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FORMAÇÃO SERRA DOS MARTINS NOS BREJOS DO NORDESTE: UM COMPARATIVO EM AREIA (PB) E PORTALEGRE (RN) Ailson de Lima Marques (1); Júlia Diniz de Oliveira (2); Douglas Cavalcante de Araújo (3); Ulisses Dornelas Belmont Neri (4) 1 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, [email protected]; 2 Universidade Estadual da Paraíba, [email protected]; 3 Universidade Federal de Campina Grande, [email protected]; 4 Universidade Federal de Campina Grande, [email protected] Resumo A presente pesquisa tem como proposito apresentar uma síntese sobre os diversos aspectos estruturais, geológicos e morfológicos das áreas remanescentes da Formação Serra dos Martins nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, especificamente nos municípios de Areia (PB) e Potalegre (RN), comparando-os frente aos seus geossistemas de brejo, uma vez que há uma lacuna na literatura que correlacione essa formação com a caracterização dos brejos de altitude, exposição e posição. Essa formação constitui umas das coberturas do Terciário que perfazem a morfologia da Antéclise e plataformização do Planalto da Borborema. Esses testemunhos constituem um capeamento de platôs do Cenozoico, com dimensões variadas e cotas superiores a 500m nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Em Areia apresenta morfologias planares e mesetadas (Centro/Leste), sob forte meteorização (dissecação), em associação com manchas de argissolos vermelho-amarelos eutróficos e Nitossolos, num brejo de altitude e exposição de floresta ombrófila aberta. Em Portalegre encontra-se numa zona de deformação de direção NE-SW que originou trends de lineamentos que confinam canais de drenagem orientando pela dissecação, isso configura uma topografia com cristas e vales fortemente dissecados devido quantitativos pluviométricos em torno de 1100mm, resultando na FSM ser encontrada em depósitos encaixados formando mesetas homoclinais em associação com latossolos vermelho-amarelados, num brejo de altitude com uma floresta montana. Palavras-chave: borborema, platôs, terciário. Introdução A Província Borborema se estende por toda região Nordeste brasileira e se subdivide em Planalto da Borborema, Depressão Sertaneja e as Planícies e Tabuleiros Costeiros, sendo a principal região de registros geológico-geomorfológicos que refletem a evolução paisagística do Nordeste Oriental. A Formação Serra dos Martins (FSM) constitui umas das coberturas do Terciário que perfazem a Antéclise do Planalto da Borborema. Esses testemunhos erosivos (Figura 1) constituem- se de depósitos terrígenos que recobrem de forma discordante platôs do Cenozoico devido o que alguns autores denominam de inversão do relevo. No estado da Paraíba, nos municípios de: Areia, Araruna, Bananeiras, Cuité, Dona Inês, Solânea, Teixeira e Maturéia; no Rio Grande do Norte, nos municípios de: Portalegre, Martins e Riacho de Santana, além de outras sutis ocorrências no extremo norte de Pernambuco-Paraíba (LIMA, 2008). Figura 1. Unidades geomorfológicas e convenções geológicas do Nordeste brasileiro. (83) 3322.3222 [email protected] www.conidis.com.br

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FORMAÇÃO SERRA DOS MARTINS NOS BREJOS DO NORDESTE:UM COMPARATIVO EM AREIA (PB) E PORTALEGRE (RN)

Ailson de Lima Marques (1); Júlia Diniz de Oliveira (2); Douglas Cavalcante de Araújo (3); Ulisses Dornelas Belmont Neri (4)

1 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, [email protected]; 2Universidade Estadual da Paraíba,[email protected]; 3Universidade Federal de Campina Grande, [email protected];

4Universidade Federal de Campina Grande, [email protected]

