francisco célio a. pontes 1 - ccarevista.ufc.brccarevista.ufc.br/site/down.php?arq=12rca23.pdf ·...

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POLlCULTIVO DE TAMBAQUI, Colossoma macropomum, CUVIER, 1818; CARPA ESPELHO, Cyprinus carpio L., 1758 VR SPECULARIS, E MACHO DA TILÁPIA DO NILO, Oreochromis niloticus (L., 1766), CONSORCIADO COM MARRECO DE PEQUIM, Anas platyrhynchus L. Francisco Célio A. Pontes 1 José William B. e Silva2 Antônio Carneiro Sobrinho3 Andréa Teixeira Bezerra4 PALAVRAS-CHAVE: Tambaqui, carpa espelho, tilápia do Nilo, policultivo de peixes, marreco de Pequim, consórcio peixe/marreco. RESUMO Analisam-se um policultivo de tambaqui, Colos- soma macropomum Cuvier, 1818; carpa espelho, Cyprinus carpio L., 1758 vr. specularis, e macho da tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus (L., 1766), con- sorciados com marreco de Pequim, Anas platyrhynchus L. Os peixes foram estocados nas den- sidades de 2.500/ha, caracídeo e ciprinídeo, e 5.000/ha, ciclídeo, total de 10.000 indivíduos/ha. Utilizaram-se 4 marrecos (667/ha). A pesquisa foi realizada em vivei- ro, com 60m2 de área inundada, profundidade média d~ 0,80m (mínima de 0,60m e máxima de 1,00m), localizado no Centro de Pesquisas Ictiológicas "Ro- dolpho yon Ihering" (Pentecoste, Ceará, Brasil), perío- do de janeiro a junho de 1990. No início do cultivo os peixes pesaram, em média, 12,0; 27,3 e 7,3g, respec- tivamente, tambaqui, carpa espelho e tilápia; os mar- recos 323,7g. Estes foram alimentados com ração co- mercial ("Fri-Ribe"), fornecida em duas refeições, pela manhã bem cedo e no final da tarde, sendo que nos dois últimos meses aquela foi misturada com milho, Zea mays L., em partes iguais. Mensalmente, realiza- ram-se amostragens dos peixes, abrangendo 50% dos indivíduos de cada espécie, os quais foram medidos (comprimento total) e pesados. No final, obteve-se os seguintes resultados: (a) comprimento total médio: tam- baqui 35,Ocm, carpa espelho 29,4cm e tilápia 24,Ocm; (b) peso médio: tambaqui 633,3g, carpa espelho 430,00 e tilápia do Nilo 246,6g; (c) peso médio do marreco 3,055g; (d) biomassa final: peixes 23,35kg, marrecos 12,22kg e total (peixes + marrecos) 35,57kg; (e) pro- dutividade: peixes 3.891, 7kgiha/6 meses, marrecos 2.036,7kgiha/6 meses e total 5.928,4kg/ha/6 meses, equivalente a 11.856,8kg/ha/ano: e (f) taxa de sobre- vivência de 100% para peixes e marreco POLICUL TURE OF TAMBAQUI, Colosso- ma macropomum CUVIER, 1818; MIRROR CARP, Cyprinus carpio L., 1758 VR. SPE- CULARIS, ANO MALE NILE TILAPIA, Oreo- cromis niloticus (L., 1766), ASSOCIATEO WITH PEKIN OUCK, Anas platyrhynchus L. SUMMARY An essay to evaluate lhe potential 01 three Ireshwaterlishes (tambaqui, Colossoma macropomum Cuvier, 1818; mirrar carp, Cyprinus carpio L., 1758 vr. specularis, and male Nile tilapia, Oreochromis niloticus L., 1766) in policulture, associated with Pekin duck, Anas platyrhynchus L., was carried out at lhe DNOCS Icthyological Research Center "Rodolpho von Ihering"~Pentecoste, Ceará, Brazil). Fishes were stocked in 60m earthen pond, in lhe density 01 10,000/ha (2,500 tambaqui + 2,500 mirrar carp + 5,000 male Nile tilapia). The stocking density for Pekin duck was 667 per hectare of lhe lishculture pondo They were led a commercial pelleted chicken ration. Monthly 500;0 01 lhe lishes 01 each species and ali Pekin ducks were sampled. At lhe end 01 lhe research lhe results were: (a) average length: tambaqui 35.0cm, mirrar carp 29.4cm and male Nile tilapia 24.0cm; (b) average weight: tambaqui 633.3g, mirrar carp 430.0g and male Nile tilapia 246.6g; (c) average weight 01 lhe Pekin duck 3,055g; (d) biomass lishes 23.35kg and Pekin duck 12.22kg; (e) productivity (Iish + duck) 5,928.4kg/ha/6 months; and (I) survival rales 01 100% for fishes and Pekin duck. 1 Engenheiro de Pesca. 2 Professor Adjunto do Depar1amento de Engenharia de Pesca da UFC -Bolsista do CNPq. 3 Depar1amento Nacional de Obras Contra as Secas. Caixa Postal 423 - 60.000 - For1aleza. Ceará. Brasil. 4 Engenharia de Pesca KEY WORDS: Tambaqui, Mirror carp, Nile Tilapia, Pekin duck, policulture 01 lish, lish, lishculture. Cién.Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág93-102 - Junho/Dezembro, 1992 93

