folha ambiente & sustentabilidade

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Caderno de meio ambiente da Folha de Londrina veiculado no dia 5 de março de 2013.

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Page 1: Folha Ambiente & Sustentabilidade

E as ONGs se espalhamÉ cada vez maior, em Londrina e região,

o número de entidades que, voluntariamente,lutam pela preservação ambiental

Cada uma trabalha poruma causa específica,mas todas estão uni-

das em torno do meio am-biente. As ONGs, abreviaçãopara Organizações Não Go-vernamentais, são geridaspor voluntários que dedicamhoras de serviço, muitas ve-zes sem remuneração, poruma causa de interesse públi-co e ambiental.

Dados do IBGE em 2010revelam que, entre as 290,7mil Fundações Privadas e As-sociações sem Fins Lucrati-vos (Fasfil) existentes no Bra-sil, somente 0,8% estão rela-cionadas ao meio ambiente eproteção animal. Embora nãohaja um cadastro unificado,levantamento da Folha Am-biente & Sustentabilidade en-controu nove ONGs ambien-tais em plena atividade na re-gião de Londrina (veja relaçãonesta página).

As atividades das ONGsambientaissãodesenvolvidaspor profissionais variados eos trabalhos podem envolverdesde a reciclagem mensalde cerca 40 toneladas decomponentes eletrônicos –como na ONG E-Lixo – até ocombate ao desmatamentode fundos de vale, como faz aAssociação Ecológica deRolândia nas margens do RioVermelho.

A educação ambiental éoutra aposta feita pelas orga-nizações. Na Fazenda Bimini,o Cine Paiolzão tem chamadoa atenção por atrair interessa-dos diretamente na preserva-ção ambiental. “A importânciado cinema para a educaçãoambiental está no prazer deassistir a algo espetacular nu-ma telona e incentivar cineas-tas locais a captarem coisasque estão desaparecendo”,explica Daniel Steidle, proprie-tário da fazenda.

Um canal paradenúncias

Por falta de informação deonde e como denunciar, apopulação se utiliza das ON-Gs como canal para comu-nicar irregularidades. Para opresidente da ONG OlhoD’água, Salvador Carvalho,o cidadão acredita que, sedenunciar para outros ór-gãos que não sejam as ON-Gs, ele será repreendido.“Ele tem medo de denunciarporque acredita que seráperseguido”, revela Carva-lho. A ONG Olho D’agua, lo-calizada em Arapongas, re-centemente denunciou ouso de fogo e roçagem noVale das Perobas, um espa-ço que abriga muitos ani-mais e perobas com mais de500 anos.

Essas abordagens tam-bém acontecem na ONGMAE – entidade que vem de-senvolvendo um grande pro-jeto de reflorestamento emLondrina, em parceria com aUEL. “A informação chega otempo todo, tanto a denún-cia quanto a cobrança, co-mo se a gente fosse respon-sável por resolver o proble-ma”, relata o advogado e in-tegrante da ONG, CamilloVianna. Ele conta que a enti-dade tenta sempre envolveras pessoas nas ações por-que, muitas vezes, o cidadãose esquece das própriasobrigações.

A importância das ONGsé reconhecida pela promoto-ra do Meio Ambiente, Solan-ge Vicentin. Para ela, é a pró-pria sociedade que ganhacom esse trabalho vigilante.“Elas ajudam os órgãos pú-blicos e muitas vezes até osubstituem”, afirma.

Integrantes da ONGOlho D'água, em

Arapongas, zelampela preservação de

rios e nascentes

16 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013

Page 2: Folha Ambiente & Sustentabilidade

AGENDA

Alerta no Ribeirão Cafezal

OSuplemento Ambiente & Sustentabilidadeentra em seu segundo ano comemorandoos resultados obtidos até agora. A exemplodas plantas que, durante seu primeiro ciclo

de vida, procuram no ambiente as condições ideaispara crescer, trilhamos um caminho em 2012 que secaracterizou pelo diálogo com a comunidade sobre operfil das informações mais importantes para a pre-servação ambiental de nossa região. Esse canal aber-to com a sociedade levou o Suplemento para dentrodas salas de aula e auxiliou o cidadão a tomar deci-sões no seu dia a dia que privilegiam a qualidade devida e a sustentabilidade do meio ambiente.

Nesta edição, voltamos a abordar assuntos que fa-zem parte de nossa realidade. A reportagem de caparetrata um fenômeno silencioso que é responsável

por grande parte da riqueza da biodiversidade regio-nal: os Rios Voadores. Este tema, de nome curioso,explica como as águas são transportadas pelos aresdesde a floresta amazônica, no Norte do Brasil, até aregião Sul. Londrina está na rota dos rios voadores efez parte de um projeto de Educação Ambiental quetambém chegou às nossas crianças e estudantes.

Mas, infelizmente, às vezes devemos tratar tambémde assuntos que refletem problemas preocupantes doponto de vista ambiental. É o caso da reportagem quemostra o resultado de um projeto de análise da quali-dade de água do Ribeirão Cafezal – manancial deabastecimento para os municípios de Londrina e Cam-bé. A constatação da presença de bactérias e proto-zoários causadores de diarréia em adultos e criançasultrapassa a dimensão ambiental para se transformar

num alerta à saúde pública. Apesar dos esforços pelamelhoria das condições da água por parte de diversasinstituições, percebe-se a necessidade de um trabalhoainda mais coeso e intenso para superar desafios queainda preocupam a sociedade.

É este o papel que reputamos fundamental parao jornalismo ambiental: abordar com seriedade umamplo espectro de temas, sempre com o norte decontribuir, por meio da difusão de informação dequalidade, com a educação da sociedade e com apromoção de um ambiente melhor para todos. Con-vidamos nossos leitores a participar cada vez maisdesse espaço, enviando suas dúvidas, críticas e su-gestões - instrumento indispensável para aprimorar-mos crescentemente o nosso trabalho.

Boa leitura a todos!

EDITORIAL

CAMINHADA INTERNACIONAL DA NATUREZA – CIRCUITO CAIÇARAData: 23 de marçoLocal: Pontal do Paraná – saída da Sala de Embarque e Desembarquedo SESC Turismo Social, Rua Augusto Stelfeld, 640Informações: www.sescpr.com.br ou (41) 3304.2204

3º ENCONTRO TÉCNICO DE FRUTAS, VERDURAS E HORTALIÇASData: 12 de abril (ExpoLondrina)Local: Parque de Exposições Ney Braga - LondrinaInformações: www.srp.com.br

3ª REUNIÃO PARANAENSE DE CIÊNCIA DO SOLO (RPCS)Data: 7 a 9 de maioLocal: Hotel Sumatra, Av. Souza Naves, 803 - LondrinaInformações: www.rpcs2013.com.br ou (43) 3025.5223

10º CONGRESSO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE DEPOÇOS DE CALDASData: 22 a 24 de maioLocal: Espaço Cultural da Urca, Praça Getúlio Vargas, s/n, Poçosde Caldas (MG)Informações: www.meioambientepocos.com.br ou (35) 3697.1551

8ª RECICLAÇÃO EXPOMAI - FEIRA DE RECICLAGEM& MEIO AMBIENTE INDUSTRIALData: 26 a 29 de junhoLocal: ExpoUnimed, Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300,CuritibaInformações: www.montebelloeventos.com.br/reciclacao ou(41) 3203.1189

CORRUPÇÃO EAQUECIMENTO

Dos países que recebem incentivo financei-ro para combater os efeitos do aquecimentoglobal, 70% sofrem com problemas de corrup-ção em seus governos, o que dificulta aindamais a redução de emissão de poluentes nes-sas nações. Estudo da Transparência Interna-cional elaborou um ranking com 176 paísesque recebem auxílio, pontuando-os de zero(máximo nível de corrupção) a 100. O Brasil fi-gura na 69ª posição com 43 pontos. Nenhumpaís recebeu nota 100.

DIA MUNDIAL DA ÁGUAEm 22 de março é comemorado o Dia Mun-

dial da Água, data marcada pela criação, em1992, da “Declaração Universal dos Direitosda Água” da Organização das Nações Unidas(ONU) – um conjunto de posturas e atitudescom relação ao uso sustentável da água. Atu-almente, 884 milhões de pessoas (12% da po-pulação mundial) vivem sem água potável. Re-latório da Unesco, de 2003, afirma que essenúmero saltará para entre 2 e 7 bilhões de pes-soas em meados de 2050.

PROJETO BIOPLANETVinte e cinco milhões de litros de óleo de cozi-

nha usados serão utilizados para produção debiodiesel até a Copa do Mundo de 2014. A ini-ciativa é do projeto Bioplanet, um dos 96 progra-mas de promoção do Brasil na Copa. A coletade óleo usado será feita por catadores e estu-dantes que receberão brindes em suas escolasde acordo com a quantidade coletada. Com es-se total, é possível gerar 125 milhões de litros decombustível que serão produzidos em 40 cida-des brasileiras, 12 delas sedes da Copa.

LOGÍSTICA REVERSADepois de 10 anos em vigência, a lei de Lo-

gística Reversa apresenta bons resultados nacoleta de embalagens de agrotóxicos. As em-balagens não podem ser recicladas junto comresíduos comuns, mas acondicionadas e pré-higienizadas pelos agricultores, recolhidas emsegurança e recicladas sob responsabilidadedas empresas que fabricam o produto. Segun-do balanço do Instituto Nacional de Processa-mento de Embalagens Vazias (inpEV), 237 milde toneladas de embalagens de agrotóxicos fo-ram recicladas na última década; 37,7 mil tone-ladas somente no ano passado.

2 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 15FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

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Almanaque do LucasO livro infantil “Almanaque Ecológico do Lucas”

explica de forma lúdica temas recorrentes sobre oAmbiente e Sustentabilidade, como o desmatamento,poluição e direitos animais. Elaborado pelo cartunistaLeonardo Valença, o almanaque é repleto dedesenhos, diálogos e passatempos voltados àeducação ambiental para crianças. Está disponívelpara impressão por demanda na PoD Editora – avenda é sustentável, não há produção em estoque. OAlmanaque custa R$ 45 na versão colorida, R$ 28 emp&b e pode ser encomendado pelo site www.podeditora.com.br/livros/infantis.

‘O Impossível’O filme “O Impossível” é um retrato do tsunami

que devastou parte da Ásia e da África no fim de2004 sob o ponto de vista de uma família quedesfruta de férias na Tailândia. Surpreendidos pelaonda gigante que atingiu o país depois do Nataldaquele ano, Maria (Naomi Watts), Henry (EwanMcGregor) e seus filhos lutam pela sobrevivência nocenário pós-apocalíptico de uma das maiorestragédias naturais do planeta. O tsunami de 2004atingiu outros 12 países e deixou perto de 200 milmortos e desaparecidos. O filme é dirigido por JuanAntonio Bayona e foi lançado no final de 2012.

