forjados por deus

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Livro Forjados por Deus

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  • AdministradorMquina de escreverESDRAS DIGITAL

    AdministradorMquina de escrever

  • Stev e F arrar

    F1 llorjados

    poir

    M o l d a d o s p e l o S e n h o rNOS BONS E NOS MAUS MOMENTOS DA VIDA

    CENTRALGOSPEL

  • Copyright 2008 Steve FarrarDavid C ook, 4050 Lee Vance View, C olorado springs, C O 80918, U.S.AC opyright 2012 da obra em portugus po r Editora C entral Gospel, com permisso da DavidC ook, 4050 Lee Vance View, C olorado springs, C O 80918, U.S.A

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)F a r r a r , SteveForjados por D eus M oldados pelo Senhor nos bons e nos maus m om entos da vida T tulo original: G od Built R io de Janeiro: 2012 224 pginasISBN: 978-85-7689-279-3 1. Bblia - Vida Crist I. T tulo II.

    Gerncia editorial e de produo Gerncia de M arketing Coordenao editorial

    Traduo I a reviso

    Reviso final Capa

    Projeto grfico e diagramao Impresso e acabamento

    G ilm a r C haves M arcos H en riq u e B arboza M ichelle C ndida B eth D ia s E len C anto Q ueila M a rtin s Patrcia C a lh a u R ibeiro Patrcia N u n a nAdaptao da capa original de The Design- Works G roup/D avid Uttley

    J u lio Fado Grfica S tam ppa

    I a edio: ju lho /2012 I a reimpresso: outubro/2013

    Todos os direitos reservados. proibida a reproduo total ou parcial do texto deste livro por quaisquer meios (mecnicos, eletrnicos, xerogrficos, fotogrficos etc.), ano ser em citaes breves, com indicao da fonte bibliogrfica.

    As citaes bblicas utilizadas neste livro foram extradas da Verso Almeida Revista e C orrigida (A RC), salvo indicao especfica, e visam incentivar a leitura das Sagradas Escrituras.

    Este livro est de acordo com as mudanas propostas pelo novo AcordoO rtogrfico, que entrou em vigor em janeiro de 2009.

    Editora C entral Gospel Ltda.Estrada do Guerengu, 1851 Taquara

    CEP: 22.713-001R io de Janeiro RJ T el. (21) 2 1 8 7 -7 0 0 0

    w w w .e d ito r a c e n tr a lg o s p c l .c o m

  • Uma viso panormica da histria de Jos

    Captulo 1De modo estranho e lento, Deus est trabalhando

    Captulo 2Mesmo quando os seus sonhos morrem,Deus est no controle de perdas devastadoras

    Captulo 3No foi por acaso...Deus est no controle de todas as circunstncias

    Captulo 4Pegue este trabalho e engula...Deus est no controle de todo o seu trabalho

    Captulo 5Mesmo quando faz voc voltar estaca zero, Deus est no controle de retrocessos dolorosos

    Captulo 6Mesmo quando a esperana interceptada,Deus est no controle de esperanas despedaadas

  • 6Captulo 7Rebaixado e colocado no banco dos reservas...Deus est no controle das esperas prolongadas

    Captulo 8Indivduos influentes...Deus est no controle dos poderosos

    Captulo 9Deus programa o boletim de meteorologia...Ele est no controle da fome, do clima e dos desastres naturais

    Captulo 10Subindo a escada do sucesso egpcia...Deus est no controle de todas as promoes e avanos

    Captulo 11Do tero sepultura, Deus est no controle de todos os eventos da sua vida, e Ele far com que tudo coopere para o seu bem

    Perguntas para reflexo pessoal ou discusses em pequenos grupos

    Notas bibliogrficas

    129

    149

    165

    183

    197

    207

    219

  • U m a v i s o p a n o r m i c a

    D A H I S T R I A D E J O S

    (15 M I N U T O S D E L E I T U R . A )

    Se voc estiver familiarizado com a histria de Jos, narrada no

    Livro de Gnesis, enxergar este captulo com o um a viso p ano

    rm ica da vida dele. Por outro lado, se ainda no conhece b em a

    Bblia e no sabe m uito sobre ele, este captulo servir com o um a

    in troduo [ histria desse grande hom em de D eus].

    Caso possa dispor de algum tem po, abra a sua Bblia no cap

    tulo 37 de Gnesis e leia at o captulo 50; assim, voc passar a

    conhecer todos os detalhes dessa histria, e poder congratular-se

    p o r m uitos anos. C om isso, acabamos de decolar! A com ode-se em

    seu assento ju n to janela e prepare-se para contem plar algumas

    paisagens inesquecveis.

    Jos tinha 11 irmos e era odiado por pelo menos dez deles. Ele veio de uma famlia problemtica cuja rvore genealgica se tornou bastante famosa. Alguns podem traar sua genealogia at o Mayflower!

    1 Mayflower foi o fam oso navio que, em 1620, transportou os cham ados Peregrinos do p o rto de Southam pton, Inglaterra, para o N ovo M undo (Fonte: W ik ip d ia ) . O bviam ente, o au to r est referindo-se o rigem dos norte-am ericanos, usando um a m etfora para dizer que Jos est entre os patriarcas da nao israelita.

  • 8 Uma viso panormica da histria de Jos

    Mas Jos era bisneto de Abrao, o grande patriarca e pai de todos os judeus, neto de Isaque e filho de Jac. Por toda a Bblia, lemos a frase o Deus de Abrao, de Isaque e de Jac. Isso extremamente importante, afinal, Jos vinha de uma linhagem privilegiada.

    Por que os dez irmos desse jovem o odiavam tanto? Para compreendermos isso, necessrio que voltemos um pouquinho na histria at o seu pai, Jac. Este teve 12 filhos, alm de uma filha chamada Din. Essas 13 crianas eram filhas do mesmo pai, mas de quatro mes diferentes. E foi a que a maior parte dos problemas comeou.

    Jac fora enganado e acabara casando-se com Lia. Embora ele realmente quisesse casar-se com Raquel, provvel que tenha exagerado [no vinho] na noite do casamento (se fosse hoje, diramos que ele se excedeu nas doses de usque Jack Daniels). Ele pensou que estivesse casando-se com Raquel, mas quando acordou de manh viu que havia se casado com Lia. Labo, o pai da noiva, havia pregado uma pea das boas em Jac. Este sempre fora mais ardiloso do que qualquer outro, mas em Labo havia encontrado um oponente sua altura.

    Como Raquel era o amor de sua vida, Jac decidiu renegociar seu contrato com Labo. Ele havia trabalhado por sete anos pelo direito de casar-se com a bela Raquel, mas agora estava casado com a no to bela Lia. Labo ento lhe fez uma nova proposta: se Jac trabalhasse por mais sete anos para ele poderia casar-se com Raquel na semana seguinte. Como Jac no era mais um hom em livre, no teve escolha seno aceitar a proposta de Labo.

    Jac firmou o novo contrato, e acabou ficando com duas esposas. Quando suas duas filhas se casaram, Labo deu uma serva a cada uma: Bila a Raquel e Zilpa a Lia.

    Existe um motivo para que eu mencione todos esses fatos. Os 13 filhos de Jac vieram dessas quatro mulheres diferentes. Essa a razo de os dez irmos de Jos o odiarem tanto.

    D i s p u t a f a m i l i a r

    Jos foi o primeiro filho de Raquel, que mais tarde m orreu dando luz seu filho mais novo, Benjamim. Jos e Benjamim tinham um

  • Foqados por Deus 9

    relacionamento muito bom, mas os outros irmos no suportavam nem olhar para Jos. Afinal, Raquel era o amor da vida de Jac, e Jos, o seu primeiro filho com ela.

    Por muitos anos, Raquel no pudera ter filhos. Ento, quando Jac j estava mais velho, ela engravidou inesperadamente de Jos. Este era o filho da meia-idade de Jac (Benjamim se tornaria o filho da sua velhice). Por todas essas razes, Jos era o favorito absoluto do pai, e seus irmos sabiam muito bem disso.

    Quando Jac deu uma tnica colorida a Jos (que poderia ser comparada a um terno Armani), e no comprou nada para os outros filhos, gerou mais problemas entre eles. Esse acontecimento jogou lenha na fogueira do cime.

    Depois disso, em duas ocasies distintas, o jovem Jos teve sonhos profticos. N o primeiro, viu 11 feixes de trigo no campo de colheita que se inclinavam diante do seu feixe. Ao contar o sonho aos irmos, estes ficaram irritadssimos. A mensagem era direta, e os outros jovens a entenderam perfeitamente. Zombando do irmo mais jovem por conta do sonho, eles deixaram bem claro que era mais fcil o inferno congelar do que eles se inclinarem diante de Jos.

    Algum tempo depois, Jos teve um segundo sonho. Dessa vez, o sol, a lua e 11 estrelas se inclinavam diante dele. Ao contar o segundo sonho aos irmos, eles ficaram ainda mais furiosos. At mesmo Jac ficou aborrecido com a ideia de que um dia todos eles se inclinassem diante de Jos. Mas, Jac no descartou o sonho de seu filho ele apenas o guardou em uma gaveta .

    [Por ser o preferido de seu pai e por conta dos sonhos que teve] Os dez irmos de Jos tinham muito cime dele. Isso tambm explica o porqu de eles tentarem mat-lo aos 17 anos.

    V a m o s f a z e r u m n e g c i o

    Os irmos de Jos pastoreavam o rebanho ao norte, junto a Siqum, onde havia mais chuva e pasto abundante. Querendo saber como estavam os filhos e as ovelhas, Jac mandou Jos ir ter com eles a fim de verificar o andamento das coisas e retornar para inform-lo.

  • 10 Uma viso panormica da histria de Jos

    Jos teria de pegar a estrada para se encontrar com seus irmos. Para um jovem de 17 anos naquela poca, viajar no era algo corriqueiro, e essa seria uma viagem longa, entre 110 e 130 km. H trs mil anos, uma viagem assim era considerada um evento importante em Israel. Normalmente, Jos no se afastava de casa mais do que cinco a seis quilmetros, e era obrigado a voltar sempre antes das 11 da noite.

    Jos partiu rumo ao norte, e, quando chegou a Siqum, um homem lhe disse que seus irmos haviam ido para o oeste, em direo a Dot. A notcia no perturbou Jos, j que isso significava estender sua viagem por mais 30 a 50 quilmetros (hoje seria como brincar um pouco com seu novo GPS).

    Aparentemente, os irmos o reconheceram enquanto ele ainda estava ao longe, antes mesmo que este conseguisse v-los. Na mesma hora, comearam a maquinar um plano contra Jos e perceberam que aquela era a oportunidade ideal para livrar-se dele. Depois de uma breve discusso, os irmos decidiram mat-lo e jog-lo em uma cova. Q uem saberia? Q uem descobriria? Poderiam assassin-lo e simplesmente enviar uma mensagem ao pai dizendo que Jos havia sido m orto por um animal selvagem.

    R ben era o irmo mais velho, por isso se sentia responsvel pela famlia. Ele conseguiu convencer os irmos a no matarem Jos, ento optaram por jog-lo em uma cova, e foram jantar. Eles mastigaram seus hambrgueres de homus, beberam seu leite de cabra e debateram sobre a melhor maneira de livrarem-se de Jos.

    O plano de R ben era voltar escondido at o poo, tirar Jos da cova e mand-lo de volta para casa. Mas, enquanto R ben estava ausente, os outros irmos viram passar uma caravana de mercadores midianitas, e Jud teve uma ideia que todos acharam brilhante: ele convenceu os irmos de que a melhor opo no era matar Jos, mas vend-lo aos traficantes de escravos, pois assim poderiam ganhar um dinheiro rpido para pagar suas despesas (as contas do carto de crdito se fosse nos dias de hoje). Eles encobririam o crime pegando a tnica de vrias cores de Jos, sujando-a de sangue de cabra e dizendo ao pai que o R ei Leo havia emboscado Jos.