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POLlCULTIVO DE TAMBAQUI, Colossoma macropomum, CUVIER, 1818; CARPAESPELHO, Cyprinus carpio L., 1758 VR SPECULARIS, E MACHO DA TILÁPIADO NILO, Oreochromis niloticus (L., 1766), CONSORCIADO COM MARRECO

DE PEQUIM, Anas platyrhynchus L.

Francisco Célio A. Pontes 1

José William B. e Silva2Antônio Carneiro Sobrinho3

Andréa Teixeira Bezerra4

PALAVRAS-CHAVE: Tambaqui, carpa espelho, tilápiado Nilo, policultivo de peixes, marreco de Pequim,consórcio peixe/marreco.

RESUMOAnalisam-se um policultivo de tambaqui, Colos-

soma macropomum Cuvier, 1818; carpa espelho,Cyprinus carpio L., 1758 vr. specularis, e macho datilápia do Nilo, Oreochromis niloticus (L., 1766), con-sorciados com marreco de Pequim, Anasplatyrhynchus L. Os peixes foram estocados nas den-sidades de 2.500/ha, caracídeo e ciprinídeo, e 5.000/ha,ciclídeo, total de 10.000 indivíduos/ha. Utilizaram-se 4marrecos (667/ha). A pesquisa foi realizada em vivei-ro, com 60m2 de área inundada, profundidade médiad~ 0,80m (mínima de 0,60m e máxima de 1,00m),localizado no Centro de Pesquisas Ictiológicas "Ro-dolpho yon Ihering" (Pentecoste, Ceará, Brasil), perío-do de janeiro a junho de 1990. No início do cultivo ospeixes pesaram, em média, 12,0; 27,3 e 7,3g, respec-tivamente, tambaqui, carpa espelho e tilápia; os mar-recos 323,7g. Estes foram alimentados com ração co-mercial ("Fri-Ribe"), fornecida em duas refeições, pelamanhã bem cedo e no final da tarde, sendo que nosdois últimos meses aquela foi misturada com milho,Zea mays L., em partes iguais. Mensalmente, realiza-ram-se amostragens dos peixes, abrangendo 50% dosindivíduos de cada espécie, os quais foram medidos(comprimento total) e pesados. No final, obteve-se osseguintes resultados: (a) comprimento total médio: tam-baqui 35,Ocm, carpa espelho 29,4cm e tilápia 24,Ocm;(b) peso médio: tambaqui 633,3g, carpa espelho 430,00e tilápia do Nilo 246,6g; (c) peso médio do marreco3,055g; (d) biomassa final: peixes 23,35kg, marrecos12,22kg e total (peixes + marrecos) 35,57kg; (e) pro-dutividade: peixes 3.891, 7kgiha/6 meses, marrecos2.036,7kgiha/6 meses e total 5.928,4kg/ha/6 meses,equivalente a 11.856,8kg/ha/ano: e (f) taxa de sobre-vivência de 100% para peixes e marreco

POLICUL TURE OF TAMBAQUI, Colosso-ma macropomum CUVIER, 1818; MIRRORCARP, Cyprinus carpio L., 1758 VR. SPE-CULARIS, ANO MALE NILE TILAPIA, Oreo-cromis niloticus (L., 1766), ASSOCIATEOWITH PEKIN OUCK, Anas platyrhynchus L.

