formação do feudalismo

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N osso estudo começa com as origens do modo de produção feudal, que teve seu apogeu no século VIII da Idade Mé- dia. Para mergulhar de corpo e alma nesse maravilho- so período da história, faremos inicialmente um breve "replay" dos momentos finais do Império Romano, pois na sua destruição se forjaram, desde o século III, os indícios da Ordem Feudal. Com efeito, os romanos consolidaram nos sé- culos I e II da Era Cristã um império de grandes di- mensões. No auge da expansão efetivaram um Estado de âmbito mundial, transformando o mar Mediterrâ- neo num autêntico lago romano. Os historiadores cha- maram essa época de Pax Romana, que corresponde ao maior período de estabilidade e manutenção da or- dem imperial. Nesse gigantesco império uma eficiente rede de estradas permitia a circulação de mercadorias, ativando o comércio que girava em torno da majesto- sa Roma. No auge da Pax Romana, a cidade chegou a fantástica marca de hum milhão de habitan- tes. Por tudo isso, era impossível imaginar a destruição do Império que se tornara o dono do mundo. Contudo, o por- te gigantesco do Impé- rio exigiu a formação de uma burocracia nu- merosa com a finalida- de de gerenciar a má- quina administrativa. Da mesma forma foi necessário aumentar o efe- tivo militar para garantir a estabilidade das fronteiras e manter a ordem interna. O problema é que os romanos não conseguiriam sustentar financeiramente, a imensa máquina burocrática e militar que até então, garantira a unidade imperial. O exagerado número de funcionários e solda- dos drenava recursos do Estado acarretando a sangria dos cofres públicos penalizando principalmente, a po- pulação mais carente. A partir do século III, o exército tornou-se um agente desagregador devido as lutas in- ternas e a disputa pelo poder. "O mundo contemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele que haviam tido sob os olhos dos homens dos séculos III ou IV: não mais existe o Império Romano, salvo no Oriente, e sob uma forma que não é latina; novas nações o invadiram, encontrando-se, elas mesmas ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais estranhos ainda; línguas, leis, hábitos novos se impuseram. Os deuses morreram, mortos pelo Deus único, cujos mandamentos impõem uma regra de vida tão nova que daí em diante o mundo terreno passará para segundo plano." Lot, Ferdinand, in. História Geral. Claudio Vicentino. Editora Scipione. pág. 114. Império Romano - Expansão dos séculos I e II da Era Cristã. período da Pax Romana Na gravura da esquerda, comandante e legionários inspecionam o fantástico Muro de Adriano, fortificação de 120 quilômetros , construída no norte da Inglaterra - ANARQUIA MILITAR - CRISE DO ESCRAVISMO - CRESCIMENTO DO CRISTIANISMO - CRISE ECONÔMICA A Formação d o Feudalism o

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Page 1: Formação do Feudalismo

Nosso estudo começa com as origens domodo de produção feudal, que teve seuapogeu no século VIII da Idade Mé-

dia. Para mergulhar de corpo e alma nesse maravilho-so período da história, faremos inicialmente um breve"replay" dos momentos finais do Império Romano, poisna sua destruição se forjaram, desde o século III, osindícios da Ordem Feudal.

Com efeito, os romanos consolidaram nos sé-culos I e II da Era Cristã um império de grandes di-mensões. No auge da expansão efetivaram um Estadode âmbito mundial, transformando o mar Mediterrâ-neo num autêntico lago romano. Os historiadores cha-maram essa época de Pax Romana, que correspondeao maior período de estabilidade e manutenção da or-dem imperial. Nesse gigantesco império uma eficienterede de estradas permitia a circulação de mercadorias,ativando o comércio que girava em torno da majesto-sa Roma. No auge da Pax Romana, a cidade chegou a

fantástica marca dehum milhão de habitan-tes. Por tudo isso, eraimpossível imaginar adestruição do Impérioque se tornara o donodo mundo.

Contudo, o por-te gigantesco do Impé-rio exigiu a formaçãode uma burocracia nu-merosa com a finalida-de de gerenciar a má-quina administrativa.

Da mesma forma foi necessário aumentar o efe-tivo militar para garantir a estabilidade das fronteiras emanter a ordem interna. O problema é que os romanosnão conseguiriam sustentar financeiramente, a imensamáquina burocrática e militar que até então, garantira aunidade imperial.

O exagerado número de funcionários e solda-dos drenava recursos do Estado acarretando a sangriados cofres públicos penalizando principalmente, a po-pulação mais carente. A partir do século III, o exércitotornou-se um agente desagregador devido as lutas in-ternas e a disputa pelo poder.

