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FOLHAS ESCRITAS Essa questão do Medo por Bill W. Corno diz o livro Alcoólicos Anônimos, "O medo é um fio perverso e corrosivo; o tecido das nossas vidas está entremeado dele". O medo é certamente uma barreira para a razão e o amor e, como é claro, ele potencializa invariavelmente a raiva, a presunção e a agressão. O medo forma a base da culpa e da depressão paralisante da embriaguez. O Presidente Roosevelt observou uma vez significativamente que "Não temos nada a temer a não ser o próprio medo". Essa é uma acusação severa e talvez demasiadamente radical. Apesar de toda sua destrutividade habitual, descobrimos que o medo pode ser o ponto de partida para coisas melhores. O medo pode ser um limiar para a prudência e para um respeito honesto pelos outros. Ele pode apontar o caminho tanto para a imparcialidade quanto para o ódio. E quanto mais consideração e imparcialidade que tivermos em relação aos outros, mais rapidamente poderemos encontrar o amor, que pode ser muito sofrido e não obstante ser livremente concedido. Assim, o medo não tem que ser sempre destrutivo, porque as lições trazidas pelas suas conseqüências podem nos conduzir a valores positivos. A conquista da liberdade a partir do medo é uma tarefa para a vida toda, uma tarefa que nunca poderá ser totalmente concluída. Sob ameaças pesadas, nas 

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FOLHAS ESCRITAS

Essa questão do Medo por Bill W. 

Corno diz o livro Alcoólicos Anônimos, "O medo é um fio perverso e corrosivo; o tecido  das   nossas   vidas   está   entremeado  dele".   O   medo   é   certamente   uma barreira para a razão e o amor e, como é claro, ele potencializa invariavelmente a raiva, a presunção e a agressão. O medo forma a base da culpa e da depressão paralisante   da   embriaguez.   O   Presidente   Roosevelt   observou   uma   vez significativamente que "Não temos nada a temer a não ser o próprio medo".Essa é uma acusação severa e talvez demasiadamente radical. Apesar de toda sua destrutividade habitual, descobrimos que o medo pode ser o ponto de partida para coisas melhores. O medo pode ser um limiar para a prudência e para um respeito   honesto   pelos   outros.   Ele   pode   apontar   o   caminho   tanto   para   a imparcialidade quanto para o ódio. E quanto mais consideração e imparcialidade que tivermos em relação aos outros, mais rapidamente poderemos encontrar o amor, que pode ser muito sofrido e não obstante ser livremente concedido. Assim, o medo não tem que ser sempre destrutivo, porque as lições trazidas pelas suas conseqüências podem nos conduzir a valores positivos.A conquista da liberdade a partir do medo é uma tarefa para a vida toda, uma tarefa que nunca poderá  ser totalmente concluída. Sob ameaças pesadas, nas 

doenças agudas ou em outras situações de séria insegurança, temos todos que reagir   bem   ou   mal,   conforme   seja   o   caso.   Apenas   os   presunçosos   afirmam estarem totalmente livres do medo, embora essa própria grandiosidade esteja na realidade enraizada nos temores que eles temporariamente esqueceram.A   solução   do   problema   do   medo   tem   conseqüentemente   dois   aspectos. Precisamos tentar obter por todos os meios à  libertação do medo que está  ao alcance de todos nós. Em seguida, precisamos encontrar tanto a coragem quanto a   graça   para   lidar   construtivamente   com   quaisquer   temores   remanescentes. Tentar entender nossos temores e os temores dos outros é apenas o primeiro passo. A questão maior é saber como e para onde iremos a partir desse ponto.Desde o início de A.A., observei a medida em que milhares de companheiros se tornaram cada vez mais capazes de transcender seus temores. Esses exemplos foram um auxílio e uma inspiração infalíveis. Pode ser, então, que algumas das minhas próprias experiências com o medo e com a libertação do mesmo, até um grau encorajador, sejam adequadas.Quando criança tive alguns traumas emocionais muito duros. Existiam profundos distúrbios familiares; eu era fisicamente desajeitado e assim por diante. E claro que outras crianças tiveram desvantagens emocionais como essas e emergiram delas   ilesas.   Mas   eu   não.   Eu   era   evidentemente   hipersensível   e, conseqüentemente,  muito   impressionável.  De  qualquer   forma,  desenvolvi  uma fobia positiva que não era e nunca poderia ser semelhante àquela dos outros jovens.   Isso   me   precipitou   inicialmente   na   depressão   e   daí   em   diante   no isolamento da solidão.Mas esses infortúnios infantis, todos eles gerados pelo medo, vieram a serem tão intoleráveis que eu me tornei altamente agressivo. Pensando que nunca poderia pertencer a grupos e jurando que nunca me contentaria com nenhuma situação inferior, eu simplesmente tinha que ser o melhor em tudo que fazia, trabalho ou diversão. A medida em que essa atraente fórmula para uma vida boa começou a obter sucesso, de acordo com as minhas próprias especificações de sucesso, tornei­me delirantemente feliz. Mas quando um empreendimento ocasionalmente falhava, eu me enchia de um ressentimento e de uma depressão que só poderiam ser   curados   pelo   triunfo   seguinte.   Desde   o   início,   portanto,   acostumei­me   a valorizar tudo em termos de vitória ou derrota ­ tudo ou nada. A única satisfação que eu conhecia era vencer.Esse era o meu falso antídoto para o medo e foi esse o padrão, gravado cada vez mais profundamente, que me impulsionou através dos meus anos escolares, da Primeira Guerra Mundial, da febril carreira de alcoólico em Wall Street e ladeira abaixo até  a hora final do meu colapso total. Já  então, a adversidade não era mais um estimulante e eu já não sabia se meu maior medo era viver ou morrer.

Embora meu padrão básico de medo seja  muito  comum, existem obviamente muitos outros. Na realidade, as manifestações do medo e os problemas que se arrastam   atrás   delas   são   tão   numerosas   e   complexas   que   não   é   possível detalhar, neste breve artigo, nem mesmo algumas delas. Só podemos revisar os recursos e os princípios espirituais através dos quais poderemos ser capazes de enfrentar e lidar com o medo em qualquer um dos seus aspectos.No meu próprio caso, a pedra fundamental da libertação do medo é a Fé: uma Fé que, apesar de todas as aparências mundanas em contrário, faz­me acreditar que vivo em um universo que faz sentido. Para mim, isso significa a crença em um Criador que é todo poder, justiça e amor; um Deus que pretende para mim uma finalidade, um significado e um destino ao crescimento, ainda que pequeno e intermitente, em direção à Sua semelhança e imagem. Antes da chegada da Fé, eu vivia como um estranho em um cosmo que me parecia, freqüentemente, tanto hostil quanto cruel. Nesse mundo, não poderia haver nenhuma segurança interior para mim.O Dr. Carl Jung, um dos três fundadores da moderna psicologia em profundidade, tinha uma enorme convicção sobre esse grande dilema do mundo moderno. Em paráfrase, eis o que ele tinha a dizer a esse respeito: "Qualquer pessoa que tenha chegado aos quarenta anos de idade e ainda não tenha meios para compreender quem ela é, onde ela se encontra ou para onde vai em seguida, não pode evitar tornar­se um neurótico ­ até certo ponto. Isso se aplica quer seus impulsos da juventude em relação ao sexo, à segurança material e a um lugar na sociedade tenham ou não sido satisfeitos". Quando disse "tornar­se neurótico", o bondoso médico poderia ter dito igualmente "tornar­se dominado pelo medo".E   exatamente   por   essa   razão   que   nós   de   A.A.   colocamos   tanta   ênfase   na necessidade   da   Fé   em   um   Poder   Superior,   definido   na   forma   em   que   O concebemos. Temos que encontrar uma vida no mundo da graça e do espírito e esta   é   certamente   uma   dimensão   nova   para   a   maioria   de   nós. Surpreendentemente,  nossa busca por  esse  âmago da essência  não  é  muito difícil.  Nosso ingresso consciente nesse domínio começa assim que pudermos confessar sinceramente nossa impotência pessoal para continuarmos sozinhos e tivermos feito nosso apelo a qualquer Deus que possamos conceber ­ ou possa existir. A resultante é a dádiva da Fé e a consciência de um Poder Superior. A medida em que cresce a Fé, cresce também a segurança interior, O vasto medo subjacente   à   inexistência   de   um   significado   começa   a   desaparecer. Conseqüentemente, nós de A.A. descobrimos que nosso antídoto básico para o medo é um despertar espiritual.Tal   como   aconteceu,   minha   própria   percepção   espiritual   surgiu   de   maneira repentina e absolutamente convincente. Tornei­me instantaneamente uma parte ­ ainda que pequena ­ de um cosmo que era regido pela justiça e pelo amor na 

pessoa de Deus. Não importa quais tivessem sido as conseqüências da minha própria disposição e ignorância, ou daquelas dos meus companheiros de jornada na terra, essa ainda era a verdade. Foi essa a garantia nova e positiva e ela  nunca me abandonou. Foi­me dado o conhecimento, pelo menos momentâneo, do que poderia ser a ausência do medo. E claro que a minha própria dádiva da Fé não foi essencialmente diferente desse despertar espiritual recebido desde então por incontáveis AAs ­ ela foi apenas mais súbita. Mas até mesmo esse novo ponto de referência ­ embora criticamente importante ­ apenas assinalou meu ingresso nesse longo caminho que nos afasta do medo em direção ao amor. As antigas e profundamente   registradas   gravações   da   ansiedade   não   foram   instantânea   e permanentemente apagadas. E claro que elas reapareceram e, ocasionalmente, de forma alarmante.Sendo receptor dessa espetacular experiência espiritual, não foi de surpreender que a primeira fase da minha vida em A.A. fosse caracterizada por muito orgulho e um impulso de poder. O anseio pela influência e a aprovação, o desejo de ser o líder, ainda estava muito em mim. Melhor dizendo, esse comportamento poderia agora ser justificado ­ tudo em nome das boas intenções!Aconteceu,   felizmente,   que   essa   fase   era   um   tanto   espalhafatoso   da   minha grandiosidade,   que  durou  alguns  anos,   fosse   seguida  por  uma  seqüência  de adversidades. Minha exigência de aprovação, baseada obviamente no medo de que   eu   pudesse   não   receber   o   suficiente,   começou   a   colidir   com   essas características idênticas dos meus companheiros de A.A. Daí deriva o fato deles salvarem a Irmandade de mim, e eu salvá­la deles, ter se tornado uma ocupação totalmente absorvente. Isso logicamente resultou em raiva, suspeita e todo tipo de episódios   assustadores.   Nessa   era   notável   e   já   hoje   bastante   divertida   dos nossos esforços, uma parte de nós começou novamente a desempenhar o papel de   Deus.   Durante   alguns   anos,   os   defensores   de   A.A.   dispararam imprudentemente. Mas foi a partir dessa temível situação que fora formulados os Doze   Passos   e   as   Doze   Tradições.   Esses   princípios   foram   desenvolvidos principalmente para a redução do ego e, conseqüentemente, para a redução dos nossos   temores.   Esses   foram   os   princípios   que,   segundo   esperávamos,   nos manteriam unidos e em crescente amor uns para com os outros e para com Deus.Começamos gradualmente a sermos capazes de aceitar tanto os pecados quanto as   virtudes   dos   outros   companheiros.   Foi   nesse   período   que   cunhamos   a poderosa  e   significativa  expressão:   "Possamos nós  amar  sempre  o  melhor   e nunca temer o pior dos outros". Depois de dez anos tentando inserir esse tipo de amor e as propriedades redutoras do ego dos Passos e Tradições de A.A. na vida da nossa  Irmandade, os apavorantes  temores quanto  à  sobrevivência de A.A. simplesmente desapareceram.

A prática  dos  Doze  Passos  e  das  Doze  Tradições  de  A.A.  em nossas  vidas pessoais suscitou também em incríveis libertações dos temores de toda espécie, apesar da ampla prevalência de formidáveis problemas pessoais. Quando o medo persistia,  nós o aceitávamos por  aquilo  que ele  era e,  sob a graça de Deus, tornamo­nos capazes de controlá­lo.  Começamos a encarar  cada adversidade como   uma  oportunidade   oferecida   por  Deus,   para  desenvolvermos  o   tipo  de coragem que nasce da humildade e não da arrogância. Assim, fomos capacitados a  aceitar  nós mesmos,  nossas circunstâncias  e  nossos companheiros.  Sob  a graça de Deus,  descobrimos até  mesmo que podíamos morrer  com decência, dignidade e Fé, sabendo que "o Pai se encarregará de tudo".Nós de A.A. encontramo­nos agora vivendo em um mundo caracterizado pelos temores   destrutivos   como   nunca   antes   na   história.   Mas,   não   obstante,   nele percebemos grandes áreas de Fé e enormes aspirações voltadas para a justiça e a   fraternidade.   E   no   entanto   nenhum   profeta   pode   pretender   afirmar   se   as conseqüências mundiais serão a destruição fulgurante ou o  início da era mais brilhante  até   hoje  conhecida  pela  humanidade,   segundo  a   intenção  de  Deus. Estou certo de que nós AAs compreendemos esse cenário. Experimentamos no microcosmo es idêntico estado de terrificante incerteza, cada um e sua própria vida. Nós os AAs podemos afirmar, sem orgulho nenhum, que não tememos os desenvolvi mentos mundiais, não importa o rumo que possam tomar. Isso se deve ao fato de termos sido capacita dos a sentir  profundamente e a afirmar: "Não devemos temer nenhum mal ­ seja feita a Vossa vontade e não a nossa".A história que se segue, freqüentemente narrada, pode não obstante suportar a repetição. No dia em que a surpreendente calamidade de Pearl Harbor se abateu sobre nossa Nação, um amigo de A.A., uma das maiores figuras espirituais que talvez   jamais   conheceremos  um   igual,   caminhava  por   uma   rua  de  St.   Louis. Tratava­se como é claro do nosso benquisto Padre Edward Dowling, da Ordem dos Jesuítas. Embora não fosse um alcoólico, ele havia sido um dos fundadores e uma   fonte  de   inspiração  primordial  para  o  esforçado  Grupo  de  A.A.   daquela cidade.  Uma vez que grande parte dos seus amigos habitualmente sóbrios  já havia recorrido às garrafas buscando apagar as implicações do desastre de Pearl Harbor,   o   Padre   Edward   estava   compreensivelmente   angustiado   com   a probabilidade do seu acalentado Grupo de A.A. dificilmente sobreviver.  Para a mente do Padre Edward, essa seria em si mesma uma calamidade de primeira ordem.Foi então que um membro de A.A., sóbrio há menos de um ano, emparelhou o passo   com   ele   e   envolveu   o   Padre   Edward   em   uma   animada   conversa   ­ principalmente acerca de A.A.Como o Padre percebeu aliviado, seu companheiro estava perfeitamente sóbrio. E não disse uma única palavra acerca do problema de Pearl Harbor.

Intrigado e maravilhado a esse respeito, o Padre perguntou: "Como é que você não tem nada a dizer acerca de Pearl Harbor? Como é que você manifesta tanta disposição?""Bem", replicou o AA, "estou realmente surpreso que você não saiba. Cada um de nós em A.A. já teve sua própria Pearl Harbor particular. Assim, pergunto a você por que deveríamos nós, alcoólicos, nos exaltar em relação a isso?"

PRIMEIRA JORNADADE ESTUDOS DOS ‘DOZE PASSOS.’ GRUPO REUNIDOS –JF 

PRIMEIRO PASSO:­“ Admitimos que éramos Impotentes perante o álcool­ que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas”. 

Autor : LINDOLPHO­ Um amigo de jornada ,!

“ Rendo hoje graças ao meu Deus por mais um dia de Sobriedade . è bom ser membro de A.A. ..è melhor ainda ser e ter companheiros (as) em A.A. . È Bom poder mostrar caminhos ;é melhor ainda percorrer caminhos seguros e pontados a mim pelo meu companheiro . 

E é sentado frente ao papel e caneta na mão , que tento lembrar (como possível esquecer ), os inúmeros descaminhos percorridos antes eu pudesse sem medo , olhar para frente , ou melhor ,para o dia que tenho á minha frente . 

E ontem eu vivia o infortúnio do alcoolismo ativo , sem eira nem beira ,sofrendo e fazendo sofrer , morrendo e fazendo morrer . 

Admitir que era Impotente perante o álcool era muito para mim , mas os fatos ali estavam , o tempo todo , estarrecendo os meus olhos . E aí se pensa :ou se vive ou se morre , e eu sabia que continuar bebendo seria morrer . 

Apesar de toda aquela corrente me arrastando , eu precisava e queria ,desesperadamente , chegar á superfície , poder olhar o mundo , a vida , sem aquela eterna névoa a me separar de tudo . Era como a vidaacontecesse lá fora , lá fora de mim . 

Até que o resto da força se esvai , toda Auto­confiança desaparece e todo desgraçado “ ORGULHO”, e aí se pensa : ou se Vive ou se morre ... 

.E para meu maior espanto , como Fênix , o pássaro ressurgido das cinzas , eu resolvi a viver . 

E hoje , rendo graças ao meu Poder Superior por aquela decisão de viver , apesar de todo pavor que a idéia me trazia. 

Viver era me mostrar ao mundo , era me descortinar para a vida e para as verdadeiras sensações . 

E é claro que , como toda criança ensaiando seus primeiros passos , me senti inseguro , e com medo de cair e, que bom , precisando e ansiando por toda ajuda que pudessem me dispensar . 

Pela primeira vez , que eu me lembre , me sentí confortável com a dependência da ajuda do ‘OUTRO’. Afinal , meu semelhante me pareceu tão distante , tão diferente ! 

Mas meu semelhante alcoólatra era também meu companheiro em A.A. . Ombro forte e amigo que me era emprestado a cada dia da minha jornada , até que me sentisse forte o bastante para tentar caminhar sozinho . 

Não tão sozinho que o comprimento do meu braço ou da minha vontade não pudesse alcançá­lo. 

Autor : Lindolpho­ Um amigo de jornada ,! 

Pense !Medite e ANALISE .

Recuperação – Os Doze Passos – Primeiro Legado – O Indivíduo 

SEGUNDO PASSO 

“ Viemos a acreditar que um PODER SUPERIOR a nós mesmos poderia devolver­nos á Sanidade”

AUTOR :=LINDOLPHO

“Quando comecei a falar em Deus e sobretudo a acreditar em sua existência não consigo me lembrar , mas reconheço que sem sua força e Sua Luz nada teria conseguido . Como todo alcoólatra ou grande parte dos alcoólatras , já havia experimentado em minha vida a religiosidade e momentos de crença em DEUS . Mas , igualmente , igual como todo alcoólatra ou quase todo alcoólatra , eu não possuía mais quaisquer resquício de Fé que pudesse alimentar o meu soerguimento como homem .Meu desdém por Deus era enorme . Talvez este tal Deus fosse muito bonzinho para os outros , não para mim . Afinal onde estava ? A Quem estaria atendendo durante tanto tempo que havia se esquecido de mim ? Onde andaria aquele Deus de justiça , o Deus da minha catequese , sempre tão misericordioso ? Eu morria aos poucos , envergonhado de mim e ELE não dava nem sinal de se preocupar comigo ! Quantas vezes , me lembrando do Filho de Deus , do Cristo amigo da minha adolescência , clamei por sua Misericórdia antes de sorver o Primeiro Gole do Dia.? Em A.A. não precisei que me apontassem um DEUS e nem mesmo pretenderam fazé­lo.Precisei que me apontasse meu irmão alcoólico , “ontem tão sofrido e hoje tão cheio de esperança e confiança” neste mesmo Deus que por tanto tempo recusei , negligenciei e neguei . E então aprendí , compartilhando minha nova Vida com meus  comps.(as) uma das mais lindas verdades que podemos encontrar em nossa Literatura: “ Nenhum homem poderia acreditar em DEUS e desafiá­lo ao mesmo tempo .A Crença significava a Confiança e não o Desafio.” E confiei em DEUS .Confiei e confio que , permanecendo com ELE , pouco a pouco vai restabelecendo a Minha Sanidade . É como se fosse a restauração de uma velha imagem ou de um Livro carcomido pela traça. ESTE trabalho , puramente artesanal , de volta á Sanidade, poderá tomar o restante de minha Vida , mas pouco me Importa . Esta Restauração constitui hoje o grande trabalho e a grande alegria também para o resto de minha Vida . Continuo acreditando em Meu Grupo de AA. e na força que vem de meu companheiro , mas sobretudo na força De Um PODER SUPERIOR agindo sobre cada Um de nós , desde que queiramos e estejamos prontos para isso.” 

TEMA : TERCEIRO PASSO : “ DECIDIMOS ENTREGAR NOSSA VONTADE E NOSSA VIDA AOS CUIDADOS DE DEUS , NA FORMA EM QUE O CONCEBÌAMOS ” 

AUTOR:­LINDOLPHO

“Como alcançar, no Alcoolismo ativo, toda a maravilha de pretender viver segundo a vontade de DEUS ? Como poderia me refestelar , sem medo algum , e estar à mercê de Seus Cuidados ? Na verdade esta ainda é minha busca de Hoje : a confiança plena em Deus e, sobretudo a crença de que se eu me dispuser á entrega de minha VIDA , Nada será mais Tranqüilo e Sereno . Acabar­se­ão as inquietudes , a aflição e o medo do porvir e as horas de hoje já não pesarão , pois estarei na dependência da Vontade de DEUS . SEI que nada conseguirei se não tentar crescer neste ponto . Tenho aprendido que a dependência de Deus , antes de me fazer medroso ou diminuto aos olhos do mundo , só me trará a verdadeira “Liberdade e Independência”. Sinto , hoje , que em meu tímido começo de entrega , uma nesga de Paz já consigo entrever e, se não consigo rasgar este Véu que vai provocar o derradeiro encontro com a serenidade , é porque mal começo a engatinhar nesta busca . È preciso que eu não desanime nunca e que o esforço pessoal para me harmonizar com a vontade de meu PAI seja constantemente Renovado . AS vezes chego a pensar e até mesmo admitir que Deus deve estar de “Saco Cheio” de mim , pois reconhecendo a SUA Força , a Sua Misericórdia e o Seu Amor , procuro fazer d’ ELE o um amigo mais próximo e mais Intimo , meu guia e conselheiro sempre que caminhos se cruzam perante mim . E são tantas as indecisões ! E sempre que tento resistir á vontade de arrojar­me a Seus pés , sempre que meus objetivos de homem mesquinho ameaçam tirar­me o Bom –Senso de entregar minha Vida e Minha Vontade aos seus cuidados , elevo aos Céus uma prece pelo meu crescimento e pela restauração de minha Fé : * “ Deus , ofereço­me a Ti para que trabalhes em mim e faças comigo o que desejares . Liberta­me da escravidão do Ego , para que eu possa realizar melhor a Tua Vontade . Remove as minhas dificuldades, para que a vitória sobre elas dê testemunho, junto daqueles a quem ajudarei , do Teu Poder , de Teu Amor e Teu Modo de Vida. Possa eu sempre Realizar a Tua Vontade” ! OBS: * Estas últimas palavras inseridas pelo Companheiro São citadas POR BILL , NO Livro AZUL Págs. 83 e 84

"ÁLCOOL É A DROGA QUE MAIS MATA NO BRASIL"

A cada ano, cerca de 8 mil pessoas morrem em decorrência do uso de drogas lícitas e ilícitas no Brasil. Um estudo elaborado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) aponta que, entre 2006 e 2010, foram contabilizados 40,6 mil óbitos causados por substâncias psicoativas. O álcool aparece na primeira colocação entre as causas, sendo responsável por 85% dessas mortes.

Para elaborar o estudo, a CNM coletou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, que reúne e consolida os óbitos no território brasileiro conforme os locais da ocorrência e de residência do indivíduo. De acordo com o levantamento, as 40.692 pessoas morreram no Brasil vítimas do uso de substâncias como álcool, fumo e cocaína. E os dados podem estar subestimados, conforme a própria confederação, devido à complexidade de registros no SIM e pelo fato de não serem contabilizadas mortes causadas indiretamente pelo uso de drogas, como acidentes de trânsito e doenças crônicas. No estudo foram contabilizadas mortes em decorrência de envenenamento (intoxicação), transtornos mentais e comportamentais.

Drogas ilícitas são minoria dos casos

Quando se fala em drogas, substâncias ilícitas, como cocaína e crack, costumam ser as mais lembradas. Segundo o levantamento da CNM, contudo, elas são responsáveis por uma parcela mínima das mortes causadas diretamente pelo seu consumo. Juntos, o álcool e o fumo, drogas vendidas e consumidas legalmente, representam 96% dos mais de 40 mil óbitos contabilizados nos últimos anos.

Mortes indiretas elevariam os números

Se o número de 40 mil mortes em cinco anos já é considerado preocupante, é preciso lembrar que ele representa apenas uma parcela dos óbitos em consequências do uso de drogas no Brasil. O estudo levou em consideração somente as mortes em que o consumo de substâncias psicoativas foi apontado como causa direta. Ou seja, existe um contingente ainda maior de óbitos não contabilizados que podem entrar nessa relação.

Com base no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, foram selecionadas as ocorrências a partir do que indicavam os atestados de óbito. Dessa forma, não foram contabilizadas as mortes decorrentes de doenças crônicas ou acidentes de trânsito. "Dos casos de câncer de pulmão, 95% são 

decorrentes do fumo. Grande parte dos acidentes com morte é causada por motoristas embriagados. O número de mortes relacionadas a drogas é extremamente superior aos dados formais", observa o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.

Para o médico Élio Mauer, o álcool se constitui na mais perigosa das drogas porque, além de ser legalizada, pode dar origem a uma série de outros problemas. "Além das mortes por acidentes de trânsito, temos as doenças decorrentes do uso contínuo, como as hepáticas, que podem matar", diz. A depressão muitas vezes também está associada ao consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas.

Grande parte das mortes contabilizadas no estudo, 34,5 mil, ocorreram em decorrência do uso de álcool. Somente no Paraná, foram 2.338 vítimas. É o estado com o quarto maior índice em proporção à população, ficando atrás somente de Minas Gerais, Ceará e Sergipe.

* Fonte: Gazeta do Povo >>> www.alcoolismo.com.br

O MOVIMENTO WASHINGTONIANO

Na tarde de 02 de abril de 1840, quase cem anos antes do nascimento de A.A., seis companheiros de bebedeiras se reuniram em um botequim da cidade de Baltimore, Estado da Virgínia, nos Estados Unidos da América.

Quanto mais bebiam, mais falavam sobre o tema da temperança, que era um dos assuntos mais populares da época. Essa reunião, assim como os encontros posteriores, deram origem à formação, para a curta mas espetacular existência do Movimento dos Washingtonianos, que chegou a contar com mais de 400.000 membros "alcoólicos recuperados", para poucos anos depois, da noite para o dia, desaparecer totalmente.

A história do Movimento dos Washingtonianos demonstra nitidamente, a importância das Doze Tradições de A.A. como guia de comportamento para os nossos grupos e organismos de Serviço, montadas que foram para proteger­nos de um destino semelhante. O hábito de desprezar nossas Tradições, ou de ignorá­las, nos legou, pelo menos, alguma marca negativa em nosso inventário.

Até a já mencionada reunião de 1840, prevalecia a opinião de que nada era possível fazer pelos doentes do alcoolismo e, mesmo as palavras "alcoólico" ou 

"alcoolismo", não era de uso comum. Os poucos casos conhecidos de recuperação de alcoólicos, não influíam no pessimismo geral sobre as possibilidades de recuperação. E, como se acreditava que o álcool era a causa do alcoolismo, muitos movimentos de temperança, então existentes, orientavam sua atuação no sentido de evitar que os não­alcoólicos no alcoolismo ingressassem. Seu lema era:

"Mantenhamos sóbrios os sóbrios; os bêbados que morram e nos deixem em paz".

Em 05 de abril de 1840 os seis companheiros já referidos, novamente se reuniram no mesmo botequim, ao redor de uma garrafa de bebida alcoólica e, alegremente, brindaram as virtudes da temperança, enquanto condenavam a maldição do alcoolismo.

Embora existisse um bom número de Grupos de Temperança, nenhum deles parecia interessar a esses seis companheiros. Como bons bebedores que eram, decidiram formar seu próprio grupo; elegeram­se diretores e firmaram uma promessa de total abstinência, com o seguinte texto:

"Nós, cujas assinaturas aqui constam, com o propósito de constituir, para o nosso próprio benefício e para proteger­nos de costumes perniciosos que são prejudiciais à nossa saúde, à nossa reputação, às nossas famílias, nos comprometeremos, como cavalheiros, a não ingerir qualquer bebida alcoólica, nem licores, nem vinhos de cidra".

Escolheram o nome Sociedade de Temperança Washington, em homenagem a George Washington, estabelecendo uma cota de inscrição em dinheiro, junto com uma contribuição mensal. Com calorosos abraços se despediram, ficando combinado que, cada um deles, traria um novo sócio ao botequim para a próxima reunião. E se mantiveram sóbrios.

Como resultado do crescimento do número de associados e, devido às solicitações desesperadas do dono do botequim, o grupo decidiu alugar uma sala e, ao mesmo tempo, tornar habitual as reuniões semanais. 

Nessas reuniões desenvolveram um método único de procedimento, onde cada orador contava sua própria história, calcada no seguinte: 

"Como eu era, o que me aconteceu e como sou agora". 

Esta ideia obteve sensacional aceitação, contribuindo para enorme e rápido crescimento do Movimento. A abstinência total parecia um milagre.

Em novembro de 1840, realizaram sua primeira reunião pública. Os jornais deram ampla cobertura ao acontecimento nas reportagens incluindo o nome completo dos fundadores. A quantidade de público fora tão grande, que só havia poucos lugares de pé. Tanto aos alcoólicos, como os não­alcoólicos; a todos os que se comprometiam à total abstinência; deu­se boas­vindas ao Grupo.

Uns cinco meses mais tarde, o Movimento Washingtoniano declarava constar de seus quadros mais de 1000 alcoólicos recuperados e uns 5000 membros indecisos quanto à conclusão se eram, ou não, alcoólicos, mas que já haviam se comprometidos a manter uma abstinência absoluta, bem como outros 1000 que defendiam uma temperança total, em todos os sentidos e que viam com muito entusiasmo o crescimento da cruzada dos Washingtonianos.

Como bons e entusiasmados propagandistas que eram, os membros organizaram e participaram de um espetacular desfile, com banda de música, balizas, estandartes, que foi presenciado por mais de 40.000 pessoas em Baltimore. Após o desfile, houve uma grande reunião ao ar livre para divulgação de sua mensagem do "12º Passo". Diziam:

"Alcoólico, venha até nós. Você pode se recuperar. Ainda esta manhã estivemos com um homem que se recuperou já faz 4 semanas e estava feliz com a sua abstinência. Não desprezamos os alcoólicos, amamo­nos, guiamos, assim como uma mãe guia seus filhos nos primeiros passos".

As lágrimas caíam copiosamente sobre a mesa da secretária, na medida em que centenas de pessoas subiam ao palanque para assinar seus compromissos de total abstinência. A atmosfera emocional estava saturada de uma contagiante esperança. Os grupos religiosos aceitaram seu programa.

Samuel F. Holbrook, o primeiro Presidente da Sociedade, explodia em altas palavras, com relação ao papel desempenhado por Deus na recuperação dos alcoólicos. Dizia: 

"Ao cambaleante alcoólico que encontramos na sarjeta, ou retiramos de seu meio, damos apoio, falamos como amigos, levamos às nossas reuniões. Em nosso grupo ele se encontra rodeado por novos amigos, não do que mais temia, a 

polícia. Todos lhe estendem as mãos; começa a recuperar­se e, quando já se sente sóbrio, assina o compromisso de manter­se abstêmio e volta à rua como um homem recuperado. E seu caso não termina aí, ele cumpre a sua promessa e, dentre seus companheiros de bebedeiras, logo trás outros que, de sua parte, assinarão o mesmo compromisso, trarão outros. Esses são fatos positivos que se pode constatar."

Então pergunto: ­ Pode algum movimento da humanidade demonstrar isso por si só? A minha resposta é um redondo "NÃO". Nós temos o testemunho invariável de um vasto número de homens recuperados que dizem publicamente que haviam deixado de beber diversas vezes para, logo a seguir, recair nas bebedeiras e, entendem que, seu atual comportamento, deriva da total confiança da força desta nova decisão, sem qualquer preocupação de olhar um pouco mais alto. Depois, sentem que, necessitam da ajuda de Deus que, uma vez conseguida torna a recuperação completa. Louvado seja Deus".

Não foi possível manter os milagres dos Washingtonianos dentro de seus limites geográficos. Seus membros estavam convencidos de que deles dependiam o socorro para os mais aflitivos casos; os alcoólicos recuperados e em atividade dentro do Movimento comprovaram, com seus exemplos, que podiam ajudar aos alcoólicos e estavam possuídos de uma extraordinária disposição de levar sua mensagem. Depois, essa campanha se ampliou no sentido de evitar o mesmo sofrimento, pela persuasão, aos ainda não atingidos pelo alcoolismo, objetivando que prosseguissem com a sobriedade através de uma total abstinência. Os líderes mais influentes do Movimento eram de opinião de que necessitavam de bons "vendedores" para espalhar a mensagem de prevenção e, os membros dos Grupos Washingtonianos, proporcionaram uma vasta relação de pessoas disponíveis.

A cidade de Nova Iorque lhes serviu de cenário. Em março de 1842, Washingtonianos e espectadores se reuniram na igreja da Rua Gren; no transcurso do primeiro discurso, um jovem que estava no auditório se levantou cambaleando e disse: ­ "Não haverá alguma esperança para mim? Deus do céu, não haverá esperança? Vocês podem me ajudar?". O ajudaram a chegar até o palco e, ali mesmo manifestou sua vontade de assumir o compromisso, partir de então, de absoluta abstinência. 

Outros o seguiram; uns jovens como ele; outros, de cabeças grisalhas. Os Washingtonianos receberam a todos eles e, uma organização paralela feminina, conhecida como Sociedade Martha Washington, alimentava e vestia os mais 

necessitados, enquanto buscava apoio e adeptos dentro do próprio sexo.

Em menos de quatro anos da relatada reunião no botequim, o número de Washingtonianos chegava ao máximo. Nessa época, se estimava que o Movimento incluía, no mínimo 100.000 "alcoólicos recuperados”; 300.000 "bebedores normais" que, também, se mantinham em total abstinência, bem como incontável número de admiradores entre os membros dos Movimentos de Temperança.

Mas logo chegaria ao esquecimento total. Pelo ano de 1848, tudo o que restava da espetacular e poderosa organização como método original de tratamento do alcoolismo, era o Asilo dos Decaídos, em Boston. Essa organização, assim mesmo, sofreu numerosas modificações, no nome e na orientação e, atualmente funciona com o nome de Hospital Washingtoniano, se dedicando ao tratamento do alcoolismo mediante sistemas médicos modernos e técnicas sociais. Nos demais aspectos o Movimento se autodestruiu por completo.Com ele, desapareceu a esperança de milhares de alcoólicos de sua época. Tendo a breve história anterior por exemplo, é possível efetuar uma limitada comparação entre o Movimento Washingtoniano e Alcoólicos Anônimos e, meditar sobre as possibilidades de A.A. ter um destino semelhante.

As semelhanças são as seguintes:

1) Alcoólicos se ajudando mutuamente;

2) Reuniões semanais;

3) Experiência compartilhada;

4) Permanente disponibilidade para ajudar os grupos e seus membros;

5) Confiança em um Poder Superior e,

6) Total abstinência ao álcool.

Embora seja óbvio que o programa dos Washingtonianos fosse incompleto, contendo limitadas possibilidades para a modificação da personalidade se comparado aos Doze Passos de Alcoólicos Anônimos, nasceu da experiência dos que conseguiram a sobriedade; mesmo que por pouco tempo; de milhares de alcoólicos. Porém, falhou em não oferecer um método de conduta, para membros 

e grupos, que fosse comparável às Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Como não existiam garantia de salvaguarda para o Movimento em seu conjunto, este morreu. A maioria dos problemas dos Washingtonianos se situaram em áreas que estão amplamente protegidas em nossas Tradições:

1) O preâmbulo e nossa 5ª Tradição nos aconselha a proteger nosso único objetivo; a 1ª Tradição nos aconselha cautela, para conservar nossa Unidade. Sem essas orientações, o Movimento Washingtoniano se converteu em um monstro de 3 cabeças: a primeira, o programa para atingir a recuperação dos alcoólicos; a Segunda, o convite ao público em geral para conseguir a temperança através da persuasão moral e, a terceira, a exigência de total temperança nacional pelos meios legais. Homens de enorme influência controlavam a ação de cada uma das cabeças e, não levou muito tempo, as cabeças lutavam entre si.

2) As táticas carnavalescas de promoção e a absoluta falta de qualquer princípio de anonimato criaram uma atmosfera de crescimento espetacular; porém, conduziram ao mesmo tempo, às lutas entre as personalidades que buscavam prestígio e poder. Cem anos depois Alcoólicos Anônimos adotou as 11ª e 12ª Tradições que indicam que devemos basear nossas relações com o público na atração, no lugar da promoção; a manter o anonimato pessoal ao nível da imprensa; a considerar o anonimato como "fundamento espiritual...” que nos recorda que devemos sempre que os princípios estão acima das personalidades.

3) Não há nada que possa dividir um grupo com maior rapidez do que a controvérsia política ou religiosa. A 10ª Tradição diz que: "Alcoólicos Anônimos não tem qualquer opinião sobre assuntos alheios às suas atividades" e que o membro de Alcoólicos Anônimos nunca deve envolver­se em polêmicas públicas. Sem possuir esta Tradição, os Washingtonianos ingressaram nesse campo. Chegou ao conhecimento de alguns líderes religiosos que, alguns alcoólicos recuperados, proclamavam publicamente que, "eles, entre outras coisas, é que estavam praticando verdadeiramente o Cristianismo, não alguns pastores que conheciam e que apenas falavam em Cristo". Em represália o Reverendo Hiram Mattison, ministro da Igreja Metodista Episcopal de Watertown, N.Y., tornou pública a seguinte comunicação: ­ "Nenhum cristão tem liberdade para selecionar ou adotar algum sistema, organização, agência ou métodos de reforma moral da humanidade, com exceção daqueles prescritos e reconhecidos por Jesus Cristo". Acrescentava que sua igreja havia sido escolhida junto com o seu Evangelho, como o sistema da verdade e único para reformar a humanidade. Isto era a guerra. Outras igrejas reagiram da mesma forma, até fecharem suas portas aos 

Grupos Washingtonianos.

4) E como se esse fato grave fosse pouco, alguns membros do Movimento se tornaram oradores profissionais, por não contar com a orientação de uma 8ª Tradição. Dessa forma, sua mensagem de "alcoólico para alcoólico", perdeu toda força de atração.

O ponto final da destruição aconteceu quando, alguns influentes líderes de movimentos não­alcoólicos, decidiram que a necessidade de os ex­bebedores recuperarem outros alcoólicos já havia sido ultrapassada e, agora, se deveria concentrar todo esforço na criação de novas leis destinadas a promover a temperança. Enquanto efetuava as investigações para escrever este artigo, várias vezes me ocorreu o seguinte pensamento: ­ "Depois que os Washingtonianos se autodestruíram, o que teria ocorrido com os seus milhares de membros?" E, esse pensamento se converteu numa indagação pessoal: 

­ "O que aconteceria comigo?"

Durante os primeiros tempos do programa, especialmente antes de elaboradas as Doze Tradições, Alcoólicos Anônimos passou por muitos dos problemas que destruíram os Washingtonianos. O fato de havermos sobrevivido aos mesmos perigos, é um dos milagres de Alcoólicos Anônimos.

Porém o dia só tem 24 horas!

Por D. P. de Ogden, Utah.

Traduzido da Revista Plenitud, México

Publicação original de Grapevine, USA/Canadá

Publicado no Bob nº 33, jan/fev 1985

Prudência

"É cautela, é precaução, é moderação, é serenidade de juízo".

Só me dei conta de que a filosofia de Alcoólicos Anônimos tem como alicerce a virtude da Prudência quando ouvia meu familiar dizer: ­ "Vou evitar o primeiro 

gole, só por hoje!".

Apreensiva eu perguntava: ­ E amanhã? Ora, dizia ela: ­ Vou com calma! Amanhã a Deus pertence!

Aí fui me inteirando dos fatos: *evite o primeiro gole; * vá com calma; * um dia de cada vez; *a repetição diária de: sou fulano, um alcoólatra em recuperação; * a aceitação; * a tolerância, e acima de tudo: *fugir das ocasiões propícias ao primeiro gole.

Então isso tudo não é Prudência?

Concluí assim que a Prudência é a base do programa de recuperação dos AAs.

Sim, porque a Prudência é a virtude que nos faz conhecer e praticar, oportunamente, o que é bom.

A Prudência sabe escolher meios e os Doze Passos de A.A. oferecem àqueles que estão em recuperação os meios e a oportunidade de uma qualidade de vida, porque não basta tapar a garrafa.

Implicitamente a Prudência se manifesta em todos os passos com seus três elementos:

A Reflexão: todo homem prudente pensa antes de agir.

Um AA, além disso, recorre à memória, que é a faculdade de guardar e reproduzir fatos passados.

Meu familiar sempre se recorda do seu sofrimento anterior à abstinência, do seu último porre, do "medo" da recaída e por quê?

Por causa do sofrimento dele e da família. A reflexão calcula os prós e os contras; considera ensinamentos da experiência própria e alheia através dos depoimentos.

A Determinação: todo homem prudente depois de pensar, toma uma decisão.

Um AA prudente procura ser justo consigo mesmo e com os outros. Dá a cada um o que de direito lhe compete.

Para que se concretize a determinação, o homem tem que ser forte e os AAs em recuperação têm por hábito praticar a coragem: na aceitação, na síndrome da abstinência, na admissão da vulnerabilidade frente ao álcool.

A Realização: todo homem examina bem um assunto antes de decidir­se sobre ele e este, só se torna um ato de prudência, quando realizado.

Os AAs, para não voltarem a beber, têm boa disposição e ânimo para aceitar as sugestões do Programa de A.A.

Como eles dizem: ­ Força de vontade não basta; para que a realização se concretize é necessário ter "boa vontade", pois força de vontade é uma atitude isolada e boa vontade resulta do "compartilhar experiências, forças e esperanças".

Lá no grupo que eu freqüento todos nós aguardamos com certa expectativa e prazer "nosso velho mentor" sentar­se para depor.

Ele fala das suas experiências nestes 32 anos de A.A.; todos ouvem em silêncio como se o ouvissem pela primeira vez.

Como antigo, sua experiência acumulada representa para os AAs e a mim, o ideal a ser atingido. Com suas palavras, prudentemente, ele alerta sobre os perigos das 22 horas lá fora e como vencer a obsessão pela bebida.

As histórias "parecem" sempre as mesmas, mas para nós são preciosidades; ele dá um toque especial e sabem por que?

"A repetição deixa marcas até nas pedras".

Atenção! Prudência!

Ele é sábio e sendo sábio fez da Prudência a virtude primeira de sua caminhada em A.A.

Hoje ele é o representante supremo da memória coletiva do grupo. 

(H.F./Amiga de A.A./SP)

"CONIVÊNCIA DOS PAIS AJUDA A AGRAVAR CONSUMO DE ÁLCOOL POR ADOLESCENTES".

O estado de São Paulo endureceu o combate ao álcool na infância e na juventude. Em novembro de 2011, entrou em vigor uma lei que prevê punições administrativas, além das sanções penais aos comerciantes que venderem oferecerem ou permitirem o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade no interior de seus estabelecimentos. A lei será aplicada mesmo se o adolescente estiver na companhia de seus pais ou de um responsável maior de idade.

Para burlar a lei, adolescentes passaram a cometer uma infração ainda mais grave: falsificar a carteira de identidade. Não se trata mais, como no passado, de colocar com caneta preta um outro número no documento. A falsificação é para valer. É feita no programa Paint, disponível para qualquer computador. Há até mesmo um tutorial no YouTube, com mais de 50 mil acessos, em que parte da falsificação é mostrada.

O que mais surpreende é que muitos adolescentes falsificam a carteira de identidade com a anuência dos pais. Profissional bem­sucedida, A. ajudou seu filho M., de 17 anos, a falsificar seu RG. Ela aceitou mostrar ao jornal O Globo como se faz. Em cinco minutos, foi falsificada a data de nascimento de uma carteira de identidade. O documento, a seguir, foi destruído, já que falsificar documento é crime, com pena prevista de dois a seis anos de prisão.

­ Faltavam apenas dois meses para ele fazer 18 anos. Ele queria muito ir naquela balada – justifica A., acrescentando que o filho já fez 18 anos e rasgou o documento falso.

M. afirma que aprendeu com colegas como falsificar:

­ Isso não é novidade. Muita gente faz.

Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com 5.226 alunos de 37 escolas privadas de São Paulo, divulgada em 2010, mostrou que 40% dos estudantes haviam bebido no mês anterior à pesquisa. Os estudantes disseram ter começado a consumir bebida alcoólica com 12,5 anos, e 46% afirmaram que beberam pela primeira vez em casa. A bebida foi oferecida por familiares (46%) ou amigos (28%). Apenas 21% disseram ter tomado a iniciativa de buscar a bebida.

Fonte: O Globo >>> www.alcoolismo.com.br

CONSUMO DE ÁLCOOL DIFERE ENTRE USUÁRIOS DE DROGAS

Um estudo britânico publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences e divulgado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), investigou as diferenças nos padrões de uso e problemas relacionados entre indivíduos que consomem álcool juntamente com cocaína em pó versus os que fazem essa combinação com o crack.

Para isto, foram recrutados usuários que relataram uso simultâneo de álcool e cocaína em clínicas e comunidades de Londres, na Inglaterra, para participar de entrevistas estruturadas. No total, 102 indivíduos de ambos os sexos e com média de idade de 30 anos foram selecionados, sendo que 69 eram usuários de cocaína e 33 de crack.

Os resultados apontam que tanto a frequência como a quantidade máxima de álcool ingerida por ocasião de beber pesado*, no mês anterior à pesquisa, foram significativamente maiores entre usuários de cocaína em pó em comparação aos de crack: 20 dias de uso e 23 doses de bebida alcoólica; 15 dias de uso e 15 doses, respectivamente.

Entre os usuários de cocaína em pó, 99% relataram ao menos um episódio de beber pesado, enquanto a proporção entre os usuários de crack foi de 48%. Além disso, 46% dos usuários de cocaína em pó afirmaram ter bebido pesado pelo menos uma vez por semana, durante o mês anterior à pesquisa, em comparação com 13% dos usuários de crack. Em contrapartida, os usuários de crack relataram problemas mais sérios associados ao uso dessa substância e outras drogas ilícitas, problemas de saúde física e psicológica e criminalidade, além de uso mais frequente de cocaína e maiores níveis de dependência dessa substância.

Nota­se, portanto, que o beber pesado frequente representa um risco grave para a saúde de muitos usuários de cocaína. As diferenças nos padrões de consumo de álcool confirmam a importância de distinguir os usuários de cocaína em pó dos usuários de crack.

Os autores do estudo ainda alertam que, como é frequente a direção de automóveis sob a influência de álcool ou drogas e os riscos de acidentes de tráfego aumentam bastante, os profissionais de saúde que trabalham no 

atendimento primário ou na emergência precisam de treinamento para detectar, avaliar e tratar adequadamente pacientes que fazem consumo simultâneo de álcool e cocaína.

*Beber pesado geralmente é definido em termos do consumo excessivo de álcool em um curto período de tempo. O National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism define beber pesado episódico como o consumo de 5 ou mais doses alcoólicas por homens ou de 4 ou mais doses por mulheres, dentro de um período de 2 horas, sendo que uma dose­padrão de bebida alcoólica (285 ml de cerveja, 120 ml de vinho ou 30 ml de destilado) contém, aproximadamente, 8 a 13 g de álcool puro.

Título da pesquisa: Concurrent use of alcohol and cocaine: differences in patterns of use and problems among users of crack cocaine and cocaine powder.

Autores: Gossop M, Manning V, Ridge G.

Fonte: Alcohol & Alcoholism Vol. 41, No. 2, pp. 121–125, 2006.* www.alcoolismo.com.br

BEBIDAS ALCOÓLICAS SÃO AS DROGAS MAIS CONSUMIDAS POR ADOLESCENTESSegundo o artigo "Fatores de risco para dependência de álcool em adolescentes", há evidências de que o álcool é a droga mais consumida entre os adolescentes. O objetivo do estudo foi identificar esses fatores que contribuem para a dependência do álcool na adolescência.O artigo foi publicado este ano na Acta Paulista de Enfermagem e tem como autores Leandro Rozin, do programa de pós­graduação em Biotecnologia aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente, e Ivete Palmira Zadonel, professora do mesmo programa de pós­graduação, Ambos fazem parte da Faculdade Pequeno Príncipe ­ FPP ­ Curitiba (PR).Durante a adolescência, o indivíduo deixa de viver apenas com a família e passa a se inserir em grupos sociais como forma de identificação pessoal, informam os autores no artigo. Os pesquisadores descrevem que para muitos adolescentes a inserção no meio social apresenta situações diversas que não tinham sido presenciadas antes, como o contato com o álcool. "Esta é uma droga socialmente aceita por todos os níveis sociais, de fácil acesso e possibilita, conforme suas reações iniciais bem­estar instantâneo como forma de resolução de incertezas e conflitos, mas também para comemorar momentos felizes e agradáveis", afirmam.

Os autores dizem no artigo que quanto mais precoce for o consumo da droga, maior será a probabilidade de o adolescente torna­se dependente. Além disso, o uso constante da substância cria no organismo uma tolerância à droga e, consequentemente, é preciso aumentar as doses para proporcionar satisfação, explicam. Desta maneira, o aumento do consumo da bebida alcoólica desenvolve a dependência da mesma, alertam."Os fatores de risco para dependência estão relacionados ao início precoce do uso, influência da mídia, relacionamento conturbado com os pais, uso por membro da família, abuso sexual, violência doméstica, baixa autoestima, curiosidade, pressão de colegas, entre outros", informam. Ainda há fatores como exposição genética, neurobiológica, comportamentais ­ personalidade ­, os quais predispõem o início e a continuidade do uso da substância, acrescentam. "Com o passar dos anos, a dependência de álcool instala­se no indivíduo e é identificada quando há perda do controle de decisão sobre o beber e sofrimento com os sintomas de abstinência da droga", lembram os autores.De acordo com os pesquisadores, no Brasil, as ações públicas de saúde possuem foco descentralizado "como forma de estar mais perto da população, e intervirem nas problemáticas identificadas". "Dessa forma, cabe aos serviços e profissionais de saúde, com maior proximidade da população, intervir com educação em saúde e acompanhamento dos adolescentes expostos aos riscos, bem como de suas famílias e atuar no controle do uso de álcool", explicam no artigo. Neste caso, é necessário realizar um levantamento individualizado através do diagnóstico comunitário na área de abrangência da atuação da equipe de saúde para identificar os sinais precoces.Para os autores, os serviços de saúde devem incorporar estratégicas preventivas de identificação de riscos para a dependência, controle e acompanhamento específicos para os adolescentes dependentes. "As ações preventivas tornam­se possíveis, quando há efetivamente profissionais capacitados que assistam individualmente e/ou em grupos essa faixa etária, no sentido de intervir nos fatores de risco relacionados aos aspectos familiares, psicológicos e sociais", finalizam no artigo.Fonte: Jornal O Serrano >>> http://www.alcoolismo.com.br/

" O A. A. NÃO MUDA, MAS MUDA "

Dr. Laís Marques da Silva, ex­custódio e presidente da JUNAAB.

Tema apresentado nas comemorações dos 50 Anos de A.A. em Minas GeraisJuiz de Fora, MG em 10, 11 e 12 de junho de 2011.

Texto básico da palestra

As pessoas têm necessidade de dispor de referenciais que sejam estáveis, imutáveis e disponíveis para viver e sobreviver, especialmente aqueles que foram batidos pelo demônio do alcoolismo.

Dá bem uma ideia do problema, a imagem do náufrago comparada com os fatos da vida do dia a dia de um alcoólico. De um lado as ondas e, do outro, a necessidade de continuar respirando, mas estando sempre presente a sensação de que se vai morrer a qualquer instante. Surge então um tronco de árvore flutuando e o náufrago agarra­o fortemente e a água não mais cobre a cabeça, não obstante o fato de que as ondas não cessem. O tronco torna­se indispensável à sobrevivência porque, agarrado a ele, o náufrago não afunda mais e a água não cobre a sua cabeça.

Há uns anos, procurava­se, no antigo CLAAB, a cada nova edição de uma publicação de A. A., fazer uma revisão de todo o material que fosse para uma nova reimpressão. Foi aí que se observou que no livro Os Doze Passos, além de várias correções, era necessário traduzir e inserir toda uma folha que estava faltando. Quando a nova edição foi distribuída, o ESG recebeu um grande número de reclamações vindas de todo o país. É que os companheiros tinham de cor até mesmo a última palavra de cada página, tal a necessidade de se "agarrar ao tronco", e observaram que elas não eram mais as mesmas. Reclamaram que estavam "mudando o A. A." e protestaram veementemente. Essa reação é compreensível pois que estavam abraçados firmemente no conteúdo de cada página de uma publicação que era indispensável para se manterem sóbrios e poderem continuar sobrevivendo ao alcoolismo. Precisavam continuar não sendo ameaçados de afundar a qualquer momento. Já viviam uma vida em que as ondas existiam no mar da vida mas a cabeça era mantida fora da água e a sobrevivência estava assegurada.

Participei da 12ª Reunião Mundial, em Nova Yorque, e troquei muitas ideias e experiências nos corredores. Usei o meu espanhol e o meu francês e, sobretudo, a prática que tenho do inglês por ter feito nos EEUU um curso de pós­graduação. Pude constatar, em conversas de corredor com delegados de mais de 40 países, que os princípios de A. A. eram mantidos inalterados em seus países. Eu tinha esta curiosidade por causa de uma experiência traumática sofrida em uma Conferência de Serviços Gerais em que, por pouco, não alteraram um Conceito de Serviço. Posteriormente, mantive contatos com companheiros do GSO, por algum tempo, especialmente com o Danny Mooney e tive a informação de que os 

princípios permaneciam inalterados em toda a irmandade a nível mundial. O "tronco" ainda estava lá, salvando vidas.

A custódia guarda o sagrado e uma das funções dos custódios da junta é guardar o "sagrado" da Irmandade. O custódio encarna a figura do "patriarca", garantidor das tradições, do passado, daquilo que é imutável, do que é pétreo. Guarda a memória do passado. Portanto, o A. A. não muda.

Mas o A.A. deve continuar vivo e atuante, e o que não se adapta às condições do seu ambiente, tende a desaparecer, pode virar dinossauro, espécie extinta, virar fóssil. As tecnologias surgem e a vida dos homens se modifica em função delas. As circunstâncias que nos cercam mudam e as necessidades se renovam. Tudo na vida é marcado pela mudança e a solução é mudar e se adaptar à realidade cambiante. A cada ano isso acontece no decurso das Conferências de Serviços Gerais. Nelas vemos os custódios no papel conservador de "patriarca", a conservar o tesouro recebido e a olhar para o passado. Mas lá estão também os "pioneiros", os delegados a mirar para o futuro. As Comissões da Conferência analisam centenas de sugestões vindas de todo o país e os delegados trabalham no estudo desse material. Para resistir ao tempo e se ajustar à realidade cambiante e às necessidades identificadas pelos grupos de todo o país, as recomendações são elaboradas e enviadas a todos os grupos, em retorno. Por meio desse mecanismo, o A.A. muda, adapta­se às realidades do momento mas não muda no que é pétreo, definitivo, nos seus princípios. As sugestões dos grupos de cada Área, fruto da convivência do dia a dia, além de muitas outras, são estudadas pelas Comissões, ponderadas em todos os detalhes e consideradas as repercussões que possam gerar. Tudo isso se constitui num trabalho de maturação que resultará nas recomendações.

O caminho em A. A. vai sendo feito ao longo do tempo e ao caminhar. Nada está pronto, apesar do muito que vem sendo desenvolvido ao longo de 76 anos de vida da Irmandade. A realidade se impõe e a adaptação a ela é um processo sábio. O solo é pedregoso, não existem trilhas, não existem indicações nem sinalizações. Há sempre perigos à frente, mas o caminho tem que ser encontrado e é feito ao caminhar. Cada passo que se dá deve conduzir ao destino grandioso da Irmandade e, portanto, não pode comprometer o futuro, e o bem estar de todos deve estar em primeiro lugar. O problema está sempre no próximo movimento que se vai fazer e é preciso contar com o Poder Superior para iluminar o caminho, para iluminar esse primeiro passo, embora não necessariamente todo o caminho. O importante é sempre o próximo passo que se vai dar.

