foto 3.36 - espécies de anfíbios registradas para a apa serra...

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3.109 Foto 3.36 - Espécies de Anfíbios Registradas para a APA Serra Dona Francisca Legenda: (A) Scytophrys sawayae (rãzinha-do-mato), coletada no Castelo dos Bugres (Ponto 4 da AER - UTM 694956 / 7096876); (B) Hylodes perplicatus (rã-dos-riachos), coletada na ETA Águas de Joinville , rio Piraí (Ponto 2 da AER - UTM 701307 / 7095738); (C) Leptodactylus nanus (rãzinha-do-mato), coletada no Castelo dos Bugres (Ponto 4 da AER – UTM 694956 / 7096876); (D) Leptodactylus notoaktites (rã-goteira), coletada no Rio do Júlio (Ponto 9 da AER - UTM 688146 / 7089477); (E) Leptodactylus plaumanni (rã), coletada no ponto Extremo Oeste (Ponto 7 da AER - UTM 682458/ 7107002); (F) Chiasmocleis leucosticta (sapinho-da-terra), coletada no Castelo dos Bugres (Ponto 4 da AER – UTM 694956 / 7096876). Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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Foto 3.36 - Espécies de Anfíbios Registradas para a APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Scytophrys sawayae (rãzinha-do-mato), coletada no Castelo dos Bugres (Ponto 4 da AER - UTM 694956 / 7096876); (B) Hylodes perplicatus (rã-dos-riachos), coletada na ETA Águas de Joinville , rio Piraí (Ponto 2 da AER - UTM 701307 / 7095738); (C) Leptodactylus nanus (rãzinha-do-mato), coletada no Castelo dos Bugres (Ponto 4 da AER – UTM 694956 / 7096876); (D) Leptodactylus notoaktites (rã-goteira), coletada no Rio do Júlio (Ponto 9 da AER - UTM 688146 / 7089477); (E) Leptodactylus plaumanni (rã), coletada no ponto Extremo Oeste (Ponto 7 da AER - UTM 682458/ 7107002); (F) Chiasmocleis leucosticta (sapinho-da-terra), coletada no Castelo dos Bugres (Ponto 4 da AER – UTM 694956 / 7096876).

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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Foto 3.37 - Espécies de Répteis Registradas para a APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Caiman latirostris (jacaré-de-papo-amarelo), fotografado no Parque Zoobotânico de Joinville; (B) Hydromedusa tectifera (cágado-pescoço-de-cobra), espécime sem procedência; (C) Anisolepis grilli (lagartixa), procedente de Curitiba, PR; (D) Enyalius iheringii (camaleão), procedente de Antonina, PR; (E) Tupinambis merianae (lagarto ou teiú), procedente de Curitiba, PR.

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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Foto 3.38 - Espécies de Répteis Registradas para a APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Ophiodes fragilis (cobra-de-vidro), coletado na Serra Queimada (Ponto 6 da AER – UTM 693670 / 7109991); (B) Mabuya dorsivittata (lagartixa), procedente de Jaguariaíva, PR; (C) Amphisbaena microcephala (cobra-cega), coleada na Vila Dona Francisca (Ponto 1 da AER – UTM 700891 / 7104664); (D) Chironius exoletus (cobra-cipó ou voadeira), procedente de Morretes, PR; (E) Chironius fuscus (cobra-cipó ou voadeira), procedente de Antonina, PR; (F) Chironius laevicollis (caninana ou voadeira), procedente de Morretes, PR.

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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Foto 3.39 - Espécies de Répteis Registradas para a APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Spilotes pullatus (caninana), espécime sem procedência; (B) Atractus trihedrurus (cobra preta), procedente de Morretes, PR; (C) Clelia plumbea (muçurana), espécime sem procedência; (D) Dipsas alternans (dormideira), procedente de Campina Grande do Sul, PR; (E) Echinanthera cyanopleura (cobrinha-do-mato), espécime sem procedência.

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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Foto 3.40 - Espécies de Répteis Registradas para a APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Liophis miliaris (cobra-d’água), coletado na ETA Águas de Joinville, rio Piraí (Ponto 2 da AER - UTM 701307 / 7095738); (B) Oxyrhopus clathratus (coral falsa), coletado no Castelo dos Bugres (Ponto 4 da AER - UTM 694956 / 7096876); (C) Pseudoboa haasi (muçurana), procedente de Candói, PR; (D) Sibynomorphus neuwiedi (dormideira), espécime sem procedência; (E) Taeniophalus bilineatus (cobrinha-do-mato), espécime sem procedência; (F) Thamnodynastes strigatus (jararaca-do-brejo), espécime sem procedência.

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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Foto 3.41 - Espécies de Répteis Registradas para a APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Tomodon dorsatus (cobra-espada), espécime sem procedência; (B) Tropidodryas serra (jararaca-falsa), procedente de Guaratuba, PR; (C) Xenodon neuwiedi (boipeva-do-mato), procedente de São Francisco do Sul, SC; (D) Micrurus corallinus (coral-verdadeira), espécime sem procedência; (E) Bothropoides jararaca (jararaca comum), procedente de Moeda, MG; (F) Bothrops jararacussu (jararacuçu), espécime sem procedência.

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

Por fim, destaque deve ser dado ao jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). Embora esta espécie não figure nas listas de répteis ameaçados do Brasil ou do Estado de Santa Catarina, suas populações podem encontrar-se em declínio na região em função da descaracterização de seus habitats e de eventual pressão de caça e abate. Na APA, a maioria dos ambientes de ocorrência da espécie (recursos hídricos de terras baixas, margeados por florestas aluviais) encontra-se hoje alterada pela presença de gado, e muitas áreas alagadiças foram modificadas para estabelecimento de plantios de arroz. Segundo informes da população local, jacarés são eventualmente avistados nesses plantios, e não raro ocorre seu abate motivado por medo ou para fins de consumo de sua carne. Desta forma, estratégias específicas de monitoramento e

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conservação da espécie são requeridas para a região.

3.4.3.4 - Espécies Exóticas e Potencialmente Danosas

Dentre as espécies de anfíbios e répteis ora registradas, apenas a lagartixa das paredes (Hemidactylus mabouia) é uma forma exótica. Esta espécie é oriunda da África, e detém forte associação com o homem, habitando quase exclusivamente o interior de residências e outras estruturas civis. Até onde se conhece, trata-se de uma espécie inócua à herpetofauna nativa.

Outra espécie passível de ocorrência na região, embora não tenha sido encontrada em campo, consiste na rã-touro (Lithobates catesbeianus). Esta espécie foi introduzida em diversas regiões brasileiras em função de seu uso em atividades de ranicultura, e apresenta riscos elevados para as espécies nativas de anfíbios e outros organismos em função da competição pelo hábitat e predação intensa. Caso a espécie venha a ser oportunamente registrada, é recomendável que projetos de controle sejam prontamente implantados.

