formaÇÃo de preÇos mensalidades escolares

7
Formação de Preços nas Escolas 1 Ano: 1999 FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES I - ASPECTOS GERAIS Na formação dos preços das mensalidades escolares, diversos aspectos devem ser levados em consideração, seguidos e pesados, para a tomada da correta decisão. OS OBJETIVOS DA INSTITUIÇÃO - Os objetivos institucionais (carisma) constituem, via de regra, o primeiro e mais importante fator na estruturação do preço a ser cobrado dos alunos, quando não determinam o perfil do mesmo. A conseqüência natural é a adoção de diferentes procedimentos com relação aos preços, para o atendimento dos objetivos estabelecidos. A AÇÃO GOVERNAMENTAL - A presença da ação do Governo se faz sentir intensamente nas escolas, já que determina o tipo de planilha que devo usar, remete para a negociação dos preços com as famílias, determina custos até então inexistentes (encargos para a seguridade social), limita isenções, enfim, engessa a iniciativa da administração em muitos casos. A formulação do preço das mensalidades está de certa forma anulada para uma parcela significativa de situações, restando ao administrador escolar uma atuação e gerenciamento eficaz nos custos incorridos e estratégias de ação. A DEMANDA POR SERVIÇOS Muito se tem discutido nas escolas se a evasão se dá pelo elevado custo das mensalidades, pela baixa qualidade dos serviços prestados, pela má administração, ou por quaisquer outros motivos. Deve-se tentar determinar a razão pela qual nossa escola foi escolhida, estabelecer e trabalhar esses pontos fortes. Determinar também por qual razão muitos alunos saíram, e trabalhar esses pontos fracos na nossa instituição, buscando uma demanda compatível com os investimentos e planejamento efetuado. Esse estudo deve incluir também horário das aulas (turno diurno/noturno, e cursos profissionais oferecidos x solicitados/procurados. A CONCORRÊNCIA Dependendo da nossa situação como escola perante a concorrência, devemos definir o tipo de nossa escola (pontos fortes) e estabelecer também o perfil da concorrência. Em função disso, poderemos estabelecer nosso preço (se a demanda é forte não precisamos seguir a concorrência, do contrário, a concorrência pode determinar o limite de preço que podemos cobrar). A concorrência deve determinar também a qualidade e diversidade dos serviços que oferecemos aos alunos, reforçando sempre os nossos pontos fortes e minimizando nossos pontos fracos. Devemos estar atentos, também, à oferta de vagas por parte do Estado e procurar sempre nos antecipar ao futuro. Se o Estado passar a oferecer mais vagas do que a demanda, certamente nossa escola somente terá alunos por opção da família (onde muitas vezes o preço está em segundo plano). Será que é sempre assim? II PLANILHA DE CUSTOS Já é do pleno conhecimento dos dirigentes de escolas, o modo legal pelo qual se calcula o valor da anuidade escolar. Reeditada já pela 65ª vez, a Medida Provisória das Mensalidades Escolares (MP 1890-65 de 26/08/1999).

Upload: bruno-souza

Post on 02-Jul-2015

893 views

Category:

Documents


8 download

TRANSCRIPT

Page 1: FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES

Formação de Preços nas Escolas 1

Ano: 1999

FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES

I - ASPECTOS GERAIS Na formação dos preços das mensalidades escolares, diversos aspectos devem ser levados em consideração, seguidos e pesados, para a tomada da correta decisão.

• OS OBJETIVOS DA INSTITUIÇÃO - Os objetivos institucionais (carisma) constituem, via de

regra, o primeiro e mais importante fator na estruturação do preço a ser cobrado dos alunos, quando não determinam o perfil do mesmo. A conseqüência natural é a adoção de diferentes procedimentos com relação aos preços, para o atendimento dos objetivos estabelecidos.

• A AÇÃO GOVERNAMENTAL - A presença da ação do Governo se faz sentir intensamente nas escolas, já que determina o tipo de planilha que devo usar, remete para a negociação dos preços com as famílias, determina custos até então inexistentes (encargos para a seguridade social), limita isenções, enfim, engessa a iniciativa da administração em muitos casos. A formulação do preço das mensalidades está de certa forma anulada para uma parcela significativa de situações, restando ao administrador escolar uma atuação e gerenciamento eficaz nos custos incorridos e estratégias de ação.