Aí está o instante crítico, o momento do próximo passo. Mas podemos recorrer a um contato precioso que todos os homens, por todo o sempre, procuraram e ainda não encontraram mas que a Segunda Tradição nos mostra. É que o Poder Superior se manifesta por meio da Consciência Coletiva. É então necessário criar condições para receber a inspiração, a Graça. É escutar essa comunicação que é real. Aí está a solução para abrir caminhos seguros e que não comprometam o futuro da irmandade. Ela deve continuar como uma via de crescimento espiritual, de libertação, de transformação e de realização plena de cada alcoólico.

Como a estrutura de A. A. é celular, pois os grupos são autossuficientes, todas as decisões são tomadas pelos seus membros num processo que admite que a verdade está um pouco em cada um de seus membros. Que ela não é pessoal, mas interpessoal. Portanto, do somatório das experiências e conhecimentos de cada um em relação a um assunto que está sendo analisado. É no relacionamento respeitoso e no reconhecimento do valor de cada um que o processo evolui. Na aceitação das diferenças é que se desenvolve a busca da Consciência Coletiva, guia seguro para a tomada de decisões.

Está escrito que Ele está no meio de nós, como que espalhado como canela salpicada em arroz doce. Em realidade, a tradução certa é que ele está entre nós, isto é, na inter­relação de irmãos, na qualidade dos nossos relacionamentos, na nossa humanidade. Na troca enriquecedora de interiores. No encontrar caminhos difíceis que ficam mais fáceis quando o fazemos na companhia de irmãos, quando os aceitamos e respeitamos, quando aceitamos as nossas diferenças, sempre benvindas, e que nos enriquecem. As abelhas fazem um trabalho admirável, mas que é o mesmo após milênios. Não evoluem. Não são estimuladas pelas diferenças. Está tudo arrumado e paralisado, não há evolução.

Quando, em uma reunião de Serviço, ou diante da tomada de qualquer decisão, procuramos a substancial unanimidade, isso significa que estamos buscando inspiração num processo de troca de interiores, buscando a Consciência Coletiva.

Doze maneiras de usar VIVÊNCIA

Sente­se ressentido, confuso ou simplesmente aborrecido? Gaste alguns minutos com VIVÊNCIA. Sua leitura lhe trará nova perspectiva do seu problema de bebida, do A.A. e de você.

Para milhares de leitores, em milhares de grupos, no Brasil e no exterior, VIVÊNCIA é muito mais que uma revista. É parte vital deste programa que ajuda 

homens e mulheres a levar uma vida feliz e produtiva sem álcool.

VIVÊNCIA é um informativo inspirador, mensageiro simpático e prestativo como um membro ou pessoa amiga ­ ou mesmo um grupo de A.A. de qualquer tamanho. É particularmente útil no apadrinhamento.

Quer ter acesso aos Passos e Tradições? VIVÊNCIA não pode lhe dizer o que fazer, mas certamente pode lhe mostrar a experiência de outros.

Eis algumas formas práticas como VIVÊNCIA é útil para muitos companheiros e grupos:

1. É uma reunião escrita

VIVÊNCIA é a solução ideal para quem não pode assistir às reuniões regularmente ou para quem deseja mais reuniões. Compacta de fácil leitura, a cada bimestre, publica a essência do que de "melhor" você poderia esperar de uma reunião.

2. É o presente ideal

Para um companheiro ou amigo, poucos presentes podem ser mais apropriados do que uma assinatura de VIVÊNCIA. É uma lembrança continuada de sua atenção e fonte de prazer e de inspiração para o presenteado.

3. Preparando palestras

Procurando idéias para fazer uma palestra mais interessante? Você encontrará na leitura de VIVÊNCIA: histórias pessoais, artigos interpretativos, anedotas, noticiário de A.A. do Brasil e do mundo, opiniões de médicos sobre o alcoolismo e o programa de recuperação oferecido pelo A.A. e muitas outras matérias.

4. Informações

Como A.A está chegando aos hospitais e prisões? O que é a Conferência de Serviços Gerais e o que ela significa para os membros de A.A. individualmente? E quanto ao A.A. no resto do mundo? VIVÊNCIA traz o mundo para sua casa e o mantém sempre atualizado.

5. É um fórum

Quer transmitir uma idéia? VIVÊNCIA lhe dá uma visão tão ampla quanto possível de A.A. como um todo, onde você e seus companheiros podem permutar histórias, pontos de vista e interpretações do programa de recuperação.

6.Companheira nas abordagens

Permita que VIVÊNCIA mostre ao recém­chegado o que A.A. realmente é ­ uma maravilhosa comunidade humana de mais de dois milhões de homens e mulheres em todo o mundo, unidos no propósito comum de permanecerem sóbrios e ajudar outros a alcançarem a sobriedade.

7. Reuniões temáticas mais produtivas

Grupos de todo Brasil estão usando artigos de VIVÊNCIA para discussão em reuniões temáticas. Com VIVÊNCIA, os membros ficam melhor preparados para tais reuniões, capazes de contribuir mais construtivamente.

8. A experiência acumulada

Você pensa que seu grupo tem problemas? Não se preocupe. Procure inteirar­se das inúmeras experiências de grupos publicadas freqüentemente em VIVÊNCIA. É uma forma construtiva de manter seu grupo sintonizado com as Tradições.

9. Uma aliada no A.A. Institucional

Existe alguém no seu grupo apadrinhando (ou pretendendo apadrinhar) um grupo em hospital ou numa prisão? Uma assinatura de presente será profundamente apreciada por homens e mulheres com limitados contatos com o mundo exterior.

10. Ofertada ao recém­chegado

Muitos grupos usam VIVÊNCIA como importante ajuda para os programas de apadrinhamento. Encorajam os recém­chegados a ler a revista, a discutir e fazer perguntas sobre os assuntos lidos. Alguns grupos oferecem gratuitamente uma revista a cada visitante.

11. Ligação com a Irmandade

A.A. vem crescendo muito em todo o mundo. Seu grupo, seu distrito ou Área 

estão experimentando as dores do crescimento? Muitas soluções podem ser encontradas através das experiências compartilhadas em VIVÊNCIA.

12. Arquivo da história de A.A.

VIVÊNCIA espelha os acontecimentos da Irmandade de Alcoólicos Anônimos no momento atual. É uma preciosa coleção da experiência acumulada ao longo dos anos.

Vivência nº 25 Jul/Ago/Set 1993

CULTIVANDO TOLERÂNCIA(Dr. Bob)

Durante   nove   anos   em   A.A.,   tenho   observado   que   aqueles   que   seguem   o programa   de   Alcoólicos   Anônimos   com   maior   seriedade   e   zelo,   não   apenas mantém a sobriedade, mas freqüentemente adquirem melhores características e atitudes. Uma delas é a tolerância. A tolerância se manifesta em uma variedade de formas: na gentileza e consideração para com o homem ou a mulher que estão apenas começando amarcha ao longo do caminho espiritual; na compreensão com aqueles que talvez tenham sido menos afortunados nas vantagens educacionais; e na simpatia com aqueles cujas idéias religiosas parecem ser bastante diferentes das nossas.

Com   relação   a   isso,   recordo­me   da   figura   de   um   cubo   de   roda   com   seus respectivos raios. Todos nós começamos pelo lado de fora da circunferência e nos aproximamos de nossos destinos por um dosvários caminhos. Dizer que um dos raios é muito melhor que todos os outros, é verdadeiro apenas no sentido dele nos servir melhor, como indivíduos. A natureza humana é tal, que sem nenhum grau de   tolerância,   cada   um   de   nós   poderia   estar   inclinado   a   acreditar   que encontramos o melhor, ou talvez o mais curto.

Sem alguma tolerância, poderíamos tender a nos tornar um pouco presunçosos ou superiores – o que, naturalmente, não é útil à pessoa que estamos tentando ajudar e pode ser doloroso ou detestávelpara   outras.   Nenhum   de   nós   deseja   fazer   algo   que   possa   ser   empecilho   à evolução de um outro ­ e uma atitude protetora pode imediatamente retardar esse processo.

A tolerância fornece, como um subproduto, uma maior libertação da tendência de se apegar a idéias preconcebidas e, obstinadamente, a radicalismos. Em outras palavras, ela, quase sempre, proporciona uma abertura de mente que é imensamente importante ­ é, de fato, o pré­requisito para um final bem sucedido em qualquer  linha de busca, seja ela científica ou espiritual.

Eis, portanto, algumas das razões pelas quais um esforço para obter tolerância deve ser feito por todos nós.

(Best Of The Grapevine, páginas 49 e 50, jul.44)

(VIVÊNCIA nº 41 ­ maio/junho 96) ­ Colaboração Grupo Carmo Sion de BH­MG

" SEXTA TRADIÇÃO "

Por B.L, Manhattan, N. Y.

"Um grupo de A.A. nunca deve respaldar, financiar, ou emprestar o nome de A.A. a nenhuma entidade alheia ou empresa estranha, para evitar que problemas de dinheiro, propriedade e prestígio nos desviem de nosso objetivo primordial".

O AUTOR EXPRESSA: "As Doze Tradições em minha experiência, têm sido vitais para conservar­me sóbrio, e também têm sido úteis em todos os meus assuntos."

(Este artigo foi publicado originalmente na Revista Grapevine e republicado na Revista "EL MENSAJE" de fevereiro de 1975)

Antes que eu tivesse um mínimo conhecimento do que era o A.A., já estava seguro de que poderia melhorá­lo. Recordando agora, me dou conta de que meu atrevimento era aborrecedor, visto que se encontrava firmemente ancorado na 

minha ignorância. Eu não sabia praticamente nada acerca das atividades de nossa comunidade, e muito menos de seus princípios espirituais. Como eu era demasiadamente orgulhoso para admitir que existisse algo que eu desconhecesse, então não fazia perguntas.

Praticamente nada, na muito escassa literatura de que dispúnhamos então (1945), explicava como funcionava A.A ou as unidades que o compõem, de maneira que meu conhecimento se baseava naquilo que ouvia ou via em meu grupo. Então, como agora, os membros de A.A., tal como todos os seres humanos em todas as partes, falavam uma confusa mexerufada de fatos, adivinhações, suposições, sabedoria infundada, mexericos e bobices. Contudo, eu supunha que aquilo que ouvia era a pura essência da verdade de A.A., e equipado somente com minha pequena coleção de impressões fugazes e informações equivocadas acerca de A.A., queria modificá­lo.

Para mim, por exemplo, A.A. deveria estar informando à classe médica sobre as características de nossa doença, tal como nós a entendíamos. (Naquela época, a Escola de Estudos sobre Alcoolismo de Yale, hoje Rutger, apenas estava se iniciando, e faltavam ainda nove anos para que a Associação Médica Norte­americana estabelecesse seu comitê sobre alcoolismo).

O governo, em minha visão, deveria modificar as leis relativas aos alcoólicos. (A Associação Norte­americana de Programas sobre Alcoolismo e o Centro Nacional para o controle e a Prevenção do Alcoolismo eram, então, sonhos impossíveis).

Centro de desintoxicação, reabilitação vocacional e todo tipo de serviços, o melhoramento da compreensão de nosso problema por parte dos trabalhadores sociais, estudantes, psicólogos e policiais. Tudo isto, e muito mais, o necessitávamos urgentemente. Por que, me perguntava, o A.A. não atua com mais dinamismo nesses campos?

Suponhamos por um momento que nossa comunidade se houvesse realmente orientado para essas atividades. Como teria sido a teia de aranha em que nos enredaríamos? Quantos bêbados teriam sido desprezados e abandonados à própria sorte enquanto nós nos debateríamos em nossas campanhas políticas e financeiras! Quantos inimigos teriam ganhado nossa associação ao procurar ditar cátedra aos profissionais médicos, aos religiosos e às pessoas da área legal.

Se o propósito do meu grupo A.A. tivesse sido adquirir prestígio, dinheiro ou poder, temo que minha própria sobriedade não teria encontrado muita sobre o 

que se apoiar em nossas reuniões. Não teria havido tempo para a prática do programa Muitos de nós nos teríamos ido, e conosco, provavelmente, até mesmo o A.A. Sic transit gloria mundi*.

Estou seguro agora de que se houvessem estabelecido programas governamentais sobre alcoolismo, dirigidos por A.A., e tivessem fracassado, meus ressentimentos teriam arrasado a minha sobriedade, tão tênue e recém adquirida Suponhamos que se houvesse fundado um clube oficial de A.A., e as autoridades o tivessem fechado por jogo ilegal; ou que as casas de retiro para alcoólicos, administradas por nossa associação se vissem envolvidas em escândalos. O que teria acontecido? Eu teria terminado emocionalmente envolvido, ou, mais provavelmente, alcoolicamente dissolvido.

Como sempre, A.A. como um todo provou ser muito mais prudente e sábio do que eu, individualmente, e do que meu grupo quando queria fazer as coisas a nosso amanho. Ainda sem tantas complicações, para nós era problema suficiente o dar­nos conta do que tínhamos realmente nas mãos. As Tradições não haviam ainda sido escritas.

Inicialmente, críamos que teríamos que fazer pelo menos treis coisas, a saber: primeiro, prover um lugar onde os membros pudessem jogar cartas, comer e tomar café a qualquer hora; segundo, manter um escritório com telefones; como lugar de referência para o Décimo Segundo Passo e dar informação sobre as reuniões e, terceiro, manter trabalhando nossas próprias reuniões e os trabalhos do Duodécimo Passo.

As duas primeiras nos envolveram em operações ilegais de sociedades, problemas financeiros, administração de propriedade de imóvel, manutenção de edifícios, operação da cafeteria, secretárias remuneradas e, naturalmente, regras e funcionários. Como conseqüência, os recém ­ chegados, que necessitavam apenas da mensagem, saíam defraudados porque nós estávamos muito ocupados resolvendo problemas tais como um cozinheiro bêbado, uma máquina de escrever enguiçada, as divida do clube, a revisão dos estatutos, o mau gênio do faxineiro, as decisões sobre quem não podia fazer uso do telefone, a marca do café a ser comprado, etc. etc.

Desta forma, era quase impossível para os recém­chegados entender a diferença que poderia haver entre unir­se a um clube qualquer ou entrar em A.A.

Eu fui um desses recém­chegados de quem falo.

Aqueles que não conseguiam ser escolhido para os cargos, ou eram despedidos deles, acabavam bebendo. As críticas aos resultados financeiros que a cafeteria apresentava, tornaram­se animosidades contra a estrutura financeira de A.A. ". Dois companheiros a quem eu estimava se desgostaram com a comida que se oferecia na cafeteria, e se foram. (Não me surpreendi, porque em suas treis primeiras reuniões de A.A., somente ouviram falar de comida. Em menos de um ano, ambos morreram.. .de alcoolismo).

A solução que o meu grupo finalmente encontrou, faz um quarto de século, foi muito simples. Decidimos que, por mais excitantes ou necessários que pudessem ser tais atividades empresariais um grupo de A.A. deve permanecer distante delas porque as discussões sobre dinheiro, prestígio ou propriedade nos apartam e nos alheiam dos Doze Passos.

Como grupo de A.A., decidimos levar a mensagem, e ponto! Por conseguinte, nos retiramos do negócio de comida e a administração de imóveis. Alguns membros, atuando de forma individual, formaram corporações sem fins lucrativos, distintas de A.A., para administrar clubes ou lugares de entretenimento dos A.As. que desejavam tal tipo de atividade. Quanto ao escritório central, se conseguiu que fosse sustentado e operado por todos os grupos da vizinhança, e terminou como intergrupo.

Esta modificação tem dado magníficos resultados desde então, tanto em Nova lorque com em todas as partes. E agora, por certo, aqueles serviços realmente necessários para os alcoólicos estão começando a funcionar, mas não sob os auspícios de A.A. A comida, a roupa, a moradia, e a assistência médica são geralmente necessárias para a recuperação do alcoólico. Porém, podem ser administradas muito melhor por outras organizações, com experiência profissional e organização eficiente, qualidades das quais carecem os grupos de A.A.

Certamente, não podemos deixar de lado um fator que quase nunca se menciona, nem de forma verbal e nem escrita: Muitos dos grandes avanços no tratamento de alcoólicos, obtidos no transcurso dos últimos trinta e cinco anos, se devem ao labor prudente e silencioso de membros de A.A., que têm atuado como cidadãos, privadamente interessados no problema de saúde pública.

A Sexta Tradição deixa a cada membro de A.A. a liberdade para assim atuar, se o deseja, conquanto que sua atuação não constitua afiliação ou declinação de A.A. a qualquer iniciativa, nem "emprestem o nome de A.A." para isto. (Há que se ter também em conta o outro lado da moeda. Certa ocasião, um programa distinto do 

nosso, procurou criar a impressão, maliciosamente, de que contava com o apoio de A.A. Porém sua intenção não obteve sucesso. Os profissionais que atuariam no referido programa pensaram que se tratasse de uma extensão de A.A. e não se interessaram. Eu o sei porque fui o culpado).

A adesão ao nosso objetivo primordial faz com que A.A. seja único, mas também nos confere uma responsabilidade especial, creio eu. Somos as únicas pessoas que não fazem nada além de ajudar ao indivíduo alcoólico porque temos que fazê­lo a fim de que possamos permanecer sóbrios. Ajudamo­lo, não por causas científicas ou humanitárias, mas visando nossa própria sobriedade.

Como resultado disto, os outros programas no campo do alcoolismo chegam a depender fortemente da participação de membros de A.A., fato que vem aumentando. Em cada junta profissional é um fato notório que os não­alcoólicos contam, de forma absoluta, com a ajuda de A. As. sóbrios e conscientes que lembram permanentemente que quando qualquer um, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A esteja sempre ali. E por isto, EU SOU RESPONSÁVEL.

* Esta remissão é de autoria do tradutor: "Assim passa a glória do mundo" Frase tirada da Imitação de Jesus Cristo.

* Tradução: Edson H.

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Eu vivo uma verdadeira história de amor com A.A..Incrível como em A.A. posso viver a palavra de Deus na sua expressão mais ampla, onde os princípios de qualquer religião humana estão presentes.O reconhecimento de que sem Deus não sou nada, está lá, assumido e vivido.O amor ao próximo, quando aceito o outro como ele é, não como eu gostariaque fosse também está lá, no seu lema: viva e deixe viver.A caridade/partilhada na troca e não na soberba de quem tem muito, dá a quem tem pouco. Mas, por incrível que pareça, o que dou é exatamente a mesma medida do que preciso. Não me esvazio, mas me encho.A humildade, quando tenho consciência de minhas reais falhas.Entrei em A.A. quase por acaso. Na época, já tinha reconhecido minhaincapacidade de beber "socialmente". Também já sabia que sozinha eu não conseguiria. Que só uma força superior, infinitamente maior do que a minha, 

poderia me ajudar. Vinha realizando um levantamento das grandes besteiras e estragos que havia feito na minha vida e na vida dos outros. Tentava, na medida do possível e da minha capacidade, fazer os reparos. Tentava ressignificar meus erros, para que eles não fossem um peso, mas adubo para minha vida. Não queria ficar chorando em cima de mim mesma, com autopiedade, mas, queria sim, ganhar dignidade.Comecei a trabalhar os meus defeitos de caráter e a fazer o meu inventário pessoal e, consequentemente, as devidas reparações às pessoas que havia magoado e prejudicado.E minhas mudanças de comportamento se expressavam nas minhas atitudes em casa, no trabalho e com os amigos.Foi quando conheci um membro de A.A. que me revelou seu anonimato,presenteou­me com bibliografia básica da Irmandade e, quase sem querer (ele não sabia do meu problema), me apadrinhou em A.A..Ao fazer a leitura do Livro Azul, e do Viver sóbrio me dei conta da minha enfermidade. Decidi conhecer A.A..Na primeira reunião já me identifiquei com as pessoas, falas e atitudes.Revivi o meu passado de ilusão alcoólica, que eu não queria mais eprincipalmente sabia o que eu queria viver daqui para frente.Fui ficando em A.A., amando e querendo bem; me identificando, mevalorizando, me tornando gente "diferente igual" a todo mundo.A.A. foi o reconhecimento da vida que eu quero levar, a que grupo eu quero pertencer.Em A.A. eu me encontrei e encontrei outros que querem viver assim: sobro e felizes.Sou feliz porque faço parte dessa linda irmandade chamada A.A..Felizes 24 horas de plena sobriedade.

Roberta/Crateú/Orocó/PEVivência ­ Nº112 ­ Mar / Abr.­ 2008

Estudo aponta que 3,6% dos paulistas são dependentes de álcool

O estudo São Paulo Megacity realizado com 5.037 indivíduos adultos da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), aponta que mais de 10% dos entrevistados preencheram os critérios para abuso e 3,6% receberam diagnóstico de dependência do álcool. Diferente do esperado, a taxa de abuso foi maior do que a de dependência ­ o que reforça a necessidade de investimento no diagnóstico precoce e conseqüentemente resultaria na diminuição dos exorbitantes gastos de saúde com os dependentes.

A pesquisa analisou uma amostra representativa que reúne pessoas de diferentes condições econômicas, educacionais e culturais para identificar a prevalência de uso, abuso e dependência de álcool nessa região, assim como as principais características sócio demográficas relacionadas às transições entre as etapas de uso do álcool. De acordo com a pesquisa, as porcentagens da taxa de uso de álcool pelo menos uma vez na vida (85,8%) e uso regular (56,2%) refletem uma considerável exposição à bebida, assim como a continuação de seu uso em uma proporção significativa da amostra.

O São Paulo Megacity, realizado pelo Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é o primeiro a investigar as idades de início do uso regular, abuso e dependência, transições entre as etapas do uso de álcool e as possíveis influências de gênero, idade, escolaridade e estado civil. Além disso, é parte de uma pesquisa global da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre estresse, bem­estar e saúde mental (World Mental Health Survey Initiative).

Idade de início do uso

O primeiro uso na vida ocorre entre os 16 e 26 anos de idade, com mais da metade dos usuários tendo experimentado aos 17 anos. O São Paulo Megacity mostra ainda que 54% dos entrevistados apresentaram diagnóstico de abuso antes dos 24 anos, o consumo precoce esteve associado à transição do uso regular para o abuso e que a maioria dos indivíduos desenvolveram a dependência do álcool antes dos 35 anos de idade. A pesquisa ainda apontou que a remissão do abuso e da dependência é menor entre os indivíduos que iniciam o uso regular do álcool mais precocemente na vida. “Esses dados comprovam que as políticas públicas voltadas ao consumo do álcool devem estar orientadas para populações jovens”, analisa a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, autora do estudo.

Nível de escolaridade e situação escolar

Já em relação à situação escolar, estudantes com baixo nível de escolaridade estiveram consistentemente associados às três primeiras transições entre os estágios de uso do álcool: da abstinência ao primeiro uso na vida, depois para o uso regular e finalmente para o abuso.

A importância desta constatação foi confirmada pelo fato de o baixo nível escolar também ter sido o único correlato sociodemográfico associado à transição para a dependência do álcool, bem como para a não remissão do abuso e da dependência, fato que reforça a necessidade de intervenção para evitar o uso 

prejudicial do álcool entre os estudantes. “Já que o nível de escolaridade tem sido amplamente utilizado como um indicador de status socioeconômico, os resultados também poderiam refletir que indivíduos com menor escolaridade e nível socioeconômico são mais suscetíveis à exposição ao álcool, tanto por viverem em uma região com alta concentração de bares, como por normas sociais menos restritivas com relação ao uso do álcool. Políticas públicas, voltadas para indivíduos com baixa escolaridade e proveniente de lares carentes, trariam provável diminuição na progressão do beber para eles”, diz Dra. Camila.

O fato de o indivíduo ser estudante esteve fortemente associado à transição do uso regular de álcool para o abuso. “O Brasil não tem uma idade mínima legal para o consumo de bebidas alcoólicas, a única restrição relacionada e pouco fiscalizada é a proibição de venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos de idade; nenhuma licença especial é necessária para vender o produto. Além disso, geralmente não há restrições específicas sobre o uso ou venda dentro dos campi universitários, o que reforça o consumo do álcool entre os estudantes”, afirma a psiquiatra. Além disso, de acordo com a Dra. Camila, como o Brasil apresenta uma cultura de consumo de grandes quantidades de álcool em uma única ocasião; beber em locais públicos e não ingerir o álcool com as refeições, os estudantes acabam ficando ainda mais expostos às conseqüências negativas decorrentes do uso do álcool, como acidentes de trânsito, sexo desprotegido, cardiopatias, doenças gastroesofágicas e à transição para o abuso do álcool conforme demonstrado nesse estudo. Diante do exposto, a psiquiatra conclui que com base no cenário acima, é possível hipotetizar que o padrão de consumo pesado do álcool entre estudantes os leva à transição do uso regular para o abuso.

Estado Civil

O estado civil é outro fator que influencia o consumo de álcool nos brasileiros e apresentou associações distintas para cada um dos estágios de transição. Segundo o São Paulo Megacity, ser solteiro foi preditor para a primeira transição (da abstinência ao primeiro uso na vida) e para a segunda (do uso na vida para o uso regular), sugerindo que ser casado é um fator de proteção. Por outro lado, viúvos ou separados apresentaram maior risco para a segunda transição (do uso na vida para o uso regular) e terceira transição (do uso regular para o abuso) do beber que constituem estágios de maior prejuízo desse comportamento.

Premiação

Recentemente, a Dra. Camila Magalhães Silveira, autora do São Paulo Megacity, conquistou a primeira colocação do Prêmio Psiquiatria FMUSP 2011. O estudo foi nomeado como a melhor tese de doutorado, da área de psiquiatria, de todas apresentadas em 2010 e no ano passado. O estudo foi orientado pela Profa. Dra. Laura Andrade.

Sobre o São Paulo Megacity

O levantamento é o maior e mais completo estudo sobre a prevalência de transtornos mentais na população adulta da Região Metropolitana de São Paulo (cidade de São Paulo mais 38 municípios). A investigação é parte do estudo global “World Mental Health Survey Initiative (WHMS)”, um consórcio sob os auspícios da Organização Mundial da Saúde (OMS), com colaboração das Universidades de Harvard e Michigan, que engloba estudos epidemiológicos realizados em 28 países representando todas as regiões do mundo. Todos os estudos preenchem uma série de pré­requisitos rigorosos para a obtenção de resultados confiáveis e comparáveis entre os países. No total, o WMHS conta com uma amostra de mais de 170 mil pessoas.O estudo tem como proposta identificar as taxas de prevalência de transtornos psiquiátricos, avaliar o grau de incapacidade associada a eles e determinar possíveis fatores associados na população residente na Região Metropolitana de São Paulo.No Brasil, o Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo é responsável pelo estudo São Paulo Megacity, sob coordenação da Profa. Dra. Laura Andrade e da Profa. Dra. Maria Carmem Viana.

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O alcoolismo nas empresas

Sou psicóloga e profissional da área de recursos humanos em uma empresa. Como o alcoolismo é uma situação que vivencio no meu dia­a­dia e por não saber quase nada a seu respeito nem como abordar um provável alcoólatra, recorri ao livro Alcoólicos Anônimos.Para minha surpresa, encontrei uma abordagem simples do problema visto por 

quem havia passado pelo problema e nada é mais real e objetivo do que a experiência pessoal.Todo trabalho científico é baseado em pesquisa e experimentações e, mesmo o A.A. não se dedicando a este campo, constatou, através da experiência de milhares de membros, a gravidade e a possibilidade de uma nova abordagem do assunto, ainda tão desconhecido de nossa sociedade.É o alcoolismo visto sob a ótica de quem trilhou o seu caminho, uma abordagem de dentro para fora, riquíssima em seu conteúdo.O capítulo 10 do livro Alcoólicos Anônimos tem como título "Aos empregadores" e traz um roteiro completo de como devem ser abordados casos de alcoolismo em empresas e eu tenho adotado as sugestões lá recomendadas.Para simplificar e até distribuir para outros colegas de profissão que têm o mesmo problema em sua rotina profissional, condensei o conteúdo deste riquíssimo capítulo da forma que segue abaixo.Se encontrarem algum proveito nele, valeu a pena. Caso contrário valeu a pena da mesma forma, pois pude ter acesso ao conteúdo deste programa maravilhoso de recuperação que é Alcoólicos Anônimos.Roteiro simplificado de como o profissional de recursos humanos de uma empresa deve se relacionar com o problema alcoolismo dentro da empresa.* Primeiro passo: se informar sobre o alcoolismo. Indicação dos livros: – "O texto básico de Alcoólicos Anônimos" (Livro Azul) e "Os Doze Passos e as Doze Tradições" (são adquiridos em A.A.).* Compreender que o alcoolismo é uma doença grave.* Tendo certeza de que seu funcionário não quer parar de beber, deverá ser demitido. E que fique claro quanto ao motivo: Alcoolismo.* Ter uma atitude compreensiva em relação a cada caso.* Diga­lhe que sabe o quanto ele bebe e que aquilo precisa acabar. Você pode dizer que aprecia sua capacidade, que gostaria de conservá­lo na empresa, mas que não poderá fazê­lo se ele continuar a beber. Uma posição firme, neste sentido, irá ajudá­lo.* A seguir, garanta­lhe que não pretende fazer um sermão, dar lições de moral ou condená­lo. Que, se isto foi feito antes, foi por uma questão de falta de conhecimento de causa. Se possível, demonstre que não nutre contra ele sentimentos negativos. Neste ponto, talvez seja uma boa idéia explicar­lhe o alcoolismo como doença. Diga que você acredita que ele esteja gravemente doente, com esta ressalva: sendo talvez portador de uma doença fatal gostaria ele de se recuperar? Você pergunta por que muitos alcoólicos, estando mentalmente perturbados e embotados, não querem parar de beber. Mas e ele, quer? Dará os passos necessários, submetendo­se seja ao que for para parar de beber? Se ele disser que sim, está sendo realmente sincero, ou no fundo acha 

que pode enganá­lo e que, depois de um descanso e tratamento conseguirá continuar a tomar uma ou outra dose de vez em quando? Achamos que um homem deve ser cuidadosamente investigado em relação a estes pontos. Certifique­se de que ele não o esteja enganando, ou a ele mesmo.* Se ele contemporizar e ainda achar que pode beber outra vez, mesmo que seja só cerveja, poderá perfeitamente ser demitido depois do próximo porre que, sendo um alcoólico, certamente tomará. É preciso que ele entenda bem isto. Ou você está lidando com um homem que pode e quer se recuperar ou não está. Se não estiver, por que perder tempo com ele? Isto pode parecer duro, mas em geral é o melhor caminho.* Depois de se certificar de que seu empregado quer se recuperar e que fará o que for preciso para conseguir, você pode sugerir­lhe um programa de ação definitivo. Para a maioria dos alcoólicos que está bebendo, ou acabando de sair de uma bebedeira, uma certa dose de tratamento físico é necessária, e até imperativa. A questão do tratamento físico deve, é claro, ser submetida a seu próprio médico. Seja qual for o método adotado, seu objetivo é eliminar do corpo e da mente os efeitos do alcoolismo. Em mãos competentes, isto raramente demora muito e não custa muito caro. Seu funcionário se sentirá melhor se for posto em condições físicas tais que lhe permitam pensar com clareza e não sentir mais a compulsão pelo álcool.* Se você lhe propuser tal procedimento, talvez seja preciso adiantar­lhe o custo do tratamento, mas acreditamos que deva ficar claro que quaisquer despesas serão futuramente deduzidas de seu salário. É melhor para ele sentir­se responsável.* Se o funcionário aceitar sua oferta deve ser enfatizado que o tratamento físico é apenas uma pequena amostra do que o espera. Embora você lhe esteja proporcionando os melhores cuidados médicos, ele deve compreender que precisa passar por uma reformulação interna. Superar o hábito da bebida irá requerer uma modificação de pensamento e atitudes. Todos nós precisamos colocar a recuperação acima de tudo o mais, pois sem a recuperação teríamos perdido tanto o lar quanto o emprego.* Você pode confiar totalmente em sua capacidade de se recuperar? Por falar em confiança, será que você poderá adotar a atitude de que, no que depender de você, tudo isto permanecerá um problema estritamente pessoal, que seus erros devidos ao alcoolismo e o tratamento ao qual ele vai se submeter nunca serão discutidos sem o consentimento do próprio? Talvez seja bom ter uma boa conversa com ele, quando voltar ao trabalho.* Caso você se sinta inseguro para ter tal conversa ou seu relacionamento com o funcionário esteja ligado por um grande laço de amizade poderá estar tendo este tipo de conversa com o alcoólico: "Ei, fulano, você quer parar de beber ou não? 

Cada vez que você bebe, eu é que fico no fogo. Não é justo, nem comigo nem com a firma. Eu estive estudando umas coisas sobre alcoolismo. Se você for um alcoólico, é um homem seriamente doente. Você age como se fosse. A empresa quer ajudá­lo a melhorar e, se estiver interessado, há um jeito de sair dessa. Se for em frente, seu passado será esquecido e o fato de que você foi afastado para tratamento médico não será divulgado. Mas, se você não quiser ou não puder parar de beber, acho que deve pedir demissão".* Lembramos que o sigilo e a ética devem ser estritamente respeitados. Comentários sobre o assunto com pessoas que não estão diretamente ligadas ao funcionário só serviram para gerar fofocas e comentários maliciosos. Naturalmente, este tipo de coisa reduz as chances de recuperação do funcionário. O empregador deve proteger o funcionário deste tipo de mexerico, defendendo­o contra provocações desnecessárias ou críticas injustas.* Caso ele (a) recaia, por uma vez que seja, cabe ao seu superior decidir se será ou não mandado embora. Se estiver convencido de que ele não está levando o caso a sério, não há dúvidas de que deve demiti­lo. Se, pelo contrário, tiver a certeza de que ele está fazendo o que pode, talvez queira lhe dar outra chance. Mas você não deve se sentir obrigado (a) a conservá­lo na empresa, pois sua obrigação já foi totalmente cumprida.* Em resumo, ninguém deveria ser demitido apenas por ser alcoólico. Se quiser parar de beber, deve merecer uma chance. Se não puder ou não quiser parar, deve ser demitido. Poucas são as exceções.Este tipo de enfoque resolverá muitos problemas e permitirá a reabilitação de bons funcionários e ao mesmo tempo você não hesitará em se livrar daqueles que não querem ou não conseguem parar com a bebida.O alcoolismo pode estar causando muito prejuízo à sua empresa, em termos de perda de tempo, pessoal e reputação, ou poderá causar um grave acidente de trabalho.Estas sugestões têm como objetivo ajudar a eliminar estas perdas, às vezes consideráveis.

Andréia BoggionePsicóloga OrganizacionalProfissional da Área de Recursos Humanos Betim/MG

"  DESPRENDENDO­NOS DO CÍRCULO E DO TRIÂNGULO COMO UM    SÍMBOLO "OFICIAL" DE A. A."

(Artigo Publicado Originalmente no Box 4­5­9)

Durante muito tempo, um triângulo inscrito dentro de um circulo tem sido reconhecido como símbolo de Alcoólicos Anônimos. Não obstante, o círculo e o triângulo figuram entre os mais antigos símbolos espirituais conhecidos pelo ser humano. Para os antigos egípcios o triangulo representava a inteligência criativa, para os gregos, significava a sabedoria. Em geral, representava uma aspiração de alcançar um conhecimento mais amplo e uma maior compreensão do terreno espiritual.

Na Convenção Internacional onde se celebrava o 20º aniversário de A.A., aceitou­se o triângulo inscrito num circulo como o símbolo de Alcoólicos Anônimos. "O círculo", disse Bill aos AAs. reunidos em St. Louis, "simboliza o mundo inteiro de A.A., e o triângulo representa os Três Legados de A.A, de Recuperação, Unidade e Serviço. Dentro do nosso maravilhoso novo mundo, temos encontrado a libertação de nossa obsessão mortal".

O símbolo foi registrado como a marca oficial de A.A., em 1955, e foi usado livremente por várias entidades de A. A, o que funcionou muito bem durante um tempo. No entanto, em meados da década de 80, havia uma crescente preocupação por parte dos membros da Comunidade a respeito do uso do circulo com o triângulo por organizações alheias à Irmandade. 

De acordo com a Sexta Tradição de A.A. que diz que A.A. " jamais deverá sancionar, financiar ou emprestar o nome de A.A. a qualquer sociedade parecida ou empreendimento alheio à Irmandade", A.A. World Services começou, em 1986, a tomar medidas para prevenir o uso do círculo com o triângulo por entidades alheias, incluindo fabricantes de souvenires, companhias editoras e instituições de tratamento. 

Esta política foi efetivada com moderação, e só depois que todas as tentativas de persuasão e conciliação tinham fracassado, se considerava a possibilidade de empreender ações legais. De fato, de aproximadamente 170 usuários não autorizados que foram contatados, só foi apresentada demanda judicial contra dois deles e ambas foram resolvidas nos seus trâmites iniciais.

No começo de 1990, alguns membros da Comunidade pareciam dizer duas coisas: "queremos medalhas com nosso circulo e triângulo e, não queremos nosso símbolo associado com objetivos não A.A.". O desejo de alguns membros de A.A de ter fichas de aniversário foi considerado pelas Juntas de A. A. World Services e do Grapevine em outubro de 1990, quando estudaram a possibilidade de produzir medalhas. O parecer das Juntas foi de que as fichas e medalhas não 

tinham relação com nosso propósito primordial de levar a mensagem de A.A. e de que o assunto deveria ser amplamente discutido na Conferência para conseguir a opinião da consciência de grupo da Comunidade. A essência desta decisão foi transmitida a Conferência de Serviços Gerais de 1991 no informe Junta de A. A. W. S.

A Conferência de Serviços Gerais de 1992 começou a enfrentar o dilema escutando apresentações a respeito de por quê devíamos ou não devíamos produzir medalhas, e sobre responsabilidade de A.A.W. S. de proteger nossas marcas registradas e direitos de propriedade contra usos que pudessem sugerir filiação a empreendimento alheios à Irmandade.

O resultado foi uma Recomendação da Conferência para que a Junta de Serviços Gerais efetivasse um estudo sobre a possibilidade de efetivar as maneiras pelas quais se poderiam colocar as fichas de sobriedade à disposição da Comunidade, seguido de um informe a um comitê de delegados da Conferência de 1993, o qual informaria a todos os membros da Conferência no mês de março seguinte.

Depois de longas considerações, o comitê apresentou seu informe e recomendações à Conferência de 1993. Depois de uma discussão, a Conferência aprovou duas das cinco recomendações:

1) o uso de fichas medalhões e sobriedade é um assunto ligado à autonomia local e não algo sobre o que a Conferência deva fincar uma posição definitiva; e...

2) não é apropriado que A.A.W.S. ou o Grapevine produzam ou autorizem a produção de fichas e medalhas de sobriedade.

Entre as considerações incluídas no informe do comitê estavam as repercussões de continuar protegendo por meios legais o uso das marcas registradas de A.A. por parte de organizações alheias a lrmandade. Casualmente, a Junta de A.A.W.S. tinha começado a considerar alguns acontecimentos recentes, chegando finalmente a reconhecer que as perspectivas de litígios cada vez mais demorados e dispendiosos, a insegurança quanto a possibilidade de lograr êxito, e o desvio em relação ao objetivo primordial de A.A. eram grandes demais para justificar o prosseguimento das tentativas de proteger o círculo com o triângulo.

Durante a reunião pós­Conferência da Junta de Serviços Gerais, os custódios aceitaram a recomendação de A.A.W.S. de deixar de lado a proteção do círculo com o triângulo como uma de nossas marcas registradas. 

No começo de junho, a Junta de Serviços Gerais apoiou por substancial unanimidade a declaração de A.A. de que, de acordo com nosso propósito original de evitar a sugestão de afiliação ou associação com produtos e serviços alheios à Irmandade, Alcoholics Anonyimous World Services, Inc. deixará progressivamente de fazer uso "oficial" ou "legal" do símbolo do círculo com o triângulo A.A.W. S. continuará resistindo ao uso não autorizado das outras marcas e qualquer tentativa de publicar literatura de A.A. sem permissão. 

Sem dúvida, o circulo e o triângulo terá sempre um significado especial no coração e na mente dos AAs, num sentido simbólico, assim como ocorre com a Oração da Serenidade e os lemas, que nunca tiveram um caráter oficial.

DECLARAÇÃO SUPLEMENTAR REFERENTE AO USO DO SÍMBOLO CÍRCULO / TRIÂNGULO

(Carta Publicada Originalmente no Box 4­5­9)

No dia 29 abril de 1993, A. A. W. S. distribuiu uma declaração para notificar que não mais se oporia ao uso do círculo/triângulo em medalhas, jóias e outros artigos.

Durante vários anos, algumas pessoas e organizações alheias a A.A. têm utilizado o símbolo do circulo/triângulo em conexão com artigos e serviços oferecidos a alcoólicos. Até recentemente, Alcoólicos Anônimos, de boa fé, realizou todos os esforços pala impedir o uso não apropriado do símbolo. Nossas normas têm sido coerentes com nossa Sexta Tradição e com nosso desejo de não ser associados com mercadorias ou serviços não autorizados. 

No entanto a possibilidade de envolvermo­nos em litígios cada vez maiores e dispendiosos, a incerteza dos resultados, e a perspectiva de nos desviarmos do propósito primordial de A. A. nos convenceram de que já não seria aconselhável perseverar nos esforços destinada a proteção do símbolo. 

De acordo com nosso propósito original de evitar toda impressão sermos associados ou filiados com mercadorias ou serviços alheios à Irmandade, Alcoólicos Anônimos, suspenderá progressivamente o uso "oficial'' do símbolo do círculo/triângulo em nossa literatura, nossos memorandos e outros materiais.

Alcoólicos Anônimos continuará se opondo ao uso não autorizado das marcas 

registradas "A.A." e "Alcoólicos Anônimos" (Alcoholics Anonyimous), apareçam ou não com o círculo/triângulo, assim como ao uso não autorizado de nossas demais marcas registradas "The Big Book" (O Livro Grande), "Box 4­5­9", "The Grapevine", "GV", "A.A. Grapevine" e "Box 1 980".

Uma aula de espiritualidade

Foi como se eu tivesse realmente "pronto" ­ no quarto ano de A.A. ­ para ler o texto do filósofo norte­americano William James, considerado o "pai da moderna psicologia". Li Variedades da Experiência Religiosa como quem estuda: com cuidadosa atenção e anotando passagens importantes num bloco de papel. Como não encontrei uma edição em português, recorri a um volume em espanhol, numa biblioteca pública, e isso por si só tornou minha leitura ainda mais atenta.

Foram muitas e gratíssimas as surpresas. A experiência foi notável, não só por confirmar para mim aspectos da espiritualidade que eu já havia percebido, por meio da prática do programa de A.A. ­ a exemplo da consideração do autor de que "Deus é real desde o momento em que produz efeitos reais", mas também porque me abriu novas e valiosas perspectivas de crescimento espiritual, ao esclarecer sensações que já tinham me assaltado mas que não conseguia identificar com clareza. Caso desta passagem:"A prece ou a comunhão íntima com o espírito transcendental ­ seja 'Deus' ou 'lei' ­ constitui um processo onde o fim se cumpre realmente, e a energia espiritual emerge e produz resultados precisos, psicológicos ou materiais, no mundo fenomenológico.".Ao final da leitura sobrou para mim uma certeza: a de que o crescimento espiritual constante poderá me conduzir a um estado em que minhas preces deixem de ser meramente súplicas (como foram até agora e acredito que assim continuarão por tempo indeterminado) e assem a representar um estado mais elevado, em que eu possa louvar e amar a Deus como Ele merece ser louvado e amado ­ para que a semente de Sua presença dentro de meu próprio espírito possa se tornar plenamente efetivada.Confesso que, de início, não achava que fosse ler o livro inteiro, mas apenas dois dos 20 capítulos, os que tratam da conversão (que eu entendo como despertar espiritual). Findos os dois capítulos (cada capítulo corresponde a cada uma das 20 conferências realizadas por James na Universidade de Edimburgo, na Inglaterra, entre 1901 e 1902), compreendi que tinha aberto uma arca de tesouro, passando a devorar tudo.Há no livro um aspecto que, logo de saída, me fisgou: a generosidade do mestre, 

que não dá um passo sem relatar detalhadamente casos verídicos (alguns envolvendo alcoólicos), além de citar bastante outros autores e pesquisadores ­ como é o caso destas palavras , creditadas ao professor Leuba, contemporâneo seu e também precurssor da psicologia da religião:"Deus não é conhecido, não é compreendido, é simplesmente utilizado, às vezes como provedor material, às vezes como suporte moral, às vezes como amigo, às vezes como objeto de amor. Se demonstrar sua utilidade, a consciência espiritual não exige mais nada.Existe Deus realmente?O que é?, são perguntas irrelevantes.Não é a Deus que encontramos na análise última dos fins da espiritualidade, mas sim a vida, maior quantidade de vida, uma vida mais ampla, mais rica, mais satisfatória. O amor à vida, em qualquer e em cada um de seus níveis de desenvolvimento, é o impulso religioso".Outra citação, creditada pelo autor a Frederic Myers: "Se perguntarmos a quem dirigir a prece, a resposta (curiosamente, é certo...) há de ser isso não tem demasiada importância; a prece não é uma coisa puramente subjetiva, significa um incremento real da intensidade de absorção de poder espiritual ­ ou graça ­, mas não sabemos suficientemente o que ocorre no mundo espiritual, para saber como atua a prece, quem toma conhecimento dela, ou por que tipo de canal é outorgada a graça".James também afirma que "o ponto religioso fundamental é que na prece e energia espiritual ­ em outros momentos adormecida ­ torna­se ativa e realmente se efetua uma obra espiritual de algum gênero". Ele constatou, em suas extensas pesquisas sobre homens e mulheres que conseguiram despertar seu íntimo espiritual , que "o novo ardor que acende o peito dessas pessoas consome, com seu fulgor,as inibições inferiores que antes as perseguiam e imuniza­as da porção vil de suas naturezas. A magnanimidade, antes impossível, agora parece fácil; os convencionalismos insignificantes e os vis incentivos, antes tirânicos, agora não mais as subjugam".Muito antes da fundação de A.A., James já utilizava palavras muito familiares a todos nós, membros da Irmandade: "O despertar espiritual pode advir por um crescimento gradual ou abruptamente (por crisis), mas em qualquer desses casos parece ter chegado 'para ficar'...". Citando Starbuck, outro contemporâneo seu, James comenta que o efeito do despertar espiritual consiste em proporcionar "uma mudança de atitudes com relação à vida, que é constante e permanente, ainda que os sentimentos flutuem...".Essa singela colocação, "ainda que os sentimentos flutuem", produziu em mim um efeito balsâmico. É que durante um bom período de minha recuperação pessoal, vivia com medo de que minhas oscilações emocionais constituíssem um grande 

risco. É certo que preciso continuar muito atento a meus altos e baixos emocionais, mas o fato é que tal reflexão veio confirmar o que eu já vinha percebendo há algum tempo. Ou seja, que, como ser humano, estou sujeito a uma certa gangorra de sentimentos, que nem sempre, contudo, leva auma recaída alcoólica.Um pouco mais de esclarecimento, sobre os meus temores de recaída, chegou­me com essa reflexão: "Enquanto a nova influência emocional não alcançar um tom de eficácia determinante, as mudanças que produz são inconstantes e volúveis e o homem volta a recair em sua atividade original.Mas quando uma emoção nova consegue uma certa intensidade, atravessa­se um ponto crítico, conseguindo­se uma revolução irreversível equivalente à produção de um novo estado natural".E é muito significativo que, 35 anos antes da fundação de A.A., William James, confrontando o "santo" (para o autor, santa é toda pessoa com faculdades espirituais fortes e desenvolvidas) e o "homem forte" (refere­se ao conceito de super­homem, de Nietzche), tenha escrito: "(...) No entanto, é possível conceber uma sociedade imaginária na qual não caiba a agressividade mas sim apenas a simpatia e a justiça ­ qualquer pequena comunidade de verdadeiros amigos conduz a essa sociedade. Quando consideramos abstratamente esta sociedade, ela seria, em grande escala, o paraíso, já que cada coisa boa se produziria sem nenhum desgaste. O santo se adaptaria perfeitamente a essa sociedade.Suas maneiras pacíficas seriam positivas para seus companheiros e não haveria ninguém que se aproveitasse de sua passividade. Portanto, o santo é, abstratamente, um tipo de homem superior ao 'homem forte', porque se adapta a essa sociedade mais elevada concebível, sem depender para nada o fato desta sociedade vir a se concretizar ou não jamais". Impossível não fazer uma analogia com A.A.Nessa altura de minha programação pessoal, estou amplamente convencido de que a vasta literatura de A.A. é mais do que suficiente para minha recuperação constante ­ só por hoje. Lendo o livro de William James , pude sentir uma enorme satisfação também pelo fato de estar bebendo das águas de um dos regatos dos quais Bill W. se serviu. E uma grande necessidade de compartilhar minha experiência com os leitores da revista. Vinte e quatro horas a todos.Juan, São Paulo/SP Vivência ­ maio/junho 2000

Quantas Convenções já aconteceram e aonde?

I, II e III ­ São PauloIV ­ Recife

V ­ Belo HorizonteVI ­ Porto AlegreVII ­ FortalezaVIII ­ BlumenauIX ­ João PessoaX ­ CuritibaXI ­ BelémXII ­ BrasíliaXIII ­ TerezinaXIV ­ Rio de JaneiroXV ­ SalvadorXVI ­ São PauloXVII ­ ManausXVIII ­ CuiabáFatos Marcantes:

I Convenção (Conclave de Carnaval) Dias 22, 23, 24 e 25 de fevereiro de 1974.Compareceram representantes (Delegados) de 9 Áreas, a saber:

Santa Catarina ­ Álvaro K.São Paulo ­ Arlindo B.Rio de Janeiro ­ Dolores M.Alagoas ­ Geraldo L.Paraná ­ Chico R. (Sigolf R.)Pernambuco ­ Luiz A.Pará ­ MagalhãesCeará ­ Mário H.Mato Grosso ­ Eloy T.Estavam presentes, além de diversos companheiros, Ana Maria T. e Sônia Lazzo, representantes de Al­Anon e o GSO de NovaYorque nos enviou, como assessora, Mary Ellen Wesh.

NOTAS ­ Os 9 Delegados passaram a constituir o Conselho Nacional do CLAAB (Centro de Distribuição de Literatura de AA Para o Brasil) ficando a presidência desse Conselho com Chico R., de Curitiba­PR, tendo como Secretário Álvaro K. de Florianópolis­SC.Esse Conselho, então elegeu a Diretoria Executiva do CLAAB, tendo à frente Donald L.A grande novidade foi a apresentação do 1º AA padre, do Brasil, o 

saudoso Pe. João.28 companheiros assinaram a lista de presença, dos quais 21 já faleceram. Dentre os 28 citados não se tem notícias de nenhuma recaída.

II Convenção ­ 1975 (II Conclave) Local, São Paulo­SP, Carnaval. Eleva­se de 9 para 15 o número de Delegados (perceba­se que paralelamente à Convenção havia uma reunião de Serviços, ou seja, uma reunião preparatória às futuras Conferências.

III Convenção ­ 1976 (III Conclave de Carnaval). Em lugar do Eloy, compareceu representando Mato Grosso o companheiro Agostinho, de Cuiabá­MT.Organizou­se a Junta de Serviços Gerais, com o nome de Junta Nacional de Alcoólicos Anônimos do Brasil (advém daí a sigla JUNAAB); decidiu­se enviar Delegados à WSM com a finalidade principal de trazer subsídios para a organização da Conferência de Serviços Gerais. Delegados Donald e Joaquim Inácio (RS). Também ficou decidido que a I Conferência de Serviços Gerais seria realizada em 1977, em Recife­PE, juntamente com o IV Conclave de Carnaval.

IV Convenção ­ 1977, Recife­PE. Pela 1ª vez eram apresentadas temáticas escritas com cópias distribuídas aos companheiros. Foram palestrantes:Roy P. ­ Os Doze PassosEloy T. ­ As Doze TradiçõesDonald Lazzo ­ Respondendo perguntas e tirando dúvidas.Durante a Conferência, agora já com o seu corpo de Delegados em número de 40, representando 20 Áreas, ficou decidido que o IV Conclave teria lugar em Belo Horizonte­MG, juntamente com a II Conferência de Serviços Gerais e, em virtude do trânsito nas estradas na ocasião do Carnaval, foi a data transferida para a Semana Santa. A reprodução dos trabalhos apresentados foi feita por companheiros de Cuiabá­MT, sem ônus para a Convenção.

V Convenção ­ 1978, Belo Horizonte­MG (V Conclave). Contamos com a presença de Dr. Jack Norris, então presidente da Junta de Serviços Gerais dos EE.UU. e Canadá e sua esposa (ambos falecidos). Mato Grosso, em vésperas de ser dividido, levou um Delegado do Norte (Eloy) e um outro do Sul (Mário), sob a mesma bandeira do Mato Grosso uno. Na Conferência Eloy foi eleito como substituto de Donald para a WSM. 

Decidiu­se trocar o nome de Conclave para Convenção. Decidiu­se que as Convenções teriam lugar de 2 em 2 anos, devendo a seguinte realizar­se em Porto Alegre­RS, em 1980. As Conferências seriam nos anos ímpares realizadas em São Paulo, junto aoESG e nos anos pares acompanhariam Convenções.

VI Convenção ­ 1980, Porto Alegre­RS. Foi uma ótima Convenção realizada no Plenário da Assembléia Legislativa do Rio Grande. Escolhido o Roy Pepperell para substituir o Joaquim Inácio às RSM. Escolhida Fortaleza, Ceará como a sede da VII Convenção.

VII Convenção ­ 1982, Fortaleza­CE. Destacamos nessa Convenção, em primeiro lugar a presença de Davi Puerta da Colômbia e George Ifran do Uruguai, ambos Delegados À RSM por seus países, como convidados. Destacamos mais, a presença pessoal do Sr. Prefeito Municipal nas reuniões de abertura e encerramento da Convenção. A Convenção outrossim, editou dois livros a saber: a) Serviço, O Coração de A. A., um Relatório dos Delegados à 6ª R. S. M. b) SERVIÇO ­ Responsabilidade de Todos, contendo todas as temáticas apresentadas na Convenção. Por outro lado, face a grande divulgação e à colocação do evento na agenda do Sr. Prefeito Municipal, a Convenção passou a ser, daí por diante a maior arma de atração da Irmandade.

VIII Convenção ­ 1984, Blumenau­SC ­ Grandes enchentes, com o extravasamento das águas do Rio Itajaí, ocorrido nas vésperas do evento, impediu que a VIII Convenção tivesse o brilho esperado. Todavia o número de companheiros presentes manteve­se em elevação.

IX Convenção ­ 1986, João Pessoa­PB. A Convenção continua a atrair a presença de elevado número de companheiros e, pela primeira vez tivemos. Conferência, Convenção e temáticas todas concentradas na monumental Praça da Cultura.

IX a – Festa dos 40 Anos de AA no Brasil. A descoberta de uma ata de um Grupo dos primeiros tempos que teve o nome de Rio de Janeiro permitiu que se esclarecesse a data correta do início de AA no Brasil. Nela estava registrado: “Nossa próxima Reunião (5 de Setembro de 1950), coincidirá com o terceiro Aniversário da chegada de AA ao Brasil”. Isto motivou a organização de uma comemoração no intervalo das Convenções de João Pessoa (IX) e Curitiba (X). Foi organizada no Rio de 

Janeiro em um dia com Reuniões diversas em Unidades da Marinha de Guerra (com prestimosa ajuda do então Capitão de Mar e Guerra, Dr. Laís Marques da Silva que veio a ser nosso Custódio não Alcoólico e 2º. Presidente de JUNAAB). A coleta de fundos foi feita com a edição de um folheto: “Não me diga que não sou Alcoólico”, originário de Cleveland e à uma época em que se permitiam edição de folhetos fora do CLAAB. Os fundos permitiram pagar a ocupação do Maracanãzinho para a Reunião de Encerramento. Durante o evento foi lançada a 1ª. Edição do Manual de Serviços.

X Convenção ­ 1988, Curitiba­PR. A Convenção atinge o seu clímax. Local favorável na Universidade Federal do Paraná e a presença destacada da classe médica. Um marco muito importante na divulgação de AA.