SUMMARYAn essay to evaluate lhe potential 01 three

Ireshwaterlishes (tambaqui, Colossoma macropomumCuvier, 1818; mirrar carp, Cyprinus carpio L., 1758vr. specularis, and male Nile tilapia, Oreochromisniloticus L., 1766) in policulture, associated with Pekinduck, Anas platyrhynchus L., was carried out at lheDNOCS Icthyological Research Center "Rodolpho von

Ihering"~Pentecoste, Ceará, Brazil). Fishes were stockedin 60m earthen pond, in lhe density 01 10,000/ha(2,500 tambaqui + 2,500 mirrar carp + 5,000 male Niletilapia). The stocking density for Pekin duck was 667per hectare of lhe lishculture pondo They were led acommercial pelleted chicken ration. Monthly 500;0 01lhe lishes 01 each species and ali Pekin ducks weresampled. At lhe end 01 lhe research lhe results were:(a) average length: tambaqui 35.0cm, mirrar carp 29.4cmand male Nile tilapia 24.0cm; (b) average weight:tambaqui 633.3g, mirrar carp 430.0g and male Niletilapia 246.6g; (c) average weight 01 lhe Pekin duck3,055g; (d) biomass lishes 23.35kg and Pekin duck12.22kg; (e) productivity (Iish + duck) 5,928.4kg/ha/6months; and (I) survival rales 01 100% for fishes andPekin duck.

1 Engenheiro de Pesca.2 Professor Adjunto do Depar1amento de Engenharia

de Pesca da UFC -Bolsista do CNPq.3 Depar1amento Nacional de Obras Contra as Secas.

Caixa Postal 423 - 60.000 - For1aleza. Ceará. Brasil.4 Engenharia de Pesca

KEY WORDS: Tambaqui, Mirror carp, Nile Tilapia, Pekinduck, policulture 01 lish, lish, lishculture.

Cién.Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág93-102 - Junho/Dezembro, 1992 93

SILVA et alii7 referem-se a origem, im-portância, aspectos biológicos e introduçãode Cyprinus carpio L., 1758 em nosso País,destacando a variedade espelho como dasmais viáveis para nossos cultivos.

GOULDING4 e WOYNAROVICH10 fi-zeram considerações sobre origem, impor-tância e aspectos biológicos do tambaqui.O mesmo foi feito por SILVA et alii8, queainda se reportaram sobre a introdução des-te caracídeo no Nordeste brasileiro, com otranslado de 74 alevinos de Iquitos, Peru,para o Centro de Pesquisas Ictiológicas "Ro-dolpho von Ihering" (Pentecoste, Ceará, Bra-sil), pertencente ao Departamento Nacio-nal de Obras Contra as Secas (DNOCS).

Considerações sobre origem, importân-cia, aspectos biológicos e introdução da ti-lápia do Nilo em nosso País podem serencontradas em LOVSHIN et alii5 e FREI-TAS et alii3.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi realizadO no Centro

de Pesquisas Ictiológicas "Rodolfo Von Ihe-ring, na cidade de Pentecoste, situada a39015' de longitude Oeste e 03045' de lati-tude Sul. A temperatura média anual é de26,SoC, máxima de 34,00C e a mínima de

22,00C.Utilizou-se viveiro escavado no terreno

natural, com área inundada de 60m2, pro-fundidade média de O,SOm, máxima de 1,00me mínima de 0,60m. Inicialmente, ele foiesvaziado, limpo e cheio com água até seunível máximo de repleção. Numa de suastestas foi construí do abrigo (madeira rústi-ca coberta com palhas d~ coqueiro, Cocosnucifera L.) para os marrecos. Em tornodo viveiro ergueu-se cercado de tela denáilon, escorada em barrotes de madeira,com 0,50m de altura, evitando':se fuga das

aves.Após isso, estocou-se o viveiro com 15

exemplares de tambaqui (2.500/ha), 15 decarpa espelho (2.500/ha) e 30 de machoda tilápia do Nilo (5.000/ha), total de 60peixes (10.000/ha). No momento da esto-cagem, os indivíduos foram medidos (com-

INTRODUÇÃOA consorciação peixe/marreco traz mui-

tas vantagens, pois a ave retira do meioambiente alimentos valiosos (moluscos, ver-mes, insetos, sementes e outros). As so-bras da ração fornecida aos marrecos caemna água do viveiro e os peixes as aprovei-tam, como, também, os dejetos daquelesfertilizam a água do viveiro, aumentandosua produtividade, tornando-o ambiente fa-vorável à produção dos peixes (BODIS etalii1 ).

