frederico santos belchior dos reis ubiraci espinelli lemes ... · outros motivos (até certo...
TRANSCRIPT
Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP
Departamento de Engenharia de Construção Civil
ISSN 0103-9830
BT/PCC/456
Frederico Santos Belchior Dos Reis Ubiraci Espinelli Lemes de Souza
São Paulo – 2007
Coberturas com telhado: definições, características gerais e visão analítica
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia de Construção Civil Boletim Técnico – Série BT/PCC Diretor: Prof. Dr. Vahan Agopyan Vice-Diretor: Prof. Dr. Ivan Gilberto Sandoval Falleiros Chefe do Departamento: Prof. Dr. Alex Kenya Abiko Suplente do Chefe do Departamento: Prof. Dr. Orestes Marraccini Gonçalves Conselho Editorial Prof. Dr. Alex Abiko Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso Prof. Dr. João da Rocha Lima Jr. Prof. Dr. Orestes Marraccini Gonçalves Prof. Dr. Paulo Helene Prof. Dr. Cheng Liang Yee Coordenador Técnico Prof. Dr. João Petreche O Boletim Técnico é uma publicação da Escola Politécnica da USP/ Departamento de Engenharia de Construção Civil, fruto de pesquisas realizadas por docentes e pesquisadores desta Universidade. O presente trabalho é parte da tese de doutorado apresentada por Frederico Santos Belchior dos Reis, sob orientação do Prof. Dr. Ubiraci Espinelli Lemes de Souza: “Produtividade da Mão-de-Obra e Consumo Unitário de Materiais no Serviço de Coberturas com Telhado”, defendida em 29/06/2005.
A íntegra da tese encontra-se à disposição com o autor e na biblioteca de Engenharia Civil da Escola Politécnica/USP.
FICHA CATALOGRÁFICA
Reis, Frederico Santos Belchior dos
Coberturas com telhado: definições, características gerais e visão analítica / Frederico Santos Belchior dos Reis, Ubiraci Espinelli Le-mes de Souza. -- São Paulo : EPUSP, 2007.
14 p. – (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departa- mento de Engenharia de Construção Civil ; BT/PCC/456)
1. Produtividade no trabalho 2. Mão-de-obra 3. Coberturas I. Sou- za, Ubiraci Espinelli Lemes de II. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Construção Civil III. Tí-tulo IV. Série ISSN 0103-9830
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 1
COBERTURAS COM TELHADO: DEFINIÇÕES, CARACTERÍSTICAS
GERAIS E VISÃO ANALÍTICA
Frederico Santos Belchior dos Reis1; Ubiraci Espinelli Lemes de Souza2
1MSc., Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, [email protected] 2Prof. Dr., Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
RESUMO
Este trabalho pretende gerar subsídios para a melhoria do processo de concepção e
produção de coberturas com telhado visando à melhoria da produtividade e a
minimização da perda de materiais.
Para tanto, realiza-se com base em levantamento prévio de informações, constituindo
em um capítulo conceitual discutindo as coberturas com telhado.
A variabilidade encontrada permite concluir-se que o entendimento da execução
pode representar uma ferramenta importante para a gestão da concepção e execução
das coberturas com telhado.
Palavras Chave: coberturas com telhado, produção, consumo de materiais.
ABSTRACT
This research intends to provide information to support roof design and production in
terms of labor productivity and material consumption.
Based on a previous information review, one chapters is presented, discussing roof
alternatives.
The wide range of performance detected allows the author to conclude that
understanding why this variation occurs represent a strong support to the roof system
conception and production.
Key Words: roff alternatives, production, material consumption.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 2
1. INTRODUÇÃO
A Construção Civil tem passado por inúmeras transformações, motivadas por uma
gama de fatores relacionados com legislações, exigências mais rigorosas de parte dos
agentes contratantes, mudança de postura do consumidor, mercado cada vez mais
competitivo, escassez de capital para investimento (as empresas não mais repassam o
custo de seus erros ao cliente, passando a buscar alternativas para racionalizar a
produção), entre outros motivos de maior ou menor influência.
A busca de novos caminhos para se adaptar ao novo contexto, tanto pelo lado das
empresas, fabricantes, como também das universidades e órgãos institucionais,
resultou no surgimento de várias pesquisas sobre novos materiais, processos
construtivos e inúmeros outros temas, além da importância de se obter um melhor
desempenho no aproveitamento dos recursos físicos e humanos (mão-de-obra).
Entre as diversas pesquisas realizadas, o estudo da produtividade se mostrou
essencial, pois promovia discussões, apontava novos caminhos, ou seja, questionava
a forma como o processo de produção nos canteiros de obras era falho e necessitava
ser revisto, tornando-se uma ferramenta extremamente útil, em que a sobrevivência
das empresas estará cada vez mais condicionada aos fatores relacionados à etapa de
planejamento da obra, e não somente as decisões tomadas no momento da execução,
situação corriqueira ainda encontrada neste setor.
A melhoria da produtividade pode acontecer no momento em que se entende o
serviço a ser analisado; neste caso, as coberturas com telhados. E o fato de não se
perceber o devido interesse no assunto é uma das motivações do estudo, mesmo
sabendo que a cobertura, é importante em relação aos custos de um empreendimento.
A formulação das metas e objetivos para o sistema produtivo, planejamento,
utilização dos recursos humanos existentes, integrados aos recursos físicos, e
acompanhamento destas ações para que possíveis falhas sejam percebidas e
imediatamente corrigidas é base fundamental para o sucesso de qualquer
empreendimento, independente do setor de atuação.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 3
Os materiais empregados no processo de produção e a mão-de-obra que manuseia
estes recursos podem ser considerados de imensa participação no sucesso (ou
fracasso) de um empreendimento, dependendo da qualidade em sua gestão, fazendo
com que a compreensão destes dois temas se torne praticamente estratégica do ponto
de vista organizacional.
Os estudos da produtividade da mão-de-obra e do consumo unitário de materiais se
destacam entre os temas que podem proporcionar pesquisas que agreguem valor à
execução de um serviço específico, ou de uma obra, fato este já percebido pelos
centros de pesquisas, nacionais e internacionais, que cada vez mais exploram o
assunto.
Restringindo a análise para as coberturas com telhado, observa-se uma estrutura que
não conseguiu aliar sua importância em termos de custo e desempenho em uma obra
com a quantidade de pesquisas realizadas, principalmente estudos sobre
produtividade da mão-de-obra e consumo unitário de materiais.