  • Foijados por Deus 11

    Aquele era um plano perfeito! E foi exatamente isso que eles fizeram, venderam Jos como escravo por 20 moedas de prata.

    Ao retornar cova, R ben desejava resgatar Jos (como se fosse Littlejoe) e mand-lo de volta ao rancho Ponderosa, mas Jos no estava mais l. Os irmos nunca mais teriam de lidar com aquele menino irritante. Finalmente haviam se livrado de Jos para sempre! Pelo menos era nisso que acreditavam.

    E n q u a n t o i s s o , n o E g i t o

    Quando Jac viu a tnica de Jos coberta de sangue, ficou inconsolvel. Ele sabia que seria impossvel recuperar-se da morte do filho. Jac teria de carregar esse fardo pelo resto da vida, at que um dia morresse com o corao partido.

    Enquanto o pai se lamentava pelo filho pensando que este m orrera, Jos fora vendido no Egito a um alto oficial do governo chamado Potifar. A essa altura, Jos estava convencido de que viveria como escravo pelo resto de sua vida. Escravos tinham emprego garantido, mas um futuro no muito promissor. Aparentemente a vida de Jos havia terminado aos 17 anos.

    Ele agora pertencia a um hom em com o estranho nome de Potifar, respeitvel oficial do governo e figura de destaque na poltica egpcia. Potifar basicamente estava frente do servio secreto do fara. Ele era um importante membro do gabinete real, com todas as mordomias costumeiras de quem detm poder; um homem de vastas conexes e extraordinria riqueza.

    Potifar era bem-sucedido e acabara de adquirir um escravo que estava prestes a tornar-se um homem de grande sucesso. Mas, ningum sabia disso quando Jos chegou acorrentado casa de seu senhor. Na Bblia est escrito que O S E N H O R era com Jos, que veio a ser homem prspero (Gn 39.2a, a r a ) . Escravos no se tornam homens prsperos; eles so usados, abusados e m orrem cedo.

    N o entanto, algo extraordinrio comeou a acontecer enquanto Jos cumpria suas obrigaes como escravo.Tudo em que tocava parecia virar ouro. Jos realizava suas tarefas com elegncia e classe, sempre

  • 12 Uma viso panormica da histria de Jos

    indo alm do esperado. E, medida que era fiel no pouco, passou a ser colocado sobre o muito. Seus superiores o promoviam continuamente, e as realizaes de Jos eram to notveis que o prprio Potifar comeou a observ-lo de perto.

    Havia algo de diferente naquele jovem, todos os lances de Jos acabavam em gol . Com isso, ele foi ganhando mais e mais responsabilidades, a ponto de o prprio Potifar, um pago egpcio, reconhecer que o Senhor estava com Jos.

    Foi ento que o impensvel aconteceu. Potifar promoveu Jos e encarregou-o de administrar todos os seus bens. E aquele no era um patrimnio qualquer!

    Potifar era dono de uma propriedade enorme e prspera, que requeria estreita superviso. E, em uma deciso que deve ter pegado Jos de surpresa, Potifar entregou a administrao de todas as suas terras, seus escravos e obras nas mos do jovem escravo hebreu. Potifar confiou a Jos tudo o que possua, e seus negcios continuaram indo de vento em popa sob a liderana de Jos.

    Jos provavelmente estava maravilhado, sentindo-se grato pela bondade de Deus. Ele chegara ao Egito como escravo e agora se tornara responsvel pelo gerenciamento de um patrimnio considervel. Essa promoo extraordinria lhe proporcionou mais poder, privilgios e posses. Era uma verso masculina da histria de Cinderela. Mas, havia um pequeno problema, a esposa de Potifar queria dormir com Jos.

    D e s p e r a t e H o u s e w i f e "

    Na Bblia lemos que Jos era formoso de porte e de semblante, ou seja, ele era bonito e sarado. Havia acabado de completar o Tritlon do N ilo . Jos devia ter pouco menos de 30 anos quando uma perua egpcia rica e obviamente entediada insistiu em ter um caso com ele, o brao direito do seu marido.

    Ela fez uma proposta a Jos (na verdade, ela lhe deu uma intimao), e a resposta cheia de classe do jovem revelou o carter dele: Como, pois, faria eu este tamanho mal e pecaria contra Deus? (Gn 39.9b).

    11 U m a aluso ao seriado Despemte Housewives, traduzido em Portugal com o D onas de Casa Desesperadas.

  • Foijados por Deus 13

    Jos tambm deixou bem claro para a esposa atraente de Potifar que seu patro o havia encarregado de todo o patrimnio e que no havia deixado nada fora do seu alcance, exceto ela. Jos no tinha a inteno de trair a confiana de Potifar. Com isso, recusou a proposta dela, mas a mulher no aceitou a resposta negativa. Todos os dias ela se oferecia a Jos, e ele se negava a ceder, procurando evit-la ao mximo.

    Frustrada, a esposa de Potifar preparou uma armadilha para Jos e conseguiu agarr-lo; porm, Jos se esquivou dela e fugiu, literalmente, deixando sua capa para trs. Ardilosa, a mulher ento usou a capa como evidncia, acusando-o de tentar estupr-la, e, no momento seguinte, Jos se viu na priso.

    Jos havia sido preso por fazer algo errado? No. Pelo contrrio, fez o que era certo. Perder sua posio de prestgio junto a Potifar foi um golpe duro para Jos, e agora ele estava preso (e quem sabia por quanto tempo ficaria naquela situao?) por um crime que no cometera.

    Contudo, mesmo na priso, o Senhor continuava com Jos. Foi por isso que este encontrou graa aos olhos do carcereiro.

    S a i a g r a t u i t a m e n t e d a p r i s o

    Em pouqussimo tempo, o carcereiro entregou nas mos de Jos todos os presos que estavam no crcere. Voc prestou ateno? Jos havia sido preso, e agora ele mandava na cadeia! Ele passou a gerenciar aquele crcere com a mesma integridade e classe com que havia administrado o patrimnio de Potifar. Mais uma vez, sua vida foi resgatada e ressuscitada.

    Pouco depois da promoo de Jos, dois importantes oficiais do fara tambm foram presos. Na mesma noite, os dois tiveram sonhos distintos, os quais Jos interpretou. Ele previu que em trs dias o cargo prestigioso do copeiro-mor lhe seria restitudo. Quanto ao padeiro- -mor, Jos predisse que em trs dias ele seria enforcado. Foi exatamente isso que aconteceu.

    Quando o copeiro-mor foi chamado at a presena do fara trs dias depois, Jos lhe disse: No se esquea de mim. Fale de mim ao

  • 14 Uma viso panormica da histria de Jos

    fara e tire-me daqui . Porm, assim que saiu da cadeia, o homem se esqueceu de Jos, que permaneceu em seu duplo cativeiro como escravo e prisioneiro por mais dois anos.

    Passados dois anos inteiros, certa noite, chegou a vez de o fara ter sonhos perturbadores. Foram sonhos estranhos e malucos, que no pareciam fazer sentido, mas que de algum modo o fara sabia serem importantes.

    O primeiro sonho era sobre sete vacas gordas e sete vacas magras e emaciadas. O sonho acordou o fara, mas ele logo voltou a dormir. Ento sonhou novamente, dessa vez com sete espigas cheias seguidas de sete espigas midas e esturricadas. Ao acordar na manh seguinte, antes que algum pudesse tomar caf, ele mandou chamar todos os sbios do reino para que interpretassem os dois sonhos.

    N o entanto, ningum naquele reino fazia a mnima ideia [do significado dos sonhos do fara]. Foi ento que o copeiro-mor se lembrou de Jos. Ele contou ao fara sobre quando Jos interpretara o seu sonho e sobre como tudo havia se passado exatamente como fora interpretado. O fara ento mandou chamar Jos imediatamente.

    [Assim que foi convocado pelo fara] Jos correu para o chuveiro, fez a barba e em alguns minutos estava diante do soberano mais poderoso da terra. Ele no s disse ao fara que os sonhos significavam que Deus enviaria sete anos de prosperidade seguidos de sete anos de fome severa, como tambm sugeriu uma estratgia ao monarca. Em suma, se o fara armazenasse 20% de toda a colheita do Egito durante os anos de fartura, o reino sobreviveria ileso aos anos de fome.

    Jos recomendou que o fara encontrasse um administrador, um hom em criterioso e sbio que ele pudesse colocar no comando de toda a terra do Egito, e o fara disse: Acho que j o encontrei.Voc o cara!

    A d i v i n h e q u e m v e m p a r a o j a n t a r

    Em aproximadamente 45 minutos, Jos passou da posio mais degradante para a mais prestigiosa do Egito. N um piscar de olhos, ele fora nomeado corregente do fara, tornando-se o segundo hom em mais poderoso da terra.

  • Foijados por Deus 15

    Sete anos se passaram, sete anos de fartura e prosperidade, e ento veio a fome, exatamente como Jos havia previsto. E, pouco tempo depois, adivinhe quem veio comprar trigo no Egito? Voc adivinhou. Os dez irmos malvados de Jos!

    Jac havia mandado os filhos viajarem rumo ao sul para comprar mantimentos, mas no deixara Benjamim ir com eles, por medo de que algum mal lhe acontecesse durante a viagem.

    Quando chegaram ao Egito para comprar comida, os dez rapazes nem poderiam imaginar que estariam lidando com Jos, seu irmo. Como poderiam saber? O sujeito se parecia com o fara e falava com eles por meio de um intrprete. Jos reconheceu imediatamente os irmos, e vemos na Bblia que, quando se inclinaram diante dele, se lembrou Jos dos sonhos que tivera a respeito deles (Gn 42.9a, a r a ) .

    Aps interrogar os irmos, Jos descobriu que seu pai ainda estava vivo em Cana e que seu irmo caula, Benjamim, havia ficado em casa. Ento Jos lhes pregou uma pea, acusando-os de serem espies e prendendo-os por trs dias. Quando finalmente decidiu solt-los, deu- -lhes uma chance de provarem que no eram espies, ordenando que fossem para casa e retornassem ao Egito com Benjamim. Enquanto isso, ele manteria Simeo no crcere.

    Para lhes causar uma ligeira indigesto no caminho de volta, Jos colocou secretamente o dinheiro que haviam usado para pagar pelos mantimentos nos sacos de trigo que estavam levando.

    N o caminho de casa, eles pararam num local como a cafeteria Starbucks, e um deles abriu um dos sacos de trigo para alimentar seu jumento. Foi assim que encontraram o dinheiro. Ao abrirem o restante dos sacos, os irmos se depararam com o dinheiro que pensavam ter pagado pelos mantimentos no Egito. A essa altura, estavam beira de um colapso nervoso.

    Eles ficaram apavorados, pois em seu ntimo sabiam que estavam sendo castigados por Deus pelo mal que haviam feito anos antes a Jos. Embora a Bblia ainda no tivesse sido escrita, eles estavam vivencian- do a verdade que Moiss escreveria sculos mais tarde: Estejam certos de que vocs no escaparo do pecado cometido (Nm 32.23b, n v i ) .

  • 16 Uma viso panormica da histria de Jos

    Os irmos voltaram para casa, exceto Simeo, e contaram ao pai tudo o que havia ocorrido. Disseram que deveriam retornar ao Egito com Benjamim; o nico problema era que Jac se recusava terminan- temente a permitir que Benjamim fosse com eles.