XI Convenção ­ 1990, Belém­PA. O Norte e o Nordeste brasileiros disseram presente à Convenção e diversas caravanas partiram das regiões Sul e Sudeste, assegurando um sucesso de público, atraído também pela curiosidade turística da região.

XII Convenção ­ 1992, Brasília­DF. Situada a cidade no coração do país, torna­se o ponto mais eqüidistante de todo o território facilitando a locomoção, também em razão de ônibus de carreira ancorarem naquela cidade vindos de todos os recantos da pátria.

XIII Convenção ­ 1994, Terezina­PI. Nenhuma novidade anotada, salvo o grande interesse despertado, trazendo um público de 3.000 companheiros, aproximadamente.

XIV Convenção ­ 1997, Rio de Janeiro­RJ. Aproveitou­se para comemorar os 50 anos de AA no Brasil. Como sempre, a cidade maravilhosa apresentou um trabalho de intensa divulgação, com apoio da média e com a disponibilidade de espaços adequados ao evento – o Maracanãzinho e o Rio Centro. Conta­se que 15.000 pessoas estiveram presentes.

XV Convenção ­ 2000, Salvador­BA. 5º. Centenário do Descobrimento do Brasil. A Bahia estava em festa e o AA aproveitou a oportunidade para incorporar­se às comemorações obtendo um resultado enorme quer quanto a público, quer pela excelência das apresentações no moderno 

Centro de Convenções de Salvador.

XVI Convenção ­ 2003, São Paulo­SP. Aconteceu na Assembléia Legislativa e no Ginásio do Ibirapuera. 4.500 inscrições foram vendidas estimando­se uma presença de mais ou menos 5.000 companheiros.

XVII Convenção ­ 2007, Manaus­AM. Mesmo considerando a distância e a inexistência de transportes além do fluvial e do aéreo (com alto custo). A Convenção foi realizada com sucesso com cerca de 4.000 presenças.

XVIII Convenção ­ 2012, Cuiabá­MT. Reina grande expectativa, pois a curiosidade do Brasil sobre o decantado progresso da região, líder absoluto na produção de soja e algodão, tendo os números da produção agrícola do Estado ultrapassado o Estado de São Paulo. O espaço físico invejável, com um Centro de Convenções moderno e acolhedor, a atração da culinária local, faz da capital mato­grossense, um atrativo todo especial. Não nos surpreenderemos se a presença ao evento atinja os 10.000 participantes.

Alcoolismo, Drogas e Grupos Anônimos ­ Eduardo MascarenhaÀ GUISA DE PREFÁCIO

Bem mais uma nota introdutória. O uso da palavra para compartilhar a satisfação de ter sido, pelo autor do livro, solicitado a fazê­la.Tive o privilégio de ler este livro quando eram apenas notas. E o privilégio ainda maior de ter sido convidado a opinar e ver tais opiniões vertidas dentro do texto original. Sou membro de um dos Grupos Anônimos de que trata o livro. Sou alguém que teve a oportunidade de ter sua vida resgatada pelos princípios que norteiam os programas dos Grupos Anônimos. Sou também alguém que muito hesitou em aceitar tais princípios, por conta de uma orgulhosa pretensão auto­suficiente de querer resolver por mim meus problemas de adição. Infrutiferamente, porém. De maneira que, hoje, vendo o autor, o Dr. Eduardo Mascarenhas, um cientista, sem qualquer problemas de adição, enxergar, e de forma nítida, a importância de tais princípios, devo render um preito de reconhecimento a que ele tenha tido tal identificação.os princípios de que falo são os Doze Passos sugeridos de recuperação, adotados pelos Grupos Anônimos e de original autoria de Alcoólicos Anônimos. E 

tais Passos sugeridos são um caminho para o aperfeiçoamento, um caminho para a espiritualidade. Já que a pura e simples abstinência para os adictos é uma medida disciplinar, amarga e apenas temporariamente aceita. A reformulação sugerida, contida nos Passos, abrindo aqueles já mencionados caminhos ao aperfeiçoamento, à espiritualidade, representa o virar de uma página de nossas vidas e o início de composição de uma nova história pessoal.Inúmeros e eminentes cientistas, religiosos, administradores têm ao longo dos 55 anos de existência do Grupo Anônimo Mãe ­ Alcoólicos Anônimos ­ manifestado sua admiração, encantamento e respeito ao conteúdo destes princípios.E agora vemos o lançamento deste livro, no qual o Dr. Eduardo Mascarenhas, por um lado, com desassombro afirmando a impotência da Medicina para a recuperação do adito. Por outro lado, com grande sensibilidade e sem qualquer pieguice, e mais, de uma forma clara e eleve, falando de um DEUS AMIGO de uma forma mais convincente, a meu ver, do que muitos tratados teológicos. sua aproximação racional prevalece até nos ângulos mais espirituais dos Passos.Que faz o notório psicanalista Dr. Eduardo Mascarenhas enveredar por estes caminhos? A qualidade e profundidade de seu trabalho só permitem indicar uma motivação: AMOR. E por isto me permito supor com bastante convicção que se a motivação foi AMOR, este foi despertado através da prece e da meditação, buscando ampliar um contato consciente com um DEUS AMIGO que confia ao Ser criado os desígnios do Criador.Creio que este trabalho é o suave atendimento a um desígnio maior.Paulo M.INTRODUÇÃOHoje é domingo, são 10 horas da manhã. Grande parte do Brasil já está acordada, mas uma pequena parcela ainda dorme, até porque bebeu demais ontem à noite. Como faz sol, muita gente foi para a praia ou para a piscina do clube e já começou a matar a sede com uma cervejinha bem gelada. Muita gente, porém, nem chegou até a praia ou a piscina. Parou no botequim no meio do caminho e, um tanto envergonhadamente, foi além da cervejinha: pediu um conhaque, uma caipirinha de vodca ou, mais diretamente, uma cachacinha. Fez careta ao engolir, emitiu sons guturais, balançou a cabeça como se estivesse espantado alguma aflição, mas, apesar de todo esse aparente mal­estar, pediu nova dose.Muito embora o dia tenha apenas se iniciado, já começou a ingestão de bebidas alcoólicas. A esta altura, apesar do desfalque dos retardatários do pileque de ontem, que ainda destilam mais uma ressaca na cama, o número de brasileiros alcoolizados já ultrapassa o primeiro milhão. A partir desse momento, entretanto, a cada hora que passar, um novo milhão de alcoolizados se agregará a esse primeiro milhão. Findo o dia, quando a noite baixar, serão 10 milhões e, antes de 

a noite acabar ­ quando se chegar ao auge etílico do domingo ­, serão de 12 a 15 milhões!Este é o quadro: de 12 a 15 milhões de bêbados do Oiapoque ao Chuí!São 100 estádios do Maracanã lotados, são duas vezes a população do Grande Rio, duas vezes a população da cidade de São Paulo! Se reuníssemos todos esses brasileiros num único lugar, eles constituiriam sem dúvida, um dantesco formigueiro de proporções, no mínimo, colossais.Imaginemos o que vai acontecer nesse domingo, com motoristas bêbados dirigindo veículos em ruas povoadas de transeuntes e pedestres igualmente bêbados.Não é à toa que, na maior parte dos acidentes de trânsito, sempre uma das partes envolvidas encontra­se alcoolizada e que 70% dos tratamentos de traumato­ortopedia envolvem pessoas que estavam bêbadas por ocasião de toda sorte de acidentes.Como estarão todos os maquinistas de trem e todos os responsáveis pela sinalização ferroviária neste domingo? E os pilotos de avião e os responsáveis pela navegação aérea? Terão todos eles, sempre que foram ao banheiro, apenas ido ao banheiro, ou terão alguns tomado uns drinques escondido, naquelas garrafinhas achatadas que se pode levar no bolso de um paletó?Como estarão todos os cirurgiões de plantão por esse país afora, nesse tentados domingo?O pior é que o álcool, para um grande número dos seus consumidores, altera a personalidade, geralmente no sentido de uma exacerbação da agressividade.Assim,foram amigos e familiares destratados durante o almoço, em que se tornaram objeto das mais gratuitas desfeitas. E, mais tarde, quando a família reage, são esposas e filhos ofendidos ou mesmo espancados.Boa parte dos espancamentos e estupros são perpetrados sob o efeito do álcool. Muitos homicídios, assaltos e crimes passionais também. Existe sólida conexão entre alcoolismo, cidade grande e violência urbana.além disso, o suicídio é 58 vezes mais frequente em alcoólatras na ativa do que no resto da população!Ora se dirá: "Realmente esses números são assustadores, porém representam apenas excessos de sábados e domingos".Infelizmente, não é assim. É claro que, nos sábados, domingos e feriados, aumenta o número de bêbados. Contudo, amanhã, segunda­feira, a grande bebedeira nacional prosseguirá. Amanhã á noite não haverá 15 milhões de bêbados ­ é verdade ­, mas serão 10 milhões! E o mesmo ocorrerá nas noites seguintes e em proporções crescentes até chegar aos picos de embriaguez dos fins de semana.

Acreditem se quiserem: no Brasil existem entre 10 e 12 milhões de alcoólatras, em graus variados de compulsão. E, a partir de amanhã, durante toda a semana, dos 10 a 12 milhões de trabalhadores bêbados espalhados pelo país, alguns estarão pendurados em andaimes ­ eles balançando para um lado e os andaimes para o outro; outros estarão zonzos e desconcentrados enquanto lidam com serras elétricas ou com chaves de alta tensão. Não é gratuitamente que a maior parte dos acidentes de trabalho ocorre depois do almoço, quando o trabalhador já se encontra alcoolizado.O alcoolismo é responsável por 30% a 40% dos acidentes de trabalho. Além disso, é responsável pela diminuição da produtividade do trabalhador. O álcool reduz em 30% a capacidade de trabalhar, gerando ineficiência e desperdício. Responde também por um número bem significativo das faltas ao trabalho não­justificadas, o chamado absenteísmo. Como 60% dos operários brasileiros consomem álcool (embora nem todos sejam alcoólatras), pode­se avaliar o volume das perdas econômicas.Nos anos 70, o governo de Gerald Ford estimou que o alcoolismo causava, nos EUA, um prejuízo anual nunca inferior a 30 bilhões de dólares. No Brasil, não seria exagero dizer que o alcoolismo desperdiça ou consome mais recursos do que a totalidade das importações brasileiras ou recursos equivalentes ao orçamento de toda Previdência Social. Perde­se mais com o alcoolismo do que com as amortizações da dívida externa!O alcoolismo não só é a principal causa dos acidentes de trabalho, como das consultas médicas do INAMPS! Boa parte das internações e reinternações psiquiátricas é constituída por alcoólatras. O alcoolismo é igualmente um dos principais responsáveis pelas aposentadorias precoces.De acordo com o sanitarista Ernani Luz Jr., de Porto Alegre, uma pesquisa levada a cabo em 319 empresas estatais espalhadas pelo país revelou que 23,5% dos funcionários dessas empresas têm problemas com o álcool.O alcoolismo é também grave problema social. Contribui significativamente para a desagregação das famílias, e, se uma parte dos mendigos de nossas cidades é composta por retirantes e desempregados, outra é constituída por pessoas falidas ou enlouquecidas pelo álcool.Esse fenômeno não é apenas brasileiro; é mundial. para combatê­lo, os norte­americanos inventaram até uma Lei Seca, que vigorou entre 1924 e 1934 e só serviu para inspirar filmes de gângsteres. Para os soviéticos da perestroika, o alcoolismo é prioridade governamental. A Organização Mundial de Saúde considera o alcoolismo a terceira doença que mais mata em todo mundo.Como compreender o alcoolismo e como enfrentá­lo?Este livro é uma tentativa de trazer à luz essas questões. Enfrentar o alcoolismo significa não apenas salvar milhões de vidas diretamente, como salvar muitas 

mais, indiretamente. Isso porque o alcoolismo leva à ruína, não só do alcoólatra como também de sua família, já que com frequência atinge o seu cabeça, provocando uma catástrofe na renda familiar. Enfrentar o alcoolismo significa diminuir enormemente o número de doentes que procuram os serviços públicos de saúde. São menos filas nos postos do Inamps, são mais verbas que sobram para melhorar os serviços, são menos famílias lançadas na miséria para adoecerem.Não se deve esquecer, também, do problema das drogas, cujo comércio movimenta a inacreditável quantia de 100 bilhões de dólares anuais e cresce numa taxa sem precedentes, prometendo o consumo de drogas tornar­se, no amo 2000, juntamente com a AIDS e o alcoolismo, um dos problemas mais importantes de saúde pública do planeta, nesse torneio macabro de quem mata mais.

Maio de 1990

O LIVRO AZUL NO BRASIL

Eloy Toledo

Em dias de 1969, AAWS, Inc. recebeu uma carta do Grupo Central do Brasil, do Rio de Janeiro, solicitando autorização para traduzir e editar o livro "Alcoólicos Anônimos". Poucos dias mais tarde aquela empresa recebia outra carta, agora do Grupo Senador Dantas, também do Rio de Janeiro, com a mesma solicitação. Gilberto, um brasileiro funcionário da ONU em Nova Iorque que vinha em férias para o Rio, passou pelo GSO para saber se havia algo para Grupos do Brasil, sendo então solicitado a investigar as razões dos pedidos de diferentes Grupos com relação ao texto base de A.A.

De volta a Nova Iorque, Gilberto, informou ao pessoal do GSO que aqueles grupos vinham, fazia tempo, guerreando por razões de somenos importância, informando mais, que naquele momento não havia unidade no A.A. do Rio a recomendar tarefa de tamanha importância.Todavia, acrescentou Gilberto, a companheira Dorothy lhe informara que, em São Paulo, um norte­americano, chamado Donald já tinha parte do livro traduzido para uso no seu Grupo e que o considerava em condições de empreender essa missão.

O Gerente do GSO, então, escreveu a Donald perguntando­lhe se aceitava o 

encargo de traduzir e publicar o livro. Se aceitasse, deveria formar um Comitê para gerir essa atividade, um LDC (Literature Distribution Center). Donald respondeu que aceitava a responsabilidade que lhe ofereciam, porém que os Grupos do Brasil não tinham recursos financeiros para a publicação. O GSO resolveu financiar o empreendimento e quando o CLAAB ­ Centro de Distribuição de Literatura de A.A. para o Brasil foi constituído, recebeu a importância de US$ 2.000,00 (dois mil dólares americanos) com os quais o Livro pode ser impresso e colocado à disposição do público e dos Grupos de A.A., em novembro de 1969.

O empréstimo do GSO estabelecia condições para o pagamento: a cada dia 30 o CLAAB deveria enviar ao GSO o valor correspondente a um dólar por cada livro vendido no mês findo.No final de um ano haviam sido vendidos todos os 2.000 exemplares daquela primeira edição e a dívida quitada, porém o resultado da venda se esvaira na publicação dos folhetos "A.A. Na Sua Comunidade", "Você Deve Procurar o A.A.?", o livreto "44 Perguntas & Respostas" mais despesas correntes (aluguel, etc). Assim, para a nova edição, novo empréstimo foi feito, agora de US$ 3.000,00 (três mil dólares americanos), sem quaisquer especificações na forma de pagamento.

O empréstimo assumido no início de 1971 só foi totalmente liquidado no final de 1979 e dele resultou o patrimônio atual da JUNAAB e a estrutura do A.A. do Brasil.

GRUPOS APADRINHANDO GRUPOS

Ao começar minha palestra, gostaria de exprimir­lhes os afetuosos cumprimentos da comunidade de A.A. da Polônia e expressar, aos AAs de todo o mundo, em nome de A.A. polonês, os melhores desejos de felizes e serenas 24 horas de sobriedade.

Minhas anotações sobre o tema são baseadas em minhas próprias experiências e observações. Nos últimos anos, temos visto um espantoso crescimento do A.A. na Polônia. Para entender este crescimento, seria útil notar que na Polônia, um país com uma população de quarenta milhões de habitantes, estima­se haver cinco milhões de alcoólicos. Entre as razões que podem ser citadas para justificar os altos índices de alcoolismo na Polônia, estão a opressão, a qual a nação foi exposta durante os anos da ocupação estrangeira e o sistemático esforço, por parte dos invasores e da burocracia comunista, no sentido de induzir o povo polonês a beber cada vez mais. Existia, também, uma noção errada, muito difundida, de que os poloneses eram bêbados inveterados. Quando a mensagem 

de A.A. chegou ao meu país, traduzimos os Doze Passos, Doze Tradições e o Livro Grande; então, muitos daqueles que sofriam de alcoolismo rapidamente compreenderam que esta era a grande esperança e a oportunidade para a salvação de nossas vidas.

Todos nós que tínhamos tomado conhecimento do que era esta Irmandade, queríamos levar a mensagem aos alcoólicos que ainda estavam sofrendo. Oito anos atrás, quando compreendi o valor da Irmandade de A.A., havia apenas um grupo em Cracóvia, cidade de quase um milhão de habitantes e, neste grupo, chamado de "Grupo Queen Hewig", havia apenas oito membros. Tínhamos apenas duas reuniões por semana. Procurávamos amparar uns aos outros todos os dias, mantendo­nos mutuamente em contato, marcando encontros, telefonando para os companheiros, conversando sobre nossas vidas diárias, nossos sentimentos, problemas e temores.

Sempre que alguém necessitava de ajuda, nós ajudávamos. Visitamos hospitais onde havia alcoólicos em tratamento. Graças à boa vontade de médicos, padres e outros amigos, conseguimos encontrar novos lugares em Cracóvia para formação de novos grupos. Meu trabalho tomava­me muito tempo, a qualquer hora do dia, e por isso eu nem sempre conseguia chegar pontualmente às reuniões existentes. Destarte, procurei encontrar um lugar adequado para uma reunião e iniciei um novo grupo. Assim surgiu o "Grupo Krakus", no meu bairro.

Posteriormente, quando o grupo cresceu, decidimos ir à prisão local e contar nossas histórias. O resultado foi a formação de um grupo pelos próprios prisioneiros, o qual ainda está ativo e o qual frequentemente visitamos.

À medida que o grupo continuou a crescer, passamos a sentir falta de espaço para nossas reuniões. Para resolver o problema, experimentamos dividir o grupo em duas partes e organizar duas reuniões separadas. Esta tentativa de solução falhou, porque os que vinham para a primeira reunião ficavam para a segunda. Depois, alguns membros mais experientes viajaram para outros lugares e fundaram novos grupos, os quais passaram a funcionar nas diversas áreas do país.

Fundou­se o Intergrupo "Gallician" no sul do país, o qual atende a quase oitenta grupos. Começamos a nos visitar uns aos outros e a organizar reuniões conjuntas mensalmente, cada vez numa cidade diferente. Continuamos em contato uns com os outros, participamos da Conferência Nacional de Serviços e, como resultado, a Irmandade na Polônia cresceu tremendamente. O número de grupos cresceu de 

32 em 1984 para quase mil em 1994.

Enquanto isso, temos datas e lugares fixos de diversas reuniões que se tornaram quase tradicionais em nosso país: em março, em Czestochowe; em julho, em Lichen; em novembro, em Zakroczym. A localização de nossa Conferência Nacional de Serviços é rotativa. Estas Conferências, as quais são organizadas por diferentes intergrupos de A.A., são, na essência, grandes reuniões de A.A., embora também discutamos matérias de interesse comum e outros problemas, tais como publicações de literatura, finanças, etc.

Os principais objetivos no apadrinhamento de novos Grupos são fornecer literatura, ajudá­los na organização das primeiras reuniões e manter contatos pessoais frequentes. A irmandade de A.A. na Polônia deseja continuar oferecendo esta preciosa dádiva de esperança; levar esse dom cada vez mais longe, para grupos na Slovákia, Bielarus, Lituânia e Rússia. Já temos alguns contatos mútuos com outros grupos e, ocasionalmente, nos encontramos durante viagens ao exterior e em nossos eventos de A.A. na Polônia. As diferenças de linguagem são os maiores obstáculos aos nossos esforços para estabelecer aqueles contatos, mas a experiência tem demonstrado que nossa simples presença dá suporte, encorajamento e esperança a outros alcoólicos e contribui para a unidade.

Procuramos nos comunicar através da linguagem do coração.

(Tadeusz F. ­ Polônia)

Vivência nº 36 – Jul./Ago. 1995

Nós, os jovens, temos espaço em A.A.?

"Ele foi levar o pai para conhecer A.A. e acabou ficando".

Nos primeiros tempo de A.A. não havia jovens, pois, somente os alcoólicos já desesperados conseguiam engolir e digerir essa verdade amarga: ser um alcoólico.

Com imensa satisfação afirmamos que, com o passar dos anos, isso mudou. Os alcoólicos que ainda mantinham sua saúde, suas famílias, seus empregos, e até 

dois carros na garagem, começaram a reconhecer seu alcoolismo. Crescendo essa tendência, uniram­se a eles muitos alcoólicos jovens, que mal passavam de alcoólicos em potencial. Esse fato se concretiza a cada dia na nossa Irmandade. E eu sou parte desta realidade.

Conheci o A.A. em outubro de 1999, motivado pelos problemas que o meu pai estava enfrentando com o álcool. Minha intenção era levá­lo para A.A., já que ele estava precisando de ajuda, bebendo descontroladamente todos os dias.

Ao entrar em contato com a Irmandade, fiquei maravilhado com as histórias verídicas de recuperação de vários alcoólicos, que de maneira geral, haviam bebido muitos anos e agora tinham encontrado a sobriedade. Fiquei surpreso por ver meu pai evitar o primeiro gole a partir daquela reunião milagrosa. No dia segunite fomos, eu e meu pai, novamente à reunião, e vi novas pessoas contarem suas histórias de sucesso frente à doença do alcoolismo.

Durante essa reunião fiquei refletindo sobre a possibilidade de também possuir a doença, já que eu estava passando por vários problemas e bebendo muito. Ao encerrar a reunião, fui perguntar aos membros do grupo se eles poderiam me informar se eu era ou não alcoólico. Como resposta, me disseram que só eu poderia me considerar alcoólico ou não. Saí daquela reunião um pouco menos preocupado com meu pai, que havia conseguido ficar 24 horas sem ingerir o primeiro gole, e fiquei pensando mais em mim, tentando descobrir se eu era mesmo um alcoólico.

Nessa avaliação, algumas coisas me levaram a crer que eu era mesmo doente, pois eu não vinha de experiências muito agradáveis com a bebida. Entretanto, minha mente alcoólica me mostrava vários pontos que me descartavam da condição de alcoólico, pois eu era jovem (22 anos), não bebia diariamente, havia recém me formado com certo êxito num curso superior, não havia perdido família, nem gostava de beber cachaça. Todas essas situações divergiam da maioria dos membros que eu escutara.

Na minha peregrinação de tentar ajudar meu pai, fui com ele em mais uma reunião, só que agora em outro grupo de A.A. A reunião iniciou­se e eu prestei bastante atenção nos depoimentos dos companheiros e ouvi um companheiro jovem declarar­se alcoólico. Porém, o que me marcou mais foi um senhor, com cerca de 70 anos, que foi falando da sua vida, que havia pouco tempo que ingressara na Irmandade, que estava bem, mas que sentia muito por não ter conhecido A.A. quando mais novo. Parecia que aquele senhor estava falando ao 

meu ouvido, e que cada palavra que ele dizia, se dirigia especificamente a mim. Percebi que Deus o utilizou para abrir a minha mente, para eu me aceitar como alcoólico e que não precisava chegar a uma situação de profundo desespero para encarar que eu realmente tinha problemas com o álcool. Assim sensibilizado por todo esse contexto espiritual, eu ingressei em A.A., convicto que eu tinha problema com o álcool. Talvez um alcoólico em potencial, mas que não precisaria passar por mais dificuldades além das que eu havia passado, para encontrar a sobriedade.

Deus havia aberto Seus braços de Pai bondoso para acolher­me. Ele não perguntava quantos anos eu tinha, o único requisito que eu necessitava era o desejo de abandonar a bebida, e isso eu tinha. Saí daquela reunião junto com meu pai, e parecia que eu estava nas nuvens. Aquela situação era um grande presente de Deus para mim, sou grato até hoje por A.A. me aceitar como sou, jovem, com o desejo de abandonar a bebida.

Como a doença do alcoolismo me cegou, colocando uma venda nos meus olhos, dificultando a visão de mim mesmo como um alcoólico!

Agora compreendo o meu descontrole frente à bebida e que o meu contato com ela sempre trouxera problemas, porém, ver­me como um alcoólico era algo que ia contra o meu ego, era uma auto­imagem que eu não queria ter; hoje aceitar­me como realmente sou, me faz muito bem.

Agradeço a Deus por estar em recuperação evitando o desenvolvimento da doença, que poderia ter me levado à morte.

Durante esta caminhada, em recuperação, tive várias experiências interessantes, como a incerteza de meus pais e familiares frente a minha condição de alcoólico. Meu pai chegou a dizer que eu não precisava participar de A.A. por causa dele, que eu não era alcoólico. Ele voltou a beber após afastar­se das reuniões; permaneceu longe de A.A. por cerca de dois anos. Eu, graças a Deus, continuei participativo da Irmandade, vivenciando os passos, respeitando as tradições e procurando realizar serviços até que, em junho de 2002, eu tive a grata satisfação de estar novamente com meu pai dentro de A.A.

Daquele momento em diante, venho apadrinhando­o e presenciado sua dedicação pela recuperação.

Hoje ele já compreende que realmente eu não estou em A.A. porque tenho um pai 

alcoólico, e sim, porque eu sou um alcoólico.

Em certa reunião um companheiro nosso, pai de um amigo meu, e que me conhecia desde criança, também disse que eu não era alcoólico. Outras pessoas que não fazem parte de A.A. me disseram que eu era muito jovem, e que eu não precisava ser tão radical em não beber nenhum gole, mas eu bem sei dos meus problemas com a bebida, e que realmente preciso evitar o primeiro gole e recuperar­me da doença através do programa de doze passos. No meu ponto de vista, essas conclusões de certas pessoas, alcoólicas e não, sobre mim, referente ao alcoolismo, refletem, de certa forma, uma visão da nossa sociedade em geral, ainda distorcida sobre o alcoólico. De que é somente aquele que está no mais profundo estágio do alcoolismo, com muitas perdas, quase à beira da loucura ou da morte. Esquecem­se, que mesmo estes, não nasceram assim. Que essa condição foi galgada, dia após dia, utilizando o álcool de forma progressiva, e quase todos os alcoólicosnão começaram diretamente na sarjeta. Entretanto essa visão tem se modificado, dentro e fora de A.A. As pessoas têm reconhecido a natureza progressiva da doença, além de compreenderem que ela não escolhe sexo, raça, idade, posição sócio­econômica­cultural e que a Irmandade de A.A. está de portas abertas para todo aquele que deseja abandonar a bebida.

Tenho visto cada vez mais jovens dentro das salas e espero estar contribuindo de alguma forma para que o jovem se sinta cada vez mais à vontade na Irmandade, participando de reuniões em vários grupos e apadrinhando alguns jovens.

Deixo aqui o meu grande abraço a todos os companheiros e reitero: A.A. é para todos, inclusive os jovens!

Muita sobriedade e serenidade!

Anônimo

(Vivência ­ Mai/Jun. 2004)

O que aconteceu?

Esta pergunta está sendo feita por muitos alcoólicos ultimamente. O que aconteceu com a nossa taxa de sucesso? 30 a 40 anos atrás, estávamos segurando 75% ou mais dos alcoólicos que vinham buscar ajuda conosco. Hoje, 

não estamos retendo nem 5%. O que aconteceu?O que aconteceu com aquele Grupo de A.A. maravilhoso de 20, 30 ou 40 anos atrás? Normalmente havia 50, 75, 100 ou mais pessoas em cada reunião. Agora é só história; desapareceu! Cada vez mais grupos estão fechando as portas todo dia. O que está acontecendo?Ouvem­se muitas ideias, opiniões e justificativas quanto ao que está acontecendo, mas as coisas não estão melhorando. Pelo contrário, continuam a piorar. O que está acontecendo?

Bill W. escreveu:

"Nos anos que se seguirão, A.A. certamente cometerá erros. A experiência nos ensinou que não devemos ter medo de fazê­los, desde que continuemos dispostos a admitir nossas falhas e a corrigi­las prontamente. Nosso crescimento como indivíduos tem dependido deste salutar processo de tentativas e erros. Também acontecerá ao nosso crescimento como Irmandade.Lembremo­nos sempre que qualquer sociedade de homens e mulheres que não puder corrigir seus próprios erros certamente entrará em declínio senão em colapso. Tal é o preço universal pelo fracasso de continuar a crescer. Assim como cada membro de A.A. deve continuar a fazer seu inventário moral e a se corrigir, também desse modo deve a sociedade, se é que queremos sobreviver e se pretendemos servir bem e com eficiência." (A.A. Atinge a Maioridade)Com tão pouca sobriedade e o contínuo fechamento de grupos de A.A., torna­se evidente que nós não temos estado dispostos a admitir nossas falhas e a corrigi­las prontamente.Parece­me que o Delegado da Área do Nordeste do Ohio. Bob Bacon, identificou nossas falhas e erros quando falou a um grupo de AAs em 1976. Disse ele, em síntese, que não estamos mais mostrando ao recém­chegado que temos uma solução para o alcoolismo. Não estamos falando para eles do Livro Azul e o quão importante ele é para a nossa recuperação a longo prazo. Não estamos falando para eles sobre as nossas Tradições e o quanto elas são importantes para cada um dos grupos e para Alcoólicos Anônimos como um todo. Pelo contrário, estamos usando nossas reuniões para contar mazelas da ativa, discussão de problemas pessoais, ideias e opiniões sobre o "meu dia", ou o "nosso modo".Tenho estado aqui a já alguns anos, e refletindo sobre o que Bob Bacon falou, parece que nós deixamos os recém­chegados convencerem os antigões de que eles novatos tinham uma ideia melhor. Eles vieram de 30 ou mais dias passados em centros de tratamento onde lhes tinha sido ressaltada a necessidade que tinham de falar dos problemas deles nas Sessões de Terapia em Grupo. Foi­lhes dito que não fazia diferença saber qual era o verdadeiro problema deles, pois A.A. 

tinha o "melhor programa". Foi­lhes dito que eles deveriam ir a uma reunião de A.A. todo dia durante os primeiros 90 dias do tratamento. Foi­lhes dito que não deveriam tomar quaisquer decisões importantes durante o primeiro ano de sobriedade. E o que mais lhes foi dito vai mais adiante, a maior parte nada tendo a ver com o programa de Alcoólicos Anônimos.Aparentemente, o que lhes foi dito pareceu suficiente para os membros de A.A. que já estavam aqui quando os pacientes de Centros de Tratamento começaram a aparecer nas reuniões. E muitos membros de A.A. gostaram das ideias desses centros porque eles proporcionavam um lugar onde podiam descarregar um bebedor com problemas principalmente se ele tivesse como pagar. Isso eliminava algumas das inconveniências com que já havíamos sido incomodados antes e que nos fazia despejar suco de laranja e mel ou até uma dose de bebida na garganta de um alcoólico em delírio para ajudá­lo a desintoxicar­se.Quando o A.A. se tornou bem sucedido, as pessoas que falavam nas reuniões eram alcoólicos em recuperação. Os alcoólicos que ainda não estavam em recuperação e sofredores apenas escutavam. Após ouvir o que era preciso fazer para entrarem em recuperação, o recém­chegado tinha que tomar uma decisão: "Você vai por em prática os Passos para se recuperar ou vai voltar lá e continuar a beber?"Se eles dissessem que estavam dispostos a "fazer o que fosse necessário", recebiam apadrinhamento, um Livro Azul, e começavam um processo de recuperação pela prática dos Passos e experimentando as Promessas que resultam desse modo de ação.Este processo mantinha o recém­chegado ocupado em trabalhar o programa com os outros e continuar o crescimento da Irmandade. Nossa taxa de crescimento era de aproximadamente 70% e o número de membros sóbrios de Alcoólicos Anônimos dobrava a cada 10 anos.Com o crescimento rápido da Indústria do Tratamento, a aceitação do nosso êxito com alcoólicos pelo sistema judicial e endosso dele pelos médicos, psiquiatras, psicólogos etc., todo tipo de gente vinha para o A.A. em número que jamais imagináramos possível. Até sem compreendermos o que estava acontecendo, nossas reuniões começaram a mudar daquelas que se focavam na recuperação do alcoolismo para as de "discussão ou partilha" que convidavam a todos para dizerem o que lhes viesse à cabeça. As reuniões evoluíram de um programa de crescimento espiritual para as do tipo de terapia em grupo, em que passamos a ouvir cada vez mais a respeito dos "nossos problemas" e cada vez menos sobre o Programa de Recuperação do Livro Azul e da preservação da Irmandade por adesão às nossas Tradições.E o que resultou disso tudo? Bom, nunca tivemos tantos virem a nós pedindo ajuda. Mas também nunca tivemos uma taxa de crescimento tão baixa e que 

agora vai baixando cada vez mais. Pela primeira vez em nossa história, Alcoólicos Anônimos está perdendo membros mais rápido do que chegam recém­chegados, e nossa taxa de sucesso está no incrível mínimo. (Estatísticas dos Escritórios Intergrupais de algumas das maiores cidades indicam que menos de 5% daqueles que manifestam o desejo de parar de beber conseguem fazê­lo por mais que 5 anos; muito longe mesmo dos 75% constatados por Bill W no Prefácio da Segunda Edição.) A mudança no conteúdo de nossas reuniões está se provando uma armadilha fatal para o recém­chegado e também, para os grupos que passam a depender desse tipo de reuniões de "discussão e participação".Porque isso? A resposta é muito simples. Quando as reuniões eram abertas para os alcoólicos que precisavam de ajuda e para os não­alcoólicos, dava­se­lhes oportunidade para expressar suas ideias, opiniões, arejar seus problemas e contar como lhes tinha sido dito para fazer nos lugares de que vinham, e o recém­chegado confuso ficava ainda mais confuso com a diversidade de informação que lhe era apresentado. Cada vez maior número era encorajado a "somente participar de reuniões e não beber", ou pior ainda, "ir a 90 reuniões durante 90 dias". Não se falou mais ao recém­chegado para seguir os Passos ou então voltar a beber para ver onde ia dar. Na verdade, passamos a dizer: "Não se apressem a trabalhar os Passos. Deixem que eles entrem em você." Os alcoólicos que participaram da compilação do Livro Azul não esperaram. Eles começaram a trabalhar os Passos desde os primeiros dias após seu último gole.Agradeçamos a Deus que há aqueles em nossa Irmandade, como o Joe, o Wally ou o Charlie etc., que reconheceram o problema e começaram logo a fazer algo a respeito. Eles estão redirecionando o foco de volta ao Livros Azul. Sempre ficaram alguns grupos que não se deixaram levar pela tendência do tipo terapia em grupo e se mantiveram firmes no seu comprometimento de levar uma única mensagem ao alcoólico que sofre. Esta é dizer ao recém­chegado que "nós tivemos um despertar espiritual como resultado da prática destes Passos e se você quiser se recuperar, lhe designaremos um padrinho que já se recuperou e que o guiará pelo caminho que os primeiros 100 primeiros membros abriram para nós."Alcoólicos em recuperação começaram a fundar grupos que tem um único propósito e informam ao recém­chegado que até que ele tenha adotado os Passos e entrado em recuperação, não poderá dizer nada nas reuniões. Irão ouvir os alcoólicos em recuperação, praticarão os Passos, irão se recuperar e então tentarão passar suas experiências e conhecimento a outros que estejam procurando o tipo de ajuda que Alcoólicos Anônimos proporciona.À medida que esse movimento se expande, como está fazendo, Alcoólicos Anônimos voltará a ter êxito em fazer a única coisa que Deus determinou para nós, e que é ajudar o alcoólico que ainda sofre a se recuperar, se já se decidiu 

que quer o que nós temos e para conseguir isso, está disposto ao que for necessário, aderir e praticar os Doze Passos em suas vidas e proteger nossa Irmandade honrando e respeitando nossas Doze Tradições.Existe uma tendência para colocar a culpa por nossas dificuldades no colo da industria do tratamento e nos profissionais. Eles fazem o que fazem e isso não tem nada a ver com o que nós em Alcoólicos Anônimos fazemos. Isso é assunto deles. Não é lá que se deve colocar a culpa ou a transgressão da nossa Décima Segunda Tradição.O verdadeiro problema é de que os membros de Alcoólicos Anônimos que estavam aqui quando esses pacientes de fora começaram a vir à nossa Irmandade, não os ajudaram a entender que o nosso programa já estava firmemente comprovado desde Abril de 1939.E que as linhas guia para a preservação e crescimento de nossa Irmandade foram adotadas em 1950. Que esses novatos precisavam começar a praticar o Programa de Doze Passos de Alcoólicos Anônimos tal e qual nos foi dado. Que até que o tivessem feito e se recuperado, eles não tinham nada para dizer que precisasse ser ouvido por qualquer outro além do seu padrinho. Mas isso não aconteceu.Pelo contrário, os antigões falharam em sua responsabilidade para com o recém­chegado, não o informando da verdade vital: "Raramente vimos fracassar a pessoa que nos tenha seguido nesse caminho. Aqueles que não se recuperam são pessoas incapazes de fazê­lo ou que não se dispõe a se entregarem inteiramente a este programa simples."Temos permitido a alcoólicos e a não alcoólicos sentarem em nossas reuniões e falarem de seus problemas, suas idéias e opiniões. Estamos saindo do "Raramente vimos fracassar" para o "Raramente vemos uma pessoa se recuperar".E é onde estamos hoje. Tivemos 30 anos de inacreditável êxito por seguirmos os ditames do Livro Azul. E estamos tendo 30 anos de fracasso desalentador por nos dispormos a ouvir todos falarem de seus problemas. Pelo menos agora temos algo a comparar.Agora sabemos qual é o problema e sabemos qual é a solução. Infelizmente, não fomos capazes de prontamente corrigir as falhas que foram geradas pelo que pode parecer a ingestão de grandes doses de apatia e complacência. O problema que estamos vivenciando é o de desnecessariamente matar alcoólicos. A solução? O Poder maior que nós mesmos, que nós encontramos através das promessas de recuperação dos Doze Passos para aqueles que se dispõe a praticá­los conforme as guias claras e objetivas do Livro Azul.Você quer ser uma parte do problema ou parte da solução? Simples, mas não fácil. Vai ser preciso pagar um preço. 

OPÇÕES

Com freqüência podemos ouvir em nossos Grupos, depoimentos que mencionam a declaração: “Agora eu tenho opção”.Penso que seria importante considerar que tal declaração no tempo de “agora” implica em admitirmos que “antes, na ativa, não tínhamos opção”.Podemos dizer que na ativa, tudo que tínhamos era “beber” ou “beber”.Vejo dois pontos relevantes: determinismo e livre arbítrio.Num extremo, o determinismo faz pressupor nossa existência dentro de um caminho totalmente traçado do qual não podemos desviar. É um Destino em todos os detalhes.No outro extremo, o Livre Arbítrio pleno sendo aplicado a todas as situações de nossa vida, como se fossemos donos absolutos da mesma.Em Alcoólicos Anônimos, aprendi muito cedo o aparente contraste entre entregar plenamente a minha vida a Deus e, ao mesmo tempo sentir a inexistência de qualquer obrigatoriedade de buscar uma reformulação.Não foi difícil considerar a coexistência destas duas forças: determinismo e livre arbítrio, inicialmente em relação ao alcoolismo, meu principal problema.É ele conseqüência de um “DETERMINISMO”.Mas tenho em minhas mãos a possibilidade de não lutar para vencê­lo e sim, dele me isolar já que meu “LIVRE ARBÍTRIO” a isto me faculta.São sábios os textos de A.A. quando nos Passos e nas Tradições apenas me sugerem caminhos, jamais existindo uma coerção para praticá­los.Nas Garantias tenho assegurada minha permanência na Irmandade já que não importa o que faça, não posso dela ser privado.Por isto, tenho que me rejubilar por hoje ter as opções indicadas pelo meu “LIVRE ARBÍTRIO”.Não mais estou preso, circunscrito ao “DETERMINISMO” do “Beber ou beber”.

Guaracy/Petrópolis/RJ

Vivência nº107 – Mai./Jun./2007.

A maior dádiva de todas

SAULO F.

Quando este tema me foi sugerido para ser apresentado no “VI Encontro com 

Veteranos” do Grupo Cachoeira da Paz, em Cachoeira do Campo, Ouro Preto/ MG, temi pelo êxito deste assunto, pois ele abria oportunidade para um juízo de valor, o que o tornava bastante subjetivo. Apelei para o companheiro que dirigia o encontro, mas, naquele momento, ele não podia resolver minha dúvida. Só tempos mais tarde, ele me informaria que a idéia havia sido desenvolvida nolivro “A linguagem do coração”. Mas nesse entremeio de tempo, numa reunião informal de AA, já havia sugerido, numa espécie de balão de ensaio, a pergunta:qual é a maior dádiva de todas? As respostas, como era de se esperar, foram as mais variadas possíveis. Todas apropriadas, diga­se a bem da verdade, mas com uma peculiaridade que não me agradava. Ou seja, para o objetivo que tinha em mente, para cumprir a missão que me fora destinada, senti­as incompletas.Continuei pensando sobre o assunto, e uma luz brilhou. Quem sabe, especulei comigo mesmo, a maior dádiva não seria também um grande sacrifício? Então me veio à mente a abstinência alcoólica, porém, afastei­a logo de imediato, por ser óbvia e exclusivamente do nosso meio. Por este fato, em nada estaria acrescentando, apenas ruminando uma idéia que todos sabemos, especialmente em um encontro de ecom veteranos. O tempo passava e temas e mais temas continuaram desfilando em minha tela mental, cada um há seu tempo, tentando se impor como o preferido.Mas, repentinamente, por uma dissociação de idéias, ou melhor, por uma associação de idéias ao avesso, uma frase pulou na minha frente sem a menor cerimônia. Vou explicar: creio ter sido eu quem, na Grande Belo Horizonte, pela primeira vez, apresentou, digamos assim, esta mal­bendita frase aos companheiros. O certo é que não me recordo de tê­la ouvido antes em salas de AA. Nada de especial nisto. O problema é que algo nela me chamou a atenção. Com ela, me debati muitas vezes. Impossível ignorá­la. Ainda que se discordasse dela, teríamos que dizer, como os italianos, que poderia não ser verdadeira, mas era bem bolada! A partir daquele momento em que lhe dei à luz, em nosso meio, tal comouma criatura estranha, ela ganhou vida própria e passei a presenciá­la ser dita e redita inúmeras vezes. Era de fato poderosa na sua expressividade! Mas que frase seria essa que veio como intrometida em meu universo mental, num momento em que apenas esperava por atinar com uma resposta para o tema deste trabalho?E o que era ainda mais surpreendente, é que ela mais serviria, no caso, como anticlímax, do que como protagonista de um elenco de bênçãos, dentre as quais eu deveria escolher uma. Sendo assim para que eu a adotasse como parte de meu trabalho, teria de contraditá­la depressa, pois apenas serviria como contraponto, nunca como uma solução afirmativa. Ao lado desta dificuldade, outra 

também havia, qual seja a de que eu deveria me revestir de uma razoável ousa­dia para discordar do filósofo, pai da idéia. E olha que, além de ter sido um dos fundadores da escola filosófica, a que passou a pertencer, foi indicado com mérito na sua carreira de escritor para o cobiçado prêmio Nobel deliteratura!

Contudo, antes de revelar o conteúdo da frase que tanto in­cômodo me causou, vamos dar um passeio, ainda que ligeiro, pelos Passos de AA, com especial ênfase no texto do Passo Seis: “Prontificamo­nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter”. (Entre parênteses, para lembrar que o título do nosso trabalho é: “A maior dádiva de todas” e, apenas aparentemente, estamos fugindo deste encargo).De todos os passos, o Sexto é o que mais ambigüidade revê­la. Ambigüidade no sentido de estar em cima do muro, e, esta vi­são longe está de ser pejorativa. Uma outra pausa, e voltemos no tempo, para nos lembrar­ mos dos chamados Grupos de Oxford e de seus famosos Absolutos. Honestidade absoluta, Verdade Absoluta, e assim por diante. Nesta visão pretérita do que foi o berço do AA, recordemo­nos de que houve, naqueles tempos idos, um afastamento recíproco, de parte a parte, entre os líderes do movimento Oxfordianos e os bêbados que lá chegavam, naquele reduto evangélico. Os bêbados, porque não se sujeitavam as regras rígidas dos chamados Absolutos, e os lideres do movimento Oxfordianos, porque conosco se desencantaram, uma vez que sempre voltávamos a beber. Isto não significa que um lado ou outro estava errado, ou ainda que ambos os lados estivessem equivocados. Na verdade, os dois tinham sua parcela de razão. Ambos estavam corretos, mas em momentos diferentes. Os bêbados, porque precisavamprimeiramente da linguagem do coração, esta poderosa estratégia deconfrontação, irrespondível para os bebedores problemas, que ainda teimam em defender a bebida em suas vidas. Para que pudessem deter a marcha do alcoolismo, a rendição era e continuaria a ser imprescindível. Careciam ainda da informação médica que estava por vir, na sua forma atual, já que, àquela época, o alcoolismo era classificado entre as doenças mentais, e, pelo grande público,éramos considerados um bando de marginais e de desavergonhados. Os dois grupos, como se vê, não se encontraram no tempo. Quanto aos preceitos, ditos Absolutos, só mais tarde, talvez, tivéssemos condições de nos deliciarmos com eles, sem risco de in­digestão.Pois bem, a meu ver, o sexto passo é uma tentativa de, na prática, acomodar esses interesses aparentemente conflitantes: o saudosismo dos Oxfordianos, que, a meu ver, cada membro de AA deveria sentir, e a espiritualidade popular, por nós adotada, que promete muito e realiza pouco. Eu próprio brinco de melhorar já faz 

muito tempo.Reparem nisto: quando o Passo sugere “prontificamo­nos inteiramente” (grife­se o inteiramente) “a deixar que Deus removesse todos esses defeitos” (grife­se também o todos), ele é Oxfordianos na sua natureza. Também quando ele afirma que “este é o passo que separa os adultos dos adolescentes” (e devemos entender esta maturidade subjacente à figura dos adultos, não só como de caráter emocional, mas igualmente espiritual), a sua índole Oxfordiana manifesta­se incontestável.E, um terceiro exemplo, no meio de outros tantos: nunca devo dizer, ensina o Passo, que a tal ou qual defeito “jamais renunciarei”. Aqui, mais uma vez, se revela indisfarçável, o seu vezo Oxfordianos.Mas, indo e voltando, para ver o outro lado da questão, quando o sexto passo concede que na prática do viver diário, a remoção dos defeitos oferece dificuldades, neste momento está prestando uma homenagem aos desertores de ontem e de hoje, fujões eternos da prática dos Absolutos. Ora, aprendendo com os caçadores (certamente foram eles que inventaram o ditado), “devemos fugir é da onça, não do rastro da onça”. Esse pessimismo, ou seria um tipo de acovardamento, não é senão ele quem tem moldado pensamentos, como aquele queprometemos revelar, daqui a pouco, apesar de ter sido expressado por um gênio.

Introduzamos ainda, para maior clareza, o que se sugere: na tarefa, da assim chamada reformulação, temos, como diz o Sexto Passo, a tendência para fugir dos engarrafamentos psicológicos, das tarefas que oferecem maior dificuldade.Contentamo­nos em fugir pelas tangentes, em comer pelas beiradas do prato, escapulindo das questões dolorosas. No entanto, atenção agora, por favor, pois, como diziam os antigos, é “aqui que a porca torce o rabo”. É nesta encruzilhada, fabricada por nós, desenhada pelo medo, que se situa a real compreensão do problema. A tal da felicidade, a bendita paz de espírito, a tão convocada serenidade da nossa prece, em reuniões e fora delas, só aparece quando diante desses pontos de estrangulamento, passamos a enfrentá­los corajosamente. Como receita, se me permitem receitar não sendo médico, nemhonorável filósofo, é largar de mão a desconfiança e acreditarmos que oresultado da superação do defeito de caráter, da imperfeição, do pecado – seja lá que nome se queira dar a essas mazelas ­ é melhor que a satisfação mórbida do defeito tido como insuperável. É mais ou menos como o prazer que dá a coceira do bicho­de­pé. Contudo, não ignoramos o fato que um pé sadio, afinal, é melhor do que um pé doente. No campo espiritual, essa distinção vem embaçada pelaneblina do EGO. Não é tão simples de enxergar, como no exemplo do bicho­de­pé.

Mas quem quer ser tolo? Ninguém, não é mesmo? Chegaremos lá! Temos que ultrapassar nossos limites, sempre e sempre. Aí então, Deus que é luz toma conta do cenário. Invade nossa alma e nos enche de beatitudes. Detalhe, que tem passado despercebido freqüentemente (tradutor, traidor – ainda os italianos) é o fato de que a frase original, adotada pela Irmandade, não é, de forma alguma, o, à La brasileira, “não sou santo, nem candidato a santo”, mas sim “não queiraser santo tão depressa”. Após essa peregrinação, que se fez necessária pelos Passos de AA, tratemos de nos aproximar com mais velocidade da solução pessoal dada por este companheiro ao que poderíamos objetivar como se fosse uma pergunta que está implícita ao tema.Em sua opinião, Saulo, afinal, qual é a maior dádiva de todas? Os companheiros, naturalmente, se lembram de que, para respondê­la, iríamos contrariar frontalmente o pensamento de abalizado filósofo. Rapidamente, por questão de honestidade e justiça, devemos informar que o contexto em que o ilustre francês cunhou tal frase, ele tinha seu cabimento. Fazia sentido lá, quando e onde foi escrita, e o raciocínio do autor era coerente com o drama que sua imaginação desenvolveu. Licença poética. Coisa de artista. A frase está contida numa peçade teatro intitulada “Entre quatro paredes”. No original “Huis Seus”. Mas, apesar dessas considerações, não vou me acovardar agora no final. Espiritualmente ela não serve. Está completamente errada e, por um raciocínio invertido, é a solução da pergunta ­ tarefa. Não se surpreendam, mas lembram­se qual é ela?Claro! Não? Depois de tanto a repetirmos? 

Portanto, agora, depois que justificamos o ilustre filósofo, a quem, em assim fazendo, acabamos por prestar­lhe a nossa devida e respeitosa homenagem, denunciemo­lo, ainda que amistosamente. Cuidamos de uma afirmação que nos veio do filósofo existencialista Jean Paul Sartre e já falecido, que defende o ponto de vista que “L’enfer sont les autres.“ “O inferno são os outros”. Êta desculpa boa, “sô”! O inferno são os outros. Será que é necessária explicação? Vá lá!Entre outras coisas, esta frase quer dizer que tudo que me acontece, por culpa dos outros aconteceu. Ou ainda, que não devo interagir com os semelhantes, pois todos não passam de empecilhos a minha volta, de paredões a impedir a minha livre caminhada. Pensando bem, diante de tamanho ab­surdo, só posso ser mais generoso ainda com o inteligente Sartre, admitindo que tenha se expressado deforma irônica, debochada! Declaro neste momento, amigo Sartre, que vou reescrever sua frase, que fica assim: Os outros não são nosso inferno, mas sim a grande oportunidade que Deus nos dá, visando o aperfeiçoamento espiritual do “homo sapiens”. Ou seja, numa frase mais enxuta:

­ Chegamos ao céu através dos outros ­ Viram no que deu? Voltamos aos idos da década de 30. Aos Oxfordianos. Não me resta alternativa senão, diante das atuais circunstâncias, agradecer a eles, a quem, um dia, no passado, eu despreze. Relevem nossa falha, meus irmãozinhos do grupo Oxford! É claro, é verdadeiro que somente o amor absoluto, que naquela época tentaram me ensinar, é que fornece o passaporte PA­ra a felicidade. A literatura de AA usa a expressão “pedra de toque”, para explicar situação parecida com esta. Quando me ter capaz de pagar o mal que porventura me fazem com a moeda tilintante do bem, o sorriso de Deus me contagia e abençoa minha alma aflita. Vejo, igualmente, que, se na época do meu alcoolismo, a única eterrível saída era abandonar a bebida, agora no campo espiritual tenho que, a todo custo, viver o amor em todos os níveis. No pensamento, no coração e na ação. Não dá para interromper o programa. “Não dá para quebrar a ficha”! Em termos radicais, posso dizer que aqui está o ponto de estrangula­mento de todo e qualquer ser humano, o maior engarrafamento emocional de cada um de nós. Tal como no exemplo do bicho­de ­pé, há que se valorizar é o pé sadio. Apesar de ser esquisitamente agradável odiar quem nos odeia, ter má vontade com aqueles a quem invejamos, guardar rancor de quem nos prejudica, temos que superar essa tolice. É como no salto de obstáculo. Quando estivermos do lado de lá, saberemos que a satisfação pela vitória é definitivamente maior e gratificante do que as dificuldades ultrapassadas, transcendidas. Há que se acreditar que o amor aopróximo, especialmente para com aqueles a quem é difícil amar, traz­nos uma recompensa quase inimaginável. Esta regra de ouro é condição sem a qual nada feito. Se saltarmos esta lição, ainda que pratiquemos coisas extraordinárias para nosso aprimora­mento, estaremos nos enganando. Conclusão, para este companheiro, que a vós se dirige nesta cachoeira de paz, a maior dádiva de todas não é ser inteligente, ser amado, ou ser o número um. A maior dádiva de todas é a possibilidade que Deus nos dá de amarmos o próximo incondicionalmente, sem nenhuma exigência, ou interesse. Apenas amar. 

Pode ajudar muito se entendermos a natureza da má­vontade para com os outros, se compreendemos que de alguma forma, estamos condicionados a ela. Nossa reação de desagrado, de antipatia, de desforço psicológico foi aprendida e vem sendo reforçada constantemente. Passemos a quebrar os hábitos antigos deantipatizarmo­nos com pessoas e circunstâncias. Para evitar situações que tais, siga seus movimentos emocionais, sem perdê­los de vista. Descarte aqueles que não são generosos e substitua­os gradativamente, mas com rigor, até que um tempo chegará em que valores mais criativos, revestidos de bondade, tornarão 

nosso ambiente mental harmonioso e altruísta. É mais ou menos por aí, que começamos, de certa forma, a ser senhores de nosso destino.