Por fim, também não é descartada a ocorrência local de espécies de tartarugas do gênero Trachemys (tigres-d’água), já registradas em outras regiões do litoral norte catarinense, inclusive nas cercanias da área urbana de Joinville (Luciana M. Vieira/FUNDEMA, com. pess.). Duas espécies desse gênero, uma nativa do Estado do Rio Grande do Sul (Trachemys dorbignyi) e outra norte-americana (Trachemys scripta), são corriqueiramente adquiridas na forma juvenil como “pets” pela população. Porém, quando atingem maiores dimensões, esses animais são eventualmente abandonados em rios e lagos pelos seus proprietários. Dessas duas espécies, pelo menos T. scripta consiste em uma forma resistente, configurando-se como invasora. Para fins de referência, a Foto 3.42 apresenta as espécies acima citadas.

Foto 3.42 - Espécies Exóticas de Anfíbios e Répteis Registrados e/ou Passíveis de Ocorrência na APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Lithobates catesbeianus (rã touro), espécime sem procedência; (B) Hemidactylus mabouia

(lagartixa das paredes), fotografado em Porto Seguro, BA; (C) Trachemys scripta (tigre-d’água-norte americano ou slider), fotografado no Parque Zoobotânico de Joinville, SC; (D) Trachemys dorbignyi (tigre-d’água-brasileiro), fotografado no Parque Zoobotânico de Joinville, SC.

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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3.4.3.5 - Espécies de Interesse Econômico e Cultural / Espécies Cinegéticas

Dentre as espécies nativas registradas neste estudo, duas espécies merecem destaque por consistirem em formas cinegéticas: o lagarto ou teiú (Tupinambis merianae) e o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). Ambas as espécies são eventualmente caçadas para o consumo de sua carne, especialmente pelas comunidades rurais mais isoladas. Outras espécies que detém interesse econômico consistem nas jararacas (Bothropoides jararaca e B. neuwiedi) e no jararacuçu (Bothrops jararacussu). O veneno dessas espécies tem sido utilizado como um importante insumo para a indústria farmacêutica de produtos vasoconstritores e colas cirúrgicas e, em função disso, diversos criadouros têm sido estabelecidos em todo o país. Na região de Joinville, contudo, desconhecem-se ainda iniciativas de criação dessas espécies.

3.4.3.6 - Espécies Indicadoras de Qualidade Ambiental

A herpetofauna pode ser considerada como um dos melhores indicadores ambientais existentes (Weygoldt, 1989). Por suas condições de “vida dupla” (i.e., existência de uma fase adulta terrestre e larval em geral aquática) e pelas suas características fisiológicas (pele fina permeável e com respiração cutânea), os anfíbios são considerados bons indicadores de níveis de poluição de ecossistemas aquáticos e transicionais (e.g., Green, 1997). Já as serpentes, embora de difícil visualização em campo, podem também servir como elementos de avaliação por sua condição topo em cadeias alimentares. A presença de espécies estenóicas desse grupo (isto é, com alta especificidade no que diz respeito ao uso do ambiente) pode indicar boas condições de preservação do ambiente (Moura-Leite et al., 2003).

Muitas das espécies de anfíbios e répteis ora registrados caracterizam-se por serem bons indicadores ambientais do estado de conservação de seus habitats. No caso dos anuros, merecem destaque as formas intrinsecamente associadas a sistemas de florestas densas, como os representantes dos gêneros Dendrophryniscus (sapinho-das-bromélias), Ceratophrys (sapo-untanha), Proceratophrys (sapinho-de-chifres), Ischnocnema (rã-do-mato) e Scytophrys (rãzinha). A ocorrência conjunta desses animais denota um bom estado de conservação dos sistemas florestais ocorrentes, por exemplo, na região do Castelo dos Bugres. De fato, nesse ponto observam-se ainda remanescentes florestais densos, com vegetação arbórea de porte elevado, além da ocorrência de espécies de outros grupos faunísticos que já são naturalmente mais raras em outras regiões, como a anta (Tapirus terrestris) (ver relatório referente à Mastofauna). A presença dessas espécies de anfíbios, altamente associados à serapilheira e a bromélias (portanto altamente sujeitos a desaparecimento nos casos de perda desses microhábitats), sugere que esta área não tenha sido objeto de corte raso no passado, muito embora se observem vestígios de exploração florestal moderada em alguns pontos.

Outros grupos de anfíbios com capacidade indicadora consistem nas espécies associadas a recursos hídricos. Pelo menos duas espécies registradas, Vitreorana uranoscopa (perereca-de-vidro) e Hylodes perplicatus (rã-dos-riachos), são altamente dependentes de cursos d’água com boa integridade. Tais espécies foram registradas em diversos dos pontos analisados na área da serra, demonstrando que esta porção da APA apresenta-se ainda em boa condição ambiental em geral.

Se algumas espécies de anuros são altamente associadas a sistemas ambientais íntegros, outros, por sua vez, podem ampliar grandemente suas populações em condições de alteração. Nas áreas de agricultura e pastagens das porções de terras baixas da APA, por exemplo, observou-se grande concentração de espécies associadas a áreas abertas, como Physalaemus cuvieri (rã-cachorro), Dendropsophus minutus, Scinax perereca (pererecas) e Elachistocleis ovalis (rãzinha), dentre outras. Estas espécies apresentam ampla distribuição geográfica por áreas abertas do Sul e Sudeste do Brasil (algumas ocorrendo inclusive até a Amazônia, como D. minutus), e sua agregação em grandes assembleias geralmente denota

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condições de alteração.

No caso dos répteis, apresenta relevância, na região da APA, o registro em museus e na literatura de diversas espécies de serpentes com hábitos arborícolas ou semiarborícolas (e.g., as cobras cipós Chironius spp. e Uromacerina ricardinii, a dormideira Imantodes cenchoa e as jararacas falsas do gênero Tropidodryas) e/ou associadas á serapilheira densa (e.g., as pequenas serpentes dos gêneros Echinanthera e Taeniophallus). Tal qual para anuros, a ocorrência local dessas espécies sugere boa integridade dos remanescentes florestais regionais. Contudo, como estudos envolvendo serpentes geralmente carecem de grandes prazos para serem conclusivos, o registro em campo dessas espécies demanda estudos ecológicos futuros de longa duração.

