fonte de angeão, a minha freguesia

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Especial Freguesia de Fonte de Angeão Ed. 248 de 25 janeiro 2012 «Fonte de Angeão a minha freguesia» Fonte de Angeão Gândara Parada de Cima Rines A Junta de Freguesia de Fonte de Angeão saúda os seus habitantes bem como os seus emigrantes espalhados pelo mundo...

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Especial sobre a freguesia de Fonte de Angeão - Vagos

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Page 1: Fonte de Angeão, a minha freguesia

Especial Freguesia de Fonte de Angeão

Ed. 248 de 25 janeiro 2012

«Fonte de Angeãoa minha freguesia»

Fonte de Angeão

Gândara

Parada de Cima

Rines

A Junta de Freguesia de Fonte de Angeão

saúda os seus habitantes bem como os seus emigrantes espalhados pelo mundo...

Page 2: Fonte de Angeão, a minha freguesia

Especial Freguesia de Fonte de Angeão

O fi nal do ano passado trouxe duas boas notícias para a freguesia de Fonte de Angeão. Uma delas foi o início da construção do centro escolar das Gândaras, localizado junto do parque de merendas. Acredita que, após concluído, a freguesia fi cará mais rejuvenescida com a presença de mais crianças e jovens?

Sem dúvida alguma que fi ca, uma vez que vamos ter quatro freguesias dependentes desse centro escolar (Ponte de Vagos, Santa Catarina, Covão do Lobo e Fonte de Angeão). Portanto, vai ter um acréscimo de população. Não podemos esquecer que uma infraestrutura como esta traz professores, pais e funcionários. Trará muito movimento e dará a conhecer a freguesia aos que moram noutras freguesias vizinhas.

Nos últimos anos, quantas escolas foram desativadas na freguesia?

Perdeu duas escolas, a da Parada de Cima e a da Gândara. Neste momento temos poucas crianças, mas logo iremos ter mais, concentradas num só espaço, o que proporcionará melhor ensino e melhor relacionamento entre as crianças.

A outra boa notícia é o arranque do Centro da Ciência e Cultura, a nascer na desativada escola da Parada de Cima. Com o fi nanciamento que a autarquia conseguiu recentemente, perspetiva que esta “transformação” da antiga escola seja rápida?

Segundo as informações que tenho da câmara, prevê-se que sejam efetuadas as obras rapidamente, mas isso já é dito há algum tempo. Agora, com o fi nanciamento, cremos que as obras irão arrancar, embora estejamos em tempos de crise.

A freguesia estava a necessitar destas duas infraestruturas para se tornar mais dinâmica?

Sem dúvida alguma. Todas as infraestruturas que vierem para cá são para dinamizar a freguesia. E com estas duas prevemos dinamizar a freguesia, com a vinda de mais estudantes, seja em tempo letivo, seja através de visitas de estudo.

Com estas duas novas obras concluídas e em funcionamento, a freguesia de Fonte de Angeão conseguirá responder a todas as solicitações, sobretudo ao nível comercial/serviços e de restauração?

Esses serviços só surgirão depois de tudo estar em pleno funcionamento. Não creio que alguém arrisque com um restaurante ou uma pastelaria sem primeiro ver qual a movimentação. Já temos oferta, mas acredito que o sector virá a crescer muito mais. E também não tenho qualquer dúvida que isso

irá dinamizar e melhorar muito a freguesia.

Na última década, e segundo os sensos, Fonte de Angeão cresceu de 1177 para os 1245 habitantes. Acredita que poderá registar um aumento maior na próxima década, um pouco por força da vinda destas duas infra-estruturas?

Eu acredito que sim. Embora nos baste morrer dez pessoas por ano para fi carmos logo com défice, visto que não temos natalidade que supere a taxa de mortalidade. Basta nascerem três ou quatro crianças, se morrerem dez, como tem vindo a registar-se, fi camos logo com défi ce. Com certeza que, com a vinda destas duas infraestruturas e de prováveis radicações na freguesia, conseguiremos subir o número de habitantes. Mas também é preciso que o país melhore, caso contrário as pessoas veem-se forçadas a emigrar. Temos que ser otimistas de que as coisas não irão só melhorar para nós como em todas as freguesias.

Em 2005, em entrevista a O PONTO, a então presidente de junta, Helena Marques, confessou que um desejo da freguesia era a construção de uma unidade de saúde. Esse desejo já caiu por terra, mesmo que tenham recebido utentes de Calvão, que viram a sua extensão de saúde encerrar?

Neste caso temos também que ser otimistas. Já nem pensamos na construção de uma extensão de saúde nova quando vemos tantas outras, aqui ao lado, a encerrar. E não pensamos nisso apesar de possuirmos e até já termos oferecido à administração regional de saúde a requalifi cação de algumas casas para as transformar em unidade de saúde. Se isso não se vier a concretizar, manteremos o que temos até podermos e estou convencido que, enquanto o médico aqui estiver, a unidade irá manter-se. Até porque a de Ponte de Vagos já não tem capacidade para todos os utentes.

A riqueza histórica, que é as casas gandaresas, predomina na freguesia de Fonte de Angeão. Há algum projeto ou ação para a sua valorização, recuperação ou adaptação?

Nós já tivemos várias ideias, mas projeto nunca. Havia uma casa que gostaríamos muito de requalifi car, na Parada de Cima, por detrás da antiga escola primária. É uma casa com uma mistura da arquitetura brasileira com a casa gandaresa. Para tal teríamos que a comprar, mas os proprietários, quando contactados, recusaram a venda. Fizeram algumas obras e adaptações, danifi cando um pouco a traça da própria casa. Mas a imagem da casa, com os seus bustos diferentes da arquitetura gandaresa, ainda permanece. Pela freguesia há

várias casas, também muito bonitas, de arquitetura gandaresa que foram ou estão a ser restauradas pelos proprietários. E nós próprios também incentivamos ao restauro em detrimento da demolição.

Mas verifi ca-se uma maior preocupação dos proprietários na preservação dessas casas?

Sim, há uma grande preocupação dos donos e mesmo dos próprios fi lhos e herdeiros, na restauração e preservação, até porque há, na freguesia, casas lindíssimas. É a nossa marca enquanto gandareses.

A agricultura tem mantido o seu peso graças à produção de nabos, própria desta região próxima de Carapelhos, ou tem desenvolvido por outras dinâmicas?

De facto, as pessoas continuam com a atividade dos grelos, uma tradição na agricultura de há muitos anos e não após a criação da confraria Nabos e Companhia, de Carapelhos. As pessoas conseguem escoá-los através de venda nas superfícies comerciais e até mesmo na venda direta. Vêm camiões de Lisboa, de Coimbra e do Porto, e através da cooperativa de Oliveira do Bairro também conseguem vendê-los. A agricultura sempre foi a grande riqueza embora se tenha perdido muito após a redução da quota leiteira. As pessoas conseguiam bons salários, e tinham ainda as feiras e mercados onde

vendiam tudo o que produziam (legumes, cereais e até carne). Hoje não se consegue isso porque as pessoas preferem adquirir este tipo de produtos nos hipermercados.

Nesta altura em que impera a palavra crise, a junta tem sido confrontada com pedidos de apoio efetuados pela comunidade ou o Centro Social e Paroquial tem conseguido tomar conta de todas essas ocorrências?

A comunidade não tem pedido esse tipo de ajudas à junta de freguesia, porque as pessoas esforçam-se para que isso aconteça. Se recorrem ou não ao centro não sabemos, mas acreditamos que apoia caso haja solicitações dessa ordem.

E como está a taxa de desemprego na freguesia?

Há uma ou outra pessoa que está desempregada, mas há aqui uma grande vantagem: quando não há trabalho há o pedacinho de terra ao lado de casa para se dedicar à agricultura. Não me refi ro que seja para vender, mas para o objetivo principal, que é ter comida.