‘A Era da Estupidez’Sozinho no mundo devastado em 2055, um

arquivista revê vídeos, a partir de 2008, sobre osdesastres ambientais que destruíram o planeta aolongo dos 47 anos corridos no filme. Rico emanimações, “A Era da Estupidez” faz uma reflexãosobre o uso inconsciente dos recursos naturais edo descaso com o Ambiente e Sustentabilidadeem prol da expansão econômica, provocando oquestionamento: por que não salvamos o mundoenquanto ainda há tempo? A obra transita entre aanimação, o drama e o documentário. Lançado em2009, tem direção de Franny Armstrong.

Abacia do Ribeirão Cafe-zal requer ações am-bientais urgentes de

preservação para melhorar aqualidade das águas queabastecem 40% da populaçãode Londrina e Cambé. O alertaparte das entidades partici-

pantes de um projeto-pilotoque, durante três anos, moni-torou a qualidade da água doCafezal. Resultado: emboraos valores das análises este-jam dentro do limite preconi-zado pela legislação, foramencontradas bactérias que

causam diarréia persistente eoutras multirresistentes a anti-bióticos de uso clínico.

Financiado pela Agência Ja-ponesa de Cooperação Inter-nacional (JICA, na sigla em in-glês) e desenvolvido pela Uni-versidade Tecnológica Federal

Cafezal requer cuidadosAnálises detectam bactérias patogênicas por conta de falhas na preservaçãoambiental e na ocupação de solo da bacia que abastece Londrina e Cambé

(UTFPR), Sanepar, secretariasestadual e municipal do MeioAmbiente e a ONG Ecometró-pole, o Projeto realizou análisesmicrobiológicas e físico-quími-cas em amostras coletadas to-dos os meses – em períodosde seca e de estiagem – duran-te um ano, de agosto de 2011a julho de 2012.

Segundo a coordenadorado projeto, Luciana Maia, pro-fessora de Microbiologia naUTFPR em Londrina, a presen-ça da bactéria E. coli e do pro-tozoário Crysptosporidium –ambos capazes de causardiarréia persistente em adultose crianças – revela que aságuas do Cafezal estão rece-bendo esgoto clandestino edejetos de animais oriundosdas criações de aves e suínosde granjas instaladas ao longoda bacia. “De todas as cepasde E. coli analisadas, 21% sãopatogênicas e 100% resisten-tes a três tipo de antibióticos”,informa.

A população não deve con-sumir jamais a água direta-mente do Cafezal, diz a profes-

sora, e também não deve serusada para irrigação de horti-frútis, porque, assim, estariasendo mantido o ciclo dessesorganismos no ambiente. “A si-tuação é preocupante, masnão devemos alarmar a popu-lação e, sim, sensibilizar a to-dos para a importância da pre-servação ambiental e da ade-quada ocupação do solo”,afirma Luciana Maia. “Vamospropor à JICA a continuidadedo projeto. A próxima etapa édeflagrar ações de educaçãoambiental.”

A coordenadora geral doGrupo Gestor Cafezal, SandraDelfino, da Unidade de Servi-ços de Educação Ambientalda Sanepar, a situação encon-trada na bacia – assoreamen-to, erosão, presença de lixo efalta de mata ciliar – justifica acontinuidade do trabalho deintervenção socioambien-tal. “Vamos intensificar a parteeducativa para a formação demultiplicadores do projetocom o objetivo de ampliar otrabalho de preservação” dizSandra.

População não deveconsumir água direto doCafezal, diz professora

de Microbiologia

14 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 3FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Page 4: Folha Ambiente & Sustentabilidade

Casas precisam de 20% de área permeávelFukushima, dois anos depoisAo contrário do que muita

gente imagina, não são ape-nas as propriedades rurais quedevem obedecer às regras depreservação ambiental. Nas ci-dades, os imóveis tambémprecisam “preservar” parte dosterrenos como áreas de per-meabilidade e drenagem. Naprática, estas áreas são com-postas por faixas de grama eoutros recursos que permitama absorção de água de chuvano solo.

Em Londrina, a regulamen-tação está presente na Lei deUso e Ocupação do Solo (Lei7.485, do Plano Diretor), queobriga as residências a desti-nar 20% da área total para dre-nagem das águas pluviais.

“Esses espaços com pe-dras ou gramados permitem

que a água da chuva penetreno solo e chegue aos lençóisfreáticos, preservando as nas-centes de rios e córregos”, ex-plica Bruno de Camargo Men-des, geógrafo da SecretariaMunicipal do Ambiente de Lon-drina (SEMA). Segundo ele, aárea de permeabilidade deveconstar já no planejamento doimóvel encaminhado para aSecretaria de Obras.

Porém, mesmo com a exi-gência, não é possível mensu-rar a efetividade da legislação,já que em Londrina não há fis-calização sobre o tema: “Mes-mo não havendo multas paraquem não preserve os 20% es-tipulados, é interessante que apopulação saiba que os bene-fícios da permeabilidade sãocoletivos”, afirma Mendes.

Em 11 de março de 2011, o Japão foiabalado por um terremoto de 9 graus naescala Richter e um tsunami com pico de23 metros de altura. A força dos eventosnaturais matou mais de seis mil pessoas,a maioria habitante de regiões costeiras.

O terremoto e o tsunami tambémocasionaram o acidente nuclear da Usi-na de Fukushima. As instalações foramgravemente danificadas por três explo-sões ocorridas após a inesperada inter-rupção do processo de resfriamentodos reatores.

O índice de radiação ultrapassou emoito vezes o limite de segurança, sendodetectada também a presença de plutô-nio no solo. Ainda hoje, um raio de 20kmao redor da usina permanece vazio.

Cerca de 30% da energia consumidano Japão provém das usinas nucleares.Depois de Fukushima, o país estuda aadoção de fontes alternativas para redu-zir a dependência da energia nuclear.

INFORMAÇÕESTÉCNICAS:Pelo e-mail [email protected] é possívelsolicitar à Embrapa Hortaliçaso livro “Horta em PequenosEspaços”. A publicação éuma referência no tema e temcusto simbólico definido pelaEmbrapa de acordo com ofrete para cada região doPaís.

Na sacada doprédio, uma horta!Com a cidade cada vez mais verticalizada, pessoas

que gostam de mexer com a terra encontram soluçõesinteligentes para cultivar em espaços reduzidos

Na década de 1960, o es-cr i tor Rubem Braga(1913-1990)montou um

jardim na cobertura de seu edi-fício, em Ipanema, Rio de Ja-neiro. Tinha palmeira, goiabeirae até uma pequena mangueira.O local virou ponto de encontrode intelectuais e fonte de inspi-ração para várias de suas maisde quinze mil crônicas. Ele eranascido em Cachoeiro do Ita-pemirim (ES) e gostava dospássaros, das coisas do cam-po. O mesmo gosto pelas coi-sas do campo está fazendocom que pequenas hortas bro-tem nas “altitudes” em Londrina– a terceira cidade mais vertica-lizada do país.

“Você pode até tirar um ho-

mem da terra, mas é difícil tirara terra do homem. Temos mui-tos clientes com raiz rural que,hoje, moram em apartamentose cultivammuito mais pelo pra-zer do que pela economia nafeira”, atesta Sebastião Calme-zini, há 34 anos dono de umaloja de produtos agropecuáriosem Londrina. As sementes dealface, salsinha, rúcula e cebo-linha são as mais procuradaspara estes ambientes.

É gente como o engenheiroRenato Ferreira de Castro e adentista Rosa Shimazu. Morado-res do primeiro andar de um pré-dio no centro, o casal convenceuos demais condôminos a lhesdeixarem ocupar o espaço so-bre a laje de uma garagem. As-

sim, as plantas ganharam espa-ço e sol, retribuindo com maiorprodutividade. E também exigin-do dedicação diária.

“Na época de maior calor, te-nho que ficar atento para o solda tarde não prejudicar as plan-tas, às vezes mudando-as delugar”, diz Renato. “Além disso,não podemos deixá-las semágua, temos que adubar e, aci-ma de tudo, prestar muita aten-ção para não deixar água para-da em lugar nenhum. A dengueestá por aí”, complementa Ro-sa. Na horta do casal tem man-jericão, alecrim, hortelã, tomate,salsinha, cebolinha e muitas flo-res. São mais de cinquenta va-sos. “Uma casa sem plantas émuito árida”, afirma a dentista.

Quem compartilha essa vi-são é a professora aposenta-da Maria Moreno. Em umaampla sacada no 12º andar deum prédio na Vila Ipiranga, elajá colheu uma boa safra de pi-mentão. “Fiz até pimentões re-cheados”, conta, entusiasma-da. Os vasos de salsinha, ce-bolinha e alecrim vão bem.Hortaliças dão mais trabalho.Mas uma boa safra de alfacejá está brotando em um dosvasos da professora.

‘Com prazer, osucesso égarantido’

Para o professor Gilber-to Martins, do Departa-mento de Agronomia daUEL, manter uma horta noapartamento depende,em primeiro lugar, de de-dicação. Segundo ele, épreciso ler e estudar parachegar a bons resultados.“Não há receita pronta,cada local tem suas sin-gularidades. Quem procu-ra, acha os melhores ca-minhos”, enfatiza.

Como regra geral, elecita alguns itens funda-mentais: luz solar, terra,água e boa semente. Aterra vermelha pode atéser uti l izada, porém émais recomendado com-prar um solo preparado.

“As possibilidades sãomuitas. Já existem atésistemas de hidroponiapara esse tipo de espa-ço. Também há cartilhasdisponíveis com dicaspreciosas. Respeitandoas plantas e tendo prazerem cultivá-las, o sucessoé garantido.”

Engenheiroaproveitou espaço noprédio para plantarde alecrim a hortelã."É preciso ficar atentoao sol", diz

OPINIÃO☛ Marcos Falleiros – Doutor em Tecnologia Nuclear pela

USP, é professor e pesquisador do Departamento de Físicada UEL

O que mudou na energia nuclear após Fukushima?Esse tipo de acidente traz muitas mudanças na regula-

mentação das centrais nucleares e sistemas de segurançade emergência. Hoje vários países, dentre eles o Brasil,estão reavaliando os planos de expansão de usinas termo-nucleares.

Quais os principais danos ambientais de Fukushima?Em todos os acidentes que ocasionam danos ambien-

tais, quem sai perdendo é a vida, entendida no seu maisamplo significado.

Como está a energia nuclear no Brasil?O Brasil precisa de um debate mais amplo sobre esta

questão, sem preconceitos. Para manter a economiacrescendo, o Brasil precisará de um incremento, ao ano,equivalente a uma Usina de Belo Monte.É uma questãomuito importante e deve ser resolvida sem “atropelos epaixões pessoais”. A energia nuclear é, sem dúvida, umaalternativa que não deve ser descartada, inclusive sob oaspecto ambiental.

4 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 13FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Page 5: Folha Ambiente & Sustentabilidade

Para que esta fase se apre-sente, de forma decifrada, énecessária a compreensão decomo se estruturou, ao longodo tempo, a relação dos ho-mens entre eles, através dosmodos de produzir, consumire utilizar a natureza, sem, noentanto, perceber e entender arelação de finitude humana edos recursos planetários.

