freitas filho a mao livre

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A R MA N D O F R E I T A S F I L H O MÁQUINA DE ESCREVER poesia reunida .e_ N Â - EDITORA NOVA FRONTEIRA

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Freitas Filho

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Page 1: Freitas Filho a Mao Livre

A R M A N D O F R E I T A S F I L H O

MÁQUINA DE ESCREVER poesia reunida .e_ N ~*"---

 -EDITORA NOVA

FRONTEIRA

Page 2: Freitas Filho a Mao Livre

ARMANDO FREITAS FILHO

À mão livre

1979

Page 3: Freitas Filho a Mao Livre

À MÃO LIVRE. Capa de Rubens Gerchman.

Vocabulário e corpo - deuses frágeis -eu colho a ausência que me queima as mãos

Ferreira Gullar

Page 4: Freitas Filho a Mao Livre

Mademoiselle Furta-Cor

de a a agá

Page 5: Freitas Filho a Mao Livre

Por esta fresta te espreito

por esta fenda te desvendo.

Por esta fresta

sonda contra esponja

e babo

cravo

e te penetro

teso e reto, e por inteiro

o seu corpo se entreabre:

porta e perna, caixa e coxa.

Por esta fenda

tenda

de pele que se franze

e rasga

eu me adentro

feito de espera e de esperma:

e espremo - te aperto - e exprimo

toda a cor da carne do amor que escrevo.

Por esta fresta me espreito

por esta fenda me desvendo.

***

Eu conheço o seu começo

ponto e novelo

meada de mel e langor

de lentos elos

que a minha língua lambe

no calor despido

no meio de suas pernas:

anéis de cabelos

anelos e nós se desmancham

em nada ou nódoa

235

Page 6: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho Máquina de escrever

por todo lençol do corpo o negrume úmido que você

nu e amarrotado: mucosa, encerra

nós aqui somos todos lassos corpo de crepe, polpa e grito

e nos rasgamos

devagar - poro por poro crua garganta da vagina

rumor de sedas grelo vermelho

ou de uma pele toda feita que lateja em nua boca de carne

de suor e suspiro: ultravioleta eu soluço a cada susto seu

que nos dissolve.

***

*** Seu corpo que escancara

negra gargantalha onde mergulho

minha cara, e gargaralho

por uma nesga nos teus pêlos, nos teus tufos

e me misturo no que escorre feita com unha e fúria

eu te descubro e te mastigo nos teus peitos.

Eu engulo o que está dentro:

e me embrenho em sua grenha a organza do orgasmo, a nuânsia

e tudo range - gargantua -selva de seiva que ferve suareja e gargalhanta

e espuma e chupa nos teus beiços feito espuma

de onde arranco estes teus beijos o que de mim escapa: jato em pedaços, derramados:

ejaculado gesto boca de sangue, grito e rouge ou projétil que no tenro morde a fera de esponja

que se espoja em cada espasmo se enterra eu te esmago sob a pata

e entra: entre, na entranha e me esmigalho nos teus braços

no carbono do escuro

gangantalha gargaralha

garatuja o gozo que no fundo gargalhanta gargalhada

se abre

e berra, decalque de luz, que fura ***

236 237

Page 7: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

238

No gume da minha gula

o meu afago se afia

e em sua carne me afogo

duro, inteiro, em riste

e vou tão fundo que sinto

sua pele de tantas pálpebras

de tantas pétalas abertas.

Entre suas pernas fechadas

- glande, guelra, golfada -

a vida se precipita

e voa feito uma flecha

buscando sua ferida:

cortinas de veludo e sangue

em derrame de lentas dobras

e de dolorosas pregas sentidas.

Nua mucosa, gruta, gengiva

com amor te mordo e enquanto rasgo

por dentro, o tenro de sua figura

o meu punhal sorri no escuro

e o seu riso cria um rio.

***

Eu avanço, te abocanho

a cama range, o corpo ruge

vermelho!

vivo num relance as nuances

de um arco-íris de tafetá

ferido no espaço do instante

de seu veloz delírio:

e caço o seu rosto em cada cor

em cada gama

a cada gomo que esmago e engulo

eu te provo, e bebo

as gotas do seu gosto

. e mastigo o teu sabor

calcando sob mim

o gesto escancarado

do seu sangue sem som

mas que, entretanto, em entretons

grita.

***

No seu corpo

vestido de cetim

tão sentido como este desejo

segunda pele que desliza

sobre sua nudez

em carne viva

à beira do sangue e do colapso

eu me debruço

álacre, mas minha fome

nem sequer alcança ou arranha

o escudo de esmalte

da sua beleza, não atravessa

seu corpo de cromo

o lacre

escarlate do sexo, o nicho

de verniz e veludo roxo

onde o beijo

da minha boca sonha aninhar-se.

***

Máquina de escrever

239

Page 8: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

240

Serpente

sereia de asfalto e néon

silva ruiva urge range

e lateja

cheia de escamas e chamas

em todas as camas, galáxias

que o desejo arma e desmancha

marca

de lantejoulas - olhos elétricos

e pelos cabelos

te alcanço

com minhas mãos seguro

a labareda

a lâmpada do corpo

abraço

sua fogueira imediata

a dança

que se queima no espaço

e enterro minha sede

no curto-circuito molhado do seu incêndio

aceso e cego.

