formaÇÃo de diretores de unidades educativas da...

15
FORMAÇÃO DE DIRETORES DE UNIDADES EDUCATIVAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE FLORIANÓPOLIS - 2011/2012 O GESTOR E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Gladys Mary Ghizoni Teive Universidade do Estado de Santa Catarina

Upload: dangphuc

Post on 07-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FORMAÇÃO DE DIRETORES DE UNIDADES EDUCATIVAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE FLORIANÓPOLIS - 2011/2012

O GESTOR E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Gladys Mary Ghizoni Teive

Universidade do Estado de Santa Catarina

Os colegas da ESAG diziam em suas falas sobre gestão estratégica, administrativa e

patrimonial, gestão de pessoas e financeira, que todas estas instâncias estão ou deveriam estar a serviço da

Gestão Pedagógica. O que é para vocês a gestão pedagógica e

porque esta seria a questão mais importante no âmbito escolar e, portanto, a preocupação número um do/a gestor/a

escolar? No que implica gerir pedagogicamente

uma escola? Como vocês tem gestionado suas escolas

nesse campo específico?

Para compreender e problematizar algumas das dimensões que compõem a gestão escolar é necessário discutir a relação

entre escola e cultura na produção de subjetividades e identificações na contemporaneidade.

A escola perdeu espaço na luta pela construção de subjetividades e identificações

Virada Cultural (Stuart Hall)- a cultura no centro dos acontecimentos e da vida nas sociedades do limiar do novo

milênio.

Subjetivação cultural - Lugar do lúdico, do deleite, da fruição e do prazer.

A escola empobrecida, material e simbolicamente, não sabe como fazer para que sua oferta seja mais atraente do que a cultura do

espetáculo, do consumo, das mídias, dos computadores, da indústria cultural, da flexibilidade e da descartabilidade (SARLO,

1997).

Luta pela Identidade

Estas e outras questões relacionadas ao descompasso entre os significados legitimados pelos currículos atuais e a “nova subjetividade”

infantil e juvenil vem sendo discutidas por alguns estudiosos do campo do currículo, tal

como os australianos Bill Green e Chris Begun com sua discussão sobre a inadequação da escola contemporânea aos interesses das

crianças e jovens, consubstanciados na sua tese sobre os alienígenas na sala de aula.

A pesquisadora da UFRGS Sandra Corazza e sua tese sobre os novos modos de subjetivação do infantil, metaforizados nas figuras dos fenômenos climáticos “ El

Niño” e “La Niña”, emblemas da “fratura da infantilidade moderna”.

As provocações do historiador argentino Mariano Narodowski acerca do fim da infância moderna e da urgência do fim da escola que a educava.

Estes pesquisadores e muitos outros nos dão elementos para pensar e discutir a gestão pedagógica na sociedade em que estamos vivendo, na qual os

desenvolvimentos tecnológicos e culturais, especialmente a mídia, a computação e a internet, tornaram-se organizadores privilegiados da ação e do significado na vida

das pessoas.

INDUSTRIA CULTURAL – Uma forma d pedagogia cultural

Henry Giroux – Pedagogia da mídia (Propaganda menino/escada)

Sociedade contemporânea ou pós-moderna

O Pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por

convenção, se encerra o modernismo.

Ele nasce com a arquitetura e a computação nos anos 50. Toma corpo com a arte Pop nos anos 60.

Cresce ao entrar pela filosofia, durante os anos 70, como crítica da cultura ocidental.

E amadurece hoje, alastrando-se na moda, no cinema, na música e no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o

cotidiano desde alimentos processados até microcomputadores), o que para alguns é decadência e para outros renascimento cultural (SANTOS).

O motor a explosão detonou a revolução moderna há um século, o chip, microprocessador com o tamanho de um confete, está causando o rebu pós-moderno, com a tecnologia programando cada vez mais o dia-a-dia

(Idem) .