Em termos de qualidade de vida, a freguesia possui rede de água, mas não possui ainda rede de saneamento. É algo por que anseia a comunidade local?

A rede de saneamento já começou a ser

instalada, mas foi suspensa. A informação que eu tenho é que as obras só recomeçam quando as obras que foram objeto de reclamação estiverem de acordo com o projeto. A estrada que vai para Gândara é um exemplo, porque a estrada recebeu as obras e depois de concluídas abateu mais de 30 centímetros. Não sei qual o ponto de situação atual. Mas é algo por que anseia a freguesia, até porque, em complemento das obras de saneamento, a autarquia se comprometeu a fazer as obras das águas pluviais. Vamos aguardando.

O parque de merendas está concluído, ou pretende a junta agregar outros equipamentos?

O parque de merendas é algo que nunca está concluído, porque há sempre isto ou aquilo que falta. Se tivéssemos a esbanjar dinheiro, é claro que já tínhamos feito, por exemplo, um parque infantil para as crianças brincarem. Também é certo que não temos estado muito motivados para desenvolvermos ainda mais o parque porque ele tem sido muito vandalizado. Acreditamos que só com mais segurança no local – com o centro escolar em funcionamento – é que poderemos avançar no parque de merendas, inclusivamente na colocação de um campo de futebol de praia.

A junta de freguesia procedeu, há anos, à requalifi cação e restauro das fontes. Estão todas concluídas?

Sim. Temos outra na Parada de Cima, que está registada em nome da junta. Queremos ver se a descobrimos para depois analisar se dá para ser restaurada ou não. Será mais uma que poderá juntar-se às duas que têm água natural (fonte da Moura e a fonte dos Amores) e a Fonte do Ansião, que é abastecida pela água da rede pública. Temos ainda a fonte de Rines, com os seus bonitos painéis, mas que não está a funcionar atualmente, porque é imprópria. Queremos ver se a conseguimos ligar à rede pública.

E para quando um roteiro que una todas as fontes?

Quando iniciámos a requalifi cação era com o pensamento na criação do roteiro “ecopista terras do pinheiro”, que ligaria a fonte da Moura até à fonte na Gândara, sempre por meio de zona florestal, incentivando à atividade física e ao conhecimento do património local. Mas sem dinheiro nada podemos fazer. Apesar dos gastos não serem muitos, temos sempre outros investimentos mais prioritários a fazer, como a cobertura do polidesportivo, já que não temos um espaço grande para receber eventos de grandes dimensões.

Requalificação da traça arquitetónica«é a nossa marca enquanto gandareses»

Entrevista a Albano Gonçalves, presidente da junta de freguesia de Fonte de Angeão

O Ponto | 12/II

234782784 / 918785800Rua Dr. João Rocha, 58 Fonte de Angeão

ArteInstitute

Cabeleireira e estética

Page 3: Fonte de Angeão, a minha freguesia

Especial Freguesia de Fonte de Angeão

Uma marca do concelho – eleita mesmo como uma das 7 Maravilhas do concelho de Vagos pelos leitores do Jornal O PONTO – mas sobretudo da região gandareza é a chamada casa gandareza.De rés do chão, este tipo de habitação era constituída, regra geral, pelo quarto da frente (também conhecido por meia sala e que era reservado às visitas, sobretudo dos médicos) e sala do senhor, que tinha acesso à rua, e depois do estreito corredor dois ou três quartos, sala de jantar, quarto de banho e a cozinha com borralho. As casas mais ricas tinham duas cozinhas, uma das quais era mais utilizada, sempre com borralho e com forno de lenha. Na parte da frente era costume haver uma porta (para a sala do senhor) e duas janelas e, ao lado, um portão largo e alto, por onde passavam as carroças dos bois. Nas traseiras, para além da eira, havia casa de arrumos, currais e quintal.Manuel Ramos, natural e residente na freguesia, agora com 78 anos, está reformado, mas até aos 65 dedicou-se à serralharia e, depois, à construção civil. «O meu avô era construtor e vinha de Calvão para a Parada de Cima, a pé, para construir a antiga capela. Foi pelo caminho que conheceu a minha avó», diz. Anos mais tarde, Manuel Ramos viria a ser um dos construtores da atual capela que hoje existe na Parada. Seguindo as pegadas do avô e do pai, dedicou-se primeiro à construção, ajudando o seu pai. Enquanto estudava, assim que saía das aulas ia ter com ele para o ajudar, deixando

os trabalhos de casa para a noite, à luz da candeia. Depois, quando se casou, decidiu experimentar a serralharia, onde tudo se fazia manualmente. «Não havia motosserras e tínhamos que serrar tudo à mão, mesmo as tábuas de 1,5 ou 2,5 centímetros para o teto ou soalho. E os feitios das portas e dos móveis eram também feitos à mão». Só alguns anos depois é que decidiu enveredar pela construção.No início, conta, não havia cimento e tudo era feito à base de adobe, areia e cal. Os metros eram contados aos palmos e as divisões da casa eram feitas de acordo com a dimensão do terreno e recorrendo a estacas e linhas já que naquela altura «não havia projetos». Para a

construção das paredes, quer externas como internas, fazia-se um buraco no quintal e era aí que se misturava a areia com a cal, queimada no próprio local com água. Os adobes também eram ali construídos nalguns casos, noutros vinham do Seixo (concelho de Mira). «Ficava depois um buraco grande que, geralmente, se mantinha durante alguns anos, até ser tapado com areias de pinhais, servindo de piscina aos patos em tempo de chuva», ri-se. Sem pilares de ferro ou cimento, nos cantos os adobes eram cruzados ou intercalados. A segurança ou sustentabilidade eram muito reduzidas mas, como refere Manuel Ramos, existem casas com mais de 80 ou 100 anos que «nunca caíram nem causaram acidentes». Prova disso é, por exemplo, a casa gandareza que está em frente a sua casa, construída pelo pai em 1942.Deste tipo de arquitetura, destaca ainda os feitios feitos manualmente, com apoio de moldes, junto ao telheiro da casa. Requeria «muita paciência, experiência e tempo», mas confessa que era algo que gostava muito de fazer e que acha muito lindo.Manuel Ramos lamenta que as casas existentes não sejam requalifi cadas, mas ele próprio acaba por confessar que gosta mais da arquitetura moderna, já que dá mais conforto, tem mais estética e outro tipo de estabilidade e segurança. «Quanto mais moderno melhor, daí o desenvolvimento e modernismo das localidades», remata.

A gândarafeita de adobe

Casa Gandareza

É mais no início do inverno que se vê mais, ao passar pela freguesia de Fonte de Angeão, os agricultores a carregarem grandes camiões com os nabos e, mais tarde, os grelos de nabo. Apanhados logo de manhã cedo, bem fresquinhos, estes verdes gandarezes são levados para os mercados nacionais e mesmo internacionais. De facto, a região gandareza, à qual pertence a freguesia de Fonte de Angeão, é muito conhecida pelos seus terrenos férteis e pelos seus nabos. Para além dos nabos, esta freguesia é conhecida pelas suas batatas, existindo diversos comerciantes que se dedicam, maioritariamente, à comercialização deste tubérculo.É o caso de João Oliveira, agricultor há 25 anos infl uenciado por um cunhado, também ele agricultor na freguesia. Enquanto jovem, nunca imaginou que deixaria a mecânica (era responsável por um ofi cina mecânica) para ir para o ramo da panifi cação na Venezuela e que, correndo mal, fosse parar à agricultura. Sozinho com a esposa, João Oliveira confessa, hoje, que gosta daquilo que faz, «de semear e de ver as coisas a crescer». Com os parcos conhecimentos e experiência que tinha ao ajudar os pais e sogros, que sempre estiveram ligados à agricultura, iniciou a produção e garante que ainda nos dias de hoje aprende qualquer coisa nova. «Depois, com a aquisição de umas máquinas, fomos modernizando a nossa forma de trabalhar», acrescenta.P a r a a l é m d e revendedor, produz essencialmente batatas, nabos/grelos e hortaliça. Há cerca de sete anos começou a produzir uma «área considerável de piripiri» que é, na totalidade, direcionada para uma empresa localizada na Praia de Mira, bem como, parcialmente, pimentos.Apesar do movimento a p a r e n t e d o s a g r i c u l t o r e s d a freguesia, João Oliveira afirma que o sector foi “morrendo” assim que acabou a venda de leite das vacas. «Qualquer pessoa na

