formação dos estados nacionais modernos

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HISTÓRIA Editora Exato 22 OS ESTADOS MODERNOS, O ABSOLUTISMO E O MERCANTILISMO 1. CARACTERÍSTICAS A centralização do poder monárquico e sua evolução para o Absolutismo, já visíveis, na Penínsu- la Ibérica, no Século XIV (Portugal, 1385: Revolução de Avis), representam o momento de transição políti- ca entre a crise do Feudalismo e a formação do Capi- talismo. Entre as novas necessidades que o aparecimen- to de uma economia de mercado provocou, destaca- se a centralização do poder político. Tal concentração de poder fez-se lentamente, vencendo os obstáculos da estrutura política feudal. Para impor a sua autori- dade ao conjunto do território nacional, os soberanos lançariam mão dos mais variados meios: aliança com a burguesia: além da necessi- dade burguesa de diminuir a insegurança proveniente da crise, o seu capital permitia acelerar o processo de centralização. recuperação das prerrogativas perdidas du- rante o Feudalismo: exército nacional, cu- nhagem de moedas, tribunais reais, burocracia etc. estudo do Direito Romano: legitimação do papel centralizador dos monarcas. divergências entre a Nobreza e a Burguesia: por motivos e interesses diversos - manu- tenção dos privilégios, no primeiro caso, e ampliação das atividades econômicas, no segundo - , ambos os grupos sociais procu- ravam o apoio dos reis que, por sua vez, adotando a postura de árbitros, estimulavam essa luta. 2. OS TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO O primeiro e, sem dúvida, um dos mais impor- tantes pensadores políticos do absolutismo foi o flo- rentino Nicolau Maquiavel (1469-1527). Ele é considerado o fundador da ciência política ao separar a religião da política, justificando que os objetivos do governante não podem ser limitados pelos dogmas religiosos. Sua principal obra é “O Príncipe”, considerada ainda uma obra atual. Neste livro, Maquiavel aconse- lha ao governante a se manter acima das considera- ções morais, acreditando que os fins justificam os meios. Para Maquiavel, os objetivos do príncipe são dois: manter o seu próprio poder e garantir a sobera- nia nacional. Para tanto, seu poder deve ser forte, a força deve ser usada, se necessário. Jacques Bossuet (1627-1704), francês que ela- borou a teoria do direito divino dos reis, isto é, para ele, o poder real é emanado de Deus e não pode ser contestado, rebelar-se contra ele é rebelar-se contra Deus. Estas idéias foram muito influentes no auge da monarquia absolutista na França e, por incrível que pareça, continuam sendo utilizadas até hoje. Jean Bodin (1530-1596) e Hugo Grotius (1583-1645) também foram importantes articuladores da justificativa teórica do absolutismo com base na teoria do direito divino dos reis. 3. PORTUGAL E ESPANHA: OS PIONEIROS A origem de Portugal remonta ao chamado Condado Portucalense, que havia sido doado ao no- bre Henrique de Borgonha, como recompensa por sua participação na luta contra os mouros. No ano de 1139, o Condado proclamou sua independência, sob a liderança de Dom Afonso Henriques, que é reco- nhecido rei de Portugal apenas no anos de 1143. Seus sucessores continuaram a luta contra os mulçumanos, empurrando-os para o sul. Ao mesmo tempo, desen- volveu-se na região uma economia baseada em ativi- dades comerciais, o que proporcionou o aparecimento de uma classe de mercadores que não tinha os mesmos interesses da nobreza dominante na política do jovem país. Foi somente no ano de 1385 que o grupo mer- cantil, aliado a setores dissidentes da nobreza portu- guesa, tomou o poder através da chamada Revolução de Avis. Será sob o governo da dinastia de Avis que Portugal se lançará na expansão marítima que iria mudar radicalmente o perfil da história da Europa. A Espanha também se consolidou como mo- narquia nacional durante a luta contra os mouros. Du- rante a guerra, surgiram os reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão. Embora a autoridade do senhor feudal continuasse vigorando nesses territórios, a presença de um inimigo poderoso e belicoso, como eram os árabes, favoreceu o surgimento de uma auto- ridade forte e centralizada para dirigir a luta. Mas foi apenas no ano de 1476, após a união de Aragão e Castela (com o casamento de Fernando e Isabel, res- pectivos governantes) e a expulsão definitiva dos á- rabes de Granada, em 1492, que a Espanha se tornou um Estado Nacional.