    N o entanto, como a fome persistia, Jac se convenceu de que no havia outra sada. Ento, enviou os filhos de volta ao Egito com o irmo mais novo a reboque e ordenou que levassem prata em dobro e devolvessem o dinheiro que haviam encontrado nos sacos de trigo.

    Quando Jos viu que os irmos estavam de volta com Benjamim, convidou todos para um grande banquete, assentando-os em volta da mesa na ordem exata do seu nascimento. Os irmos ficaram estupefatos. Como era possvel tamanha coincidncia? Alm disso, Jos ordenou aos criados que servissem a Benjamim uma poro cinco vezes maior que a dos outros.

    Quando Jos chegou sala do banquete, viu os irmos se inclinarem novamente diante dele e encontrou-se com Benjamim. Aquele encontro foi demais para o seu corao! Jos se apressou em sair da sala para se recompor. Ento, regressou ao banquete e comeu com os irmos. Depois de falarem um pouco de futebol e de poltica, todos se recolheram.

    Os irmos imaginaram que tudo estivesse resolvido, e que aquele estranho episdio com o assistente do fara estivesse encerrado. Todavia, estavam redondamente enganados.

    "Eu sou J os !"

    N a manh seguinte, Jos ordenou ao seu despenseiro que carregasse de trigo os jumentos de seus irmos e colocasse o dinheiro deles no meio da bagagem.Tambm mandou que ele colocasse sua taa de prata no saco de Benjamim. Quando deixaram o Egito, eles se sentiram aliviados. Mas, antes que tivessem se afastado muito da cidade, Jos enviou seus guardas atrs deles para que os alcanassem.

    No preciso dizer que os irmos ficaram apavorados ante a acusao de que haviam roubado a taa de prata do oficial egpcio. Quando os criados egpcios encontraram a taa no saco de Benjamim,

  • Fogados por Deus 17

    os irmos de Jos perceberam que estavam perdidos. Deus com certeza estava dando-lhes a paga pelo pecado terrvel que haviam cometido ao vender Jos como escravo.

    Ao retornarem cidade, prostraram-se mais uma vez diante de Jos, e Jud lhe implorou misericrdia. Explicou que, se Benjamim no voltasse para casa, o pai deles morreria de desgosto, j que por anos havia se lamentado incessantemente pela morte de seu outro filho.

    Jos mandou que todos sassem do aposento, exceto seus irmos. Ento declarou: Eu sou Jos!

    Aquela revelao, com certeza, deixou-os em estado de choque. Jos ento se apressou em tranquiliz-los, dizendo que no deviam temer. Ele demonstrou uma extraordinria atitude de misericrdia. Disse que Deus o enviara ao Egito para preservar a vida de muitas pessoas, inclusive a deles.

    Jos sugeriu que os irmos voltassem para caSa e trouxessem Jac e toda a sua famlia para o Egito. Haveria mais cinco anos de fome, e ele os sustentaria e construiria moradias para eles na terra de Gsen, uma regio do Egito.

    Quando voltaram para casa, Jac ficou pasmo ao ouvir o relato do que ocorrera. Eles ento pegaram seu pai, suas esposas e seus filhos e partiram dali para o Egito, a fim de habitarem junto a Jos.

    O dia em que Jac finalmente reviu Jos, o filho que ele julgava estar morto, foi um dos mais felizes de sua vida. Jac e Jos viveram ainda 17 anos juntos, restaurando o relacionamento entre pai e filho e recuperando o tempo perdido. [S depois desse perodo] M orreu Jac, o pai dos 12 homens que um dia dariam origem s 12 tribos de Israel.

    Quando Jac morreu, seus dez filhos entraram em pnico. Por que isso? Eles acreditavam que Jos agora retribuiria o mal que haviam feito a ele tanto tempo antes. Aos 49 anos, Jos era virtualmente o homem mais poderoso do planeta. Ele poderia fazer o que bem entendesse para se vingar dos irmos pelo que lhe haviam feito quando ele tinha apenas 17 anos de idade.

    Alarmados, os irmos de Jos enviaram uma mensagem a este que basicamente dizia: Ei, Jos, ns quase nos esquecemos, mas, antes

  • 18 U m a viso panormica da histria de Jos

    de morrer, papai mencionou que queria muito que um dia voc nos perdoasse por todo o mal que fizemos a voc (veja Gn 50.16,17).

    Quando Jos escutou essas palavras, chorou. Ele conhecia o corao dos irmos e sabia o que estava por trs daquela mensagem. Estavam m orrendo de medo de que ele os enforcasse e esquartejasse como fizeram a William Wallace em Corao Valente (embora isso s fosse acontecer 2.500 anos depois).

    A resposta de Jos revelou sua perspectiva de tudo o que lhe havia acontecido. Ele disse: No temais;porque, porventura, estou eu em lugar de Deus? (Gn 50.19b).

    Em outras palavras, Jos quis dizer que seus irmos no precisavam ter medo, pois Deus estava no controle de tudo o que havia acontecido. Por que eu me tornei o hom em mais poderoso do mundo? Por causa dos meus contatos ou dos meus diplomas? No, foi o prprio Deus quem me colocou aqui. Vs bem intentastes mal contra mim, porm Deus o tornou em bem, para fa zer como se v neste dia, para conservar em vida a um povo grande (Gn 50.20).

    Jos demonstrou, com isso, no estar contra seus irmos, mas ao lado deles.Eu sustentarei vocs e seus filhos; com essas palavras,Jos expressou benignidade e misericrdia para com seus irmos, os mesmos que haviam planejado a morte dele e o haviam vendido como escravo, anos antes.

    Jos fez essa declarao aos 49 anos. Ele ainda gozaria de uma vida longa, m orrendo somente aos 110 anos. Mais de 400 anos mais tarde, quando Moiss tirou os israelitas do Egito, eles carregaram os ossos de Jos e enterraram-nos na Terra Prometida, a terra de Abrao, Isaque ejac.

    Esta a viso panormica da histria de Jos.Agora, pousaremos nosso avio e mergulharemos no caudaloso

    rio de verdades que corre daqui para a eternidade, com algumas corredeiras ao longo do caminho.

    Vai ser uma aventura e tanto!

  • C a p t u l o 1

    D e modo estranho e lento, D eus est trabalhando

    Soberano Rei dos cus, cheio de graa e sabedoria, todos os meus diasesto em Tuas mos, e todas as circunstncias sob o Teu mandar.

    Jo h n Rylands

    Se algum dia houve uma verdadeira vtima, esta foi Jos.O mundo hoje parece estar cheio de vtimas. Voc j percebeu

    isso? Todos se colocam nessa posio e esto a todo tempo procurando vingar-se [daquele ou daquilo que gerou o seu sofrimento],

    Mas, Jos foi uma vtima de verdade. Se ele estivesse vivo hoje, talvez sua histria trgica fosse contada no programa da Oprah, e ela no dedicaria apenas um programa a ele, levaria uma semana inteira para contar sua histria. As lgrimas correriam soltas, e no haveria lenos de papel suficientes para toda a platia. Psiclogos seriam chamados para analisar o trauma de Jos.

    Contudo, aos 49 anos, quando encarou seus irmos, Jos no era um hom em traumatizado. No estava amargurado nem cheio de dio. Para falar a verdade, no era isso que seus irmos esperavam que acontecesse. Eles acreditavam que Jos lhes faria o mesmo que teriam feito a ele caso estivessem em seu lugar. Mas, em vez de

  • 20 De modo estranho e lento, Deus est trabalhando

    tortur-los, prend-los ou mat-los logo de uma vez, Jos usou de misericrdia para com seus irmos.

    Eles no conseguiam entender a reao de Jos. N o corao deles, no havia nada alm do medo, isso porque no conheciam seu irmo nem o Deus deste. E, como no temiam ao Senhor, estavam apavorados com o que o irmo poderia fazer.

    Jos, porm, havia aprendido a temer a Deus, por isso falou palavras de conforto e perdo aos irmos amedrontados. Ele era um hom em de Deus, no um hom em mundano. A ideia de vingar-se ou pagar-lhes na mesma moeda sequer lhe passava pela cabea.

    Em toda famlia, existe algum que precisa crescer.Em toda famlia, existe algum que precisa superar a mgoa.Em toda famlia, existe algum que precisa amadurecer e perdoar.Os irmos de Jos mereciam a retribuio de seus atos e tudo

    aquilo que temiam. Mas, no foi isso o que aconteceu. A forma como Jos agiu, com certeza, deixou-os para l de chocados.

    Por que no receberam o que mereciam? Porque seu irmo era um hom em maduro, que no havia se deixado dominar pela amargura nem pelo desejo de vingana. Ele no queria intimidar, processar nem ferir ningum. Foi compassivo e bondoso com aqueles que haviam tentado destru-lo, amparando financeiramente seus irmos e as famlias destes.

    Nada na reao de Jos indica que ele se sentia uma vtima. Na verdade, essa atitude s foi possvel porque ele no se via como vtima, e sim como um vencedor.

    D e v t i m a a v e n c e d o r

    Como Jos passou de vtima a vencedor? Apenas uma doutrina nos permite viajar por essa estrada, e foi essa verdade que Jos abraou de todo o corao. Trata-se da doutrina da soberania e da providncia de Deus. Isso significa que nosso Senhor um grande Deus. Provavelmente, muito maior do que pensamos.

    Esses dois atributos divinos so minas de ouro que infelizmente tm sido ignoradas e esquecidas pela maioria dos cristos. Se algum

  • Captulo 1 21

    lhe oferecesse uma mina de ouro de graa, voc imediatamente acharia a oferta boa demais para ser verdade. Mas, digamos que a oferta seja verdadeira, e que, alis, esse algum esteja oferecendo-lhe no uma, mas duas minas de ouro.E disso que estamos falando aqui!

    Essas duas minas de ouro so duas verdades gmeas. Temos um grande Deus, que trabalha de modo soberano e providencial em nossa vida. Agora, preste bastante ateno nisto: para que voc possa experimentar uma virada de 180 graus em seu corao, transformando-se de vtima em vencedor, precisa ancorar sua vida nessas duas verdades. Sem a soberania e a providncia de Deus, voc ser sempre uma vtima. Elas so absolutamente essenciais para a sua sobrevivncia. Ao descobrir a verdade desses atributos do Pai celestial, as circunstncias da sua vida ficaro sob uma perspectiva totalmente diferente.

    A soberania e a providncia de Deus so como os dois lados de uma mesma moeda, inescapavelmente conectados um ao outro. Andam sempre juntas. E uma tragdia que essas verdades poderosas tenham sido esquecidas por nossa gerao. Ento, o que isso significa?

    Jos perguntou aos irmos: Estou eu em lugar de Deus? (Gn 50.19b). Diante do temor deles, questionou: Esperem um pouco. Como vocs acham que cheguei a esta posio de poder e autoridade? Acham que foi por acaso?

    Jos no havia alcanado aquela posio por sorte, por ter um currculo invejvel, nem porque conhecia pessoas influentes. Chegou aonde chegou porque Deus, desde antes da fundao do mundo, tinha um plano para ele. Chegou ali porque aquele era o lugar que Deus tinha para ele, e o Senhor o havia colocado naquele grande palcio de modo soberano e providencial.

    Jos no alcanou sua bno por coincidncia.Jos no alcanou sua bno por sorte.Jos no alcanou sua bno por acaso.Deus havia determinado que ele ocupasse aquela posio mesmo

    antes de criar o universo. Foi por isso que Jos chegou aonde chegou. Ele no congratulou a si mesmo por essa conquista, pois sabia que vinha da mo do Senhor.