freguesia e um pouco por todo o concelho tinha quatro ou cinco vacas e a respetiva quota leiteira. O meu pai, por exemplo, tinha uma ordenha pública onde as pessoas iam tirar e deixar o leite; quando isso acabou, as pessoas deixaram de produzir milho e voltaram-se para aquilo que era mais rentável e que dava menos despesa: os nabos». Contudo, e de ano para ano, as pessoas começaram a deixar os terrenos de monte e a prova está na redução da compra das sementes. Com o aumento de terrenos “abandonados”, João Oliveira recebe muitas solicitações para produzir nos terrenos a título gratuito. «Neste momento produzo em cerca de 14 hectares, dos quais apenas quatro são meus». O único senão é serem terrenos de reduzidas dimensões, o que não permite modernizar a produção, tornando-a mais rentável.Por outro lado, e como os produtos são passíveis de ser apresentados ao longo de todo o ano, «já não há a novidade e as pessoas tendem a adquirir menos o produto. Por vezes, preferem gastar mais num produto mais caro só por ser novidade», testemunha, afi ançando que os preços são «bem mais baixos» do que aqueles que praticava há «dez ou quinze anos».

Agricultura já não é o que era no tempo das vacas leiteiras

Foi em 2009 que a junta de freguesia de Fonte de Angeão, com o apoio da autarquia vaguense, decidiu requalifi car as fontes existentes na freguesia. Nalguns fontenários foram construídos telhados, noutros foram reconstruídas as paredes. Foram embelezadas as fontes da Margarida (mais conhecida por Fonte do Ansião) em Fonte de Angeão, a fonte do ‘ti Filipe (Rines), dos Amores (Carvalhal) e fonte da Moura (Parada de Cima). São fontes naturais, com exceção da fonte do Ansião e a de Rines, ligadas entretanto à rede pública. As de nascente têm água potável, pelo que são muito procuradas pela população local e de freguesias vizinhas.Para além da água potável, as fontes foram, em tempos, muito procuradas pelas lavadeiras de roupa. Deolinda Samelo, com 63 anos, foi uma das que, até há poucos meses, sempre utilizou a fonte para lavar a sua roupa. Um dia por semana, todas as semanas do ano, deslocava-se à fonte dos Amores levando a roupa num carro de mão. Sozinha ou acompanhada, demorava no mínimo «duas a três horas». «Tudo dependia da quantidade de água, da quantidade de roupa e do número de pessoas que lá estava», diz. E porque não comprar uma máquina de lavar roupa? A esta questão, Deolinda Samelo responde que só não a tem porque nunca quis. «Sempre fui habituada a lavar a roupa à mão e até gosto muito de o fazer… pode ser ideia da nossa cabeça, mas parece que fi ca melhor lavada», acrescenta, rindo-se. Já a sua mãe lavava à mão, passando depois essa tarefa para ela e suas irmãs, a partir dos 15 anos. Agora, e depois de ter fi cado doente, passou a lavar a roupa, também à mão, mas em casa. «Parece que a roupa não fi ca tão viva como quando lavada na fonte, mas dentro de casa sempre estamos mais confortáveis, longe do frio, chuva ou vento».De todos os anos em que fazia este ritual semanal, recorda que, sobretudo no verão e dias de mais calor, a nascente fi cou sem água algumas vezes. Recorda ainda as obras de requalifi cação de que foi alvo a fonte, elogiando o resultado fi nal. «Já tínhamos pedras grandes, mas fi cou muito mais linda e agradável».

A terra das fontes

O Ponto | 13/III

Page 4: Fonte de Angeão, a minha freguesia

Especial Freguesia de Fonte de Angeão

Foi no dia 22 de fevereiro de 1987 que nasceu o Agrupamento de Escuteiros nº 826 de Fonte de Angeão, cujo patrono é a nossa senhora do Livramento. A poucas semanas de comemorar as bodas de prata (25 anos), o agrupamento da paróquia de Fonte de Angeão é constituído atualmente por cerca de 55 a 60 elementos, entre escuteiros e dirigentes.Mas nem tudo foram rosas para o agrupamento. Com altos e baixos, como é habitual na grande maioria das associações sem fi ns lucrativos, onde o voluntariado e a carolice são os pilares da sua sustentabilidade, o Agrupamento nº 826 esteve quase à beira do desaparecimento em 2005. Foi nessa altura que um grupo de antigos escuteiros decide reativar o grupo, para que este não perdesse o seu número.Augusto José Miranda, antigo escuteiro (desde os 9 aos 17 anos) passou a ser o chefe do Agrupamento. «Aceitei o desafi o com algumas reservas, porque não me sentia muito à vontade, mas o “bichinho” que estava dentro de mim e o facto de o meu pai (Manuel Augusto Miranda Francisco) ter sido um dos fundadores do agrupamento fi zeram-me avançar com o projeto». E desde as promessas de 2007 que o agrupamento nunca mais parou de crescer, atingindo agora a manutenção dos números alcançados no último ano.O agrupamento de Fonte de Angeão recomeçou, tal como no início, com apenas as primeiras duas secções (lobitos e exploradores), tendo já aberto a de pioneiros. «Temos ainda uma caminheira (4ª secção) a colaborar connosco, que veio de outro agrupamento, mas essa será uma secção que prevemos criar quando os pioneiros atingirem a idade», explica. Para além das crianças e jovens da

paróquia, o agrupamento é frequentado por elementos das paróquias vizinhas (Covão do Lobo, Covões, Carapelhos, entre outros), por não possuírem agrupamento ou apenas por laços de amizade.Defendendo o crescimento de baixo para cima, Augusto José Miranda lamenta apenas a falta de dirigentes perante a dimensão e dinâmica que o agrupamento já exige. Apela, portanto, a que todos os interessados apareçam e ajudem a manter este projeto. Neste momento, são mais importantes os recursos humanos do que a obtenção de uma sede própria. Esta é a ideia que o chefe faz transparecer por diversas vezes em conversa com a nossa redação, apesar de garantir que a sede própria «faz muita falta». Atualmente, os escuteiros estão a trabalhar na desativada escola primária da Gândara, mas em breve esperam assinar protocolo com a junta de freguesia e câmara municipal para usufruir daquele espaço. Contudo, Augusto Miranda volta a vincar que «a sede é uma questão acessória», dando como exemplo os agrupamentos de Calvão ou Ponte de Vagos (estes últimos que foram os seus “padrinhos” aquando da sua reativação) que também possuem 25 anos e que apenas tiveram a sua própria sede recentemente. «Com os altos e baixos que tivemos até agora não podemos querer ter uma sede construída por nós e adaptada às nossas necessidades como os outros têm».Para além das iniciativas de cada secção ou do agrupamento, os escuteiros de Fonte de Angeão participam ainda nas atividades regionais e locais, com a venda de produtos ou a promoção de peças de teatro entre outras. «Sempre com o apoio da comunidade, sobretudo os familiares».