Para tanto, Boff apresentaalguns saberes necessários aesta tarefa. Apreender a cuidarda vida em todas as suas ma-nifestações, pois sem ela nós,seres humanos, não consegui-remos viver. Lembra que nósprecisamos da natureza – ocontrário não é verdadeiro.Mas como compreender, cui-dar, se há tantas diferenças daforma de lidar com a água, aterra, a flora e a fauna, em to-das as suas manifestações pe-

los quatro cantos do planeta?Boff apresenta uma fábula arespeito do cuidado para destaderivar desmembramentosnas mais diversas dimensõesda vida humana, com o intuitode encontrar elementos neces-sários para cruzarmos esta tra-vessia e encontrar no outro la-do uma possibilidade concretade superamos a crise civiliza-tória e prolongarmos a vida noplaneta sem que a autodestrui-ção em curso nos coloque nu-ma situação sem volta.

Afirma Boff: “A ótica do cui-dado funda uma nova ética,compreensível a todos e ca-paz de inspirar valores e atitu-des fundamentais para a faseplanetária da humanidade”.Por isso é necessário que to-dos compreendam as respon-sabilidades de uma ética docuidado. Com urgência, ne-

cessitamos de uma visãocompartilhada de valores bási-cos orientados pelo cuidadoque proporcione um funda-mento ético a todos. Desta for-ma, podemos sair da crise efazer emergir um tempo deequilíbrio entre as necessida-des vitais para viver, e as con-dições necessárias de repro-dução de todas as manifesta-ções de vida que o planetanos apresenta.

Mais que uma leitura, é umaaventura das possibilidades dasobrevivência humana em es-tado de crise, onde o passado(através de seus modelos, jus-tificativas, motivações, argu-mentações) já não se sustentae o futuro pode ser costuradocom ética, transparência, equi-líbrio das reais necessidadespara que todos possam viver ecuidar.

É preciso saber cuidar

Por que a pecuária é considerada nocivaao Ambiente e Sustentabilidade?

Andrea Cordeiro, manicure

A pergunta da manicure Andrea Cordeiro, que trabalha emum salão na Avenida São João, zona leste de Londrina, é perti-nente – afinal, o rebanho brasileiro é estimado em 193 milhõesde cabeças e a pecuária é uma importante atividade econômica nacional. Segundo a en-genheira sanitarista e ambiental Nayla Libos, alguns fatores contribuem para que a pecuá-ria seja conhecida como a “vilã” do Ambiente e Sustentabilidade.

A pecuária demanda o uso de milhões de hectares para pastagem – áreas antes ocupadaspor matas e florestas. E o maior diferencial da pecuária, que a torna tão nociva em relação aoutras atividades, é a emissão de gases poluentes causadores do efeito estufa, por meio daflatulência, provenientes da digestão dos animais. “A geração de dióxido de carbono pela pro-dução de gado chega a 18% da emissão de gases nocivos ao Ambiente e Sustentabilidade,poluindo mais que o setor de transporte”, afirma Nayla. Ela frisa que as fezes desses animaistambém podem contaminar as águas de lençóis freáticos e rios, promovendo a dissemi-nação de doenças e a poluição desses recursos naturais. Como, então, tornar sustentávelessa importante atividade econômica? “Medidas simples, como a troca de alimentaçãodos animais, são capazes de reduzir a produção de gases poluentes e, associadas a me-didas de controle e manejo, o impacto ambiental da pecuária”, diz Nayla Libos.

Chocolate pode desaparecerParece absurdo, mas é verdade: se as coisas não mudarem

no planeta Terra, o chocolate pode desaparecer dentro de qua-tro décadas. Numa melhor hipótese, pode até continuar a serproduzido, porém, vendido a preço de ouro.

O “desastre” é uma previsão do Centro Internacional de Agri-cultura Tropical (CIAT) da Colômbia, que alerta sobre a escassezde cacau no mundo. O cacau é a matéria prima do chocolate etem sua maior produção no continente africano, especialmentenos países de Gana e Costa do Marfim – detentores de 2/3 daprodução mundial.

A escassez do cacau é decorrente de diversos fatores, comoo aumento da temperatura global, que dificulta o cultivo do fruto.Também as técnicas agrícolas defasadas (sobretudo na África)fazem mau uso do solo e não acompanham o aumento do con-sumo de chocolate ano a ano, principalmente nos países emer-gentes, como a China.

Para evitar a extinção do cacau, alguns produtores já inves-tem em novas e caras técnicas de plantio em regiões de maioraltitude – por serem mais frias. Porém, sem o controle da tem-peratura do planeta e o uso sustentável do solo, o cultivo po-de não conseguir alcançar o consumo de chocolate.

Empresário querimplantar ‘terraçosverdes’ na capital

Sócio de uma empresa detecnologia da informaçãocujos clientes são organiza-ções sociais, o curitibano JoãoPaulo Mehl fez do terraço desua empresa, no Alto da RuaXV, um espaço voltado para ocultivo de plantas. Começoucom salsinha, cebolinha e to-mate-cereja, dividindo a pro-dução e o cuidado com asplantas entre as sete pessoasque trabalham no escritório.

Mehl, porém, percebeu queo potencial do terraço, de 190metros quadrados, era muitogrande para abrigar apenaspequenos vasos. Nasceu oprojeto “Terraço Verde”. Agora,ele está em busca de recursospara transformar o espaço emmodelo a ser replicado em ou-

tros prédios de Curitiba.“Na cidade, estamos distan-

tes de onde o alimento é pro-duzido. Há muito espaço des-perdiçado que pode servir pa-ra a produção de alimentos.Queremos concretizar nossoterraço para que seja um gran-de espaço de educação am-biental. Um prédio com umterraço verde traz muitos be-nefícios para a cidade, como,por exemplo, a maior absor-ção da água (evitando en-chentes), a diminuição da tem-peratura do prédio (o que geraeconomia de energia), a pos-sibilidade de trabalhar com acompostagem, e logicamentediminuindo a produção de li-xo”, ressalta o empresário.

SAIBA MAISMais informações sobre o projetoTerraço Verde podem serencontradas no site www.terracoverde.eco.br

RESENHAObra: “Saber cuidar: Ética dohumano – compaixão pela Terra”Autor: Leonardo BoffEditora: Vozes, Petrópolis, RJ,1999.Páginas: 199.

Queremos concretizar um grande espaçode educação ambiental, diz empresário

Paulo Bassani é sociólogo,professor da UEL e cordena-dor do GEAMA – Grupo de Es-tudos Avançados sobre o Am-biente e Sustentabilidade.

Paulo Bassani

Hoje, mais do que ontem,alguns desafios cruciais paraa sobrevivência humana e pla-netária se colocam em pauta.Dos desafios relevantes à pre-servação da vida, um aspectoque se manifesta como funda-mental é o cuidado. LeonardoBoff, na obra “Saber cuidar:Ética do humano – compaixãopela Terra”, aborda questõesvitais para apreendermos acuidar da vida, sobretudo nes-ta fase de transição civilizató-ria. Apresenta a obra no finaldo século XX para uma agen-da de cuidados necessáriospara o enfrentamento do sé-culo XXI. Uma travessia daqual não podemos fugir, paraalcançarmos um futuro sus-tentável, um tempo onde sepossa viver com qualidade devida, segurança, harmonia en-tre os homens e destes com anatureza.

12 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 5FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Page 6: Folha Ambiente & Sustentabilidade

“Não acredito empreservar o

planeta somentepara o futuro;

acredito noagora”

Ricardo Gharib

Tecnologia sustentávelEmpresa de Londrina desenvolve

sistemas de reaproveitamentoque barateiam a conta deempresas e residências

Com as práticas susten-táveis em alta, cidadãose empresas passam a

repensar seus cot idianosaliando o uso racional dos re-cursos naturais ao desenvolvi-mento econômico. Tanto porforça das legislações ambien-tais quanto pelo “marketingverde”, a procura por soluçõessustentáveis cria grandes de-mandas, sobretudo na indús-tria, comércio e construção.Nesse cenário, empresas sur-gem e se consolidam ofere-cendo instrumentos adapta-dos à nova realidade.

É o caso da Ecoracional, deLondrina. Derivada da Teken-ge Engenharia, companhia já

consolidada na construção ci-vil desde os anos 80, surgiucomo resposta a um setor ca-rente por soluções inteligentesdo uso da água. “Entendemosessa demanda e buscamosfazer o diferencial”, afirma Ri-cardo Gharib, engenheiro civile um dos três sócios da em-presa.

Criada há quatro anos, aempresa comercializa siste-mas de uso racional da água,sendo os carros-chefes as so-luções para reuso da água (dechuveiros e lavatórios) e cap-tação de água da chuva, am-bas para uso não potável.

Utilizados em grandes em-preendimentos da região, co-

para a água

mo o Ecomercado Palhano eos shoppings Catuaí Maringáe Londrina Norte, os produtosproporcionam economia noconsumo de água. No caso doEcomercado, que utiliza ossistemas de reuso e o de cap-tação de água da chuva, a

É necessário,diz especialista

A economia proporcionadapelo reuso da água e captaçãode água de chuvas dependedo consumo habitual de cadaempresa ou residência e, tam-bém, da regularidade das pre-cipitações. Na opinião do en-genheiro civil Fernando Fer-nandes, os benefícios dessastecnologias vão muito além daeconomia com uso da água:“Mesmo que o imóvel não te-nha 70% de economia, essessistemas sustentáveis são mui-

to proveitosos”, afirma Fernan-des, que é pesquisador doCentro de Tecnologia e Urba-nismo da UEL e coordena omestrado em Engenharia deEdificações e Saneamento.“Além do uso racional da água,a captação da chuva permiteuma menor vazão de água nasgalerias pluviais e, consequen-temente, a diminuição dascheias dos rios”, ele explica.“Tecnologias alternativas comoessas são necessárias.”

Ricardo Gharib junto aum sistema de captaçãode água de chuva: “Éprazeroso saber que omeu trabalho estácontribuindo paraminha geração”

FIQUE POR DENTROA Ecoracional realiza palestrasdirecionadas a projetistas eprofissionais ligados à construçãocivil, com orientações sobre comoinstalar os sistemas de usointeligente da água. As datas doseventos estão no siteecoracional.com.br.

economia com água encana-da chega a 70%.

“Um prédio que utiliza nos-so sistema de captação deágua da chuva, registrou gas-to de R$ 2.400 com água emum mês de estiagem. No mêsque choveu, a fatura foi de R$300”, diz Gharib.

Em Londrina essa tecnolo-gia não é significativa somentepara o bolso dos consumido-res. O Código Ambiental domunicípio, no artigo 92, dizque obras com mais de 200m² e atividades que utilizam apartir de 30 m³ de água pormês somente serão licencia-das se o projeto contemplar aimplantação de sistemas deaproveitamento de água dechuva e reuso de água.

“Tivemos o cuidado de pes-quisar a fundo e esquematizarde forma bem simples o quedeveria ser feito pelos projetis-tas”, comenta Ricardo Gharib.