Na consorciação marreco e peixe a pro-dutividade pode alcançar 6,8 t/ha/ano, paraa ave abatida, 5,1 t/ha/ano, para o peixe,totalizando 11,9 t de carne/ha/ano (BODISet alii1). Neste empreendimento, as instala-ções dos marrecos são geralmente rústi-cas, resultando baixo custo de manuten-ção. As aves criadas na água apresentamaspecto mais saudável, exibindo sempre aspenas limpas e 1evemente úmidas, inclusi-ve onde se fixa na carne, tornando suavesua retirada durante o abate (WOYNARO-VICH10).

Do exposto, e devido ao apetite e de-senvolvimento uniforme da criação de mar-reco em viveiro de piscicultura, esta ativi-dade é praticada em vários países euro-peus e asiáticos, tendo sido recentementeintroduzida no Brasil, em termos comerciais.

Nesta pesquisa, usou-se a consorcia-ção do marreco de Pequim, Anasplatyrhynchus L., com o policultivo de tam-baqui, Colossoma macropomum Cuvier,1818; carpa espelho, Cyprinus carpio L.,1758 vr. specularis, e macho da tilápia doNilo, Oreochromis niloticus (L., 1766).

BODIS et alii1 afirmam que aquela avetem sido indicada como a ideal para a con-sorciação com peixes; acrescentam que omovimento dos marrecos dentro do viveirofaz ondular a superfície da água, propor-cionando sua maior oxigenação. Estes au-tores referem-se, ainda, a origem, impor-tância e introdução do Anas platyrhynchusno Brasil.

ECHEVERRA et alii2 enfatizaram as van-tagens do policultivo na piscicultura, advin-das do aproveitamento de distintos alimen-tos naturais do viveiro.

Junho/Dezembro, 1992Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.93-10294

FIGURA 1Curvas de crescimento em comprimento (a) e peso (b) e de biomassa (c), obtidas no policultivode tambaqui, Colossoma macropomum Cuvier, 1818; caspa espelho, Cyprinus carpio L.1758 vr. specularis, e macho do Nilo Oreochromis niloticus (L., 1766), consorciado com o

marreco de Pequim, Anas platyrhynchus L.

Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.93-102 - Junho/Dezembro, 1992 95

Estimou-se, mensalmente, as biomas-sas de tambaqui, carpa espelho e tilápia doNilo multiplicando-se o peso médio dos in-divíduos, obtido na amostragem, pelo nú-mero de peixes inicialmente estocados, se-

paradamente por espécie. Calculou-se a bio-massa total somando-se os valores deter-minados para caracídeo, ciprinídeo e ciclídeo.

O ganho de biomassa em kg/ha/dia foicalculado dividindo-se o acréscimo da mes-ma no mês, reajustado para 1 ha, pelo in-tervalo amostral em dias. O ganho de pesoindividual em g/dia determinou-se pela divi-são do ganho de peso mensal em grama(aumento da biomassa) pelos números deindivíduos e de dias entre duas amostra-gens consecutivas (intervalo amostral).

primento total) e pesados, adotando-se, pa-ra isto, técnicas de SILVA et aI7,8.

Feita a estocagem dos peixes o viveirorecebeu 4 exemplares do marreco de Pe-quim (667/ha de viveiro de piscicultura), comidade de 15 dias e pesando, em média,323,7g. As aves foram alimentadas com aração "Fri-Ribe", comercial para frangos decorte, com 22% de proteína bruta. Nos doisúltimos meses da pesquisa, a ração foi for-necida misturada, em partes iguais, comMilho, Zea mays L. A quantidade do ali-mento fornecido aos marrecos, bem comoo plano de arraçoamento dos mesmos, se-guiram as recomendações de BODIS et alii1,utilizando-se comedouro rústico, posto sobo abrigo. Os peixes não receberam alimen-to artificial, a não ser o que caía do come-douro dos marrecos e aproveitaram os ali-mentos naturais, que se desenvolveram noviveiro, graças a adubação com os dejetosdas aves.

Mensalmente, realizou-se amostragemdos peixes (50% dos indivíduos de cada

espécie), seguindo-se metodologia deSANTOS6, adotada e descrita em SILVAet alii7,8. Obteve-se comprimento total epeso médios. Na captura dos peixes utili-zou-se rede de arrasto (10m de compri-mento e 2m de altura), confeccionada comtecido de náilon, malhas de 15mm, entre nós.

Em virtude da indisponibilidade de no-vo lote de marreco para repovoamento doviveiro, o inicial foi conservado até o finalda pesquisa. Contudo, as aves foram pe-sadas mensalmente, quando das amostra-gens dos peixes. Usou-se, para isto, balan-ça de balcão, com capacidade para 300kg.

