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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA TESE DE DOUTORADO FRAGMENTAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DA CAATINGA Marina Antongiovanni da Fonseca Orientador: Dr. Carlos Roberto da Fonseca Co-orientador: Dr. Jean Paul Metzger Natal, Junho de 2017

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Page 1: FRAGMENTAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DA CAATINGA · Caatinga, baseado em conectividade da paisagem e na riqueza de espécies de plantas ameaçadas e (4) comparar a perda

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA

TESE DE DOUTORADO

FRAGMENTAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO

DA CAATINGA

Marina Antongiovanni da Fonseca

Orientador: Dr. Carlos Roberto da Fonseca

Co-orientador: Dr. Jean Paul Metzger

Natal, Junho de 2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - ­Centro de

Biociências - CB

Fonseca, Marina Antongiovanni da.

Fragmentação, conservação e restauração da caatinga / Marina Antongiovanni da Fonseca. -

Natal, 2017.

102 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências.

Programa de Pós-Graduação em Ecologia.

Orientador: Dr. Carlos Roberto Sorensen Dutra da Fonseca.

Coorientador: Dr. Jean Paul Metzger.

1. Caatinga - Tese. 2. Fragmentação - Tese. 3. Distúrbio crônico - Tese. 4. Restauração - Tese.

5. Ecologia de paisagens - Tese. I. Fonseca, Carlos Roberto Sorensen Dutra da. II. Metzger, Jean

Paul. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 574

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Dedico esta tese aos meus pais,

Marilena Y. A. da Fonseca e Mário da Fonseca Neto,

e à minha tia, Norma E. F. Fonseca

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Agradecimentos

Agradeço à Capes pela bolsa concedida, ao Programa de Pós-Graduação em

Ecologia da UFRN pelas disciplinas oferecidas e suporte institucional.

Muito mais difícil do que reconhecer padrões em grandes escalas é reconhecer a

força daquelas ações que, mesmo pequenininhas, fazem do mundo um lugar tão bonito e

da vida uma experiência tão divina. Sim, essas pequenas ações são capazes que mudar o

mundo, contribuindo para o aquecimento global dos corações, para o aumento nas taxas

de extinção da solidão e de conservação do bem querer e da felicidade. A todas as pessoas

listadas abaixo, minha gratidão profunda! Por meio de suas contribuições diretas e

indiretas na execução deste trabalho, todos vocês são, a sua maneira, coautores da minha

vida!

Carlinhos Fonseca, como orientador você foi meu amigo em todas as coisas que

estavam ao seu alcance. Como meu amigo, você foi meu orientador em todas as outras.

Muita gratidão por me deixar aprender tanto com você nestes últimos anos. Sua

orientação tão sábia e generosa tornou o meu caminho até aqui muito mais rico e

prazeroso!

Dadão, já me perdi de mim de tanto me encontrar em você. Somos um! Amor e

gratidão eternos!

Francisco e Analu queridos, quando vocês crescerem e já puderem ler o que a

mamãe escreveu, quero que saibam que aqueles dias sem pipoca, noites sem cosquinhas

e domingos sem praia foram usados neste trabalho. Sem a compreensão e amor de vocês

eu nunca teria conseguido. Espero que gostem! Ah, Chico, tomara que até lá você já tenha

encontrado o seu dragão de estimação com três cabeças! Amo vocês!

Meus pais, Mário e Marilena, e minha tia Norma, gratidão por todos os

ensinamentos, pelo amor incondicional e por estarem sempre ao meu lado. Quanta sorte

a minha de ter vocês em minha vida! Amo vocês!

Tetê e Mércia, gratidão por todo o carinho e dedicação! Meus filhos não poderiam

ter tias melhores!

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Fê e Cláudio, meus compadres! Nosso porto seguro em terras potiguares, nosso

colo garantido em dias de guerra e de paz! Que bom que os meus são tão seus e que bom

que os seus são tão meus! Maktub Fê! Gratidão!

Lilica, Gis, Tidoca, Maíra, minha Madames! Por toda a poesia, por todo o samba,

toda a alegria, amizade, horas de terapia, por tanta beleza e criatividade... nossa como

aprendo com vocês! Vocês fazem parte do melhor de mim! Grata minhas amigas!

Aos meus queridos amigos CBI, Bianca, André, Marília, Adrian, Duka, Helô,

Patrícia, Rodrigo, Letícia, Juan e Eugênia pelo carinho e amizade sempre certos.

Rosinha, minha irmãzinha! Não tem latitude, nem longitude capaz de nos separar,

minha flor! Te amo muito!

Jean Paul Metzger, meu amigo e orientador (sempre!), grata por todos os

ensinamentos e carinho. Você mora no meu coração!

Meus parceiros, Paulo, Daniel, Alan, Tito, Damião e Clarinha, que bom poder

conhecer a Caatinga pelos olhos de vocês!

Agradeço aos meus amigos da pós-graduação da UFRN pelo companheirismo e

pelo carinho.

Prof. Leandro R. Tambosi, grata pelas orientações nas análises de priorização de

paisagens para a restauração e por toda a gentileza e disponibilidade.

Ao Prof. Bruno Ramos dos Santos, pela gentileza e atenção nas explicações sobre

as regressões quantílicas.

Agradeço ao Marcelo Matsumoto pelas colaborações e amizade.

Aos professores Miriam Plaza Pinto, Gislene Ganade, Adriana Carvalho, Ronaldo

Angelini, Priscilla Lopes, Maria Rosa Darrigo, Liana Mendes, obrigada pela leitura

cuidadosa das versões anteriores deste trabalho e pelas recomendações para aprimorá-lo.

Agradeço aos professores Gabriel Costa, Gislene Ganade, Leandro R. Tambosi e

Demétrio Luís Guadagnin por aceitarem meu convite para comporem minha banca de

avaliação.

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Sumário

Resumo............................................................................................................................. I

Abstract............................................................................................................................ ii

Capítulo 1 – Fragmentação do Bioma Caatinga

Introdução.................................................................................................................. 1

Métodos....................................................................................................................... 3

Área de estudo........................................................................................................ 3

Remanescentes de Caatinga................................................................................... 3

Métricas de caracterização da fragmentação da Caatinga................................... 4

Resultados................................................................................................................... 5

Distribuição de tamanho dos fragmentos............................................................... 5

Área de interior e efeito de borda........................................................................... 8

Conectividade funcional......................................................................................... 11

Isolamento médio.................................................................................................... 13

Discussão..................................................................................................................... 14

Oportunidades de conservação.............................................................................. 14

Conectividade funcional e isolamento.................................................................... 16

Fragmentação, efeito de borda e ação antrópica................................................... 18

Considerações finais............................................................................................... 19

Referências bibliográficas......................................................................................... 20

Material Suplementar................................................................................................ 27

Capítulo 2 – Perturbação Crônica Potencial dos Remanescentes de Caatinga

Introdução.................................................................................................................. 29

Métodos....................................................................................................................... 32

Área de estudo........................................................................................................ 32

Remanescentes de Caatinga................................................................................... 32

Índice de Perturbação Crônica Potencial (IPC) ................................................... 33

Efeito da área sobre o Índice de Perturbação Crônica Potencial......................... 35

Efeito da borda sobre o Índice de Perturbação Crônica Potencial....................... 35

Resultados................................................................................................................... 38

A perturbação crônica dos fragmentos da Caatinga.............................................. 38

Vetores de perturbação crônica............................................................................. 38

Influência da área dos fragmentos nos valores de IPC.......................................... 41

Variação do IPC por vetor em função da distância da borda................................ 41

Discussão..................................................................................................................... 46

Contexto espacial como determinante da perturbação crônica dos fragmentos... 46

Importância do efeito de borda na intensidade da perturbação crônica............... 47

Vetores de perturbação antrópica.......................................................................... 48

Implicações para a conservação............................................................................ 51

Referências bibliográficas......................................................................................... 53

Capítulo 3 – Áreas prioritárias para a restauração da Caatinga

Introdução.................................................................................................................. 59

Métodos....................................................................................................................... 62

Área de estudo........................................................................................................ 62

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Remanescentes de Caatinga................................................................................... 62

Definição das paisagens focais............................................................................... 63

Análise de conectividade das bacias...................................................................... 64

Identificação da resiliência das bacias.................................................................. 65

Critério I – Classificação das bacias com base na importância para a

conectividade da Caatinga...............................................................................................

66

Critério II – Classificação das bacias com base na riqueza de plantas

ameaçadas de extinção.....................................................................................................

67

Priorização das bacias para a restauração........................................................... 67

Distribuição do número e área de ocorrência das espécies nas diferentes

categorias de bacias.........................................................................................................

68

Resultados................................................................................................................... 69

Cobertura, conectividade e resiliência das bacias................................................. 69

Bacias importantes para a conectividade da Caatinga.......................................... 71

Bacias importantes para a manutenção das espécies ameaçadas......................... 71

Bacias prioritárias para a restauração.................................................................. 72

Distribuição das espécies ameaçadas.................................................................... 75

Discussão..................................................................................................................... 77

Padrões espaciais da perda de hábitat e conectividade......................................... 77

A resiliência das bacias da Caatinga..................................................................... 79

O duplo critério de priorização para a restauração.............................................. 80

Integração com outras estratégias de conservação............................................... 82

Afinando as políticas públicas de restauração com ações espacialmente

explícitas de amplo benefício............................................................................................

82

Referências bibliográficas......................................................................................... 84

Capítulo 4 - Pro-Active Conservation Opportunities in Megadiverse Countries

Abstract....................................................................................................................... 89

Main Text.................................................................................................................... 89

References and Notes................................................................................................. 92

Acknowledgments...................................................................................................... 93

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Resumo

Informação confiável em larga é essencial para tomadores de decisão que lidam com conservação da

biodiversidade, restauração de ecossistemas, manejos de recursos e políticas ambientais. O bioma Caatinga,

um ecossistema semiárido espalhado por 826.000 km2 do território brasileiro, apesar de estar altamente

fragmentado, ainda mantém metade da sua cobertura vegetal original. Os remanescentes, no entanto, têm

sido perturbando há séculos por uma multiplicidade de ameaças antropogênicas, incluindo sobrepastejo,

extração madeireira, fogo e caça, entre outro. Apesar disto, a área sobre proteção está abaixo do proposto

por acordos internacionais e projetos de restauração têm sido escassos. Baseado em múltiplas análises

espacialmente explicitas, os quatro capítulos desta Tese tiveram como principais objetivos: (1) analisar

quantitativamente a estrutura de fragmentação da Caatinga, (2) estimar o nível de perturbação antrópica

crônica potencial dos fragmentos da Caatinga, (3) identificar as áreas prioritárias de restauração da

Caatinga, baseado em conectividade da paisagem e na riqueza de espécies de plantas ameaçadas e (4)

comparar a perda de habitat e a taxa de desmatamento das Áreas Prioritárias de Conservação da Caatinga,

definidas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com as Áreas Prioritárias dos outros biomas

brasileiros. Análises de Sistemas de Informação Geográfica, executadas sobre informações oficiais

disponíveis, evidenciam boas e más notícias para o bioma. Apesar da fragmentação já sofrida pelo bioma,

o nível de conectividade funcional permanece relativamente alta entre fragmentos e metade da vegetação

remanescente está preservada em fragmentos grandes (≥ 50.000 ha), indicando a existência de preciosas

oportunidades de conservação pró-ativas. Em contraste, o nível de fragmentação é intenso e 90% da

vegetação remanescente ocorre em distâncias menores que 2,5 km da borda florestal, permitindo um fácil

acesso ao já escasso habitat interior. Um Índice de Perturbação Antrópica Crônica (IPC), que sintetiza o

efeito de perturbação potencial de 14 variáveis primárias, indicam que todos os fragmentos de Caatinga

estão sob algum nível de perturbação. No entanto, uma importante heterogeneidade regional foi detectada,

com fragmentos mais perturbados ocorrendo nas porções norte, leste e central do bioma. Apesar do IPC

médio dos fragmentos não estar correlacionado com a sua área, o IPC declina não linearmente com a

distância de borda mostrando áreas relativamente estáveis após 5 km. Simulações de paisagens, testando a

importância de cada bacia hidrográfica para a conectividade da paisagem, permitiram a identificação de

importantes áreas para restauração. Cruzando este critério com o número de espécies de plantas ameaçadas,

foi possível identificar um subconjunto de paisagens chaves para restauração que compreendem apenas 8%

da área desmatada do bioma. Estimando a taxa de desmatamento de todas as Áreas Prioritárias para

Conservação dos biomas terrestres brasileiros, foi possível demonstrar que a Caatinga e o Cerrado exibiram

as maiores taxas de perda de habitat, demonstrando novamente a vulnerabilidade do bioma. Espera-se que

as informações aqui disponibilizadas possam ajudar tomadores de decisão, nacionais e estaduais, a avançar

políticas para a conservação, restauração e manejo da biodiversidade.

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Abstract

Reliable landscape information at large spatial scale is essential for decision makers dealing with

biodiversity conservation, ecosystem restoration, resource management, and environmental policy. The

Caatiga biome, a semiarid ecosystem that spreads over 826,000 km2 of the Brazilian territory, despite being

highly fragmented, still holds half of its original vegetation cover. The remnants, however, have been

disturbed for centuries by a multitude of different anthropogenic threats, including overgrazing, logging,

fire, hunting, among others. Despite that, the area under protection is below international agreements and

restoration endeavors have been scarce. Based on a multitude of spatially explicit analyses, the four chapters

of this Thesis had as main objectives: (1) to analyse quantitatively the fragmentation structure of the

Caatinga biome, (2) to estimate the level of potencial cronic anthropogenic disturbance of the Caatinga

fragments, (3) to identify the priority areas for restoration in the Caatinga biome, based on landscape

connectivity and number of endangered plant species, and (4) to compare habitat loss and deforestation

rates of Conservation Priority Areas of the Caatinga, defined by the Ministery of Environment (MMA),

with those in other Brazilian biomes. Geographic Information System analyses, performed on officially

available information, show both good and bad news for the biome. Despite the fragmentation already

experienced by the biome, the level of functional connectivity remains relatively high among fragments

and half the remaining vegetation is preserved in large fragments (≥ 50,000 ha), indicating the existence of

precious pro-active conservation opportunities. In contrast, the fragmentation level is intense and 90% of

the remaining vegetation occurs at distances lower than 2.5 km from the forest edge, allowing an easy

access to the already scarce Caatinga core area. An Index of Chronic Anthropogenic Disturbance (IPC),

which synthesizes the potential perturbation effect of 14 primary variables, indicates that all Caatinga

fragments are under some degree of perturbation. However, important regional heterogeneity was detected

with more disturbed fragments occurring in the Northern, Eastern, and Central regional of the biome.

Although the mean IPC of the fragments is not correlated to its area, IPC drops non-linearly with edge

distance, showing relatively stable core areas after 5 km. Landscape simulations, testing the importance of

each watershed for landscape connectivity, allowed the identification of relevant areas for restoration. By

crossing this criterion with the number of endangered plant species in each watershed, we were able to

identify a subset of key watersheds for restoration that hold only 8% of the deforested area of the biome.

By estimating the deforestation rate of all Priority Areas for Conservation of the Brazilian terrestrial biomes,

it was possible to demonstrate that the Caatinga and the Cerrado biomes exhibited the higher rates of habitat

loss, further demonstrating the vulnerability of the biome. Hopefully, the information here provided can

help national and state decision makers to advance biodiversity policies for biodiversity conservation,

restoration, and management.

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1

Capítulo 1 - Fragmentação do bioma Caatinga

Marina Antongiovanni, Eduardo M. Venticinque, Carlos R. Fonseca

Introdução

A fragmentação é um fenômeno, normalmente de origem antrópica, associado à

perda de habitat e alterações na estrutura das paisagens com impactos importantes na

biodiversidade (Wilcox & Murphy 1985, Andrén 1994, With et al. 1997, Laurance et al

2011). No entanto, as pressões antrópicas ocorrem de diversas maneiras, gerando padrões

espaciais distintos que afetam a biodiversidade de forma diferente. Assim, descrições

quantitativas das configurações espaciais impostas às paisagens ao logo do processo de

fragmentação são essenciais para a compreensão de como populações, comunidades e

ecossistemas vão responder às alterações na paisagem, permitindo a formulação de ações

adequadas de conservação.

A complexidade estrutural de uma paisagem tem sido frequentemente analisada a

partir de métricas que levam em conta, por exemplo, a área, a forma e o isolamento dos

fragmentos (Neel et al. 2004, Hendrickx et al. 2007, Benchimol & Peres 2015). Essas

métricas têm sido reconhecidas como indicadores úteis do estado de alteração /

conservação de uma paisagem, podendo ser usadas como proxies de integridade de sua

biota e dos serviços ambientais que oferece (Syrbe & Walz 2012, Niemandt & Greve

2016). No entanto, como as espécies percebem o ambiente de forma diferente e possuem

distintas capacidades de deslocamento, uma maior compreensão do processo de

fragmentação e de seus impactos é obtida através de uma análise da paisagem sob uma

perspectiva multiescala (Urban 2005).

A persistência de populações viáveis em paisagens fragmentadas depende de

como as espécies respondem à complexidade estrutural dessas paisagens (Baguette &

Dyck 2007). Assim paisagens com manchas de habitat menores, mais isoladas e com

menor percentagem de habitat de interior tendem a favorecer aquelas espécies mais

tolerantes às mudanças ambientais e com maior capacidade de deslocamento na matriz

(Askins et al. 1990, Andrén 1992). Por outro lado, aquelas espécies que apresentam maior

fidelidade ao seu habitat original, que possuem uma exigência maior de habitat de interior

e com capacidade de deslocamento limitada são mais suscetíveis a fragmentação e,

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2

portanto, dependem da ocorrência de manchas maiores, menos isoladas e com menor

quantidade de borda para se manterem nessas paisagens (Laurance 1990, 1991).

Paisagens áridas e semiáridas são naturalmente caracterizadas por apresentarem

uma alta heterogeneidade espacial e temporal na disponibilidade de recursos (Hobbs et

al. 2008). Nestas condições, a mobilidade dos organismos entre os elementos da paisagem

é crucial, permitindo acesso a alimento e água distribuídos de forma irregular na paisagem

(Scoones 1995, Coughenour 2008). A fragmentação da paisagem pode dificultar ou

mesmo interromper a movimentação dos organismos, privando-os do acesso aos recursos

e gerando flutuações populacionais mais intensas e extinções locais. Estudos em regiões

semiáridas em diversas partes do mundo evidenciam variações nos padrões de dispersão

e susceptibilidade das espécies à fragmentação (Radford & Bennett 2004, Pueyo &

Alados 2007, Galvin et al. 2008, Alados et al. 2010).

A Caatinga é um bioma semiárido brasileiro que ocupava originalmente cerca de

826 mil km2, mas que já perdeu aproximadamente metade de sua cobertura devido a

ocupação humana (MMA 2011). Atualmente, seus remanescentes encontram-se sob forte

pressão por extração de lenha, pecuária, mineração e caça (Andrade et al. 2005, Fernandes

et al. 2013, Marinho et al. 2016). Estudos recentes indicam que a Caatinga possui 4967

espécies de plantas e 1353 vertebrados, incluindo 510 aves, 382 peixes, 210 répteis, 153

mamíferos e 98 anfíbios, sendo uma parte desta biodiversidade é endêmica ao bioma

(Silva et al. 2003, Paglia et al. 2012, Guedes et al. 2014, Garda et al., no prelo, Mesquita

et al. no prelo, Lima et al., no prelo). Atualmente, 350 espécies de plantas e 252 espécies

de vertebrados se encontram listados como alvos prioritários de conservação pelo

Ministério do Meio Ambiente brasileiro (MMA 2016). Embora, na última década, muitos

avanços tenham ocorrido no conhecimento da biota da Caatinga, ainda há uma grande

lacuna no entendimento dos efeitos da fragmentação sobre a biodiversidade, tornando

muito úteis as análises espaciais que buscam gerar prognósticos sobre as respostas das

espécies e sobre estratégias mais adequadas de conservação.

Este trabalho constitui a primeira análise quantitativa da estrutura espacial da

fragmentação do bioma Caatinga. Em particular, foram estimadas (a) a área da Caatinga

remanescente, a quantidade de fragmentos e a distribuição desses fragmentos por

tamanho, (b) a área de Caatinga submetida ao efeito de borda, assumindo-se diferentes

profundidades deste efeito, c) a área dos fragmentos funcionalmente conectados,

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3

considerando diferentes habilidades de deslocamento das espécies na matriz, d) a

importância relativa dos pequenos fragmentos para o isolamento médio do bioma,

considerando diferentes cenários de exclusão desses fragmentos.

