foto-criar · com a abertura do estúdio de disderi (1819-1889), na capital francesa, por volta de...
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FOTO-CRIAR
FOCUS – ESCOLA DE FOTOGRAFIA
Curso de fotografia
Fotojornalismo
Beatriz Vieira
São Caetano do Sul
2016
FOCUS – ESCOLA DE FOTOGRAFIA
Curso de Fotografia
Fotojornalismo/Foto documental
Beatriz Vieira
Monografia apresentada ao curso de
Fotografia da Focus – escola de fotografia,
sob a orientação do Prof. Dr. Enio Leite,
como exigência parcial para conclusão do
curso.
Texto sobre o fotojornalismo e foto
documental.
Orientador: Prof. Dr. Enio Leite.
São Caetano do Sul
2016
Dedico esse trabalho à todas as pessoas que me
ajudaram de alguma forma a concluir esse
curso, direta ou indiretamente.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Luiz Carlos Vieira e Monica Vieira;
Ao professor Luiz Leite;
Ao Enio Leite;
Aos meus familiares;
Aos meus amigos que fizeram parte de algumas fotos como modelos.
SUMÁRIO
1. Introdução
2. Percurso histórico do fotojornalismo
3. Do Fotojornalismo à fotografia documental
4. Fotojornalismo brasileiro
5. Principais nomes da fotografia documental e fotojornalística
6. Fotojornalismo na era digital
7. Mercado de trabalho
8. Principais técnicas, equipamentos e tendências
9. Fotos Autorais
10. Referências bibliográficas
1. Introdução
A fotografia vai muito além de um clicar, ela está no momento, no olhar, no ângulo, na
luz, no sentimento.
Muito antes de aprender sobre a fotografia, eu sentia que já vivia por ela, apesar de
não saber sobre composição, tampouco sobre técnica, já era algo que estava em mim.
Senti que precisava procurar aprender sobre ela, por justamente saber que não era só o
clicar, eu precisava entender todo o processo, precisava saber das regras para não me
apegar a estas, conseguir fazer minhas próprias fotos, sem medo do certo ou errado, só
entendendo que cada foto precisava contar algo.
As primeiras tentativas foram dolorosas, eu lembro que a cada clique no manual era
uma luta para a foto sair como eu queria. Eu procurei por muito tempo aulas na internet
para entender melhor sobre luz e seus efeitos nas fotos. Mas eu sentia que precisava de
mais, foi quando eu procurei a escola Focus, para me profissionalizar e para entender todo
esse universo técnico que envolve a fotografia.
A partir do primeiro momento que aprendi as primeiras técnicas foi como uma luz no
fim do túnel, nunca mais larguei a câmera, onde eu ia ela me acompanhava, mesmo quando
ela servia para tirar de mim as piores fotos que um fotografo poderia conseguir, até aquelas
mais bonitas, tiradas depois de muita luta, de muita compensação. E segue sendo assim até
hoje.
Durante o curso eu pensei em várias áreas para seguir dentro da fotografia, mas a que
realmente me chamou atenção foi o fotojornalismo. O registro do real, as fotos das
guerras, as fotos das manifestações, ou de qualquer outra coisa que tivesse essa conotação
verdadeira me chamou muito mais atenção do que as fotos que são calculadas, com modelo
posando, destas em que prendem a respiração ou que ficam de maneira desconfortável para
que a foto saia perfeita, muito embora, existam ensaios lindos, e mesmo que eu mesma
tenha feito trabalhos posados, não era o que eu procurava.
Por fazer Comunicação Social-rádio e TV de faculdade, meu foco sempre foi registrar
o que estava a frente da minha lente, sem me importar com as regras básicas, obvio que,
tentando ao máximo a melhor qualidade, e melhor aproveitamento da luz.
O fotojornalismo me encantou, porque aborda os pontos principais, fotógrafos do
Brasil, ilustrando e mostrando um pouco de cada um sempre de acordo com a realidade e a
visão de mundo de cada um.