***

Em pêlo

sobre seu dorso

o meu desejo

cavalo

que avança

e do meu corpo se veste

e mete

o dedo de sua língua

( ... )

a minha mão que enfia

a luva

do gesto da outra pele

e se espalha

nua

neste sofá de carne

forrado de fogo

feito de músculo, crina e gemido

onde o seu desejo

me engole

o arremesso

e chupa

gota por gota todo o galope

( ... )

o impulso a hélice o elástico

que se arrebenta

e dispara

o grito

a chicotada

que marca o rosto

e estala entre meus dentes

na boca de sua garganta.

* * *

Na bocadela

e brama

ah!

aqui

que espuma

no seu buracu nu

a vida que não cessa

Máquina de escrever

24 1

Page 9: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

242

se entrega

sem remédio escorre

e se arremessa:

do cabo ao rabo

não se abre nem um palmo

de pausa

nada

nesse espaço arreganhado

nenhum furo, nenhum poro

nem um poço está sem posse

e eu como, bebo, carco e acabo

e ainda lambo

todo o resto, toda a sobra

toda a baba

na beira da sua boca de cabelo.

Mr. Interlúdio

Page 10: Freitas Filho a Mao Livre

~msouvocê que me responde

do outro lado de mim?

Quem é que passa

invisível

pelo espaço da sala

e va1

do meu corpo

a este outro

em emulsão ou emoção

instantânea

feito como eu mesmo

de repente

e não perde

nessa viagem

em noite antiga

o tempo que perdi

e, no entanto

os dias que me fizeram

estão ali

correndo em suas veias?

Entre mim e você

que sou eu

simultâneo

quem sou?

O que se fez

enfim, nesse intervalo

onde minhas coisas todas

pousam

na poeira do silêncio

o segredo de sua carga?

Aqui estão os achados

e os perdidos

o que guardo ou abandono

245

Page 11: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

246

os vários ecos descobertos

as minhas sombras

que vou deixando

como roupas apagadas

que despi

meus fantasmas de pano

e luto

e me debato

nas paredes

pelo quarto

tão fechado e escondido

como o caderno de rascunho

feito de papel e de memória.

E nunca estou onde procuro

e mesmo agora

o que encontro mais de meu

é apenas

o relógio que marcha

e marca a hora

fora do meu pulso

é a fumaça do cigarro

que permanece se movendo

é o lugar

que pouco antes

minha cabeça

(ou foi meu sonho)

ocupou no travesseiro.

E o vento

não mais hesita na janela

e entra

casa adentro

no acaso do seu vôo

e bate as asas

no corredor

e bate

a porta até então

entreaberta.

Quem sou você

afinal

que me repete

do lado de fora de mim?

Quando me voltei?

Como andei até aí

sem desgaste

sem me ver

e agora me vejo daqui

de onde permaneci?

O que sou

não sei

como me fiz

ao longe

e não me alcanço

toda vez

quando escapo

sem lembrança ou flagrante

e vou

e vejo em toda parte

essa vida que se ergue

interina

e passeia

seu corpo clandestino

que é o meu

no chão de cada dia.

O que sei

não sou

pms me esqueço

Máquina de escrever

247

Page 12: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

248

tudo o que me fez

por dentro:

tudo o que está perto

todo o avesso

tudo o que de cor

o coração repete

entre relâmpagos

e no meio de mim

eu não me escuto

o pensamento

só persegue

o que está entre

os dois instantes

em que me percebi.

Entre os dois instantes

a distância é a mesma

da folha de um livro

para a outra que se segue:

de mim para mim

na falha desse espaço

onde só cabe

a lâmina de uma faca

o que se passa?

Que existência é essa

que avança e pergunta

a cada linha

de vida conseguida?

O que faço ali

vestido de outro

ao contrário de mim

pois o coração

bate sob a pele da camisa

no lado oposto do meu?

Como cheguei lá

se o pé não se fez passo

se o breve ar que me separa

é, s.omente, o de uma respiração

para outra

que chega

e embaça

e apaga

uma possível ponte

que a imaginação fabrica

e não sustenta

a estrutura em preto

e bruma

que vai desmoronando

suas impossíveis pedras de algodão

nessa pausa mínima

entre mim e você

que escreve

com a mão esquerda

o que não sei

o que, com certeza, não escrevo

e nem jamais escreverei aqui?

Máquina de escrever

249

Page 13: Freitas Filho a Mao Livre

Dr. Acaso

Page 14: Freitas Filho a Mao Livre

luto por toda a catacumba

contra tudo o que avança:

mão, mancha ou gancho

com o escudo de pele e escuro.

Está aqui o fantasma

que procuro, ferrão

de sombra em sua furna

cavada no sonho do meu sono

e a cada golpe eu respondo

com meu nome, com a arma

que desfere

unha e dente sobre o corpo

sem marca, sem feitio e que

navalha, eu retalho, corto

a fundo, mas minha fúria

somente fura o vazio desta carne

feita de fuga, disfarce e nada

e o gesto - gume agudo e cego -

sem alvo, só fere a mim:

franjas do meu próprio sangue

mas continuo: de luto eu

luto

***

por entre os dedos feito areia

dentro das mãos que não seguram

e se esvaziam, a vida foge

pelas veias, e o meu corpo

253

Page 15: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho Máquina de escrever

não calcula mais seu pulso: tudo o que sou

o tanto que não sei

convulsos cavalos soluços e se arrasta, sem nome

ou mapa:

veludo de pele vermelho espelho selvagem

caco, estilhaço

galopam no espaço do peito: tão vário é o que se perde

e parte e rasga o rosto

circuitos, látego e síncope da vida, sua cara

a máscara

aqui mergulho ou salto para a perda que o corpo - espada -

até o fundo, se veste

do que não tive e quis: lago ou trapézio e enterra: até o cabo

e a dor não sabe

e o que resta em toda parte do tenro do cálido do tépido

deste cálice de carne e investe:

para minha garra faz-se de vento ferro versus ferida

derrame

o perdido pousa no instante cego desta cor sem som que sangra.

do trampolim lançado sobre o inverno * * *

e cai se derrama, em vão, soçobra Pasto de carne onde o rastro

como sombra, se agrega na neblina do meu amor se empenha

e abre

do naufrágio deste espelho abandonado com as mãos sem luva

nuas unhas

tão marcadas no espaço

*** que o seu corpo abandonou.

E de novo abro

Aqui estou e então o que me resta

em todas as veias o que se arrasta, aqm

rajada na memória do deserto:

me penetra e varre: sol sem sombra, lembrança a pino

54 255

Page 16: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

~56

e nossos corpos derramados

no passado que chegou.