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Page 1: Formação dos Estados Nacionais Modernos

HISTÓRIA

Editora Exato 22

OS ESTADOS MODERNOS, O ABSOLUTISMO E

O MERCANTILISMO 1. CARACTERÍSTICAS

A centralização do poder monárquico e sua evolução para o Absolutismo, já visíveis, na Penínsu-la Ibérica, no Século XIV (Portugal, 1385: Revolução de Avis), representam o momento de transição políti-ca entre a crise do Feudalismo e a formação do Capi-talismo.

Entre as novas necessidades que o aparecimen-to de uma economia de mercado provocou, destaca-se a centralização do poder político. Tal concentração de poder fez-se lentamente, vencendo os obstáculos da estrutura política feudal. Para impor a sua autori-dade ao conjunto do território nacional, os soberanos lançariam mão dos mais variados meios:

� aliança com a burguesia: além da necessi-dade burguesa de diminuir a insegurança proveniente da crise, o seu capital permitia acelerar o processo de centralização.

� recuperação das prerrogativas perdidas du-rante o Feudalismo: exército nacional, cu-nhagem de moedas, tribunais reais, burocracia etc.

� estudo do Direito Romano: legitimação do papel centralizador dos monarcas.

� divergências entre a Nobreza e a Burguesia: por motivos e interesses diversos - manu-tenção dos privilégios, no primeiro caso, e ampliação das atividades econômicas, no segundo - , ambos os grupos sociais procu-ravam o apoio dos reis que, por sua vez, adotando a postura de árbitros, estimulavam essa luta.

2. OS TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO

O primeiro e, sem dúvida, um dos mais impor-tantes pensadores políticos do absolutismo foi o flo-rentino Nicolau Maquiavel (1469-1527). Ele é considerado o fundador da ciência política ao separar a religião da política, justificando que os objetivos do governante não podem ser limitados pelos dogmas religiosos.

Sua principal obra é “O Príncipe”, considerada ainda uma obra atual. Neste livro, Maquiavel aconse-lha ao governante a se manter acima das considera-ções morais, acreditando que os fins justificam os meios. Para Maquiavel, os objetivos do príncipe são dois: manter o seu próprio poder e garantir a sobera-nia nacional. Para tanto, seu poder deve ser forte, a força deve ser usada, se necessário.

Jacques Bossuet (1627-1704), francês que ela-borou a teoria do direito divino dos reis, isto é, para ele, o poder real é emanado de Deus e não pode ser contestado, rebelar-se contra ele é rebelar-se contra Deus. Estas idéias foram muito influentes no auge da monarquia absolutista na França e, por incrível que pareça, continuam sendo utilizadas até hoje.

Jean Bodin (1530-1596) e Hugo Grotius (1583-1645) também foram importantes articuladores da justificativa teórica do absolutismo com base na teoria do direito divino dos reis.

3. PORTUGAL E ESPANHA: OS PIONEIROS

A origem de Portugal remonta ao chamado Condado Portucalense, que havia sido doado ao no-bre Henrique de Borgonha, como recompensa por sua participação na luta contra os mouros. No ano de 1139, o Condado proclamou sua independência, sob a liderança de Dom Afonso Henriques, que é reco-nhecido rei de Portugal apenas no anos de 1143. Seus sucessores continuaram a luta contra os mulçumanos, empurrando-os para o sul. Ao mesmo tempo, desen-volveu-se na região uma economia baseada em ativi-dades comerciais, o que proporcionou o aparecimento de uma classe de mercadores que não tinha os mesmos interesses da nobreza dominante na política do jovem país.

Foi somente no ano de 1385 que o grupo mer-cantil, aliado a setores dissidentes da nobreza portu-guesa, tomou o poder através da chamada Revolução de Avis. Será sob o governo da dinastia de Avis que Portugal se lançará na expansão marítima que iria mudar radicalmente o perfil da história da Europa.