3.4.3.7 - Aspectos de Conservação

Durante os trabalhos de campo, diversas pressões ambientais que incidem diretamente sobre a herpetofauna puderam ser constatadas. Dentre as mesmas, as principais referem-se à alteração do hábitat, a qual apresenta diversas origens antropogênicas, variáveis ainda segundo as diferentes macrorregiões abrangidas pela APA. Nas porções de altitudes mais baixas e com maior capacidade de uso agrícola da terra, por exemplo, a vegetação foi em grande parte suprimida para dar lugar a plantios de produtos diversos, tais como arroz, mandioca e banana, bem como para uso pecuário. A vegetação nativa dessa região, em geral, encontra-se alterada em sua composição e fragmentada. Ainda assim, em algumas drenagens locais é possível verificar remanescentes de florestas aluviais e de terras baixas que possivelmente servem de abrigo à fauna remanescente. Esta condição é evidente especialmente na região da Vila Dona Francisca (Ponto 1 da AER), onde subsistem remanescentes de florestas aluviais, embora alteradas, ao longo do rio Seco. Já na região da Baixada do Rio Piraí (Ponto 3 da AER), os fragmentos florestais encontram-se bastante alterados e fragmentados, levando muitas espécies associadas a ambientes paludosos a habitarem os plantios de arroz estabelecidos localmente. Algumas espécies (a exemplo de anfíbios e de serpentes aquáticas) sobrevivem bem nesses sistemas, porém outras, como o jacaré-de-papo-amarelo, são corriqueiramente abatidas quando de seu encontro pela população local.

A supressão vegetal para uso agropecuário do solo e, inclusive, com vistas à utilização imobiliária, é intensa também na porção mais elevada da serra, área coincidente com a região das florestas com araucárias e dos campos rupestres. Tal ocupação tem levado a paisagem local também a uma alta fragmentação e descaracterização, acompanhadas da intensa substituição das espécies vegetais nativas por formas exóticas de árvores (tais como pinus, eucaliptos e frutíferas) e gramíneas (especialmente braquiárias). Nas áreas de campos rupestres coincidentes com as nascentes do rio Cubatão, há ainda intenso uso de fogo para renovação de pastagens. Este uso tem por vezes atingido os pequenos capões de matas nebulares, ambientes de ocorrência possivelmente exclusiva de uma das novas espécies de Brachycephalus (sapinho-do-folhiço) descoberta nesse estudo. O fogo, além de suprimir o hábitat desta e de demais espécies, pode levar os anfíbios a um rápido desaparecimento em função do aumento excessivo de calor e perda da umidade do solo, com consequências sobre a respiração cutânea desses animais mesmo em casos em que os mesmos se encontrem abrigados em tocas ou sob a serapilheira. Já no caso da região das florestas com araucárias, a supressão vegetal pode estar gerando a fragmentação das populações da nova espécie de Melanophryniscus (sapinho tricolor), a qual, apresentando reprodução associada a bromélias-tanque de solos, possivelmente necessita de ambientes florestais íntegros e em grandes dimensões. A pequena disponibilidade atual desse tipo de recurso e ambiente deve ser vista como preocupante para esta espécie e para demais formas exclusivamente florestais dessa região em particular.

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3.4.4 - Avifauna

3.4.4.1 - Riqueza e Biogeografia da Avifauna da APA Serra Dona Francisca

Através do presente estudo, foram registradas 267 espécies em campo, considerando-se uma identificada apenas quanto ao gênero (Anexo 3.08). Da bibliografia, compilou-se o registro de 73 espécies, das quais 29 não foram registradas em campo, o que totaliza 296 espécies para a região de estudo e entorno imediato, sendo 192 Passeriformes (pertencentes a 28 famílias) e 104 Não Passeriformes (30 famílias) (Figuras 3.50 e 3.51). Desse total, 274 espécies foram registradas dentro dos limites da APA e 162 fora, sendo que 22 delas foram registradas unicamente fora dos limites. A ornitofauna registrada inclui-se em 57 famílias, das quais as mais especiosas foram Tyrannidae (33 espécies), Thraupidae (22), Furnariidae (20), Trochilidae e Thamnophilidae (ambas com 17 espécies). Duas espécies registradas representam novas ocorrências para o Estado de Santa Catarina: maria-leque-do-sudeste (Onychorhynchus swainsoni) e arredio-pálido (Cranioleuca pallida).

Figura 3.50 - Distribuição Relativa da Riqueza de Espécies de Aves Passeriformes Segundo Diferentes Famílias Registradas na APA

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

O número de espécies registrado representa 16,2% das aves brasileiras (1832 espécies; Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, 2011) e cerca de 46% das aves catarinenses (643 espécies, incluindo os dois novos registro; vide adiante), sendo bem superior ao levantado para outras unidades de conservação (menores) no nordeste de Santa Catarina (Tabela 3.26). Essa riqueza em espécies de aves se deve, em parte, pela grande extensão geográfica, presença de vários ambientes, grande amplitude altimétrica (20-1330 m s.n.m.) e pela presença de aves acidentais, migratórias e colonizadoras na região de estudo.

Quanto ao número de espécies em Santa Catarina (aproximado), consideraram-se registros da literatura consultada (Raposo & Teixeira, 1992; Soares & Schiefler, 1995; Rosário, 1996; Bornschein & Reinert, 1996, 2000; Naka et al., 2000; Naka & Rodrigues, 2000; Bornschein et al., 2004; Ghizoni-Jr, 2004; Ghizoni-Jr & Silva, 2006, Branco, 2007; Rupp et al., 2008; Ghizoni-Jr et al., 2009; Cremer & Grose, 2010; Kohler et al., 2010; Maurício et al., 2010), com modificações, e alguns inéditos. Da literatura, desconsideraram-se os registros do canário-do-mato (Basileuterus flaveolus) (Bornschein & Reinert, 2000), arredio-do-rio (Cranioleuca vulpina) e saudade (Tijuca atra), julgados duvidosos, e adicionou-se a presença da trovoada-de-bertoni (Drymophila rubricollis), espécie desmembrada da trovoada (D. ferruginea) (Willis, 1988) que é a

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representante do interior de Santa Catarina. De registros inéditos, adicionaram-se 13 espécies registradas pelo autor e colaboradores, ainda de ocorrência inédita no estado, a saber: paturi-preta (Netta erythrophthalma), sanã-do-capim (Laterallus exilis), bacurauzinho (Chordeiles pusillus), bacurau-rabo-de-seda (Antrostomus sericocaudatus), joão-da-palha (Limnornis curvirostris), chibum (Elaenia chiriquensis), amarelinho-do-junco (Pseudocolopteryx flaviventris), calhandra-de-três-rabos (Mimus triurus), figuinha-do-mangue (Conirostrum bicolor), bigodinho (Sporophila lineola), carretão (Agelasticus cyanopus) e vira-bosta-picumã (Molothrus rufoaxillaris).

Figura 3.51 - Distribuição Relativa da Riqueza de Espécies de Aves Não Passeriformes Segundo Diferentes Famílias Registradas na APA

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

Tabela 3.26 - Número de Espécies de Aves Registrado em Locais de Floresta Ombrófila Densa no Nordeste de Santa Catarina

LOCAL FONTE ESPÉCIES

Parque Ecológico Spitzkopf (Blumenau) Zimmermann (1993) 80

Estação Ecológica do Bracinho (Joinville) Machado (1996) 131

Parque Botânico Morro do Baú (Ilhota) Marterer (1996) 177

Parque Natural Municipal São Francisco de Assis (Blumenau)

Zimmermann (1999) 111

Morro do Cachorro (Blumenau) Neppel (2000) 143

Morro Azul (Timbó) Borchardt-Júnior & Zimmermann (2000) 113

Parque Natural Municipal São Francisco de Assis (Blumenau)

Müller (2001) 111

Reserva Florestal da Cia. Hering (Blumenau)

Müller (2001) 150

Reserva Particular Bugerkopf (Blumenau) Brand et al. (2005) 131

APA Serra Dona Francisca (Joinville) Esse estudo 296

Fonte: Modificado de Brand et al. (2005).