2. Percurso histórico do fotojornalismo
À altura da década de 40 do século XIX, o registro de acontecimentos se dava por
pinturas, desenhos e xilogravuras. Apesar da popularização da fotografia com o invento de
Daguerre, em 1849 – o daguerreotipo –, os jornais e revistas da época não abandonaram os
antigos padrões de ilustração e utilizavam os positivos apenas como modelo para os
autores. Eles, com forte apelo do realismo artístico, buscavam um retrato fiel de modo a
registrar a realidade factual, objetiva, dos acontecimentos. Os daguerreótipos restringiam-
se, então, à fotografia de retrato, mas de um público seleto, ligados a círculos intelectuais,
artísticos e burgueses.
Vital para o fotojornalismo foi o surgimento de novas técnicas e aparelhagem: a
adoção de novas lentes com menor tempo de exposição e maior luminosidade e o colódio
húmido permitiram a conquista do movimento, da ação aqui-agora “numa imagem quase
em tempo real, capturar o imprevisto, chegar ao instantâneo e, com ele, acenar com a ideia
de verdade: o que é assim capturado seria verdadeiro”, segundo João Pedro Sousa em
“Uma história crítica do fotojornalismo ocidental”.
O compromisso com a verdade vem de uma já instalada e naturalizada relação das
sociedades ocidentais com a tradição filosófica positivista, enraizada no desejo pela
objetividade, por uma realidade crua e desvinculada da subjetividade de seus autores. A
fotografia aparece como algo em si e dicotomizado, afastado daqueles que observam essa
realidade e que apenas podem fornecer um recorte; uma foto é, pois, uma interpretação que
segue os pressupostos de quem a captura. Para Sontage, “Fotografar é apropriar-se da coisa
fotografada. Significa pôr a si mesmo em determinada relação com o mundo”.
Com a abertura do estúdio de Disderi (1819-1889), na capital francesa, por volta de
1854, opera-se uma mudança radical na evolução da fotografia — surge a fotografia
"cartão de visita" e dá-se democratização do acesso à fotografia de retrato por via da
diminuição dos preços. É dado o primeiro passo para a fotografia se tornar um mass
medium. Julgamos mesmo, aliás, que foi através da popularização massiva da imagem
fotográfica que se começou a delinear um mercado para o fotojornalismo.
A fotografia de guerra foi grande marco na consolidação do fotojornalismo. Num
momento anterior, as publicações de guerra seguiam os antigos padrões de ilustrações. É a
partir da Guerra de Secessão que o público passa a exigir notícias factuais sobre os
acontecimentos. Foi a primeira guerra a ser publicada sem censura nos jornais carregada de
uma estética do horror revelando a realidade dos campos de batalha, com imagens de
mortos, mutilados e destruição.
O surgimento do primeiro tablóide fotográfico em 1904 marca uma mudança de
posição a que é atribuída à fotografia. De ilustrações em segundo plano e pormenorizadas,
passa a ter igual ou maior importância que o conteúdo escrito. Tornam-se símbolo da
manchete e da competição entre jornais e fotógrafos pela única e melhor foto. A doutrina
do scoop instala um novo paradigma dentre os fotojornalistas, guiando suas técnicas a uma
constante tentativa de reunir em uma única imagem todos os elementos da notícia e do que
se propunham a transmitir como verdade dos acontecimentos. A essa urgência se deve
também, por consequência, a compactação das máquinas em menores tamanhos, providas
de objetivas claras, e o desvencilhamento do fotógrafo dos grandes flashs de magnésio, que
geravam repulsa dos entes fotografados devido ao mau cheiro e tornavam a captura da foto
num grande evento dentre os indivíduos ali presentes.
Através dos novos avanços, o fotógrafo passa a desenvolver uma série de regras de
composição das imagens, enquadramento, a composição de cena, direcionada a um centro
de interesse, não ter espaço morto, exclusão de detalhes externos, zoom, profundidade de
campo, andar ao redor do assunto para explorar outros ângulos, etc.
Práticas de abordagens dos acontecimentos como desastres, acidentes, temas sociais,
políticos, conferências, etc. definindo sistemas de aproximação que, Nessa lógica, qualquer
reportagem deveria apresentar um plano geral para localizar a ação, vários planos médios
para mostrar a ação, um ou dois grandes planos para dramatizar e emocionar.
Estabelecendo assim uma rotina de trabalho que permite a aplicação das regras
supracitadas. Ambas, regras e práticas asseguram a captura da foto notícia, munidas de
informação.