Sob o vento, nem areia

somente o chão

ou não.

Somente nada

ou o que despedaça

e se despede

neste esfarrapado vazio

sem bandeiras.

***

Nudez ou mudez?

A morte é nada

ou tudo o que se despe, imóvel.

Tudo o que se despede

e passa

sem olhos

longe dos mapas

sem marca, número, registro

e se retira sob a lápide:

sub-reptício réptil psiu

um mínimo de mim

se perde no

segundo

seguinte

em todos os degraus

eu deixo

migalhas fagulhas frações

entre o abrir

e o fechar

segredo

a morte aguarda no silêncio

no intervalo

entre uma

entre outra

entre cada

batida

do coração.

No entretanto

tanto

ficou entre meus lábios:

tanto em cada instante

que o acaso

pelos degraus

documentos

escada abaixo

até o chão.

No entretanto

lança

dados

tanto

ficou dentro do silêncio:

a marca da palavra

no branco da folha

embaixo da que escrevo

e rasgo:

seu relâmpago

que aos poucos se apaga

se afoga neste poço de papel.

No entretanto

tanto

ficou fora de mim:

tanto o que esqueço

e some

sem sinal, e todo o amor

Máquina de escrever

257

Page 17: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

258

não foi bastante

para reter o que voa

como o pássaro

que não lembro

no pensamento.

* * *

Quem com ferro

alcança

os olhos abertos

da ferida

Quem com os olhos

fura

a bandeira de vento

a blusa azul da manhã

que mesmo assim continua:

brisa ou

barco à vela

sobre o mar

ave, avião

com suas asas de viagem

voando como qualquer nuvem

de pensamentos no céu.

Quem com olhos

de ferro

procura

o rosto do meu corpo

quem com as feras

se lança

no rio do meu coração

em vão

quem com ferro?

* * *

Como um dia perdido

dentro da vida

como um dia

esquecido na lembrança

que abandona

todo o seu vento

o tanto de sol

que entra no pedaço da tarde

parada sobre o quintal

este dia

se repete

entre tantos

e chega

até a mim

repentino

com a sua sombra a esmo:

o mesmo vento

o mesmo sol que bate

na mesma tarde e anda

no chão de agora

perdido

como o dia de dentro

como o dia de antes

com a sua luz que alcança

a vida

deste momento.

***

Terra-

a nuvem se decifra no céu

o sono some no sonho

que logo se soma

a outro desenho, a outro

desígnio, cisne de signos

Máquina de escrever

259

Page 18: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

260

ou sino de neve

ou hino de névoa

no céu, as nuvens

seguem e cegam

o olho de mel do sol.

Terra-

aqui, no chão, a sombra

calça suas luvas

ao avesso, alça

nos ombros, armários de carvão

aqui, tão perto do coração

tão junto do peito

na beirada de pele e de pedra

do corpomar do planeta

minha vida se abraça com o espaço

de cada dia, e passa.

***

Os dias são os passos

na pista

o tempo que corre atrás do atleta

são pegadas em branco

dia a dia, adeus

são vestígios do silêncio?

Os dias são os sentidos

de um tecido

que se usa

vestido

como a pele

bailarina mais nua do corpo?

Os dias são as redes

no ar

balançando suas malhas e falhas

na pausa das varandas

dia sim, dia não?

Os dias são as notícias

mínimas

invisíveis a olho nu

acontecendo nas entrelinhas

nas páginas de poeira e ventania

de um jornal nenhum?

Máquina de escrever

261

Page 19: Freitas Filho a Mao Livre

Fragmentos de um domador

Page 20: Freitas Filho a Mao Livre

Àmor que a mão desenha

e tenta como este poema

que a custo começa

contra a mordaça

e voa feito nuvem

diante das vidraças abertas

e do olhar molhado do mar.

Amor que bate

em todas as portas

no peito da vida

bate

músculo de crepom

e crepúsculo

punho de pele

em luva de sangue

no peito

a vida

se gasta feito uma seda

se esgarça

como aquela nuvem

e passa

muda

em câmara lenta

e prepara

para o próximo momento

um navio de neve que vira

uma breve aeronave de névoa

voando para a manhã

por entre as estrelas

com as asas unpressas

em sua mudez de algodão

no papel aéreo do céu sem pauta.