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A Serra do Mar e o trecho do planalto da APA Serra Dona Francisca enquadram-se nas áreas de endemismo de aves denominadas “Serra do Mar Center” e “Paraná Center” (Cracraft, 1985), respectivamente. No entanto, as espécies apresentadas pelo autor como endêmicas da segunda ocorrem, em sua maioria, em outras áreas, restando pouco subsídio para não considerar a região planáltica como uma mera extensão, a oeste, da “Serra do Mar Center”. Na visão de Stattersfield et al., (1998), o litoral e setores de média altitude de parte da faixa costeira do Brasil configura-se na área de endemismo “Atlantic forest lowlands”. Já os setores mais elevados dessa mesma região, adicionadas do interior do planalto meridional brasileiro, tem-se a área de endemismo “Atlantic forest mountains”, que corrige parte das distorções de Cracraft (1985).

Exemplos de algumas espécies de aves registradas na APA são apresentados nas Fotos 3.43 a 3.45.

De fato, as aves florestais da APA Serra Dona Francisca não se distribuem uniformemente por todas as florestas da região, condizendo com o reconhecimento de duas influências biogeográficas na área de estudo, uma representada pelas grandes altitudes e planalto e outra pelas altitudes baixas até moderadas. Como muitos dos exemplos de espécies representativas de cada área biogeográfica daqueles estudos não respeitam os limites altimétricos pressupostos, optou-se por citar exemplos de aves que localmente concentram-se em determinadas altitudes ou fitofisionomias. Da Floresta Ombrófila Mista, são elementos característicos registrados o pica-pau-anão-carijó (Picumnus nebulosus), grimpeiro (Leptasthenura setaria) e cisqueiro (Clibanornis dendrocolaptoides). Da Floresta Ombrófila Densa Alto Montana são espécies características a tovaca-de-rabo-vermelho (Chamaeza ruficauda), arredio-pálido (Cranioleuca pallida), estalinho (Phylloscartes difficilis) e peito-pinhão (Poospiza thoracica). Ocorrendo tipicamente em Alto Montana e Montana têm-se vários exemplos, como tapaculo-preto (Scytalopus speluncae), catraca (Hemitriccus obsoletus) e sanhaçu-frade (Stephanophorus diadematus). Elementos característicos das florestas de baixa altitude são o gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus), maria-catarinense (Hemitriccus kaempferi), garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris) e tiê-sangue (Ramphocelus bresilius), entre outros.

3.4.4.2 - Espécies por Status de Ocorrência Regional

São residentes ou supostamente residentes na região, 263 espécies (88,8% do total) (Anexo 3.08). Dentre as espécies residentes, há algumas que também apresentam um comportamento migratório, pois deixam a região e rumam para áreas de invernagem mais ao norte após reproduzirem (residentes de verão, sensu Belton [1994]). São residentes de verão o gavião-tesoura (Elanoides forficatus), a pomba-galega (Patagioenas cayennensis), o tuju (Lurocalis semitorquatus), o andorinhão-do-temporal (Chaetura meridionalis), a guaracava-de-bico-curto (Elaenia parvirostris), o tuque (Elaenia mesoleuca), o irré (Myiarchus swainsoni), o bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus), o suiriri (Tyrannus melancholicus), a tesourinha (Tyrannus savana), a peitica (Empidonomus varius), a juruviara (Vireo olivaceus), a andorinha-serradora (Stelgidopteryx ruficollis) e o coleirinho (Sporophila caerulescens), entre outras. Talvez outras espécies da região sejam residentes de verão, o que mais estudos devem esclarecer. Esse é o caso pelo menos do caneleiro-preto (Pachyramphus polychopterus), neinei (Megarynchus pitangua), enferrujado (Lathrotriccus euleri), saí-andorinha (Tersina viridis) e vira-bosta (Molothrus bonariensis), entre outras. Oito espécies são migratórias, das quais seis se originam do hemisfério norte (migrantes do norte) e duas do hemisfério sul, sendo uma ao sul da região de estudo (migrante do sul) e uma a oeste (migrante do oeste). Três espécies são consideradas de status acidental, quatro como visitantes e 18 de status de ocorrência indeterminado.

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3.121

Foto 3.43 - Exemplos de Aves Registradas na APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Macuco (Tinamus solitarius); (B) Irerê (Dendrocygna viduata); (C) Jacuguaçu (Penelope obscura); (D) Urubu-

de-cabeça-vermelha (Cathartes aura); (E) Garça branca grande (Ardea alba); (F) Águia pescadora (Pandion haliaetus); (G) Caracará (Caracara plancus).

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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3.122

Foto 3.44 - Exemplos de Aves Registradas na APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Gavião carrapateiro (Milvago chimachima); (B) Quero-quero (Vanellus chilensis); (C) Jaçanã (Jacana jacana);

(D) Anu-preto (Crotophaga ani); (E) Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea); (F) Coruja buraqueira (Athene cunicularia); (G) Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus).

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

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3.123

Foto 3.45 - Exemplos de Aves Registradas na APA Serra Dona Francisca

Legenda: (A) Miudinho (Myiornis auricularis); (B) Saí-azul Macho (Dacnis cayana); (C) Guaxe (Cacicus haemorrhous); (D) Maria-catarinense (Hemitriccus kaempferi); (E) Tangará Macho (Chiroxiphia caudata); (F) Saí-andorinha Fêmea (Tersina viridis); (G) Cabeçudo (Leptopogon amaurocephalus); (H) Choquinha-cinzenta Macho (Myrmotherula unicolor).

Fonte: Ricardo Belmonte-Lopes, 2010.

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3.124

3.4.4.3 - Espécies por Pontos e Sítios de Amostragem

Registraram-se de uma a 106 espécies de aves por ponto de amostragem e de 91 a 200 por sítio (Tabela 3.27).