O fotojornalismo torna-se símbolo de credibilidade do que é noticiado e não só: ele
transcende a notícia. É, também, o que significa a realidade, explica e constrói um sentido
através dela pelas forças sociais, políticas, ideológicas e culturais que existe em cada ser
humano e pelas quais o fotógrafo não escapa; ele não detém da suposta neutralidade que o
público pressupõe ou espera das mídias. Entretanto, apesar dessa construção acerca da foto
notícia, o público, numa força ambivalente de massas, ao mesmo tempo em que rejeita
qualquer parcialidade, apoia-se indiretamente nela ao encontrar nos recursos midiáticos
tudo aquilo que fornece significado. Segundo Sousa,
“Se antigamente as coletividades humanas
recorriam ao mito para explicar as experiências do
mundo e dar sentido à vida, hoje teriam transferido para
os media a tarefa de organizar e integrar as experiências
aleatórias de vida num todo racionalizado”.
3. Do fotojornalismo ao fotodocumental
A fotografia documental endossa a ideia de trazer para o público uma imagem
diferente do que as massas estão acostumadas a ver nos jornais e revistas. Ela insere uma
estética diferente, mais elaborada. Vem com uma maneira de montar uma narrativa além
do fotojornalismo: é mais que a foto – apesar de carregar com ela o recorte do fotógrafo –
traz consigo uma história.
A fotografia documental amarra uma série de imagens que chegam em uma narrativa
contada em fotos. A proposta da fotografia documental é mostrar o homem e o que tem ao
redor dele. Partindo desse ponto, a fotografia documental tem muita referência da sua
época, e o seu entorno. Cada recorte esta ligado ao seu momento, os fotógrafos tomam
tendências da sua época para criar sua identidade visual, ainda sim, tomando referencias de
fotografias passadas.
O ponto central não é mais fotografar o exato momento de tal acontecimento, a ideia é
mostrar tudo ao seu redor, mostrar o antes, mostrar o depois, mostrar estradas, bandeiras,
florestas, mostrar o cenário por completo criando a história e tudo que a engloba, para que
as pessoas consigam ter, a partir daí, suas próprias interpretações. É nesse ponto que a
fotografia documental se difere da foto jornalística.
A prática da fotografia linear mudou de foco quando o suíço Robert Frank, decidiu
mostrar suas fotos de maneira mais autêntica: as fotos dele estavam voltadas para todos os
sentidos. Frank, em 1924, pegou sua câmera e saiu fotografando vários pontos dos Estados
Unidos; seu trabalho não era registrar só o acontecimento de determinado fato, ele foi em
busca de contar a história das coisas e suas fotos foram publicadas no Les Americains, em
1958, na França. Mais tarde, foi lançada a versão americana do livro, The Americans,
tendo sido recebida com ferozes críticas nos EUA.
Frank e alguns outros fotógrafos da época foram responsáveis pela quebra da
fotografia documental clássica para um novo jeito de fotografar.
O caminho da fotografia jornalística para a documental é complexo. O conceito é
tentar entender o processo da fotografia documental e suas mudanças e influências. A
proposta por novas linguagens, novos pensamentos, novas tendências é sempre aberta
nesse tipo de fotografia. Diferente da jornalística, que é preciso fotografar o exato ponto a
qualquer custo, a fotografa documental traz a proposta de criatividade e imaginação.
Outro ponto que difere a jornalística da documental é que esta precisa de um estudo
mais elaborado, um projeto, não apenas um registro de passagem a determinado lugar. Ela,
para sair do jeito que o fotodocumentarista deseja, precisa ser projetada. Ela documenta
não só um problema social, ela surge para mostrar de diversas formas e imagens toda os
âmbitos de interesses sociais.
Dessa forma, o fotodocumentarismo pode ser usado em diferentes pontos, com
diferentes propostas. Ele pode denunciar, expor divergências na sociedade, compor
discursos políticos, mostrar cotidiano, experiências de vida, culturas ou documentar algo
em extinção. Fotodocumentaristas surgem para registrar e retratar a existência humana de
uma forma diferente, autêntica e criativa daquilo que ele enxerga sobre o mundo.
