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1 PAULO ROBERTO RUFINO PEREIRA Formação de professores para a docência online: “desafio comunicacional” da mediação docente 2011

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1

PAULO ROBERTO RUFINO PEREIRA

Formação de professores para a docência online:

“desafio comunicacional” da mediação docente

2011

2

PAULO ROBERTO RUFINO PEREIRA

Formação de professores para a docência online:

“desafio comunicacional” da mediação docente

Dissertação apresentada à coordenação do Minter

entre Estácio de Sá e Instituto Federal do Sudeste de

Minas Gerais como requisito parcial para obtenção

do grau de Mestre em Educação.

Orientador:

Prof. Dr. Marco Silva

Juiz de Fora

2011

3

P436 Pereira, Paulo Roberto Rufino

Formação de professores para a docência online:

“desafio comunicacional” na mediação docente Paulo

Roberto Rufino Pereira. – Rio de Janeiro, 2011.

74 f.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação)–

Universidade Estácio de Sá, 2011.

4

5

.

Dedico este trabalho aos meus pais Jésus e

Ieda, que sempre acreditaram e me

incentivaram, e à minha família, que me apoiou

incondicionalmente.

6

AGRADECIMENTOS

À minha esposa Vera, que esteve ao meu lado sempre! Pelas horas cedidas, pelas viagens não

realizadas.

Aos meus filhos Kamila, Felipe, Marcela e Matheus, pelo apoio e compreensão e por, mesmo

precisando de minha ajuda e orientação, terem sabido entender que este projeto é da família.

Aos meus irmãos Leo, Rosely e Edney, que, mesmo a distância, estiveram ao meu lado.

Aos colegas da equipe e-Tec Brasil do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sudeste

de Minas Gerais – Campus Juiz de Fora, que muito contribuíram para realização deste

projeto. Em especial ao professor Daniel José Gregole e Gilberto de Castro Timotheo.

À minha amiga e fonte de inspiração, Maria da Graça Martins Guerra, que me apoiou nas

horas mais difíceis.

Aos diretores do antigo CTU e agora Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sudeste de

Minas Gerais – Campus Juiz de Fora, por terem viabilizado este projeto Minter.

Ao amigo Wilson dos Santos Almeida, por ter sido o precursor do mestrado na Unesa e com

quem pude compartilhar minhas angústias e alegrias.

Aos meus colegas de Minter, por tudo que passamos juntos.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Marco Silva, que, com muita compreensão, generosidade e

principalmente competência, viabilizou este trabalho.

Aos professores doutores Célio Alves Espíndola e Alberto José da Costa Tornaghi, que

gentilmente aceitaram o convite para participar da banca examinadora.

Aos professores da equipe pedagógica e docentes-formadores do curso de Formação para

Docência Online, que contribuíram com suas experiências para minha formação e dissertação.

7

RESUMO

Formação de professores para a docência online: “desafio comunicacional” da mediação

docente

A falta de formação específica para docência na modalidade educacional via internet se

agrava com a crescente oferta de cursos online no Brasil. Essa formação é rara e costuma

subutilizar as potencialidades comunicacionais da internet favoráveis à mediação da

aprendizagem. Este estudo tem como objetivo investigar o perfil comunicacional da

mediação docente em um curso de extensão de formação de professores para docência online,

oferecido pelo programa e-Tec Brasil. De acordo com esse objetivo, foram definidas as

questões de estudo: a) verificar junto aos docentes como eles entendem as potencialidades

comunicacionais próprias do “ambiente virtual de aprendizagem” exploradas no curso; b)

averiguar como o desenho didático construído e o uso das interfaces de comunicação online

contribuíram com a mediação docente realizada; c) mapear as correlações entre as estratégias

comunicacionais da mediação docente desenvolvidas no curso e a participação e a

colaboração dos aprendizes. O referencial teórico da pesquisa foca os conceitos: cibercultura,

ciberespaço, interação, interatividade, hipertexto, complexidade e docência online. A

metodologia adotada está baseada na abordagem histórico-cultural e na pesquisa qualitativa.

Os instrumentos de coleta de dados são a observação e a entrevista. A técnica utilizada é a

análise de conteúdo. Os resultados revelaram a necessidade de uma agenda de engajamentos

específicos na formação de professores para docência online: a) objetivar as proposições de

atividades em consonância com tal perfil comunicacional dos cursistas; b) assegurar a

modalidade comunicacional interativa nas diversas interfaces do AVA; c) construir o desenho

didático atento a usabilidade, intratextualidade, intertextualidade, multilinearidade,

multivocalidade e a integração de várias linguagens; d) desenvolver trabalhos em grupo e

situações de aprendizagem colaborativa; e) mobilizar a experiência do conhecimento e do

enfrentamento dos desafios próprios da comunicação entre docentes e discentes. Finalmente,

conclui que a formação de professores para docência online precisa ser promovida

amplamente, atenta à exclusão digital de muitos professores e ser capaz de modificar heranças

negativas da formação presencial baseada no modelo transmissivo.

Palavras-chave: Docência online. Formação de professores. Cibercultura. Interatividade

8

ABSTRACT

Training teachers to teach online: “communicational challenge” of teaching mediation.

The lack of specific training for teachers in educational mode via the Internet is exacerbated

by the increasing availability of online courses in Brazil. This training is rare and often

underuse the potential of internet communication favorable to learning mediation. This study

aims to investigate the communication profile of teaching mediation in an extension course

for training teachers for teaching online, offered by the e-Tec Brazil program. In accordance

to this objective, the study questions were defined: a) to check with teachers how they

understand the communicational potentialities proper to “learning management system” that

they have used in the course, b) to examine how the didactic design built and the use of online

communication interfaces contributed to the teaching mediation held, c) to map the

correlations among communication strategies of teaching mediation developed in the course

and learners’ participation and collaboration. The theoretical references of this research

focuses on the concepts: cyberculture, cyberspace, interaction, interactivity, hypertext,

complexity, and teaching online. The methodology is based on historical-cultural approach

and qualitative research. The instruments of data collection are observation and interview.

The technique used is content analysis. The results revealed the need for an agenda of specific

commitments in training teachers for teaching online: a) to objectify the activity proposals in

line with such communicational profile of the course participants, b) to ensure the

communicational interactive mode across the different interfaces of Learning Management

System (LMS) c) build didactic design aware of usability, intratextuality, intertextuality,

multilinearity, multivocality and integration of several languages, d) to develop group work

and collaborative learning situations, e) to mobilize the experience of knowledge and of

coping with the challenges of the communication between teachers and students. Finally, it

concludes that the training teachers for online teaching needs to be widely promoted, aware of

the digital divide from many teachers and to be able to modify the negative heirdom of

classroom training based on the transmission model.

Keywords: Teaching online. Teacher training. Cyberculture. Interactivity.

9

Lista de figuras

Figura 1: Sistematização dos saberes ........................................................... 54

Figura 2: Curso de formação para a docência online .................................. 62

Figura 3: Aula 1 ........................................................................................... 64

Figura 4: Aula 2 ........................................................................................... 64

Figura 5: Aula 3 ........................................................................................... 65

Figura 6: Aula 4 ........................................................................................... 65

Figura 7: Aula 5 ........................................................................................... 66

Figura 8: Aula 6 ........................................................................................... 67

Figura 9: Aula 7 ........................................................................................... 67

Figura 10: Fórum como espaço de discussão .............................................. 73

Figura 11: Fórum como espaço de interação social .................................... 73

Figura 12: Chat como espaço de “bate-papo” ............................................. 74

Figura 13: O histórico do chat no AVA Moodle ......................................... 74

Figura 14: Glossário colaborativo ............................................................... 75

Figura 15: A midiateca ................................................................................ 75

Figura 16: Livro hipertextual ....................................................................... 76

Figura 17: O portfólio .................................................................................. 76

Figura 18: Página inicial do Moodle do IF Sudeste MG ............................. 88

Figura 19: Principais funções em curso ....................................................... 88

Figura 20: Acrescentar recurso .................................................................... 89

Figura 21: O livro ........................................................................................ 89

Figura 22: Página da web ............................................................................ 91

Figura 23: O vídeo ....................................................................................... 91

Figura 24: O rótulo ...................................................................................... 92

Figura 25: O tutorial .................................................................................... 92

Figura 26: Guia de funcionalidades Moodle ............................................... 93

Figura 27: Inserir recurso ............................................................................ 93

Figura 28: Link a um arquivo PDF .............................................................. 94

Figura 29: Link a revistas ............................................................................ 94

Figura 30: Acrescentar atividade ................................................................. 95

Figura 31: Banco de dados .......................................................................... 95

Figura 32: O chat ......................................................................................... 96

Figura 33: A escolha .................................................................................... 96

10

Figura 34: O fórum ...................................................................................... 97

Figura 35: O glossário ................................................................................. 97

Figura 36: A lição ........................................................................................ 98

Figura 37: A avaliação ................................................................................. 98

Figura 38: O questionário ............................................................................ 99

Figura 39: O pacote SCORM/AICC ............................................................ 99

Figura 40: A tarefa ..................................................................................... 100

Figura 41: A wiki ....................................................................................... 100

Figura 42: O livro hipertextual .................................................................. 112

Figura 43: A avaliação ............................................................................... 113

Figura 44: A motivação ............................................................................. 113

Figura 45: A pedagogia da transmissão ..................................................... 114

Figura 46: A interatividade ........................................................................ 114

Figura 47: Perfil dos nossos alunos ........................................................... 115

Figura 48: Andamento do fórum ............................................................... 127

Figura 49: Como ser um docente online .................................................... 134

11

Lista de tabelas

Tabela 1: A comunicação ............................................................................ 24

Tabela 2: Equipe de produção interdisciplinar ............................................ 58

Tabela 3: Distinção entre educação presencial e via internet ...................... 83

Tabela 4: Formação para ciência online ...................................................... 83

Tabela 5: Eficácia da educação a distância via internet .............................. 84

Tabela 6: Fórum ........................................................................................ 108

Tabela 7: Fórum 1 ..................................................................................... 110

Tabela 8: Fórum 2 ..................................................................................... 110

Tabela 9: Fórum 3 ..................................................................................... 111

Tabela 10: Fórum – A comunicação .......................................................... 118

Tabela 11: Fórum – A comunicação 2 ....................................................... 118

Tabela 12: Fórum 4 ................................................................................... 121

Tabela 13: Fórum 5 ................................................................................... 122

Tabela 14: Relação de discussão presencial e online ................................ 129

Tabela 15: Atividades propostas pelos formadores ................................... 130

Tabela 16: Fórum 6 ................................................................................... 135

12

Lista de gráficos

Gráfico 1: Correlação turmas 1 e 3 ................................................................................. 69

Gráfico 2: Correlação turmas 4 e 6 ................................................................................. 69

Gráfico 3: Correlação turmas 5 e 10 ............................................................................... 69

Gráfico 4: Correlação turmas 7 e 8 ................................................................................. 70

Gráfico 5: Correlação turmas 2 e 9 ................................................................................. 70

Gráfico 6: Idade dos cursistas e função exercida no e-Tec ............................................ 80

Gráfico 7: Recursos mais utilizados no computador ...................................................... 81

Gráfico 8: Cursistas que lecionam ou lecionaram disciplinas via internet ..................... 81

Gráfico 9: Recursos mais utilizados na plataforma Moodle ........................................... 82

Gráfico 10: Idade, função exercida e experiência com docência online ...................... 124

Gráfico 11: Expectativas dos cursistas em relação ao curso ........................................ 125

Gráfico 12: Participações de cursistas e formandos ..................................................... 126

Gráfico 13: Ações dos cursistas .................................................................................... 131

Gráfico 14: Atividades propostas formadores .............................................................. 132

Gráfico 15: Ações por atividade ................................................................................... 132

13

Lista de siglas

AVA – Ambiente virtual de aprendizagem

CC – Conected computer

Cederj – Consórcio de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro

EaD – Educação a distância

E-Tec Brasil – Escola Técnica Aberta do Brasil

HTML – Hypertext Markup Language

LMS – Learning Management System

MEC – Ministério da Educação e Cultura

PC – Personal computer

PPG – Programa de pós-graduação

SEED – Secretaria de Educação a Distância

Setec – Secretaria de Educação Técnica e Tecnológica

TICs – Tecnologias de Informação e Comunicação

UAB – Universidade Aberta do Brasil

Unesa – Universidade do Estácio de Sá

UFF – Universidade Federal Fluminense

ZDP – Zona de desenvolvimento proximal

14

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................16

1.1. Apresentação ......................................................................................................................................16

1.2. O problema .........................................................................................................................................17

1.3. Objetivos .............................................................................................................................................20

1.4. A revisão de literatura ..........................................................................................................................21

1.5. Justificativa .........................................................................................................................................29

1.6. Referencial teórico .............................................................................................................................. 30

1.6.1. A cibercultura e o ciberespaço ...............................................................................................30

1.6.2. Interação e interatividade .......................................................................................................32

1.6.3. Hipertexto e complexidade ....................................................................................................33

1.7. O caminho percorrido .........................................................................................................................36

1.7.1. O paradigma adotado .............................................................................................................36

1.7.2. Seleção do campo e sujeitos da pesquisa ...............................................................................36

1.7.3. A coleta e análise dos dados ..................................................................................................37

1.7.3.1. A observação ..........................................................................................................................37

1.7.3.2. As entrevistas .........................................................................................................................37

1.7.3.3. Análise de dados .....................................................................................................................38

2. O CENÁRIO COMUNICACIONAL NA CIBERCULTURA: DESAFIOS DA FORMAÇÃO DOS

PROFESSORES PARA A DOCÊNCIA ONLINE .............................................................................................40

2.1. A web 2.0 e as redes sociais ................................................................................................................40

2.2. Cibercultura e ciberespaço e as redes sociais ......................................................................................42

2.3. Interação, interatividade, hipertexto e complexidade .........................................................................45

2.4. Desafios da educação online: saberes docentes e indicadores de interatividade .................................47

2.5. Desafios da docência online: saberes do desenho didático .................................................................56

3. A METODOLOGIA E O CONTEXTO DA PESQUISA ...........................................................................61

3.1. O campo de pesquisa ..........................................................................................................................61

3.1.1. Apresentação do campo de pesquisa ................................................................................................61

3.1.2. A correlação entre as participações de docentes e cursistas .............................................................68

15

3.2. A escolha da metodologia ...................................................................................................................70

3.3. Dispositivos metodológicos ................................................................................................................71

3.3.1. Coleta de dados ................................................................................................................................72

3.3.2. Análise de dados ..............................................................................................................................78

3.4. Os sujeitos da pesquisa .......................................................................................................................79

3.5. O ambiente virtual de aprendizagem Moodle .....................................................................................84

4. O ENFRENTAMENTO DOS DESAFIOS COMUNICACIONAIS DA MEDIAÇÃO DOCENTE ONLINE ........... 102

4.1. As potencialidades comunicacionais próprias do AVA utilizado no curso na visão dos docentes ...103

4.2. O desenho didático e o uso das tecnologias digitais online ..............................................................116

4.3. As correlações entre as estratégias comunicacionais da mediação docente utilizadas e a participação e

colaboração dos aprendizes ..............................................................................................................................122

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................................................137

6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................142

7. GLOSSÁRIO .............................................................................................................................................147

16

1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação

Natural de Juiz de Fora (MG), leciono matemática desde 1982. Meu primeiro contrato

como professor foi celebrado junto à Escola Estadual Raulino Pacheco, em Rio Novo (MG).

Naquela época, cursava matemática na Universidade Federal de Juiz de Fora. Desde então,

tenho atuado no magistério e convivo com as dificuldades em “professorar”, especialmente

matemática. Apesar de ter cursado as cadeiras pedagógicas da licenciatura plena em

matemática, isso pouco mudou a minha prática em sala de aula, como se houvesse uma lacuna

entre o que se ensinava nas disciplinas pedagógicas e a práxis de sala de aula. Assim,

continuei “professorando” e, durante anos, construí os saberes necessários para atuar como

docente em sala de aula presencial. Mas tal realidade viria a mudar, a partir de uma nova

experiência com a modalidade de educação a distância (EaD).

A partir de 2007, comecei atuar na EaD, ministrando a disciplina matemática

financeira no curso de administração do projeto-piloto do Banco do Brasil, o que provocou

mudança em minha vida profissional em dois aspectos. O primeiro, relativo à minha formação

específica em matemática. Eu lecionava para funcionários do Banco do Brasil e servidores da

Universidade Federal de Juiz de Fora que cursavam a graduação em administração na

modalidade a distância. Eles estavam imersos em uma prática bancária e administrativa que

eu desconhecia, o que demandou a busca de atualização e formação específica para

“professorar” nessa área. O segundo e principal aspecto diz respeito à minha formação para

docência na modalidade de EaD, o que praticamente não existia. A EaD entendida como uma

modalidade educacional que conta com a mediação de tecnologias da informação e

comunicação em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), tendo estudantes e professores

desenvolvendo atividades educativas em lugares e tempos diversos. Eu pouco conhecia das

tecnologias de informação e comunicação, dos ambientes virtuais de aprendizagem, de suas

interfaces e de como utilizá-las no processo de educação e de aprendizagem dos alunos.

Faltava-me saber como construir projetos pedagógicos que viessem a favorecer o diálogo

entre professor e aluno e entre os alunos, diálogo esse estabelecido normalmente na sala de

aula presencial.

Ainda em 2007 fui convidado a participar do seminário de lançamento do Edital do

Programa Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec Brasil), em Curitiba (PR). Idealizado pelo

MEC a partir do modelo da Universidade Aberta do Brasil (UAB), versava sobre a formação

17

técnica em nível médio, na modalidade a distância. Ao retornar de Curitiba, trouxe para o

Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus Juiz de Fora a proposta de adesão ao

programa, que foi aceita por sua direção geral. Trabalho nesse Instituto Federal desde 1997,

onde coordeno o Núcleo de Educação a Distância. O núcleo possui 1.600 matrículas de alunos

distribuídos em três cursos técnicos a distância: Técnico em Enfermagem, Técnico em

Serviços Públicos e Técnico em Segurança do Trabalho. Porém os professores que atuam

nesses cursos não receberam capacitação adequada para atuar nessa modalidade de educação

e, de forma recorrente, fazem a transposição de suas práticas da educação presencial para a

educação a distância, subutilizando as diversas possibilidades comunicacionais das interfaces

do ambiente virtual de aprendizagem. Eles não sabem como construir desenhos didáticos que

favoreçam a interação e a colaboração dos alunos nem como criar estratégias comunicacionais

para incentivar a participação dos aprendizes nessa modalidade de ensino. Assim me propus a

estudar os desafios comunicacionais da formação de professores para docência online, tema

desta pesquisa, esperando contribuir para a formação continuada de professores e para minha

própria formação.

1.2 O problema

No Brasil vivemos o boom da EaD no ensino superior, nomeadamente na graduação e

pós-graduação lato sensu, favorecido pela demanda social, pela oferta cada vez maior de

cursos nas instituições públicas e privadas, mas, principalmente, pela legislação que

regulamenta essa modalidade educacional no país. Tal legislação está em constante processo

de transformação desde 1996, quando foi promulgada a Lei n. 9.394 (LDB), que autoriza, em

seu art. 80, a EaD como modalidade de ensino. Mas é a partir da Portaria n. 4.059, de 10 de

dezembro de 2004, do Ministério da Educação (MEC), com o reconhecimento de até 20% da

carga horária dos cursos superiores reconhecidos, que a EaD passa por enormes

transformações.

Merece destaque ainda outra portaria do MEC, a de n. 4.361, de 29 de dezembro de

2004, que regulamenta o processo de credenciamento de instituições de ensino para o uso

regular de EaD em seus cursos, e o Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que

regulamenta o art. 80 da LDB, definindo a política oficial de educação a distância no país. Em

seu primeiro artigo, esse decreto define a EaD como uma modalidade educacional que conta

com a mediação de tecnologias da informação e comunicação em ambientes virtuais de

18

aprendizagem, tendo estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em

lugares e tempos diversos. Assim, a partir da promulgação da LDB, a educação no Brasil

ganha novas possibilidades, em particular a educação técnica de nível médio na modalidade a

distância, que é contemplada a partir do Decreto n. 6.301, de 12 de dezembro de 2007, que

institui o programa e-Tec Brasil.

A fim de conhecer melhor a realidade da formação técnica no país e a empregabilidade

dos técnicos egressos das escolas, foi realizada uma pesquisa1, pelo MEC, junto a 2.657 ex-

alunos de 130 instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

Tecnológica. Do total de alunos de nível médio que, entre 2003 e 2007, estudaram em escolas

técnicas federais, 72% estão empregados. Destes, 65% trabalham em sua área de formação. A

continuidade dos estudos e a adequação da formação profissional recebida, também foram

tema da pesquisa nacional de egressos dos cursos técnicos da Rede Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica. O percentual dos que qualificaram a formação recebida

como boa e ótima foi de 90%. “Os resultados da pesquisa comprovam o grau de excelência da

rede federal de educação profissional e tecnológica”, afirma Eliezer Moreira Pacheco,

secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC. Ao comentar a pesquisa, o

secretário disse2:

Eu arriscaria dizer que não há técnico de nível médio desempregado no país, há os que optaram por outras atividades. No último levantamento que fizemos, havia 2 mil postos de trabalho no país não ocupados por falta de mão de obra qualificada. O Brasil ainda importa um grande número de técnicos estrangeiros para trabalhar aqui.

Interessante notar que, em relação às alterações ocorridas no mundo do trabalho,

originadas principalmente da revolução industrial-tecnológica, pode-se dizer que promoveram

profundas modificações na organização do processo produtivo no contexto da globalização e,

consequentemente, grandes mudanças no modo de se preparar para o mercado de trabalho.

Neste sentido, Duarte (2008, p. 10) observa:

A qualificação dos trabalhadores e a capacitação da força de trabalho ganharam destaque e, com isso, emergem uma flexibilidade e uma instabilidade do emprego formal. A ameaça de desemprego em um mercado

1 Pesquisa Nacional de Egressos dos Cursos Técnicos da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (2003-2007). Disponível em http://www.openinnovatio.org/2009/05/09/pesquisa-inedita-revela-que-72-de-ex-alunos-de-escolas-tecnicas-federais-estao-empregados/. Acesso em 27 abr. 2010. 2 Publicado em http://www.nenoticias.com.br/lery.php?var=1241973641. Acesso em 27 abr. 2010.

19

de trabalho desregulamentado e instável confere à empresa o poder de negociação (e/ou imposição) em relação às formas e condições de trabalho. Nesse sentido, observa-se uma tendência no crescimento dos desafios que testam a capacidade do profissional de se manter em condição de vender seu conhecimento, uma vez que este novo padrão exige-lhe qualidade, flexibilidade e maior produtividade, para se manter empregável.

Oliveira e Gomes (2006) observam que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, enquanto política pública para o setor, apresenta a necessidade de localizar a

formação profissionalizante diante da nova ordem mundial do capital. Para as autoras, a

educação profissionalizante, na visão do governo e dos empresários,

[...] surge neste momento como forte mecanismo de inserção e reinserção no mercado de trabalho, além de proporcionar um conjunto de competências que melhorem a empregabilidade dos trabalhadores. A educação é vista como elemento essencial para o desenvolvimento do sistema produtivo, estratégica para o desempenho econômico da população, elemento central à formação, capacitação, qualificação ou requalificação dos trabalhadores e possivelmente a alternativa principal para o ingresso do país no novo cenário internacional (OLIVEIRA; GOMES, 2006, p. 2 e 3).

Assim, por meio da reorganização curricular e de conteúdos, as instituições

formadoras públicas e privadas de mão de obra deverão dar conta de atender ao mercado de

trabalho que busca trabalhadores capazes de assumir uma atitude mais propositiva e

colaborativa, trabalhando em equipe, demonstrando iniciativa e prontidão para o contínuo

aprendizado, além do domínio técnico de suas atividades. O que se percebe, a partir das

mudanças ocorridas no mundo do trabalho relativas à qualificação e requalificação do

trabalhador, é o deslocamento no foco de sua formação profissional. Para além do domínio

técnico de suas atividades, o que se deseja é a formação técnica para as demandas mundiais. É

nesse contexto que MEC institui o programa e-Tec Brasil, atento às demandas sociais

emergentes e à falta de mão de obra especializada. Como política de estado, o e-Tec Brasil

tem a finalidade de expandir a rede de escolas técnicas no país, interiorizando a oferta destes

cursos em regiões distantes dos grandes centros formadores de mão de obra especializada.

O edital do programa integra o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE

(BRASIL, 2009), e em sua estrutura destacam-se dois encaminhamentos:

• Os municípios, os estados e o Distrito Federal podem apresentar propostas de

adequação de escolas de ensino fundamental, ensino médio e escolas técnicas para que as

mesmas sediem como polos de apoio presencial os cursos de educação profissional técnica de

nível médio, na modalidade a distância.

20

• As instituições públicas municipais, estaduais e que ministram ensino técnico de nível

médio (universidades, centros de educação tecnológica, faculdades de tecnologia, escolas

técnicas e escolas agrotécnicas) apresentam seus projetos de cursos a serem ofertados na

modalidade a distância.

Logo, o programa funciona em regime de colaboração entre União, estados, Distrito

Federal e municípios, por meio da oferta a distância de cursos técnicos de nível médio e de

formação continuada para professores da educação profissional. Os cursos são ministrados

por instituições públicas federais, estaduais ou municipais de ensino técnico de nível médio, e

o MEC é responsável pela assistência financeira em sua elaboração. Já os estados, Distrito

Federal e municípios ficarão com as despesas de estrutura, equipamentos, recursos humanos e

a manutenção das atividades nos polos de apoio presencial. Segundo resultado preliminar,

publicado no Diário Oficial da União em fevereiro de 2008, 174 cursos foram pré-

selecionados e classificados em três grupos, além de 74 instituições proponentes, entre elas

Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), Escolas Agrotécnicas Federais (EAF),

secretarias estaduais, universidades, unidades vinculadas e Escola Técnica Federal. Dos 288

polos pré-selecionados, o MEC escolheu 250 para início imediato das atividades. A

capacidade de atendimento prevista era de 200 mil vagas. A meta era instituir cursos em cerca

de mil escolas até 2011. Em 2008, o programa iniciou o financiamento dos projetos aprovados

com R$ 45 milhões de capital e custeio e R$ 29,3 milhões em bolsas, totalizando um

orçamento de R$ 68,3 milhões.

Entre os objetivos do e-Tec Brasil, destaca-se democratizar, expandir e interiorizar a

oferta de cursos de educação profissional técnica, públicos e gratuitos, de nível médio e na

modalidade de educação a distância. Entretanto, será que existe a formação específica do

quadro docente das instituições federais, estaduais e municipais para a mediação da

aprendizagem via internet? Tal formação específica do quadro docente se refere à exploração

ampla das possibilidades comunicacionais das interfaces dos ambientes virtuais de

aprendizagem, à construção de desenho didático específico para EaD e à utilização de

estratégias comunicacionais de mediação docente para promover a participação e a

colaboração dos aprendizes.

1.3 Objetivos

Objetivo geral

21

•••• Investigar como se deu o enfrentamento dos desafios comunicacionais durante a mediação

docente no curso de extensão para Formação de Professores para Docência Online, oferecido

pelo programa e-Tec Brasil.

Objetivos específicos

•••• Levantar junto aos docentes como eles entendem as potencialidades comunicacionais

próprias do “ambiente virtual de aprendizagem” que utilizaram no curso;

• Averiguar como o desenho didático construído e o uso das tecnologias digitais online

contribuíram para corroborar a modalidade comunicacional interativa utilizada na mediação

docente estabelecida no curso em questão.

• Investigar as correlações entre as estratégias comunicacionais da mediação docente

utilizadas nesse curso e a participação e a colaboração dos aprendizes, a partir das sugestões

de interatividade feitas aos docentes e discutidas anteriormente.

1.4 A revisão de literatura

Batista Jr (2009) observa que os cursos com apoio da internet estão cada vez mais

presentes nas universidades, apesar de se observarem, no cotidiano dessas instituições,

rejeições de professores e estudantes às disciplinas ministradas na modalidade online.

Partindo dessa constatação, sua pesquisa buscou investigar as reações dos alunos às aulas de

um curso de graduação oferecidas na modalidade online. O autor aponta os seguintes

resultados:

[...] as reações mais frequentes se manifestam como insatisfações, tanto dos estudantes quanto dos professores, à falta de interação aluno–aluno e professor–aluno e à qualidade do conteúdo das aulas; o planejamento didático restrito apenas aos professores conteudistas não contemplou a participação dos docentes na sua elaboração; a disposição das interfaces para a participação do alunado é desestimulante; os professores questionam seu papel na nova modalidade de educação (BATISTA JR, 2009, p. 9).

Os resultados obtidos pelo autor revelam que há necessidade urgente de se repensar e

rever o que vem sendo praticado por alunos e professores nas disciplinas online no que se

refere às interações entre alunos e entre professores e alunos, à qualidade dos conteúdos, ao

planejamento do desenho didático, às disposições das interfaces do AVA para promover a

participação dos alunos, bem como de implementar programas de formação continuada para

22

os docentes que atuam nessa modalidade. Sobre esse aspecto, Rodrigues (2009) afirma que a

educação online emerge no contexto sociotécnico contemporâneo, marcado pelo computador

conectado em rede, que favorece novas relações sociais com o saber. Porém o que se tem,

nessa modalidade educativa, em larga escala, é a concepção de educação baseada na

transmissão de conteúdos fechados para a autoaprendizagem. Seu estudo teve como objetivo

analisar saberes e práticas expressados na docência online. A metodologia adotada foi

baseada na abordagem histórico-cultural como norteadora da pesquisa qualitativa, e os

resultados, segundo Rodrigues (2009, p. 7), indicam que:

[...] na modalidade online os saberes e fazeres docentes situados na perspectiva da interatividade se manifestam quando há utilização expressiva de interfaces de compartilhamento e de colaboração; os saberes do docente online são plurais e agrupam-se em saberes epistemológicos, saberes didáticos, saberes tecnológicos; a interatividade, além de um saber, é o alicerce de outros saberes.

Como conclusão, a autora afirma que, “[...] com base nesses resultados, a pesquisa

pretende contribuir com o debate sobre qualidade na educação online, quando o investimento

na oferta dessa modalidade supera o investimento na formação específica do seu corpo

docente” (RODRIGUES, 2009, p. 9).

Em seu trabalho intitulado “Saberes docentes em ambientes virtuais de

aprendizagem”, Pereira (2008) buscou refletir sobre a itinerância docente em educação online

com o objetivo de compreender a natureza dos saberes docentes e sua construção no contexto

da cibercultura, evidenciando suas lacunas e possibilidades. Sua abordagem metodológica foi

a etnopesquisa–formação, tendo como método o estudo de caso. Segundo Pereira (2008, p. 7),

A pesquisa mostra a importância de o docente estar imerso no contexto digital, interagir, questionar e refletir sobre a dinâmica da cibercultura. A pesquisa mapeou alguns saberes docentes oriundos do contexto da cibercultura e os principais dilemas vivenciados pelos professores nesse cenário.

Os resultados da pesquisa apontam a necessidade de mais investimentos de pesquisa

na área e, decorrente disso, a construção de um estatuto de conhecimentos sobre a docência

online no que se refere à modalidade comunicacional da mediação docente, à construção de

desenhos didáticos de um curso online, às estratégias comunicacionais da mediação docente

para promover a participação e a colaboração dos aprendizes. Nesse sentido, Sacramento

(2007), em sua pesquisa “Docência online: rupturas e possibilidades para a prática educativa”,

23

trouxe reflexões sobre as experiências com a docência online, nas quais se discutiram as

concepções de docência constituídas por meio das práticas de professores e professoras nos

cursos realizados em ambiente online e como esta modalidade contribui para modificar as

outras formas de docência. Seu objetivo foi o de compreender qual é a concepção de docência

que vem permeando a prática educativa de professores e professoras que atuam em cursos

online. Sua abordagem metodológica foi a pesquisa-formação, alicerçada na etnopesquisa

crítica/formação. Segundo Sacramento (2007, p. 8), o

[...] trabalho evidenciou a docência online [...] como espaço multirreferencializado, no qual o processo de ensinar/aprender é permeado pela multiplicidade de profissionais, de diversas áreas do conhecimento, localidades, desejos, saberes, afetividade e histórias de vida diferenciadas. A docência online [...] é uma pedagogia fundamentada nos princípios da educação online, como conjunto de ações de ensino-aprendizagem por meios telemáticos, [...] que permitem a participação-intervenção, a bidirecionalidade–hibridação e a permutabilidade, sendo os pressupostos dessa pedagogia comunicacional interativa. Constatou-se, ainda, que o chat é uma importante interface pedagógica para a docência online e outras formas de docência.

As conclusões da autora apontam para os fundamentos da interatividade: a

participação–intervenção, a bidirecionalidade–hibridação e a permutabilidade como princípio

ativo do processo de aprendizagem na educação online. Para Silva (2010, p. 254), “a

educação, em sua função de socializar e promover a participação e a colaboração do sujeito,

ganha com a mudança paradigmática na teoria e na pragmática comunicacionais”. Nesse

cenário, nós, professores, precisamos nos preparar para que nossa mensagem não seja

meramente assistida, mas que possa ser recomposta ou modificada pelas intervenções do

aprendiz. Com isso, ele afirma que podemos revitalizar nosso ofício construindo em cada

situação de aprendizagem a expressão dos fundamentos da comunicação interativa, ou seja:

• Participação–intervenção: Participar não se restringe a responder “sim” ou “não” ou escolher uma opção dada [...]. Participar é interferir em sua mensagem, é construir coletivamente a comunicação e a aprendizagem; • Bidirecionalidade–hibridação: Comunicar pressupõe bidirecionalidade entre professor e aprendiz. [...]. Diante dos conteúdos de aprendizagem, os dois polos codificam e decodificam, colaboram e cocriam. • Permutabilidade–potencialidade: O professor oferece múltiplas redes articulatórias para construção da comunicação e do conhecimento [...] permitindo ao aprendiz ampla liberdade para permutar, virtualizar, simular associar e significar (SILVA, 2010, p. 254).