A possibilidade de realização de uma pesquisa sobre produtividade da mão-de-obra e
consumo unitário de materiais em coberturas com telhado abre possibilidades para
descobertas, positivas e negativas, que possam estar ocultas aos olhos de
engenheiros, gestores, fabricantes, operários e todos os agentes envolvidos na
execução e gestão deste serviço.
Essas considerações evidenciam a necessidade de um estudo mais avançado deste
tema pelos centros de pesquisas brasileiros, percebendo a existência de uma lacuna,
já que esses estudos não abordavam, de maneira detalhada, a produtividade da mão-
de-obra e consumo unitário de materiais na execução de coberturas com telhado.
Posteriormente, se realiza uma descrição das coberturas com telhado, através de
definições, características gerais e a visão analítica dos elementos constituintes desta
estrutura.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 4
2. COBERTURAS COM TELHADO
2.1 Definições e características gerais
Meneguetti (2001) afirma que nos diversos autores de livros de projeto e tecnologia
de processos construtivos, como Schmitt (1970) e Ataev (1985), a descrição da
função básica da cobertura seria a de proteger as atividades humanas e o conteúdo
das edificações contra a chuva, vento, calor, frio, poeiras e gases do meio ambiente,
enquanto que Martino (1979) e Finzi; Nova (1981) a descrevem como um abrigo
contra os agentes do meio ambiente, realizando trocas de calor, iluminação e gases.
Definições demonstram que a função da cobertura, de proteção do espaço criado para
desenvolvimento de atividades humanas contra agentes agressivos do meio ambiente,
não varia com relação ao tempo, mas nas formas de atender às exigências utilitárias.
A cobertura, o telhado e a telha são termos com origens e uso milenares, sendo que
os termos cobertura e telhado são empregados simultaneamente, de forma até
redundante, tanto na linguagem de leigos quanto na literatura técnica brasileira,
deixando claro a existência dos vários significados que podem assumir ou como
forma de limitar uma tipologia ou técnica construtiva (MENEGUETTI, 2001).
A falta de uma coerência técnica que seja comum em todas literaturas sobre
coberturas, acabou por dar liberdade para cada autor utilizar definições de acordo
com o significado que procura enfocar, seja ele simbólico (cultural), geométrico
(forma), funcional (utilização), técnico (como se faz) ou tributário (impostos sobre
produção, comercialização e serviços).
A falta de igualdade nos significados de termos técnicos e a busca por significados
dos termos correntes e coloquiais ajudam a compreender algumas razões para as
definições presentes nos trabalhos citados anteriormente, ficando clara a grande
relação entre os significados de cobertura e telhado. Isso possibilita a conclusão de
que telhado é uma parte da cobertura e nem todas as coberturas são formadas por
telhados ou possuem telhas.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 5
Meneguetti (2001) afirma que as normas italianas, em especial a UNI 8089 (1980),
apresentam melhor sistematização do assunto e paridade com a forma construtiva
brasileira. PICCHI (1984) realiza um comparativo, apresentado na Tabela 2.1, entre
as duas tipologias de cobertura (as coberturas com telhados possuem as seguintes
características quando comparadas às lajes de concreto impermeabilizadas: menor
peso; melhor estanqueidade; maior durabilidade; menor participação estrutural;
menos suscetibilidade às movimentações do edifício; necessidade de forro).
TABELA 2.1 – Quadro comparativo entre coberturas em telhados e lajes de
concreto impermeabilizadas. Fonte: adaptado de PICCHI (1984)
Características
Fundamentais
Coberturas
em telhados
Lajes de concreto
Impermeabilizadas
Peso
Materiais de revestimento leves
(telhas), vãos vencidos geralmente por
treliças, resultando estruturas leves.
Vãos vencidos pelo próprio concreto
armado ou protendido, (pode resultar
em coberturas mais pesadas).
Estanqueidade
Garantida pela justaposição das telhas
(encaixe, comprimento sobreposição,
etc.) e inclinação (esta é fundamental,
garantindo velocidade de escoamento
das águas, evitando penetração pelas
juntas, pelo efeito do vento; pelas
próprias peças, quando o material não
é suficientemente impermeável).
A continuidade é garantida pela
continuidade da superfície vedante; o
concreto, pela sua fissuração (devido à
retração, movimentação térmica e
carregamento), não garante por si só
esta continuidade, sendo exigidas as
impermeabilizações.
Participação
estrutural e
comportamento
frente a
movimentações do
edifício
Coberturas em telhados se apóiam
sobre o suporte, não participando
significativamente da estrutura da
edificação. E a movimentação por
outros motivos (até certo limite) não
compromete sua estanqueidade, pelas
telhas estarem soltas e sobrepostas.
Coberturas de concreto integram a
estrutura do edifício. Movimentações
estruturais (variações dimensionais,
recalques diferenciais) introduzem
tensões na cobertura, o que pode
comprometer sua estanqueidade
devido à fissuração ou ao trincamento.
Necessidade de
forro
Geralmente se utiliza, com dupla
função: suportar instalações, nivelar o
teto e correção térmica. O ar
confinado entre cobertura e forro, e o
próprio participam desta correção.
Em geral, dispensam a utilização de
forros. Por exemplo, nas coberturas
em lajes horizontais, o nivelamento do
teto e suporte para as instalações já é
obtido pela própria laje.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 6
O Quadro 2.1 apresenta, segundo Pires (1998), as exigências funcionais para
coberturas de edifícios.
QUADRO 2.1 – Exigências funcionais para coberturas de edifícios. Fonte:
PIRES (1998)
EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS
Segurança
- segurança estrutural;
- segurança ao fogo;
- segurança durante a utilização.
Habitabilidade
- estanqueidade (água, ar, neve e poeiras);
- conforto hidrotérmico (inverno e verão);
- conforto acústico (sons aéreos e de percussão);
- conforto visual;
- conforto tátil;
- higiene (limitação de ocorrência e
desenvolvimento de substâncias nocivas ou
insalubres);
- adaptação do acabamento à utilização.
Durabilidade
- conservação das qualidades (resistência aos
agentes climáticos, às ações decorrentes do uso
normal, à erosão provocada pelas partículas
suspensas no ar, aos produtos químicos, etc.);
- limpeza, reparação e manutenção.