Tabela 3.27 - Número de Aves Registrado por Ponto e Sítio de Amostragem na APA Serra Dona Francisca (Incluindo Dados Bibliográficos e Inéditos)

SÍTIO AMOSTRAL

PONTO DE AMOSTRAGEM NÚMERO DE

ESPÉCIES DO PONTO

NÚMERO DE ESPÉCIES DO

SÍTIO

Planície e Baixa Encosta

Vila Dona Francisca (Ponto 1) 89

200

ETA Águas de Joinville, rio Piraí (Ponto 2) 33

Baixada do Piraí (Ponto 3) 100

Salto Piraí (Ponto 12) 70

Estrada Mildau (Ponto 13) 34

Vale Piraí ou Piraí (Ponto 16) 13

Serra Dona Francisca (Ponto 17) 2

Rio Mississipi, BR 101 (Ponto 18) 1

Encostas Castelo dos Bugres (Ponto 4) 67

98 Morro da Tromba (Ponto 5) 73

Serra Queimada Serra Queimada (Ponto 6) 106 106

Planalto Extremo Oeste (Ponto 7) 38

91 Fazenda Abaeté (Ponto 8) 77

Entorno

Rio do Júlio (Ponto 9) 79

162

Estrada Bonita (Ponto 10) 67

Alto Quiriri (Ponto 11) 64

Rio Pirabeiraba a jusante da foz do rio Pirabeirabinha (Ponto 14) 52

Vila Nova (Ponto 15) 37

Fonte: M.R. Bornschein & R. Belmonte-Lopes, 2010; STCP Engenharia de Projetos Ltda, 2011.

3.4.4.4 - Espécies por Ambiente

Conforme apresentado na Tabela 3.28, registraram-se de uma a 124 espécies de aves por ambiente.

Tabela 3.28 - Número de Aves Registrado por Ambiente na APA Serra Dona Francisca

AMBIENTE NÚMERO DE ESPÉCIES

Floresta Ombrófila Densa Aluvial (floresta atlântica sobre solos aluviais) 77

Floresta Ombrófila Densa Submontana (floresta atlântica em baixa e média altitude) 111

Floresta Ombrófila Densa Montana (floresta atlântica em média altitude) 124

Floresta Ombrófila Densa Altomontana (floresta atlântica em grande altitude) 34

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3.125

AMBIENTE NÚMERO DE ESPÉCIES

Floresta Ombrófila Mista (floresta de araucária) 38

Estágio intermediário de regeneração de florestas (capoeira) 58

Estágio inicial de regeneração de florestas (capoeirinha) 20

Estepe Gramíneo-lenhosa (campo) 8

Formação Pioneira de Influência Fluvial – estágio herbáceo (brejo) 1

Refúgio Ecológico rupestre (aglomerado rochoso em meio ao campo) 1

Aquático 7

Antrópico 83

Monocultura de Pinus sp. 17

Urbano 8

Aéreo 24

Fonte: M.R. Bornschein & R. Belmonte-Lopes, 2010; STCP Engenharia de Projetos Ltda,, 2011.

3.4.4.5 - Espécies Ameaçadas de Extinção

Vinte e três espécies registradas são consideradas ameaçadas de extinção, sendo nove no âmbito global, cinco no nacional e 20 no estadual. Tais espécies e suas categorias de ameaça são apresentadas na Tabela 3.29.

Tabela 3.29 - Aves Ameaçadas de Extinção Registradas na APA Serra Dona Francisca

ESPÉCIE ÂMBITO DE AMEAÇA / CATEGORIA1

GLOBAL NACIONAL ESTADUAL2

Macuco (Tinamus solitarius) --- --- VU

Gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus) VU VU VU

Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) EN VU EN

Sabiá-cica (Triclaria malachitacea) --- --- VU

Surucuá-grande-de-barriga-amarela (Trogon viridis) --- --- EN

Pica-pau-bufador (Piculus flavigula) --- --- VU

Choquinha-pequena (Myrmotherula minor) VU VU ---

Pintadinho (Drymophila squamata) --- --- EN

Maria-leque-do-sudeste (Onychorhynchus swainsoni) VU --- CR

Assanhadinho (Myiobius barbatus) --- --- EN

Tropeiro-da-serra (Lipaugus lanioides) --- --- EN

Araponga (Procnias nudicollis) VU --- ---

Patinho-gigante (Platyrinchus leucoryphus) VU --- VU

Barbudinho (Phylloscartes eximius) --- --- CR

Papa-moscas-de-olheiras (Phylloscartes oustaleti) --- --- VU

Estalinho (Phylloscartes difficilis) --- --- EN

Maria-pequena (Phylloscartes sylviolus) --- --- EN

Maria-catarinense (Hemitriccus kaempferi) EN CR VU

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3.126

ESPÉCIE ÂMBITO DE AMEAÇA / CATEGORIA1

GLOBAL NACIONAL ESTADUAL2

Pimentão (Saltator fuliginosus) --- --- VU

Tiê-sangue (Ramphocelus bresilius) --- --- VU

Tiê-galo (Lanio cristatus) --- --- EN

Pixoxó (Sporophila frontalis) VU VU VU

Peito-vermelho-grande (Sturnella defilippii) VU --- ---

1 Categoria de ameaça: CR = criticamente ameaçada; EN = em perigo; e VU = vulnerável.

Fonte: M.R. Bornschein & R. Belmonte-Lopes, 2010; STCP Engenharia de Projetos Ltda,, 2011.

3.4.4.6 - Colonização de Ambientes

Além de provocar extinções locais de aves, os desmatamentos e outras alterações do homem na paisagem propiciam a colonização de muitas espécies. À medida que florestas são derrubadas, por exemplo, surgem ambientes que são hábitat para espécies oportunistas. Ocupando esses ambientes, essas espécies ampliam suas distribuições geográficas, o que pode ocorrer muito localmente ou ao longo de ampla área geográfica. Adaptando-se a análise efetuada no norte do Paraná por Bornschein & Reinert (2000), há, na região, inúmeros casos de colonização recente de curta distância por espécies autóctones e alguns de colonização recente de longa distância por espécies alóctones. Do primeiro caso, há as espécies que já habitavam a região e colonizaram o ambiente antrópico (e.g. pastagens e zonas agricultadas), urbano e aquático (açudes).

Na região, esses dois primeiros ambientes foram colonizados por aves como o quero-quero (Vanellus chilensis), rolinha-roxa (Columbina talpacoti), anu-preto (Crotophaga ani), anu-branco (Guira guira) e coruja-buraqueira (Athene cunicularia). Inúmeras outras espécies foram registradas no ambiente antrópico e urbano (Anexo 3.08), mas a maioria apenas de passagem, não propriamente como colonizadoras por não se reproduzirem neles. A formação de açudes e arrozais permite a colonização dessas novas coleções d’água. Sendo essa uma prática comum na região, algumas espécies passaram a ocorrer, como colonizadoras, em regiões essencialmente florestais, como o pernilongo-de-costas-brancas (Himantopus melanurus). Do segundo caso, colonizaram recentemente a região, vindos de longe, o pombão (Patagioenas picazuro; vide Bornschein & Reinert [2000]), bigodinho (Sporophila lineola) e cigarra-do-coqueiro (Tiaris fuliginosus). Talvez também sejam exemplos a pomba-de-bando (Zenaida auriculata), sabiá-barranco (Turdus leucomelas), joão-de-barro (Furnarius rufus) e lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta). As duas últimas estão empreendendo grande processo de colonização no Brasil. As populações do joão-de-barro da maior parte do sul e de parte do sudeste do país podem ser fruto de colonização a partir do sul do Rio Grande do Sul (M.R. Bornschein, obs. pess.). A lavadeira-mascarada é uma colonizadora de longa distância no sul do Brasil, mas ainda não se sabe se ela está fixada na região de estudo.