24

Assim, conclui-se que há um descompasso entre a formação de docentes e a crescente

oferta de cursos na EaD, além da necessidade urgente de se repensar e rever os papéis de

alunos e professores nas disciplinas online, a importância em implementar programas de

formação continuada para os docentes que atuam nessa modalidade; a necessidade de mais

investimentos de pesquisa na área e, decorrente disso, a construção de um estatuto de

conhecimentos que desvele e contribua para enfrentar os desafios da mediação docente online

com relação à utilização dos ambientes virtuais de aprendizagem, ao desenho didático

interativo para o uso das tecnologias digitais online e à formulação de estratégias

comunicacionais para promover a participação e a colaboração dos aprendizes.

Em relação à mediação docente, Silva (2010, p. 85) nos oferece um quadro que faz

uma distinção oportuna entre a modalidade comunicacional tradicional – unidirecional – e a

interativa:

Tabela 1: A COMUNICAÇÃO

MODALIDADE UNIDIRECIONAL MODALIDADE INTERATIVA MENSAGEM: fechada, imutável, linear, e sequencial.

MENSAGEM: é modificável, está sempre em mutação na medida em que responde às solicitações daquele que a manipula.

EMISSOR: “contador de histórias”, narrador que atrai o receptor (de maneira mais ou menos sedutora e/ou por imposição) para seu universo mental, seu imaginário, sua récita.

EMISSOR: “designer de software”, constrói uma rede (não uma rota) e define um conjunto de territórios a explorar, ele não oferece uma história a ouvir, mas um conjunto intrincado (labirinto) de territórios abertos a navegações e dispostos a interferências, a modificações.

RECEPTOR: assimilador passivo. RECEPTOR: “usuário”, manipula a mensagem como coautor, cocriador, verdadeiro conceptor.

Segundo esse autor, a interatividade, como nova modalidade comunicacional

emergente no final do século XX, surge a partir da verificação de que em nosso tempo opera

uma significativa modificação na esfera das comunicações. Trata-se da transição da

modalidade comunicacional massiva para a interativa. “A comunicação engendrada pelos

meios de massa – rádio, cinema, imprensa e televisão – sedimentou uma pragmática e uma

teoria assentadas no mesmo paradigma que separa a emissão da recepção” (SILVA, 2010, p.

9), próprio da lógica da distribuição3. Tal prática perde terreno com a emergência da lógica da

comunicação como um fenômeno da sociedade da informação. O conceito de sociedade da

3 Segundo Silva (2010, p.10), “as expressões ‘lógica da distribuição’ e ‘lógica da comunicação’ são de Maire MARCHAND, Les paradis informacionnels: du Minitel aux services de communication du futur. Paris: Masson, 1986, p. 47”.

25

informação diz respeito ao novo contexto sócio-econômico-tecnológico4 concebido a partir do

início da década de 1980, cuja característica geral é a não mais centralidade da produção

fabril, mas da informação como nova infraestrutura básica, como um novo modo de produção.

“Este conceito comporta também a percepção de que a produção em massa cede espaço à

produção segmentada, em rede” (SILVA, 2010, p. 10).

A comunicação interativa é, portanto, um desafio para a educação centrada no paradigma da

transmissão (SILVA, 2010), um desafio que se desdobra em três, assim formulados por

Martín-Barbero (1997, apud SILVA, 2010, p. 84 e 85):

• O professor terá que se dar conta do hipertexto: Uma escritura não sequencial, uma montagem de conexões em rede que, ao permitir/exigir uma multiplicidade de recorrências, transforma a leitura em escritura; • O professor terá que saber que, “em lugar de substituir, o hipertexto vem potenciar” sua figura e seu ofício; • O professor terá que saber que não se trata de hipostasiar o novo paradigma, mas torná-lo em recursão com o tradicional [...]. Há “uma mudança nos protocolos e processos de leitura”, mas que o livro de papel em seu paradigma linear, sequencial, não pode ser invalidado.

Trata-se, portanto “do desafio que consiste em conhecer e adotar a modalidade

comunicacional interativa e, ao mesmo tempo, não invalidar o paradigma clássico que

predomina na escola” (SILVA, 2010, p. 85).

Para Bordenave (1983), o desafio, a partir da modalidade comunicacional, está na

diversidade de opções pedagógicas para mediação docente, das quais ele destaca três: a

pedagogia da transmissão5, a pedagogia do condicionamento e a pedagogia da

problematização. A pedagogia da transmissão, baseada na modalidade comunicacional

tradicional–unilateral, própria dos meios de comunicação de massa, é realidade e está

arraigada nas instituições escolares. Tal pedagogia parte da premissa de que os professores

4 O contexto sócio-econômico-tecnológico a que se refere Silva pode ser assim caracterizado: Na esfera tecnológica, diz respeito ao avanço das tecnologias informáticas conversacionais; na esfera econômica, ao marketing e à propaganda; e na esfera social, ao fim da pregnância da passividade da recepção diante da emissão do produto acabado (SILVA, 2010, p.10). 5 Silva, no artigo “Indicadores de interatividade para o professor presencial e on-line” (2004), citando Anísio

Teixeira, diz: “[...] num primoroso texto avançado em seu tempo, Anísio Teixeira deixa claro que o professor deveria lançar mão dos ‘novos recursos tecnológicos e dos meios audiovisuais’ não para transmitir conteúdos, ao contrário, buscaria neles rompimento com a pedagogia da transmissão. Ou seja, rádio, cinema e televisão ‘irão transformar o mestre no estimulador e assessor do estudante’. De ‘guardião e transmissor da cultura’, o mestre seria transformado, [...] em ‘guia de aprendizagem’ [...]. Em lugar de transmitir pacotes de informações em sala de aula, o mestre, a par da dinâmica do conhecimento em permanente expansão, poderia ‘ensinar ao jovem aprendiz a aprender’” (SILVA, 2004, p. 2 e 3).

26

são detentores do conhecimento, do saber, e os alunos uma tábula rasa à espera da recepção

dos conhecimentos transmitidos pelos professores. Na pedagogia do condicionamento,

baseada também na modalidade comunicacional massiva, a ênfase está nos resultados

comportamentais. Baseia-se no estímulo–recompensa, com objetivo de condicionar o aluno,

que, em geral, emite respostas condicionadas pelas informações dadas pelo professor; não

questiona objetivos e métodos; não problematiza a realidade. A pedagogia da

problematização, baseada na modalidade comunicacional interativa, parte do princípio de que

estamos em um mundo em constantes transformações e estimula o desenvolvimento das

capacidades de observação, análise, avaliação, etc., o intercâmbio, a cooperação, a superação

de conflitos nas atividades em grupo.

A partir do exposto por Silva (2010) e Bordenave (1983), pode-se perceber a

existência de duas modalidades comunicacionais, a massiva e a interativa. Tais modalidades

poderão ser adotadas pelo professor em sala de aula presencial ou não e irão caracterizar a

pedagogia adotada como transmissiva/de condicionamento, baseada na modalidade de

comunicação massiva, ou da problematização, baseada na modalidade de comunicação

interativa. Portanto, as três concepções pedagógicas expostas estão complexamente ligadas à

modalidade comunicacional adotada e nos mostra que os alunos poderão ser formados em

sala de aula, como repetidores das informações recebidas, por meio de treinamento

comportamentalista, ou como cidadãos conscientes de seus papéis no mundo, questionadores,

críticos e solucionadores de problemas.

Paulo Freire (1979, p. 38) critica a transmissão massiva como modalidade

comunicacional, quando afirma que “o professor ainda é um ser superior que ensina a

ignorantes. Isto forma uma consciência bancária [sedentária, passiva]. O educando recebe

passivamente os conhecimentos, tornando-se um depósito do educador”. Critica o ensino que

não estimula a expressão criativa e transforma o estudante no receptor passivo que perdeu a

capacidade de ousar. Pois, “quem apenas fala e jamais ouve; quem ‘imobiliza’ o

conhecimento e o transfere a estudantes, [...] quem ouve o eco apenas de suas próprias

palavras [...], não tem realmente nada que ver com libertação nem com democracia”

(FREIRE, 1982, p. 30 e 31). Assim, “ensinar não é a simples transmissão do conhecimento

em torno do objeto ou do conteúdo. Transmissão que se faz muito mais através da pura

descrição do conceito do objeto a ser mecanicamente memorizado pelos alunos” (FREIRE,

1992, p. 81). Nesse sentido, Silva (2004) afirma que continuamos guardiões e transmissores

da cultura, transmissores de pacotes fechados de informações em sala de aula presencial e a

distância. Educamos para arquivar o que depositamos nas mentes dos nossos alunos. Assim,

27

cristalizando a consciência bancária que pensa que, quanto mais se distribui, mais se apropria

do conhecimento.

Em outros termos, Lévy (2008) afirma que hoje a principal função do professor não pode

mais ser a propagação de conhecimentos, ainda que esta agora seja feita de forma mais eficaz

pelos meios digitais de informação e comunicação. Já Silva (2006) diz que os alunos estão

exigindo uma nova ambiência de aprendizagem, eles migram da tela da TV, que não permite

sua interferência, para a tela do computador conectado à internet. Evitam acompanhar

argumentos lineares que não permitem a sua intervenção e lidam facilmente com a linguagem

digital. Essa atitude menos passiva diante da mensagem é sua exigência de uma nova sala de

aula e determina a necessidade de formação específica de professores atentos a essas

transformações. Assim, a educação via internet vem se apresentando como grande desafio

para os professores acostumados ao modelo clássico de ensino, baseado na

predominância da oratória do mestre ou da “pedagogia da transmissão” (SILVA, 2006,

2010).

Silva (2010) afirma que, para enfrentar o desafio de uma formação em sintonia com a

modalidade comunicacional interativa emergente, o professor deve cuidar de sua autoria. Ele

apresenta algumas sugestões para promover a interatividade, mobilizadoras de ações

concretas em favor da expressão livre e plural em ambientes da docência e aprendizagem

colaborativas:

•••• Disponibilizar múltiplas experimentações, múltiplas expressões: promover trabalhos

em grupos colaborativos, favorecendo a participação coletiva em debates presenciais e online,

garantindo a exposição de argumentos e o questionamento das afirmações;

•••• Disponibilizar uma montagem de conexões em rede que permite múltiplas

ocorrências: fazer uso de diferentes suportes e linguagens midiáticos (texto, som, vídeo,

computador, internet) em mixagens e em multimídia, presenciais e online, garantindo um

território de expressão e aprendizagem labiríntico, porém de fácil navegação, e permitindo

que o aprendiz conduza suas explorações.

•••• Provocar situações de inquietação criadora: promover ocasiões que despertem a

coragem do enfretamento em público diante de situações que provoquem reações individuais

e em grupos e ao mesmo tempo respeitar a diversidade plural das ideias; incentivar a

participação dos estudantes na resolução de problemas apresentados de forma autônoma e

cooperativa, problemas também voltados para o desenvolvimento de competências que

possibilitem ao aprendiz ressignificar ideias, conceitos e procedimentos.

28

•••• Arquitetar colaborativamente percursos hipertextuais: articular o percurso da

aprendizagem em rotas diferentes, multidisciplinares e transdisciplinares, porém

reconectáveis a qualquer momento por mecanismo de associação; disponibilizar os dados do

conhecimento exuberantemente conectados e em múltiplas camadas ligadas a pontos que

facilitem o acesso e o cruzamento de informações e de participações.

•••• Mobilizar a experiência do conhecimento: modelar os domínios do conhecimento como

espaços conceituais, nos quais os aprendizes possam construir seus próprios mapas e conduzir

suas explorações, considerando os conteúdos como ponto de partida e não ponto de chegada

no processo de construção do conhecimento; promover atividades que propiciem não só a

livre expressão, o confronto de ideias e a colaboração entre os estudantes, mas que permitam,

também, o aguçamento da observação e da interpretação das atitudes dos atores do processo, a

partir das experiências, dos conhecimentos e das expectativas que os aprendizes possuem.

Referindo-se às sugestões anteriores, Silva (2010, p. 257, grifos do autor) afirma que

“com essas agendas de engajamento, podemos potencializar nossa autoria com atos de

comunicação capazes de contemplar o perfil da cultura do digital e as exigências da educação

cidadã”.

Atento aos desafios comunicacionais emergentes a partir cibercultura, do ciberespaço

e do hipertexto e ao descompasso entre a formação do quadro docente e a crescente oferta de

cursos a distância, o MEC ofereceu o primeiro curso de capacitação de gestores em EaD para

o programa e-Tec Brasil. O objetivo foi capacitar gestores regionais para atender aos cursos

oferecidos pelas instituições de ensino participantes do programa, além de estabelecer um

processo de capacitação inicial e continuada em EaD e educação profissional. O conteúdo

estudado no curso, que começou em fevereiro de 2008, foi dividido em três módulos (gestão

pedagógica, material didático e gestão acadêmica), com 60 horas a distância para cada

disciplina. A carga horária total é de 212 horas/aula, sendo 180 a distância e 32 presenciais.

Aqueles que concluíram o primeiro curso receberam formação em gestão pedagógica,

material didático e gestão acadêmica. Entretanto, após o término do curso ocorreu a

reivindicação de formação mais profunda dos professores e gestores. Assim, a Secretaria de

Educação a Distância (SEED6) do MEC promoveu, em nível nacional, o curso “Formação de

6 O Ministério da Educação (MEC) anunciou, no dia 18 de janeiro, diversas alterações em sua estrutura – que incluem a proposta de extinção da Secretaria de Educação a Distância (SEED), que, desde a saída de Carlos Eduardo Bielschowsky, no final de 2010, vem sendo ocupada interinamente por José Guilherme Moreira Ribeiro, até então diretor de Infraestrutura em Tecnologia Educacional do próprio órgão. http://ead.folhadirigida.com.br/?p=4409. Acesso em 2 de maio de 2011.

29

Professores para Docência Online” visando à formação de professores da rede federal para

atuar na docência online, o que o caracteriza como metalinguístico7.

1.5 Justificativa

O professor precisa preparar-se para “professorar” online. O peso histórico da

pedagogia da transmissão exigirá em contrapartida a formação continuada e profunda, capaz

de levá-lo a redimensionar sua prática docente, ficando claro que não basta ter o computador

conectado em alta velocidade de acesso e amplo fornecimento de conteúdos para assegurar

qualidade na educação. Em vez de transmitir meramente, ele precisará aprender a

disponibilizar múltiplas experimentações e expressões, além de montar conexões em rede que

permitam múltiplas ocorrências; deverá ser um formulador de problemas, provocador de

situações, arquiteto de percursos, mobilizador da experiência do conhecimento (SILVA,

2006).

A supervalorização dos computadores online no cotidiano das pessoas é indiscutível,

constituindo novas práticas comunicacionais como a utilização de e-mails, listas de discussão,

weblog, jornalismo online, webcam, chat e as redes sociais (Orkut, MSN, Twitter, Facebook,

etc.). A formação continuada de professores para a educação online é demanda da sociedade

conectada em redes de computadores online. Em sintonia com essa nova ordem, o professor

precisará contribuir para preparar e incluir criticamente os cidadãos no contexto social e

técnico do nosso tempo. Para isso, deverá formar-se continuadamente, o que justifica essa

pesquisa que visa a identificar qual a modalidade comunicacional da mediação docente via

internet e de que maneira ela potencializa a mobilização, as competências e a autonomia para

a construção de estratégias pedagógicas apropriadas para a mediação docente.

Assim, investigar os desafios da modalidade comunicacional estabelecida na mediação

docente via internet é uma forma de orientar as políticas públicas no sentido da oferta de

cursos para a formação inicial e continuada de técnicos, professores e gestores, a fim de

atenderem às demandas da nova ordem social estabelecida a partir dos computadores online,

das redes sociais e, em particular, aos objetivos das ações governamentais implantadas, como

7 Em lógica e linguística, uma “metalinguagem” é uma linguagem usada para descrever algo sobre outra (s) linguagens (linguagens objeto). Modelos formais sintáticos para descrição gramatical, e.g. gramática gerativa, são um tipo de metalinguagem. De modo mais amplo, uma metalinguagem pode referir-se a qualquer terminologia ou linguagem usada para descrever uma linguagem em si mesma — uma descrição gramatical, por exemplo, ou uma discussão sobre o uso de uma linguagem. http://pt.wikipedia.org/wiki/Metalinguagem. Acesso em 5 de maio de 2011.

30

é o caso do programa e-Tec Brasil. Para tanto, será necessário levantar junto aos docentes do

curso Formação de Professores para Docência Online como entendem as possibilidades

comunicacionais próprias do “ambiente virtual de aprendizagem” e como utilizar essas

possibilidades na construção de um desenho didático favorável à mediação docente, à

participação e à colaboração dos aprendizes.

1.6 Referencial teórico

Conforme Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2000), considera-se que contar com um

esquema conceitual anterior à coleta de dados é de grande utilidade para a identificação de

aspectos relevantes e relações significativas nos eventos observados. Assim, o referencial

teórico desta pesquisa tem como conceitos: a modalidade comunicacional discutida

anteriormente, a cibercultura e o ciberespaço, interação e interatividade, hipertexto e

complexidade e docência online. Todos articulados, apresentados e discutidos por autores

contemporâneos, como Freire (2009), Lévy (2008), Moran (2000), Morin (2007), Primo

(2009), Santos (2002), Silva (2004; 2006; 2010) e outros, que contribuíram e contribuem para

a compreensão atual do tema.

1.6.1 A cibercultura e o ciberespaço

A passagem dos computadores pessoais para os computadores coletivos conectados à

internet contribuiu e contribui para definir uma nova organização da sociedade. Na

denominada sociedade em rede encontramos a cibercultura caracterizada por Pierre Lévy

(2008) como um conjunto de técnicas, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de

valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, o novo meio de

comunicação que surge da interconexão mundial de computadores, a internet. Assim,

ciberespaço e cibercultura determinam o rompimento paradigmático com a prática secular da

mídia de massa baseada na transmissão, na distribuição para o receptor massificado.

O ciberespaço permite ao indivíduo, ligado à rede, comunicação personalizada,

operativa e colaborativa de forma hipertextual. Nesse novo contexto social e tecnológico, o

site não deve ser assistido e sim manipulado, pois pressupõe imersão e participação–

intervenção do indivíduo – experiência incomum na mídia de massa. Mas, ainda assim, os

cursos online herdeiros da pedagogia da transmissão subutilizam as disposições

31

comunicacionais do ciberespaço e a demanda comunicacional da cibercultura (RODRIGUES,

2009).

A cibercultura, para Lemos (2008), é uma forma sociocultural que emerge da relação

simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias, que surgiram com a

convergência das telecomunicações com a informática na década de 1970. O ciberespaço é o

hipertexto mundial interativo, onde cada um pode modificar partes dessa estrutura telemática,

como um texto vivo, um organismo que se organiza.

Parece haver uma convergência das definições de sociedade em rede, cibercultura e

ciberespaço e consenso em relação à mudança do paradigma comunicacional ocorrida a partir

delas. Ocorre que, diante dessa nova ordem comunicacional, surgem desafios que precisam

ser observados e enfrentados, como alerta Trivinho (2009). Para esse autor, o homem precisa

acompanhar constantemente as atualizações tecnológicas impostas pela indústria em uma

incessante corrida para garantir sua permanência no ciberespaço, caso contrário estará

condenado à exclusão digital. Apesar de paradoxal diante dos avanços tecnológicos da nossa

época, ela revela a lógica que se estabeleceu no mundo contemporâneo, a da velocidade.

Não basta apenas ter acesso ao computador e saber informática. Trivinho (2009)

questiona a democracia da internet quando afirma que há senhas por questões de segurança e

restrições de acesso a áreas privadas por um custo econômico, que seleciona os que podem e

não podem ter acesso. Por outro lado, a época exige conhecimentos específicos, que devem

ser traduzidos em uma prática interativa, própria de um comportamento de contínuo acesso,

de fluência e de rapidez. São conhecimentos pragmáticos para usar o hardware, o software e a

rede, necessários para operar os dispositivos da era da velocidade.

Para Trivinho, a cibercultura é uma configuração social-histórica, uma nova realidade

antropológica e política, um quase sinônimo propriamente de sociedade ou de organização

social, portanto, é mais do que objetos, processos, comportamentos e relações internos ao

ciberespaço. Porém, como consequência dessa exigência para a vida das pessoas, se

estabelece uma pressão social, pois o sujeito precisa apropriar-se desses conhecimentos para

incorporar-se no mercado de trabalho, mesmo para exercer cargos para os quais não é

necessário saber informática. A época requer não só conhecimentos convencionais, como os

das ciências da natureza, mas também o domínio de tecnologias.

Trata-se de uma violência simbólica, mas no sentido mais sutil. A violência da

cibercultura se realiza como pressão social, que vem de todos os lados e de lugar nenhum. O

indivíduo sabe que não tem chances se não dominar as senhas infotécnicas: o computador, o

32

protocolo de acesso, uma prática de continuidade e o conhecimento conforme a exigência da

época (TRIVINHO, 2009).

1.6.2 Interação e interatividade

O conceito de “interatividade” é de fundamental importância para o estudo da

comunicação mediada por computador e de todas as áreas que lidam com a interação homem–

máquina e homem–homem via computadores conectados pela internet. Contudo, existem

diversas definições que às vezes mais confundem que esclarecem. Segundo Primo e Cassol

(1999), o apelo mercadológico ao termo “interatividade” traz uma compreensão errada de sua

definição. Os programas de TV em que o espectador responde “sim” ou “não”, cinemas em

que as cadeiras balançam, videogames que respondem ao joystick, entre outros, não são

exemplos de interatividade. Eles entendem que as tecnologias disponíveis permitem a

implementação de ambientes de intensa interação, onde os integrantes podem agir

criativamente entre eles.

Para os autores citados, as palavras “interação” e “interatividade” possuem o mesmo

significado, assim como as palavras “relação” e “relacionamento”, e, quanto às suas

abordagens em ambientes informáticos, nos vários ramos de pesquisa, eles percebem uma

ênfase na capacidade da máquina, uma valorização da potencialidade técnica. Ainda que bem

intencionadas, muitas pesquisas têm voltado seu interesse para os usuários, contudo, eles

advertem que, ao tentar modelar certos estilos cognitivos restritos às possibilidades da

programação do computador, as pessoas acabam por criar uma ilusão de interação, de diálogo.

Eles chamam a atenção para as “interações mútuas” através do computador ligado em rede via

internet como palco para negociações e conflitos de ideias. Tem-se aí o que chamam de

debate virtualizante e a relação entre interagentes em espiral (não como um círculo fechado),

possibilitada através das interfaces dos computadores ligados em rede.

Para Multigner (1994), o conceito de interação vem da física, foi incorporado pela

sociologia, pela psicologia social e, finalmente, no campo da informática, transmuta-se em

interatividade. Já para Tinland (1997), interatividade designa mais que interações sobre as

quais repousa a estabilidade do mundo físico ou biológico. Silva (2010) entende, a partir das

contribuições de Multigner e Tinland (1994, 1997), que o termo “interatividade” foi posto em

destaque com a finalidade de especificar um tipo singular de interações. Em sua opinião, não

se trata da migração de um conceito para o outro, como Costalat-Founeau (1985), em seu

33

posicionamento pessoal, diz que, no campo da psicologia social, migra do conceito de

interação para o de interatividade.

A partir das contribuições de Costalat-Founeau (1985), a noção de interação parece

marcada por um caráter restritivo e redutor, por estar centrada sobre a ideia da preocupação

com o equilíbrio das fontes, necessária à manutenção dos sistemas, como se a ação recíproca

dos atores estivesse regulada por um contrato de estabilidade. Com essas palavras, a autora

critica o caráter restritivo e redutor da noção de interação indexada aos modelos sistêmicos da

física e da cibernética. Sugere, assim, a expansão do referido conceito utilizando para isso o

conceito de interatividade.

Silva (2010) não vê por que polemizar o confronto conceitual de interação–

interatividade, uma vez que as vantagens atribuídas à interatividade estão presentes no

conceito de interação. Mesmo com a hipótese de Multigner (1994), de que a interação se

transmuta em interatividade no campo da informática, os defensores da interação não estão

ameaçados. Afinal, a interação comporta todas as vantagens da interatividade. Para além da

polêmica conceitual, Silva afirma que a interatividade é a nova modalidade comunicacional

emergente no final do século XX, pois parte da verificação de que em nosso tempo ocorre

significativa modificação da modalidade comunicacional massiva para a interativa. A

primeira, veiculada pelo rádio, televisão, cinema e imprensa, consolidou o paradigma da

transmissão (que separa a emissão da recepção) próprio da lógica da distribuição. Esta, por

sua vez, perde terreno com a emergência da lógica da comunicação que sustenta a modalidade

comunicacional interativa.

1.6.3 Hipertexto e complexidade

O hipertexto, como a teia de conexões de um texto com outros inúmeros textos, trouxe

para a comunicação a possibilidade de seus usuários se conectarem a uma rede, permitindo

múltiplas ocorrências e navegações, além de multiplicar as ocasiões de produção de sentido e

de possibilitar enriquecer consideravelmente a leitura (LÉVY, 2008). Nesse sentido, o

hipertexto possui características complexas e possibilita um alto grau de autonomia que

contribui para que se expressem estratégias individuais de aprendizagem, sendo o sujeito

responsável pelo processo.

Em outros termos, Santos e Silva (2009) afirmam que a compilação digital ou

digitalização do conteúdo da mensagem garante o seu caráter plástico, fluido, hipertextual,

interativo e tratável em tempo real, pois permite a manipulação de textos, a estruturação de

34

elementos de informação, as simulações, as formatações evolutivas nos ambientes online de

informação e comunicação concebidos para criar, gerir, organizar, fazer movimentar uma

documentação completa com base em textos, imagens e sons.

Atento a essa realidade, Martín-Barbero (2004) afirma que o texto eletrônico não se

esgota no computador; ele se estende hoje a uma multiplicidade de suportes, imagens e

escritas que, da televisão ao videoclipe e da multimídia aos videogames, encontram em

nossos países uma complexa e crescente cumplicidade entre oralidade e visualidade,

cumplicidade que nada tem a ver com analfabetismo. Pois é nas novas gerações que essa

cumplicidade opera fortemente, e os jovens hoje sabem ler, só que leitura não tem o livro

como ponto e centro da cultura.

Assim, o hipertexto, enquanto instrumento do processo de ensino e aprendizagem,

parece facilitar um ambiente no qual a aprendizagem acontece de forma ocasional e por

descoberta, pois, ao tentar localizar uma informação, os usuários de hipertexto participam

ativamente de uma ação de busca e constituição do conhecimento de forma recursiva. Uma

sala de aula onde se trabalha com hipertextos se transforma num espaço de diálogo apropriado

ao ensino e aprendizagem colaborativos, mas também adequado ao atendimento de diferenças

individuais, quanto ao grau de dificuldade, ritmo de trabalho e interesse. Para os professores,

hipertextos se constituem como recursos importantes para reorganizar e reunir os

conhecimentos de diferentes áreas do conhecimento que há muito foram separadas, a fim de

facilitar a transmissão de blocos fechados de saberes. Trata-se da abordagem interdisciplinar

dos mais diversos temas, abolindo as fronteiras que separam as áreas do conhecimento,

desmontando o paradigma da simplificação de Morin (2007).

Para compreender o que Morin (2007) chama de “problema da complexidade”, é

preciso saber primeiro que há um paradigma simplificador, aquele que separa o que está

ligado, ou unifica o que é diverso, que conduz a aventura científica às descobertas impossíveis

de conceber em termos da simplicidade, mas extremamente prováveis na lógica do hipertexto.

Jaz esse pensamento simplificador. É na desordem do universo físico e da vida que se

constata que “fenômenos desordenados são necessários em certas condições para a produção

de fenômenos organizados, os quais contribuem para o crescimento da ordem” (MORIN,

2007, p. 63).

O autor nos convida a entender a complexidade a partir de três princípios: o dialógico,

a recursão organizacional e hologramático. O primeiro diz respeito à associação de dois

termos antagônicos e complementares, como emissão e recepção, e permite aproximar,

hibridizar aquilo que foi separado pela lógica cartesiana e reencontrar a ambivalência, a

35

polifonia, a instabilidade e o acaso (SILVA, 2010). O segundo, a recursão organizacional,

remete-nos ao processo recursivo do tipo: a sociedade produz o indivíduo que produz a

sociedade, num ciclo autoconstrutivo, auto-organizador e autoprodutor. Finalmente, o

hologramático, aquele em que não apenas a parte está no todo, mas o todo está na parte. A

ideia que imobiliza o espírito linear, pois o holograma vai além do reducionismo que só vê as

partes e do holismo que só vê o todo. Trata-se, portanto, do processo de enriquecimento do

conhecimento das partes pelo todo e do todo pelas partes, em um mesmo movimento produtor

de conhecimento. Vê-se, assim, que a própria ideia hologramática está ligada à ideia

recursiva, que está ligada, em parte, à ideia dialógica (MORIN, 2007).

É no contexto da complexidade de Morin (2007) que se insere o hipertexto, à medida

que ele rompe com a separação mecanicista e cartesiana presente no analógico. Ele é digital e

assim permite reencontrar a ambivalência, a polifonia das redes interconectadas via internet. É

recursivo e hologramático, uma vez que permite ao usuário reorganizar e reconstruir seus

textos, seu conhecimento a partir do hipertexto e disponibilizá-lo a fim de que outros usuários

recursivamente o reorganizem e reconstruam, conforme sua área de interesse e de

conhecimento.

Porém o uso do hipertexto pode trazer algumas dificuldades para os usuários mais

desavisados. Uma de suas características é a não linearidade, o que exige atenção redobrada

para que o foco do estudo/pesquisa não seja deslocado para assuntos diversos, também de

interesse do aluno e do pesquisador, mas que não se definem como complementares àquela

intertextualidade que o leitor hipertextual buscava no início da pesquisa. Soma-se às

dificuldades o fato de que o texto eletrônico depende de uma tecnologia emergente, sujeita a

constantes transformações. A boa utilização do hipertexto passa por um conhecimento da

máquina para que sejam devida e corretamente explorados os seus recursos – um certo

conhecimento da linguagem própria das tecnologias de informação e comunicação.

Entende-se, porém, que, muito mais do que uma simples enumeração de vantagens e

desvantagens, há que se usar o argumento de uma reflexão sobre o hipertexto, o qual se

apresenta não só como uma nova forma de produção e transmissão cultural, mas também de

escrita e leitura, para se repensarem alguns aspectos da própria educação.

Ao que parece, nosso sistema educacional encontra-se ainda hoje submetido à

obsessão da simplicidade, uma vez que resiste às mudanças necessárias no que diz respeito a

quantidade, diversidade e velocidade da evolução dos saberes (LÉVY, 2008). Trata-se de uma

nova ordem multidimensional integralizadora dos saberes dissociados em nome da

36

simplicidade, da lógica linear causal, e que promove a disjunção daquilo que está ligado e

redução ou unificação daquilo que é diverso (MORIN, 2007).

1.7 O caminho a ser percorrido

1.7.1 O paradigma adotado

Para Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2000, p. 131), a abordagem qualitativa parte

da premissa de que “as pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e

valores e que seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se dá a

conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado”. Logo há a necessidade de um maior

contato do pesquisador com o campo, com o propósito de “poder captar os significados dos

comportamentos observados” e o predomínio de análises detalhadas (ALVES-MAZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 2000, p. 132). Nesse sentido, a investigação qualitativa procura

entender os significados das atitudes humanas, e a análise de dados pode ser feita a partir das

percepções, sentimentos, falas e experiências das pessoas a serem investigadas. Portanto,

justifica-se a investigação de cunho qualitativo para desvelar e compreender como se deu a

mediação docente em ambientes online, o desenho didático favorável à mediação docente e as

estratégias para promover a participação e a colaboração dos aprendizes no curso.

1.7.2 Seleção do campo e sujeitos da pesquisa

O desenvolvimento desta pesquisa tem como campo de investigação o curso de

extensão Formação de Professores para Docência Online, que utilizou o ambiente virtual do

MEC (plataforma Moodle), realizado no período de 31/8 a 15/12 de 2009, do qual o

pesquisador participou como professor-cursista. Tal escolha se deu em função de o curso

formar professores para atuar na mediação docente em cursos do programa e-Tec Brasil.

Conforme citado na introdução desta pesquisa, o primeiro curso de capacitação teve como

foco a gestão (gestão pedagógica, material didático e gestão acadêmica), já o segundo visou à

formação professores para atuar na educação a distância.

Os sujeitos pesquisados são professores membros da equipe pedagógica e professores-

formadores que atuaram na mediação docente durante o curso. A equipe pedagógica,

professores-formadores e professores-cursistas, foi composta e organizada da seguinte forma:

um coordenador geral; um coordenador pedagógico; um assistente de coordenação; um

37

coordenador de tecnologia e helpdesk; dez docentes-formadores; e 130 docentes-cursistas. Os

professores destacados para equipe pedagógica e formadores são todos pós-graduados, com

larga experiência na mediação docente, especificamente na docência online. A atuação destes

profissionais no curso pode esclarecer as questões centrais desta pesquisa.