Vôo, apenas, de plumas

e penso

tão fundo

265

Page 21: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho Máquina de escrever

é o chão como a vida e o mergulho como o vento

incessante de cada dia. que alcança o topo

Os segundos de silêncio de cada árvore

e segredo e beija suas copas

seguindo e não esquece

de cor de cada folha

a suíte de fuga de toda a folhagem.

o gota a gota de veludo

murmúrio e vermelho Não se esqueça

pingando o que a vida inventa

dentro do corpo e descobre

que não sabe o limite na insônia do espelho da sua borda. e no horizonte de cidade:

Aqui, no centro de tudo laser, labareda

o mundo se faz sem mapa: relâmpago cristalizado

o oceano de céu vulcão de neve que se reflete no outro embaixo do sol

de água do incêndio do pensamento

que repete a noite acende

a paisagem geral de cetim azul sempre de repente

do planeta. suas janelas Os olhos verdes de selva que se debruçam e relva sobre a natureza em carne viva:

tão de relance deslumbrilhante cascatarata como você Hiléia isto é o seu corpo musa de ar nouveau: que derrama em chamas deusa, não deixe ou o meu reflexo? sua beleza Quem se despede

esquecer-se do meu amor como quem se despe assim como a onda e abandona o tempo esquece seu movimento a pele de sua roupa na areia da praia. e cai na piscina nua Se lembre vestido de esmalte que tudo corre e esmeralda

se move e passa e nada

'66 267

Page 22: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

68

para fora de si

para dentro de mim

entre o céu e a terra

voando

como se fosse feito

de perfume, fantasma e olimpíada?

Mas não há nada

o que temer nesta noite:

nesta noite

tudo o que se deu

foi guardado

no fundo

mais profundo

do coração.

Não há nada o que temer

neste dia

que, hora por hora

avança

sobre a montanha e o mar:

viver, talvez, seja ver

o impossível, o árduo

o limite em nós

que ao entrelaçarmos

o nosso gesto

ao nos prendermos

tememos, sempre, nos perder.

Diagonal

Ao lado de Roberto Magalhães

Page 23: Freitas Filho a Mao Livre

Porto Mar onde amarro

toda noite

cada onda

e o carro dos meus dias

feito um barco

e mais a moto do meu sonho

com seus pulmões de arame

e com o desejo a cavalo

que chega

de ferro e gaze

ofega e pára:

holofotes

no espelho do rosto

rodas de elástico e ventania

- pneus de nuvem -

e as asas

do coração bordado

em

pleno vôo

na camisa do peito.

De mão em mão

o perfume do seu corpo

passa e fica

de cor

e corre

no vento

do pensamento

entre tantos

entre todas as luzes lilases

dos olhares

fica

no espaço da esperança

nas toalhas de talco

271

Page 24: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho Máquina de escrever

no lenço de papel branco e perco o desenho

onde sua boca de batom a linha o enleio o bailado

deixou a marca a flâmula de sua figura

do beijo esquecido entre outros esboços

que não alcanço. entre tantos rascunhos

nos vários papéis de seda

Não te alcanço que sua presença vestiu

e no entanto e onde pousou

veio sua voz a flama

abrir os lábios a fantasia trêmula de sua dança

na outra mesa que não se desmancha

na outra margem do bar e continua

-no- feita de sombra

tão depressa no alvo

passa no vôo

a alegria no decalque da lembrança.

sobre o mapa

que o rosto usa Sempre na lembrança

e desdobra: em, entre

rugas recortes e perfis

vmcos, marcas você debruça

que as mãos desamassam a fumaça que faz sua face

e disfarçam perdida na beira do ar

tão depressa e eu te procuro

as conversas se escrevem até o fundo de mim

dentro dos balões suspensos parado diante do esquecimento

nos espaços da fala logo após

quando as palavras se apagam depois

no de, desde

e você passa o último pensamento

e nada que passou

para fora de mim como um cardume

te persegue de palavras:

enquanto me afogo para, per

em cada corpo perante

que emborco e bebo o verão

'72 273

Page 25: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

'. 74

que se alastra

aceso

noite adentro

com o vento

que já demora

para

dobrar a esquina

e levar ao léu as folhas

e pára

contra o incêndio

que do outro lado se arma

de espaço e labareda

e progride

sobre o mar

que aprendendo a voar

abre suas asas de água

e invade

esse porto

onde, em cada barco

batem

em cada mesa

as ondas do meu coração

e o sol amanhece o céu

e a vida

diagoniza

no jornal da manhã.

Cidade Maravilhosa

Page 26: Freitas Filho a Mao Livre

À cidade se abre como um jornal:

flash flã flagrante

na folha que o vento leva

no grito impresso que voa

na voz

No ar

com a manchete:

LUTE NO AR

ou no exíguo espaço

que nos resta

no chão

das casas

das caixas de morar

nos ônibus superlotados

nos estádios cheios

o homem que

- todo o dia-

veste a camisa da estrela solitária

e desaparece

- para sempre -

luta

contra o esquecimento.

Como um jornal que escreve

em cada página

a crise e o crime de toda hora

como um jornal que embrulha

o que

diariamente

esquecemos

como um jornal

277

Page 27: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho Máquina de escrever

como os espelhos perplexos superposto

uo Parque de Diversões na paisagem amarrotada

se fazem os quadros em flagrante da cidade.

de Gerchman.