Brasil afora, a Ecoracionaltambém encontrou oportuni-dades de negócios, sobretudoem relação a grandes obrasassociadas aos eventos es-portivos que estão por vir. Aempresa foi responsável porfornecer as estruturas de usointeligente da água nos está-dios de Salvador (Arena FonteNova) e de Fortaleza (EstádioGovernador Plácido Castelo, oCastelão), que vão abrigar jo-gos da Copa do Mundo de2014. “São as nossas maioresconquistas”, conta Gharib.

6 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 11FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Page 7: Folha Ambiente & Sustentabilidade

Áreas antes centradas nacarreira acadêmica, comoa Arqueologia, vem en-

contrando, cada vez mais, umcenário propício para a atuaçãoprática – com destaque para aárea ambiental.A abertura se de-ve, principalmente, às novas le-gislações que estabelecem me-canismos para o desenvolvi-mento sustentável do país.

Nesse contexto, o arqueólo-go aparece como o profissio-nal responsável não somentepelo reconhecimento do pas-sado, mas, também, comoagente de preservação da rea-lidade nos sítios arqueológi-cos. É ele que visualiza o im-pacto que grandes obras exer-cem sobre o patrimônio histó-rico do local, podendo atuar

Preservação ambientalabre campo para Arqueologia

Atividade ganha impulso com as novas legislações, que tornamobrigatório o estudo arqueológico em obras de grande impacto

na elaboração de Relatóriosde Impacto Ambiental.

Segundo o professor do De-partamento de Antropologia So-cial da Universidade Federal doParaná (UFPR), Laercio Bro-chier, o mercado de trabalho da

Arqueologia experimentou o pri-meiro boom no Brasil a partir de1981, quando foi decretada aPolícia Nacional do Meio Am-biente. O segundo impulso veioem meados da década de 90,com a resolução do Conselho

Nacional do Meio Ambiente (Co-nama) que tornou obrigatório oestudo de características arque-ológicas em obras de grandeimpacto, como usinas hidrelétri-cas, ferrovias e estradas.

“Hoje temos várias possibili-

dades de atuar fora da acade-mia. Antes, a Arqueologia eravista, na prática, como IndianaJones e pirâmides”, comentaBrochier.

Mão duplaO envolvimento da Arqueolo-

gia com o meio ambiente temmão dupla: se há arqueólogosatuando na área de preservaçãoe sustentabilidade, há tambémoutros profissionais se especiali-zando em Arqueologia.

É o caso do engenheiro civillondrinense Henrique Lück, quecursa MBA em Arqueologia noInstituto Brasileiro de Arqueolo-gia, em Belford Roxo (RJ). Eleviu na Arqueologia a possibilida-de de melhor gerenciar licencia-mentos ambientais: “Hoje emdia, qualquer obra precisa de li-cenciamento”, ele explica. “Oprofissional precisa estar capa-citado para encontrar melhoresresultados e fazer as compen-sações necessárias.”

Cursos comqualidade

Mesmo abrangendo pro-fissionais de diversas áreas,a Arqueologia ainda carecede profissionais devido àgrande demanda de traba-lhos, sobretudo no Norte doPaís, avalia o professor La-

ercio Brochier. “Hoje em dianão faltam trabalhos para oarqueólogo, nem nas áreasteóricas, nem nas práticas. Oque falta, na verdade, sãoprofissionais”, afirma.

Ele explica que o aumentono número de cursos de gra-duação seria interessantepara suprir a grande deman-da por profissionais, uma vezque o crescimento de empre-

endimentos no País só tendea aumentar. Mas com umaressalva: “Precisamos de for-mação com qualidade”.

No Brasil, existem cerca de10 cursos de graduação emArqueologia, sendo que aprimeira turma de arqueólo-gos foi formada em 2008. AArqueologia surgiu no Paísem meados dos anos 50 eainda não é regulamentada.

LaercioBrochier,responsávelpelo Museu deArqueologiada UFPR:“Hoje em dianão faltamtrabalhos paraarqueólogos;faltamprofissionais”

20 milÉ o número atual

de sítiosarqueológicosregistrados no

Brasil, segundo oInstituto doPatrimônio

Histórico e ArtísticoNacional (Iphan).

10 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 7FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Page 8: Folha Ambiente & Sustentabilidade

Londrina não está na rotaapenas dos invisíveis rios voa-dores, mas também do proje-to que leva o mesmo nome. Asegunda etapa do projeto – aprimeira foi a coleta de amos-tras que buscou entender me-lhor o fenômeno – consistiuem um trabalho de educaçãoambiental que selecionou seismunicípios ao longo da rotados rios voadores. Além deLondrina, foram escolhidasBrasília, Chapecó (SC), Cuia-bá (MT), Ribeirão Preto (SP) eUberlândia (MG).

Em parceria com autorida-des locais, o projeto inseriu au-las sobre os Rios Voadores nasescolas e, além do fornecimen-to de material didático, minis-trou oficinas de treinamentopara os professores. A açãoenvolveu 36 professores e mais

de três mil alunos dos colégiosVicente Rijo, Newton Guima-rães, Nilo Peçanha, Universitá-rio e a Escola Interativa.

Os professores Saulo Gas-par, de Geografia, e Carla Ro-veri, de Ciências, ambos doColégio Universitário, revelamque o assunto agregou conhe-cimento às áreas de ensinoem que trabalham. “De repen-te, segunda-feira, aconteceutoda uma precipitação, cujadinâmica aconteceu desde aAmazônia. E como foi impor-tante para nós que tivéssemosesse acontecimento aqui”,disse Gaspar.

Já a professora Carla contaque o assunto entrou para ocalendário letivo especialmen-te no primeiro bimestre, quecontempla o Dia Mundial daÁgua, comemorado em 22 de

março. “Acho interessante por-que desperta esse olhar dosestudantes para a FlorestaAmazônica, que está tão dis-tante, mas da qual temos de-pendência também”, ela ava-lia. “Eu encontrava com ospais e eles falavam que o filhotinha chegado em casa falan-do de Rio Voador.”

José Lázaro Filho, do 9º ano,foi um dos estudantes da pri-meira geração a aprender so-bre Rios Voadores em Londri-na. Em 2011, ele conheceuGérard Moss, piloto do aviãomonomotor e um dos idealiza-dores do projeto. Lázaro parti-cipou da palestra e da exposi-ção feita na cidade e relata asurpresa com o tema: “A gentea princípio pensa que a águaque evapora em Londrina cho-ve em Londrina, mas pode

chover longe também. As nu-vens andam”, atesta. “A águaevapora na Amazônia, que de-ve ficar a uns três mil quilôme-tros daqui, para vir chover aquiem Londrina.”

Entre os aspectos que maischamaram a atenção de MargiMoss, durante pouco mais decinco anos do Projeto Rios Voa-dores, ela destaca a iniciativaeducacional: “Levar o materialimpresso e o conhecimento pa-ra os professores foi muito gra-tificante. Eles vibravam ao en-tenderem mais sobre um as-sunto bastante lógico e eviden-te, mas sobre o qual nunca ha-viam pensado ou ouvido falar”,diz Margi. Era tangível o entu-siasmo deles ao saberem quea Floresta Amazônica, tão dis-tante, tem um impacto diretoem suas vidas, sim.”

SAIBA MAISNo site www.riosvoadores.com.br hátextos, fotos e vídeos sobre aExpedição Rios Voadores.

Um rio sobre nossas cidadesFenômeno que transporta água da Amazônia ao Sul do país intriga cientistas e estudantes

“A troco dealgumas cabeças

de boi, arriscamosatrapalhar o ciclonatural que regula

nosso clima hámilênios”

Margi Moss, integrante do ProjetoRios Voadores

Várias vezes ao ano,milhares de metros cúbicosde água saem da

Amazônia para irrigar as terrasférteis do Sul – um fenômenoque intriga os cientistas e motivaaulas de educação ambiental emLondrina

Se já tínhamos motivossuficientes e amplamenteconhecidos para defender apreservação da florestaamazônica, entre eles amanutenção de suaextraordinária biodiversidade,anote aí mais um: dependediretamente dela o regime dechuvas que irrigam os solosférteis de Londrina e região. Aágua que cai no Norte do Paranáé fruto, muitas vezes, daevapotranspiração de árvoreslocalizadas a dois ou três milquilômetros de distância. Ovapor que se origina lá e setransforma em chuva aqui é oprincipal item de um fenômenoque há três décadas vem sendoestudado por um grupo decientistas e pesquisadores: sãoos chamados Rios Voadores.

Expressão criada peloprofessor José Marengo, doCentro de Previsão do Tempo eEstudos Climáticos (CPTEC), os“rios voadores” são cursos deágua atmosféricos invisíveis quetransportam umidade da BaciaAmazônica para outras regiõesdo Brasil. Como uma grandebomba d’água, a florestaamazônica “puxa” para ocontinente a umidade evaporadado Oceano Atlântico. Em formade chuva, ela cai sobre afloresta. No momento seguinte,por meio da evapotranspiração,as árvores devolvem a água àatmosfera, que volta a cair comochuva muitos quilômetros

adiante (veja infográfico).Londrina está na rota dessas

massas de ar úmido, quecostumam chegar ao municípiocom mais intensidade na épocado verão. Nos meses de janeiroe fevereiro deste ano, a cidade járegistrou sete rios voadores. Em2011, foram 28 ocorrências e,em 2012, 44 casos registrados.O monitoramento das trajetóriasé feito diariamente. Para saberse há algum Rio Voadorchegando a Londrina, acessewww.riosvoadores.com.br/mapas-meteorologicos/localidades/londrina.

O fenômeno é acompanhadode perto pelo Projeto RiosVoadores. Com o auxílio de umavião monomotor, a equipe doprojeto coletou 500 amostras devapor de água em vários locais doPaís, entre 2007 e 2009. Estima-seque o volume de vapor de águatransportado pelos rios voadoresseja maior que a vazão de todosos rios do Centro-Oeste ou igual àvazão do rio Amazonas. Issosignifica 200 mil metros cúbicosde água por segundo.

Estudos do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia(INPA) mostram que uma árvorecom copa de 10 metros dediâmetro bombeia para aatmosfera, diariamente, mais de300 litros de água em forma devapor. O volume aumenta emcopas maiores. Ou seja, umaárvore emite para o ar mais águaque dois brasileiros consomempor dia. O desmatamento, oavanço agrícola e as queimadasinterferem nesse sistema ecausam impactos diretos noclima brasileiro e da Américado Sul.

“Ninguém questiona aimportância de preservarmos aágua, porém às vezes falta fazera ligação entre a água líquida datorneira e a origem dela. Fazem-se esforços hoje em dia paraproteger as fontes terrestres,mas também temos que pensarem proteger as fontes aéreas, aschuvas e a umidade, que astornam realidade”, afirma MargiMoss, integrante do Projeto RiosVoadores.

Margi afirma que as pesquisascientíficas ainda não são capazesde prever precisamente osimpactos e que, futuramentepode ser tarde demais parareverter a situação. “Anualmenteperdemos milhares de hectaresde cobertura florestal para,principalmente, dar lugar àpecuária de baixa produtividade”,ela denuncia. “A troco de algumascabeças de boi, arriscamosatrapalhar o ciclo natural queregula nosso clima há milênios.”