  • 22 De modo estranho e lento, Deus est trabalhando

    Ento, o que a soberania de Deus? A soberania inclui trs ideias principais: propriedade, autoridade e controle (Eerguson e t a l , 1988, p. 654)1. Deus criou tudo, dono de tudo e reina sobre tudo; Ele controla tudo.

    O mesmo princpio poderia ser aplicado aos soberanos que detinham a propriedade e o domnio de seus territrios, porm lembre-se de que Jesus o R ei dos reis. Ele o Senhor de todos os reis, domina sobre todos eles, controla todos os reis da histria no passado, no presente e no futuro , porque foi Ele quem criou cada um deles. Em outras palavras, Ele quem est no controle.

    Algumas passagens bblicas podem demonstrar essa verdade de modo ainda mais concreto:

    Porque eu conheo que o S E N H O R grande e que o nosso D eus est

    acima de todos os deuses. Tudo o que o S E N H O R quis, ele o fe z , nos cus

    e na terra, nos mares e em todos os abismos.

    S alm o 135.5,6

    M as o nosso Deus est nos cus e fa z tudo o que lhe apraz.

    Sa lm o 115.3

    O S E N H O R tem estabelecido o seu trono nos cus, e o seu reino domina

    sobre tudo.

    S a lm o 103.19

    D o S E N H O R a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele

    habitam. Porque ele a fundou sobre os mares e a firm ou sobre os rios.

    Sa im o 24.1,2

    Estamos falando de um grande Deus. U m Deus maior que o universo que Ele criou, alm do que a nossa mente capaz de compreender. Esse Deus est no controle de todas as coisas. Ele no somente tem o controle do movimento das galxias e de incontveis trilhes de estrelas, mas tambm da sua vida, de tudo o que se passa com voc.

  • Captulo 1 23

    Isso o incomoda? Essa verdade de fato incomoda a maioria das pessoas. A soberania de Deus como uma plula grande demais para engolir, que costuma ficar atravessada em nossa garganta, causando um considervel desconforto.Todavia, essa uma verdade que voc precisa engolir e digerir bem, um princpio sobre o qual deve fundamentar sua vida.

    O grande telogo B. B. Warfield descreveu muito bem a raiz do nosso desconforto. Alis, gosto muito desse autor. Ele no fica enchendo lingia e no chato como a maioria dos sujeitos que ensinam teologia. Ele chuta direto para o gol , e seu chute uma verdadeira bomba.

    Todos ns desejamos pertencer a ns m esm os e ressentim o-nos

    quando pertencem os principalm ente de m odo absoluto a qualquer ou tra pessoa, m esm o quando essa outra pessoa Deus.

    Sentim o-nos com o o au tor do h ino que com ea dizendo: E u j fui ovelha e rran te , e logo declara: e no m e deixava contro lar .

    N o perm itim os que n ingum nos controle. O u m elhor, para ser

    mais exato, recusam o-nos a adm itir que somos controlados.A cho que mais certo dizer que nos recusamos a adm itir o fato

    de que somos controlados. Q u e r adm itam os ou no, a verdade

    que somos controlados. A creditar que no somos controlados im aginar que D eus no existe, pois um a vez que m encionam os a palavra Deus, estamos falando de controle. Se um a nica criatura form ada p o r D eus escapa do Seu controle, naquele exato m o m en

    to ela est efetivam ente abolindo a existncia do Senhor.

    U m D eus que pudesse ou quisesse criar um ser o qual Ele no pudesse ou no quisesse controlar na realidade no seria Deus. N o m om ento em que Ele fizesse tal criatura, estaria obviam ente abdi

    cando do Seu trono. O universo que Ele criou cessaria de ser o Seu

    universo, ou melhor, cessaria de existir, j que o universo sustentado to som ente pelo poder de Deus. (Warfield, 1916, p. 265-267)2

    A soberania de Deus garante que Ele est no controle de tudo. Por isso Ele um grande Deus, e por isso um Deus grandioso.

  • 24 De modo estranho e lento, Deus est trabalhando

    Isso quer dizer que, quando olhamos ao nosso redor e temos a ntida sensao de que o mundo e a nossa vida esto fora de controle, estamos equivocados. Podemos achar que as circunstncias descarri- lharam e esto prestes a cair em um abismo, mas na verdade nosso trem est movendo-se exatamente na rota e no horrio previstos e em perfeita harmonia com o plano e o propsito divinos.

    H cerca de 300 anos, John Flavel disse sua congregao na Inglaterra: Assim como palavras em hebraico, algumas das providncias de Deus so mais bem compreendidas de trs para frente . Em portugus, a leitura feita da esquerda para a direita. Em hebraico, da direita para a esquerda. Ento, para ns, o hebraico lido de trs para frente.

    Alguns captulos de nossa vida parecem no fazer sentido. Somos pegos de surpresa por tragdias e perguntamo-nos onde Deus est. Simplesmente no faz sentido! Onde est esse Deus que me ama, e por que Ele permitiu que isso acontecesse comigo?Voc e eu podemos fazer esse tipo de pergunta milhares de vezes, mas o fato que esses captulos confusos de nossa vida jamais faro sentido enquanto estivermos no meio deles.

    Quando se trata desses episdios desconcertantes, s vezes preciso esperar cinco, dez, ou at 20 anos para que as coisas comecem a fazer sentido. S ento, olharemos para trs como Jos e veremos como algumas das providncias de Deus se tornaram perfeitamente claras.

    Ao relembrarmos determinadas situaes, podemos ver que Deus estava no controle at mesmo quando pensvamos que nossa vida estava descontrolada. Muitas vezes no conseguimos enxergar a providncia divina at que a tempestade passe e examinemos [novamente a situao]. Olhamos para trs e custamos a acreditar que sobrevivemos ferocidade daquela tempestade. Mas, o fato que sobrevivemos. E isso por causa da bondade e do plano de Deus.

    No conseguamos ver esse plano enquanto estvamos em meio tribulao. Na verdade, em alguns momentos sentimos como se Deus nos houvesse abandonado.

    J sabia o que era sentir-se assim. Em meio sua perda devastadora e ao seu desespero, ele no podia encontrar o Senhor em lugar algum:

  • Captulo 1 25

    A h ! Se eu soubesse que o poderia achar! Ento me chegaria ao seu tri

    bunal. Com boa ordem exporia ante ele a minha causa e a minha boca

    encheria de argumentos. Eis que, se me adianto, ali no est; se torno para

    trs, no o percebo. Se opera mo esquerda, no o vejo; encobre-se mo

    direita, e no o diviso.J 23 .3 ,4,8 ,9

    Jos deve ter sentido a mesma coisa durante aquela longa viagem de camelo, enquanto suas correntes retiniam a cada passo do caminho para o Egito, rumo a uma vida de escravido sem fim.

    A soberania de Deus nos garante que Ele o R ei e que est no controle absoluto de tudo; ela tambm assegura que o controle [do que acontece em nossa vida] no pertence a ns.

    Jos se dirigiu aos seus irmos no na posio de vtima, mas de vencedor. Como foi possvel ele no ter sido dominado pela amargura e pelo desejo de vingana? Ao fazer um retrospecto de sua vida, Jos pde perceber o controle absoluto de Deus operando o Seu plano eterno em todas as circunstncias por que passou, tanto as boas como as ms.Tudo estava sob o controle soberano do grande Deus de Israel.

    E o que implica a providncia? Ela se manifesta quando Deus executa o Seu plano em nossa vida e em todo o universo. H um provrbio que diz que o diabo est nos detalhes, mas isso absolutamente incorreto. E Deus quem est nos detalhes.

    Senhor, tu s o meu Deus; eu te exaltarei e louvarei o teu nome, pois com

    grande perfeio tens feito maravilhas, coisas h muito planejadas.Is a a s 25.1 (nvi)

    Ser que estamos falando de planos que Deus traou na correria da noite passada para consertar algo que deu errado em nossa vida? Ser que o Senhor est formulando um Plano B porque o Plano A no funcionou para ns? No!

    Todos os planos de Deus foram traados por Ele antes da criao do mundo. Ele no passou a noite em claro, com planilhas e mapas espalhados pelo cho do cu, retificando o Seu propsito para que este se

  • 26 De modo estranho e lento, Deus est trabalhando

    encaixasse nas atuais circunstncias de nossa vida. No! Seus planos para ns sempre foram e continuam sendo os originais. Planos perfeitos, que jamais precisaro ser retificados. Isso que um grande Deus!

    Os planos que Ele delineou sempre so executados com perfeio. Sua vontade certa, jamais incerta. Para que o Seu propsito seja executado e cumprido, Ele coordena os mnimos detalhes da nossa vida e de todo o universo. Deus executa, sustenta e mantm tudo funcionando de acordo com o Seu querer. E isso s pode ser efetuado quando se est no controle absoluto. Ele est no controle, por isso J declarou: Porque [Deus] cumprir o que est ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo (23.14).

    O plano de Deus para a sua vida ser cumprido no tempo exato. John J. Murray resume isso muito bem:

    O p lano de D eus perfeito .

    O p lano com pleto .

    O p lano para o m e u b e m suprem o.

    O p lano secreto. D eus o esconde de m im at que ele se cum pra.

    E u o descubro dia aps dia co n fo rm e ele vai desenro lando-se .

    ( M u r r a y , 1990, p. 10)3

    Basicamente, a doutrina da providncia nos ensina que de contnuo Deus sustenta e supre as necessidades de tudo o que Ele cria, e isso inclui voc. Ele o criou e jamais cessar de suprir suas necessidades e sustent-lo assim que o Senhor executa o Seu plano em sua vida.

    E afirmado em Hebreus que Jesus sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3b). A mesma passagem na Bblia de Jerusalm declara que Cristo sustenta o universo com o poder de sua palavra.4

    O que esse nosso grande Deus fica fazendo o dia todo? O Dr.Wayne Grudem nos d um vislumbre de como Deus investe o Seu tempo:

    A palavra grega traduzida com o sustenta phero, que significa carre

    gar, conduzir. Ela m uito usada no N ovo Testam ento em referncia

    ao ato de carregar algum a coisa de u m lado para o outro, com o no

  • Captulo 1 27

    caso dos quatro amigos que levaram o hom em paraltico at Jesus

    (Lc 5.18), ou quando Paulo pediu a T im teo que lhe trouxesse a

    capa e os livros que ele havia deixado em Trade (2 T m 4.13). A

    palavra no significa apenas sustentar. E m H ebreus 1.3, [a gram

    tica] indica que Jesus est continuam ente conduzindo tudo o que

    existe no universo pela palavra do seu poder.

    D e m odo sem elhante, em Colossenses 1.17, Paulo faz um a alu

    so a C risto dizendo que todas as coisas subsistem por Ele. A expres

    so todas as coisas se refere a tudo o que foi criado no universo (v.

    16), e o versculo afirm a que C risto m antm a existncia de todas

    as coisas, ou seja, nele tudo continua a existir ou a perdurar.

    Am bos os textos indicam que, se C risto interrom pesse sua ati

    vidade contnua de sustentar todas as coisas no universo, ento

    tudo, exceo do D eus trino, cessaria instantaneam ente de existir.

    ( G r u d e m , 1999, p. 143)5

    Entretanto, o mundo continua a existir, assim como voc. Ento, definamos providncia da seguinte forma: Deus continuamente sustenta e supre as necessidades de tudo o que Ele cria, e nada independente de quo grande ou pequeno escapa ao Seu absoluto controle. Ele o R ei e tem um plano. Seu plano soberano para voc, para m im e para o m undo inteiro se cumprir exatamente segundo as Suas especificaes.