Alcoólicos Anônimos, começo e crescimento...(Bill W.) Há 14 anos, realizei uma conferência diante da Sociedade Médica do Estado de New York, por ocasião de sua reunião anual, Para nós, de Alcoólicos Anônimos, esse foi um acontecimento histórico. Representou a primeira oportunidade em que uma das grandes Associações Médicas dos Estados Unidos obteve informações corretas sobre a nossa Irmandade. Os médicos, naquele dia, fizeram mais do que tomar conhecimento a nosso respeito. Eles nos receberam com os braços abertos e autorizaram a publicação de nossa palestra sobre A.A. na sua revista especializada, chamada Journal. Milhares de exemplares dessa conferência de 1944, desde então, têm sido distribuídos ao redor do mundo, convencendo os médicos de todas as partes sobre o valor de A.A. Somente Deus sabe o que essa percepção e atitude generosa têm representado para incontáveis alcoólicos e suas famílias. A profunda compreensão daqueles membros da Sociedade Médica Sobre Alcoolismo da cidade de New York, movidos pelo espírito de generosidade, convidaram­me a vir aqui esta noite e com o sentimento de eterna gratidão é que trago os cumprimentos de 250 mil alcoólicos recuperados, que compõem agora a nossa Irmandade, em cerca de 7 mil Grupos, aqui e no exterior.* Talvez a melhor maneira para compreender os métodos e resultados de A.A. seja dar uma olhada nos seus primórdios, no tempo em que a medicina e a religião assumiram uma benéfica parceria conosco. Essa parceria constitui agora o alicerce do sucesso que temos tido desde então. Seguramente, ninguém inventou Alcoólicos Anônimos. A.A. é uma síntese de atitudes e princípios oriundos da medicina e da religião. Nós, alcoólicos, simplesmente alinhamos essas forças, adaptando­as aos nossos propósitos como Irmandade, de forma que funcione com eficácia. A nossa contribuição foi restabelecer o elo perdido na cadeia da recuperação, a qual agora é tão significativa e promissora para o futuro. Poucas pessoas sabem que as primeiras raízes de A.A. encontraram solo fértil há 30 anos num consultório médico. Dr. Carl Jung, esse grande pioneiro da psiquiatria, estava falando com um paciente alcoólico. E, de fato, aconteceu o seguinte: O paciente, um preeminente homem de negócios americano, havia percorrido o caminho típico do alcoólico. Havia esgotado as possibilidades da medicina e da psiquiatria nos Estados Unidos e veio procurar o Dr. Jung como último recurso. Carl Jung havia tratado dele durante um ano e o paciente, a quem chamaremos de Sr. R., sentia­se confiante de que haviam sido descobertas e removidas as causas profundas da sua compulsão para beber. Todavia, em pouco tempo, após receber alta do Dr. Jung, voltou a embriagar­se. Em estado de desespero, voltou ao consultório de Dr. Jung e perguntou qual era a sua real situação, obtendo a resposta. Em 

essência, o Dr. Jung lhe disse: "Durante algum tempo, após a sua chegada aqui, acreditei que você seria um daqueles raros casos no qual poderia ocorrer uma completa recuperação. Mas devo dizer­lhe francamente que nunca vi um único caso de recuperação através da psiquiatria em que a neurose fosse tão severa como é em você. A medicina fez tudo o que podia fazer. Essa é a situação." Uma profunda depressão tomou conta do Sr. R., e ele perguntou: "Não há exceção? Isso é realmente o fim da linha para mim?" "Bem", respondeu o Dr. Jung, "há algumas exceções, muito poucas. Aqui e ali, de vez em quando, os alcoólicos têm tido o que chamam de experiências espirituais vitais, que parecem ser uma espécie de grande rompimento ou alteração, seguida de uma reorganização emocional. Idéias, emoções e atitudes, as quais constituíam as forças motrizes desses homens, são posta de lado e um novo elenco de conceitos e propósitos começa a dominá­los. Tentei produzir algumas dessa alterações emocionais dentro de você. Com alguns tipos de neuróticos, o método que emprego dá bons resultados, mas nunca obtive êxito num alcoólico com o seu perfil." "Mas", protestou o paciente, "eu sou um homem religioso e ainda tenho fé". O Dr. Jung respondeu: " A fé religiosa comum não é suficiente. Estou me referindo a uma experiência transformadora, uma conversão espiritual, se preferir assim. Somente posso recomendar­lhe que se coloque num ambiente religioso de sua escolha; que reconheça sua impotência pessoal e que se entregue ao Deus que você pensa existir. O raio de um despertar espiritual poderá atingi­lo. Terá que tentar isso, é a sua única saída". Assim falou um grande e humilde médico. Para o futuro de A.A., essas palavras foram decisivas. A ciência havia diagnosticado que o Sr. R. estava virtualmente desenganado. As palavras do Dr. Jung haviam­no atingido fundo, produzindo uma grande deflação do ego. Essa deflação profunda é atualmente a pedra angular dos princípios de A.A. Ali, no consultório do Dr. Jung, esse princípio foi aplicado pela primeira vez em nosso benefício. O paciente, Sr. R., escolheu o Grupo Oxford da época como sua instituição religiosa. Terrivelmente castigado e quase sem esperança, entrou em grande atividade no grupo. Para sua alegria e assombro, prontamente cessou sua obsessão por bebidas. Retornando à América, o Sr. R. encontrou um velho amigo de escola, um alcoólico crônico. Esse amigo ­ a quem chamaremos de Ebby ­ estava prestes a ser internado num hospital psiquiátrico estadual. Nessa conjuntura, um outro elemento vital foi adicionado à síntese de A.A. O Sr. R., alcoólico, conversou com Ebby, também um alcoólico e companheiro de sofrimento. Essa identificação profunda veio a ser o segundo princípio fundamental de A.A. Através dessa ponte de identificação, o Sr. R. transmitiu o veredicto do Dr. Jung de como a maioria dos alcoólicos era desenganada, do ponto de vista médico e psiquiátrico. Ele então apresentou Ebby ao Grupo Oxford, onde meu amigo rapidamente ficou sóbrio. Meu amigo Ebby conhecia bem minha situação. Eu havia percorrido o itinerário 

familiar. No verão de 1934, meu médico, William D. Silkworth, deu­se por vencido e desenganou­me. Ele foi obrigado a me dizer que eu era vítima de uma compulsão neurótica para beber; que nenhum tratamento, educação ou força de vontade poderia detê­la. Acrescentou ainda que eu era vítima de uma desordem física que poderia ser de natureza alérgica; uma disfunção física que provocaria dano cerebral, a insanidade ou a morte. Aqui estava novamente o deus da ciência ­ que era então meu único Deus ­ esvaziando­me o ego. Eu estava pronto para receber a mensagem que em breve viria por intermédio do meu amigo alcoólico, Ebby. Ele veio à minha casa num dia de novembro de 1934 e sentou­se à mesa da cozinha enquanto eu bebia. "Não, obrigado", não queria nenhuma bebida, disse­me. Muito surpreso, perguntei­lhe o que havia acontecido. Olhando­me de frente, disse: "Tenho religião". Isso foi demais: uma afronta à minha formação científica. Tão polidamente quanto possível, perguntei­lhe que tipo de religião ele tinha. Então me contou de suas conversas com o Sr.R. e como o alcoolismo realmente era desesperador, segundo o Dr. Carl Jung. Acrescentando­se ao veredicto do Dr. Silkworth, esta era a pior notícia possível. Fui duramente atingido. Em seguida, Ebby enumerou os princípios aprendidos no Grupo Oxford. Embora aquela boa gente às vezes lhe parecesse agressiva demais, não poderia encontrar nenhuma fala na maioria dos seus ensinamentos básicos. Afinal. esses ensinamentos tornaram­no sóbrio. Em essência, aqui estão, tal como o meu amigo os aplicava em 1934: 1. Ebby admitiu que era impotente para dirigir sua própria vida. 2. Tornou­se honesto consigo mesmo, como nunca fora antes; fez um "exame de consciência". 3. Fez uma rigorosa confissão de seus defeitos pessoais e, assim, deixou de viver sozinho com seus problemas. 4. Inventariou suas relações distorcidas com outras pessoas, visitando­as para fazer as reparações possíveis. 5. Resolveu dedicar­se a ajudar outras pessoas necessitadas, sem a usual necessidade de prestígio ou ganho material. 6. Através da meditação, procurou a orientação para a sua vida e ajuda para praticar esses princípios de comportamento por toda a vida. Para mim, tudo isso soava ingênuo. Contudo, meu amigo continuou o singelo relato do que havia acontecido. Contou­me que, praticando esses ensinamentos, tinha parado de beber. Medo e solidão desapareceram e havia adquirido uma considerável paz de espírito. Sem rigorosas disciplinas ou grandes resoluções, essas mudanças começaram a surgir a partir do momento em que se pôs de acordo com esses princípios. Sua libertação do álcool parecia ser um produto secundário. Embora sóbrio há poucos meses, sentia­se seguro, pois agora tinha uma resposta básica. Evitando prudentemente os debates, despediu­se e partiu. A centelha que se converteria em Alcoólicos Anônimos tinha sido acesa. Um alcoólico havia estado falando com outro, estabelecendo uma profunda identificação comigo e colocando os princípios da recuperação ao meu alcance. A princípio, a história do meu amigo 

produziu uma confusão de emoções desencontradas. Eu estava indeciso e revoltado ao mesmo tempo. Minha forma solitária de beber continuou por mais algumas semanas, mas não pude esquecer sua visita. Vários assuntos ocorreram em minha mente: primeiro, que era estranho e imensamente convincente o seu estado de evidente libertação; segundo, que ele havia sido desenganado por médicos competentes; terceiro, que esses velhos preceitos, quando transmitidos por ele, tocaram­me com grande força; quarto, que eu não poderia, nem queria, seguir adiante com nenhum conceito de Deus e que não faria nenhum sentido para mim, nenhuma conversão. Resumindo, tentando brincar com meus pensamentos, descobri que já não podia fazê­lo. Pelos laços da compreensão, sofrimento e singela verdade, um outro alcoólico me havia enlaçado a ele. Não podia me desligar. Uma manhã, após beber, tive uma inesperada revelação. E perguntei: "Quem é você para escolher a forma como recuperar­se? Mendigos não têm o direito de escolher. Suponha que a medicina diga que você tem um carcinoma. Você não iria tratá­lo com cosméticos. Tomado de medo, rapidamente suplicaria ao médico para dizimar aquelas diabólicas células cancerosas. E se ele não pudesse detê­las e você acreditasse que uma conversão religiosa poderia fazê­lo, o seu orgulho seria posto de lado. Se preciso fosse, por­se­ia de pé em praça pública e chorando diria 'Amém' junto a outras vítimas. Então, qual a diferença entre você e uma vítima de câncer? Seu corpo está se desintegrando. Do mesmo modo, desintegra­se a sua personalidade e a sua obsessão leva­o à loucura ou a funerária. Vai experimentar a fórmula do seu amigo ou não?" Naturalmente, experimentei. Em dezembro de 1934, compareci ao Hospital Towns, de New York. Ao meu ver, meu velho amigo, Dr. William Silkworth, balançou a cabeça, incrédulo. Tão logo me liberei dos sedativos e do álcool, senti­me terrivelmente deprimido. Ebby veio me visitar. Embora me agradasse vê­lo, retraí­me um pouco. Temia a evangelização, mas isso não aconteceu. Após conversar um pouco, pedi­lhe que falasse novamente com clareza da sua fórmula de recuperação. Mansa e calmamente, sem exercer nenhuma pressão, explicou­me E então partiu. Deitado e em grande conflito , mergulhei na mais negra depressão que havia sofrido. Por um momento, meu obstinado orgulho foi esmagado. E exclamei: "Agora estou pronto para fazer o mesmo que o meu amigo Ebby". Embora não esperasse nada, fiz esse frenético apelo: "Se existe Deus, que se mostre por inteiro". O resultado foi instantâneo, elétrico, indescritível. O quarto iluminou­se de uma brancura intensa. Entrei em êxtase e vi­me numa montanha. Um vento intenso soprava, envolvendo­me e penetrando­me. Para mim, o vento não era feito de ar, mas de espírito. Veio­me fulgurante à mente um pensamento fantástico: "Você é um homem livre". E então o estado de êxtase cessou. Ainda deitado na cama, descobri dentro de mim um novo mundo de consciência, inundado da "presença". Unido com o universo, uma grande paz 

caiu sobre mim. "Então esse é o Deus dos pregadores, essa é a grande realidade." Mas, rapidamente, recobrei a razão e minha educação formal assumiu o comando. Eu deveria estar louco. Fiquei terrivelmente assustado. Dr. Silkworth, um santo médico como nunca houvera igual, veio para ouvir­me contar hesitante esse fenômeno. Após interrogar­me cuidadosamente, assegurou­me de que não estava louco e que talvez eu tivesse tido uma experiência psíquica que poderia resolver o meu problema.Como um homem da ciência cético que era até então, essa foi uma resposta compreensiva e sagaz. Se tivesse dito "alucinação", eu poderia agora estar morto. A ele dedico minha eterna gratidão. A boa sorte me perseguia. Ebby me trouxe um livro intitulado Variedades da Experiência Religiosa e eu o devorei. Escrito por William James, psicólogo, sugere que a experiência da conversão pode ter uma realidade objetiva. A conversão modifica a motivação e, de forma quase automática, possibilita uma pessoa ser e fazer o que era antes impossível. Interessante foi o fato de que as experiências de conversão ocorreram na maioria das vezes com pessoas que sofreram derrota total em determinada etapa da vida. O livro mostrava certamente essas variedades. Mas, se essas experiências eram brilhantes ou embaçadas, súbitas ou graduais, de caráter teológico ou intelectual, tais conversões tinham um denominador comum, operavam mudanças em pessoas completamente derrotadas. Assim afirmava William James, o pai da moderna psicologia. Após compreender esses fatos eu venho tentando aplicá­los. Para os bêbados, a resposta óbvia era a deflação profunda, e quanto maior melhor. Isso me parecia claro como a água. Eu tive a formação de engenheiro e a visão autorizada e a visão autorizada do psicólogo significou tudo para mim. Esse renomado cientista da mente veio confirmar tudo que o Dr. Jung havia dito e ele havia documentado exaustivamente tudo o que havia afirmado. Desse modo, William James confirmou os fundamentos pelos quais eu e muitos outros temos nos mantido sóbrios todos esses anos. Eu não tenho tomado nenhuma bebida alcoólica desde 1934. Armado com absoluta certeza e animado pelo meu inato desejo de poder, lancei­me à tarefa de curar alcoólicos por atacado. Era duplamente impulsionado e as dificuldades nada significavam. Não me apercebia da enorme presunção do meu projeto. Recrutei à força durante seis meses e a minha casa se encheu de alcoólicos. Discursos bombásticos não produziram o menor resultado. (Para meu desapontamento, Ebby, meu amigo da conversa à mesa da cozinha e que estava mais doente do que eu supunha, demonstrou pouco interesse nesse alcoólicos. Esse fato pode ter sido a causa de suas recaídas, embora tenha eventualmente se recuperado.) Mas tinha descoberto que trabalhar com outros alcoólicos era de enorme importância sobre a minha própria sobriedade. Contudo, nenhum dos meus candidatos estava conseguindo ficar sóbrio. Por quê? Pouco a pouco, os erros da minha abordagem tornaram­se claros. Algo semelhante a um fanático 

religioso, obcecado com a idéia de que todos teriam que ter uma "experiência espiritual" como a minha. Eu esqueci que James havia dito existir uma grande variedade de experiências transformadoras. Meus companheiros alcoólicos olhavam­me incrédulos ou zombavam sobre o meu "clarão". Sem dúvida, isso arruinava a forte identificação que era tão necessária estabelecer com eles. Tornei­me um evangelista. Obviamente teria que mudar a minha abordagem. O que havia acontecido comigo em seis minutos seriam necessários seis meses com os outros. Tive que aprender que as palavras eram apenas palavras e doravante teria que ser prudente. Nessa conjuntura ­ a primavera de 1935 ­, o Dr. Silkworth advertiu­me que eu havia esquecido tudo a respeito da deflação profunda do ego. Havia me transformado num pregador. E me disse: "Por que você não coloca a dura realidade da medicina a essas pessoas antes de mais nada? Esqueceu o que disse William James sobre a profunda deflação do ego? Dá­lhes os fatos médicos, com toda clareza. Não lhes conte do "clarão". Enumere extensivamente os seus sintomas, a fim de estabelecer uma profunda identificação. Se você agir dessa forma, os seus candidatos poderão vir a adotar os singelos princípios morais que você vem tentando ensinar a eles". Aqui estava a contribuição vital para a síntese. E uma vez mais foi feita por um médico. Incontinente, substituiu­se a ênfase atribuída ao pecado pela enfermidade, a doença fatal, o alcoolismo. Nós citávamos a opinião de vários médicos que asseguravam de que o alcoolismo era mais letal que o câncer e que consistia numa obsessão mental acompanhada de crescente sensibilidade física. Esses eram os nossos fantasmas gêmeos. Loucura e morte. Apoiávamo­nos muito na declaração do Dr. Jung de quão desesperadora poderia ser essa situação e logo aplicávamos uma dose devastadora de conhecimento a todo alcoólico ao nosso alcance. Para o homem moderno, a ciência é onipotente, virtualmente um Deus. Por isso, se a ciência proferir uma sentença de morte a um alcoólico e nós colocarmos esse veredicto terrível numa transmissão constante ao alcoólico, uma vítima falando a outra, pode abalar totalmente o ouvinte. Então o alcoólico pode voltar­se para o Deus dos teólogos, simplesmente por não ter mais lugar para onde ir. Por mais verdadeiro que fosse esse estratagema, certamente continha o seu lado prático. Imediatamente todo o ambiente modificou­se. As coisas começaram a melhorar. Passados alguns meses, fui apresentado ao Dr. Robert S., um cirurgião de Akron. Era um alcoólico em péssimo estado. Desta vez não fiz nenhum sermão. Contei­lhe da minha experiência e do que conhecia sobre o alcoolismo. Porque nos entendemos e precisávamos um do outro, estabeleceu­se uma reciprocidade pela primeira vez. Esse encontro marcou o fim da minha postura de pregador. Essa idéia da necessidade mútua, acrescida ao ingrediente final da síntese da medicina, religião e da experiência do alcoólico constitui agora Alcoólicos Anônimos. "Dr, Bob", um caso muito grave, alcançou a sobriedade e, 

desde então, nunca mais tomou um trago até a sua morte, em 1950. Ele e eu logo começamos a trabalhar com um grupo de alcoólicos que encontramos no Hospital Municipal de Akron. Quase imediatamente logramos uma recuperação, seguida de outras. O primeiro Grupo de A.A. havia sido formado. Retornando a New York no outono de 1935, dessa vez com todos os ingredientes da recuperação, um outro grupo rapidamente tomou forma nesta cidade. Todavia, o progresso dos Grupos de Akron e New York foi dolorosamente lento nos anos seguintes. Centenas de casos foram trabalhados, mas somente poucos responderam positivamente. Entretanto, no final de 1937, quarenta pessoas estavam sóbrias e começamos a nos sentir mais seguros e confiantes. Vimos que tínhamos uma fórmula poderosa, que levada de um alcoólico a outro, mentalmente produz, numa reação em cadeia, um número expressivo de recuperações. Então veio a pergunta: "Como podemos transmitir nossas boas novas aos milhões de alcoólicos na América e em todas as partes do mundo?" A resposta parecia estar em uma literatura específica, que detalharia os nossos métodos. Uma outra necessidade era uma forte divulgação publicitária, a qual nos traria uma grande quantidade de casos. Na primavera de 1939, mossa Irmandade havia produzido um livro intitulado Alcoólicos Anônimos. Nesse volume, nossos métodos eram detalhadamente descritos. Para obter uma maior clareza e transparência, o programa de viva­voz que me foi transmitido pelo meu amigo Ebby, foi ampliado para conter o que chamamos agora em A.A. de "Doze Passos Sugeridos Para a Recuperação". Este era o cerne do nosso livro. Para dar substâncias ao métodos de A.A., nosso livro incluiu vinte e oito histórias pessoais de recuperação. Esperávamos que essas histórias pudessem nos identificar plenamente com os nossos leitores distantes, o que certamente vem ocorrendo. E como nos havíamos retirado do Grupo Oxford, nossa Irmandade adotou o título do nosso livro (Alcoólicos Anônimos) como seu nome. O advento desse livro constitui um marco histórico. Nesses vinte anos, esse texto básico teve uma distribuição de aproximadamente 400.000 cópias. Incontáveis alcoólicos têm alcançado a sobriedade sem outra ajuda a não ser a leitura desse livro e a prática dos seus princípios. Nossa segunda necessidade foi a publicidade. E estava prestes a aparecer. Fulton Oursler, destacado editor e escritor, publicou um artigo a nosso respeito na revista Liberty, em 1939. No ano seguinte, John D. Rockefeller Jr. deu um jantar para A.A., que foi amplamente divulgado. No ano seguinte, 1941, foi publicado um artigo no Saturday Evening Post. Essa publicação sozinha nos trouxe milhares de novas pessoas. Na medida em que crescíamos, também aumentávamos a eficiência. O índice de recuperação estava bem alto. De todos aqueles que realmente tentavam A.A., um grande percentual obteve êxito imediato; outros tardavam um pouco e ainda outros, se ficavam conosco, finalmente melhoravam bastante. Nosso alto índice de recuperação tem se 

mantido constante, incluindo aqueles que primeiro escreveram suas histórias na edição original de Alcoólicos Anônimos. De fato, 75% dessas pessoas alcançaram finalmente a sobriedade. Somente 25% morreram ou ficaram loucos. A maioria daqueles que ainda vivem tem permanecido sóbrios em média vinte anos. Desde os nossos primeiros dias, temos sido procurados por inúmeros alcoólicos, que se aproximam de nós e logo se afastam ­ talvez três em cada cinco, atualmente. Mas, felizmente, aprendemos que a maioria deles volta mais tarde, contanto que não sejam demasiadamente psicóticos ou tenham sofrido sérios danos cerebrais. Uma vez que tenham aprendido dos lábios de outros alcoólicos que são vítimas de uma doença quase sempre fatal, continuar bebendo somente lhes causará mais transtornos. Finalmente, são obrigados a voltar para A.A.; têm que fazê­lo ou morrem. Algumas vezes isso acontece anos após o primeiro contato. O índice final de recuperação é, por essa razão, mais alto do que pensávamos que poderia ser no princípio. Outra tendência que se tem observado nos anos recentes tem sido fonte de muito conforto. Em nossos primeiros dias cuidávamos somente daqueles casos terminais. Não se podia fazer nada até que o álcool quase destruísse sua vítima. Mas, nos dias atuais, nós não precisamos esperar que tais sofredores atinjam esse nível profundo. Agora podemos ajudá­los a ver onde têm a cabeça antes de alcançarem o fundo do poço. Por conseguinte, metade dos membros atualmente em A.A. é composta de casos mais suaves. Muito freqüentemente, a família, o trabalho e a saúde das vítimas estão relativamente intactos. Até mesmo os casos em potencial que nos procuram hoje em dia são pessoas que sofreram apenas um pouco, Aqui e no exterior, nossa Irmandade está fazendo muito progresso para superar as barreiras de raça, credo e circunstância próprias de cada cultura. Contudo, temos que refletir humildemente que Alcoólicos Anônimos somente arranhou a superfície do problema total do alcoolismo. Aqui nos Estados Unidos, temos ajudado a conseguir a sobriedade somente a cinco por cento de uma população alcoólica de 4.500.000 pessoas. As razões são estas: Não podemos nos relacionar com alcoólicos que são demasiado psicopatas ou sofreram sérios danos cerebrais; muitos alcoólicos não gostam dos nossos métodos e estão à procura de formas distintas e mais fáceis; milhões de alcoólicos ainda se apegam à racionalização de que seus problemas estão relacionados a circunstâncias pessoais e, assim, a culpa recai sobre outras pessoas. Conseguir que o alcoólico na ativa ou alcoólico em potencial admita que é vítima de uma doença progressiva e freqüentemente fatal é uma tarefa muito difícil. Esse é o grande problema com que nos defrontamos, quer sejam médicos, religiosos, familiares ou amigos. Contudo, temos muitos motivos para ter esperanças. Um dos maiores motivos reside no que os médicos estão fazendo e deverão continuar a fazer. Talvez alguns de vocês estejam perguntando: "Como podemos ajudar com mais eficiência?" Nós, de A.A., não podemos oferecer a 

opinião da autoridade profissional, mas sentimos que podemos dar algumas sugestões de grande ajuda. Somente há poucos anos, o bêbado era na maioria das vezes um incômodo. O médico e o hospital podiam minorar­lhe a brutal ressaca. Um pequeno alívio podia ser proporcionado à família e poucas coisas mais podia ser feita. Agora a situação é diferente. Próximo a cada cidade e vila deste país existe um Grupo de A.A. Todavia, com bastante freqüência, o alcoólico não quer experimentar A.A. Exatamente aí é que o médico da família pode intervir de forma decisiva. Ele é a pessoa a quem chamam quando os problemas reais começam a aparecer. Depois de desintoxicar a vítima do álcool e tranqüilizar a família, pode dizer francamente ao alcoólico o que o aflige. Pode fazer por esse paciente a mesma coisa que o Dr. Carl Jung fez pelo "Sr. R." e o Dr. Silkworth fez por mim. Isso precisa ficar claro para o relutante bêbado ao dizer­lhe que contraiu uma doença progressiva e quase sempre fatal, que não pode recuperar­se sozinho e que necessita de muita ajuda. Devido ao grande conhecimento atual das deficiências metabólicas e emocionais do alcoólico, os médicos da família podem documentar as suas afirmações e diagnósticos de uma forma mais convincente do que podiam nossos médicos pioneiros. É muito gratificante saber que hoje em dia a matéria alcoolismo é objeto de inúmeros cursos em nossas escolas médicas. Em qualquer caso, é fácil obter informações acerca do alcoolismo. Organizações, como o Conselho Nacional Sobre o Alcoolismo (desde 1962, a Escola Rutgers de Estudos do Álcool), mais as inúmeras clínicas estatais de reabilitação e a ajuda dos médicos clínicos, são forças disponíveis de utilíssimo conhecimento. Assim munido, o médico da família pode ­ como dizemos em A.A. ­ "amaciar" o alcoólico de forma tal que ele esteja disposto a procurar a nossa Irmandade. Ou, se resiste ao A.A., pode ser encaminhado a uma clínica, ao psiquiatra ou a um religioso compreensivo. Nesse estágio, o mais importante é que ele reconheça sua doença e que comece a fazer algo a respeito. Se o resultado do médico da família é cuidadosamente realizado, os resultados são muitas vezes imediatos. Se a primeira abordagem não funciona, a chances melhorarão através de abordagens persistentes e sucessivas que trarão resultados. Esses procedimentos simples não roubam ao médico da família muito tempo nem serão necessariamente dispendiosos ao bolso do paciente. Um esforço combinado dessa natureza, feito pelo médico da família, seja onde for, não falha e conquista excelentes resultados. De fato, o resultado do trabalho dessa espécie e do médico da família tem sido grande. E por isso, gostaria de registrar nossos agradecimentos especiais a esses médicos. Agora, dirigimo­nos ao especialista, normalmente o psiquiatra. Estou alegre em dizer que os psiquiatras, em grande número, estão encaminhando alcoólicos para A.A. ­ até os psiquiatras que são mais ou menos especialistas em alcoolismo. Sua compreensão a respeito de alcoólicos agora é grande. A paciência e tolerância 

conosco e com A.A. tem sido monumental. Em 1949, por exemplo, a Associação Psiquiátrica Norte­americana permitiu­me apresentar uma palestra sobre A.A. perante uma sessão do seu Encontro Anual. Como esses doutores são especializados em desarranjos emocionais ­ e o alcoolismo é certamente um deles ­, a atitude deles tem sempre me parecido um maravilhoso exemplo de humildade e generosidade refinadas. O tópico dessa palestra tem tido enorme repercussão em todo o mundo. Estou certo de que todos nós, de A.A., nunca avaliamos corretamente a importância desse fato. Costumava ser moda entre alguns de nós depreciar a psiquiatria; a ajuda médica de qualquer espécie, salvo a quem meramente era necessária à desintoxicação. Evidenciávamos as deficiências da psiquiatria e da religião. Estávamos sempre prontos a bater no peito e dizer: "Olhem para nós. Conseguimos, mas eles não." E por essa razão é com grande alívio que posso registrar que essa atitude está desaparecendo. Os membros atentos de A.A. em todas as partes compreendem que os psiquiatras e os médicos ajudaram a conduzir a nossa Irmandade desde o primeiro momento e têm segurado nas nossas mãos desde então. Nós também compreendemos que as descobertas da psiquiatria e da bioquímica têm enormes implicações para nós, alcoólicos. Na verdade, essas descobertas são atualmente bem maiores do que meras implicações. Seu presidente e outros pioneiros, dentro e fora desta Irmandade, vêm obtendo notáveis resultados há muito tempo e muitos dos seus pacientes têm conseguido boas recuperações sem qualquer ajuda de A.A. Devo assinalar ­ como destaque ­ que alguns dos métodos de recuperação empregados fora de A.A. estão em completa contradição com os princípios e a prática de A.A. Todavia, nós de A.A., devemos aplaudir o fato de que algumas dessas tentativas vêm alcançando crescentes sucessos. Nós sabemos também que a psiquiatria freqüentemente pode liberar­nos da pesada carga neurótica que aflige a muitos de nós após ficarmos sóbrios em A.A. Sabemos que os psiquiatras têm nos enviado incontáveis alcoólicos, que de outra forma jamais chegariam a A.A. e, igualmente, muitos clínicos têm feito o mesmo. Vemos claramente que, somando nossos esforços, podemos fazer juntos o que nunca conseguiríamos em separado ou através da crítica míope e da competência. Por essa razão gostaria de fazer uma promessa a toda comunidade médica, de que A.A. sempre estará disposta a cooperar; que A.A. nunca passará por cima da medicina; que nossos membros ­ quando chamados ­ ajudarão nos grandes empreendimentos da educação, reabilitação e pesquisa, os quais estão agora bastante adiantados e são muito promissores. Tão ameaçador é o espectro crescente do alcoolismo que nada menos que a totalidade dos recursos da nossa sociedade pode esperar vencer ou diminuir a força do nosso perigosíssimo adversário, o álcool. A sutileza e o poder alcoólico da enfermidade estão presentes em cada página da história da humanidade ­ e nunca revelada tão claramente e tão destrutivamente como neste 

século em que vivemos. Quando o conhecimento e a compreensão estiverem combinados e maciçamente aplicados, nós, de A.A., sabemos que encontraremos os nossos amigos da medicina na primeira linha de combate ­ exatamente onde tantos de vocês hoje já estão a postos. Quando essa sinergia benigna e cooperativa estiver em plena ação, teremos certamente um grande amanhã para a imensa multidão de homens e mulheres que sofrem de alcoolismo e de suas sombrias e terríveis conseqüências. ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ Declaração sobre o alcoolismo A Associação Médica Norte­americana identifica o alcoolismo como uma doença complexa, com componentes biológicos, psicológicos e sociológicos e reconhece a responsabilidade da medicina em relação às pessoas atingidas. A Associação reconhece que são múltiplas as formas de alcoolismo e que cada paciente deveria ser avaliado e tratado de uma forma total e individualizada. Casa dos Delegados Associação Médica Norte­americana, 1971 ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ Fonte: Três Palestras às Sociedades Médicas por Bill W., co­fundador de A.A.

"SACOLA", ALGO MAIS QUE AUTOSUFICIÊNCIA".

"Todos os Grupos de A. A. deverão ser absolutamente autossuficientes, rejeitando quaisquer doações de fora". 

Na verdade a 7ª Tradição de A. A. contém muito mais significados do que aqueles que se pode apreender de uma simples e sumária leitura de seu texto. 

Quase todos os membros de um grupo de A. A., depois de algum tempo de freqüência, começam perceber que seu grupo em particular e a Irmandade, de um modo mais geral, tornaram­se para ele a coisa mais importante de suas vidas. Assim entendem, porque sabem que tudo, família, trabalho, cultura, lazer, dinheiro e o mais que possa existir, para ser usufruído, dependem de sua sobriedade. Esta, a sobriedade, por sua vez, depende do grupo de A. A. e da prática do programa sugerido. Uma vez perdida a sobriedade, através da ingestão do primeiro gole, tudo o mais estará também perdido. É dura, porém inexorável, verdade do alcoólatra. 

Partindo dessa premissa o alcoólatra em recuperação sente a necessidade de preservar a vida de seu grupo, como uma célula primaria de um organismo maior que é a Irmandade em seu todo. Em seguida, descobre o que lhe informa a 5ª Tradição, ou seja, que "cada grupo é animado de um único propósito primordial – o de transmitir sua mensagem ao alcoólatra que ainda sofre". Para isso é necessário que a Irmandade tenha grupos com as portas abertas para recebê­los.

Mas não apenas isso. Há que oferecer­lhe subsídios para a sua recuperação. Informação para a reformulação de suas vidas através de ampla e livre troca de experiências nos grupos. Literatura de A. A. para ele se esclarecer a respeito do programa. Processos e meios para ele praticar o 12° Passo, isto é, "transmitir a mensagem de A. A. aos alcoólatras". E para que isso tudo possa acontecer são necessários meios materiais. Há que se pagar o aluguel da sala de reuniões, a luz, a água, o cafezinho. Há que se ter literatura disponível para os companheiros e para os que ainda estão fora das salas de reuniões.

Há ainda que se contribuir para a estrutura de serviços de A. A., ou seja, para as intergrupais, para as áreas distritais, para o Escritório de Serviços Gerais, para a Junta Nacional de Serviços, para a Conferência, Junta de Custódios, etc. 

Depois de algum tempo o novo companheiro toma conhecimento de tudo isso e ler na 7ª Tradição que o A. A. rejeita qualquer doação de fora. A conclusão torna­se óbvia: tudo depende da contribuição dele e dos companheiros. Tudo depende da arrecadação da sacola dos grupos. Tudo depende das contribuições dos grupos aos escritórios de serviços e destes para os órgãos nacionais de serviços de A. A. 

Fica­lhe nítida na mente a idéia de autossuficiência da Irmandade. Mas o que haverá mais além...? Qual a natureza ética da contribuição nas sacolas? Será ele um óbolo, uma esmola, uma caridade, um ato de filantropia, um pagamento ou uma obrigação? Na verdade, a contribuição de cada membro de A. A. é muito mais do que tudo isso. É, em última análise, a conseqüência natural da maturidade do grupo. Com efeito, um grupo amadurecido é caracterizado por uma atitude de conscientização; por uma situação grupal de cooperação entre os membros e por um sentido de amorização. 

Assim vejamos. A conscientização nada mais é que o percebimento encarado de modo genérico. É cada um tornar­se cônscio de si mesmo, abrindo cada vez mais brechas na auto­ilusão que caracteriza muito os alcoólicos. É conhecer e gostar de si mesmo. É sentir sua própria importância no grupo. É aprender a ser responsável perante os companheiros. É reconhecer as conseqüências pessoais de suas ações e de suas palavras integrar­se à consciência coletiva do grupo. É vivenciar intensamente a importância do grupo para a própria sobrevivência e para o crescimento psicológico de cada um de seus membros. 

Por sua vez, a cooperação ampla entre os membros de um grupo e dos grupos entre si, constitui­se na fase mais adiantada do processo de maturação grupal. Cooperar é produto de uma aprendizagem que se inicia logo que o ingressante chega. É o melhor remédio para o egocentrismo, pois a prática cooperativa vai gerando mais amor e inteligência objetiva, o que conduz a uma atitude sociocêntrica. A primeira cooperação do alcoólatra é fazer­se presente às reuniões. É ouvir os companheiros. É servir de "fundo" para que o companheiro seja "figura". É cooperar prestando serviço ao grupo; limpar e preparar a sala para as reuniões é ato de cooperação; providenciar o café é cooperação; coordenar a reunião é cooperação; atender aos novos que chegam é cooperação; por dinheiro na sacola é cooperação. Enfim, tudo que se faz em prol do coletivo e de cada um em particular é cooperação. 

Finalmente, a amorização é a aprendizagem do verdadeiro amor. Daquele amor que não é apego, que não é posse do objeto amado, que não é exclusivismo, que não pe apenas atividade sexual, que, enfim, não é condicional, porque de nada depende. Esse amor é o supremo ato de liberdade, através do qual conseguimos ver o mundo com os olhos do outro, de sentir o que se passa nele como ele o sente, de entender a realidade como ele a entende, de ser capaz de dar sem esperar recompensa. 

Assim, no grupo psicológico e espiritualmente amadurecido, onde seus membros estão bem conscientizados, onde a cooperação e a amorização são uma constante, a contribuição da sacola não pode ser uma esmola, nem, por outro lado, constitui­se em uma obrigação. Ninguém precisa dar nada para freqüentar uma reunião ou ser membro de A. A.. A contribuição na sacola enquadra­se bem no conceito ético de um "direito­dever". "Direito" porque é um privilégio que se só se estende aos membros de A. A. e "dever" porque é um puro ato individual de consciência, de participação e doação de si mesmo. Sejamos maduros, e, conseqüentemente, generosos na sacola de A. A. 

Vivência n° 3

" O TRABALHO EM GRUPO "

Por NELSON FARIA 

Todo conhecimento é fruto do trabalho em equipe. Este constitui a unidade de trabalho. Não é como se poderia pensar, o esforço de um indivíduo isolado. 

A mais tradicional forma de trabalho em equipe é a REUNIÃO DE GRUPO. Esta é talvez, o melhor exemplo de como se compartilhar o trabalho em qualquer organização. 

Quando as pessoas se reúnem para discutir um assunto em busca de consenso, estão, num sentido concreto, estabelecendo uma CONSCIÊNCIA DE GRUPO, que é o produto dos talentos e aptidões de todos os envolvidos. A forma de como realizarão suas tarefas, bem como, o êxito que obterão, serão assim, determinados pela CONSCIÊNCIA COLETIVA. Esta e a chave para o alto desempenho do grupo e a harmonia existente entre os membros que o compõem. Essa capacidade de pensamentos e emoções torna um grupo, especialmente, produtivo e bem sucedido. 

Esse equilíbrio mental e emocional é a diferença, e o porquê de alguns grupos trabalharem de forma mais eficaz do que outros. Afinal, quando as pessoas se reúnem para trabalhar em equipe, cada um trás consigo certas aptidões ou conhecimentos próprios de sua cultura pessoal. O grupo não deve ter mecanismos que impeçam às pessoas contribuírem com seus talentos. 

Só a harmonia interna do Grupo é capaz de criar um clima que permita que os companheiros, que tragam conhecimentos e aptidões próprias, possam torná­los capazes de serem assimilados pelo grupo. Haverá sempre, o que é bom reconhecer, os ansiosos, os controladores, os dominadores excessivos e os apáticos. Só uma coisa não pode existir ­ os choques emocionais ­ seja por medo ou raiva; rivalidades e ressentimentos. Num ambiente desses as pessoas não podem dar o melhor de si. Só uma harmonia plena permite a um grupo aproveitar, ao máximo, as qualidades mais criativas de seus membros. 

O que as pessoas fazem, ou oferecem com sua participação, seja através do serviço direto ao grupo ou em suas experiências nos depoimentos fazem parte do trabalho coletivo. Depende de seu bom desempenho a permanência ou dispersão de companheiros nas Reuniões. 

Todas as formas de trabalho são aspectos da inteligência emocional. Temos que aprender a surpreender os pensamentos negativos e as emoções compulsivas. Liderar não e dominar, mas sim, a arte de convencer as pessoas a trabalharem visando um objetivo comum.

PAZ “Alicerce do verdadeiro amor, da alegria ao dar de nós mesmos e ver o outro crescer.” O grande anseio daqueles que buscam o crescimento espiritual é a 

SERENIDADE, estado de espírito em que procuramos alcançar e manter inabalável a paz interior, apesar das vicissitudes da vida. Para atingir a SERENIDADE é necessário aceitar as coisas que não podemos modificar. Nossa tendência é querer mudar o que não podemos: nosso passado, o modo de ser das pessoas, as circunstâncias de nossa vida, as contingências do mundo ou do país... tudo isso está fora de nosso alcance. Só podemos mudar a nós mesmos e as nossas atitudes. Existe uma máxima que diz: “Nada muda se eu não mudar.” SERENIDADE não é fraqueza ou submissão. O homem sereno aceita o semelhante como ele é, sem coagi­lo a mudar, sem a ele submeter­se. SERENIDADE não é apenas exercício de paciência ou tolerância, atitudes que podem mascarar o sentir­se superior. A SERENIDADE existe independentemente de atitudes do outro, depende em primeiro lugar de nós mesmos: da CORAGEM de enfrentar ou aceitar o sofrimento, e do esforço para superar nossos defeitos de caráter. Em primeiro lugar, dispondo­nos a analisar minuciosa e destemidamente nossas ações e nossas atitudes, para descobrir quem realmente somos, e em que devemos mudar. Quantas vezes continuamos a tomar as mesmas atitudes que nos fazem sofrer, esperando resultados diferentes. Admitindo que precisamos mudar, podemos fazer a nossa parte, não alimentando sentimentos negativos, procurando viver de acordo com nossa consciência. A mudança interior, que leva ao crescimento espiritual, somente ocorrerá se nos abrirmos à ação de Deus, que se manifestará se assim o permitirmos. A SABEDORIA nos fará compreender essas coisas aparentemente tão simples. A paz espiritual não significa ausência de problemas ou de sofrimento emocional, pois estes sempre estarão presentes em nossas vidas. Tampouco significa que todas as nossas preces serão atendidas do modo que desejarmos. Nem sempre Deus nos dá tudo o que queremos mas, com certeza, nos dará sempre o que precisamos. A paz espiritual é o alicerce do verdadeiro amor e da alegria que nos permitem dar de nós mesmos, sem qualquer outro objetivo que não seja ver o outro crescer. Muitas vezes pensamos que a felicidade está nas coisas que julgamos necessárias, mas sobre as quais não temos o controle absoluto. Dizemos que para sermos felizes, dependemos do amor das outras pessoas, de nossa saúde física e mental, de nosso equilíbrio financeiro, e de inúmeras outras coisas ou situações. Estamos condicionados a “TER” para nos sentirmos felizes, quando na realidade é muito mais importante "SER". Afirmamos que "temos" nossas mulheres, nossos filhos, nossos pais; é preciso, entretanto, "sermos" maridos, pais, filhos, dando o que de melhor possuímos. ACEITAR AS COISAS QUE NÃO PODEMOS MODIFICAR requer de cada um de nós que abracemos a realidade de nossas vidas. Pode ser que estejamos doentes, desempregados, deprimidos, com dificuldades no casamento ou no trabalho. Não importa o número, nem a grandeza de nossos problemas, precisamos aceitá­los como parte de nossa jornada de vida. Aqueles 

que encontram a paz e a felicidade aprendem a enfrentar os seus problemas, muitas vezes maiores que os de outras pessoas: a aceitação os capacita a tirar o maior proveito possível da adversidade, sem se tomarem críticos ou amargos, mesmo sabendo que alguns aspectos problemáticos de suas vidas provavelmente não poderão ser modificados. Devemos lembrar que, em quaisquer circunstâncias, podemos escolher o nosso próprio caminho. Nesse sentido, podemos contar sempre com o nosso programa de recuperação, consubstanciado nos princípios de A. A., notadamente nos 12 Passos sugeridos. Se estivermos atentos, veremos que desde o início, ao sermos escolhidos para participarmos de nossa Irmandade, recebemos a dádiva de Deus, que colocou e continua colocando à nossa disposição as ferramentas necessárias para que possamos nos recuperar e sermos felizes, cultivando a SERENIDADE. Trabalhando nosso interior, começamos nosso aperfeiçoamento. Estamos aprendendo a todo o momento; basta que estejamos atentos às coisas que nos cercam. Tudo que vemos e ouvimos tem um significado lógico, positivo, tem uma finalidade. Ao praticarmos o programa, temos a oportunidade de refletir sobre nossa condição humana, sendo induzidos a reflexões profundas. Assumimos a responsabilidade pelo nosso crescimento, aperfeiçoando e desenvolvendo nossas qualidades, enfrentando e corrigindo nossos defeitos de caráter. Sabemos que, pelas nossas imperfeições, encontraremos dificuldades e obstáculos a serem superados. A análise constante de nossas ações e atitudes, o apoio e os ensinamentos incondicionais de nossos companheiros, a leitura e o estudo freqüente de nossa Literatura, o reconhecimento de nossas limitações, a abertura à ação de Deus, são meios de alcançarmos o crescimento espiritual que almejamos. Guiados pela SABEDORIA que emana de Deus e que se manifesta em nossa “Consciência Coletiva”, adquirida em nossas reuniões e desenvolvida com a prática de nossos princípios, continuemos a trabalhar para alcançar a SERENIDADE, lembrando­nos da grande responsabilidade que nos cabe na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada, tendo a CORAGEM de, com nossos exemplos, e praticando o 12° Passo, nos tomarmos íntegros, felizes e úteis, e assim transformarmos o mundo num lugar mais agradável de se viver. A cada momento, diante de nossas necessidades e de nossas dificuldades podemos dizer simplesmente: “Concedei­nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos e Sabedoria para distinguir umas Das outras”. (João Roberto) VIVÊNCIA N.° 89 – MAI/JUN. 2004.__._,_.___

Aqui é onde está o poder...

Há cinco anos, estava sentado ao lado de um moço bonito, mas emocionalmente em frangalhos ­ um novato que viera para sua primeira reunião aberta de A.A.

Quando chegou a hora de encerrarmos a reunião da maneira costumeira (O Pai­Nosso e a Oração da Serenidade), ele mostrava­se visivelmente tocado pelo conteúdo emocional da reunião. Caiu em prantos antes do final da oração, com grandes soluços entrecortados. Ao final da prece, agarrou minha mão com toda a força e procurou explicar por que chorava. Eu próprio estava sóbrio há apenas seis meses, e tentei explicar para ele, por entre minhas próprias lágrimas, que não havia necessidade de explicação, que isso acontecia muito nas reuniões de A.A. Ele disse então algo que nunca esquecí, ao erguer nossas mãos juntas: "Aqui é onde está o poder." Foi uma coisa que me arrepiou naquela hora, e ainda me arrepia hoje, e espero que continue assim enquanto eu viva, e sóbrio.

Muitas vezes, em anos recentes, quando me sentí para baixo, incomodado, e precisando de uma levantada, ia a uma reunião e sentia aquele poder. É espantoso como a minha perspectiva muda (a meu respeito e a respeito das minhas preocupações), quando me sento nas salas enfumaçadas e escuto outras pessoas falarem sobre o dia delas, suas vidas, sua sobriedade. Nunca falha esse poder quieto e singelo. Ergue­me e me puxa para fora de mim, e me reassegura que, só por hoje, as coisas (e eu) vamos melhorar ­ se conseguir passar por cima de mim.

Durante todo o inverno passado, não consegui ir a muitas reuniões, e apesar de ter um monte de desculpas ­ falta de dinheiro, de carro ou autorização, lá no fim do mundo, com a reunião mais próxima à distância de uns quinze ou vinte quilômetros ­ a verdade é que eu estava sentindo pena de mim e extremamente fora de contato com o Poder restaurador.

As coisas pioraram antes de melhorarem. Houve ocasiões em que engoli meu orgulho com relutância e, em quieto desespero, liguei para alguém e lhe pedi que me levasse a uma reunião. Ficava sentado lá, enrolado e miserável, esperando que alguma coisa acontecesse, esperando pela confirmação de que tudo (e eu) estaríamos bem. Às vezes, essa assertiva não vinha (ou eu não a escutava) e então saía sentindo­me pior (ou pensando que me sentía assim), e me perguntava se A.A. ainda estava funcionando. É claro que funcionava, eu é que não. Semana passada, fui a uma nova reunião ao meio dia, que ajudei a começar na cidade onde agora trabalho. Sabia que estava precisando de algum calor, de 

gentileza e de senso comum, e realmente nutria esperança por alguma coisa naquele dia. Havia seis de nós alí ­ e apesar de o tema ser "tomar a culpa para sí", cobrimos uma gama de emoções e sentimentos que começaram e terminaram com amor.

Foi uma ótima reunião e, advinhem se, quando encerramos da maneira de sempre, não houve aquelas lágrimas, os arrepios e o poder ­ igualzinho como eu me lembrava. Depois de todos os beijos e abraços, acho que saí flutuando da sala, na minha pequena nuvem particular. Não me sentía tão bem há meses, e fico tão grato pela lembrança que "aqui é que está o poder". Não está apenas nos livros que leio, ou nas minhas ações, ou nas coisas que penso e digo; está também nas mãos e nos corações das minhas irmãs e irmãos em A.A., e com cada mão num poder desses, como poderei perder? 

(A.T.)

Vivência ­ Mar/Abr. 2002)

Quando um encargo "subir à cabeça".

Mais de uma década nos serviços da Irmandade talvez nos valha para destacarcertos perigos que os serviços podem causar aos próprios servidores. Existeuma tendência de toda a humanidade e, particularmente a alcoólica, de criaruma imagem de si mesma e depois acreditar nela. Para uma pessoa nãoalcoólica é inclusive possível que isso seja necessário e bom.

Um homem que herda a coroa de um país, por exemplo, além de ser rei, devepassar a imagem de rei. Sem dúvida, em Alcoólicos Anônimos, onde a verdadeinterior de cada membro é de suma importância, o criar uma imagem de simesmo e depois acreditar nela pode ter consequências muito graves e àsvezes fatais.

Temos sido os mestres do engano e da falsidade, das fantasias, dosdisfarces e pretextos, e o fato de construirmos outra imagem dentro de A.A.pode acabar com a nossa recuperação. Essa tendência existe entre todos nóse temos de vigiá­la. Quem ainda não viu o coordenador recém­eleito de umGrupo que, de pronto, começa a comportar­se como o executivo de umamultinacional?

Afortunadamente, as olhadas, as risadas e às vezes as palavras de seu

companheiros de Grupo geralmente conseguem tirá­lo de seu pedestal.

Talvez o perigo aumente com os serviços em nível de Área, Conferência eJunta de Serviços Gerais. Esses servidores que, pela natureza do seuserviço, devem dedicar muitas horas ao trabalho para o qual foramincumbidos, às vezes perdem o contato com o Grupo Base e com o passar dotempo perdem o contato com a sua verdade interior.

Qualquer pessoa que tenha sido indicada para servir fora do seu Grupo Basedeve perguntar a si mesma, antes de aceitar o serviço, se dispõe de temposuficiente para manter­se em contato com seu o Grupo Base, porque se nãofor assim pode pôr em perigo sua sobriedade.

Também dentro do seu Grupo Base, o servidor deve lembrar­se que ali ele nãoé o Coordenador do Comitê de Área, nem o Delegado de Área e nem um membroda Junta de Serviços Gerais; é simplesmente um outro alcoólico emrecuperação, com as mesmas necessidades que os demais membros de expor suaverdade interior, de falar tanto dos seus fracassos como dos seus êxitos, epedir ajuda sempre que necessitar.

Extraído do Manual de Serviços de A.A., seção da Espanha, na sua edição de1994.

Vivência n° 51 ­ Jan/Fev 1998

REVISTA VIVÊNCIA­ QUAL A IMAGEM QUE IRÃO PROJETAR DE NÓS ?Qual a imagem que irão projetar de nós?

A importância da primeira impressão para os recém­chegados.

Ontem, minha filha mais nova, que ingressou recentemente em A.A., estava me contando sobre contra­tempos em sua última reunião. O tema se prendia no seguinte: xingamento deve ou não ser banido de reuniões de A.A.?

O assunto é importante para mim. Há alguns anos, eu me encontrava numa reunião quando um jovem senhor e sua esposa chegaram pela primeira vez. Com certeza ele necessitava de A.A. No decorrer da reunião, levantou­se e saiu, levando sua esposa consigo. Ele disse que, após ouvir o linguajar falado na reunião na presença de sua esposa, não tínhamos nada para lhe 

oferecer.

"Isso é o que escuto nos bares", disse ele. "Estou tentando me afastar de pessoas como vocês." Não nos foi possível persuadi­lo do contrário. Um companheiro tentou contemporizar com o seguinte comentário: "Ele ainda não está pronto. Quando estiver, o linguajar não fará nenhuma diferença." Seguindo essa linha de raciocínio, A.A. na verdade não é necessário. Temos qpenas que esperar até que cada alcoólico esteja "pronto", e aí ele ou ela ficará automaticamente sóbrio.

Em reuniões na Europa, ouvímos um ocasional "inferno" ou "diabos", mas raramente algo mais agressivo; e meu grupo de origem na Califórnia ainda não é permitido o uso de linguajar vulgar. Outras reuniões, no entanto, estão recheadas de expressões mais pesadas. É essa a idéia que queremos que os recém­chegados tenham da irmandade de A.A.? Queremos que o pregador ou o paroquiano tenha essa impressão a nosso respeito? Quando pessoas ligadas à mídia fizerem a próxima reportagem sobre A.A., qual a imagem que irão projetar de nós?

E quem está proferindo esses xingamentos machões? Apenas alguns de nós, alcoólicos que costumávamos vomitar em nós mesmos. Não somos pessoas rudes e grosseiras. Somos doentes ­ melhorando talvez ­ mas ainda doentes. Penso que isso se resuma em: 1) Quando queremos ficar bem? e 2) Como estamos cuidando de A.A.? 

(Tradução de 'Grapevine'/fevereiro de 2003)

(Vivência ­ Julho/Agosto 2003)

Tema: “OS TRÊS LEGADOS DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS”.

INTRODUÇÃO: ‘ Os Trinta e Seis Princípios Espirituais que formam a Herança que nos foram Transmitidas por nossos Co­ Fundadores Dr. BOB e Bill W, e os primeiros Pioneiros e Amigos da Medicina e da Religião.No Livro AA. Atinge a MaioridadeTemos: ‘ As principais heranças dos primeiros vinte anos de Alcoólicos Anônimos são os Legados de Recuperação, de Unidade e de Serviço. Pelo Primeiro nos Recuperamos do ‘alcoolismo’; pelo Segundo permanecemos em ‘Unidade’; pelo Terceiro nossa Irmandade funciona e serve seu ‘Propósito Fundamental’, que é o 

de levar a Mensagem de A. A. para todos aqueles que dela precisam e a querem. ¹ 

A parte seguinte deste livro se baseia em três palestras proferidas por Bill, um co­fundador, na comemoração do vigésimo aniversário de A.A.. A Primeira conta a história das pessoas e das correntes de influência que tornaram possível a Recuperação em A.A. . A Segunda mostra a Experiência da qual foram concebidas as Tradições de Alcoólicos Anônimos, as Tradições que hoje mantém A.A. em Unidade. A Terceiraconta como Alcoólicos Anônimos desenvolveu os Serviços que levam sua Mensagem aos mais longínquos lugares da Terra.¹ Veja Recuperação ,pág. 47,Unidade,pág. 72; Serviços,pág. 125

Desenvolvimento: OS TRÊS LEGADOS de ALCOÒLICOS ANÔNIMOS.FONTE: TRÊS LEGADOS “Órgão Informativo do 5º Distrito da Área de MG de Alcoólicos Anônimos­ Ano:­FEVEREIRO DE 1955

Recuperação­ O Indivíduo­ Os Dozes PassosUnidade – O Grupo – Doze TradiçõesSERVIÇO­ A Irmandade – Doze Conceitos 

“A razão de ser de nossa Sociedade consiste nestes Três Legados, isto é, Alcoólico Anônimo só sobreviverá quando estes Princípios estiverem harmonicamente, funcionando. O Emblema é representado por um círculo e um Triângulo Eqüilátero ao Centro onde, na Base deste triângulo está a Recuperação. Os lados neste Triângulo são iguais, pois os três lados têm a mesma importância dentro da Irmandade. Tanto a Recuperação, quanto a Unidade, quanto o Serviço tem papel de suma importância para a Vida de A. A.. Mas, O Propósito Primordial é o de levar a Mensagem ao alcoólatra que ainda sofre.” Portanto o Indivíduo é o motivo da existência de A. A..” Todos os Três Legados estão girando em torno do Indivíduo. ‘ Por isso , a Recuperação do Indivíduo é Primordial para que se tenha a Unidade e havendo a Unidade pode sedesempenhar o Serviço.*O Programa individual que o A. A. adota para a Recuperação individual* e é o Único, é os Doze Passos, que são essencialmente Princípios Espirituais sugeridos.As Doze Tradições são um conjunto de Princípios para a Estrutura do grupo e os *Doze Conceitos Para Serviços Mundiais são diretrizes para eficiência do Serviço de Alcoólicos no Mundo Inteiro. ‘ Vemos assim, a Importância dos Três Legados 

serem uma conseqüência do outro e assim, sucessivamente; como a Terra não para de girar, os TrêsLegados tem de estar sempre em perfeita harmonia para que a Irmandade não se acabe. Ao chegar em A. A. o Indivíduo, a peça mais importante desta engrenagem, já deve encontrar uma boa estrutura no grupo para que havendo Unidade o indivíduo não pereça. ‘O Indivíduo, por sua vez, aoencontrar sua Recuperação vai se unir ao Grupo e prestar seu Serviço, levando a Mensagem dentro dos Princípios recebidos no grupo. “Podemos observar a grandeza e a Sabedoria de toda esta Mensagem contida nos Três legados.” ‘Como vemos, a Irmandade se fundamenta em Princípios Espirituais através dos Doze Passos e o Indivíduo se desenvolve no Grupo onde Tudo Começa (Doze Tradições) e se lança no Serviço da nossa Sociedade como um todo através dos “Doze Conceitos P/ ServiçosMundiais’.Por isso a Recuperação é à base de tudo e, é por isso está ocupando o lado de sustentação do Triângulo Eqüilátero.‘ Se vamos construir um edifício, a base é fundamental para uma boa estrutura do prédio e o serviço, isto é, a obra em si poderá ser conhecida e admirada’. “Assim é em A. A.”. “Se houver Recuperação, haverá Unidade, isto é, a Estrutura será forte e o Serviço será bem feito e o resultado, é o edifício de A. A. sendo conhecido e respeitado pelo mundo inteiro.‘Companheiros, o responsável geral, pela obra é o Poder Superior, mas ELE precisa de trabalhadores que façam o trabalho em Unidade e ELE tem contratado, a cada dia, Servidores na esperança que, esses servidores desempenhem bem suas tarefas. ‘ ELE nos ensina atrabalhar através dos Doze Passos, pois este trabalho para o qual fomos chamados é puramente espiritual e não visa lucro, fama ou posição Social’. “Somos Servidores Anônimos que trabalhamos parao maior empregador que existe: DEUS, O PODER SUPERIOR.” Por isto nossa tarefa é tão Maravilhosa. É uma obra Divina essa que temos o dever de construir e por isso é necessário que estejamos em obediência e harmonia com o Poder Superior, conhecendo e acatando SUA Vontade. ELE tem chamado muitos de nós para o serviço e muito não tem correspondido ao seu chamado por não ter base para executar a tarefa que ELE nos confiou. ‘ Se não existe em nós a Recuperação será difícil, como visto, continuar prestando serviço a Ele, poisDeus é exigente para que sua obra seja perfeita. ‘ Tudo o que DEUS constrói é perfeito e por isso, nós servidores, precisamos estar atentos a Sua Vontade. Somos cooperadores com ELE neste trabalho, mas para desempenhá­lo bem 

precisamos estar vivendo segundo a Sua Vontade, isto é, de acordo com os Princípios contidos nos Doze Passos, e somente assim,podemos executar bem a tarefa. ‘ Daí podemos entender porque é fundamental a Recuperação Individual para que os Grupos sejam “peças” que se harmonizem com o conjunto final: Alcoólicos Anônimos.’ Para que sejamos verdadeiros AAs.Devemos estar vivendo em Recuperação, Vivendo em Unidade e vivendo em Serviço.Somos privilegiados por termos sido escolhidos para fazer parte desta tão nobre missão, mas para isto é necessário Aprender, Servir e Amar, pois, Primeiro; precisamos aprender a praticar os Princípios(ninguém dá o que não Tem), Segundo: precisamos Servir como trabalhadores na obra do Poder SuperiorE Terceiro: AMAR, pois Serviço É Amor. Tudo que fizermos deverá ser feito Com Gratidão e Amor! Que Deus Nos Ensine a Servir com Humildade! 