• A DEMANDA POR SERVIÇOS – Muito se tem discutido nas escolas se a evasão se dá pelo elevado custo das mensalidades, pela baixa qualidade dos serviços prestados, pela má administração, ou por quaisquer outros motivos. Deve-se tentar determinar a razão pela qual nossa escola foi escolhida, estabelecer e trabalhar esses pontos fortes. Determinar também por qual razão muitos alunos saíram, e trabalhar esses pontos fracos na nossa instituição, buscando uma demanda compatível com os investimentos e planejamento efetuado. Esse estudo deve incluir também horário das aulas (turno diurno/noturno, e cursos profissionais oferecidos x solicitados/procurados.

• A CONCORRÊNCIA – Dependendo da nossa situação como escola perante a concorrência, devemos definir o tipo de nossa escola (pontos fortes) e estabelecer também o perfil da concorrência. Em função disso, poderemos estabelecer nosso preço (se a demanda é forte não precisamos seguir a concorrência, do contrário, a concorrência pode determinar o limite de preço que podemos cobrar). A concorrência deve determinar também a qualidade e diversidade dos serviços que oferecemos aos alunos, reforçando sempre os nossos pontos fortes e minimizando nossos pontos fracos. Devemos estar atentos, também, à oferta de vagas por parte do Estado e procurar sempre nos antecipar ao futuro. Se o Estado passar a oferecer mais vagas do que a demanda, certamente nossa escola somente terá alunos por opção da família (onde muitas vezes o preço está em segundo plano). Será que é sempre assim?

II – PLANILHA DE CUSTOS Já é do pleno conhecimento dos dirigentes de escolas, o modo legal pelo qual se calcula o valor da anuidade escolar. Reeditada já pela 65ª vez, a Medida Provisória das Mensalidades Escolares (MP 1890-65 de 26/08/1999).

Page 2: FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES

Formação de Preços nas Escolas 2

Ora, vejamos o anexo II da referida MP: Componentes dos Custos (despesas) Ano-Base R$ Ano planejado R$

1. PESSOAL 1.1 Pessoal Docente 1.2 Encargos Sociais 1.3 Pessoal Técnico e Administrativo 1.4 Encargos Sociais

2. DESPESAS GERAIS E ADMINISTRATIVAS 2.1 Despesas com Material 2.2 Conservação e Manutenção 2.3 Serviços de Terceiros 2.4 Serviços Públicos 2.5 Imposto Sobre Serviços (ISS) 2.6 Outras Despesas Tributárias 2.7 Aluguéis 2.8 Depreciação 2.9 Outras Despesas

3. SUBTOTAL ( 1 + 2 )

4. PRÓ-LABORE

5. VALOR LOCATIVO

6. SUBTOTAL ( 4 + 5 )

7. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS 7.1 PIS/PASEP 7.2 COFINS

8. TOTAL GERAL ( 3 + 6 + 7 )

Número de Alunos Pagantes

Número de Alunos Não Pagantes

Valor da última mensalidade do ano-base Valor da mensalidade após o reajuste proposto

R$ R$

em ____/____/____

Esta é a forma legal de se calcular a mensalidade, e deve ser seguida e é a planilha a ser enviada ao INSS, em abril, pelas instituições isentas. Existem outros tipos de planilhas, mais simples ainda, que deveriam ser calculadas mensalmente para o acompanhamento dos valores negociados, a fim de verificar possível defasagem, quando for o caso, para avaliar necessidade de nova negociação. Sabe-se que a distribuição dos custos, segundo estudos, deveria obedecer uma proporção ideal: 2/3 com salários e encargos, 1/3 com custeio e mais a taxa de reinvestimento (lucro). Isso, na prática, significaria uma despesa de 65% com pessoal, 25% com custeio e 10% para lucro (com base na receita).