3.4.4.7 - Espécies Exóticas e Potencialmente Danosas

Das três espécies de aves exóticas no Brasil (Sick, 1997), registrou-se o pombo-doméstico (Columba livia) e o pardal (Passer domesticus) na região, os quais se concentram ao ambiente urbano e antrópico adjacentes.

Algumas aves brasileiras são causadoras de prejuízos à agricultura, como a pomba-de-bando (Zenaida auriculata), garibaldi (Chrysomus ruficapillus) e polícia-inglesa-do-sul (Sturnella superciliaris), que ocorrem na região de estudo. A primeira se favoreceu com os desmatamentos e com as grandes áreas de cultivo na América do Sul, tornando-se uma praga em muitos locais, mas parece rara na APA Serra Dona Francisca, onde foi registrada

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3.127

em um ponto de grande altitude no oeste. As outras duas espécies representam problema ao cultivo de arroz, mas não foi possível colher informações de quanto prejudicam os agricultores regionais.

3.4.4.8 - Espécies de Interesse Econômico e Cultural / Espécies Cinegéticas

Conforme diagnosticado localmente, a caça e a captura consistem em atividades corriqueiras praticadas por moradores de áreas rurais e urbanas da região de estudo. As espécies alvo de caça consistem principalmente em aves de médio porte, como o jacuaçu (Penelope obscura) e inhambu-guaçu (Crypturellus obsoletus), e as alvo de captura consistem principalmente em espécies do grupo das patativas, caboclinhos e coleirinho (gênero Sporophila), trinca-ferro-verdadeiro (Saltator similis) e pimentão (Saltator fuliginosus).

A região de estudo é rica em espécies de aves e isso poderá ser explorado para o turismo de observadores de aves. Pesa positivamente o fato desse turismo já estar consagrado em alguns lugares do Brasil e ocorrer próximo, no litoral norte de Santa Catarina (Reserva Volta Velha, em Itapoá), embora de forma não intensiva. A localidade do Salto Piraí é famosa e isso também pode favorecer a atividade.

3.4.4.9 - Aspectos de Conservação

Diversas condições de alteração das condições ambientais a APA Serra Dona Francisca e, principalmente, seu entorno, geram pressões negativas importantes sobre a ornitofauna local. As mais significativas consistem na supressão de grande parte da cobertura florestal das áreas de baixas altitudes. A redução de ambientes florestais é denominada fragmentação florestal e considerada a maior ameaça à biodiversidade global (Dale et al., 2000; Steininger et al., 2001). As espécies florestais são afetadas pela perda de hábitat e podem ser extintas se as áreas remanescentes, ou fragmentos, forem pequenas demais para sustentar populações viáveis (Pulliam, 1988; Fauth, 2001). Quanto menor o fragmento, maior a hostilidade à sobrevivência de muitas espécies de aves, pois se elevam taxas de predação de ninhos e adultos e pode reduzir a oferta de recursos alimentares, por exemplo (Melo & Marini, 1997; Weinberg & Roth, 1998; Stratford & Stouffer, 2001). Os fatores maiores taxas de predação e menor disponibilidade de alimento, interagem e afetam negativamente a reprodução destas populações (Uejima, 2004). Vários estudos sobre fragmentação no Brasil têm sido conduzidos e apontam a perda de ambiente como a principal causa de perda de espécies no país (e.g. Saatchi et al., 2001; Laps et al., 2003).

O fogo na Serra Queimada é um impacto sério a ser considerado. A queimada é uma das práticas mais antigas e arraigadas da nossa população, sendo efetuada principalmente para promover o “manejo” de pastagens e a “limpeza” de áreas antes de serem cultivadas. Na região de estudo, são queimados regularmente campos e a borda de florestas marginais. Incêndios afetam direta e indiretamente a comunidade ornitofaunística alterando a qualidade do ambiente, reduzindo a disponibilidade de recursos, eliminando abrigos, sítios de reprodução e ninhos de aves. Aves adultas, eventualmente, podem morrer queimadas, intoxicadas pela fumaça ou mesmo de fome como consequência, mesmo que temporária, da supressão e empobrecimento de ambientes.

Oliveira et al. (2000) mencionaram que hoje os incêndios florestais são uma ameaça à integridade das unidades de conservação, onde seus efeitos imediatos são a degradação do recurso natural (fauna e flora), destruição da qualidade paisagística da região, danos à infraestrutura em geral e ameaça à vida e à saúde de funcionários e visitantes, entre outros exemplos. Comentaram, ainda, que incêndios podem comprometer a execução dos objetivos de manejo das unidades de conservação, gerar danos e muitas vezes perdas irreparáveis à flora e fauna e provocar prejuízos incalculáveis do ponto de vista científico, conservacionista e financeiro. Como exemplo, ao longo de 10 anos (1988-1998) ocorreram 72 incêndios no Parque Nacional da Serra da Canastra (Minas Gerais), com uma média de

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3.128

6,5 por ano (Ribeiro et al., 2002). Concentraram-se de julho a outubro, queimaram uma área de quase 221 mil hectares e em sua maioria tiveram origem criminosa, justificando a urgente necessidade de implantação de plano de prevenção e combate a incêndios a fim de reverter o quadro que ultrapassou “em muito os limites aceitáveis” (Ribeiro et al., 2002).

3.4.4.10 - Espécies Indicadoras de Qualidade Ambiental

Avaliou-se a importância de locais para a ornitofauna considerando-se a presença de espécies ameaçadas de extinção, na grande maioria dos casos, e a potencialidade de registros de espécies ameaçadas e relevantes, em alguns casos. Assim, as espécies ameaçadas foram utilizadas como indicadoras de qualidade ambiental e as suas presenças como referência para esforços conservacionistas. Essa indicação se verifica na valoração de importância biológica e na identificação de áreas prioritárias e estratégicas.

3.4.5 - Mastofauna

3.4.5.1 - Riqueza e Biogeografia da Mastofauna da APA Serra Dona Francisca

Neste diagnóstico foram confirmadas 33 espécies de mamíferos de dez ordens diferentes para a APA. Destas, nove espécies são roedores (Rodentia), nove são carnívoros (Carnivora), três são edentados (Cingulata), três são marsupiais (Didelphimorphia), duas são artiodáctilos (Artiodactyla), duas são primatas (Primates), duas são quirópteros (Chiroptera), uma é edentado (Pilosa), uma é perissodáctilo (Perissodactyla) e uma é exótica (Lagomorpha) (Anexo 3.09).