Métodos

Área de Estudo

O bioma Caatinga distribui-se por aproximadamente 826 mil km2 do Nordeste

brasileiro, ocupando aproximadamente 10% do território nacional. Ocorre em uma região

semiárida definida por uma baixa pluviosidade (300 – 1000 mm.ano-1) e uma alta

sazonalidade, estando as chuvas concentradas em poucos meses e de maneira pouco

previsível (Sampaio 1995). A Caatinga já tem 45,62% de sua área original desmatada e,

entre 2002 a 2008, a taxa anual de desmatamento foi de 2.763 km2/ano (MMA 2011).

Além disto, uma porção substancial da vegetação remanescente tem sofrido com

distúrbios antropogênicos crônicos (Ribeiro et al. 2015) e a fauna tem sido bastante

ameaçada pela caça de subsistência e pelo comércio ilegal (Alves et al. 2009). Embora

seja um dos biomas brasileiros menos estudado (Santos et al. 2011), a biodiversidade da

Caatinga pode ser considerada alta quando comparada a outras regiões bioclimaticamente

semelhantes do planeta (Leal et al. 2003). Em termos de conservação, apenas 1% da área

original da Caatinga está sob proteção de Unidades de Conservação de Proteção Integral

e 6,4% em Unidades de Conservação de Uso Sustentável (MMA 2011). Esta área, além

de representar insuficientemente a biodiversidade da Caatinga, também não contempla de

forma satisfatória a proteção dos serviços ambientais do Bioma (Manhães et al. 2016).

Os limites do bioma Caatinga (Fig. 1) utilizados neste trabalho, são disponibilizados pelo

Ministério do Meio Ambiente.

Remanescentes de Caatinga

Neste trabalho foram utilizados dados dos arquivos digitais georreferenciados

(shapefiles) dos remanescentes e do desmatamento acumulado até 2009, disponibilizados,

em 2014, com correções em 2016, pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos

Biomas Brasileiros por Satélite (PMDBBS), do Ministério de Meio Ambiente (MMA)

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4

brasileiro. Todos os fragmentos com área igual ou inferior a 1 ha foram considerados

como ruídos da classificação e, portanto, foram excluídos das análises.

Embora dados utilizados representem a informação mais atual disponível para o

bioma, muitas áreas desmatadas pela construção de estradas não foram consideradas

como desmatamentos no shapefile de remanescentes. Para sanar esse problema, usando o

shapefile de estradas (IBGE 2010) foi criado um buffer de 220 metros no entorno das

estradas pavimentadas (20 metros da estrada propriamente dita mais 100 metros para cada

lado da estrada) e de 120 metros nas estradas não pavimentadas (20 metros da estrada

propriamente dita mais 50 metros para cada lado da estrada). Toda a área inserida dentro

desses buffers foi considerada como desmatada, sendo, posteriormente, subtraída do

shapefile de remanescentes obtido originalmente do PMDBBS. Essa subtração foi

realizada no programa ArcGis® 10.1 e o shapefile resultante corresponde ao arquivo de

remanescentes de Caatinga utilizado neste trabalho.

Métricas de caracterização da fragmentação da Caatinga

Distribuição de tamanho dos fragmentos – A partir do cálculo da área de todos os

remanescentes de Caatinga (com tamanho superior a 1ha), os fragmentos foram

agrupados nas seguintes classes de tamanho (em hectare): a. <50; b. 50–100; c. 100–250;

d. 250–500; e. 500–1000; f. 1000–2500; g. 2500–5000; h. 5000–10.000; j. 10.000–

25.000; k. 25.000–50.000; l. 50.000–100.000; m. 100.000–250.000; n. 250.000–500.000

e o. >500.000. Para cada uma dessas classes foram calculados o número total e a

percentagem de fragmentos em relação ao número total de remanescentes de Caatinga e

a área total e a percentagem de área em relação a área total de Caatinga remanescente

(Ribeiro et al. 2009). As análises foram realizadas com o auxílio do software ArcGis®

10.1.

Área de interior e borda – A área de Caatinga submetida ao efeito de borda foi

analisada nas diferentes classes de larguras do efeito (em metros): até 50, até 100, até 250,

até 500, até 1.000, até 2.500, até 5.000, até 10.000 e até 12.000. A partir dos valores

obtidos, foi calculada a percentagem de área acumulada pelas diferentes classes de

tamanho de efeito (Ribeiro et al. 2009). Essas análises foram realizadas com o auxílio da

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5

ferramenta Vector-based Landscape Analysis (V-LATE 2.0 beta, extensão para o

programa ArcGis® 10.1).

Conectividade funcional – Com base na teoria de grafos (Bunn et al. 2000, Urban

& Keitt, 2001), diferentes distâncias de deslocamento foram estabelecidas para simular

diferentes habilidades de dispersão das espécies na paisagem. Assim, fragmentos

localizados dentro dos limites de distância estabelecidos foram considerados como

conectados funcionalmente e, portanto, pertencentes a um único cluster, ou agrupamento,

de habitat funcional (Ribeiro et al. 2009). Toda a área do cluster é considerada como

potencialmente disponível para ser utilizada por aquelas espécies cuja capacidade de

deslocamento na matriz encontra-se dentro desses limites. A ferramenta “aggregate

polygons”, do programa ArcGis 10.1, foi utilizada para agregar os fragmentos em clusters

únicos, de acordo com as distâncias estabelecidas. As distâncias de deslocamento

utilizadas para os cálculos de conectividade funcional foram (em metros): 0, 100, 200,

300, 400, 500, 1000 e 1500. Para cada distância analisada foi possível medir o tamanho

médio dos clusters de Caatinga conectados e a percentagem de Caatinga funcionalmente

conectada no maior cluster gerado.

Isolamento – O isolamento da Caatinga foi estimado a partir da distância média

de 100 mil pontos, gerados aleatoriamente, até o pixel de vegetação mais próximo,

seguindo, com um número de pontos menor, a metodologia proposta por Ribeiro e

colaboradores (2009). Com a finalidade de compreender a importância dos fragmentos

pequenos nas estimativas de isolamento, cenários de exclusão dos remanescentes

menores foram criados a partir da subtração dos fragmentos pertencentes as seguintes

classes de tamanho (ha): a. <50, b. <100, c.<150, d. <200, e. <350, f. <500 e g. <1000.

Em cada um desses cenários foi recalculada a distância média entre os pontos aleatórios

gerados e o pixel de Caatinga mais próximo (Ribeiro et al 2009). Os pontos aleatórios

foram gerados com o auxílio da ferramenta “random points” do programa ArcGis® 10.1

e a distância entre os pontos e os pixels de Caatinga mais próximo foi medida pela

ferramenta “near” do mesmo programa.

Resultados

Distribuição de tamanho dos fragmentos

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6

No total, foram identificados 47.100 fragmentos com tamanho médio de 879 ha,

variando de pouco mais de 1 ha a 986 mil ha (Fig. 1, Material Suplementar Tabela 1).

Esses fragmentos abrigam mais de 41 milhões de hectares de Caatinga, o que equivale a

aproximadamente 50% da vegetação originalmente encontrada no bioma.

Analisando a distribuição espacial dos fragmentos de Caatinga (Fig. 1) é possível

notar que as porções mais próximas ao litoral, a leste, encontram-se mais desmatadas com

uma alta concentração de fragmentos pequenos pulverizados na paisagem. O mesmo

padrão se repete no extremo sul do bioma e na porção central, na divisa entre os estados

de Pernambuco (PE), Ceará (CE) e Piauí (PI). Ao sul do bioma, no estado da Bahia (BA),

há extensas áreas cujo desmatamento foi severo, com ausência completa de

remanescentes de Caatinga. A cobertura vegetal apresenta-se bem conservada no oeste

do bioma, onde há uma alta densidade de fragmentos maiores - com mais de 100 mil ha,

no entanto, fragmentos grandes também são observados nas porções central e norte do

bioma (Fig. 2).

De um modo geral, a Caatinga ainda possui grandes extensões de sua área

remanescente em fragmentos médios e grandes, sendo que mais de 32 milhões de

hectares, ou 78% da vegetação total, estão nos 720 fragmentos com 10 mil ha ou mais.

Dentre esses fragmentos, apenas cinco possuem área superior a 500 mil hectares, no

entanto eles abarcam quase 10% de toda a área de Caatinga remanescente. A classe que

abrange fragmentos de 10 mil a 25 mil hectares é a que abriga a maior quantidade de área

remanescente (6,6 milhões de hectares ou 16% da área total remanescente). As três classes

que abrigam os fragmentos com as menores áreas (com 250 ha ou menos), embora

contemplem quase 90% do número de fragmentos de Caatinga, são as menos

representativas no somatório das áreas remanescentes no bioma (cerca de 3%) (Fig. 1 e

2, Material Suplementar Tabela 1). De um modo geral, esses pequenos fragmentos são

mais frequentes nas porções leste e sul, do bioma, onde o desmatamento mostra-se mais

severo (Fig. 1). O oeste do bioma, por outro lado, possui sua cobertura vegetal mais bem

conservada, abrigando uma alta densidade de fragmentos maiores - com mais de 100 mil

ha (Fig. 1).

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7

Figura 1 - Mapa da distribuição dos fragmentos de Caatinga por classe de tamanho

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Figura 2 -. Distribuição da área (em hectares) de Caatinga remanescente por classes de

tamanho dos fragmentos em todo o bioma. % AF equivale a porcentagem de área por

classe em relação à área total de remanescentes e % NF equivale a porcentagem do

número de fragmentos, por classe, em relação ao número total existente na Caatinga.

Área de interior e efeito de borda

Oitenta e três porcento do total da área remanescente da Caatinga (cerca de 3,4

milhões hectares) encontram-se a distâncias superiores a 100 metros de qualquer pixel

desmatado (Fig. 3 e 4, Material Suplementar Tabela 2). No entanto, a percentagem de

área de interior cai bruscamente com o aumento do efeito de borda. Com um quilômetro

de efeito de borda, a área de interior do bioma já cai para 23% e com 2,5 km apenas 7%

da Caatinga remanescente podem ser considerados com de interior. Efetivamente, com 5

km de efeito de borda praticamente toda a Caatinga (99%) é afetada (Fig. 3 e 4, Material

Suplementar Tabela 2).

1% AF / 74% NF

1% AF / 7% NF

1% AF / 7% NF

1% AF / 3% NF

2% AF / 2% NF

4% AF / 2% NF

5% AF / 1% NF

7% AF / 0.9% NF

16% AF / 0.9% NF

13% AF / 0.32% NF

15% AF / 0.2% NF

13% AF / 0.08% NF

12% AF / 0.03 NF

9% AF / 0.01% NF

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000

<50

50-100

100-250

250-500

500-10001 000-2 500

2 500-5 000

5 000-10 000

10 000-25 000

25 000-50 000

50 000-100 000

100 000-250 000

250 000-500 000

≥500 000

Área (km2)

Cla

sse

de

tam

anh

o d

os

frag

men

tos

(ha)

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9

Figura 3 - Área de borda e área de interior acumuladas nas diferentes classes de largura

de efeito de borda.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000

Cu

mu

lati

ve a

rea

(%)

Edge distance (m)

Área de borda

Área core

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10

Figura 4 - Mapas evidenciando a área de interior dados efeitos de borda com as seguintes

larguras: A) até 50 metros, B) até 100 metros, C) até 250 metros, D) até 500 metros, E)

até 1000 metros, F) até 2500 metros, G) até 5000 metros, H) até 10000 metros e I) até

12000 metros.

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11

Conectividade funcional

O grau de conectividade da Caatinga remanescente pode ser considerado bastante

elevado. Como esperado, espécies com capacidade maior de deslocamento tem acesso a

um número maior de manchas de Caatinga e, portanto, a paisagem é percebida como

menos fragmentada, possuindo um menor número de clusters de habitats (Fig. 5, Fig. 6,

Material Suplementar Tabela 3). Espécies capazes de se deslocarem por 1 km através da

matriz, potencialmente já reconhecem 95% da área da Caatinga como funcionalmente

conectada, distinguindo 1.876 clusters de habitat com tamanho médio de cerca de 22 mil

ha (Fig. 5, Fig. 6g, Material Suplementar Tabela 3). Conforme a habilidade de

deslocamento das espécies diminui, uma percentagem menor da Caatinga é percebida

como conectada, o número de clusters aumenta e a área média desses clusters diminui

(Fig. 5, Fig. 6, Material Suplementar Tabela 3). A área percebida como conectada parece

sofrer uma redução mais drástica para espécies com capacidade de deslocamento inferior

a 300 metros, caindo de 56% a menos de 10% para aquelas espécies mais sensíveis à

matriz (Material Suplementar Tabela 3).

Para espécies incapazes de cruzar a matriz, não há agrupamentos dos fragmentos

em clusters de habitat funcionalmente conectados, portanto os 47.100 fragmentos são

percebidos como unidades discretas na paisagem, com tamanho médio de 986 ha (Fig. 5,

Material Suplementar Tabela 3). Para essas espécies a maior porção de habitat

potencialmente disponível é o maior fragmento de Caatinga, uma área com cerca de 986

mil ha, localizada no estado da Bahia (BA) e conhecida como Boqueirão da Onça (Fig.

6a).

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12

Figura 5 - Número e tamanho médio dos clusters de habitat funcionalmente conectados da Caatinga, em

função da capacidade de deslocamento das espécies pela matriz (valores acima dos pontos).

Figura 6 - Mapas evidenciando o maior cluster de fragmentos funcionalmente conectados de acordo com as

diferentes capacidades de deslocamento na matriz: A) zero metros (fragmento = 986 mil ha), B) 100 metros

(cluster = 986,5 mil ha), C) 200 metros (cluster = 2,9 milhões ha), D) 300 metros (cluster = 22.9 milhões ha),

E) 400 metros (cluster = 29,6 milhões ha), F) 500 metros (cluster = 30,4 milhões ha), G) 1.000 metros (39,5

milhões ha) e H) 1.500 metros (cluster = 40 milhões ha)

Tam

anh

o m

édio

do

s cl

ust

ers

(ha)

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Isolamento médio

O isolamento médio da vegetação remanescente da Caatinga foi de 951 metros

(desvio padrão ±2.455), variando de 0 a 36.879 metros. A exclusão dos fragmentos

pequenos não provocou aumentos expressivos no isolamento encontrado. Retirando todos

os fragmentos com menos de 50 ha, que correspondem a 74% dos fragmentos da

paisagem, o isolamento médio do bioma aumenta apena 100 m, indo para 1.051 m. A

exclusão de fragmentos de todos os fragmentos de até 500 m elevam o isolamento médio

para 1.559 m enquanto que a exclusão de fragmentos de até 1000 m elevam o isolamento

para 1.895, ou seja, duas vezes o isolamento real observado (Fig. 7, Material Suplementar

Tabela 4).

Figura 7 – Isolamento médio da Caatinga nos diferentes cenários de exclusão dos

fragmentos pequenos

0

600

1200

1800

2400

0 <50 <100 <150 <200 <350 <500 <1000

Isola

men

to m

édio

(m

)

Cenários de exclusão dos fragmentos pequenos (ha)

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14

Discussão

A análise estrutural do bioma Caatinga revelou padrões relevantes para a

conservação de sua biodiversidade. Metade da área de Caatinga remanescente encontra-

se em fragmentos de mais de 50.000 ha, consequentemente a conectividade do sistema é

em grande parte assegurada pelos fragmentos grandes. Os fragmentos de até 350 ha, que

constituem cerca de 90% do número total dos fragmentos do bioma, contribuem pouco

para o isolamento médio dos remanescentes de Caatinga. Além disto, verificou-se que

espécies com capacidade de deslocamento de 1.000 m de distância na matriz reconhecem

mais de 90% de toda a Caatinga como funcionalmente conectada. Contudo, mais de 90%

de toda a área remanescente de Caatinga está a, no máximo, 2.500 metros de distância da

borda, estando potencialmente sob intensa influência da matriz. Estes resultados sugerem

que apesar da Caatinga ainda manter uma razoável integridade estrutural, os

remanescentes atuais estão sob forte pressão antrópica. Ações de conservação são

necessárias como forma de gerenciamento preventivo a mudanças de padrões que levem

o bioma a ultrapassar os limiares de extinção propostos, com um grande impacto sobre a

sua biodiversidade (Suding & Hobbs 2009, Pardini et al. 2010)

Oportunidades de conservação

Estratégias de priorização de conservação da biodiversidade podem ser divididas

naquelas que priorizam áreas mais vulneráveis, denominadas de estratégias reativas, e

aquelas que priorizam áreas de menor vulnerabilidade, denominadas proativas (Brooks et

al. 2006). O padrão de uso da terra é um dos mais importantes fatores na determinação

da vulnerabilidade de uma região, determinando assim a estratégia de conservação a ser

seguida.

O padrão de perda de habitat e fragmentação da Caatinga está em uma posição

intermediária quando comparado aos padrões observados na Mata Atlântica e na

Amazônia. Em um extremo está a Mata Atlântica que já perdeu 88% de sua área original

enquanto que mais da metade de toda a área de vegetação remanescente encontram-se em

fragmentos com até 500 ha (Ribeiro et al. 2009). No outro extremo está a Amazônia, que

perdeu menos de 20% de sua cobertura original e, mesmo nos quatro estados com maior

desmatamento, metade da área remanescente encontram-se em florestas contínuas

maiores que 3,5 milhões de hectares (Broadbent et al. 2008). A Caatinga, em contraste,

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15

perdeu mais de 45% de sua cobertura original e quase 50% de toda a área remanescente

estão em fragmentos com mais de 25 mil hectares.

Estratégias reativas de conservação constituem praticamente a única alternativa

para a Mata Atlântica em decorrência do seu intenso histórico de desmatamento e do alto

grau de ameaça de sua biodiversidade (Brooks & Balmford 1996, Dean 1996). Dentre as

estratégias reativas, de custo mais elevado (Brooks et al. 2006) encontra-se, por exemplo,

ações de restauração vegetal, manejo de espécies ameaçadas e conservação ex-situ

(Kleiman 1989). Em contraste, estratégias pró-ativas têm norteado o planejamento da

conservação da biodiversidade na Amazônia, permitindo o estabelecimento de uma ampla

rede de Unidades de Conservação neste bioma (Jenkins & Joppa 2009, MMA 2014).

A análise da estrutura da paisagem da Caatinga permite o reconhecimento da

existência de grandes oportunidades pró-ativas. De fato, os cinco maiores fragmentos do

bioma possuem cerca de 10% de toda a área remanescente da Caatinga. Sobre esses

fragmentos incidem, total ou parcialmente, 14 polígonos reconhecidos como Áreas

Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de Benefícios da

Biodiversidade da Caatinga (MMA 2016). Dentre essas áreas, três são reconhecidas como

de prioridade Extremamente Alta para a conservação da biodiversidade, seis são de

prioridade Muito Alta e cinco são de prioridade Alta. Entre as áreas de prioridade

Extremamente Alta está o Boqueirão da Onça, reconhecida por abrigar uma das poucas

populações restantes de onça-pintada (Pantera onca) da Caatinga, além de uma grande

biodiversidade de plantas e outros animais. Há mais de 10 anos, esta área vem sendo

indicada para a criação de um Parque Nacional e tem o potencial para se tornar a maior

reserva brasileira fora da Amazônia. A criação de unidades de conservação nesses cinco

fragmentos e em outros de grande tamanho representam excelentes oportunidades

proativas para incrementar o estado de conservação da biota da Caatinga e auxiliar o

Brasil a cumprir seus compromissos internacionais com a biodiversidade (CDB 2010).

A Caatinga, no entanto, vem perdendo 2.763 km2/ano de sua vegetação (MMA

2011), fazendo com que muitas oportunidades pró-ativas sejam substituídas pela

necessidade de ações reativas (Ferreira et al. 2012). Esta realidade é evidente na região

leste do bioma, cujo antigo histórico de ocupação (Boris 1995) resultou na persistência

de apenas um grande número de pequenos fragmentos imersos em uma matriz antrópica

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16

dominada por gado, plantações e uma população humana dependente de seus recursos

(Gariglio et al. 2010).