1.7.3 A coleta de dados e análise dos dados

1.7.3.1 A observação

A observação se deu a partir da leitura no ambiente virtual de aprendizagem de fóruns,

chats, portfólios e livros, além do desenho didático do curso em questão, e que pode ser

encontrada no backup do ambiente virtual Moodle, onde se desenvolveu o curso. Buscou-se a

modalidade comunicacional estabelecida como massiva ou interativa, mais especificamente as

potencialidades comunicacionais do AVA, a qual foi utilizada no curso. Como tal modalidade

foi favorecida ou não pelo desenho didático do curso e as estratégias da mediação docente

para promover a participação e a colaboração dos aprendizes, a partir das sugestões de

interatividade (SILVA, 2010) e apresentadas anteriormente.

Em outros termos, o que se pretende é observar se foram promovidas oportunidades de

trabalho em grupo, através de participações livres e trocas de experiências, além de garantir a

exposição de argumentos e o questionamento das afirmações; se foram utilizados diferentes

suportes e linguagens midiáticos presenciais e online, garantindo um território de expressão e

aprendizagem multidirecional, porém de fácil navegação; se foi possibilitado ao aprendiz

ressignificar ideias, conceitos e procedimentos, por meio de provocações que despertem a

coragem do enfrentamento online e respeitando a diversidade plural das ideias; se foram

disponibilizados dados do conhecimento exuberantemente conectados e em múltiplas

camadas ligadas a pontos que facilitam o acesso e o cruzamento de informações e de

participações; se foram promovidas situações de comunicação e de aprendizagem que

consideram as experiências, conhecimentos e expectativas que os atores envolvidos já trazem

consigo (SILVA, 2004).

1.7.3.2 As entrevistas

Outra técnica a ser utilizada para este trabalho e que oferece dados significativos é a

entrevista semiestruturada. Ela será feita junto aos professores-formadores que mediaram o

38

processo de docência online. Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznadjer (2000, p. 160), a

entrevista semiestruturada pode ser:

[...] aplicada a partir de um pequeno número de perguntas, para facilitar a sistematização e codificação. Apenas algumas questões e tópicos são predeterminados. Muitas questões podem ser formuladas durante a entrevista e as irrelevantes são abandonadas.

De início serão feitas, aos docentes-formadores que atuaram no curso em questão, as

seguintes perguntas:

1) Quais as potencialidades comunicacionais próprias do ambiente virtual de aprendizagem

utilizado no curso e como as explora?

2) Quais as características do desenho didático que mais contribuíram para sua

mediação docente?

3) Quais foram as estratégias que adotou em sua mediação docente para promover

a participação e a colaboração dos cursistas?

4) Como percebeu e lidou com o “silêncio virtual” dos cursistas?

5) Como avalia o modelo de inclusão digital dos cursistas, ou seja, qual foi a desenvoltura dos

aprendizes na operação com o AVA utilizado?

Tais perguntas foram formuladas em consonância com os objetivos desta pesquisa e

validadas pela equipe pedagógica do curso Formação de Professores para Docência Online,

porém, no decorrer da entrevista, outras questões emergiram e foram consideradas, uma vez

que contribuíram para a compreensão geral da modalidade comunicacional da mediação

docente estabelecida no curso.

1.7.3.3 Análise dos dados

As respostas as perguntas dadas pelos membros da equipe pedagógica durante a

entrevista foram organizadas e depuradas de modo a oferecer o corpus de análise, que foi

constituído por meio da técnica de Análise de Conteúdo. Essa análise é concebida como uma

técnica que

39

[...] tem por objetivo ir além da compreensão imediata e espontânea, ou seja, ela teria como função básica a observação mais atenta dos significados de um texto, e isso pressupõe uma construção de ligações entre as premissas de análise e os elementos que aparecem no texto. Esta atividade é, assim, essencialmente interpretativa (RIZZINI; CASTRO; SANTOS, 1999, p. 90).

Os dados obtidos nas duas etapas da coleta de dados: entrevista e observação a partir

da leitura dos fóruns, chats e livros, etc., foram confrontados de modo a maximizar a

confiabilidade dos resultados. Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznadjer (2000, p. 173)

Quando buscamos diferentes maneiras para investigar um mesmo ponto, estamos buscando uma forma de triangulação [...] Quando um pesquisador compara um relato de um informante sobre o que ocorreu em uma reunião com a ata desta mesma reunião, está fazendo uma triangulação de fontes.

Assim, foi realizada a triangulação entre as percepções da equipe pedagógica sobre as

potencialidades comunicacionais próprias do ambiente virtual de aprendizagem, as

características do desenho didático que mais contribuíram para mediação docente, as

estratégias adotadas na mediação docente para promover a participação e a colaboração dos

cursistas e as informações obtidas na observação a partir da leitura dos fóruns, chats, livro,

etc.

Finalmente foi desenvolvida uma relação entre os resultados da pesquisa e o que se

levantou na teoria sobre os desafios comunicacionais de professorar online. Esta parte

constituiu a revisão bibliográfica que acompanhou todo o processo de pesquisa e incidiu sobre

dois temas: os saberes para mediação docente; os indicadores de interatividade para

professorar presencial e online (SILVA, 2004).

40

2 O CENÁRIO COMUNICACIONAL NA CIBERCULTURA: DESAFIOS DA

FORMAÇÃO DOS PROFESSORES PARA A DOCÊNCIA ONLINE

Atualmente presenciamos a convergência de recursos tecnológicos em um único

aparelho digital. É possível encontrar no mesmo aparelho celular, câmera, máquina

fotográfica, gravadores de som, TV, internet, localizadores conhecidos como GPS, etc. A

maior parte desses novos recursos está concentrada em pequenos assistentes multimídia

pessoais. Não se aboliram os livros impressos, mas agora eles se dedicam mais à literatura e

não a questões didáticas. A dinâmica das aulas e sua estrutura hipertextual inviabilizaram as

publicações tradicionais. As tecnologias de informação e de comunicação embutidas nos

aparelhos e a rede virtual sempre ativa criam um ambiente colaborativo rico e produtivo. Os

alunos conseguem estabelecer regras de convivência no mundo virtual e desenvolvem uma

metodologia própria de produção em grupo que supera todas as teorias e “treinamentos”

dados aos professores quando da adoção dessas máquinas.

A produção do aluno é armazenada em seu portfólio virtual e, dentro de certos

parâmetros, pode ficar disponível na internet para visualização da comunidade. O objetivo é

fortalecer a relação entre o trabalho do aluno, escola e a sociedade, sua influência e

interdependência. Além de exercitar o aprendizado visual com filmes, viagens e exposições

artísticas, os alunos podem desenvolver sua própria produção audiovisual, através de oficinas

ou iniciativas próprias, já que as câmeras de alta-resolução disponíveis nos

seus assistentes lhes permitem fotografar e filmar e depois compartilhar em blogs, em redes

sociais de relacionamento. Trata-se de uma cultura diferenciada, da qual professores, alunos,

escola e sociedade precisam dar conta. Mas será que a escola está atenta a essa nova cultura?

Será que o ofício de docente acompanhou essa nova ordem social? A fim de responder a essas

perguntas, neste capítulo pretende-se desvelar essa nova cultura, essa nova ordem social

emergente. Aqui será percorrido o seguinte caminho: web 2.0 e as redes sociais; cibercultura,

ciberespaço e as redes sociais; interação, interatividade, hipertexto e complexidade; desafios

da educação online: saberes docentes e indicadores de interatividade; desafios da docência

online: saberes do desenho didático.

2.1 A web 2.0 e as redes sociais

A web 2.0 é uma tendência que está mudando a cara da internet, e a web como um

simples meio de obter e exibir informações ficou no passado. A web é imediata, interativa,

41

inovadora. Ela tem a ver com habilitar a criatividade, realizando uma cultura de contribuição,

e colocando o usuário no controle. Ela é controlada por usuários e conduzida por

comunidades. Nesse sentido, Eric Engleman, do Bloglines8, citado no livro Web 2.0 heroes:

entrevistas com 20 influenciadores da web 2.0, organizado por Brandley L. Jones, afirma que

“[...] a Web 2.0 baixou a curva do aprendizado a um nível tão baixo que você não precisa ser

um engenheiro da computação para ser capaz de criar seu próprio blog [...]. Atualmente,

qualquer pessoa pode customizar sua experiência na web, simplesmente arrastando e

soltando” (JONES, 2009, p. 35). O que se percebe a partir da afirmação de Engleman é que o

maior controle do usuário é uma das principais características da web 2.0. Os usuários agora

estão no controle, eles controlam suas experiências de usuário, o que não acontecia no

passado.

Ainda sobre a web 2.0, Gina Bianchini, do Ning9, diz que “[...] a liberdade que nos é

ofertada pela internet e o que as pessoas estão fazendo com ela é algo muito sério” (JONES,

2009, p. 49). Segundo Bianchini, existem hoje mais de 145 mil redes sociais só no Ning. As

redes sociais estão no cerne do que define a web 2.0. Na plataforma Ning, o usuário pode criar

uma nova rede ou participar das redes existentes distribuídas nas mais variadas categorias,

como: lazer, religião, saúde, esporte, educação, TV, livros, filmes ou qualquer outro assunto

que a mente possa imaginar. É nesse contexto de liberdade das pessoas, de liberação do polo

transmissor, da descentralidade da informação veiculada que se estabelecem as relações

interpessoais, a interação entre pessoas, uma vez que a web 2.0 diminui todos os obstáculos de

maneira que os usuários podem descobrir novas relações e ideias. Se “no passado, os usuários

não tinham controle. Atualmente, tendo uma experiência controlada pelo usuário e

alavancando o usuário final cria-se um valor agregado” (JONES, 2009, p. 49-51).

O maior controle do usuário é uma das principais características da web 2.0.

Organizações, profissionais de marketing, educadores e comunicadores devem estar prontos

para responder e inovar. Max Mancini, do eBay10, plataforma especializada em leilões, diz

que na verdade existe uma grande confusão: “o eBay é mais que apenas um leilão [...]. A

confusão acontece porque a maior parte das transações conhecidas é aquela em que as pessoas

vendem itens para compradores em sites de leilões que carregam seu nome” (JONES, 2009, p.

8 Bloglines é um site relacionado a Blogs. Nele é possível rastrear notícias, blogs, previsões do tempo e classificados favoritos. 9 Ning – create your own social network for anything. O Ning é uma plataforma que permite criar redes sociais. 10 eBay é o nome de uma empresa de comércio eletrônico fundada nos Estados Unidos, em setembro de 1995, por Pierre Omydiar. Atualmente é o maior site do mundo para a venda e compra de bens, o mais popular shopping da internet.

42

1). O que se vê nessa afirmação é a confluência de sites em plataformas, é a nova ordem

mundial de comercialização e de relacionamento que se estabeleceu a partir da internet e da

web 2.0. Mancini continua: “[...] os usuários da internet esperam experiências ricas e

interativas. Nos sites, a diferenciação será embasada inteiramente na experiência do usuário e

como essa informação é combinada [...] A Web 2.0 é realmente definida como capacitar

pessoas a criar coisas novas” (JONES, 2009, p. 14).

Ao apresentar as diferenças e mudanças que ocorreram a partir da web 2.0, Primo

(2007) diz que tal denominação se refere à segunda geração da internet. Se na primeira

geração da web (web 1.0), os sites eram trabalhados como unidades isoladas, passa-se agora

para uma estrutura integrada de funcionalidades e conteúdo. A web 2.0 é caracterizada por

ampliar as formas de produção cooperada e compartilhamento de informações online. Ao se

referir à característica mais importante da web 2.0, Dorion Carrol, da Technorati11, no livro

Web 2.0 heroes diz que “a Web 2.0 é uma questão de partilha aberta de ideias e

reconhecimento de outras pessoas; é o aspecto social de compartilhar coisas em uma mídia

aberta que qualquer pessoa com conexão com a internet possa ter acesso” (JONES, 2009, p.

77). Em relação às mudanças ocorridas na web, Carrol diz que “a Web 1.0 e muitos dos

websites básicos hoje são parecidos com os terminais de tela negra dos anos 60 [...]. O usuário

recebe uma página por vez e toda informação está lá. Se não for o que você quer, você tem

que pegar outra página inteira e exibir a coisa inteiramente” (JONES, 2009, p.80), enquanto

que a web 2.0 permite que as pessoas reconheçam umas às outras, que construam

comunidades e criem conexões onde não conseguiriam antes. Nesse sentido, a web 2.0, para a

Technorati, tem a ver com autenticidade, responsabilidade, interação, e essa ideia do poder

das pessoas ou da rede social (JONES, 2009, p. 82 e 83).

2.2 Cibercultura e ciberespaço e as redes sociais

É nas redes sociais definidas como a própria web 2.0 que encontramos a cibercultura

caracterizada por Pierre Lévy (2008) como um conjunto de técnicas, de práticas, de atitudes,

de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaço, o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de

computadores. Assim, a partir da web 2.0, o ciberespaço e a cibercultura determinam o

rompimento paradigmático com a prática secular da mídia de massa baseada na transmissão,

11 Technorati, empresa fundada por David Sifry, é uma plataforma de gerenciamento de blogs.

43

na distribuição para o receptor massificado. Trata-se da liberação da “expressão pública”

(LEMOS; LÉVY, 2010, p. 10), caracterizada quantitativamente com a conectividade de cerca

de 80% da população dos países industrializados. Tal expressão, no plano mais qualitativo, se

identifica com novos tipos de aplicações e de usos que convém designar como “computação

social” (web 2.0). Para Lemos e Lévy (2010, p. 10 e 11).

A computação social constrói e compartilha de maneira colaborativa as memórias numéricas coletivas em escala mundial, quer se trate de fotografias (Fliker), de vídeos (Youtube, Dailymotion), de música (bittorrent), de “favoritos” da web (Delicious, Furl, Diigo), ou então de conhecimento enciclopédicos (Wikipédia, Freebase). Em todos os casos, as distinções de status entre produtores, consumidores, críticos, editores e gestores da midiateca se apagam em proveito de uma série contínua de intervenções onde cada um pode desempenhar o papel que desejar.

Estes autores definem a era da computação social como o tempo em que os conteúdos

são criados e organizados de forma simples pelos próprios usuários em blogs, local em que as

ideias, as opiniões, as fotografias e os vídeos são socializados pelos seus autores. Cabe aos

especialistas da informática entrelaçar “essas mensagens multimídia numa rede inextrincável

de relações, tags e fluxo de discussão que motores de pesquisa como o Technorati permitem

percorrer” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 11). Assim se constitui o ciberespaço, que permite ao

indivíduo ligado à rede comunicação personalizada, operativa e colaborativa de forma

hipertextual. Nesse novo contexto social e tecnológico, o site não deve ser assistido e sim

manipulado, pois pressupõe imersão e participação–intervenção do indivíduo – experiência

incomum na mídia de massa.

Para Lemos e Lévy (2010, p. 20 e 21), a cibercultura:

É o conjunto tecnocultural emergente no final do século XX impulsionado pela sociabilidade pós-moderna em sinergia com a microinformática e o surgimento das redes telemáticas mundiais; uma forma sociocultural que modifica hábitos sociais, práticas de consumo cultural, ritmos de produção e distribuição de informação, criando novas relações no trabalho e no lazer, novas formas de sociabilidade e de comunicação social. Esse conjunto de tecnologias e processos sociais ditam hoje o ritmo das transformações sociais, culturais e políticas neste início de século XXI.

A cibercultura seria a cultura contemporânea, quando os diversos dispositivos

eletrônicos digitais já fazem parte da nossa realidade. São tecnologias não apenas da

transformação material e energética do mundo, mas que permitem a transformação

comunicativa, política, social e cultural efetivamente. Isso se dá porque conseguimos transitar

44

informação, bens simbólicos, não materiais, de uma maneira inédita na história da

humanidade. Assim, a cibercultura, para Lemos (2008), é uma forma sociocultural que

emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias, que surgiram

com a convergência das telecomunicações com a informática a partir da década de 1970. O

ciberespaço é o hipertexto mundial interativo, em que cada um pode modificar partes dessa

estrutura telemática, como um texto vivo, um organismo que se organiza. Conforme afirmam

Lemos e Lévy (2010, p. 27),

O ciberespaço é um ambiente complexo, e a cultura política cresce neste caldo efervescente, gerando novos processos e produtos. A potência da emissão, da conexão e da reconfiguração, os três princípios maiores da cibercultura, está fazendo com que possamos pensar de maneira mais colaborativa, plural e aberta. Sempre que podemos emitir livremente e nos conectar a outros, cria-se uma potência política, social e cultural: a potência da reconfiguração e transformação.

Nesse sentido, pode-se dizer que permanecer conectado não é mais uma expressão

simbólica, uma metáfora, na medida em que,

Os indivíduos implicados nas atividades de colaboração e interativas da Web 2.0 participam geralmente de várias comunidades, navegam em vários blogs, mantêm vários endereços eletrônicos para diferentes usos e são, em certa medida, os nós principais, os cruzamentos, os comutadores da computação social, recolhendo, filtrando, redistribuindo, fazendo circular a informação, a influência, a opinião, a atenção e a reputação de um dispositivo a outro (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 12).

Ainda sobre a forma como se organiza o ciberespaço, Santos (2002) afirma que, ele

surge com a digitalização, mas também por conta da evolução da informática e suas

interfaces, da interconexão mundial de computadores, conhecida como rede, internet, e

entendida como fluxo e feixe de relações entre seres humanos e interfaces digitais. Para essa

autora, nessa híbrida relação, todo e qualquer signo pode ser produzido e socializado no e

pelo ciberespaço, compondo assim o processo de comunicação em rede próprio do conceito

de AVA e potencializado pelas tecnologias digitais (SANTOS, 2002). As tecnologias digitais

impulsionam a computação social, em que se constrói e compartilha de maneira colaborativa

a partir da digitalização coletiva mundial. Digitalização de fotografias, de vídeos, de música,

de textos, mas também de conhecimentos enciclopédicos. Nesse sentido, o AVA deixa de ser

apenas um ambiente de aprendizagem e passa ao status de ambiente de colaboração,

socialização, de autoria, em que não há distinções entre produtores, consumidores, críticos,

45

editores e gestores da midiateca. Trata-se da horizontalidade de funções e status em proveito

de uma série contínua de intervenções, em que cada um pode desempenhar o papel que

desejar.

Há de se perceber que, a partir da sociabilidade pós-moderna em sinergia com a

microinformática e o surgimento das redes telemáticas mundiais, se determina uma forma

sociocultural que modifica hábitos sociais, práticas de consumo cultural, ritmos de produção e

distribuição de informação, criando novas relações no trabalho e no lazer, novas formas de

sociabilidade e de comunicação social. Esse conjunto de tecnologias e processos sociais ditam

hoje o ritmo transformações sociais, culturais e políticas neste início de século XXI. Tais

transformações ficam evidentes em todos os aspectos, mas, no âmbito das políticas públicas,

no Brasil, se destaca a transferência para a Secretaria de Educação a distância (SEED/MEC)

da responsabilidade pela formação continuada de docentes, que passou a ser tratada no âmbito

de uma possível rede nacional de formação a distância, composta por várias instituições de

ensino. Assim a educação a distância passou a ser um caminho valorizado nas políticas

educacionais do governo brasileiro, como uma forma rápida de prover formação, pelas

tecnologias disponíveis, flexibilizando os tempos formativos (GATTI, 2008). Em relação à

questão dos financiamentos públicos da educação continuada, Gatti (2008) diz observa que se

carreiam mais recursos nesta direção do que na de cursos regulares de formação de

professores nas instituições públicas. Ela afirma: “Perece-nos que melhorar substancialmente,

com insumos adequados e inovações, a formação básica de professores para todos os níveis e

modalidades seria uma política mais condizente para melhor formação e qualificação dos

trabalhadores nas redes de ensino” (GATTI, 2008, p. 68).

2.3 Interação, interatividade, hipertexto e complexidade

Interatividade que tem seu conceito formulado por Silva (2010, p. 23) nos seguintes

termos:

Interatividade é a disponibilização consciente de um mais comunicacional de modo expressivamente complexo, ao mesmo tempo atentando para as interações existentes e promovendo mais e melhores interações – seja entre usuários e tecnologias digitais ou analógicas, seja nas relações “presenciais” ou “virtuais” [grifos do autor] entre seres humanos.

Para o autor, o “mais comunicacional” se refere aos fundamentos da interatividade e

tem haver com a participação–intervenção, a bidirecionalidade–hibridação e a

46

permutabilidade–potencialidade definidas por Silva (2010, p. 254) e apresentados

anteriormente neste trabalho.

Já a afirmação “de modo expressivamente complexo” diz respeito à epistemologia da

complexidade expressa por Morin (2007), na qual Silva (2010) encontra dois princípios para o

tratamento da interatividade: o primeiro, fundamentar-se na ausência de fundamentos, tem a ver

com o enfraquecimento dos grandes referentes unidimensionais de significação. O novo

expectador agora se encontra num ambiente polifônico e polissêmico aberto a partir de tal

enfraquecimento, “aí ele faz por si mesmo uma vez que não mais se submete às emissões

separadas da sua participação, e tem a seu favor as tecnologias hipertextuais” (SILVA, 2010, p.

22). O segundo princípio, distinto, porém sem se separar do primeiro, “atentar para as interações

em sua dialógica, multiplicidade e recursividade” (SILVA, 2010, p. 22) como condição

fundamental para o posicionamento crítico diante da interatividade e de sua análise. “Ou seja, é na

perspectiva do pensamento complexo que me posiciono diante das interações e da interatividade”

(SILVA, 2010, p. 23).

Silva (2010) caracteriza a epistemologia da complexidade, citada anteriormente, a partir

da inquietação de Morin em fazer oposição ao pensamento ainda moldado segundo o paradigma

da simplificação, herdado da mecânica clássica sustentado pela “visão de que o mundo é uma

máquina determinista perfeita, uma máquina absolutamente ordenada em que a desordem, o

acaso, a incerteza não podem ser mais do que uma ilusão ou uma aparência” (SILVA, 2010,

p.19). A simplificação está em querer separar ordem e desordem, certeza e incerteza, que estão

sempre em interação e não separadas.

Voltando à interatividade: a sua disponibilização consciente vem potencializar uma nova

competência comunicacional em sala de aula que modifica a comunicação no sentido da

participação–intervenção, da bidirecionalidade–hibridação e da permutabilidade–potencialidade.

Na sala de aula, onde não mais prevalece o falar-ditar do mestre, mas a autonomia, a criatividade

não prevista dos alunos, ocorre a superação de barreiras entre estes e o “mestre”, e a

disponibilidade de redes de conexões no tratamento dos conteúdos de aprendizagem constitui a

autoria do professor, “autoria do professor mais do que nunca solicitada. Encarar o novo

espectador, o ‘homem aleatório’, garantindo na sala de aula democrática, interatividade e

tolerância. Assim se promove a aprendizagem. Assim se educa em nosso tempo” (SILVA, 2010,

p. 249).

É no contexto dessa nova lógica da comunicação que o hipertexto, como a teia de

conexões de um texto com outros inúmeros textos, trouxe para a comunicação a possibilidade de

seus usuários se conectarem a uma rede, permitindo múltiplas ocorrências e navegações, além de

47

multiplicar as ocasiões de produção de sentido e de possibilitar enriquecer consideravelmente a

leitura (LÉVY, 2008).

2.4 Desafios da educação online: saberes docentes e indicadores de interatividade

Há bastante tempo as tecnologias da informação e comunicação vêm influenciando a

educação com a inclusão de mídias (jornal, televisão, rádio, cinema, entre outros) no cotidiano da

sala de aula. Vivemos atualmente num contexto em que, particularmente, as tecnologias digitais, a

partir da expansão da internet na década de 1990, possibilitam a construção e o compartilhamento

de habilidades cognitivas aumentadas e aliadas a um poder de procedimentos sem antecedentes e

permitem desenvolver práticas de ensino e aprendizagem que podem ser consideradas fundamentos

de novas relações sociais com o saber, decorrendo daí uma modalidade conhecida por educação

online (RODIGUES, 2009).

Para a Rodrigues (2009), a educação online é entendida como o conjunto de ações de ensino

e de aprendizagem desenvolvidas através do ambiente virtual de aprendizagem e emerge desse

contexto social e tecnológico conhecido por cibercultura, que é caracterizado pelo computador em

rede, pelas redes sociais, pela maior liberdade das pessoas, pela descentralidade da informação a

partir da liberação do polo transmissor, que traz consigo potencialidades de produção e socialização

de informações e de conhecimentos. E é nessa modalidade de educação que o docente online deve

estar atento à comunicação e à interatividade que determinam o diferencial pedagógico da educação

online. Interfaces como chats, listas, fóruns e blogs podem ser utilizadas para o compartilhamento

de conteúdos e construção de conhecimento coletivo entre todos os atores do processo educacional.

Nesse contexto, muda o papel do docente, que passa a ser criar as possibilidades, a ambiência, o

contexto de dialógica, de colaboração e, principalmente, de interatividade. Silva (2010) nos diz que

a especificidade da educação online encontra-se no fato de utilizar tecnologias que permitem

interatividade tanto com conteúdos informativos como entre as pessoas. Assim, à medida que se

conhecem os ambientes online de aprendizagem, percebe-se que, além da informação, existem à

disposição recursos que possibilitam a interlocução entre seus frequentadores.

No âmbito da educação online e seus desafios, Moran (2009) fala que os múltiplos papéis

do docente online se multiplicam, diferenciam e complementam, exigindo uma grande capacidade

de adaptação, de criatividade diante de novas situações, propostas. Ele afirma que o professor online

precisa aprender a trabalhar com tecnologias sofisticadas e tecnologias simples; com internet de

banda larga ou conexão via linha telefônica; com videoconferência; com teleconferência; com

softwares livres ou comerciais. Além dos desafios tecnológicos, existe ainda aquele atribuído ao

48

professor através da cibercultura: a superação da transmissão de informações e conhecimento,

lógica que perde sentido a partir da liberação do polo de emissão, característica determinante da

cibercultura que agora pode ser traduzida pela prática comunicacional interativa. Esse desafio é um

dos primeiros e mais difíceis a ser alcançados, uma vez que implica o rompimento de um modelo

cristalizado de ensino, que se mantém através de séculos (BARREIRO-PINTO, 2008).

Moran (2009) alega que os professores aprenderam como alunos a se relacionar com o

modelo convencional de ensinar-aprender. O papel principal assumido pelos professores ainda é o

de responsáveis por uma determinada área do conhecimento; eles persistem em utilizar

predominantemente métodos expositivos com pouca interação. Tal prática reforça-se pelo fato de

muitos professores não serem autores de seu próprio trabalho. Restringindo-se aos livros didáticos,

aos currículos prescritos, isentam-se da autoria, e a docência online corre o mesmo risco ao

perpetuar práticas comuns à educação presencial, de modo a manter o exercício da reprodução e a

divisão do trabalho docente, como acontece no programa e-Tec Brasil, em que encontramos o

professor conteudista que elabora o material didático em nível nacional, o professor formador

responsável pela disciplina que constrói o desenho didático do curso e o tutor a distância, que

responsável pelo feedback aos alunos, mas não participa da construção do curso, limita-se a

esclarecer dúvidas do aluno.

O exercício da criatividade na prática docente online pode representar o atendimento dessas

novas demandas sociais, porque o professor que busca a interatividade com seus alunos propõe o

conhecimento, não o transmite. Em sala de aula é mais que instrutor, treinador, parceiro,

conselheiro, guia, facilitador, colaborador. É formulador de problemas, provocador de situações,

arquiteto de percursos, mobilizador das inteligências múltiplas e coletivas na experiência do

conhecimento (SILVA, 2003). Entretanto, é o gerenciamento desses elementos articulados entre si e

entre os participantes que determinará uma prática diferenciada, interativa, pois o simples fato de se

ter alterado a mídia, empregando uma tecnologia cheia de possibilidades, não é suficiente para

garantir que o modelo da transmissão tenha sido superado. Nessa perspectiva, o aluno também é

convidado a rever seu papel; tendo em vista que a passividade e a receptividade refletem o

comportamento desejado no modelo de transmissão em que a reprodução pode ser traduzida em

resultado de aprendizagem. Portanto, é possível concluir que, por muito tempo, tal prática repercutiu

o sucesso e a perpetuação da modalidade de comunicação de massa homogeneizadora. Porém, ao se

preconizar a modalidade comunicacional interativa, o que se deseja e se incentiva no aluno é uma

participação ativa durante o processo de aprendizagem, de modo a fazer com que ele se compreenda

como responsável por sua construção (BARREIRO-PINTO, 2008).

49

As perspectivas a partir da interatividade, como nova modalidade comunicacional

emergente no final do século XX, são excelentes e surgem a partir da verificação de que em nosso

tempo opera uma significativa modificação na esfera das comunicações e é nesse contexto que a

cibercultura e o ciberespaço surgem e contribuem para a mudança do paradigma comunicacional de

massivo para interativo. A interatividade emerge nesse novo contexto sociotécnico de forma

complexa, exigindo o rompimento do “paradigma da simplificação” (MORIN, 2007), que separa o

que está unido e unifica o que é diverso. Essa mudança vem sendo alavancada com o crescimento

da utilização das tecnologias da informação e comunicação e se faz presente em nosso cotidiano.

Observa-se hoje que os computadores pessoais interconectados em rede, pela internet banda larga,

disponibilizam um oceano de possibilidades, seja de navegação e exploração, seja de relações

interpessoais que favorecem o campo educacional. Neste campo específico, as perspectivas de

qualidade da docência online são alvissareiras, desde que haja formação para tal.

A fim de compreender a formação para a docência online em seu aspecto qualitativo, é

preciso olhar para o passado e o presente, buscar informações relativas aos saberes e práticas dessa

docência. Nesse sentido, aqui no Brasil, foi nos primeiros anos de 1990 que se começou a “utilizar

as Tecnologias de Informação e Comunicação digitais, onde se destacam os sistemas de

telecomunicação digital e via satélite; os computadores pessoais e as redes computacionais, tais

como a internet e a intranet” (JUNIOR, 2009, p. 38 e 39). É neste momento que a educação a

distância deu um salto qualitativo na interação em tempo real entre o professor e seus alunos, seja

ela feita de forma síncrona ou assíncrona, onde o aluno e o professor com suas participações através

do teclado e do mouse, aliado a utilização da webcam, se fazem presentes em tempo real, através da

tela do computador. Trata-se da educação online, nascida com a utilização conjunta entre as TICs e

da rede mundial de computadores, e onde não há mais espaço para se educar baseado

exclusivamente na transmissão de conhecimentos até então utilizada e reconhecida na educação,

mesmo que feita à distância. A partir da educação online surge a possibilidade de um espaço real

para a construção do conhecimento, através da troca de saberes, possibilitando-se assim uma

interação mais ativa e dialógica entre os atores do processo ensino–aprendizagem, processo esse

“potencializado pela coautoria e coparticipação e cristalizado a partir de um novo paradigma

educacional, o modelo comunicacional da interatividade” (JUNIOR, 2009, p. 39).

Na busca de promover uma modificação qualitativa da modalidade comunicacional na ação

pedagógica, Silva (2004, p. 103-105) apresentou alguns indicadores de interatividade em educação

presencial e online que “garantem a possibilidade de produção conjunta do professor e dos alunos e

a liberdade de trocas, associações e significações como autoria e coautoria dos envolvidos no

processo educacional” (professor e alunos), capazes de promover a superação da prevalência da

50

pedagogia da transmissão. Em número de cinco, já citados na Introdução deste trabalho, esses

indicadores favorecem a interatividade e promovem uma educação online realmente de acordo com

as possibilidades da cibercultura. Resumidamente busca-se com ele: a) disponibilizar múltiplas

experimentações, múltiplas expressões; b) possibilitar uma montagem de conexões em rede que

permite múltiplas ocorrências; c) provocar situações de inquietação criadora; d) arquitetar percursos

hipertextuais de aprendizagem, multidisciplinares e transdisciplinares, em teias; e e) mobilizar a

experiência do conhecimento.

Esses cinco indicadores podem potencializar a autoria do professor online, sendo capazes de

atender ao perfil do indivíduo que emerge com a cibercultura (SILVA, 2004). Porém, apesar “da

incorporação das tecnologias digitais na educação e das possibilidades de novas formas interativas

na produção de conhecimento, a aula continua predominantemente transmissiva” (RODIGUES,

2009, p. 28). Muitas vezes as potencialidades de produção e socialização de informações e de

conhecimentos próprias das interfaces chat, listas, fórum, blog, wiki, etc. Encontradas nas TICs

digitais são subutilizadas. O que se constata em larga escala é a transposição de expedientes próprios

da sala de aula presencial, onde o papel cristalizado do professor é de apresentador que transmite

saberes aos alunos.

A mudança no papel do professor baseado na transmissão de informações, questionado por

Vygotsky (1998) e Tardif (2006), aponta para a ressignificação de transmissor para mediador, não

mais aquele que se coloca como centro do processo de educar e de aprender, mas o agente mediador

do processo de aprendizagem, mobilizando a ação colaborativa entre professores e aprendizes na

construção de saberes por meio de relações interativas e complexas. Tardif (2006) afirma que os

saberes docentes são provenientes da família, da escola, da cultura, da universidade, de seus pares, e

são plurais, heterogêneos e temporais, pois são construídos ao longo da vida e da carreira docente.