OBS: Esta Temática foi um trabalho feito por mim há muitos anos.Fonte: 1) Três Legados “Órgão Informativo do 5º Distrito da área de MG ­Ano:19552) A. A. Atinge a Maioridade;Recuperação ,Unidade e Serviços !

FRASES DE BILL W.(VIEMOS A ACREDITAR) ESPIRITUAL

Assunto: FRASES DE BILL W.FONTE:­ “ VIEMOS A ACREDITAR “

“ ESPIRITUAL”

"FRASES DE BILL W.(VIEMOS A ACREDITAR)

ESPIRITUAL

Não permita que nenhum preconceito que você possa ter em relação àsexpressões espirituais o impeça de perguntar honestamente a si mesmo o que elas significam.

Bill W.

EXPERIÊNCIAS ESPIRITUAIS

É um fato que todos que passaram por experiências espirituais afirmam ser isso uma realidade. A melhor evidência dessa realidade está nos frutos subseqüentes.

Aqueles que recebem esse dom da graça são pessoas grandemente transformadas, quase invariavelmente para melhor.

Bill W.

PRECE

Descobrimos em A. A. que os bons resultados reais da prece estão além de qualquer dúvida. Esses resultados sãos questões de conhecimento e experiência.

Todos aqueles que persistiram, encontraram forças que normalmente não possuíam.

Encontraram sabedoria além da sua capacidade normal. Desenvolveram cada vez mais uma paz de espírito inquebrantável nas mais difíceis circunstâncias.

Bill W.

LIVRES DA OBSESSÃO

Nos estágios do nosso alcoolismo, a vontade de resistir nos deixara. E, no entanto, quando admitimos a derrota completa e nos tornamos inteiramente dispostos a tentar os princípios de A. A., nossa obsessão nos abandona e entramos em uma nova dimensão – livres segundo Deus na forma como O concebíamos.

Bill W.

UM DESPERTAR ESPIRITUAL

A Sobriedade é tudo aquilo que podemos esperar do despertar espiritual?Não, a sobriedade é um simples ponto de partida; ela é apenas a primeira bênção do primeiro despertar. Se quisermos receber mais bênçãos, nosso despertar espiritual tem que continuar.

Na medida em que ele prosseguir, descobriremos que podemos nos livrar pouco a pouco da vida antiga – aquela que não funcionou – para encontrarmos uma nova vida que pode funcionar e funciona independentemente de quaisquer condições, não importam quais sejam.

Bill W.

A BUSCA

Você deve estar perguntando a si mesmo, como todos devemos nos perguntar:“Quem sou eu?”... “Onde me encontro?”... “Para onde vou?”

O processo de esclarecimento é quase sempre lento. No entanto, no final, nossa busca sempre leva a uma descoberta. Esses grandes mistérios estão, afinal de contas, em completa simplicidade.

Bill. W.

COINCIDÊNCIA?

A fé em um Poder Superior a nós e as milagrosas demonstrações desse Poder sobre as vidas humanas, são fatos tão antigos quanto o próprio homem.

Bill W.

UM PODER SUPERIOR

Nossos conceitos de um Poder Superior e de Deus – na forma em que O concebíamos – permitem a todos uma opção quase ilimitada no que se refere à crença e à ação espiritual.

Bill W.

PROGRESSO ESPIRITUAL

Não somos santos. O que importa é que estejamos dispostos a crescerespiritualmente. Os princípios que estabelecemos são diretrizes para oprogresso. Procuramos o progresso espiritual e não a perfeição espiritual.

Bill w.

EM TODAS AS NOSSAS ATIVIDADES

O serviço prestado com prazer, as obrigações cumpridas com retidão, os problemas bem aceitos ou solucionados com a ajuda de Deus, o reconhecimento de que em casa ou fora dela somos parceiros em um esforço comum, o fato de que aos olhos de Deus todos os seres humanos são importantes, a prova de que o amor livremente concedido traz um retorno completo, a certeza de não estarmos mais isolados e sozinhos em prisões construídas por nós mesmos, a certeza de que podemos nos adaptar e pertencer ao esquema das coisas criadas por Deus – essas são as satisfações permanentes e legítimas que fruímos de uma vida correta que nenhuma pompa e circunstância, e nenhum amontoado de posses materiais, poderiam possivelmente substituir.

Bill W."

A ORAÇÃO DA SERENIDADE

Dr. Lais Marques da Silva, ex­Custódio e Presidente da JUNAAB

Os depoimentos feitos pelos alcoólicos nos grupos de A.A. freqüentemente mostram que o alcoólico na ativa procurava ter o controle absoluto sobre os seus sentimentos  e  sobre  o  seu  ambiente.  Na  chamada   “fase  ativa”,  bebiam para relaxar, para ficarem “altos”, para ficar espirituosos, para abrandar a dor ­ para controlar. Mas, no mundo real, as coisas não são bem assim e a verdade é que o nosso ânimo depende, em boa medida, das situações e até de pessoas que estão fora do nosso controle. Bebiam também para negar esta dependência.

Ao   usar   o   álcool,   procuravam   negar   a   limitação   da   vontade   e   a dependência e, aí, esta se tornava absoluta. Procuravam o controle ilimitado e a negação da dependência. Mas, existir como ser humano, significa ser limitado e não há absolutos nem ilimitados no nosso poder.

 O A.A. mostra que somos tanto parcialmente dependentes como capazes de ter um controle, que é apenas parcial. Mostra, também, que a verdade é que o ser humano está sempre ajoelhado, a meio caminho entre estar de pé e de estar deitado.

A Irmandade de AA sugere: “Levante­se com as suas pernas, pois você pode fazer algumas coisas, mas não todas as coisas”.   O A.A., por outro lado, 

modera a tendência para a grandiosidade dizendo: “Ajoelhe­se, você pode fazer algumas coisas, mas não todas as coisas”.

Há um jogo de “pode”, “não pode” que é sintetizado, magistralmente, na Oração   da   Serenidade:   ”Concedei­nos   Senhor   a   Serenidade   para   aceitar   as coisas que não podemos modificar (não pode), coragem para modificar aquelas que podemos (pode) e sabedoria para distinguir umas das outras”. Ela retrata a condição humana em relação ao “pode” e “não pode” e mostra o caminho para esse   reconhecimento  a  partir   do   qual   a   paz  e  a   serenidade  de  espírito   são alcançadas.

O alcoólico “na ativa” é uma pessoa que “tem” que beber, mas que “não pode” beber. Mais tarde, na Programação, o alcoólico percebe que não abre mão da “liberdade de beber ”mas que ganha a “liberdade de não beber” e compreende que o alcoólico não é uma pessoa que “não pode beber” mas sim uma pessoa que “pode não beber”, que dispõe de um novo poder, o de não beber. É preciso aceitar o paradoxo para poder apreciar de modo mais amplo a natureza humana e esse  jogo do “pode”,  “não pode”,  de  importância  fundamental  para alcançar a serenidade, ajuda a perceber e a compreender  toda a dimensão de grandeza contida na Oração da Serenidade.

AS TRADIÇÕES, PALESTRA REALIZADA EM CURITIBA,PARANÁ.

Dr. Lais Marques da Silva, ex­Custódio e Presidente da JUNAAB.

Estamos   aqui   reunidos   na   cidade   de   Curitiba,   numa  das   muitas cidades do Estado do Paraná, um dos 26 Estados do Brasil, um grande país entre os muitos países do mundo. Sabemos que os companheiros de A.A. estão unidos mundo   a   fora   e,   melhor,   temos   a   sólida   esperança   de   que   assim   deverão permanecer para sempre. Mas essa certeza e essa expectativa que acalmam o espírito nem sempre estiveram presentes nas mentes dos primeiros membros da Irmandade. No início da vida de A.A., houve um crescimento rápido e espantoso no número de grupos e de pacientes em recuperação e esse crescimento, não obstante ser um fato auspicioso, ameaçou fazer em pedaços a instituição que ainda   estava   sendo   consolidada.   Ao   mesmo   tempo,   esse   crescimento   muito acelerado, exponencial, chamava a atenção e merecia uma análise cuidadosa na busca de explicações.

Em 1941, com a publicação do trabalho de Jack Alexander no Saturday Evening Post, o número de membros de A.A. aumentou subitamente de 2.000 para 8.000 e para 96.000, em 1950. Os grupos foram de 500 em 1944 para 3.500, 

em 1950. Acompanhando esta onda de crescimento, muitos não alcoólicos dos campos  da  medicina,  da   religião  e  da  mídia  estavam  ficando  cada  vez  mais conscientes   de   que   Alcoólicos   Anônimos   representavam   uma   solução   para alcoólicos aparentemente sem esperança, e pediam informações sobre o AA. Da mesma forma, uma inundação de cartas chegava aos escritórios.

Para se ter uma idéia dos problemas e das dificuldades observadas nos primeiros tempos da vida de A.A., um breve quadro será composto usando apenas com as suas linhas mais gerais. Assim, havia o temor das recaídas e dos romances fora do casamento. Afloraram os desejos de poder, fama e dinheiro. Os mais antigos na obra se julgavam donos e consideravam ter direitos adquiridos, e mais, serem portadores de permissão para conduzir a Irmandade. Era necessário conter os dominadores de plantão e as personalidades autoritárias. Havia o medo do aparecimento nos grupos de pessoas esquisitas ou indesejáveis ou mesmo de criminosos.  Como os grupos  iriam se  relacionar  entre si?  Qual  o  conceito  de grupo?   Qual   o   seu   propósito   primordial?   Deveria   o   A.A.   se   envolver   com movimentos   sociais?   Entrar   na   área   educacional?   Tornar­se   uma   instituição reformadora?   Outra   dificuldade   estava   em   levar   a   termo   os   problemas   de dinheiro. Com idéias grandiosas, alguns membros julgavam que precisariam de grandes somas.  Como resolver  o  problema da  tendência ao profissionalismo? Como   lidar   com   o   aparecimento   de   núcleos   internos   de   governo   e   com   o aparecimento de sanções a serem aplicadas? Infratores deveriam ser expulsos? E o que fazer com a tendência a opinar sobre questões alheias à Irmandade com o   conseqüente   envolvimento   em   controvérsias   públicas.   Como   lidar   com   a divulgação em que se faziam promessas, o que se constituía em propaganda? A busca pelo poder e pelo prestígio sempre ocorria.

Esse quadro, muito resumido, mostra que a Irmandade, no início da sua existência, era como uma balsa de náufragos navegando em mar muito perigoso. Era preciso não balançar e estabilizar a embarcação para que todos não ficassem em pânico e não corressem perigos.

Diante dos desafios trazidos pelo intenso crescimento, tanto interno quanto das repercussões externas conseqüentes das atividades dos grupos, Bill se deu conta   de   que   a   nova   Irmandade   poderia   facilmente   ser   esmagada   pelo   seu próprio sucesso, a menos que um corpo de princípios norteadores e uma política de relações com o público fosse formulada. Bill W. se apercebeu da necessidade de estabelecer linhas de procedimento que orientassem as relações internas e externas da Irmandade em face do crescimento de A.A. e da necessidade de manter a unidade; de criar um sistema de proteção para a comunidade recém­criada e de garantir o seu progresso. Identificou também as ameaças potenciais para a existência de Alcoólicos Anônimos: problemas de propriedade, prestígio e poder.  Os  de  propriedade   foram afastados  evitando­se  que  A.A.   se   tornasse 

proprietário   e   fazendo   com   que   pudesse   se   manter,   daí   a   formulação   das Tradições Sexta e Sétima.

 Assim, foram afastadas as ideias de criação de linhas mestras que fossem chamadas   de   leis,   regulamentos,   regras   ou   qualquer   coisa   semelhante,   pois transmitiriam uma ideia de autoritarismo e trariam consequências negativas para a Irmandade. Dessa forma, Bill começou por chamá­las de “Os Doze Pontos Para Garantir  a  Nossa Sobrevivência  Futura”.  No entanto,  alguns desses pontos  já eram tradicionalmente praticados por muitos grupos de A.A. com base nas suas experiências. Daí passarem a ser chamados de “Tradições”.

Da   experiência   acumulada   dentro   da   Irmandade,   surgiram   as   ideias básicas   para   as   Doze   Tradições   de   A.A..   Elas   têm   a   finalidade   de   oferecer soluções para  problemas da vida  diária  da   Irmandade e,  ainda,  de  ajudar  na comunicação   com   a   comunidade   fora   de   Alcoólicos   Anônimos.   Nelas encontramos assuntos relacionados com a existência de A.A. e a maneira pela qual a Irmandade poderia continuar atuando dentro da sociedade em geral. As Tradições  fornecem as ferramentas necessárias para a sobrevivência de A.A., ensinando as condições para que os alcoólicos sejam membros da Irmandade, a autonomia   dos   grupos,   a   unidade   de   propósitos,   a   não­aceitação   de   apoio externo, o anonimato, o profissionalismo, a questão das controvérsias públicas e a autossuficiência. Todo este conjunto de princípios deu origem às Tradições de A.A..

Desse modo, não obstante a existência das ameaças de desunião e de colapso que aconteceram no período de crescimento, a unidade de A.A., a nível mundial,   foi   forjada   graças   ao   desenvolvimento   de   princípios   calcados   em procedimentos existentes em alguns grupos, já então tidos como tradicionais, e nascidos   a  partir   da   solução   de  problemas  do   cotidiano   dessas  estruturas  e capazes de, sendo observados, mantê­las em unidade. Esses princípios foram estudados e consolidados e, no seu conjunto, se constituem naquilo que, hoje, para o nosso conforto e paz, são chamados de as Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Esses princípios, cristalizados a partir da experiência, da vida de A.A. nos   primeiros   tempos,   se   constituem   num   instrumento   poderoso   que   permite transpor obstáculos e resolver os problemas do dia a dia da vida da Irmandade. Por meio da observância do segundo legado, permanecemos em unidade.

Insisto  em chamar  a  atenção  para  esses  primeiros   tempos  da  vida  da Irmandade porque foi aí que surgiram dificuldades e problemas e, a partir deles, as Tradições. Isso parece muito natural e ficamos hoje tranquilos, mas é preciso lembrar sempre que o não conhecimento desses princípios ou a omissão quanto à sua prática poderá nos levar a severas dificuldades e a enormes turbulências, inconvenientes para o processo de recuperação dos portadores da síndrome da 

dependência   do   álcool   e   que,   ademais,   poderão   conduzir   a   rupturas   de consequências imprevisíveis.

Além do  mais,  o  estudo  das  Tradições  encanta  pela  grande  sabedoria existente em cada um dos seus princípios ao mesmo tempo em que espanta os estudiosos   pelo   fato   estranho   de   neles   existir   tanta   inspiração,   tanto discernimento, tanta visão, tanto conhecimento, tanto de humanismo e, ainda, que toda   essa   riqueza   tenha   sido   encontrada   por   aqueles   que   os   conceberam. Acontecimentos como esse não são comuns na história da humanidade em que, infelizmente,   predomina   a   insensatez,   entendida   como   a   tomada   de   atitudes contrárias aos seus próprios interesses.

Penso que é  também oportuno que nos detenhamos sobre o significado das  palavras   legado  e   tradição.   Legado   é   definido   como  dádiva   deixada  em testamento e dádiva é definida como donativo, presente, oferta. A palavra legado, portanto, está mais associada a coisas imateriais e, por isso, penso que a sua adoção é mais adequada do que a da palavra herança, com nítida conotação de coisa material e, por isso, ligada ao mundo das coisas e até à possibilidade da existência de conflitos. Fica, desse modo, a ideia de algo imaterial, precioso e enriquecedor do espírito, que é o que se aplica ao uso que fazemos em A.A. da palavra legado. Também é válido se deter sobre o significado da palavra tradição como  sendo  costume,  hábito,  uso  ou  crença,  especialmente  a  que  passa  de geração em geração. Ou seja, um corpo de hábitos e crenças tidas como sendo de valor por uma cultura particular. Mas, se, por um lado, as Tradições significam para   a   Irmandade,   como   um   todo,   progresso,   proteção   e   unidade,   para   os membros   de   A.A.,   que   as   praticam,   representam   uma   linha   de   crescimento espiritual  na  medida em que colocam o outro  em primeiro   lugar  e  passam a valorizar o bem­estar comum.

Os   fatos   históricos   aqui   descritos,   de   grande   importância   e   que convergiram para o aparecimento das Tradições de A.A. serão ainda muito úteis para avivar no nosso espírito a idéia de que precisamos estudar as Tradições com grande dedicação, mantendo a lembrança de que estes princípios que salvaram, naqueles tempos, a nossa Irmandade da desintegração. Espero que este relato possa   concorrer   para   formar   a   consciência   de   que   o   não   estudo   e   a   não observância desse  legado poderá   resultar na perda da unidade,   indispensável para que possamos levar adiante a mensagem de A.A. pelo mundo. 

Quando  falamos de  alguma coisa  e  usamos a  expressão mundial,  que abrange o mundo inteiro, por todos os cantos do mundo, fica a ideia de um certo  ufanismo. Os brasileiros cantaram em prosa e verso o  fato de  terem o maior estádio de  futebol  do mundo, de serem os melhores  jogadores do mundo, de fazerem   o   melhor   carnaval   do   mundo,   etc.   Resultou   que   essas   expressões ficaram um pouco desgastadas ainda porque foram usadas para qualificar outros 

aspectos da nossa terra. Mas, quando me refiro nestes termos à Irmandade de Alcoólicos Anônimos, o faço a partir de experiências pessoais. Assim, em 1991, estando a passeio, visitei o ESG da França. Fui no 21, Rue Trousseau, em Paris, e lá fui carinhosamente recebido pela chefe do serviço. Conversamos longamente sobre  as  características  do A.A.  da  França e do Brasil  e  ela,  aproveitando a oportunidade, me mostrou uma coleção de Vivência colocada numa prateleira. Eram revistas que o ESG enviava regularmente para vários escritórios de serviços gerais.  Disse­me  que  não  entendia  a   língua,  mas  que   tinha  uma  empregada portuguesa que lia para ela os artigos das revistas. Cerca de um mês mais tarde, fui à cidade de York, na Inglaterra, para fazer, entre outras, uma visita ao GSO. Novamente, fui recebido com muita alegria, carinho e atenção, além de surpresa, naturalmente. Lá havia também uma coleção de revistas Vivência. Mostraram­me algumas   publicações  do   GSO  e,   entre  os   companheiros  que  me   receberam, estava um que, mais tarde, eu iria reencontrar como delegado na 11ª Reunião Mundial, realizada em Nova York.

Nesta reunião mundial,  convivi  com companheiros de mais de quarenta países do mundo. A agenda de trabalho era muito intensa, mas não eram menos intensas  as  conversas  de  corredor.  Muita  experiência   foi   também  trocada  no decorrer dos grupos de trabalho e nas refeições que juntos fizemos. Experiências muito enriquecedoras foram vividas. Ainda na referida cidade, fui a duas reuniões de grupo e pude observar que em tudo eram semelhantes às que fazemos aqui no nosso país.

O que aqui relato é, exatamente, fruto da existência e da prática das 12 Tradições e reflete a importância e o poder desses princípios para a vida de A.A., como   uma   instituição   mundial.   A   importante   conclusão   que   tirei   dessas experiências aqui relatadas e de outras mais, é que somos todos, membros de A.A., um só corpo, um organismo só, integrado e uno.

Na certeza da importância dos trabalhos que aqui seriam realizados é que aceitei o convite que me foi feito pelos companheiros para participar deste ciclo.  Vim do Rio de Janeiro, fiz uma longa viagem e isso traduz a convicção que tenho da   importância  do  estudo  das  Tradições  de  A.A..  Vim  trazer  a  minha   fé   nos destinos desta Irmandade mundial a partir da prática das 12 Tradições.

ACERCA DO SURGIMENTO DOS DOZE PASSOS DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS,

DE ACORDO COM RELATO FEITO PELO COFUNDADOR BILL W.GRAPEVINE – JUNHO DE 1953.

Dr. Laís Marques da Silva, Ex­Custódio e Presidente da JUNAAB.Extrato

No que se refere a pessoas, três foram as fontes de inspiração: Os Grupos Oxford,  o  Dr.  William D.  Silkworth,  do  Hospital  Towns,  e  o  psicólogo  William James.

Os Grupos Oxford eram um movimento evangélico que floresceu nos anos 20 e 30 do século passado. Eles colocavam forte ênfase no trabalho pessoal, um membro   junto  a  outro,   e  nos  quatro  absolutos:   honestidade  absoluta,   pureza absoluta,   generosidade   absoluta   e   amor   absoluto.   Praticavam   um   tipo   de penitência, a que chamavam compartilhamento, além da feitura de reparações pelos danos causados, ao que chamavam restituição, devolução. Davam grande valor ao que designavam de tempo de calma, uma forma de meditação praticada pelas pessoas e pelos grupos em que a orientação de Deus era buscada. Essas idéias não eram novas, mas o que valeu muito para os primeiros alcoólicos que freqüentavam   os   grupos   foi   o   fato   de  que   colocavam   grande   ênfase   nesses princípios  e  no   cuidado  especial   de  não   interferir   nas   crenças   religiosas  das pessoas.

Em 1934, no convívio com esses grupos, Ebbie ficou sóbrio, livrou­se da obsessão que o  levava a beber.  Chegando a Nova York, procurou Bill  e,  nas conversas que tiveram, usou com freqüência frases como: “eu perdi o controle da minha   vida”,   “devo   fazer   uma   reparação   pelos   danos   causados   aos   outros”, “tenho que pedir a Deus orientação e força, mesmo que não esteja certo da sua existência” e “após ter tentado com empenho praticar essas coisas, me dei conta de que a minha compulsão pelo álcool passou”. Repetia: “você não luta contra o desejo de beber, você se livra dele”. Eu nunca havia sentido isso antes. Foi o que Ebbie absorveu dos Grupos Oxford e transmitiu a Bill naquele dia, o impressionou fortemente  e  o   fez  entender   o  quê   de  especial   havia  em um alcoólico  estar falando com um outro alcoólico de um modo que nenhuma outra pessoa podia fazer.

Em 11 de dezembro deste mesmo ano, Bill foi ao Hospital Towns procurar o Dr. Silkworth que, por anos, afirmara que o alcoolismo era uma doença, uma obsessão da mente associada a uma alergia do corpo e, naquele tempo, Bill sabia o que isso significava, pois que a obsessão o condenava a beber e a alergia o condenava à morte. Era esse o ponto em que a ciência começava a se encaixar no problema do alcoolismo. A fim de melhor entender as palavras do Dr. Silkworth quando buscava a similaridade entre as duas condições, vale acrescentar que a 

alergia,   em   si,   é   um   conceito   bem   compreendido   sendo   fácil   entender   que pessoas alérgicas a penas não consigam estar por perto de galinhas. A maior parte  das   pessoas  pode  estar   em volta   de  galinhas   sem  sofrer   o  mais   leve desconforto,  mas  as  pessoas  que   são  alérgicas  a  penas  podem  ter  ataques severos de espirros e coriza, olhos lacrimejantes, respiração difícil, e assim por diante. Esta reação é devida a uma resposta física anormal da vítima à inalação de partículas microscópicas das penas. Na visão do doutor, o alcoólico é alérgico ao álcool no sentido de que a ingestão dispara uma resposta química anormal no corpo que é manifestada como uma compulsão por mais álcool. O bebedor social automaticamente para de beber quando é razoável fazê­lo e nunca tem qualquer necessidade   para,   conscientemente,   controlar   a   bebida.  Ele   não   experimenta compulsão.  Naturalmente,   o   alcoolismo  não   é   uma  verdadeira  alergia   mas  o conceito   é   útil   para   entender   o   que   é   um   tipo   de   reação   anormal   bem estabelecida. A reação anormal a uma substância estranha fornece uma base para o entendimento do porquê um alcoólico não pode se entender com o álcool. 

Nas mãos de um alcoólico falando com outro, essa verdade de dois gumes era o argumento que poderia romper o ego rígido do alcoólico, em profundidade, e abri­lo para a Graça de Deus. No caso de Bill, o Dr. Silkworth vibrou o malho enquanto o amigo Ebbie trazia os princípios espirituais e a Graça que o levaria ao seu súbito despertar espiritual no hospital, três dias após e fazê­lo sentir­se um homem livre. Essa magnífica experiência veio com a certeza de que um grande número de alcoólicos poderia um dia gozar do precioso presente que lhe havia sido concedido. Nesse ponto, um terceiro componente surgiu da leitura do livro “Variedades  da  Experiência  Religiosa”,  de  William James.  O  Dr.  Silkworth  se esforçou em convencer Bill de que ele não estava sofrendo alucinações, mas o livro fez mais ainda pois, da sua leitura, ficou claro que as experiências espirituais não só poderiam tornar as pessoas mais sadias mas também transformar homens e mulheres de tal modo que poderiam fazer, sentir e acreditar no que até então se mostrara impossível para eles. O maior retorno que o livro proporcionou foi que, na maioria dos casos, os que se transformaram eram pessoas sem esperança e que, em áreas de controle da sua vida, tinham encontrado a derrota absoluta. Em completa derrota, sem esperança ou fé, Bill fez um apelo ao Poder Superior, o que  hoje  é  o  Primeiro  Passo de  Programa de  A.A.  –  admitimos  que   éramos impotentes diante do álcool e que as nossas vidas se tornaram inadministráveis – e ainda o Terceiro Passo, que devíamos entregar a vontade e a vida aos cuidados de deus da forma que o concebiam. Assim ele se tornou livre. Era tão simples e tão misterioso, também.

Bill  se  juntou então aos Grupos Oxford,  mas continuou com a  idéia  de devotar­se   exclusivamente   aos   bêbados   enquanto   aqueles   grupos, diferentemente, queriam salvar o mundo todo ao mesmo tempo em que os seus resultados com alcoólicos eram pobres.  Cerca de seis meses depois,  Bill  não tinha conseguido tornar ninguém sóbrio e todas as tentativas haviam resultado frustradas. No entanto, Bill continuava com a certeza de que um caminho para a sobriedade   poderia   ser   encontrado.   Se   ele   e   Ebbie   chegaram   à   sobriedade, porque os outros não poderiam chegar? Imaginava, naquele tempo, que poderia ser  porque não havia acompanhado o  ritmo dos Grupos Oxford com os seus quatro absolutos de honestidade, pureza, generosidade e amor. Por outro lado, a postura de pressão agressiva sobre os alcoólicos para ficarem bem rapidamente os fazia voar como gansos por semanas e depois cair tristemente. Os alcoólicos se queixavam também de uma outra forma de coerção exercida pelos Grupos Oxford a que chamavam de “guia para os outros”. Um grupo de não alcoólicos sentava­se   com   um   alcoólico   e,   após   um   tempo   de   calma,   apresentavam instruções precisas de como o alcoólico devia levar a sua vida; mas isso, para o alcoólico, era difícil de fazer.

Depois de meses, Bill verificou que o problema estava principalmente nele. Havia  se   tornado agressivo  e  muito  convencido.  Falava muito    da  sua súbita experiência   espiritual   como   se   fosse   uma   coisa   muito   especial.   Estava desempenhando o duplo papel de professor e de pregador. Nas suas exortações, havia esquecido o lado médico do problema e a necessidade de desinflar,  tão enfatizada por  William James,   tinha sido negligenciada.  Não estava usando o malho que, de modo providencial, o Dr. Silkworth havia dado a ele. Finalmente, um dia, o doutor esteve com Bill e perguntou por que não parava de falar daquela sua experiência  da  luz  e  disse  que,  embora  estivesse convencido de que as coisas morais faziam os alcoólicos melhores, pensava que Bill estava botando a carroça na frente do cavalo. Os alcoólicos não iriam aceitar a sua exortação até que se convencessem de que deveriam fazê­lo. Se eu fosse você, disse, iria a eles com o fundamento médico, em primeiro lugar. Seria melhor dar, primeiro, as más notícias e, por causa da sua identificação natural com eles, você  poderia chegar onde eu não posso. Isso os amaciará de modo a aceitar os princípios que os farão sentir­se bem, disse.

Pouco tempo depois desta conversa, Bill encontrava­se em Akron, Ohio, numa viagem de negócio mal sucedida. Estando sozinho, sentiu medo de ficar bêbado. Não era mais professor nem pregador e sim um alcoólico que sabia que   necessitava   de   um   outro   alcoólico   tanto   quanto   um   outro   alcoólico necessitava dele. Chegou ao Dr. Bob levado por essa necessidade e logo ficou 

claro que o Dr. Bob era mais espiritualizado do que ele e que tivera contactos com os Grupos Oxford, mas não conseguira ficar sóbrio. Seguindo o conselho do Dr. Silkworth, Bill usou o argumento médico e disse que o alcoolismo era fatal e isso, aparentemente, tocou em Bob que, em 10 de junho de 1935, ficou sóbrio e nunca mais voltou a beber.

Nas palavras de Bill, o Dr. Silkworth havia suprido o elo que faltava e, sem ele,  a cadeia de princípios, consolidada nos 12 Passos,  nunca estaria completa.

Durante os  três anos seguintes,  os grupos cresceram a partir  do programa boca­a­boca dos primeiros tempos e, na medida em que começaram a formar   um   grupamento   humano   separado   dos   Grupos   Oxford,   começaram   a consolidar os princípios com algo como:

1. admitimos que éramos impotentes diante do álcool.2. tornamo­nos   honestos   com   as   outras   pessoas, 

confidencialmente.3. fizemos reparações pelos males causados aos outros.4. trabalhamos   com   outros   alcoólicos   sem   procurar 

prestígio ou dinheiro.5. pedíamos a Deus para nos ajudar a fazer essas coisas 

tão bem quanto possível.

Este foi o fundamento da mensagem para os alcoólicos que chegaram até 1939, quando os 12 Passos foram postos no papel.

Bill relatou que na tarde do dia em que os 12 Passos foram escritos ele estava de cama. Achou que o programa deveria ser colocado mais  incisiva e claramente,  pois   conhecia  a  habilidade  do  alcoólico  de   racionalizar  e  alguma coisa   incontestável  deveria  ser  escrita.  Começou  por  separar  o  programa em pequenas partes, as desenvolveu e, em meia hora, escreveu os princípios que, ao contar, verificou que eram em número de 12. Por alguma razão não percebida, colocou a idéia de Deus no Segundo Passo e usou a palavra Deus de forma livre ao longo dos outros passos e, num deles, chegou a sugerir que o recém­chegado ficasse de joelhos. Apresentados esses passos numa reunião em Nova York, os protestos foram muitos e veementes. Os amigos agnósticos não absorveram a idéia   de   ajoelhar   e   outros   disseram   que   estavam   falando   muito   em   Deus. Perguntaram também porque Doze Passos, se haviam feito cinco ou seis? Era preciso manter simples, disseram. A discussão foi intensa por dias e noites. Os agnósticos convenceram os companheiros que deveríamos tornar as coisas mais fáceis para gente como eles usando termos como “Poder Superior”  ou “Deus, 

como nós o entendemos” e essas expressões se mostraram salvadoras de vidas para muitos alcoólicos além de permitir que milhares deles pudessem entrar no programa. Os Passos continuaram a ser  doze e,  cedo,   foram aprovados pelo clero de todas as denominações e pelos amigos psiquiatras.

Ninguém  inventou  Alcoólicos  Anônimos,  ele  simplesmente  cresceu  pela Graça de Deus.

ATITUDES QUE DIFICULTAM A COMUNICAÇÃO EM REUNIÕES DE SERVIÇO

1. Jamais procure derrotar um dos participantes. Você não veio para vencer e sim para cooperar. Não faça a guerra, faça o amor. Além do mais, o derrotado em público jamais o perdoará.

2. Não diga “é claro”, “você não entendeu”. Não ponha culpa no grupo. Diga: “eu não consegui me expressar bem” ou “eu não fui muito claro”.

3. Não pense muito em você, se você é muito tímido.  Pense no assunto  que está em discussão.

4. Não carregue o grupo nas costas.  Estimule  todos os seus componentes a cumprir a sua tarefa. Não seja paternal. Todos são responsáveis pelo êxito do grupo.

5. O dominador se desculpa dizendo que ninguém quer trabalhar. O tímido diz que não o deixam participar. O fato é que ambos são imaturos.

6. Não obedeça; coopere. Lembre­se de que é livre.7. Não seja parasita. Ofereça a sua colaboração e a sua experiência ao grupo. 

Ele precisa da sua participação.8. Não espere ser convidado. Participe, mesmo que haja dificuldades.9. Evite   alongar­se   demais.  Prolixidade  é   sinal   de  confusão   mental.   Ser 

sintético é sinal de inteligência.10. Cuidado para que, quando esteja falando demais ou de menos, você não 

esteja sabotando o grupo.11. Lembre­se de que a participação implica em responsabilidade e se você 

não se sentir responsável, você não é parte do grupo.12. Abandone as frases feitas. Seja criativo.13. Não   se   impressione   com   os   títulos   que   alguém   possa   ter.   É   preciso 

procurar a reciprocidade para que haja colaboração.14. Não tenha vergonha de ser  entusiasta.  Transmita  calor humano.  Você 

não é robô.

15. Evite ser lógico sem amor porque aí a lógica é implacável. Evite o amor sem lógica, porque aí é sentimentalismo.

16. Não   crie  barreiras   psicológicas.  Deixe­se   modificar   e   modifique   o grupo.

17. Não seja  impermeável.  Aceite, mesmo que provisoriamente, o ponto de vista de um companheiro. Só dessa forma o diálogo será possível.

18. Não   seja   primário,   deslumbrado   ou   mágico.   O  homem   comum   é perspicaz e o moderno é crítico e criativo.

19. Não desestruture o grupo diante de problemas. Divida as dificuldades.20. Se necessária a votação, ela deverá ser realizada após longa discussão 

de modo a ser alcançada substancial unanimidade.

ATITUDES QUE FACILITAM A COMUNICAÇÃO EM REUNIÕES DE SERVIÇO

1- Disponha, de preferência, os assentos em forma de círculo. É uma forma de equilibração geométrica. Não há destaques.

2- Evite dizer a palavra vocês. Use o nós de modo a não se colocar à parte.3- Dirija­se sempre ao grupo, mesmo quando se referir apenas a um dos seus 

componentes.4- Procure não se sentar junto aos mais íntimos porque isso tenderia à formação 

de grupinhos separados. Sente­se junto aos que conhece menos.5- Não fique falando baixo com os companheiros sentados ao lado. Isso pode ser 

entendido como uma crítica a alguém.6- Fique  atento  a   tudo  o  que   é  dito.  Olhe  para  quem  fala  e  assim o  estará 

respeitando. Não é bom alhear­se enquanto prepara a sua intervenção.7- Ao dar uma opinião, procure relacioná­la a uma idéia exposta anteriormente. 

Isso dará um encadeamento ao que está sendo discutido.8- Ao dar uma opinião, diga sempre o porquê. Mostre que é o resultado de um 

pensamento, de uma elaboração mental e não somente um palpite.9- Leve na devida conta a opinião dos tímidos. Além da sua colaboração, isso 

representa um modo de estimulá­los a participar.10- Não use a expressão não concordo. Não se emocione nem eleve a voz. 

Essas   coisas   criam   barreiras.   Discorde   sem   dizer  não   concordo.   Todos perceberão a sua discordância.

11- Às vezes, é bom lançar uma dúvida para descongelar os dogmas e forçar a reflexão. Proponha uma afirmação contrária.

12- Procure coordenar e não ser um chefe. Quem precisa de chefe é bando.

13- Se está  difícil  encaminhar a discussão de um tema, sugira uma parada para examinar o que está impedindo a progressão. Faça isso para evitar que sejam feitas críticas “a posteriori” e, portanto, fora da reunião. É um modo de ser leal ao grupo.

14- Quando alguém der um  palpite,  pergunte por que? Quando? Onde?   E assim por diante, de modo a forçar uma operação mental em vez de mero palpite.

15- Ouça   os   que   não   entendem   do   assunto.   Às   vezes,   eles   se   mostram criativos e lógicos.

16- Tenha   coragem   de   fazer   as   suas   exposições.   Corra   o   risco   de   ser contestado e não expresse apenas dúvidas.

17- Evite  a palavra  acho.  Isso é  apenas uma  hipocrisia,  uma vez que, na maioria das vezes, a pessoa que assim se expressa está convicta e lutando pela sua opinião. É melhor dizer que não pode provar o que diz e aí estará abrindo o  jogo.  No  acho,  a  pessoa não expõe uma convicção, mas uma dúvida. A “achologia” não constrói nada.

18- Procure elogiar as pessoas; elas crescem. Seja generoso.19- Se estiver muito acima do grupo, faça perguntas e não afirmações. Não dê 

aula. Use o método da Maiêutica de Sócrates, que é igual a partejar idéias.20- Passe a bola para recebê­la de volta.

AUTO­ESTIMADr. Lais Marques da Silva, ex­presidente da Junaab.

Auto­estima. Valorização de si mesmo, amor próprio. 

Entre   os   alcoólicos,   é   comum   observar   que,   anteriormente   ao desenvolvimento   da   dependência   química,   eram   egocêntricos,   apresentavam baixa capacidade de suportar tensões nervosas e que tinham baixa autoestima, embora   esses   traços   não   concorram   para   elevar   o   risco   de   se   tornarem alcoólicos. 

Para sair de um padrão emocional baixo, os alcoólicos dependem de novas e poderosas fontes de auto­estima e de esperança, sendo observado que uma abstinência estável esteja ligada a uma mudança profunda de personalidade que ocorre,  não  por   coincidência,   com a  evolução  que  se  verifica  no  decurso  do crescimento espiritual.

Em A.A. não se estuda o problema do alcoolismo nem se faz diagnóstico. Diagnosticar   como   alcoólico   corresponderia   a   rotular   de   um   modo   que   pode causar dano tanto à autoestima quanto à aceitação social.

A autoestima recebe um reforço considerável quando o alcoólico entra em serviço, uma vez que não só percebe que pode fazer alguma coisa pelos outros, mas  também porque o serviço tende a reduzir  a  preocupação mórbida que o alcoólico tem consigo mesmo, além de fortalecer a ligação entre o membro de A.A. e o grupo.

A elevação da autoestima é de enorme importância, pois leva os alcoólicos a mudanças de atitude e a melhores resultados do que os que se conseguem simplesmente fazendo ameaças ou apelando para a racionalidade ao se procurar fazer   aconselhamento.   É   uma   mudança   de   atitude.   A   recuperação   está intimamente associada ao ganho de auto­estima.

Um outro   fato   importante   ligado  ao  aumento  da  auto­estima  é  que,  na medida em que ela  aumenta,  o  alcoólico  readquire a capacidade de ouvir  as mensagens  que  são  passadas  nos  grupos.  Ele  se   torna  permeável,   aceita   a comunidade formada pelo grupo.

Auto­estima é alguma coisa que não se pode pegar, mas ela influi na nossa maneira de sentir e de ser. Não se pode vê­la, mas está lá quando nos vemos no espelho. Não podemos ouvi­la, mas esta lá quando falamos com nós mesmos. 

Estima é a palavra que usamos para coisa ou pessoa que avaliamos como sendo de valor. Se se acha que uma pessoa tem valor, isso significa que ela está em elevada estima. Temos estima por um troféu porque ele traduz o valor da conquista. Auto significa de si mesmo e, aí está então a auto­estima significando que nos achamos importantes. É como nos vemos e como sentimos acerca das nossas realizações. É a maneira silenciosa de se achar de valor, de ser amado e aceito pelas pessoas.

A auto­estima ajuda a manter a cabeça elevada, a ter orgulho de si mesmo e do que podemos fazer.  Dá  coragem para  tentar novas coisas e poder para acreditar em si mesmo. Dá respeito a si mesmo quando se comete um engano. Quando   nos   respeitamos,   as   outras   pessoas   também   o   fazem.   É   também necessária para fazer opções certas acerca de nós mesmos.

 Naturalmente, todos nós temos altos e baixos, mas ter baixa auto­estima não é bom. Sentir­se sem importância causa tristeza e isso pode inibir as nossas 

ações, dificultar fazer novas amizades. Ter elevada auto­estima é importante para crescer.

É preciso fazer uma lista das coisas em que somos bons, quaisquer que sejam elas. É preciso que nos cumprimentemos a cada dia por todas as coisas que fazemos bem e de bom e ainda lembrar delas antes de dormir.

É preciso gostar do nosso corpo porque ele é nosso, afinal. Se há algo que pode   ser   corrigido,   é   corrigir.   Mas   é   necessário   aceitar   o   que   não   se   pode modificar.  Se pensamentos negativos  invadem a nossa mente,  que se dê  um basta neles.

É preciso manter o foco nas boas coisas e nas boas qualidades que temos e, sobretudo, aprender a nos aceitar. É preciso fazer brilhar a nossa auto­estima.

PENSAMENTOS QUE AJUDAM“Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, 

eu  estava  no   lugar   certo,   na  hora   certa,   no  momento  exato.  E,  então,   pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome ... Auto­estima”.

“Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável: pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início, a minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama ... Amor­próprio”.

“Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é  onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é ...Plenitude”.

“Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei menos vezes. Hoje descobri a ... Humildade”.

“Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre, desisti de fazer grandes planos e abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é ... Simplicidade”.

“Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo 

sabendo que não é o momento ou que a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.  Hoje sei que o nome disso é ... Respeito”.

“Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente   e   comecei   a   ver   que   tudo   o   que   acontece   contribui   para   o   meu crescimento. Hoje chamo isso de ... Amadurecimento”.

“Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades. Hoje seu que isso é ... Autenticidade”.

“Quando   me   amei   de   verdade,   percebi   que   a   minha   mente   pode   me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é ... Saber Viver”. 

Ciclo d’AS DOZE TRADIÇÕESRealizado em Leopoldina­MG

O segundo Legado, na visão do Dr. Laís Marques da Silva.Ex­Custódio e Presidente da Junaab.

Estamos aqui unidos na cidade de Leopoldina, numa das muitas cidades do Estado de Minas Gerais, um dos 26 Estados do Brasil, um grande país entre os muitos paises do mundo. Sabemos que os companheiros de A.A. estão unidos mundo a fora e, melhor, temos a esperança de que assim deverão permanecer. Mas   essa   certeza   e   essa   expectativa   que   acalmam   o   espírito   nem   sempre estiveram presentes nas mentes dos primeiros membros da Irmandade. No início da vida de A.A., houve um crescimento rápido e espantoso no número de grupos e de pacientes em recuperação e esse crescimento, não obstante ser um fato auspicioso,  ameaçou   fazer  em pedaços  a   instituição  que  ainda  estava  sendo consolidada. Ao mesmo tempo, esse crescimento muito acelerado, exponencial, era um fato que chamava a atenção e que merecia uma análise respeitosa na busca de uma explicação.

Para  dar  uma   idéia   dos  problemas  e  das  dificuldades  observadas  nos primeiros   tempos   da   vida   de   A.A.,   um   breve   quadro   será   composto   usando apenas as suas  linhas mais gerais.  Assim, havia o  temor das recaídas e dos romances fora do casamento. Afloraram os desejos de poder, fama e dinheiro. Os mais   antigos   na   Irmandade   se   julgavam   donos   e   consideravam   ter   direitos adquiridos,   e   mais,   serem   portadores   de   permissão   para   conduzi­la.   Era 

necessário conter os dominadores de plantão e as personalidades autoritárias. Havia o medo do aparecimento nos grupos de pessoas esquisitas ou indesejáveis ou mesmo de criminosos. Como os grupos iriam se relacionar entre si? Qual o conceito de grupo? Qual o seu propósito primordial? Deveria o A.A. se envolver com movimentos sociais? Entrar na área educacional? Tornar­se uma instituição reformadora?   Outra   dificuldade   estava   em   levar   a   termo   os   problemas   de dinheiro. Com idéias grandiosas, alguns membros julgavam que precisariam de grandes somas.  Como resolver  o  problema da  tendência ao profissionalismo? Como   lidar   com   o   aparecimento   de   núcleos   internos   de   governo   e   com   o aparecimento de sanções a serem aplicadas? Infratores deveriam ser expulsos? E o que fazer com a tendência a opinar sobre questões alheias à Irmandade com o   conseqüente   envolvimento   em   controvérsias   públicas.   Como   lidar   com   a divulgação em que se faziam promessas, o que se constituía em propaganda? A busca pelo poder e pelo prestígio sempre ocorria.

Esse quadro, muito resumido, mostra que a Irmandade, no início da sua existência, era como uma balsa de náufragos navegando em mar muito perigoso. Era preciso não balançar e estabilizar a balsa para que todos não ficassem em pânico e não corressem perigos.

Não obstante a existência das ameaças de desunião e de colapso que aconteceram neste período de crescimento, a unidade de A.A., a nível mundial, foi forjada graças ao desenvolvimento de princípios calcados em procedimentos existentes em alguns grupos, já então tidos como tradicionais, e nascidos a partir da solução de problemas do cotidiano dessas estruturas e capazes de, sendo observados,   mantê­las   em   unidade.   Esses   princípios   foram   estudados   e consolidados e, no seu conjunto, se constituem naquilo que, hoje, para o nosso conforto e paz, são chamados de as Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Esses   princípios,   cristalizados   a   partir   da   experiência,   da   vida   de   A.A.   nos primeiros tempos, se constituem num instrumento poderoso que permite transpor obstáculos e resolver os problemas do dia a dia da vida da Irmandade. Por meio da observância do segundo legado, permanecemos em unidade.

Insisto em chamar a atenção para esses primeiros tempos porque neles surgiram dificuldades e problemas e, a partir  deles,  as Tradições.  Isso parece muito  natural  e   ficamos  tranqüilos,  mas é  preciso   lembrar  sempre que o  não conhecimento desses princípios ou a omissão quanto à sua prática poderá nos levar  a  severas dificuldades e  a  enormes   turbulências,   inconvenientes  para  o processo de recuperação dos portadores da síndrome da dependência do álcool e que, ademais, poderão conduzir a rupturas de conseqüências imprevisíveis.

Além do  mais,  o  estudo  das  Tradições  encanta  pela  grande  sabedoria existente em cada um dos seus princípios ao mesmo tempo em que espanta os estudiosos   pelo   fato   estranho   de   neles   existir   tanta   inspiração,   tanto 

discernimento, tanta visão, tanto conhecimento, tanto de humanismo e, ainda, que toda   essa   riqueza   tenha   sido   encontrada   por   aqueles   que   os   conceberam. Acontecimentos como esses não são comuns na história da humanidade em que, infelizmente,   predomina   a   insensatez,   entendida   como   a   tomada   de   atitudes contrárias aos seus interesses.

Penso que é  também oportuno que nos detenhamos sobre o significado das  palavras   legado  e   tradição.   Legado   é   definido   como  dádiva   deixada  em testamento e dádiva é definida como donativo, presente, oferta. A palavra legado, portanto, está mais associada a coisas imateriais e, por isso, penso que a sua adoção é mais adequada do que a da palavra herança, com nítida conotação de coisa material e, por isso, ligada ao mundo das coisas e até à possibilidade da existência de conflitos. Fica, desse modo, a idéia de algo imaterial, precioso e enriquecedor do espírito, que é o que se aplica ao uso que fazemos em A.A. da palavra legado. Também é válido se deter sobre o significado da palavra tradição como  sendo  costume,  hábito,  uso  ou  crença,  especialmente  a  que  passa  de geração em geração. Ou seja, um corpo de hábitos e crenças tidas como sendo de valor por uma cultura particular.

Isto   posto,   vamos   considerar   alguns   fatos   históricos,   de   grande importância, que convergiram para o aparecimento das Tradições de A.A. e que, ainda mais, irão avivar no nosso espírito a idéia de que precisamos estudar as Tradições com grande dedicação, mantendo a lembrança de que estes princípios que salvaram, naqueles tempos, a nossa Irmandade da desintegração. O relato concorrerá para formar a consciência de que o não estudo e a não observância desse   legado   poderá   resultar   na   perda   da   unidade,   indispensável   para   que possamos levar adiante a mensagem de A.A. mundo afora. 

Em 1941, com a publicação do trabalho de Jack Alexander no Saturday Evening Post, o número de membros de AA saltou de 2000 para 8000 e para 96000,   em   1950.   Os   grupos   foram   de   500   em   1944   para   3.500   em   1950. Acompanhando esta onda, muitos não alcoólicos dos campos da medicina, da religião e da mídia estavam ficando cada vez mais conscientes de que Alcoólicos Anônimos   representavam   uma   solução   para   alcoólicos   aparentemente   sem esperança e pediam informações sobre o AA. Da mesma forma, uma inundação de cartas chegava aos escritórios.

Diante dos desafios trazidos pelo intenso crescimento tanto interno quanto externo,   Bill   se   deu   conta   de   que   a   nova   Irmandade   poderia   facilmente   ser esmagada   pelo   seu   próprio   sucesso,   a   menos   que   um   corpo   de   princípios norteadores e uma política de relações com o público fosse formulada.

Naqueles  tempos,  Bill  W.  se  apercebeu da necessidade de estabelecer linhas   de   procedimento   que   orientassem   as   relações   internas   e   externas   da 

Irmandade em face do crescimento de AA e da necessidade de manter a unidade; de criar uma proteção e de garantir o progresso.

Bill  W.,   co­fundador   de  A.A.,   identificou  as  ameaças  potenciais  para  a existência de Alcoólicos Anônimos: problemas de propriedade, prestígio e poder. Os de propriedade foram afastados evitando­se que A.A. se tornasse proprietário e fazendo com que se pudesse manter. Daí as Tradições Sexta e Sétima.

  Foram   afastadas   as   idéias   de   criação   de   linhas  mestras   que   fossem chamadas   de   leis,   regulamentos,   regras   ou   qualquer   coisa   semelhante,   pois transmitiriam uma idéia de autoritarismo e trariam conseqüências negativas para a Irmandade. Dessa forma, Bill começou por chamá­las de “Os Doze Pontos Para Garantir  a  Nossa Sobrevivência  Futura”.  No entanto,  alguns desses pontos  já eram tradicionalmente praticados por muitos grupos de A.A. com base nas suas experiências, daí que passaram a ser chamados de Tradições.

Portanto, da experiência acumulada dentro da própria Irmandade, surgiram as  idéias básicas para a elaboração das Doze Tradições de A.A..  Elas  têm a finalidade de oferecer soluções para problemas da vida diária da Irmandade e, ainda, ajudar na comunicação com a comunidade, fora de Alcoólicos Anônimos. Nelas encontramos todos os assuntos relacionados com a existência de A.A. e a maneira pela qual a Irmandade pode continuar atuando dentro da sociedade em geral. As Tradições fornecem as ferramentas necessárias para a sobrevivência de A.A.,   ensinando   as   maneiras   para   que   os   alcoólicos   sejam   membros   da Irmandade, a autonomia dos grupos, a unidade de propósitos, a não­aceitação de apoio  externo,  o  anonimato,  o  profissionalismo,  controvérsias  públicas  e auto­suficiência. Todo este conjunto de princípios deu origem às Tradições de A.A..

Se, por um lado, as Tradições significam para a Irmandade, como um todo, progresso,   proteção   e   unidade,   para   os   membros   de   A.A.,   que   as   praticam, representam uma linha de crescimento espiritual na medida em que colocam o outro em primeiro lugar e passam a valorizar o bem­estar comum.

Quando  falamos de  alguma coisa  e  usamos a  expressão mundial,  que abrange o mundo inteiro, por todos os cantos do mundo, fica a idéia de um certo ufanismo. Os brasileiros cantaram em prosa e verso o  fato de  terem o maior estádio de  futebol  do mundo, de serem os melhores  jogadores do mundo, de fazerem   o   melhor   carnaval   do   mundo,   etc.   Resultou   que   essas   expressões ficaram um pouco desgastadas ainda porque foram usadas para qualificar outros aspectos da nossa terra. Mas, quando me refiro nestes termos à Irmandade de Alcoólicos Anônimos, o faço a partir de experiências pessoais. Assim, em 1991, estando a passeio, visitei o ESG da França. Fui no 21, Rue Trousseau, em Paris, e lá fui carinhosamente recebido pela chefe do serviço. Conversamos longamente sobre  as  características  do A.A.  da  França e do Brasil  e  ela,  aproveitando a oportunidade, me mostrou uma coleção de Vivência colocada numa prateleira. 

Eram revistas que o ESG enviava regularmente para vários escritórios de serviços gerais.  Disse­me  que  não  entendia  a   língua,  mas  que   tinha  uma  empregada portuguesa que lia para ela os artigos das revistas. Cerca de um mês mais tarde, fui à cidade de York, na Inglaterra, para fazer, entre outras, uma visita ao GSO. Novamente, fui recebido com muita alegria, carinho e atenção, além de surpresa, naturalmente. Lá havia também uma coleção de revistas Vivência. Mostraram­me algumas   publicações  do   GSO  e,   entre  os   companheiros  que  me   receberam, estava um que, mais tarde, eu iria reencontrar como delegado na 11ª Reunião Mundial, realizada em Nova York.

Nesta reunião mundial,  convivi  com companheiros de mais de quarenta países do mundo. A agenda de trabalho era muito intensa, mas não eram menos intensas  as  conversas  de  corredor.  Muita  experiência   foi   também  trocada  no decorrer dos grupos de trabalho e nas refeições que juntos fizemos. Experiências muito enriquecedoras foram vividas. Ainda na referida cidade, fui a duas reuniões de grupo e pude observar que, em tudo, eram semelhantes às que fazemos aqui no nosso país.

O que aqui relato é, exatamente, fruto da existência e da prática das 12 Tradições e reflete a importância e o poder desses princípios para a vida de A.A., como instituição mundial. A importante conclusão que tirei dessas experiências aqui relatadas e de outras mais, é que somos todos, membros de A.A., um só corpo, um só organismo, integrado e uno.

Na certeza da importância dos trabalhos que aqui seriam realizados é que aceitei o convite que me foi feito pelos companheiros para participar deste ciclo de Tradições. Vim do Rio de Janeiro, fiz uma longa viagem e isso traduz a convicção que tenho da importância do estudo das tradições de A.A.. Vim trazer a minha fé nos destinos desta Irmandade mundial a partir da prática das 12 Tradições.

AS TRADIÇÕES, PALESTRA REALIZADA EM CURITIBA, PARANÁ

Dr. Lais Marques da Silva, ex­Custódio e Presidente da JUNAAB.

Estamos   aqui   reunidos   na   cidade   de   Curitiba,   numa  das   muitas cidades do Estado do Paraná, um dos 26 Estados do Brasil, um grande país entre os muitos paises do mundo. Sabemos que os companheiros de A.A. estão unidos mundo   a   fora   e,   melhor,   temos   a   sólida   esperança   de   que   assim   deverão permanecer. Mas essa certeza e essa expectativa que acalmam o espírito nem sempre estiveram presentes nas mentes dos primeiros membros da Irmandade. No início da vida de A.A., houve um crescimento rápido e espantoso no número 

de grupos e de pacientes em recuperação e esse crescimento, não obstante ser um fato auspicioso, ameaçou fazer em pedaços a instituição que ainda estava sendo   consolidada.   Ao   mesmo   tempo,   esse   crescimento   muito   acelerado, exponencial,  era um fato que chamava a atenção e que merecia uma análise cuidadosa na busca de uma explicação.