Conectividade funcional e isolamento

Em paisagens altamente fragmentadas, o aumento no grau de isolamento dos

remanescentes potencializa os efeitos da perda de habitat (Andrén 1994). Nessas

situações, os fragmentos pequenos podem ter grandes contribuições na redução do

isolamento das paisagens (Ribeiro et al. 2009). A Caatinga ainda tem cerca da metade de

sua vegetação nativa e, neste estudo, o isolamento médio da vegetação remanescente do

bioma, ao contrário do encontrado para a Mata Atlântica (Ribeiro et al. 2009),

praticamente não dependeu da presença dos fragmentos com menos de 350 ha que, apesar

de representarem quase 90% do número total dos fragmentos do bioma, constituem

apenas 3% da área remanescente. As análises indicam que a perda desses pequenos

remanescentes elevaria pouco o isolamento médio da Caatinga e não afetaria

significativamente a conectividade estrutural do sistema. No entanto, nas porções mais

fragmentadas do leste e sul do Bioma, a conservação dos fragmentos menores pode ser

decisiva para proteger espécies endêmicas (MMA 2016) e para manterem uma dinâmica

local de metapopulações (Arnold et al. 1993, Arroyo-Rodríguez et al. 2009). Isso pode

ser especialmente importante para as espécies com mobilidade intermediária que

poderiam se valer dos pequenos fragmentos como stepping stones e, eventualmente,

como habitat e fonte de recurso complementar, driblando os efeitos da alta

heterogeneidade espacial e temporal na disponibilidade de recursos do semiárido

(Dunning et al. 1992, Fryxell et al. 2005, Hobbs et al. 2008, Hernández et al. 2015).

Embora haja uma carência de estudos sobre os padrões de dispersão das espécies

no semiárido brasileiro, dados de outras regiões bioclimaticamente semelhantes

evidenciam a presença de organismos com capacidade reduzida de deslocamento na

matriz (Brooker et al. 1999, Schooley & Wiens 2004). Embora seja esperado que espécies

com limitação de deslocamento possam ser sensíveis à fragmentação da Caatinga, o efeito

produzido irá depender bastante da área de distribuição geográfica da espécie em questão.

Assim, espécies com distribuição mais ampla podem se beneficiar do fato da Caatinga

ainda apresentar grandes extensões de sua área remanescente concentrada em fragmentos

médios e grandes, capazes de manter populações saudáveis (Henle et al. 2004). Por outro

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17

lado, para espécies endêmicas de distribuição restrita, rupturas na continuidade do habitat

podem representar baixas significativas nas taxas reprodutivas e nos tamanhos

populacionais (Diamond et al. 1987, Donovan & Lamberson 2001, Henle et al. 2004).

Na Caatinga estão documentadas 350 espécies de plantas ameaçadas de extinção

(Martinelli & Moraes 2013). Grande parte dessas espécies é endêmica da região da

Chapada Diamantina, uma cadeia montanhosa localizada, longitudinalmente, na porção

central da Caatinga do estado da Bahia. Essa região é considerada um centro de

diversidade de inúmeros grupos de plantas (Giulietti et al. 1997; Bitencourt & Rapini

2013) e, embora apresente alguns remanescentes de tamanho médio, encontra-se inserida

numa área bastante fragmentada e vulnerável, devendo ser alvo de ações reativas de

conservação, como a restauração de áreas degradadas e manejo das espécies ameaçadas.

O bioma Caatinga apresenta-se bastante conectado para aquelas espécies com

capacidades intermediária e alta de deslocamento. As análises indicaram que espécies que

conseguem se deslocar 1000 m pela matriz entre fragmentos adjacentes, potencialmente

poderiam estar vivendo em um super cluster de fragmentos que compreende 95% da

Caatinga remanescente. Espécies com capacidade de cruzar 300 metros de matriz,

potencialmente poderiam viver em um super cluster que compreende 56% da vegetação

remanescente. Muitas espécies de aves e mamíferos que ocorrem na Caatinga também

são conhecidas por sua ampla distribuição e mobilidade na paisagem, sendo que sua

persistência dependente do acesso periódico a refúgios microclimaticamente mais

amenos durante os períodos de seca mais extrema (Mares et al. 1985, Fonseca et al. 1999,

Silva et al. 2003, Feijó & Langguth 2013). Embora os padrões de movimentação dessas

espécies em paisagens fragmentadas do bioma sejam pouco conhecidos, esse grupo de

organismos tem um alto potencial de ocupar grandes extensões da Caatinga

remanescente, dada a estrutura atual da paisagem. A alta mobilidade na paisagem permite

que essas espécies explorem uma gama maior de ambientes e, portanto, estejam mais

aptas a persistirem frente às flutuações ambientais espacialmente heterogêneas do

semiárido, diminuindo seus riscos de extinção (Henle et al. 2004, Fryxell et al. 2005,

Hobbs et al. 2008).

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18

Fragmentação, efeito de borda e ação antrópica

Um dos principais efeitos da fragmentação é a exposição de porções significativas

do habitat nativo às ações de agentes exógenos (Murcia 1995). As medidas de efeito de

borda trazem à tona parte da intensidade da interação entre as populações naturais e os

principais fatores associados aos impactos antrópicos (Wilcove et al. 1998, Woodroffe &

Ginsberg 1998). De fato, o padrão extremamente recortado de fragmentação da Caatinga

faz com que a quase totalidade (99%) da Caatinga remanescente esteja a menos de 5 km

de uma borda, enquanto que cerca de 75% está a menos de 1 km da borda. Embora estas

distâncias possam parecer elevadas quando se tem em conta os efeitos de borda

documentados para biomas temperados e tropicais de florestas úmidas (Wilcove et al.

1986, Willson & Crome 1989, Murcia 1995, Laurance et al. 2007), para regiões

semiáridas há registros de influências da matriz em longas distâncias no interior de

manchas de vegetação nativa. Por exemplo, o efeito de distúrbios antropogênicos sobre a

estrutura e diversidade da vegetação foi evidenciado a 4,5 km de distância da borda em

uma área de savana Africana (Muposhi et al. 2016). Um efeito ainda mais pronunciado

foi identificado pela invasão de gado no interior do Parque Nacional de Gonarezhou, no

Zimbabwe, que atingiu até 20 km de profundidade com consequências importantes para

a vegetação e fauna nativas (Gandiwa et al. 2011, 2013). Na Caatinga, um levantamento

de mamíferos de médio e grande porte, realizado por meio de armadilhagens fotográficas,

registrou a ocorrência de animais domésticos (cachorro, cabra, cavalo e bovinos) a

distâncias superiores a 3,5 km no interior de manchas remanescentes de vegetação

(comunicação pessoal).

A pecuária merece destaque por ser uma das principais geradoras de renda e

subsistência para os habitantes da Caatinga, sendo realizada de forma extensiva, onde o

gado é criado solto e utiliza, com frequência, a vegetação nativa como base de sua

alimentação (Costa et al. 2008). Na Caatinga e em outras regiões semiáridas, as atividades

de pastejo e pisoteio do gado têm sido associadas a redução na sobrevivência de plântulas,

ao aumento da compactação do solo, diminuição da riqueza e alterações na composição

da comunidade de plantas e redução da diversidade e abundância de invertebrados

(Abensperg-Traun et al. 1996, Vasconcellos et al. 2010, Gandiwa et al. 2011, Marinho et

al. 2016, Tavares et al. 2016). Além disso, foi relatada uma sinergia entre os efeitos da

atividade de pastejo do gado e da invasão de espécies exóticas em fragmentos de

vegetação semiárida (Hobbs 2001).

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19

A Caatinga está entre os biomas semiáridos mais populosos do mundo (Medeiros

et al. 2012) e a subsistência de parte dessa população local depende do contato direto com

os recursos naturais existentes no bioma (Gariglio et al. 2010). Este contato certamente

está sendo amplificado pelo fácil acesso às áreas de interior dos remanescentes de

Caatinga de tal forma que, potencialmente, toda a extensão do bioma deve estar suscetível

a algum grau de distúrbio por atividades antrópicas (Ribeiro et al. 2015, 2016, Capítulo

2). Na Caatinga a caça de animais nativos, especialmente aves e mamíferos é uma

atividade antiga, motivada por diversas finalidades, que tem sido classificada como uma

das principais ameaças a fauna local (Alves et al. 2009). O uso de cães e armas de fogo é

muito frequente e otimiza a atividade de caça (Alves et al. 2009) permitindo o sucesso

em buscas ativas dentro dos remanescentes de vegetação. As buscas se dão

preferencialmente por mamíferos e têm atingido um grande número de espécies com

distribuições relativamente amplas e com capacidade de se deslocarem por longas

distâncias (Alves et al. 2016). Levando em conta apenas a distância entre os

remanescentes na paisagem, essas espécies deveriam reconhecer uma gama de

fragmentos de Caatinga como funcionalmente conectados e, portanto, suas populações

deveriam estar saudáveis e fora de perigo. No entanto, em muitos casos, isso não

corresponde à realidade e muitas dessas espécies estão localmente vulneráveis e

ameaçadas pela caça (Barboza et al. 2016). Neste trabalho, atribuímos essa divergência à

grande acessibilidade da Caatinga aos efeitos de borda – que têm promovido um

empobrecimento da biota local mesmo em áreas bem conectadas.

Considerações finais

Esse estudo representa a primeira análise da fragmentação da Caatinga em larga

escala, trazendo importantes informações sobre o arranjo espacial e a configuração

estrutural dos seus remanescentes, bem como sobre as interações funcionais entre eles.

Essa análise permitiu o reconhecimento da diversidade de padrões regionais e

identificação de estratégias específicas de conservação. A boa notícia é que o arranjo

espacial dos remanescentes de Caatinga confere a esse bioma uma conectividade

funcional elevada, favorecendo, potencialmente em grandes porções territoriais, os fluxos

biológicos de espécies com capacidade de deslocamento intermediária e alta. Além disso,

a Caatinga ainda apresenta grandes fragmentos bem conectados, com potencial para

abrigar populações viáveis de espécies mais sensíveis e com habilidades reduzidas de

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20

deslocamento na matriz. Esses fragmentos abarcam grandes extensões da Caatinga

remanescente e, muitos deles, já são áreas oficialmente reconhecidas como prioritárias

para a conservação da biodiversidade, representando boas oportunidades para a criação

de Unidades de Conservação. A má notícia é que, estruturalmente, os remanescentes de

Caatinga apresentam grandes quantidades de área superexpostas a efeitos de borda

relativamente pouco profundos. Essa condição deve facilitar o acesso dos agentes de

perturbação externos às áreas nucleares dos fragmentos, comprometendo o estado de

conservação dos remanescentes de Caatinga.

Referências bibliográficas

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Material Suplementar

Capítulo1: Fragmentação do bioma Caatinga

Tabela 1 – Número de fragmentos e área total remanescente de Caatinga (em hectares)

por classe de tamanho. Os valores entre parêntese representam as percentagens, por

classe, em relação ao total

Classes de tamanho

(ha) Número de fragmentos Área total remanescente (ha)

>50 ha 34.875 (74,04%) 392.005 (1%)

50 a <100 ha 3.463 (7,35%) 243.913 (1%)

100 a <250 ha 3.269 (6,94%) 514.464 (1%)

250 a <500 ha 1.648 (3,50%) 581.149 (1%)

500 a <1.000 ha 1.131 (2,40%) 808.670 (2%)

1.000 a <2.500 ha 1.029 (2,18%) 1.641.752 (4%)

2.500 a <5.000 ha 548 (1,16%) 1.938.789 (5%)

5.000 a <10.000 ha 417 (0,89%) 2.974.798 (7%)

10.000 a <25.000 ha 421 (0,89% 6.643.659 (16%)

25.000 a <50.000 ha 153 (0,32%) 5.231.413 (13%)

50.000 a <100.000 ha 88 (0,19%) 6.150.241 (15%)

100.000 a <250.000 ha 38 (0,08%) 5.577.388 (13%)

250.000 a <500.000 ha 15 (0,03%) 4.985.745 (12%)

≥500.000 ha 5 (0,01%) 3.715.208 (9%)

Total 47.100 41.399.196

Tabela 2 – Área acumulada de vegetação de Caatinga de interior e de borda, considerando

diferentes larguras de efeito de borda. Valores entre parêntese correspondem às

percentagens em relação a área total remanescente (41.399.196 ha)

Tamanho do

Efeito de Borda

Área acumulada de

interior (ha)

Área acumulada de

borda (ha)

0 metros 41.399.196 (100%) 0 (0%)

Até 50 metros 37.677.661 (91%) 3.721.535 (9%)

Até 100 metros 34.366.755 (83%) 7.032.441 (17%)

Até 250 metros 26.641.748 (64%) 14.757.448 (36%)

Até 500 metros 18.436.268 (45%) 22.962.928 (55%)

Até 1.000 metros 9.606.290 (23%) 31.792.906 (77%)

Até 2.500 metros 2.813.861 (7%) 38.585.336 (93%)

Até 5.000 metros 604.759 (1%) 40.794.437 (99%)

Até 10.000 metros 27.150 (0%) 41.372.046 (~100%)

Até 12.000 metros 4.131 (0%) 41.395.065 (~100%)

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Tabela 3 – Capacidade, ou distância, de deslocamento através da matriz (metros), número

de clusters de fragmentos funcionalmente conectados, tamanho médio (hectares) dos

clusters e tamanho do maior cluster de fragmentos gerado (hectares). Os valores entre

parênteses representam a percentagem de Caatinga remanescente funcionalmente

conectada pelo maior cluster em para cada distância de deslocamento

Distância de

deslocamento (m) Número de clusters

Tamanho médio

dos clusters (ha)

Tamanho do

maior cluster (ha)

0 47.100* 986 985.999 (2%)

100 42.685 970 986.511 (2%)

200 25.063 1.652 2.963.806 (7%)

300 13.829 2.994 22.978.695 (56%)

400 9.144 4.527 29.667.939 (72%)

500 6.380 6.489 30.407.135 (73%)

1000 1.876 22.068 39.511.618 (95%)

1500 838 49.402 40.031.432 (97%) *Para espécies com nenhuma habilidade de deslocamento na matriz, não a formação de clusters de habitat

funcionalmente conectados, portanto esse valor equivale ao número real de fragmentos presentes na paisagem

Tabela 4 – Isolamento médio da Caatinga nos diferentes cenários de exclusão de

fragmentos

Cenários de exclusão de fragmentos Isolamento médio

Sem exclusão 951

<50ha 1051

<100ha 1120

<150ha 1188

<200ha 1243

<350ha 1283

<500ha 1559

<1000ha 1895

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29

Capítulo 2 - Perturbação Crônica Potencial dos Remanescentes de

Caatinga

Marina Antongiovanni, Eduardo M. Venticinque, Marcelo Matsumoto, Carlo R. Fonseca

Introdução

Paisagens fragmentadas frequentemente são vistas como um mosaico de manchas

pretas e brancas que representam respectivamente fragmentos do habitat original e a

matriz antrópica do entorno (Andrén 1994, Crouzeilles et al. 2014). Esta simplificação

está presente em modelos de biogeografia de ilhas, metapopulacionais e ecologia de

paisagem (MacArthur & Wilson 1967, Diamond 1975, Hanski 1998) e muitas vezes é

refletida em estratégias de conservação da biodiversidade e políticas ambientais

(McIntyre & Hobbs 1999). Há várias décadas reconhece-se, no entanto, que a matriz

antrópica é heterogênea, podendo ser mais ou menos permeável à biodiversidade e

representando riscos de mortalidade diversos dependendo do tipo de cobertura do solo

(Stamps et al. 1987, Ricketts 2001, Revilla et al. 2004, Antongiovanni & Metzger 2005).

No entanto, menor atenção tem sido dada à heterogeneidade entre manchas,

particularmente referente à um contínuo na qualidade do habitat devido ao uso crônico

dos seus recursos por populações humanas.

A perturbação antrópica crônica de remanescentes do habitat original provoca a

depauperação da fauna e da flora (Redford 1992, Sagar et al. 2003, Ribeiro et al. 2015,

Benítez-López 2017), alterando processos ecológicos e serviços ecossistêmicos (Sabater

2008, Leal et al. 2014). A perturbação antrópica crônica é um problema mundial

especialmente importante em países em desenvolvimento, onde: i) as taxas de conversão

de habitats são elevadas (Hansen et al. 2013), ii) por condicionantes socioeconômicos e

culturais, uma porção considerável da população humana possui grande dependência dos

recursos naturais presentes nos fragmentos de habitat (Singh 1998) e iii) as estratégias de

ocupação e gestão do território não estão alinhadas com a conservação e uso sustentável

da biodiversidade e dos serviços ambientais a médio e longo prazos (Matthews 2011,

Laurance et al. 2015). A baixa sinergia entre as questões ambientais e as estratégias de

uso e ocupação do território permite que os núcleos de adensamentos humanos e de

atividades produtivas, bem como obras de infraestrutura funcionem como vetores das

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perturbações nas áreas de habitat (Laurance et al. 2001, Foley et al. 2005, Mattison &

Norris 2005).

As perturbações se dão de forma diferenciada no espaço, de modo que se espera

que quanto maior a proximidade com vetores de perturbação, mais danificada pelas

pressões antrópicas uma área deve estar (Smith et al. 1997, Ribeiro et al. 2015). As

estradas, por exemplo, têm sido associadas com o aumento da perturbação crônica por

criarem novas bordas nas áreas de habitat, facilitando o acesso a regiões que

anteriormente estavam longe do raio de ação humana e pelo ruído gerado pelo tráfego de

veículos que interfere na comunicação animal (Reijnen et al. 1995, Wilkie et al. 2000,

Laurance et al. 2009). A proximidade com obras de infraestrutura parece ter uma relação

positiva com o grau de perturbação antrópica das áreas de habitat (Ribeiro et al. 2015,

Benítez-López et al. 2017, Decker et al. 2017). Igualmente, áreas de habitat localizadas

nas cercanias de adensamentos humanos e de regiões com alta intensidade de pastoreio,

extração de madeira e de uso fogo são mais susceptíveis a perturbações antrópicas

crônicas (Belsky & Blumenthal 1997, Tabuti et al. 2003, Michalski & Peres 2005,

Nellemann et al. 2007, Tavares et al. 2016). Essa heterogeneidade espacial pode ocorrer

em função da localização geográfica dos fragmentos (Michalski & Peres 2005) e em

função da quantidade de área de borda presente numa paisagem (Cochrane & Laurance

2002, Gandiwa et al. 2013).

As respostas dos organismos às perturbações antrópicas crônicas também se

manifestam de maneira heterogênea em função de características de cada espécie, do

estágio de desenvolvimento em que se encontram e da interação entre elas (Schmitz 1997,

Nellemann et al. 2007). Algumas espécies são mais tolerantes às perturbações antrópicas

e tendem a manter populações mais estáveis ao longo do tempo, enquanto outras são mais

sensíveis, apresentando declínios populacionais drásticos, podendo se extinguir (Cox &

Elmqvist 2000, Bhuyan et al. 2003, Peres et al. 2003, Michalski & Peres 2005). Há ainda

espécies que são beneficiadas em áreas com alta intensidade de perturbação, muitas vezes

se tornando dominantes e afetando, assim, a estrutura da comunidade (Ribeiro-Neto et al.

2016). A despeito das variações nas respostas dos organismos, as perturbações antrópicas

crônicas modificam a estrutura das comunidades biológicas, comprometendo, em maior

ou menor intensidade, o funcionamento, a estrutura e a resiliência dos ecossistemas

(Elmqvist et al. 2003, Smith et al 2009).

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31

Devido à grande demanda de dinheiro e tempo, análises em escalas geográficas

amplas sobre a variação na intensidade das respostas dos ecossistemas naturais

fragmentados às perturbações crônicas, dificilmente são compatíveis com levantamentos

de informações in loco. Nessas situações, é possível criar indicadores do grau potencial

de distúrbio dos remanescentes por meio da integração de diversos vetores de perturbação

crônica (Martorell & Peters 2005, Kapalanga 2008). Com isso, gera-se um diagnóstico

rápido do grau de integridade dos fragmentos remanescentes em grandes extensões

territoriais, auxiliando na adoção de estratégias de conservação da biodiversidade,

incluindo a criação de unidades de conservação, restauração de áreas e manejo sustentável

de recursos.

A Caatinga é um bioma semiárido brasileiro que ocupa cerca de 826 mil km2.