Fenômeno chega às escolas

Estudantes de Londrinaforam contempladospor ações educativas

do Projeto RiosVoadores

8 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 9ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Page 9: Folha Ambiente & Sustentabilidade

Londrina não está na rotaapenas dos invisíveis rios voa-dores, mas também do proje-to que leva o mesmo nome. Asegunda etapa do projeto – aprimeira foi a coleta de amos-tras que buscou entender me-lhor o fenômeno – consistiuem um trabalho de educaçãoambiental que selecionou seismunicípios ao longo da rotados rios voadores. Além deLondrina, foram escolhidasBrasília, Chapecó (SC), Cuia-bá (MT), Ribeirão Preto (SP) eUberlândia (MG).

Em parceria com autorida-des locais, o projeto inseriu au-las sobre os Rios Voadores nasescolas e, além do fornecimen-to de material didático, minis-trou oficinas de treinamentopara os professores. A açãoenvolveu 36 professores e mais

de três mil alunos dos colégiosVicente Rijo, Newton Guima-rães, Nilo Peçanha, Universitá-rio e a Escola Interativa.

Os professores Saulo Gas-par, de Geografia, e Carla Ro-veri, de Ciências, ambos doColégio Universitário, revelamque o assunto agregou conhe-cimento às áreas de ensinoem que trabalham. “De repen-te, segunda-feira, aconteceutoda uma precipitação, cujadinâmica aconteceu desde aAmazônia. E como foi impor-tante para nós que tivéssemosesse acontecimento aqui”,disse Gaspar.

Já a professora Carla contaque o assunto entrou para ocalendário letivo especialmen-te no primeiro bimestre, quecontempla o Dia Mundial daÁgua, comemorado em 22 de

março. “Acho interessante por-que desperta esse olhar dosestudantes para a FlorestaAmazônica, que está tão dis-tante, mas da qual temos de-pendência também”, ela ava-lia. “Eu encontrava com ospais e eles falavam que o filhotinha chegado em casa falan-do de Rio Voador.”

José Lázaro Filho, do 9º ano,foi um dos estudantes da pri-meira geração a aprender so-bre Rios Voadores em Londri-na. Em 2011, ele conheceuGérard Moss, piloto do aviãomonomotor e um dos idealiza-dores do projeto. Lázaro parti-cipou da palestra e da exposi-ção feita na cidade e relata asurpresa com o tema: “A gentea princípio pensa que a águaque evapora em Londrina cho-ve em Londrina, mas pode

chover longe também. As nu-vens andam”, atesta. “A águaevapora na Amazônia, que de-ve ficar a uns três mil quilôme-tros daqui, para vir chover aquiem Londrina.”

Entre os aspectos que maischamaram a atenção de MargiMoss, durante pouco mais decinco anos do Projeto Rios Voa-dores, ela destaca a iniciativaeducacional: “Levar o materialimpresso e o conhecimento pa-ra os professores foi muito gra-tificante. Eles vibravam ao en-tenderem mais sobre um as-sunto bastante lógico e eviden-te, mas sobre o qual nunca ha-viam pensado ou ouvido falar”,diz Margi. Era tangível o entu-siasmo deles ao saberem quea Floresta Amazônica, tão dis-tante, tem um impacto diretoem suas vidas, sim.”

SAIBA MAISNo site www.riosvoadores.com.br hátextos, fotos e vídeos sobre aExpedição Rios Voadores.

Um rio sobre nossas cidadesFenômeno que transporta água da Amazônia ao Sul do país intriga cientistas e estudantes

“A troco dealgumas cabeças

de boi, arriscamosatrapalhar o ciclonatural que regula

nosso clima hámilênios”

Margi Moss, integrante do ProjetoRios Voadores

Várias vezes ao ano,milhares de metros cúbicosde água saem da

Amazônia para irrigar as terrasférteis do Sul – um fenômenoque intriga os cientistas e motivaaulas de educação ambiental emLondrina

Se já tínhamos motivossuficientes e amplamenteconhecidos para defender apreservação da florestaamazônica, entre eles amanutenção de suaextraordinária biodiversidade,anote aí mais um: dependediretamente dela o regime dechuvas que irrigam os solosférteis de Londrina e região. Aágua que cai no Norte do Paranáé fruto, muitas vezes, daevapotranspiração de árvoreslocalizadas a dois ou três milquilômetros de distância. Ovapor que se origina lá e setransforma em chuva aqui é oprincipal item de um fenômenoque há três décadas vem sendoestudado por um grupo decientistas e pesquisadores: sãoos chamados Rios Voadores.

Expressão criada peloprofessor José Marengo, doCentro de Previsão do Tempo eEstudos Climáticos (CPTEC), os“rios voadores” são cursos deágua atmosféricos invisíveis quetransportam umidade da BaciaAmazônica para outras regiõesdo Brasil. Como uma grandebomba d’água, a florestaamazônica “puxa” para ocontinente a umidade evaporadado Oceano Atlântico. Em formade chuva, ela cai sobre afloresta. No momento seguinte,por meio da evapotranspiração,as árvores devolvem a água àatmosfera, que volta a cair comochuva muitos quilômetros

adiante (veja infográfico).Londrina está na rota dessas

massas de ar úmido, quecostumam chegar ao municípiocom mais intensidade na épocado verão. Nos meses de janeiroe fevereiro deste ano, a cidade járegistrou sete rios voadores. Em2011, foram 28 ocorrências e,em 2012, 44 casos registrados.O monitoramento das trajetóriasé feito diariamente. Para saberse há algum Rio Voadorchegando a Londrina, acessewww.riosvoadores.com.br/mapas-meteorologicos/localidades/londrina.

O fenômeno é acompanhadode perto pelo Projeto RiosVoadores. Com o auxílio de umavião monomotor, a equipe doprojeto coletou 500 amostras devapor de água em vários locais doPaís, entre 2007 e 2009. Estima-seque o volume de vapor de águatransportado pelos rios voadoresseja maior que a vazão de todosos rios do Centro-Oeste ou igual àvazão do rio Amazonas. Issosignifica 200 mil metros cúbicosde água por segundo.

Estudos do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia(INPA) mostram que uma árvorecom copa de 10 metros dediâmetro bombeia para aatmosfera, diariamente, mais de300 litros de água em forma devapor. O volume aumenta emcopas maiores. Ou seja, umaárvore emite para o ar mais águaque dois brasileiros consomempor dia. O desmatamento, oavanço agrícola e as queimadasinterferem nesse sistema ecausam impactos diretos noclima brasileiro e da Américado Sul.

“Ninguém questiona aimportância de preservarmos aágua, porém às vezes falta fazera ligação entre a água líquida datorneira e a origem dela. Fazem-se esforços hoje em dia paraproteger as fontes terrestres,mas também temos que pensarem proteger as fontes aéreas, aschuvas e a umidade, que astornam realidade”, afirma MargiMoss, integrante do Projeto RiosVoadores.

Margi afirma que as pesquisascientíficas ainda não são capazesde prever precisamente osimpactos e que, futuramentepode ser tarde demais parareverter a situação. “Anualmenteperdemos milhares de hectaresde cobertura florestal para,principalmente, dar lugar àpecuária de baixa produtividade”,ela denuncia. “A troco de algumascabeças de boi, arriscamosatrapalhar o ciclo natural queregula nosso clima há milênios.”

Fenômeno chega às escolas

Estudantes de Londrinaforam contempladospor ações educativas

do Projeto RiosVoadores

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Page 10: Folha Ambiente & Sustentabilidade

Áreas antes centradas nacarreira acadêmica, comoa Arqueologia, vem en-

contrando, cada vez mais, umcenário propício para a atuaçãoprática – com destaque para aárea ambiental.A abertura se de-ve, principalmente, às novas le-gislações que estabelecem me-canismos para o desenvolvi-mento sustentável do país.

Nesse contexto, o arqueólo-go aparece como o profissio-nal responsável não somentepelo reconhecimento do pas-sado, mas, também, comoagente de preservação da rea-lidade nos sítios arqueológi-cos. É ele que visualiza o im-pacto que grandes obras exer-cem sobre o patrimônio histó-rico do local, podendo atuar

Preservação ambientalabre campo para Arqueologia

Atividade ganha impulso com as novas legislações, que tornamobrigatório o estudo arqueológico em obras de grande impacto

na elaboração de Relatóriosde Impacto Ambiental.

Segundo o professor do De-partamento de Antropologia So-cial da Universidade Federal doParaná (UFPR), Laercio Bro-chier, o mercado de trabalho da

Arqueologia experimentou o pri-meiro boom no Brasil a partir de1981, quando foi decretada aPolícia Nacional do Meio Am-biente. O segundo impulso veioem meados da década de 90,com a resolução do Conselho

Nacional do Meio Ambiente (Co-nama) que tornou obrigatório oestudo de características arque-ológicas em obras de grandeimpacto, como usinas hidrelétri-cas, ferrovias e estradas.

“Hoje temos várias possibili-

dades de atuar fora da acade-mia. Antes, a Arqueologia eravista, na prática, como IndianaJones e pirâmides”, comentaBrochier.

Mão duplaO envolvimento da Arqueolo-

gia com o meio ambiente temmão dupla: se há arqueólogosatuando na área de preservaçãoe sustentabilidade, há tambémoutros profissionais se especiali-zando em Arqueologia.

É o caso do engenheiro civillondrinense Henrique Lück, quecursa MBA em Arqueologia noInstituto Brasileiro de Arqueolo-gia, em Belford Roxo (RJ). Eleviu na Arqueologia a possibilida-de de melhor gerenciar licencia-mentos ambientais: “Hoje emdia, qualquer obra precisa de li-cenciamento”, ele explica. “Oprofissional precisa estar capa-citado para encontrar melhoresresultados e fazer as compen-sações necessárias.”

Cursos comqualidade

Mesmo abrangendo pro-fissionais de diversas áreas,a Arqueologia ainda carecede profissionais devido àgrande demanda de traba-lhos, sobretudo no Norte doPaís, avalia o professor La-

ercio Brochier. “Hoje em dianão faltam trabalhos para oarqueólogo, nem nas áreasteóricas, nem nas práticas. Oque falta, na verdade, sãoprofissionais”, afirma.

Ele explica que o aumentono número de cursos de gra-duação seria interessantepara suprir a grande deman-da por profissionais, uma vezque o crescimento de empre-

endimentos no País só tendea aumentar. Mas com umaressalva: “Precisamos de for-mação com qualidade”.

No Brasil, existem cerca de10 cursos de graduação emArqueologia, sendo que aprimeira turma de arqueólo-gos foi formada em 2008. AArqueologia surgiu no Paísem meados dos anos 50 eainda não é regulamentada.

LaercioBrochier,responsávelpelo Museu deArqueologiada UFPR:“Hoje em dianão faltamtrabalhos paraarqueólogos;faltamprofissionais”

20 milÉ o número atual

de sítiosarqueológicosregistrados no

Brasil, segundo oInstituto doPatrimônio

Histórico e ArtísticoNacional (Iphan).