Em 1941, com a publicação do trabalho de Jack Alexander no Saturday Evening Post, o número de membros de AA salta de 2.000 para 8.000 e para 96.000,   em   1950.   Os   grupos   foram  de   500   em   1944   para   3.500,   em   1950. Acompanhando esta onda, muitos não alcoólicos dos campos da medicina, da religião e da mídia estavam ficando cada vez mais conscientes do que Alcoólicos Anônimos   representavam   uma   solução   para   alcoólicos   aparentemente   sem esperança, e pediam informações sobre o AA. Da mesma forma, uma inundação de cartas chegava aos escritórios.

Para dar uma idéia dos problemas e das dificuldades observadas nos primeiros tempos da vida de A.A., um breve quadro será composto usando apenas as suas  linhas mais gerais.  Assim, havia o  temor das recaídas e dos romances fora do casamento. Afloraram os desejos de poder, fama e dinheiro. Os mais antigos na obra se julgavam donos e consideravam ter direitos adquiridos, e mais, serem portadores de permissão para conduzir a Irmandade. Era necessário conter os dominadores de plantão e as personalidades autoritárias. Havia o medo do aparecimento nos grupos de pessoas esquisitas ou indesejáveis ou mesmo de criminosos.  Como os grupos  iriam se  relacionar  entre si?  Qual  o  conceito  de grupo?   Qual   o   seu   propósito   primordial?   Deveria   o   A.A.   se   envolver   com movimentos   sociais?   Entrar   na   área   educacional?   Tornar­se   uma   instituição reformadora?   Outra   dificuldade   estava   em   levar   a   termo   os   problemas   de dinheiro. Com idéias grandiosas, alguns membros julgavam que precisariam de grandes somas.  Como resolver  o  problema da  tendência ao profissionalismo? Como   lidar   com   o   aparecimento   de   núcleos   internos   de   governo   e   com   o aparecimento de sanções a serem aplicadas? Infratores deveriam ser expulsos? E o que fazer com a tendência a opinar sobre questões alheias à Irmandade com o   conseqüente   envolvimento   em   controvérsias   públicas.   Como   lidar   com   a divulgação em que se faziam promessas, o que se constituía em propaganda? A busca pelo poder e pelo prestígio sempre ocorria.

Esse quadro, muito resumido, mostra que a Irmandade, no início da sua existência, era como uma balsa de náufragos navegando em mar muito perigoso. Era preciso não balançar e estabilizar a balsa para que todos não ficassem em pânico e não corressem perigos.Diante dos desafios trazidos pelo intenso crescimento, tanto interno quanto das repercussões externas conseqüentes das atividades dos grupos, Bill se deu conta de  que a  nova  Irmandade poderia   facilmente  ser  esmagada pelo  seu próprio 

sucesso,  a  menos que um corpo de princípios  norteadores e  uma política  de relações com o público fosse formulada.

Naqueles  tempos,  Bill  W.  se  apercebeu da necessidade de estabelecer linhas   de   procedimento   que   orientassem   as   relações   internas   e   externas   da Irmandade   em   face   do   crescimento   de   A.A.   e   da   necessidade   de   manter   a unidade; de criar um sistema de proteção para a comunidade recém­criada e de garantir o seu progresso.

Bill   W.,   o   co­fundador   de   A.A.,   foi   capaz   de   identificar   as   ameaças potenciais para a existência de Alcoólicos Anônimos: problemas de propriedade, prestígio e poder. Os de propriedade foram afastados evitando­se que A.A. se tornasse proprietário e fazendo com que pudesse se manter, daí a formulação das Tradições Sexta e Sétima.

Foram   afastadas   as   idéias   de   criação   de   linhas   mestras   que   fossem chamadas   de   leis,   regulamentos,   regras   ou   qualquer   coisa   semelhante,   pois transmitiriam uma idéia de autoritarismo e trariam conseqüências negativas para a Irmandade. Dessa forma, Bill começou por chamá­las de “Os Doze Pontos Para Garantir  a  Nossa Sobrevivência  Futura”.  No entanto,  alguns desses pontos  já eram tradicionalmente praticados por muitos grupos de A.A. com base nas suas experiências. Daí passarem esses pontos a serem chamados de “Tradições”.

Da   experiência   acumulada   dentro   da   Irmandade,   surgiram   as   idéias básicas   para   as   Doze   Tradições   de   A.A..   Elas   têm   a   finalidade   de   oferecer soluções   para   problemas   da   vida   diária   da   Irmandade   e,   ainda,   ajudar   na comunicação   com   a   comunidade   fora   de   Alcoólicos   Anônimos.   Nelas encontramos   todos   os   assuntos   relacionados   com   a   existência   de   A.A.   e   a maneira pela qual a Irmandade poderia continuar atuando dentro da sociedade em   geral.   As   Tradições   fornecem   as   ferramentas   necessárias   para   a sobrevivência  de A.A.,  ensinando as  condições  para  que os  alcoólicos  sejam membros da Irmandade, a autonomia dos grupos, a unidade de propósitos, a não­aceitação   de   apoio   externo,   o   anonimato,   o   profissionalismo,   a   questão   das controvérsias públicas e a auto­suficiência. Todo este conjunto de princípios deu origem às Tradições de A.A..

Não obstante a existência das ameaças de desunião e de colapso que aconteceram neste período de crescimento, a unidade de A.A., a nível mundial, foi forjada graças ao desenvolvimento de princípios calcados em procedimentos existentes em alguns grupos, já então tidos como tradicionais, e nascidos a partir da solução de problemas do cotidiano dessas estruturas e capazes de, sendo observados,   mantê­las   em   unidade.   Esses   princípios   foram   estudados   e consolidados e, no seu conjunto, se constituem naquilo que, hoje, para o nosso conforto e paz, são chamados de as Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Esses   princípios,   cristalizados   a   partir   da   experiência,   da   vida   de   A.A.   nos 

primeiros tempos, se constituem num instrumento poderoso que permite transpor obstáculos e resolver os problemas do dia a dia da vida da Irmandade. Por meio da observância do segundo legado, permanecemos em unidade.

Insisto em chamar a atenção para esses primeiros tempos porque neles surgiram dificuldades e problemas e, a partir  deles,  as Tradições.  Isso parece muito  natural  e   ficamos  tranqüilos,  mas é  preciso   lembrar  sempre que o  não conhecimento desses princípios ou a omissão quanto à sua prática poderá nos levar  a  severas dificuldades e  a  enormes   turbulências,   inconvenientes  para  o processo de recuperação dos portadores da síndrome da dependência do álcool e que, ademais, poderão conduzir a rupturas de conseqüências imprevisíveis.

Além do  mais,  o  estudo  das  Tradições  encanta  pela  grande  sabedoria existente em cada um dos seus princípios ao mesmo tempo em que espanta os estudiosos   pelo   fato   estranho   de   neles   existir   tanta   inspiração,   tanto discernimento, tanta visão, tanto conhecimento, tanto de humanismo e, ainda, que toda   essa   riqueza   tenha   sido   encontrada   por   aqueles   que   os   conceberam. Acontecimentos como esses não são comuns na história da humanidade em que, infelizmente,   predomina   a   insensatez,   entendida   como   a   tomada   de   atitudes contrárias aos seus interesses.

Penso que é  também oportuno que nos detenhamos sobre o significado das  palavras   legado  e   tradição.   Legado   é   definido   como  dádiva   deixada  em testamento e dádiva é definida como donativo, presente, oferta. A palavra legado, portanto, está mais associada a coisas imateriais e, por isso, penso que a sua adoção é mais adequada do que a da palavra herança, com nítida conotação de coisa material e, por isso, ligada ao mundo das coisas e até à possibilidade da existência de conflitos. Fica, desse modo, a idéia de algo imaterial, precioso e enriquecedor do espírito, que é o que se aplica ao uso que fazemos em A.A. da palavra legado. Também é válido se deter sobre o significado da palavra tradição como  sendo  costume,  hábito,  uso  ou  crença,  especialmente  a  que  passa  de geração em geração. Ou seja, um corpo de hábitos e crenças tidas como sendo de valor por uma cultura particular.

Se, por um lado, as Tradições significam para a Irmandade, como um todo, progresso,   proteção   e   unidade,   para   os   membros   de   A.A.,   que   as   praticam, representam uma linha de crescimento espiritual na medida em que colocam o outro em primeiro lugar e passam a valorizar o bem­estar comum.

Relembramos   alguns   fatos   históricos,   de   grande   importância,   que convergiram para o aparecimento das Tradições de A.A.  e que  irão avivar no nosso   espírito   a   idéia   de   que   precisamos   estudar   as   Tradições   com   grande dedicação, mantendo a  lembrança de que estes princípios salvaram, naqueles tempos, a nossa Irmandade da desintegração. O relato concorrerá para formar a consciência  de  que  o  não  estudo  e  a  não  observância  desse   legado  poderá 

resultar na perda da unidade, indispensável para que possamos levar adiante a mensagem de A.A. mundo afora. 

1ª TRADIÇÃO“Nosso   bem­estar   comum   deve  estar   em   primeiro   lugar,   a   reabilitação 

individual depende da unidade de A.A.”O bem­estar  comum é  muito  valorizado em A.A.  e,  sem ele,  não pode 

haver o bem­estar pessoal, indispensável à recuperação.A   situação   do   membro   de   A.A.   é   semelhante   à   de   náufragos   que 

estivessem em uma balsa  navegando em mar  muito  perigoso.   É  preciso  não balançar  a balsa  para  não colocar   todos em pânico  e  em perigo.  Os víveres devem ser repartidos. É interessante observar que numa situação como esta não há glutões.

De início, havia o temor das recaídas, o que causava pânico, e também o temor dos romances fora do casamento. Outras ameaças vinham do desejo de poder, domínio, fama e dinheiro por parte dos membros da Irmandade. O orgulho, o medo e a raiva já eram importantes inimigos do bem­estar comum.

Por outro lado, a harmonia e o amor fraterno fortaleciam os companheiros de A.A..

2ª TRADIÇÃO“Somente uma autoridade preside, em última análise, o nosso propósito 

comum – um Deus amantíssimo, que se manifesta na nossa consciência coletiva. Nossos   lideres   são   apenas   servidores   de   confiança;   não   têm   poderes   para governar”.

A consciência do grupo é a única autoridade a conduzir a discussão dos assuntos da Irmandade.

Os   mais   velhos,   muitas   vezes,   pensam   que   foram   eles,   com   mais experiência e com a sua orientação e liderança, que levaram uma vida nova para os alcoólicos. Pensam que têm direitos adquiridos e até permissão para conduzir a Irmandade indefinidamente. Pensam também que têm direito de escolher os seus sucessores. Mas os outros membros dos grupos não pensam dessa forma.

A consciência do grupo era quase sempre mais sábia do que a de qualquer dos seus membros separadamente.

Há dois princípios no enunciado da 2ª Tradição:1. A não existência de uma autoridade humana com poderes para governar. 

Ou seja, existência de apenas uma autoridade espiritual.2. A   possibilidade   de   a   autoridade   espiritual   manifestar­se   por   meio   da 

consciência coletiva.

Bill relata, em janeiro de 47, na Grapevine, que tentou controlar e dirigir o A.A., mas sem resultado. Quando dirigia críticas a grupos ou pessoas, recebia de volta o dobro de críticas e, às vezes, era chamado de ditador. Assim, também a 2ª Tradição, como as demais, resultou de experiências fracassadas. Bill concluiu que somos um grupo de pessoas difíceis de serem comandadas.

Nas reuniões evitamos o ar professoral, como se quiséssemos ensinar a arte de viver. Isso não funciona. Assim, cada um conta apenas a sua história.

Essa rebeldia, embora não possa ser considerada uma virtude, mas o fato é   que,   dentro   dos   limites   da   Irmandade,   tem  servido   para   nos   proteger   dos dominadores   de   plantão,   das   personalidades   autoritárias   que,   se   tivessem autoridade, agiriam como agentes desagregadores.

A irmandade existe há 67 anos e não tem nem nunca teve uma estrutura de comando. Há apenas diretrizes acompanhadas de cobrança de resultados.

Da mesma forma que os companheiros procuram praticar os Doze Passos, os grupos agem da mesma forma em relação às Tradições. Do mesmo modo que não praticar os Passos leva à tristeza, à depressão, à bebida e à morte, a não observância   das   Tradições   pode   levar   à   desintegração   do   grupo   e   tornar problemática a recuperação pessoal dos seus membros.

Sobre   a   possibilidade   de   uma   autoridade   espiritual   manifestar­se   na consciência coletiva, fica a necessidade de compreender bem o que ela é porque, afinal, é ela que conduz a nossa irmandade e ainda pode manifestar a vontade de Deus.

Um membro de AA pode, ao praticar o 11º Passo, melhorar o seu contacto consciente com Deus para que Ele possa agir por seu intermédio. A prática desse Passo   pode   preparar   cada   membro   de   A.A.   para   participar   da   formação   da consciência coletiva.

Confiança e fé são as palavras­chave da Segunda Tradição.

3ª TRADIÇÃO“Para ser membro de AA, o único requisito é o desejo de parar de beber”.

Quando o A.A. passou pela fase de forte crescimento, surgiram dúvidas quanto ao aparecimento de outros tipos de pessoas. Até aquela época, o problema era apenas   com   bêbados.   Não   apareceriam   criminosos,   pessoas   esquisitas   ou socialmente  indesejáveis? Na prática, e ao  longo dos anos,  todos os tipos de pessoas têm encontrado caminho em A.A.. Nos grupos estão hoje todos os tipos de pessoas sem que problemas tenham ocorrido em decorrência de se  terem tornado membros de A.A..

O resultado desses temores foi  que, de  início, havia grupos com tantas regras  a  serem observadas para  que as  pessoas pudessem ser  membros da Irmandade que,  se   tivessem prevalecido,  ninguém poderia   ingressar  em A.A.. 

Para muitos alcoólicos, o A.A. é a última salvação e como fechar as portas dos grupos para eles? É preciso aceitar o risco de aceitar os alcoólatras. Ninguém em A.A.   aceita   o   papel   de   juiz,   de   jurado   e,   muito   menos,   de   carrasco   de   um companheiro alcoólico.

Assim, a 3ª Tradição diz: “você é um membro de AA se você o disser. Não importa o que tenha feito ou o que ainda venha a fazer, você é um membro de AA, contanto que você o diga”.

Com   o   enunciado   da   Terceira   Tradição,   foram   superadas   as   regras   e condições para o ingresso de alcoólicos nos grupos de A.A..

4ª TRADIÇÃO“Cada grupo deve ser autônomo, salvo em assuntos que digam respeito a 

outros grupos ou ao A.A. em seu conjunto”.A partir dos locais em que os grupos nasceram, eles se irradiaram para 

outras cidades. E como isso seria feito? Qual o modelo de relacionamento? Como poderiam ser passadas as experiências já vividas? Logo, ficou claro que, para os companheiros que adotavam o exemplo e o modelo, se havia muita coisa boa, a decisão de adotá­las seria deles próprios. Os grupos decidiram que eles mesmos iriam   encontrar   o   modo   de   resolver   os   assuntos   que   lhes   eram   próprios. Resolveram não aceitaram um governo localizado em New York ou em qualquer outro lugar. Serviço sim, mas governo não.

Desta atitude, resultou a tradição de autonomia de grupo. Essa tradição logo se consolidaria diante da manifestação da vontade dos grupos de incluir o direito de estarem errados.

Na   sua   forma   longa   original,   a   4ª  Tradição  diz:   “quando  duas  ou   três pessoas estiverem reunidas com o propósito de alcançar a sobriedade, podem chamar a si mesmos de um grupo de A.A. contanto que, como grupo não tenha outra   afiliação”.   Isso   significa  que   esses   três  ou   quatro  poderiam  alcançar   a sobriedade da forma que quisessem. Poderiam até estar em desacordo com os princípios de A.A. e, mesmo assim, se chamariam de grupo de A.A.. É uma forma dotada de extrema  liberdade,  mas o   fato   é  que acabariam por  adotar  alguns princípios de AA para permanecerem sóbrios.

Por outro lado, se encontrassem outros caminhos e pudessem melhorar os métodos usados, eles poderiam ser adotados por outros grupos. Isso era muito importante porque evitava que a Irmandade acabasse por ter princípios rígidos e dogmáticos e que não pudessem ser mudados quando claramente errados.

O A.A. vive de ensaio e erro, mas o importante é não ter outra afiliação, pois isso desfiguraria a Irmandade em situações criadas, como por exemplo, da existência de grupos de católicos de A.A., grupos de protestantes de A.A., grupos 

comunistas de A.A.,  etc.  O nome de Alcoólicos Anônimos deve ser  reservado apenas para a Irmandade de A.A..

Da existência dessa tradição resulta que o A.A.  ficou muito diferente do modo  em que  se  vive  neste  mundo,  onde   tem que  haver   lei,   força,   sanção, penalidade e isso tudo administrado por pessoas autorizadas. Mas o fato é que os membros de A.A. não precisam de nenhuma autoridade humana. O A.A. só tem duas autoridades, uma benigna ­ Deus ­ e outra maligna, ­ a bebida alcoólica. É melhor você   fazer a vontade de Deus ou eu o matarei,  diz  o   álcool.  Para os membros de A.A. é fazer ou morrer. Há ditadura suficiente, autoridade suficiente, amor   suficiente,   penalidade   suficiente,   sem   que   haja   nenhum   ser   humano manejando o poder.

Os membros de A.A. aceitam os Passos e as Tradições porque desejam aceitar e essa é a prova da presença da Graça e do amor de Deus entre nós.

A autonomia decorrente da Quarta Tradição  resulta  em autogoverno.  O grupo  age  com autonomia,  mas  guiado  pela  consciência  coletiva,  que   leva   à liberdade   e   também   à   responsabilidade.   As   ações   de   um   grupo   não   podem prejudicar outros grupos e o bem­estar comum deve ser sempre observado. 

5ª TRADIÇÃO“Cada grupo é animado de um único propósito primordial, o de transmitir a 

mensagem ao alcoólico que ainda sofre”.Aqui fica claro que o foco é executar bem uma só tarefa. Tudo fica simples 

desta forma. É a idéia central dessa Tradição. Embora o interesse pessoal dos membros de A.A. possa se voltar para assuntos relacionados ao alcoolismo, que pode   ser   enfocado   sob   diversos   pontos   de   vista,   a   Irmandade   não   pode   se desviar do seu propósito primordial.

Há um fato de grande importância que deve ser sempre considerado, que é a   facilidade   que   têm   os   alcoólicos   membros   de   A.A.   em   face   das   suas experiências  pessoais   relacionadas  ao  alcoolismo,  de  se  aproximar  de  outros alcoólicos sofredores.

6ª TRADIÇÃO“Nenhum grupo de A.A. deverá jamais sancionar, financiar ou emprestar o 

nome   de   A.A.   a   qualquer   sociedade   parecida   ou   empreendimento   alheio   à Irmandade,  para  que  problemas de dinheiro,  propriedade  e  prestígio  não  nos afastem do nosso objetivo primordial”.

De início, o espaço estava aberto para uma grande expansão em campos do conhecimento humano como educação e pesquisa, mas para isso era preciso dispor  de   recursos.  Pensava­se  em construir  hospitais  próprios,  em educar  o público por meio de publicações e livros didáticos. Também em reformular leis e 

entrar   no   mundo   da   dependência   das   drogas   em   geral   e   da   criminalidade. Grandes ideais, grandes sonhos. Intensa busca da perfeição.

A coisa não funcionou. Os hospitais  fracassaram. As coisas terminaram confusas. O A.A. era um projeto educacional? Era espiritual ou médico? Era um movimento de reforma? A idéia de criar e mudar leis resultou em agitações e o risco da entrada no mundo da política.

Os membros de A.A.  não poderiam ser   tudo e  fazer   tudo.  Dificuldades apareceram ao emprestar o nome de A.A. para empreendimentos de fora.   De tudo isso resultaram dificuldades, sérias dificuldades.

Por paradoxal, descobriu­se que quanto mais se preocupava com os seus próprios assuntos, maior influência a Irmandade exercia na sociedade como um todo. O fato é que as idéias e a experiência de A.A. começaram a serem usadas em diversos campos de trabalho e de pesquisa. O desenvolvimento que queriam forçar acabou ocorrendo por iniciativas próprias de membros da sociedade e não do que os alcoólicos pensavam em realizar.

7ª TRADIÇÃO“Todos   os   grupos   de   A.A.   deverão   ser   absolutamente   auto­suficientes, 

rejeitando quaisquer doações de fora”.Foi  preciso  também chegar  a   termos com o problema de dinheiro,  que 

pode fazer muitas coisas boas, mas não existe mal que não possa causar. Depois de muitos  tropeços,  os membros de AA despertaram para o  fato de que não precisavam de muito dinheiro. Sem as idéias grandiosas, não sobraram muitas coisas para pagar. 

A Sétima Tradição é muito clara quando diz que todo grupo de A.A. deve se manter, negando­se a receber contribuições de fora. Nesta Tradição, vemos dois   princípios   fundamentais:   a   auto­suficiência,   sinônimo   de   independência econômica,  e  a   recusa  em  receber  qualquer  doação  de  pessoa  não   filiada à Irmandade. As contribuições externas dariam, certamente, o direito aos doadores de  se   intrometerem nas  normas  que  conduzem a   Irmandade.  O velho  ditado mostra bem esta realidade: “quem paga o músico escolhe a música que vai ser tocada”.

A   existência   de   doações   levou   os   custódios   da   Junta   a   analisar   com profundidade e prudência o problema da aceitação ou não de doações vindas de fora. Escreveram então uma página memorável na história de A.A.: declararam que,   por   princípio,   o   A.A.   deveria   permanecer   sempre   pobre   e   a   norma   de procedimento deveria  ser  a  de  ter  os recursos necessários para as despesas razoáveis de funcionamento e mais uma reserva prudente.

Com a autossuficiência, desenvolveu­se o princípio da igualdade entre os membros de A.A.. Tanto os companheiros de maior poder aquisitivo, quanto os 

mais modestos, do ponto de vista econômico, podem exercer qualquer encargo. E isso porque todos contribuem, de forma anônima, para que os compromissos e as despesas possam ser pagas. Ainda mais, essas contribuições também cobrem os custos   relativos   à   presença  de   representantes  do  grupo   junto  aos   órgãos  de serviço,   independentemente  de esses  representantes   terem ou não condições econômicas para arcar com os custos ligados à atividade que exercem. De outra forma, somente os que tivessem maior poder aquisitivo poderiam arcar com os ônus   de   movimentação,   hospedagem,   etc   ligadas   a   muitas   atividades desenvolvidas pelo todo da Irmandade. Deste modo, a Irmandade se tornou ainda mais democrática.

Até mesmo estando desempregado, um membro do grupo poderá assumir encargos, pois as suas despesas em serviço serão custeadas pelo dinheiro de todos os membros que generosamente fazem doações. Oferecem com gratidão o seu tempo e também os recursos para que a irmandade possa se manter em ação.

O A.A.  não tem dono nem protetores.  Ninguém poderia  querer  assumir individualmente a responsabilidade de manter a Irmandade e de arcar com os custos  ligados às atividade de A.A..  Todos os seus membros são  igualmente responsáveis e a eles cabe assumir os custos e mostrar que espírito e matéria podem  andar   juntos   oferecendo  o   suporte   financeiro  para  o   desenvolvimento espiritual  dos  companheiros  de  A.A..  Somos materialistas  quando  usamos os nossos recursos materiais egoisticamente, apenas para nós mesmos, mas quanto os usamos em benefício de outros, então o material ajuda o espiritual. Dinheiro e espiritualidade são os fundamentos da Sétima Tradição. 

A   autossuficiência   decorre   do   desenvolvimento,   entre   os   membros   da Irmandade, do senso de  responsabilidade que,  por sua vez,   é  o   resultado do processo de recuperação que leva à maturidade emocional.   Bill W. afirmou que “Felizmente,   as   despesas   de   A.A.   por   pessoa   são   pequenas.   Deixarmos   de atendê­las seria fugir a uma responsabilidade que nos beneficia”.

 

8ª TRADIÇÃO“Alcoólicos Anônimos deverá  manter­se sempre não profissional, embora 

nossos centros de serviços possam contratar funcionários especializados”.Isso significa que não haverá terapeutas profissionais na Irmandade. É dar 

de graça o que de graça se recebeu. Ficam separados, o dinheiro que resulta da atividade profissional, e a espiritualidade. O profissionalismo é válido, mas não dentro da  Irmandade. Em todas as vezes que se  tentou profissionalizar o 12º Passo, o propósito da Irmandade foi derrotado. Há tarefas a serem realizadas e é 

possível contratar profissionais para realizá­las, mas quando no tratamento cara a cara de um bêbado, aí a regra é jamais receber.

A experiência de um alcoólico pode ser valiosa para o desempenho de muitas funções, como por exemplo, as ligadas à educação e à terapia e, nestes casos ele pode receber pelo trabalho realizado. É claro que não é válido usar o nome de A.A.  com o propósito de obter publicidade ou de arrecadar dinheiro. Também, nestas situações, o anonimato deve ser preservado. Procedendo desta forma,  não  fica  caracterizado o  profissionalismo,  o   “ganhar  dinheiro  usando o A.A.”.

É preciso ter em mente que o A.A. não é uma sociedade fechada em que experiências e conhecimentos  ficam em segredo, mas,  se por  um  lado nunca deve  ser  paga  a  atividade  de   levar  a  mensagem,  por  outro,  as  pessoas que prestam serviços aos alcoólicos merecem ser pagas.

Ocorre que, muitas vezes, os profissionais de saúde que atuam em centros de   recuperação   são   também   membros   de   A.A..   Neste   caso,   a   atividade   é profissional. Os especialistas estão sujeitos ao cumprimento de horários e estão colocados   dentro   de   uma   hierarquia   funcional   e   inseridos   numa   equipe   de trabalho, além de ter  que apresentar qualificações que  implicam na  feitura de cursos   de   especialização.   De   um   modo   inteiramente   diverso,   no   grupo,   as atividades são totalmente voluntárias. Também diferentemente, os pacientes nos centros de recuperação são submetidos a um rígido esquema disciplinar, que é compulsório, sendo que esses pacientes podem até ser desligados do tratamento em certas circunstâncias.

Em 1946, Bill W escreveu na Grapevine que nada impedia que um membro de AA fosse trabalhar como terapeuta remunerado, se tivesse qualificação para tal, desde que evitasse publicamente declarar­se filiado ao A.A. e que a clínica em que trabalhassem também evitasse declarações desse  tipo para o público em geral,   ficando  claro  que  o  A.A.  não  mantêm clínicas,  não   faz  convênios,  não avaliza   nem   condena   qualquer   tipo   de   tratamento.   O   problema   não   está   no trabalho realizado, mas no respeito ao anonimato, como definido nas Décima­Primeira e Décima­Segunda Tradições.

Num artigo publicado na Grapevine em 1993, está escrito o seguinte: “... nós somos tipicamente alcoólicos nesta controvérsia, que tem seu lado irônico. Durante  anos,   tentamos despertar  o   interesse  de  médicos  e  hospitais  para  o Programa de Doze Passos, sem conseguir nada. No momento em que alguns deles começam a nos escutar e passam a se utilizar os Passos em seu trabalho, ficamos   irados   e   passamos   a   agir   como   se   Deus   nos   tivesse   dado   direitos exclusivos sobre eles.  Na realidade, os Doze Passos não são propriedade de A.A.. Eles podem ser livremente utilizados por qualquer pessoa que queira usá­los, inclusive médicos e conselheiros em alcoolismo”.

A questão pode ser  tornada mais clara entendendo que, antes de tudo, devemos   deixar   a   orientação   profissional   e   tudo   o   mais   que   é   externo   à Irmandade no lugar em que devem ficar: fora de A.A.. 

Os  membros  de  A.A.   colaboram com os  profissionais  que  se  mostram receptivos   à   mensagem   da   Irmandade,   desde   que   continuem   fiéis   aos   seus princípios de anonimato e de autonomia.

9ª TRADIÇÃO“A.A. jamais deverá organizar­se como tal; podemos, porém, criar juntas ou 

comitês de serviço diretamente responsáveis perante aqueles a quem prestam serviços”.

O A.A., como um todo, jamais deverá ser organizado e isso significa que o A.A. nunca poderá ter uma direção organizada no governo.

Todas as formas de associação humana possuem regulamentos para os seus integrantes que impõem disciplina a seus membros. Exigem obediência a normas e regulamentos. A alguns de seus  integrantes são delegados poderes para   impor   obediência,   punir   ou   expulsar   infratores.   Tem­se   aí   um   governo administrado por seres humanos. A.A. se constitui numa exceção a essa regra, pois não se adapta a padrões de governo. A Conferência, a Junta de Serviços Gerais e nem o Comitê do Grupo podem emitir diretrizes e fazê­las cumprir e, menos ainda, punir.

Mas há  um fato sempre observado ao longo de muitos anos e que não pode ser desconsiderado: é  o de que se cada membro de A.A. não puder, da melhor maneira que puder, seguir os 12 Passos sugeridos para a recuperarão, ele estará quase assinando a sua própria sentença de morte.

Embriaguez e desintegração não são penalidades impostas por nenhuma autoridade; são a conseqüência da não obediência aos princípios espirituais.

O mesmo ocorre com os grupos em relação as Doze Tradições ­ os grupos que   se   afastam   das   Tradições   podem   se   desestruturar   e   acabar.   Por   isso, geralmente obedecem a princípios espirituais.

Cada membro de A.A. busca a própria sobriedade e os serviços procuram colocar a sobriedade ao alcance de todos que a queiram. O A.A. é uma sociedade sem organização, mas animada pelo espírito de serviço.

10ª TRADIÇÃO“Alcoólicos   Anônimos   não   opina   sobre   questões   alheias   à   Irmandade; 

portanto, o nome de A.A. jamais deverá aparecer em controvérsias publicas”.O resultado prático desta Tradição é que a Irmandade nunca foi dividida 

por  polêmica  de maior   importância.  Não  se  ouvem discussões sobre   religião, política,   reformas,   etc.   Não   se   discutem   esses   assuntos   em   A.A.   e   esse 

comportamento acabou se  tornando uma forma de agir  dos membros de A.A. tanto enquanto convivendo nos grupos de A.A.  como quando fora deles.  Sem dúvida, os membros são capazes de discutir,  mas em momento certo, quando necessário e da maneira adequada e não por  instinto de  luta, pois que a  luta resulta em destruição.  Assim, as pessoas em A.A. se tornam mais amenas. Além do   mais,   as   nossas   diferenças   religiosas,   políticas,   sociais,   etc   se   tornam imperceptíveis diante do que se tem em comum, que é o problema do alcoolismo. Há até um dito muito interessante para quem ainda não vive esta realidade: você pensa que é diferente.

Em   A.A.   há   um   clima   espiritual   e   os   seus   membros   se   tornam   mais pacíficos,   fazendo   parte   de   uma   grande   e   feliz   família.   Existem   os   velhos resmungões e os “fariseus” mal humorados, mas isso não muda o clima, além do fato de que eles são úteis para fazer crescer a tolerância em todos os membros, o que os prepara para trabalhar e viver juntos, em harmonia.

O  A.A.  não  entra  em controvérsia  pública  pois,   assim,  haveria   sempre prejuízos para a Irmandade sem se pudesse avaliar as suas conseqüências. Os membros de A.A. têm o entendimento de que a sobrevivência de A.A. e a sua expansão são mais importantes de qualquer outra causa.

11ª TRADIÇÃO“Nossas   relações   com   o   público   baseiam­se   na   atração   em   vez   de 

promoção;   cabe­nos  sempre  preservar  o  anonimato  pessoal  na   imprensa,  no rádio e em filmes”.

O A.A. cresceu muito e, em grande parte, este crescimento se deve a uma legião de pessoas de boa vontade e amigas da Irmandade que, ao longo da sua existência, têm divulgado o A.A.. Uma boa parte desta divulgação é feita pelos escritórios de serviços aos quais são dirigidas solicitações de esclarecimento e ajuda,   sendo  que  essas  solicitações  são   feitas  não  só   por  alcoólicos  e  seus familiares,   mas   também   por   profissionais   de   saúde,   por   religiosos,   por profissionais da mídia, etc.

Assim   foi   desde   o   início  da   existência  da   Irmandade,   e   isso   levou  ao desenvolvimento  de uma política  de  relações públicas.  Com o  tempo e como resultado   de   erros   e   acertos,   foi   adotado   o   princípio   da   atração   em   vez   da promoção. O resultado desta atitude foi muito interessante pois, ao contrário do que podia parecer, resultou em mais publicidade favorável ao A.A..

A Irmandade tinha que ser divulgada de alguma forma e os seus membros decidiram que isso deveria ser deixado para os seus amigos, que têm feito este trabalho   surpreendentemente   bem.   É   verdade   que   os   profissionais   da   mídia freqüentemente se mostraram frustrados diante da insistência dos membros de A.A.   em   manter   o   anonimato.   Custaram   a   entender   essa   posição,   mas   hoje 

compreendem o valor desta atitude. Desejava­se divulgar a entidade, mas não os seus   membros,   individualmente,   e   dessa   posição   resultou   que   os   citados profissionais acabaram ficando satisfeitos e ainda mais amigos da  Irmandade, acerca da qual têm falado com um grande entusiasmo.

Essa nova atitude é também o resultado de numerosas correspondências enviadas   pelos   Escritórios   de   Serviços   em   que   explicam   aos   profissionais   a política de relações públicas de A.A.

Outro fato que é preciso destacar é o de que a 11ª Tradição é mais do que uma política de relações públicas, pois que também se constitui  num lembrete permanente de que a ambição pessoal não tem lugar em A.A. e que está nela implícito   que   cada  membro  dever   ser   guardião   ativo  da   Irmandade  em  suas relação com o público em geral. 

12ª TRADIÇÃO“O anonimato é o alicerce espiritual das nossas tradições, lembrando­nos 

sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades”.O anonimato é fundamental para a construção de um futuro promissor para 

a Irmandade. Sendo esquecido, abrir­se­ia a “Caixa de Pandora” e os espíritos do dinheiro,   do   poder   e   do   prestígio   estariam   soltos   e   esses   gênios   malignos poderiam arruinar a Irmandade. Por  isso, entender e aplicar o conteúdo desta tradição é fundamental. Ela é a chave da sobrevivência.

Na mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher a habitar a Terra. Tinha todos   os   atributos   de   beleza   e   bondade   e   foi   dada   a   Epimeteu,   irmão   de Prometeu,   que  o  havia  advertido  para  nada  aceitar  do  deus  Zeus,  pois   este desejava contrabalançar a bênção do fogo que havia sido roubado dos deuses por Prometeu. Os deuses deram presentes a Pandora e, entre eles, estava uma caixa que nunca poderia ser aberta. Mas a curiosidade de Pandora prevaleceu e ela acabou abrindo a misteriosa caixa e delas saíram numerosas pragas para o corpo e tristezas para a mente. Apavorada, ela fechou a caixa, mas dentro dela ficou apenas a esperança, a única coisa boa que a caixa continha. A esperança permaneceu para conforto da humanidade nas suas desgraças.

Para manter o anonimato, é  preciso fazer um sacrifício, pois temos que esquecer os anseios pessoais em favor do bem comum, que é o fundamento das Doze   Tradições.   Elas   nasceram   dos   temores   e   resultaram   em   confiança  em relação   ao   futuro.   Para   crescer   e   também   alcançar   os   alcoólicos   que   ainda sofrem,   a   Irmandade   não   podia   ser   secreta,   mas   também   não   podia   ser transformada em espetáculo de circo. Por outro lado, o ambiente do grupo tinha que   ser   seguro   e   a   intimidade   e   as   experiências   pessoais   relatadas   nos depoimentos tinham que ser protegidas.

No   início,   os   grupos   queriam   alcançar   imediatamente   tantos   alcoólicos quanto fosse possível e uma boa maneira encontrada foi a realização de reuniões abertas aos amigos interessados e ao público de modo que pudessem constatar o que era a Irmandade. Seguiram­se os pedidos para realização de palestra em que a referencia a nomes completos e a fotos eram evitadas. Isso resultou numa onda de aprovação por parte do grande público. A solução era o anonimato.

O anonimato é a verdadeira humildade em ação e é a qualidade espiritual que está presente no modo de atração da Irmandade.

É   interessante   observar   que   aquilo   que   é   secreto,   o   é   por   força   de regulamento,   enquanto   que   a   característica   do   que   é   anônimo   é   a espontaneidade. No secreto há a exclusividade que leva à vaidade enquanto que no   anonimato   está   a   opção   que   resulta   da   humildade.   A   importância   desta distinção  que  cria  um modo de  agir  na  vida  está   ligada  ao  Décimo­Segundo Passo   que   fala   da   prática   destes   princípios   em   todas   as   nossas   atividades. Aponta para um comportamento anônimo, para um modo de vida muito especial. 

O anonimato tem sido enfocado do ponto de vista de se preservar o caráter confidencial do que é ouvido, para manter para si o conteúdo dos desabafos, para não  comentar   depoimentos,   para  não  mascarar   fofocas  por   trás  de  aparente ajuda.

Muito tem sido dito acerca dos prós e contras da abertura do anonimato para a família, para os profissionais de saúde, para os companheiros de trabalho etc, mas um outro aspecto muito importante é o que se refere ao comportamento, ao modo de ser e de viver do alcoólico em recuperação. Aí  se chega à   frase bíblica:   “que  a   tua  mão  esquerda  não  saiba  o  que  a  direita   faz”  que   traduz, sobretudo, num novo modo de viver.

Isso é muito importante porque é freqüente ouvirmos coisas que debaixo de uma aparência  inofensiva,   revelam um comportamento pouco humilde.  Em aniversários   se  ouve   falar:   “eu  estava  aqui   quando   você   chegou”.   Isso  pode significar  que  “lembro do dia  em que você  chegou”,  mas  também que  “eu  já estava   aqui,   antes   de   você”.   De   um   modo   ou   de   outro,   muitos   buscam   se diferenciar   por   declarações   ou   atitudes.   Sair   de   um   anonimato   completo.   A vaidade, freqüentemente, escorrega por debaixo dos panos.

Tudo que se venha a acrescentar ao “meu nome é x e eu sou um alcoólatra em recuperação” traduz a intenção de ser diferente, de sair do anonimato, de dar vazão à vaidade. Qualquer detalhe a mais que se acrescente em relação à vida particular de cada um foge do que é importante, que é manter a unidade, foco principal das tradições e se afasta do único ponto de identidade que os alcoólicos têm entre si, que é o alcoolismo. É a identidade que os une. O que cada um é mais  do  que  isso  não contribui  para  a  unidade.  O que se  acrescenta   faz  do depoente um alcoólatra não  igual aos outros e representa um afastamento do 

comportamento   de   anônimo.   Também   relatar   o   quanto   têm   feito,   quantos afilhados têm, que encargos foram desempenhados ou quantos grupos criaram traduz um desejo de reconhecimento por ter sido mais e, portanto diferente dos outros.  O anonimato aponta para um programa de vida em si,  enquanto que, buscá­lo é uma tarefa para toda a vida.

CONCEITO IV

Dr. Lais Marques da SilvaEx­Custódio e Presidente da JUNAAB

Através da estrutura da nossa Conferência, deveríamos manter em todos os níveis de responsabilidade um tradicional “Direito de Participação”, tomando cuidado para  que a cada setor  ou  grupo de nossos servidores mundiais  seja concedido   um   voto   representativo   em   proporção   correspondente   à responsabilidade que cada um deve ter. 

Para iniciar a exposição de um Conceito para Serviços Mundiais, no nosso caso, o Conceito IV, será necessário nos determos sobre o significado da palavra conceito.   Aí   é   preciso   que,   pelo   pensamento,   possamos   representar   as características   gerais   daquilo   que   desejamos   transmitir.   Vemos   então   que estamos no mundo da abstração, das idéias. Teremos que definir, caracterizar por meio de palavras essas idéias e opiniões.

Estamos,   portanto,   no   mundo   da   abstração,   bem   mais   difícil   de   lidar. Enquanto que, no caso dos Passos e das Tradições, há idéias­síntese que dão clareza ao que se quer expor, como: “Os Passos são para o alcoólico viver e as Tradições  são  para  a   Irmandade  viver”  ou   “os  Passos  ensinam a  viver  e  as Tradições ensinam a conviver”, em relação aos Conceitos fica difícil condensar ou apresentar sínteses claras, como estas.

A  idéia básica, existente no IV Conceito,  é  a da participação, entendida como ato ou efeito de participar, ou seja, de ter ou tomar parte, de associar­se pelo  pensamento,  pelo  sentimento  ou  por  meio  de  ação.  A  participação  está relacionada   às   nossas   necessidades   espirituais   e   todos   nós   sentimos profundamente o desejo e a necessidade de tomar parte. Para isso, a Irmandade de Alcoólicos Anônimos foi idealizada como um grupamento humano, constituído por irmãos, irmanado. Temos como ideal comum, e mais importante, que a união espiritual   dos   membros   de   A.A.   não   permita   o   aparecimento   de   grupos   de membros  de primeira  e  de segunda classes  e,  para   isso,  entendemos que a ampla participação de todos os membros deva sempre ser assegurada.

O IV Conceito se constitui numa salvaguarda contra a autoridade absoluta, suprema. Isso porque, toda vez que se abre espaço para o aparecimento de uma autoridade   absoluta,   surge   a   tendência   para   um   domínio   excessivo,   que   se expande para todas as coisas, grandes e pequenas.

A experiência  tem mostrado que nunca se  pode colocar  num grupo de pessoas  toda a autoridade e em outro grupo  toda a responsabilidade porque, sempre que  isso ocorre,  a harmonia verdadeira perde o espaço  indispensável para existir e, sem ela, não há condições para viver uma vida feliz e pacífica. É aí que  a  participação  se  coloca   como  elemento  essencial  para  a  prevenção  de situações de desgaste  que contém no seu bojo  o germe da desintegração,  o agente   que   corrói   a   unidade.   É   preciso   buscar   sempre   o   equilíbrio   entre autoridade e responsabilidade. Quem tem a responsabilidade por alguma coisa precisa de um grau de manobra que possibilite dar conta da responsabilidade que tem e esse poder de manobra precisa estar associado um grau de autoridade. Tudo   na   medida   adequada,   dentro   da   harmonia,   fundamental   ao   bem­estar comum, à paz.

O princípio da participação faz com que nenhum grupo de membros seja colocado com autoridade absoluta sobre um outro, sendo que isso leva a uma forma incorporada de existir, entendida a palavra “incorporada” como um modo de fazer parte de um corpo. Acresce que, sendo esta característica acrescida do fato de  não  existir   autoridade   absoluta,   o   que   resulta   é   uma   forma   horizontal   de relacionamento e a inexistência de uma hierarquia, que é uma forma vertical de relacionamento   comum   nas   instituições   governamentais   e,   em   especial,   nas organizações militares.

Uma forma pela qual se manifesta o direito de participação é o direito de voto que  todo membro de A.A.  possui  sendo que, no ato da votação, não há superiores nem inferiores.

O direito de participação é uma salvaguarda e é indispensável para evitar o mau uso e as asperezas causadas por uma autoridade suprema. Participar, por outro lado, implica em ajustar­se ao todo, ao corpo social e implica em aceitar uma saudável e necessária disciplina, pois que só assim teremos condições para nos tornarmos os “servidores de confiança” de que fala a Segunda Tradição de A.A., sem ter poderes para governar.

O ajustamento a um corpo social e a participação nas suas atividades tem uma   importância   fundamental   para   a   recuperação   do   alcoólico   e   para   uma significativa  mudança  no  seu  comportamento.  Em primeiro   lugar,   o   seu  novo modo de ser o leva a uma forma de convivência inteiramente diferente da que tinha   e   que   vai   se   tornando   cada   vez   mais   pacífica,   em   decorrência   do crescimento  espiritual  que  o  convívio  em A.A.  proporciona.  A  participação  no grupo social cria condições para uma troca de conhecimento e de experiências 

entre os membros de um grupo de A.A. que, por seu lado, leva a um acentuado enriquecimento   de   cada   ser   humano   que,   caracteristicamente,   cresce espiritualmente no convívio com outros seres humanos.

É   importante  notar   que,   com o   tempo,   a  participação  evolui   para  uma condição mais rica e enriquecedora de relacionamento, que é a de cooperação. Aí já está presente a aceitação do outro, o reconhecimento da sua individualidade, do seu valor. Fica estabelecida uma forma de existir mais dinâmica e evoluída nos relacionamentos interpessoais que resulta em um ganho de dimensão humana significativo. Isso ocorre quando se passa para a cooperação porque o convívio entre  seres  humanos  mostra  que  só   coopera  quem ama e  só   se  ama quem coopera.   Aí,   amar   o   próximo,   aceitar   o   outro   como   é   e   como   irmão   é   de inestimável   importância   para   o   crescimento   na   dimensão   humana,   para   o crescimento que todo membro de A.A. experimenta ao longo da sua convivência nos grupos.

De um ponto de partida aparentemente tão simples, de um singelo “Direito de Participação”, resulta um fato da maior importância para qualquer ser humano, que é  crescer espiritualmente, ganhar dimensão humana, realizar­se dentro do seu   projeto   de   vida,   viver   uma   vida   verdadeiramente   humana  e   de   continuo enriquecimento pessoal. Então, teremos todos a felicidade de desfrutar de uma serena sobriedade, de uma qualidade de vida que nos torna imensamente felizes em A.A. e é isso que vivenciamos intensamente em cada encontro de A.A. e por esta razão estamos hoje, aqui, vivendo as alegrias de um convívio de irmãos que se amam, que desfrutam de serena sobriedade. 

CONSCIÊNCIA COLETIVA

Dr. Lais Marques da SilvaEx­Custódio e Presidente da JUNAAB

“ ...um Deus amantíssimo que Se manifesta em nossa consciência coletiva”.“...que todas as decisões importantes sejam tomadas através de discussão, 

votação e, sempre que possível, por substancial unanimidade”.

IntroduçãoTive a excepcional oportunidade de estar presente a nove Conferências de 

Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil. Nelas, buscaram­se caminhos para a Irmandade como um todo e procuraram­se os melhores encaminhamentos para   a   solução   de   situações   que   ocorreram   na   vida   da   Irmandade, encaminhamentos esses que se constituíram em fundamento para a tomada de 

importantes   decisões.   No   decurso   dessas   grandes   reuniões,   os   eventos   se mostraram   ainda   mais   valiosos   do   que   o   já   tão   significativo   processo   de autogestão, em si.

Todo o  trabalho realizado no decurso de uma conferência é  de grande valor  para  a  vida  da   Irmandade  não  só   para  o  momento  que  passa,  mas   é também determinante em relação aos dias futuros. É assentado num processo de caráter fundamental, que é o da busca da Consciência Coletiva. Além de sábio em si mesmo, é,  sobretudo,  inspirado pelo Poder Superior,  poderosa fonte de iluminação, valiosa e norteadora dos destinos de centenas de milhares de seres humanos   vitimados   pelo   mesmo   demônio,   o   alcoolismo,   e   que   hoje   estão presentes   nos   grupos   de   Alcoólicos   Anônimos,   no   Brasil.   Mas   é   também igualmente importante para a existência da Irmandade de Alcoólicos Anônimos em todo o mundo no que ela representa de caminho de salvação para milhões de seres humanos, hoje sofrendo nas garras do alcoolismo.

Coloquei   neste   trabalho   o   que   vi   e   aprendi   no   convívio   com   os companheiros de Alcoólicos Anônimos, além do resultado da minha experiência pessoal no período em que fui presidente da Junta de Custódios e da JUNAAB, ocasião em que procurei aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, inspirado que fui pela poder da Segunda Tradição. Consciente da sua importância fundamental  para  os  dias  de  hoje  e  para  o   futuro  da   Irmandade,  coloco  nas páginas desse trabalho a minha esperança de um horizonte radioso não só para os que sofrem nas garras do alcoolismo, mas para toda a humanidade. 

Uma pequena história dentro de uma grande históriaHá   uma   pequena   história,   muito   antiga,   que   nos   ajuda   a   entender   a 

fragilidade dos seres humanos, a sua necessidade de cooperar e, sobretudo, a entender o quanto dependemos uns dos outros.

Na   mitologia   grega,   os   deuses   resolveram   habitar   o   mundo   e   criar   a humanidade. Criaram os mortais, os seres vivos, e também as condições para a existência   de   todas   as   espécies   que   iriam   coabitar   na   Terra.   Encarregaram Epimeteu, cujo nome significa reflexão posterior, ou seja, aquele que só  se da conta da coisa errada depois que a fez, de prover os futuros seres vivos com as qualidades necessárias à sua sobrevivência. Assim, foram dados a cada espécie os   equipamentos   necessários   para   que   se   alimentassem   e   resistissem   às intempéries, como: peles,  lã,  carapaça, etc. e ainda para se defender uns dos outros: as garras, chifres e velocidade na corrida.

Todas as espécies foram equipadas mas, no momento de criar o homem, nada havia sobrado. Epimeteu tinha esquecido dele e, assim, continuava nu e desarmado. Para que essa espécie não desaparecesse, Prometeu, cujo nome significa   previdente,   foi   chamado   pelo   imprevidente   irmão,   Epimeteu,   e 

encarregou­se de roubar dos deuses o fogo e as artes para dá­las aos homens. Distribuiu as artes de que dispunha mas que não eram suficientes em número para   dar   um   conjunto   completo   a   todos   os   homens   e   assim   deu   talentos diferentes a cada um de modo que, para sobreviverem, deveriam intercambiar as suas dádivas e, portanto,  cooperar e o que resultou é  que todos se tornaram dependentes uns dos outros.  Prometeu  também moldou os  homens de  forma mais nobre e os capacitou a caminhar de forma ereta. Desse modo, puderam se alimentar  e  resistir  ao  frio,  mas continuaram não podendo se defender  contra outras espécies por não possuíram armas. Mas o presente do fogo que Prometeu deu à  humanidade foi mais valioso do que quaisquer um dos que haviam sido dados aos animais.

Os homens procuraram então estar reunidos para se defender dos animais e se agruparam em cidades, mas não conseguiram viver juntos porque disputavam entre si e frequentemente guerreavam uns contra os outros. Como conseqüência, dispersaram­se pela floresta e foram novamente ameaçados de extinção pelas outras espécies de animais. Dessa vez,  foi  o próprio Zeus, o Deus mitológico maior,  que salvou os  homens dotando­os de qualidades morais,  de senso de justiça e de respeito de si mesmos, o que permitiu que cada um pudesse viver em coletividade  com os  outros.  O  gênero  humano   foi   salvo  e  por   isso,   hoje,   os homens   vivem   em  comunidades   e   não   isolados,   como   a   maioria   dos   outros animais. Mas os homens continuaram frágeis e desamparados e é isso que nós somos   e   a   nossa   sobrevivência   continua   dependendo   de   que   troquemos   as nossas dádivas, as nossas riquezas interiores.

A vida é difícil. Encontrar o caminho que se vai trilhar na vida é difícil. O caminho tem que ser feito em solo árido e pedregoso, e machuca. Não há indicações nem avisos. Nenhuma orientação. Em realidade, cada um de nós faz o seu próprio caminho ao longo da vida e o caminho é feito tão somente ao  caminhar.  Mas  a  boa  notícia   é   que  não   temos   que   fazer  o   caminho sozinhos e podemos recorrer a um poder maior que nos dá força e do qual a maioria das pessoas tem consciência. Ainda mais, na medida em que vamos fazendo   o   nosso   caminho,   podemos   nos   ajudar   uns   aos   outros, intercambiar os talentos que recebemos.

Podemos   trocar   nossas   riquezas   interiores.   Podemos   trocar experiências, forças e esperanças. Podemos cooperar uns com os outros. Podemos nos solidarizar. Podemos ser tolerantes. Podermos ser solidários e  desenvolver  o  amor  ao  próximo.  Podemos nos  compadecer.  Podemos entender que somos irmãos. Assim, Ele não estará apenas no meio de nós, como   que   espalhado   num   grupo   de   seres   humanos,   mas   entre   nós. 

Presente   a   partir   do   nosso   relacionamento   fraterno.   Então,   teremos condições de vislumbrar o caminho e encontrar a coragem para trilhá­lo.

Como não é  possível  simplificar  as coisas e obter   respostas  fáceis,  é preciso pensar de modo abrangente, aceitar os mistérios e os paradoxos da vida e não desanimar ante a multidão de causas e conseqüências que são inerentes a cada experiência humana. Enfim, aceitar e valorizar o fato de que a vida é complexa.

Agora,   vamos   ao   homem   e   às   suas   instituições.   No   caso   do   A.A.,   à Irmandade, como um todo. Aos serviços que definem a ação. O A.A. é uma irmandade em ação.

No   mundo   em   que   vivemos,   existem   as   autoridades,   os   líderes,   os governantes, os chefes, o Papa, etc. e, desde pequenos, nos acostumamos a   recorrer   à   autoridade   dos   nossos   pais   e   a   essas   outras   autoridades. Resumindo, nos acostumamos a procurar uma orientação que vem de fora. Essas   autoridades   se   apóiam   em  dogmas,   em   normas   estabelecidas  ao longo do tempo, na força da imposição, ou seja, numa estrutura de poder, que pode ser definida como a capacidade de mudar o comportamento do outro. Mas tudo isso é muito estranho ao A.A.. Ele é fruto de uma concepção muito melhor, muito mais perfeita do que isso que acabamos de ver.

Historicamente, os co­fundadores eram solicitados para dar orientações, idéias, sugestões ou até para buscar soluções para as novas realidades que iam surgindo em decorrência do fato de o A.A. ser uma Irmandade viva, em ação. Mas eles se deram conta de que as suas vidas eram finitas e que a irmandade, tal como era, tinha que encontrar, em si mesma, os melhores caminhos para continuar viva e em ação.

Seria algo como desenvolver um processo de auto­gestão, gestão que vem   de   dentro,   e   esse   modelo   se   assenta   no   processo   de   busca   da consciência coletiva que se constitui no alicerce desse modelo. É a chave para o seu funcionamento,  baseado no fato de que o Poder Superior  se manifesta em um determinado momento da troca de riquezas interiores e de cooperação e feita ao longo dessa busca da consciência coletiva.

Procurei   estudar,   conhecer   esse   processo   e   o   que   me   foi   possível entender, apreender, está colocado no trabalho sobre consciência coletiva. É a minha visão atual e, por certo, ainda incompleta.

Outro aspecto que gostaria de enfocar é o que revela um paradoxo. Mais presentes do que pensamos nas nossas vidas, apesar do desconforto que causam à  nossa formação racionalista. Diz­se até  que alguma coisa só  é verdadeira quando contém o paradoxo.

É que o A.A. não muda, pois tem princípios sólidos, cuja vitalidade tem­se mostrado extraordinária ao longo de 72 anos da sua existência. Não muda mas muda. Aí está um paradoxo.

Os animais pré­históricos que não mudaram também não mais existem e o A.A. não tem vocação para se tornar um dinossauro. O fato é  que não muda na sua essência, mas se renova, se adapta, se atualiza a cada ano, porque a cada ano se repensa, se mantém com vitalidade renovada, mais especificamente, após cada Conferência.

Essa   é   a   idéia­força   que   está   subjacente   a   todo   o   processo   da Conferência   e   que   precisa   ser   identificada.   Alias,   é   essencial   que   seja identificada   para   que   os   membros   que   dela   participam   tenham   plena consciência da importância do trabalho que realizam.

A Conferência tem uma exterioridade, ela é bonita, mas tem, sobretudo, uma  essência,  um conteúdo   interior  maior  e  mais   importante.  Tem uma roupagem   e   um   corpo   igualmente   muito   bonito   e,   por   certo,   mais importante.

Um outro aspecto que é preciso destacar é que a realidade com que, a todo o momento, nos defrontamos não tem nada de simples. O mundo não é feito apenas em preto e branco, mas também de muitos tons de cinza e de todas   as   cores   e   suas   nuances.   A   realidade   se   apresenta   sempre   sob múltiplos   aspectos.   Frequentemente,   não   somos   capazes   de   identificar, sozinhos, toda a complexidade de uma determinada situação. Mas, se ela for analisada também por outros companheiros, aí teremos a possibilidade de, participando da busca conjunta  da consciência  coletiva,  alargar  o nosso campo de visão e conhecer melhor para melhor decidir e melhor agir.

Finalmente,   vale   ressaltar  que,  se  a  Conferência  é   colocada   frente   às realidades do A.A. do Brasil, isso não levará à conclusão de que resultariam irmandades muito diferentes nos diversos países do mundo. E isso porque são realizadas  reuniões mundiais,  a  cada dois  anos,  em que numerosos países participam e nas quais também se busca a consciência coletiva, a integração   em   um   só   corpo,   sendo   que   as   diferenças   locais   apenas enriquecem o todo e o A.A. será eterno, enquanto assim funcionar.