Representa uma das regiões semiáridas mais populosas do mundo (Medeiros et al. 2012)

e essa intensa ocupação já resultou na perda de 45,62% de sua vegetação original (MMA

2011). Este bioma vem sendo alvo de estudos sobre perturbação antrópica crônica que

têm apontado que a proximidade de centros urbanos, de residência e estradas e a

densidade populacional e de gado tem efeitos negativos na comunidade de plantas e nas

interações entre plantas e formigas (Leal et al. 2014, Leal et al. 2015, Ribeiro et al. 2015,

2016). A facilidade de acesso às áreas de Caatinga também foi associada como um

importante fator de pressão e sobre-exploração para espécies de mamíferos que são

consumidas por humanos (Barboza et al. 2016). Estes estudos trouxeram contribuições

fundamentais para o entendimento dos efeitos das perturbações antrópicas crônicas da

Caatinga, mas por possuírem abrangências geográficas reduzidas, não permitem que

padrões espaciais de perturbação sejam evidenciados em escalas mais amplas. Buscando

ampliar a compreensão sobre a influência da heterogeneidade espacial dos vetores de

perturbação no estado de conservação potencial dos remanescentes de Caatinga, este

trabalho tem como objetivos: (i) estimar a perturbação crônica potencial dos fragmentos

da Caatinga, (ii) compreender como esta perturbação está distribuída espacialmente no

bioma e (iii) testar se a intensidade da perturbação varia em função da distância da borda

nos remanescentes de Caatinga.

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32

Métodos

Área de Estudo

O bioma Caatinga distribui-se por aproximadamente 826 mil km2 do Nordeste

brasileiro, ocupando cerca 10% do território nacional. Ocorre em uma região semiárida

definida por uma baixa pluviosidade (300 – 1200 mm.ano-1) e uma alta sazonalidade,

estando as chuvas concentradas em poucos meses e de maneira pouco previsível

(Sampaio 1995). A Caatinga já tem 45,62% de sua vegetação original desmatada e, entre

2002 a 2008, a taxa anual de desmatamento foi de 2.763 km2/ano (MMA 2011).

As ameaças à biodiversidade da Caatinga são inúmeras. Desde a colonização, a

madeira proveniente principalmente da Caatinga arbórea tem sido utilizada para

edificações, construção de móveis, cercas e lenha (Coimbra-Filho & Câmara 1996). Além

disto, a agricultura baseada no modelo corte e queima foi responsável pela substituição

progressiva da vegetação estruturalmente mais complexa e diversa da Caatinga arbustiva

por monoculturas de ciclo curto. O ambiente aberto propiciou a utilização da Caatinga

para a pecuária, no entanto devido à baixa produtividade primária líquida, associada à

imprevisibilidade das chuvas, o modelo de produção predominante no bioma sempre foi

de pecuária extensiva - onde o gado bovino ou caprino é produzido sem nenhum limite

físico. Como conseqüência, pode-se dizer que quase toda a extensão da Caatinga deve

estar impactada em algum grau pela pecuária. Atualmente, a região sustenta cerca de 10

milhões de cabeças de gado (Medeiros et al. 2000). A caça de subsistência também é uma

importante pressão, ameaçando principalmente mamíferos, aves, répteis e peixes. A

fragilidade da Caatinga a estes inúmeros impactos ambientais pode ser verificada pelo

aumento da desertificação na região que já atinge 15% (Castelletti et al. 2004).

Remanescentes de Caatinga

Neste trabalho foram utilizados dados dos arquivos digitais georreferenciados

(shapefiles) dos remanescentes e do desmatamento acumulado até 2009, disponibilizados,

em 2014, com correções em 2016, pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos

Biomas Brasileiros por Satélite (PMDBBS), do Ministério de Meio Ambiente (MMA)

brasileiro. Todos os fragmentos com área igual ou inferior a 1 ha foram considerados

como ruídos da classificação e, portanto, foram excluídos das análises.

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33

Embora dados utilizados representem a informação mais atual disponível para o

bioma, muitas áreas desmatadas pela construção de estradas não foram consideradas

como desmatamentos no shapefile de remanescentes. Para sanar esse problema, usando o

shapefile de estradas (IBGE 2010) foi criado um buffer de 220 metros no entorno das

estradas pavimentadas (20 metros da estrada propriamente dita mais 100 metros para cada

lado da estrada) e de 120 metros nas estradas não pavimentadas (20 metros da estrada

propriamente dita mais 50 metros para cada lado da estrada). Toda a área inserida dentro

desses buffers foi considerada como desmatada, sendo, posteriormente, subtraída do

shapefile de remanescentes obtido originalmente do PMDBBS. Essa subtração foi

realizada no programa ArcGis 10.1 e o shapefile resultante corresponde ao arquivo de

remanescentes de Caatinga utilizado neste trabalho.

Índice de Perturbação Crônica Potencial (IPC)

Quatorze variáveis quantitativas foram escolhidas para compor o Índice de

Perturbação Crônica (IPC): (a) densidade populacional, (b) distância de assentamentos,

(c) distância de localidades, (d) distância de rodovias pavimentadas, (e) distância de

rodovias não pavimentadas, (f) distância até os canais principais de transposição do rio

São Francisco, (g) distância de usinas eólicas, (h) distância de ferrovias, (i) distância de

linhas de transmissão de energia (j) densidade de ovinos, (k) densidade de caprinos, (l)

densidade de ovinos, (m) distância de polos gesseiros e ceramistas e (n) densidade de

focos de calor. Todas as informações utilizadas são provenientes de fontes

governamentais e encontram georreferenciadas para toda a extensão da Caatinga. Para

uma descrição detalhada destas variáveis ver Tabela 1.

As variáveis analisadas, expressas em distância ou densidade, foram utilizadas na

construção de quatorze superfícies primárias de perturbação (formato raster), onde cada

pixel do bioma recebeu um valor correspondente ao impacto potencial ao qual ele está

sendo potencialmente submetido. As variáveis de densidade foram medidas

originalmente por setores censitários (Tabela 1). Desta forma, a densidade de cada pixel

foi obtida dividindo-se o valor da variável no setor censitário pelo seu respectivo número

de pixels. Para todas as variáveis expressas em distância, foi utilizada a distância

euclidiana invertida, cujos valores maiores foram atribuídos aos pixels mais próximos da

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fonte de perturbação. Cada superfície primária de perturbação foi então padronizada, pela

transformação do seu valor máximo em 1.

A importância relativa de cada variável primária como agente de perturbação foi

definida pela atribuição de pesos relativos (0-1, Tabela 1). Os pesos utilizados aqui foram

definidos por uma oficina do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que ocorreu durante

o processo de identificação das Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e

Repartição dos Benefícios do bioma Caatinga, que contou com a participação de

aproximadamente 30 integrantes, incluindo pesquisadores e técnicos de universidades,

órgão ambientais de governo e ONGs com expertise em estudos na Caatinga (MMA

2016).

O Índice de Perturbação Crônica foi calculado, por pixel, pela soma do produto

entre os valores de cada uma das quatorze variáveis primárias e seus respectivos pesos,

porém padronizado pelo maior valor de IPC encontrado na paisagem. Desta forma, o IPC

variou de 0 (menor perturbação potencial) a 1 (maior perturbação potencial). Estas

análises foram realizadas com o uso da ferramenta Spatial Analyst do programa ArcGis

10.1. A superfície (ou arquivo raster) com os valores de IPC por pixel, foi especializada

apenas para o recorte dos fragmentos, de modo a permitir a visualização da distribuição

dos valores de perturbação dentro em cada remanescente.

Para compreensão e visualização da heterogeneidade espacial da perturbação

crônica provocada por diferentes tipos de perturbação as variáveis primárias foram

grupadas em cinco superfícies que representam o IPC dos seguintes vetores principais:

(i) população humana, (ii) infraestrutura, (iii) pastoreio, (iv) exploração madeireira e (v)

fogo (ver variáveis que compõem cada vetor na Tabela 1). Neste caso, a padronização

dos valores dos pixels, em cada superfície, foi feita levando-se em conta o IPC máximo

encontrado para cada vetor, sendo que quanto mais próximo de 1 maior a perturbação.

A visualização cartográfica dos valores de IPC gerados para cada vetor foi

realizada para o recorte dos fragmentos, usando como descritor o valor da perturbação

média dos pixels de cada remanescente.

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35

Efeito da área sobre o Índice de Perturbação Crônica Potencial

A perturbação crônica de cada fragmento de Caatinga foi caracterizada por uma

medida de tendência central, a média (IPC médio) e por uma medida de dispersão, o

desvio padrão (desvio padrão do IPC). Ambos os índices foram calculados usando os

valores de IPC de todos os pixels do fragmento. Os cálculos destes dois índices foram

realizados com o auxílio da ferramenta Zonal Statistics do programa ArcGis 10.1. Os

valores de IPC médio e desvio padrão do IPC foram relacionados com a área dos

fragmentos por meio de regressões quantílicas lineares (y = bx + a) e quadráticas (y = cx2

+ bx + a) de forma a permitir a detecção de não linearidade a partir da significância do

termo quadrático. As funções apresentadas são aquelas que obtiveram o melhor ajuste,

segundo a visualização dos resíduos. As regressões quantílicas foram realizadas usando

a função rq no pacote quantreg do programa R.

Dos 47.100 fragmentos de Caatinga (ver Capítulo 1), foram usados para essas

análises 46.626. Os 474 fragmentos excluídos são muito pequenos e estreitos para abrigar

centroides de pixels das superfícies de perturbação e, portanto, não puderam ter seus

valores IPC calculados. A área dos fragmentos de Caatinga foi calculada no programa

ArcGis 10.1.

Efeito de borda sobre o Índice de Perturbação Crônica Potencial

Com a finalidade de testar como o Índice de Perturbação Crônica variou com a

distância da borda foram utilizados dados de 6.820 pontos escolhidos aleatoriamente

através de uma amostragem estratificada pela distância de borda. A distância euclidiana

de cada ponto até a borda (i.e. distância até pixel de matriz mais próximo) foi medida com

o uso da ferramenta Near, enquanto os valores de IPC (para todo o conjunto de variáveis

e por vetor) foram extraídos de cada pixel correspondente por meio da ferramenta Extract

Values do ArcGis 10.1. Para a seleção dos 6.820 pontos do estudo, com o auxílio da

ferramenta Random Points do ArcGis 10.1, inicialmente foram criados 100 mil pontos

aleatórios localizados dentro da máscara dos remanescentes da Caatinga. Posteriormente,

dentro desse conjunto inicial de pontos, foram selecionados aleatoriamente 500 pontos

localizados em faixas de 500 em 500 metros de distância da borda, de 0 até 5.000 metros

no interior dos remanescentes. Devido a sua baixa representatividade na paisagem, todos

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os pontos localizados em distância superiores a 5.000 metros da borda foram incluídos

nas análises.

Para analisar a relação não linear entre IPC (de todo o conjunto de variáveis e de

cada vetor) e distância de borda, foram utilizadas regressões quantílicas lineares (y = ax

+ b), quadráticas (y = ax2 + bx + c) ou exponenciais assintóticas (y = a – be-cx). As funções

apresentadas são aquelas que obtiveram o melhor ajuste, segundo a visualização dos

resíduos. Em todos os modelos testados foram utilizados os quantis 10, 50 e 90%, com

exceção do IPC do vetor fogo, que devido à grande frequência de zeros, foi acrescentado

o quantil 99%. As regressões quantílicas foram realizadas usando as funções rq e nlrq no

pacote quantreg do programa R

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Tabela 1- Descrição das variáveis utilizadas como fontes de perturbação, evidenciado seus pesos relativos utilizados na construção das superfícies de perturbação, a fonte dos

dados e o grupo de vetor ao qual se enquadram

Vetores Variáveis Descrição Peso Fonte

População humana

Densidade populacional Número de habitantes/área do setor censitário (Log10 transformado confirmar se foi log10). Estabelecido pelo

IBGE, o setor censitário é a menor unidade territorial de coleta de dados para fins de estimativas de diversas

variáveis socioeconômicas brasileiras. Incidem sobre a Caatinga 40.770 setores censitários com pouco mais de

2.000 ha de área média.

1 IBGE, 2010

Distância até assentamentos Distância euclidiana de um pixel até a borda de um polígono de assentamento mais próximo, num raio de 10 km

no entorno dos assentamentos

0.2 INCRA, 2014

Distância até localidades Distância de um pixel até a localidade mais próxima, usando rodovias pavimentadas ou não pavimentadas como

rota. Para essas análises, primeiramente foi calculada a distância de um dado pixel até a rodovia mais próxima e,

em seguida, a distância até a localidade mais próxima. Diferentemente dos assentamentos que são representados

por polígonos, as localidades são representações cartográficas pontuais que correspondem a outros aglomerados

humanos permanentes, como cidades, vilas, etc.

0.5 IBGE-BCIM, 2013

Infraestrutura

Distância até rodovias pavimentadas Distância euclidiana de um pixel até a estrada pavimentada mais próxima, num raio de 20 km no entorno das

rodovias

0.9 IBGE-BCIM, 2013

Distância até rodovias não

pavimentadas

Distância euclidiana de um pixel até a estrada pavimentada mais próxima, num raio de 10 km no entorno das

rodovias

0.5 IBGE-BCIM, 2013

Distância até o canal de transposição Distância euclidiana de um pixel até a via de transposição do Rio São Francisco mais próxima, num raio de 5

km no entorno das vias principais. O rio São Francisco é o maior rio existente na Caatinga, cortando o bioma

transversalmente nas proximidades das divisas entre os estados da Bahia (BA) e Pernambuco (PE) e Alagoas

(AL) e Sergipe (SE).

0.3 MIN, 2014

Distância até usina eólica Distância euclidiana de um pixel até a usina de geração de energia eólica mais próxima, num raio de 20 km no

entorno das usinas existentes

0.2 ANEEL, 2014

Distância até ferrovias Distância euclidiana de um pixel até a ferrovia mais próxima, num raio de 5 km no entorno das ferrovias 0.2 MIN, 2014

Distância até a linha de transmissão Distância euclidiana de um pixel até a linha de transmissão de energia mais próxima, num raio de 5 km no

entorno das linhas de transmissão

0.2 ANEEL, 2014

Pastoreio

Densidade de bovinos Número de bovinos/área do setor censitário (censo agropecuário) 0.6 IBGE, 2006

Densidade de caprinos Número de caprinos/área do setor censitário (censo agropecuário) 0.5 IBGE, 2006

Densidade de ovinos Número de ovinos/área do setor censitário (censo agropecuário) 0.4 IBGE, 2006

Exploração madeireira

(lenha)

Distância até polos gesseiros e

ceramistas

Distância de um pixel até os polos gesseiros ou ceramistas mais próximos, usando rodovias pavimentadas ou

não pavimentadas como rota. Para essas análises, primeiramente foi calculada a distância perpendicular de um

dado pixel até a rodovia mais próxima e, em seguida, a distância deste ponto até o polo gesseiro ou ceramista

mais próximo. Segundo informações da Secretaria de Florestas (MMA), os impactos de exploração madeireira,

para combustível, desses empreendimentos estendem-se a até 300 km do local de instalação da indústria. Assim

sendo, pixels localizados a distâncias superiores a 300 km, seguindo método usado aqui, foram considerados

como não perturbados por esse vetor. As analises foram realizadas com a ferramenta Path Distance no ArcGis

10.1.

0.6 Secretaria de

Florestas

(SF/MMA)

Fogo

Densidade de focos de calor Densidade de focos de calor por pixel no período de 01 de janeiro de 2002 a 31 de dezembro de 2016, obtida por

interpolação de Kernel, num raio de 1 km. Dados de focos de calor do satélite Aqua M-T (sensor MODIS,

passagem no início da tarde) de 2003 a 2014. (fonte: https://prodwww-queimadas.dgi.inpe.br/bdqueimadas/)

0.7 INPE

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Resultados

A perturbação crônica dos fragmentos de Caatinga

Os valores de IPC por pixel, no recorte dos fragmentos, variaram de 0,09 (menor

perturbação potencial) a 0,94 (maior perturbação potencial) e demostram que os pixels

com valores mais baixos de IPC apareceram com maior frequência no oeste e em parte

das porções central e sul do bioma. No norte, leste e parte da região central houve um

relativo predomínio de pixels com IPC mais altos (Fig. 1a). De um modo geral, os

fragmentos maiores, especialmente na porção ocidental, abrigaram uma maior

concentração de pixels com valores de IPC mais baixos (Fig 1a.) do que os fragmentos

menores. Esses padrões são sintetizados pelos valores de IPC médio e desvio padrão

encontrados por fragmento (Fig. 1b e 1c).

A distribuição de frequência dos valores de IPC médio revela que todos os

fragmentos de vegetação remanescente da Caatinga estão potencialmente perturbados por

ações antrópicas (Fig. 1a e 2). A distribuição do IPC médio é relativamente normal, com

média em 0,41 e desvio padrão de 0,08. O valor de IPC médio do fragmento menos

perturbado foi 0,12, enquanto o mais perturbado apresentou um IPC de 0,80. A

distribuição geográfica dos valores de IPC médio dos fragmentos resume o padrão

observado para os pixels, evidenciando fragmentos com maior perturbação potencial ao

norte, leste e parte da região central do bioma (Fig. 1c). A heterogeneidade do IPC dentro

dos fragmentos, medida pelo desvio padrão, reflete variou entre 0 e 0,19. Os fragmentos

que apresentaram maior heterogeneidade estão localizados mais a oeste do bioma,

enquanto os menores valores ocorrem do centro para o leste do bioma (Fig. 1c).

Vetores de perturbação crônica

O IPC do vetor de população humana variou de 0,01 a 0,97, sendo que fragmentos

menos perturbados por este vetor encontram-se na porção central (norte do estado da

Bahia) e no oeste (especialmente centro-sul do estado do Piauí), ao passo que os

fragmentos mais perturbados se localizam ao norte e leste do bioma (Fig. 3a). Um padrão

espacial semelhante foi encontrado para o vetor infraestrutura, cujos valores de

perturbação dos fragmentos variou de 0 a 0,79 (Fig. 3b). Embora a distribuição da

perturbação provocada pelo vetor de pastoreio (com variação de 0 a 0,56) apresente

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semelhanças com a dois vetores anteriores, é possível notar um espalhamento maior dos

fragmentos menos perturbados ao longo de todo o bioma, com destaque para algumas

regiões próximas a zona costeira e ao sul do bioma (Fig. 3c). A variação nos valores de

perturbação dos fragmentos em decorrência do vetor de extração madeireira foi de 0,01 a

1 (Fig. 3d), sendo que há uma evidente concentração de fragmentos mais perturbados no

centro, norte e noroeste do bioma e de fragmentos com pouca ou nenhuma perturbação

no sul do bioma. Os valores de perturbação em decorrência do vetor fogo variaram de 0

a 0,79, sendo que a concentração de fragmentos mais perturbados ocorre no extremo norte

do bioma, no oeste do estado do Piauí e sul da Bahia (Fig. 3e).

Figura 1. Mapa da distribuição do Índice de Perturbação Crônica Potencial (IPC) encontrado para

os pixels dos remanescentes de Caatinga (A) e para os 46.626 fragmentos de Caatinga analisados,

evidenciando o IPC médio (B) e o desvio padrão do IPC (B).

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Figura 2 – Distribuição de frequência dos valores médios do Índice de Perturbação Crônica

potencial dos 46.626 fragmentos de Caatinga.

Figura 3. Mapa da distribuição dos valores médios do Índice de Perturbação Crônica Potencial

(IPC) obtidos por fragmento de Caatinga para os diferentes vetores de perturbação: A) População

humana, B) Infraestrutura, C) Pastoreio, D) Extração de Madeira e E) Fogo

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Influência da área dos fragmentos nos valores de IPC

A área do fragmento não afetou significativamente o seu IPC médio, pelo menos

quando analisada a tendência central (tau = 0.5) e o quantil inferior (tau = 0.1) (Fig. 4a

Tabela 2). A regressão do quantil superior (tau = 0.9), no entanto, apresentou uma leve

queda não linear. Em contraste, fragmentos maiores foram significativamente mais

heterogêneos do que fragmentos menores. De fato, o desvio padrão do IPC aumentou não

linearmente com a área do fragmento para os três quantis considerados (Fig. 4b, Tabela

2).

Figura 4. Regressão quantílica quadrática entre a área dos fragmentos de Caatinga e A) valores

médios do índice de perturbação e B) desvio padrão do índice de perturbação. As regressões foram

realizadas paras os quantis 10%, 50% e 90%. A representação do x está em escala logarítmica.