Associação Sociocultural, Recreativa, Desportiva e Religiosa de Rines

Criada associação para zelar pelo templo religiosoRines foi a última localidade da freguesia e paróquia de Fonte de Angeão a receber um templo religioso. A capela foi inaugurada no dia 21 de agosto de 2004, pelo então Bispo de Aveiro D. António Marcelino, quase quatro anos depois de ter sido lançada a sua primeira pedra.O terreno onde está implantada a capela foi cedido pelo pároco da altura, o padre Manuel Augusto Marques. A semente estaria lançada, mas em 2002 “entornou-se o caldo” quando estava prestes a iniciar a segunda fase das obras de construção. «Não havia entendimento entre o padre e as pessoas da povoação sobre a quem entregar os acabamentos: o padre queria entregar a uma empresa da freguesia mas que apresentava orçamento mais caro em quase 2.500 euros em relação ao apresentado por uma empresa da região». Explicações dadas por João Violas, tesoureiro da Associação Sociocultural, Recreativa, Desportiva e Religiosa de Rines, que acrescenta a’O PONTO que «2.500 euros ainda era muito dinheiro para angariar porta a porta». A solução passou, por conselho dado pelo presidente da câmara da altura (e que ainda hoje mantém cargo), Rui Cruz, pela criação e constituição desta nova associação. «Devidamente formalizada e constituída, foi através desta associação sem fi ns lucrativos que conseguimos angariar verbas das entidades para a conclusão da construção da nossa capela», afi rma. A capela viria a ser concluída e inaugurada em agosto de 2004 e, a partir daí, «pouco ou nada» tem feito a associação de Rines. Através dela procedeu-se à pintura do templo no ano passado e, agora, o sonho passa pela ampliação do templo. O projeto já está efetuado e refere-se à construção de uma sala de reuniões e sala de arrumos para as coisas da capela e localidade, nomeadamente os andores e outros objetos que estão distribuídos pelas casas dos membros da associação, e da construção da torre da capela. «O objetivo da nossa associação [presidida por Alcino dos Santos Pinho] é apenas zelar pela manutenção do templo», vinca, sublinhando que a “dona” é a comissão fabriqueira. Para já, e por se tratar de uma pequena povoação, com grande parte das pessoas emigradas, a associação não prevê a realização de outro tipo de atividades para além do zelo à capela.De salientar que a capela recebe, na última quinta-feira de cada mês, celebração eucarística promovida pelo pároco local, padre João Sarrico, pelas almas defuntas. «São missas assistidas, sempre, por 40 a 60 pessoas; eu próprio nunca falto a uma», garante. A festa em honra da padroeira nossa senhora da Boa Viagem é realizada no primeiro domingo de agosto, pela comissão de festas. Uma festa «simples», onde o religioso impera mais que o profano. «Pode ser que este ano, com o apoio dos nossos emigrantes, se consiga mais verbas para contratar um conjunto para animar a noite», remata.

Constituído em 1983 por Manuel Oliveira, Manuel João Gonçalves, Flávio Cardoso, João Rocha e Manuel Augusto Domingues, o Centro Social e Paroquial de Fonte de Angeão iniciou funções seis anos depois, com a construção do edifício desta instituição particular de solidariedade social.Presidida pelo pároco local, o padre João Sarrico, a instituição alberga atualmente 15 crianças na valência de creche e cerca de 40 em regime de Atividades de Tempos Livres (ATL) e Atividades Extracurriculares (AEC’s) com quem tem protocolo com câmara municipal de Vagos. Presta, ainda, Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) a 35 idosos da freguesia, apesar de ter protocolado com a segurança social para prestar este serviço a 20 idosos. «O acompanhamento aos restantes idosos é feito por nossa conta e responsabilidade», afi rma um membro da direção ao nosso jornal. Apesar de estar voltada para a infância, a instituição está «muito preocupada» com os «nossos idosos que estão sozinhos, dado que a grande maioria tem os fi lhos no estrangeiro». Deste modo, o centro social e paroquial tenta como que substituir-se à família e prestar cada vez mais um «serviço de excelência», acrescenta o dirigente.Para poder alargar o número de

benefi ciários deste serviço apoiados pela segurança social, há cerca de ano e meio a direção iniciou obras de requalifi cação do edifício para modernizar as instalações, mas sobretudo a cozinha. «A cozinha era do século passado e não tinha grandes condições; com as obras, teremos cozinha, apoio à cozinha e despensa «modernas, efi cientes e de resposta efi caz» capazes de prestar melhor serviço a mais utentes no SAD.O “novo” edifício terá melhores condições para as salas de creche e para o centro de dia, que atualmente se resume a uma sala de convívio frequentada por cerca de dez idosos. «É uma forma de acompanharmos o dia destes idosos e lhes proporcionarmos diversas atividades», informa. As obras estão orçamentadas em 100 mil euros, valor que poderá sofrer aumentos com obras a mais. A câmara municipal e a segurança social comparticipam em cerca de 50%. «Neste momento, não fomos para a rua pedir à comunidade, pelo que o futuro será de contenção e de manutenção». A inauguração das “novas” instalações está prevista para o próximo mês de fevereiro. De salientar que, atualmente, as valências funcionam na casa do povo, que se localiza ao lado do edifício do centro social e paroquial.

Agrupamento de Escuteiros nº 826 – nossa senhora do Livramento

Escuteiros há 25 anos garantem agrupamento

Centro Social e Paroquial de Fonte de Angeão

Idosos apoiados por serviço de «excelência»

O Ponto | 14/IV

Armazenista e embalador de Batatas, Cebolas e Alhos

Rua do Sul, 34 Fonte de Angeão – VagosTel: 234 783 927 email: [email protected]

Page 5: Fonte de Angeão, a minha freguesia

Especial Freguesia de Fonte de Angeão

Em 23 de abril de 1977 foi fundado o Centro Recreativo e Ação Cultural da Parada de Cima, na freguesia de Fonte de Angeão, mais conhecido como CRAC, um clube que viria assumir a vertente desportiva. Com Mário Castelhano à frente dos destinos da coletividade e com a modalidade de atletismo, foi a partir de 1982, quando Manuel Cartaxo chegou a Portugal, que o clube começou a pensar na modalidade de futebol. «Naquele tempo o atletismo já não dava e havia muitos jovens que gostavam de futebol e como sabiam que eu também gostava incentivaram-me para formar uma equipa», disse a’O PONTO o presidente do clube desde esse ano.«Sou como o Pinto da Costa, só não tenho o mesmo dinheiro», brincou. Primeiramente o clube começou por construir uma sede junto à escola primária da Parada de Cima, que ainda existe, e depois «as brincadeirazitas que lá fazíamos e que dava dinheiro eram todas canalizadas para o futebol», que viria a ser lançado dois anos depois com duas equipas federadas. Manuel Costa e Mário Castelhano eram os treinadores, na altura, de seniores e formação respetivamente. Entretanto, devido à sua vida particular, Manuel Cartaxo deixou a direção do clube em 88 e um ano depois aquela associação vaguense parou retomando a sua atividade em 1995, novamente com Cartaxo ao leme do barco. É fácil cativar jogadores? A esta questão, o timoneiro da equipa responde com

prontidão: «antigamente era bem mais fácil. Hoje em dia há muita diversidade de desportos, há as discotecas, os bares, as internetes e a juventude dispersa-se mais e torna-se mais complicado», disse. Com cerca de vinte sócios com as quotas em dia, Manuel Cartaxo afi rma conseguir aguentar o clube com os subsídios que recebe da junta e da autarquia, e as bilheteiras e o bar vão dando para pagar os jogos que «custam à volta de trezentos euros cada um».Sem nunca chegar ao primeiro escalão da distrital, por este clube já passaram centenas de atletas, quer no setor sénior, quer nas camadas mais jovens (estas últimas tiveram o seu fi m na época passada). «Este ano, para quem começou quase do nada, estamos a fazer um bom campeonato. Temos um grupo coeso e muito educado».Só com a carolice, como em todas as outras associações desportivas do concelho também impera, «é que se consegue deixar a família de sangue, para nos juntarmos a esta família. Quando a nossa carolice acabar, não sei o que vai acontecer», perspetiva. O CRAC, durante a sua atividade e através da Comissão CRAC Eventos, realiza de alguns anos a esta parte um torneio de futebol 7 já considerado por muitos como o melhor torneio da região, que se disputa a seguir ao fi m dos campeonatos. Quanto ao futuro do clube, Manuel Cartaxo não se pronuncia. «Este ano queremos aguentar, depois logo se vê», conclui. AC