O que é consciência coletiva?É uma condição a que se chega por meio da participação de todos 

os membros que compõem um grupo, usualmente em reuniões de serviço, por meio de um processo no qual se busca o conhecimento mais completo de algum assunto ou a solução para um determinado problema que tenha sido colocado em 

estudo,  podendo resultar em se optar  por ações que,  eventualmente,   irão ser empreendidas.

Como se desenvolve o processo?Dando   a   oportunidade   e   até   mesmo   solicitando   que   todos   os 

membros presentes e participantes de uma reunião para que ofereçam as suas contribuições, tanto para o estudo de um problema quanto para a sua solução. Isto significa que ninguém deve ser excluído, que ninguém deve ficar de fora. É indispensável que o coordenador seja suficientemente hábil para conter os que procuram impor as suas vontades e pontos de vista e, para isso, deve limitar o tempo de que cada membro irá dispor para apresentar a sua contribuição e, ao mesmo   tempo,   será   necessário   oferecer   aos   mais   retraídos   a   mesma oportunidade e o mesmo espaço de tempo para participar no processo de busca da consciência coletiva. Não só oferecer, mas, muitas vezes, será necessário até solicitar   que   os   mais   tímidos   apresentem   os   seus   pontos   de   vista.   O   poder coletivo, desse modo, contém o poder individual, a grandiosidade do alcoólico.

Numa primeira rodada, em que cada um dos participantes da reunião, de forma seqüencial e ordenada, expõe a sua opinião acerca do assunto em estudo, pode ocorrer que as colocações fiquem muito distantes umas das outras, mas, quando   se   faz   uma   nova   rodada   de   opiniões   na   qual   se   busca   um   melhor entendimento  acerca do assunto,  observa­se  que,  após  pensar  e  meditar  por algum tempo acerca do que havia sido colocado por cada um dos companheiros,  anteriormente,  as  opiniões  então  emitidas  vão   tendendo  para  uma  área  mais central, vão ficando menos distantes entre si, vão convergindo em torno de uma idéia ou decisão que, num certo momento, surgirá como sendo apoiada por uma substancial   unanimidade.   As   opiniões   vão   gradativamente   tendendo   para   um ponto central. Não há  limitação quanto ao número necessário de rodadas nem quanto  ao  tempo que  cada uma  irá   consumir.  O processo deverá  demorar  o tempo que for necessário.  O que se verifica é  que, numa primeira rodada, os companheiros usam a palavra para expressar apenas opiniões, na maioria dos casos, e as opiniões formam, no seu conjunto, uma plataforma instável. Já, numa segunda   ou   terceira   rodadas,   o   que   se   observa,   frequentemente,   é   que   as colocações   são   mais   elaboradas,   mais   estudadas,   já   se   apresentam   como convicções e ainda que, pela multiplicação das vias de abordagem, faz­se um esforço para pensar de modo mais claro e profundo sobre o assunto em tela. 

Todos devem ser ouvidos, é necessário que haja ampla participação, os assuntos precisam ser estudados por completo e detalhadamente diante do fato de que as decisões a serem tomadas são sempre importantes. Esse processo pode   exigir   um   longo   tempo   de   participação   e   de   maturação,   um   esforço prolongado por parte dos participantes, e, às vezes, é conveniente que se decida 

por uma parada, por um momento de relaxamento para tomar um cafezinho. O importante é que não haja pressa.

Como decorrência do fato de que todos têm igual direito de participar e de opinar, resulta que o poder coletivo atua de modo a limitar o poder individual. A linguagem,   o   diálogo   e   a   discussão   de   um   determinado   tema   atenuam   as posições   conflitantes.   Como   todos   podem   interrogar,   questionar   e   contra­argumentar, resulta que a razão supera a força e controla o exercício do poder. A linguagem tende a ser racional e as discussões pressupõem a apresentação de justificativas,  de argumentos e  todos devem estar  abertos ao questionamento. Como   nenhum   companheiro   detém   a   verdade   em   um   sentido   completo   e absoluto, o processo decisório passa pela superação de diferenças e implica na convergência  em  torno  do   interesse  comum e  dos  objetivos  orientados  pelos princípios de A.A.,  para se chegar ao consenso. As diferenças e divergências existentes podem ser superadas por meio do entendimento mútuo e diante do interesse comum.

O consenso, como forma de tomar decisões, implica em que deve haver um   espaço   para   justificar,   explicar,   persuadir   e   convencer   e   que   deve   ser concedido a cada um dos participantes da reunião a mesma oportunidade, não cabendo dispor de força, privilégio ou autoridade especial. Portanto, não deverão existir condições para a imposição, para a violência ou para o privilégio, que são formas de exercício do poder. Entre eles não existem desigualdades em relações de poder que impeçam o livre fluxo de argumentos. A razão se sobrepõe à força e é   uma   das   formas   de   controle   do   exercício   do   poder.   O   uso   de   linguagem adequada torna o ambiente racional, e nele, as discussões têm o seu fundamento na apresentação de justificativas e de argumentos num ambiente que deve ser aberto à interpelação e ao questionamento.

Ocorre, na busca da consciência coletiva,  que os companheiros entrem num processo de reflexão, de flexão sobre si mesmos, que olhem para dentro, quando   então,   frequentemente,   descobrem   que   não   sabem   tanto   quanto pensavam sobre o assunto que está sendo tratado resultando que se tornem mais humildes   e   tolerantes   e   assumam   atitude   mais   sóbria.   Cada   um   dos companheiros presentes numa reunião de serviço exercita a sua capacidade de apreciar uma determinada questão, de desenvolver a imaginação e de cultivar a mente aberta. Assim é que funcionam as coisas no âmbito do que é humano, com a pluralidade e a relatividade essenciais que lhe são próprias. Fatos e opiniões, embora distintas, não estão necessariamente em oposição uma vez que fazem parte de uma mesma realidade.

Talvez a reunião se prolongue bastante e é possível que poucos itens de uma agenda sejam abordados ou ainda que poucas decisões sejam tomadas, mas  o  que   é   preciso   ter   em  mente   é   que  o  processo  em  si   é   o   fato  mais 

importante e isso porque tem valor terapêutico. Ele vale, em primeiro lugar, pela evolução e pelo crescimento espiritual que propicia. A Irmandade de Alcoólicos Anônimos não é uma empresa em que a eficiência e o uso do tempo ficam em função   dos   resultados   esperados   e   dos   objetivos   fixados   por   um   processo administrativo.   Em   Alcoólicos   Anônimos,   tempo   não   é   dinheiro;   é   saúde,   é recuperação,   é   crescimento   espiritual,   sobretudo.   A   Irmandade   de   Alcoólicos Anônimos é uma Irmandade em que todos procuram deter a sua doença e entrar num processo de cura, não física, mas psicológica e espiritual e a participação no serviço, especialmente no processo que leva à consciência coletiva, tem grande importância para a recuperação e para que se possa alcançar a serenidade. O próprio  processo da busca da consciência coletiva é,  pela  sua natureza,  uma maneira  de  diminuir  a  velocidade  que   impomos  às  nossas  vidas,  de  evitar  o estresse.   Nele   tudo   se   desenvolve   sem   obcessividade   e   cada   membro participante vive um agora mais longo, mais demorado.

Por que é importante chegar à consciência coletiva?Porque   é   um   processo   sábio,   do   qual   não   sairão   vencedores   nem 

vencidos. Porque, pela ampla participação, todos aceitam, ao final e ao cabo, e sem resistências psicológicas, as decisões que foram acordadas e ainda porque, em face da ampla participação, todos se sentem igualmente responsáveis pelas ações  que  serão   tomadas  e   também pelas  suas  conseqüências.  Numa visão maior, até mesmo pelos destinos da Irmandade de Alcoólicos Anônimos.

O usual é que procuremos ser mais espertos e controlar uns aos outros em função de objetivos   individuais  ou  dos  interesses de pequenos grupos e   isso costuma ocorrer  ao nos comportarmos seguindo o modelo que recebemos no decurso das nossas vidas.

A atitude mental  que se  assume ao participar  do  processo em que se busca  a   consciência   coletiva   é   a   da   procura  da   verdade  em   relação  a  uma determinada situação ou problema que está em apreciação. Ao se colocar nesta posição e abandonar a busca de provas de que está certo, o companheiro entra em contacto com uma verdade maior, transcendente, unificada e unificadora, que se manifesta no decurso do processo e, por outro lado, o desejo de buscar a verdade para uma determinada situação desperta a inspiração, cria um certo tipo de receptividade. A partir desta posição madura o companheiro se questiona se realmente o que vê é tudo que diz respeito ao problema em estudo e, usualmente, chega à conclusão de que a sua visão não é tão abrangente quanto imaginava. Passa a admitir que existem aspectos enriquecedores na visão de cada um dos outros companheiros que participam da reunião e o que há  de inadequado na sua, o que traz alívio das tensões e facilita o desenvolvimento do processo.

O companheiro se dá conta de que não estava tão certo quanto pensava. Ganha conhecimento acerca de aspectos do problema que não havia identificado anteriormente. Passa a ver não somente o seu lado, a sua pequena verdade, mas uma   verdade   maior,   mais   abrangente.   Colocar­se   neste   ato   de   busca   da consciência coletiva, de querer a verdade ou o que é mais conveniente para a solução de determinado problema,  leva a renunciar ao que antes se apegava, àquilo que via como sendo a sua verdade. É estar disposto a ver além da sua perspectiva,   do   seu   ângulo  de  visão.  Nas   relações  humanas,  aquele  que   só conhece o seu  lado,  em relação a um determinado assunto  em estudo,  sabe realmente pouco em relação a ele. Acresce ainda que, no caso de um grupo de companheiros, quando em cooperação, o todo humano que se forma é maior do que a soma das suas partes, de modo que cada membro poderá  realizar, em conjunto com os outros, mais do que conseguiria se estivesse sozinho ou em grupos sem esse entendimento.

Participar   do   processo   que   leva   à   consciência   coletiva   traz   ganhos espirituais  importantes para o membro de A.A.,  ameniza o ego e muda o seu comportamento quando, em decorrência, deixa de cultivar a separação. Acontece um   importante   ganho,   um   crescimento   espiritual   de   grande   valor   para   a recuperação do alcoólico.

O companheiro desiste da necessidade de vencer as pessoas com quem convive e da qual resulta, freqüentemente, em estar separado, isolado. Desiste de ser especial, diferenciado dos outros e de estar sempre com a razão, de querer que as coisas sejam do seu modo. A integração aperfeiçoa a sua individualidade, enriquece­o   como   indivíduo,   o   inclui   na   comunidade   dos   humanos   e   jamais diminui a sua dimensão pessoal.

Por meio da consciência coletiva, os conflitos podem ser resolvidos sem derramamento  de   sangue   físico  ou  emocional  e,  mais  ainda,   com sabedoria. Sempre   que   se   busca   adequadamente   chegar   à   consciência   coletiva,   os gladiadores  baixam  as   armas  e  os  escudos  e   se   tornam hábeis   em  ouvir   e entender e, sobretudo, em respeitar e aceitar os dons dos outros, bem como as suas limitações. Ao longo da busca da consciência coletiva, aceitamos que somos diferentes, mas que, por outro lado, estamos ligados aos demais membros pelas nossas feridas e pelo fato de estarmos aprendendo a lutar juntos, mais do que uns   contra   os   outros.   Os   conflitos   são   resolvidos.   Os   membros   aprendem   a desistir   de   facções   e   de   compor   pequenos   subgrupos.   Aprendem   a   ouvir mutuamente e a não rejeitar.

O silêncio de quem escuta representa uma abertura, uma disponibilidade em relação ao outro. É como criar uma zona de silêncio que significa confiança no outro. Dar um lugar aos outros é indispensável para que possamos desenvolver a nossa relação existencial. A amabilidade do acolhimento, da abertura, não exclui 

a personalidade de quem escuta, daquele que procura o verdadeiro em meio a múltiplas verdades. Só assim se chega à plenitude do diálogo. É como viver as tarefas  do mundo  tais  como elas  se  apresentam.  A  vida   é  então   realizada e confirmada na concretude de cada instante, de cada dia. 

A busca da consciência coletiva é uma experiência importante para por fim aos conflitos, pois, durante o processo de busca, não procuramos tirar a energia dos  outros   companheiros.  Sempre  que  alguém sai   vencedor,  o  perdedor   fica deprimido,   em   baixa.   Mas   se   procuramos   a   consciência   coletiva,   estaremos recebendo energia de uma outra fonte, do Poder Superior. 

Na consciência coletiva está contida a filosofia do diálogo, da relação entre os membros de AA. O que importa é uma relação desenvolvida no diálogo, na atitude   existencial   do   face­a­face,   na   vibração   recíproca.   O   diálogo   assim desenvolvido   abre   novas   perspectivas   em   relação   ao   sentido   da   existência humana de cada um dos membros participantes porque está  voltado para um novo projeto de existência e não para um passado nostálgico. O processo da busca da consciência coletiva estabelece uma nova relação entre os membros de A.A. e, numa visão maior, entre os seres humanos.

Só seria possível pensar na libertação do alcoolismo a partir da libertação do próprio alcoólico das múltiplas prisões do seu egoísmo congênito, uma vez que a liberdade se encontra no compartilhar de experiências, forças e esperanças e no   despertar   do   outro   que   ainda   se   encontra   nas   garras   do   alcoolismo.   Os membros de A.A.  não cessam de se  enriquecer  pela  convivência  com outros companheiros, cujas possibilidades são multiplicadas ao infinito pela magia dos seus   poderes,   sempre   renovados,   enquanto   praticando   o   programa   de recuperação. O amor ao próximo lhe dará a chave de todas as prisões, da própria libertação, da saída para uma nova vida.

O conjunto das relações sociais tende, naturalmente, ao conflito e às contradições.

Finalmente é  preciso estar sempre alerta para o fato de que a fronteira entre   o   bem­estar,   a   felicidade   e   a   alegria   de   vivermos   numa   autêntica comunidade e o conflito, o desgaste emocional e o perigo de uma recaída está em nós mesmos. Nós somos o teatro de uma luta contínua entre as forças da vida e da morte. Tudo depende do que fazemos a cada dia, a cada instante entre o bem  e   o  mal,   pois   que  estão  estreitamente   relacionados   –   “o   inferno   não   é separado do paraíso senão pela espessura de um fio de cabelo”. Neste ponto, nesta escolha, está a possibilidade do surgimento de uma nova realidade, de um novo impulso que pode levar à realização plena das mais radiosas perspectivas que podemos ter a partir da infinita riqueza contida nos Legados de A.A. e, ainda, 

a   possibilidade   de   que   esse   novo   impulso   abra   as   portas   do   sonho,   tão necessário à própria sobrevivência, ao mesmo tempo em que abra as portas do caminho de salvação para outros alcoólicos.

A prática da Segunda Tradição é   indispensável  para que o conjunto de companheiros que compõem as reuniões de serviço possam chegar à solução de problemas e encontrar caminhos para a Irmandade como um todo. Essa prática determina   a   qualidade   do   trabalho   realizado   e   os   resultados   das   grandes reuniões, como as que ocorrem nas conferências de serviços gerais, nas inter­áreas, nas áreas, nas reuniões de distrito, etc. e até mesmo nas reuniões que contam com um menor número de companheiros, como usualmente ocorre nas reuniões de serviço dos grupos. É a aplicação prática de um conhecimento que harmoniza o conjunto das relações sociais, que naturalmente tendem ao conflito e às   contradições,   e   evita   o   domínio   do   homem   sobre   o   homem,   além   criar condições para que ocorra a emancipação humana.

Se consultada a consciência coletiva, as decisões são realistas.A ampla participação assegura que a realidade seja conhecida nos 

seus mais diferentes aspectos, que nenhuma particularidade seja omitida,  que nenhuma conseqüência das decisões a serem tomadas deixe de ser considerada e avaliada. O estudo resulta sempre completo porque é o resultado da soma de todas as experiências, de todas as visões. Significa que se estuda e se decide com segurança. 

Freqüentemente,   o   nosso   narcisismo   nos   faz   sentir   que   somos   os guardiões de uma estrutura frágil e ameaçada e que, se não fosse por nós, tudo já estaria perdido. Isso é a manifestação de que algo está errado com a nossa saúde mental e espiritual e que é preciso colocar, lado a lado, a nossa realidade com a que é percebida pelos irmãos em quem confiamos. O fato é que a verdade compartilhada é poderosa, eleva o espírito e é por isso que interagimos quando participamos das atividades do grupo ou das que são mais ligadas ao serviço. Freqüentemente a verdade é um processo, o resultado de uma relação entre nós mesmos e os outros, que dá  à  verdade maior clareza e brilho. Precisamos de coragem para ver a verdade, mas ela nos fortalece, e estar dentro da realidade significa não estar alienado. Ocorre uma confiança no diálogo, na busca comum da verdade.

No conjunto, o grupo sempre aprecia melhor porque inclui membros com muitos e diferentes pontos de vista e com a liberdade assegurada de expressá­los por meio do processo que busca a consciência coletiva. Incorpora­se o claro e o escuro, o sagrado e o profano, a tristeza e a alegria, a glória e a lama e é por essa razão que as decisões são bem elaboradas. Não é provável que se deixe de 

apreciar algum aspecto importante. Como cada membro representa um padrão de referência e, se eles são muitos, o grupo de trabalho se aproxima mais e mais da realidade. As decisões são realistas e usualmente seguras.

Não ao totalitarismoÉ comum pensar que as diferenças possam sempre ser resolvidas por uma 

autoridade maior. No passado de cada um de nós, era costumeiro apelar para a intervenção do pai ou da mãe para o entendimento de situações e para a solução de   problemas.   Procura­se   freqüentemente   até   apelar   para   um   ditador benevolente.   Mas   Alcoólicos   Anônimos,   em   favor   da   maturidade   dos   seus membros, nunca pode ser totalitário.

Nós nos acostumamos, ao longo da nossa vida, a aceitar certas formas de autoridade que sempre serviram como orientação para definir a realidade em que vivemos   e,   sem   ela,   nos   sentíamos   confusos   e   perdidos.   Mas   a   busca   da consciência coletiva passa a ser o exercício através do qual sempre, e em grupo, encontramos a orientação, sempre conhecemos de uma maneira mais completa a realidade e, é bom acentuar, sem a necessidade de qualquer autoridade que não a do Poder Superior. No decurso do processo de busca da consciência coletiva, acontece   o   retorno   da   sensação   de   segurança,   agora   sob   uma   forma   mais espiritualizada, a segurança espiritual.

 A maneira menos primitiva de se resolverem as diferenças individuais é a de apelar para o que chamamos de democracia. Pelo voto, determina­se o lado que prevalece. A maioria governa. Mas este processo exclui  as aspirações da minoria. Diferentemente, o processo de tomada da consciência coletiva inclui as aspirações da minoria. É como transcender as diferenças pessoais de modo a incluir, na mesma medida, a minoria. Entrar no processo que leva à consciência coletiva é ir além da democracia. Recorrer ao voto não é a solução. Apenas o consenso   integra   as   minorias   e,   em   realidade,   até   evita   a   sua   formação.   O processo pelo qual se chega ao consenso é uma aventura porque não se pode antecipar o que vai resultar, é algo quase místico e mágico, mas que funciona.

Durante o processo de busca da consciência coletiva, a autoridade fica descentralizada.   Não   há   líderes   e,   ao   mesmo   tempo,   todos   são   igualmente líderes. Há um verdadeiro “fluxo de liderança”. Os membros se sentem livres para se expressar e para oferecer as suas contribuições e o fazem no exato momento e na devida dimensão. Há lideranças. É o espírito de comunidade que lidera e não o individualismo.

O desenvolvimento da humildadeO   processo   de   busca   da   consciência   coletiva   atenua   o   individualismo 

áspero que leva à arrogância e isso se faz por meio da limitação da participação e 

ao   evitar   preponderância   e   excessos   ­   a   velha   prepotência   e   a   conhecida manipulação. O poder individual só é contido, só é limitado, pelo poder coletivo. Este é um princípio fundamental. É exatamente o que acontece no processo de busca da consciência coletiva.

Desenvolve­se,   nos   membros   do   grupo   de   trabalho,   um individualismo ameno que leva à humildade. Durante o processo, as dádivas de todos são apreciadas e também reconhecidas as próprias limitações e isso está na base da aceitação das nossas imperfeições. “Conhece­te a ti mesmo” é uma regra segura para chegar à humildade.

Nesse momento, fica muito claro que o problema não é a dependência e sim a real interdependência. Não só os membros se tornam mais humildes, mas também o grupo como um todo.

O grupo como um lugar seguroAs pessoas se tornam mais amenas quando participam do processo de 

busca da consciência coletiva porque se olham através das lentes do respeito. O grupo   se   torna   um   lugar   seguro   porque   há   aceitação   e   compreensão,   e   as pessoas sentem com uma intensidade nova o amor e a confiança. Desarmam­se. Passa a haver a paz e, sobretudo, os membros aprendem a fazer a paz.

É também um lugar seguro porque no grupo ninguém está tentando curar, converter  ou  mudar  o  outro  e,  paradoxalmente,   é  exatamente  por   isso  que a evolução espiritual e comportamental e, ainda, a conversão acontecem. No grupo, as pessoas são  livres para serem elas mesmas,  livres para procurar a própria saúde psicológica e espiritual. Tudo isso faz do grupo um lugar seguro em que as pessoas   podem   abrir   mão   das   suas   defesas,   das   suas   máscaras,   dos   seus disfarces.  Aceitamos  ser   vulneráveis,  expor  as  nossas   feridas  e   fraquezas,   e assim fazendo, aprendemos também a ser afetados pelas feridas dos outros. O amor surge nesse compartilhar e isso é possível porque abrimos mão da norma social de pretender sermos invulneráveis.

 Num lugar seguro, as pessoas se desarmam e aprendem a fazer a paz, que nasce do processo de busca da consciência coletiva.

Um estado de espírito muito especialQuando nos preparamos psicologicamente para participar de uma reunião 

de serviço em que se vai à busca da consciência coletiva e nos sujeitamos ao processo   que   leva   a   ela,   resulta   o   surgimento   de   uma   atmosfera   tal   que, paradoxalmente,   nela  as   pessoas   falam   mais  baixo   e,   no  entanto,   são  mais ouvidas. Nada é agitado e não se forma o caos.

Pode haver discussão e luta, mas ela é construtiva e move­se em direção ao consenso. Em realidade, entra­se no processo de formação de uma verdadeira comunidade.

Esse estado de espírito é   indispensável para que se possa estar aberto para  a  manifestação  do  Poder   Superior.  Para   a   inspiração  e   para  a   voz  do Espírito Santo.

Quando nos dirigimos para uma reunião de serviço, não podemos imaginar qual será o resultado dos trabalhos nem devemos interferir nele. O processo de formação da consciência coletiva é verdadeiramente um mistério.

O estado de espírito de quem vai para uma reunião de serviçoQuando se vai para uma reunião de serviço, é preciso ter em mente que a 

intenção, a idéia, é levar tão somente uma contribuição, uma experiência pessoal. É preciso lembrar sempre que o todo é formado pelas partes e que cada um de nós não é senão uma parte, mas uma parte realmente importante. Cabe ainda lembrar que as nossas experiências são tanto o fruto das nossas vivências, e por isso   são   muito   ricas,   quanto   limitadas   à   esfera   pessoal.   Ao   mesmo   tempo, precisamos ter a consciência do valor da contribuição que podemos dar,  mas também a de que ela  será  parte  de um todo,  de  um conjunto  maior,  que se formará   a   partir   das  contribuições  de   cada  um dos  que  estarão  presentes   à reunião.

O   que   fica   dessas   considerações   é   que   a   atitude   de   humildade   é indispensável  se se deseja chegar  à  consciência coletiva.  É  aceitar  que,  pelo menos diante do fato de se estar frente a uma manifestação do Poder Superior, a prepotência, a arrogância, o narcisismo e a agressividade possam dar  lugar à humildade   e   à   aceitação   daquilo   que   irá   resultar   da   soma   de   todos   os conhecimentos e contribuições, mas, sobretudo aceitar que ao final se chegará ao melhor caminho, à melhor solução, à melhor decisão.

O que acontece quando não se busca a consciência coletivaMuitas   coisas   podem   acontecer.   A   realidade   pode   ser   distorcida   e   as 

conclusões ou decisões podem não ser as mais sábias ou convenientes. Parte dos que compõem o grupo pode ficar excluída dos trabalhos, por ser constituída de membros mais  tímidos ou por  estarem dominados pelos mais prepotentes, pelos que melhor fazem uso da palavra.

Pode   ocorrer   que,   antes   de   uma   reunião,   os   componentes   do   grupo procurem   contactar   outros   membros   para   lhes   convencer   acerca   das   suas pretensões   ou   postulações   ou,   simplesmente,   conseguir   adesões   ou   fazer acordos.   Obviamente,   a   consciência   coletiva   estará   sendo   manipulada   e   aí poderiam os mais doentes chegar ao seu “dia de glória", pois teriam manipulado 

até   mesmo   o   Poder   Superior.   No   entanto,   nessas   condições,   a   consciência coletiva  não se  estabelece e  Ele  não  fala.  Talvez  falem outras  vozes menos divinas.

Quando não se busca a consciência coletiva, o que usualmente acontece é correr   o   sangue   emocional   e   até   mesmo   o   físico.   Usualmente   a   luta   se estabelece,  mas   ela   não   leva   a   nada   porque   é   caótica,   é   barulhenta   e  não construtiva.

As agressões tornam as reuniões cansativas e os resultados são nulos ou diminutos. As reuniões se tornam tanto desagradáveis quanto improdutivas. É um conflito   sem   frutos   e   que   vai   para   lugar   nenhum.   As   pessoas   tornam­se prisioneiras   das   suas   raivas,   dos   seus   ressentimentos   e   das   suas   ambições pessoais desmesuradas. Outros procuram concertar as cabeças, convencer ou curar os seus companheiros e isso, muitas vezes, pode até parece ser coisa de amor, mas o fato é que fazem isso para o seu próprio conforto, em seu favor.

É   fundamental que busquemos a complementação sempre que opiniões diferentes ou contrárias às nossas forem apresentadas. Devemos buscar, nessas situações,  o  sentido de existir,  de ser.  Devemos  identificar,  na existência  dos opostos, o sentido da complementaridade. Sempre que nos incompatibilizamos uns  com os  outros   é   porque  estamos  medindo   forças  e  assumindo  posições antagônicas. Se buscarmos o sentido do complementar,  poderemos reverter o antagonismo   e   somar   as   nossas   potencialidades   em   torno   de   um   propósito comum. Desse modo, não perdendo o nosso ponto de vista,  identificamos um sentido maior que é a grande manifestação da Consciência Coletiva.

A insensatezQuando não se busca a consciência coletiva, a insensatez se estabelece 

no grupo. Isto é, passa­se a agir de forma contrária aos próprios interesses, de forma contrária à apontada pela razão. Exatamente ao contrário da sabedoria que está no exercício do julgamento atuando com base na experiência e no uso das informações disponíveis.

No   caos   e   na   manipulação,   buscam­se   as   atitudes   contrárias   aos interesses da Irmandade de Alcoólicos Anônimos, não obstante as advertências desesperadas de alguns e da existência de alternativas melhores e viáveis.  A busca   da   insensatez   torna­se   trágica   e,   dolorosamente,   um   comportamento dominante.   Dominados   pelas   paixões,   os   membros   do   grupo   abandonam   o comportamento racional, tornam­se passionais. A mitologia grega tinha uma figura para   representar   a   cegueira   da   razão,   o   desvario   involuntário,   de   cujas conseqüências os companheiros depois se arrependem, chamada Ate, filha de Eris, deusa da discórdia e da disputa. Tomados de cega insensatez, as vítimas da 

deusa se tornam incapazes de realizar uma escolha racional, de distinguir entre atos morais e imorais.

Onde e como o Céu e a Terra se tocamO homem, desde tempos imemoriais, vem procurando fazer contato com 

as forças criadoras, com o sagrado. Procurou lugares e objetos em que o céu e a terra se encontrassem. Concebeu a montanha e a cidade sagradas, a residência real, a árvore da vida e da imortalidade, a fonte da juventude, etc.

De   acordo   com   crenças   indianas,   o   monte   Meru   seria   uma   montanha sagrada e sobre ela brilharia  a estrela polar.  Na crença  iraniana,  a montanha Elburz seria o ponto em que a terra estava ligada ao céu. A população budista do Laos considera sagrado o monte Zinnalo. No Edda, o Himinbjorg, que quer dizer “montanha   celestial”,   é   considerado   o   ponto  em  que  o  arco­íris   alcançaria   a parábola do céu.

Para os povos mesopotâmicos, o Zigurate era a montanha cósmica. Na Palestina   era   o   Monte   Tabor.   Para   os   cristãos,   a   montanha   cósmica   era   o Gólgota, o lugar onde Adão tinha sido criado e sepultado e o sangue do Salvador teria sido derramado sobre o crânio de Adão, servindo para a sua redenção e esta crença ainda permanece entre os cristãos orientais. A cidade da Babilônia, como indica o próprio nome, era tida como a “porta dos deuses” pois era por meio dela que os deuses desciam para a terra.

A idéia de que o santuário reproduz o Universo, na sua essência, passou para a arquitetura religiosa da Europa cristã  e para as basílicas dos primeiros séculos,   do   mesmo   modo   que   as   catedrais   medievais   reproduziam simbolicamente a “Jerusalém celestial”.

O   lugar   sagrado,   o   “Centro”,   seria   a   zona   da   realidade   absoluta   e   lá estariam   os   seus   símbolos:   a   árvore   da   vida   e   da   imortalidade,   a   fonte   da juventude, etc. daí a idéia de que a estrada que leva ao “Centro” é um “caminho difícil”. Difícil também a peregrinação aos lugares sagrados como Meca, Hardwar e Jerusalém,  feita  em viagens cheias  de perigos e  realizadas por  expedições heróicas. A mesma dificuldade encontra aquele que procura caminhar em direção ao seu ego, ao “Centro” do seu ser. A estrada é árdua e cheia de perigos porque representa um ritual de passagem do âmbito profano para o sagrado, do efêmero e ilusório para a realidade e para a eternidade, da morte para a vida, do homem para a divindade. Chegar ao “Centro” equivale a uma consagração; a existência profana e ilusória dá lugar a uma nova existência, a uma vida real, duradoura. Na busca da consciência coletiva o grupo de trabalho procura chegar ao "Centro”, ao ponto mais elevado.

Eu, pessoalmente, considero que é através do processo de formação da consciência coletiva, após percorrer um caminho muitas vezes trabalhoso e difícil, 

que estabelecemos um contato entre o céu e a terra. É por meio do processo de busca  da   consciência   coletiva  que  o   céu  e  a   terra   se   tocam.  A   consciência coletiva é a voz do Poder Superior.

O conceito  de  substancial  unanimidade e a   idéia  da   formação de uma verdadeira comunidade centrada na busca da manifestação do Poder Superior estão na base de uma nova dimensão de divindade e permitirão que a Irmandade de Alcoólicos Anônimos se aperfeiçoe de maneira progressiva e que, por meio da busca da consciência  coletiva,  os seus membros conquistem a mais  absoluta liberdade   espiritual,   ficando   então   livres   de   preconceitos   e   de   sentimentos negativos em relação aos demais companheiros.

Finalmente Finalmente,  é   necessário  dar  passos  concretos  e  assumir  atitudes  que 

concorram para que sejam bem sucedidas as reuniões de serviço. Assim, ficam as seguintes sugestões:

É  conveniente que os assentos sejam distribuídos em círculo  ou que a mesa que se vai usar seja redonda. É uma forma de equilibração e nela não há destaques.

Evite usar as palavras “eu” e “você”. Use o “nós”, de modo a se incluir no grupo.

Dirija­se ao grupo como um todo, mesmo quando falando para apenas um dos seus componentes.

Evite ficar próximo dos mais íntimos. Isso impede a formação de grupinhos separados.

Evite a discussão paralela. Não fique falando baixo com o companheiro ao lado. Alguém pode entender como crítica.

Olhe para quem estiver usando a palavra. É uma atitude de respeito. Não fique alheio à discussão de determinado assunto enquanto se prepara para uma intervenção.

Ao se manifestar, não se afaste do que vem sendo discutido pelo grupo. De outra forma, haverá o risco de se perder o encadeamento, o raciocínio que vinha sendo desenvolvido.

Ao opinar,  procure   fundamentar  a  sua  contribuição,  apresentar  algo  de valor e não dar apenas um palpite. Diante de um palpite, os demais companheiros devem fazer perguntas como: Por quê? Quando? Onde? Etc., para forçar uma operação mental que resulte em manifestação mais elaborada.

Tenha   boa   vontade   com   os   tímidos   pois   que,   com   essa   atitude,   irá encorajá­los a participar do grupo.

Não eleve a voz. Não se emocione. Não crie barreiras à comunicação. Não diga não concordo. Discorde sem dizer não concordo.

Às   vezes,   é   bom   lançar   dúvidas   para   forçar   a   reflexão   e   evitar   o dogmatismo.

O coordenador deve evitar o papel de chefe. Quem tem chefe é bando.Se o grupo não evoluir,  em determinado momento será  bom fazer uma 

pausa para examinar o que está dificultando o progresso da reunião. É melhor tomar essa atitude enquanto o grupo está reunido do que deixar que as críticas ocorram depois, o que seria uma atitude desleal para com o grupo.

Os que não entendem do assunto em discussão, por vezes, se mostram lógicos e criativos e apresentam boas contribuições.

Tenha coragem de expor as suas opiniões, de oferecer sua experiência. Corra   o   risco   de   ser   contestado,   é   natural.   Não   fique   só   na   colocação   das dúvidas.

Evite a palavra acho, até porque às vezes o companheiro que assim se manifesta, está mais do que convicto. Se tiver dúvidas, abra o jogo.

Seja generoso. Elogie. Estimule os companheiros do grupo.Se estiver muito acima do grupo em determinado assunto, não dê  aula. 

Procure fazer perguntas inteligentes que despertem idéias.Passe a bola para poder recebê­la de volta. O processo se tornará mais 

dinâmico e produtivo.Nunca procure derrotar um companheiro presente a uma reunião. Você 

não veio para  isso.  O que se espera é  que contribua com a sua experiência pessoal.   Lembre­se   de   que   o   companheiro   derrotado   em   público   jamais   o perdoará. Isso fere muito.

Se for tímido, procure acompanhar a evolução do assunto em estudo e isso já é uma forma de participar e de evoluir.

Evite as expressões: “é claro” e “você não entendeu”. Não culpe o grupo quando não for entendido. A reunião evolui melhor dizendo: “talvez eu não tenha sido muito claro”.

Estimule todos os companheiros presentes a prestar o seu esclarecimento, a dar a sua contribuição. Por outro lado, não seja paternal. Lembre­se de que todos têm igual responsabilidade pelo êxito da reunião.

O dominador   costuma usar  a  expressão:   “ninguém quer   trabalhar”  e  o tímido se queixa de que “não o deixam participar”. Mas a verdade é que ambos demonstram a sua imaturidade.

O objetivo de cada um é cooperar. Não cabe obedecer, uma vez que todos têm o mesmo direito de participação.

É preciso que todos ofereçam as suas contribuições, a sua experiência. Participe e não fique na posição confortável  de omisso. Participe, mesmo que tenha que enfrentar dificuldade em ser ouvido.

Não   se   alongue   em   excesso.   Prolixidade   é   manifestação   de   falta   de clareza. Ser objetivo e sintético demonstra inteligência. Falar em demasia é, às vezes, um recurso usado por quem tem o desejo de emperrar os trabalhos do grupo.

Participar  implica em assumir responsabilidade de modo que se ocorrer que um companheiro não se sentir responsável, é porque não participou, não fez parte do grupo.

Evite usar frases feitas. Não empobreça o grupo. Seja criativo.Não se impressione com a pretensa superioridade que algum participante 

do grupo possa ter em relação aos outros. É indispensável que haja reciprocidade para que ocorra a participação de todos.

Não   se   sinta   desconfortável   quando   demonstrar   o   seu   entusiasmo. Participe de corpo e mente. Somos seres humanos. Estamos vivos.

Evite   ser   duro   com   os   companheiros   ao   assumir   atitudes   racionais   e lógicas.   Ser   lógico,   sim,   mas   com   amor.   Igualmente,   amor   sem   lógica   é sentimentalismo, e não ajuda.

Aceite as pessoas, derrube as barreiras psicológicas. Deixe­se evoluir e contribua para a evolução dos outros. É preciso não ser impermeável e avaliar com boa vontade os pontos de vista dos companheiros. Só assim se estabelecerá um diálogo enriquecedor.

Não seja deslumbrado. As pessoas são perspicazes e críticas.As dificuldades não devem desencorajar o grupo. É possível ir comendo o 

mingau quente pela beirada.Se for inevitável a votação, que pelo menos ocorra uma longa discussão 

acerca do assunto de modo a alcançar substancial unanimidade.

CRESCIMENTO ESPIRITUALDr. Laís Marques da Silva, ex­Custódio e Presidente da JUNAAB.

Palestra proferida por ocasião da XVI Convenção Nacional de Alcoólicos Anônimos – São Paulo, abril de 2003.

VIDA ESPIRITUAL“Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual,... somos seres 

espirituais passando por uma experiência humana”.Teilhard de Chardin

É freqüente que as pessoas tenham a idéia errada de que a vida espiritual é alguma 

coisa diferente e que deva ser vivida em separado, num cantinho lá do céu, num ambiente 

etéreo e místico. Pensam também que o nosso dia a dia está ligado a uma outra realidade 

que   não   é   lá   estas   coisas,   se   comparada   com   o   que   concebem   como   sendo   a   vida 

espiritual, além de muito mundana. É também comum pensar que, para ser uma pessoa 

espiritual, é  preciso não dar  importância à  nossa vida do dia a dia e ir  para uma outra 

dimensão inteiramente diferente, um reino especial. Separamos e dividimos o que é uno e 

isso acontece com freqüência. Ademais, a dimensão do que se entende por vida espiritual 

vai muito além da repetição inconsciente de um ritual ou de uma oração. Por vezes, nos 

damos conta do potencial que temos de crescimento, mas é preciso ter em mente que ele 

não acontece por si mesmo. Há caminhos a serem percorridos, programas e passos a nos 

orientar a fim de termos esse potencial  realizado. É  preciso estar conscientes do modo 

como agimos, de como nos relacionamos conosco, com o nosso corpo, com as pessoas 

que nos rodeiam porque tudo isso cria uma espécie de mundo, interior e exterior, dentro do 

qual vivemos. Ao evoluir nesses aspectos das nossas vidas, iremos criar condições para 

viver   melhor   e   para   crescer   espiritualmente   e,   nesse   ponto,   estaremos   optando   pela 

liberdade ou pelo sofrimento. Desenvolver a dimensão espiritual é próprio da vida dos seres 

humanos. 

Pode ser difícil andar nas nuvens ou caminhar sobre as águas, mas fazer exatamente isso sobre a terra tem­se mostrado um enorme desafio, uma tarefa que apresenta novas dificuldades a cada momento. Tornar­se um ser com um individualismo ameno e afável é, provavelmente, o milagre maior que podemos realizar, o objetivo maior que temos na vida. 

O grande milagre é tornar­se um ser espiritualizado, pois a vida a todos nós tem ensinado que uma pessoa que tenha uma mente poderosa, se não tiver um bom coração, este poder não será de qualquer valia e pode ainda ser desvantajoso.     Para caminhar sobre a terra, cada indivíduo tem que partir do fato de que possui uma consciência e de que é um ser único no mundo. Nada e ninguém é igual e isso implica em que o ser humano é só, sente a sua solidão. Possui uma identidade única, é singular. Além de diferenciado no momento da concepção, vive em ambientes diferentes e se desenvolve de um modo que lhe é próprio. Tem que ser ele mesmo dentro do seu espaço de liberdade. O senso de autonomia e autodeterminação lhe traz a idéia de ser responsável por si mesmo, uma vez que é o capitão do seu barco e mestre do seu destino. Percebe que só pode afirmar as suas potencialidades concretizando a própria individualidade. Mas aí entra a idéia de limite, pois que se vai longe demais nesta linha de desenvolvimento, acaba se tornando um ser orgulhoso, degenerado e autodestrutivo. Há também o fato não menos real de que, como ser social, necessita das outras pessoas não só para sustento e companhia, mas também para encontrar significado e sentido para a sua própria vida. Assim, há duas realidades distintas e em oposição e ambas são reais. Chamamos a isso de paradoxo e é a partir dele que temos que crescer espiritualmente.

    O indivíduo é impulsionado para o desenvolvimento total das suas possibilidades, mas tem que reconhecer que é incompleto e, como tal, tem a sua fraqueza. Trabalha 

com a individuação de um lado e com a sua dependência, de outro. O desenvolvimento que se faz mais calcado em uma das vertentes do paradoxo 

desequilibra a equação. As oposições geram ou são a origem de conflitos, mas se os opostos forem unificados, não haverá tensão, conflito ou medo. O eu torna­se mestre 

de si mesmo e a vida pode vir a ser o que o indivíduo deseja. Surge a liberdade, o domínio e a unificação. O desenvolvimento espiritual permite encontrar um ponto de 

equilíbrio entre essas duas tendências. É esse desenvolvimento harmonioso que evita possíveis desvios. Se caminha pelo lado do individualismo, acentua a 

independência e a autossuficiência e aí, como não consegue ser autossuficiente nem independente completamente, é levado a falsificar, ocultando fraquezas e falhas. Tenta ser super­homem e controlar totalmente a sua vida. O individualismo, no 

entanto, leva ao isolamento social, à solidão que condena a viver um inferno existencial e, numa dimensão maior, à fragmentação da sociedade. Mais adiante, o 

indivíduo aprende que é natural e humano sentir ansiedade, depressão e abandono e percebe que é no convívio com os outros que pode compartilhar estes sentimentos 

sem medo ou culpa e ainda sem julgamento, se encontra o nível necessário de entendimento.

    A partir deste quadro simplificado e, sendo membro de A.A., o companheiro cresce espiritualmente e passa a desenvolver a ética de um individualismo suave. Por outro lado, a vida mostra que, para cultivar um bom coração, não é suficiente dizer a nós 

mesmo que devemos ser bons, pois dizer o que devemos ser, sentir ou fazer não nos 

faz viver deste modo, mas nos abarrota de “deverias”, que muitas vezes nos fazem sentir culpados porque nunca somos como pensamos que deveríamos ser.

     O que realmente é necessário, é transformar as nossas mentes e comportamentos aceitando um fato bem caracterizado pelo mito do dragão. Os mitos são uma 

maravilhosa fonte que nos ajudam a compreender os complexos e multidimensionais aspectos da natureza humana porque representam uma determinada realidade. O dragão é uma criatura mitológica que vem sendo usada por diferentes culturas há 

muitos séculos. Ele simboliza os seres humanos, já que são cobras com asas, vermes que podem voar e é isso que nós somos. Rastejamos como répteis, atolados na lama de pecaminosas tendências e preconceitos culturais resultantes da mente fechada. Mas, como pássaros ou anjos, podemos voar e transcender a realidade de 

réptil porque somos espírito e capazes de alcançar os céus. Esta é uma visão clara da nossa realidade.

     No mundo ocidental costumamos separar o físico do espiritual. A tecnologia tem desenvolvido conhecimentos que melhoram a nossa qualidade de vida e a nossa condição física pessoal e, particularmente, a nossa saúde. Mas vale dizer que a 

ênfase maior caberia ao lado espiritual, já que o espírito é entendido por nós como sendo eterno, imortal. Aqui fica uma importante pergunta: seria possível, com a 

tecnologia de guerra existente nos nossos dias, sobreviver dentro desta posição de manter separado o físico do espiritual? Tudo indica que, para salvarmos a nossa 

pele, teremos que salvar primeiro as nossas almas. Logo, desenvolvimento espiritual não é retórica abstrata e sem sentido prático. Não parece ser possível melhorar a 

confusão em que colocamos o mundo de hoje sem pensarmos em alguma espécie de cura espiritual. 

 UM PROCESSO

     Feitas as colocações iniciais, passamos a observar e a apreciar o que acontece num grupo de A.A. e também a identificar o modo pelo qual ocorre o despertar e o crescimento espirituais, em alguns de seus aspectos. Dentre as muitas realidades com que se defronta um recém­chegado a um grupo de A.A., destaca­se a de que, 

embora fique claro que o objetivo principal seja evitar o primeiro gole e assumir que é só por hoje, ele se dá conta de que há uma mensagem não escrita, que está no ar, e que aponta para o fato de que não basta que apenas viva como um alcoólico sóbrio, em abstinência. Percebe que não é suficiente apenas estar sóbrio, mas que precisa ganhar condições de permanecer sóbrio. Ou seja, ele observa que os companheiros 

ali presentes não estão apenas sóbrios. Muitos permaneceram sóbrios por longo tempo e estão bem, compostos e felizes. Além do mais, são educados, afáveis, 

atenciosos e ainda exibem uma atitude de boa vontade e de abertura em relação aos demais companheiros. Tudo isso a indicar que houve um progresso na recuperação. 

Assim, descobre que há um caminho a ser percorrido, que há uma proposta para 

esse caminho e, mais adiante, vai ver que progredir ao longo deste caminho é bem mais complexo do que se manter sóbrio. É preciso construir novas referências, 

estabelecer prioridades, deixar brotar novas esperanças, livrar­se de antigos comportamentos. A porta aberta do grupo dá acesso a uma nova realidade, a um 

caminho iluminado por luz libertadora.

COMUNICAÇÃO EM PROFUNDIDADE     A seguir, observa que as reuniões do grupo são marcadas pela fala, são reuniões em que se fala, e que o silêncio por parte dos que ouvem, usualmente, é completo. Assim, aquele que fala encontra no silêncio dos outros uma atitude de respeito em 

relação ao companheiro que faz o seu depoimento, e que isso estabelece uma abertura, traduz uma disponibilidade da parte dos companheiros do grupo.

     O homem se realiza como pessoa através da comunicação; na comunicação o indivíduo sai de si em direção ao outro, passa a existir espiritualmente, ao mesmo 

tempo em que oferece a sua interioridade. Ganha a noção de si mesmo, da sua singularidade espiritual, e não só passa a ser gente, mas se realiza como gente 

quando se projeta sobre o outro. O isolamento faz crescer o sentimento de insegurança, o medo, mas o grupo responde à necessidade de superar a separação, 

de realizar a união, de transcender a vida individual, de entrar em sintonia com os outros.  No grupo de A.A. todos se relacionam entre si, numa complexa interação. 

Estar fora dos relacionamentos é como estar fora da vida, e o homem sofre intensamente quando se sente isolado, fora do sistema de relações. Por outro lado, 

necessita recompor a sua auto­estima, ser aceito e que alguém diga: “Seja bem­vindo ao nosso grupo, você é a pessoa mais importante para nós”. A rejeição que sente, da parte dos que compõem o seu ambiente social, o faz sentir uma experiência de morte 

e, muitas vezes, o alcoólico nem é chamado pelo nome, apenas tem apelido.     Mas o silêncio de quem escuta um depoimento transmite a quem o faz a seguinte 

mensagem: eu sei que você tem valor, que é apenas um doente, que é um ser humano como eu, que sofre de uma enfermidade devastadora e, por isso, você 

merece o meu silêncio, a minha atenção e o meu respeito. Você tem valor e merece a minha compreensão e eu sou capaz de compreender porque tenho a “qualidade” de ser um alcoólico e de ter sido batido pelo mesmo demônio, o alcoolismo. O silêncio 

permite uma interação, um relacionamento direto e profundo, de olho no olho. Possibilita que se estabeleça uma empatia, significando que se sente precisamente o 

sentimento e o significado do que está sendo relatado.     Aquele que faz o depoimento encontra um lugar para os outros dentro do seu 

mundo pessoal, o que é indispensável para a sua própria realização existencial. Por outro lado, o silêncio permite que ele seja ouvido e compreendido e não apenas 

escutado. Neste ambiente, o companheiro pode abri­se inteiramente, baixar a guarda, pode estar presente de corpo e alma. O outro ganha existência real e a comunicação 

inter­humana, com todo o seu potencial, é restabelecida e, não menos importante, fica aberta a porta para o ganho da auto­estima. Compartilha porque tem a mesma necessidade e porque sabe que os companheiros da A.A. podem cicatrizar uns aos 

outros.    A comunicação profunda, assim estabelecida, quebra o isolamento do alcoólico e integra os membros do grupo dentro de um todo. É estabelecida uma relação intensa 

e profunda entre os membros do grupo, ao contrário dos contactos sociais superficiais e usualmente ligados a interesses. O relacionamento estabelecido é 

gratuito porque aquele que faz o seu depoimento oferece a sua experiência pessoal e os demais companheiros, no seu silêncio respeitoso, a sua compreensão e o seu 

amor de irmão.      O silêncio permite a manifestação da palavra, com todo o seu poder, e induz uma relação de reciprocidade, entendida como um mecanismo totalizador que envolve a 

todos os que estão no grupo. Estão imersos numa só atmosfera. Essa relação interpessoal profunda é o fundamento da existência de A.A.. É nela que se ganha 

dimensão humana e espiritualidade, e isso, numa época em que as pessoas se permitem esquecer do que é mais característico do homem, que é a sua humanidade.     Estabelece­se um ambiente sagrado, vivem­se momentos mágicos e todos sentem essa realidade, sendo usual que os companheiros que fazem os seus depoimentos os 

encerrem dizendo: “Obrigado pelo silêncio de vocês”.

VALORES ESPIRITUAIS     Identificada a existência de um caminho a ser percorrido, de um programa, e restabelecida a comunicação social numa dimensão muito especial, em algum 

momento deverá acontecer que um companheiro se aperceba de que uma lágrima rola em seu rosto no decurso de um depoimento. É que terá emergido nele um dos sentimentos mais poderosos que um ser humano pode sentir, que é a compaixão, e 

isso representa um importante marco no crescimento espiritual.     A compaixão, entendida como a consciência profunda do sofrimento de uma outra pessoa associada ao desejo de aliviá­la, é a resposta espontânea de um coração que 

está aberto para os outros companheiros. Não há sentimento mais enriquecedor e mais denso do que a compaixão. Nem a nossa própria dor pesa tanto quanto a dor 

que sentimos com alguém e por alguém. Esta dor é amplificada pela nossa imaginação quando, mais tarde, dialogamos conosco e começamos a imaginar como 

deve ter sido grande o sofrimento do companheiro diante dos fatos que nos foram relatados no seu depoimento. Ocorre também que esta dor é prolongada por muitos ecos, que são as lembranças que conservamos e que voltam posteriormente à nossa 

consciência repetidas vezes. Ter compaixão não é ter pena. A pena coloca as pessoas em situação de superioridade. Compaixão é sofrer junto com quem sofre, 

caminhar com quem caminha, é atender as necessidades do outro, é não abandoná­lo na sua necessidade.

    Esse sentimento compõe a espiritualidade e aumenta a nossa dimensão humana. Abre um espaço para o outro dentro de nós e cria as condições para o surgimento do 

amor ao próximo. Embora não haja a recomendação para que amassem uns aos outros, este sentimento começa a fluir a partir desta experiência de grande intensidade emocional. O egocentrismo é amenizado, o egoísmo arrefece, o 

individualismo áspero se abranda sem que as pessoas tenham repetido oralmente qualquer intenção ou que tenham fixado um plano especial para isso.

    Essa expansão do sentir, do ser, ocorre dentro da atmosfera do grupo, que é marcada por uma comunicação feita em profundidade e no silêncio respeitoso dos 

que empaticamente escutam. Isso ocorre num ambiente de compreensão, de respeito e de não julgamento, marcado pela preservação do anonimato que garante, numa 

palavra, a existência de um ambiente seguro. As pessoas que não conhecem a Irmandade, mas sabem dos sofrimentos intensos da destruição, em todas as 

dimensões do ser, que ocorrem como decorrência do alcoolismo a um paciente, imaginam que o ambiente dos grupos seja marcado pela dor e pela tristeza. Mas lá estão pessoas vencedoras que, em vez de serem tristes, mostram grande riqueza 

espiritual e até alegria. É que a atmosfera está sempre impregnada pelo sentimento de compaixão e talvez, por isso, seja tão agradável estar no grupo e desfrutar de toda 

essa riqueza. Os depoimentos fazem surgir a compaixão e não a tristeza que viria com o sentimento de pena, que torna o outro menor.

 HONESTIDADE

    Estando na ativa, um dos passatempos preferidos pelos alcoólicos é abusar da boa­fé dos que estão à sua volta e, com o tempo, desenvolvem uma grande 

habilidade para manipular e acabam se tornam manipuladores deles mesmos. Este comportamento desonesto acabaria, com o tempo, por desintegrar as suas próprias 

vidas. A desonestidade torna­se um hábito, uma adição tão falaciosa e poderosa quanto o alcoolismo em si. No tempo do alcoolismo ativo, a desonestidade se tornara uma maneira de vida, do que decorre que permanece nas mentes e nas emoções por 

longo tempo. Acontece, no entanto, que ela dói; é como estar ferido por saber que não se é a pessoa que pensava ser e, ainda mais, por precisar beber.

    O alcoólico vive num mundo de ilusões difícil, para ele, de ser identificado como sendo diferente do mundo real, porque não se apercebe como um ser separado da 

realidade. Continua mentindo quando dizer a verdade seria mais fácil e conveniente. A verdade é que a vida na bebida exigia que fosse desonesto e para mudar isso leva 

tempo, além de exigir esforço e também o convívio com pessoas honestas.    Estando sóbrio, o alcoólico começa a desfrutar a vida com os sentidos limpos, 

claros, e se torna capaz de apreciar as realidades do mundo tal como elas são, sem a 

cortina da substância química, da droga. Ao freqüentar um grupo, mais cedo ou mais tarde, vai acontecer que o alcoólico irá fazer o seu primeiro depoimento, no qual irá 

oferece a sua experiência pessoal, sempre única. Nessa oportunidade, irá se defrontar com uma situação inteiramente nova na sua vida. Valorizado pelo silêncio respeitoso, pela atenção dos companheiros, ciente do anonimato, da compreensão 

confortadora oferecida pelos companheiros e de não ser julgado, ele começa a abrir o seu coração, só que dentro de uma circunstância muito particular: é que todos ali são 

alcoólicos e passaram por tudo o que ele passou e, os que não tiveram essas experiências, as conheceram a partir dos relatos de outros companheiros, por terem ouvido os seus depoimentos ao longo de anos. Nesta ocasião, surge um obstáculo 

intransponível que, num primeiro momento, pode não ser perfeitamente identificado, mas é percebido e que estará sempre lá. É que surge uma situação inteiramente 

nova: como manipular os companheiros que ouvem com atenção e respeito? Como abusar da sua boa­fé? Todos têm a “qualidade” de serem alcoólicos, todos já 

progrediram no caminho da verdade, no caminho das atitudes conscientes. Eles sabem tudo. Todos já tiveram, em algum grau, a alegria de viver uma realidade muito especial, a de que a verdade liberta. Tornaram­se, com o tempo, capazes de penetrar 

nas suas racionalizações e reações de defesa.     Mas há muita culpa, muita vergonha, muito remorso e muita dor moral e todos 

estão atentos e em silêncio. Aí, cada um que faz o seu depoimento encontra o seu caminho diante desta condição irremovível, não contornável, de que a honestidade 

dos que ouvem ajuda o depoente a encontrar a sua própria honestidade. A honestidade de cada um induz a honestidade de todos. Também, neste aspecto 

particular, há uma reciprocidade porque aquele que faz o depoimento sente que, no convívio, na interação com os companheiros do grupo, ele não pode ser desonesto, 

nem com eles nem consigo mesmo. Os que estão presentes necessitam da sua honestidade e o depoente, da mesma forma, precisa da honestidade dos que ouvem o 

seu depoimento. A honestidade, estabelecida desta maneira, cresce e se expande para áreas cada vez maiores das suas vidas, resultando que, na sobriedade, a honestidade ultrapassa, de muito, a da primeira admissão e isso porque é tão 

impossível, como diz Platão na República, implantar a verdade na alma de um homem quanto dar a visão a um cego de nascença. A verdade dos que ouvem ajuda aquele 

que faz o depoimento a encontrar a sua verdade, progressivamente, por si mesmo, ao longo do tempo.