Nesse sentido, as recentes pesquisas sobre formação e profissão docente assinalam para uma revisão

da abrangência e consequente mudança na prática pedagógica do educador. Tais pesquisas indicam

que os fundamentos do saber ensinar não se reduzem a um sistema cognitivo, mas são,

simultaneamente, existenciais, sociais e pragmáticos (TARDIF, 2006). Tal mudança ocorre a partir

do estudo da constituição do trabalho docente levando-se em conta os diferentes aspectos de sua

história, como individual, profissional, entre outros. Assim o professor passa a ser foco central em

estudos e debates, considerando o quanto a vida pessoal acaba por interferir na profissional. “Nessa

perspectiva de analisar a formação de professores, a partir da valorização desse profissional, é que

os estudos sobre os saberes docentes ganham impulso, numa busca de se identificarem os diferentes

saberes implícitos na prática docente” (RODRIGUES, 2009, p. 51).

51

Na busca de desvelar os diferentes saberes implícitos na prática docente, saberes entendidos

em seu sentido mais amplo, compreendendo os conhecimentos, as competências, as habilidades e as

atitudes, encontra-se em Tardif (2006) a “epistemologia da prática profissional”. Tal epistemologia

é entendida como o estudo do conjunto dos saberes utilizados pelos profissionais em seu espaço de

trabalho cotidiano para desempenhar suas tarefas e tem a finalidade de revelar esses saberes,

compreender a dinâmica de como são integrados nas tarefas dos profissionais, e como estes os

incorporam, produzem, utilizam, aplicam e transformam, ao longo das diferentes etapas de sua

carreira. O que se constata é que o saber do professor é plural e estratégico; plural porque é

composto de saberes de variadas áreas do conhecimento e estratégico pelo impacto junto às

gerações jovens, à construção de novos conhecimentos e à definição de hegemonias no contexto

social, entre outros fatores (TARDIF, 2006).

A pluralidade parte da constatação de Tardif (2006), que identifica quatro fontes de origem

para esses saberes. Segundo o autor, eles podem ser oriundos da formação profissional, entendidos

como o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores; de saberes

disciplinares correspondentes ao diverso campo do conhecimento e emergentes da tradição cultural;

curriculares oriundos dos programas escolares e experienciais relativos ao trabalho cotidiano. Essa

pluralidade exige do professor capacidade de dominar, integrar e mobilizar tais saberes como

condição sine qua non para sua prática. Resta ainda, como nos adverte Tardif (2006), olhar para a

dimensão temporal dos saberes do professor, por estes serem adquiridos no contexto de uma história

de vida e de uma carreira profissional. Tal dimensão temporal é marcada por uma tripla

caracterização desses saberes, como sociais, pragmáticos e existenciais.

Na dimensão temporal do saber social, assinalada por Tardif (2006), o saber docente é

produzido no contexto de uma socialização profissional, decorrendo daí a importância da interação

dos professores com seus pares, partilhando experiências de ensino e construindo um discurso da

experiência que contribua com a formação de outros docentes. O saber é social porque seus próprios

objetos são sociais, e, ao ensinar, o professor está agindo com outros seres humanos. Neste sentido o

“mais comunicacional” da interatividade caracterizada por Silva (2010) ganha destaque, pois ela

caracteriza o principal objeto do trabalho do professor, seja na relação com outros professores, seja

em sala de aula, “pois o essencial de sua atividade profissional consiste em entrar numa classe e

deslanchar um programa de interações com os alunos. Isto significa que a docência se desenrola

concretamente dentro das interações” (RODRIGUES, 2009, p. 53).

Na dimensão temporal do saber pragmático, destacada por Tardif (2006), o docente tem em

seu ambiente de trabalho como condutor dos saberes do professor, seus afazeres cotidianos. Com

isto, ele sugere que os saberes docentes sejam compreendidos na relação com o trabalho na escola e

52

na sala de aula. E é no cumprimento de suas tarefas pertinentes à função de professor que os saberes

pragmáticos são mobilizados, modelados e construídos. Finalmente, vale ressaltar o significado

existencial que os saberes adquirem “no sentido de que um professor ‘não pensa só com a cabeça’,

mas ‘com a vida’, com o que foi, com o que viveu, com aquilo que acumulou em termos de

experiência de vida, em termos de lastro de certezas” (TARDIF, 2006, p. 103). Assim os

fundamentos do saber ensinar não se reduzem a um sistema de saberes cognitivos produzidos e

transmitidos pelas universidades, mas são, a um só tempo, sociais, pragmáticos e existenciais. Ao

dizer isso, Tardif (2006) propõe que os docentes sejam vistos como sujeitos do conhecimento, e a

sua formação, para além dos conhecimentos disciplinares, seja repensada à luz dos saberes

docentes, levando-se em conta as realidades específicas do trabalho cotidiano do professor.

O sociointeracionismo, que tem em Vygotsky (1998) seu principal representante, é outra

abordagem teórica em educação e apresenta críticas ao modelo baseado na transmissão de

informação. Vygotsky (1998) formula o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP),

central na teoria sociointeracionista, em que se ressignifica o papel do professor e se eliminam deixa

dúvidas sobre a dimensão colaborativa da aprendizagem. A ZDP é definida como:

A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1998, p. 112).

Em Vygotsky (1994) o professor é o agente mediador do processo de aprendizagem e,

com suas intervenções ou provocações, contribui decisivamente para o fortalecimento de

funções ainda não consolidadas, ou para a abertura de “zonas de desenvolvimento proximal”.

Em educação online, o professor opera com o processo de aprendizagem mobilizando a ação

colaborativa dos aprendizes. Para isso, conta com as disposições do ambiente digital de

comunicação e aprendizagem online capazes de potencializar a docência e a aprendizagem.

Nesse sentido, Tardif (2006) atribui ênfase às interações no processo de ensino e

aprendizagem. Para este autor, o campo próprio da pedagogia são as interações concretas

entre os professores e os alunos. A docência e a aprendizagem operam como interação. Tardif

(2006, p. 149 e 166), diz que:

O agir interativo não é orientado para a manipulação dos objetos ou para o controle dos fenômenos do ambiente circundante, mas por um confronto com o outro. O confronto com o outro não é rígido; ele pode adaptar-se a diversos modos e a diversas modulações, de acordo com as finalidades que os autores almejam alcançar.

53

[...] O professor não é um trabalhador que se contenta em aplicar meios e que se comporta como um agente de uma organização: ele é sujeito do seu próprio trabalho e ator de sua pedagogia, pois é ele quem a modela, quem lhe dá corpo e sentido no contato com os alunos (negociando, improvisando, adaptando).

Praticar a docência, para Tardif (2006), é entrar numa sala de aula e se colocar diante

de um grupo de alunos, se esforçando para estabelecer relações e desencadear um processo de

autorias e coautorias, mediado por uma grande variedade de interações. O trabalho do

professor em sala de aula deve fluir num espaço favorável à transformação, à mobilização de

saberes e, portanto, de teorias, de conhecimentos e de saber-fazer específicos que acionam a

participação dos atores envolvidos no processo (TARDIF, 2006). Mas não só na sala de aula

presencial. Rodrigues (2009) afirma que as reflexões de Tardif se referem ao saber do docente

que atua na sala de aula presencial, porém suas considerações podem ser relacionadas ao

contexto da educação online,

[...] desde que compreendidas as especificidades dessa modalidade. Assim, é possível considerar que o contexto do trabalho em ambientes virtuais de aprendizagem é mais uma situação específica da ação docente, que incorpora novos aspectos, mas conserva algumas características essenciais do trabalho desse profissional (RODRIGUES, 2009, p. 54).

Assim, a partir das abordagens teóricas do sociointeracionismo de Vygotsky (1998),

da epistemologia da prática profissional de Tardif (2006), Rodrigues (2009), em sua pesquisa,

organizou os saberes para docência online em três categorias: saberes epistemológicos,

tecnológicos e didáticos. A seguir, a sistematização, em forma de mapa conceitual, dos

saberes docentes proposta por Rodrigues (2009, p. 96):

54

Figura 1: Sistematização dos saberes

55

Os saberes epistemológicos abordam questões que fundamentam a formação e a

prática pedagógica dos professores; os saberes tecnológicos se referem ao conhecimento que

o professor deve ter acerca dos ambientes virtuais, seus recursos e interfaces e potencialidades

para os processos de produção do conhecimento, de criação e cocriação; os saberes didáticos,

entendidos como as intervenções e estratégias docentes que emergem da prática do professor

online, que se subdividem em saberes do desenho didático, saberes da mediação pedagógica e

saberes da avaliação. A autora conclui que “é preciso perceber que as três categorias aqui

analisadas não representam saberes isolados, mas são saberes que se interconectam e se

complementam” (RODRIGUES, 2009, p. 168). Tais saberes docentes situados na perspectiva

da interatividade se expressam no ambiente virtual de aprendizagem, “quando há utilização

expressiva de interfaces de compartilhamento (como chat, fórum e videoconferência) e de

colaboração (como wiki), numa perspectiva de partilha e cocriação entre docentes e

aprendentes” (RODRIGUES, 2009, p. 168).

Ao que parece, os saberes docentes na educação online na perspectiva da

interatividade a partir da análise de Rodrigues (2009) e os indicadores propostos por Silva

(2004) baseiam-se em abordagens teóricas formuladas por Vygotsky (1998) e Tardif (2006).

Nesse sentido parece haver convergência e complementação entre os indicadores e as

categorias de saberes de Rodrigues (2009), uma vez que em ambos percebe-se a

“interatividade promovida” entre os atores do processo como potencializadora do ensino e da

aprendizagem. Entende-se como interatividade promovida aquela em que o professor oferece

possibilidades de aprendizagem, disponibilizando conexões para recorrência e

experimentações que ele tece com os alunos. Ele mobiliza articulações entre os diversos

campos de conhecimento tomados como rede interdisciplinar e transdisciplinar e, ao mesmo

tempo, estimula a participação criativa dos alunos, considerando suas disposições sensoriais,

motoras, afetivas, cognitivas culturais e intuitivas (SILVA, 2004).

Tal “interatividade promovida” requer a mobilização de saberes epistemológicos,

tecnológicos e didáticos, todos articulados em sua complexidade e atentos à nova ordem

social do nosso tempo relativa à liberação do polo transmissor, a maior liberdade do sujeito,

às redes sociais, à descentralidade da informação veiculada e à computação social que

constrói e compartilha de maneira colaborativa o conhecimento. Será a articulação entre os

três saberes imbricados que possibilitará mobilizar a experiência do conhecimento que requer

modelar os domínios do conhecimento como espaços conceituais a partir dos quais os

aprendizes possam construir seus próprios mapas conceituais, promover atividades que

propiciem a livre expressão, o confronto de ideias e a colaboração entre os estudantes, o

56

aguçamento da observação e da interpretação das atitudes dos atores do processo (SILVA,

2010).

A “interatividade promovida” ocorre também quando o docente online arquiteta

colaborativamente percursos hipertextuais, em rotas diferentes, multidisciplinares e

transdisciplinares; disponibiliza os dados do conhecimento exuberantemente conectados e em

múltiplas camadas ligadas a pontos que facilitem o acesso e o cruzamento de informações e

de participações. O docente online provoca situações de inquietação criadora a partir da

promoção de ocasiões que despertem a coragem do enfretamento em público diante de

situações que provoquem reações individuais e em grupos e ao mesmo tempo respeita a

diversidade plural das ideias; incentiva a participação dos estudantes na resolução de

problemas apresentados de forma autônoma e cooperativa, problemas também voltados para o

desenvolvimento de competências que possibilitem ao aprendiz ressignificar ideias, conceitos

e procedimentos. Disponibiliza uma montagem de conexões em rede que permite múltiplas

ocorrências a partir do uso de diferentes suportes e linguagens midiáticos em mixagens e em

multimídia, garantindo um território de expressão e aprendizagem labiríntico, porém de fácil

navegação, e permitindo que o aprendiz conduza suas explorações (SILVA, 2010).

2.5 Desafios da docência online: saberes do desenho didático

Para mobilizar articulações entre os diversos campos do conhecimento que estimulem

a prática da “interatividade promovida”, participação criativa dos aprendizes, é preciso

construir um desenho didático em sintonia com a interatividade, o hipertexto, a cibercultura e

a própria lógica da web 2.0. Assim o desenho didático de curso online ganha destaque. Ele

deve fazer proposições e usar de diversas interfaces em AVAs para a cocriação da

comunicação e da aprendizagem em sua sala de aula online. Para Santos e Silva (2009, p.

274), essas proposições e interfaces deverão “favorecer bidirecionalidade, sentimento de

pertença, trocas, crítica e autocrítica, discussões temáticas, elaboração colaborativa,

exploração, experimentação, simulação e descoberta”. Trata-se da construção de um desenho

didático que potencialize um espaço próprio para a formação de sujeitos participativos e

autônomos, onde não cabe mais o professor transmissor de informações, mas um arquiteto de

percursos, um negociador de significados e diferenças (ARAÚJO, 2007). Em outras palavras,

um desenho didático favorável à prática educativa sintonizada com espírito do nosso tempo

sociotécnico e com a formação cidadã e que assegure e favoreça a expressão do diálogo, do

compartilhamento e da autoria criativa e colaborativa.

57

Para Santos e Silva (2009, p. 275), construir a prática pedagógica para a educação

online é em primeiro lugar pensar um “desenho didático interativo como arquitetura que

envolve o planejamento, a produção e a operatividade de conteúdos e de situações de

aprendizagem, que estruturam processos de construção do conhecimento na sala de aula

online”. Nesse sentido, Araújo (2007) afirma que a definição de estratégias para o desenho

didático de cursos online deve ser baseada em teorias educacionais consolidadas. Tais teorias

apontam para algumas etapas do processo de desenvolvimento: a análise, o design, o

desenvolvimento e implantação e a avaliação e revisão. A fase de análise é marcada pelo

levantamento do perfil dos estudantes, as necessidades de aprendizagem e definição dos

objetivos. A seguir a fase do design, em que é feito o planejamento, ou seja, a definição da

equipe, dos conteúdos, das estratégias pedagógicas e tecnológicas e do cronograma de

execução. Já a fase do desenvolvimento e implantação contempla todas as etapas de

elaboração e adaptação do material pedagógico, instalação e configuração dos ambientes

online, escolha de mídias e a gestão do curso. Finalmente, na fase da avaliação o processo

avaliativo da aprendizagem compreende uma filosofia educacional, uma concepção teórico-

metodológica de ensino e de aprendizagem, para verificar em que nível os objetivos propostos

foram alcançados, constatar progressos e dificuldades e reorientar o trabalho ou propor novas

ações.

Santos e Silva (2009, p. 276) afirmam que antecede a criação dos conteúdos e das

situações de aprendizagem a serem disponibilizados nas interfaces a necessidade de atentar

para algumas questões de planejamento, a saber:

Qual o contexto sócio-histórico e cultural dos aprendentes?; [...]; qual a infraestrutura tecnológica de que dispõem os docentes e os cursistas?; que competências pretendemos mobilizar nos aprendentes?; que profissionais podem ser agregados ao projeto para uma produção interdisciplinar?; [...]; como estruturar os conteúdos, os objetos e as situações de aprendizagem em hipertexto?; como conciliar situações de aprendizagem individuais (autoestudo) com situações de aprendizagem interativas (aprendizagem colaborativa)?; [...]; quais indicadores utilizar para avaliar a aprendizagem a partir das participações nas interfaces de comunicação?; que interfaces de conteúdos e de comunicação utilizar em cada aula, fase, bloco, módulo ou unidade do curso?

O que se percebe, na visão de Araújo (2007) e de Santos e Silva (2009), é a

necessidade de se fazer um planejamento maior, melhor e anterior ao início do curso. Tal

planejamento deverá envolver uma equipe de produção interdisciplinar composta de

conteudista, web roteirista, web designer, programador e designer didático, sendo concebido

58

como produção coletiva que abre espaços para a autoria de todos os sujeitos envolvidos. A

descrição a seguir é proposta por Santos e Silva (2009, p. 277):

Tabela 2: Equipe de produção interdisciplinar

Especialistas Atividades Conteudista Cria e dispõe conteúdos normalmente na forma de texto

explicativo/dissertativo a partir do planejamento do curso, reunindo conteúdos e situações de aprendizagem.

Web roteirista

Roteiriza os conteúdos e as situações de aprendizagem dispostos no texto do conteudista para a linguagem da web. Leva em conta os formatos variados do hipertexto, da mixagem e da multimídia.

Web designer

É o artista que dispõe o roteiro criado pelo web roteirista no ambiente online de aprendizagem. Digitaliza esteticamente o web roteiro em telas (templates).

Programador

Desenvolve ou customiza o ambiente online de aprendizagem. Cria programas e interfaces de conteúdo e de comunicação síncrona e assíncrona. Gerencia arquivos e banco de dados, bem como toda parte do processo que supõe programação de computadores.

Designer didático

Analisa as necessidades e interesses dos docentes, dos cursistas e da instituição. Arquiteta o desenho do curso no ambiente online de aprendizagem. Cria e estrutura conteúdos e situações de aprendizagem. Avalia os processos de construção e de funcionamento do curso. É o mediador do trabalho de toda a equipe de especialistas.

Assim compreendido, o desenho didático requer uma equipe com competências

específicas e que deverá atuar de forma interdisciplinar, articulando os saberes de seus

membros. A partir da atuação dos docentes e dos cursistas, o desenho didático transforma-se

em um campo de possibilidades para a construção do conhecimento na sala de aula online.

Estruturado como hipertexto, permite que o sujeito teça sua autoria operando em vários

percursos e leituras possíveis através dos links. Através do hipertexto o leitor percorre

caminhos que o levarão a espaços e conteúdos não mais presos à linearidade das páginas de

um livro. “O fim no hipertexto é sempre um novo começo caleidoscópico, no qual,

simultaneamente, podemos ler vários textos, cortar, colar e criar intertextos” (SANTOS;

SILVA, 2009, p. 278).

Junior (2009, p. 50), citando Santos e Silva (2009), afirma que na “educação online, o

desenho didático necessita de uma constante reconstrução, já que existe uma interação ativa

entre professores e alunos”. Para que um desenho didático interativo seja eficiente, Santos e

Silva (2009, p. 281) lembram que “é importante pré-produzir parte dos conteúdos e das

atividades que poderão ser utilizados ou não de acordo com as preferências dos cursistas e do

docente”. Ou seja, há a necessidade de se criar um web roteiro. Eles sustentam, ainda, que

59

devem ser observados basicamente quatro encaminhamentos para o desenvolvimento do web

roteiro. Tais encaminhamentos são apresentados por Araujo (2009, p. 51):

• Primeiro devem ser pensados os percursos hipertextuais, com o tracejar de caminhos diferentes para a aprendizagem, coma a exploração das vantagens disponibilizadas pelo hipertexto; • Segundo, existir uma disponibilidade para uma montagem de conexões em rede que irão permitir múltiplas ocorrências e onde os aprendizes possam construir seus próprios mapas, conduzindo suas explorações; • Terceiro, devem ser propostas situações para uma inquietação criadora que provoquem e despertem o desejo para enfrentamento online, encorajando a troca entre todos os envolvidos. • E quarto, a importância de se criar sinalizações para que o web

designer opte na hora da criação por formatos que deem opções de escolha na hora de opção por este ou aquele modelo de interação.

Entretanto, Santos e Silva (2009) insistem: é importante pré-produzir parte dos

conteúdos e das atividades que poderão ser utilizados ou não, de acordo com as necessidades

e preferências dos cursistas e do docente. A partir da intervenção dos cursistas e do docente, o

web roteirista propõe conteúdos e situações de aprendizagem em novos caminhos Assim o

web roteiro é escrito e poderá sofrer mudanças enquanto o curso está em andamento. Trata-se

de um processo interativo entre equipe de produção interdisciplinar composta de conteudista,

web roteirista, web designer, programador, designer didático e os aprendizes. Especificamente

em relação ao web designer, Silva (2010), ao esclarecer sobre a aventura na materialidade

comunicacional do designer de software, como aquele que dispõe o roteiro criado pelo web

roteirista no ambiente online de aprendizagem, diz que:

Modelar os conteúdos de aprendizagem como espaços de participação “sensório-corporal” e de participação “semântica”, disponibilizar domínios do conhecimento e estados potenciais, supõe o tratamento da informação em uma dinâmica espiralada que abre ao desenvolvimento previsível e imprevisível, que abre a criação livre e plural dos participantes (SILVA, 2010, p. 230).

É a partir desse tratamento dado aos conteúdos de aprendizagem que, para Silva

(2010), a interatividade passa a significar libertação do constrangimento diante da lógica da

transmissão e representa um princípio do mundo digital e da cibercultura. Porém é preciso

cuidado com o significado para a palavra “modelar”. Não se trata de criar um modelo a ser

seguido e sim de arquitetar os conteúdos de aprendizagem que permitam e potencializem a

60

liberdade dos sujeitos, a descentralidade da informação veiculada proveniente da liberação do

polo transmissor e a nova lógica construída a partir das redes sociais e da computação social

em que se constrói e compartilha de maneira colaborativa. Nesse sentido, o artigo “Criar e

professorar um curso online”, integrante do livro Educação online (SILVA, 2006), apresenta

ingredientes, não como receita de bolo, mas como contribuições para o debate sobre educação

online. O autor afirma que disponibilizar não se reduz a permitir, uma vez que na internet não

faz sentido permitir sem dispor teias de possibilidades. Disponibilizar em sala de aula online

implica três investimentos, segundo Silva (2006, p. 57):

• Oferecer múltiplas informações (em imagens, textos, sons etc.) Sabendo que as tecnologias digitais utilizadas de modo interativo potencializam consideravelmente ações que resultam em conhecimento. • Ensejar (oferecer ocasião de...) e urdir (dispor entrelaçados os fios da teia, enredar) múltiplos percursos para conexões e expressões com que os alunos possam contar no ato de manipular as informações e percorrer percursos arquitetados. • Estimular os aprendizes a contribuir com novas informações e a criar e oferecer mais e melhores percursos, participando como coautores do processo.

Ainda segundo Silva (2006, p. 57), muda o papel do professor, que “constrói uma rede

e não uma rota. Ele define um conjunto de territórios a explorar, enquanto a aprendizagem se

dá na exploração – ter a experiência – realizada pelos aprendizes e não a sua récita”. Trata-se

de dar outro sentido à autoria da aprendizagem compartilhada entre professore e alunos e não

a partir da exposição e transmissão de conteúdos que o professor detém. Essa mudança de

paradigma, segundo Silva (2010), ocorre em sintonia com a metáfora do hipertexto e permite

verificar que, além de apresentador de conteúdos, o professor pode se tornar um provocador

de conhecimentos, formulador de problemas, proponente de situações, arquiteto de percursos,

mobilizador das inteligências múltiplas e coletivas na produção de conhecimentos. Muda

também o papel dos alunos: não mais submetidos ao constrangimento da recepção, agem

“criando, modificando, aumentando e tornam-se assim coautores da aprendizagem e do seu

próprio curso” (SILVA, 2006, p. 58). Trata-se, portanto, da mudança dos papéis de

professores e alunos a partir da mudança da lógica da transmissão para a lógica da

comunicação; e, na educação, da pedagogia da transmissão para a pedagogia da

problematização ou da interatividade.

61

3 A METODOLOGIA E O CONTEXTO DA PESQUISA

O caminho a ser percorrido neste capítulo está apresentado em cinco seções. Cada uma delas

tem por finalidade última investigar como se deu o enfrentamento dos desafios

comunicacionais durante a mediação docente no curso de extensão sobre Formação de

Professores para Docência Online oferecido pelo programa e-Tec Brasil. Na primeira,

descrevo o campo escolhido e procuro apresentar o cronograma do curso, suas unidades

organizadas em aulas e os objetivos de cada uma. Ainda nesta seção delimito a pesquisa com

um recorte do campo em três momentos específicos focalizando os objetivos da pesquisa,

finalizando com o acompanhamento feito durante o curso, pelo pesquisador, da correlação

entre as visualizações e participações de docentes e cursistas. Na segunda seção apresento

minha opção metodológica pela pesquisa qualitativa de cunho sociocultural (FREITAS,

2002). Na etapa seguinte descrevo os dispositivos metodológicos para a coleta e análise de

dados. Na penúltima seção, apresento os sujeitos da pesquisa, bem como a síntese de um

questionário aplicado por ocasião do encontro presencial realizado em Brasília com os

cursistas, a equipe do e-Tec Brasil do MEC e a equipe pedagógica do curso. Finalmente, na

quinta seção, a partir da limitação de permissões12 concedidas ao meu perfil de “estudante”,

usuário do Moodle do curso em questão, eu apresento o ambiente Moodle do Instituto Federal

do Sudeste de Minas Gerais – Campus Juiz de Fora, onde eu tenho permissões de

“administrador”, algumas de suas funcionalidades e as interfaces que mais irão interessar ao

leitor e ao docente online.

3.1 O campo de pesquisa

3.1.1 Apresentação do campo de pesquisa

Em julho de 2009, como um dos coordenadores regionais do programa e-Tec Brasil,

fui convidado a participar do curso de Formação de Professores para Docência Online

oferecido pelo MEC e coordenado pelo professor Marco Silva, meu orientador no mestrado.

Tal curso se constituiu em meu campo de pesquisa e se desenvolveu no ambiente virtual

Moodle do MEC. O período de realização do curso, do qual participei como professor-

cursista, foi de 31/8 a 15/12 de 2009. Sua relevância como campo de pesquisa está no fato de 12 Os usuários do Moodle são categorizados por funções e cada função possui permissões relativas à edição dos cursos, à anexação de arquivos, etc.

62

a formação continuada de professores e de gestores para a educação online ser demanda da

sociedade da informação e da era digital. O alastramento da presença do computador online é

inarredável no cotidiano das pessoas, constituído por novas práticas (e-mails, listas, web logs,

jornalismo online, web cams, redes sociais, etc.), novos empreendimentos de grupos de

interesse (cidades digitais, games, ciberativismo, arte eletrônica, etc.). Assim, formar

o educador e o gestor em sintonia com esse contexto significa prepará-los para incluir

criticamente os cidadãos no contexto sociotécnico do nosso tempo. Essa formação se faz

proporcionando-lhes a mobilização de competências e de autonomia para

a construção de projetos pedagógicos que utilizam as tecnologias digitais off-line e online

como potencializadoras da gestão, docência e aprendizagem. Oferecido na modalidade online,

este curso de aperfeiçoamento já traz em sua prática o engajamento do professor e do gestor

cursistas capaz de promover e avaliar a aprendizagem lançando mão de interfaces digitais

(fórum, chat, blog e wiki, entre outras) e aí formar e educar, como pode ser constatado na

Figura 2 a seguir:

Figura 2: Curso de Formação para a Docência Online

Destacam-se como objetivos gerais do curso formar professores e gestores para

utilizar tecnologias digitais online como potencializadoras da docência e da aprendizagem na

educação profissional; divulgar experiências, projetos e trabalhos sobre o uso da modalidade

online na formação de docentes e profissionais da educação como técnicos e gestores;

construir projetos educacionais para ambientes online de aprendizagem a partir do desenho

didático interativo, da utilização de interfaces de comunicação, de conteúdos multimídia e de

objetos de aprendizagem. O público-alvo é composto de docentes e gestores do projeto e-Tec

63

Brasil e a carga horária total do curso é de 60 horas, a serem cumpridas em três meses,

requerendo a média de estudo de cinco horas semanais no mínimo.

A seguir encontra-se o cronograma do curso Formação de Professores para Docência

Online, que foi organizado em três unidades e contou finalmente com o período de avaliações.

30 e 31 de agosto de 2009 – Encontro Presencial.

1º. a 6 de setembro de 2009 – Ambientação Online.

7 a 20 de setembro de 2009 – Unidade 1 – aula 1: O desafio comunicacional da educação

online.

28 de setembro a 4 de outubro de 2009 – Aula 2: EaD e educação online brasileiras:

legislação e qualidade.

5 a 18 de outubro de 2009 – Aula 3: O desafio de formar e educar online: o perfil

sociocultural dos nossos alunos online.

26 de outubro a 8 de novembro de 2009 – Unidade 2 – Aula 4: A educação presencial e

online: diferenças e transposições.

9 a 18 de novembro de 2009 – Aula 5: A interatividade na educação online.

18 a 29 de novembro de 2009 – Aula 6: Saberes docentes na educação online.

30 de novembro a 10 de dezembro de 2009 – Unidade 3 – Aula 7: Desenho didático e

produção de conteúdos para educação online.

10 a 15 de dezembro de 2009 – Avaliações finais – Feedback das avaliações por parte dos

docentes-formadores.

A escolha do curso como campo de pesquisa foi por ele formar professores para atuar na

mediação docente em cursos do programa e-Tec Brasil e, portanto, se utilizar da

metalinguagem. Organizado em sete aulas, o curso tem sua estrutura voltada para a formação

professores. A ambientação teve como objetivo a apresentação dos cursistas e formadores,

que, além da vida, falaram sobre suas carreiras profissionais e expectativas em relação ao

curso.

A seguir estão descritos os objetivos de aprendizagem de cada um das aulas do Curso

de Formação de Professores para a Docência Online.

Aula 1: O desafio comunicacional da educação online. Objetivos: ambientação da turma no

AVA e no curso: desafios e possibilidades; mapear o desafio comunicacional da

educação online; criticar a “pedagogia da transmissão”, descrever as disposições

comunicacionais da sala de aula online; distinguir “analógico” e “digital”, “mídias de massa”

e “mídias digitais”, “imigrantes digitais” e “nativos digitais”.

64

Figura 3: Aula 1

Aula 2: EaD e educação online brasileiras: legislação e qualidade. Objetivos:

mapear o panorama atual da EaD no Brasil; criticar as precariedades na atual EaD brasileira;

distinguir EaD de educação online; analisar a legislação atual, favorável à oferta de EaD e de

educação online; explicar o crescimento desenfreado da EaD no Brasil; constatar o desafio da

qualidade na educação online.

Figura 4: Aula 2

Aula 3: O desafio de formar e educar online: o perfil sociocultural dos nossos alunos online.

Objetivos: distinguir o perfil comunicacional dos alunos “nativos digitais” e dos professores

“imigrantes digitais”; conhecer os conceitos “geração net” e “geração digital”; descrever e

analisar o perfil sociocultural dos nossos alunos universitários da modalidade online;

definir “inclusão digital” para além do mero acesso ao computador conectado; conhecer os

65

conceitos “pós-moderno” e “pós-modernidade” e a partir deles avaliar o desafio de educar as

novas gerações em nosso tempo.

Figura 5: Aula 3

Aula 4: A educação presencial e online: diferenças e transposições. Ocorreu, para essa aula, a

junção de turmas com o objetivo de turbinar a participação discente. Objetivos:

contrastar educação presencial e educação online; discutir a possibilidade de transposição

entre as modalidades presencial e online de estratégias docentes, de estratégias de

aprendizagem e de estratégias de comunicação; definir qualidade em educação online a partir

de comparações e transposições entre as modalidades presencial e online

Figura 6: Aula 4

Aula 5: A interatividade na educação online. Objetivos: discutir o conceito “interatividade”

na tecnologia digital e na arte; estabelecer nexos entre cibercultura e interatividade;

66

articular interatividade com processos comunicacionais e com a docência em cursos online;

usar as contribuições da “pedagogia do parangolé”13 para o tratamento da docência e da

aprendizagem na educação online.

Figura 7: Aula 5

Aula 6: Saberes docentes na educação online. Objetivos: mapear em renomadas abordagens

teórico-práticas da educação suas inquietações com a interação, com a dialógica e com a

participação colaborativa dos aprendizes como base essencial da aprendizagem; definir

saberes docentes para a modalidade online inspirados nas abordagens teórico-práticas

voltadas para a modalidade presencial; desenvolver sugestões de qualidade para a

docência online baseadas na postura comunicacional interativa do web designer em ambientes

digitais ou no ciberespaço.

13 Parangolé: objeto criado pelo artista plástico brasileiro Hélio Oiticica. Com sua proposta, Oiticica rompe com o modelo artístico baseado na simples fruição. Ela é pura proposição à participação ativa do “espectador” – termo que se torna inadequado, obsoleto. Trata-se de participação sensório-corporal e semântica e não de participação mecânica. Hélio Oiticica quer a intervenção física na obra de arte e não apenas contemplação imaginal separada da proposição. O fruidor da arte é solicitado à “completação” dos significados propostos no parangolé. E as proposições são abertas, o que significa convite à cocriação da obra. O fruidor veste o parangolé, uma capa feita com camadas de panos coloridos que se revelam à medida que o indivíduo se movimenta, correndo ou dançando dentro da peça. Com a pedagogia do parangolé, Marco Silva leva o conceito ao campo da educação e da comunicação.

67

Figura 8: Aula 6

Aula 7: Desenho didático e produção de conteúdos para educação online. Objetivos:

discutir e exercitar criação de conteúdos para cursos online no Moodle; articular conteúdos de

aprendizagem e produção técnica do desenho didático: a disposição de conteúdos, atividades

e estratégias de avaliação, levando em conta usabilidade e interatividade no ambiente online;

discutir a disposição dos conteúdos em cursos online a partir de modelo de template; articular

conteúdos de aprendizagem online e a dinâmica comunicacional da web (interatividade) e da

utilização de interfaces para expressão multimídia de objetos de aprendizagem.

Figura 9: Aula 7

Como se pode ver, o curso de extensão Formação de Professores para a Docência

Online está perfeitamente alinhado com os objetivos descritos nesta pesquisa. Sua observação

deverá contribuir para o entendimento da modalidade comunicacional estabelecida no curso,

68

analisar e compreender os saberes docentes manifestos no curso a partir das interfaces do

AVA utilizado, de seu desenho didático e das estratégias comunicacionais utilizadas pelos

docentes para promover a participação e a colaboração dos aprendizes.