Economia - limitação do custo global;
- economia de energia.
Como representa um conjunto de intenções e funções, apresentamos a terminologia
adotada por Meneguetti (2001), baseada em normas nacionais e internacionais, e
publicações, para definir os elementos geométricos presentes na cobertura, podendo
ser assimilados na Figura 2.1, assim como uma foto de uma mansarda em uma obra
de cobertura, mostrada na Figura 2.2.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 7
FIGURA 2.1 – Terminologia geométrica de coberturas. Fonte: MENEGUETTI
(2001)
Superfície de cobertura: superfície geometricamente plana ou mais complexa
(cilíndrica, cúbica ou geometricamente não definível) que resulta exposta aos agentes
atmosféricos;
Água: superfície de cobertura plana inclinada, mas normas de telhas de fibrocimento
adotam o termo rampa;
Beiral: parte do telhado fora do alinhamento da parede;
Vértice: ponto de encontro da linha de cumeeira com uma linha de espigão;
Cumeeira: aresta horizontal delimitada pelo encontro entre duas águas, geralmente
localizada na parte mais alta do telhado; linha de intersecção de duas superfícies de
cobertura com inclinação de sentido oposto e divergente;
Espigão: aresta inclinada delimitada pelo encontro entre duas águas, que formam
ângulo saliente, sendo um divisor de águas; aresta inclinada da intersecção de duas
águas adjacentes;
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 8
Rincão: aresta inclinada delimitada pelo encontro entre duas águas, que forma um
diedro côncavo, sendo um captador de água também denominado por água furtada
(IPT, 1988);
Rufo: linha de intersecção da superfície de cobertura com outra superfície vertical;
Inclinação: expressa em percentuais e equivale à tangente trigonométrica do ângulo
de inclinação entre o desnível compreendido entre a cumeeira (ou rufo) e a linha do
beiral e a distância em projeção horizontal entre estas duas linhas;
Peças complementares: conjunto de peças que permite a solução de detalhes do
telhado (cumeeiras, rufos e beirais);
Elementos de cobertura: elementos (conjunto de peças) que promovam fixação,
ligação ou continuidade entre partes, ventilação, exaustão, drenagem, iluminação,
impermeabilização, condensação, acústica ou decoração;
Mansardas: telhado que sobressai em relação à cobertura inicial, normalmente
executado em edificações de alto padrão, com os mesmos elementos e funções da
cobertura;
FIGURA 2.2 – Mansarda em cobertura. Fonte: fo
MANSARDA
tos do autor (2003)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 9
Importante ressaltar que, mesmo que os diversos autores que estudam as coberturas
tenham suas próprias definições, com o uso de termos e linguagens características
para os elementos apresentados anteriormente, os conceitos possuem os mesmos
princípios.
As partes constituintes da cobertura com telhados e suas funções principais são:
Estrutura de apoio: geralmente constituída de tesouras, oitões, pontaletes ou vigas,
tendo a função de receber e distribuir adequadamente as cargas verticais ao restante
da edificação;
Trama: constituída geralmente por terças, caibros e ripas, tendo como função a
sustentação das telhas;
Telhado: constituído por telhas de diversos materiais (cerâmica, fibrocimento,
concreto, aço, metálica, cobre, entre outros) e dimensões, tendo a função de vedação.
Sistemas de captação: constituídos geralmente por rufos, calhas, condutores
verticais e acessórios, com a função de drenagem das águas pluviais.
Nos próximos itens, será feita uma descrição de forma mais detalhada de cada parte
da cobertura, compreendida pela estrutura, trama e o telhado, analisando materiais
utilizados, tipologias, componentes, alternativas construtivas, assim como as etapas
do processo de produção deste serviço, com posterior relato da normalização
relacionada às coberturas.
2.2 Estrutura: visão analítica
Este elemento de sustentação, que suporta carregamentos permanentes e sobrecargas
das coberturas, pode ser contínuo (plano e não plano), ou descontínuo. Como
exemplos do primeiro caso, pode ser constituído de lajes de concreto moldadas in
loco, lajes mistas de concreto e blocos cerâmicos ou de poliestireno, painéis de
concreto, decks de madeira, abóbadas de alvenaria ou concreto e cascas de aço. No
segundo caso, as estruturas são formadas por elementos de aço ou ligas metálicas, de
madeira ou de concreto. Considerando as coberturas descontínuas (telhados),
utilizam-se usualmente superfícies descontínuas de elementos principais (tesouras)
ou lajes inclinadas (MENEGUETTI, 2001).
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 10
Os principais pontos a serem considerados no processo de definição da estrutura,
segundo Meneguetti (1994), seriam:
- detalhes arquitetônicos;
- sistemas térmicos e de ventilação (lanternins, exaustor e forros);
- sistemas mecânicos e equipamentos industriais ou cargas tecnológicas;
- sistemas elétricos e de comunicação (dutos e antenas, por exemplo);
- sistemas hidráulicos e de gases;
- fundações;
- fabricação e transporte da estrutura e a montagem;
- próprios sistemas estruturais (reticulados ou superfícies resistentes);
A estrutura de apoio, cuja função principal é transmitir os esforços solicitantes para
os elementos estruturais da edificação, pode ser composta por: tesouras, pilaretes,
oitões e pontaletes (Figura 2.3), sendo que cada um deles será detalhado a seguir.
FIGURA 2.3 – Elementos da estrutura de apoio: tesoura (a); oitão (b); pontalete
(c); pilarete (d). Fonte: Notas de Aula PCC-2436 (2002)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 11
2.2.1 Estrutura Pontaletada
A trama é apoiada sobre pontaletes, devendo ser contraventados com mãos francesas
e/ou diagonais (Figura 2.4); o apoio das terças no pontalete deve ser feito por encaixe
(talas laterais de madeira, fitas ou chapas de aço), sendo que o apoio não deve ser
diretamente sobre a laje de forro, mas sobre placas de apoio indicado na Figura 2.5.
FIGURA 2.4 – Contraventamento das vigas principais e pontaletes com sarrafo
horizontal, e da terça de cumeeira com mãos francesas. Fonte: IPT (1988)
APOIO
FIGURA 2.5 – Apoio do pontalete na estrutura. Fonte: fotos do autor (2004)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 12
2.2.2 Oitões
Com processo de produção em blocos, servem de apoio para as terças, desde que
sejam adotados reforços na região de apoio, mostrados na Figura 2.6 a 2.7.