4. Fotojornalismo brasileiro
À altura da consolidação e disseminação das técnicas do fotojornalismo por toda
Europa, o Brasil mantinha-se ainda num padrão muito inferior em linguagem
fotojornalística. Restringia-se a retratos e ao âmbito político e esportivo. É o marco da
Segunda Guerra Mundial que introduz no país um refinamento maior, devido a importação
das fotos de guerra dos fotógrafos estrangeiros. Fotógrafos como German Lorca e Thomaz
Farkas, imigrantes europeus, foram os principais nomes que trouxeram as técnicas
fotojornalísticas de vanguarda, inspiradas no surrealismo, abstracionismo e concretismo.
Influências estas observadas no enquadramento geometrizado, closes, jogos de luzes e
sombras e pontos de vista de cima para baixo e de baixo para cima. A sensibilidade da
fotografia volta-se para o cotidiano dos grandes centros, revelando um caráter histórico e
documental das imagens que fixam os hábitos, costumes, convenções e transformações da
população em cada época.
Os fotógrafos modernistas começam a inserir no cenário do jornalismo brasileiro a
linguagem fotojornalística no padrão europeu por volta de 1940. Com esse novo produto
circulante nos veículos de massa, há uma reforma editorial para comporta-lo inicialmente
no Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. O uso de pré-paginação (diagramação) permitiu
planejar e reservar os espaços das fotos que viriam com cada notícia e também dar
destaque ao novo recurso; a apresentação gráfica, textos e títulos eram montados a partir
das fotos, e não mais ao contrário. A fotografia deixa de ser uma imagem ilustrativa da
notícia, torna-se a notícia, e a partir dela é construída a edição do jornal.
A revista O Cruzeiro introduziu no Brasil a fotorreportagem com inspiração na revista
americana Life e a francesa, Paris-Match mas privilegiando temas de ideologia
nacionalista como o exótico e a diversidade cultural (indígenas, religiões não católicas e
festas populares), perfil de personalidades artísticas e políticas e a captura da cidade como
símbolo de progresso em direção a modernidade e ao desenvolvimento.
O Cruzeiro contratou Jean Manzon, fotógrafo francês do Paris-Match, para encabeçar
essa reforma editorial que se iniciava no país. Manzon introduziu o uso da Rolleiflex com
flash eletrônico que permitia para os fotógrafos de rua maior mobilidade, desprendidos dos
flashs de lâmpadas. Lá realizou diversos ensaios fotográficos que hoje são considerados
por alguns estudiosos como responsáveis pela consolidação da reforma do fotojornalismo
brasileiro.
5. Principais nomes do fotojornalismo mundial
Henri Cartier Bresson: foi um fotógrafo, fotojornalista e desenhista francês. Após a
segunda guerra foi contratado para viajar pelo mundo e registrar imagens únicas. Da
Europa aos Estados Unidos, da Índia à China. Registrou também Europa Ocidental e a
vida na União Soviética de maneira livre. Em 1950 suas imagens foram publicadas em
vários livros.
George Rodger: fotojornalista britânico, foi fotógrafo de guerra e o primeiro a entrar e
a fotografar o campo de concentração de Bergen-Belsen, em Abril de 1945. Estas imagens
acabariam por ser publicadas pela Time e pela Life. Ganhou 18 medalhas pela coragem
demonstrada.
John Thomson: um dos pioneiros da fotografia documental. Geógrafo e fotografo, foi
um dos primeiros fotógrafos a viajar para o extremo oriente em busca de documentar
paisagens, pessoas, e a cultura oriental.
Jacob Riis: fotografo e escritor, nasceu na Dinamarca e foi para os Estados Unidos em
1870. Na sua época o flash era recém inventado e Riis tomou domínio da técnica para
capturar cenas internas e externas. Suas imagens de cortiços lotados, bairros perigosos e
cena de rua pungente - imagens de uma subclasse oprimida que a maioria dos leitores só
tinha lido anteriormente, na melhor das hipóteses.
Robert Frank: filho de judeus, nascido na suíça. Seu pai ficou sem pátria após a
primeira guerra mundial e teve que lutar para que Frank e seu irmão tivessem cidadania. A
ameaça nazista despertou fortemente sua vontade de fotografar. Após se aperfeiçoar e fazer
seu primeiro livro com 40 fotos, foi para os Estados Unidos e de lá começou sua carreira.