"O mundo contemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele quehaviam tido sob os olhos dos homens dos séculos III ou IV: não mais existe o ImpérioRomano, salvo no Oriente, e sob uma forma que não é latina; novas nações o invadiram,encontrando-se, elas mesmas ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e maisestranhos ainda; línguas, leis, hábitos novos se impuseram. Os deuses morreram, mortospelo Deus único, cujos mandamentos impõem uma regra de vida tão nova que daí em dianteo mundo terreno passará para segundo plano."Lot, Ferdinand, in. História Geral. Claudio Vicentino. Editora Scipione. pág. 114.

ImpérioRomano -Expansão dosséculos I e II daEra Cristã.período da PaxRomana

Na gravura daesquerda,comandante elegionáriosinspecionam ofantástico Murode Adriano,fortificação de120 quilômetros ,construída nonorte daInglaterra

- ANARQUIA MILITAR

- CRISE DO ESCRAVISMO

- CRESCIMENTO DO CRISTIANISMO

- CRISE ECONÔMICA

A Formação doFeudalismo

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Para se ter uma idéia, noséculo IV o império teve quase90 imperadores, todos de origemmilitar. Em pouco tempo, Romaque havia sido o centro econômi-co e político do poderoso Impé-rio, transformou-se numa carica-tura de cidade. Nas regiões maispróximas, grandes latifúndiosbuscaram alternativas para evitaro colapso total. Foi assim que apa-receram propriedades com carac-terísticas de produção para con-sumo próprio. Eram as villas queensejavam características econô-micas similares aos feudos medi-evais.

De outro lado, o fim das conquistas gerou o en-carecimento da mão-de-obra escrava. O alto custo deaquisição do escravo, minou a escravidão como alicer-ce de exploração. A partir do século III a escravidãofoi lentamente substituída pelo colonato aonde o cam-ponês dividia a produção com o proprietário da terra enão era propriedade de um senhor.

No aspecto econômico, o comércio entre as vá-rias províncias foi substituído por uma estrutura maislocalizada, e o trabalho escravo fonte de sustento e ri-queza, foi permutado pelo colonato, que pode ser vistocomo esboço do trabalho servil. Por um lado, termina-va a sociedade baseada no escravismo, por outro, deli-neavam-se os elementos do modo de produção feudal.

OS HUNOS ATACAM O OCIDENTE.

Quanto mais o Império se enfraquecia, mais seabria a porta aos povos que viviam além das fronteiras.Ali estavam os povos germanos, ou bárbaros - expres-são pejorativa usada pelos romanos. Borgúndios,visigodos, godos, ostrogodos, alamanos, francos e ou-tros, gradativamente se incorporaram ao Império. Amigração inicial se tornou invasão quando os hunos ata-

caram o Ocidente, comandados por Átila. Durante ainvasão Átila deixou um rastro de destruição em vári-as cidades.

Os hunos eram guerreiros excepcionais, pre-parados para qualquer tipo de combate. Montavam pe-quenos cavalos que eram muito mais velozes que oscavalos convencionais.

Centenas de pessoas fugiram das cidades mi-grando para o campo em busca de proteção, acentu-ando a ruralização que já existia de forma tímida, an-tes da chegada dos hunos. Depois de inúmeras vitóriasos hunos marcharam de volta para o Oriente sem efe-tivar as conquistas. Para isso contribuiu a morte deÁtila, diluindo a força canalizada no carisma desse ex-

cepcional guerreiro.Depois dos hunos, a porta que

já estava aberta, ficou escancarada, per-mitindo que os germanos se estabele-cessem em pequenos reinos, fragmen-

tando o lado ocidental do Império. O novomundo que se formou, resultou da fusão de elementosda cultura romana e das contribuições trazidas pelospovos germanos. A essa nova época dá-se o nome deOrdem Feudal.

O CRISTIANISMO

De inicio os cristãos eram perseguidos e o cul-to era proibido. Entretanto, a partir da crise do séculoIII o Cristianismo foi se impondo como religião pre-dominante, encontrando em Roma o terreno fértil para

No mapa acimavocê observa oroteiro dasinvasõesgermânicas, quearrasaram aparte ocidentaldo império

OS PIORES PROBLEMAS ECONÔMICOS DEROMA DERIVAVAM-SE DO SEU SISTEMA ESCRAVISTAE DA ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA

27aC

Início do Império -

Otávio

Séculos I e II

Apogeu e maiorexpansão do império

Pax Romana

Século III

Declínio doImpério Romano

395

Invasões dos povosgermanos

Divisão do Império

476

Ataque a Roma

450

Ataquedos Hunos

Átila

O Tempo da História

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disseminar a doutrina que pregava a igualdade dos ho-mens perante a Deus e a vida eterna do Paraíso. Atéentão, a religião romana se baseava no culto politeístacom deuses humanizados, clonados da religião grega.O aspecto prático e material da religião romana nãopreenchia a carência espiritual da população sofrida emiserável.