    Quando Jos aliviou os temores de seus irmos perguntando-lhes: Estou eu em lugar de Deus? (Gn 50.19b), ele estava olhando em retrospectiva para os eventos de sua vida. E, quando viu a sua histria dessa forma, ele reconheceu a providncia soberana do Senhor dirigindo cada um de seus passos, at mesmo o momento em que foi raptado e vendido como escravo.

    Ao olhar para trs, Jos enxergou o plano providencial perfeito que o havia elevado posio de corregente do Egito. Quando avaliou sua histria em retrospectiva, compreendeu a organizao extraordinria do plano minucioso do Senhor para sua vida. Deus estava no controle de tudo, at mesmo dos detalhes.

  • 28 De modo estranho e lento, Deus est trabalhando

    F a a m o s u m a p a u s a p a r a f a l a rUM POUCO DE FUTEBOL AMERICANO

    Talvez esse assunto esteja ficando pesado demais. Ento, por que no falamos um pouco sobre futebol americano?

    Se voc entende de futebol americano, deve estar familiarizado com Bill Belichick, o lendrio treinador dos N ew England Patriots. Ele levou os Patriots a trs vitrias no Super Bowl e considerado um dos maiores treinadores de futebol americano da atualidade (apesar das recentes alegaes de que costuma enviar seus assistentes para dar uma espiada nos treinos de seus futuros adversrios).

    O que voc no deve saber que o pai dele, Steve Belichick, talvez tenha sido o maior olheiro na histria do futebol americano. Ele era treinador assistente da M arinha americana, e sua principal funo era observar os futuros adversrios e apresentar um relatrio equipe de treinadores. Antes de Steve Belichick, o trabalho de olheiro era feito de um modo um tanto aleatrio. Steve o transform ou em uma cincia.

    Nos anos 50, o futebol americano universitrio dominava a cena, e a Marinha e o Exrcito americanos eram verdadeiras potncias futebolsticas. Em 1957, o Exrcito se gabava de possuir dois A li American111 running backsIV e um ataque que raramente passava a bola. A filosofia de olheiro de Steve Belichick era a seguinte: Descubram o que os outros caras fazem de melhor, o que preferem fazer, principalmente quando esto sob presso em um jogo importante; descubram tudo e forcem- -nos a fazer jogadas com que no esto acostumados ( H a l b e r s t a m , 2005, p. 2)6.

    Belichick passou horas pesquisando o que o Exrcito gostava de fazer, ento apresentou ao treinador principal da Marinha, Eddie

    III AU American um ttu lo honorrio esportivo usado nos E U A para se referir a jogadores amadores que se destacam em sua atuao em times de universidades ou de escolas de ensino m dio, selecionados po r m em bros da m dia nacional.

    IV U m nmning back (RJB) um a posio do fu tebol am ericano que norm alm en te se alinha no backjield. O principal papel de u m nmning back co rrer com a bola que pode ser passada para ele pelo quarterback ou em u m stiap d ireto do center, sendo que ele tam bm p ode receber e ajudar no bloqueio.

  • Captulo 1 29

    Erdelatz, o seu plano para impedi-los de executar essas jogadas. O consenso geral antes do jogo, que se deu em um estdio com lotao esgotada, era o de que a M arinha no tinha chance alguma de enfrentar o ataque veloz e poderoso do time do Exrcito.

    Mas, o time conseguiu fazer exatamente isso. Ele neutralizou os jogadores do Exrcito forando-os a executar o que estes no queriam, ou seja, passar a bola. O time do Exrcito no conseguiu dominar o jogo e perdeu para o time da M arinha de 14 a zero.

    N o vestirio, um colunista de esportes congratulou Erdelatz pela vitria, mas ele apontou para Belichick e disse: Ele ganhou o jogo para ns h duas semanas ( H a l b e r s t a m , 2005, p. 3,4)7. Em outras palavras, o relatrio entregue por Belichick foi to detalhado e preciso que a Marinha ganhou o jogo duas semanas antes de entrar em campo.

    H algo que voc precisa saber sobre Deus. Ele no apenas deu uma espiada em seu futuro, mas planejou-o. E no fez isso duas semanas atrs, mas antes de criar o universo. Por isso, no fmal, voc ser um vencedor!

    Voc no precisa ser uma vtima. Assim como Jos provavelmente pensou quando estava a caminho de um futuro de escravido, voc pode pensar que a sua vida est acabada. Mas, por causa do plano eterno e grandioso de Deus e de Sua execuo providencial desse plano, Jos se tornou um vencedor.

    C om voc no ser diferente! Com o Jos, voc precisa abraar a soberania e a providncia de Deus. Essa a nica forma de escapar da vitimizao.

    Jonathan Edwards expressou [sua confiana na soberania e na providncia de Deus] melhor que ningum: Todos os tomos do universo so direcionados por Cristo de modo a ocuparem a posio mais vantajosa possvel para os cristos .

    Essa uma declarao verdadeira e extraordinria, mas inclui um aviso. U m aviso? Por que precisaramos de um aviso anexado afirmao de que todos os tomos do universo so direcionados por Cristo de modo a ocuparem a posio mais vantajosa possvel para os cristos? A frase no resume quase perfeitamente o fato de que

  • 30 De modo estranho e lento, Deus est trabalhando

    temos um grande Deus que trabalha de forma soberana e providencial em nossa vida?

    Sim, verdade. Contudo, a afirmativa [de Edwards] inclui um aviso bblico que voc precisa levar em considerao ao analisar sua vida e as circunstncias por que passa. Imagine que voc est lendo a seguinte placa na estrada:

    A V I S O

    DEUS TRABALHA DE M O D O ESTRANHO.DEUS TRABALHA DE M O D O LENTO.

    D eus t r a b a l h a de m o d o e s t r a n h o

    Agora voc j conhece a histria de Jos e sua incrvel ascenso posio de corregente no Egito. N o entanto, ser que no havia uma maneira mais fcil de coloc-lo no topo?

    Se eu fosse Deus e quisesse colocar Jos no topo da escada do sucesso egpcia, transformando-o no brao direito do fara, teria planejado que ele se formasse no ensino mdio com as maiores notas da turma.Tambm faria com que ele fosse um grande atleta.

    Que combinao ideal: um grande atleta que s tira nota mxima nas avaliaes. Ento, eu planejaria que Jos fosse escalado para o time estadual de futebol americano, o que chamaria a ateno do treinador do time da Universidade do Egito . Jos ganharia uma bolsa integral para a faculdade e concluiria seus estudos em gesto de negcios. Porm, no ltimo jogo, no ltimo ano da faculdade, ele machucaria o joelho; isso acabaria com a possibilidade de tornar-se um jogador profissional.

    Por causa da impossibilidade de uma carreira esportiva, Jos cursaria um mestrado e depois um doutorado em administrao. Quando se formasse, ele se casaria com a garota dos seus sonhos, que estaria namorando desde o ensino mdio, passaria em um concurso pblico, e, depois de 20 anos de uma carreira brilhante, seria escolhido a dedo pelo fara para administrar a crise agrcola que comearia a despontar no horizonte.

  • Captulo 1 31

    Esse plano faz muito mais sentido para mim. Ele levaria Jos posio de corregente com muito menos dificuldade e estresse. J pensei muito sobre isso, e, para mim, esse parece simplesmente ser um caminho bem melhor. Entretanto, d s uma olhada no que Deus tem a dizer sobre nossos caminhos e planos lgicos :

    Porque os meus pensamentos no so os vossos pensamentos, nem os vossos

    caminhos, os meus caminhos, d iz o Senhor. Porque, assim como os cus so

    mais altos do que a terra, assim so os meus caminhos mais altos do que

    os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos

    pensamentos.

    Is a a s 55.8,9

    Os caminhos do Senhor no so os nossos caminhos. Os pensamentos do Senhor no so os nossos pensamentos. Os planos do Senhor no so os nossos planos. Deus trabalha de modo estranho!

    O plano do Senhor para Jos inclua o mal que seus irmos fizeram a ele. Estranho, no? Eles tinham trado o irmo e mentido para o seu pai. O que cometeram foi um pecado abominvel e brbaro. Movidos pelo cime e pelo dio, intentaram o mal. Deus o tornou em bem, para fa zer como se v neste dia (Gn 50.20b).

    Voc consegue entender o que Jos disse a seus irmos quando os tranquilizou quanto ao seu futuro? Ele assumiu que a providncia de Deus maior do que qualquer pessoa, momento ou lugar. Seus irmos intentaram o mal, mas o Senhor tom ou posse daquele ato cruel e transformou-o em bem. Deus no impediu o plano maligno deles nem o interrompeu. Mas, em todo o tempo, Sua mo invisvel estava no controle de todos os detalhes e circunstncias.

    Enquanto passava por aquela difcil situao, Jos se encontrava tomado de choque, angstia e descrena. Mas agora, 32 anos mais tarde, quando olha para a sua vida em retrospecto, consegue ver a incrvel providncia de um Deus santo e bondoso.Tudo o que aconteceu a Jos impressionante, mas tambm estranho. Maravilhosamente estranho.

  • 32 De modo estranho e lento, Deus est trabalhando

    D e u s t r a b a l h a d e m o d o l e n t o

    Mesmo Jos se sentindo arruinado e acreditando que tudo estava perdido, com o corao partido por causa das decepes, a mo do seu grande Deus continuava trabalhando em sua vida. Jos deve ter pensado que as coisas jamais mudariam. Ele havia sentido o gostinho da prosperidade na casa de Potifar, mas aqueles dias tinham ficado para trs.

    Jos fora preso por um crime que no cometera, e no existia a menor esperana de que algo em sua vida pudesse mudar. Ele no conhecia um advogado famoso que pudesse ajud-lo nem havia um Supremo Tribunal para o qual pudesse apelar.

    No havia sada para Jos. Estava tudo acabado! Dia aps dia, semana aps semana, ms aps ms, ele no via absolutamente chance alguma de uma virada. Nada estava acontecendo! Ele havia se resignado a cuidar de seus afazeres dirios e buscara adaptar-se o melhor possvel sua vida como prisioneiro, to sem graa, to entediante, to lenta.

    Todavia, um chamado mudou tudo! E, 45 minutos depois, ele se viu transformado no [segundo] homem mais poderoso da face da terra.

    DEUS TRABALHA DE M O D O ESTRANHO.DEUS TRABALHA DE M O D O LENTO.

    MAS DEUS TRABALHA.E SABE EXATAMENTE O QUE EST FAZENDO EM SUA VIDA.

    A o n d e q u e r e m o s c h e g a r c o m i s s o ?

    Este livro vai levar voc a mergulhar nas profundezas [da histria de vida de Jos], No vai ser um livro do tipo O gato da Cartola, de Dr. Seuss. Se isso que voc est procurando, melhor ir at a livraria mais prxima e buscar [algum ttulo] na seo infantil.

    Assim como eu, provvel que voc j tenha desperdiado tem po demais permanecendo no lado raso da vida, andando por a com gua pelas canelas, fingindo que est nadando. Quero aprofundar-me e fortalecer-me como hom em de Deus, e, a menos que eu esteja enganado, voc quer o mesmo.

  • Captulo 1 33

    Ento, prepare-se! Mergulharemos fundo na vida desse ousado homem de f. A medida que fizermos isso, vamos deparar-nos com dez evidncias irrefutveis da providncia de Deus. Assim como essas providncias foram uma realidade na vida de Jos, elas so na sua. Os ttulos dos captulos so declaraes da soberania e da providncia do nosso grande Deus.