Aqui estão os rótulos

Ali estão todos rasgados do meu rosto

estamos nós as máscaras em pré-estréia as marcas

a sós as letras do meu nome na beira do mundo com todos os erres com todas as nossas caras: com todos os erros a miss o kiss elétrico em garranchas o kitsch o clichê pichados no cimento o beijo borrado de Mona/ou nos cartazes me alcanfa

e nas caligrafias de néon: no banco de trás

a Moreninha Motel de Mel Não Há Vagas

me enlafa

na janela furta-cor Os Desaparecidos

que pisca, Homens Trabalhando

por de trás da paramount Na frente de todos

o amor se acende:

Boa Noite O Rei do Mau Gosto

Lindonéia. usa o seu rosto

Ali estão todos A Stripper sem Script

na primeira página quebrada se incendeia

dos espelhos: sob o sol do Mangue

aqui, perdido, me acho

em cada qual Assegure Sua Fartura

me vejo no Carnê Futuro

na multidão espatifada. de Baby Do//

Ali encontro a linha Aqui estamos nós

o começo do desenho enfim o rascunho do meu corpo João e Maria de carvão feitos um para o outro

278 279

Page 28: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

280

no acaso das calçadas:

neste banco nos beijamos

neste jardim nos devoramos

nesta rua nos deixaram

joão

emana

nos perdemos

com a roupa do corpo

com a casa nas costas

na floresta

dos dias

(índios) e (indigentes)

atravessando as veredas da avenida

sob a paixão do sol.

Corpo de delito

Page 29: Freitas Filho a Mao Livre

I

E~cuta o rumor nas margens plácidas

feitas de lama, sangue e memória.

Escuta o brado retumbante

na garganta do túnel.

Por entre as grades do grito

o céu da liberdade viaja

e o sol, sem Pátria, se espalha

nesse instante, no cimento.

Aqui, Senhor, tememos

o braço forte que sobre os seios

se abate, sem remorso.

Aqui, no peito, os sussurros do coração

o muro de murros desabado

os urros na boca do corpo de entulho

e os erros da minha mão

que apalpa a própria morte.

Nesta cela que sonho nenhum

se escreve nas paredes

nesta sala de azulejos lívidos

um raio de dor sempre aceso

e vívido, à terra desce.

O céu é o sol desta luz

em cada nervo

e em cada um de nós

um límpido incêndio resplandece.

Daqui escuto os passos dos gigantes

pisando, impávidos, a paisagem.

Escuto a marcha dos colossos

por cima dos ossos

por cima dos mapas de mar e grama

283

Page 30: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

284

escuto as botas dos passos

nas poças do corredor

cada vez mais próximos

dos calcanhares nus do meu futuro.

II

Sentado na cadeira do dragão

largado no berço profundo do chão

sobre o som do mar o céu fulgura

com o seu sol elétrico

que não cessa

o curto, o choque, o surto

em chamas do dia iluminado

nos porões iniciais de um Novo Mundo.

As flores que aqui gorjeiam

garridas, em suas jaulas

se agarram na beira da vida

que cisma e insiste

e continua avançando

por entre vadias várzeas e charcos

e exclama e se espanta

como a primeira palmeira brusca

que busca o espaço

no bosque de fumaça do horizonte.

Aonde está você, amor eterno

que não drapeja no vento

sua ílâmula trêmula de estrelas?

Aonde o verde-louro, o céu de anil e mel

o lábaro, a labareda de pano

que o látego rasga e marca?

Aonde a glória do passado

se o presente é este furo

de bala na pele do futuro?

Mas se ergues, ainda sim

a clava forte do seu corpo

e não foge à luta

nem teme a própria morte

que avança armada até os dentes

verás os raios fúlgidos

do sol da liberdade no céu

e neste chão de terra que se ama!

Máquina de escrever

285

Page 31: Freitas Filho a Mao Livre

· A flor da pele

Page 32: Freitas Filho a Mao Livre

Pele. (Do lar. pelle.) S. f. 1. Membrana mais ou menos espessa que reveste exteriormente o corpo numano, bem como o dos animais vertebrados e o de muitos outros. (Sin. (pop.): couro.] 2. Fam. A camada mais externa da pele (I); epiderme. 3. Cútis, tez: Não é bonita, mas tem uma linda pele. 4. V. pelanca (I). 5. Couro (2). 6. Partes coriáceas e nervosas que se encontram nas carnes comestíveis; pelanca. 7. A pele de um animal separada do corpo: É de La Fontaine a

fábula acerca do lobo vestido com a pele da ovelha. 8. A pele de certos animais, dotada de pêlos finos,

sedosos e abundantes, preparada industrialmente para ser usada na fabricação de agasalhos,

ou como ornamento ou guarnição de certas peças do vestuário. 9. Odre (I). 10. Peça

de vestuário, ou manta, feita ou forrada de pele: A atriz usava uma pele de raro valor. 11. A casca de

certos frutos e legumes: a pele do pêssego. 12. Fig. A própria pessoa; o próprio corpo: sentir na pele

( q.v.); difender a pele. 13. Bras. , P A. O disco achatado da borracha bruta, tal como é apresen­

tada à venda, depois de preparada nos seringais. 14. Bras. Gír. Pelega. +Pele anserina. Med. 1. Pele áspera, por doença. 2. Pele arrepiada fisiologicamente, pelo medo, pelo frio, etc. Pele e

osso. Diz-se de pessoa ou animal muito magro. Cair na pele de. Bras. Pop. Zombar ou

escarnecer de; gozar. Cortar na pele de. Falar mal (de alguém); difamar; rosar na pele

de. Estar na pele de. Estar na posição, situação, etc., ocupada por (alguém); estar no lugar de.

Salvar a pele. Bras. Esquivar-se da responsabilidade em mau ato; livrar-se de castigo ou

reprimenda. Sentir na pele. Ressentir-se profundamente de (alguma coisa); sofrer na pró­

pria carne. Tirar a pele a. Explorar, defraudar (alguém); tirar a pele de. Tirar a pele de. Tirar

a pele a. Tosar na pele de. Cortar na pele de.

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo dicionário da língua portuguesa.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1ª edição, 1975, pág. I068.