3.1.2 A correlação entre as participações de docentes e cursistas

Na perspectiva da pesquisa qualitativa com enfoque sócio-histórico, inicialmente, são

apresentados gráficos a fim de se investigarem as correlações entre as estratégias

comunicacionais da mediação docente utilizadas no curso e a participação e a colaboração dos

aprendizes. A seguir, a partir das sugestões de interatividade de Silva (2010) e dos saberes

docentes de Tardif (1998), buscar-se-á compreender tal correlacão14 entre a participação do

docente-formador e a participação do docente-cursista nas diversas aulas e turmas do curso.

Antes, porém é preciso tecer considerações sobre a utilização de métodos estatísticos em

pesquisas qualitativas, começando por recorrer a Bogdan e Biklen (1994, p. 11), que

comentam:

[...] um campo que era anteriormente dominado pelas questões da mensuração, definições operacionais, variáveis, testes de hipóteses e estatística alargou-se para contemplar uma metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada e o estudo das percepções pessoais. Designamos esta abordagem por Investigação Qualitativa.

Freitas (2002) afirma que as pesquisas qualitativas com o olhar da perspectiva sócio-

histórica, ao valorizarem os aspectos descritivos e as percepções pessoais, devem focalizar o

particular como instância da totalidade social, procurando compreender os sujeitos envolvidos

e, por seu intermédio, compreender também o contexto. Na pesquisa qualitativa com enfoque

sócio-histórico não se investiga em razão de resultados: o que se quer obter é “a compreensão

dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação” (BOGDAN;

BIKLEN, 1994, p.16), correlacionada ao contexto do qual esses sujeitos fazem parte. Assim,

as questões formuladas para a pesquisa não são estabelecidas a partir da operacionalização de

variáveis, mas se orientam para a compreensão dos fenômenos em toda a sua complexidade e

em seu acontecer histórico (FREITAS, 2002).

14 Para estabelecer a correlação entre as participações foi realizada a coleta das informações no ambiente moodle onde transcorreu o curso, em seguida sistematizadas em tabelas do Excel e finalmente utilizou-se da função estatística “correl” que estabelece a correlação desejada. Os valores encontrados variam entre -1 e +1, onde -1 significa nenhuma correlação e +1 a máxima correlação entre as variáveis.

69

Gráfico 1: Correlação Turmas 1 e 3

Correlação: 0,44

P artic ipaç ão - T urma 1

33

27 28

20

10

23

0

5

10

15

20

25

30

35

A ula 1 Aula 2 Aula 3

Turma 1 F ormador Turma 1

Correlação: 0,52

P artic ipaç ão - T urma 3

17

10

15

9

5

18

0

5

10

15

20

A ula 1 Aula 2 A ula 3

Turma 3 F ormador Turma 3

Correlação: 0,88

P artic ipaç ão - T urmas 1 e 3

80

14

37

2629

9

25

16

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

A ula 4 A ula 5 A ula 6 A ula 7

Turm as 1 e 3 F orm adores Turm as 1 e 3

Gráfico 2: Correlação Turmas 4 e 6

Correlação: 0,86

P artic ipaç ão - T urma 4

20

36

53

14

32 32

0

10

20

30

40

50

60

A ula 1 Aula 2 Aula 3

Turm a 4 F orm a dor Turm a 4

Correlação: 0,67

P artic ipaç ão - T urma 6

56

18

13

8

15

0

5

10

15

20

A ula 1 A ula 2 A ula 3

Turm a 6 F orm a dor Turm a 6

Correlação: 1,00

P artic ipaç ão - T urmas 4 e 6112

11

36

14

44

1724

17

0

20

40

60

80

100

120

A ula 4 Aula 5 Aula 6 A ula 7

Turm a s 4 e 6 F orm adores Turm a 4 e 6

Gráfico 3: Correlação Turmas 5 e 10

Correlação: - 0,40

Participação - Turma 5

12

16

12

710

31

0

5

10

15

20

25

30

35

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Turma 5 Formador Turma 5

Correlação: 0,60

Participação - Turma 10

19

30

1815

20 19

0

5

10

15

20

25

30

35

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Turma 10 Forma dor Turma 10

Correlação: 0,98

Participação - Turmas 5 e 10

79

14

34

20

68

16

31 29

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Aula 4 Aula 5 Aula 6 Aula 7

Turma 5 e 10 Forma dor Turma 5 e 10

70

Gráfico 4: Correlação Turmas 7 e 8

Correlação: 0,82

Participação - Turma 7

23

8

20

13

3

20

0

5

10

15

20

25

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Turma 7 Formador Turma 7

Correlação: 0,70

Participação - Turma 8

9

3

18

14

8

13

0

5

10

15

20

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Turma 8 Formador Turma 8

Correlação: 0,87

Participação - Turmas 7 e 842

15

2319

37

16

32

18

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Aula 4 Aula 5 Aula 6 Aula 7

Turma 7 e 8 Formador Turma 7 e 8

Gráfico 5: Correlação Turmas 2 e 9

Correlação: 0,54

Participação - Turma 2

43

24 25

30

13

30

0

10

20

30

40

50

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Turma 2 Formador Turma 2

Correlação: 0,98

Participação - Turma 9

7

24

32

6

2

0

5

10

15

20

25

30

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Turma 9 Formador Turma 9

Correlação: 0,87

Participação - Turmas 2 e 9

62

5

49

2

22

2

11

1

0

10

20

30

40

50

60

70

Aula 4 Aula 5 Aula 6 Aula 7

Turmas 2 e 9 Formadores Turma 2 e 9

3.2 A escolha da metodologia

O grande desafio enfrentado neste momento de escolha foi de uma prática

investigativa que estivesse em consonância com os pressupostos teóricos que embasam minha

investigação: como pesquisador da interatividade, conceito que traz em si os fundamentos

participação–intervenção, bidirecionalidade–hibridação, permutabilidade–potencialidade

(SILVA, 2010), não me seria possível uma postura investigativa isenta, neutra, pois, como

nos alerta Freitas (2003, p. 23), “a tradição empirista da pesquisa nas Ciências Humanas tem

impedido muitas vezes uma maior aproximação e compreensão das questões propostas para

estudo”. Percebi que, como pesquisador em ciências humanas, não poderia me limitar à

71

contemplação, pois estavam diante de mim sujeitos com os quais precisava estabelecer

interlocução.

A partir do exposto por Freitas (2003), optei pela pesquisa de cunho qualitativo, por

considerá-la a mais adequada à investigação em ciências humanas e por perceber que essa

forma de pesquisa permite observar e analisar questões não mensuráveis dos processos

educacionais e de seus sujeitos (RODRIGUES, 2009, p. 63), visando ao aprofundamento “no

mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável

em equações, médias e estatísticas” (MINAYO, 1999, p. 22).

Segundo Alves-Mazzotti (2001), a observação de fatos, comportamentos e cenários é

extremamente valorizada pelas pesquisas qualitativas, nas quais o objeto de estudo é abordado

de maneira ampla. É a forma adequada para entender a natureza de um fenômeno. Neste

sentido, Freitas (2002) analisa as perspectivas abertas pela abordagem histórico-cultural para

a investigação qualitativa no âmbito das ciências humanas, apontando para uma forma de

pesquisa considerada como uma relação entre os sujeitos, portanto, dialógica, na qual o

pesquisador é parte integrante do processo investigativo. Assim o pesquisador e o sujeito da

pesquisa se comunicam, passando de monólogo a diálogo, como nos alerta Freitas (2002):

De uma orientação monológica passa-se a uma perspectiva dialógica. Isso muda tudo em relação à pesquisa, uma vez que investigador e investigado são dois sujeitos em interação. O homem não pode ser apenas objeto de uma explicação, produto de uma só consciência, de um só sujeito, mas deve ser também compreendido, processo esse que supõe duas consciências, dois sujeitos, portanto, dialógico (FREITAS, 2002, p. 24).

A partir do exposto por Freitas (2002), a investigação, nesta dissertação, se dará na

perspectiva dialógica da abordagem histórico-cultural. Corroboram com essa perspectiva

Bakhtin (1998) e Vygotsky (2003), que também consideram que todo conhecimento é

construído na interação entre as pessoas e dessa maneira concluem que a mediação do

pesquisador também provoca alterações de comportamento. Nessa perspectiva, a neutralidade

inexiste, e o pesquisador faz parte da própria situação da pesquisa e suas ações terão efeitos

na análise. Ressalta-se que o pesquisador, durante o processo de investigação, como o

investigado, também estará em processo de aprendizagem e transformação e, além disso,

passará a ressignificar o campo (RODRIGUES, 2009).

3.3 Dispositivos metodológicos

72

3.3.1 Coleta de dados

A observação

Na perspectiva histórico-cultural, a observação foi participante, uma vez que o

observador fez parte do curso campo de pesquisa em questão. A observação nessa abordagem

se constitui em um encontro de muitas falas: ao se observar um evento, depara-se com

diferentes discursos verbais, gestuais e expressivos. São discursos que refletem e retratam a

realidade da qual fazem parte, construindo uma verdadeira organização da vida social.

Segundo Freitas (2007a, p. 9):

Enfim, a teoria enunciativa da linguagem de Bakhtin permite considerar a observação numa perspectiva discursiva, dialógica e polifônica, compreendendo que o campo nos confronta com eventos de linguagem marcados pela interlocução. Assim, a partir do que tenho refletido atualmente, considero que na perspectiva histórico-cultural a observação não se esgota em si mesma, o pesquisador não é apenas um observador, mas alguém que interfere no contexto em que a pesquisa é realizada visando à transformação dos participantes e também à sua. Nesse sentido a observação passa a ser um encontro dialógico.

A opção por uma observação discursiva, dialógica e polifônica foi primordial neste

estudo, por possibilitar a compreensão dos desafios enfrentados durante a mediação docente e

as estratégias adotadas pela equipe pedagógica para superá-los. Nessa perspectiva, a

observação será realizada a partir da leitura no ambiente virtual de aprendizagem de fóruns,

chats, portfólios e livros, além do desenho didático do curso em questão, e pode ser

encontrada no backup do ambiente virtual Moodle, no qual se desenvolveu o curso. Buscar-

se-á identificar a modalidade comunicacional estabelecida como massiva ou interativa, mais

especificamente as potencialidades comunicacionais dos AVAs, como tal modalidade foi

favorecida ou não pelo desenho didático do curso e as estratégias da mediação docente para

promover a participação e a colaboração dos aprendizes, a partir dos saberes docentes e das

sugestões de interatividade feitas aos docentes por Silva (2010) e apresentadas na Introdução

desta dissertação.

No campo de pesquisa encontramos a utilização da interface fórum, que surgiu com

diferentes metáforas, diferentes perspectivas: ora o fórum foi utilizado como espaço de

73

discussão, ora serviu como interface social ora como ambiente de avaliação, como pode ser

visto nas Figuras 10 e 11 a seguir:

Figura 10: Fórum como espaço de discussão

Figura 11: Fórum como espaço de interação social

O chat (bate-papo) do Moodle é uma interface simples de comunicação síncrona, que

permite que os participantes mantenham uma conversa em tempo real. Ao contrário dos

74

fóruns, em que as pessoas não precisam estar simultaneamente online, no chat é necessário

que todos os participantes estejam logados no curso ao mesmo tempo, para que haja

comunicação, se configurando como espaço virtual em que os sujeitos interagem em um

mesmo tempo físico estando em geograficamente dispersos. As interações estabelecidas nos

chats ficam registradas, conforme a Figura 13.

Figura 12: Chat como espaço de “bate-papo”

Figura 13: O histórico do chat no AVA Moodle

A fim de se conseguir uma interlocução adequada entre formadores e cursistas, é

necessário gerar uma comunidade de significados; um mesmo conceito pode estabelecer

sentidos e significados distintos. Será no glossário, uma interface do Moodle, que permitirá a

visualização de termos e conceitos relativos ao conteúdo do curso. Ele permite também que se

façam links automáticos entre termos do glossário e entre módulos do ambiente,

75

possibilitando uma maior hipertextualidade. Já na midiateca pode-se socializar material

complementar para os estudos. Textos, imagens, áudios, links interessantes ou algo mais que

se julgar significativo para a aprendizagem. O glossário colaborativo e a midiateca

encontram-se a seguir nas Figuras 14 e 15.

Figura 14: Glossário colaborativo

Figura 15: A midiateca

O livro é outro recurso do Moodle. O livro é utilizado para a inserção de conteúdos no

ambiente Moodle. Trata-se de material de estudos com várias páginas, que pode se dividido

em capítulos, conforme a Figura 16 a seguir. Ele possui barra de formatação, sendo possível

incluir links, imagens, entre outros.

76

Figura16: Livro hipertextual

Outro recurso importante utilizado foi o portfólio. Na unidade I, ao final de cada aula

o docente-cursista construía seu portfólio. A partir da unidade II os portfólios foram

construídos por unidade. A Figura 17 a seguir traz a página inicial do portfólio esclarecendo

sobre a mudança ocorrida e de sua concepção. No que se refere à concepção, os autores do

curso afirmam que o portfólio será um dispositivo que potencializa a visibilidade da produção

de cada sujeito, permitindo ainda o compartilhamento com todo o grupo-sujeito, sendo

simultaneamente autor e avaliador não só da sua própria autoria e produção como também da

produção e autoria de seus pares.

Figura 17: O portfólio.

A partir das interfaces apresentadas anteriormente, o que se observará é como foram

promovidas oportunidades de trabalho em grupo, através de participações livres e trocas de

experiências, além de garantir a exposição de argumentos e o questionamento das afirmações;

77

se foram utilizados diferentes suportes e linguagens midiáticos presenciais e online,

garantindo um território de expressão e aprendizagem multidirecional, porém de fácil

navegação; se foi possibilitado ao aprendiz ressignificar ideias, conceitos e procedimentos,

através de provocações que despertem a coragem do enfrentamento online e respeitando a

diversidade plural das ideias; se foram disponibilizados dados do conhecimento

exuberantemente conectados e em múltiplas camadas ligadas a pontos que facilitam o acesso

e o cruzamento de informações e de participações; se foram promovidas situações de

comunicação e de aprendizagem que consideram as experiências, conhecimentos e

expectativas que os atores envolvidos já trazem consigo (SILVA, 2004).

As entrevistas

Outra técnica utilizada para este trabalho e que ofereceu dados significativos foi a

entrevista semiestruturada, que, no âmbito da pesquisa qualitativa de cunho sociocultural

possui a especificidade de ser compreendida como uma produção de sentidos estabelecidos na

interação entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa e tem como objetivo a compreensão.

Neste sentido Freitas (2007a, p. 10) afirma que “o ouvinte concorda ou discorda, completa,

adapta, repensa e essa sua atitude está em elaboração constante durante todo o processo de

audição e de compreensão desde o início do discurso”. Para a autora será na concepção da

dialógica que se justifica a entrevista, uma vez que nela se estabelece uma relação de sentido

na comunicação entrevistado–entrevistador entendidos como sujeitos. Nessa perspectiva, a

entrevista se constitui em uma relação dialógica, em que os sujeitos compartilham suas

experiências sociais e culturais. Tal relação dialógica ganha dimensão interativa, uma vez que

permite o aprofundamento das questões observadas na comunicação estabelecida entre a

equipe pedagógica, professores-formadores e docentes-cursistas do curso objeto de análise.

Assim a entrevista será feita junto à equipe pedagógica do curso e aos professores-formadores

que mediaram o processo de docência online. Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznadjer

(2000, p. 160), a entrevista pode ser “aplicada a partir de um pequeno número de perguntas,

para facilitar a sistematização e codificação. Apenas algumas questões e tópicos são

predeterminados. Muitas questões podem ser formuladas durante a entrevista e as irrelevantes

são abandonadas”. Assim, de início foi elaborado um roteiro flexível que buscava atender aos

objetivos da pesquisa. No total foram feitas sete entrevistas, sendo quatro presenciais e outras

três respondidas no fórum etecnodocência online construído na plataforma da empresa

78

Yahoo!15 e no qual a equipe pedagógica e os docentes-formadores trocavam informações e

interações a respeito do curso.

3.3.2 Análise dos dados

Rizzini, Castro e Santos (1999, p. 82) afirmam que “o processo de codificação dos

dados é aquilo que dará sentido aos dados enquanto resultados de uma pesquisa ou, dizendo

de outra maneira, é o que relaciona os dados da pesquisa com seus objetivos”. Após a coleta

inicial e a organização de dados, será realizada a análise buscando torná-los compreensíveis.

Como afirmam esses autores, “a análise de resultados de uma pesquisa é um processo

sistemático de busca e de organização visando obter maior compreensão dos materiais

coletados e de torná-los compreensíveis ao maior número possível de pessoas” (RIZZINI;

CASTRO; SANTOS, 1999, p. 81). Tomando como base essa definição, pensa-se na aplicação

da análise do conteúdo. Porém é preciso estar atento às orientações de Freitas (2002; 2003):

no contexto da pesquisa qualitativa de cunho sociocultural, busca-se a apreensão de seus

conteúdos relacionados aos contextos. Dessa forma, as anotações resultantes da observação

serão cruzadas com as entrevistas dialógicas e interativas após serem transcritas e analisadas

em seu contexto. Seguindo este caminho, serão construídas as conclusões, sempre baseadas

pelo quadro teórico que sustenta esta pesquisa, uma vez que é nesse jogo dialógico que o

pesquisador constrói uma compreensão da realidade investigada transformando-a e sendo por

ela transformado (FREITAS, 2003).

Nesse sentido Alves-Mazzotti e Gewandsznadjer (2000, p. 171) sugerem que a análise

deve ser “desenvolvida durante toda a investigação, através de teorizações progressivas em

um processo interativo com a coleta de dados”. Ainda sob a orientação desses autores, a fim

de maximizar a credibilidade, será utilizado o procedimento da triangulação dos resultados e

se dará, após a organização dos dados, o processo de análise e se deverá comparar o resultado

das diferentes análises a partir dos princípios comunicacionais encontrados em Silva (2010),

os indicadores de interatividade de Silva (2004), das abordagens teóricas do

sociointeracionismo de Vygotsky (1998), da epistemologia da prática profissional de Tardif

(2006), dos resultados da pesquisa de Rodrigues (2009), que organizou os saberes para

docência online em três categorias: saberes epistemológicos, tecnológicos e didáticos, entre

15 A Yahoo é uma empresa norte-america de serviços de internet.

79

outros e as práticas empregadas no curso de formação para docência online, objeto desta

pesquisa.

Como critério de consistência e confirmabilidade será utilizada a técnica que Lincoln e

Guba, citados por Alves-Mazzotti e Gewandsznadjer (2000, p. 174-176), chamam de

“auditoria”. Para tal, um segundo pesquisador com experiência na área, podendo ser o próprio

orientador, avaliará, no decorrer da pesquisa, a adequação dos procedimentos de coleta e

análise dos dados. Portanto, serão necessárias a organização e a manutenção dos dados brutos

recolhidos a partir das entrevistas e leituras de fóruns, chats, portfólios, e-mail, etc., bem

como registrar cuidadosamente as razões que possam levar o pesquisador a determinadas

decisões durante o processo de coleta e análise dos dados, a fim de esclarecer junto ao

“auditor” o motivo de tais decisões.

3.4 Os sujeitos da pesquisa

Inicialmente é preciso fazer a distinção oportuna entre sujeito e objeto de pesquisa.

Nesse sentido, Freitas (2003) orienta que a própria utilização dos termos “sujeito” ou “objeto”

ajuíza a atitude do pesquisador quanto à sua forma de olhar e compreender a realidade. Por se

tratar de uma pesquisa qualitativa numa perspectiva sociocultural, será utilizado o termo

“sujeitos” e não “objetos” para designar as pessoas investigadas. Adotar essa postura reflete o

lugar e a posição do pesquisador como aquele que participa e interage com o sujeito no

processo de pesquisa. Nesse sentido, Freitas (2003, p. 29) afirma que “conceber, portanto, a

pesquisa nas ciências humanas a partir da perspectiva sócio-histórica implica compreendê-la

como uma relação entre sujeitos possibilitada pela linguagem. [...] O objeto de estudo das

ciências humanas é o homem ser expressivo e falante”.

A equipe pedagógica e docentes-formadores

O grupo estudado foi formado por oito professores responsáveis por organizar e

conduzir os trabalhos no curso de Formação de Professores para Docência Online, que

participaram da entrevista realizada durante o curso. Tais docentes são oriundos de diferentes

formações e campos de conhecimentos: psicologia, sociologia, história, matemática e

pedagogia, além de atuarem como pesquisadores na mesma área com ênfase nas TICs. Vale

ressaltar que a toda equipe era composta de 14 professores entre coordenação pedagógica e

docentes-formadores. O curso contou também com a participação de 130 docentes-cursistas,

80

cujo perfil foi levantado e será apresentado mais adiante neste capítulo para melhor

compreensão do contexto da pesquisa.

Os sujeitos da pesquisa tiveram suas identidades preservadas através de referências

alfanuméricas, que foram estabelecidas de acordo com a função que exerceram no curso.

Assim EP1 e EP2 significam equipe pedagógica um e dois, enquanto D1, D2, D3, D4, D5 e

D6 docentes-formadores um, dois, etc.

Os docentes-cursistas

No dias 30 e 31 de agosto de 2009 ocorreu o primeiro encontro presencial entre a equipe

pedagógica, equipe do e-Tec Brasil e docentes-cursistas. Nesse encontro foram proferidas

palestras sobre os seguintes temas: Formação dos professores do e-Tec para docência online;

Sala de aula interativa: educar em nosso tempo; Sugestões de qualidade em educação online.

A seguir foi realizada uma dinâmica de grupos com os docentes-formadores e os docentes-

cursistas, quando se deu a aplicação de um questionário com o objetivo de conhecer melhor

os docentes-cursistas. A partir de tal questionário se buscou levantar a função de cada um no

programa e-Tec Brasil, a (s) disciplina (s) que ministram ou ministraram no programa, bem

como se conhece o AVA Moodle, suas interfaces, como distinguem a educação presencial e a

educação a distância e a opinião sobre a eficácia da EaD. As seguir encontra-se a síntese das

respostas dadas pelos professores-cursistas através de gráficos e tabelas.

1) A idade dos professores-cursistas na sua maioria estava entre 30 e 50 anos; eles exerciam a

função de professores e gestores em mesmo percentual, aproximadamente, conforme gráfico a

seguir.

Gráfico 6: Idade dos cursistas e função exercida no programa e-Tec Brasil

81

2) Em relação ao uso do , destacam-se os usos de editor de texto, e-mail e pesquisa na web,

conforme mostra o grafico a seguir.

3) Em relação à experiência dos cursistas, cerca de 51% lecionam ou lecionaram disciplinas

via internet, conforme mostra o gráfico a seguir.

4) O fórum ainda é um dos recursos mais utilizados no ambiente Moodle, conforme ilustra o

gráfico a seguir:

Gráfico 7: Recursos mais utilizados no computador

Gráfico 8: Cursistas que lecionam ou lecionaram disciplinas via internet

82

5) Para responderem à pergunta: “Como você distingue docência presencial de docência via

internet?”, os cursistas receberam 10 opções de respostas. Trinta e seis deles responderam que

a diferença está nos limites físicos/proximidade dos integrantes; 24 responderam que a

diferença está na forma de participação do aluno (dependente x autônomo) ou na participação

do professor (transmissor x facilitador). Parece que a combinação das duas respostas

corresponde ao entendimento dos cursistas, ou seja, a diferença está nos limites físicos e onde

o aluno deverá ser mais autônomo a partir de uma postura mais de facilitador por parte do

professor. Conclui-se, ainda, que, para o cursista, a docência presencial é marcada pela

proximidade física entre alunos e professores, o aluno é mais dependente e o professor mais

transmissor de conteúdos. O resultado final pode ser conferido na tabela a seguir.

Gráfico 9: Recursos mais utilizados na plataforma Moodle

83

Tabela 3: Distinção entre a educação presencial e via internet

Resposta Cursistas

A metodologia da EaD precisa ser diferenciada, para promover a aproximação com o

aluno.

13

Na EaD há maior flexibilidade de horários 15

A EaD tem um grande potencial a ser explorado. 2

Na EaD o conteúdo precisa ser apresentado de forma a estimular o interesse do aluno. 3

A diferença está nos limites físicos/proximidade dos integrantes. 36

A diferença está na forma de participação do aluno (dependente x autônomo) ou na

participação do professor (transmissor x facilitador)

24

Na EaD, o docente precisa ter muito mais clareza de expressão, uma vez que não se pode

utilizar expressões corporais e gestos.

8

A diferença está nos recursos tecnológicos utilizados e técnicas novas. 19

A diferença está na interatividade. 3

Não respondeu/resposta divergiu à questão. 13

6) Quanto à pergunta “O que você espera desta formação para docência online?”, a grande

maioria (64) respondeu “Adquirir/aprofundar o conhecimento sobre a nova modalidade

(EaD)”, o que indica a necessidade de formar para docência online, justificando o curso de

formação para docência online. O resultado total pode ser conferido na tabela a seguir.

Tabela 4: Formação para docência online

Respostas Cursistas

Adquirir/aprofundar o conhecimento sobre a plataforma Moodle. 24

Aprender técnicas de elaboração de materiais didáticos digitais. 2

Adquirir/aprofundar o conhecimento sobre a nova modalidade (EaD). 64

Utilizar essas técnicas no ensino presencial. 2

Contribuir para a formação de profissionais. 16

Capacitação profissional. 19

Interagir com outros profissionais. 18

Embasamento para o desenvolvimento da EaD na minha instituição. 2

Não respondeu/resposta divergiu à questão. 3

84

7) Ao responderem à pergunta “Você Acredita na eficácia da educação a distância via internet

no ensino médio?”, três cursistas optaram pela resposta “Não. Alunos não têm maturidade

suficiente”, seis pela “Não sei” e 141 responderam “Sim”, com alguma ressalva ou

confirmação. O que se pode concluir é que em larga escala os cursistas acreditam na

eficiência da EaD. O resultado final pode ser conferido na tabela a seguir.

Tabela 5: Eficácia da educação a distância via internet

AGRUPAMENTOS Cursistas

Sim. Sem justificativa. 22

Sim. Modalidade moderna. Combina com o perfil da geração atual. 37

Sim. A EaD é oportunidade para quem não pode frequentar uma sala de aula. 13

Sim. Depende de como será conduzida. 29

Sim. Experiência própria bem-sucedida. 11

Não. Alunos não têm maturidade suficiente. 3

Não Respondeu. Tem dúvidas sobre a maturidade dos alunos. 6

Sim. Porque ao EaD traz mudanças. É uma modalidade em evolução. 11

Sim. Mas deve ter uma mistura entre presencial e a distância. 2

Sim. Porque dá mais autonomia ao aluno. 4

Sim. Possibilita vencer obstáculos como tempo e distâncias. 2

Sim. Depende do foco do curso. 1

Facilita a difusão do conhecimento. 3

Não sei. 6

3.5 O ambiente virtual de aprendizagem Moodle

Tarouco (2009) afirma que um AVA é um aplicativo que tem por objetivo principal o

gerenciamento da oferta de cursos online. Tal aplicação permite que uma instituição organize

seus cursos, professores e alunos. Além disso, permite que o professor organize o seu curso

estabelecendo atividades, disponibilizando materiais de aprendizagem, determinando prazos,

observando a participação, atribuindo conceitos, comunicando-se com os alunos, etc. O AVA

é o ambiente que substitui a sala de aula convencional no e-learning. Para a autora, enquanto

software, o AVA provê a infraestrutura para o e-learning. Ainda segundo Tarouco (2009, p.

3), entre as funções comumente encontradas em um AVA, podem ser citadas: “gerência de

usuários e suas autorizações (administrador, professor, tutor, aluno); gerência de cursos

(criação, cópia, autorização de acesso, definição da estrutura); disponibilização de

85

ferramentas de comunicação e cooperação (chats, fóruns, wikis, blogs); avaliação de alunos”.

O Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Enviroment) é referido como sendo

um learning management system (LMS) e foi desenvolvido pelo educador e cientista

computacional australiano Martin Dougiamas.

É um projeto em andamento, como afirma seu idealizador:

Venho trabalhando nele, de uma forma ou outra, desde há vários anos. Começou nos anos 1990s, quando eu era web master na Curtin University of Technology e administrador de sistemas da instalação deles do webct. Encontrei muitas frustrações com esse bicho do webct e fui adquirindo uma coceira que precisava aliviar – tinha que ter uma forma melhor (Dougiamas, 2010, s/p)16.

Dougiamas (2010) afirma ter sido influenciado pela epistemologia do construcionismo

social, que não só trata a aprendizagem como uma atividade social, mas focaliza a atenção na

aprendizagem que acontece enquanto construímos ativamente artefatos (como textos, por

exemplo), para que outros vejam ou utilizem. Papert (1994) caracteriza o construcionismo

como sendo a reconstrução do construtivismo piagetiano, valorizando mais de perto a ideia da

construção mental. “A atitude construcionista no ensino não é, em absoluto, dispensável por

ser minimalista – a meta é ensinar de forma a produzir a maior aprendizagem a partir do

mínimo de ensino” (PAPERT, 1994, p. 125).

Construcionismo social é o nome que passou a designar o movimento de crítica à

psicologia social “modernista”, que tem sua principal referência teórica em Kenneth Gergen.

Segundo Castañon (2004), o construcionismo social teve seu início na década de setenta,

quando o behaviorismo e seus pressupostos ontológicos e metodológicos se viam

questionados por todos os lados. O autor afirma que

Um desses questionamentos foi a crítica historicista de Gergen (1973) à Psicologia Social, formulada em seu artigo “Social Psychology as History”, considerado (Stroebe e Kruglanski, 1989) o marco inicial do Construcionismo Social. [...] Apesar de os métodos de pesquisa em Psicologia Social serem de caráter científico, as teorias sobre o comportamento social são primariamente reflexões sobre a história contemporânea (CASTAÑON, 2004, p. 70).

16 As informações foram obtidas em http://docs.moodle.org/pt/História_do_Moodle. Acesso em 21 de agosto 2010.

86

Assim, na visão de Dougiamas (2010), é a partir do construcionismo social que um

grupo de pessoas constroem coisas umas para as outras, criando, de forma colaborativa, uma

pequena cultura de objetos compartilhados, com significados compartilhados. O Moodle é um

software livre (open source). Isso é algo que a maioria das pessoas ignora o que seja e conclui

que se é livre é apenas de graça. A primeira coisa a fazer é descobrir o que realmente é o

software livre e suas consequências, como: embora o software seja livre não quer dizer que a

empresa que o produziu não esteja ganhando muito dinheiro de outras maneiras; você tem

garantido o direito de copiar, modificar e redistribuir o software, desde que você garanta os

mesmos direitos para todos aqueles que compartilham o software com você; estes direitos

significam que uma comunidade de entusiastas se desenvolve e comunica defeitos, conserta

os problemas, testa o novo código e desenvolve novos programas para plugins e extensões.

Resulta que você tem os esforços da empresa mais os esforços da comunidade somados ao

software. Desta maneira o software livre tende a ser mais seguro, mais estável e desenvolvido

de forma mais rápida do que o software proprietário de código fechado equivalente.

O Moodle vem passando por várias atualizações desde seu lançamento, no blog Fazer

e aprender17, Pricila Kohls afirma que está cada vez mais próxima a data de lançamento da

versão final do Moodle 2.0. Segundo informações disponibilizadas na comunidade

Moodle.org, o lançamento ocorreu em setembro de 2010. Entre as novidades desta versão

destacam-se:

• O Moodle agora permite a integração com repositórios externos de conteúdos,

tornando muito simples a tarefa de trazer documentos e mídias para dentro do Moodle via

uma interface AJAX18, que se parece com qualquer outra interface padrão para diálogos em

aplicações de computadores pessoais. Em um primeiro momento, os plugins19 para o 2.0

incluem: Alfresco, Amazon S3, Box.net, Sistema de arquivos em servidores, Flickr, Google

Docs, Mahara, MERLOT, Picasa, Arquivos recentes, Sites Moodle remotos, servidores

webdav, Wikimedia, Youtube. O desenvolvimento desses plugins é simples, portanto, espera-

se que ao longo do tempo surjam muitos outros.

17 Informação obtida em http://fazereaprender.blogspot.com/2010/08/moodle-20.html. Acesso em 21 ago 2010. 18 AJAX é o uso metodológico de tecnologias como as linguagens de programação Java script e XML, providas por navegadores, para tornar páginas web mais interativas com o usuário, utilizando-se de solicitações assíncronas de informações. 19 Na informática, um plugin (também conhecido por plug-in, add-in, add-on) é um programa de computador usado para adicionar funções a outros programas maiores, provendo alguma funcionalidade especial ou muito específica. Geralmente pequeno e leve, é usado somente sob demanda. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Plugin. Acesso em 27 agosto 2010.

87

• Os módulos podem agora exportar seus dados para sistemas externos, o que é

particularmente útil para portfólios em que cópias de telas de fóruns, trabalhos e outras coisas

feitas no Moodle podem ser úteis para se registrar em outros locais como revistas acadêmicas

ou outro portfólio de maior destaque.

• Atividades podem ser vinculadas para permitir a publicação progressiva do conteúdo

do curso.

• Bloco de Comentário – como um recado, permite que os comentários sejam

adicionados a qualquer página. Ideal para fazer comentários em produções do aluno.