10 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 7FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Page 11: Folha Ambiente & Sustentabilidade

“Não acredito empreservar o

planeta somentepara o futuro;

acredito noagora”

Ricardo Gharib

Tecnologia sustentávelEmpresa de Londrina desenvolve

sistemas de reaproveitamentoque barateiam a conta deempresas e residências

Com as práticas susten-táveis em alta, cidadãose empresas passam a

repensar seus cot idianosaliando o uso racional dos re-cursos naturais ao desenvolvi-mento econômico. Tanto porforça das legislações ambien-tais quanto pelo “marketingverde”, a procura por soluçõessustentáveis cria grandes de-mandas, sobretudo na indús-tria, comércio e construção.Nesse cenário, empresas sur-gem e se consolidam ofere-cendo instrumentos adapta-dos à nova realidade.

É o caso da Ecoracional, deLondrina. Derivada da Teken-ge Engenharia, companhia já

consolidada na construção ci-vil desde os anos 80, surgiucomo resposta a um setor ca-rente por soluções inteligentesdo uso da água. “Entendemosessa demanda e buscamosfazer o diferencial”, afirma Ri-cardo Gharib, engenheiro civile um dos três sócios da em-presa.

Criada há quatro anos, aempresa comercializa siste-mas de uso racional da água,sendo os carros-chefes as so-luções para reuso da água (dechuveiros e lavatórios) e cap-tação de água da chuva, am-bas para uso não potável.

Utilizados em grandes em-preendimentos da região, co-

para a água

mo o Ecomercado Palhano eos shoppings Catuaí Maringáe Londrina Norte, os produtosproporcionam economia noconsumo de água. No caso doEcomercado, que utiliza ossistemas de reuso e o de cap-tação de água da chuva, a

É necessário,diz especialista

A economia proporcionadapelo reuso da água e captaçãode água de chuvas dependedo consumo habitual de cadaempresa ou residência e, tam-bém, da regularidade das pre-cipitações. Na opinião do en-genheiro civil Fernando Fer-nandes, os benefícios dessastecnologias vão muito além daeconomia com uso da água:“Mesmo que o imóvel não te-nha 70% de economia, essessistemas sustentáveis são mui-

to proveitosos”, afirma Fernan-des, que é pesquisador doCentro de Tecnologia e Urba-nismo da UEL e coordena omestrado em Engenharia deEdificações e Saneamento.“Além do uso racional da água,a captação da chuva permiteuma menor vazão de água nasgalerias pluviais e, consequen-temente, a diminuição dascheias dos rios”, ele explica.“Tecnologias alternativas comoessas são necessárias.”

Ricardo Gharib junto aum sistema de captaçãode água de chuva: “Éprazeroso saber que omeu trabalho estácontribuindo paraminha geração”

FIQUE POR DENTROA Ecoracional realiza palestrasdirecionadas a projetistas eprofissionais ligados à construçãocivil, com orientações sobre comoinstalar os sistemas de usointeligente da água. As datas doseventos estão no siteecoracional.com.br.

economia com água encana-da chega a 70%.

“Um prédio que utiliza nos-so sistema de captação deágua da chuva, registrou gas-to de R$ 2.400 com água emum mês de estiagem. No mêsque choveu, a fatura foi de R$300”, diz Gharib.

Em Londrina essa tecnolo-gia não é significativa somentepara o bolso dos consumido-res. O Código Ambiental domunicípio, no artigo 92, dizque obras com mais de 200m² e atividades que utilizam apartir de 30 m³ de água pormês somente serão licencia-das se o projeto contemplar aimplantação de sistemas deaproveitamento de água dechuva e reuso de água.

“Tivemos o cuidado de pes-quisar a fundo e esquematizarde forma bem simples o quedeveria ser feito pelos projetis-tas”, comenta Ricardo Gharib.

Brasil afora, a Ecoracionaltambém encontrou oportuni-dades de negócios, sobretudoem relação a grandes obrasassociadas aos eventos es-portivos que estão por vir. Aempresa foi responsável porfornecer as estruturas de usointeligente da água nos está-dios de Salvador (Arena FonteNova) e de Fortaleza (EstádioGovernador Plácido Castelo, oCastelão), que vão abrigar jo-gos da Copa do Mundo de2014. “São as nossas maioresconquistas”, conta Gharib.

6 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 11FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Page 12: Folha Ambiente & Sustentabilidade

Para que esta fase se apre-sente, de forma decifrada, énecessária a compreensão decomo se estruturou, ao longodo tempo, a relação dos ho-mens entre eles, através dosmodos de produzir, consumire utilizar a natureza, sem, noentanto, perceber e entender arelação de finitude humana edos recursos planetários.

Para tanto, Boff apresentaalguns saberes necessários aesta tarefa. Apreender a cuidarda vida em todas as suas ma-nifestações, pois sem ela nós,seres humanos, não consegui-remos viver. Lembra que nósprecisamos da natureza – ocontrário não é verdadeiro.Mas como compreender, cui-dar, se há tantas diferenças daforma de lidar com a água, aterra, a flora e a fauna, em to-das as suas manifestações pe-

los quatro cantos do planeta?Boff apresenta uma fábula arespeito do cuidado para destaderivar desmembramentosnas mais diversas dimensõesda vida humana, com o intuitode encontrar elementos neces-sários para cruzarmos esta tra-vessia e encontrar no outro la-do uma possibilidade concretade superamos a crise civiliza-tória e prolongarmos a vida noplaneta sem que a autodestrui-ção em curso nos coloque nu-ma situação sem volta.

Afirma Boff: “A ótica do cui-dado funda uma nova ética,compreensível a todos e ca-paz de inspirar valores e atitu-des fundamentais para a faseplanetária da humanidade”.Por isso é necessário que to-dos compreendam as respon-sabilidades de uma ética docuidado. Com urgência, ne-

cessitamos de uma visãocompartilhada de valores bási-cos orientados pelo cuidadoque proporcione um funda-mento ético a todos. Desta for-ma, podemos sair da crise efazer emergir um tempo deequilíbrio entre as necessida-des vitais para viver, e as con-dições necessárias de repro-dução de todas as manifesta-ções de vida que o planetanos apresenta.

Mais que uma leitura, é umaaventura das possibilidades dasobrevivência humana em es-tado de crise, onde o passado(através de seus modelos, jus-tificativas, motivações, argu-mentações) já não se sustentae o futuro pode ser costuradocom ética, transparência, equi-líbrio das reais necessidadespara que todos possam viver ecuidar.

É preciso saber cuidar

Por que a pecuária é considerada nocivaao Ambiente e Sustentabilidade?

Andrea Cordeiro, manicure

A pergunta da manicure Andrea Cordeiro, que trabalha emum salão na Avenida São João, zona leste de Londrina, é perti-nente – afinal, o rebanho brasileiro é estimado em 193 milhõesde cabeças e a pecuária é uma importante atividade econômica nacional. Segundo a en-genheira sanitarista e ambiental Nayla Libos, alguns fatores contribuem para que a pecuá-ria seja conhecida como a “vilã” do Ambiente e Sustentabilidade.

A pecuária demanda o uso de milhões de hectares para pastagem – áreas antes ocupadaspor matas e florestas. E o maior diferencial da pecuária, que a torna tão nociva em relação aoutras atividades, é a emissão de gases poluentes causadores do efeito estufa, por meio daflatulência, provenientes da digestão dos animais. “A geração de dióxido de carbono pela pro-dução de gado chega a 18% da emissão de gases nocivos ao Ambiente e Sustentabilidade,poluindo mais que o setor de transporte”, afirma Nayla. Ela frisa que as fezes desses animaistambém podem contaminar as águas de lençóis freáticos e rios, promovendo a dissemi-nação de doenças e a poluição desses recursos naturais. Como, então, tornar sustentávelessa importante atividade econômica? “Medidas simples, como a troca de alimentaçãodos animais, são capazes de reduzir a produção de gases poluentes e, associadas a me-didas de controle e manejo, o impacto ambiental da pecuária”, diz Nayla Libos.

Chocolate pode desaparecerParece absurdo, mas é verdade: se as coisas não mudarem

no planeta Terra, o chocolate pode desaparecer dentro de qua-tro décadas. Numa melhor hipótese, pode até continuar a serproduzido, porém, vendido a preço de ouro.

O “desastre” é uma previsão do Centro Internacional de Agri-cultura Tropical (CIAT) da Colômbia, que alerta sobre a escassezde cacau no mundo. O cacau é a matéria prima do chocolate etem sua maior produção no continente africano, especialmentenos países de Gana e Costa do Marfim – detentores de 2/3 daprodução mundial.

A escassez do cacau é decorrente de diversos fatores, comoo aumento da temperatura global, que dificulta o cultivo do fruto.Também as técnicas agrícolas defasadas (sobretudo na África)fazem mau uso do solo e não acompanham o aumento do con-sumo de chocolate ano a ano, principalmente nos países emer-gentes, como a China.

Para evitar a extinção do cacau, alguns produtores já inves-tem em novas e caras técnicas de plantio em regiões de maioraltitude – por serem mais frias. Porém, sem o controle da tem-peratura do planeta e o uso sustentável do solo, o cultivo po-de não conseguir alcançar o consumo de chocolate.

Empresário querimplantar ‘terraçosverdes’ na capital

Sócio de uma empresa detecnologia da informaçãocujos clientes são organiza-ções sociais, o curitibano JoãoPaulo Mehl fez do terraço desua empresa, no Alto da RuaXV, um espaço voltado para ocultivo de plantas. Começoucom salsinha, cebolinha e to-mate-cereja, dividindo a pro-dução e o cuidado com asplantas entre as sete pessoasque trabalham no escritório.

Mehl, porém, percebeu queo potencial do terraço, de 190metros quadrados, era muitogrande para abrigar apenaspequenos vasos. Nasceu oprojeto “Terraço Verde”. Agora,ele está em busca de recursospara transformar o espaço emmodelo a ser replicado em ou-

tros prédios de Curitiba.“Na cidade, estamos distan-

tes de onde o alimento é pro-duzido. Há muito espaço des-perdiçado que pode servir pa-ra a produção de alimentos.Queremos concretizar nossoterraço para que seja um gran-de espaço de educação am-biental. Um prédio com umterraço verde traz muitos be-nefícios para a cidade, como,por exemplo, a maior absor-ção da água (evitando en-chentes), a diminuição da tem-peratura do prédio (o que geraeconomia de energia), a pos-sibilidade de trabalhar com acompostagem, e logicamentediminuindo a produção de li-xo”, ressalta o empresário.

SAIBA MAISMais informações sobre o projetoTerraço Verde podem serencontradas no site www.terracoverde.eco.br

RESENHAObra: “Saber cuidar: Ética dohumano – compaixão pela Terra”Autor: Leonardo BoffEditora: Vozes, Petrópolis, RJ,1999.Páginas: 199.

Queremos concretizar um grande espaçode educação ambiental, diz empresário

Paulo Bassani é sociólogo,professor da UEL e cordena-dor do GEAMA – Grupo de Es-tudos Avançados sobre o Am-biente e Sustentabilidade.