Completados 6 meses, o viveiro foi es-vaziado e os peixes contados, medidos (com-primento total) e pesados, por espécie, usan-do-se metodologia antes referida. Os mar-recos foram contados e pesados, individual-mente. Os dados foram organizados emtabelas e gráficos, sendo analisados: cres-cimento em comprimento e peso, biomas-sa e ganhos de biomassa e de peso indivi-dual, sobrevivência, produção e produtivi-dade dos peixes; crescimento em peso, pro-dução e produtividade do marreco e con-versão alimentar de peixes + marreco.

RESULTADOS E DISCUSSÃOA Tabela 1 e Figura 1 a mostram que

os peixes foram estocados com comprimen-to total médio de 8,9cm o tambaqui, 7,4cma carpa espelho e 11 ,9cm o macho da tilá-pia do Nilo. Na despesca obteve-se 35,Ocmpara a primeira espécie, 29,4cm para a se-gunda e 24,Ocm para a terceira. As curvasde crescimento em comprimento foram sem-pre ascendentes, com vantagem para o ca-racídeo, seguido do ciprinídeo, a partir doprimeiro mês da pesquisa.

VIANA9 obteve comprimento total mé-dio de 27,5cm para a carpa comum, C.Carpio L., 1758 vr. comunnis, criada emconsorciação com o marreco de Pequim,após 5 meses.

Vê-se, na Tabela 1 e Figura 1 b, queapesar da diferença no peso dos peixes na

estocagem (tambaqui 12,Og, carpa espelho7,3g e macho da tilápia do Nilo 27,3g), nofinal o caracídeo atingiu 633,3g, o cipriní-deo 430,Og e o ciclídeo 246,6g.

No início, os marrecos pesaram, emmédia, 323,7g e alcançaram 3.055,Og nofinal (Tabela 2). Atingiram peso comercial(2.439,5g) no final do terceiro mês de cria-ção. BODIS et alii1 afirmam que o marrecode Pequim com 45 a 50 dias de engordaalcança 2.200 a 2.800g de peso. Neste mes-mo período, a ave atingiu 1.799,Og, no pre-sente cultivo.

96 Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.93-102 Junho/Dezembro, 1992

A Tabela 3 mostra que os ganhos debiomassa dos peixes variaram ao longo depesquisa. Para o tambaqui o máximo ocor-reu no segundo mês (12,9kg/ha/dia), commínimo no quinto (3,9kg/ha/dia) e médio da8,1 kg/ha/dia; para a carpa espelho osciloude 4,2kg/ha/dia (quarto mês) a 6,8kg/ha/dia (terceiro mês), com média de 5,5kg/ha/dia; finalmente, o macho da tilápia do Niloteve ganho de biomassa mínimo de 1,3kg/ha/dia (quinto mês), com máximo de 9,Okg/ha/dia (terceiro mês) e médio de 5,7kg/ha/dia.No que se refere às espécies em conjunto,o mínimo foi de 10,7kg/ha/ano (quinto mêse o máximo alcançou 26,1 kg/ha/dia (segun-do mês), ficando a média em 19,3kg/ha/dia.

O ganho máximo de biomassa do mar-reco de Pequim ocorreu no primeiro mêsda pesquisa, 15,3kg/ha/dia, com mínimo de0,7kg/ha/dia no sexto mês (Tabela 4). ATabela 3 mostra que os ganhos de pesoindividual, para os peixes, variaram bastan-te. O máximo para o tambaqui foi de 5,1 g/dia(segundo mês), com mínimo de 1,6g/dia(quinto mês) e médio de 3,2g/dia; para acarpa espelho ele variou de 1, 7g/dia (quar-to mês) a 2,7g/dia (terceiro mês), com mé-dio de 2,2g/dia; finalmente, para macho datilápia do Nilo, mínimo de 0,3g/dia (quintomês), máximo de 1 ,8g/dia ~terceiro mês) emédio de 1 ,2g/dia. VIANA obteve ganhode peso individual médio de 1 ,84g/dia paraa carpa comum.

Para o marreco de Pequim, o ganho depeso individual mínimo foi de 1,1 g/dia (sex-to mês), com máximo de 22,9g/dia (primei-ro e terceiro meses) e média de 14,6g/dia(Tabela 4). Os marrecos consumiram 120kgde alime(1tos artificiais (20.000kg/ha) , sen-do 90kg de ração balanceada e 30kg demilho (Tabela 5), isto para 4 aves (667/ha).BODIS et alii1 afirmam que o consumo deração por 500 marrecos criados em 1 hade viveiro de piscicultura é da ordem de4.230kg, em 49 dias.