Influência da distância de borda sobre o Índice de Perturbação Crônica Potencial

O IPC diminuiu significativamente da borda para o interior dos fragmentos de

Caatinga (Fig. 5a). O decaimento exponencial indica uma alteração mais brusca perto da

borda, até cerca de 5 km, e uma tendência a estabilização que se estende até 18 km. Este

padrão foi significativo para todos os quantis analisados, apesar do decaimento mais

rápido do quantil 0.1 (Tabela 3).

Variação do IPC por vetor em função da distância da borda

De forma geral, o valor de IPC de todos os vetores diminuiu com a distância de

borda, apesar de apresentarem algumas notáveis diferenças (Fig. 5, Tabela 3). O IPC dos

vetores população humana, infraestrutura e pastoreio decaíram exponencialmente com a

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distância da borda (Fig. 5b-d, Tabela 3). Considerando o vetor população humana, nos

quantis inferior e intermediário a assíntota foi alcançada a aproximadamente 5 km da

borda, enquanto que no quantil superior a assíntota ocorreu a distâncias superiores a 10

km da borda. Para o vetor infraestrutura, no quantil inferior a assíntota ocorreu a cerca de

7,5 km da borda, no quantil intermediário a distâncias superiores a 10 km e no quantil

superior a inflexão da curva não ficou evidenciada. Para o vetor pastoreio, o IPC caiu

drasticamente com a distância da borda tanto para o quantil superior quanto para a

regressão da tendência central. A regressão do quantil inferior, no entanto, foi não

significativa e próxima de zero devido a uma grande frequência de pontos sem a presença

de gado. O padrão observado para a exploração de madeira não se enquadrou ao modelo

exponencial, sendo melhor descrito por uma equação quadrática. Enquanto o quantil

superior demonstra um claro decaimento não linear, esta tendência tende a desaparecer

no quantil 0.5 chegando a apresentar um padrão ligeiramente crescente no quantil inferior,

conforme indicado pela nuvem de pontos constituído por baixos valores de IPC (Fig 5e,

Tabela 4). Por fim, a densidade de fogo foi zero ou próxima de zero para um grande

número dos pontos selecionados, impedindo ajustes adequados tanto para o quartil

inferior quanto para a tendência central. Modelos lineares para os quantis 90 e 99%

indicam uma relação negativa entre o IPC do vetor fogo e a distância de borda (Fig 5f,

Tabela 4).

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Tabela 2 – Regressões quantílicas quadráticas da relação entre a área dos fragmentos e a média e o desvio padrão do Índice de Perturbação Crônica

Potencial (IPC) por fragmento para o bioma Caatinga. Para todos os coeficientes (± EP) são fornecidos os valores de t e sua respectiva probabilidade P.

Quantil Intercepto t P x t P x2 t P

Media

0,9 0,54614 ± 0,00135 405,902 <0,001 0,00900 ± 0,00142 6,351 <0,001 -0,00331 ± 0,00026 -12,850 <0,001

0,5 0,45425 ± 0,00120 377,618 <0,001 -0,00192 ± 0,00155 -1,240 0,215 0,00044 ± 0,00040 1,084 0,278

0,1 0,34414 ± 0,00199 173,202 <0,001 -0.00472 ± 0.00265 -1,783 0,075 0,00037 ± 0,00074 0,504 0.614

DP

0,9 0,00052 ± 0,00005 10,626 <0,001 0,00290 ± 0,00021 13,998 <0,001 0,00267 ± 0,00006 48,455 <0,001

0,5 0,00106 ± 0,00002 56,102 <0,001 -0,00188 ± 0,00005 -34,275 <0,001 0,00235 ± 0,00003 84,754 <0,001

0,1 0,00007 ± 0,00001 7,678 <0,001 -0,00059 ± 0,00003 -19,117 <0,001 0,00112 ± 0,00002 55,263 <0,001

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Figura 5. Regressão quantílica entre a distância da borda de 6.820 pontos e seus respectivos valores de IPC obtidos

para A) superfície unificada de perturbação, B) vetor de população humana, C) vetor de infraestrutura, D) vetor de

pastoreio, E) vetor de exploração madeireira e F) vetor de fogo. As regressões foram realizadas paras os quantis 10%,

50% e 90% e, para o vetor fogo (F) foi acrescentado o quantil 99%.

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Tabela 3 – Resultados das regressões quantílicas exponenciais assintóticas do efeito de borda nos fragmentos de Caatinga sobre o IPC gerado para todo o conjunto de

variáveis e decomposto por vetores. Para todos os parâmetros (a, b e c) é fornecido o valor do erro padrão (parâmetro ± erro padrão), o valor de t (t) e sua probabilidade (p).

Quantil a t p b t p c t p

Distancia da borda x IPC (todas variáveis)

0,9 0,16666 ± 0,02269 7.344 P<0,001 0,56633 ± 0,00496 114,224 P<0,001 -8,96578 ± 0,09823 -91.274 P<0,001

0,5 0,16238 ± 0,00800 20,308 P<0,001 0,47390 ± 0,00400 118,462 P<0,001 -8,34945 ± 0,06083 -137,267 P<0,001

0,1 0,13454 ± 0,00340 39,616 P<0,001 0,34393 ± 0,00533 64,535 P<0,001 -7,93800 ± 0,06342 -125,173 P<0,001

Distancia da borda x IPC (vetor humano)

0,9 0,22408 ± 0,00693 32,357 P<0,001 0,45329 ± 0,00541 83,792 P<0,001 -8,5011 ± 0,08677 -97,977 P<0,001

0,5 0,22313 ± 0,00202 110,364 P<0,001 0,33711 ± 0,00384 87,861 P<0,001 -7,95476 ± 0,06858 -115,997 P<0,001

0,1 0,16764 ± 0,00207 81,114 P<0,001 0,27367 ± 0,0031 88,391 P<0,001 -7,78991 ± 0,08167 -95,381 P<0,001

Distancia da borda x IPC (vetor infraestrutura)

0,9 0,01071 ± 0,08899 0,120 0,90425 0,60211 ± 0,00461 130,731 P<0,001 -9,39562 ± 0,19883 -47,254 P<0,001

0,5 0,06977 ± 0,01517 4,599 P<0,001 0,49281 ± 0,00714 69,051 P<0,001 -8,25658 ± 0,08063 -102,406 P<0,001

0,1 -0,03378 ± 0,00937 -3,604 0,00032 0,24751 ± 0,00931 26,573 P<0,001 -8,1839 ± 0,11876 -68,909 P<0,001

Distancia da borda x IPC (vetor Pastoreio)

0,9 -0,18749 ± 0,0614 -3,054 0,00227 0,26484 ± 0,00541 48,991 P<0,001 -9,58156 ± 0,21837 -43,877 P<0,001

0,5 -0,00575 ± 0,00107 -5,386 P<0,001 0,16117 ± 0,00461 34,987 P<0,001 -7,81591 ± 0,05033 -155,299 P<0,001

0,1 0,00018 ± 0,00004 4,697 P<0,001 0,00378 ± 0,02044 0,185 0,8535 -4,20039 ± 3,91555 -1,073 0,28342

Tabela 4 – Resultados das regressões quantílicas quadráticas e lineares do efeito de borda nos fragmentos de Caatinga sobre o IPC dos vetores fogo e exploração madeireira.

Para todos os interceptos e coeficientes é fornecido o valor do erro padrão (coeficiente± erro padrão), o valor de t (t) e sua probabilidade (p).

Quantil intercepto t p coeficiente X t p coeficiente I(x^2) t p

Distancia da borda x IPC (vetor Exploração Madeireira) - quadrática

0,9 0,987 ± 0,00409 241,19322 P<0,001 -0,00004 ± 0 -21,28022 P<0,001 0 ± 0 9,65134 P<0,001

0,5 0,84785 ± 0,00387 218,81084 P<0,001 -0,00004 ± 0 -24,3198 P<0,001 0 ± 0 14,76249 P<0,001

0,1 0,54474 ± 0,01249 43,61563 P<0,001 -0,00001 ± 0 -2,55861 0,01053 0 ± 0 2,52342 0,01164

Distancia da borda x IPC (vetor Fogo) - linear

0,99 0,06831 ± 0,00297 23,008 P<0,001 0 ± 0 -4,484 P<0,001

0,9 0,20953 ± 0,01096 19,116 P<0,001 -0,00001 ± 0 -5,238 P<0,001

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Discussão

Contexto espacial como determinante da perturbação crônica dos fragmentos

Embora existam estudos que caracterizem genericamente as alterações antrópicas

em nível global (Hannah et al. 1994, Sanderson et al. 2002, Venter et al. 2016), este é o

primeiro trabalho que qualifica todo o universo de fragmentos de vegetação nativa de uma

região em função da intensidade da perturbação antrópica crônica a que eles estão

potencialmente submetidos. A abordagem aqui proposta, que integra inúmeras fontes de

antropização, permite uma avaliação rápida e de baixo custo do estado de conservação

dos habitats remanescentes. Os resultados aqui apresentados indicam que apesar da

metade da área original do semiárido brasileiro possuir cobertura vegetal, todos os

fragmentos remanescentes estão, em algum grau, potencialmente perturbados pela ação

humana. A análise permite identificar, no entanto, áreas relativamente íntegras que

possuem um grande potencial para conservação da biodiversidade.

O reconhecimento remoto de um gradiente no grau de perturbação crônica dos

fragmentos permite evidenciar a heterogeneidade entre os remanescentes de habitat e

auxilia o entendimento dos padrões regionais variegados de alteração na paisagem, que

vão além da clássica classificação binária de habitat e não-habitat (McIntyre & Hobbs

1999). Na Caatinga, há uma clara variação no padrão de perturbação potencial dos

fragmentos em função de sua localização no espaço. Enquanto os fragmentos localizados

a oeste e em parte das porções central e sul da Caatinga encontram-se menos perturbados,

há um aumento na intensidade de perturbação em direção ao norte e leste do bioma. Este

padrão vem sendo claramente produzido pelo histórico de ocupação e uso da terra (Boris

1995). Na porção setentrional do bioma, por exemplo, encontra-se a cidade de Fortaleza,

a mais rica e mais populosa capital estadual localizada no bioma. Esta metrópole e as

cidades marginais representam fortes atratores de perturbação crônica, irradiando seus

efeitos para as porções territoriais adjacentes. O mesmo efeito parece ocorrer nos

arredores do município de Teresina, capital do Piauí, que embora esteja localizada fora

do bioma, encontra-se bem próxima de seus limites, no Noroeste na Caatinga. Em grande

parte da porção ocidental, no entanto, a baixa incidência da maioria dos vetores de

perturbação, condicionaram a persistência de fragmentos com níveis intermediários a

baixos de perturbação potencial. Essa heterogeneidade espacial na distribuição da

intensidade de perturbação dos fragmentos de Caatinga mostra a necessidade de adoção

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de estratégias de conservação mais reativas ao norte e leste do bioma e mais proativas ao

oeste e algumas porções centrais (Brooks et al. 2006).

O contexto espacial que se encontra um fragmento de habitat é de grande

importância na definição do seu grau de perturbação antrópica (Sanderson et al. 2002,

Venter et al. 2016). Nossos resultados sugerem que, na ausência de manejo ou proteção

diferenciada, o contexto é uma das forças mais importantes na definição da intensidade

de perturbação dos fragmentos de Caatinga. Os fragmentos com menos de 1.000 ha, por

exemplo, estão inseridos nos mais diversos contextos de antropização de forma a

apresentar um amplo espectro de IPC, desde valores muito baixos quando inseridos em

regiões menos antropizadas a valores muito altos quando inseridos em regiões mais

perturbadas. Embora a maioria dos grandes fragmentos (maiores de 50 mil ha) estejam

localizados nas porções menos perturbadas do bioma, ainda existem alguns

representantes de grande tamanho nas regiões mais perturbadas. Nestes casos, nem

mesmo o tamanho elevado dos fragmentos foi suficientemente importante para causar

reduções expressivas na intensidade de perturbação média, evidenciando o forte efeito do

contexto no seu estado de conservação. No entanto, a medida em que os fragmentos

aumentam de tamanho, a heterogeneidade de sua perturbação interna se eleva,

evidenciando que há frações de área dentro destes remanescentes menos susceptíveis às

fontes de perturbação. Estas frações equivalem a porções de habitat nuclear (ou de

interior) que estão menos expostas aos efeitos dos vetores de perturbação.

Importância do efeito de borda na intensidade da perturbação crônica

A proximidade da borda tem sido associada com o aumento dos efeitos da

perturbação antrópica crônica em remanescentes de habitat (Muposhi et al. 2016, Zhao et

al. 2017). Efeitos importantes foram verificados quanto ao aumento da caça, utilização

pelo gado, invasão por plantas exóticas, exploração de recursos naturais e na intensidade

de fogo, com resultados negativos importantes na estrutura e diversidade da vegetação e

fauna nativas e no funcionamento do ecossistema (Woodroffe & Ginsberg 1998, Hobbs

2001, Cochrane & Laurance 2002, Gandiwa et al. 2013, Muposhi et al. 2016). De fato,

um estudo recente sugere que efeitos de borda mais severos ocorrem quando as bordas

são mantidas por intervenções antrópicas crônicas, em contraste com bordas mantidas por

processos naturais ou por intervenções humanas esporádicas (Magura et al. 2017).

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Este trabalho permitiu evidenciar, em larga escala, o efeito de borda na

perturbação antrópica crônica na Caatinga. O decaimento exponencial do índice de

perturbação crônica da Caatinga em função da distância da borda, tendendo a uma

estabilização após cerca de 5 km, indica que a maior parte do bioma está sob forte

influência de efeito de borda. De fato, considerando toda a cobertura vegetal do bioma,

apenas 7% encontra-se a mais de 2,5 km da borda e 1% encontra-se a mais de 5 km

(Antongiovanni et al., em preparação, Capítulo 1). Pode-se verificar, no entanto, uma

grande variação de IPC para uma mesma distância de borda, principalmente para as

classes de distâncias menores, refletindo a importância do contexto regional dentro do

qual os fragmentos estão inseridos. Para aqueles fragmentos localizados em contextos de

perturbação mais brandos (na sua maioria, mais fortemente representados pelo quantil

inferior da regressão) o decaimento do efeito de borda é mais acentuado, enquanto que

para os fragmentos localizados em contextos de maior perturbação (mais fortemente

representados pelo quantil superior da regressão), o decaimento é menos pronunciado e o

efeito de borda parece se estender para distâncias maiores. A grande exposição das áreas

de vegetação remanescente de Caatinga aos efeitos de borda encontra respaldo em

observações empíricas realizadas no semiárido africano, onde, em alguns casos, foram

evidenciados efeitos ainda mais profundos do que aqueles sugeridos neste trabalho

(Gandiwa et al. 2011, 2013, Muposhi et al. 2016).

Todos os pontos de vegetação localizados a distâncias superiores a 5 km da borda,

estavam inseridos em grandes fragmentos, com área superior a 50 mil ha. Embora a área

dos fragmentos não afete a perturbação crônica média dos remanescentes, a análise da

heterogeneidade dos fragmentos (medida pelo desvio padrão do IPC dos fragmentos) e a

análise do efeito de borda reforçam que a preservação de porções de habitat de interior

(ou potencialmente pouco perturbados) necessariamente passam por estratégias que

visem a manutenção e conservação dos grandes fragmentos.

Vetores de perturbação antrópica

Estudos empíricos que mediram os efeitos das perturbações antrópicas em

ambientes terrestres evidenciaram a importância de vários vetores analisados aqui como

bons indicadores da perturbação crônica (Hobbs 2001, Martorell & Peters 2005,

Vasconcellos et al. 2010, Gandiwa et al. 2011, Leal et al. 2014, Ribeiro et al. 2015, 2016,

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Ribeiro-Neto et al. 2016). No entanto, poucos forneceram evidências sobre a

profundidade do efeito de borda resultante de tais vetores (Gandiwa et al. 2011, 2013,

Muposhi et al. 2016). Através da abordagem remota proposta aqui, foi possível evidenciar

a intensidade e profundidade do efeito de borda para múltiplos vetores simultaneamente

em uma larga escala geográfica.

Os vetores de população humana, infraestrutura e pastoreio foram muito

importantes para geração do padrão de efeito de borda observado na Caatinga. De fato,

estes vetores são reconhecidos mundialmente por provocarem perturbações agudas na

paisagem que acabam resultando em perda de habitat (Hecht 1993, Steininger et al. 2001,

Laurance et al. 2002). Neste trabalho, ficou demonstrado que estes mesmos vetores tem

um grande potencial de provocar alterações substanciais dentro dos remanescentes à

grandes profundidades da borda. De um modo geral, em contextos de perturbação baixa

e intermediária (melhor representados pelos quantis inferior e central das regressões,

respectivamente), os efeitos da perturbação antrópica parecem ser sentidos em

profundidades entre 5 e 10 km, enquanto que, em contextos mais perturbados (melhor

representados pelo quantil superior das regressões), os efeitos de borda potencialmente

atingem profundidades muito maiores.

Uma maior densidade humana representa, obviamente, uma maior pressão pela

utilização dos recursos naturais (Laurance et al. 2002, Ribeiro et al. 2015).

Tradicionalmente a população rural da Caatinga depende total ou parcialmente dos

recursos naturais existentes na região. Até recentemente, a construção civil era baseada

fundamentalmente em madeira nativa. A madeira explorada para uso doméstico configura

entre as principais fontes energéticas no ambiente rural, sendo responsável por

aproximadamente 30% do volume de carvão e lenha extraído da Caatinga anualmente

(Gariglio et al. 2010). Nas últimas décadas o gás de botijão se tornou mais frequente nos

lares rurais, mas devido ao seu elevado preço, a madeira continua sendo uma importante

fonte primária de energia (Ramos & Albuquerque 2012). A população rural da Caatinga

tradicionalmente utiliza animais silvestres como uma das principais fontes proteicas

(Barboza et al. 2016). Apesar de leis que proíbem a caça, este tipo de atividade realizada

sem um manejo adequado continua a ser uma atividade importante na região,

comprometendo as populações dos grandes e médios mamíferos e de diversas espécies

de aves (Alves et al. 2009).

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As regiões com as maiores concentrações humanas também são aquelas onde há

uma maior incidência de infraestrutura (Glover & Simon 1975) sendo que, de um modo

geral, estes dois vetores se retroalimentam positivamente, agravando a situação de

vulnerabilidade ambiental das regiões onde se concentram. Sem estratégias de

governança e manejo adequadas o impacto antrópico invariavelmente é estendido para as

áreas adjacentes, levando inclusive a supressão definitiva da vegetação remanescente

(Soares‐Filho et al. 2004). As estradas, por exemplo, têm um importante papel de

propagação do desmatamento e das perturbações antrópicas crônicas, uma vez que criam

novas bordas em áreas de habitat originalmente contínuas, facilitando o acesso e a

colonização humana nessas áreas (Laurance et al. 2009). Na Caatinga, há indicações que

as estradas e cidades têm efeito no desmatamento de áreas localizadas num raio de até 15

km de distância (Santos & Tabarelli 2002), efeito este que deve estar relacionado com

perturbações antropogênicas crônica.

A pecuária representa uma das principais fontes de renda e subsistência para os

habitantes da Caatinga. Diferentemente do que ocorre na Amazônia (Hecht 1993), a

pecuária na Caatinga não envolve necessariamente o desmatamento de áreas para o

estabelecimento do gado. Além disto, ao contrário de outros biomas como o Pampa e o

Cerrado, muitas propriedades não são delimitadas por cerca. Assim, na Caatinga, o gado

é criado extensivamente, utilizando com frequência a vegetação nativa da região como

base de sua alimentação (Costa et al. 2008). Como resultado, o sobrepastejo e o pisoteio

podem gerar importantes impactos na sobrevivência e estabelecimento das plântulas, na

estrutura da vegetação e consequentemente na diversidade e composição da comunidade

vegetal (Marinho et al. 2016, Tavares et al. 2016).

A exploração madeireira associada ao corte para a produção de combustível para

fornos de indústrias de cerâmica e gesso é uma importante atividade econômica da região

e vem sendo desenvolvida há muitas décadas. Esta indústria, de natureza itinerante, é

praticada de forma intensiva removendo preferencialmente as árvores de maior porte sem

qualquer forma de manejo. Estima-se que, no Nordeste brasileiro, mais de 90% da

exploração comercial e industrial de madeira como biocombustível ocorre de forma

ilegal, especialmente da Caatinga (Gariglio et al. 2010), conferindo a esse tipo de

atividade o protagonismo na redução expressiva das formações arbóreas neste bioma. O

Ministério do Meio Ambiente indica que polos gesseiros podem impactar áreas

localizadas em um raio de 300 km desde as instalações do empreendimento.