Page 3: FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES

Formação de Preços nas Escolas 3

A Planilha poderia ser mais ou menos assim: Componentes dos Custos (despesas) Ano-Base R$ Ano planejado R$

1. PESSOAL (65%) 1.1 SALÁRIOS 1.1.1 Pessoal Docente 1.1.2 Pessoal Técnico e Administrativo 1.2 ENCARGOS SOCIAIS E TRABALHISTAS 1.2.1 Pessoal Docente 1.2.2 Pessoal Técnico e Administrativo

2. CUSTEIO (25%)

3. TAXA DE REINVESTIMENTO (10%)

4. TOTAL DOS CUSTOS ( 1 + 2 + 3 )

5. Número de Alunos Pagantes

6. Valor da mensalidade ( 4 / 5 )

III - CUSTOS EFETIVOS Se sabemos que 65% dos nossos gastos são com pessoal (normalmente essa proporção é bem mais significativa, chegando até a 90/95% em alguns casos), por óbvio deveremos concentrar nossos esforços de administração e criatividade nesse segmento, prioritariamente.

Como na fixação do preço temos que negociar com os pais e seguir legislação vigente, nos resta envidar os esforços com os aspectos por nós controláveis: CUSTOS COM PESSOAL. Toda a literatura existente sobre custos é praticamente dirigida ao segmento industrial, onde há, claramente, valor agregado a cada novo produto a partir de uma matriz. Fica relativamente simples e fácil (talvez trabalhoso) o cálculo do custo de produção e/ou venda, já que se conhecem os preços dos insumos, o total de horas/homem gastas com o produto, os impostos incidentes na venda e assim por diante, de formas a se estabelecer o preço de venda para cada produto.

Em uma escola, é muito difícil de definir quais são os custos fixos e os custos variáveis incidentes, e como deve ser minha matriz de cálculo. Isso porque, via de regra, não temos totalmente definido o nosso produto/serviço. Os custos variáveis seriam representados por materiais gastos em função da quantidade de alunos, o que, convenhamos, é ínfimo e irrisório na fixação do preço, tanto que não merece mais que uma pequena olhadela. Por analogia, deveríamos adotar algumas regras das companhias aéreas e empresas de transporte coletivo: O produto é o bilhete de passagem individual ou o produto é o vôo/viagem? Os custos devem ser calculados por passageiro ou por vôo/viagem? Na escola, grosso modo, o produto é o aluno ou é a turma/sala de aula? Devo calcular meus custos por aluno (individualmente) ou por alunos (por turmas)?

Page 4: FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES

Formação de Preços nas Escolas 4

Nosso entendimento é de que os custos devam ser calculados por unidade de trabalho: turma ou sala de aula. Fazendo um cálculo dos custos, veremos que os resultados poderão ser surpreendentes (normalmente pelo lado negativo para o administrador). Ocorre que, quando o cálculo do custo é feito por turmas, começamos a trabalhar com algumas variáveis controláveis pela própria escola em função de seu planejamento didático/pedagógico. Dentre as variáveis poderíamos destacar: Número de alunos por turma/sala, se for Ens.Fundamental (antigo curríc atividades) cabe a nós a definição de aulas especializadas (inglês, espanhol, alemão, educ.física) adicionais ao trabalho do(a) professor(a) regente, recursos pedagógicos marginais (laboratório de informática, laboratório de ciências e outros); todos representativos de custos. Existem outros aspectos que influenciam nossos custos mas fora do nosso controle (legislação, dissídios, isenções, economia) Também fora do nosso controle, a capacidade de pagamento das famílias, que nos auto-limita na fixação do preço. Ora, isso tudo nos remete a um competente planejamento de nossa matriz de gastos, procurando eficiência e eficácia, além de otimização de resultados. Temos que cumprir com nossa missão de modo profissional e eficaz.

IV - CUSTEIO POR ATIVIDADE Não é bastante ao administrador escolar saber qual o seu custo/aluno/mês e a partir deste valor estabelecer se o empreendimento é viável ou deficitário. O custeio por atividade representa um novo enfoque de cálculo, a partir da própria mudança na estrutura dos custos das instituições, cada vez mais fixos e ligados ao produto turma. O princípio básico deste sistema de custos é tornar direto o maior número possível de custos proporcionais através de direcionadores de custos (cost drivers) específicos. Assim, é fácil estabelecer a proporcionalidade dos custos que cada turma consome, já que são de fácil assimilação. Veja-se no dia-a-dia de uma escola, que todo o planejamento é voltado para as turmas: horário de aula, professores, salas, luz, limpeza, material de apoio, infra-estrutura, etc. Não importa se tenho 12 ou 25 alunos em uma sala de aula, os custos são basicamente os mesmos. De fácil compreensão. Imagine uma escola com 2.200 alunos. Imagine que esta escola tem espaço físico para acolher, confortavelmente, 45 alunos por sala de aula. Podemos deduzir que esta escola deveria ter entre 48 a 50 turmas. Acima desse número de turmas, o custo/aluno aumenta consideravelmente já que se duplicam os custos. Então, devemos direcionar nossa administração para manter turmas completas e procurar não abrir novas turmas com poucos alunos.