Houve dificuldade na correta determinação da espécie do gênero Akodon pela complexidade e diversificação taxonômica que o gênero apresenta e pela não utilização de técnicas citogenéticas ou moleculares, necessárias para a adequada identificação das espécies (Geise et al., 2005, Christoff et al., 2000).

Os 69 registros de mamíferos obtidos no estudo foram de diferentes tipos: 44 (63,8%) foram por meio de capturas (armadilhas de contenção viva), pegadas, fezes (identificação de pelos), foto-capturas, vestígios (tocas, marcas, carcaças), avistamentos e vocalizações (Figura 3.52). O restante dos registros considerados (36,2%) foi obtido por meio de entrevistas com informantes locais. As espécies consideradas confirmadas por meio deste método foram aquelas mais citadas nas entrevistas informais e registradas na literatura como ocorrentes na região, dando uma boa margem de segurança aos dados.

Figura 3.52 - Tipo de Registros Obtidos para Mamíferos Durante a AER da APA

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

De maneira complementar foi realizada uma extensa revisão na literatura para encontrar as espécies que já foram citadas para a região nordeste de SC e para a APA Serra Dona

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3.129

Francisca. Neste levantamento foi possível confirmar a ocorrência de mais 77 espécies de mamíferos, sendo mais 43 espécies de quirópteros, 21 de roedores, sete de marsupiais, três de carnívoros, duas de artiodáctilos e uma de cingulata (Anexo 3.10). No total, pode-se estimar com boa margem de segurança que a diversidade de mamíferos para a APA Serra Dona Francisca chega a 112 espécies nativas e a uma espécie introduzida. Esta lista pode aumentar, se for ponderada a possível ocorrência da onça-pintada (Panthera onca), não incluída na lista. Esta espécie é relatada por moradores como eventualmente presente na APA, porém até o momento, não existem evidencias que confirmem esta informação.

Dentre as fontes consultadas, foi fundamental o levantamento da RPPN Caetezal (Dallacorte, 2010), trabalho realizado em 2005 com coleta de várias espécies. Neste trabalho, são listadas 75 espécies de mamíferos para a RPPN, havendo destaque para a alta diversidade encontrada para quirópteros.

Em comparação com outras UCs, a riqueza obtida para a APA Serra Dona Francisca pode ser considerada representativa da fauna do nordeste catarinense. A heterogeneidade de ambientes que compõem a APA contribui com esta diversidade. Outro ponto importante é o continuum de mata que ocorre na APA, a qual está ainda conectada com outras UCs e outras áreas ainda preservadas, como a APA Quiriri, a Estação Ecológica do Bracinho, o Parque Ecológico Prefeito Rolf Colin e a mata da região do rio do Júlio e rio Itapocuzinho.

A APA Serra Dona Francisca está totalmente inserida no Domínio da Mata Atlântica e, portanto, sua fauna é típica desta unidade fitoecológica. Biogeograficamente pode-se dividir as espécies ocorrentes em endêmicas da Mata Atlântica e aquelas com ampla distribuição, i.e., espécies que podem estar presentes em outros biomas, como Cerrado, Amazônia e Campos Sulinos (Reis et al., 2010; Mendes, 2005; Eisenberg & Redford, 1999).

A diversidade de espécies obtida em campo para a APA (33 espécies) está bem abaixo da diversidade esperada para a mesma (112 espécies - Anexo 3.10). Esta diferença se dá devido a alguns fatores como o esforço de campo empreendido para este diagnóstico (buscando principalmente indicadores, conforme o método preconizado pela AER), as condições climáticas presentes durante a amostragem de campo e a não utilização de redes de neblina para a amostragem de morcegos. Na lista final de espécies, os morcegos, roedores e marsupiais são os grupos que mais contribuem com a diversidade da APA.

Em relação à busca de vestígios por transectos (Foto 3.46), foi encontrado um total de 24 conjuntos de vestígios de mamíferos, sendo quatro de cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), quatro de gato-do-mato (Leopardus sp.), quatro de veado (Mazama sp.), quatro de tatu (Dasypus sp.), três de anta (Tapirus terrestris), dois de mão-pelada (Procyon cancrivorus) e um de tatu-de-rabo-mole (Cabassous tatouay), quati (Nasua nasua) e cateto (Pecari tajacu). Portanto, obteve-se uma taxa de encontro de 1,01 conjuntos de vestígios por km na APA.

As armadilhas fotográficas obtiveram 11 registros de Cerdocyon thous (cachorro-do-mato), um de Philander frenatus (cuíca-de-quatro-olhos), um de Leopardus sp. (gato-do-mato), um de Puma concolor (puma ou suçuarana; Foto 3.47A), um de Leopardus pardalis (jaguatirica; Foto 3.47B) e dois de Didelphis aurita (gambá-de-orelhas-pretas; Foto 3.47C), totalizando 17 registros. Considerando o esforço de 71 armadilhas/dia e 17 registros de animais, obteve-se um sucesso de captura de 23,94%, o qual pode ser considerado bom para áreas florestais não defaunadas, uma vez que os sucessos normalmente variam entre 10 a 25 % (Srbek-Araújo & Chiarello, 2007).

Por razões relativas à necessidade de grande esforço de campo para obtenção de dados de abundância para mamíferos de médio e grande porte, seja por meio do método dos transectos lineares (Cullen-Jr. & Rudran, 2003) ou por meio do método de captura e recaptura, os dados obtidos neste estudo são qualitativos. Embora dados qualitativos não permitam algumas análises como índices de diversidade, dados como presença/ausência são muito importantes para dar a relevância de conservação de uma área, principalmente se houver a presença de espécies ameaçadas.

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3.130

Foto 3.46 - Pegadas de Mamíferos Encontradas em Campo Durante a AER da APA

Legenda: (a) Pegada de Procyon cancrivorus (mão-pelada) (UTM 699937 / 7112696); (b) Pegada de Tapirus terrestris (anta)

(UTM 694956 / 7096876).

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

Foto 3.47 - Mamíferos Registrados Através de Armadilha Fotográfica na Região da Serra Queimada Durante a AER da APA Serra Dona Francisca

Legenda: (a) Puma concolor (puma ou suçuarana), fotocapturado no Ponto 7 da AER - Serra Queimada (UTM 694162 /

7113855); (b) Leopardus pardalis (jaguatirica), fotocapturada no Ponto 7 da AER - Serra Queimada (UTM 694162 / 7113855); (c) Didelphis aurita (gambá-de orelhas-pretas), fotocapturado no Ponto 1 da AER - Vila Dona Francisca (UTM 700891 / 7104664).

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda., 2011.

A B

A B

C

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3.131

O esforço de captura com armadilhas de contenção viva totalizou 234 armadilhas/noite, onde foram capturados 24 indivíduos de seis espécies, sendo um marsupial e cinco roedores (Tabela 3.29). Obteve-se um sucesso de captura de 6,2 %, valor que pode ser considerado bom, comparado com outros trabalhos na Mata Atlântica (Pardini & Umetsu, 2006).