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Page 33: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

Pele. (Do lat. pelle.) S. f. I. Membrana mais ou menos espessa que reveste exte­riormente 0 corpo humano, bem como o dos animais vertebrados e o de muitos outros. [Sin. (pop.): couro que arranho.] 2. Fam. A camada mais externa da pele (I); epiderme que dispo. 3. Cútis, tez: Não é bonita, mas tem uma linda pele que eu, aos poucos,

4 V. 1 Ca (I) S Couro que estendo (2). 6. Partes coriáceas e nervosas arranco. . . pe an · ·

ue se encontram nas carnes comestíveis que eu devoro; até a pelanca. 7. A pele ~e um animal separada do corpo: É de La Fontaine a fábula acerca do lobo vestido com a

pele da ovelha. 8. A pele de certas mulheres, dotada de pêlos. fin~s, sedosos e abun­dantes, preparada industrialmente para ser usada na fabr~c~çao de agasalhos, ou como ornamento ou guarnição de certas peças do vestuano. 9. Odre (I). O~re de onde escorre (de dentro) o seu mel (2). l O. Peça de vestuário, ou manta, feita ou forrada de pele: A atriz usava sua pele de raro valor. l I. A casca de certos frutos, corpos e legumes: a pele do pêssego. 12. Fig. Sua própria pessoa; seu próprio corpo: sentir sua pele sob minha mão ( q.v.); defender a pele. 13. Bras., P A. O disco achatado da borracha bruta, de sua barriga, tal como é apresentada à venda, depois de prepa­rada nos seringais. 14. Eras. Gír. Pelega que amasso. + Pele anser!na. Med. L Pele áspera, por doença. 2. Pele arrepiada pelo medo, pelo. desejo, .pelo fno, etc. Pele e osso. Diz-se de pessoa que se transforma num ammal mmto magro. Cair na pele de. Eras. Pop. Zombar ou escarnecer de você; gozar! Cortar na pele de. Falar mal (de alguém); torturar: difamar; tos ar a pele de. Estar na pele de, e enfiar. Estar na posição, situação, etc., ocupada por (alguém); estar no lugar de. Salvar a pele. Eras. Esquivar-se da responsabilidade em mau ato; livrar-se de castigo ou reprimenda. Sentir a pele. Ressentir-se profundamente de (alguma coisa); sofrer na própria carne sua invasão. Tirar a pele a. Explorar, defraudar, violar, matar (alguém); tirar a pele de. Tirar sua pele de você. Gozar na pele de.

Cortar na pele de, e esquecer.

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Máquina de escrever

Pele. (Do lat. pelle.) S. f. I. Membrana mais ou menos espessa que veste - exteriormente o corpo humano, na hora de tortura do amor, bem como o

dos animais vertebrados e o de muitos outros. [Sin. (pop.): couro que arranho

ou arrebento.] 2. Fam. A camada mais externa da pele foi alcançada (I);

epiderme que dispo e penduro. 3. Cútis, tez: Não é bonita, mas tem uma linda

pele que eu, aos poucos, arranco, com carinhos e unhas. 4. V. pelancas que como ( I ). 5. Couro que estendo no chão (2). 6. Partes coriáceas e nervosas que se

encontram nas carnes comestíveis que eu devoro; até a pelanca eu mastigo.

7. A pele de um animal, do homem, separada do corpo: É de La Fontaine a

fábula acerca do lobo vestido com a pele da ovelha. 8. A pele de certas mulheres,

dotada de pêlos finos, sedosos e abundantes, preparada industrialmente

nos matadouros para ser usada na fabricação de agasalhos, ou como orna­

mento ou guarnição de certas peças do vestuário. 9. Odre (I). Odre de

onde escorre (de dentro), entre os dentes, o seu mel (2). l O. Peça de vestuá­

rio, ou manta, feita ou forrada de pele: A atriz usava na cama, sua pele de raro

valor. l I. A casca de certos frutos, corpos e legumes: a pele do pêssego de sua

bufa. l 2. Fig. Sua própria pessoa; seu próprio corpo: sentir sua pele rasgada pela

minha mão ( q.v.); ofender a pele. 13. Bras., P A .. O disco achatado da borracha

bruta, de sua barriga, de sua bunda, tal como é apresentado à venda, de­

pois de preparado nos seringais. 14. Eras. Gír. Pelega que amasso na mão.

+Pele anserina. Med. I. Pele áspera, por doença ou carência. 2. Pele arrepia­

da pelo medo, pelo desejo, pelo choque elétrico, pelo frio cimento de uma

cela, etc. Pele e osso. Diz-se de pessoa enjaulada que se transforma num

animal muito magro. Cair na pele de. Cair na pele de, com o cassetete

em punho. Eras. Pop. Zombar ou escarnecer de você algemado; gozar! Cor­

tar a pele de. Fazer mal (a alguém); torturar; tosar a pele de. Estar na

pele de, e enfiar agulhas sob as unhas. Estar na posição, situação, etc.,

ocupada por (alguém), e então avaliar todo esse sofrimento; estar no lugar

de. Salvar, de qualquer maneira, a pele. Eras. Esquivar-se da responsabili­

dade em mau ato porque o Brasil é grande; livrar-se de castigo ou

reprimenda. Sentir a pele do torturado. Ressentir-se profundamente de

(alguma coisa) que, agora, só é cicatriz, lembrança envergonhada, nem

isso talvez; sofrer na própria carne sua invasão blindada. Tirar a pele a.

Explorar, defraudar, violar, matar (alguém) sem nenhum remorso; tirar a

pele de, até o osso. Tirar sua pele de você. Gozar na pele de, impunemen­

te. Cortar a pele de, e esquecer.