Paulo Bassani

Hoje, mais do que ontem,alguns desafios cruciais paraa sobrevivência humana e pla-netária se colocam em pauta.Dos desafios relevantes à pre-servação da vida, um aspectoque se manifesta como funda-mental é o cuidado. LeonardoBoff, na obra “Saber cuidar:Ética do humano – compaixãopela Terra”, aborda questõesvitais para apreendermos acuidar da vida, sobretudo nes-ta fase de transição civilizató-ria. Apresenta a obra no finaldo século XX para uma agen-da de cuidados necessáriospara o enfrentamento do sé-culo XXI. Uma travessia daqual não podemos fugir, paraalcançarmos um futuro sus-tentável, um tempo onde sepossa viver com qualidade devida, segurança, harmonia en-tre os homens e destes com anatureza.

12 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 5FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

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Casas precisam de 20% de área permeávelFukushima, dois anos depoisAo contrário do que muita

gente imagina, não são ape-nas as propriedades rurais quedevem obedecer às regras depreservação ambiental. Nas ci-dades, os imóveis tambémprecisam “preservar” parte dosterrenos como áreas de per-meabilidade e drenagem. Naprática, estas áreas são com-postas por faixas de grama eoutros recursos que permitama absorção de água de chuvano solo.

Em Londrina, a regulamen-tação está presente na Lei deUso e Ocupação do Solo (Lei7.485, do Plano Diretor), queobriga as residências a desti-nar 20% da área total para dre-nagem das águas pluviais.

“Esses espaços com pe-dras ou gramados permitem

que a água da chuva penetreno solo e chegue aos lençóisfreáticos, preservando as nas-centes de rios e córregos”, ex-plica Bruno de Camargo Men-des, geógrafo da SecretariaMunicipal do Ambiente de Lon-drina (SEMA). Segundo ele, aárea de permeabilidade deveconstar já no planejamento doimóvel encaminhado para aSecretaria de Obras.

Porém, mesmo com a exi-gência, não é possível mensu-rar a efetividade da legislação,já que em Londrina não há fis-calização sobre o tema: “Mes-mo não havendo multas paraquem não preserve os 20% es-tipulados, é interessante que apopulação saiba que os bene-fícios da permeabilidade sãocoletivos”, afirma Mendes.

Em 11 de março de 2011, o Japão foiabalado por um terremoto de 9 graus naescala Richter e um tsunami com pico de23 metros de altura. A força dos eventosnaturais matou mais de seis mil pessoas,a maioria habitante de regiões costeiras.

O terremoto e o tsunami tambémocasionaram o acidente nuclear da Usi-na de Fukushima. As instalações foramgravemente danificadas por três explo-sões ocorridas após a inesperada inter-rupção do processo de resfriamentodos reatores.

O índice de radiação ultrapassou emoito vezes o limite de segurança, sendodetectada também a presença de plutô-nio no solo. Ainda hoje, um raio de 20kmao redor da usina permanece vazio.

Cerca de 30% da energia consumidano Japão provém das usinas nucleares.Depois de Fukushima, o país estuda aadoção de fontes alternativas para redu-zir a dependência da energia nuclear.

INFORMAÇÕESTÉCNICAS:Pelo e-mail [email protected] é possívelsolicitar à Embrapa Hortaliçaso livro “Horta em PequenosEspaços”. A publicação éuma referência no tema e temcusto simbólico definido pelaEmbrapa de acordo com ofrete para cada região doPaís.

Na sacada doprédio, uma horta!Com a cidade cada vez mais verticalizada, pessoas

que gostam de mexer com a terra encontram soluçõesinteligentes para cultivar em espaços reduzidos

Na década de 1960, o es-cr i tor Rubem Braga(1913-1990)montou um

jardim na cobertura de seu edi-fício, em Ipanema, Rio de Ja-neiro. Tinha palmeira, goiabeirae até uma pequena mangueira.O local virou ponto de encontrode intelectuais e fonte de inspi-ração para várias de suas maisde quinze mil crônicas. Ele eranascido em Cachoeiro do Ita-pemirim (ES) e gostava dospássaros, das coisas do cam-po. O mesmo gosto pelas coi-sas do campo está fazendocom que pequenas hortas bro-tem nas “altitudes” em Londrina– a terceira cidade mais vertica-lizada do país.

“Você pode até tirar um ho-

mem da terra, mas é difícil tirara terra do homem. Temos mui-tos clientes com raiz rural que,hoje, moram em apartamentose cultivammuito mais pelo pra-zer do que pela economia nafeira”, atesta Sebastião Calme-zini, há 34 anos dono de umaloja de produtos agropecuáriosem Londrina. As sementes dealface, salsinha, rúcula e cebo-linha são as mais procuradaspara estes ambientes.

É gente como o engenheiroRenato Ferreira de Castro e adentista Rosa Shimazu. Morado-res do primeiro andar de um pré-dio no centro, o casal convenceuos demais condôminos a lhesdeixarem ocupar o espaço so-bre a laje de uma garagem. As-

sim, as plantas ganharam espa-ço e sol, retribuindo com maiorprodutividade. E também exigin-do dedicação diária.

“Na época de maior calor, te-nho que ficar atento para o solda tarde não prejudicar as plan-tas, às vezes mudando-as delugar”, diz Renato. “Além disso,não podemos deixá-las semágua, temos que adubar e, aci-ma de tudo, prestar muita aten-ção para não deixar água para-da em lugar nenhum. A dengueestá por aí”, complementa Ro-sa. Na horta do casal tem man-jericão, alecrim, hortelã, tomate,salsinha, cebolinha e muitas flo-res. São mais de cinquenta va-sos. “Uma casa sem plantas émuito árida”, afirma a dentista.

Quem compartilha essa vi-são é a professora aposenta-da Maria Moreno. Em umaampla sacada no 12º andar deum prédio na Vila Ipiranga, elajá colheu uma boa safra de pi-mentão. “Fiz até pimentões re-cheados”, conta, entusiasma-da. Os vasos de salsinha, ce-bolinha e alecrim vão bem.Hortaliças dão mais trabalho.Mas uma boa safra de alfacejá está brotando em um dosvasos da professora.

‘Com prazer, osucesso égarantido’

Para o professor Gilber-to Martins, do Departa-mento de Agronomia daUEL, manter uma horta noapartamento depende,em primeiro lugar, de de-dicação. Segundo ele, épreciso ler e estudar parachegar a bons resultados.“Não há receita pronta,cada local tem suas sin-gularidades. Quem procu-ra, acha os melhores ca-minhos”, enfatiza.

Como regra geral, elecita alguns itens funda-mentais: luz solar, terra,água e boa semente. Aterra vermelha pode atéser uti l izada, porém émais recomendado com-prar um solo preparado.

“As possibilidades sãomuitas. Já existem atésistemas de hidroponiapara esse tipo de espa-ço. Também há cartilhasdisponíveis com dicaspreciosas. Respeitandoas plantas e tendo prazerem cultivá-las, o sucessoé garantido.”

Engenheiroaproveitou espaço noprédio para plantarde alecrim a hortelã."É preciso ficar atentoao sol", diz

OPINIÃO☛ Marcos Falleiros – Doutor em Tecnologia Nuclear pela

USP, é professor e pesquisador do Departamento de Físicada UEL

O que mudou na energia nuclear após Fukushima?Esse tipo de acidente traz muitas mudanças na regula-

mentação das centrais nucleares e sistemas de segurançade emergência. Hoje vários países, dentre eles o Brasil,estão reavaliando os planos de expansão de usinas termo-nucleares.

Quais os principais danos ambientais de Fukushima?Em todos os acidentes que ocasionam danos ambien-

tais, quem sai perdendo é a vida, entendida no seu maisamplo significado.

Como está a energia nuclear no Brasil?O Brasil precisa de um debate mais amplo sobre esta

questão, sem preconceitos. Para manter a economiacrescendo, o Brasil precisará de um incremento, ao ano,equivalente a uma Usina de Belo Monte.É uma questãomuito importante e deve ser resolvida sem “atropelos epaixões pessoais”. A energia nuclear é, sem dúvida, umaalternativa que não deve ser descartada, inclusive sob oaspecto ambiental.

4 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 13FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

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Almanaque do LucasO livro infantil “Almanaque Ecológico do Lucas”

explica de forma lúdica temas recorrentes sobre oAmbiente e Sustentabilidade, como o desmatamento,poluição e direitos animais. Elaborado pelo cartunistaLeonardo Valença, o almanaque é repleto dedesenhos, diálogos e passatempos voltados àeducação ambiental para crianças. Está disponívelpara impressão por demanda na PoD Editora – avenda é sustentável, não há produção em estoque. OAlmanaque custa R$ 45 na versão colorida, R$ 28 emp&b e pode ser encomendado pelo site www.podeditora.com.br/livros/infantis.

‘O Impossível’O filme “O Impossível” é um retrato do tsunami

que devastou parte da Ásia e da África no fim de2004 sob o ponto de vista de uma família quedesfruta de férias na Tailândia. Surpreendidos pelaonda gigante que atingiu o país depois do Nataldaquele ano, Maria (Naomi Watts), Henry (EwanMcGregor) e seus filhos lutam pela sobrevivência nocenário pós-apocalíptico de uma das maiorestragédias naturais do planeta. O tsunami de 2004atingiu outros 12 países e deixou perto de 200 milmortos e desaparecidos. O filme é dirigido por JuanAntonio Bayona e foi lançado no final de 2012.

‘A Era da Estupidez’Sozinho no mundo devastado em 2055, um

arquivista revê vídeos, a partir de 2008, sobre osdesastres ambientais que destruíram o planeta aolongo dos 47 anos corridos no filme. Rico emanimações, “A Era da Estupidez” faz uma reflexãosobre o uso inconsciente dos recursos naturais edo descaso com o Ambiente e Sustentabilidadeem prol da expansão econômica, provocando oquestionamento: por que não salvamos o mundoenquanto ainda há tempo? A obra transita entre aanimação, o drama e o documentário. Lançado em2009, tem direção de Franny Armstrong.

Abacia do Ribeirão Cafe-zal requer ações am-bientais urgentes de

preservação para melhorar aqualidade das águas queabastecem 40% da populaçãode Londrina e Cambé. O alertaparte das entidades partici-

pantes de um projeto-pilotoque, durante três anos, moni-torou a qualidade da água doCafezal. Resultado: emboraos valores das análises este-jam dentro do limite preconi-zado pela legislação, foramencontradas bactérias que

causam diarréia persistente eoutras multirresistentes a anti-bióticos de uso clínico.

Financiado pela Agência Ja-ponesa de Cooperação Inter-nacional (JICA, na sigla em in-glês) e desenvolvido pela Uni-versidade Tecnológica Federal

Cafezal requer cuidadosAnálises detectam bactérias patogênicas por conta de falhas na preservaçãoambiental e na ocupação de solo da bacia que abastece Londrina e Cambé

(UTFPR), Sanepar, secretariasestadual e municipal do MeioAmbiente e a ONG Ecometró-pole, o Projeto realizou análisesmicrobiológicas e físico-quími-cas em amostras coletadas to-dos os meses – em períodosde seca e de estiagem – duran-te um ano, de agosto de 2011a julho de 2012.