Resumo A presente pesquisa tem como proposito apresentar uma síntese sobre os diversos aspectos

estruturais, geológicos e morfológicos das áreas remanescentes da Formação Serra dos Martins nos estadosda Paraíba e Rio Grande do Norte, especificamente nos municípios de Areia (PB) e Potalegre (RN),comparando-os frente aos seus geossistemas de brejo, uma vez que há uma lacuna na literatura quecorrelacione essa formação com a caracterização dos brejos de altitude, exposição e posição. Essa formaçãoconstitui umas das coberturas do Terciário que perfazem a morfologia da Antéclise e plataformização doPlanalto da Borborema. Esses testemunhos constituem um capeamento de platôs do Cenozoico, comdimensões variadas e cotas superiores a 500m nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.Em Areia apresenta morfologias planares e mesetadas (Centro/Leste), sob forte meteorização (dissecação),em associação com manchas de argissolos vermelho-amarelos eutróficos e Nitossolos, num brejo de altitudee exposição de floresta ombrófila aberta. Em Portalegre encontra-se numa zona de deformação de direçãoNE-SW que originou trends de lineamentos que confinam canais de drenagem orientando pela dissecação,isso configura uma topografia com cristas e vales fortemente dissecados devido quantitativos pluviométricosem torno de 1100mm, resultando na FSM ser encontrada em depósitos encaixados formando mesetashomoclinais em associação com latossolos vermelho-amarelados, num brejo de altitude com uma florestamontana.

Palavras-chave: borborema, platôs, terciário.

IntroduçãoA Província Borborema se estende por toda região Nordeste brasileira e se subdivide em

Planalto da Borborema, Depressão Sertaneja e as Planícies e Tabuleiros Costeiros, sendo a principal

região de registros geológico-geomorfológicos que refletem a evolução paisagística do Nordeste

Oriental. A Formação Serra dos Martins (FSM) constitui umas das coberturas do Terciário que

perfazem a Antéclise do Planalto da Borborema. Esses testemunhos erosivos (Figura 1) constituem-

se de depósitos terrígenos que recobrem de forma discordante platôs do Cenozoico devido o que

alguns autores denominam de inversão do relevo. No estado da Paraíba, nos municípios de: Areia,

Araruna, Bananeiras, Cuité, Dona Inês, Solânea, Teixeira e Maturéia; no Rio Grande do Norte, nos

municípios de: Portalegre, Martins e Riacho de Santana, além de outras sutis ocorrências no

extremo norte de Pernambuco-Paraíba (LIMA, 2008).

Figura 1. Unidades geomorfológicas e convenções geológicas do Nordeste brasileiro.

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Fonte: Compilado de Morais Neto (1999).

Essa formação é constituída por capeamentos sedimentares em rochas do embasamento

cristalino, geralmente em cotas superiores a 450m, sob a forma de platôs em planaltos residuais da

Depressão Sertaneja, bem como na porção oriental do Planalto da Borborema, principalmente entre

os Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, e tem sido apontada como evidências de

soerguimentos experimentados por aquela porção do escudo brasileiro durante o Cenozóico. Estudos mais aprofundados desses depósitos sedimentares têm sido importantes

decifradores dos eventos estruturais, paleoclimáticos e morfogenético que ocorreram na paisagem, e

diante da importância do mapeamento e caracterização desses ambientes, Silva & Corrêa (2009,

p.43), discutem que:O estudo do relevo, sobretudo dos modelados deposicionais, vem permitindoidentificar eventos desestabilizadores da estrutura superficial da paisagem, degrande magnitude, capazes de reorganizar o comportamento dos processosgeomorfológicos. Desta forma, a paisagem geomorfológica e sua evoluçãodependem da atuação em conjunto de diversos fatores, representados emdiferentes escalas de espaço e tempo, que influenciam os processossuperficiais tendendo a gerar uma multiplicidade de resultados complexos einterconectados na morfologia da paisagem.

Devido haver uma lacuna na literatura que correlacione essa Formação com acaracterização dos brejos de altitude, exposição e posição, essa pesquisa tem como propositoapresentar uma síntese sobre os diversos aspectos estruturais, geológicos e morfológicos das áreasremanescentes da Formação Serra dos Martins nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte,especificamente nos municípios de Areia (PB) e Potalegre (RN), comparando-os frente aos seusgeossistemas de brejos.