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51

O fogo é um importante componente da perturbação crônica, ocorrendo com

maior relevância no noroeste do bioma. Na Caatinga, os focos de calor estão, em grande

parte, associados ao corte e queima da vegetação para atividades agrícolas de pequeno

porte, mas também para abertura da vegetação para pecuária. Em locais aonde o impacto

antrópico pelo fogo é extremamente alto (tau = 0.99 e 0.90) pode-se verificar um suave

efeito de borda. Em locais aonde o fogo é mais esporádico, a densidade de focos de calor

não está associada com a distância de borda. Estes fogos esporádicos frequentemente

ocorrem perto de trilhas de acesso que não foram mapeadas neste trabalho, levando assim

a uma subestimativa da importância do acesso na distribuição deste vetor de perturbação

(Sumarga 2017, Ye et al. 2017).

Implicações para a conservação

Este trabalho indica que apesar da Caatinga ainda possuir cerca de 50% de sua

cobertura vegetal, a maior parte dos seus remanescentes já sofreu grandes alterações

através de perturbações antrópicas crônicas. Este resultado questiona análises prévias de

que a Caatinga possui excedentes ambientais quando comparado com outros biomas

(Soares-Filho et al. 2014). De fato, uma boa parte da Caatinga encontra-se extremamente

ameaçada e a sua diversidade e recursos naturais têm sido erodidos por processos menos

evidentes do que a perda de habitat. A situação se agrava quando consideramos que

apenas 1,16% do bioma está protegido em Unidades de Conservação de Proteção Integral

e que 85% da área em Unidades de Conservação de Uso Sustentável são Áreas de

Proteção Ambiental (APA) que, de um modo geral, têm se mostrado ineficientes para a

conservação da biodiversidade e no controle de atividades que geram a degradação

ambiental (Fonseca et al. 2010).

As melhores oportunidades para a criação de Unidades de Conservação, segundo

esta análise de perturbação antrópica, encontram-se nas regiões menos perturbadas do

oeste e parte da porção central e sul do bioma, onde ainda há fragmentos de grande

tamanho com maiores concentrações de áreas de habitat de interior. Entre essas

oportunidades está o maior fragmento de Caatinga, com 986 mil ha, localizado no limite

oeste, ao sul do rio São Francisco, numa área conhecida na Serra do Boqueirão da Onça.

Essa área foi reconhecida como de prioridade Extremamente Alta para a conservação do

bioma (MMA 2016) e se apresenta potencialmente pouco perturbada pela ocupação

Page 62: FRAGMENTAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DA CAATINGA · Caatinga, baseado em conectividade da paisagem e na riqueza de espécies de plantas ameaçadas e (4) comparar a perda

52

humana, por obras de infraestrutura, atividades produtivas e uso de fogo. Além desta área,

existem outros 38 fragmentos que representam boas oportunidades de conservação por

apresentarem mais de 50 mil ha, por abrigarem porções de área a distâncias superiores a

5 km da borda (i.e. potencialmente com habitat de interior) e por incidirem total ou

parcialmente em áreas reconhecidas como prioritárias para conservação do bioma

Caatinga (MMA 2016). Essas sobreposições espaciais devem ser levadas em

consideração para aumentar a eficiência, diminuir os conflitos e reduzir os custos das

ações de conservação (Naidoo et al. 2006).

Nas porções norte e leste do bioma, especialmente nos estados do Ceará, Rio

Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, aonde as perturbações são

mais severas, há um conjunto de fragmentos com valores de perturbação abaixo da média

que se encontram sobrepostos a bacias definidas com prioridade extremamente alta para

a restauração da Caatinga (ver Capítulo 3). Alguns desses fragmentos, especialmente

aqueles de maior tamanho e com os menores valores de perturbação, podem auxiliar as

estratégias de restauração que visem a recuperação de espécies ameaçadas de extinção e

da conectividade da paisagem, funcionando como fontes de propágulos potencialmente

mais efetivas do que seus vizinhos mais perturbados. Avaliações como essas, no entanto,

devem ser realizadas caso a caso, considerando informações complementares de campo.

Deve-se salientar que este trabalho estimou a perturbação crônica potencial dos

fragmentos de Caatinga através da análise de 14 variáveis primárias, mas que práticas de

uso do solo e de manejo locais têm o poder de intensificar ou reduzir os níveis de

perturbação. No entanto, ao reconhecer os principais vetores de antropização de cada uma

das regiões da Caatinga, esta análise serve para guiar ações de manejo, monitoramento e

conservação que possam amortecer os efeitos das perturbações.

Apesar do índice de perturbação crônica (IPC), proposto aqui, representar uma

medida da perturbação potencial dos remanescentes, a alta densidade demográfica da

Caatinga (Medeiros et al. 2012), a grande dependência que uma parcela representativa

dessa população tem dos recursos naturais (Gariglio et al. 2010), o alto grau de

acessibilidade do bioma (Antongiovanni et al., em preparação) e a ausência generalizada

de manejo sustentável dos remanescentes (Leal et al. 2005) sugerem a existência de uma

alta correlação entre o distúrbio potencial e o distúrbio real da Caatinga. Futuros estudos

relacionando dados de campo com as estimativas obtidas aqui, podem fornecer

Page 63: FRAGMENTAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DA CAATINGA · Caatinga, baseado em conectividade da paisagem e na riqueza de espécies de plantas ameaçadas e (4) comparar a perda

53

informações importantes sobre a aplicabilidade desta avaliação remota na compreensão

das respostas da biodiversidade, estrutura e funcionamento dos ecossistemas às

perturbações crônicas.

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59

Capítulo 3 - Áreas prioritárias para restauração da Caatinga

Marina Antongiovanni, Eduardo M. Venticinque, Marcelo Matsumoto, Jean Paul

Metzger, Leandro R. Tambosi & Carlos Roberto Fonseca

Introdução

A restauração de habitat tem sido de grande importância na recuperação de

populações, processos e serviços em ecossistemas florestais fragmentados (Benayas et al.

2009; Brancalion et al. 2013). Entre os métodos utilizados recentemente para maximizar

o sucesso dessas estratégias, aqueles que visam o incremento da conectividade da

paisagem têm indicado resultados promissores tanto na redução dos custos quanto no

aumento da eficiência das ações de restauração (Donald & Evans 2006; Tambosi et al.

2013). Ações de restauração que visam o incremento da conectividade da paisagem

influenciam positivamente a manutenção e recuperação de populações não apenas por

aumentar a área de habitat efetivo na paisagem (Rudnick et al. 2012), mas também por

promover alterações gradativas nas áreas de entorno (ou matriz) que favorecem ligações

estruturais e funcionais entre as manchas de habitat remanescentes (Baudry et al. 2003;

Doerr et al. 2011). Como consequência disso, a matriz em restauração se torna mais

permeável, facilitando os deslocamentos e dispersão das espécies e potencializando os

efeitos da restauração no tempo e no espaço (Farley et al. 1994; Silva et al. 1996;

Antongiovanni & Metzger 2005). No entanto, o sucesso das ações de restauração

baseadas na conectividade depende de planejamentos em escalas mais amplas que

permitam avaliar quais áreas responderão mais eficientemente às intervenções, e que,

portanto, apresentam as maiores probabilidades de irradiar os benefícios dessas ações

para o sistema como um todo (Crouzeilles & Curran 2016).

A seleção de áreas prioritárias para restauração tem despertado o interesse tanto

dos conservacionistas quanto dos tomadores de decisão (Huxel & Hastings 1999). A

utilização de critérios ecológicos e espaciais explícitos tem o potencial de maximizar o

sucesso das intervenções e, além de mitigar e reverter processos locais, afetar

efetivamente os processos regionais associados à perda de espécies ameaçadas de

extinção. Enquanto que escolhas idiossincráticas de áreas a serem restauradas levam a

soluções locais e pouco efetivas, gerando, por exemplo, retardo no reestabelecimento das

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60

populações (Tilman et al. 1997), escolhas cuidadosas baseadas em modelos ecológicos

espacialmente explícitos representam uma ferramenta útil para guiar políticas públicas e

investimentos em conservação de espécies e recuperação de ecossistemas degradados

(Huxel & Hastings 1999).

Um dos critérios centrais utilizados recentemente nos exercícios de priorização é

a resiliência das paisagens, definida como a capacidade de um sistema se recuperar de

perdas biológicas, após uma perturbação degradativa, como o desmatamento (Suding et

al. 2004). A princípio, as áreas prioritárias para restauração devem ser aquelas cuja

resiliência é intermediária, considerando que áreas com resiliência alta possuem a

capacidade de se recuperar através de processos naturais, sem a necessidade de

intervenção humana, e áreas com resiliência baixa possuem menores chances de sucesso

de recuperação e exigem investimentos altos ou mesmo proibitivos (Bottrill et al. 2008).

Na Mata Atlântica brasileira e no Cerrado, as áreas prioritárias para restauração foram

estabelecidas a partir das paisagens de resiliência intermediária, definidas por valores

intermediários da combinação entre porcentagem de habitat e conectividade em cada

paisagem (Tambosi et al. 2013, Stefanes et al. 2016).

A quantidade de habitat e a conectividade são atributos determinantes para a

manutenção de espécies em paisagens fragmentadas (Ewers & Didham 2006, Fisher &

Lindenmayer 2007). No entanto, a distribuição atual das espécies nessas paisagens pode

ser reflexo de dinâmicas pretéritas (Metzger et al. 2009), exigindo estratégias de

priorização que vão além da análise da estrutura atual da paisagem (Rappaport et al.

2015). Neste sentido, informações sobre a distribuição espacial de espécies ameaçadas de

extinção podem auxiliar as decisões de quais áreas devem ser restauradas. Como a

distribuição da riqueza dessas espécies é heterogênea no espaço, algumas paisagens são

extremamente ricas em espécies ameaçadas, enquanto outras possuem nenhuma ou

poucas espécies em risco de extinção. Quando os recursos disponíveis para restauração

são limitantes e diversas paisagens apresentam características similares de resiliência e

conectividade, a priorização pode levar em conta a riqueza local de espécies ameaçadas.

Claramente, paisagens com alta conectividade e alta riqueza de espécies ameaçadas

devem ser consideradas como mais prioritárias para restauração do que aquelas paisagens

que contribuem pouco para a conectividade e possuem nenhuma ou poucas espécies

ameaçadas. Como muitas espécies ameaçadas apresentam populações pequenas e

distribuição restrita, ações diretas de restauração que venham a aumentar localmente as

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61

populações, facilitar o fluxo gênico entre indivíduos isolados ou reestabelecer as

condições do habitat podem contribuir decisivamente para a recuperação e manutenção

da biodiversidade (Rambaldi et al. 2010; Kleiman 1989).

No Brasil, ações governamentais que buscam identificar as áreas prioritárias para

a conservação da biodiversidade têm reconhecido a importância tanto de áreas indicadas

para a criação de Unidades de Conservação quanto das áreas indicadas para a restauração

(MMA 2016). Essa complementariedade de ações visa beneficiar espécies apontadas

como alvos de conservação que se encontram em diferentes contextos espaciais de

vulnerabilidade. Em escalas locais, espécies cuja área de ocorrência incide sobre

paisagens mais conservadas, com alta resiliência, frequentemente são mais beneficiadas

por ações de criação de Unidades de Conservação. Por outro lado, as espécies cuja área

de distribuição incide majoritariamente sobre regiões menos conservadas são aquelas que

se beneficiam mais diretamente de ações de restauração. Em escalas mais amplas, a

combinação dessas ações tende a favorecer os dois conjuntos de espécies, promovendo a

manutenção da diversidade regional. A metodologia proposta neste trabalho apresenta

soluções que favorecem tanto a recuperação daquelas espécies ameaçadas de extinção

com distribuição mais restrita a áreas com grau intermediário de alteração (áreas com

resiliência intermediária), quanto a manutenção da biodiversidade regional - por ressaltar

a importância das paisagens que conectam área mais conservadas (de alta resiliência).

O objetivo deste trabalho foi determinar as áreas prioritárias para a restauração da

Caatinga, um bioma semiárido brasileiro que já perdeu 45,62% de sua cobertura original

(MMA 2011) e que apresenta 350 espécies vegetais ameaçadas de extinção (Martinelli &

Moraes 2013). O exercício de priorização das paisagens da Caatinga, definidas por bacias

hidrográficas, levou em conta dois critérios complementares: (1) uma análise da

importância relativa das paisagens para a conectividade do sistema e (2) uma análise da

importância das paisagens para a manutenção da riqueza das espécies de plantas

ameaçadas de extinção. Estes dois critérios foram integrados de modo a definir três

classes de priorização das paisagens para empreendimentos de restauração na Caatinga

(Fig. 1). Além disto, estimou-se o quanto as áreas apontadas como prioritárias para

restauração contribuem diretamente para a conservação das espécies de plantas

ameaçadas de extinção. Os resultados desde estudo são de grande relevância para

tomadores de decisão das diferentes esferas de governo, iniciativa privada e terceiro setor,

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62

apontando as melhores oportunidades para a restauração, de forma a otimizar o uso de

recursos e contribuir para a conservação da biodiversidade.

Métodos

Área de Estudo

O bioma Caatinga distribui-se por aproximadamente 826 mil km2 do Nordeste

brasileiro. Ocorre em uma região semiárida definida por uma baixa pluviosidade (300 –

1000 mm.ano-1) e uma alta sazonalidade, estando as chuvas concentradas em poucos

meses e de maneira pouco previsível (Sampaio 1995). A taxa anual de desmatamento da

Caatinga ultrapassa 2.700 km2/ano (MMA 2011) e uma porção substancial da vegetação

remanescente tem sofrido com distúrbios antropogênicos crônicos (Ribeiro et al. 2015,

ver Capítulo 2). Entre os principais agentes de desmatamento estão a pecuária extensiva,

a agricultura baseada no corte e queima, a extração de madeira para a construção civil, a

produção de lenha e carvão (Andrade et al. 2005; Marinho et al. 2016). Além disto, a

fauna tem sido bastante ameaçada pela caça de subsistência e pelo comércio ilegal (Alves

et al. 2009). A biodiversidade da Caatinga pode ser considerada alta quando comparada

a outras regiões bioclimaticamente semelhantes do planeta (Leal et al. 2003). Por

exemplo, 4967 espécies vegetais e 510 espécies de aves foram registradas na Caatinga

(Overbeck et al. 2015), apesar de ser um dos biomas brasileiros menos estudados (Santos

et al. 2011). Atualmente, o Ministério do Meio Ambiente reconhece 691 alvos de

conservação da Caatinga, incluindo 350 espécies vegetais ameaçadas de extinção (MMA

2016). Em termos de conservação, apenas 1% da área original da Caatinga está sob a

proteção de Unidades de Conservação de Proteção Integral e 6,4% em Unidades de

Conservação de Uso Sustentável (MMA 2011). Desta forma, grande parte se sua

biodiversidade e de seus serviços ecossistêmicos estão sob grande ameaça (Manhães et

al. 2016).

Remanescentes de Caatinga

Neste trabalho foram utilizados dados dos arquivos digitais georreferenciados

(shapefiles) dos remanescentes e do desmatamento acumulado até 2009, disponibilizados,

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em 2014, pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por

Satélite (PMDBBS), do Ministério de Meio Ambiente (MMA) brasileiro. Todos os

fragmentos com área igual ou inferior a 1 ha foram considerados como ruídos da

classificação e, portanto, foram excluídos das análises.

Embora dados utilizados representem a informação mais atual disponível para o

bioma, muitas áreas desmatadas pela construção de estradas não foram consideradas

como desmatamentos no shapefile de remanescentes. Para sanar esse problema, usando o

shapefile de estradas (IBGE 2010) foi criado um buffer de 220 metros no entorno das

estradas pavimentadas (20 metros da estrada propriamente dita mais 100 metros para cada

lado da estrada) e de 120 metros nas estradas não pavimentadas (20 metros da estrada

propriamente dita mais 50 metros para cada lado da estrada). Toda a área inserida dentro

desses buffers foi considerada como desmatada, sendo, posteriormente, subtraída do

shapefile de remanescentes obtido originalmente do PMDBBS. Essa subtração foi

realizada no programa ArcGis 10.1 e o shapefile resultante corresponde ao arquivo de

remanescentes de Caatinga utilizado neste trabalho.

Definição das paisagens focais

Trechos de bacia hidrográfica de tamanho médio de 8219 ha foram utilizados

como paisagens focais por constituírem unidades naturais de planejamento e gestão

territorial (i.e., comitês de bacias). Além disto, ações de restauração feitas ao nível de

bacias devem potencialmente ter mais sucesso na promoção e restabelecimento de

serviços ambientais importantes, como a manutenção de recursos hídricos.

Os trechos de bacias foram delimitados no módulo ArcHydro 2.0 do ArcGis®

10.1 a partir da imagem SRTM (versão 4 -http://srtm.csi.cgiar.org/), recondicionada pela

drenagem digitalizada na escala 1:250.000 do IBGE. Em alguns casos, são necessários

mais de um trecho de bacia para obter o contorno completo de uma bacia hidrográfica, no

entanto, por convenção, foi utilizada a denominação de bacia sem distinção entre uma

bacia hidrográfica completa e um trecho menor. O limite total das bacias hidrográficas

excede o limite do Bioma Caatinga o que justifica o fato de, em alguns pontos do texto, a

área total apresentada para as bacias da Caatinga ser maior do que a área do bioma

propriamente dito.

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64

Análise de conectividade das bacias

A análise de conectividade foi pautada na abordagem da teoria dos grafos, onde

um grafo é composto por um conjunto de nós e as ligações que os conectam (Bunn et al.

2000; Urban & Keitt, 2001). Nesta análise, cada bacia (ou paisagem focal) foi considerada

como um grafo independente, onde as manchas de habitat são os nós e a ligação entre

duas manchas indicam que ambas estão funcionalmente conectadas e, portanto, há

movimento de indivíduos entre elas.

A conectividade funcional de cada bacia foi analisada individualmente a partir do

cálculo do índice de probabilidade de conectividade (PC) (Saura & Pascoal-Hortal 2007).

Este é um índice de disponibilidade e acessibilidade de habitat que mede a probabilidade

de dois organismos colocados aleatoriamente em uma paisagem caírem dentro de

manchas de habitat que estejam funcionalmente conectadas (Saura & Pascoal-Hortal

2007; Bodin & Saura 2010). O índice PC considera o produto máximo das probabilidades

de deslocamento entre uma mancha origem e uma mancha destino, analisando todos os

possíveis caminhos de conexão entre elas, incluindo aqueles que passam por manchas

intermediárias (stepping stones). Os valores de PC variam de 0 a 1 e a fórmula

correspondente para o cálculo do índice é:

Onde:

n = número total de manchas na paisagem

ai e aj = são atributos das manchas i e j (neste trabalho o atributo é a área das

manchas)

p*ij = é a probabilidade de uma espécies se mover da mancha i para j, considerando

manchas intermediárias que possam aumentar as chances de deslocamento

AL = área total da paisagem

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65

A probabilidade de deslocamento direto entre duas manchas quaisquer é função

exponencial inversa da distância de deslocamento (e.g. Urban & Keitt 2001; Saura &

Pascual-Hortal 2007). Neste trabalho, assume-se que 100 metros de isolamento são

necessários para diminuir a chance de deslocamento em 50%, embora não existam

trabalhos empíricos na Caatinga que ajudem nesta parametrização. Assume-se, no

entanto, que a fauna da Caatinga seja relativamente mais tolerante aos efeitos de matrizes

abertas e, portanto, tenham uma maior capacidade de deslocamento nestas áreas do que a

fauna da Mata Atlântica - onde 50 metros de isolamento entre manchas foram

considerados suficientes para diminuir a chance de deslocamento entre elas em 50%

(Tambosi et al. 2013).

Os cálculos de PC foram obtidos com o auxílio do software livre Conefor

Sensinode 2.5.8 (versão de linhas de comando, Saura & Torne 2009), usando arquivos

gerados a partir da extensão livre Conefor Inputs para ArcGis® 10.1

(www.jennessent.com).