Na economia, o Pós-Moderno passeia pela ávida sociedade de consumo, agora na fase do consumo personalizado, que tenta a sedução do indivíduo isolado até arrebanhá-lo para sua moral

hedonista.

O ambiente pós-moderno significa basicamente isso: entre nós e o mundo estão os meios tecnológicos de comunicação, ou seja, de

simulação. Eles não nos informam sobre o mundo; eles o refazem à sua maneira, hiper-realizam o mundo, transformando-o num

espetáculo.

Já faz algum tempo que a Lingüística, a Antropologia, a Psicanálise provaram que para o homem, não há pensamento, nem mundo (nem mesmo homem), sem linguagem, sem Representação. E

mais: a linguagem dos meios de comunicação dá forma tanto ao nosso mundo quanto ao nosso pensamento. Para serem alguma

coisa, sujeito e objeto passam ambos pelo signo.

Saturação do cotidiano pelos signos - O indivíduo na condição pós-moderna é um sujeito blip, alguém submetido a um

bombardeio maciço e aleatório de informações parcelares, que nunca formam um todo, o que certamente tem importantes efeitos

culturais, sociais, políticos e educacionais.

Principais características do cenário atual

1) Infomania - Mania de informação, que é confundida com conhecimento, saber;

2) Colapso do tempo – presentismo , desencanto com o futuro, vive-se o aqui e o agora – hedonismo – cultura agorista: “tudo ao mesmo tempo

agora”.

3) Competitividade - grande marca do neoliberalismo, que se desdobra em:

Espetacularização – Sociedade do espetáculo –estamos sempre correndo em busca de maior performance e temos a sensação de estarmos sempre

devendo (Capes, Lattes, ranquiamentos, selos de qualidade).Cosmopolitismo inacabado – educação permanente, educação para toda a

vida (Popkewitz)Empresariamento de si mesmo.

4) Tribalismo - Individualismo – sociedade do cada um por si – Viva à diferença e a celebração de seus processos identitários (VEIGA NETO,

2011). .

Nóvoa e a bandeira de “mais sociedade e menos comunidade”

E a escola e o currículo como ficam diante disso?

Todo currículo carrega uma noção de subjetivação e de sujeito: O que eles são? Quem nós queremos que eles se tornem?

Vocês já pensaram sobre isso? Que noção de sujeito e de subjetivação os currículos que vocês põem em prática

cotidianamente nas suas escolas carregam?

Quais os significados por eles legitimados? O que desejam produzir nas crianças e jovens? Quais os significados legitimados pela

Proposta Curricular do Município de Florianópolis? O que ela quer produzir/reproduzir como prática cultural? O que quer o currículo?

Como este querer é metamorfoseado nos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas, os PPPs?

Quais as subjetivações desejadas? Será que as crianças e jovens se reconhecem nelas?

Como são as crianças que vão à escola no início do século XXI? Discutimos sobre isso em nossas escolas?

O que ocorre quando estas passam ser consideradas alunos?

A tachamos de DDA – portadoras de déficit de atenção, hiperativas, porque parecem agitadas e fazem muitas coisas ao mesmo tempo.

Ficam completamente a vontade ligadas a três ou mais telas simultaneamente. Tem capacidade de exercer mÚltiplas tarefas, simultaneamente ou alternadamente,

só que numa sequência frenética – uma loucura em termos de concentração.

Como é a escola e o currículo que a esperam? A escola é o lugar da escrita, da palavra, da demora, da espera. E isso, que é a ela

inerente se opõe a cultura do tempo real, da mídia, na qual não existe espera, onde a satisfação do desejo é imediata Uma cultura na qual o filme pode ser adiantado ou

atrasado, uma cultura do zapping .

Segundo Narodowski, precisamos dar adeus a esta escola, pois a infância para qual ela foi inventada não existe mais. As condições culturais contemporâneas

produziram infâncias distintas da infância moderna, elas vem sendo produzidas especialmente pela mídia, eletrônica e televisiva.