Do atletismo para o futebol

CRAC da bolaCentro de Ação Cultural da Gândara

Jovens “perdidos” reencontraram-sena casa da juventudeO edifício chama-se Centro de Ação Cultural da Gândara mas é mais conhecido como casa da juventude. Nasceu há mais de 27 anos por ser considerado como a única solução para que alguns jovens da povoação da Gândara se “reencontrassem”. Na altura, presumindo-se que, pelo menos, «dois jovens andassem metidos no “pó”», Celso de Oliveira entrou em contacto com a anterior presidente da junta de freguesia de Fonte de Angeão, Helena Marques, que se encontrava a estudar em Coimbra. «Tinha ela 17 anos quando lhe falei da situação e chegou-se à conclusão que teríamos que fazer algo que os mantivesse ocupados, para que, caso andassem a consumir drogas, não tivessem essa necessidade». A solução passou pela construção do edifício, realizada pelos jovens da localidade, sobretudo aos sábados e domingos de manhã. «Eu era, naquela altura, funcionário da câmara municipal de Vagos. Falei com a dona Alda Vítor que se mostrou interessada em apoiar desde o início. Fomos ver o terreno e depois ela ajudou com toda a documentação», recorda Manuel Celso de Oliveira. E mais orgulhoso fi ca ao verifi car que, atualmente, aqueles jovens são «super-homens e alcançaram o sucesso na vida».Com o objetivo cumprido, a função desta associação passou por promover iniciativas para os jovens mas também para toda a comunidade. Foi ali que foram apresentadas diversas peças teatrais realizadas pelo grupo de teatro local, entretanto “adormecido”. «Falta-nos mais juventude para que possamos dinamizar mais o centro e a própria localidade e freguesia», defende.Atualmente, duas vezes por ano, o centro é local de recolha de sangue por parte dos dadores (geralmente em fevereiro e agosto) e é o local escolhido pelas professoras e docentes para a realização das festas e atividades promovidas pelos alunos do 1º ciclo e pré-escolar.

O Ponto | 15/V

Associação Rancho Folclórico de Fonte de Angeão

Cultura e tradição gandaresa promovida em cada atuação e iniciativaA recuperação, preservação e divulgação da cultura rural ancestral da freguesia de Fonte de Angeão tem vindo a ser efetuada, nos últimos 14 anos, pela Associação Rancho Folclórico de Fonte de Angeão. Para além do tradicional festival de folclore, onde estão representadas as fi guras e profi ssões típicas da freguesia (lavadeira, tremoceira, camarinheira, mulher da bilha, a típica gandaresa) e respetivos trajes e cantares, o grupo de folclore reaviva as memórias dos mais antigos e mostra aos mais novos como era o dia-a-dia de antigamente através da recriação da matança do porco à moda antiga, da vindima, da desfolhada, do trabalho nas eiras, do magusto ou dos serões culturais com as tradicionais récitas.Passando por um momento de transição na direção, agora presidido por Mário Pimenta, é no entanto a sua antecessora que apresenta à nossa redação o grupo e o trabalho desenvolvido pela associação. Começa por garantir que a preservação da cultura e tradição local só foi possível graças à colaboração e à «partilha de saberes e experiência» das gentes mais antigas. «A nossa população é, maioritariamente, idosa e com muitos anos e não podíamos desperdiçar os seus conhecimentos, sendo a criação do rancho uma forma de promover e divulgar esses saberes», sublinha Madalena Pinto. Apesar de o trabalho «nunca estar concluído», já que aparece sempre mais uma pessoa que sabe ou recorda mais alguma coisa, o rancho possui «muitas danças» que são interpretadas pelos 30 a 40 elementos que constituem o grupo. Entre cantores, músicos e dançarinos, os elementos (oriundos da

freguesia e de Covão do Lobo) possuem entre os 8 e os 70 anos de idade, «mas é considerado como um grupo muito jovem e dinâmico». Aliás, a grande maioria dos pares é composta por casais de jovens o que, por si só, garante a continuidade do rancho. «Já tivemos 12 pares a dançar, que tinham que dar vez nalgumas danças porque não cabiam todos no palco. Agora são só oito. Poderão dizer que são poucos, mas nós achamos que são os essenciais», defende Madalena Pinto.Inicialmente, o rancho ensaiava no salão cultural existente no primeiro andar da casa do povo da freguesia mas desde há seis anos que se deslocou para o edifício do Complexo Social e Comunitário de Fonte de Angeão. «A acústica não é a melhor, mas é o nosso espaço, onde ensaiamos, organizamos as nossas iniciativas e onde recebemos os nossos convidados». De facto, é ali que se realiza, anualmente, o festival que assinala mais um aniversário – apesar de, neste ano, a 20 de maio, estar a ponderar-se a sua realização para o adro novo junto à igreja matriz. Depois, é a vez do Rancho Folclórico de Fonte de Angeão responder aos convites que fez, o que já lhe proporcionou atuar em vários pontos de norte a sul do país. Apenas não conseguiram concretizar o sonho de atuar no estrangeiro. «Já esteve para acontecer no ano passado, em França. Mas os estudantes tinham provas e não foi possível. Quem sabe um dia… nem que seja aqui ao lado, em Espanha», diz Madalena Pinto. A ideia é levar a cultura gandaresa a países onde residem os emigrantes locais.

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Page 6: Fonte de Angeão, a minha freguesia

Especial Freguesia de Fonte de Angeão

João Rocha nasceu em Coimbra, vindo viver para Fonte de Angeão com seus pais, João Augusto dos Santos Simões Rocha e Maria de Lurdes Rocha.Ao descrever a vida e obra de João Rocha, impõe-se que faça uma pequena referência à terra da sua naturalidade: Fonte de Angeão.Esta belíssima povoação, berço de gente boa e solidária, freguesia e paróquia, assenta as suas origens nos tempos dos Mouros. Dentro dos seus muros ainda existe a afamada “Fonte dos Amores”. A etimologia do nome vem de “Fonte do Ansião” que, com o andar dos tempos, veio dar a palavra “Fonte de Angeão”.É uma terra encravada na região gandareza. Uma terra cujo povo se pode orgulhar de ter exercido uma das profi ssões

mais antigas e originais do nosso concelho: o MOLICEIRO. Uma terra onde a cultura criou raízes (o seu rancho folclórico é espetacular!). Uma terra de gente católica por excelência, como se vê pela sua monumental igreja, recentemente benzida e inaugurada.Aqu i v iveu João Rocha , tendo estudado em Pombal, na altura em que seu pai era presidente da câmara daquela cidade. Mais tarde, ingressou na Universidade de Coimbra, onde frequentou o curso de direito.Como grande futebolista que era, jogou na Académica de Coimbra, tendo exercido, inclusivamente, as funções de diretor da associação académica.Durante o serviço militar, onde esteve durante nove anos, inclusive na Administração Militar, foi destacado para Timor-Leste onde exerceu as funções militares como capitão. De salientar que quando regressou do Ultramar, teve uma grande receção em Fonte de Angeão, onde tinha a esperá-lo o próprio presidente da câmara da altura, professor Ernesto Neves, de saudosa memória.Passou a exercer a advocacia, nomeadamente em Soure,

tendo-se dedicado à investigação do direito processual, chegando mesmo a publicar um livro - “Comentário ao Código Civil” -, obra muito utilizada como compêndio de consulta pelos alunos da Universidade de Coimbra e ao qual o dr. Mário Frota teceu os maiores elogios.Mais tarde veio a exercer as funções de adjunto do