Observando a Tabela 3.30 verifica-se que os pontos Castelo dos Bugres e Vila Dona Francisca (rio Seco) foram mais diversos que o ponto Morro da Tromba. No Morro da Tromba o esforço foi menor, já que não foi instalada armadilha de queda (pitfall). Dos três pontos, o do Castelo dos Bugres apresentou a maior diversidade, bem como o maior número de indivíduos capturados. As diferenças entre a riqueza obtida entre os pontos dependem de vários fatores para serem explicadas, desde as diferenças na composição florística, o tamanho do remanescente e o histórico de perturbação da área. O fator altitude, além dos outros comentados acima, pode estar indiretamente relacionado à diferença de riqueza encontrada entre os pontos.

Tabela 3.30 - Espécies de Pequenos Mamíferos Não-Voadores Capturadas em Três Pontos da APA Serra Dona Francisca com Armadilhas Modelo Schermann (Sch) e Modelo Pit-Fall (pit)

ESPÉCIE NOME POPULAR

Castelo dos Bugres

Vila Dona Francisca

Morro Tromba TOTAL %

Sch Pit Sch Pit Sch

Rodentia

Cricetidae

Akodon cf. montensis rato-do-mato 7 2 1 10 41,7

Delomys sp. rato-do-mato 1 1 4,2

Euryoryzomys russatus rato-do-mato 1 5 6 25,00

Oxymicterus judex rato-narigudo 3 3 12,5

Thaptomys nigrita rato-do-mato 1 1 2 8,3

Didelphimorphia

Didelphidae

Monodelphis inheringi cuíca-de-três listras 2 2 8,3

Totais 8 6 3 2 5 24 100,0

Legenda: armadilhas modelo Schermann (Sch) e pitfall (Pit).

Fonte: STCP Engenharia de Projetos Ltda,, 2011.

Mudanças nas composições e abundâncias de espécies das comunidades de pequenos mamíferos podem estar relacionadas a fatores climáticos ou à disponibilidade de recursos. Estudos no Sul do Brasil (Paise, 2005) têm revelado que a variação populacional, a reprodução e o fator de condição da maioria das espécies de pequenos mamíferos tende a ser mais sazonal do que em outras regiões da Mata Atlântica.

A título de ilustração, as Fotos 3.48 a 3.51 apresentam algumas das espécies registradas na APA Serra Dona Francisca.

3.4.5.2 - Espécies Endêmicas dos Ecossistemas Regionais

Das 112 espécies ocorrentes na APA Serra Dona Francisca, 27 são endêmicas da Mata Atlântica (Mendes, 2005; Fonseca et al., 1996) e, destas, nove foram confirmadas em campo (integrantes das ordens Didelphimorphia, Primates e Rodentia). São elas:

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3.132

− Didelphis aurita (gambá-de-orelhas-pretas): Esta espécie foi confirmada na APA por foto-captura (Foto 3.47C). É uma espécie bastante comum em toda sua área de distribuição. Possui hábitos noturnos e solitários. É comum em ambiente florestal e é considerada de preocupação menor em conservação pela IUCN (2010);

− Monodelphis iheringi (catita): Este é um marsupial raro, presente tanto em florestas primárias quanto secundárias. Um espécime (Foto 3.48B) foi capturado numa armadilha modelo pitfall, único modelo que consegue capturar esta espécie (Pardini & Umetsu, 2006). É citado na categoria dados insuficientes na IUCN (2010), no Brasil (Machado et al., 2005) e no Rio Grande do Sul (Vieira & Iob, 2003). Em São Paulo é considerada vulnerável na atual lista das espécies ameaçadas (São Paulo, 2008);

− Philander frenatus (cuíca-de-quatro-olhos): Esta espécie foi confirmada por foto-capturada no trabalho de campo. É um marsupial de hábito noturno, que se locomove principalmente no chão da floresta e também por árvores e arbustos. É capturada mais frequentemente no solo (Rossi e Bianconi, 2010);

− Alouatta guariba clamitans (bugio-ruivo): Esta espécie foi ouvida mais de uma vez durante a amostragem de campo na APA, demonstrando habitarem diversas áreas onde houvesse sistemas florestais densos. Os bugios vivem em bandos de 4 a 6 indivíduos com um macho dominante. Possuem dimorfismo sexual, sendo as fêmeas pretas e os machos ruivos. Podem viver em florestas primárias, florestas secundárias ou até em fragmentos florestais de poucos hectares. É considerada vulnerável no Rio Grande do Sul (Marques, 2003), em Santa Catarina (IGNIS, 2010; Resolução CONSEMA Nº 002/2011), no Paraná (Margarido & Braga, 2004) e em São Paulo (São Paulo, 2008);

− Cebus nigritus (macaco-prego): O gênero Cebus ocorre em todo Brasil, tendo espécies do Cerrado, Caatinga, Amazônia e Mata Atlântica (Bicca-Marques et al., 2010). O macaco-prego da Mata Atlântica, Cebus nigritus (Foto 3.48E) foi avistado em diferentes pontos durante a amostragem de campo. São primatas diurnos e arborícolas que podem forragear no chão até em níveis mais altos das copas. Possuem bandos grandes de até 35 indivíduos e área de vida abrangente (Freese & Oppenheimer, 1981). Consta como em menor preocupação conservacionista na lista da IUCN (2010);

− Cavia spp. (preás): São citadas duas espécies do gênero Cavia para a região da APA (Bonvicino et al., 2008). Durante o campo foram avistadas algumas preás (Foto 3.52), mas estas não foram capturadas, portanto a determinação da espécie pode estar equivocada. Após a organização do gênero realizada por Ximenez (1980), a espécie mais comum na região é Cavia fulgida. As preás têm hábito diurno e terrestre. Habitam bordas de mata em áreas de Floresta Atlântica e formações próximas a cursos d’água como brejos e matas de galeria (Oliveira e Bonvicino, 2010);

− Delomys sp. (rato-do-mato): Na armadilha modelo pitfall foi capturado um indivíduo, o qual não foi possível identificar em nível específico. Na APA Serra Dona Francisca ocorrem duas espécies de Delomys: D. dorsalis e D. sublineatus (Bonvicino et al., 2008). Estas espécies são típicas de Mata Atlântica, possuem hábito terrestre e habitam formações florestais em altitudes elevadas da Mata Atlântica (Oliveira & Bonvicino, 2010);

− Oxymycterus judex (rato-narigudo): Um indivíduo (Foto 3.51A) foi capturado em armadilha modelo Schermann. A espécie foi descrita para Joinville, Santa Catarina. Distribui-se pelo litoral e serras, do norte do Estado do Rio Grande do Sul ao Estado de São Paulo, e pelo interior dos estados de Santa Catarina e Paraná. Possui hábito terrestre e semi-fossorial e dieta constituída de insetos. Habita bordas de mata em formações florestais e áreas abertas. Não são comuns, mas podem ser abundantes nos locais que ocorrem (Oliveira & Bonvicino, 2010);