    Ele est no controle:

    i / de perdas devastadoras; t / de todas as circunstncias; i / de todo o seu trabalho; i / de retrocessos dolorosos; l / de esperanas despedaadas;1/ das esperas prolongadas; i / de indivduos poderosos;*/ da fome, do clima e dos desastres naturais; s / de todas as promoes e avanos;\ / de todos os eventos da sua vida e far com que tudo coopere

    para o seu bem.

    Existe uma obra que Deus preordenou para a sua vida (Ef 2.8- 10). Nada pode prever nem deter esse propsito. Talvez voc no veja ou sinta isso, pode ser que nem acredite nessas palavras hoje, mas no importa: o Senhor est no controle.

    Quando Davi recebeu essa revelao, talvez estivesse deitado sob as estrelas no deserto enquanto pastoreava as ovelhas de seu pai e, ento, tenha cantado o seguinte:

    N o teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e

    determinado, quando nem um deles havia ainda.Sa lm o 139.16b (a ra )

    Em outras palavras, o plano do Senhor j foi escrito e se cumprir [ risca].

  • C a p t u l o 2

    Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    Nas tuas mos, esto os meus dias. D avi (SI 31 .15a)

    Ele tinha 25 anos, e aquele deveria ter sido o melhor ano de sua vida. O jovem acabara de casar-se com a mulher que amava e havia planejado cuidadosamente cada detalhe de sua lua de mel na Europa.

    Entretanto, durante uma forte tempestade, sua bela esposa, Annie, foi atingida por um raio. O incidente a deixou paraltica pelo resto da vida. Nos 39 anos que se seguiram, seu esposo cuidou fielmente dela. O casal nunca mais pde viajar, e os dois comearam a colecionar cartes postais do mundo todo. Jamais poderiam visitar pessoalmente aqueles lindos lugares, mas juntos apreciavam as fotos que seus amigos lhes enviavam de suas viagens.

    O marido era o grande telogo cristo Benjamin B. Warfield. Por quase 40 anos, ele deu aulas, escreveu artigos e cuidou da esposa. O rganizou seu horrio de modo a quase nunca sair de perto da mulher por mais de duas horas.

    Por causa da paralisia de Annie, eles nunca puderam ter filhos nem desfrutar da vida que haviam planejado juntos. Foi uma perda

  • 36 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    devastadora. Contudo, as pessoas mais prximas do casal sabiam que eles no eram vtimas. Como Jos, Benjamin e Annie eram vencedores mesmo em meio quela perda.

    Alguns anos mais tarde, Dr. Warfield escreveu as seguintes palavras acerca da providncia de Deus. E uma citao longa, mas decidi inclu-la por causa de sua profunda sabedoria. As vezes somos tentados a folhear um livro s pressas (tambm fao isso de vez em quando), porm a seguinte citao merece uma leitura cuidadosa.

    Voc acabou de ler sobre a incrvel perda sofrida pelo Dr. War- field. Agora observe como suas palavras no demonstram sequer um pingo de amargura ou ressentimento contra Deus:

    Tomemos com o exemplo um acontecim ento qualquer, seja ele grande ou pequeno a queda de um imprio ou de um passarinho, a qual o Senhor mesmo afirm ou jamais acontecer sem a vontade de nosso

    Pai (Mt 10.29) [...] Deus certamente tem conhecim ento de tudo o

    que se passa no universo. N o h sequer um canto escuro que escape aos olhos do Senhor, que tudo v; nada ocorre que esteja oculto ao Seu olhar universal. E certamente no se pode imaginar que algum

    acontecim ento no universo o pegue de surpresa. [...] Tampouco po

    demos imaginar que Deus seja indiferente aos acontecimentos, como se, embora soubesse que algo est para ocorrer, Ele no se importasse

    se o episdio de fato acontea ou deixe de acontecer. Nosso Deus no assim; Ele um Deus que se im porta infinitamente com as

    mnimas coisas. Acaso nosso Salvador no citou [o cuidado com] os

    passarinhos e os cabelos de nossa cabea para nos ensinar essa verdade?O ra, porventura algum poderia im aginar que, em bora Deus

    se im porte infinitam ente conosco, E le seja im poten te diante dos

    acontecim entos do Seu universo e no possa preveni-los? Acaso deveramos supor que desde a eternidade Ele v acontecim entos contrrios Sua vontade aproxim arem -se cada vez mais no tem po,

    at finalm ente ocorrerem , sem, contudo, poder im pedi-los?

    Bem , se Ele no pudesse evitar tais acontecim entos, no preci

    saria ter criado o universo; ou talvez devesse t-lo feito de form a

    diferente. D eus no tinha obrigao alguma de criar este universo

  • Captulo 2 37

    ou qualquer outro que fosse. N ada o com peliu a isso, exceto Seu

    bel-prazer; e nada capaz de for-lo a perm itir a ocorrncia de

    qualquer evento contrrio aos Seus desgnios no universo que Ele

    mesm o criou ao Seu bel-prazer.

    Est claro que certas coisas no deveriam ocorrer no universo

    criado po r Deus, pois essas coisas lhe desagradam. Ele no fica para

    do, observando im potente o desenrolar de acontecim entos contr

    rios ao Seu querer. O que quer que acontea j foi antevisto por Ele

    desde a eternidade, tendo xito apenas pelo fato de enquadrar-se

    vontade do Senhor. [...] Sabemos que evento algum poderia advir

    a m enos que tivesse um a funo a desempenhar, um lugar a ocupar

    e u m papel a cum prir no abrangente plano de Deus. E tal conhecim en to nos basta. (W a r f ie l d , 1916, p. 26S-267)8

    O plano daqueles recm-casados com certeza no era vivenciar tamanha tragdia durante a sua lua de mel. Entretanto, no podemos detectar nas palavras de Warfield qualquer sinal de ira com relao a Deus. No vemos nelas indicao alguma de que Deus fosse obrigado a submeter Seu plano aprovao do casal. Os Warfield se contentaram to somente em confiar e em obedecer [ao Senhor], Mesmo em meio a uma perda devastadora.

    A perda da sade um golpe devastador quando acontece a algum jovem e cheio de vida. Mas igualmente devastadora quando ocorre durante a velhice.

    U m famoso hom em certa vez disse: Minha vida est acabada, mas ainda no chegou ao fim. W inston Churchill tinha 85 anos quando disse isso filha ( G i l b e r t , 1991, p. 956)9. Depois de sofrer uma srie de pequenos derrames, o grande estadista britnico teve de lutar contra a depresso, que ele chamava o cachorro negro. Embora sua mente continuasse afiadssima, seu corpo estava comeando a ceder. Churchill ainda viveria mais cinco anos, mas, para ele, sua vida acabara porm ainda no havia chegado ao fim.

    Jos, filho de Jac, poderia ter dito a mesma coisa aos 17 anos: Minha vida est acabada, mas ainda no chegou ao fim. A vida de Jos no estava acabada porque ele tinha perdido a sade, mas aos seus

  • 38 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    olhos havia perdido algo igualmente precioso: a liberdade. Quando Jos se tornou um escravo, sua vida acabou mas no chegou ao fim.

    NO M EIO DA TEM PESTADE

    Aquilo no fazia sentido algum para o jovem Jos. Como o bondoso Deus de Israel poderia permitir que tais coisas acontecessem com ele? Suas esperanas, ambies e sonhos haviam desaparecido para sempre, varridos em um instante. Haviam no s desaparecido, mas tambm estavam mortos e enterrados. Sua jornada praticamente terminara, e Jos mal a tinha iniciado.

    No havia como Jos saber disso na poca, porm esse captulo de sua vida duraria 13 anos. Durante aquele perodo, a intervalos variados, ele experimentaria a exausto, a humilhao, a perplexidade e um medo paralisante.

    Por vezes, Jos deve ter se perguntado se conseguiria sobreviver. Todos os seus planos estavam destrudos, completamente desarraigados e demolidos pelo dio daqueles que deveriam t-lo amado e apoiado. Seus prprios irmos tramaram arruinar a vida dele. Porm, o plano dos irmos de Jos seria ofuscado pelo plano de Deus.

    Reais e ameaadoras, devastadoras e caticas, as tempestades da vida s vezes nos fazem perguntar a ns mesmos se conseguiremos sobreviver. No obstante, sobrevivemos para enfrentar a tempestade de novo no dia seguinte. Algumas so breves, desaparecendo da tela do nosso radar em uma questo de horas ou at mesmo minutos. Um a nuvem encobre o sol, mergulhando o mundo na penumbra, mas logo o sol volta a brilhar, e a vida volta ao normal.

    A tempestade de Jos durou 13 anos, e nada fez sentido at que ele a atravessasse. Quando chegou do outro lado, Jos pde olhar para trs, para os acontecimentos daqueles anos terrveis, e ver claramente o plano bem-ordenado do Deus todo-poderoso. Entretanto, quando estava no meio da tempestade, sua vida parecia totalmente fora de controle.

    Talvez voc se sinta assim com respeito sua vida neste momento. A agulha est na zona de alerta, e as circunstncias parecem totalmente

  • Captulo 2 39

    fora de controle. Se voc for sincero, dir que concorda com a avaliao de Churchill. E assim que voc est: sua vida est acabada, mas ainda no chegou ao fim.

    A PERDA DEVASTADORA DE OS

    Quando Jos foi vendido como escravo por seus irmos, foi como se tivesse levado uma paulada na cabea. No, muito pior que isso. U m homem pode recuperar-se muito bem de uma paulada. Mas disso? Sua vida estava acabada.

    Como voc acha que Jos deve ter se sentido enquanto estava montado naquele camelo a caminho do Egito? Jos no era burro. Sabia muito bem o que acontecia aos escravos. Ele sabia que estava acabado. No havia sada para a sua situao. Q uem o resgataria? Jamais voltaria para casa ou veria sua famlia de novo. Jos havia sido trado de modo atroz, e sua vida estava irremediavelmente arruinada.

    Voc no teria se sentido da mesma maneira?E provvel que voc tambm j tenha passado por algumas tem

    pestades. O u talvez seu sofrimento no tenha ficado no passado, mas ainda permanea. Talvez voc esteja vivenciando o choque de uma perda devastadora neste momento. Se isso verdade, ento voc deve fazer uma boa ideia de como Jos se sentiu durante aquela viagem de camelo rumo a uma vida de escravido.

    Talvez esse pensamento sequer tenha passado pela cabea daquele jovem naquele momento, porm, independente de todo o choque e de toda a aflio que Jos estivesse sentindo, era de admirar que ainda estivesse vivo. A inteno clara de seus irmos era mat-lo, e eles o teriam feito no fosse pela interveno da providncia de Deus no ltimo instante.

    H um grande hino cujo ttulo fala da providncia do Senhor: Tu s fiel. Sempre gostei muito de cantar aquele verso que diz Tua merc me sustenta e me guarda . A ideia aqui :Tua providncia me sustenta e me guarda .

    O que Jos precisava naquele momento era que Deus o livrasse de ser assassinado. Se a providncia divina no tivesse interferido, Jos

  • 40 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    teria morrido. Se Deus se atrasasse apenas 15 segundos, seria tarde demais para salv-lo.

    Todavia, isso nunca acontecer. Deus nunca chega cedo demais, e Ele jamais chega atrasado. Sempre chega na hora certa. As vezes queremos que Ele se adiante. Enquanto o esperamos, vemos o ponteiro do relgio girando e entramos em pnico. Mas o Senhor entrar em cena no momento exato.

    N a h o r a e x a t a

    Talvez voc j tenha ouvido falar de ju st in timev. Trata-se de uma tcnica de administrao e produo atribuda ao falecido Edwards Deming. Entretanto, no foi Edwards Deming que inventou o ju st in time. Foi o Criador. E isso que chamamos de providncia. O Senhor sempre aparece na hora certa para nos dar exatamente o que precisamos.