    Não há outro caminho possível e, se optar por continuar manipulando, encontrará, depois, algum companheiro que lhe dirá de maneira gentil e com palavras de amor 

doídas: “você esteve por inteiro dentro de um ”show”, poderia o você real se levantar? Para ser honesto, qual é o seu eu verdadeiro?” A aquiescência e o aceno de 

cabeça dos companheiros que estão à volta o fará encontrar o caminho para a resposta. É que os alcoólicos em recuperação conhecem bem as falácias da negação 

e do ocultamento. Esse momento é muito difícil, mas há muita energia e muito apoio na atmosfera do grupo, e isso faz a diferença. Como esses momentos usualmente 

são de grande sofrimento, recomenda­se ao alcoólico recém­chegado que freqüente, se possível, diariamente um grupo de A.A. pelo período de um mês. É preciso receber 

suporte, compreensão e solidariedade por parte dos companheiros de forma continuada. 

    A honestidade marca o início da recuperação, quebra a negação e abre para a admissão da impotência diante do álcool e para o fato de que a  vida do alcoólico se 

tornou inadministrável. Quem não for capaz de ser honesto consigo mesmo terá dificuldade de entrar no Programa de Recuperação de A.A.. A honestidade é 

indispensável para o crescimento espiritual e também para usufruir tudo que a sobriedade e a vida têm para dar.

    Para uma pessoa honesta, fica fácil continuar sendo honesta, enquanto que uma mentira sempre leva a uma outra mentira e o hábito da mentira faz do mentiroso um 

trapaceiro que sempre tem que proteger e preservar a mentira. Pelo contrário, a dedicação à verdade leva a uma vida de honestidade e as pessoas honestas vivem como que ao ar livre e, pela coragem de assim viver, se tornam livres também do 

medo.    A verdade, como fundamento da libertação, tem que ser total, inteira. O mito de Orestes desvenda aspectos complexos da natureza humana em relação ao poder 

libertador da honestidade. O mito diz que Agamenon, guerreiro grego e pai de Orestes, que participara da Guerra de Tróia, ao retornar à pátria, vitorioso, foi 

assassinado pela sua mulher Clitemnestra e pelo seu amante, Egisto. Este fato colocou Orestes num beco sem saída. A maior obrigação de um grego era vingar seu 

pai em caso de assassinato mas, por outro lado, a coisa mais abominável que um jovem poderia fazer era assassinar a sua mãe. Orestes decidiu matar a mãe, foi 

condenado e os deuses decidiram que as Fúrias, que eram deidades vingadoras na mitologia grega, e em número de três, iriam rodear Orestes tagarelando culpas nos 

seus ouvidos e causando alucinações que o levariam à loucura. Por anos, as Fúrias o perseguiram até que Orestes resolveu pedir aos deuses que o aliviassem da pena. Houve um novo julgamento em que o deus Apolo foi seu defensor, e nele mostrou 

que Orestes não tivera nenhuma possibilidade de uma outra escolha que não as que lhe haviam sido impostas e, por isso, não podia ser considerado culpado. Os deuses 

do Olimpo resolveram então absolver Orestes que, neste exato momento, e para espanto de todos, se opôs a Apolo dizendo que se achava culpado, pois que não 

tinham sido os deuses e sim ele mesmo que matara a sua mãe, com as suas próprias mãos. Nunca antes outro ser humano havia colocado a verdade dos fatos de tal forma 

que lhe fosse tão adversa, especialmente depois de haver sido absolvido. Diante disso, os deuses decidiram manter a suspensão da pena e as Fúrias foram 

substituídas pelas Eumênides, também outras três deidades da mitologia grega, que 

eram as “portadoras da graça”. Eram, pelo contrário, vozes de sabedoria, dos espíritos ligados à Terra e associados à fertilidade, tendo também funções sociais e morais. O mito mostra que a verdade, levada ao extremo, foi capaz de transformar a 

doença mental em saúde e o preço foi a verdade a qualquer custo.     O programa de recuperação de A.A. nos mostra que o caminho da verdade tem que 

ser percorrido continuamente. É uma busca, um trabalho para toda a vida porque meia verdade ainda é uma mentira. Por outro lado, embora a verdade tenha que ser 

total e completa, conforta a lembrança de uns pensamentos de A.A. que dizem que se deve preferir o “progresso e não a perfeição” e que se deve “ir de vagar, mas ir”. É 

preciso ver clara e diretamente a verdade da nossa experiência a cada momento vivido, estar atento, estar consciente. De outra forma, a maior parte da nossa vida é conduzida por um piloto automático que funciona na base da ganância, do medo, da 

agressão, da busca de segurança, de afeição, de poder, de sexo, de riqueza, de prazer e de fama. Se vivermos agindo de modo a causar sofrimentos para nós e para os que 

nos cercam, é impossível que a mente se torne serena e centrada como é também impossível abrir o coração. A concentração e a sabedoria se desenvolvem 

rapidamente na mente baseada na generosidade e na verdade.    Por outro lado, não podemos cair numa historinha que ouvi contar, chamada de “A 

Caverna da Verdade”. Sabendo da existência dessa caverna, algumas pessoas decidiram conhecê­la. Fizeram uma longa viagem e, finalmente, ao chegarem à 

entrada, encontraram um guarda e perguntaram se aquela era a Caverna da Verdade, ao que o ele respondeu que sim. Perguntaram se podiam entrar e ele respondeu 

questionando o quão profundamente eles queriam ir caverna adentro. Conversaram entre si e retornaram dizendo que gostariam de entrar na caverna, mas só o suficiente 

para dizer que tinham estado lá. Essa história vem à lembrança quando resolvemos desenvolver uma maneira de vida que requer uma honestidade total. É preciso que 

não se queira ser honesto apenas na medida necessária para dizer que apenas visitamos a verdade e a honestidade. Temos que ir até o fundo, na caverna, para 

crescermos na honestidade.      Uma outra dificuldade encontrada nessa busca é o medo das conseqüências e da 

dor que a honestidade pode trazer. Mas, ao compartilhar as suas experiências pessoais no grupo, o alcoólico vai chegar à conclusão de que a desonestidade é 

ainda mais dolorosa e perigosa. As conseqüências, a curto prazo, de ser honesto são melhores do que as de continuar na desonestidade e é importante destacar que os 

benefícios que resultam da honestidade serão colhidos logo em seguida.    Até aqui o foco foi colocado sobre o presente e o passado. Mais adiante, na 

recuperação, a honestidade vai deixar claro que a vida do companheiro tem propósito e sentido, que pode ser útil aos outros, que passa a fazer a diferença e que, se não 

significa nada para muita gente, torna­se muito importante para os companheiros do seu grupo e para ele próprio. 

    E como ser honesto? É não ter a intenção de enganar, nem a si nem os outros e nem o Poder Superior. É como parar de beber, é parar. Não há alternativas para essas situações. Cabe aqui uma lembrança: é preciso ir com cuidado e ter paciência neste 

caminho porque ser brutalmente honesto pode ser mais brutal do que honesto. Finalizando, vimos que o outro, agora, não só existe e ocupa um espaço no interior 

de cada um companheiro, mas que também é percebido como de fundamental importância para progredir na recuperação, para encontrar a verdade da vida vivida em comunidade e, por isso, enriquecida. Para alcançar um novo equilíbrio, um grau 

de harmonia indispensável à paz interior e os outros também são indispensáveis para encontrar a honestidade.

 A TRANSFORMAÇÃO COPERNICANA DO EU

    O ideal superior, livremente escolhido e assumido, de manter as portas do grupo abertas para poder estender a mão àquele que ainda sofre nas garras do alcoolismo e de levar a mensagem de A.A. faz com que os membros do grupo cooperem entre si e, com essa atitude, favoreçam o aparecimento de um clima de entendimento e de harmonia, do qual resulta que o comportamento dos membros do grupo, como um todo, se torna mais social. Vale, neste ponto, enfatizar que a harmonia e a sociabilidade eram tudo o que não ocorria com o alcoólico no tempo da ativa. No grupo, desenvolvem a capacidade de acolher, de serem solidários e cooperativos, de conviver com o diferente, com o outro.

    Ao cooperar, o companheiro aprende a amar e ama porque coopera com os membros do grupo para alcançar este importante objetivo. Caminha para a 

solidariedade deixando para trás de si, muitas vezes, a indiferença de um orgulhoso individualismo. O amor é a conseqüência natural da cooperação com os demais membros do grupo e uma decorrência dessa cooperação. Amar o próximo é algo 

próprio do ser humano, é manifestação do seu poder de se relacionar com o mundo. Dentro desse clima, o grupo passa a desempenhar o papel de um equipamento 

coletivo no qual o alcoólico se desloca do egocentrismo e do individualismo para o sociocentrismo. Vivendo nesse ambiente e participando dessa dinâmica, o membro 

do grupo caminha para uma ampla e completa cooperação e é na socialização que ele se torna mais homem e mais humano. O homem só pode se realizar e ser feliz em 

ligação e solidariedade com os seus semelhantes.    Em Alcoólicos Anônimos, o alcoólico deixa de ser o centro dos seus próprios 

interesses e um outro companheiro passa a se constituir num novo pólo mobilizador dos seus esforços, fora de si mesmo, e que vai mudar a sua maneira de se sentir e de ver o mundo que o cerca. O Décimo­Segundo Passo é mais do que uma invocação a 

se amarem uns aos outros. A sua prática se torna a própria instrumentalização do amor ao próximo. Representa um forte estímulo para que se desenvolva o sentimento 

de amor ao próximo de modo objetivo, real e eficaz. É como um exercício que desenvolve e fortalece o amor ao próximo, do mesmo modo que o exercício físico 

desenvolve e fortalece o corpo. O companheiro, participando da vida do seu grupo, evolui na arte de viver e nela ele é, ao mesmo tempo, o artista e o objeto da sua arte, 

o escultor e o mármore, o médico e o paciente.    Em tempos passados, existiu um astrônomo chamado Ptolomeu que dizia que a Terra estava no centro do universo e que os astros giravam à sua volta. Isso era muito claro e bastava observar o céu. Muito tempo depois, um outro cientista e 

astrônomo, Copérnico, descobriu que a verdade era bem diferente, pois que os astros realmente não giravam em torno da Terra e sim do Sol. A Terra deixou de ser o centro 

e o verdadeiro centro dos movimentos passou a ser o Sol. Por estranho que possa parecer, algo semelhante acontece com o alcoólico no convívio com os membros do seu grupo. Ao praticar o 12º Passo, o alcoólico deixa de ser o centro e o irmão que ainda sofre passa a ser o novo pólo em torno do qual giram a sua motivação e os 

seus esforços, o que leva a uma profunda modificação nos seus interesses e na sua conduta. Essa mudança traz consigo o deslocamento do egoísmo para uma nova 

condição, ditada pelo amor ao próximo, que ocorre graças à riqueza do 12º Passo. O Terceiro Legado é uma dádiva no caminho de recuperação do alcoólico.

RESPONSABILIDADE AUTO­ATRIBUÍDA    O fato de assumir o ideal maior de manter as portas abertas e de levar a mensagem de A.A. aos que ainda sofrem coloca a Irmandade em ação, leva aos serviços. Cria a necessidade imperiosa de responder a um ideal assumido, ou seja, conduz à responsabilidade porque torna o membro do grupo capaz de dar uma resposta racional a uma atitude racional, feita tanto a si mesmo quanto aos outros companheiros, e é isso que o torna responsável, um indivíduo moral.

    Sabiamente, este entendimento faz com que os companheiros sintam­se responsáveis e assumam individualmente, de per si, a execução dos serviços. Aí está 

a qualidade de ser ela auto­atribuída. Se fosse imposta por alguém ou por alguma norma, poderia ser rejeitada ou não cumprida, mas como é auto­atribuída e como 

existe até uma importante e fundamental declaração de responsabilidade que costumeiramente é feita pelos presentes a uma reunião de grupo, esta 

responsabilidade se torna real e tanto é assim que os milhares de grupos existentes em todo mundo são sustentados pelas suas próprias contribuições. 

       Como decorrência, cada membro de A.A.  irá,  com o tempo e na medida do seu progresso ao longo do programa de recuperação, se sentindo crescentemente responsável. Declarar­se e sentir­se responsável representa um notável ganho espiritual. No entanto, há algo mais neste caminho, que é a contribuição que se faz na sacola. Aí não é só dizer ou assumir, mas fazer. O ato da doação torna­se um exercício, um ato real que é feito com as próprias mãos e,  mais  importante,  um ato de vontade.  Atua da mesma maneira que a ginástica age sobre o corpo; é uma ginástica da responsabilidade, que fortalece a vontade e muda o comportamento ao longo do tempo. 

Um outro aspecto de grande importância que é oportuno destacar no que respeita a contribuição na sacola é que não há o estabelecimento de normas ou critérios quanto ao valor da contribuição. Qualquer forma de imposição de valores, ou até mesmo uma simples sugestão, tiraria o grande benefício que recebe aquele que faz a contribuição. É que, se a ordem ou sugestão viesse de fora, o ato deixaria de ser a decorrência de uma decisão pessoal, que parte da vontade livre de quem faz a contribuição. Como tal, deixaria de ter conteúdo próprio,  de ser  ato de responsabilidade  tomado  livremente a partir  da própria consciência, de entender que precisa sentir gratidão pelo que recebeu, que é ato de amor pelo  irmão que ainda sofre e,  também, de  ter a característica de ser um ato de poder pessoal, que contribui para desenvolver a auto­estima. Fica a sensação de que não pode tudo nem que não pode nada, mas que tem poder em relação a algumas coisas. Só dessa forma, o ato de contribuição se torna o exercício vivo e prático de responsabilidade, da capacidade de responder e se transforma em ginástica da responsabilidade, de exercício que a fortalece.

    Vale lembrar que um dos problemas de vida no tempo do alcoolismo ativo era a irresponsabilidade e não se pode avaliar o número de vezes que um alcoólico, na ativa, foi 

chamado de irresponsável. O contraste de comportamento acentua o enorme ganho espiritual e a forma de auto­atribuição da responsabilidade não poderia ser melhor porque, 

desta maneira, funciona.    Há ainda um outro desdobramento não menos importante. Tudo isso poderia ser 

comprometido se o grupo aceitasse contribuições de fora, de outras pessoas que não fossem membros do grupo. Todo esse ganho espiritual estaria comprometido, todo este 

mecanismo maravilhoso de construção de uma personalidade sadia seria anulado. Mas não se aceitam contribuições financeiras ou aquelas que possam resultar em ganho financeiro e 

fica assim assegurada a evolução espiritual.    Pode­se identificar, dentro deste ganho espiritual, um importante deslocamento em 

direção à revolução copernicana do eu, à atenuação de egos inflados e do individualismo áspero.

 OPÇÃO POR SER E NÃO POR TER

    O recolhimento de recursos financeiros poderia levar a sérios problemas, a conflitos insuperáveis. Alguém, muito importante no mundo dos negócios e que conhecia muito de dinheiro, advertiu, no início da vida da Irmandade, para o fato de que o dinheiro poderia estragar aquele movimento. Mas o perigo foi superado na opção feita pela pobreza, por querer ser e não por ter.

    Despreocupados com os problemas do ter, os membros de A.A. têm o espaço aberto para desenvolver o ser. Estão conscientes de que a nossa importância, como seres humanos, não se origina a partir das coisas que apenas possuímos de modo tão passageiro. Querer ter mais, possuir mais não significa ser mais.

    Como não há limite para a vontade de possuir mais, o desejo de ter mais leva ao egoísmo e ao individualismo que, por sua vez, não conduz à harmonia nem à paz. Sabemos que a cobiça e a paz se excluem mutuamente. O desejo de querer ter sempre mais leva ao antagonismo entre as pessoas. Uma sociedade, baseada predominantemente no ter, é uma 

sociedade doente, constituída por pessoas doentes. Não obstante, no mundo que nos cerca, o objetivo maior das pessoas é ter, de tal forma que se pensa que se uma pessoa 

nada tem, nada é. Mas o sentido da vida é ser muito e não ter muito. É necessário, isto sim, ter o suficiente para poder ser.

    Quando uma associação humana como o A.A. se volta para o modo ser de existência, ela faz com que as pessoas dos alcoólicos sejam o centro das atenções, dos esforços e das 

atitudes, em oposição ao modo ter em que tudo se volta para as coisas. No A.A., o importante é a pessoa do doente alcoólico e esse objetivo não se desloca para o desejo tão 

generalizado de ter porque a Irmandade optou por ser pobre e se programou para ter apenas o que é essencial ao seu funcionamento e, com isso, evita que o foco das suas 

atenções se desloque das pessoas para as coisas.    O desejo de ter é tão generalizado que as pessoas chegam a se orgulhar de ter um horrível reumatismo, de ter um grande problema e vemos até que alguns dos nossos desejam ter a maior história de desgraças para relatar. O desejo de ter é de tal forma 

generalizado, tão enraizado na mente das pessoas, que elas querem ter até coisas que são abstratas e, assim, dizem que têm uma idéia e não que pensam ou que concebem, que têm 

amor e não que amam, que têm ódio e não que odeiam, que têm desejo e não que desejam, que têm saudade e não que sentem falta, que têm vontade e não que querem; isto 

é, preferem usar mais o substantivo, que define a coisa, do que o verbo. É difícil que as pessoas entendam que há um outro modo de vida, um modo voltado para ser, que é o 

modo de Alcoólicos Anônimos. Em A.A., os seus membros procuram ser: dignos, honestos, fraternos, bons companheiros, compreensivos e amáveis, bons pais, bons amigos, bons 

filhos, bons cônjuges, etc., representando tudo isso um ganho espiritual e um novo potencial de desenvolvimento.

    Os modos de ter e de ser caracterizam dois tipos diferentes de comportamento, de pessoas que têm maneiras diversas de sentir, de pensar e de agir. No modo ter, as pessoas 

querem possuir tudo e todos enquanto que o modo ser traduz vitalidade e força espiritual que leva a um relacionamento amoroso e pacífico. 

    Com vitalidade e força, o modo ser traduz­se em atividade, processo, movimento. Ser é vida, nascimento, renovação, fluidez, criatividade. Ser quer dizer mudança e transformação para melhor porque mudança e crescimento são qualidades do processo, daquilo que tem vida, e o Programa de Recuperação é todo de crescimento espiritual, é todo um processo 

de mudança interior, de reformulação de vida, que encontra no modo ser do grupo o ambiente ideal para o pleno desenvolvimento dos membros de A.A..

CONHECE­TE A TI MESMO

    O Programa de Recuperação de A.A. é constituído por Doze Passos, quase todos voltados para o autoconhecimento. Ao praticar esses passos, o membro de A.A. inicia uma jornada para dentro de si mesmo que lhe dará valor e grandeza espiritual, além de melhorar 

a única parte do mundo que depende só de nós, que somos nós mesmos. Praticar os passos representa um esforço que os membros de A.A. realizam para ter um melhor conhecimento de si mesmos. É comum observarmos que as pessoas dediquem seus esforços para conhecer as coisas do mundo e pouco ou nenhum para conhecer a si 

mesmos. Mas sempre e, em primeiro lugar, o homem precisa saber sobre si mesmo e responder à pergunta: quem sou eu?

    Em Alcoólicos Anônimos, a jornada rumo ao interior começa logo no Primeiro Passo, quando o companheiro reconhece e admite a sua impotência perante o álcool e identifica a perda do domínio em relação à sua vida. No Segundo Passo, ele encontra o Poder Superior dentro de si mesmo, encontra o sopro divino, a força criadora que deu origem à sua própria existência. Identifica no Terceiro Passo o enorme poder desta Força que o criou e que, ao mesmo tempo, está no seu interior. Tudo acontece como está escrito: “Ele se inclinou para 

mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou­me de um poço de perdição, de um tremendal de lama, colocou­me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos”.

    No Quarto Passo esmiúçam as suas entranhas cuidadosamente e identificam as origens das suas culpas e vergonhas. O Quinto Passo leva ao conhecimento, a ter consciência de 

toda a sua trajetória de vida e com ele conhece a natureza exata das suas falhas. Nos Sexto e Sétimo Passos, o membro de Alcoólicos Anônimos entra em comunhão com aquela 

força que lhe foi dada como herança, a herança de si mesmo, dada pelo Criador. Ao praticar o Oitavo Passo, o companheiro dá início à solução de um grande número de 

problemas, começa a se harmonizar com o mundo exterior e consigo mesmo e a desfrutar de uma grande paz. Num plano mais elevado e dispondo de maior lucidez e de 

discernimento, aprofunda o conhecimento de si mesmo e, por último, estreita o seu contacto com o Poder Superior nos Décimo e Décimo Primeiro Passos.

    Enquanto os membros de Alcoólicos Anônimos estiverem praticando o programa de recuperação, eles serão sempre seres humanos voltados para o conhecimento e para a conquista de si mesmos. Caminham em direção aos seus interiores e, no fim das suas 

jornadas, encontrarão a subjetividade, encontrar­se­ão como sendo seres únicos na Criação, com valor e conteúdo interior que darão sentido às suas vidas. Por último, 

perceberão que são um fim em si mesmo e que têm espírito próprio.    O programa de recuperação está voltado para a descoberta do mundo interior, para o 

encontro da espiritualidade, para a solução dos problemas mais íntimos, para a percepção do próprio valor e para o encontro da subjetividade.

    Uma das maneiras de se evitar a dor é apagar a consciência e aí uma boa solução é tomar uma anestesia ou usar drogas psicoativas. Mas embora a consciência seja a causa 

da dor, ela também é a nossa salvação porque a saída do problema da dor se faz pelo 

processo de nos tornarmos crescentemente conscientes, e isso é o que ocorre ao longo do caminho sugerido pelo Programa de Recuperação.

HUMILDADE    Por último, vamos enfocar um atributo que é absolutamente indispensável à recuperação, a humildade. Ela está presente em cada Passo do Programa de Recuperação, está no fundamento de todo o progresso alcançado ao longo do caminho percorrido em direção à recuperação. Para entender melhor o significado da palavra, consultamos o dicionário e vimos que humildade é a qualidade de ser modesto ou respeitoso e modesto é não ter ou expressar uma opinião muito elevada acerca das suas próprias realizações ou habilidades; não ser exibido, arrogante ou pretensioso. 

    Neste aspecto da evolução espiritual, vamos nos deparar com uma realidade que nos levará, para o seu estudo, a um modo diferente de abordagem. Só é possível enxergar a 

partir de um determinado ângulo. É preciso abordar o assunto a partir de uma ótica própria, a da humildade. Pela sua importância, este é um tema freqüentemente abordado em 

reuniões de estudo porque sabemos que representa uma pré­condição para o crescimento indispensável, não só para manter sóbrio o alcoólico mas também para que possa progredir 

na sua recuperação. Por outro lado, é um tema que se tem mostrado difícil de abordar.    É que há uma realidade que precisamos considerar. Neste momento, optei por escrever 

algo do que venho aprendendo durante anos e posso escrever agora porque tenho todas as condições para isso. Mas não posso querer que alguém vá ler o que escrevo. De um lado, 

eu posso optar por usar os meios necessários para escrever, mas de outro, posso apenas e tão somente procurar uma orientação, uma direção, um contexto que, espero, possa levar as pessoas a lerem o que escrevo, mas não mais do que isso. Posso escrever, mas não 

posso querer que alguém leia o que escrevo, posso continuar escrevendo agora, mas não posso querer que alguém continue lendo.

    Humildade é outra coisa que o alcoólico não pode querer, como quero escrever porque tenho os meios. Ele pode não ingerir o primeiro gole, ir a uma reunião de grupo ou trabalhar os Passos do Programa. De outro modo, como sem esforço pego a caneta, ele pode fazer a coisa fácil de pegar o telefone para falar com o padrinho ou pegar o carro para ir ao grupo, mas o que ocorre quase sempre é que acaba indo comprar bebida. Os dois modos de agir 

são profundamente diferentes.    Da mesma forma, posso desejar conhecimento, mas não sabedoria, submissão, mas não 

humildade; autoafirmação, mas não coragem; proximidade física, mas não intimidade emocional. O fato é que podemos querer e ter algumas coisas, mas outras ficam fora da 

nossa vontade e podem acontecer ou não. Sobriedade, sabedoria, humildade, coragem e amor não são objetos e o que podemos fazer é optar por nos movermos em direção a elas. Como vemos, a humildade está nesta categoria. Ela não pode ser comprada e também não 

se pode decidir ter. É conseguida indiretamente ao trabalhar os Passos.

    Somos limitados porque somos humanos e por não haver absolutos e nem ilimitados no nosso poder humano é que o A.A. aconselha que devemos procurar “progresso e não perfeição”. Assim, os companheiros irão progredindo e se tornando crescentemente 

humildes.    O alcoólico é como a criança a quem chamamos de reizinho. Quer porque quer e quando 

quer; o mundo tem que suprir as suas necessidades. Daí o comportamento grandioso. Costumam pagar a conta de quem não conhecem e dão presentes estapafúrdios. A recuperação depende basicamente de assumir atitude humilde e de aceitar a sua 

impotência diante do álcool e também de admitir que perdeu a capacidade de governar a sua vida.

    Embora geralmente seja menos visível, costuma também existir uma baixa auto­estima, que se identifica no comportamento que oscila entre posso tudo e não posso nada, mas 

sempre achando que é diferente. No trabalho com os 12 Passos, o alcoólico desenvolve um senso mais profundo e seguro de auto­estima.

    Embora os alcoólicos relutem em admitir que necessita de ajuda, em aceitar que o Poder Superior possa devolver a sanidade às suas vidas, essa é uma atitude de humildade 

indispensável para o progresso espiritual e os fazem reconhecer que tanto são únicos como comuns porque compartilham de todas as coisas que são importantes com o resto da 

humanidade. Também a 12ª Tradição os relembra para colocar os princípios acima das personalidades, e essa é mais uma lição de humildade. Adiante, estando dispostos a 

aprender, os alcoólicos vão admitir que necessitam da ajuda dos outros para iniciar a sua recuperação e aprender com esses outros a crescerem na sobriedade. Não podem crescer 

sozinhos e, por outro lado, ninguém pode fazer isso por eles.    A aceitação das conseqüências das suas ações ajuda a perceber a relação de causa e efeito que rege a vida. Aqui, já estão uns primeiros passos e a humildade trabalha entre os dois extremos de comportamento do alcoólico. Os outros, em algum momento, passarão a 

existir no seu interior e, depois, o companheiro verá que eles continuarão sendo necessários ao longo da recuperação.

    Freqüentar reuniões, ler a literatura e compartilhar os seus problemas com o padrinho são de grande valia para se manter sóbrio e também para crescer na humildade. Por outro lado, humildade e humor estão relacionados. O A.A. lembra: “não se leve tanto a sério”. Os companheiros do grupo, às vezes, furam os balões da grandiosidade de um companheiro e, 

em outras ocasiões, os tiram das profundezas da autopiedade. Isso os faz progredir no caminho da humildade. Rir do passado não significa ter uma atitude irresponsável, mas 

apenas ver em perspectiva e perceber que as suas ações, pensamentos e sentimentos não estão no centro do universo. Além do mais, tudo isso ajuda a tirar o foco de cima do álcool. Afinal, ninguém, estando bem, resolve ir para o A.A.. É preciso reconhecer que essa atitude 

é tomada a partir de uma vida de dor, medo, frustração e raiva.    Com o tempo, os alcoólicos em recuperação se dão conta de que estão menos 

autocentrados, de que as suas vidas estão enriquecidas e a sobriedade é percebida como 

sendo compensadora. A vida passa a ser organizada também em torno do que podem fazer pelos outros e passam a compartilhar com eles o que têm recebido. Isso já significa o 

despertar da humildade.    A humildade é também buscada quando resolvem ter a gratidão como um modo de vida e isso porque os ajuda a ver a vida a partir de uma perspectiva diferente. Uma boa maneira 

de desenvolver este sentimento é anotar todas as coisas em relação às quais devem ser gratos no decurso de um dia. Passam a reconhecer o que lhes foi dado e se importam 

menos com o que realizam. Um outro modo é desenvolver o hábito da admiração. Admirar o por do sol, o mar, a chuva, etc, porque os tira de dentro de si mesmos de uma maneira 

sadia. Os serviços realizados no grupo também ajudam a desenvolver a humildade. Ouvir e compartilhar leva a uma saudável e feliz sobriedade. Com a humildade surge o 

agradecimento, que é a resposta natural à generosidade com que os alcoólicos são recebidos no grupo. É um sentimento profundo e, estando agradecidos, se doam aos 

outros, de tudo resultando a amizade, o amor e, numa palavra, a solidariedade.    Os que conquistaram um estágio mais avançado de crescimento espiritual, uma maior consciência, são possuídos por uma feliz humildade. Conscientes da sua ligação com um Poder Superior, têm o grande desejo de que “seja feita a Vossa vontade – fazei de mim o 

Vosso instrumento”.

SER SANTO    Muitas vezes ouvi companheiros dizerem que se fossem seguir os princípios de A.A. se 

tornariam santos e, por causa disto, não se empenham tanto no Programa de Recuperação. Mas, ao admitirem que “um Deus amantíssimo Se manifesta na nossa consciência coletiva” 

e, portanto, que está entre eles, no convívio enriquecedor de verdadeiros irmãos, é inevitável assumir que estão crescendo em direção à divindade. Esta é uma idéia muito simples, mas também muito exigente. Se podem alcançar a divindade, então terão que 

cuidar do crescimento espiritual, buscar níveis progressivamente mais altos de consciência e de atividade amorosa. Assim, o trabalho nunca estará feito, acabado. O crescimento 

espiritual é um anseio para toda a vida, além do que, é também um caminho trabalhoso, que exige esforço. Talvez esta seja uma desculpa para explicar as dificuldades que 

encontram ao praticar os Passos porque elas ocorrem naturalmente, uma vez que é preciso coragem, determinação, empenho, constância e coração forte e não é sempre que 

encontramos pessoas com estes atributos. Entendo também que nascemos para ser santos e o problema é que não conseguimos realizar todo o potencial que temos dentro de nós nem, usualmente, ir tão longe no caminho que nos é sugerido pelo A.A.. No entanto, no 

meu julgamento, encontrei, ao longo dos mais 30 anos de convívio com membros de A.A., alguns companheiros que penso que são santos. São pessoas maravilhosas, que irradiam uma paz muito grande e possuem uma riqueza interior deslumbrante. Muitos se constituem em figuras exemplares. São excelentes em virtudes e em santidade. São luzes que guiam mais pelo exemplo que pelas palavras. Com os seus depoimentos, estimulam a sermos 

mais fraternos, termos mais compaixão, sermos mais humanos e espirituais. Tenho desfrutado de grande felicidade na companhia deles. Para mim, são santos e as suas 

atitudes têm a pureza, a retidão e a reverência como fundamento.

AS INCERTEZAS E OS QUESTIONAMENTOS    Até aqui, as minhas certezas. O que vi e ouvi. O meu entendimento. Não a partir de uma visão idealizada, mas sim a partir da constatação da existência de um ideal perfeitamente 

realizável e, muitas vezes, realizado. Um caminho que, realmente, está aberto e posto como opção: de percorrer ou não ou até o ponto que se consiga ou deseje alcançar. Fica a idéia 

de busca a ser empreendida ao longo de um caminho delineado.    A lenda do Graal possui uma vitalidade mágica e por isso é uma lenda viva, que existe há mais de 900 anos e desperta a imaginação e o espírito. Ela também traz a idéia de busca, a busca do Santo Graal. Falar do Santo Graal desperta a imaginação e mobiliza para alguma coisa que está no inconsciente coletivo. A lenda tem origem numa história que resultou de 

uma mistura e de uma fusão de crenças e lendas populares, chegando a uma imagem sonhada e arquetípica de uma busca final e definitiva para todos e para todas as coisas.

    Na época em que a lenda apareceu, a Europa vivia tempos particularmente difíceis, com o poder político fragmentado, onde grupos armados errantes saqueavam as colheitas. Havia fome, epidemias, guerras, tudo isso levando a um profundo empobrecimento da 

população e gerando insegurança e ansiedade. Nesse ambiente, e como ocorreu em outras épocas, surgiu um grande fervor religioso não só entre cristãos, mas entre os outros povos 

da região.    Inicialmente, a lenda do Santo Graal era celta e, portanto, pagã, e estava muito ligada 

aos feitos da cavalaria. Mais tarde, foi cristianizada pelos monges da Ordem de Císter que não tanto a mudaram, mas sim, lhe deram conteúdo cristão. Resultou que o Santo Graal ficou sendo entendido como sendo o cálice usado por Cristo na Santa Ceia e que, mais 

tarde, foi usado por José de Arimatéia para recolher o sangue que escorreu das feridas do Cristo, quando da crucificação. Ao retornar à Bretanha, o cálice passou de geração em 

geração, dentro da família de José. O Graal tinha propriedades milagrosas e podia fornecer alimento aos sem pecado, mas cegar os impuros e fazer ficar mudos os irreverentes. 

    Na lenda, estava implícita a busca de um objetivo geralmente tido como sendo um cálice que só poderia ser alcançado por um ser humano puro. Essa lenda teve evolução diferente em diversas regiões. Na que hoje é a França, a lenda deu origem aos ideais de cavalaria, 

aos cavaleiros e aos trovadores que cantaram e difundiram os fatos e lendas daquele tempo. Eram cavaleiros galantes que cantavam os grandes ideais e a beleza de nobres 

senhoras. Na região em que hoje está a Alemanha, a lenda evoluiu para o aparecimento de seres perfeitos e puros que tinham condições de alcançar o Graal. Sobressai aí a figura de um grande personagem, Parsifal. Na Irlanda e na Gran Bretanha houve forte influência de 

poderes mágicos e de fatos extraordinários ocorridos na corte do rei Artur e do mago Merlin; havia o sentido do fantástico, dos poderes misteriosos, do sobrenatural. Nesta corte, nasceu 

Galahad, herói e cavaleiro perfeito, sem qualquer defeito de caráter, que se lançou na busca do Santo Graal, sendo essa a parte central da literatura arturiana e do romance 

medieval de Parsifal.    A grande aventura era chegar ao Santo Graal, sem defeitos, e o contacto com ele, tendo 

no seu interior o sangue de Cristo, seria o contacto direto com o Cristo e, por meio dele, com o Criador, o Poder Superior. Mas isso só os puros podiam fazer. Comecei a me 

perguntar se não seria o crescimento espiritual em A.A. um caminho de purificação de modo a tornar alguns companheiros santos. Não teriam eles tido, uma vez que sem defeitos de 

caráter, algum contacto simbólico com o Santo Graal que os teria tornado santos? Não seria o caminho do crescimento espiritual uma busca, uma trajetória, da mesma forma que o 

caminho percorrido pelos cavaleiros puros na busca do Santo Graal? Aqueles que alcançassem um nível espiritual elevado, como Galahad e Parsifal, teriam a ventura, rara, 

de alcançar o Santo Graal. Alguns dos santos que conheci em A.A. foram chamados e moram em algum reino situado além das galáxias, mas outros ainda andam por aqui e vim à 

Convenção para ter a ventura de conviver um pouco mais com eles e para conhecer mais alguns.

DA DESONESTIDADE ÀS VIRTUDES

Dr. Laís Marques da Silva.Ex­Custódio e Presidente da JUNAAB.

Desonestidade,   manipulação,   negação,   racionalização,   projeção.   Essas são, usualmente, realidades por demais conhecidas dos alcoólicos, quando na ativa. Pensar e agir dessa forma conduz a um comportamento dominado pela desonestidade e pela constante manipulação de fatos e de pessoas. No entanto, estando sóbrio, o alcoólico quer saber o que é bom. Fazer o que é certo, servir ao que   é   justo,   ou   seja,   fazer   a   coisa   certa.   Embora   sejam   metas   que   exigem esforço,   persistência   e   determinação,   é   comum   encontrar   companheiros   que lutam por “fazer a coisa certa”. Estando sóbrio, ironicamente, ele precisa vencer a sensação que às vezes ocorre de que a vida no alcoolismo era mais divertida que na   sobriedade.   Mas   as   atitudes   viciosas   fazem   as   coisas   funcionarem   mal enquanto que as virtudes sustentam o bem­estar e são o fundamento para uma vida feliz e plenamente realizada.

O alcoólico na ativa costuma negar, racionalizar e projetar. Então, vamos tratar   do   oposto,   ou   seja,   da:   verdade,   fidelidade,   integridade   e   fé.   Todos intimamente interligados.

Honestidade, ao contrário,   implica em clareza e retidão de conduta,  em estar   de   acordo   com   os   fatos.   Honestidade,   honra,   integridade   e   probidade implicam em se agir com retidão de caráter. Honestidade é recusar­se a mentir, roubar, enganar ou ludibriar, em qualquer situação. Integridade implica em ser digno de confiança e incorruptível de forma que não se seja não confiável diante de uma verdade, responsabilidade ou promessa. Probidade significa honestidade ou integridade já testada e provada. Honestidade, honra, integridade e probidade têm em comum o fato de agir com retidão de caráter.

Negação é, simplesmente, o ato de negar, ou seja, de recusar a aceitar alguma  coisa   como  verdadeira  ou  válida.  Por  meio  da   racionalização,   que   é elaborar sobre falsas razões, o alcoólico procura explicar o  inexplicável com o intuito de se justificar. Já a projeção é um mecanismo de defesa que consiste em projetar impulsos, conflitos internos, ou seja, em considerá­los como provenientes de outrem ou, de forma mais geral, do mundo exterior, em atribuir nossas próprias idéias, sentimentos ou atitudes a uma outra pessoa ou objeto.

O que vamos tratar é  abstrato e árido, mas vai ao mistério profundo da nossa vida interior mais secreta e à origem dos nossos atos externos. Em algum momento das nossas vidas, temos que voltar a nossa atenção para dentro de nós mesmos porque descobrimos que a  felicidade não depende apenas dos bens materiais   que   possuímos,   dos   relacionamentos   que   temos   ou   das   nossas realizações. É preciso cuidar da riqueza do nosso núcleo interior.

VERDADEÉ  algo  que corresponde  aos   fatos,   à   realidade.  Algo   factual  como,  por 

exemplo, quando se diz “se você disser a verdade, nada deve temer”. Refere­se a um   fato   óbvio,   ou   seja,   algo   que   é   tão   claramente   verdade   que   dificilmente necessita ser declarado como tal. É também algo em que geralmente se acredita como sendo verdadeiro,  como a verdade  religiosa.  Verdade está  associada à sinceridade. É também o que está de acordo com um padrão ou a lei. 

Os   mitos   são   um   modo   muito   rico   de   abordar   aspectos   complexos   e multidimensionais da natureza humana. O mito de Orestes mostra claramente a necessidade e a importância da verdade, da verdade completa e não da meia verdade, que ainda é uma mentira, para se poder desfrutar de boa saúde mental.

O Mito de OrestesOrestes era filho de Agamenon e de Clitemnestra. Com a Guerra de Tróia, 

houve um longo afastamento do lar por parte de Agamenon. Clitemnestra havia sofrido um trauma severo com o sacrifício da filha Ifigênia, quando da partida da esquadra para a guerra de Tróia e, estando Agamenon ausente, Clitemnestra se juntou   ao   amante,   Egisto,   e   juntos   assassinam   Agamenon   quando   do   seu regresso à pátria. Orestes, o filho, ficou, então, com um terrível e insolúvel dilema: 

a maior obrigação de um jovem grego era vingar o pai assassinado e a pior coisa que um jovem grego poderia fazer era assassinar a sua mãe. Orestes matou a mãe e o amante e foi  penalizado pelos deuses do Olimpo com as Fúrias que continuamente   o   rodeavam   e   tagarelavam   no   seu   ouvido,   causando­lhe alucinações  e   levando­o   à   loucura.  Orestes  correu  mundo  e,  por   ser   sempre perseguido, pediu um novo julgamento aos deuses para que a sua pena fosse aliviada. No novo julgamento, o deus Apolo fez a defesa de Orestes e disse que todo o fiasco não era senão o resultado da culpa dos próprios deuses que não deram a Orestes nenhuma melhor escolha e que,  assim, ele não poderia  ser considerado culpado. Os deuses concordaram, mas, para espanto geral, Orestes se levantou e, opondo­se a Apolo, disse que tinha sido ele mesmo quem havia matado a mãe e não os deuses e por isso era culpado. Nunca, antes, ninguém tinha sido tão verdadeiro a ponto de, tendo sido passada a culpa aos deuses, afirmar   que   a   culpa   era   realmente   sua.   Em   razão   deste   fato,   os   deuses reafirmaram   a   decisão   de   suspender   a   pena   de   Orestes   e   as   Fúrias   foram substituídas pelas Eumênides, cujo nome significa "portadoras da Graça". Não eram   mais   vozes   tagarelantes,   irritantes   e   negativas,   mas   sim   vozes   de sabedoria.

Este  mito  mostra  a   transformação  da  doença  mental   em extraordinária saúde   e  a   verdade   é   o   preço   de   tão   maravilhosa   transformação.  A   verdade libertou Orestes e o grupo de A.A. é  um local  de encontro com a verdade. A verdade tem vitalidade,  tem vida própria, do mesmo modo que a unidade tem poder.

A freqüência aos grupos é indispensável pois nota­se que muitas pessoas esquecem os  princípios,  que  não  os  aprendem bem ou os  aplicam de  modo deficientemente de modo que não são transformados em hábitos regulares em formas de pensamento habituais. Ao longo do tempo, perdem a motivação e a inspiração   e   param   de   tentar.   A   motivação   é   como   o   fogo;   as   chamas   se apagarão se o fogo não for alimentado. A transformação profunda do self exige que se tenha um progresso constante.

A verdade de quem escuta ajuda a quem faz o depoimento a encontrar a sua verdade, que é o fundamento da recuperação e a qualidade de ser alcoólico é a  característica  que  permite  que  quem escute  um depoimento  seja  capaz de compreender, de aceitar o que é relatado, sem julgar. 

Coragem por parte do companheiro e compreensão por parte dos membros do   grupo   são   essenciais   para   uma   perfeita   comunicação.   Um   depoimento enriquecedor   só   pode  ocorrer   num ambiente  percebido,   sentido,   como  sendo seguro, isto é, em que haja compreensão, não censura, não julgamento, nenhum comentário posterior a um depoimento. Mas tendo empatia e experiência prévia 

os membros do grupo não são  levados a se escandalizar com o conteúdo do depoimento.

Não importa como o alcoólico chegue ao Programa de Recuperação, de crescimento espiritual, a verdade é que o programa estava lá, esperando por ele.

FIDELIDADEA palavra pode ser entendida: como lealdade a uma promessa, juramento 

ou voto; como fidelidade sexual é a lealdade a um parceiro sexual, especialmente sendo marido ou mulher; como precisão em relato de fatos ou de detalhes; como precisão em reprodução eletrônica é o grau em que um equipamento eletrônico, como   um   sistema   estéreo   ou   de   televisão,   apuradamente   reproduz   som   e imagens.

Analisemos   o   oposto,   isto   é,   a   infidelidade,   que   é   a   incapacidade   de sermos   fieis   a   nós   mesmos,   ao   que   pensamos,   ao   que   amamos,   ao   que dissemos, ao que prometemos. A infidelidade é como uma rachadura num dique, que termina em avalanche.

É  um  inimigo  insidioso do ser  humano no plano psíquico e  ainda mais destruidor nos planos intelectual e espiritual, onde o equilíbrio é indispensável à felicidade. Ser infiel implica na autodestruição invisível da unidade pessoal.

Aquele, que não é fiel, coloca­se abaixo da sua própria humanidade e uma das maiores alegrias que se pode ter está em ajudar as pessoas entenderem e desenvolverem a sua própria humanidade.

A esse respeito, a história do profeta Jonas é muito ilustrativa. A palavra Jonas vem de iona, que quer dizer a pomba de asas cortadas. Jonas foi chamado para Nínive, onde muita coisa ruim estava acontecendo e a cidade caminhava para   a   destruição.   Mas   não   acreditou   nele   mesmo,   não   foi   fiel   ao   seu compromisso e resolveu ir a passeio para um outro lugar, atendendo ao convite sedutor da fraqueza. Isso fez com que ficasse doente pois não estava em paz, não estava bem consigo mesmo. O fato de não estar em paz adoece as pessoas. A doença é um fax que recebemos e é preciso entender o que está acontecendo quando   se   fica   doente.   O   problema   surge   quando   nos   desviamos   do   nosso caminho, quando nos desviamos da nossa fidelidade. Mas veio a tempestade, que   ocorre   sempre   que   não   se   está   bem   consigo   mesmo,   com   a   própria consciência, com quem não é fiel e nela Jonas foi jogado ao mar e, já na barriga da  baleia,   reconheceu  que  havia   fugido  da  palavra  dada,  do   compromisso  e decidiu reassumi­lo novamente. Depois, foi jogado na praia e podemos entender este fato como o  início de uma nova vida.  Temos que vencer o nosso Jonas interior, ser fiel ao que pensamos, acreditar no que somos e agir com integridade.

Fidelidade à  palavra  é  uma prova de caráter,  a  prova oral  sendo mais importante do que a escrita. Fidelidade é coerência, é permanência. Ser fiel é ir do  não ser  para  o  ser.  É  permanecer  no  ser.  É  essencial  para  a  coesão da personalidade.

A fidelidade é a virtude socrática por excelência, "conhece­te a ti mesmo". O   passado   e   o   futuro   são   plásticos   e   podem   ser   modelados   pela   memória enquanto que o presente é  obtuso e obstinado, o presente simplesmente é.  A fidelidade é  o caminho natural  para a  fé,  suprema virtualidade transcendental, para  o  encontro  da  verdade.  A   fidelidade  certamente  não  é   a  nota   típica  ou dominante na onda do relativismo pessoal, intelectual, moral ou político que está corrompendo a nossa civilização.

INTEGRIDADESer íntegro é possuir princípios firmes; é ter a qualidade de possuir e aderir 

firmemente   a   princípios   ou   a   padrões   profissionais   de   elevada   moral;   é   ser completo e não dividido; é ter o sentimento de totalidade, de ser sadio e inteiro.

Ser   íntegro é  ser   inteiro.  Ou seja,  é  não estar  dividido  internamente.  A divisão   gera   tensão   e   instabilidade   emocional.   Sem   integridade   não   há   paz interior. E mais, a integridade é o fundamento da autenticidade. Significa pensar, dizer e fazer uma só coisa. Significa coerência nos três planos. Coerência entre pensamentos, atos e palavras.

A   integridade   é   o   estágio   final   do   desenvolvimento   psicossocial   do indivíduo   e   resulta   de   uma   autodisciplina,   da   verdade   interior   e   da   decisão inabalável de ser honesto nas nossas respostas em todas as situações da vida.

O turbilhão interior se desfaz e estamos em paz interior quando optamos por viver vidas plenas de verdade. É na paz que encontramos todas as verdades. Todas as escolhas e decisões são muito mais fáceis quando nos comprometemos em viver com total honestidade.

O fato de desenvolvermos valores permanentes é   fundamental para nos ancorar, para nos dar estabilidade emocional e psíquica.

Cuide   da   sua   integridade,   ela   é   parte   permanente   de   você.   É   um componente importante da auto­estima e da auto­imagem. A integridade dos pais é o fundamento do respeito dos filhos. A integridade no casamento assegura o mais profundo sentido de confiança e de comprometimento, o solo perfeito para o crescimento do amor.  A  integridade no relacionamento entre amigos assegura uma condição que é essencial para a vida. A integridade no trabalho assegura o respeito permanente. A despeito de grande tentação, tente não se desfazer da sua integridade. A perda da integridade leva à vergonha, ao desgaste do espírito, mais do que à culpa.

FÉPode ser entendida como crença ou confiança, a crença em, a devoção a, 

a confiança em alguém ou em alguma coisa, especialmente sem prova lógica; como religião ou grupo religioso, é um sistema de crença religiosa ou um grupo de pessoa que se liga a ela; como confiança em Deus, é a crença na devoção a Deus; como um conjunto de crenças, é um forte escudo de crenças ou princípios; como lealdade, é a fidelidade ou lealdade a alguém ou a alguma coisa.

A   fé  é   uma  atitude   inteira  do  ser  que   inclui   tanto  a  vontade  quanto  o intelecto, dirigida a uma pessoa, a uma idéia ou, no caso de uma fé religiosa, a um ser divino.

Os teólogos modernos enfatizam o caráter total e existencial da fé e fazem uma distinção da concepção popular que a identifica como crença, em oposição a conhecimento. A fé inclui a crença, mas vai muito além dela.

A descrição mais clara do que é a fé, contida no Novo Testamento, está em Hebreus 11:1 em que a fé é proclamada como sendo o firme fundamento “das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem”. Aqui, a palavra fé denota   o   ato   de   confiar,   de   acreditar.   O   Novo   Testamento   amplia   o   antigo conceito hebraico da fé como a qualidade de estabilidade e de confiança em que se assenta a relação entre dois seres viventes. No Novo Testamento, a fé está no centro  da   relação  do  crente  com Jesus  Cristo,  mas  vai  além no  conceito  de “acreditar em” ou de “acreditar que”.

Nem todos os cristãos acreditam que as exigências da fé são compatíveis com as da razão. São Paulo e o teólogo Tertuliano insistiram em que a fé parece tola aos olhos daqueles que não se abriram para a Graça de Deus. Nessa linha, o filósofo dinamarquês Kierkgaard identificou um abismo que separa a razão da fé e afirma que aquele que se propõe ser uma pessoa que crê, deve dar o “salto da fé” por sobre o abismo para obter a salvação. Abraão, ao se dispor a sacrificar o seu filho, dá o “salto da fé”, que o leva de uma atitude ética para uma atitude religiosa. Obedece   a  ordem de   Deus   sem  a  entender   e  não  procura  as   suas   razões, aceitando­a cegamente porque tem fé. De um modo geral, os teólogos modernos enfatizam,   como   Kierkgaard,   o   aspecto   subjetivo   e   individualista   da   fé   e   se concentram no risco e no esforço moral dos que tentam levar uma vida na fé, mais do que na aceitação das crenças como uma expressão de fé.

Uma pequena história pode servir para entender o que é a fé. Certa vez, chegou a uma cidade um equilibrista que se propunha a, caminhando sobre um cabo de aço, atravessar do alto de um edifício para outro, passando por cima de uma rua. No dia e hora marcados, uma multidão se reuniu no entorno de onde ia acontecer   o  espetáculo.  Estendido  o   cabo,   o   equilibrista,   usando  um bastão, mostrou toda a sua habilidade ao atravessar por cima da multidão, indo de um edifício ao outro. O povo aplaudiu e ele então se propôs a atravessar de volta mas 

só que sem o uso do bastão. Isso foi anunciado ao povo, que ficou perplexo pois era   uma   temeridade,   uma   morte   quase   certa.   Mas   o   equilibrista   atravessou perfeitamente   e   sem   nenhuma   hesitação.   Era   um   equilibrista   exímio, extremamente   bem   dotado,   um   campeão   que   se   mostrava   com   toda   a   sua segurança para o imenso público. Então, um anunciante, usando um aparelho de som, disse que o equilibrista  iria passar, novamente, de um lado para o outro levando um carrinho de mão por sobre o fio e perguntou ao povo se eles achavam que ele conseguiria. O povo se manifestou dizendo que sim, tendo em vista a fantástica habilidade demonstrada até então. O anunciante perguntou se o povo tinha certeza e o povo gritou que sim. Aí ele perguntou novamente se o povo tinha realmente certeza e o povo gritou outra vez mais que sim. Então o anunciante pediu  que,  diante de  tanta certeza,  que um voluntário  subisse para  entrar  no carrinho  de  mão  que   seria   levado   sobre  o   cabo  de  aço.  Ter   fé  é   entrar   no carrinho.

A REALIDADE DOS NOSSOS DIASVivemos num mundo que nos  induz a duvidar.  Recebemos diariamente 

uma  grande  quantidade  de   informações  e  acabamos por  adotar  uma  atitude, saudavelmente cética, que nos leva a indagar sobre onde querem nos levar e sobre   o   que   ganham   as   pessoas   que   participam   deste   contexto.   Mas   não podemos   duvidar   de   tudo.   As   pessoas   precisam   acreditar   em   alguma   coisa, mesmo que   improvável,  e  é  por   isso  que  os  cultos  e  as  causas  sociais  são abundantes nos dias de hoje. Deste modo, a fé também é abundante num mundo de corrupção e de cinismos espalhados por toda parte. Isso porque a fé é uma afirmação do valor humano e por esta razão é saudável, sendo felizes os que têm uma sólida fé e um bom julgamento.

A fé não é alguma coisa que se mostra dentro de um modelo de certo ou errado, como uma aposta. É um ato, uma intenção, um projeto. A fé é algo que faz saltar para o futuro, avançar, que lança para muito além do tempo em direção à eternidade, que não é o fim dos tempos ou um tempo imenso e infinito, mas sim o eterno.

É surpreendente que algumas pessoas consigam viver o dia de hoje sem se preocupar com o futuro ou lamentar o passado entendendo que esses são dois dias sobre os quais não podem fazer nada: o amanhã e o ontem. A maior parte das pessoas gosta de fantasiar sobre esses dois dias. Aí, pensam o que teria acontecido se Napoleão tivesse morrido de pneumonia quando criança ou viajam numa imaginaria máquina do tempo em direção ao futuro. Mas isso não leva a nada e é  preciso acordar para o fato de que passado e  futuro são  invenções nossas e a única realidade é o presente. É verdade que o passado contribui para 

o hoje e o hoje contribui para o futuro, mas não podemos fazer nada acerca deles porque simplesmente estão fora do nosso alcance.

O que se observa, no entanto, é que os que têm uma fé vigorosa são os que são mais aptos a viver o momento presente. Viver o presente e cuidar da qualidade da vida que se leva são uma atitude de fé na própria vida. O presente é valioso e a fé nos ensina que ele é tudo o que temos.

A verdade é que somos nós que temos em mãos “os pinceis e as tintas” e podemos pintar o paraíso e ir para dentro dele. Podemos saudar o nosso dia com um sorriso de confiança e descobrir que ele contém uma grande promessa, da mesma dimensão da nossa capacidade. Podemos entender que é melhor viver com fé e sem a sensação de culpa, tendo o reino dentro de nós, reino significando ter  um espírito  em paz.   Isso  a  partir   da  simples  constatação de  que  quando estamos felizes, nos sentimos abençoados. No entanto, duvidamos de que seja possível viver assim, com esperança e alegria e, sobretudo, sem arrependimento, sem medos, sem culpa na consciência. Mas, quando aprendemos a nos amar e a nos  aceitar  porque  somos bons,  aquele   reino  se   torna  nosso.  A   fé   com que vivemos é  pacífica,  cheia  de esperança,  e   tem origem na bondade do nosso espírito. 

KierkegaardTido como o fundador do moderno existencialismo, reagiu contra o 

idealismo absoluto de Hegel que dizia ter desenvolvido um entendimento racional total da humanidade e da história. Kierkegaard enfatizou a 

ambigüidade e o absurdo da situação humana. A resposta a isso consiste em viver inteiramente devotado à vida e este comprometimento só pode ser entendido por quem fez a opção. O indivíduo deve sempre estar preparado para desafiar as normas da sociedade, para ter a mais alta autoridade de 

uma maneira pessoalmente válida da vida. Defendia o “salto da fé” para uma vida cristã que, embora incompreensível e cheia de risco, era o único 

compromisso que ele acreditava poder salvar o indivíduo do desespero.

ConclusãoO conhecimento da verdade, a prática da fidelidade e a construção de uma 

personalidade íntegra, são os fundamentos para o desenvolvimento de um núcleo de valores interiores e de crenças, estável e imutável, que é o alicerce da fé. Esse núcleo é de importância fundamental para nossa existência porque vivemos num mundo   de   mudanças   explosivas   que   se   constituem   em   solo   fértil   para   o aparecimento da incerteza, da insegurança e da ansiedade.

Os seres humanos precisam acreditar e,  por  isso, são muitos os cultos religiosos e as causas sociais. Ter fé é saudável e se constitui numa afirmação de valor, ao mesmo tempo em que oferece a sensação de continuidade.

Em A.A., muito da alegria e da felicidade que as faces expressam está em viver neste mundo com fé e sem a sensação de culpa.

Com a fé vem, naturalmente, a crença em si mesmo, indispensável para realizar  alguma coisa,  para construir  uma boa auto­imagem e para  viver  uma sólida autoconfiança. Devemos estar mais atentos para o que somos do que para a quantidade do que fazemos.

O   círculo   se   completa   com   o   fato   de   que,   tendo   fé,   melhor   se   pode identificar a verdade, fidelidade, integridade e fé são valores espirituais. Com eles aumenta o nosso nível de consciência e cresce a nossa humanidade.