Metodologia

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A pesquisa compreende a FSM na área dos municípios (Figura 2) de Areia (PB) e

Portalegre (RN).

Figura 2. Mapa temático de localização dos municípios capeados pela FSM.

Adaptado de: Morais Neto & Alkmim (2001).

Etapas procedimentais

Caracterização geológica e geomorfológica das áreas de ocorrência: nesta etapa foram

analisadas: a geologia das áreas e as unidades geomorfológicas com base em cartas geológicas e

geomorfológicas oficiais com escalas de 1:100.000 a 1: 25.000

Discussão da evolução geológico-geomorfológica: nesta etapa com base em revisão

bibliográfica foram discutidos e analisados dados de evolução da paisagem geológica e

geomorfológica da FSM e brejos do nordeste.

Resultados e discussões

A Formação Serra dos Martins

Os processos erosivos originários da FSM são da Época Oligoceno, sendo esses,

testemunhos de etapas de sedimentação mais recentes da chamada “Antéclise da Borborema”. Nesta

fase de evolução da plataformização da Borborema houveram movimentos de arqueamentos

epirogenéticos lentos, atuantes desde o Paleozóico, que se manifestaram mais intensamente ao

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longo do Fanerozóico, que foram submetidos às fases de intemperismo, responsáveis pela formação

de regolito e sedimentos correlativos de ciclos de aplainamentos.

Essa discussão corrobora com as de: Domingues (1961); Barbosa (1966); Mabessone &

Castro (1975); Ab’Sáber (1998) e Lima (2008), e converge na contida em Corrêa et al., (2010,

p.49):

Não há sedimentação fanerozóica preservada no domo da Borborema, comexceção de suas margens, onde ocorre de forma assimétrica e extremamentedescontínua. A leste do planalto, área mais deformada pelo “rifteamento eposterior flexura”, a única cobertura sedimentar remanescente que podeservir de marcador estratigráfico é a Formação Serra dos Martins (PB/RN),com remanescentes tabulares delgados, que se elevam sobre as bordas dasuperfície geral do planalto [...] provavelmente marcando um primeiro nívelde base regional pós-rifte, a nordeste do planalto atual.

Assim a FSM vem a ser também uma morfoescultura (cobertura residual) que origina

feições tabulares e mesetadas em platôs residuais e é circundada por relevos residuais ígneos e

metamórficos nos municípios supracitados, sendo também caracterizada por descontinuidades

decorrentes da meteorizarão nos locais. Assim a FSM forma:

[...] pequenas ilhas isoladas no interior da Paraíba e Rio Grande do Norte,que apresentam depósitos de espessura e extensão variáveis apresentando-se,em alguns casos, como uma fina camada, fato este atribuído a intensidade delixiviação e erosão a que foram expostos. A formação seria constituída porrochas areno-argilosas com cores variando de esbranquiçadas a vermelhadas,caulinizadas na base, quando em contato com as rochas do embasamento,desta forma, pode-se facialmente confundir a unidade mais inferior do pacotesedimentar com o manto de intemperismo das unidades cristalinas. Osmesmos autores descrevem ainda zonas silicificadas, nos arenitos grossos, ebancos de siltito variado (de cor creme e marrom escuro), silicificadas ounão, com intercalações de folheto e conglomerados (BARROS, 1998, p. 39).

De acordo com Morais Neto & Alkmim (2001, p.96), na Paraíba e no Rio Grande do

Norte: [...] esses sedimentos possuem perfis de espessuras variáveis entre 5 e 120 metros e

assentam-se em discordância sobre rochas pré-cambrianas. Na (Figura 3) é possível observar

amostras desses materiais colhidos na Serra de Cuité, no município de Cuité-PB, que também

apresenta essa morfoescultura.

Figura 3. Fragmentos de conglomerados originários da Formação Serra dos Martins do

estado da Paraíba.

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Fonte: Acervo do laboratório de Geologia e Geomorfologia da Universidade Estadual daParaíba (2015).