Com a expansão da crise ficou evidente que oCristianismo e a Igreja Católica poderiam se tornarimportantes aliados do Estado Romano. Em 313, oimperador Constantino assinou o Édito de Milão, libe-rando o culto aos cristãos.

Em seguida o Cristianismo se tornou religiãooficial, após o Édito de Tessalônica do imperadorTeodósio, em 374. Daí em diante, a conversão defini-tiva de milhares de romanos ao Cristianismo, permitiua Igreja Católica resistir como religião dominante domundo ocidental.

AS MUDANÇAS POLÍTICAS EECONÔMICAS

Os germanos que chegaram no Ocidente pro-curaram no início preservar as estruturas políticas ro-manas. Na Alta Idade Média surgiram vários reinos naEuropa Ocidental e norte da África.

Contudo, a tentativa de aprovei-tar a estrutura jurídica e política dos ro-manos, normalmente não progrediu,porque os germanos, com freqüência, seenvolviam em guerras e conflitos inter-nos. A maioria dos reinos germanos teveefêmera duração.

Esses povos nômades tinhamgrande tradição guerreira. Não conhe-ciam a noção de Estado, da maneiracomo os romanos haviam organizado.A escolha do rei e chefe guerreiro sefazia em combates ou torneios milita-

res. A lealdade dos guerreiros com o rei se efetuavanuma relação de natureza pessoal e não se baseava emleis escritas. A decadente estrutura política romana foisubstituída por um mundo fragmentado e dividido ondese forjaram as características políticas da Ordem Feu-dal.

No aspecto jurídico também houve grandesmudanças. Os romanos elaboraram um sistema de leismuito eficiente que inovara o conceito de cidadania e oclaro direito de propriedade. Os germanos, ao contrá-rio, baseavam suas leis nos costumes tribais - direitoconsuetudinário - transmitidos de geração a geração.

Na gravura acima observa-se camponesestrabalhando no sistema de colonato quelentamente foi substituindo a excravidão.

"Na história da humanidade há períodos em que o homem nãomais compreende seus ancestrais, seu pai, a si mesmo. Parece ter havido

uma espécie de ruptura de continuidade psicológica... O mundocontemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele

que haviam tido sob os olhos os homens do século III ou IV: não maisexistia o império romano, salvo apenas no oriente, e sob uma forma quenão era latina; nações novas o invadiram, encontrando-se elas mesmas,

ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais estranhos ainda;línguas, leis, hábitos novos se impuseram acima de tudo, renovou-se o mundo interior.

O homem afastou com indiferença ou aversão, objetos acarinhados pelos seus maispróximos ancestrais; não mais compreendia as letras antigas porque não mais as amava; a

própria forma de transmissão, a língua escapava-lhe; a encantadora arte da plástica cessou paraagradar a sua vista... Entre o homem dos novos tempos e o homem dos tempos antigos, não

mais haverá um pensamento em comum". In. Lot, F. Le Fin de Monde Antique. História dasSociedades. Volume 1. Aquino e outros. Ao Livro Técnico Editora.Pág. 290.

O mapa acimamostra os reinosgermânicos daAlta Idade Média.Todos, à exceçãodos Francos,tiveram curtaduração

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Não havia tribunais no estilo convencional doslatinos e um germano só poderia ser julgado pelas leiscostumeiras de sua própria tribo. Na medida que asterras foram adquirindo características de auto-sufici-ência foram adotando também, as leis costumeiras e oshábitos jurídicos germanos. As constantes invasõesdesestruturaram as cidades. A vida no campo surgiucomo opção, evidenciando a necessidade das pessoasterem algum tipo de proteção. Em muitas regiões no-bres construíram fortificações mais seguras que asdesprotegidas cidades.

Do ponto de vista econômico as cidades perde-ram a força, desde o fim do Império Romano. Aruralização acentuada é marca da Alta Idade Média.As cidades reduziram-se a pequenos entrepostos reli-giosos e só algumas mantiveram um razoável nível co-mercial. Dentre essas se destacam, Veneza e Gênova,na Itália devido ao ativo comércio de importação desal, usado na conservação dos alimentos.