    Elgin Staples era um marinheiro de 19 anos que fazia parte da tripulao do U SSAstoria, um cruzador pesado de Nova Orleans que atuou na Segunda Guerra Mundial. Certa manh, um dos canhes do navio explodiu, e, com o impacto da exploso, Staples foi lanado ao mar. Suas duas pernas foram atingidas por estilhaos, e ele entrou em estado de choque. A nica coisa que mantinha sua cabea fora dgua era uma boia salva-vidas. Quando caiu na gua, permaneceu consciente apenas o tempo necessrio para acionar a boia, que acabaria salvando sua vida.

    Quatro horas depois, um contratorpedeiro que passava por perto resgatou o jovem marinheiro e levou-o de volta ao seu navio. Aps algumas horas, o capito do U S S Astoria decidiu ancorar o navio, j que este havia sofrido danos muito maiores do que ele havia pensado. Essa tentativa, contudo, no correu como planejado, e, por incrvel que parea, Elgin Staples foi lanado ao mar novamente. Com o ainda no havia removido a boia salva-vidas, esta o salvou

    v Just in time um sistema de adm inistrao da produo que determ ina que nada deve ser produzido, transportado ou com prado antes da hora exata. Pode ser aplicado em qualquer organizao, para reduzir estoques e os custos decorrentes.

  • Captulo 2 41

    mais uma vez. Horas mais tarde, ele foi resgatado por outro navio, o U S S Andrew Jackson.

    Deitado num leito de enfermaria, Staples se recusava a tirar a boia, que havia salvado sua vida duas vezes. Ele estudou cada centmetro da sua superfcie, reparando em cada detalhe da fabricao cuidadosa. Algum havia produzido meticulosamente aquele salva-vidas. Deitado no leito, Staples no se cansava de examinar a boia, maravilhado pelo fato de ela ter salvado sua vida duas vezes no mesmo dia. A ironia era que a boia havia sido fabricada em Akron, sua cidade natal, no estado de Ohio, pela Firestone Tire and Rubber Company [Companhia Firesto- ne de Pneus e Borracha].

    Quando Staples teve alta, a Marinha lhe concedeu uma licena para que fosse para casa rever a famlia. Em suas prprias palavras, ele descreveu sua chegada:

    Q uando eu finalm ente obtive m inha licena de 30 dias, fui para casa ver m inha famlia em O hio. D epois de um a em ocionante re

    cepo, eu m e sentei com m inha m e na cozinha, contei a ela tudo o que tinha m e acontecido e depois a ouvi relatar o que havia se

    passado em casa durante a m inha ausncia.

    M inha m e m e disse que, para fazer a parte dela , havia arranjado um em prego na fbrica da Firestone durante a guerra. Surpreso,

    dei u m pulo, peguei m inha boia salva-vidas na mala e coloquei-a sobre a mesa da cozinha.

    O lhe para esta boia, m am e. Ela foi fabricada aqui em A kron,

    na fbrica em que a senhora trabalha. M inha m e se inclinou para frente, pegou o colete e leu a etiqueta. Ela havia acabado de

    escutar m inha histria e sabia que, na escurido daquela noite terrvel, aquele pedao de borracha tinha salvado m inha vida. Ento

    ela o lhou para m im com os olhos arregalados e disse quase num

    sussurro: Filho, eu trabalho com o inspetora na Firestone. Este o nm ero da m inha m atrcula .

    O lham os u m para o outro, maravilhados demais para falar. Ento m e levantei, dei a volta mesa e a ergui da cadeira. N s nos abra

    amos com fora e ficamos assim parados p o r u m b o m tem po sem

  • 42 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    dizer nada. M inha m e no era o tipo de pessoa que demonstrava

    abertam ente suas em oes, mas a im portncia daquela coincidn

    cia incrvel sobrepujou sua reserva habitual.

    Perm anecem os ali, abraados, po r m uito, m uito tem po, sentindo

    o vnculo palpvel que havia entre ns. Os braos de m inha me

    haviam m e alcanado do outro lado do m undo para m e salvar.10

    Voc percebeu que Staples se referiu a esse incidente como uma coincidncia incrvel? Mas no foi uma coincidncia, e sim a bondade de Deus. No devemos classificar acontecimentos desse tipo como coincidncia. Devemos dar glria a Deus.

    John Flavel costumava dizer: Saiba apreciar a providncia . Ela sempre aparece no momento exato. Foi a providncia de Deus que enviou a caravana de mercadores de escravos no momento em que os irmos de Jos estavam considerando a melhor maneira de mat-lo. Ser que ele pulou de alegria quando viu a caravana se aproximando exatamente naquela hora? E claro que no! Para Jos, aquilo foi como levar um soco na boca do estmago. Era o pior cenrio possvel. No entanto, a verdade que a providncia de Deus salvou sua vida.

    Contudo, Jos no sabia disso, sabia? Ele chegou concluso de que estava tudo terminado e de que seria um escravo pelo resto da vida. A existncia dele seria um inferno, uma morte em vida. Por que Deus permitiria que algo to terrvel acontecesse?

    Esses pensamentos deviam estar correndo pela mente de Jos medida que ele tentava absorver a realidade do golpe arrasador que acabara de sofrer. A providncia de Deus o havia salvado da morte, mas essa mesma providncia trouxera consigo uma perda devastadora.

    Ser possvel que Deus realmente esteja por trs das perdas que assolam nossa vida? No faria mais sentido atribuirmos essas perdas terrveis ao maligno? Como sempre, devemos buscar a resposta nas Escrituras.

    O n d a s d e p e r d a

    Se voc j morou perto do mar, sabe que as ondas vm em sries. Os surfistas se sentam em sua prancha, virados de costas para a praia,

  • Captulo 2 43

    olhando para o horizonte espera da prxima srie. As sries podem ser pequenas, com duas ou trs ondas, ou grandes, com 12 ou mais ondas. Ento chega o remanso, perodo em que o mar se acalma por alguns minutos at a chegada de uma nova srie de ondas.

    N o Salmo 88.7 ( n v i ) , o salmista solitrio escreveu: Com todas as tuas ondas me afligiste. Se voc ler o contexto, ver que ele estava falando de lutas, aflies e perdas. No incomum Deus nos enviar dificuldades em sries e interessante notar que muitas vezes elas vm em sries de trs.

    O fato de o salmista ter dito que o Senhor o afligiu surpreende voc? Ele especificamente afirmou que as ondas vieram de Deus. As ondas de dificuldade rebentando sobre ele vinham do Senhor.

    U m dos grandes homens de f, Thomas Watson, costumava dizer: Independente de de onde venha a aflio, Deus quem a envia . Talvez voc nunca tenha pensado nisso, mas essa verdade est presente em toda a Bblia. Talvez voc esteja pensando: Isso no faz sentido. Por que Deus enviaria ondas de aflio? Parece estranho demais . estranho, mas Deus trabalha de modo estranho.

    J voltaremos a falar de Jos e de sua perda devastadora. Porm, agora eu gostaria que voc visse que J concordava com o salmista no que diz respeito a ondas de sofrimento e perdas assoladoras.

    Na poca de J, ningum melhor do que ele sabia o que era sofrer uma perda terrvel. N um perodo que pode no ter durado mais do que alguns minutos, trs ondas arrasadoras vieram do nada, mudando para sempre a paisagem da sua vida. Cada tsunami trazia consigo mais um golpe devastador.

    E importante notar que J era um hom em que andava com Deus e que havia desfrutado das ricas bnos do Senhor sobre sua vida. Ele gozava de segurana financeira, era um lder em sua comunidade e levava uma vida de profunda devoo a Deus.

    J desejava que seus filhos conhecessem o Senhor como ele o conhecia. O patriarca orava por eles e oferecia sacrifcios em seu favor.

    Este o pano de fundo da histria de J. A cortina do cu aberta, e ganhamos um assento na primeira fila para assistir cena em que Satans se apresenta diante de Deus para lanar acusaes contra J.

  • 44 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    As acusaes de Satans so diretas: claro q u e j te serve e te ama! Q uem no faria o mesmo? Tu tens dado tudo a ele. Ele dirige um Bentley, passa as frias em sua casa de praia em M aui , e seus filhos so perfeitos. E claro que ele se deleita em servir-te. E no preciso ser um engenheiro aeroespacial para entender por qu.

    Ento o Senhor d permisso para que Satans aflija J. Mas note que, embora Deus permita que o inimigo prove J, Ele permanece no controle absoluto de todo o processo. Satans no est no controle. Satans precisa da permisso de Deus af im de provar sua teoria. Isso significa que o Senhor detm o controle absoluto. Satans no sabia disso na poca, mas seu estratagema seria usado por Deus por milhares de anos para declarar Sua verdade a incontveis geraes.

    G r a n d e D e u s , g r a n d e s o n d a s , g r a n d e s p r o p s i t o s

    Satans no pode ver nem imaginar os propsitos que o nosso grande Deus tem em mente. Embora o Senhor d permisso a Satans para agir, Ele continua no controle.

    Certo dia, quando os filhos e as filhas de J estavam num banquete, comen

    do e bebendo vinho na casa do irmo mais velho, um mensageiro veio dizer

    a J: Os bois estavam arando e os jumentos estavam pastando por perto,

    quando os sabeus os atacaram e os levaram embora. Mataram espada os

    empregados, e eu fui o nico que escapou para lhe contar! Enquanto ele

    ainda estava falando, chegou outro mensageiro e disse: Fogo de Deus caiu

    do cu e queimou totalmente as ovelhas e os empregados, e eu fu i o nico que

    escapou para lhe contar! Enquanto ele ainda estava falando, chegou outro

    mensageiro e disse: Vieram caldeus em trs bandos, atacaram os camelos e

    os levaram embora. Mataram espada os empregados, e eu fu i o nico que

    escapou para lhe contar! Enquanto ele ainda estava falando, chegou ainda

    outro mensageiro e disse: Seus filhos e suas filhas estavam num banquete,

    comendo e bebendo vinho na casa do irmo mais velho, quando, de repente,

    um vento muito forte veio do deserto e atingiu os quatro cantos da casa, que

    desabou. Eles morreram, e eu fui o nico que escapou para lhe contar!J 1 .13-19 (nvi)

  • Captulo 2 45

    Em alguns minutos, a vida de J foi irremediavelmente destruda. Voc notou quantas vezes as palavras enquanto ele ainda estava falando se repetem? J mal tinha tempo de recompor-se do choque de uma notcia trgica quando mais um mensageiro chegava com outra ainda pior.

    Em questo de instantes, a vida de J foi totalmente paralisada. Ele perdeu seus imensos rebanhos, seus servos e seus filhos. Suas finanas j haviam sido arruinadas e seus servos mortos quando ele recebeu a notcia de que todos os seus filhos morreram num incidente trgico.

    Isso o que podemos chamar de perda devastadora.Com o voc reagiria se passasse pela mesma situao?No precisamos imaginar a reao de J, pois a Bblia a relata

    claramente:

    Ento, J se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabea, e se

    lanou em terra, e adorou, e disse: N u sa do ventre de minha me e nu

    tornarei para l; o S E N H O R o deu e o S E N H O R o tomou; bendito

    seja o nome do S E N H O R . E m tudo isto J no pecou, nem atribuiu a

    D eus fa lta alguma.J 1 .20-22

    Se isso acontecesse a um cristo comum hoje, a resposta seria a seguinte: O Senhor deu, e Satans tirou; bendito seja o nome do Senhor. Porm, note que no foi isso que J falou. Ele no atribuiu essas tragdias a Satans; J entendeu que o Senhor estava por trs de sua perda devastadora.