• Bloco Meus Arquivos Pessoais – permite acesso fácil a um repositório de arquivos

pessoais.

• Páginas de Perfil de Usuário – com validade em todo o site, podem ser customizadas

pelos usuários com Blocos, Notícias, Feeds entre outros.

• Páginas de perfis de usuários específicos por curso mostram blocos do curso e

informações básicas do perfil, mais informações para os professores daquele curso.

Com tais mudanças, o LMS Moodle se torna mais aberto e dinâmico em sua

apresentação e utilização, instigando a personalização de curso de acordo com o usuário e por

opção dele.

Em suas versões anteriores, o Moodle se constitui de um sistema de administração de

atividades educacionais, destinado à criação de comunidades online voltadas para a

aprendizagem colaborativa através de módulos. O Moodle, quando habitado por comunidades

educacionais, torna-se um AVA. Nele é possível organizar cursos para docência. As páginas

dos cursos são divididas em três colunas que podem ser modificadas e personalizadas pelo

administrador, alterando o aspecto da tela de abertura, inserindo elementos em formato de

caixas como calendário, usuários online, lista de atividades, entre outros. Essas caixas são

dispostas nas colunas à direita e à esquerda da tela, podendo ser deslocadas de um lado para o

outro pelo professor. Na coluna central há um conjunto de caixas que representam a sequência

das aulas por meio de uma lista de tópicos numerados ou datados semanalmente ou podem ser

criadas áreas para agrupar conteúdos ou atividades semelhantes. Essa coluna central é o local

onde o curso será efetivamente realizado. O Moodle disponibiliza três formatos de curso: a)

Formato semanal – são estabelecidos data de início e fim e o número de semanas, e então é

inserido o material referente a cada semana; b) Formato de tópicos – cada assunto a ser

discutido representa um tópico, então se decide o número de tópicos: estes não terão limites

de tempo predefinidos; c) Formato social – o tema do curso é articulado em torno de um

88

único fórum, disposto na página principal. A Figura 18 a seguir mostra a página inicial do

Moodle do qual o pesquisador é administrador; sua versão é 1.9.7. À direita e acima se

encontra destacada a caixa de Ativar/desativar, edição que permite ao administrador efetuar

mudanças no layout da página, acrescentar blocos, movê-los, etc.

Figura 18: Página inicial do Moodle do IF Sudeste MG

O administrador do Moodle cria cursos e define no AVA a função dos usuários

(administrador, autores de curso, professor, tutores, estudantes, coordenadores, etc.). As

principais funções estão apresentadas na Figura 19 a seguir.

Figura 19: Principais funções em curso

89

O professor dispõe de um conjunto de permissões para editar o curso criado pelo

administrador. Entre elas se destacam “Acrescentar recurso” e “Acrescentar atividade”. Entre

os principais recursos estão: livro, criar uma página de texto simples, criar uma página de

web, link a um arquivo ou site, visualizar um diretório, usar um pacote e inserir rótulo, como

mostra a Figura 20.

Figura 20: Acrescentar recurso

A seguir descrevo cada um desses recursos. O Moodle é compatível com uma série de

tipos de recursos muito abrangentes. Podem-se utilizar quase todos os formatos de conteúdos

web nos seu cursos.

Livro: Livro é simplesmente um material de estudo com várias páginas que poderá ser

organizado hipertextualmente.

Figura 21: O livro

90

Página de texto simples: este tipo de recurso é uma página simples que contém textos

simples. Alguns tipos de formatação predefinidos são disponíveis para que você possa

melhorar o aspecto das suas páginas. Para formatar textos, pode-se escolher entre algumas

opções, dependendo do seu navegador e da sua experiência. Os principais formatos são:

Formato Automático: esta opção é a mais indicada quando você usar formulários web

para escrever o texto (em vez de usar o editor HTML20). Escreve-se o texto como se você

estivesse redigindo um e-mail. Ao gravar o texto, a formatação será automática. Por exemplo,

urls como http://yahoo.com ou ainda www.yahoo.com serão convertidas em links. O

alinhamento vai ser mantido e linhas deixadas em branco serão interpretadas como indício de

novos parágrafos. Outro formato é o HTML, nesta opção pressupõe que o texto seja editado

com o uso de código HTML. Esta é a opção predefinida quando se usa o editor HTML – os

instrumentos do editor produzem código HTML para você. Mesmo se não estiver usando o

editor, pode-se inserir código HTML no texto para obter o resultado desejado. Neste caso, não

ocorre nenhuma formatação automática.

Página HTML: este tipo de recurso facilita o desenvolvimento de uma página web

completa, especialmente quando você utiliza o editor de HTML WYSIWYG21 do Moodle. O

código é armazenado em um banco de dados, não como um arquivo. Neste recurso tem-se

bastante liberdade para fazer quase tudo que você quiser utilizando HTML ou até Java script.

Arquivos e páginas web: este tipo de recurso permite que se crie um link a qualquer

página web ou outro tipo de arquivo na internet. Também permite que você crie um link a

qualquer página HTML ou outro tipo de arquivo enviado para a sua área de arquivos do curso

a partir do seu próprio computador. Páginas web normais são simplesmente mostradas como

elas são, enquanto arquivos de multimídia são trabalhados de forma mais inteligente e podem

ser integrados em uma página web. Por exemplo: arquivos MP3 serão apresentados utilizando

um dispositivo de reprodução integrado, assim como arquivos de filmes, animações em Flash

e assim por diante, conforme a Figura 22 a seguir.

20 HTML (sigla para a expressão inglesa HyperText Markup Language, que significa Linguagem de Marcação de Hipertexto) é uma linguagem de marcação utilizada para produzir páginas na web. 21 Dois exemplos clássicos de editores WYSIWYG são o Writer e o Microsoft Word, nos quais o documento é mostrado na tela da mesma forma que será impresso.

91

Figura 22: Página da web

Ou vídeos, conforme Figura 23.

Figura 23: O vídeo

Diretório: o recurso Diretório permite o acesso a um diretório selecionado (e seus

subdiretórios) da sua área de arquivos do curso. Os alunos poderão navegar e visualizar todos

os arquivos contidos neste diretório.

Pacotes de conteúdo IMS: este tipo de recurso utiliza pacotes de conteúdo IMS22 no

seu curso. Basta fazer o upload do pacote zip e utilizar. Há várias opções de visualização do

conteúdo dos pacotes em janelas popup, com menu de navegação lateral, botões, etc.

22 IMS. Pacotes de conteúdo IMS permitem exportar o conteúdo de um sistema de aprendizagem ou repositório de gerenciamento de conteúdo digital e importá-lo para outro, mantendo informações que descrevem os meios de comunicação no pacote de conteúdos e como ela é estruturada, como uma tabela de conteúdo ou página da web

92

Rótulos: rótulos são um pouco diferentes de outros recursos, porque se trata de

textos e imagens inseridas na interface da página principal do curso, entre os links às

atividades e recursos. Podem ser usados para organizar a página, criar títulos, etc.

Nas figuras a seguir encontramos exemplos de alguns recursos utilizados no curso.

Figura 24: O rótulo

Um rótulo pode indicar a vista a outro ambiente como, por exemplo: “ Tutorial do

Ambiente Moodle para Docentes” nos leva ao moodle.org, conforme Figura 26 a seguir:

Figura 25: O tutorial

que a primeira mostra. O IMS Content Packaging Specification centra-se na embalagem e transporte de recursos, mas não determina a natureza desses recursos.

93

Pode-se utilizar o link “ Guia de funcionalidades da Moodle” e neste caso os

cursistas eram endereçados à página Moodle/UFBA, de acordo com a Figura 26 a seguir:

Figura 26: Guia de funcionalidades Moodle

Ao clicar sobre “ Programa do Encontro Presencial” abria a página com texto do

Word, conforme Figura 27 a seguir:

Figura 27: Inserir recurso

Pode-se também através de outro recurso, como Link a um arquivo

PDF“ Indicadores de Interatividade para a docência presencial e online” ser conduzido a

um texto com extensão.pdf, conforme a Figura 28.

94

Figura 28: Link a um arquivo PDF

Ou, ainda, ao clicar sobre “ Entrevista com Marco Silva e Edméa Santos sobre EaD

Documento PDF”, o cursista abria a página de Paidei@, revista científica de educação a

distância, de acordo com a Figura 29 a seguir:

Figura 29: Link a revistas

Assim, a partir dos recursos, o professor desenha seu curso de forma hipertextual,

fazendo convergir mídias (texto, vídeos, sons, gráficos) e links externos. A fim de

potencializar a colaboração, ele pode sugerir atividades aos alunos através de: base de dados,

chat, escolha, fórum, glossário, lição, pesquisa de avaliação, questionário, tarefas e wiki. As

tarefas podem ser: modalidade avançada de carregamento de arquivos, texto online, envio de

arquivo único, atividades online, conforme mostra a Figura 30.

95

Figura 30: Acrescentar atividade

Os principais módulos de atividades podem ser usados em qualquer tipo de curso da

plataforma Moodle:

Atividades de Base de Dados: o módulo de Banco de Dados permite ao professor e/ou aos

alunos criar, mostrar e buscar um banco de dados sobre qualquer tópico. O formato e a

estrutura dos itens são quase ilimitados, incluindo imagens, arquivos, urls, números e texto.

Figura 31: Banco de dados

Chat: o módulo Chat permite a realização de uma discussão textual via web em

modalidade síncrona. Essa é uma maneira veloz de obter diversos pontos de vista sobre um

assunto. Ao contrário dos fóruns, todos podem publicar textos ao mesmo tempo.

96

Figura 32: O chat

Escolha: este módulo é muito simples: configura uma única pergunta com diversas

opções de resposta. Serve para fazer pesquisas rápidas de opinião, para estimular a reflexão

sobre um tópico, para escolher entre sugestões dadas para a solução de um problema, ou para

obter a permissão de utilizar dados pessoais dos alunos em pesquisas do professor. Pode

servir também para reservar vagas em grupos ou assuntos diferenciados de discussão.

Figura 33: A escolha

Fórum: esta atividade de discussão é importantíssima. Os fóruns têm diversos tipos de

estrutura e podem incluir a avaliação recíproca de cada mensagem. As mensagens são

visualizadas em diversos formatos e podem incluir anexos. Os participantes do fórum têm a

97

opção de receber cópias das novas mensagens via e-mail (assinatura) e os professores, de

enviar mensagens ao fórum com cópias via e-mail a todos os participantes.

Figura 34: O fórum

Glossário: esta atividade permite que os participantes criem e atualizem uma lista de

definições como em um dicionário ou em um FAQ. As listas podem ser visualizadas em

diversos formatos. Os professores podem exportar itens de um glossário secundário ao

glossário principal do mesmo curso. Além disso, é possível criar automaticamente links nos

textos do curso que levam aos itens definidos no glossário.

Figura 35: O glossário

Lição: uma lição publica o conteúdo em um modo interessante e flexível. Ela consiste em

certo número de páginas. Cada página, normalmente, termina com uma questão e uma série

de possíveis respostas. Dependendo da resposta escolhida pelo aluno, ou ele passa para a

98

próxima página ou é levado de volta para uma página anterior. A navegação através da lição

pode ser direta ou complexa, dependendo em grande parte da estrutura do material que está

sendo apresentado.

Figura 36: A lição

Avaliações do curso: este módulo contém alguns tipos de questionários de avaliação

de cursos, específicos para ambientes virtuais de aprendizagem. Esse tipo de atividade

favorece a reflexão sobre os processos de aprendizagem durante o curso.

Figura 37: A avaliação

Questionários: este módulo consiste em um instrumento de composição de questões e

de configuração de questionários. As questões são arquivadas por categorias em uma base de

dados e podem ser reutilizadas em outros questionários e em outros cursos. A configuração

99

dos questionários compreende, entre outros recursos, a definição do período de

disponibilidade, a apresentação de feedback automático, diversos sistemas de avaliação, a

possibilidade de diversas tentativas. Alguns tipos de questões: múltipla escolha, verdadeiro ou

falso, resposta breve, etc.

Figura 38: O questionário

SCORM/AICC packages: Um pacote SCORM ou AICC é um conjunto de conteúdos web

agregados em conformidade com o padrão SCORM ou AICC para objetos de aprendizagem.

Esses pacotes podem incluir páginas web, gráficos, programas Java script, apresentações em

Flash e qualquer outro formato compatível com navegadores web. O módulo permite carregar

facilmente qualquer pacote SCORM ou AICC padrão e incluí-lo no seu curso.

Figura 39: O pacote SCORM/AICC

Tarefas: uma tarefa consiste na descrição ou enunciado de uma atividade a ser

desenvolvida pelo participante, que pode ser enviada em formato digital ao servidor do curso

utilizando a plataforma. Alguns exemplos: redações, projetos, relatórios, imagens, etc. Esse

100

módulo inclui a possibilidade de descrever tarefas a serem realizadas offline – na sala de aula,

por exemplo – e de publicar o resultado da avaliação.

Figura 40: A tarefa

Wikis: estruturada hipertextualmente, a wiki permite a composição colaborativa de

documentos com o uso do navegador web. Para isso é adotado um formato simples de

linguagem de marcação. “Wiki wiki” significa “superveloz” em língua havaiana, e a

velocidade de criação e atualização das páginas é uma das características que define a

tecnologia wiki. Normalmente não há revisão anterior à publicação ou aceitação de mudanças

e a maior parte das wikis é aberta a todo mundo ou às pessoas que têm acesso à mesma wiki.

O módulo Wiki permite que os participantes trabalhem juntos, adicionando novas páginas web

ou completando e alterando o conteúdo das páginas publicadas. As versões anteriores não são

canceladas e podem ser restauradas.

Figura 41: A wiki

101

Esses são apenas alguns dos recursos disponíveis no Moodle, que busquei destacar por

terem sido utilizados no curso de Formação de Professores para a Docência Online. Além

deles, existem outros recursos e possibilidades disponíveis na comunidade Moodle que podem

ser utilizados pelo professor. Vale ressaltar que, graças ao trabalho colaborativo, alternativas

vêm sendo desenvolvidas em todo o mundo. Algumas delas estão disponíveis no site da

comunidade (www.moodle.org), outras estão em fase experimental e, ainda, qualquer pessoa

pode desenvolver novas interfaces, inseri-las no seu ambiente Moodle e compartilhar com os

demais.

102

4 O ENFRENTAMENTO DOS DESAFIOS COMUNICACIONAIS DA MEDIAÇÃO

DOCENTE ONLINE

As sociedades contemporâneas atravessam um período de intensas mudanças, com o

questionamento dos paradigmas que, ao longo do último século, orientaram o

desenvolvimento social e econômico no mundo. As transformações que se operaram por meio

da revolução dos costumes e do vertiginoso avanço da ciência e da tecnologia continuarão por

marcar fortemente as sociedades no século XXI. As inovações tecnológicas participam, cada

vez mais, como mediadoras das relações sociais nas diferentes dimensões humanas. Emerge

uma nova ordem mundial em que a velocidade ganha notável impulso. Viver a

contemporaneidade requer atenção aos apelos desse novo tempo: rever as formas de pensar,

sentir e atuar sobre essa realidade que não se nos apresenta de forma linear, mas de modo

plural, em multiplicidade e complexidade inscritas em redes e conexões, ampliando nossa

inserção no mundo.

Na área da educação, em particular, mesmo com mais de meio século de discussões

teóricas que deram origem às rupturas epistemológicas com os cânones cartesianos e seus

critérios imemoriais de verdade, ainda hoje assistimos à concepção positivista influenciando a

organização do conhecimento acadêmico e dos currículos. Por outro lado as discussões acerca

dos desafios da mediação docente online vêm crescendo em larga escala e são decorrentes da

forte expansão da EaD no país. Mas, afinal, o que é ser professor no século XXI? Essa é uma

pergunta para a qual não há resposta fácil. Nosso tempo, caracterizado por mudanças

constantes e velozes, traz desafios para o professor e o estimula a repensar continuamente sua

prática.

Neste capítulo busquei analisar como se deu o enfrentamento dos desafios

comunicacionais durante a mediação docente em um curso de extensão sobre Formação de

Professores para a Docência Online oferecido pelo programa e-Tec Brasil, através da

observação do campo de pesquisa e das entrevistas realizadas, conforme apresentado no

capítulo anterior. Em tal análise buscaremos encontrar a formatação pedagógica do curso e

seu desenrolar, elementos que indicam o conceito de interatividade (SILVA, 2010), os saberes

docentes apresentados no Capítulo 2 deste trabalho e sistematizados, em forma de mapa

conceitual, por Rodrigues (2009), os indicadores de interatividade propostos por Silva (2010)

citados no Capítulo 1 deste trabalho e ao mesmo tempo responder minhas inquietações acerca

das potencialidades comunicacionais próprias do ambiente virtual de aprendizagem, como o

desenho didático construído e o uso das tecnologias digitais online contribuíram para

103

corroborar a modalidade comunicacional interativa utilizada na mediação docente

estabelecida no curso em questão e finalmente as correlações entre as estratégias

comunicacionais da mediação docente utilizadas no curso e a participação e a colaboração dos

aprendizes.

4.1 As potencialidades comunicacionais próprias do AVA utilizado no curso na visão dos

docentes

A não linearidade é uma das potencialidades dos AVAs, como destacado a seguir nas

orientações do fórum “Agenda e orientações gerais” do período de ambientação. Nesse

primeiro fórum, EP2 traz aos cursistas as principais características potenciais dos AVAs, pois

a partir da não linearidade ela sugere a exploração do mesmo como se fosse um território a ser

habitado, onde cada qual, de acordo com suas preferências navegaria, ora clicando, ora lendo,

ora “futucando” e certamente comunicando-se. Não se trata de um caminho único a ser

seguido, mas de vários percursos possíveis em que todos os habitantes deste espaço de

formação, ao final do período, terão compreendido que, além de sociabilizar conhecimento, o

ambiente virtual de aprendizagem Moodle só é ambiente de aprendizagem quando habitado e

se nele fizer estabelecida a comunicação entre todos. Assim a plataforma Moodle é apenas um

software, mas, quando habitado, se torna um ambiente virtual de aprendizagem potencial.

Olá pessoal! Por onde começar ? Por onde vocês quiserem! Uma das potencialidades dos ambientes virtuais

de aprendizagem e da educação online é a não linearidade. Explorem o nosso espaço de ambientação como quiserem. Façam de conta que vocês estão explorando um território nunca navegado, nunca circulado, prontinho para ser habitado. Olhem, cliquem, leiam, futuquem! Comuniquem-se! Aprendam livremente.

Ainda neste fórum, é possível perceber que o contrato social estava sendo estabelecido

entre os formadores e os cursistas. Tal contrato deve trazer claramente as orientações de

participação dos cursistas e de intervenção dos formadores. A seguir temos a transcrição de

mais um trecho deste fórum.

Em cada aula teremos uma agenda que tem a função de orientar e sugerir percursos a explorar. Além disso, a agenda é o espaço para docentes-formadores e docentes-cursistas trocarem ideias sobre a aula. A agenda será uma espécie de mural de atividades e guia de orientação para a autoaprendizagem e a aprendizagem colaborativa. Vamos explorar nossa primeira agenda?

104

Destaca-se outra potencialidade do AVA, que é o link, ou seja: cada expressão ou

palavra em azul e grifada, ao ser clicada, levará o cursista para um território a ser explorado.

A seguir apresento os vários caminhos apresentados aos cursistas. De início, porém, não

necessariamente nesta ordem, foi sugerido ao cursista que habitasse o “fórum de boas-

vindas”.

Agenda de exploração do espaço de ambientação. Habitem o fórum de boas-vindas. Apresentem-se e interajam com seu (sua) docente e com seus colegas. Mesmo que vocês cheguem um pouco atrasados (as) ou depois do inicio do curso, postem logo sua mensagem de boas-vindas e dialoguem com os demais participantes.

Após clicar neste link, o cursista era levado a outro espaço a ser habitado. Nesse

espaço, o cursista deveria se apresentar, estabelecendo a primeira comunicação entre os

cursistas e entre os cursistas e formadores. A seguir as orientações contidas na mensagem de

abertura do “fórum boas-vindas”:

Olá pessoal! Sejam muito bem-vind@s ao nosso curso online. Aqui todos nós somos autores e coautores de saberes e conhecimentos. Estamos tod@s engajad@s em um projeto comprometido com a ducação de qualidade em nosso país. Vamos nos apresentar e conhecer nossos colegas e nosso (a) docente. Que tal descobrir uma forma criativa de se apresentar? Se apresente do seu jeito. Mostre quem é você para além da vida e carreira profissional. Conte um pouco sobre suas qualidades e seus defeitos também. Aproveite e fale sobre suas expectativas em relação ao curso. Quem começa? Para participar deste fórum, basta clicar em responder. Ah! Não basta apenas se apresentar. Comece a puxar papo com os colegas também.

Veem-se nessa mensagem aos cursistas várias potencialidades do AVA utilizadas no

curso, as quais se destacam a seguir: a possibilidade de haver a interatividade definida por

Silva (2010) como a disponibilização consciente de um “mais comunicacional expressamente

complexo”. Durante o curso, a equipe pedagógica e os professores-formadores

intencionalmente propuseram situações de aprendizagem nas diversas interfaces utilizadas no

curso em que se podem conferir os três binômios que caracterizam a interatividade. Para Silva

(2010), o binômio participação–intervenção significa interferir em sua mensagem, é construir

coletivamente a comunicação e a aprendizagem; participar não se restringe a responder “sim”

ou “não” ou escolher uma opção dada. Ainda para este autor o binômio bidirecionalidade–

hibridação estabelece a condição primária de existência da comunicação: é necessário a

bidirecionalidade entre professor e aprendiz e entre aprendizes. Diante dos conteúdos de

aprendizagem, os dois polos codificam e decodificam, colaboram e cocriam. Ainda em

relação à mensagem transcrita anteriormente, destacam-se, como possibilidades do AVA, o

105

surgimento e aprofundamento da inteligência afetiva, coletiva, e o sentimento de pertença a

partir do convite de se apresentar e de fazê-lo de forma criativa, incentivando a exposição

pessoal, a criação e a não timidez. O convite em se mostrar para além da vida e da carreira

profissional, suas qualidades e seus defeitos, suas expectativas, faze o indivíduo pensar sobre

o que ele é, sua carreira, sua pessoa e como pode melhorar pessoal e profissionalmente.

Retornando à semana de ambientação, ao cursista era sugerido ler os documentos, a

fim de compreender a proposta pedagógica do curso, que, como obra aberta23, estará sujeita a

contribuições e colaborações dos cursistas e formadores.

Naveguem pelos documentos que informam sobre a proposta pedagógica do curso. Nossa proposta é obra aberta. Crescerá com a colaboração e contribuição de todos e todas. O que temos são “pré-textos” para começarmos nossa viagem. Não tenham medo de se perder. No caminho encontraremos amigos que nos ajudarão a encontrar caminhos seguros e também aventureiros.

Outra possibilidade do AVA, na visão dos docentes-formadores, é a leitura

hipertextual e através de várias mídias. Os textos apresentavam links que permitiam aos

cursistas navegar entre textos, vídeos e áudios. Tal leitura, largamente sugerida, esteve

presente já na semana de ambientação. A partir dessa leitura, os cursistas participavam do

fórum de discussão e davam contribuições significativas para complementar e melhorar a

qualidade daquela obra construída. Conforme orientação a seguir:

Leiam o texto sugerido para o espaço de ambientação, naveguem pelos vídeos, façam suas sínteses em seus editores de textos pessoais e não demorem a habitar o fórum de discussão. Exercitem a leitura e a escrita sempre. Não deixem de registrar suas sínteses e não demorem para habitar os fóruns de discussões.

O ambiente Moodle possui várias funcionalidades que podem ser exploradas em suas

interfaces de diálogo síncrono ou assíncrono, de construção colaborativa como as wikis, de

compartilhamento, de imersão e exploração, conforme orientação a seguir extraída do curso.

23 O pensamento de Umberto Eco expressa o movimento de desprovincialização da cultura que avassalou a

segunda metade do século XX e o seu livro Obra aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas constitui-se no nome emblemático desse processo. Seu enfoque revolucionário e atualizador dos problemas da estética, da teoria da informação e da linguagem tornaram-se leitura obrigatória para todo aquele que se dedica à reflexão teórica e à realização prática nos campos do cinema, teatro, literatura, crítica, publicidade, industrial design, artes plásticas, arquitetura, educação, entre outros.

106

Explorem as funcionalidades do ambiente Moodle. A cada aula novas interfaces serão utilizadas e novas aprendizagens serão construídas. Não tenham medo da imersão, da exploração. Em caso de dúvidas ou de necessidade de compartilhar uma descoberta nova, não fiquem parados (as). Entrem no fórum “Sobre o Moodle” e postem suas mensagens.

Assim, a arquitetura labiríntica do curso em questão não impôs aos cursistas um

caminho privilegiado para seu deslocamento. Ao contrário: a eles foram dadas várias

possibilidades de navegação aleatória a partir da disponibilização de informações. Ao cursista

couberam atitudes permutatórias e potenciais. Permutatórias, pois combinavam as

informações livremente e produziram as mais variadas narrativas, portanto potenciais. Ao

longo do curso, os formadores e equipe pedagógica ofereceram múltiplas redes articulatórias

para a construção da comunicação e do conhecimento, permitindo ao aprendiz ampla

liberdade para permutar, virtualizar, simular, associar e significar. A construção gradativa e

coletiva do glossário foi um exemplo dessa forma de agir. Assim como a Wikipédia, o

glossário é interativo e possibilita ao autor adicionar sentidos diferentes porém corretos aos

verbetes ou criar novos, além de possibilitar associações entre os diversos conceitos

apresentados no glossário através de links. Como se destaca a seguir:

Visitem o glossário. Ele é interativo como a Wikipédia. Cada docente cursista pode agregar valor nos verbetes e/ou criar novos verbetes.

Silva (2010) afirma que, para enfrentar o desafio de uma formação em sintonia com a

modalidade comunicacional interativa emergente, o professor deve cuidar de sua autoria. Ele

apresenta algumas sugestões para promover a interatividade. Tais sugestões, segundo o autor,

são mobilizadoras de ações concretas em favor da expressão livre e plural em ambientes da

docência e aprendizagem colaborativas e requerem por parte do docente saberes

epistemológicos, didáticos e tecnológicos (RODRIGUES, 2009).

Oportunizar múltiplas experimentações e expressões com objetivo de manter o

interesse e a motivação do grupo foi uma das estratégias utilizadas no curso. Merecem

destaque como diferencial e potencialidade do AVA situações disponibilizadas aos cursistas

que promoveram uma participação proativa e intensa, como foi o caso da “pegadinha”. O

formador, após não conseguir reunir todos os cursistas em uma mesma foto, produziu uma

montagem com fotos diferentes, acrescentando aquelas que faltaram na primeira,

completando assim a turma. Vê-se aí o saber tecnológico necessário à montagem de fotos em

um único arquivo, além da criatividade necessária para despertar o interesse de todos em

107

localizar a pegadinha. Dessa forma os cursistas puderam identificar os participantes daquela

turma no curso. Veem-se imbricados os saberes tecnológicos, da mediação e também os

saberes comunicacionais, uma vez que, além de customizar a foto da turma com a pegadinha,

o formador, através do fórum de boas-vindas, procurou criar o “estar junto online”

(RODRIGUES, 2009) e articular as contribuições dos cursistas, a fim de potencializar as

colaborações, conforme afirma D1:

No fórum de boas-vindas, procurei responder prontamente às mensagens de boas-vindas dos alunos, dirigindo as minhas mensagens individualmente ou a pequenos grupos de alunos. Minha intenção foi criar a percepção neles de que o professor está próximo, presente, reconhecendo sua individualidade e reconhecendo-os também como grupo. Tratei de continuar fazendo isso nos fóruns seguintes, pois acho que isso favorece a participação (feedbacks frequentes, o mais rápido possível, específicos e direcionados ao aluno ou ao grupo, tentando articular com outras contribuições dos demais alunos no fórum).

Já em relação às regras de participação, podemos observar, na mensagem de D1 aos

cursistas destacada abaixo, que as orientações foram claras e precisas e referiram-se ao saber

da prática do docente-formador em relação à mediação online e presente na afirmação “adotar

um ‘estilo de comunicação’ online atencioso e aberto, mas sem ‘fru-fru’”. Revela ainda a

preocupação em relação ao ritmo de produção de cada indivíduo do grupo e

conhecimento sobre o perfil profissional deles.

Como o Alessandro, eu também procuro ser direto e sucinto nas mensagens, até mesmo porque considero uma questão de respeito com relação ao tempo de cada um (especialmente em fóruns bastante interativos). Com isso não quero dizer que eu seja frio ou distante. Pelo contrário, procuro adotar um “estilo de comunicação” online atencioso e aberto, mas sem “fru-fru”. Enfim, cada um tem seu próprio estilo e essa diversidade é muito boa! Como na nossa turma, muitos já têm conhecimento sobre educação a distância (EAD) e educação online (EOL), acredito que poderemos aprofundar certos temas da docência online e focalizar também em questões de interesse específico dos coordenadores.

Conforme a aprovação da cursista Gardy, a seguir, ao posicionamento do

formador D1, expressa na mensagem abaixo, retirada do fórum de “boas-vindas”,

observa-se a objetividade de D1 na relação entre a mediação docente pretendida e a que

se estabeleceria a partir daquele momento com a Turma 4. A clareza e a objetividade

aliadas à criatividade do formador colaboraram para se estabelecer uma relação de

confiança e respeito entre os diversos atores dessa turma.

108

Tabela 6: Fórum

Re: Fórum de Boas-vindas!

Por xxxxx quarta, 2 setembro 2009, 21:33

Olá,

Ameiiii... Vc é sem "fru-fru" né, porém muito criativo, como dizem os meninos maraaaa, rsrsrsrsrs. Deu um ar de... “procurada”? Adoro mentes criativas e com toque de humor, sem exageros é claro [...]. Abraços a todos!

Pode deixar o cartaz de “procurada”, rsrsrsrs, vai que estou sendo e nem sei....rsrsrsrsrs.

Merece destaque na fala de D1 anterior seu conhecimento sobre o perfil da turma,

o seu discurso direto e aberto, porém afetuoso, em relação aos cursistas, e de respeito à

diversidade de estilos. Veem-se nesse contexto emergirem saberes psicopedagógicos e da

mediação docente (RODRIGUES, 2009). Ainda sobre as regras estabelecidas na semana

de ambientação, percebem-se o comprometimento do docente-formador com o curso

quando D1 afirma “entrar diariamente no curso” e a revelação dos saberes da mediação

presentes em fóruns, chats, etc. Trata-se do “estar junto online”. Para Rodrigues (2009, p.

156),

[...] atuar numa sala online significa expressar pensamentos, tomar decisões, dialogar, trocar informações e experiências e produzir conhecimento, o que proporciona a sensação de pertencimento ao grupo ou, em outras palavras, “o estar junto online”, que pode ser compreendido como um sentimento de afetividade entre os participantes de um curso online, apesar da ausência de espaço físico.

A seguir tem-se a transcrição das orientações de D1 aos cursistas sobre a

frequência em que estará habitando o espaço virtual, a fim de caracterizar o “estar junto

online.

109

Apenas uma questão “logística”: procurarei entrar diariamente no ambiente do curso, ou, pelo menos a cada dois dias. Isso, exceto nos finais de semana, porque senão volto a ser o workaholic que já fui... Conectado 24h por dia. Por isso, se alguém enviar mensagem sexta-feira à noite eu só lerei na segunda, ok? Mas, independente disso, vocês podem acessar o ambiente e trocar mensagens nos finais de semana. Aqui cada um pode ajustar o seu ritmo. Só recomendo não passar mais de 3 ou 4 dias “ausente” do ambiente para não ficar desatualizado quanto às mensagens, ok?

Em relação às carinhas (emoticons), elas foram utilizadas em todo o curso como

forma de manifestar o estado de espírito do formador, além de permitir uma maior e

melhor organização das mensagens, como afirma D1.

Procurei usar emoticons (carinhas) e fontes em negrito ou em outra cor para ressaltar determinados conteúdos das minhas mensagens. Acho importante o professor, logo de início, mostrar para os alunos os recursos de formatação de mensagens dos fóruns. Muitos alunos não estão acostumados a usá-los e acabam fazendo mensagens extensas, corridas, sem espaçamento e sem organização. Outros utilizam tantas cores e fontes que fica difícil de ler. Longe de ser um mero detalhe estético, considero que esse processo pode contribuir para a melhor comunicação da turma.

Para Rodrigues (2009, p. 98), a origem dos saberes docentes é marcada por duas

dimensões, a social e a temporal, como ela mesma explica:

As experiências formadoras de saberes docentes se desenvolvem num contexto de história de vida, uma vez que o saber herdado de experiências pessoais e escolares anteriores à sua prática docente é forte e persiste através do tempo, e se aplicam diretamente à carreira docente, aqui compreendida como um processo temporal marcado pela construção do saber profissional. Nessa perspectiva temporal, podemos concluir que esses saberes docentes são existenciais, uma vez que um professor é uma pessoa comprometida com e por sua própria história – pessoal, familiar, escolar e social.

Nesse sentido, Tardif (2009, p. 103) afirma que o professor “pensa a partir de sua

história de vida, não somente intelectual, no sentido rigoroso do termo, mas também

emocional, afetiva, pessoal e interpessoal”. Assim, a “pegadinha” fez com que a turma criasse

laços de afetividade e sentimento de pertença como pode ser observado nas mensagens do

cursista a seguir:

110

Tabela 7: Fórum 1

Re: Fórum de Boas-vindas!