Segundo a coordenadorado projeto, Luciana Maia, pro-fessora de Microbiologia naUTFPR em Londrina, a presen-ça da bactéria E. coli e do pro-tozoário Crysptosporidium –ambos capazes de causardiarréia persistente em adultose crianças – revela que aságuas do Cafezal estão rece-bendo esgoto clandestino edejetos de animais oriundosdas criações de aves e suínosde granjas instaladas ao longoda bacia. “De todas as cepasde E. coli analisadas, 21% sãopatogênicas e 100% resisten-tes a três tipo de antibióticos”,informa.

A população não deve con-sumir jamais a água direta-mente do Cafezal, diz a profes-

sora, e também não deve serusada para irrigação de horti-frútis, porque, assim, estariasendo mantido o ciclo dessesorganismos no ambiente. “A si-tuação é preocupante, masnão devemos alarmar a popu-lação e, sim, sensibilizar a to-dos para a importância da pre-servação ambiental e da ade-quada ocupação do solo”,afirma Luciana Maia. “Vamospropor à JICA a continuidadedo projeto. A próxima etapa édeflagrar ações de educaçãoambiental.”

A coordenadora geral doGrupo Gestor Cafezal, SandraDelfino, da Unidade de Servi-ços de Educação Ambientalda Sanepar, a situação encon-trada na bacia – assoreamen-to, erosão, presença de lixo efalta de mata ciliar – justifica acontinuidade do trabalho deintervenção socioambien-tal. “Vamos intensificar a parteeducativa para a formação demultiplicadores do projetocom o objetivo de ampliar otrabalho de preservação” dizSandra.

População não deveconsumir água direto doCafezal, diz professora

de Microbiologia

14 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 3FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

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AGENDA

Alerta no Ribeirão Cafezal

OSuplemento Ambiente & Sustentabilidadeentra em seu segundo ano comemorandoos resultados obtidos até agora. A exemplodas plantas que, durante seu primeiro ciclo

de vida, procuram no ambiente as condições ideaispara crescer, trilhamos um caminho em 2012 que secaracterizou pelo diálogo com a comunidade sobre operfil das informações mais importantes para a pre-servação ambiental de nossa região. Esse canal aber-to com a sociedade levou o Suplemento para dentrodas salas de aula e auxiliou o cidadão a tomar deci-sões no seu dia a dia que privilegiam a qualidade devida e a sustentabilidade do meio ambiente.

Nesta edição, voltamos a abordar assuntos que fa-zem parte de nossa realidade. A reportagem de caparetrata um fenômeno silencioso que é responsável

por grande parte da riqueza da biodiversidade regio-nal: os Rios Voadores. Este tema, de nome curioso,explica como as águas são transportadas pelos aresdesde a floresta amazônica, no Norte do Brasil, até aregião Sul. Londrina está na rota dos rios voadores efez parte de um projeto de Educação Ambiental quetambém chegou às nossas crianças e estudantes.

Mas, infelizmente, às vezes devemos tratar tambémde assuntos que refletem problemas preocupantes doponto de vista ambiental. É o caso da reportagem quemostra o resultado de um projeto de análise da quali-dade de água do Ribeirão Cafezal – manancial deabastecimento para os municípios de Londrina e Cam-bé. A constatação da presença de bactérias e proto-zoários causadores de diarréia em adultos e criançasultrapassa a dimensão ambiental para se transformar

num alerta à saúde pública. Apesar dos esforços pelamelhoria das condições da água por parte de diversasinstituições, percebe-se a necessidade de um trabalhoainda mais coeso e intenso para superar desafios queainda preocupam a sociedade.

É este o papel que reputamos fundamental parao jornalismo ambiental: abordar com seriedade umamplo espectro de temas, sempre com o norte decontribuir, por meio da difusão de informação dequalidade, com a educação da sociedade e com apromoção de um ambiente melhor para todos. Con-vidamos nossos leitores a participar cada vez maisdesse espaço, enviando suas dúvidas, críticas e su-gestões - instrumento indispensável para aprimorar-mos crescentemente o nosso trabalho.

Boa leitura a todos!

EDITORIAL

CAMINHADA INTERNACIONAL DA NATUREZA – CIRCUITO CAIÇARAData: 23 de marçoLocal: Pontal do Paraná – saída da Sala de Embarque e Desembarquedo SESC Turismo Social, Rua Augusto Stelfeld, 640Informações: www.sescpr.com.br ou (41) 3304.2204

3º ENCONTRO TÉCNICO DE FRUTAS, VERDURAS E HORTALIÇASData: 12 de abril (ExpoLondrina)Local: Parque de Exposições Ney Braga - LondrinaInformações: www.srp.com.br

3ª REUNIÃO PARANAENSE DE CIÊNCIA DO SOLO (RPCS)Data: 7 a 9 de maioLocal: Hotel Sumatra, Av. Souza Naves, 803 - LondrinaInformações: www.rpcs2013.com.br ou (43) 3025.5223

10º CONGRESSO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE DEPOÇOS DE CALDASData: 22 a 24 de maioLocal: Espaço Cultural da Urca, Praça Getúlio Vargas, s/n, Poçosde Caldas (MG)Informações: www.meioambientepocos.com.br ou (35) 3697.1551

8ª RECICLAÇÃO EXPOMAI - FEIRA DE RECICLAGEM& MEIO AMBIENTE INDUSTRIALData: 26 a 29 de junhoLocal: ExpoUnimed, Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300,CuritibaInformações: www.montebelloeventos.com.br/reciclacao ou(41) 3203.1189

CORRUPÇÃO EAQUECIMENTO

Dos países que recebem incentivo financei-ro para combater os efeitos do aquecimentoglobal, 70% sofrem com problemas de corrup-ção em seus governos, o que dificulta aindamais a redução de emissão de poluentes nes-sas nações. Estudo da Transparência Interna-cional elaborou um ranking com 176 paísesque recebem auxílio, pontuando-os de zero(máximo nível de corrupção) a 100. O Brasil fi-gura na 69ª posição com 43 pontos. Nenhumpaís recebeu nota 100.

DIA MUNDIAL DA ÁGUAEm 22 de março é comemorado o Dia Mun-

dial da Água, data marcada pela criação, em1992, da “Declaração Universal dos Direitosda Água” da Organização das Nações Unidas(ONU) – um conjunto de posturas e atitudescom relação ao uso sustentável da água. Atu-almente, 884 milhões de pessoas (12% da po-pulação mundial) vivem sem água potável. Re-latório da Unesco, de 2003, afirma que essenúmero saltará para entre 2 e 7 bilhões de pes-soas em meados de 2050.

PROJETO BIOPLANETVinte e cinco milhões de litros de óleo de cozi-

nha usados serão utilizados para produção debiodiesel até a Copa do Mundo de 2014. A ini-ciativa é do projeto Bioplanet, um dos 96 progra-mas de promoção do Brasil na Copa. A coletade óleo usado será feita por catadores e estu-dantes que receberão brindes em suas escolasde acordo com a quantidade coletada. Com es-se total, é possível gerar 125 milhões de litros decombustível que serão produzidos em 40 cida-des brasileiras, 12 delas sedes da Copa.

LOGÍSTICA REVERSADepois de 10 anos em vigência, a lei de Lo-

gística Reversa apresenta bons resultados nacoleta de embalagens de agrotóxicos. As em-balagens não podem ser recicladas junto comresíduos comuns, mas acondicionadas e pré-higienizadas pelos agricultores, recolhidas emsegurança e recicladas sob responsabilidadedas empresas que fabricam o produto. Segun-do balanço do Instituto Nacional de Processa-mento de Embalagens Vazias (inpEV), 237 milde toneladas de embalagens de agrotóxicos fo-ram recicladas na última década; 37,7 mil tone-ladas somente no ano passado.

2 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 15FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013 I ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

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E as ONGs se espalhamÉ cada vez maior, em Londrina e região,

o número de entidades que, voluntariamente,lutam pela preservação ambiental

Cada uma trabalha poruma causa específica,mas todas estão uni-

das em torno do meio am-biente. As ONGs, abreviaçãopara Organizações Não Go-vernamentais, são geridaspor voluntários que dedicamhoras de serviço, muitas ve-zes sem remuneração, poruma causa de interesse públi-co e ambiental.

Dados do IBGE em 2010revelam que, entre as 290,7mil Fundações Privadas e As-sociações sem Fins Lucrati-vos (Fasfil) existentes no Bra-sil, somente 0,8% estão rela-cionadas ao meio ambiente eproteção animal. Embora nãohaja um cadastro unificado,levantamento da Folha Am-biente & Sustentabilidade en-controu nove ONGs ambien-tais em plena atividade na re-gião de Londrina (veja relaçãonesta página).

As atividades das ONGsambientaissãodesenvolvidaspor profissionais variados eos trabalhos podem envolverdesde a reciclagem mensalde cerca 40 toneladas decomponentes eletrônicos –como na ONG E-Lixo – até ocombate ao desmatamentode fundos de vale, como faz aAssociação Ecológica deRolândia nas margens do RioVermelho.

A educação ambiental éoutra aposta feita pelas orga-nizações. Na Fazenda Bimini,o Cine Paiolzão tem chamadoa atenção por atrair interessa-dos diretamente na preserva-ção ambiental. “A importânciado cinema para a educaçãoambiental está no prazer deassistir a algo espetacular nu-ma telona e incentivar cineas-tas locais a captarem coisasque estão desaparecendo”,explica Daniel Steidle, proprie-tário da fazenda.

Um canal paradenúncias

Por falta de informação deonde e como denunciar, apopulação se utiliza das ON-Gs como canal para comu-nicar irregularidades. Para opresidente da ONG OlhoD’água, Salvador Carvalho,o cidadão acredita que, sedenunciar para outros ór-gãos que não sejam as ON-Gs, ele será repreendido.“Ele tem medo de denunciarporque acredita que seráperseguido”, revela Carva-lho. A ONG Olho D’agua, lo-calizada em Arapongas, re-centemente denunciou ouso de fogo e roçagem noVale das Perobas, um espa-ço que abriga muitos ani-mais e perobas com mais de500 anos.

Essas abordagens tam-bém acontecem na ONGMAE – entidade que vem de-senvolvendo um grande pro-jeto de reflorestamento emLondrina, em parceria com aUEL. “A informação chega otempo todo, tanto a denún-cia quanto a cobrança, co-mo se a gente fosse respon-sável por resolver o proble-ma”, relata o advogado e in-tegrante da ONG, CamilloVianna. Ele conta que a enti-dade tenta sempre envolveras pessoas nas ações por-que, muitas vezes, o cidadãose esquece das própriasobrigações.

A importância das ONGsé reconhecida pela promoto-ra do Meio Ambiente, Solan-ge Vicentin. Para ela, é a pró-pria sociedade que ganhacom esse trabalho vigilante.“Elas ajudam os órgãos pú-blicos e muitas vezes até osubstituem”, afirma.

Integrantes da ONGOlho D'água, em

Arapongas, zelampela preservação de

rios e nascentes

16 ESPECIAL AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE I FOLHA DE LONDRINA, QUARTA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2013