Na Tabela 5 vê-se que a máxima con-versão alimentar para marreco+peixes foi1,6:1, ocorrida no primeiro mês. Ela dimi-nuiu ao longo do cultivo, como era de seesperar. No terceiro mês da pesquisa osmarrecos alcançaram peso comercial

VIANA9 criou o marreco de Pequim, apartir de 14 dias de vida e com peso médioinicial de 485,Og, em consorciação com acarpa comum. Após 58 dias, a ave alcan-çou 2.810,Og e os peixes 287,1g, ao finaldo quinto mês, tendo sido estocados com0,778g.

Segundo BODIS et alii1 peixes criadosem consorciação com o marreco de Pe-quim podem alcançar 800 a 1 .000g aos 10a 12 meses de cultivo.

Na presente pesquisa as curvas de cres-cimento em peso dos peixes foram sempreascendentes, com larga vantagem para otambaqui, seguido pela carpa espelho. Istoa partir do primeiro mês (Figura 1 b).

A Tabela 1 e Figura 1 c mostram que abiomassa inicial do tambaqui foi 0,18kg, ada carpa espelho 0,11 kg e a do macho datilápia do Nilo 0,82kg. A diferença deveu-seas distintas densidades de estocagem e va-riação no peso médio inicial das espécies.Estas tiveram curvas de biomassas cres-centes, com ligeira vantagem do tambaquiem relação à carpa espelho até o terceiromês da pesquisa, quando praticamente seigualaram. Daí até o final, a vantagem docaracídeo se acentuou bastante. Ele tam-bém teve biomassa sempre superior à datilápia do Nilo (Figura 1 c). Esta no final apre-sentou biomassa de 7,40kg (1.233,3kg/ha),ficando o tambaqui com 9,50kg(1.583,3kg/ha) e a carpa espelho com 6,45kg(1.075,Okg/ha). A biomassa total foi 23,3kg(3.891,6kg/ha), conforme se vê nas Tabe-las 1 e 3.

A biomassa inicial do marreco de Pe-quim montou em 1,29kg (215,Okg/ha) e al-cançou 12,22kg (2.036,7kg/ha) no final, con-forme se vê nas Tabelas 2 e 4.

A biomassa inicial de marreco+peixesfoi 2,40kg (400,Okg/ha), alcançando 35,57kg(5.928,3kg/ha) no último mês da pesquisa(Tabelas 2, 3 e 4).

VIANA9 obteve biomassa de1.429,8kg/ha para a carpa comum, partin-do de 3,89kg/ha. Ele usou 400 marrecoslha de viveiro de piscicultura.

As biomassas do marreco e do marre-co + peixes foram crescentes até o final docultivo (Tabela 2).

Junho/Dezembro, 1992 97Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.93-102

TABELA 1 - Dados Referentes ao Tambaqui, Colossoma macroporum Cuvier, 1818;

Carpa Espelho, Cyprinus carpio L., 1758 vr. specularis, Macho da Tilápiado Nilo, Oreochromis niloticus (L., 1766), Criados em Policultivo Consorcia-do com o Marreco de Pequim, Anas platyrhynchus L.

Tempo de

cultivo

(meses)

Intervalo

amostra I

(dias)

Comprimento total

médio (cm)Peso médio (9) Biomassa (kg)

A B c B cA A B c Total

o o313528342836

8,9 7,411,912,0 7,327,40,180,110,82 1,11

18,3 15,2 14,9 113,3 62,7 62,1 1,70 0,94 1,86 4,50

25,4 20,6 18,0 293,3 152,5 109,3 4,40 2,29 3,28 9,97

28,1 23,6 20,1 388,5 228,5 160,0 5,83 3,43 4,80 14,06

30,2 26,0 22,1 507,0 286,0 212,0 7,61 4,29 6,36 18,26

31,7 27,6 22,6 551,0 348,0 219,0 8,27 5,22 6,57 20,0635,0 29,4 24,0 633,3 430,0 246,6 9,50 6,45 7,40 23,35

o

6

(*) Media de 15 indivíduos de A e B, e 30 de C,Obs.: A - Tambaqui; B - Carpa; C - Tilápia.

TABELA 2 - Dados Referentes ao Marreco de Pequim, Anas platyrhynchus L., Criado em

Viveiro e Consorciado com um Policultivo de Tambaqui, Colossoma macro-porum Cuvier, 1818; Carpa Espelho, Cyprinus carpio L., 1758 vr. specularise Macho da Tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus (L., 1766).