291

Page 34: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

Pele. (Do lat. pelle.) S. f. I. Membrana mais ou menos espessa que veste exteriormente o corpo humano, na hora de tortura do amor (e de outras torturas), bem como o dos animais vertebra­dos e o de muitos outros seres sem nome ou feitio. [Sin. (pop.): couro que arranho) rebento e castigo.] 2. Fam. A camada mais externa da pele foi alcançada pela mão do carrasco (I); epiderme que dis­po e penduro no pau-de-arara. 3. Cútis, em carne viva, tez: Não é bonita) mas tem uma linda pele que eu) aos poucos) arranco) com carinhos) unhas e fúrias. 4.V. pelancas que como e cuspo (1). 5. Couro que esten­do no chão, debaixo dos passos das botas (2). 6. Partes coriáceas e nervosas que se encontram nas carnes comestíveis dos outros que eu devoro; até a pelanca eu mastigo e engt.;lo. 7. A pele de um animal, do homem, separada do corpo: E de La Fontaine a fábula acerca do lobo uniformizado com a pele em sangue da ovelha. 8. A pele de certas mulheres, dotada de pêlos finos, sedosos e abun­dantes, preparada industrialmente nos matadouros, nas casas, nos bares, nos puteiros, para ser usada na fabricação de agaralhos, ou como ornamento na sala de visitas, nas festas oficiais, nos bailes populares, ou guarnição de certas peças do vestuário, de certos pratos na mesa. 9. Odre ( I ). Odre de onde escorre (de dentro), entre os dentes, o seu louco mel (2). 10. Peça de vestuário, ou manta frenética, feita ou forrada com a sua pele, amor: A atriz usava na cama) pernas abertas) sua pele de raro valor cínema­tográjíco. l I. A casca de certos frutos, corpos, legumes, putas: a polpa de pele do pêssego de sua bufa. 12. Fig. Sua própria pessoa violen­tada; seu próprio corpo escancarado: sentir sua pele rasgada pela mi­nha mão de gancho ( q.v.); ofender a pele)foder você. 13. Bras., P A O disco achatado da borracha bruta, de sua barriga, de sua bunda, tal como é apresentado à venda, nas praças, lupanares, super­mercados, depois de preparada nos seringais. 14. Bras. Gír. Pelega que amasso na mão do mendigo. + Pele anserina: venha de manso e cifogue o ganso. Med. l. Pele áspera, por doença, carência ou mau trato. 2. Pele arrepiada pelo medo, pelo desejo, pelo choque elétrico, pelo frio cimento de uma cela, pela tortura ou repres­são, etc. Pele e osso e dentes. Diz-se de pessoa enjaulada que se

292

Máquina de escrever

transforma num animal feroz muito magro. Cair na pele de. Cair na pele de, com o cassetete em punho, e espancar até a morte Bras. Pop. Zombar ou escarnecer de você algemado no pau-de-arara; gozar! Cortar a pele de. Fazer mal (a alguém);

torturar até morrer; tosar a pele de um suposto inimigo. Estar

na pele de, e enfiar (no outro) agulhas sob as unhas. Estar na

posição (para ser enrabado por muitos), situação, etc., ocupada

por (alguém), e então avaliar o porquê de todo esse sofrimento;

estar no lugar de, pois as coisas mudam. Salvar, de qualquer

maneira, a pele. Bras. Esquivar-se da responsabilidade em mau

ato (através de salvaguardas), porque o Brasil é grande e se pode

fugir para o estrangeiro; livrar-se de castigo e reprimenda por­

que o povo é meigo. Sentir a pele do torturado, do empalado.

Ressentir-se profundamente de (alguma coisa) que, agora, com

a possível mudança da história e do regime de encolha, só é

cicatriz, lembrança envergonhada, nem isso talvez; sofrer na pró­

pria carne sua invasão blindada, marcial. Tirar a pele (ah!). Ex­

plorar, defraudar, violar, matar (alguém) sem nenhum remorso,

pois o país não tem memória nacional; tirar a pele de, até o

osso, e xingar. Tirar sua pele de você, sua identidade. Gozar na

pele de, impunemente, com a polícia a seu favor, para sempre.

Cortar a pele de, e esquecer de tudo isso bem depressa, pois

agora a história é outra, as águas passadas não movem o moi­

nho, e o Brasil é feito por nós?

293

Page 35: Freitas Filho a Mao Livre

Armando Freitas Filho

MARCA REGISTRADA

Sonoteca, 153; Goeldi, 154; Dia-a-dia, 155; Sensorial, 156; Entretempo, 157; Eureka!, l 58; Desenho animado, l 59; Fernand Léger, l 60; Anúncios luminosos, l 60; Vida aper­tada, 161; Propaganda eleitoral, 163; Cais do porto, 164; Maracanã, 165; Chá de cari­dade, 166; Zona sul, 167; Artigos do dia, 167; Ready-made, 168; Giacometti, 169; Sociedade anônima, 170; Cartão-postal, 171; Capital federal, 172

ÜE CORPO PRESENTE

Germinal Germinal, 181; Cinco sentidos, 182; Cartão de aniversário, 184; Uma casa, l85;Texto, 186; Corpo fechado, 187; Sensorial, 188; Cego surdo mudo, 189

Palavra puxa palavra Palavra puxa palavra (mentaQ, 193; Palavra puxa palavra (visuaQ, 194; Palavra puxa pala­vra (oraQ, 196; Rudepoema, 197; Carta, 198; Antitexto, 199; Duas notas, 200; Últi­mo andar, 20 l