A Espanha também se consolidou como mo-narquia nacional durante a luta contra os mouros. Du-rante a guerra, surgiram os reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão. Embora a autoridade do senhor feudal continuasse vigorando nesses territórios, a presença de um inimigo poderoso e belicoso, como eram os árabes, favoreceu o surgimento de uma auto-ridade forte e centralizada para dirigir a luta. Mas foi apenas no ano de 1476, após a união de Aragão e Castela (com o casamento de Fernando e Isabel, res-pectivos governantes) e a expulsão definitiva dos á-rabes de Granada, em 1492, que a Espanha se tornou um Estado Nacional.

Page 2: Formação dos Estados Nacionais Modernos

Editora Exato 23

4. FRANÇA

Com a dinastia Bourbon, o absolutismo francês conheceu o seu apogeu, e também o seu fim. A gran-de figura foi Luís XIV (1643-1715),: com ele a mo-narquia absoluta alcançou sua forma mais completa. Era menor de idade ao herdar o trono e, por isso, o governo foi assumido pelo cardeal Mazarino, que deu continuidade à política de fortalecimento do poder real. Coube a ele sufocar a última sublevação dos no-bres - a Fronda - , que se dividiu em dois movimen-tos: a Fronda parlamentar (1648) e a Fronda dos príncipes, provocada pelo príncipe de Condé (1649-1653’), um dos mais importantes nobres do reino.

Ao assumir o governo, em 1661, em caráter pessoal, Luís XIV teve condições de exercer o poder real, soberano e absoluto, com todas as prerrogativas. A tal ponto que acabou se tornando o próprio símbo-lo desse regime. Foi chamado de Luís, o Grande, e de Rei Sol. A ele atribui-se a frase “O Estado sou Eu”, com que se pretende afirmar a completa identificação entre soberano e Estado. O que pode ser considerado, aliás, como síntese do absolutismo.

5. INGLATERRA

A dinastia Tudor, ao longo do século XVI e até o início do XVII, exercitou na Inglaterra um absolu-tismo de fato, que apresentou pelo menos duas parti-cularidades dignas de nota. A primeira delas diz respeito à forte tradição feudal inglesa, que dava aos barões, senhores de terra que constituíam a antiga a-ristocracia feudal, um forte poder político, represen-tado pelo Parlamento, criado no século XIII. A soberania (o poder de estabelecer as leis) era reparti-da entre as duas instâncias políticas: o rei e o parla-mento, de modo que o poder do primeiro, para se fazer absoluto, devia ajustar-se ao Parlamento.

A outra particularidade, no entanto, fortalecia o poder real e, de certa forma, explicava-se também pelas características da feudalidade inglesa. As lutas constantes e duras entre os nobres contribuíram para a ruína de muitos dos grandes feudos e, em contra-partida, permitiram que se formasse uma nova nobre-za, que se identificava com a burguesia emergente no tocante ao desenvolvimento de atividades econômi-cas como comércio e manufaturas, de acordo com as formas do capitalismo nascente.

A integração entre desenvolvimento capitalista e monarquia absoluta, desde a sua origem, fez com que o processo revolucionário decorrente das trans-formações da economia feudal em capitalista na In-glaterra se antecipasse, em relação ao restante da Europa.

6. A POLÍTICA ECONÔMICA DO ABSOLU-

TISMO: O MERCANTILISMO

O mercantilismo não pode ser definido como um sistema econômico preciso. Na verdade, ele sequer constituiu uma doutrina geral com base científica. Foi mais um conjunto de medidas econômicas adotadas pelo Estado moderno a partir das opiniões de homens ligados a alguma atividade econômica.

