusser. Towards a Philosophy of

Photography. Göttingen: European Photography, 1984, p.48.

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Daí a importância, para mim, em consentir que os elementos táteis da pintura falem por si, que a materialidade da cor e da superfície se façam notar, contribuindo para que o espectador torne-se consciente daquilo que podemos chamar de o corpo da pintura.8

A arte enquanto construção de uma linguagem tem suas exigências específicas até virar obra: esta é concreta (mesmo que seja só uma ação), é fenômeno, tem duração e está no mundo (há que possuir uma vitalidade própria para dele diferenciar-se). Porém, insistir num puro materialismo seria negar a própria natureza da arte. ”O problema da pintura é físico e metafísico, do mesmo modo que a vida é física e metafísica.”9

8 “(...) L’image, inapte – ou plutôt insensible – à la stricte pensée logique, tire de cette insensibilité même toute sa force signifiante”. Georges Didi-Huberman. Fra

Angelico – dissemblance et figuration. Paris: Flammarion, 1995, p. 34.

9 Barnett Newman. Selected Writings and Interviews. California: University of California Press, 1992, p. 89.

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“A beleza do real”; Hans-Michel Herzog entrevista Sean Scully.

“Eric Davis entrevista Sean Scully”.

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contra-capa - colada na capa dura, internamente.