Tempo decultivo

(meses)

Intervaloamostral

(dias)

Biomassa (kg)Peso médio (9)*

Marreco Marreco + peixes

o123456

o313528342836

323,71 .036,2

1.799,02.439,52.765,03.015,03.055,0

1,294,147,209,76

11,0612,0612,22

2,408,64

17,1723,8229,3232,1235,57

(*) Média de 4 indivíduos.

98 Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.93-102 - Junho/Dezembro, 1992

TABELA 3 - Biomassa e Ganhos de Biomassa e de Peso Individual, Obtidos no Policultivo doTambaqui, Colossoma macropomum Cuvier, 1818; Carpa Espelho, Cyprinuscarpio L., 1758 vr. specularis, e Macho da Tilápia do Nilo, Oreochromis niloti-cus (L., 1766), Consorciado com o Marreco de Pequim, Anas platyrhynchus L.

Biomassa (kg/ha)Tempo de

Cultivo

(meses)

Ganho de biomassa(kgiha/dia) Ganho de peso individual(gidia)

cA B c Total A B c Total A B

o1

2

3

4

5

6

30,0 18,3 136,7 185,0 -

283,0 156,7 310,0 750,0 9,1

733,3 381,7 546,7 1.661,7 12,9

971,7 571,7 800,0 2.343,4 8,5

1.268,3 715,0 1.060,0 3.043,3 8,7

1.378,3 870,0 1.095,0 3.343,3 3,9

1.583,3 1.075,0 1.233,3 3.891,6 5,7

4,5

6,4

6,8

4,2

5,5

5,7

5,6

6,8

9,0

7,6

1,3

3,8

3,3

5,1

3,4

3,5

1,6

2,3

1,8

2,6

2,7

1,7

2,2

2,3

1,1

1,4

1,8

1,5

0,3

0,8

Obs.: A - Tambaqui; B - Carpa; C - Tilápia.

TABELA 4 - Biomassa e Ganhos de Biomassa e de Peso Individual do Marreco de Pequim,

Anas platyrhynchus L., Criado em Viveiro e Consorciado com um Policultivo de

Tambaqui, Colossoma macroporum Cuvier, 1818; Carpa Espelho, Cyprinus

carpio L., 1758 vr. specularis, e Macho da Tilápia do Nilo, Oreochromis niloti-

cus (L., 1766).

Ganho de pesoIndividual

(g/dia)

Biomassa

(kgiha)

Ganho de biomassa

(kgiha/dia)

Tempo de cultivo

(meses)

215,0690,0

1.200,01.226,71 .843,3

2.010,02.036.7

o1

2

3

4

5

6

-15,3

14,6

15,2

6,3

6,0

0,7

-

22,921,922,99,68,91 1

Ciên. Agron., Fortaleza. 23 (1/2): pág.93-102 - Junho/Dezembro, 1992 99

19.2

26,1

24,3

20,5

10,7

15,2

TABELA 5 - Consumo de Ração e Conversão Alimentar Referentes à Criação do Marreco

de Pequim, Anas platyrhynchus L., em Consorciação com um Policultivo doTambaqui, Colossoma macroporum Cuvier, 1818, Carpa Espelho, Cyprinuscarpio L., 1758 vt. Specularis, e Macho da Tilápia do Nilo, Oreochromisniloticus (L., 1766).

Tempo decultivo

(meses)

Dias dearraço-amento

Consumo de ração (kg) Conversão alimentar(peixes + marrecos)

No mês Acumulado

o

1 31 10 10 1,6:1

2 35 15 25

3 28 15 40

4 34 20 60 2,2:1

5 28 30' 90

6 36 30. 120** 3,6:1

Obs. * metade ração balanceada e metade milho.

** 90kg de ração balanceada e 30kg de milho,

100 Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.93-102 - Junho/Dezembro, 1992

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS(2,44kg), segundo BODIS et a11. Neste mo-mento, a conversão alimentar foi 1,9:1. Es-tes autores referem-se a conversão alimen-tar média de 3,13:1, obtida para o marrecode Pequim, após 7 semanas de criação.

As taxas de sobrevivência foram de100%, para as três espécies de peixes emarreco de Pequim (Tabela I). VIANA9 ob-teve 96,6% para a carpa comum, criadaem consorciação com esta ave.