TV vivendo TV vivendo, 205; Cinema, 206; Pop, 206; Cidade gráfica, 208; Natureza morta, 210; Diário, 21 l; Corporifortificação, 212; Comunicações, 213

Memorial Memorial, 219; Achados & perdidos, 220; Auto-retrato, 221; Dois, 222; Notas para um retrato, 223; Escritura, 224; Sentenças, 225; Copião, 226

À MÃO LIVRE

Mademoiselle Furta-Cor Por esta fresta te espreito, 235; Eu conhefo o seu comefo, 235; negra, 236; Seu corpo que escancara,

237; No gume da minha gula, 238; Eu avanfo, te abocanho, 238; No seu corpo, 239; Serpente, 240; Em pêl~, 240; Na bocadela, 24 l

Mr. Interlúdio Quem sou você, 245

Dr. Acaso luto, 253; ... por entre os dedos feito areia, 253; Aqui estou e então, 254; Pasto de carne onde o rastro,

255; Nudez ou mudez?, 256; Quem com ferro, 258; Como um dia perdido, 259; Terra-, 259; Os dias são os passos, 260

Fragmentos de um domador Amor que a mão desenha, 265

Diagonal Porto Mar onde amarro, 271

Cidade Maravilhosa A cidade se abre como um jornal:, 277

Corpo de delito l, 283; II, 284

602

A flor da pele

Pele., 289

LONGA VIDA

Máquina de escrever

Sou um livro aberto, 299; À mão livre, 299; Escrevo, 299; Escrevo, 300; Quem esmviver verá, 300; Esta mão que me escreve, 301; A mão que escreve, 302; O poema que pretendo, 303; As águas passadas,

304; O que pensei, 305; CafO, 308; Fazer carreira, 3 l O; Concorro ou simplesmente, 3 l O; Fazer um

poema, 3II; Minha casa sou eu, 312; Atravesso a noite, 313; A mãe-metralhadora, 314; By-pass ou

em busca do passado, 3 l 5; Só e sem sol, 3 l 6; Mesmo que a vida dure, 3 l 7; Por dentro a morte, 3 l 7; Até

que a morte nos separe, 3 l 8; Achados e logo depois, 3 l 9; Envoi, avião - torpedo, 320; Seja de seda,

321; Trepar com você, 321; Absoluto azul, 322; Amar, 323; Amor, 324; Mil e uma noites depois,

325; No pau-de-arara, 326; As paredes têm ouvidos, 327; Amor com amor se paga, 329; No mar e no

bar, 330; Míss Fr~idaire não ouse, 33 l; Renoir, o que pinta, 33 l; Leíla Pugnaloni, 332; Bang-Bang?,

333; De sol a sol, 335; Pirar é arder, 336; Sex Pístols? Sim, 337; Sobretudo coxas, 338; Danfar até

não foder, 339; Antes, Mr. Interlúdio, 340; Toda viagem é interior, 34 l; Valium, valei-me, 342; Aqui

jazz, 343; Passar o corafãO a limpo, 345; De novo, 346; Um livro é um leque, 347

3X4

Entre Em si mesmo, 355; O lago que olha, 355; Na beira, 355; Arrancadas tão depressa, 356; O que se lê, ali, 356; A tarde precipita sua cor, 356; Um dia, 357; Afucenas: não lembro, 357; Entre um livro e

outro, 358; A céu aberto, 358; Não., 358; Com volúpia, 359; Na beira da folha, 359; Uma viagem

a descoberto., 360; No último ato da fala, 360; Entre, 361; O lago degolado, 361; Nuvens que navegam,

361; O vento vingador, 362; De olhos vendados, 362; As pedras prendem, 363; Lenda é além, ali,

363; A um passo da paixão, 363; Abrir os pulsos, 364; Leio de um só gole, 364

Durante Minha casa sou ego., 367; Nos deitamos, 367; Me chupe com muita pena, 367; Ter que sacrificar

carneiros, 368; O que foi que eu não te fiz, 368; Com um tapa, com um beijo, 368; A beleza é uma

colisão, 369; No espelho, 369; Os cometas são narcisas, 370; A última vez que te vi, 370; Entre nós até

o segredo, 3 70; Uma gargalhada para trás, 3 7I; O espelho é hoje, 3 7 l; No sojácama (sem hífen), 3 7I; Quem ama beijar o não, 372; A muleta do gago, 372; Ainda faltam muitos passos para atravessar o

saguão do mal-entendido., 373; Aí que dor, 373; Não decoro mais seu rosto:, 374; Tem dias, quando te

como, 374; Se tiver que me cortar, 375; Feito a machado, 375; Vóugota a gota, 375; l .X.82, sexta,

meia-, 376; Somos luvas da mesma mão, 376

Depois O primeiro arranha-céu, 38 l; Depois de tanto céu, 38 l; Acordo degolado., 38 l ; Sem brafoS, 382; As

palmeiras batem palmas, 382; Sereias /~adas, 383; Fora da barra e do cerco, 383; Todo céu é anónimo,

383; A tarde coberta de suor:, 384; Uma vida só de verão, 384; Castelos no ar, 385; Leve uma sereia

de souvenir, 385; Debaixo da luz do flash, 386; Pelo olho-mágico, 386; A televisão acesa., 386; Não

cons~o desl~ar., 387; Leio no jornal, 387; Muito além do túnel, 388; Tudo é um Maracanã, 388; A

cidade vai dormindo/acordada, 389; Ler na areia, na revista do domingo, 389; Vérão: o sol não pára de

olhar o mar., 390; Aqui, nesta cidade mui leal, etc., 390; Rio por dentro., 390; Encostado no céu, o

Cristo, 391

603