    Leia atentamente as palavras que Thomas Watson pregou em Londres h mais de 300 anos:

    N osso corao consolado quando consideram os que as mos de

    D eus esto sobre todas as aflies que nos sobrevm. O Altssimo

    m e afligiu. Assim com o u m m achado no pode cortar sozinho, a

    m enos que seja m anuseado, instrum ento algum pode atuar at que

    D eus lhe d Sua ordem . J enxergou o Senhor em sua aflio. Por

    isso, com o observou A gostinho, ele no disse O Senhor deu, e o

    diabo tirou , mas sim o S enhor deu e o Senhor tiro u .

  • 46 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    Watson estava certo quando disse: Independente de de onde venha a aflio, Deus quem a envia. Satans no poderia ter afligido J a menos que o Senhor lhe tivesse permitido faz-lo. Ento, na verdade, foi Deus quem afligiu J. Satans foi apenas o instrumento da aflio.

    Foi o Senhor quem ordenou que as devastadoras ondas de perda rebentassem sobre a vida de J.

    O u t r a o n d a

    Se resta alguma dvida quanto a Deus estar no controle das adversida- des que atingiram J, observemos do patriarca e m j 2.8.

    Ao lermos os primeiros sete versculos do mesmo captulo, veremos que o Senhor teve outra conversa com Satans a respeito de J. Deus disse ao diabo que este havia se equivocado quanto a J. O amor de J a Deus continuava forte, embora ele tivesse sofrido uma perda assoladora. A resposta de Satans foi basicamente a seguinte: Se me deixares tocar em sua sade, mostrarei o que h de fato no corao dele! Ento o Senhor permitiu que Satans afligisse o corpo de J.

    Vemos novamente que Deus permaneceu no controle absoluto. Mais uma vez, Sua permisso foi necessria para que Satans pudesse afligir J fisicamente.

    Entenda o seguinte: Deus impe limites ao que Satans pode fazer. Satans no pode ultrapassar os limites impostos pelo Senhor.

    Satans afligiu J com chagas, deixando o patriarca na mais absoluta misria fsica, sem nenhum alvio vista. A esposa de J, uma verdadeira vencedora, achegou-se a ele com palavras de desalento:

    Ento, sua mulher lhe disse: A inda retns a tua sinceridade? Amaldioa a

    Deus e morre. M as ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu;

    receberemos o bem de Deus e no receberamos o mal? E m tudo isto no

    pecou J com os seus lbios.

    J 2.9,10

    E nesse ponto que muitos de ns nos equivocamos. Achamos que tudo que nos acontece de bom vem do Senhor e que todas as

  • Captulo 2 47

    aflies e dificuldades vm de Satans. Mas no foi isso que J disse! E no isso que as Escrituras ensinam. Deus est no controle tanto das situaes agradveis como das adversidades em nossa vida. Ele est no controle absoluto de tudo.

    O Senhor envia ondas de bno e ondas de perda. O Senhor d e o Senhor tira. No Satans que tira. E o Senhorl

    Isso lhe soa estranho? Existem bons e maus pregadores na televiso; talvez voc esteja assistindo a pregadores demais. Como podemos diferenciar os dois tipos? Eu comearia pelo cabelo. Se o cabelo do pregador for esquisito, normalmente a doutrina esquisita tambm. Parece engraado, mas esse teste costuma funcionar.

    Graas ao Senhor existem pastores fiis, que ensinam cuidadosamente a Palavra de Deus na televiso, mas tambm existem os que no so to cuidadosos e s sabem pregar sobre a prosperidade. Se o pregador ministrar apenas sobre a prosperidade, ter um problema com toda a Bblia. Ministros da prosperidade nunca pregam sobre a histria de J, pois ela contradiz a sua teologia.

    Deus est no controle tanto da prosperidade como da adversidade, usando ambas na vida dos Seus servos para que Seu propsito se cumpra. Porm, a maioria dos cristos aprendeu que, se alguma perda devastadora nos sobrevm, ela deve estar vindo de Satans.

    Isso pode parecer difcil de entender. Por que Deus permitiria que sofrssemos perdas devastadoras? Se Ele est no controle de tudo, por que no impede que o sofrimento nos alcance? Se o Senhor podia ter evitado que a vida de J fosse atingida por tamanha tragdia, por que cargas dgua no fez isso?

    Existe um termo que explica essa forma estranha de Deus trabalhar. E o que chamamos de providncia contraditria.

    P r o v i d n c i a s c o n t r a d i t r i a s

    Deus nos avisou logo de cara que ns no o entenderamos. Isso um princpio bblico. N o captulo anterior, vimos a declarao do Senhor em Isaas 55.8: Porque os meus pensamentos no so os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, d iz o S E N H O R .

  • 48 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    U m dos mtodos usados por Deus para executar o Seu plano em nossa vida a providncia contraditria. Esta consiste em qualquer acontecimento que faz parecer que Deus est trabalhando contra ns. Um a onda de aflies uma providncia contraditria. Uma perda devastadora uma providncia contraditria. Voc sabe que foi atingido por uma providncia contraditria quando comea a questionar a bondade de Deus em sua vida. Em outras palavras, uma providncia contraditria um decepto vsus.

    O que significa isso? (Eu tambm no sabia e tive de pesquisar.) Deceptio visus uma expresso em latim que quer dizer engano visual. Thomas Fuller explica como isso se relaciona s providncias contraditrias com que nos deparamos:

    Se voc pegar um a vareta reta e coloc-la na gua, ela parecer

    torta. Por qu? Porque ns a estamos vendo atravs de dois meios, a gua e o ar. assim que acontece o deceptio visus, ou seja, algo

    que no podem os discernir corretam ente. Por isso, em Sua justia, os cam inhos de D eus que em si m esm os so sem pre retos, sem

    o m enor trao de obliquidade [desvio] nos parecem tortuosos.

    Tom e com o exem plo o fato de hom ens inquos prosperarem e hom ens justos serem afligidos [...] essas coisas fazem os cristos

    mais firm es titubearem .E p o r qu? Porque eles enxergam os cam inhos de D eus atravs

    de dois meios: a carne e o esprito, de m odo que todas as coisas parecem estar no sen tid o con trrio ao que deveriam , quando na verdade esto exatam ente na direo certa. E p o r isso que, em

    Sua justia, os cam inhos de D eus no costum am ser m uito bem

    discernidos, pois os olhos do ho m em no so juzes m uito com

    petentes. (Thomas, 1997, p. 230)11

    Deus est fazendo mais por meio de Suas providncias contraditrias do que nossos olhos podem enxergar e nossa mente limitada capaz de entender. Porm, no compreendemos os Seus caminhos, ento achamos imediatamente que esto errados. Mas eles no esto errados, esto certos.

  • Captulo 2 49

    Se Deus est no controle, por que no impediu que os irmos de Jos o vendessem como escravo? Essa perda foi to arrasadora para aquele jovem idealista! Se o Senhor est no controle, por que pelo menos no poupou os filhos de J? Uma filha? U m filho? O fato de Ele ter trabalhado daquela maneira parece extremamente severo e cruel.

    Os caminhos do Senhor no so os nossos. Contudo, quando Deus no fa z sentido pegando emprestado o ttulo do excelente livro de James Dobson [W hen God Doesnt M ake Sense] , h algo com que podemos contar, ainda que no possamos ver isso de pronto. Estou falando da Sua bondade.

    N o Salmo 119.68 est escrito que o Senhor bom e abenoador. N o momento, voc pode no conseguir ver a bno. Talvez a nica coisa que esteja vendo seja o sofrimento, a dor e a tristeza esmagadora da sua perda. Entretanto, o Senhor bom e faz o bem.Talvez voc no consiga enxergar o bem porque est envolvido demais com sua perda pessoal. Mas dentro dos propsitos de Deus, por Seus caminhos e no Seu tempo, e porque Ele est no controle de tudo, o Senhor levar voc a ver o bem.

    Pense nisto: talvez voc no esteja mais nesta terra quando finalmente enxergar o bem. C. S. Lewis especulou que, quando morrermos e chegarmos ao cu, as primeiras palavras que sairo da nossa boca sero: Ah, entendi! O que no fez sentido algum na terra far todo o sentido no cu. U m dia veremos o bem. Lewis estava certo quanto a isso, e ele sabia exatamente o que era sofrer uma perda.

    0 q u e o S e n h o r n o p o d e f a z e r

    Existem algumas coisas que Deus no pode fazer:Ele no pode mentir.Ele no pode pecar.Ele no pode fazer o mal.Por isso, em ltima instncia, as providncias contraditrias e as

    perdas contribuiro para o nosso bem.Deus santo. Esse o seu principal atributo (ver Is 6). Sua santi

    dade se refere Sua absoluta pureza moral. Ele no pode agir contra

  • 50 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus est no controle de perdas devastadoras

    Sua prpria natureza. Porque Deus santo, Ele s pode fazer o bem. Ele bom e faz o bem mesmo quando no nos parece ser esse o caso.

    No pareceu bom a Jos que ele estivesse destinado a uma vida de escravido no Egito. O nde estava a bondade de Deus em tudo aquilo? N o momento, Jos no podia responder a tal pergunta. N o entanto, anos depois, ele obteve a resposta.

    R e p u t a o n e g a t i v a

    William Carey, considerado o pai do movimento missionrio m oderno, mudou-se para a ndia com a famlia em 1793 para pregar o evangelho. Naquele tempo, praticamente no havia cristos naquele enorme pas. O lema de Carey era: Espere grandes coisas de Deus, faa grandes coisas para Ele .

    Pouco depois, seus amigos William Ward e Joshua Marshman se uniram a ele no ministrio. Esses trs homens se dedicaram incansavelmente obra de Deus. Em 1797, Carey j havia traduzido o Novo Testamento inteiro para o bengals, e dois anos depois faltavam apenas dois livros para que ele completasse a traduo do Antigo Testamento Em 1801, o Novo Testamento foi impresso em bengals. Durante oito anos de trabalho rduo, Carey traduziu o Novo Testamento para mais oito dialetos indianos.

    Ento veio o incndio. N o dia 11 de maro de 1812, um incndio na grfica destruiu manuscritos, livros e tipos mveis valiosos. O prejuzo foi estimado em 50 mil dlares (uma soma astronmica na poca), e o trabalho de traduo precisou ser abruptamente interrompido (Davis, 1963, p. 58)12. Anos de trabalho rduo e cuidadoso evaporaram numa questo de minutos.

    Uma perda devastadora? Pode acreditar. A notcia do incidente teve grande repercusso na Inglaterra. Tocadas pela tragdia, as igrejas comearam a arrecadar fundos para ajudar o ministrio de Carey. Em seis semanas, os cristos ingleses haviam levantado dinheiro suficiente para reerguer a grfica.

    A medida que a notcia se espalhava pela comunidade crist, um nmero cada vez maior de pessoas ouvia falar do trabalho de Carey

  • Captulo 2 51

    Com isso, mais e mais irmos comearam a apoiar financeiramente aquela misso pioneira, enquanto outros foram contagiados pela viso de Carey de disseminar o evangelho. Como resultado da perda, mais recursos e mais obreiros passaram a afluir para a ndia.

    Antes de morrer, Carey e seus dois amigos, Ward e Marshman, haviam fundado 26 igrejas e 126 escolas (totalizando dez mil alunos), traduzido as Escrituras para 44 lnguas, produzido gramticas e dicionrios, organizado a primeira misso mdica na ndia, assim como o primeiro banco de investimentos, seminrio, escola de meninas e jo rnal im