A produção total das três espécies depeixes foi de 23,35kg, equivalentes a3.891,6kg/ha. Isto corresponde a produtivi-dade de 7. 783,2kg/ha/ano. Para o marrecode Pequim a produção foi 12,22kg(2.036,7kg/ha) e a produtividade4.073,4kg/ha/ano. A produção de marreco+peixes foi 35,57kg de carne (5.928,3kg/haJe a produtividade 11.856,6kg/ka/ano. VIANAobteve produtividade de 1.429,8kg/ha paraa carpa comum e 2.284,Okg/ha para o mar-reco de Pequim, criados em consorciação.

01. BODIS, G.; ROSA, A. B. S. Marreco ePeixe. Criação em Consórcio. Bra-sília, CODEVASF, 1987. 35p.

02. ECHEVERRIA, C. Dei R.; YADÁ, L.S.;BATISTA, E.H.; ORTIZ, A.A. Algu-nos aspectos de Ia pisciculturachina de interés para México. Mé-xico Instituto Nacional de Pesca:Série Información, 1975. 35p.

03. FREITAS, J. V. F.; GURGEL, J. J. S.Estudos experimentais sobre aconservação da tilápia do Nilo,Oreochromis niloticus (L., 1766)Trewavas, armazenagem em gelo.B. Téc. DNOCS, Fortaleza,42(2): 153-178, jul/dez. 1984.

04. GOULDING, M. Ecologia da Pesca noRio Madeira. Manaus, INPA, 1979.

172p.05. LOVSHIN, L. L. et alii. Método para

obtenção de híbridos de tilápia,Sarotherodon hornorum (machos)x Sarotherodon niloticus (fêmeas).Fortaleza, DNOCS, 1978. 8p.

06. SANTOS, E. P. Dinâmica de Popula-ções Aplicada à Pesquisa e à Pis-cicultura. São Paulo, Ed. da USP,1978. 129p.

07. SILVA, J. W. B.; FROTA, S. H. M.;NOBRE, M.I. S.; e NONATO FILHO,R. Resultados de um ensaio sobrea criação de carpa espelho,Cyprinus carpio (Linnaeus) vr.specularis, em viveiro do Centrode Pesquisas Ictiológicas do DNOCS(Pentecoste, Ceará, Brasil). B. Téc.DNOCS, Fortaleza, 41(1):145-170,jan./jun. 1983.

08. SilVA, J. W. B.; ALENCAR, P. F.; FA-RIAS, J. O.; NOBRE, M. I. S. Re-sultados de um ensaio de policulti-vo de carpa espelho, Cyprinus car-pio L., 1758 vr. specularis, e tam-baqui, Colossoma macropomum Cu-vier, 1818. B. Téc. DNOCS, Forta-leza, 42(2):121-152, jul./dez. 1984.

09. VIANA, J. A. S. Resultados de cultivoconsorciado de marreco de Pequim,Anas platyrhynchus vr. domesti-

CONCLUSÕESA análise dos resultados da pesquisa,

indica a viabilidade técnica do policultivode tambaqui, carpa espelho e macho datilápia do Nilo consorciados com o marrecode Pequim. Isto evidenciou-se pelos valo-res obtidos para crescimento em compri-mento e peso, biomassa, ganhos de bio-massa e de peso individual, taxas de so-brevivência, produção e produtividade dospeixes e do marreco.

Há necessidade de se melhorar o arra-çoam~nto do marreco e usar densidade depovoamento menor para o mesmo, a fimde se obter indivíduos com peso médio de2,5kg, em 2 meses de criação. Deve-seabater a ave neste intervalo de tempo, re-povoando-se o viveiro com novos indivíduos.

O tempo de cultivo dos peixes deve serelevado de 6 para 8 meses, para que osmesmos alcancem peso médio acima de800g (tambaqui e carpa espelho) e 400g(ti-lápia do Nilo) e, assim, tenham melhor co-tação comercial, conforme indicam SILVAet ai? ,8.

101Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.93-102 - Junho/Dezembro. 1992

CUS, e carpa comum, Cyprinus car-pio L., 1758 vr. comunnis, em áreassalinizadas de Perímetros Irrigadosdo Vale do Curu (Pentecoste, CE.Brasil). Departamento de Engenha-

ria de Pesca, UFC, 1990. 37p. (Dis-sertação de Graduação).

10. WOYNAROVICH, E. Manual de Pisci-cultura. Brasília, MINTER/CODE-VASF, 1986. 71p.

102 Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.93-102 - Junho/Dezembro, 1992