folha de são paulo - pesquisa mulheres cesariana

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São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 2012 Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros Pesquisa investiga por que mulheres preferem cesárea Para especialistas, fatores culturais somados à falta de leitos nas rede pública e privada afastam mulher do parto normal Medo de sentir muita dor e preocupação com sexualidade também aumentam preferência por cesáreas Marisa Cauduro/Folhapress A bióloga Hana Masuda, 34, com a filha Alice, um mês após o nascimento por parto normal SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULO

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Saúde

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So Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 2012

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Prximo Texto|ndice|Comunicar ErrosPesquisa investiga por que mulheres preferem cesrea

Para especialistas, fatores culturais somados falta de leitos nas rede pblica e privada afastam mulher do parto normal

Medo de sentir muita dor e preocupao com sexualidade tambm aumentam preferncia por cesreas

Marisa Cauduro/Folhapress

A biloga Hana Masuda, 34, com a filha Alice, um ms aps o nascimento por parto normal

SABINE RIGHETTIDE SO PAULO

Fatores culturais e falta de informao so alguns dos motivos que levam preferncia nacional pelo parto com data marcada.

Hoje, o Brasil um dos recordistas mundiais em partos cesarianos. Em 2010, o nmero de nascimentos cirrgicos chegou a 52%, passando os partos normais.

A preocupao com a quantidade de cirurgias no nascimento tanta que o Ministrio da Sade vai fazer uma pesquisa com 24 mil mulheres para entender o que leva escolha da cirurgia com data marcada para dar luz.

O trabalho vai verificar qual a indicao mdica e os motivos que levaram a mulher a escolher um determinado tipo de parto -normal, cesrea ou at em casa.

A hiptese que fatores culturais contem muito nesse tipo de deciso.

"A mulher brasileira se preocupa com a sexualidade e teme que o parto altere o perneo, o que um mito", diz Vera Fonseca, diretora da Febrasgo (Federao Brasileira das Associaes de Ginecologia e Obstetrcia) e do Conselho Federal de Medicina.

MEDO DA DORO medo da dor tambm afasta a mulher do parto normal. "Temos uma imagem de parto normal como se v no cinema, com dor e sofrimento. Isso afasta as mulheres da opo natural", analisa a historiadora da cincia Germana Barata, da Unicamp.

De acordo com a ginecologista da USP, Sonia Penteado, alguma mulheres que tentam enfrentar a dor do parto no aguentam.

"J tive pacientes que chegaram a ter dilatao completa no parto, mas no toleraram a dor e pediram para que fosse feita a cesrea", conta.

Esse tipo de interveno possvel no sistema privado. "No pblico, a mulher tem de aguentar a dor porque faltam cirurgies", diz Penteado.

A proporo de quantidade de cesreas no SUS gira em torno de 37% dos nascimentos. Na rede privada, o percentual sobe para 82%.

DECISO DO MDICOMas, alm da cultura, a opinio dos mdicos tambm conta -e muito- na deciso.

"Nunca chegou uma paciente no meu consultrio dizendo 'quero cesrea e pronto'", diz Penteado.

Segundo ela, a maioria das mulheres decide com seu mdico o tipo de parto.

Ela recomenda parto normal a suas pacientes desde que no existam fatores de risco, como hipertenso. Hoje, a doena a principal causa de morte de mulheres no parto no Brasil (na Europa e nos EUA a hemorragia).

Para Fonseca, muitos mdicos incentivam a cesrea por receio de falta de leitos, inclusive na rede privada.

O Brasil tem 0,28 leito para cada mil usurios do SUS (Sistema nico de Sade) -o que, de acordo com o Ministrio de Sade, atende a demanda. Mas pases desenvolvidos tm o dobro disso.

"Se a paciente entra em trabalho de parto de maneira inesperada, corre risco de no ter vaga. Isso d insegurana para o mdico."