Governador Civil de Aveiro.Pretendendo seguir as pegadas de seu pai, que foi ilustre presidente da câmara municipal

de Vagos, decidiu concorrer à referida câmara, vindo a suceder a Alda dos Santos Vítor, sem que antes tenha sido seu vereador. Exerceu estas funções desde janeiro de 1986 a dezembro de 1993, altura em que lhe sucedeu Carlos Fernandes Roseiro Bento.Durante os seus mandatos há que reconhecê-lo que o concelho de Vagos sentiu um grande

desenvolvimento e progresso.No que toca a estradas, ligou o centro do concelho ao mar com a construção dos “estradões”, a

avenida do parque de campismo e a construção das pontes da Vagueira e do Areão, além de outras estradas pelas freguesias. Foi da sua iniciativa o abastecimento de água a parte da freguesia da Gafanha da Boa Hora.A saúde da população foi para si uma preocupação, c o l a b o r a n d o n a construção do centro de saúde de Vagos, diversos postos médicos sitos na maior parte das freguesias.N ã o e s q u e c e u a s c o l e t i v i d a d e s e instituições do concelho que substancialmente apoiou.A educação e o ensino foram também a sua grande bandeira ou não fosse ele filho de

um professor, com a construção das escolas da Gafanha, Santa Catarina e Covão do Lobo e a lgumas pré-pr imár ias implantadas em quase todas as freguesias do concelho. E ainda neste campo, a sua coroa de glória foi a construção da escola C+S (Dr. João Rocha Pai) e o pavilhão municipal a que foi atribuído o seu nome, na altura

o segundo pavilhão maior do país.N ã o e s q u e c e u o s agr i cu l tores , c r iando a Vagros – Feira Agro-Pecuár ia que Car los Bento, como presidente da câmara, viria a manter mas com o nome de Florivagros.No apoio aos empresários deu também grande impulso à zona industrial de Vagos.Porque pa s sou pe lo Ultramar, foi um grande adepto das geminações com outras câmaras , nomeadamente de países de língua ofi cial portuguesa: cidade de Bagatá (na guiné Bissau) e a S. vicente (Cabo Verde).N a a d m i n i s t r a ç ã o municipal, face a uma s ind icânc ia à gestão c a m a r á r i a d a s u a

responsabilidade, João rocha teve alguns dissabores, certamente nem todos por culpa própria, que o abalaram bastante e que, nesta altura, tenta a todo custo ultrapassá-los.Esta é, a meu ver, a vida e obra de João Rocha que o povo da sua terra, e não só, muito considera e admira.Permitam-me, ainda, que preste a minha homenagem póstuma ao seu pai João Augusto dos Santos Simões Rocha, figura pública ilustre que Vagos dificilmente esquecerá e que quis o destino que eu o acompanhasse nos últimos momentos da sua vida.Esta homenagem está bem vincada na publicação de uma notável e espetacular saudação que dirigiu, há longos anos, a VAGOS, por ocasião de uma homenagem prestada a um dos fi lhos também ilustres deste concelho: dr. Agostinho Furtado. SAÚDO-O, dr. João Rocha.

Por Basílio de Oliveira

João José Cabral de Albuquerque Simões Rocha

Um homem que o povo da sua terra admira

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O Ponto | 16/VI

João Evangelista LoureiroSEIXO, 02/02/1926 - AVEIRO, 03/03/1986

João Evangelista Loureiro, para muitos um pedagogo e humanista, nasceu no Seixo de Mira e era oriundo de família que vivia da terra que trabalhava, para o seio da qual voltava sempre que a oportunidade espreitava. Os últimos anos do seu intenso e atribulado percurso, viveu na freguesia de Fonte de Angeão, numa das mais antigas casas do Conselho de Vagos, pertencente aos progenitores de Esmeralda Catarino de Miranda Nazaré, com quem casou e de quem teve quatro fi lhas. A sua formação superior, longa e diversifi cada, teve início no Seminário da Figueira da Foz e levou-o a frequentar diversos cursos no estrangeiro: Salamanca, fi nais dos anos 40; Madrid, nos anos sessenta; e Lovaina, no início dos anos 70, onde fez o doutoramento, que se debruçou sobre o pensamento pedagógico do Padre Américo. Iniciou a sua atividade como professor do Ensino Superior na então Universidade de Lourenço Marques, em meados da década de sessenta. É chamado por Veiga Simão para colaborar na reforma do sistema de ensino de 1973, sendo nomeado director da Escola Normal Superior de Lisboa, em fi nais desse ano. Foi autor do modelo de formação integrada de professores, que funcionou em várias instituições até muito recentemente. Depois de uma curta passagem pela Universidade do Minho (1975-78) veio para a Universidade de Aveiro (1978-1986), onde era Vice-Reitor quando viu a sua vida inesperadamente e precocemente ceifada. Nas cerimónias ofi ciais do Dia de Portugal e de Camões de 1996, o Presidente da República, Jorge Sampaio, atribuiu-lhe, a título póstumo, o grau de Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública.Nas palavras de Filipe Rocha, que fez o seu elogio fúnebre, era um homem de trato fi no e delicado; que não mendigava favores a poderosos nem usava os humildes; que sabia contemporizar sem transigir; de espírito jovem, alegre e camarada; dotado de um notável optimismo e espírito de abertura; de coração aberto e profundamente cristão. Consciente das suas capacidade e limitações, inteligente e simples, nasceu para líder e como tal tinha o olhar sempre no futuro. Deixou-nos uma profunda saudade. MJL

Da esquerda para a direita: Professor Ernesto, Dr. Francisco Vale Guimarães (Governador Civil de Aveiro), José de Oliveira (Presidente da Câmara de Vagos em exercício), Eurico Pena e Dr. João Rocha (pai)

Tel. 234 781 207 e 966 774 058

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Page 7: Fonte de Angeão, a minha freguesia

Especial Freguesia de Fonte de Angeão

Natural da freguesia de Fonte de Angeão – aliás, nasceu a poucos metros da habitação onde reside atualmente -, o capitão Silvino de Oliveira é conhecido por todos ou quase todos da freguesia. Foi sobretudo graças à sua dedicação e empenho que se criou a Associação Rancho Folclórico de Fonte de Angeão há mais de 13 anos. Em conversa com O PONTO, recorda que havia difi culdade em defi nir os estatutos da associação e que foi chamado para resolver a situação. Presidiu a esta associação durante largos anos. Hoje gosta de ir assistir aos seus festivais, elogiando a promoção e a divulgação da tradição gandareza que este grupo desenvolve.Segundo diz, «sempre fui chamado para a criação de novas estruturas». Enquanto jovem, depois de ter feito a 4ª classe e de se “refugiar” na área da padaria numa das duas grandes padarias existentes na Parada de Cima – em busca de melhores condições de vida, já que os pais «eram muito pobres» -, Silvino de Oliveira foi chamado por João Rocha (pai) para «tomar conta da casa do povo, que tinha sido mandada construir a nível nacional nos primeiros anos de governo de Marcelo Caetano». Fonte de Angeão tinha sido contemplada com uma com o intuito de unir o povo mais distante dos centros urbanos. «Presidi durante cinco anos, até ir para a escola de ofi ciais», relembra.Silvino de Oliveira ingressou no exército quando completou os 21 anos de idade, idade imposta para prestar o serviço militar obrigatório. Porque indicou a padaria como sua especialidade, acabou por ir parar ao quartel de Póvoa do Varzim, onde se promoviam cursos de padeiro. Aí fi cou, com mais 50 homens, a tirar a escola de cabos. Tendo sido um dos três melhores do curso, teve a possibilidade de escolher o quartel para onde queria ir. Optou pela «manutenção militar, que fornece padaria e alimentação, em Coimbra».Convidado para ingressar na GNR, aceitou o conselho do seu chefe e decidiu prosseguir estudos no exército e, ao mesmo tempo, tirar o curso de três anos na escola comercial e industrial que fi cava a paredes meias com o quartel. No fi nal, concorreu ao quadro e passou por todos os postos de sargento, chegando a capitão com 47 anos.Hoje com quase 81 anos, reformado desde os 58 (por ter atingido idade), recorda os «momentos difíceis e de grande exigência e responsabilidade» por que passou. O objetivo era subir até aos cargos superiores no exército, mas o limite de idade assim o impediu. «Ali crescemos enquanto homens», sublinha, elogiando todos os serviços que chefi ou e que o representaram, porque «graças ao seu trabalho fui chamado para diversos cargos de alta importância».Regressando à sua terra natal, afi rma que veio encontrar uma «terra apagada», mas que foi evoluindo ao longo dos últimos anos. Na sua ótica, existem apenas duas necessidades que nunca foram atendidas: a existência de uma farmácia e de uma entidade bancária na freguesia. «Se tivesse isso poder-se-ia dizer que não faltava nada».