Vivendo no ritmo acelerado dos EUA e frustrado com algumas coisas em sua vida no país,
nas suas imagens se tornava evidente sua insatisfação com a vida no País.
Lee Friedlander: começou a fotografar paisagens americanas em 1948. Tinha
capacidade de organizar uma grande quantidade de informações visuais em composições
dinâmicas. Friedlander fez imagens humorísticas e pungentes entre o caos da vida urbana,
paisagem densa e inúmeros outros assuntos.
5.1 Principais nomes do fotojornalismo brasileiro
German Lorca: membro do Foto Cine Clube Bandeirantes (FCCB), é importantíssimo
para a renovação da fotografia moderna brasileira. A paisagem urbana é predominante em
suas obras, com ênfase na arquitetura e no intenso jogo de luzes e sombras das silhuetas
dos corpos e da cidade.
Thomaz Farkas: natural de Budapeste, na Hungria, migrou com sua família para São
Paulo em 1930 e também se torna membro do FCCB. Ao lado de German Lorca, ocupa
posição de destaque na fotografia modernista, seguindo o padrão das vanguardas
europeias. Dedica-se a fotografar corpos em movimento, especialmente do balé e seus
bastidores, com forte influência surrealista. Farkas também documenta a construção de
Brasília acentuando o contraste entre a modernização e as condições precárias dos
operários e suas famílias.
Jean Manzon: francês, fixa-se no Rio de Janeiro em 1940 atuando nas revistas O
Cruzeiro e Manchete com reportagens marcadas pela linguagem fotodocumental
tipicamente europeia. É responsável, ao lado de German Lorca e Thomaz Farkas, pela
renovação do fotojornalismo brasileiro. Faz uso intencional da cenografia em suas fotos
revelando um caráter de montagem, observado no cinema de vanguarda da época.
José Medeiros: natural de Teresina, Piauí, muda-se para o Rio de Janeiro trabalhando
paralelamente como fotógrafo freelancer das revistas Tabu e Rio. Em 1946 é convidado
por Jean Manzon para integrar sua equipe na revista O Cruzeiro. Participa, então, da
renovação editorial da revista nos padrões modernistas seguidos pelos fotógrafos
anteriores. Porém, torna-se conhecido principalmente pelas fotografias de indivíduos,
comunidades e manifestações culturais marginalizadas, tais como a população negra, o
candomblé, pacientes psiquiátricos, prostitutas e tribos indígenas. Visto fora do tratamento
editorial recebido pela revista, seu trabalho tinha o intuito de retratar os marginalizados
socialmente.
Sebastião Salgado: reconhecido mundialmente pelas suas fotografias. Seu maior foco
é registrar a vida daqueles que não tem tanta atenção. Seja dos trabalhadores em varias
regiões do mundo ou da vida e seus desastres. É ganhador de vários prêmios nacionais e
internacionais.
João Bittar: sonhava desde os 10 anos ser um grande jornalista, escrever pautas e
reportagens em jornais conhecidos, mas se descobriu no fotojornalismo. Começou como
assistente de laboratório fotográfico da editora Abril e a partir daí tomou gosto pelas fotos.
Trabalhou nas maiores editoras do Brasil e do mundo pelo fotojornalismo.
Antônio Gaudério: troca os estudos de arquitetura pela fotografia nos anos 80 e torna-
se um dos mais promissores novos talentos do fotojornalismo nacional da época. Recebeu
o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de 1993 (obtendo uma menção
de honra ao mérito no mesmo certame em 1995); e o Prêmio Folha de Fotojornalismo de
1996.
Walter Firmo: foi premiado sete vezes no concurso internacional de fotografia da
Nikon, foi diretor do Instituto Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte
(Funarte).
“A fotografia é o ar que respiro”.
6. Era digital
A partir do momento em que a sociedade sentiu a necessidade de ilustrar os
acontecimentos em revistas e jornais, a fotografia foi estrondosamente supervalorizada,
não só pelo fato de ter a realidade fragmentada em uma imagem, mas também pelo custo
benefício de manter o trabalho.