Os reinos germanos foram pulverizados e a mai-oria desapareceu com o decorrer do tempo, não duran-do mais do que meio século. Muitas terras foram apro-priadas por nobres de origem germana ou romana. Osnobres e senhores feudais mantiveram um antigo cos-tume germânico de fidelidade pessoal chamadocomitatus, que pode ser definido como compromissode honra e lealdade entre dois nobres. Com o tempo ocomitatus foi se modificando originando as relações desuserania e vassalagem.

Anotações

A cidade de Tréves,no norte da Gália,foi uma dascidades maisprósperas doImpério Romano.Depois dasinvasões boa parteda populaçãomigrou para aszonas rurais.

“O PERÍODO DE FORMAÇÃO DO FEUDALISMO TEVEEFEITOS DEVASTADORES SOBRE A VIDA URBANA (...) EMGERAL AS CIDADES FORAM ABANDONADAS E, QUANDONÃO REALMENTE DESTRUÍDAS PELO FOGO, FICARAMCOMPLETAMENTE DESABITADAS”. Maurice Dobb. A Evo-lução do capitalismo. p. 97

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Enquanto os bárbaros se multiplicavam e se tornavam cada vez mais agressivos, o Ocidente romanoentrava em seu último período de declínio. A decadência era visível em todos os aspectos da vida romana:

na estéril pomposidade de sua arte e de sua poesia, nos espetáculos públicos chocantes, numa imoralidadecrescente que nem mesmo o cristianismo conseguia deter. A economia do Ocidente romano, já solapada

pela queda da produção nas grandes propriedades romanas e por um desequilíbrio de mercado que sugavao ouro para o Oriente estava em falência. Em alguns distritos o dinheiro era tão escasso que as transações

eram feitas por permuta e até mesmo as taxas e salários eram muitas, vezes pagos em gêneros.Além do mais os impostos eram exorbitantes, exigindo às vezes mais que dinheiro e gado. O

fazendeiro podia pagar um terrível preço, vendendo sua liberdade. Freqüentemente incapacitado de pagaros impostos devidos, ele escapava às duras penas da lei transferindo

suas terras para algum grande proprietário e trabalhando comoarrendatário. Outros deixavam seus lares e iam viver sob a tutela de reis

bárbaros, ou juntavam-se a bandos de salteadores. Até mesmo oscoletores de impostos (que o historiador romano Sálvio descreve como

sendo piores que os inimigos") eram vítimas do sistema. A lei exigia queentregassem ao governo uma quantia fixa em dinheiro; se não o

tivessem, eram obrigados a pagar de seu próprio bolso. Não podiamabandonar seu emprego, pois herdavam, por lei, o posto de servidores

do Estado. Desesperados, alguns coletores tornaram-se ávidosfuncionários em uma burocracia de tal modo enorme e corrupta que

certo cidadão romano comentou: Os que vivem às custas dos fundospúblicos são mais numerosos que aqueles que os provêm".O Império Romano fracassava exatamente no ponto em que dera

sua mais nobre contribuição: o governo. O Estado romano e seusorgãos administrativos haviam deixado de servir a suas finalidades

essenciais, a manutenção da ordem e da justiça. O povo romano nãotinha mais forças para lutar contra a situação. Enquanto multidões

desmoralizadas vagavam desocupadas pelas ruas e os ricosaristocratas davam festas em suas vilas, mercenários bárbaros lutavam

contra outros bárbaros para preservar o Império para os romanos.Nos primeiros anos do século V uma série de acontecimentos

transformou o declínio de Roma em queda vertiginosa. No auge da criseestava um homem que resumiu, em sua pessoa, a grande incoerência

dessa época. Seu nome era Estilicão. Vândalo de nascimento e generalromano por profissão, ele comandava o exército da Roma Ocidental e

durante uma década havia sido o esteio militar do Império do Ocidente.Dividindo com habilidade suas reduzidas tropas, enviando legiões paradeter invasões onde quer que ocorressem, Estilicão conseguira afastar

a derrota final. Em sinal de gratidão os romanos haviam erigido noForum de Roma urna bela estátua em sua homenagem. Uma inscrição floreada louvava sua bravura e

fidelidade, ressaltando "o extraordinário amor" que o povo de Roma sentia por ele.Porém nem mesmo os esforços de Estilicão puderam adiar o inevitável. Os visigodos, desviando sua

atenção dos Bálcãs, vinham atacando freqüentemente a própria Itália. Para defender o coração da terraromana , Estilicão viu-se forçado a convocar as tropas acampadas na fronteira do Reno, deixando

desprotegido todo o norte da Gália, que passou a contar apenas com as defesas dos imprevisíveis aliadosfrancos. Na última noite do ano de 406 as tribos germânicas, lideradas pelos vândalos, atravessaram o Reno

congelado. A seguir, toda a fronteira romana foi invadida e cenas de violência e de destruição tornaram-secomuns na Gália romana. "Vejam com que rapidez a morte cai sobre o mundo", escreveu o poeta romano