Por XXXXXXXX- quarta, 2 setembro 2009, 06:36

A pegadinha da foto da turma é que tem alguns membros a mais no grupo não? Tem uns “ovnis” lá, não? Acertei?

A “pegadinha” colocada pelo formador estabeleceu a relação entre os cursistas

Alessandro e Márcio, como pode ser observado na figura anterior e posterior. O que ocorreu é

que os demais cursistas aprovaram e participaram desse fórum.

Tabela 8: Fórum 2

Re: Fórum de Boas-vindas!

Por XXXXXXX- quarta, 2 setembro 2009, 10:24

Eu? OVNI? Não, Alessandro...

Pelo o que minha mãe dizia eu nasci neste planeta. Mas saiba que você suscitou em mim uma dúvida... Pelo sim ou pelo não, farei um exame de DNA. Aquela foto encaixada com o rosto e sem os pés é minha. No momento da foto da turma eu não estava presente e o nosso camarada Professor tirou a minha foto e encaixou usando um editor de imagens.

De acordo com Rodrigues (2009), os saberes epistemológicos se dividem em três

subcategorias: psicopedagógicos, político-filosóficos e comunicacionais. Em relação aos

saberes comunicacionais, o que se pode observar é que a “provocação” feita pelo formador,

além de possibilitar maior interação entre os cursistas, proporcionou um ambiente

descontraído, o que favoreceu a mediação pedagógica no curso, evidenciando a lógica

comunicacional que se estabeleceria durante todo o curso, a modalidade comunicacional

interativa (SILVA, 2010).

Em relação à formação de grupos de trabalho, os docentes-formadores buscaram

reunir os docentes-cursistas em trios de trabalho, conforme orientações de D1 e D3 aos

cursistas – “[...] a fim de agilizarmos a realização desse trabalho, [...] decidimos formar os

trios reunindo os cursistas mais participativos de cada turma” –, o que revela, de início,

as estratégias adotadas pelos formadores para promover a interação em grupo de cursistas

e possibilitar a exposição de argumentos e o questionamento de afirmações. Podemos

observar ainda, na mensagem do cursista Alessandro Ribeiro, no Fórum de formação dos trios

111

de trabalho colaborativo, a percepção correta sobre o trabalho colaborativo pretendido e de

como alcançá-lo:

Tabela 9: Fórum 3

Re: Fórum de formação dos trios de trabalho colaborativo

Por XXXXXXX - segunda, 23 novembro 2009, 10:12

Ah sim,

A princípio cada um dá sua contribuição ao mesmo texto. Dei o pontapé inicial e agora vem a contribuição das outras colegas. Achei melhor assim do que ficarmos em casa, cada um escrevendo sua parte do texto, sem que o outro vá dando contribuições adicionais ao assunto ao longo dos dias (até o dia 29/11). Imaginei que assim ficaria com uma “carinha” mais online e menos entediante, se tivéssemos dividido as partes, cada um desenvolvesse o texto e no final um ficando com o papel de juntar as três contribuições ficaria como num curso tradicional e então achei que não atingiria o objetivo de ser ONLINE.

A flexibilidade é outra característica da educação online e se refere aos saberes da

mediação. Os cursistas, atarefados nas instituições em que exercem seus cargos de professor,

coordenador, etc., não dispunham de muito tempo para dedicar-se à construção e conclusão de

seus wikis, o que determinou a dilatação do prazo de entrega dos trabalhos, por parte dos

docentes-formadores D1 e D3. Tais saberes ficam evidentes nas orientações de D1 e D3 aos

cursistas sobre o “espírito da wiki” relativas à colaboração pretendida entre os cursistas, e, em

última análise, trata-se da autoria, da cocriação característica da modalidade comunicacional

interativa.

Dado que a maioria dos grupos ainda não concluiu os seus wikis, prorrogaremos o prazo de finalização até o dia 10/12. Até agora consideramos que apenas um grupo finalizou a formatação. [...] Na maioria, os integrantes postaram suas contribuições, mas falta ainda alguém dar “aquela arrumada” (edição e formatação final), de forma a ficar um texto mais redondo. Um wiki não é a reunião desarticulada de várias contribuições, mas um texto que precisa ser editado, modificado, recortado, costurado a partir das contribuições de todos. Por isso não fiquem com vergonha de reeditar e aprimorar o que os colegas escreveram. O espírito do wiki é justamente esse! Também sugerimos acrescentarem imagens ou links aos textos, para adicionar hipertextualidade.

Silva (2010) afirma que a disponibilização consciente de uma montagem de conexões

em rede permite múltiplas ocorrências, ou seja, será através da utilização de diferentes

suportes e linguagens midiáticos (texto, som, vídeo, computador, internet) em mixagens e em

multimídia, a garantia de um território de expressão e aprendizagem labiríntico, porém de

fácil navegação, e permitirá que o aprendiz conduza suas explorações. O que ocorreu é que,

112

em todas as “aulas”, foi na utilização em larga escala do livro hipertextual que os conteúdos

foram disponibilizados em forma de textos pdf, figuras, vídeos, etc. A Figura 42, a seguir, traz

um desses livros criados por EP1 e EP2, que compuseram a equipe pedagógica do curso, para

garantir um território de aprendizagem a ser explorado.

Figura 42: O livro hipertextual

A fim de compreender como os docentes utilizaram as potencialidades

comunicacionais do AVA como provocadores de situações inquietadoras para a participação

criativa, enfrentamento em público respeitando a pluralidade de ideias e consequente

ressignificação de conceitos e procedimentos, além de mobilizar a experiência do

conhecimento, mostraremos a seguir uma sequência de slides retirados do livro hipertextual

arquitetado colaborativamente com o uso das tecnologias digitais. E, ainda, a construção e

utilização destes recursos evidenciam os saberes didáticos que compreendem os saberes do

desenho didático, da mediação e da avaliação. No caso do saber da avaliação destacam-se a

avaliação diagnóstica, a mediadora e a heteroavaliação (RODRIGUES, 2009). Como pode ser

observado na Figura 43 a seguir.

113

Figura 43: A avaliação

A seguir, encontramos a Figura 44, da Introdução do livro, que traz a motivação ao

estudo, leituras e elementos sugestivos para o debate e aprendizagem sobre a urgência da

formação de professores para a docência online.

Figura 44: A motivação

A tela seguinte, Figura 45, traz os críticos da pedagogia da transmissão. Nessa etapa

os cursistas têm contato com os principais críticos do modelo comunicacional transmissivo

secularmente praticado e arraigado na escola. Destacam-se os saberes epistemológicos

relativos à modalidade comunicacional transmissiva baseada no falar-ditar do mestre.

114

Figura 45: A pedagogia da transmissão

Assim, a aprendizagem, baseada na dinâmica interativa, foi mais intuitiva,

multissensorial, e permitiu aos cursistas a experimentação e a participação. Os cursistas

manipularam os conteúdos de aprendizagem como pontos de partida e não como pontos de

chegada. Por meio de associações e conexões, de forma não linear, eles não só transitaram por

conteúdos, mas puderam transformar, ressignificar esses conteúdos. A Figura 46, a seguir,

traz a página de abertura do tema “interatividade” apresentada no livro hipertextual e sugere

uma rede de conexões entre computadores interconectados.

Figura 46: A interatividade

115

A utilização de vídeos foi outra estratégia comunicacional utilizada no curso. Ela

conjuga os saberes tecnológicos, didáticos e epistemológicos. A Figura 47 traz a distinção

entre nativo digital e imigrante digital:

Figura 47: Perfil dos nossos alunos

Outra estratégia provocadora utilizada por EP1 e EP2, para potencializar a interação e

colaboração entre os aprendizes, foi o estudo de caso. A proposta do fórum “professor Wilson

Rufino” é um case e visou a promover ocasiões que despertassem a coragem do enfretamento

em público diante de situações que provocassem reações individuais e em grupos; e, ao

mesmo tempo, a respeitar a diversidade plural das ideias; incentivar a participação dos

estudantes na resolução de problemas apresentados de forma autônoma e cooperativa,

problemas também voltados para o desenvolvimento de competências que possibilitassem ao

aprendiz ressignificar conceitos e procedimentos. Tal proposta ocorreu na Aula 2, cuja

mensagem inicial é apresentada a seguir:

Olá, pessoal! Neste fórum, você está convidado a conhecer e se posicionar sobre o case seguinte: O professor [...] Wilson Rufino ministra suas aulas a distância no Projeto e-Tec Brasil. Ele tem sido muito bem avaliado pelos alunos por sua performance como docente. Exatamente por isso recebeu a incumbência do seu diretor, [...] de compartilhar suas estratégias bem-sucedidas com seus colegas docentes que manifestavam insegurança na docência online [...]. Wilson Rufino promoveu encontros presenciais de formação dos colegas professores no laboratório de informática. Ele os convidou a operar e a interagir com o ambiente online de aprendizagem adotado por e-Tec Brasil. Todos e todas deveriam explorar as potencialidades desse ambiente para a docência e para a aprendizagem.

116

Após apresentar o case, EP1 e EP2 sugerem aos cursistas elaborar um texto a

partir de questionamentos acerca do aprendizado conquistado pelos professores; os

benefícios que a experimentação do Moodle proporcionou aos professores inseguros em

relação à docência por meio da internet. Ao mesmo tempo, sugerem a exploração do

AVA do curso, a fim de justificar a proposta do “professor Wilson Rufino”. Dessa forma,

simultaneamente, os cursistas reconheciam as diversas interfaces do Moodle e

procuravam apreender as potencialidades comunicacionais delas, em sintonia com a

modalidade comunicacional interativa norteadora da proposta pedagógica do curso em

questão, locus desta pesquisa.

Faça você também sua exploração em nosso ambiente Moodle e procure justificar a proposta do professor Wilson Rufino que se revelou bem-sucedida no engajamento dos professores na docência online. Que aprendizado os professores terão conquistado? Que benefícios a experimentação de tal ambiente pode ter proporcionado aos professores inseguros em relação à docência por meio da internet? Elabore um pequeno texto com suas conclusões e compartilhe-o aqui no fórum com seus colegas de turma online. Atenção! Você pode incluir aqui suas sínteses e fragmentos postados em seu portfólio pessoal. Vamos compartilhar e fazer interatividade!

De acordo com o que foi tratado no referencial teórico, uma das características do

saber docente refere-se à multiplicidade de sua origem. Assim, “pode-se definir o saber

docente como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes

oriundos da formação profissional, e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais”

(TARDIF, 2009, p. 36). Ainda que não seja condição necessária e suficiente para atuar na

educação online, todos os docentes-formadores e membros da equipe pedagógica envolvidos

no Curso de Formação de Professores para a Docência Online têm formação inicial e/ou

continuada para atuar na modalidade educação a distância, o que favoreceu em larga medida a

utilização das interfaces do AVA. O case do fórum “Wilson Rufino” promoveu e despertou a

coragem do enfrentamento em público, uma vez que os cursistas foram convidados a

conhecer e se posicionar sobre o “sucesso” do professor Wilson Rufino e as estratégias por

ele adotadas para vencer a resistência e insegurança de professores do programa e-Tec Brasil

em relação à docência online, conforme o case construído e apresentado anteriormente.

4.2 O desenho didático construído e o uso das tecnologias digitais online

117

Neste item investigaremos como o desenho didático do curso e o uso das tecnologias

digitais contribuíram para corroborar a modalidade comunicacional interativa utilizada na

mediação docente estabelecida no curso em questão. Para mobilizar articulação entre os

diversos campos do conhecimento que estimule a prática da modalidade comunicacional

interativa, é preciso construir um desenho didático em sintonia com a interatividade, o

hipertexto, a cibercultura e a própria lógica da web 2.0. Assim, o desenho didático de curso

online ganha destaque. Ele deve fazer proposições e usar de diversas interfaces em AVAs

para a cocriação da comunicação e da aprendizagem em sua sala de aula online. Para Santos e

Silva (2009, p. 274), essas proposições e interfaces deverão “favorecer bidirecionalidade,

sentimento de pertença, trocas, crítica e autocrítica, discussões temáticas, elaboração

colaborativa, exploração, experimentação, simulação e descoberta”. Trata-se da construção de

um desenho didático que potencialize um espaço próprio para a formação de sujeitos

participativos e autônomos, onde não cabe mais o professor transmissor de informações, mas

um arquiteto de percursos, um negociador de significados e diferenças (ARAÚJO, 2007). Em

outras palavras, um desenho didático favorável à prática educativa sintonizada com o espírito

do nosso tempo sociotécnico e com a formação cidadã, e que assegure e favoreça a expressão

do diálogo, do compartilhamento e da autoria criativa e colaborativa.

Nesse sentido, pudemos constatar no locus desta pesquisa uma arquitetura pedagógica

em consonância com a modalidade comunicacional interativa e mobilizadora de ações

concretas em favor da expressão livre e plural em ambientes de docência e aprendizagem

colaborativas. Tal arquitetura propiciou oportunidades de múltiplas expressões e

experimentações; disponibilizada em rede de conexões, permitiu múltiplas ocorrências e

situações de inquietação mobilizando a experiência do conhecimento. Assim, o uso potencial

das diversas interfaces do curso favoreceu a participação autônoma e criativa dos docentes-

cursistas, como se pode constatar na transcrição das orientações do fórum “As tecnologias na

Educação, a EaD, a Educação online e a BMW vermelha”.

Ao considerarmos a Educação a Distância como educação midiatizada pelas tecnologias, convidamos vocês a debaterem sobre a EAD no Brasil a partir da nossa entrevista publicada pela revista Paidéi@, da sua experiência com a modalidade e do vídeo “BMW vermelho”. Assista ao vídeo “BMW vermelho” e registre neste fórum de discussão sua reflexão sobre a integração das tecnologias em nosso cotidiano e na EaD e debata com seus colegas e docente: Será que estamos reproduzindo na educação midiatizada por tecnologias o caso da BMW vermelha? Como fazer a atividade? Leia a entrevista indicada e destaque pontos importantes que mais chamaram a sua atenção. Acesse o site Porta curtas no endereço: www.portacurtas.com.br/pop_160.asp?Cod=180&Exib=2575

118

O que se viu, a partir da leitura da entrevista sugerida e do vídeo, foram manifestações

dos cursistas acerca da precariedade no uso das tecnologias em cursos de EaD e educação

online no Brasil. Mas, para além de participações dos cursistas que relataram a exclusão

digital presente em nosso país, ressalta-se que houve a comunicação entre formadores e

cursistas, de acordo com a proposta de modalidade comunicacional interativa que norteou a

configuração pedagógica do curso, como podemos observar adiante.

Tabela 10: Fórum – A comunicação

Re: As Tecnologias na Educação, a EAD, a Educação Online e a BMW vermelha.

Por XXXXXXX- domingo, 6 setembro 2009, 18:04

Concordo plenamente com os colegas quando relatam que não basta ter ferramentas e/

ou bens de última geração se não se tem o conhecimento, a técnica, preparo necessário e outras atribuições para sua utilização e manipulação [...] Acredito que esse vídeo se encaixa um pouco em nossa prática docente diária....isto é, se não nos especializarmos e não nos qualificarmos frequentemente também não saberemos usar as armas e ferramentas que nos serão disponibilizadas inclusive com a realidade e vida individual de cada um de nossos alunos....sua história....seremos mais um reprodutor de conhecimento e não saberemos usar um pouco da prática do Parangolé.......uma boa reflexão a todos nós....

A cursista Valeska não concordou com a atitude do personagem no vídeo, que vendeu

sua casa para morar na BMW vermelha, o que, do ponto de vista dela, se tratava de falta de

empenho, responsabilidade, força de vontade, entre outras atitudes da personagem.

Entretanto, a cursista Ana Terezinha teve outro ponto de vista, julgando tal atitude como falta

de discernimento do personagem, conforme tabela a seguir.

Tabela 11: Fórum – A comunicação 2

Re: As Tecnologias na Educação, a EAD, a Educação Online e a BMW vermelha.

Por XXXXXXX- quarta, 9 setembro 2009, 13:35

Oi, Valeska! Não acho que a atitude do personagem da BMW tem causa na falta de responsabilidade, mas sim na falta de discernimento mesmo. Ele não tem (e muitos outros também!) o mesmo entendimento que nós temos, graças à instrução que recebemos, por isso não consegue perceber qual a providência racional deve tomar. Um abç, Ana T.

O que se vê neste momento e em vários outros episódios do curso é que seu desenho

didático permitiu a pluralidade de opiniões, bem como a tolerância entre os cursistas.

119

Destacam-se também a participação de Valeska e José e a intervenção do formador D1 no

diálogo estabelecido entre esses cursistas.

Valeska chamou atenção para a necessidade de capacitação para uso das tecnologias e José para a consideração do fator humano, sobretudo das condições socioeconômicas e culturais dos docentes e discentes. Esses dois aspectos são fundamentais no desenho de um programa. Quais serão os elementos do perfil dos docentes e dos discentes que favorecem o ensino e a aprendizagem online? O domínio relativo das tecnologias é um aspecto. Mas e quanto aos outros? O que vocês pensam a respeito?

A provocação em forma de perguntas feita por D1 fomentou longas discussões durante

este fórum sobre o perfil de docentes e discentes e suas implicações na construção do desenho

didático de cursos online e na prática pedagógica.

Para Santos e Silva (2009, p. 275), construir a prática pedagógica para a educação

online é em primeiro lugar pensar um “desenho didático interativo como arquitetura que

envolve o planejamento, a produção e a operatividade de conteúdos e de situações de

aprendizagem, que estruturam processos de construção do conhecimento na sala de aula

online”. Nesse sentido, Araújo (2007) afirma que a definição de estratégias para o desenho

didático de cursos online deve ser baseada em teorias educacionais consolidadas e que tais

teorias apontam para algumas etapas do processo de desenvolvimento, que são: a análise, o

design, o desenvolvimento e implantação, e a avaliação e revisão. A fase de análise feita por

parte da equipe pedagógica neste curso foi marcada por um questionário aplicado nos dias 30

e 31 de agosto de 2009, já apresentado no Capítulo 3 deste trabalho, e procurou levantar o

perfil e expectativas dos cursistas, as necessidades de aprendizagem e definição dos objetivos.

A seguir a fase do design, onde é feito o planejamento, ou seja, as definições da equipe, dos

conteúdos, das estratégias pedagógicas e tecnológicas e do cronograma de execução, bem

como os critérios de avaliação estiveram presentes no período de ambientação do curso e

permitiu que todos opinassem corroborando a modalidade comunicacional interativa.

Concomitante com a semana de ambientação, a equipe pedagógica tratou de selecionar,

desenvolver e implantar o material pedagógico, instalando e configurando o ambiente virtual

Moodle e-Tec Brasil, utilizado a partir da escolha de mídias e o processo de gestão do curso.

Finalmente, na fase da avaliação, o processo avaliativo da aprendizagem foi processual e

ocorreu a partir da construção de portfólios individuais e coletivos de acordo com uma

filosofia educacional, uma concepção teórico-metodológica de ensino e de aprendizagem, que

buscou verificar em que nível os objetivos propostos foram alcançados, constatar progressos e

dificuldades e reorientar o trabalho ou propor novas ações.

120

Santos e Silva (2009, p. 276) afirmam que antecede a criação dos conteúdos e das

situações de aprendizagem a serem disponibilizados nas interfaces a necessidade de atentar

para algumas questões de planejamento. Tais questões se referem: ao contexto sócio-histórico

e cultural dos cursistas e às competências a serem mobilizadas, o que foi levantado a partir do

questionário citado anteriormente. A infraestrutura tecnológica de que dispunham os docentes

e os cursistas foi oferecida pelo MEC e atendia basicamente ao curso; os profissionais

agregados ao projeto do curso de extensão, também citados no Capítulo 3 desta pesquisa,

atendiam plenamente às necessidades e expectativas dos cursistas. A estruturação dos

conteúdos, os objetos e as situações de aprendizagem ocorreram de forma hipertextual.

Observou-se ainda a conciliação de situações de aprendizagem individual (autoestudo) com

situações de aprendizagem interativa (aprendizagem colaborativa). Os indicadores utilizados

para avaliar a aprendizagem a partir das participações nas interfaces do AVA estavam de

acordo com a proposta pedagógica do curso e em sintonia com a modalidade comunicacional

interativa, bem como as interfaces de conteúdos e de comunicação utilizadas em cada unidade

do curso.

Assim compreendido, o desenho didático praticado no curso em questão pela equipe

pedagógica, docentes e cursistas transformou-se em um campo de possibilidades para a

construção do conhecimento. Estruturado como hipertexto, permitiu que os cursistas tecessem

sua autoria operando em vários percursos e leituras através dos links. Observou-se ainda que,

através do hipertexto construído no curso e da convergência de várias mídias, foi possível

percorrer caminhos que levaram a espaços e conteúdos não mais presos à linearidade das

páginas de um livro.

Destaca-se ainda a reconstrução do desenho didático em função de restrições

orçamentárias por parte do MEC, sem prejuízo da qualidade do curso, persistindo uma

interação ativa entre formadores e cursistas e formadores e equipe pedagógica. Com objetivo

de baixar custos, a solução encontrada por formadores e equipe pedagógica foi a reunião de

duas turmas em uma. Ainda que houvesse constrangimentos entre os formadores na escolha

das duplas, na divisão dos recursos financeiros, o que se observou foi uma adaptação rápida e

sem maiores transtornos, como pode ser constatado na mensagem enviada no AVA aos

cursistas, e que em momento nenhum ficou transparente para estes os verdadeiros motivos

para tais mudanças.

121

Tabela 12: Fórum 4

Fórum "boas-vindas" parte 2: quem são os novos colegas e docentes online?

Por xxxxxxxx - segunda, 26 outubro 2009, 18:35

Olá pessoal!

Com o objetivo de turbinar nossa participação discente, docente e a nossa aprendizagem online optamos pela junção de duas turmas (com seus respectivos docentes) numa mesma sala de aula online a partir dessa unidade. Agora temos mais colegas cursistas e mais docentes para mediar a aprendizagem em nossa sala de aula. Vamos nos conhecer um pouco mais? Vamos receber e acolher novos colegas! Propomos como dinâmica online que cada um e cada uma busque um jeito criativo de se apresentar. Fale de você, do que você aprendeu até agora e do que gostaria de aprender a partir desta nova unidade. Compartilhe com os colegas e docentes novos e antigos algum (objeto de aprendizagem- extrato digitalizado de texto, som, imagem, gráfico) que revele um pouco a sua personalidade e seu jeito de ser e de acontecer neste mundo. Coordenação Pedagógica

A partir da reunião e do convite à apresentação criativa de cada cursista da nova

turma, pode-se observar nas diversas mensagens a utilização de imagens sugestivas de

acolhimento e de aproximação, um saber necessário nessa modalidade de educação em que

prevalece a distância geográfica e temporal entre os estudantes. Ao mesmo tempo, a

informação da professora-cursista Elisângela, que iria ministrar a disciplina metodologia da

pesquisa na “modalidade online” no âmbito do programa e-Tec Brasil, é reveladora de que os

objetivos do curso de formação de professores para docência online, campo desta pesquisa,

estavam sendo alcançados. Os professores que atuavam no programa e-Tec Brasil se sentiam

melhor preparados para enfrentar os desafios das transposições didáticas, erro recorrente em

várias instituições onde prevalecia a subutilização do AVA, mais como repositório de

informações, a distribuição de material didático impresso para o autoestudo. Em última

instância, pode-se dizer que estavam melhor preparados para elaborar desenho didático dos

cursos que iriam ministrar de acordo com os saberes gerais elencados como objetivos do

curso de formação de professores do qual participaram. Ou seja, os professores-cursistas, ao

término do curso, reuniam habilidades para utilizar tecnologias digitais online como

potencializadoras da docência e da aprendizagem na educação profissional e de construírem

projetos educacionais para ambientes online de aprendizagem a partir do desenho

didático interativo, da utilização de interfaces de comunicação, de conteúdos multimídia e de

objetos de aprendizagem. A tabela a seguir, extraída do locus da pesquisa, pode corroborar

essa percepção.

122

Tabela 13: Fórum 5

Re: Fórum "boas-vindas" parte 2: quem são os novos colegas e docentes online?

Por xxxxxx- sábado, 7 novembro 2009, 13:09

Olá a todos os novos colegas da Turma 4

É um prazer fazer parte deste novo grupo

(turmas 4 e 6)!!!!

Meu nome é Elisângela, sou professora de Metodologia da Pesquisa nos cursos técnicos, superiores e na pós-graduação Lato Sensu do IF Sul de Minas – Campus Muzambinho. A partir do próximo ano terei o prazer de lecionar esta disciplina, também, na modalidade Online, no curso Técnico em Informática do programa e-Tec Brasil.

Para finalizar este item, o que se viu, portanto, foi a transformação do papel do professor

tradicional transmissor de informações. A partir do desenho didático construído como uma

rede de possibilidades de navegação durante o curso. Apenas foi definido um conjunto de

territórios a explorar, enquanto a aprendizagem se deu na exploração realizada nestes

territórios pelos cursistas. Assim, a autoria da aprendizagem compartilhada entre os atores

deste curso alcançou outro sentido diferente daquela autoria da aprendizagem adquirida a

partir da exposição e transmissão de conteúdos que o professor detém. Os formadores, em

conjunto com a equipe pedagógica, foram mais provocadores de conhecimentos,

formuladores de problemas, proponentes de situações inquietadoras, arquitetos de percursos,

mobilizadores das inteligências múltiplas e coletivas na produção de conhecimentos. Já os

cursistas agiram criando, modificando, aumentando e se tornaram coautores da aprendizagem

e do seu próprio curso. Portanto, o que se percebeu foi a mudança dos papéis de professores e

alunos tradicionais para formadores e cursistas atentos à lógica da comunicação interativa

emergente no século XXI e em sintonia com a pedagogia da problematização ou da

interatividade.

4.3 As correlações entre as estratégias comunicacionais da mediação docente utilizadas e a

participação e a colaboração dos aprendizes

123

De início, neste item, é preciso tecer algumas considerações sobre a utilização de

informações quantitativas, na forma de gráficos e tabelas, e sobre o perfil dos professores-

cursistas que participaram da referida capacitação, locus desta pesquisa. Ainda que se trate de

uma investigação qualitativa, por vezes é necessário lançar mão de informações quantitativas

esclarecedoras da investigação. Assim, o que se deseja neste item é a investigação das

correlações entre as estratégias comunicacionais da mediação docente utilizadas no curso e a

participação e colaboração dos aprendizes, a partir das sugestões de interatividade feitas aos

docentes e na perspectiva da pesquisa qualitativa com enfoque sócio-histórico. Como ocorreu

no capítulo anterior deste trabalho, neste serão apresentados gráficos a fim de permitir a

compreensão pretendida nesta investigação. Buscar-se-á abranger tal correlação entre a

participação do docente-formador e a participação do docente-cursista nas diversas aulas e

turmas do curso.

Em relação à utilização de métodos estatísticos em pesquisas qualitativas, Bogdan e

Biklen (1994, p. 16) comentam que, na pesquisa qualitativa com enfoque sócio-histórico, não

se investiga em razão de resultados, o que se quer obter é a compreensão dos comportamentos

a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação, correlacionada ao contexto do qual fazem

parte. Assim, as questões formuladas para a pesquisa não são estabelecidas a partir da

operacionalização de variáveis, mas se orientam para a compreensão dos fenômenos em toda

a sua complexidade e em seu acontecer histórico (FREITAS, 2002). Nesse sentido, serão

transcritos alguns gráficos, apresentados no capítulo anterior, elucidativos da referida

complexidade e que envolve os objetivos desta pesquisa na sua totalidade. Resta ainda

discutir a imbricação entre tais objetivos específicos, o que certamente nos levará a citar

estratégias adotadas pelos formadores apresentadas anteriormente, não como mera repetição,

mas como parte integrante dos fenômenos a que se quer investigar.

Em relação ao perfil dos cursistas, nos dias 30 e 31 de agosto de 2009 ocorreu o

encontro presencial entre a equipe pedagógica e a equipe do referido curso de formação

docentes-cursistas. Por ocasião desse encontro, foram proferidas palestras sobre os seguintes

temas: formação dos professores do e-Tec para docência online; educar em nosso tempo;

sugestões de qualidade em educação online. A seguir foi realizada uma dinâmica de grupo

com os docentes-formadores e docentes-cursistas, quando se deu a aplicação de um

questionário com o objetivo de conhecer melhor os docentes-cursistas. A partir de tal

questionário se buscou levantar a função e idade de cada um no programa e-Tec Brasil e suas

experiências com o computador e ambiente virtual de aprendizagem Moodle. As respostas

124

dadas pelos professores-cursistas foram avaliadas e sistematizadas através de gráficos e

tabelas. A seguir reapresento alguns gráficos elucidativos sobre o perfil dos cursistas.

Em relação à idade, os professores-cursistas, na sua maioria, possuíam mais de 30

anos e, portanto, nasceram antes da década de 1980, o que os caracteriza como imigrantes

digitais, que exerciam a função de professores e gestores em mesmo percentual,

aproximadamente. Já quanto às suas experiências, cerca de 50 cursistas jamais lecionaram

disciplinas via internet, ou seja, não conheciam o AVA, suas interfaces, a construção de um

desenho didático em consonância com a modalidade comunicacional interativa, conforme

mostra o gráfico a seguir:

Gráfico 10: Idade, função exercida e experiência com docência online

Enquanto que os 70 cursistas com experiência no AVA indicaram que o fórum ainda é um dos

recursos que mais utilizam Moodle, o que revela a falta de conhecimento sobre as demais

interfaces do AVA e suas potencialiades para promover a comunicação interativa, própria da

cibercultura.

Assim, em relação ao perfil dos cursistas, podemos observar que, entre aqueles que

lecionam ou lecionaram disciplinas pela internet, conforme gráfico anterior, apenas 58%

possuíam alguma familiaridade com o AVA Moodle. Por outro lado, 42% dos cursistas,

apesar de já estarem atuando no programa e-Tec, jamais se utilizaram do AVA para

professorar online. Ora, neste caso era de se esperar um comportamento de apreensão e receio

diante destas tecnologias. O gráfico a seguir apresenta as expectativas dos cursistas em

relação ao curso em questão. Ele nos revela que cerca de 90 cursistas, em um universo de 130,

pretendiam adquirir conhecimentos sobre Moodle e/ou EaD, por não os possuírem ou o

fazerem precariamente.

125

Gráfico 11: Expectativas dos cursistas em relação ao curso

Portanto, o curso de formação de professores para docência online encontrou um

quadro adverso de imigrantes digitais, que, em sua maioria, desejavam conhecer melhor a

EaD. E que nada, ou quase nada, conheciam sobre os saberes docentes necessários para essa

modalidade de educação.

Considerando o exposto anteriormente, apresento a correlação entre as atividades

propostas pelo formador/equipe pedagógica e as participações dos cursistas nas aulas 1, 2 e 3

e, logo em seguida, as aulas 4, 5, 6 e 7 da nova turma, constituída pela reunião das turmas 4 e

6, conforme gráfico a seguir. Aproveito para esclarecer sobre a adoção dessas turmas como

recorte do campo de investigação, sem perder a generalidade necessária, uma vez que a

correlação nela apresentada resume o que ocorreu em outras turmas. A correlação encontrada

neste caso é de + 0,92, ou seja, correlação positiva e próxima de +1, o seu valor máximo.

126

Gráfico 12: Participações de cursistas e formadores

Esse valor próximo do máximo significa que maiores participações dos formadores

implicavam maiores participações dos cursistas, e, em mesma escala, menores participações

dos formadores, menores participações dos cursistas, o que revela o perfil reativo dos

cursistas. Ainda ao observar os fóruns e chats, principalmente, percebeu-se que as interações

entre os cursistas foram tímidas e sugeriram prevalecer, por parte dos cursistas, a lógica

transmissiva na qual foram formados inicialmente, o que pode ser constatado na fala dos

formadores D1 e D3 do curso: “Procuro incentivar a interação entre eles, mas neste curso as

participações em geral estão escassas. São poucos os cursistas que interagem entre si, mesmo

com as chamadas e incentivos”. Outra constatação foi o “silêncio virtual” dos cursistas. Ao

ser indagado sobre o “silêncio virtual”, que insistia em incomodar os formadores durante o

curso, o formador D1 afirma que: “Enviei e-mails diretos para os silenciosos e sumidos.

Coloquei mensagens jocosas no fórum, sem direcionar a ninguém em particular, mas

sinalizando quando o fórum está muito parado”. Em relação às mensagens jocosas, diante de

pouca participação efetiva dos cursistas no fórum “Wilson Rufino”, D1 postou a seguinte

mensagem destacada em vermelho: “Tô achando que este fórum tá muuuuitooo devagar,

sô!!!!” E para ilustrar seu estado de espírito, acrescentou a imagem a seguir:

127

Figura 48: Andamento do fórum

(Foto acima: representação meramente ficcional do andamento do fórum até o momento)

O resultado foi maior participação dos cursistas ausentes e a interatividade entre todos.

Entretanto os gráficos anteriores revelam grande variação das participações entre as aulas,

variação recorrente em todas as turmas. Outros formadores relataram sua apreensão com a

ausência dos cursistas em determinados momentos do curso: “Percebi as ausências das

participações nos fóruns de discussão, nos chats e nas atividades propostas, acompanhando a

entrada no ambiente através do recurso do Moodle chamado ‘Estatísticas’”. O AVA permite

controle sintético dos acessos, que em alguns casos é pouco esclarecedor qualitativamente.

O gráfico de barras relativo às participações de cursistas e formadores, apresentado

anteriormente, mostra uma grande variação nas participações dos cursistas durante a aula 4.