Muito antes dos jornais usarem as fotos para ilustrar os acontecimentos, usavam-se
pinturas para registrar cenas e retratar pessoas. Na época, o surgimento da fotografia e a
reprodução dela apareceram como ameaça aos artistas que trabalhavam na redação
desenhando para revistas e jornais.
As primeiras fotos para jornais foram tiradas por pessoas que já haviam trabalhado nas
redações com cargos mais baixos. Essas pessoas não tinham um grau de escolaridade alta
e, normalmente, eram chamadas para o cargo pelo seu porte físico, devido ao peso dos
equipamentos da época.
A fotografia sofreu grandes e consideráveis mudanças ao longo dos anos até chegar ao
período de sua popularização. É possível que mais da metade das pessoas existentes no
mundo tenham acesso a uma máquina fotográfica ou até mesmo consigam tirar fotos pelo
celular, webcam e outros tipos de aparelhos.
Com o boom tecnológico, a tecnologia fotográfica alcançou proporcionalmente os
veículos de massas junto aos mais variados tipos de tecnologia existentes no mundo todo.
Os meios de comunicação se tornaram cada vez mais rápidos e exigia que a fotografia o
acompanhasse. Do mecanismo demorado de Daguerre – que tornava possível uma fixação
de imagem sem precisar que o artista desenhasse algo por cima do suporte – à era digital,
qualquer pessoa tem acesso a imagens instantaneamente através de uma tela e facilmente
consegue passar essas imagens para um computador.
As primeiras imagens digitais eram de resolução baixíssima, mas não demorou muito
para as câmeras aparecerem mais compactas, automáticas e com capacidade de tirar fotos
com a qualidade em alta resolução. Tudo se tornou digital e o uso de filmes ficou restrito a
pequenos grupos de pessoas que ainda cultivam e tem acesso à essa prática.
Com o avanço da tecnologia, as imagens digitais poderiam ser manipuladas com mais
rapidez. Entretanto, a manipulação digital não tem mais força, apesar do que se diz sobre
ser possível mudar uma foto sem transformar o real sentido dela. A fotografia mesmo
sendo “aqui e agora”, não é a cópia fiel da realidade; é enganosa por natureza, é um frame
da cena que pode ser manipulado no momento da construção da foto e pode perder
completamente o sentido se não levar em consideração o que aconteceu antes e depois de
ser tirada. Partindo desse ponto, a fotografia não representa a realidade de um
acontecimento, é um recorte dele, que por sua vez pode ser interpretado de várias
maneiras.
O digital faz parte do cotidiano e estamos claramente vivenciando parte de uma
revolução. A influência midiática ganha força a cada dia e a necessidade de informação
torna-se recorrente na vida dos seres humanos. Estamos em uma era que nos tornamos
reféns da informação e da necessidade do imediatismo que esta chega até nós. As pessoas
têm acesso a todo tipo de notícia em qualquer momento e não é necessário esperar os
jornais impressos para sabermos sobre determinado assunto. A informação circula, existe e
renova-se o tempo todo num máximo acesso de notícias; as pessoas são bombardeadas de
informação e é praticamente impossível fugir dessa realidade.
Levando em consideração esses pontos, o fotojornalismo tomou algumas vertentes. O
jornalismo não da só a notícia do imediato, pode ser informativo, interpretativo e
opinativo, onde os profissionais precisam buscar outras maneiras de passar a mensagem
para o receptor. O fotojornalismo se transformou nesses novos aspectos, e é necessário
entender também, que o leitor buscar por textos rápidos e imagens representativas. A
fotografia, então, passou a ter características de documento e o fotojornalismo teve o
mesmo seguimento.
7. Mercado de trabalho
Devido à inserção da fotografia na era digital e com a facilidade que esse meio
proporciona, o mercado torna-se restrito aos profissionais que produzem materiais mais
elaborados e de melhor qualidade técnica em detrimento dos conteúdos imediatos dos
smarphones e afins. Entretanto, a internet é um ambiente ambíguo exatamente por essa
mesma facilidade que permite versatilidade e veiculação livre e autônoma de portfólios
e obras autorais.