FIGURA 2.6 – Exemplo de oitão com os locais das terças e terça de cumeeira
pré-determinados. Fonte: Notas de aula PCC-2436 (2002)
FIGURA 2.7 – Oitão de alvenaria em cobertura com telhado de edifício. Fonte:
fotos do autor (2004)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 13
2.2.3 Pilaretes
Como os oitões, os pilaretes também utilizam blocos em seu processo de produção,
servindo de apoio para as terças, mostrado nas Figuras 2.8 a 2.9.
FIGURA 2.8 – Pilaretes na estrutura de apoio. Fonte: fotos do autor (2004)
FIGURA 2.9 – Apoio das terças sobre
APOIO
os pilaretes. Fonte: fotos do autor (2004)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 14
2.2.4 Tesouras
Viga em treliça plana vertical formada de barras dispostas, compondo uma rede de
triângulos, tornando a estrutural indeslocável, transferindo o carregamento do telhado
aos pilares ou paredes da edificação (MOLITERNO, 1981), sendo o apoio para as
terças (vigas principais), conforme as Figuras 2.10 e 2.11.
TESOURA
FIGURA 2.10 – Estrutura de apoio com tesouras. Fonte: Notas de aula PCC-
2436 (2002)
C
FIGURA 2.11 – Componentes da tesoura. Fonte: IP
A – asna, perna, empena ou banzo superior
B – linha, tirante, tensor ou banzo inferior
C – montante ou suspensório
D – montante principal ou pendural
E – diagonal ou escora
D
T (1988
B
A
E
)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 15
Usam-se ligações com entalhes (ensambladuras), entre os componentes da tesoura,
com a utilização de estribos, braçadeiras ou cobre-juntas em juntas extremas (ligação
da empena com linha) e nas juntas centrais (ligação das pernas com pendural) –
Figura 2.12.
FIGURA 2.12 – Ligações com ensambladuras. Fonte: MONTENEGRO (1984)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 16
As próximas figuras indicam a existência de diversos tipos de tesouras existentes e
sua vasta utilização em diferentes tipos de edificações – Figura 2.13.
FIGURA 2.13 – Diferentes tipos de tesouras. Fonte: catálogos diversos
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 17
2.3 Trama: visão analítica
Este elemento complementar de apoio, com a função de apoiar um elemento
principal ou complementar, sempre esta presente, mesmo que integrado a outros
elementos (MENEGUETTI, 2001), servindo de apoio para as telhas e transmissão
dos carregamentos, que ocorrem nas superfícies dos telhados, direcionado-os para a
estrutura (elemento de sustentação).
A composição e o arranjo adotado para este elemento, depende da estrutura de
sustentação, da telha escolhida e do material empregado em sua execução, podendo
exercer diversas funções (Quadro 2.2).
QUADRO 2.2 – Caracterização da trama em coberturas descontínuas. Fonte:
MENEGUETTI (2001)
ELEMENTO
COMPLEMENTAR
DE APOIO
COBERTURA DESCONTÍNUA = COBERTURA COM TELHADOS
Posição na cobertura
- abaixo de elemento de estanqueidade;
- abaixo do elemento de isolamento térmico;
- abaixo do elemento complementar de barreira de vapor;
- abaixo do elemento complementar de ventilação.
Função ou funções
simultâneas
dependendo da
posição que ocupa
(1) ancoragem do elemento de estanqueidade (mediante elemento de
ligação); elemento de sustentação (e suas demais funções); elemento de
isolamento; elemento complementar de ventilação; decoração da parte
interna;
(2) ancoragem do elemento de isolamento térmico (mediante elemento de
ligação); elemento de sustentação (e suas demais funções);
(3) elemento de sustentação (e suas demais funções); elemento
complementar de ventilação;
(4) elemento de sustentação (e suas demais funções).
Produtos
- suportes desenvolvidos para fixação em linhas: filetes de argamassa de
cimento, ripas de madeira, perfis metálicos;
- suportes desenvolvidos para superfícies, tais como: deck contínuo de
madeira, lajes de concreto, painéis de gesso; produtos de materiais
sintéticos lisos ou não; painéis de materiais isolantes térmicos.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 18
Meneguetti (2001) afirma que as tramas seguem duas concepções distintas:
- tipo convencional, constituída por terças, caibros e ripas - Figura 2.14;
- tipo balloon frame (estruturas descontínuas que integram pisos, vedações
verticais e coberturas); as ripas são apoiadas diretamente na estrutura
(podendo ser formada por treliças ou perfis de alma cheia) – Figura 2.15.
FIGURA 2.14 – Trama convencional. Fonte: Notas de aula PCC – 2436 (2002)
FIGURA 2.15 - Tramas tipo balloon frame: ripas apoiadas na estrutura de
sustentação (vigas de alma cheia). Fonte: Notas de aula PCC-2436 (2002)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 19
O Quadro 2.3 apresenta os tipos de tramas mais encontrados no Brasil para telhados
por encaixe, os materiais utilizados e os critérios de otimização.
QUADRO 2.3 – Tramas mais utilizadas no Brasil em telhados por encaixe.
Fonte: IPT (1998)
TRAMA RIPAS
longitudinais
CAIBROS
transversais
TERÇAS
longitudinais
ESTRUTURA DE
SUSTENTAÇÃO
Transversais
Convencional
Seções menores e
percursos maiores
madeira
cada 30 a 35 cm
madeira
50 a 80 cm
madeira
2 a 3 m
tesouras de madeira
6 a 12 m
Convencional
Seções menores e
percursos maiores
madeira
cada 30 a 35 cm
madeira
50 a 80 cm
aço
3 a 6 cm
tesoura de aço
Livre
Ballon frame
Percursos menores
e seções maiores
madeira
cada 30 a 35 cm - -
tesouras de madeira
6 a 12 m
Ballon frame
Percursos menores
e seções maiores
madeira
cada 30 a 35 cm - -
vigas de madeira
4 a 8 m
Convencional
Seções menores e
percursos maiores
aço
cada 30 a 35 cm
aço
80 a 120 cm
aço
3 a 6 m
tesouras de aço
Livre
Ballon frame
Percursos menores
e seções maiores
madeira
cada 30 a 35 cm - -
tesouras de aço
6 a 12 m
Ballon frame
Percursos menores
e seções maiores
madeira
cada 30 a 35 cm - -
vigas de aço
4 a 8 m
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 20
Nos telhados por fixação a trama se reduz à existência das terças, sendo que o
material empregado e a geometria da mesma irão variar de acordo com a telha e a
estrutura de sustentação – Figura 2.16.
Meneguetti (2001) afirma que, observando a produção, percebe-se que as
características estruturais e geométricas das telhas por fixação permitem um menor
comprimento dos apoios, a diminuição do comprimento das juntas entre as telhas
além do número menor de componentes para manusear. Os materiais mais
empregados na composição da trama são, por ordem de utilização, a madeira, o aço e
o concreto.
FIGURA 2.16 – Terça como único componente da trama em telhados por
fixação. Fonte: Notas de aula PCC-2436 (2002)
Cada componente da trama será descrito separadamente, mesmo sabendo da
interação que ocorre entre eles, para uma melhor compreensão das suas funções e
particularidades.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 21
2.3.1 Terças
As terças, peças de madeiras horizontais apoiadas na estrutura, são os primeiros
componentes da trama a serem executados, e geralmente se apóiam sobre as
seguintes estruturas (detalhadas anteriormente no item 2.2): pontaletes; tesouras ou
treliças; oitões ou pares intermediárias; pilaretes.
As terças possuem nomes particulares caso estejam na parte mais alta da cobertura,
denominada terça de cumeeira, e quando estão apoiadas sobre as paredes laterais,
denominada frechais (Figura 2.17). Para Borges (1972), quando se usam caibros de
bitola (dimensão) 5x6 (largura x altura em centímetros), o espaçamento entre duas
terças será no máximo de 2,00m, enquanto que para caibros com dimensões de 5x7,
o espaçamento entre terças será no máximo de 2,50m.
O mesmo autor comenta que as dimensões das terças estão relacionadas com o vão
(espaçamento) entre as estruturas de sustentação. No caso das tesouras, quando o vão
entre as tesouras não exceder a 2,50m, serão usadas terças de 6x12, e para vãos entre
2,50 e 4,00m, usa-se terças de 6x16, atentando que para se usar terças de peroba em
bitola comercial (6x16), não se deve espaçar as tesouras mais do que 4,00m.
FIGURA 2.17 – Terça de cumeeira e frechal. F
(2002)
TERÇAS
onte: Notas de aula PCC-2436
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 22
2.3.2 Caibros
Os caibros são colocados em direção perpendicular as terças, portanto paralelos ao
elemento de sustentação, ficando inclinados, sendo que o declive é responsável pelo
caimento do telhado.
O caimento é representado em forma de rampa para que os carpinteiros tenham mais
facilidade durante a execução, e a bitola dos caibros depende do espaçamento das
terças, e caso a distância horizontal entre terças for até 2,00m, usam-se caibros de
bitola 5x6 (cm).
Quando a distância entre os eixos das terças for superior a este valor e não exceder a
2,50m, os caibros terão bitola de 5x7 (cm), e o espaçamento máximo entre os caibros
deve ser de 50cm, de eixo a eixo, para que as ripas comuns de peroba, de bitola 1x5
(cm), possam ser utilizadas (BORGES, 1972). A Figura 2.18 indica a localização dos
caibros na trama.
CAIBROS
FIGURA 2.18 – Caibros executados na trama. Fonte: fotos do autor (2003)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 23
2.3.3 Ripas
As ripas são os últimos componentes da trama a serem executados, pregadas
transversalmente aos caibros, paralela às terças. O espaçamento entre ripas depende
da telha a ser utilizada.
A distância entre dois caibros e entre duas ripas depende do tipo de telha (peso) e das
dimensões da sua seção e do tipo de madeira com que são fabricados, ou do aço e de
sua seção, caso a estrutura seja deste material. A Figura 2.19 apresenta, a ripas
executadas juntamente com o aspecto final da trama após sua execução, sendo que
neste caso especificamente a estrutura de sustentação é formada por tesouras.
FIGURA 2.19 –Elemento de sustentação (neste caso, tesoura) e da trama
(terças, caibros e ripas). Fonte: ASSED; ASSED (1988)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 24
2.4 Telhas: visão analítica
Para Meneguetti (2001), este elemento de estanqueidade se encontra presente em
todas as coberturas, e a partir do material, forma e posição de sua instalação pode
agregar outras funções, confundindo-se com os demais elementos.
O Quadro 2.4 apresenta essas funções e alguns produtos e materiais empregados nos
elementos de estanqueidade para coberturas descontínuas, atentando para a diversa
variedade de opções disponíveis para este elemento.
QUADRO 2.4 – Caracterização das telhas em coberturas descontínuas. Fonte:
(UNI 8178-1980; UNI 9460-1989; UNI 10372-1994) apud MENEGUETTI (2001)
ELEMENTO DE
ESTANQUEIDADE
COBERTURAS DESCONTÍNUAS = COBERTURAS COM
TELHADOS
Posição na
Cobertura
- parte externa da cobertura;
- abaixo do elemento complementar de proteção.
Função ou funções
simultâneas
- elemento de isolamento térmico;
- isolamento acústico;
- autoproteção;
- elemento complementar translúcido;
- proteção ao fogo;
- resistência aos carregamentos decorrentes de manutenção;
- captação de energia solar;
- elemento estrutural;
- decoração.
Produtos
- cerâmica (telhas);
- concreto (telhas, chapas);
- fibrocimento (chapas lisas ou onduladas);
- betume (telhas e chapas);
- metálico (telhas);
- madeira (chapas);
- polímeros (chapas e telhas);
- vidro (chapas e telhas);
- mineral (chapa de ardósia);
- vegetal (fibras e palhas).
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 25
IPT (1988) cita que o telhado pode assumir várias formas, em função da planta da
edificação. O mais simples é constituído por uma única água, denominado telhado de
uma água ou alpendre (Desenho 3A), sem a presença da cumeeira, espigão e o
rincão. O telhado de duas águas apresenta dois planos inclinados que se encontram
para formar a cumeeira (Desenho 3B). O telhado de três águas, com dois planos
inclinados principais, apresenta outro plano em forma de triângulo denominado
tacaniça (Desenho 3C), contendo a cumeeira, além de dois espigões. No telhado com
quatro águas, teremos duas águas mestras e duas tacaniças (Desenho 3D), além de
telhados mais complexos, como por exemplo, os ilustrados nos Desenhos 3E e 3F –
Figura 2.20.
FIGURA 2.20 – Algumas formas de telhado. Fonte: IPT (1988)
De acordo com a maneira de instalar, Meneguetti (2001) agrupa os produtos para
coberturas descontínuas (telhados) em três categorias, detalhadas posteriormente:
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 26
2.4.1 Telhas por encaixe
• 2.4.1.1 Telhas por encaixe – cerâmica
Os vários tipos de telhas por encaixe, de diversos tamanhos, dificultando a
especificação e a modulação, ocasionou a padronização de apenas alguns tipos de
produtos, com único comprimento de telha e galga, para o intercâmbio de telhas e
controle da oferta de produtos (MENEGUETTI, 2001), relacionadas a seguir:
- colonial: formada por duas peças côncavas ou convexas que se recobrem
longitudinalmente e transversalmente;
- francesa: possui encaixes laterais, um ressalto na face inferior e outro
(denominado orelha) de aramar que serve para eventual fixação;
- paulista ou plan: constituídas de peças côncavas (canais) e convexas (capas),
permite mudanças na moldagem desde que se mantenham os sistemas de
encaixe e as dimensões da galga para cada tipo;
- romana: possui uma capa e um canal interligados.
b)a)
d) c)
FIGURA 2.21 – Telhas de cerâmica por encaixe: a) colonial; b) francesa; c)
capa e canal; d) romana. Fonte: Notas de aula PCC-2436 (2002)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 27
A Tabela 2.3 apresenta a seguir as características, segundo IPT (1988) e Mitidieri
(1994), das principais telhas de cerâmica por encaixe.
TABELA 2.3 – Características morfológicas das telhas de cerâmica por encaixe.
Fontes: IPT (1988); MITIDIERI (1994)
TELHAS POR ENCAIXE – CERÂMICA CARACTERÍSTICAS
FRANCESA ROMANA COLONIAL PAULISTA PLAN
comprimento (mm) 400 415 460 460 460
largura (mm) 240 216 180/140
capa
160/120
canal
180/140
capa
160/120
canal
180/140
espessura (mm) 14 10 13 13 13
altura do canal
(mm) - - 75/55
capa 70/70
canal 70/55
capa 60/60
canal 5/45
massa seca média
(g) 2600 2600 2250
capa 2000
canal 2150
capa 2290
canal 2280
massa seca máxima
(g) 3000 3000 2700
capa 2650
canal 2650
capa 2750
canal 2780
galga (mm) 340 360 400 400 400
ângulos de inclinação 18°<i<22° 17°<i<25° 11°<i<24° 11°<i<24° 11°<i<17°
declividade 32%<d<45% 30%<d<45% 20%<d<25% 20%<d<25% 20%<d<30%
número de telhas / m² 15 16 24 26 26
peso seco telhado
(N/m²) 450 480 650 690 720
peso saturado telhado
(N/m²) 540 580 780 830 860
A colocação destas telhas deve ser feita em fiadas, iniciada pelo beiral, indo em
direção à cumeeira. As próximas fiadas, até a cumeeira, devem ser encaixadas de
forma perfeita na fiada anterior; as telhas dos beirais são as mais solicitadas às
interferências dos ventos, e caso os beirais não tenham proteção, as telhas devem ser
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 28
amarradas na estrutura de sustentação, sendo que no caso das telhas de capa e canal,
a primeira deve ser emboçada e a outra deve ser fixada (IPT, 1988).
As saliências e reentrâncias que definem o recobrimento lateral determinam a
seqüência de colocação das telhas; a colocação da telha do tipo capa e canal é feita
posicionando os canais com a parte mais larga voltada à cumeeira, espaçando-os o
máximo possível, para que as capas possam se apoiar nas abas laterais dos canais,
obtendo o maior canal possível (recobrimento mínimo de 60 mm na colocação dos
canais das fiadas superiores sobre as fiadas inferiores), e as capas são colocadas
sobre os canais com o lado mais largo voltado para baixo, também observando o
recobrimento de 60 mm (MENEGUETTI, 2001).
• 2.4.1.2 Telhas por encaixe – concreto
São telhas produzidas por extrusão de argamassa, cimento e areia, possuindo
diversos modelos e fabricantes, com formas das seções transversais que lembram as
telhas cerâmicas tradicionais, sendo dotadas de saliências e reentrâncias, nervuras e
apoios para obter uma melhor estanqueidade. Uma diferença das telhas cerâmicas
são os encaixes para sobreposição lateral (dois sulcos, em forma de pequenos canais
permitem o encaixe e a drenagem) e longitudinal (a face superior é lisa e na inferior
se formam as barreiras para a água), confirme Figura 2.22 (MENEGUETTI, 2001).
FIGURA 2.22 – Telhas de concreto por encaixe. Fonte: catálogos diversos
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 29
Dependendo do fabricante, a geometria destas telhas pode variar e são
disponibilizadas telhas em policarbonato, para permitir a passagem da luz, com a
desvantagem do alto preço (MENEGUETTI, 2001). O Quadro 2.5 apresenta as
características morfológicas dos tipos de telhas de concreto.
QUADRO 2.5 – Morfologia das telhas de concreto por encaixe. Fontes:
BIONDO (1991); NBR 13858-2 (1997)
CARACTERÍSTICAS TELHA POR ENCAIXE – CONCRETO
comprimento útil (mm) 320
largura útil (mm) 300
espessura (mm) > 10
altura do canal (mm) 70
massa seca média (g) 4000 a 4700
galga (mm) 320
declividade 29 a 45 %
Numero de telhas / m2 9,5 a 10,5
peso unitário (kg) 4,3 a 5,0
peso seco telhado (N/m2) 450 a 500
peso saturado telhado (N/m2) 500 a 550
• 2.4.1.3 Telhas por encaixe – resinas poliméricas (propileno opaco)
Essas telhas possuem formas e utilização semelhante às telhas por encaixe de
cerâmica, e chegam a pesar até nove vezes menos do que as telhas cerâmicas
(Quadro 2.6), com resistência ao impacto maior, não possuindo boa condutividade
térmica. A Figura 2.23 apresenta a telha de polipropileno por encaixe.
QUADRO 2.6 – Telhas por encaixe de: cerâmica, concreto e polipropileno –
comparação de peso e consumo. Fonte: SAYEGH (2001)
TELHA POR ENCAIXE CERÂMICA
Tipo plan
CONCRETO
tradicional POLIPROPILENO
Peso seco (kg/m2) 72 49,35 6,44
Peso saturado (kg/m2) 86 54,30 6,44
Consumo (um./m2) 26 10,50 4
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 30
FIGURA 2.23 – Telhas de polipropileno por encaixe. Fonte: catálogos diversos
2.4.2 Telhas por fixação - devido à capacidade de carga, são classificadas em:
- telhas de vedação: recebem e transferem as ações vindas do meio ambiente;
- telhas estruturais: além da mesma característica da telha de vedação, recebe
e transfere as ações do tráfego durante a execução e manutenção.
• 2.4.2.1 Telhas de fibrocimento Telha de uso em larga escala no Brasil, onde a seção ondulada é a mais utilizada;
dependendo da declividade, pode ter maior ou menor recobrimento lateral e
longitudinal – Figura 2.24.
FIGURA 2.24 – Telha de fibrocimento (recobrimento). Fonte: MENEGUETTI
(2001)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 31
O sentido da montagem deve ser do beiral para a cumeeira, na direção contrária dos
ventos dominantes (Figura 2.25), com necessidade de corte nos cantos das telhas se
ocorrer o cruzamento do recobrimento lateral e longitudinal, decisões amparadas em
um plano de montagem prévio, conforme a Figura 2.26 (MENEGUETTI, 2001). A
Figura 2.27 mostra exemplos de aplicação da telha de fibrocimento.
FIGURA 2.25 – Seqüência de montagem das telhas. Fonte: NBR 7196 (1983)
FIGURA 2.26 – Esquema prévio de montagem e recorte das telhas. Fonte:
MENEGUETTI (2001)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 32
FIGURA 2.27 – Utilização de telhas de fibrocimento. Fonte: Notas de aula PCC-
2436 (2002)
• 2.4.2.2 Telhas metálicas
Telhas compostas de ligas metálicas (aço, alumínio e o cobre), que contam com
normalização insuficiente. A superfície lisa e sua elevada mecânica permitem o uso
de pequenas declividades (considerando as sobrecargas de lâminas d’água,
instabilidade que os empoçamentos podem causar na telha e medidas construtivas
que garantam a estanqueidade), apresentada na Figura 2.28.
Meneguetti (2001) apresenta a seguinte seqüência de execução de telhas de aço:
- caso houver, colocar e instalar as calhas, para que as mesmas possam evitar
sobrecargas em caso de chuva;
- sentido de colocação das telhas do beiral para a cumeeira (direção contrária dos
ventos dominantes), respeitando, se existir, o lado preparado para a sobreposição
lateral da telha;
- utilização de fitas de vedação para pequenas declividades;
- instalação de cumeeiras e rufos;
- fixação de todos os elementos;
- por fim, as provas de estanqueidade para garantir a eficiência de todas as juntas.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 33
FIGURA 2.28 – Telhas metálicas. Fonte: catálogos diversos
• 2.4.2.3 Telhas de plástico
Existência de produtos variados, com diferentes conformações (opacos ou
translúcidos), com as mais várias finalidades (iluminação, proteção), sendo
agrupados em quatro classes: P.V.C (policloreto de vinila) – Figura 2.29; P.M.M.A
(polimetil meta acrilato); P.R.F.V. (poliéster reforçado com fibras de vidro); P.C.
(policarbonato) (MENEGUETTI, 2001).
FIGURA 2.29 – Telhas de plástico: policloreto. Fonte: catálogos diversos
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 34
2.4.3 Coberturas descontínuas de placas
• 2.4.3.1 Placas por sobreposição: podem ser do tipo germânico (Figura
2.30), ou telhas Shingle (placas à base de mantas betuminosas) - Figura 2.31.
FIGURA 2.30 – Telhas do tipo germânico. Fonte: RUBENS (1994)
FIGURA 2.31 – Telhas tipo Shingle. Fonte: catálogos diversos
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 35
• 2.4.3.2 Placas com matajuntas: alguns exemplos de materiais que formam
superfícies com fixação por meio de perfis matajuntas, são o vidro, o
policarbonato alveolar e o acrílico.
2.5 Elementos adicionais da cobertura com telhado
Segundo Meneguetti (2001), partes constituintes das coberturas com telhado que
exercem importantes funções são os elementos: de isolamento térmico;
complementar de proteção; complementar de ligação; complementar de ventilação;
complementar de barreira ao vapor; difusor de vapor; complementar de coroamento;
complementar translúcido e/ou visitável; complementar de drenagem. A Figura 2.32
apresenta elementos complementares de drenagem.
CAPA DEBEIRAL
RUFO
CALHA
FIGURA 2.32 – Elementos complementares de drenagem. Fonte: IPT (1988)
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 36
2.6 Alternativas construtivas
Uma alternativa construtiva ao usual processo construtivo com a utilização de
madeira na estrutura são as estruturas metálicas ou de concreto. Isso ocorre devido à
escassez de material, o aumento do preço da madeira e a essencial necessidade de
preservação ambiental, além do aumento da produtividade e da qualidade na
construção de coberturas com telhado, devido ao maior grau de industrialização
através da utilização de peças pré-fabricadas.
A utilização de estrutura metálica em edificações industriais e galpões se tornou
usual, com a utilização de treliças planas (feitas em aço) ou treliças espaciais,
compostas de elementos tubulares, em aço ou alumínio, sendo que já são utilizadas
em construções residenciais, facilitando o processo de produção, reduzindo tempo de
execução, melhorando o aspecto do canteiro, evitando desperdícios, entre outras
contribuições – Figura 2.33.
FIGURA 2.33 – Utilização de estrutura metálica em construções residenciais.
Fonte: catálogos diversos
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 37
2.7 Processo de produção de coberturas com telhado
Para o serviço de execução de coberturas com telhado composto por estrutura de
apoio e trama em madeira, juntamente com as telhas (cerâmicas, de concreto, entre
outras), podem-se considerar quatro fases distintas durante o processo de produção:
Recebimento
- os materiais utilizados na execução (madeira, telhas e demais materiais)
são entregues no canteiro, podendo os mesmos serem adquiridos pela
empresa que executa a edificação ou pela responsável especificamente
pela cobertura com telhado (caso este serviço seja subempreitado).
Estocagem
- uma vez entregues os materiais, é necessária a existência de um local
predeterminado para alocação, que não atrapalhe a execução do serviço e
facilite o acesso pelos operários.
Processamento intermediário
- etapa de ajustes nas peças de madeira que serão utilizadas na execução do
serviço de coberturas com telhado, no caso em que a espessura e/ou o
comprimento das peças que chegaram no canteiro não sejam os
especificados em projeto (consideram-se também os recortes das telhas
para os espigões e cumeeira);
- é importante que a equipe possua as ferramentas corretas nesta etapa, para
que não ocorram atrasos e erros que ocasionem retrabalhos.
Processamento final
- etapa da execução da partes constituintes da cobertura com telhado
(estrutura de apoio, trama e telhamento), com as peças de madeira e
demais constituintes em sua espessura e comprimento corretos.
A Figura 2.34 apresenta essa visão de processo de produção para uma cobertura com
telhado.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 38
A
B
C
D
FIGURA 2.34 – Etapas do processo de produção: a) recebimento; b) estocagem;
c) processamento intermediário; d) processamento final. Fonte: fotos do autor
Importante citar que em todas as etapas, o esforço de transporte pode não ser
desprezível, além de poder haver necessidade de ajuste das peças de madeira, sendo
essencial a programação do serviço para evitar a falta de material e atraso na
execução.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 39
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A existência de desperdícios e a busca pelo seu controle é um passo importante que a
Indústria da Construção têm dado, visando à melhoria contínua dos processos
produtivos existentes e a gestão das atividades no canteiro de obras. Entretanto, para
a avaliação das melhorias advindas de inovações e novos processos construtivos, é
necessário que as Empresas saibam mensurar sua eficiência e tenham conhecimento
do seu desempenho quando da execução do serviço.
Apesar de várias pesquisas, nacionais e internacionais, terem abordado a
produtividade da mão-de-obra e o consumo unitário de materiais para os mais
diversas serviços, as coberturas com telhado ainda apresentam um banco de dados
restrito, fator que dificulta o entendimento do serviço. A existência das ineficiências,
tão comuns na Construção Civil, nas etapas de concepção e execução, abrem espaço
para melhorias, do produto e do processo, para a obtenção de melhores índices de
produtividade e redução das perdas de materiais.
As perdas ocorrem nas mais diversas etapas do processo produtivo, e sua constante
avaliação permite o controle do desempenho da obra em relação aos índices
constantes no orçamento. O entendimento dos fatores influenciadores da
produtividade da mão-de-obra e do consumo unitário de materiais torna-se
instrumento facilitador da gestão nas atividades de construção.
Um projeto simplificado e a boa gestão da produção são importantes para a melhoria
da eficiência. Restringindo a análise ao consumo e perda de materiais, observa-se
que as empresas não têm conhecimento de suas perdas, e o controle é uma atividade
não bem vista nos canteiros, pelo temor de que índices elevados (que representam
perda financeira) sirvam de justificativa para críticas aos funcionários.
Pode se constatar que um aprofundamento do estudo do serviço de coberturas com
telhado, do entendimento quanto aos fatores influenciadores da produtividade da
mão-de-obra e do consumo unitário de materiais em sua execução, se torne
extremamente relevante, justificando uma continuidade das pesquisas sobre o tema.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 40
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSED, J. A.; ASSED, P. C. Construção Civil: metodologia construtiva. Rio de
Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos. 1988. 220p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Folha de telha
ondulada de fibrocimento - procedimento. NBR 7196. Rio de Janeiro, 1983.
______. Telhas de concreto – Parte 2: Requisitos e métodos de ensaio. NBR
13858-2. Rio de Janeiro, 1997.
ATAEV, S. S. Construction tecnology. Moscou: Mir, 1985.
BIONDO, G. Buon tetto. 2. ed. Milano: Be-ma Editrici, 1991.
BORGES, A. de C. Prática das pequenas construções. 6. ed. São Paulo: Edgard
Blucher. 1972. 297p.
ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Departamento
de Construção Civil. Notas de aula da disciplina Tecnologia da Construção de
Edifícios – PCC 2436. São Paulo, 2002.
FINZI, L.; NOVA, E. Elementi Strutturalli. Milano: SIDE RESERVIZI, 1981.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS. Cobertura com estrutura de
madeira e telhados com telhas cerâmicas – Manual de Execução. Divisão de
Edificações, São Paulo: IPT, 1988. 59p.
______. Catálogo de processos e sistemas construtivos para habitação. Divisão
de Engenharia Civil, São Paulo: IPT, 1998. 167p.
MITIFIERI FILHO, C. V. Controle da qualidade de telhas e blocos cerâmicos.
São Paulo: Ed. Pini, 1988. p.117-22.
Boletim Técnico – Coberturas com telhado_______________________________ 41
MENEGUETTI, M. P. M. Z. Telhados com estrutura de aço: alguns aspectos
construtivos. 1994. 254p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo. São Paulo, 1994.
______. Diretrizes para racionalização construtivas em coberturas com telhados
por encaixe: proposta e aplicação. 2001. 1v + apêndice. Tese (Doutorado) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001.
MITIDIERI FILHO, C. V.; HACHICH, V. F. Telhados: como construir. Téchne,
PINI, v. 9, n. 2, p.49-53, mar/abr. 1994.
MOLITERNO, A. Caderno de projetos de telhados em estrutura de madeira. São
Paulo: Edgard Blücher. 1981. 422p.
MONTENEGRO, G. Ventilação e cobertas: estudo teórico, histórico e
descontraído. São Paulo: Edgard Blücher, 1984. 129p.
______. Impermeabilização de coberturas de concreto – materiais, sistemas,
normalização. 1984. 372p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo. São Paulo, 1984.
PIRES, F. Estruturas de betão para coberturas de edifícios utilizadas em Portugal. In:
SIMPÓSIO IBERO-AMERICANO DE TELHADOS PARA HABITAÇÃO, 3., São
Paulo, 1998. Anais. São Paulo: USP, 1998. v.u., p. 73-78.
RUBENS, P. Cada telhado tem a telha que merece. Arquitetura e construção, ano
10, n. 7, p. 42-49, 1994.
SAYEGH, S. Proteção térmica e contra a umidade – telha de polipropileno. Téchne,
ano 10, n. 50, p. 36-37, 2001.