As restrições orçamentárias, advindas da SEED/MEC, determinaram o agrupamento das

turmas duas a duas. A partir desse momento, os professores-formadores passaram a trabalhar

em duplas. Tal fato ocorreu no período de 26 de outubro a 8 de novembro de 2009 e o tema

da aula foi “A educação presencial e no online: diferenças e transposições”, que teve como

objetivos: contrastar educação presencial e educação online; discutir a possibilidade de

transposição entre as modalidades presencial e online de estratégias docentes, de estratégias

de aprendizagem e de estratégias de comunicação; definir qualidade em educação online a

partir de comparações e transposições entre as modalidades presencial e online.

Ainda que inicialmente o agrupamento das turmas tenha ocorrido por questões

orçamentárias, aos cursistas foi apresentado como estratégia para aumentar as participações.

A apresentação do fórum dessa aula foi inédita e trouxe mudanças. A partir deste momento,

mudaram as estratégias de avaliação da formação em curso. A mudança ocorreu na

construção do portfólio, que era por aula e passou a ser por unidade, não descaracterizando a

avaliação processual, mas reduzindo, antes de tudo, a quantidade de tarefas a serem realizadas

128

pelos cursistas, que, como já dito, se encontravam assoberbados de trabalho. Em atenção a

essa sobrecarga, a densidade dos conteúdos parece ter sido diluída na forma de leituras

complementares. Para caracterizar tais mudanças, a seguir temos a transcrição parcial deste

fórum.

Com o objetivo de turbinar nossa participação discente, docente e a nossa aprendizagem online, optamos pela junção de duas turmas (com seus respectivos docentes), numa mesma sala de aula online, a partir desta unidade 2. Agora temos mais colegas cursistas e mais docentes para mediar a aprendizagem em nossa sala de aula. Vamos nos conhecer um pouco mais? Para tanto, acessem o fórum de discussão "Boas-vindas parte 2". Leiam e estudem o livro hipertextual da aula 4. Ao longo dos conteúdos do livro, registrem suas descobertas e reflexões em seu portfólio individual. [...]. Nesta unidade não teremos mais o portfólio por aula. Avaliamos que será mais produtivo termos um único portfólio por unidade. Além do livro hipertextual, sempre disponibilizamos um artigo científico para complementar a densidade das nossas discussões. [...]. Participem do fórum de discussão da unidade e também dos nossos encontros síncronos via chat. [...]. Por enquanto, vamos entender a nova dinâmica da unidade 2 e os desafios específicos da aula 4. Coordenação Pedagógica.

A esse fórum compareceram 20 dos 27 cursistas da turma 4/6, totalizando 112

mensagens, o que o tornou um dos fóruns mais habitados, considerando-se todas as turmas.

Pareceu que o problema da transposição de expedientes do presencial para o online era

recorrente nos diversos cursos do programa e-Tec Brasil, o que angustiar os coordenadores de

curso. O convite aos cursistas em relatar suas experiências na educação online foi outra

estratégia eficaz, e emergiram nesse fórum contribuições e reflexões acerca das práticas na

EaD e em particular na educação online. Tais reflexões contribuíram significativamente para

construção do conhecimento sobre o tema interatividade e de situações de enfrentamento dos

desafios relativos às transposições recorrentes no âmbito do e-Tec Brasil e em outros

programas em EaD do governo federal.

Ainda em relação ao fórum de discussão “Presencial e online: distinções e

transposições”, os formadores D1 e D3 e cursistas dele participaram ativamente,

contabilizando 112 mensagens conforme tabela a seguir:

129

Tabela 14: Relação de discussão presencial e online

Autor Número de mensagens Percentual

D1/D3 35 31%

Cursistas 77 69%

Outra estratégia exitosa adotada por alguns formadores, profundamente relacionada

com o perfil de incluídos digitais dos cursistas e com a sobrecarga de trabalho naquele

momento, foi a de transformar a “obra aberta” proposta até então pela equipe pedagógica em

tarefas mais específicas. Os formadores buscaram direcionar o trabalho dos cursistas e

propuseram a atividade em duas partes. Na primeira o cursista deveria trazer para o fórum

alguma experiência relativa ao planejamento de um curso online em que ocorreu a

conversão/transposição/adaptação a partir de uma experiência do presencial. Na segunda o

cursista deveria comentar o relato do colega de curso. Para D1, trata-se de uma estratégia que

pode auxiliar a criar um clima/dinâmica de interatividade: “Costumo utilizar a estratégia que

chamo de fade-in (em analogia às imagens que vão se tornando progressivamente mais

difusas até desaparecer completamente)”. Segundo D1 a estratégia consiste no seguinte:

Se eu percebo que, pelo perfil, a turma é avessa à interação e pouco participa dos fóruns, procuro iniciar os cursos com atividades bastante mais estruturadas, isto é, dizendo claramente aos alunos o que eu espero que eles façam em cada tarefa. E geralmente as primeiras tarefas são do tipo "vapt-vupt", professor pergunta–aluno responde. A interação é basicamente reativa, bidirecional professor-->aluno-->professor. Eu procuro incentivar bastante e comentar as contribuições dos alunos assim que respondem. Também procuro tecer relações e comentários coletivos. É fundamental nessa hora que o professor dê feedbacks rápidos, específicos e direcionados a cada aluno (ou grupo de alunos).

O processo fade-in continua: “depois disso, eu passo a propor tarefas, ainda bem

específicas, em que os aprendizes têm de postar contribuições e também comentar as de um

ou de dois outros colegas”. A intenção, segundo D1, é “estimular uma interação aluno-->

aluno ainda básica, bastante reativa”. Simultaneamente D1 afirma que “durante os fóruns eu

procuro incentivar para que essa interação vá além e comece a ser recursiva, isto é aluno 1 -->

aluno 2 ---> aluno 1 através de perguntas provocadoras para o aluno 2 e para o aluno 1”.

Assim, segundo D1, “na medida em que a turma passa a interagir de forma mais espontânea e

proativa, passo a ficar mais quieto, observando e fazendo comentários mais pontuais aqui ou

ali, apenas para incentivar a interação”. Finalizando o processo fade-in, D1 afirma:

130

Quando a turma alcança um nível alto de interatividade, já não é necessário definir tarefas tão estruturadas. Basta lançar temas para discussão que a coisa flui. Mas nem toda a turma chega nesse ponto e isso vai depender do ritmo do curso, da duração etc. Bem. Isso é o que eu chamo da técnica do fade-in.

Outro desafio enfrentado no curso foi a evasão. A evasão na educação a distância é

problema recorrente e se fez presente no curso. Inúmeras ações foram realizadas pela equipe

pedagógica e formadora, a fim de resgatar os alunos ausentes do AVA. Destaca-se entre elas a

operação denominada “O resgate do soldado Ryan”, uma alusão ao homônimo filme de ação

dirigido por Steven Spielberg. Exitosa, tal operação contou com a participação efetiva dos

formadores e se constituiu de convites através dos e-mails pessoais dos cursistas, objetivando

seu retorno à sala de aula virtual do curso. O resultado foi o retorno dos cursistas ao ambiente,

maior participação e interatividade.

Mais um desafio enfrentado no curso foi o já referido “silêncio virtual”, caracterizado

pelas visualizações e possíveis leituras apontadas pelas entradas (logs) dos cursistas no AVA

que não se concretizaram em participações efetivas. O Moodle faz o registro dos acessos

(logins/entradas) de todos que habitam o ambiente. Nesse registro, é possível verificar o local

(fórum, chat, etc.), a data em que ocorreu o acesso, o IP do computador, o tempo transcorrido,

se foi participação, visualização e leitura. Os dados coletados no locus da pesquisa de todas as

turmas referentes às ações dos cursistas e atividades propostas pelos formadores foram

divididos em quatro grupos: Participação, Visualização, Chat e Leituras. O total de ações em

cada grupo foi dividido pelos respectivos números de atividades propostas, conforme tabela a

seguir:

Tabela 15: Atividades propostas pelos formadores

Participação Visualização Chat Leituras

Ações dos cursistas 1.031 8.330 134 9.098

Atividades propostas formadores 140 140 30 90

Ações / Atividades 7,3 59,5 4,5 101

As atividades propostas nas dez turmas reunidas duas a duas, que permitiam a

participação, visualização e leituras dos cursistas, foram computadas contando os mais

diversos fóruns propostos, inclusive o portfólio, que utilizou a interface de fórum. Em média

131

por grupos de duas turmas, foram propostos 14 fóruns gerais e para “atividades de

aprendizagem”, quatro portfólios, oito fóruns para “agenda e orientações gerais”, dois fóruns

sociais do tipo “café com bobagem”, totalizando 28 fóruns por grupo de duas turmas. Como

foram cinco grupos de duas turmas, temos um total de 140 fóruns. Em relação aos chats,

ocorreram, em média, seis chats por grupo de duas turmas, totalizando 30 chats. Para as

leituras, foram computados os textos, livros e vídeos, e foram contabilizadas, em um grupo de

duas turmas, 18 propostas, para cinco grupos de duas turmas, totalizando 90 possibilidades de

leitura.

Em relação às “Ações dos cursistas”, vê-se no gráfico a seguir que prevaleceu a leitura

e visualizações totalizadas em 94%, o que explica o percentual de 5% de participações

efetivas.

Gráfico 13: Ações dos cursistas

Porém em relação às “atividades propostas por formadores”, vê-se que 35% das atividades

sugeriam a participação do cursista, o que de fato não aconteceu, conforme gráfico anterior.

132

Gráfico 14: Atividades propostas formadores

A relação entre as ações dos cursistas e atividades propostas pode ser observada pelo

gráfico a seguir. Merecem destaque as leituras de textos, livros e vídeos com forte percentual

de 59%, ou seja, leituras sugeridas resultaram em leituras realizadas. Observa-se, no entanto,

que as sugestões de participações em fóruns e chats não produziram o efeito esperado,

resultando tais sugestões em apenas 7% de participações.

Gráfico 15: Ações por atividade

Assim, a atividade mais realizada pelos cursistas foi a leitura, com um total de 9.098

entradas. A eles (os cursistas) foram propostas 90 leituras diferentes e a razão entre essas duas

grandezas produziu um índice de 101 leituras realizadas por leitura proposta. Ora, como o

133

universo de cursistas foi de aproximadamente 11024 e foram realizadas 101 leituras em média,

isso significa menos de uma leitura por cursista. Destacam-se também as 8.330 visualizações

dos cursistas nas diversas interfaces do AVA. Visualizações entendidas como entrar no

Moodle e somente olhar um ou mais, dos 140 fóruns gerais, de aprendizagem, sociais, de

orientações gerais e portfólios propostos. A seguir foram 1.031 participações efetivas nas 140

atividades propostas e, finalmente, nos 30 chats de todo o curso, ocorreram 134 participações

efetivas.

Outro aspecto que contribuiu para pouca participação dos cursistas foi o excesso de

atividades em suas instituições de origem. Enquanto política pública, a formação continuada e

em serviço dos docentes das instituições ofertantes de cursos técnicos na modalidade EaD

deveria ocorrer simultaneamente com a execução do programa, um equívoco. O que ocorreu é

que, simultaneamente, os docentes atuavam em três frentes: suas atividades na modalidade

presencial; dedicavam-se ao curso, locus desta pesquisa; além dos afazeres relacionados aos

cursos já iniciados no âmbito do programa e-Tec Brasil, uma vez que, nas várias instituições,

já haviam começado os cursos sem a formação adequada para gestão e docência online. A

consequência do acumulo de trabalho foi a falta de tempo para dedicar-se às leituras e

participação nas diversas interfaces do AVA. Sobre essa condição de formação continuada em

serviço, Gatti (2008, p. 68) nos alerta:

Parece-nos que melhorar substantivamente, com insumos adequados e inovações, a formação básica dos professores para todos os níveis e modalidades seria uma política mais condizente para a melhor qualificação dos trabalhadores nas redes de ensino, e para propiciar aos alunos dessas redes os conhecimentos importantes para sua realização pessoal e no trabalho e sua contribuição para uma coletividade mais integrada.

Portanto, ainda que se utilizassem as mais diferentes estratégias, neste momento do

curso as participações eram escassas e pouco adiantavam os esforços da coordenação

pedagógica e dos professores-formadores para potencializá-las.

Ainda que a utilização de várias mídias tenha a ver com o desenho didático do curso,

sua utilização, enquanto estratégia para potencializar a correlação entre a participação de

formadores e cursistas, pode ser comprovada. Referido na figura a seguir, o áudio25 do

professor W. Azevedo, com o título “Como ser um docente online” e cujo conteúdo aborda as

24 Foram inscritos 130 cursistas, porém 20 jamais acessaram ao AVA. Assim considera-se para efeito de cálculos

110 cursistas. 25 Fonte: http://www.aquifolium.biz/podcasts/estrategias/

134

estratégias para o ensino nessa modalidade, mobilizando comunidades virtuais para a

aprendizagem colaborativa, trouxe reflexões importantes acerca da construção coletiva do

conhecimento e produziu resultados significativos sobre os saberes necessários para a

docência online.

Figura 49: Como ser um docente online

O áudio fez parte do livro hipertextual da aula 4, que apresentou uma participação dos

cursistas acima da média em relação às demais. O fórum dessa aula trouxe o convite aos

cursistas a relatar suas experiências na educação online. Tal convite se constitui em outra

estratégia eficaz. Emergiram nesse fórum contribuições acerca das práticas na EaD e em

particular na educação online. A mensagem do cursista José Teodoro Coelho, destacada deste

fórum, contém uma reflexão interessante sobre o modelo de EaD que vem sendo praticado em

nosso país, centrado no docente, e é realidade nos cursos profissionalizantes na modalidade a

distância. Tal prática secular ocorre também no presencial e tem a ver com a transmissão de

conhecimentos. José Teodoro completa sua mensagem uma proposta de educação online em

consonância com a pedagogia da interatividade. Reproduzida a seguir, a proposta apresenta

traços dos indicadores de interatividade formulados por Silva (2010) e já discutidos neste

trabalho.

135

Tabela 16: Fórum 6

Re: Fórum de discussão: "presencial e online: distinções e transposições”

Por xxxxxx - quarta, 28 outubro 2009, 20:33

Bem pessoal, estive refletindo sobre como é difícil fazer um curso, online, que possa verdadeiramente incluir, sensibilizar e envolver um aluno... E que não cometa os erros abaixo:

Ser estruturado num modelo de ensino centrado no docente; o alunado tem que estudar um material elaborado pelo próprio docente ou pelo responsável pelo curso; o alunado ocupa a maior parte do tempo no estudo do material proposto pelo professor ou responsável pelo curso; a comunicação é controlada pelo docente ou pelo tutor que recebe a maior parte das mensagens e consultas; e que promova e incentive:

Uma proposta de aprendizagem aberta e o alunado podendo contribuir para melhorá-la, para adaptá-la a suas necessidades e estilos de aprendizagem.

Que as atividades de aprendizagem fomentem a discussão e colaboração do grupo; que seja requerida a participação ativa do alunado na sequência das atividades de aprendizagem; que os alunos participem ativamente do estabelecimento das regras de uso do ambiente virtual; que o alunado contribua com recursos de ensino e aprendizagem, não apenas para seu grupo de trabalho, mas para todos os participantes; que o alunado possa utilizar no processo de aprendizagem tanto os materiais propostos pelo curso como os trazidos por eles. E, finalmente que o processo de ensino contemple situações das quais todo o grupo de alunos participe, de atividades em pequeno grupo e de ações individuais.

Aí vale uma reflexão... Como está o nosso curso, no contexto apresentado no itens acima? O que temos feito e onde podemos melhorar discentes, docentes, conteúdo, método?

Assim como José Teodoro com sua mensagem, os demais cursistas contribuíram

significativamente com seus relatos, suas experiências, malsucedidas ou exitosas, e reflexões

sobre as suas e as práticas de outros cursistas que habitaram este fórum. O que se viu a partir

daí foram portfólios individuais generosos em conceitos, proposições de ações para

potencializar a interatividade, a colaboração nos cursos em que eles trabalham.

Ainda quanto à correlação entre as estratégias adotadas pelos formadores e a

participação dos cursistas, destacam-se a flexibilidade e a liberdade do desenho didático. Em

relação ao desenho didático aberto e flexível, D1 e D3, ao responderem a pergunta “quais as

características do desenho didático que mais contribuíram para sua mediação docente?”,

disseram: “creio que foi a liberdade para criar atividades a partir das propostas gerais

colocadas pelos autores”. Vê-se neste caso que o desenho didático construído no curso foi

flexível, contudo, permitindo ao formador redefini-lo sem prejuízo de suas características

mais gerais.

136

Finalizando o item 4.3 desta pesquisa que trata das correlações entre as estratégias

comunicacionais da mediação docente utilizadas e a participação e a colaboração dos

aprendizes, podemos afirmar que as estratégias adotadas pelos formadores para potencializar

as participações interativas dos cursistas foram bem-sucedidas, ainda que os formadores

tenham enfrentado várias dificuldades em relação aos cursistas, no que tange ao perfil de

imigrantes digitais, ao ranço transmissivo da formação inicial, à falta de conhecimento sobre

AVA e à sobrecarga de atividades em suas instituições de origem. Tal êxito se confirma pela

boa qualidade dos portfólios construídos, pelos relatos favoráveis daqueles que concluíram o

curso, mas também daqueles que em certo momento enveredaram por outros caminhos

diferentes dos propostos pela coordenação pedagógica para curso, não como um abandono,

mas fundamentalmente por já se sentirem preparados para intervir nas rotas que seguiam os

cursos do programa e-Tec Brasil em suas instituições. Este parece ser um problema crônico

da formação continuada e em serviço, já alertado por Gatti (2008).

137

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Num contexto de mudanças sociotécnicas e marcado pelo computador conectado em

rede online, que favorece novas relações sociais com o saber, a formação do professor que

atua em AVA é um dos eixos educacionais que vem passando por transformações e inspirou a

elaboração deste trabalho. A vivência de propostas de formação de professores nesse contexto

cresce cotidianamente e requer a construção de saberes em sintonia com a cibercultura, o que

aponta uma pauta emergente.

Neste estudo me propus a analisar os desafios comunicacionais da docência online no

ambiente virtual Moodle do MEC, onde ocorreu o curso de formação de professores para

docência online destinado a professores e gestores do programa e-Tec Brasil. Para responder

ao problema da pesquisa, apoiei-me em três objetivos específicos que orientaram essa

trajetória e se formalizaram nas reflexões sintetizadas a seguir.

A partir da primeira questão – levantar como docentes entendem as potencialidades

comunicacionais próprias do “ambiente virtual de aprendizagem” que utilizaram no curso –,

ficou evidente que, a partir da não linearidade, foi proposto um território a ser explorado, e, de

acordo com suas preferências, o cursista navegou através de links, habitando o ambiente de

aprendizagem como autor, coautor do conhecimento. Essa autoria se deu, ora a partir da

ressignificação de conceitos tácitos, ora através da formulação de novos conceitos. Em cada

turma foi possível observar a rede de colaboração que se estabeleceu entre os cursistas e

formadores, outra potencialidade do AVA. Destaca-se, neste contexto de possibilidades, a

modalidade comunicacional interativa. Em larga escala, os indicadores da interatividade

estiveram presentes no locus desta pesquisa, como a promoção de oportunidades de trabalho

em grupos colaborativos, a livre participação, o diálogo, a troca e articulação de experiências.

A utilização de diferentes suportes e linguagens midiáticos em mixagem online, um ambiente

de fácil navegação e flexível, que se reorganizava a partir das interferências dos atores que

dele se utilizavam. Em várias ocasiões, foram colocadas situações que despertaram a coragem

do enfrentamento, como o case do bem-sucedido professor Wilson Rufino, uma vez que

promoveu debates calorosos, para a reformulação de pontos de vista, conceitos e

procedimentos, e requereu dos cursistas a avaliação de sua atuação no programa e-Tec Brasil

como gestor ou professor. Assim, os docentes-formadores criaram situações em que

emergiram os saberes docentes a partir de sua experiência de vida e profissional. Essa

edificação de saberes, influenciada diretamente pelas dimensões temporal e social,

138

caracterizou-se pelas experiências dos professores, construídas em suas trajetórias pessoal,

familiar e profissional, através de suas relações sociais. Essas experiências interconectaram-se

e teceram uma rede que sustenta os saberes do docente que atua em ambientes virtuais.

A segunda questão, averiguar como o desenho didático construído e o uso das

tecnologias digitais online contribuíram para corroborar a modalidade comunicacional

interativa utilizada na mediação docente estabelecida no curso em questão. A arquitetura

colaborativa de percursos hipertextuais foi outra realidade no curso. Foram articulados em

textos com links, vídeos, imagens e sons vários percursos diferentes para a aprendizagem.

Percursos multidisciplinares, transdisciplinares, em teias, em vários atalhos, reconectáveis por

mecanismos de associação, em que foram disponibilizados os dados do conhecimento

conectados em múltiplas camadas unidas a pontos que viabilizaram o acesso e o cruzamento

de informações e a participação dos cursistas. Assim o desenho didático do curso favoreceu

uma formação de professores em sintonia com a função da educação de socializar e promover

a participação e a colaboração do sujeito, ou seja, houve a participação e a intervenção dos

cursistas a partir da interferência na mensagem (informação) com a construção coletiva da

comunicação e a aprendizagem. A bidirecionalidade e a hibridação estiveram presentes a

partir da comunicação interativa estabelecida e a produção conjunta dos interlocutores,

formadores e cursistas. Houve assim a criação e a cocriação a partir da codificação e

decodificação das mensagens. Viram-se, também, a permutabilidade e potencialidade através

da oferta de múltiplas redes articulatórias para a construção da comunicação e do

conhecimento, proposto e estabelecido no curso como uma obra aberta. Isso permitiu aos

cursistas ampla liberdade para permutar, virtualizar, simular, associar, significar e

ressignificar. Materializou-se assim, no desenho didático do curso de formação de professores

para docência online, a comunicação interativa com o agendamento dos fundamentos da

interatividade assinalados por Silva (2010).

Considerando a terceira questão, que foi a de investigar as correlações entre as

estratégias comunicacionais da mediação docente utilizadas nesse curso e a participação e a

colaboração dos aprendizes, a partir das sugestões de interatividade feitas aos docentes, essa

questão específica foi analisada nos aspectos quantitativos e qualitativos.

A partir de dados estatísticos coletados no campo de pesquisa, foi possível organizar

tabelas e gráficos que apontaram para uma correlação forte entre as participações de

formadores e cursistas, denunciando e corroborando o perfil dos cursistas. Formados no

modelo transmissivo de informações a serem memorizadas, os aprendizes foram mais reativos

do que proativos, ou seja, necessitavam de provocações à participação, que segundo a

139

observação do campo foi escassa em vários momentos do curso. Os relatos dos formadores

indicaram essa precariedade em várias ocasiões. Em mensagens jocosas, pode-se perceber o

convite à participação dos cursistas. A operação denominada “O resgate do soldado Ryan” foi

outra estratégia de buscar ou evitar a evasão dos cursistas. Essa ação foi deliberada em

reunião entre os formadores e equipe pedagógica, verificada a ausência dos cursistas no AVA,

e se constituiu de e-mails pessoais enviados aos ausentes do ambiente, a fim de sensibilizá-los

para a importância da participação na proposta pedagógica do curso, enquanto obra aberta, de

autoria e coautoria. A eficiência dessa ação pode ser medida quantitativamente na reação dos

cursistas na aula 4, que teve o maior número de participações de cursistas e formadores e, de

modo geral, ocorreu no período em que a “operação de resgate” se desenrolou, ainda que a

qualidade de tais participações possa ser questionada.

Outra estratégia eficaz para promover a interatividade dos aprendizes no curso,

denominada por D1 de fade–in, visou a provocar a participação dos cursistas de forma mais

direcional e controlada. Em analogia às imagens que vão se tornando progressivamente mais

difusas até desaparecerem completamente, a estratégia fade-in se consistiu no seguinte: no

momento em que percebeu através, do perfil dos estudantes, a turma desfavorável, tímida em

relação à interação e pouco participativa dos fóruns, D1 procurou iniciar a aula com

atividades bastantes mais estruturadas, isto é, dizendo claramente aos alunos o que esperava

que eles fizessem em cada tarefa. Geralmente as primeiras tarefas foram mais rápidas, do tipo

professor pergunta–aluno responde e a interação, neste momento, foi basicamente reativa, do

tipo bidirecional professor-->aluno-->professor. O formador procurou incentivar bastante os

cursistas e comentou as contribuições dos alunos assim que eles responderam. Procurou

também tecer relações entre as mensagens postadas no AVA e fazer comentários coletivos.

Foram importantíssimos, nessa hora, os feedbacks rápidos dados por D1, ainda que

específicos e direcionados a cada aluno, ou grupo de alunos. Adiante, D1 passou a propor

tarefas, ainda bem específicas, em que os aprendizes tiveram que postar contribuições e

também comentar as de um ou de dois outros colegas. O que ocorreu foi uma interação aluno-

-> aluno ainda básica, bastante reativa. Durante os fóruns, D1 procurou incentivar para que

essa interação fosse além e começasse a ser recursiva, isto é aluno 1 --> aluno 2 ---> aluno 1

através de perguntas provocadoras para o aluno 2 e para o aluno 1. Ocorreu, assim, a

interação de forma mais espontânea e proativa. A partir desse momento D1 diminui sua

participação, observando e fazendo comentários mais pontuais aqui ou ali, apenas para

incentivar a interação. Finalizando o processo fade-in, quando a turma alcançou certo nível de

140

interatividade, já não foi necessário definir tarefas tão estruturadas, D1 apenas lançou temas

para discussão e a colaboração e a autoria, ainda que timidamente, aconteceram no curso.

O desenho didático aberto e flexível colaborou para a eficiência do curso, à medida

que permitiu aos formadores a adoção de estratégias diferenciadas para potencializar a

participação, bem como a qualidade dessa participação. Em vários momentos os cursistas

foram convidados a relatar experiências vividas, compartilhando estratégias bem-sucedidas

adotadas em suas instituições de trabalho com o professorar, e a gerir online. Assim o curso se

tornou um espaço de registro de saberes constituídos a partir da vivência de cada um em seu

cotidiano. O case “professor Wilson Rufino” trouxe reflexões importantes para a discussão

em sala de aula virtual e provocou a questionamento de saberes até então constituídos, sua

reformulação e adequação à modalidade de educação online. Ainda que pese a densidade dos

conteúdos para a pouca participação, ela desvelou a complexidade da formação continuada e

em serviço de docentes seja presencial ou virtual. A sobrecarga de trabalho e tarefas dos

cursistas foi fator determinante na qualidade e quantidade de participações. A sobrecarga a

que me refiro não foi por exigência do curso especificamente, mas das instituições em que

eles trabalhavam como professores do presencial, como coordenadores e professores do

programa e-Tec Brasil. Como bolsistas do MEC, os afazeres dos cursistas não podiam

impactar na carga horária de trabalho nas IES, IFET, ou seja, tratava-se de carga extra de

trabalho, o que quase decretou a falência do programa e-Tec Brasil. Naquelas instituições em

que os docentes enfrentaram o desafio de trabalho extra, o número de alunos cresceu

geometricamente, porém fez surgir outro problema, a falta de institucionalização do

programa, as diversas repartições (estágio, registro acadêmico, orientação educacional, etc.)

das instituições não estavam preparadas para o aumento do número de alunos. É neste cenário

caótico que os cursistas acompanhavam o curso de formação de professores para a docência

online e que contribuiu para a pouca participação dos cursistas no momento do aumento da

densidade dos conteúdos e do aprofundamento das questões propostas pela equipe

pedagógica.

A escolha correta dos conteúdos apresentados foi exitosa no que se refere às

participações. Como exemplo, pode-se citar um problema recorrente nas práticas em EaD

pelo Brasil, que é a transposição de expedientes do presencial para online. Muitos cursistas se

deram conta do erro que cometiam ao fazer tais transposições, subutilizando o AVA como

repositório de textos e transmissão de pacotes fechados de informações como se fosse

educação. Perceberam que era necessária a participação ativa dos alunos no processo de

ensino e de aprendizagem enquanto obra de arte, fazendo referência ao parangolé, a

141

conhecida proposta de arte participativa de Hélio Oiticica. Essa percepção de mudança

paradigmática de papéis e status do professor ocorreu no curso e certamente provocou nos

estudantes mudanças em sua prática profissional cotidiana.

Algo que também chamou atenção no curso, como forma de potencializar as

participações, foi a utilização das diversas interfaces do AVA. Refiro-me às interfaces de

participação síncronas e assíncronas, como fóruns, chats e wikis. Apresentadas de forma

inteligente e agradável, supunham a horizontalidade das relações profissionais entre os

habitantes destes espaços e contribuíram fortemente para a comunicação interativa e

participativa e, em última análise, para a qualidade da produção acadêmica e para a autoria.

Merece destaque nestas considerações finais a questão do perfil dos cursistas e a relação entre

tal perfil e suas participações nos cursos. A média de idade estava entre 30 e 50 anos, o que os

caracterizava como imigrantes digitais, muitos dos quais ainda não conheciam o AVA, suas

interfaces e possibilidades. Outro resultado importante do questionário aplicado no encontro

presencial sobre o que esperavam do curso de formação para docência online foi a resposta

“Adquirir/aprofundar o conhecimento sobre a nova modalidade (EaD)” com 55%,

aproximadamente. Tal percentual revelou que mais da metade da turma de 130 cursistas

não/pouco conheciam a modalidade de EaD, e em particular a docência online. Configurou-se

assim o despreparo da maioria em acompanhar o curso cujo desenho didático propunha uma

obra aberta e requeria participação proativa e consequentemente autoria. O resultado desse

descompasso entre o perfil dos alunos e a proposta pedagógica do curso foi a tímida

participação dos cursistas.

Finalizo estas considerações afirmando que a formação para docência online é

demanda crescente em nosso país e da cibercultura e requer dos gestores públicos e privados a

elaboração de políticas adequadas que permitam a seus quadros de professores se

qualificarem melhor para enfrentar os desafios comunicacionais da mediação docente, seja

presencial ou não. Em particular na docência online espera-se que o docente seja capaz, em

um curso via internet, de propiciar oportunidades de múltiplas experimentações e expressões,

de disponibilizar uma montagem de conexões em rede que permita múltiplas ocorrências, de

provocar de situações de inquietação criadora, de arquitetar percursos hipertextuais e

mobilizar a experiência do conhecimento. Com estas agendas de engajamento o professor

online poderá potencializar a autoria, contemplar o perfil da cultura digital e as exigências da

educação cidadã.

142

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7. Glossário

Ambiente virtual de aprendizagem ou AVA: Ambiente no qual se dá a educação na

modalidade online. O ambiente online de aprendizagem mais utilizado mundialmente é o

Moodle, um freeware.

Avatar: Representação gráfica de um utilizador em realidade virtual.

Banda larga: Qualquer conexão à internet acima da velocidade padrão dos modems

analógicos (56 Kbps). Usando linhas analógicas convencionais, a velocidade máxima de

conexão é de 56 Kbps. Para obter velocidade acima desta, tem-se obrigatoriamente de optar

por outra maneira de conexão do computador com o provedor, permitindo uma comunicação

mais rápida via web.

Blog: Tipo de página pessoal, na qual se desenvolve algum assunto e se mantém aberto um

mural com a opinião dos visitantes.

Chat: Software de bate-papo, comunicação online.

Download: Baixar arquivo pela internet.

EaD: Educação a distância.

E-mail: Correio eletrônico.

Freeware: Software grátis.

Interface: Meio pelo qual se realiza a interação entre diferentes usuários, ou ainda usuário e o

software. A interface é o que se vê, designa um elemento através do qual o usuário obtém

informações e manipula o ambiente computacional.

Internet: Rede mundial de computadores.

Link: Ligação, enlace.

Midiateca: Espaço para divulgação e socialização de diversas mídias.

Network: Rede interna.

Online: Conectado à rede mundial de computadores, internet.

PDF: Portable Document Format: É um formato de arquivo, desenvolvido pelo Adobe

Systems em 1993, para representar documentos de maneira independente do aplicativo, do

hardware e do sistema operacional usados para criá-los. Um arquivo PDF pode descrever

documentos que contenham texto, gráficos e imagens num formato independente de

dispositivo e resolução.

Podcasting: Forma de publicação de arquivos de mídia digital (áudio, vídeo, foto, pps, etc.)

pela internet.

Post: Postagem.

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Power point (ou ppt): Arquivo do software de apresentações Power Point, da Microsoft.

Site: Página para internet.

Software: Programa, aplicativo.

Teleconferência: Serviço que permite a comunicação simultânea entre diversas pessoas,

localizadas em qualquer parte do mundo, de telefone fixo ou celular, com a comodidade de

poder realizar reuniões, entrevistas, treinamentos a distância, ou até mesmo palestras,

economizando assim tempo e gastos com viagens e hospedagem.

TIC: Tecnologia de informação e comunicação

TCC: Trabalho de conclusão de curso

Videoconferência: Discussão em grupo ou pessoa a pessoa, na qual os participantes estão em

locais diferentes, mas podem ver e ouvir uns aos outros, como se estivessem reunidos em um

único local.

Web: Denominação comum dada à internet.

Wiki: Termo utilizado para identificar um tipo específico de coleção de documentos em

hipertexto ou o software colaborativo usado para criá-lo.

www (World Wide Web): aplicativo utilizado para buscas de informações. Apresenta-se na

forma de textos com ligações para páginas localizadas em servidores espalhados pelo mundo.