Turmas pequenas, certamente trarão prejuízos e desequilíbrio financeiro no estabelecimento de ensino. Se houver ociosidade nas turmas, aproveitem para praticar a filantropia.

Page 5: FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES

Formação de Preços nas Escolas 5

Demonstrativo da Remuneração dos Professores (por curso/turma) Estabelecimento: Mantenedora: Curso: (Educ.Infantil – Ens Fundamental I – Ens Fundamental II – Ens Médio)

Nome do Professor

Disciplina Horas Semanais

Valor da Hora/Aula

REMUNERAÇÃO BRUTA

Page 6: FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES

Formação de Preços nas Escolas 6

Imagine-se a seguinte planilha para o acompanhamento dos preços:

Curso: Ensino Fundamental – Nível I (1ª/4ª séries) Turma: Turma: Turma: Turma: Turma: Turma: Turma: Grade de Gastos Mensais Prof.: Prof.: Prof.: Prof.: Prof,: Prof.: Prof.:

Salário do(a) Professor(a) (regente) 1/6 Repouso Remunerado Aprimoramento Acadêmico ( %)Quadriênio ( %) ________________________________

Salário Bruto.............>>> Prof. Línguas (Inglês/espanhol) Prof. Educação Física ________________________________ Irmão(a) Assistente (estagiário) Aux.Técnicos

TOTAL SALÁRIOS PAGOS - Encargos Sociais ( )

TOTAL DESPESAS DE PESSOAL

CUSTEIO

CUSTO TOTAL

Nº alunos

Custo por aluno (atual)

Capacidade de alunos na turma

Preço/aluno para turma lotada

Page 7: FORMAÇÃO DE PREÇOS MENSALIDADES ESCOLARES

Formação de Preços nas Escolas 7

Os dois formulários (fls. 5 e 6) são de fácil preenchimento e assimilação. O primeiro nos informa sobre os gastos com salários. Essa informação, detalhada, permite o correto preenchimento da planilha de custos, turma a turma. Calculada a planilha, certamente teremos custos diferentes para as diversas turmas, em razão de detalhes que transformam os salários dos professores, e assim por diante. Nesta planilha, além de constatarmos as relações de custo/atual x custo/ideal, também temos excelente oportunidade para comparar os valores pagos em salários para professores com a mesma função e sua repercussão nos custos. Sabe-se que os professores, em razão de sua formação pessoal, percebem adicionais diferentes (quadriênio, aprimoramento acadêmico) nos salários. Cabe-nos verificar o quanto nós necessitamos, para determinada turma, um professor com tal aprimoramento, se o valor que pagamos a maior no salário em razão desse aprimoramento é compatível com o retorno em qualidade para o próprio aluno, etc. Não há razão de se pagar aprimoramento acadêmico de X% (professor com aprimoramento em analise de sistemas gerenciais) se a área em que atua o professor não tiver nada a ver com sua especialização, por exemplo.

V - CONCLUSÃO Não estamos concluindo o trabalho com recomendações. Nos interessa que o enfoque apresentado para o conhecimento do custo/aluno/turma seja bem assimilado, e que o conceito de unidade de trabalho (como unidade) também seja apreendido. Se isto acontecer, certamente estaremos chegando mais perto do ponto de equilíbrio, no futuro. Queremos ressaltar que os modelos de planilha apresentados (exceto o anexo II da MP 1890-65) bem como modelos de demonstrativos, são apenas modelos. Cada escola deverá adaptar os modelos às suas necessidades/características. O que interessa é obter o melhor resultado. Procurar não adiar o início dos trabalhos para o próximo ano ou o outro. Surpreendam-se agradavelmente já agora, concluindo que os valores de preços ora praticados estão perfeitamente equilibrados com as necessidades e os custos.

ERNO BRUNO LEONHARDT Administrador CRA-RS 17.922 Rua Ramiro Barcelos, 1172 – salas 205 e 209 90035-002 Porto Alegre – RS Fone/Fax 0 XX 51 3118015