Identificação da resiliência das bacias

De maneira semelhante ao proposto por Tambosi e colaboradores (2013), mas

com alguns critérios distintos, as bacias foram agrupadas em três categorias de resiliência:

Fontes de biodiversidade – correspondem às bacias com (a) 100 a 80% de

Caatinga remanescente independente da conectividade e (b) 80 a 60% de habitat

remanescente, mas com valores de PC iguais ou superiores à mediana deste subconjunto

de paisagens. Estas bacias apresentam grande potencial de manutenção da biodiversidade

sem a necessidade de investimentos em restauração, portanto não são consideradas

prioritárias para a restauração.

Bacias com resiliência intermediária – correspondem às bacias com (a) 80 a 60%

de habitat remanescente, mas com valores de PC inferiores à mediana deste subconjunto

de paisagens, (b) 60 a 40% de caatinga remanescente independente da conectividade e (c)

40 a 20% de Caatinga, mas com valores do índice PC iguais ou superiores a mediana

deste subconjunto de paisagens. Estas bacias apresentam a melhor relação de

custo/benefício para ações de restauração e, portanto, representam o conjunto de

paisagens prioritárias neste trabalho.

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Bacias com baixa resiliência – correspondem às bacias com (a) 40 a 20% de

caatinga, mas com valores de PC inferiores a mediana desde subconjunto de paisagens e

(b) 20 a 0% de Caatinga remanescente independente da conectividade. Estas bacias são

aquelas cujas ações de restauração são menos eficientes e mais custosas e, portanto, não

são consideradas como prioritárias.

Critério I. Classificação das bacias com base na importância para a conectividade da

Caatinga

Para identificar as paisagens mais importantes para a restauração com base na

conectividade do sistema, todo o bioma Caatinga foi considerado como um único grafo,

onde as bacias (e não mais as manchas de habitat) foram consideradas como os nós do

grafo e os valores de PC de cada uma delas, calculados anteriormente, foram os atributos

dos nós considerados nas análises (Urban & Keitt 2001; Saura & Pascual-Hortal 2007;

Tambosi et al. 2013). Nesta etapa, as análises foram restritas a nós que se localizavam as

distâncias de, no máximo, 100 km um do outro.

Simulações sucessivas de retirada e reposição de cada um dos nós, realizadas no

software livre Conefor Sensinode 2.5.8 (Saura & Torne 2009), permitiram estimar a

contribuição relativa de cada bacia na variação da conectividade do bioma (Bodin &

Saura 2010; Tambosi et al. 2013). Bacias que provocaram as maiores variações são tidas

como as mais importantes. A contribuição relativa de cada bacia foi representada por dois

índices: (a) o vardIICflux, que mediu a quantidade estimada de fluxo de dispersão de um

determinado nó para os nós adjacentes e (b) vardIICconnector, que mediu a contribuição

relativa de um nó como elemento de conexão (stepping stone) entre outros dois ou mais

nós adjacentes a ele (Saura & Rubio 2010; Bodin & Saura 2010). Nos cálculos de

vardIICconnector foi considerada a importância das bacias de resiliência intermediária

como elemento de conexão entre as fontes, sendo desprezadas, portanto, as bacias de

baixa resiliência nesta avaliação.

Todas as bacias de resiliência intermediária foram consideradas como prioritárias

para a restauração e, apenas elas foram ranqueadas de acordo com sua importância

relativa para a conectividade do bioma. Esse ranking por ordem de importância foi obtido

por meio da soma dos valores padronizados (variando de 0 a 1) de vardIICflux e

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67

vardIICconnector obtidos para estas bacias. O resultado dessa soma gerou um valor de

importância para a conectividade (ou VIC) (variando entre 0 a 2) para cada uma das bacias

de resiliência intermediária. Quanto maior o VIC maior a contribuição de uma dada bacia

para a conectividade do bioma. As bacias de resiliência intermediária foram então

subdivididas em três classes de importância relativa para a restauração de acordo com os

valores de importância para a conectividade obtidos: (1) VIC alto – bacias do terço

superior do conjunto de valores de importância, (2) VIC médio – bacias do terço

intermediário e (3) VIC baixo – bacias do terço inferior.

Critério II. Classificação das bacias com base na riqueza de plantas ameaçadas de

extinção

A identificação das áreas mais importantes para a restauração com base na riqueza

de espécies de plantas ameaçadas de extinção foi feita a partir das informações de

distribuição geográfica das 350 espécies ameaçadas, contidas no Livro Vermelho da Flora

do Brasil (Martinelli & Moraes 2013). Essas mesmas espécies foram consideradas como

alvos de conservação pelo Ministério do Meio Ambiente brasileiro (MMA 2016). A partir

de shapefiles cedidos pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, calculou-se a riqueza de

espécies ameaçadas para todas as bacias da Caatinga. A riqueza de espécies ameaçadas

de cada bacia foi considerada como uma medida de seu valor de importância para a

manutenção da riqueza de espécies ameaçadas de extinção, ou, simplesmente, como valor

de importância para a riqueza (VIR). Usando essa medida, as bacias de resiliência

intermediárias foram agrupadas em três classes: (1) VIR alto – bacias com alto valor de

importância para a riqueza, com mais de 10 espécies ameaçadas de extinção, (2) VIR

médio – bacias com médio valor de importância, com uma a dez espécies ameaçadas e

(3) VIR baixo – bacias com baixo valor de importância, com nenhuma espécie ameaçada

de extinção.

Priorização das bacias para a restauração

Finalmente, identificou-se nove categorias distintas de bacias a partir do

cruzamento das três classes de importância obtidas nas análises com base na

conectividade do bioma (VIC) e com base nas três classes de importância para a riqueza

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de plantas ameaçadas de extinção (VIR) (Fig. 1). Essas categorias foram agrupadas em

três classes de prioridade para a restauração, segundo ranking abaixo:

a. Prioridade extremamente alta para restauração – bacias com VIC alto e VIR

alto ou médio; e bacias com VIC médio e VIR alto.

b. Prioridade muito alta para restauração – bacias com VIC alto e VIR baixo;

bacias com VIC médio e VIR médio; e bacias com VIR alto e VIC baixo

c. Prioridade alta para restauração – bacias com VIC baixo e VIR baixo; bacias

com VIC médio e VIR baixo; e bacias com VIR médio e VIC baixo

Distribuição do número e área de ocorrência das espécies nas diferentes categorias de

bacias

O número de plantas ameaçadas de extinção e a porcentagem da área de

distribuição de cada uma delas em cada categoria de bacia (bacias fonte, bacias de

resiliência intermediária e de bacias de baixa resiliência) foi calculado através de um

shapefile com a área de ocorrência das espécies (Martinelli & Moraes 2013) através do

software ArcGis® 10.1.

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69

Figura 1. Representação esquemática da classificação das bacias da Caatinga para

priorização de atividades de restauração vegetal. O bioma Caatinga inicialmente foi

dividido em paisagens baseadas nos limites de bacias hidrográficas. Posteriormente,

bacias de resiliência intermediária com maior potencial de restauração são reconhecidas

com base na sua percentagem de habitat remanescente e no seu grau de conectividade

interna, medido pelo índice PC. As bacias de resiliência intermediária são então

classificadas por dois critérios complementares: (i) importância da paisagem para a

conectividade do sistema, através do índice VIC (Valor de Importância para

Conectividade) e (ii) valor de importância para a manutenção da riqueza de espécies

ameaçadas de extinção (VIR). Finalmente, o cruzamento destes dois critérios

complementares permite determinar as três classes de priorização das bacias (alta, muito

alta, extremamente alta) quanto sua importância para iniciativas de restauração vegetal.

Resultados

Cobertura, conectividade e resiliência das bacias

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No total, 10.406 bacias hidrográficas incidem sobre a Caatinga brasileira (Fig. 2),

variando amplamente na quantidade de cobertura vegetal remanescente e nos valores de

PC encontrados (Fig. 2a e 2b).

Do total de bacias, 36% (N = 3739) representam paisagens de resiliência

intermediária, consideradas aqui como aquelas bacias com o maior potencial para serem

restauradas. (Tabela 1 e Fig. 2c). Estas bacias ocupam cerca de 316.467 km2 (37%) da

área total do bioma, sendo que 52% deste valor correspondem a remanescentes de

Caatinga. Os valores de PC para estas bacias variaram de cerca de 0,025 a 0,362.

As bacias fonte de biodiversidade correspondem a 32% (N = 3372) do número

total de bacias do bioma, ocupando uma área de 275.980 km2 (32% do total do bioma),

com 86% de cobertura vegetal remanescente e valores de PC variando de

aproximadamente 0,225 a 1 (Tabela 1 e Fig. 2c). As bacias de baixa resiliência

representam 32% do total de bacias (N = 3295), ocupando uma área de 262.862 km2 (31%

do total do bioma), com 14% de cobertura vegetal remanescente e valores de PC variando

de 0 a 0,042 (Tabela 1 e Fig. 2c).

Figura 2. Mapas das 10.406 paisagens focais inseridas no bioma Caatinga, classificadas

segundo (A) a classe de porcentagem de vegetação nativa remanescente em 2009, (B) o

índice de Probabilidade de Conectividade – PC e (C) a classe de resiliência resultante da

integração de A e B. As siglas nos mapas correspondem aos seguintes estados brasileiros:

Alagoas (AL), Bahia (BA), Ceará (CE), Maranhão (MA), Minas Gerais (MG), Paraíba

(PB), Pernambuco (PE), Piauí (PI), Rio Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE).

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Tabela 1. Número e área total das bacias e quantidade de vegetação remanescente por

classe de resiliência

Classe de Resiliência Número de

bacias*

Área total

(km2)

Área de Caatinga

remanescente** (km2)

Resiliência alta (Fonte) 3.372 (32%) 275.980 236.869 (86%)

Resiliência intermediária 3.739 (36%) 316.467 163.688 (52%)

Resiliência baixa 3.295 (32%) 262.862 37.169 (14%)

Total 10.406 (100%) 855.309 437.727 (51%) * As percentagens são calculadas em relação ao valor total geral da coluna. ** As percentagens são calculadas em relação a coluna Área total.

Bacias importantes para a conectividade da Caatinga

As 3.739 bacias de resiliência intermediária, reconhecidas como prioritárias para

as ações de restauração, variaram com relação as suas contribuições relativas para a

conectividade do bioma (Fig. 3a, Fig. 4a). Entre as 1.246 (33% do total) bacias

identificadas como relativamente mais importantes para a conectividade da Caatinga a

variação de VIC foi de 0,40 a 1,26 e a área compreendida por todas as bacias desta

categoria somou 108.436 km2. As 1.246 (33%) bacias de VIC médio apresentaram uma

variação neste índice de 0,18 a 0,40 e somaram 105.787 km2 em área. As bacias com VIC

baixo (valores inferiores a 0,18) representaram 1.247 do total (33%) e somaram 102.244

km2. De um modo geral, há uma maior frequência de bacias com maiores VIC nas porções

mais a Oeste do bioma, enquanto que nas regiões próximas ao litoral, os VIC são menores

(Fig. 4a).

Bacias importantes para a manutenção das espécies ameaçadas

A riqueza de espécies de plantas ameaçadas de extinção variou bastante entre as

bacias de resiliência intermediária (Fig. 3b, Fig. 4b). Enquanto nenhuma espécie

ameaçada foi registrada em 33% das bacias (N = 1.220), apenas três bacias chegaram a

compreender, cada uma, mais de 100 espécies de plantas ameaçadas de extinção. O

número médio de espécies ameaçadas de extinção por bacia de resiliência intermediária

foi igual a 4,38. Das 3.739 bacias de resiliência intermediária, 1.220 (33%) foram

classificadas como de baixa importância para a riqueza (VIR baixo), somando uma área

de 97.778 km2. No total, 2.217 (59%) foram classificadas com VIR médio, com uma área

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total de 190.281 km2. Por fim, 302 (8%) foram classificadas com VIR alto, um total de

28.408 km2.

Figura 3. Histogramas com a distribuição dos: a. valores de importância das bacias para

a conectividade do bioma (VIC), por classe de importância e b. valores de importância

para a riqueza de plantas ameaçadas de extinção (VIR), por classe. No gráfico b a escala

de representação do eixo y (número de paisagens) está em log.

Bacias prioritárias para restauração

O cruzamento dos valores de importância para a conectividade da Caatinga (VIC)

e dos valores de importância para a riqueza de espécies ameaçadas (VIR) (Fig. 4c)

evidenciou uma desejada independência entre estes critérios de classificação (r = -0,018,

P = 0,279, N = 3739; Fig. 6). A partir desse cruzamento, 939 bacias (25%) foram

identificadas como de prioridade extremamente alta (Fig. 4c Tabela 2). Essas bacias

correspondem a apenas 9% de todas as bacias do bioma e, no total, apresentam 32.127

km2 (38% da sua área total) já desmatados. Esse valor de desmatamento equivale a 8%

de toda a área desmatada da Caatinga e a apenas 4% da área total do bioma (Fig. 4c,

Tabela 2).

As bacias de prioridade muito alta somam 1237 bacias (33% do total). Essas

bacias correspondem a 12% de todas as bacias do bioma e apresentam 49.125 km2 (46%)

já desmatados – o que equivale a 12% de toda a área desmatada da Caatinga e a 6% da

área total do bioma (Fig. 4c, Tabela 2). Por fim, as bacias de prioridade alta somam 1.563

bacias, o que equivale a 42% do total de bacias de resiliência intermediária e a e a 15%

de todas as bacias do bioma. Possuem em seus limites 71.526 km2 (57%) de áreas

desmatadas, o que corresponde a 17% de todo o desmatamento da Caatinga e apenas 8%

da área total do bioma (Fig. 4c, Tabela 2).

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Figura 4. Mapas das 3.739 bacias prioritárias para a restauração da Caatinga, destacando

em A) (A) classes de valor de importância para a conectividade (VIC), (B) classes de

valor de importância para a riqueza (VIR) e (C) classes de prioridade para a restauração.

As siglas nos mapas correspondem aos seguintes estados brasileiros: Alagoas (AL), Bahia

(BA), Ceará (CE), Maranhão (MA), Minas Gerais (MG), Paraíba (PB), Pernambuco (PE),

Piauí (PI), Rio Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE).

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Tabela 2. Distribuição do número, porcentagem (%) em relação ao número de bacias do bioma, área total, área de vegetação remanescente, área

desmatada, porcentagem (%) da área desmatada em relação ao desmatamento total do bioma e porcentagem (%) da área desmatada em relação a

área total do bioma das bacias de prioridade extremamente alta, muito alta e alta para a restauração da Caatinga.

Prioridade para

Restauração

Número de

bacias*

% em relação ao

número de bacias

do bioma

Área das

bacias

(km2)

Área

desmatada

(km2)**

% desmatada em

relação ao

desmatamento do

bioma

% desmatada em

relação a área

total do bioma

Extremamente alta 939 (25%) 9 85059 32127 (38%) 8 4

Muito alta 1237 (33%) 12 106365 49125 (46%) 12 6

Alta 1563 (42%) 15 125043 71526 (57%) 17 8

Total 3739 (100%) 36 316467 152779 (48%) 37 18

*Valores entre parênteses correspondem a porcentagem de bacias, por categoria de prioridade, em relação ao total de bacias de resiliência intermediária.

** Valores entre parênteses correspondem a porcentagem de área desmatada, por categoria de prioridade, em relação ao total desmatado nas bacias de resiliência intermediária.

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75

Figura 5. Relação entre o valor de importância das bacias para a conectividade (VIC)

do bioma Caatinga e valor de importância para a manutenção da riqueza de espécies

ameaçadas de extinção (VIR), destacando-se as três diferentes classes de prioridade para

ações de restauração. O eixo y está representado em log.

Distribuição das espécies ameaçadas

A maioria das 350 espécies analisadas ocorrem em bacias de todas as categorias

de resiliência, sendo 343 encontradas em bacias fonte, 341 em bacias de resiliência

intermediária e 326 em bacias de baixa resiliência. No entanto, quando analisadas as

percentagens da área de distribuição de cada espécie, há variações mais evidentes nos

padrões de ocorrência. Assim, 241 espécies possuem mais de 50% de sua distribuição

dentro de bacias fonte, sendo que 60 delas ocorrem com percentagens superiores a 80%

neste tipo de paisagem (Fig. 6a). As bacias de resiliência intermediária abrigam mais de

50% da área de ocorrência de 39 espécies (Fig. 6b), sendo que 34 delas estão nas bacias

de prioridade extremamente alta, 36 nas bacias de prioridade muito alta e 22 nas de

prioridade alta. Por fim, 13 espécies apresentam mais de 50% de sua área de distribuição

em bacias de baixa resiliência, sendo que cinco delas ocorrem quase que exclusivamente

nestas bacias (Fig. 6c). As 57 espécies restantes compartilham, de maneira relativamente

uniforme, sua área de distribuição entre os três tipos de bacias.

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76

Figura 6 - – Percentagem da área de distribuição das espécies de plantas ameaçadas de

extinção em (A) bacias fonte, (B) bacias de resiliência intermediária e (C) bacias de

baixa resiliência.

Page 87: FRAGMENTAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DA CAATINGA · Caatinga, baseado em conectividade da paisagem e na riqueza de espécies de plantas ameaçadas e (4) comparar a perda

77

Discussão

Este trabalho utiliza dados da estrutura da paisagem e da distribuição espacial de

espécies ameaçadas para gerar um planejamento de larga escala para investimentos de

restauração de habitat. A metodologia aqui adotada permite identificar, sob determinadas

suposições, paisagens mais adequadas para o estabelecimento de projetos de restauração

onde os benefícios em termos de conectividade da paisagem e da conservação da

biodiversidade são maximizados enquanto o custo para o seu estabelecimento é

minimizado. Projetos de restauração de habitat frequentemente apresentam uma

localização idiossincrática, definida por oportunidades locais de terra, mão de obra,

tecnologia, recurso ou simplesmente vontades pessoais. Sem uma visão de contexto,

muitas vezes recursos são aplicados em áreas que não necessitariam de investimento em

restauração, já que o processo natural de sucessão vegetal poderia se encarregar de

reestabelecer os processos ecossistêmicos (Chazdon et al. 2016). Por outro lado, muitas

vezes recursos são investidos em áreas em que o projeto de restauração apresenta baixa

probabilidade de sucesso pelo alto grau de alteração antrópica do entorno. Além disto, a

localização de projetos de restauração frequentemente é decidida sem se considerar a

contribuição relativa de diferentes alternativas de paisagens para a conectividade do

sistema ou para a conservação da biodiversidade. Em regiões semiáridas são comuns os

projetos de restauração que fracassam por não terem em conta características específicas

das áreas manejadas, nem o contexto em que se inserem (Cao et al. 2011; Cortina et al.

2011), resultado em desperdícios de recursos e descredibilidade das ações de um modo

geral. Planejamentos de larga escala, que incluem análises de contexto e a importância

biológica das paisagens, como este apresentado aqui para a Caatinga, podem ser de grande

valia tanto para empreendimentos privados de restauração em escalas locais quanto para

empreendimentos estaduais e federais de escalas mais amplas.

Padrões espaciais da perda de habitat e conectividade

Este trabalho evidencia a grande heterogeneidade da cobertura vegetal entre as

bacias hidrográficas da Caatinga, com paisagens mais criticamente comprometidas pelo

desmatamento localizadas numa faixa mais ao Leste e Sul do bioma e paisagens mais

preservadas (em termos de porcentagem de cobertura vegetal) à medida que se deslocam

para o Oeste. Esse padrão se deve ao histórico da ocupação humana do Nordeste brasileiro

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78

desde à época da colonização portuguesa, com as áreas mais urbanizadas próximas ao

litoral – onde estão localizadas as capitais de sete dos 10 estados que possuem Caatinga

em seus limites (Boris 1995). A ocupação mais intensa destas áreas e arredores vem,

portanto, irradiando os efeitos do desmatamento do litoral para o interior, afetando a

integridade da cobertura vegetal de forma diferenciada.

Exceções a esse padrão podem ser verificadas, na região do Araripe, no extremo

Oeste de Pernambuco (PE) e adjacências no Ceará (CE) e Piauí (PI), cujas bacias

encontram-se claramente mais desmatadas do que nas áreas do entorno. Nesta região

produz-se 95% do gesso do país graças à presença da maior reserva de gipsita do Brasil

(Fernandes et al. 2013). Esta produção, contudo, utiliza a vegetação nativa como principal

matriz energética, com demandas anuais estimadas de 3 milhões de metros estéreos (st)

de lenha, o que vem causando o desmatando de grandes extensões de Caatinga (Silva

2009). Uma segunda exceção evidente está no Oeste do bioma, porção central do estado

da Bahia (BA), onde há uma alta concentração de bacias intensamente desmatadas. Estas

bacias compõem a região de Irecê que, devido a sua incomum alta fertilidade, a partir da

década 70 passou a apresentar uma expressiva produção agrícola, tornando-se mais tarde,

em meados dos anos 80, a maior produtora de grãos do Nordeste brasileiro (SEI 2003).