No município de Areia, os sedimentos da FSM são registrados em platôs (450-650m),

sobrepondo unidades litoestratigráficas que compõem as geologias do Planalto da Borborema e

Piemonte da Borborema, entre elas esta a Suíte Recanto/Riacho do Forno do Mesoproterozoico,

caracterizada por: ortognaisses, migmatitos granodioríticos e monzograníticos (Figura 4).

Figura 4. Geologia do município de Areia-PB (cartas topográficas da SUDENE e DSG –

escala 1:100.000).

Fonte: CPRM (2005).

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No município de Portalegre os sedimentos da FSM são registrados em platôs (600-800m),

sobrepondo unidades litoestratigráficas que compõem geologias de transição entre o Planalto da

Borborema, Depressão Sertaneja e Chapada do Apodi, entre elas esta Suíte calcialcalina de médio a

alto potássio Itaporanga, caracterizada por: granito e granodiorito porfirítico associados à diorito; e

o Complexo Jaguaretama caracterizado por: ortognaisse migmatizado tonalítico a granodiorítico, e

granítico e migmatito, além de restos de supracrustais.

As suítes intrusivas correspondem a um conjunto de rochas graníticas, sinorogênicas de

idade brasiliana (ANGELIM et al., 2006), assim é sobre as suítes intrusivas que ocorre a unidade

sedimentar FSM em ambos locais.

Figura 5. Geologia do município de Portalegre-RN (cartas topográficas da SUDENE e

DSG – escala 1:100.000).

Fonte: CPRM (2005).

A Formação Serra dos Martins nos brejos de Areia e Portalegre

Os brejos são acidentes geográficos orográficos (serras, planaltos e platôs) com cotas de

500 a 1000m. Determinadamente podem ser de: altitude (relevo), exposição (massas de ar/ventos

úmidos) e posição (sopé de serra). Ambos os brejos demonstram a evolução paisagística de

dinâmicas paleoclimatológicas, paleobotânicas e geomorfológicas.

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A vegetação mais úmida e densa é a principal característica destes ambientes e

demonstram a meteorizarão no processo evolutivo da paisagem. Podendo ser classificadas em

florestas montanas (altitude > 600m) ou sub-montanas (altitude entre 100 a 600 m), variando de

ombrófilas a estacionais, com variação florística determinada pelos fatores climáticos e

fisiográficos, que fazem parte da diversidade biológica da Mata Atlântica e do Semiárido, podendo

ser encontrados nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco cobrindo uma

área original de aproximadamente 18.500km2 (Figura 6).

A hipótese sobre a origem desses refúgios florestais na subsuperfície dos brejos deve-se às

variações climáticas ocorridas na transição do Plioceno para o Pleistoceno, explicitadas na teoria

dos Redutos de Vegetação e dos Refúgios de Fauna (AB’SÁBER 1957).

Figura 6. Remanescentes de Brejos do Nordeste.

Fonte: Adaptado de Tabarelli & Santos (2004).

A existência desses ambientes úmidos e sub-úmidos na zona oriental do Nordeste está

associada à ocorrência do Planalto da Borborema, especificamente em, Alagoas, Pernambuco,

Paraíba e Rio Grande do Norte (TABARELLI; SANTOS, 2004), uma vez que serras e planaltos

favorecem a ocorrência de zonas fisiográficas de clima úmido. Nesses acidentes geográficos as

áreas ficam expostas ao barlavento tornando-se úmidas devido à concentração de umidade e

condensação, resultando em orografismo que garante uma maior umidade atmosférica no local

(ARAÚJO, 2012).

O município de Areia é um brejo de altitude e exposição (ventos úmidos de Leste) sob

influência das encostas do Planalto da Borborema no barlavento oriental, e caracteriza-se por áreas

intensamente dissecadas e rampeadas em direção ao litoral (Leste).

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Com altitudes que variam entre 200 (brejos de posição) e 500m (platôs de brejos de

altitude), destacam-se na paisagem que forma o município, alguns blocos serranos com altitudes

500-800m (platôs de brejos de altitude e exposição).