Silvino de Oliveira

De padeiro a Capitão

Albina Simões

Uma centena de anos por terras gandarezasNasceu em Carapelhos, freguesia do concelho de Mira, mas seria na terra da sua mãe, na Gândara, que viria a casar, a construir casa e a constituir família. O seu sorriso, a sua memória ou a sua prontidão para dois dedos de conversa nunca fariam alguém adivinhar que Albina Simões nasceu aquando da implantação da 1ª república, em 1918. Sim, Albina Simões (na foto) tem mais de 101 anos. E não fosse o AVC que sofreu há cerca de cinco anos, Albina Simões ainda teria forças, como diz à nossa redação, para se «desenrascar sozinha».Teve seis fi lhos (dois dos quais vieram a morrer, uma com seis anos, o outro morreu logo à nascença), mas quando lhe perguntamos quantos netos, bisnetos, trinetos ou tetranetos tem, responde apenas que «já são um rancho que até lhes perdi a conta», rindo-se. Na brincadeira, recorre também aos amigos que partilham a sala de convívio do Centro Social e

Paroquial de Fonte de Angeão, onde passa os seus dias há cinco anos (a noite é passada na casa dos fi lhos), para saber que idade tem. «São cento e quê?».Como gandareza genuína que sempre foi , expl ica que trabalhou sempre na agricultura, a trabalhar «para este e para aquele». Era um trabalho árduo, que tinha que ser feito «de manhã à noite, fizesse chuva ou sol, e no final do dia até parecia que tínhamos as chagas do nosso Senhor». Naquela altura, recorda-se de Fonte de Angeão como tendo poucas pessoas e

pequenas casas, caminhos de terra batida e nada de carros. Só a pé e carroças de bois. A terra era o sustento e dela retirava-se sobretudo os nabos e as batatas, mas também o milho ou o feijão. «Era um pouco de tudo», afi ança.Albina Simões foi uma das meninas da altura que não teve a oportunidade de ir para a escola aprender a ler ou a escrever. Diz ela que o pai não deixou as cinco fi lhas irem aprender porque «tinha medo que as fi lhas escrevessem aos rapazes e depois fugissem com eles». No entanto, os três irmãos tiveram a hipótese de ir para Leitões aprender. «Eram tão bons a escrever – saíram ao meu pai, que parecia um doutor – que vieram ensinar os rapazes dos Carapelhos». Albina acabaria por aprender alguma coisa com o marido e depois com os fi lhos, que fi zeram a 3ª e a 4ª classe.Uma vida de «muito trabalho, que nem sei como ainda aqui estou», mas sempre sem a presença ou a ameaça da fome. Recuando largas décadas na memória, recorda que tanto em casa de sua mãe como na sua nunca passou fome. «Não havia as lambarices que existem agora, mas nunca passámos fome. Na casa dos meus pais, a minha mãe até enchia uns potes de azeitonas, na altura delas, e comíamos como quem come tremoços». Também as sardinhas, que ela e suas irmãs iam buscar à praia com a cesta à cabeça e os irmãos com cesto às costas, eram «à fartura». Ao contrário de muitas famílias, que dividiam uma sardinha por cada duas pessoas, a família de Albina comia «duas e três». «Nunca comi broa sem conduto a acompanhar», acrescenta.E qual o segredo para chegar a tão bela idade? Responde que não sabe explicar. «Só sei que de um dia para o outro não somos ninguém. Estou meia “taralhoca” como dizem os novos, e tomo muitos medicamentos por causa do AVC, bronquite e diabetes – é uma porção de remédios – mas o que interessa é estar viva. Todos temos que morrer, mas ninguém quer ir», brinca. Por isso, sempre acostumada a comer as verduras e hortaliças que a terra oferece, aconselha os netos a comer também, «que só querem batatas-fritas e a sopa, que é boa, não querem».

Arminda Almeida

Uma vidaa contar histórias

Arminda Almeida, natural da Gândara, toda a sua vida gostou de decorar. Em outubro vai completar 71 primaveras e ainda se lembra de muitas poesias, mais de vinte, contadas pela sua mãe quando ainda era nova. Da sua infância recorda-se dos teatros que desenvolvia com as «moças da minha idade e a minha irmã a orientar. Enchíamos sempre as casas, vinham pessoas de longe e tudo só para nos ver fazer muitas comédias e lindos dramas», disse com saudade.Toda a vida trabalhou no campo e não houve a oportunidade de fazer da arte de representar a sua profissão, mas não esquece o que aprendeu enquanto criança e ainda hoje declama como se fosse há uns cinquenta ou mais anos atrás. Dedicou-se mais à poesia, mas há um “sermão” que não esquece. «Quando eu tinha doze anos, recebíamos aqui em casa o jornal A Voz de Fátima e num desses jornais vinha o sermão do bispo de Leiria que eu decorei e ainda hoje o sei dizer todo. Ainda é grande», disse, orgulhosa da sua memória. Mas como ninguém é eterno, Arminda pretende deixar as suas poesias aos seus netos. Para isso, afi ançou que vai tentar transmiti-las todas à sua neta que tem oito anos para que o que vem dos seus antepassados possa

perdurar no tempo, «o que é muito importante para mim». No entanto ainda se liga com a cultura local. É no Rancho Folclórico de Fonte de Angeão que vai dando música com as suas maracas já depois de durante alguns anos ter dado voz às músicas do rancho. «Agora a minha voz está mais fraca e passei para o ritmo».Foi no pátio da sua casa gandareza que recebeu O PONTO e recordou uma das poesias. «Esta tem um significado muito especial para mim porque me foi dito um dia pela minha mãe quando eu era ainda uma criança», justifi cou. AC

Pelas palavras que encerraO refrão antes de maisTu vais pagar já na terra O que fi zeres a teus pais

Andas como o fi lho pródigoAusente do teu deverCujo dever é um códigoQue é bem fácil de aprender

Um pai não exige muitoDos fi lhos a quem criouQuer apenas o produtoDa semente que lançou

Deus manda honrar pai e mãeNo seu quarto mandamentoQue aprendeste tão bemE que deves estar atento

Se a caso te aborreceres com teus irmãosVê lá bemNão confundas os deveresQue tens para com pai e mãe

Recebeste a educação Que transmitirás aos teusPor isso tu és cristãoE acreditas em Deus

Mas se tu dás ao desprezoOs teus pais na realidadeHás de sentir esse pesoSe chegares à mesma idade

Deves compreender que a idadeQuer carinho e atençãoNão vás pagar com maldadeOs deveres de criação

Pelo caminho que vaisNão irás ter um bom fi mVê se tratas bem teus paisSe queres ser tratado assim

Andas com os pés no mundoParece que desconheces Que estás num pego sem fundoÀs tantas desapareces

Os teus pais tudo fi zeramPara te valorizarE se eles mais não te deramMais não te podiam dar

Sofreram mais do que pensasPor ti teus pais outroraContraindo até doençasDe que se queixam agora

Espero que tenhas ouvidoAs palavras que te apresentoSem que se tenham perdidoNo teu frágil pensamento

Estou pregando aos peixinhosComo Santo António o fezSe tens ouvidos mouquinhosSe tens olhos e não vês

Mas os peixinhos sem mágoaEmbora causando espantoVieram ao cimo da águaEscutar a voz do santo