O aumento da economia desta região foi acompanhado por um significativo acréscimo na

densidade demográfica e expansão da área produtiva (SEI 2003), o que resultou na

expressiva remoção da vegetação nativa. Por outro lado, bem próximo à faixa mais crítica

de desmatamento do bioma, na sua porção Nordeste, ainda é possível notar a existência

de bacias com cobertura relativamente bem preservada no Centro-oeste do Rio Grande

do Norte (RN) e adjacências no Ceará (CE) e no Centro da Paraíba (PB). Estas áreas

correspondem a regiões de serras, com relevo acentuado que impõem limitações para as

atividades produtivas usuais.

O padrão de distribuição dos valores de conectividade de um modo geral refletiu

a distribuição da cobertura vegetal na Caatinga, com as bacias mais a Oeste apresentando

valores de conectividade mais elevados. Nesta porção do bioma há uma predominância

de fragmentos maiores e menos isolados, onde as probabilidades de movimentos de

indivíduos tendem a ser maiores (ver Capítulo 1). No entanto, mais ao Leste e Sul do

bioma, com fragmentos menores e mais isolados, as probabilidades de deslocamento são

diminuídas, resultando em bacias com conectividade menor. A combinação dos padrões

de distribuição da cobertura vegetal e dos valores de conectividade interna das bacias

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impôs um espalhamento esperado das bacias dos diferentes tipos de resiliência. Assim,

nas áreas mais intensamente fragmentadas do Leste e Sul, há uma predominância de

bacias de resiliência baixa, no Oeste do bioma há um predomínio de bacias fonte e nos

interstícios entre essas paisagens, onde a remoção de habitat e/ou a conectividade são

moderadas, aparecem as bacias de resiliência intermediária.

A resiliência das bacias da Caatinga

As bacias fonte ocupam 32% do bioma e, em princípio, possuem uma grande

capacidade de recuperação de suas áreas desmatadas, que correspondem a apenas 14%

do seu total, com a simples redução das pressões de desmatamento e a permissão do

desenvolvimento de processos sucessionais naturais, sem a necessidade de esforços

adicionais (Holl & Aide 2011). No entanto, a despeito de sua potencial importância como

reservatório de biodiversidade, não se pode perder de vista o baixo conhecimento sobre a

integridade biótica das porções vegetadas das bacias fonte na Caatinga, especialmente

tendo em conta o elevado grau de perturbação antrópica crônica potencial a que estão

sujeitas (ver Capítulo 2). É esperado que essas bacias sejam fornecedoras de propágulos

para o entorno, contudo, a exploração histórica da fauna e flora do bioma, pela caça,

criação extensiva de gado, exploração de lenha e outros (Andrade et al. 2005; Alves et al.

2009; Pichorim et al. 2014; Marinho et al. 2016) pode ter gerado áreas com altas

porcentagens de vegetação nativa e altos índices de conectividade, mas que, na realidade,

estão empobrecidas e com capacidade reduzida de resgate das populações vizinhas

(Gyllenberg & Hanski 1997). É necessário que as áreas fonte sejam alvo de estudos sobre

seu estado de conservação e de estratégias que permitam a ampliação do parco e frágil

sistema de Unidades de Conservação existente na Caatinga.

Embora as bacias de resiliência intermediária estejam distribuídas por quase toda

a extensão da Caatinga, quando são levadas em conta suas contribuições relativas para a

conectividade do bioma, é possível notar que há uma perda progressiva de importância

dessas paisagens no sentido Oeste para o Leste e Sul. Isto evidencia a perda conspícua de

bacias fonte no Leste e Sul do bioma e atenta para a redução, nestas regiões, de

oportunidades de restauração com alto potencial de gerar benefícios em escalas mais

amplas. À medida que vão se aproximando do Oeste, as bacias fonte vão se tornando mais

expressivas e as bacias de resiliência intermediária passam a apresentar uma contribuição

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80

mais importante como elementos de ligação com o entorno, até que, no extremo Oeste há

um grande número de opções de bacias que, uma vez restauradas, trarão ganhos sensíveis

para a conectividade do sistema.

O duplo critério de priorização para restauração

Ao propor a metodologia de identificação de áreas prioritárias para a restauração

com base na contribuição relativa das paisagens para a conectividade da Mata Atlântica,

Tambosi e colaboradores (2013) chamaram a atenção para a importância do método como

uma primeira aproximação das áreas com melhor relação custo/benefício para ações de

restauração, evidenciando sua flexibilidade em incluir novos parâmetros para a

identificação de respostas mais específicas. Consideramos que a inclusão da riqueza de

espécies ameaçadas de extinção traz ganhos na qualidade da informação gerada por: (1)

ressaltar a relevância biológica das paisagens, (2) contribuir diretamente para o

melhoramento da qualidade do habitat, facilitando o reestabelecimento de outras espécies,

(3) ser uma medida útil no reconhecimento da urgência das ações de restauração e (4)

restringir o número de paisagens consideradas como extremamente prioritárias,

auxiliando na alocação mais eficiente de recursos para a restauração.

Em termos do estabelecimento de prioridades para a restauração, o critério

baseado na importância das paisagens para a conectividade do bioma traz à luz a

relevância do contexto para o sucesso das ações de restauração (Holl & Aide 2011; Leite

et al. 2013, Crouzeilles & Curran 2016), evidenciando, no espaço, aquelas paisagens que,

por contingência de suas configurações internas e do seu entorno, podem potencializar os

efeitos da restauração em escalas mais amplas. No entanto, quando os arranjos espaciais

que inferem a conectividade das paisagens são analisados conjuntamente com

informações referentes à sua qualidade para fins de conservação da biodiversidade há

uma sinergia de eficiência das ações de restauração. Ações de restauração em paisagens

focais de prioridade extremamente alta podem contribuir substancialmente para a

manutenção de metapopulações viáveis de espécies ameaçadas (Andrén 1994; Donald &

Evans 2006; Umetsu & Pardini 2007; Visconti & Elkin 2009; Pardini et al. 2010;

Godefroid et al. 2011; Schooley & Branch 2011).

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81

A distribuição espacial das bacias mais importantes para a conectividade

apresentou um padrão mais homogêneo ao longo do bioma, localizando-se

principalmente na adjacência das áreas fontes e como elementos de ligação entre áreas

fonte disjuntas. Quando o critério de classificação de importância das bacias de resiliência

intermediária é a riqueza de espécies ameaçadas de extinção, a heterogeneidade na

distribuição das bacias é mais evidente do que a encontrada pelo critério de conectividade.

Há uma clara concentração de bacias ricas em espécies ameaçadas no Sul do bioma e uma

redução da riqueza no sentido Norte. Notadamente a ecorregião conhecida como

Complexo da Chapada Diamantina (Velloso et al. 2002), no estado da Bahia, apresenta a

maior concentração de bacias com alta riqueza de espécies ameaçadas. A Chapada

Diamantina faz parte da Cordilheira do Espinhaço, uma cadeia montanhosa que se estende

de Minas Gerais (MG) até a Bahia (BA), e é considerada como centro de diversidade de

inúmeros grupos de plantas, com um alto grau de endemismo (Giulietti et al. 1997;

Bitencourt & Rapini 2013). Muitas das 307 espécies ameaçadas de extinção encontradas

na Bahia, também são endêmicas da Chapada.

Assim sendo, o padrão espacial resultante do cruzamento dos dois critérios de

importância propostos apresentou ganhos substanciais em relação aos padrões espaciais

dos dois critérios independentes. Em primeiro lugar, uma maior ênfase foi dada para a

região da Chapada de Diamantina em relação ao padrão baseado somente em

conectividade. Áreas de importância média de conectividade foram evidenciadas como

de prioridade extremamente alta devido à presença de um grande número de espécies

ameaçadas. Em segundo lugar, algumas áreas consideradas como de importância média

ou alta para a conectividade diminuíram seu grau de priorização por não abrigarem

espécie ameaçada. Finalmente, algumas áreas de baixa importância para conectividade

aumentaram o seu grau de priorização por abrigar mais de uma dezena de espécies

ameaçadas.

A Caatinga historicamente é o bioma que menos tem recebido suporte financeiro

para a produção de conhecimento científico e apoio a ações ambientais no Brasil (Santos

et al. 2011), tornando crucial que os poucos investimentos alcancem, com precisão, os

melhores alvos. As bacias com prioridade extremamente alta para restauração podem ser

reconhecidas como as paisagens chave para os investimentos em restauração,

promovendo o incremento da conectividade da Caatinga e auxiliando a recuperação de

espécies ameaçadas de extinção no bioma. Essas bacias correspondem a apenas 9% do

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total de bacias da Caatinga e a área desmatada nelas presente, potencialmente disponível

para ações de restauração, equivale a apenas 4% de área total do bioma e a 8% da área

total desmatada da Caatinga. Tendo em vista que cerca de 50% do bioma estão

desmatados e ações de restauração não planejadas poderiam incidir potencialmente sobre

qualquer parte desta fração (com resultados duvidosos), a identificação das paisagens

extremamente prioritárias pode representar um grande ganho na orientação de políticas

públicas e outras ações de restauração, com economia de dinheiro e maximização dos

benefícios.

Integração com outras estratégias de conservação

A estratégia de priorização aqui proposta permite alcançar uma grande eficiência

na aplicação dos recursos disponíveis para ações de restauração. No entanto, estas ações

devem ser implementadas em consonância com outras estratégias de conservação da

biodiversidade já estabelecidas ou em desenvolvimento. Para espécies ameaçadas que

apresentam uma alta porcentagem de sua distribuição em bacias fontes, a criação de

Unidades de Conservação tende a ser uma forte aliada na reversão da situação de

vulnerabilidade em que se encontram. Existem espécies que possuem distribuição

compartilhada por bacias fonte e de resiliência intermediária, indicando que a criação de

Unidades de Conservação e ações de restauração devem estar consorciadas para

potencializar os benefícios. Além disto, existem espécies que apresentam a maior parte

de sua distribuição em bacias de baixa resiliência. Para estas espécies, ações de

conservação in situ devem ser customizadas, levando em conta, entre outras coisas, as

condições locais dos fragmentos onde cada espécie se encontra e a sensibilização dos

proprietários dessas áreas. Além disso, estratégias ex situ devem ser consideradas para

assegurar a persistência dessas espécies ao longo do tempo (Guerrant Jr et al. 2004;

Havens et al. 2006).

Afinando as políticas públicas de restauração com ações espacialmente explícitas

de amplo benefício

Iniciativas governamentais nacionais e globais de conservação vêm enfatizando a

importância da restauração como uma das ações de conservação, reversão da perda da

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83

biodiversidade e sequestro dos gases de efeito estufa. Entre essas iniciativas há uma série

de compromissos de restauração sendo firmados para mundo todo que, embora

apresentem algumas incertezas, demostram uma predisposição política para a ação

(Chazdon et al. 2017).

Mais recentemente, em janeiro de 2017, o governo brasileiro instituiu a Política

Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Decreto 8.972 de 23 de janeiro de 2017)

que estabelece o compromisso de impulsionar a regularização ambiental das propriedades

rurais atendendo, ao menos, 120 mil km2 até 2030. Essa política atribui aos órgãos

governamentais a responsabilidade de elaborar um Plano Nacional de Recuperação da

Vegetação Nativa que contemple a estruturação de um sistema de planejamento e

monitoramento espacial como forma de apoio a tomada de decisões para a recuperação

da vegetação nativa.

Embora os mecanismos mencionados acima tenham evoluído para traçar

objetivos cada vez mais aplicados, ainda há lacunas importantes entre o planejamento e a

execução, lacunas essas que geram ações disjuntas, de sucesso reduzido, ou mesmo, com

resultados negativos ao longo prazo (Cao et al. 2011). Cabe ao poder público, à academia,

aos produtores rurais e à sociedade de um modo geral afinarem estratégias conjuntas,

orientadas no espaço e com critérios claros, que visem guiar, monitorar e fomentar ações

locais de restauração, pensando nos benefícios em escalas amplas.

A área potencialmente disponível para a restauração das bacias identificadas como

prioritárias para a Caatinga representa uma pequena fração do bioma - 4% (32 mil km2),

se consideradas apenas as bacias mais prioritárias. A restauração das bacias indicadas

promoveria a conectividade de grande parte do semiárido brasileiro e auxiliaria a

recuperação de espécies ameaçadas de extinção, entre outros efeitos positivos. Sendo

assim, é recomendado que o poder público aproxime as políticas ambientais de

restauração das soluções apresentadas aqui, dialogando com os demais setores da

sociedade a fim de estabelecer uma política pública de ordenamento territorial para as

ações de restauração em larga escala.

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Capítulo 4 - Pro-Active Conservation Opportunities in Megadiverse Countries

Carlos R. Fonseca, Marina Antongiovanni, Eduardo M. Venticinque

Abstract

Biodiversity conservation requires adequate planning and associated financial mechanisms

to implement proposed solutions. Since in most megadiverse countries conservation is resources-

limited, early pro-active conservation actions represent the best possible strategy since late reactive

solutions can be prohibitively expensive. The Brazilian government recently updated a national

systematic conservation planning that defines 1350 conservation priority areas in its six biomes.

The Amazon, however, is the only biome with a strong financial mechanism allowing conservation

actions to move forward. The Amazon Region Protected Areas Program, launched in 2002 with

international support, helped the creation, implementation and maintenance of conservation units

covering 52 million hectares. In contrast, the conservation unit network of the other five species-

rich biomes had scarce advances while conservation opportunities are closing due to habitat

conversion. We urge that similar international cooperation programs should be created to expand

the Amazonian success to the remaining Brazilian biomes and to other megadiverse countries.

Main Text

Megadiverse countries have a disproportional responsibility for global biodiversity

conservation (1). Since they harbor 70% of the global species, careful systematic conservation

planning is quintessential to minimize costs (2). Pro-active conservation actions, such as the early

establishment of networks of large conservation units, are much cheaper in the long run than the

late establishment of reactive strategies, such as maintenance of multiple small reserves, ecosystem

restoration, and ex-situ conservation projects (3). Since most megadiverse countries have limited

conservation resources due to pressing social issues, a crucial question is how to design and

establish an effective financial program to support such an enterprise. We argue that a conservation

strategy model implemented in the Brazilian Amazon, which quickly developed in one of the

largest conservation networks of the world (4), can inspire similar programs to be applied

successfully to other Brazilian biomes as well as to other megadiverse countries.

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Brazil holds 10% of the species of the world (5) and as one of the 150 countries that signed

the Convention on Biological Diversity in the 1992 Rio Earth Summit (6), assumed the

commitment to promote biodiversity conservation of its six highly diverse terrestrial biomes:

Amazon (tropical rainforests), Atlantic Forest (coastal rainforests), Cerrado (savannas), Caatinga

(drylands), Pantanal (wetlands), and Pampas (grasslands and shrublands). Since then, the Brazilian

government has established one of the largest systematic conservation programs of the world (7).

This plan, which was updated in June 2016 (8) by a law (MMA Portaria 223/2016) written by the

Ministry of Environment identifies 1530 priority areas (PA) for conservation, sustainable use, and

shared benefits of the Brazilian biodiversity that covers 2887368 km2 or 33.9% of the national

territory (Fig.1). Using systematic conservation planning techniques (2) these areas are distributed

to achieve predefined coverage goals of thousands of threatened species and other conservation

targets (e.g., caves, ecosystems), while minimizing a non-monetary cost surface defined by social,

economic, and environmental variables in a participatory process that includes hundreds of

scientists, conservation biologists, NGOs, and representatives of different state and federal

governmental agencies.

The Brazilian priority areas exhibit a clear gradient of habitat loss among the terrestrial

biomes, suggesting different opportunities for pro-active and reactive conservation strategies (Fig.

1). Mean habitat loss (%) in the priority areas of Amazon (20%) and Pantanal (25%) is relatively

low, indicating the existence of many opportunities for pro-active conservation actions. For the

Cerrado (41%), Caatinga (44%), and Pampa (46%) habitat loss is intermediate indicating the

existence of a window of opportunity for pro-active conservation actions. In the Atlantic Forest

biodiversity hotspot (10) there are a large number of small priority areas that are already lost where,

on average, 60% of the original cover is gone, leaving no option but the investment in more

expensive reactive strategies, such as smaller conservation units and ecosystem restoration. Mean

annual deforestation rates for the period 2002-2009 (when information is available for all biomes)

indicate that windows of opportunities are closing faster for the priority areas located in Cerrado

(0.84%), Caatinga (0.70%), Pantanal (0.67%) and Amazon (0.66%) when compared to Pampa

(0.39%) and Atlantic Forest (0.32%).

The creation, implementation, and management of conservation units in Brazil is regulated

by the National System of Nature Conservation Units (SNUC), established in 2000 (National Law

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9985/2000) (11). Despite the fact that the first Brazilian National Park was created in 1937, the

conservation area network started to grow only in the 1980s (Fig. 2). The temporal pattern of

creation of conservation units varies considerably among biomes. While today most have less than

10% of their area under protection, the conservation unit network of the Amazon biome grew

steadily over two decades and reached 27.6%. Another importance difference is that while in

Amazon only 15% of the Conservation Units are Areas of Environmental Protection (APA), the

most permissive category of the SNUC system (11), in all other biomes, except the Pantanal, more

than 60% of the area of conservation units are APAs (12).

The main financial mechanism associated with the Amazonian conservation planning was

the ARPA (Amazon Region Protected Areas) Program, a partnership launched in 2002 by the

Brazilian government with support from BNDS-Brazil, World Bank, German bank KfW, and

WWF (13). During its first phase (2003-2010), the ARPA Program created 13.2 million hectares

of Conservation Units of Integral Protection and 10.8 million hectares of Conservation Units of

Sustainable Use, supported the implementation of 8.5 million hectares in Conservation Units of

Integral Protection and established a US$ 24.8 million fund designated for the management of

Amazonian conservation units. In fact, between 2003 and 2009 Brazil created 74% of world

protected areas (14). In its second phase (2010-2017), the ARPA Program with an investment of

US$255 million is supporting the creation of 13.5 million hectares in conservation units,

implementing better protection of 32 million hectares and plans to capitalize the management fund

by an additional US$ 70 million.

In the other Brazilian biomes, many pro-active conservation opportunities are still available

but lack a pragmatic mechanism of action. For example, the Boqueirão da Onça (Jaguar’s Mouth)

priority area constitutes the cheapest and largest intact patch of dryland available where viable

populations of jaguars still survive in the Caatinga biome. Similarly, a single priority area in the

Diamantina highlands contains 309 conservation targets including 189 microendemic red-listed

Caatinga plants. An ARCA Program (Conservation Areas of the Caatinga) should be launched

soon if we want to make use of such highly efficient pro-active opportunities. For Cerrado and for

the bird-rich wetlands of the Pantanal conservation planning also needs an associated financial

mechanism.

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The positive conservation experience from the Brazilian Amazon can be extended also to

other megadiverse countries. After a careful participative conservation planning, however, it will

be critical to obtain support from a pool of financial agencies, NGOs, and countries willing to

share the responsibility for the long-term maintenance of the global biodiversity. Considering the

fact that economic activities based in many developed countries are partially responsible for threats

to biodiversity in megadiversity countries because of the international trade of thousands of

commodities (15), it is time to design an international compensatory mechanism able to support

urgent conservation actions in megadiverse countries and, in the case of Brazil, more biomes than

just Amazon.

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Acknowledgments: All data use in this paper is openly available from the Brazilian Ministry of

Environment (MMA) webpage (www.mma.gov.br). CRF and EMV receives productivity

grants from CNPq. MAF is supported by CAPES.

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Fig. 1. Priority areas (PA) for conservation, sustainable use, and shared benefit of the Brazilian

biodiversity, as classified by (a) habitat loss (%) and (b) deforestation rate (% loss/year). For

comparability, habitat loss was calculated for 2009 and deforestation rate was calculated

between 2002 and 2009 for which official data from the Brazilian Ministry of Environment

(MMA) are available for all biomes (9).

Fig. 2. Temporal pattern of creation of conservation units in different Brazilian biomes

represented as percentage area of the biome under protection. These official data can be found in

ref. 10.