Orientius, "e quantas pessoas foram atingidas pela violência da guerra.Alguns jaziam para servirem de alimento aos cães; outros foram mortos pelas chamas que varreram

suas casas. Nas aldeias e nas fazendas, nos campos e nos distritos, em cada estrada havia morte, dor,carnificina, fogo e lamentações. Toda a Gália fumegava em uma grande pira funerária". In Gerald Simons.

Os Bárbaros na Europa. História Universal. Time-Life. Liv. José Olympio Editora. Pág. 20

O Crepúsculo de RomaO Crepúsculo de Roma

Para você saber mais

Após a queda doImpério Romano,nasceu naEuropa a era dacavalaria,quando senhoresricos o suficientepara assegurarcavalos, armas earmadurasprestaramvassalagem aosreis germanos.

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O ESPIRITO BARBARO

As ondas de tribos guerreiras que varreram a Europa a partir do século IV deram ogolpe de misericórdia no decadente Império Romano e mantiveram o continente em

constante tumulto durante mais de quinhentos anos. Ao mesmo tempo, entretanto, osinvasores infundiram no Ocidente um vigor que lentamente se mesclaria com as

antigas tradições para formar uma nova Europa. Muitos aspectos do espírito dessespovos - vikings, vândalos, gôdos, saxões -refletem-se em seus artefatos primitivos,mas vigorosos, tais como o medalhão de bronze do alto da página, onde vemos um

guerreiro a cavalo investindo com sua lança contra algum inimigo. Este objeto leva amarca inconfundível dos bárbaros, que deram à civilização ocidental uma nova visão

da guerra e das armas, da natureza e da religião, e do espírito humano.

FERRENHO INDIVIDUALISMO E TEMOR DO DESCONHECIDO

Para os bárbaros, assim como para a maioria dos povos primitivos, a vidaera uma constante luta pela sobrevivência - contra o tempestuoso

ambiente setentrional, contra os animais selvagens, contra as tribosvizinhas. Essa vida gerava homens de obstinada independência, como o

anônimo guerreiro viking que vemos à direita, com seu feroz perfilesculpido em chifre de alce.

Gerava também homens de imaginação fértil. Na tentativa de explicar ouinfluenciar as forças que modelavam suas vidas, os povos bárbaros

inventaram mitos e lendas, cultos e deuses. Muitas vezes representavamesses deuses à sua semelhança, como a divindade celta Cerramos, cujo

rosto barbudo e poderoso. Outras e mais recentes encarnações dosobrenatural exprimiam o senso místico dos bárbaros: a estatueta de

volumosa cabeça, no canto direito, combina as feições desagradáveis deum ídolo pagão com inscrições secretas dos primitivos cristãos.

AMOR ÀS ARMAS

Acima de todos os outros bens, os bárbaros entesouravam seus utensílios de guerra,atribuindo-lhes freqüentemente poderes sobrenaturais. Muitas lendas falam de espadas

possuídas pelo demônio, ou atuando como agentes dos deuses. As armas e aprestos de guerraque vemos aqui - um magnífico elmo de aço guarnecido de bronze e duas espadas

ornamentadas -pertenciam aos vikings; os saxões preferiam uma adaga de dois gumeschamada seax e os francos usavam machados.

A competência no uso das armas não era o único fator que fazia das tribos setentrionaisadversárias tão terríveis. Sua ferocidade e sua tática de atacar e fugir confundiam os romanos,

que estavam habituados a batalhas campais em formações organizadas. Sidônio, bispo deAuvergne no século V, relatou que os lanceiros francos “aproximavam-se tão rapidamente que

pareciam voar com mais velocidade do que seus dardos”.

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Os Bárbaros

Retrato de Carlos Magno,feito pelo pintorrenscentista AlbrechtDürer

Textos de Gerald Simons. Os Bárbaros na Europa. História Universal Life.José Olympio Editora.