Depois dito não te queixesOh fi lho inconvertidoSe indo pregar aos peixesEu for melhor atendido

Os conselhos que te ofereçoQue rejeitarás por fi mPelo seu valor e apreçoTambém os quero para mim

Não precisas de conselhosNem tão pouco o meu parecerPorque tens muitos espelhos Onde tu te podes ver

E para sermos mais concretosNo fundo vem os valoresMuitos pais analfabetosFazem os fi lhos doutores

Depois da vida que sonhamSe vir a concretizarAlguns até se envergonhamDe seus pais apresentar

Que tristeza meus amigosSe convosco isto se passaNão temeis de Deus castigosOu outra qualquer desgraça

Há quem não aceite a cargaQuem a tem e não a sentePorque a carapuça é largaMas não serve em toda a gente

Tel. 234 782 305 Rua da Liberdade, 96 Gândara – Fonte de Angeão – VagosRua da Liberdade, 96 Gândara – Fonte de Angeão – Vagos

PadariaGandaresaPão quentinhopela madrugada

O Ponto | 17/VII

Page 8: Fonte de Angeão, a minha freguesia

Especial Freguesia de Fonte de Angeão

Lendas e locais de lazer

Freguesiade Fontede Angeãoem númerosÁrea: 9,55 km2População: quase 1.245 habitantesRecenseamento: 1.545 eleitores (últimas Presidenciais)

Espaços populacionais:Fonte de Angeão, Gândara, Parada de Cima e Rines

Festividades religiosas:- Rines – nos fi nais de julho, em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem;- Parada de Cima – 1º domingo de agosto, em honra de Nossa Senhora da Saúde;- Fonte de Angeão – 15 de agosto, em honra de Nossa Senhora do Livramento;- Gândara – 22 a 24 de agosto, em honra de Nossa Senhora de Fátima

Festividades tradicionais- Festival do Rancho Folclórico de Fonte de Angeão (fi nal de Maio)

Locais de interesse público:- igreja matriz e capelas- fontes naturais- complexo social e comunitário- parque de merendas

Associações:- Associação Rancho Folclórico de Fonte de Angeão- Associação Sociocultural, Recreativa, Desportiva e Religiosa de Rines- Centro de Ação Social da Gândara- Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento de Escuteiros nº 826 – Nossa Senhora do Livramento- Centro Recreativo de Ação Cultural (CRAC) – da Parada de Cima

Ensino Público:- EB1 em Fonte de Angeão- Jardim de infância em Fonte de Angeão

Atividade económica:Agricultura, construção civil e comércio

Emigração:30% da população está emigrada em França, Alemanha, Suíça, Luxemburgo, Canadá, Venezuela e Espanha

Lenda da Fonte da MouraNoutros tempos, havia mouros em Fonte de Angeão. Mandava o Rei de Leão. Alguns mouros, porém, amigos dos cristãos e da terra em que nasceram e continuavam a cultivar, ficaram. Eram chamados “mudejares”. Muitos deles até iam aderindo à religião cristã, misturando línguas, usos e costumes.O mesmo tinham feito os cristãos que haviam fi cado nas terras conquistadas pelos mouros, onde eram conhecidos por “moçárabes”. Eram os “mudejares” os que mais sofriam, quando os mouros do sul por cá faziam as suas “razias”, tentando recuperar estas terras. Não perdoavam os seus irmãos de raça, que tinham fi cado amigos dos cristãos.É neste ambiente que se passam os factos

narrados na lenda que retrata uma moura muito bonita, chamada Alzira (al-Zahira, em árabe). Estava noiva do dono destas terras, um cavaleiro cristão chamado D. Gião. Quando os mouros da “razia” chegam, as primeiras vítimas foram logo os pais de Alzira.Ela, porém, conseguiu fugir para o mato, tentando esconder-se numa mina ou nascente de água, que sabia haver além de um ribeiro. D. Gião, chefe dos cristãos derrotados, pede ajuda ao seu amigo D. Senão, que governava estas terras em nome do rei. Vencidos e de novo expulsos os mouros, D. Gião e os amigos procuram Alzira por todos os recantos onde se poderia ter metido.Na mina onde diziam ter-se escondido, apenas se descobriu a água que dela nascia. Era deliciosa, pura e cristalina. E fi cou com o nome de Fonte da Moura.

Lenda da ChuvaÉ uma lenda que tenta justifi car o nome da freguesia de Fonte de Angeão.Conta a lenda que, um dia, depois de uma grande seca, as gentes resolveram pedir a chuva ao Senhor que tudo manda.Foram pelas terras fora, em procissão, rezando e cantando as ladainhas com muita devoção. Às tantas, o céu começa a escurecer e, ao longe, já se ouviam os trovões. E a desejada chuva, grossa como nunca se tinha visto, começou a cair.Mas ninguém arredou pé; antes ergueram os braços para o céu, agradecendo a Deus a bendita chuva. E ela era tanta e tão grossa, que houve quem visse os anjos lá nas nuvens despejar os cântaros de água para baixo. E, no sítio onde estavam, formou-se uma grande enxurrada e, mais tarde, até lá nasceu uma fonte.

Sobre a Fonte de AngeãoNo que respeita ao património, a anotar a existência de duas casas gandaresas invulgares, sobretudo pela riqueza que ostentam nas fachadas. Uma no largo da antiga feira da Parada e outra no lugar da Gândara. A primeira, com fachada a fresco rosa, mostra friso pintado e pilastras encimadas com relevos de cabeças de anjo. A segunda afi rma-se sobretudo pela beleza das cantarias ricamente trabalhadas, embora termine a fachada do lado esquerdo em estranha solução oblíqua.Sobre a igreja recentemente construída, lamentamos que se tenha perdido a oportunidade de erguer uma obra qualifi cada, de acordo com os actuais saberes sobre arquitectura. O excesso de diversidade de materiais utilizados e a inabilidade total em os conjugar deita tudo a perder. Sobretudo a necessidade de corformação do espaço no sentido de agregar efi cazmente em torno de um ponto convergente uma comunidade não é de todo conseguida. Também não se percebe porque razão o edifício adjacente à igreja não respeita o alinhamento do prédio confi nante.Já sobre a toponímia,não nos parece ter fundamento a pretensão de, partindo de mais uma lenda, a da chuva, estabelecer ligação entre o nome Fonte de Angeão e Fons Angelanum (Fonte dos Anjos). A ideia estriba-se em mau latim, pois a expressão correcta seria Fons Angelorum, o que transforma a pretensão numa angélica ingenuidade. O Dicionário luso-brasileiro encontra a origem do nome de Fonte de Angeão num genitivo antroponímico- Angiani villa, de origem talvez germânica ou hipocorística, ou seja, vila de um indivíduo com o nome de Angião ou Gião. Nós porém levantamos uma outra hipótese, que achamos bastante plausível. Aguião é o nome do vento norte (do lat. Aquilone). Em documentos notariais dos sécs. 15 e 16, a demarcação de terrenos era feita de acordo com estes indicadores: Aguião, Suão, vendaval, tal como hoje se diz, a norte, a sul, a poente, e anteriormente do lado do mar e do lado da serra. Assim como se incorporou na toponímia elementos de orientação, como mar e serra, de baixo e de cima (Lameiro do mar, Choca da Serra, Canto de Baixo, Parada de Cima, etc.), assim nos parece que Fonte de Angião nada mais signifi ca do que Fonte do Norte (Fonte d agyam), por contraponto a alguma fonte existente a sul, mantendo assim essa designação antiga correspondente ao lado setentrional. A capacidade que os gandareses têm de manipular a língua a seu bel prazer, numa perspectiva de grande economia e acomodação leva a que, tal como dizem Íbalho e Bagos, acabemos por achar lindíssima a inovação fonética que se encontra no nome com que todos designam a terra de que tratamos: Fontinjão.

Paulo Frade

O Ponto | 18/VIII

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