Para Sandra Corazza embora adivinhemos no horizonte as silhuetas desses novos sujeitos, reiteramos cotidianamente em nossas escolas nossa prática de subjetivação moderna. As crianças pós- modernas, por ela metaforizadas nas figuras do El nino e

La nina , provocam o esfacelamento da imagem do eu da criança moderna, a confusão e a convulsão de suas representações.

Elas desgarram-se de nós, de modo a se subjetivarem como sujeitos-outros, com novas necessidades e novas capacidades: o

aluno pós moderno, ou alienígena ou cyborg, como defendem Bill Green e Chris Bigum.

E nós, gestores e professores em pânico queremos preservar a infância dependente, educada, sexuada, escorando-nos na

armadura nostálgica da identidade infantil.

A infância precisa ser compreendida como uma construção social, histórica e cultural e, portanto, sujeita a mudanças sempre que acontecem transformações nesses campos. Ai novos significados são a ela atribuídos e novos modos de vivê-la são experienciados.

Estes pesquisadores vêem a mídia como centralmente implicada na (re)produção de identidades e formas culturais estudantis.

Qual o papel da mídia nos mundos vitais de nossos alunos e a relação entre essa cultura e sua escolarização?

A TV, a computação e o vídeo – reorganizadores da ação e do significado humanos.

As pessoas que “mais sabem o que significa sentir o pós modernismo tem, todas, menos de 30 anos.”

O jogo mudou radicalmente. Como criaturas surgidas de baixo da terra, novos sujeitos estão emergindo. Embora partilhemos com eles um espaço geofísico comum, achamos difícil e talvez mesmo

impossível partilhar os muitos espaços ou mundos virtuais que eles habitam no ecosistema digital.

Cada geração cyborg está associada com as características de velocidade do ecossistema digital na qual ela nasceu.

A velocidade propicia um meio para se teorizar os mundos nos quais as crianças e jovens habitam.

Quais as conseqüências disso para a gestão da

escola, para a elaboração do currículo?

Precisamos urgentemente investigar as implicações dessa mudança cultural para a pedagogia, buscando compreender melhor as relações entre tecnologia e

pedagogia, escolarização e cultura da mídia.

A mudança é radical, as consequências são sérias e exigem investimentos na busca de um novo modo de ser

e de fazer.

A escola moderna dificilmente se reconverterá a esta nova lógica porque fazê-lo implica perder para sempre

sua identidade.

Dai, o mal estar da escola moderna que todos nós sentimos, mas não sabemos muito bem o que é.

Em síntese:

Não há como negar que há novos modos de ser criança e de viver a infância.

Pesquisas em todos os campos do conhecimento vem investigando como as crianças são produzidas, formatadas, fabricadas pela mídia e pelo

consumo, configurando novos modos de ser criança e de viver a infância.

Há uma mudança no modo de entender, sentir e nomear o mundo. As transformações ocorridas ao longo do século XX implicaram mudanças na

sensibilidade: no sentir, pensar e agir em relação ao mundo.

A partir do nexo entre cultura infantil e juvenil e a complexidade da mídia, um novo tipo de subjetividade humana vem se formando – a subjetividade

pós moderna. Esta subjetividade é marcada pela efemeridade, ambivalência, fugacidade,

descartabilidade, individualismo, superficialidade, instabilidade, visibilidade/espetacularização do corpo, pela lógica do excesso e da

estimulação contínua.

Isso produz um modo de ser criança que busca infatigavelmente a fruição e o prazer.

Estamos diante de crianças e jovens que vão se tornando o que são, vivendo sob a condição pós-

moderna.

Elas aprenderam, principalmente por meio da mídia televisiva, a dominar uma certa gramática da cultura tecnológica e por meio delas passaram a pensar . Não podemos mais enquadrá-las nos

lugares tradicionalmente designados para infantis e para escolares.

Precisamos colocar sob tensão as imagens convencionais e modernas de infância legitimadas

pelos currículos escolares.

Tal como afirma Narodowski esta infância morreu e nós precisamos dar adeus a escola e aos

currículos que a educavam.