Entretanto, apesar da diversidade de modelos, e das diferentes épocas em que passaram a ser utilizadas, podemos destacar um conjunto de práticas e idéias comuns às várias nações mercantilistas européias:

- CONTROLE ESTATAL DA ECONOMIA

- METALISMO

- BALANÇA COMERCIAL FAVORÁVEL

- PROTECIONISMO

- MONOPÓLIO DA EXPLORAÇÃO COLONIAL

ESTUDO DIRIGIDO

1 Mencione as características das Monarquias Na-cionais.

2 Que objetivos eram defendidos por Nicolau Ma-quiavel em relação ao poder absoluto dos prínci-pes?

3 Cite as práticas mercantilistas adotadas pelos Es-tados Absolutistas.

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Editora Exato 24

EXERCÍCIOS

1 Sobre os fatores que contribuíram para a forma-ção das Monarquias Nacionais na Europa Oci-dental, analise os itens abaixo e marque a alternativa CORRETA: I – As lutas constantes entre os senhores feudais e

as permanentes tentativas dos reis para conso-lidarem seu poder.

II – A idéia de que os reis, catalisadores das aspi-rações nacionais eram figuras sagradas, imbuí-das de uma autoridade concedida por Deus.

III – A organização de um corpo burocrático-adminstrativo, subordinado à autoridade real e o impulso dado ao comércio, a partir da Baixa Idade Média.

a) Estão corretas apenas I e III; b) Todas são falsas; c) Estão corretas apenas I e II. d) Todas são corretas;

2 O Absolutismo caracterizou-se pelo regime polí-tico monárquico, alicerçado na centralização de poder, na burocracia e na unificação territorial. No território, repousava tranqüila a comunidade racional, cujo monarca se tornava a expressão máxima. Sobre os fatores que contribuíram para a centrali-

zação de poder nas mãos do rei, analise os i-tens abaixo e marque uma ÚNICA alternativa:

I – Pacto político, que gerou a união entre a mo-narquia emergente e a burguesia nacional.

II – A arrecadação de tributos e a emissão de mo-eda única, substituindo as moedas cunhadas pelos nobres feudais.

III – Formação de milícias locais, suplantando o poder do exército que estava sob o domínio dos nobres feudais.

IV – Organização político-administrativa e judi-ciária centralizada, pela qual o monarca impôs sua dominação sobre amplos espaços sociais e geográficos, criou um código civil próprio, ba-seado na jurisprudência romana.

a) Estão corretas apenas I, II, III e IV. b) Estão corretas apenas I, II. c) Estão corretas apenas II, IV. d) Estão corretas apenas I, II e III.

3 Nos tempos modernos, a organização política da Europa em sistema de Estados Nacionais pode ser considerada: a) Forma de rearticulação das forças sociais em

conflito e progresso econômico. E centraliza-ção política nas mãos do rei.

b) Decorrência da expansão do comércio e das fronteiras conhecidas pelos europeus.

c) Expressão do individualismo em nível político, tendo por base o princípio da legitimidade.

d) Resultado de uma concepção, com base no e-quilíbrio necessário do princípio hierárquico entre as nações.

4 Sobre o Mercantilismo, marque a ÚNICA alter-nativa CORRETA: a) Para os mercantilistas, o Estado deveria au-

mentar sua quantidade de metais nobres e co-locar em prática o liberalismo econômico, ou seja, deixar que a própria iniciativa privada controle a economia, sem nenhuma interferên-cia do Estado.

b) O mercantilismo propunha ao Estado a máxi-ma de importação e o mínimo de exportação. Porque o que fazia um país ser rico era seu po-der de compra e seu acúmulo de metais precio-sos.

c) O mercantilismo não aceitava nenhuma inter-ferência do Estado na economia, na medida em que tal atitude poderia prejudicar o livre trânsi-to das atividades comerciais.

d) O mercantilismo pode ser definido como o conjunto de doutrinas e práticas econômicas que vigoraram na Europa de meados do século XV, a meados do século XVII. Seu grande ob-jetivo era fortalecer o Estado e a burguesia na fase de transição do feudalismo para o capita-lismo.

GABARITO

Estudo Dirigido

1 Exército Nacional; Unificação Monetária; Cen-tralização Administrativa e Justiça Real.

2 Manter o seu próprio poder e garantir a soberania nacional.

3 Metalismo; Balança Comercial Favorável; Prote-cionismo e Monopólio.

Exercícios

1 D

2 A

3 A

4 D