Segundo Corrêa et al., (2010), esta região está sob controle tectônico de planos alçados e

inclinados para SE e sua dissecação está controlada por linhas de fraturas. Estas linhas de são

registradas nos interflúvios, geralmente apresentando cumeadas e cristas simétricas em

concordância com as direções dos falhamentos.

Em Areia a FSM está assentada (Centro/Leste) sob predomínio de duas unidades

morfoestruturais, o Planalto da Borborema e o Piemonte da Borborema, podendo ser identificada

em platôs (Figura 7) de altitudes acima 580m com topos morfologicamente planares e mesetados

(tracejados em amarelo), sob forte meteorização (dissecação) nas bordas . Encontra-se ainda em

associação com manchas de Argissolos vermelho-amarelos eutróficos e Nitossolos no domínio da

florestal ombrófila aberta, com regime pluviométrico que ultrapassa 1300mm (chuvas orográficas).

Figura 7. Morfologia do município de Areia-PB.

Fonte: Google Earth/imagem e recorte fotográfico de campo (2016).

O município de Portalegre é um brejo de altitude que está sob influência de uma zona de

tensão entre três unidades morfoestruturais: Planalto da Borborema (encostas ocidentais),

Depressão Sertaneja e Chapada do Apodi, e caracteriza-se por uma zona de deformação de direção

NE-SW que originou trends de lineamentos que confinam os canais de drenagem orientando pela

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dissecação, e por vezes a agradação fluvial (MAIA et al., 2016), como também recorrência de

formas aguçadas e convexas, apresentando as cotas altimétricas mais altas da região, que podem

variar entre 400 e até mais de 1200m. Assim essa paisagem está associada aos processos de

pedimentação e expansão das depressões ao longo do Cenozoico, se caracterizando por formas

erosivas de dissecação diferencial, salientadas pela orientação e entalhe dos vales, estruturadas em

rochas graníticas, apresentando cristas esculpidas em filitos, xistos e quartzitos (CORRÊA et al.,

2010).

Isso configura uma topografia com cristas e vales fortemente dissecados (Figura 8), devido

quantitativos pluviométricos em torno de 1100mm, resultando na FSM ser encontrada (700m) em

depósitos encaixados formando, segundo Maia et al., (2016), mesetas homoclinais (tracejadas em

amarelo), em associação com latossolos vermelho-amarelados no domínio florestal montano. Ainda

segundo Maia et al. (2016, p.5):

Esses platôs possuem regimes de chuva mais abundantes em virtude do fatororográfico, fato que se reflete na formação de solos mais desenvolvidos, bemcomo sobre as comunidades vegetais, onde podem ser comuns espécies dosdomínios florísticos da Mata Atlântica e do Cerrado. Essas áreas, cujavegetação é determinada pela maior altitude do relevo, são denominadasenclaves úmidos e possuem um ambiente ecológico distinto ao das áreasdepressivas que os rodeiam (BÉTARD e OLIVEIRA, 2006).

Figura 8. Morfologia do município de Portalegre-RN.

Fonte: Google Earth/imagem e recorte fotográfico de campo (2016).

Conclusões

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Os processos geomorfológicos que levam à inversão do relevo ocorrem quando há um

soerguimento da superfície pela tectônica ou pela erosão diferencial, resultando em alçamento das

áreas a cotas elevadas. A FSM é um exemplo desse processo, onde seu ambiente sedimentar

(Oligoceno) foi elevado (Antéclise e plataformização do Planalto da Borborema) e isolado

(isolamento geográfico). Especificamente nas áreas de brejos (acidente geográfico-orográfico) a

FSM (morfoescultura) esteve condicionada à meteorização das flutuações climáticas (Pleistoceno) e

pedogênese autóctone, que resultaram em coberturas florestais (Redutos de Vegetação e dos

Refúgios de Fauna): úmidas (Areia/21.7 °C) sob o clima As (tropical com estação seca de Verão); e

subúmidas (Portalegre/23.2 °C) sob o clima Aw (tropical com estação seca de Inverno).

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