Mas diferente do que outras carreiras asseguram em termos trabalhistas como
benefícios e carteira assinada, a carreira fotojornalística e documental demonstra riscos
e poucas certezas; a contratação dos serviços geralmente segue o padrão free-lance,
porém o mercado é dinâmico e mutável, com as mais variadas demandas de acordo com
os acontecimentos sociais e políticos que fervilham no atual cenário brasileiro. Segundo
a ARFOC/SP, os honorários no setor editorial giram em torno de R$ 630,00 à R$
1.700,00, variando de acordo com número de horas ou viagens e ainda se incluem
custos de materiais utilizados, tratamento, transporte, alimentação, credenciamento, etc.
Projetos de autoria pessoal tornam-se inviabilizados pela falta de investimentos dos
veículos midiáticos, que apenas contratam serviços para propostas e objetivos próprios;
sem incentivo artístico livre, impedem o fotógrafo de trabalhar sob seus próprios
padrões e solicitam um produto em específico. Para contornar essa situação, o caminho
seria um auto investimento do fotógrafo no setor empresarial e institucional. Os
honorários obtidos nesse setor giram em torno de R$ 970,00 à R$ 2.600,00 em média.
Outra forma é manter-se em constante reinvenção e adotar novas técnicas para manter-
se no mercado e como investimento na liberdade autoral.
8. Principais técnicas, equipamentos e tendências.
A fotografia de campo do fotojornalismo documental possui uma natureza efêmera
própria e exige, portanto, uma preparação dos equipamentos de modo que evite lentidão
na hora da captura. Para isso, a prática da alteração rápida das definições da câmera se
faz necessária, assim como a focagem automática para não perder o fluxo contínuo dos
acontecimentos. A utilização de objetivas com distância focal fixa dispõe maior
profundidade de campo e, assim, permite a construção da imagem em seu ambiente e
seus arredores, bem como a focalização de um único ente em meio a muitos outros
componentes; permite a movimentação livre do fotógrafo para aproximar-se ou afastar-
se dos objetos de suas capturas. A definição monocromática do estilo é também um
recurso que enaltece as características da composição da imagem.
Mas a construção da fotografia vai além da técnica, é também uma relação
interpessoal que permite observar de perto o humano, em seus pormenores e visíveis e
invisíveis: iniciar conversas, ouvir histórias e as emoções que emanam delas,
aproximar-se de realidades e mundos estrangeiros, do que vai além de si e entra em
contato com o outro, a fim de compreendê-lo e, finalmente, captura-lo num instante
fixado na eternidade.
Algumas tendências contemporâneas rompem com os antigos paradigmas
fotojornalísticos do scoop (de objetividade, verdade e flagrante) e dão abertura ao que é
relativo de cada subjetividade, desfazendo o compromisso com a verdade e
estabelecendo uma forte ligação com o ato de questionar – tanto as práticas técnicas
como a presença desse fator nas obras autorais. Sobre essa nova configuração, Antônio
Fatorelli exprime que:
“Na ausência de uma natureza que garanta a
verdade ou a essência, encontramo-nos diante desses
mapas frágeis, variáveis, que têm seus contornos
permanentemente redesenhados”.
Nesse sentido, a foto documental se distancia da foto-manchete, comercial e polêmica que
dominam os veículos de massa e se endereça ao registro da sensibilidade artística do cotidiano.
9. Fotos Autorais
10. Referências bibliográficas
ARFOC-SP. Tabela de referência. São Paulo, 2015/16;
FATORELLI, ANTÔNIO. Fotografia e modernidade. In: SAMAIN, Etienne (org). O
fotográfico. São Paulo: Editora Hucitecm, 2005.
HALLAK LOMBARDI, KÁTIA. Documentário Imaginário: reflexões sobre a
fotografia documental contemporânea. 2008. p. 35-58. Dissertação (Mestrado em
Comunicação Social) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Federal de Minas Gerais.
SOUSA, JORGE PEDRO. Uma História Crítica do Fotojornalismo Ocidental.
Porto: Letras Contemporâneas, 1998.
SONTAG, SUSAN. Sobre Fotografia. São Paulo: Cia. Das Letras, 2004.
PERENTINI, SARA LEMES. Bressonianos: Comprovando a influência do
fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson sobre fotojornalistas brasileiros atuais. 2012.
116 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Midiática) – Faculdade de Arquitetura,
Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista.