fmo_ciganos_e_ciganólogos_2012

Upload: jean-brum

Post on 17-Feb-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    1/21

    CIGANOS E CIGANLOGOS: ESTUDAR CIGANOS PARA QUEM E PARA QU?

    Frans [email protected]

    Estudando os Kalderash .... aprendi que a antropologiano sacrossanta, e que conhecimento deve ser til. Metornei uma iconoclasta, e no poderia ter sido diferente.

    (R. Gropper 1981:8).

    Policiais costumam ser uma presena frequente nos ranchos ciganos, por motivos dos maisdiversos. Polticos mostram sua cara de dois em dois anos, pedindo votos e fazendo promessas quelogo depois das eleies sero esquecidas. Jornalistas e reprteres aparecem espordicamente, emgeral quando a presena dos ciganos incomoda a populao local. A estas trs pragas juntou-se, halgum tempo, uma quarta: os ciganlogos! Parece que nas universidades estudar cigano est

    virando moda e haja estudantes invadindo ranchos ciganos. Entre eles sempre mais estudantes deantropologia.

    Muitos ciganos j encontraram um aprendiz de ciganologia no seu caminho. Se isto noocorreu ainda, fatalmente encontraro. s uma questo de tempo. No h como escapar. Umadas perguntas que os ciganos ento sempre fazem : Para qu serve isto? O que a gente vailucrar com esta pesquisa?. E a resposta quase sempre ser uma mentira. Porque chato dizer averdade: Bem, para vocs ciganos, no vai servir para absolutamente nada, mas para mim vaiservir para ganhar uma bolsa de pesquisa, para obter um diploma universitrio e depois um bomemprego.

    Este artigo se destina principalmente a estudantes de antropologia que pretendem realizarpesquisas sobre ciganos. Veremos primeiro o que os antroplogos brasileiros j fizeram, osproblemas que enfrentam, e para quem e para qu seus estudos servem, ou deveriam servir. Nofinal acrescento dois anexos com sugestes para leituras complementares.

    1. Ciganologia: os estudos acadmicos sobre ciganos no Brasil.

    Informaes sobre ciganos, escritas por cronistas e viajantes, existem desde seu aparecimentona Europa Ocidental no incio do sculo XV. Mas o estudo cientfico dos ciganos relativamenterecente. Em 1783, o alemo Heinrich Grellmann publicou o talvez primeiro livro sobre a histria dosciganos na Europa, que se tornou um sucesso editorial, com tradues em vrias lnguas. No sculoseguinte, vrios outros autores publicaram livros sobre ciganos. Em 1888, intelectuais dedicados aosestudos ciganos fundaram, na Inglaterra, a Gypsy Lore Society, que desde ento publica artigos

    sobre histria, antropologia, sociologia, lingustica, arte, literatura, folclore e msica. Estesintelectuais, oriundos das mais diversas reas acadmicas, ou amadores, passaram a serconhecidos como ciganlogos, praticantes da assim chamada ciganologia, o estudo cientfico dosciganos. Se tudo que eles escreveram e escrevem sobre ciganos realmente cincia, j outraquesto.

    Dois intelectuais podem ser considerados os pioneiros da ciganologia brasileira. O primeiro foiMello Moraes Filho, autor de Os Ciganos no Brasil (1886), livro que contm breves informaes

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    2/21

    2

    sobre a origem e as migraes ciganas, os ciganos na Espanha e em Portugal, a comunidade calonsedentria do Rio de Janeiro, supersties, rituais de casamento, defloramento e funerrios,vestimentas e ornamentos. At hoje lido e citado. O segundo foi Jos Baptista d'Oliveira China,meio sculo depois. Seu livro Os ciganos do Brasil (1936), bem melhor e mais volumoso do que ode Mello Moraes Filho, trata da origem dos ciganos, o seu aparecimento na Europa Central e

    Ocidental, sua chegada na Espanha e Portugal, os ciganos no Brasil, o tipo fsico dos ciganos e sualngua. Nenhumdos dois era antroplogo.

    Os antroplogos comearam a se interessar em ciganos somente uns quarenta anos depois.Ainda hoje so poucos, mas seu nmero est aumentando. Na 19 Reunio Bianual da AssociaoBrasileira de Antropologia, em 1994, nenhuma das 9 mesas redondas e 33 grupos de trabalho tratoude ciganos. Na 25 Reunio da ABA, em 2006, cerca de 1.200 antroplogos apresentaramcomunicaes: somente duas trataram de ciganos. Para a 28 Reunio da ABA, em 2012, estprevisto um Grupo de Trabalho sobre Ciganos no Brasil com a apresentao de dez comunicaese seis painis.

    Como pioneiros da antropologia ciganolgica podem ser citados Maria de Lourdes SantAna(1983) e Moacir Antnio Locatelli (1981). Ambos escreveram dissertaes de mestrado emantropologia sobre ciganos Rom no Centro-Sul do Brasil. Sant'Ana realizou sua pesquisa na cidadede Campinas, em So Paulo, em 1970/72, e Locatelli em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, no finalda dcada de 70.

    E mais uma vez h um longo perodo de silncio. Salvo engano, somente a partir de 1999 foramnovamente apresentadas dissertaes e teses de antropologia sobre ciganos: Maria P. Lopes(1999); Florncia Ferrari (2002 e 2010); Claudia Bomfim da Fonseca (2002); Mirian Alves de Souza(2006); Erisvelton Svio Silva de Melo (2008) e Lailson Ferrari da Silva (2010). Na sociologia tenhoconhecimento apenas de uma dissertao (Dimitri F. de A. Rezende 2000) e uma tese (Maria P.Lopes 2004).

    No pretendo aqui comentar cada trabalho escrito entre 1999 e 2010. Porque diferem muito em

    volume (de uma dissertao de 78 a uma tese de 380 pginas), e principalmente em qualidade (depssima a tima), alm de tratarem dos mais variados assuntos. Consta at uma dissertao sobreciganas de alma! Mas para o leitor cigano e no -cigano ter pelo menos uma idia do contedo,transcrevo os resumos, escritos pelos prprios autores, e que constam nos seus ensaios.

    1. Maria Patrcia Lopes (Sulpino) (1999) - Ser viajor, ser morador: uma anlise da construo daidentidade cigana em Sousa PB. (122pp.)

    [Esta dissertao] objetiva analisar o conceito de etnicidade e a construo da identidade cigana a partir doprocesso de diferenciao social no contexto de Sousa, Estado da Paraba. Este estudo, que aborda questes deidentidade e fronteiras tnicas, remete-se tambm aos elementos selecionados pelos grupos ciganos para a demarcaode suas especificidades, baseando-se em fatos do cotidiano e na memria acerca do passado, poca em que os ciganosviviam como nmades.

    Buscando conhecer a identidade tnica dos grupos ciganos localizados em Sousa-PB, os conceitos de etnicidade eidentidade tnica aparecem como indispensveis, visto que importa-nos compreender como esses grupos se pensam,como constrem a sua ciganidade, a partir de que categorias ou representaes, e que instrumentos so utilizadospara assegurar a sua unidade grupal, levando tambm em considerao um espao mais amplo, politicamente dominadopela sociedade envolvente.

    2. Maria Patrcia Lopes (Goldfarb) (2004)O Tempo de Atrs: um estudo sobre a construoda identidade cigana em Sousa-PB. (188pp.)

    [Esta tese] objetiva analisar a construo da identidade cigana, a partir do processo de diferencia o social nacidade de Sousa, Estado da Paraba. Concebendo a identidade como contrastativa, isto , construda em contextos

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    3/21

    3

    interacionais, busquei analisar diferentes discursos sobre os ciganos no Brasil, que contriburam para a construo deimagens negativas sobre os mesmos. Tais imagens so formadas por estigmas que depreciam os ciganos e repercutemna forma como estes so concebidos pela populao sousense. Este estudo remete-se, ainda, aos elementosselecionados pelos grupos ciganos para a demarcao de suas especificidades culturais, baseando-se em fatos docotidiano e na memria acerca do passado, poca em que viviam como nmades. Assim, pude verificar que os ciganosse pensam e constroem a sua ciganidade a partir de dois elementos bases: a lngua cal e o passado nmade,categorias que so utilizadas para assegurar a sua unidade grupal, uma distintividade cultural que os afastam dacondio de meros favelados.

    3. Florncia Ferrari (2002) - Um olhar oblquo: contribuies para o imaginrio ocidental sobreciganos (264pp.)

    Esta dissertao trata do imaginrio que o Ocidente construiu sobre os ciganos. A partir de obras literriasocidentais (de Cervantes a Garcia Lorca, de Machado de Assis a Raduan Nassar, de Victor Hugo a Virgnia Woolf),buscou-se repertoriar as representaes dos ciganos mais recorrentes, e dar a elas uma interpretao conjunta. O que aadivinhao, o nomadismo, o roubo, a seduo tm em comum para o olhar ocidental? Que papel desempenham osciganos em nosso pensamento? Procurou-se aqui oferecer algumas respostas a essas indagaes.

    4. Florncia Ferrari (2010) - O mundo passa: uma etnografia dos calon e suas relaes com osbrasileiros (380pp.)

    Esta tese uma etnografia de uma rede de parentes de ciganos Calon que se espalha por todo o estado de SoPaulo. O intuito compreender como vivem esses Calon, e, mais especificamente, como criam socialidade no mundodos brasileiros. O cotidiano calon englobado por uma noo fundamental que diferencia calons e gadjs (no ciganos):a vergonha um valor moral que organiza ideias de puro/impuro, sujo/limpo, ancoradas no corpo feminino. Fazer-secalon produzir e mostrarvergonha, em um processo constante de diferenciao em relao aos brasileiros, impuros. Atese explora como a concepo da vergonha se liga viagem, lngua, ao serativo, ao viverapoiado, ao ser parente, es conceitualizaes de temp e espao, criando uma socialidade calon no meio de ns, os gadjs.

    5. Claudia Bomfim Fonseca (2002) - A dana cigana: a construo de uma identidade ciganaem um grupo de camadas mdias no Rio de Janeiro (78pp.)

    Este trabalho tem por objetivo compreender o que leva senhoras das camadas mdias cariocas a procurarem adana cigana e a acreditarem que so ciganas de alma. A pergunta que embasa todo o estudo : Por que na sociedadebrasileira, e mais especificamente na carioca, os ciganos podem ser considerados ladres e perigosos ao mesmo tempo

    que so admirados e encarnam todo o poder de sensualidade positiva? O que se prope que h a construo de umaciganidade que faz parte de uma identidade virtualembasada na religio compartilhada pelo grupo estudado.

    6. Mirian Alves de Souza (2006) - Os ciganos Calon do Catumb: ofcio, etnografia e memriaubana (79pp.)

    Dentro as figuras do urbano na cidade do Rio de Janeiro, os ciganos calon como personagens pertencem quasetodos a duas categorias, a de comerciantes e de oficiais de justia. Os da primeira esto particularmente envolvidos,durante boa parte do sculo XIX, no trfico de escravos africanos, onde controlavam um espectro inteiro da interaotnica. Ao lado dos comerciantes, os oficiais de justia formavam um grupo maior. Ao menos esse o caso dos ciganosque fizeram do Catumbi o seu bairro e de sua atividade no judicirio objeto de transmisso hereditria. Uma gerao depais, filhos e netos renovava-se no quadro da instituio, de maneira que possvel traar linhas de descendncia nasquais todos os membros ocupam o ofcio (ou mais propriamente o mtier) de oficial de justia. Desde que faziam partede uma curiosa estirpe de personagens, preludiada por romancistas, cronistas e viajantes, e qual pertenciam alguns de

    extrema perspiccia e refinada astcia, os ciganos parecem cultivar um saber, uma tcnica especial que os tornam, porassim dizer, talhados para determinadas atividades.

    7. Erisvelto Svio Silva de Melo (2008) - Sou cigano sim: identidade e representao, umaetnografia sobre os ciganos na regio metropolitana do Recife PE(142pp.)

    Os ciganos, ou Roma, so o enfoque deste trabalho, que versa sobre a construo da identidade tnica de noterritorializados, a partir da afirmao de pertena ao grupo Calon. A pesquisa foi motivada pelos questionamentos arespeito de quem so os ciganos que vivem na Regio Metropolitana do Recife-PE e, quando a identidade dos mesmos acionada nas delimitaes de fronteiras com os no ciganos, tendo em vista a constante representao de

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    4/21

    4

    personagens ciganas nos folguedos e brincadeiras da cultura popular e religiosa, encenados por no pertencentes.Foram selecionadas trs famlias residentes nas cidades de Igarassu, Recife e Paulista, que se assumiam enquantociganas. A observao participante e a realizao de encontros com grupos focais formados por integrantes destasfamlias foram as principais tcnicas utilizadas como metodologia.

    8. Lailson Ferrari da Silva (2010) - Aqui todo mundo da mesma famlia: parentesco erelaes tnicas entre os ciganos na cidade alta, Limoeiro do Norte- CE (116pp.)

    O presente trabalho tem como objetivo compreender como diante de um contexto de constante interao com apopulao local, os ciganos da famlia Alves dos Santos, residentes no bairro Cidade Alta, Limoeiro do Norte CE,mantm o sentimento de pertencimento tnico. Para tanto, analiso as relaes sociais entre ciganos e no-ciganos nacomunidade, pois a partir do contato que as fronteiras sociais so delineadas, como os discursos e representaessociais eu so utilizados para qualific-los a partir de estigmas. Alm disso, procuro identificar os elementos utilizadospor estes sujeitos sociais para fundamentarem e legitimarem sua identidade. Assim constatei que alicerados na noode famlia, os ciganos se veem enquanto grupo, buscando na histria/passado nmade, origem e sangue comuns oselementos que fundamentam a sua condio, sendo a linguagem um trao cultural que possibilita estabelecerdiferenciaes objetivas entre os ciganos e os demais moradores da comunidade, tornando-se, portanto, um sinaldiacrtico.

    9. Dimitri Fazito de Almeida Rezende (2000) Transnacionalismo e etnicidade: a construosimblica do Romanesthn (Nao Cigana) (192pp.)

    Este estudo tem como objetivo compreender os processos de construo do Romanesthn (Nao Cigana),atravs das representaes simblicas e prticas cotidianas daqueles diveros grupos rotulados por um mesmo termo ciganos.

    A partir desta discusso sobre a organizao social da comunidade cigana, abordada a questo da etnicidade, daformao de grupos tnicos e de suas fronteiras e identidades. Procurando uma alternativa terica (interpretativista einteracionista) que permitisse a compreenso do fenmeno tnico como experincia (performance) social, dinmica epervasiva, inscrita no contexto das relaes intertnicas, desenvolvemos o conceito de etnizao denotandotransitoriedade e relatividade das aes, identidades e atores, em um processo sociodramtico.

    Finalmente, aplicando anlise da Nao Cigana nossa compreenso sobre o fenmeno tnico como processoperformativo, deparamo-nos com a questo recente da formao das comunidades transnacionais, a modificao dasrelaes entre estas comunidades, e a emergncia de novas identidades e grupos no contexto da globalizao. Portanto,a organizao social cigana (organizao social das categorias tnicas, identidades, fronteiras e ideologias) vista a

    partir deste duplo processo social, de etnizaoe transnacionalismo, caractersticos do mundo contemporneo.Tambm em outras reas acadmicas foram produzidos trabalhos sobre ciganos: Histria:

    Snia Cavalcanti (1994), Rodrigo Corra Teixeira (1998), Isabel C. Medeiros Mattos Borges (2007),Lourival Andrade Junior (2008) e Dbora Soares Castro (2011). Geografia: Solange T. de Lima(1996). Planejamento urbano: Maria de Lourdes Pereira Fonseca (1996). Lingustica: Fbio J.Dantas de Melo (2005 e 2010). Psicologia Clnica: Valria Sanchez Silva (2006); Educao: Silvia R.Chaves de Freitas Simes (2007). Multimeios: Eliane Medeiros Borges (1995) e Regine A. RossiHilkner (2008). Literatura: Ana Paula Castelo B. Soria (2008). Comunicao: Alice Lamari SantosFreire (2009). Letras: Pilar Castro Pereira (2010).

    Nota-se a ausncia de dissertaes e teses nas reas de Sade, Economia, Psicologia Social,Servio Social e Direito. A relao dos trabalhos acadmicos acima incompleta. Devem existiroutros tantos mais, mas cuja existncia ignoro. A quase totalidade indita e apenas uma parte divulgada na internet (por exemplo em http://bdtd.ibict.br). A relao incompleta, ainda, porque nocito monografias de concluso de cursos de graduao, nem artigos. Descobrir ensaiosciganolgicos datilografados antes da era do computador e da internet, e que devem descansarnuma prateleira ou arquivo numa universidade qualquer, praticamente impossvel.

    Observa-se que realizar pesquisas sobre ciganos,no Brasil tarefa de estudantes. Antroplogosj formados e professores de antrpologia aparentemente ainda consideram a ciganologia um ramo

    http://bdtd.ibict.br/http://bdtd.ibict.br/
  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    5/21

    5

    marginal, de baixa categoria e que no d status acadmico. No Brasil, o mais comum o estudantedefender sua dissertao ou tese ciganolgica, obter seu cobiado diploma acadmico, tentarconseguir um emprego numa universidade, e depois para sempre esquecer os ciganos e partir paratemas mais nobres, mais tradicionais das cincias sociais.

    No s no Brasil. Falando da Itlia, Piasere informa que atualmente as melhores monografias

    etnogrficas sobre ciganos tiveram como origem teses universitrias, e que pelo menos 80% doconhecimento sobre ciganos italianos provem de teses de estudantes. Mas ento, aqueles quemostram boa capacidade de trabalho so incitados para no esclerosar-se sobre os ciganos e partirpara a Arbia, a frica e a sia, ou para outros parasos etnolgicos. Poucos continuam os estudosciganos aps a obteno do diploma (Piasere 1989:101).

    2. Problemas para o estudo das minorias ciganas.

    Acredito que muitos abandonam os estudos ciganos no apenas por causa da marginalidade daciganologia no meio acadmico. Os estudantes certamente levam em considerao tambm que serespecialista em ciganos no d emprego para ningum. Mas o abandono tambm pode ser por

    causa de problemas prticos, inexistentes ou menores em outras reas de pesquisa.

    2.1. Problemas para a realizao de pesquisa de campo.

    Ciganos no costumam ser generosos quando solicitados a informar sobre seu modo de vida.Este problema citado por vrios autores, entre os quais SantAna:

    Suas informaes eram contraditrias, sendo constante a mentira, a simples indiferena ou anegativa sistemtica em prestar informaes. Observamos, de incio, o temor de muitos de quefssemos funcionria do govrno ou jornalista e delatssemos algum segredo do grupo, pois norma estabelecida entre os ciganos a proibio de divulgarem quaisquer usos ou costumesinternos. Esta norma no pode ser violada, havendo sanes por parte da comunidade e,

    acreditam, tambm por parte do sobrenatural, por meio da vingana dos antepassados(1983:12).

    Este mutismo declarado tambm em livros escritos por duas ciganas brasileiras. Aristicthafirma que extremamente proibido ensinar o nosso idioma para pess oas no-ciganas. Todocigano autntico conhece esta proibio .... inadmiss vel que um no-cigano venha a conhecermais as nossas tradies, hbitos e costumes do que ns mesmos (1995: 33 e 67). Liechocki nofica atrs: Este meu livro fala ou conta o que pode ser contado; outras coisas sero sempre para osoutros povos um grande segredo e nada dever ser dito. De algumas coisas os no-ciganos deverocontinuar ignorantes (1999: 16). Mais adiante afirma que Em cada tenda cigana exi stem trsespcies de vasos. Este um segredo que no pode ser revelado e, portanto, nada mais ser dito

    (1999: 50). E nada mais disse. Quem comprou seu livro, se arrependeu.Quando no se fecham num mutismo, o problema pode ser a informao errada, ou a mentira.

    Segundo Clbert: Os ciganlogos esbarram incessantemente num muro de silncio ou, o que pior, de mentira deliberada. Faa a mesma pergunta vinte vezes a ciganos e voc receber vinterespostas diferentes (Clbert 1963:132). O belga Yoors, que ainda jovem conviveu durante muitotempo com ciganos nmades, informa praticamente a mesma coisa. O livro de Yoors de 1967 e possvel que ele tenha lido o livro de Clbert, cuja edio francesa de 1963. Diz ele:

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    6/21

    6

    Nas raras ocasies em que os Rom no evitam um real dilogo com os Gadj, suas respostasso quase sempre inconsistentes e confusas. Se uma pergunta era feita a vinte ciganosdiferentes, todas as respostas, como era de se esperar, eram contraditrias. Se a mesmapergunta era feita vinte vezes ao mesmo informante, havia igualmente uma grande diversidadede respostas (Yoors 1987: 51).

    A antroploga Sutherland, que durante dois anos realizou pesquisa entre ciganos Kalderash eLowara na Califrnia, Estados Unidos, acrescenta:

    Os Rom so extremamente reservados e desconfiados de no -ciganos e, em geral, nodesejam que o mundo exterior conhea algo sobre eles. Alguns segredos tm razes prticas,como ocultar de assistentes sociais fontes de renda extras, esconder da polcia atividadesilegais, e assim em diante, mas muitas vezes a dissimulao simplesmente uma barreiraprotetora do seu grupo contra uma sociedade exterior mais poderosa (...) Os Rom .... quasesempre mentem para os gadj. . (e para eles isto) sem dvida um comportamento correto eaceitvel. Por isso, logo desde o incio, decidi conferir cada informao trs vezes, por maistrivial ou insignificante que parecia ser (Sutherland 1986: 29-31).

    Da porque recomendvel sempre avaliar bem os informantes ciganos e no acreditar logo naprimeira resposta. Nem todos os pesquisadores fazem isto. Vejamos apenas um exemplo.

    Numa comunicao apresentada num congresso, e divulgada na internet, as sete (!) autorasescrevem: Os homens, conforme a tradio da comunidade Calon, podem ter at trs mulheres...... Ou seja, as estudantes sugerem que os Calon permitem a poligamia, contrariando a legislaobrasileira. Isto , se ter trs mulheres significa ser casado com trs mulheres. No mnimo elasdeveriam ter perguntado, logo a seguir, (a) se esta uma tradio de todos os Calon ou apenas dogrupo de So Paulo, por elas visitado; (b) quantos homens daquele grupo tinham ou j tiveram trsmulheres; (c) o que as mulheres ciganas achavam desta tradio. As estudantes esqueceram defazer estas e outras perguntas trs, sete ou vinte vezes ao cigano (ou cigana?) que informousobre esta suposta tradio, ou a trs, sete ou vinte ciganos diferentes. Estes ciganos gaiatos, se

    algum dia tiverem oportunidade de ler esta comunicao, o que pouco provvel, devem dar boasgargalhadas: No que as meninas acreditaram!?.

    O problema acima decorre em parte tambm do fato de, quase sempre, os estudantes obteremseus dados atravs de visitas de curta durao, tipo pesquisa relmpago. Chegam na casa dafamlia cigana ou no acampamento, muitas vezes sem avisar antes, e durante algumas horas tentamobter o maior nmero possvel de informaes. Os ciganos, por sua vez, para se livrarem logo destavisita incmoda, muitas vezes respondem aquilo que pensam que o pesquisador gostaria de ouvir,ou ento fantasiam e mentem vontade.

    Os ciganlogos brasileiros ainda no costumam realizar as tradicionais pesquisas de campo,com residncia prolongada (de um a dois anos) na comunidade cigana, utilizando como tcnica

    principal a observao participante, to comum, por exemplo, em pesquisas de comunidadesindgenas e rurais, ou em quilombos. Mas viver com e, na medida do possvel, como os moradoresde uma pequena comunidade durante 24 horas por dia, durante meses ou at anos, permite aopesquisador no apenas registrar o que informam sobre a sua cultura, mas tambm observar asdiferenas entre a cultura ideal e a cultura real, entre aquilo que dizem fazer ou deveriam fazer, eaquilo que na realidade fazem. E isto repetidas vezes. Infelizmente, esta convivncia prolongadacom ciganos ainda no foi observada no Brasil. Nem sequer em comunidades de ciganossedentrios.

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    7/21

    7

    Ciganos nmades ainda existem, mas so cada vez mais raros. E a no ser que o pesquisadordisponha, alm de vontade e oportunidade, tambm de muito tempo e dinheiro, acompanhar osciganos em suas andanas pode ser um grande problema que dificulta ou at impossibilita umapesquisa sria. Por este motivo, a quase totalidade das pesquisas acadmicas foram realizadasentre ciganos sedentrios ou semi-sedentrios. Quando muito os estudantes tiveram um contato

    rpido com ciganos em viagem. Nenhum pesquisador acompanhou, durante um perodo prolongado,os ciganos em suas viagens e soube informar, por experincia prpria, sobre a vida nmade. Tudoque se sabe aquilo que os prprios ciganos informam, e que nem sempre corresponde verdade,principalmente quando se trata de recordaes de um passado distante. Aguentar sol e chuva, fomee sede, andar horas a p ou em cima de um jumento, ser perseguido e enxotado de um lugar paraoutro, ou seja, viver a vida nmade, como fez o no-cigano Yoors, uma coisa; ouvir relatossaudosistas e romnticos outra, completamente diferente. No Brasil, at hoje nenhum ciganlogoviveu a vida nmade.

    2.2. Problemas bibliogrficos.

    A dificuldade de obter bibliografia cigana citada por vrios autores. SantAna (1983), porexemplo, cita apenas cinco estrangeiros (Block 1936, Bloch 1962, Clbert 1965, Yoors 1967, Leland1971), e trs brasileiros (Mello Moraes Filho 1886, China 1936 e Dornas Filho 1948). Nada mal paraquem realizou sua pesquisa no incio da dcada de 70.

    Locatelli (1981), por sua vez, no cita um nico livro de um ciganlogo estrangeiro ou brasileiro.Como justificativa apresenta a quase inexistente bibliografia nas principais bibliotecas do RioGrande do Sul e de outros Estados. Na sua bibliografia constam apenas trs romances, segundo eleprprio sem grande valor cientfico. Observa-se, porm, que ele menciona apenas bibliografia emportugus, e nenhuma em lngua estrangeira, com exceo de um manual de antropologia emespanhol. Isto faz supor que Locatelli no sabia ler nenhuma lngua estrangeira. Um problema aindahoje bastante comum entre universitrios brasileiros, inclusive entre ps-graduandos. Ou seja,

    quando algum afirma no ter encontrado bibliografia ciganolgica, quase sempre est querendodizer que no encontrou bibliografia em lngua portugusa.

    Ao iniciar as pesquisas ciganas em 1992, a pedido do procurador Luciano Mariz Maia, noencontrei um nico livro sobre ciganos nas bibliotecas da Universidade Federal da Paraba. Adquiriruma razovel bibliografia cigana nacional e internacional levou anos e custou bastante dinheiro.Alm disto tive apoio bibliogrfico de parentes, amigos e colegas, brasileiros e europeus. Estudantesnunca dispem de tanto tempo, e raras vezes tm dinheiro suficiente.

    Um problema adicional a relutncia de certos ciganlogos, temendo concorrncia, decompartilharem suas preciosas raridades bibliogrficas com estudantes ou colegas, como sei pelaprpria experincia. No incio da dcada de 90, uma ciganloga paulista inicialmente no permitiu

    que fizesse cpias xerox de parte de sua bibliografia, porque voc nordestino, e meu orientadordisse para no dar bibliografia para nordestinos! Para conseguir pelo menos alguma coisa, tive querenunciar a minha identidade nordestina, e reassumir minha ex-identidade holandesa.

    Em outro caso, um conhecido antroplogo, ento coordenador de um curso de ps-graduao,informou que, mesmo eu pagando antecipadamente todas as despesas, no forneceria cpia deuma dissertao sobre ciganos, apresentada no curso e que interessava no somente a mim comotambm ao procurador Mariz Maia. Mas poderia consultar a dita obra na biblioteca do mestrado.Simples. Bastaria eu viajar apenas 8.000 km, a distncia (ida e volta) entre Joo Pessoa e uma

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    8/21

    8

    cidade no Sul do pas. No estando a dissertao disponvel na internet, e recusando-se tambm aautora de nos fornecer uma cpia digital ou xerocada, s consegui uma cpia trs anos depois,quando fiz amizade com uma pessoa residente naquela cidade.

    Hoje a situao melhorou, graas existncia de bibliotecas ou livrarias virtuais. Mesmomorando no lugar mais distante do Brasil, o estudante pode, pela internet, encomendar livros, por

    exemplo na Livraria Cultura ou na Livraria Saraiva. Inclusive livros estrangeiros. Nem tudo ainda perfeito: em abril de 2012, consultando a www.livrariacultura.com.brsobre a quantidade de livros deautores brasileiros sobre ciganos (livros em catlogo, sem incluir os esgotados), encontrei 4 livrossobre ciganos e 22 sobre esoterismo supostamente cigano (magia cigana, tar, e assuntos afins);na www.livrariasaraiva.com.brconstavam 3 livros sobre ciganos e 25 sobre assuntos esotricos. Istosem incluir obras literrias e livros infanto-juvenis. Ou seja: quase no existem livros srios sobreciganos publicados no Brasil.

    Felizmente, rgos pblicos, universidades, organizaes no governamentais ou os prpriosautores muitas vezes divulgam digitalmente bibliografia cigana. Veja, entre outros, http://bdtd.ibict.br,www.dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/index.html, www.caravanacigana.com, www.amsk.org.br. Noexterior, uma excelente bibliografia cigana pode ser encontrada, gratuitamente, em www.errc.org.(veja o Anexo 1). O rgo governamental portugus ACIDI (ex-ACIME) divulga bibliografia, queinteressa em especial a pessoas que realizam trabalhos prticos entre os ciganos, emwww.acidi.gov.pt. Estes so apenas alguns exemplos.

    Encontrar bibliografia cigana no Google ou no Yahoo ainda problemtico. No Google Brasil, overbete ciganos apresenta cerca de 2 milhes de resultados, gitanos 6 milhes e gypsies quase14 milhes. No Yahoo o pesquisador encontrar mais de 20 milhes de resultados para ciganos,9 milhes para gitanos e 21 milhes para gypsies (em 22.05.2012). O verbete Calon tem cercade 13 e 9 milhes, Rom 87 e 280 milhes, e Sinti cerca de 5 e 6 milhes de resultados,respectivamente. Os nmeros variam constantemente, para mais ou para menos, mas mesmo assimso desesperadores! Mais ainda porque a maior parte trata de assuntos esotricos, artsticos ou

    comerciais. O estudante precisa de muita pacincia e tempo para encontrar bibliografia cigana maissria e aproveitvel. A enciclopdia digital Wikipdia, na qual cada um, amador ou cientista, podedar sua contribuio, divulga informaes boas, mas outras nem tanto, e por isso no recomendvel cit-la como fonte bibliogrfica.

    A falta de bibliografia tem ainda uma outra causa: a dificuldade de divulgar ensaiosciganolgicos. A primeira revista ciganolgica foi o Journal of the Gypsy Lore Socieity, em 1888.Somente na Europa surgiram depois pelo menos 66 outras revistas dedicadas exclusivamente aosestudos ciganos (Pommerat 1987, citada em Piasere 1994: 21). No Brasil ainda no existe umasequer. At publicar um artigo sobre ciganos numa revista de cincias sociais ou histria parece serdifcil. Em 1996 consegui publicar um artigo numa revista de Histria da UFPB, mas o conselhoeditorial pediu que cortasse pelo menos a tera parte do artigo, que era considerado longo demais. A

    verso integral foi em 2001 publicada na revista I Tchatchipen, da Unin Romani, na Espanha.Encontrar uma editora comercial disposta a publicar um livro no-esotrico sobre ciganos

    quase impossvel. A no ser que seja a traduo de livro de ciganlogo estrangeiro (por exemploMartinez 1989 e Fonseca 1996). No Brasil, a quase totalidade dos livros sobre ciganos publicadapor editoras desconhecidas, entre as quais a maioria das editoras universitrias, ou s expensas doprprio autor, em edies limitadas que no so vendidas em livrarias como as Livrarias Cultura eSaraiva, ou outras semelhantes.

    http://www.livrariacultura.com.br/http://www.livrariasaraiva.com.br/http://bdtd.ibict.br/http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/index.htmlhttp://www.caravanacigana.com/http://www.amsk.org.br/http://www.errc.org/http://www.acidi.gov.pt/http://www.acidi.gov.pt/http://www.errc.org/http://www.amsk.org.br/http://www.caravanacigana.com/http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/index.htmlhttp://bdtd.ibict.br/http://www.livrariasaraiva.com.br/http://www.livrariacultura.com.br/
  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    9/21

    9

    2.3. Problemas de orientao acadmica.

    A escassez bibliogrfica afeta tambm a orientao acadmica. Os orientadores podem serexcelentes docentes e pesquisadores, mas a quase totalidade deles, por motivos mais do quejustificveis, sabe absolutamente nada sobre ciganos e nunca leu um livro sobre ciganos, nem antes

    nem depois de assumir a orientao. Por isso, quanto bibliografia cigana, o orientando costumaser obrigado a virar-se por sua prpria conta, sem orientao alguma. Ningum ensina o que nosabe, ou orienta sobre um tema que ele prprio desconhece por completo, nem indica bibliografiaque no tem, no conhece ou nunca leu.

    Para compensar a falta de conhecimentos bibliogrficos sobre ciganos, os orientadorescostumam exigir dos seus orientandos extensas leituras tericas. Piasere (1989), falando daproduo acadmica sobre ciganos na Italia, informa que, embora a escolha destas leituras seja livree caiba aos estudantes, na prtica escolham as teorias preferidas do orientador.Isto , quando estalivre escolha no imposta pelo orientador, que ento exige extensas leituras sobre as teorias desua preferncia e de acordo com sua prpria especializao. Acontece, no entanto, que estasteorias nem sempre so as mais apropriadas. Gropper, uma das primeiras antroplogas a estudar

    ciganos nos Estados Unidos, escreve:Em resumo, nenhuma das atuais teorias antropolgicas parece ser adequada para umaorganizao significativa dos dados sobre ciganos que coletei ou para uma explicao daquiloque observei. () Meu interesse em praticar e ensinar antropologia aplicada agravou meudesencanto, porque preciso de uma teoria que no somente explica o que j observei mastambm prev com razovel sucesso o que acontecer no futuro quando mudanas sodeliberadamente introduzidas. Tambm espero que uma teoria seja capaz de reduzir o abismoentre dados concretos e generalizaes abstratas (1975: 194).

    No Brasil, na melhor das hipteses, o orientador indicar a bibliografia terica da moda (masmuitas vezes nem sequer esta), que em geral pouco tem a haver com a realidade dos ciganos que

    constituem uma minoria tnica sui generis. A impresso que fica que os mestrandos e doutorandosmuitas vezes gastam um tempo enorme para destrinchar arduamente teorias que depois, bem oumal (ou quase sempre de modo algum), orientam suas pesquisas de campo.

    Piasere lembra que o estudante se submete a este sistema porque a finalidade obter um ttuloacadmico, para o que preciso ser aprovado primeiro por seu orientador, e depois por uma bancaexaminadora. O que os ciganos acham, no interessa e ningum pergunta. No Brasil, conforme j foidito, nem o orientador nem os membros da banca costumam ter lido livros sobre ciganos, e menosainda realizaram eles prprios pesquisa de campo entre ciganos. Mas sabem (ou acreditam saber)tudo sobre (algumas) teorias. As vtimas, com certeza, sero os estudantes, e os ciganos.

    Esta situao deve melhorar em breve. Pelo menos parte dos neo-ciganlogos formados apartir do incio deste sculo XXI deve depois ingressar na carreira acadmica e, com o tempo,tambm orientar estudantes de ps-graduao, entre os quais talvez futuros ciganlogos. Esta novagerao poder ento contar com orientadores que pelo menos j leram e escreveram sobre atemtica cigana.

    At l, talvez fosse bom lembrar o comentrio que, em 1892, o ciganlogo portugus AdolfoCoelho fez sobre seu colega brasileiro Mello Moraes Filho (1886):

    Como se v (....) interessante o livro do Dr. Mello Moraes, e mais o fora, se o autor nopreferisse os efeitos literrios ao rigor cientfico e conhecesse um pouco mais de perto a

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    10/21

    10

    literatura etnogrfica europia ou, na falta desse conhecimento, no se perdesse em teorias(Coelho 1892/1995: 248).

    Mais de cem anos depois, a crtica de Coelho continua valendo para a quase totalidade daproduo ciganolgica acadmica no Brasil. Recomendo, portanto, ler tambm alguns livros derenomados antroplogos-ciganlogos estrangeiros, como Rena Gropper (1975), Judith Okely (1983),

    George Gmelch (1985), Anne Sutherland (1986), Michael Stewart (1997) e Paloma Gay y Blasco(1999). Nestes livros, como nos livros do ERRC, o leitor no encontrar teorias. A no ser emGropper, que informa que nenhuma das teorias que aprendeu na universidade servia para estudarciganos. Algo que os mestrandos e doutorandos brasileiros dificilmente tero coragem de dizer aseus orientadores. Gropper teve, e isto quase lhe custou seu PhD.

    3. Ciganologia: para quem e para qu?

    Resta ainda a pergunta: qual foi a contribuio prtica dos estudos acadmicos para a soluoda problemtica cigana, para diminuir ou acabar com a discriminao e marginalizao dos ciganospela sociedade brasileira, para melhorar suas condies de vida, para defender seus direitos como

    cidados brasileiros? Algum destes estudos acadmicos contribuiu para diminuir a ignorncia dosbrasileiros sobre seus conterrneos ciganos? Ou contribuiu para diminuir o medo e os preconceitosque muitos brasileiros costumam ter dos ciganos?

    Os atuais e futuros mestres e doutores em ciganologia podem ter certeza que tambm osciganos fazem, ou em breve faro, um julgamento sobre sua produo ciganolgica. E muitosconcluiro que, salvo uma ou outra exceo, a produo destes mestres e doutores sobre osbrasileiros ciganos serve apenas para a obteno de um belo ttulo, para melhorar o statusacadmico e eventualmente o salrio destes ciganlogos, cuja obra quase sempre ficar indita edepois jogada num arquivo ou numa estante, onde sua utilidade prtica ser apenas a de servir decomida para traas e cupins.

    provavel que, ao fazer este julgamento, os ciganos fiquem revoltados com a conduta dosciganlogos durante e aps a pesquisa. Muitos no permitiro mais ter suas vidas investigadas,responder a questionrios e testes, ser fotografados e filmados, ter suas msicas gravadas ereproduzidas sem receber direitos autorais, ser observados at em suas atividades mais ntimas, serum simples objeto de estudo, tudo isto em nome de uma cincia (?) chamada ciganologia que paraeles no serva para nada, antes pelo contrrio, muitas vezes lhes prejudicial.

    Para conhecer melhor os problemas prticos e os anseios das comunidades ciganas, osciganlogos poderiam comear a ouvir a voz dos prprios ciganos, durante suas pesquisas decampo, ou ento lendo o que os ciganos j falaram e escreveram sobre o assunto (cfr. Moonen2011/2012, os captulos O Movimento Cigano, Polticas Ciganas na Europa e Polticas Ciganasno Brasil). Observaro ento que aos ciganos no falta conhecimento sobre sua identidade (embora

    s vezes existam divergncias internas) ou suas fronteiras intertnicas, bem conhecidas de todos(menos, naturalmente, dos ciganlogos), mas que enfrentam problemas srios nas reas deeducao, sade, habitao, trabalho e renda, segurana e justia, entre outras mais. E sojustamente estes problemas prticos sobre os quais os ciganlogos silenciam por completo. Serque no existem teorias nas antropologias educacional, econmica, psicolgica, poltica, mdica eoutras, capazes de contribuir tambm para a soluo de problemas prticos? Teorias capazes deserem teis para os ciganos? Existem, sim, mas parece que so ignoradas pelos mestrandos edoutorandos em ciganologia, como tambm por seus orientadores.

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    11/21

    11

    Como quase no existe bibliografia sobre esta problemtica escrita por autores brasileiros,recomendo, como exemplo, a leitura de pelo menos alguns dos livros publicados pelo EuropeanRoma Rights Center ERRC, que podem facilmente ser encontrados em www.errc.org. O nicoproblema que o estudante deve saber ler ingls. Alm dos 24 trabalhos citados no Anexo 1, oERRC ainda publica a revista Roma Rights e inmeros documentos, alm de notcias. Existem

    outros livros semelhantes como, por exemplo, os do Helsinki Watch (1991, 1992, 1993), mas queno esto disponveis na internet.

    Em 1988 publiquei um pequeno livro sobre Antropologia Aplicada, hoje esgotado. Ou seja, antesde iniciar meus estudos ciganos, em 1992. Tomo a liberdade de transcrever, com algumasadaptaes, vrias partes que, a meu ver, continuam vlidas ainda hoje tambm para osciganlogos brasileiros. Nas partes transcritas a seguir, os termos nativos e ndios, que constamno texto original, foram substituidos por ciganos, inclusive nas citaes. Tenho certeza que osautores citados concordariam com esta troca. Se quiser, o leitor pode ainda substituir as palavrasantropologia e antroplogo por ciganologia e ciganlogo.

    4. Ciganologia Aplicada.

    Bastide finaliza a introduo de seu livro sobre antropologia aplicada afirmando: "AAntropologia Aplicada ... se constitui, sem dvida, no mais apaixonante captulo da Antropologia,mas tambm, por certo no mais decepcionante para o leitor que contava com amanhs triunfantes.Ele nos perdoar se este livro lhe deixar, o mais das vezes, apenas um gosto de cinza e sangue"(Bastide 1979: 8).

    No sem motivo. Infelizmente a antropologia nem sempre tem servido para fins ticamentejustificveis, nem para as pessoas ou para as instituies certas. Na prtica, tem-se usado eabusado da antropologia para os mais diversos fins. Muitos trabalhos antropolgicos foram utilizadossem o conhecimento e sem o consentimento dos seus autores. Alguns antroplogos pensavam queestavam fazendo um trabalho correto, mas outros tambm, simplesmente, venderam os seus

    servios a quem pagava mais. Ou seja, prostituiram a sua cincia, a antropologia que, alm de umacincia do Homem por excelncia, tambm pretende ser uma cincia para o Homem.

    Exemplos so a antropologia colonialista europia e a antropologia imperialista norteamericana.Na primeira metade do sculo XX, surge na Europa a chamada antropologia colonial, a servio dosadministradores colonais para a soluo de problemas entre colonizadores e colonizados, visando amanuteno do sistema de dominao e explorao colonial. Nos Estados Unidos, os militaressolicitaram a colaborao dos antroplogos durante a II Guerra Mundial para obter informaesestratgicas, informaes sobre os povos inimigos, seus territrios e seus costumes. Anos depois,antroplogos foram utilizados em servios de espionagem e em programas contra-revolucionrios naAmrica Latina, na sia e na ndia. Os resultados, em geral, tm sido mnimos.

    Segundo Kuper, a antropologia colonialista britnica na frica foi um fracasso, porque ointeresse dos antroplogos era, em primeiro lugar, fazer carreira acadmica, e isto s era possvelsendo um bom terico. Antropologia aplicada era considerada uma antropologia de segunda classe,para os menos inteligentes, para aqueles que eram fracos em teorias. Tanto na universidade quantofora dela, o importante era ser reconhecido como um bom terico, o que facilitava as promoes nacarreira universitria e a obteno de verbas para pesquisas (Kuper 1978: 136).

    Malinowski comeou a se interessar nas aplicaes da antropologia somente no final de suavida. Dele devem ser lembradas as seguintes palavras:

    http://www.errc.org/http://www.errc.org/
  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    12/21

    12

    "Cada profisso, tambm a de um especialista cientfico, tem uma obrigao moral. O dever doantroplogo o de ser um intrprete justo e verdadeiro dos ciganos. Esta obrigao no decorreapenas do agradecimento pelos benefcios recebidos, em forma de informaes, boa vontade egenerosidade. Ela tambm uma prova de que o pesquisador entende, ou deve entender, ascondies sob as quais o cigano vive. Ele deve ser capaz de esclarecer ... de que o cigano

    realmente necessita. (..) E o antroplogo que no consegue entender isto, (...) este vive, cobertocom poeira acadmica, num paraso de loucos" (1951: 27-28).

    Muitas vezes os antroplogos agradecem calorosamente a colaborao que receberam dos"amigos" ciganos, s vezes citados nominalmente. Nunca antroplogo brasileiro algum citou seusinimigos ciganos. Sem dvida alguma, um antroplogo que passa meses, s vezes anos,convivendo com um povo cigano, faz muitos amigos e amigas. Caso contrrio, nem aguentaria ficartanto tempo no local. Mas quase sempre faz tambm inimigos, nem que sejam os inimigos dos seusamigos. Nestes casos, sempre ouve-se apenas a voz do antroplogo. Mas ser que os ciganospensam da mesma forma, e que tambm eles nos consideram seus amigos?

    Pensando bem, quem de ns gostaria de ser objeto de estudo de um antroplogo, aquelesujeito que se dedica a atividades to desagradveis como fofocar sobre a vida alheia, bisbilhotar avida ntima das pessoas, fazer perguntas indiscretas e embaraosas, alm de atrapalhar a vidafamiliar e comunitria? Tudo isto para depois escrever artigos e livros que os pesquisados nuncatero oportunidade de ler, e menos ainda de criticar. J tempos atrs, Malinowski confessou:

    .... deixei de representar um elemento perturbador na vida tribal. Sabendo que eu metia onariz em tudo, at mesmo nos assuntos em que um nativo bem educado jamais ousariaintrometer-se, os nativos realmente acabaram por aceitar-me como parte de sua vida, como ummal necessrio, como um aborrecimento mitigado por doaes de tabaco (1978).

    Mas ningum melhor para falar do assunto do que Vine Deloria, ndio sioux norte-americano,num delicioso ensaio intitulado "Antroplogos e outros amigos" (1970, cap. 4). Deloria inicia seuensaio dizendo que na vida de todos ns, alguma coisa de ruim tem que acontecer, uns tm isto,

    outros tm aquilo, "mas os ciganos tm sido amaldioados mais do que qualquer outro povo nahistria: os ciganos tm antroplogos", que infestam seus acampamentos e invadem suas barracas,a cada ano inventando teorias diferentes mas que, para os ciganos, no servem para absolutamentenada. Isto, porque o antro geralmente se dedica a pesquisa pura. Pesquisa pura um amontoadode conhecimento absolutamente desprovido de aplicao prtica", alm de ser impossvel de serdigerido, irrelevante e que resulta apenas num "volume massivo de conhecimento intil" sobreciganos. No sem motivo que Deloria chama os amigos antroplogos de parasitas e abutresideolgicos da sociedade cigana".

    Tambm Darcy Ribeiro, um dos mais renomados antroplogos brasileiros, no esconde suascrticas aos colegas antroplogos:

    "A antropologia brasileira no nada do que possamos nos orgulhar (...) Temos antroplogoque inimigo do cigano, temos antroplogo que indiferente ao cigano, ou antroplogo, o que muito frequente, que est interessado em aprender do cigano. Ele vai l, tira do cigano o que necessrio para fazer suas tesezinhas doutorais, para fazer sua carreira universitria, mas queno quer saber do cigano, seno para manipul-lo em favor prprio. E muitos deles nuncachegam mesmo a entender, porque j vo para os ciganos apenas para ilustrar uma tesezinhado professor estrangeiro para obter o doutorado, e permanece sempre um alienado (...). Estesno prestam para nada, nem para a cultura brasileira, nem para os ciganos" (1979: 94).

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    13/21

    13

    Basta substituir as palavras antropologia e antroplogo por ciganologia e ciganlogo, e a citaoacima vale ainda hoje tambm para a ciganologia brasileira, muitas vezes uma ciganologia alienadaque nenhum benefcio traz para os ciganos.

    Portanto, um diploma de mestre ou doutor no transforma automaticamente seu portador numdefensor dos direitos e dos interesses das minorias tnicas. No o ttulo acadmico, mas a

    ideologia e a personalidade do antroplogo que o transforma, ou no, num defensor das minoriastnicas e sociais.

    O que ento poderia e deveria ser feito para garantir o bem-estar dos ciganos? As respostasvariam de acordo com o grupo cigano estudado, mas existem vrias maneiras pelas quais oantroplogo pode ser til aos ciganos. Darcy Ribeiro, por exemplo, cita: (1) denunciar frente opinio pblica cada atentado contra os grupos ciganos; (2) buscar formas de devolver aos ciganose outras populaes que estudamos aquela parte do conhecimento que deles alcanamos, que lhespossa ser til em seus esforos para sair da dramtica situao em que se encontram; (3) incluir natemtica dos nossos estudos, com marca de prioridade, os problemas de sobrevivncia, delibertao e de florescimento dos grupos ciganos (1977: 487).

    Como se v, oportunidades para ser til ao cigano no faltam. Talvez haja antroplogosbrasileiros engajados em uma ou vrias das atividades citadas acima, ou em outras, igualmenteteis para os ciganos. Mas sero poucos, porque no Brasil a antropologia aplicada continua com umbaixssimo status nos meios acadmicos nos quais, pelo menos na rea das Cincias Sociais, ovalor de um trabalho cientfico parece ser medido por seu grau de inutilidade para os povosestudados: quanto mais intil, maior o seu valor cientfico, e maior o prestgio (e posterior riqueza) docientista social!

    Infelizmente temos que constatar que, no Brasil, a antropologia ainda uma disciplina quaseque exclusivamente acadmica, terica, que no est voltada para a soluo de problemas prticos.Hoje existem cursos de graduao, mestrado e doutorado em antropologia, mas, salvo engano, emnenhum curso existe a disciplina Antropologia Aplicada. O tema tambm no costuma ser abordado

    em congressos antropolgicos. Para tornar a antropologia numa cincia til, algo ter que mudar noensino da disciplina.

    O que ento os cursos de antropologia deveriam ensinar? A resposta a esta pergunta s podeser dada se antes respondermos a duas outras perguntas: para quem e para qu deve servir aantropologia? S ento podemos discutir o que e como ensinar. Antes temos que ver, portanto, aquesto da tica profissional.

    Quanto ao para quem, no h dvidas: todos concordam que a nossa primeiraresponsabilidade para com as pessoas, objeto das nossas pesquisas. J em 1959 Moreira Netoescrevia que o conhecimento obtido pelo antroplogo traz em si implcita certa responsabilidadecom respeito ao destino das populaes que estuda. Prope que cada antroplogo, ao elaborar os

    dados de interesse cientfico, colhidos em suas pesquisas de campo, deve tambm discutir asameaas que se antepem ao destino dos povos que estuda (1959: 49 -64).

    Tambm est claro o para qu: o bem-estar do grupo estudado, a melhoria de suas condiesde vida, a sua sobrevivncia, a soluo dos seus problemas. Uma vez admitido o primeiro princpio,no pode haver dvidas quanto aceitao deste segundo.

    Mas ser que os cursos de graduao e de ps-graduao transmitem aos futuros antroplogosno somente estes princpios ticos, como tambm o devido preparo tcnico e cientfico para estas

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    14/21

    14

    tarefas? Qual a contribuio que nestes cursos eles aprendem a dar, como antroplogos, amovimentos reivindicatrios de ndios, negros, ciganos, camponeses ou grupos marginais urbanos?Aprendem teorias e tcnicas que posteriormente lhes sejam teis para trabalhar, como antroplogos,em comunidades indgenas, quilombos ou grupos ciganos, em cooperativas camponesas, emfavelas, em associaes de bairro, em sindicatos, escolas, fbricas, hospitais, hospcios ou prises?

    A resposta, obviamente, negativa. Aprendem como destrinchar estruturalisticamente um mitoindgena, sabem discursar sobre representaes e diacrticos, e filosofar sobre o imaginrio doproletariado urbano. Aprendem uma belssima antropologia acadmica, mas na maioria das vezescompletamente intil, ou at prejudicial, para as pessoas investigadas, uma antropologia desumana,amoral, totalmente contrria aos princpios bsicos da tica profissional que, salvo engano, noconsta como disciplina em nenhum curso de antropologia no Brasil.

    J seria um grande avano se pelo menos nos conscientizssemos destes problemas ticos ecientficos, o que seria o primeiro passo para mudanas posteriores. Em primeiro lugar, deve-seexigir dos antroplogos uma atitude crtica. Devemos ter a coragem de descrever a realidadenacional como ela , e no do modo que aqueles que esto no poder desejam que ela sejaapresentada. Evidentemente, dizer e escrever a verdade nem sempre muito apreciado. Daporque, no Brasil, os antroplogos crticos no gozam de muita popularidade e s vezes at soperseguidos. Basta lembrar que durante a ditadura militar antroplogos foram proibidos de entrar emreas indgenas, para que a sociedade brasileira no tomasse conhecimento da situao dramticaem que vivem praticamente todos os grupos indgenas. Proibia-se a pesquisa para esconder averdade.

    Uma atitude crtica implica numa atitude poltica. E aqui poderamos citar as palavras de Mills:A poltica do intelectual a poltica da verdade (...) O princpio bsico de sua polt ica descobrirtanto da verdade quanto puder e diz-la s pessoas certas, na hora certa, e de maneira certa (...). Ointelectual deve ser a conscincia moral de sua sociedade (Mills, apud Berreman 1969: 805-19).

    Na realidade, isto no acontece. Tudo leva a crer que a maioria dos antroplogos brasileiros

    tenha optado pela neutralidade poltica. Mas, diz Berreman, no dizer nada no significa ser neutro.Dizer nada um ato to significativo como dizer algo. Ser descomprometido no ser neutro, mas ser comprometido conscientemente ou no com o status quo. No mesmo sentido se pronunciaKeesing: Se algum no noticia opresso ou injustia ou explorao porque somente um cientistae cincia no se preocupa de questes polticas, ento mope e est se iludindo a si mesmoquanto objetividade. Em ltima anlise, amoralidade imoralidade (1976).

    Alm de uma mudana de atitude, ser necessria tambm uma revoluo acadmica, queinclui uma reviso profunda das teorias antropolgicas e dos mtodos e das tcnicas de pesquisa.Muitas disciplinas que atualmente so ensinadas em cursos de graduao e de ps-graduaopouco ou nada contribuem para a formao de antroplogos que pretendem futuramente se dedicar anlise e soluo de problemas prticos. Ser necessrio eliminar disciplinas estreis eintroduzir outras, necessrias para a formao de antroplogos profissionais, comprometidos com odestino dos povos por eles estudados.

    A oposio de muitos professores ser violenta, simplesmente porque eles no sabero ensinaraquilo que lhes ser exigido, j que eles prprios nunca o aprenderam, nem na teoria, nem naprtica. Vero ameaadas suas cmodas posies acadmicas, o status (e eventuais mordomias)de professor de ps-graduao, que para muitos algo sagrado, e em defesa do qual so capazesde sacrificar tudo, inclusive a prpria antropologia.

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    15/21

    15

    Enquanto esta revoluo acadmica no vier, muitos antroplogos continuaro com sua atitudeabsenteista, ou a prostituir a sua cincia, vendendo seus servios para as pessoas erradas, para finsticamente duvidosos ou condenveis. A antropologia brasileira continuar alienada da realidade deuma sociedade com tantos problemas que exigem soluo urgente, um luxo suprfluo e intil, umacincia abstrata que deixa apenas um gosto de cinza e sangue.

    Recife, maio de 2012

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.

    Andrade Junior, L. 2008. Da barraca ao tmulo: cigana Sebina Christo e a construo de umadevoo, Curitiba: UFPR (tese de Histria)

    Aristicth, J. 1995. Ciganos: a verdade sobre nossas tradies , Rio de Janeiro: Irradiao CulturalBastide, R.1979.Antropologia aplicada, So Paulo: PerspectivaBerreman, G. 1969. Est viva la antropologia? La responsabilidad social en la antropologia social,

    Amrica Indgena, vol. 29, n 3, pp. 805-819Bloch, J. 1962. Los Gitanos, Buenos Aires: Editorial UniversitriaBlock, M. 1936. Moeurs et coutumes des Tziganes, Paris: PayotBorges, E. Medeiros. 1995. Entre a exuberncia e o mistrio: um olhar etnogrfico sobre a mulher

    cigana, Campinas: Unicamp (dissertao de Multimeios)Borges, L. C. Medeiros Mattos. 2007. Cidades de portas fechadas: a intolerncia contra os ciganos

    na organizao urbana na Primeira Repblica, Juiz de Fora: UFJF (dissertao de Histria).Castro, D. Soares. 2011. O olhar de si e o olhar dos outros: um itinerrio atravs das tradies e da

    identidade cigana, Porto Alegre: PUCRS (dissertao de Histria)Cavalcanti, S. M. Ribeiro Simon. 1994. Caminheiros do destino, So Paulo: PUC/SP (dissertao de

    Histria).China, J. dOliveira. 1936. Os ciganos do Brasil, Revista do Museu Paulista, Tomo XXI, pp. 323-

    669 [existe uma separata deste ensaio em forma de livro, e que comea na pgina 1].Clbert, J.P. 1965. Los Gitanos, Barcelona: AymCoelho, A. 1995(1892), Os ciganos de Portugal, Lisboa: Dom QuixoteDeloria, V. 1970. Custer died for your sins: an indian manifesto, New York: AvonDornas Filho, J. 1948. Os ciganos em Minas Gerais, Rev. do Inst. Histrico e Geogrfico de Minas

    Gerais, Vol. III, pp. 138-187Ferrari, F.. 2002. Um olhar oblquo: contribuies para o imaginrio ocidental sobre ciganos, So

    Paulo: USP (dissertao de Antropologia)---- 2010. O mundo passa: uma etnografia dos calon e suas relaes com os brasileiros, So Paulo:

    USP (tese de Antropologia Social)Freire, A. L. Santos. 2009. `Escute, gajon`: cinema documentrio, dinmica cultural e tradio

    seletiva numa pesquisa audiovisual com os ciganos Calon de Mamba, Gois, Braslia: UnB(dissertao de Comunicao)

    Fonseca, C. Bonfim da. 2002.A dana cigana: a construo de uma identidade cigana em um grupode camadas mdias no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: UFRJ (dissertao de Antropologia)

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    16/21

    16

    Fonseca, I. 1996. Enterrem-me em p: a longa viagem dos ciganos, So Paulo: Companhia dasLetras

    Fonseca, M. de L. Pereira. 1996. Espao e cultura nos acampamentos de Uberlndia, Braslia: UnB(dissertao de Planejamento Urbano).

    Gay y Blasco, P. 1999. Gypsies in Madrid: sex, gender and the performance of identity, Oxford: Berg

    Gmelch, G. 1985(1977). The irish Tinkers: the urbanization of an itinerant people, Illinois: WavelandPressGropper, R. 1975. Gypsies in the city: culture patterns and survival, Princeton: Darwin Press---- 1981. The care and feeding of an anthropologist, IN: Salo, M. (ed.), The american Kalderas:

    gypsies in the New World, Hackettstown: Gypsy Lore Society, North American ChapterPublications n 1, pp. 1-9.

    HELSINKI WATCH. 1991a. Destroying ethnic identity: the gypsies of Bulgaria. New York: HumanRights Watch

    --- 1991b. Destroying ethnic identity: The persecution of gypsies in Romania. New York: HumanRights Watch

    --- 1992 Struggling for ethnic identity: Czecholovakias endangered Gypsies. New York: HumanRights Watch

    ---- 1993. Struggling for ethnic identity: the Gypsies of Hungary. New York : Human Rights WatchHilkner, R. A. Rossi. 2008. Ciganos, peregrinos do tempo: ritual, cultura e tradio, Campinas:

    Unicamp (tese de Multimeios)Keesing, R. 1976. Cultural anthropology: a contemporary perspective, New YorkKuper, A. 1978.Antroplogos e antropologia, Rio de Janeiro: Francisco AlvesLeland, Ch. 1971. Gypsy Sorcery and Fortune Telling, New York: Dober PublicationsLiechocki, S. E. 1999. Ciganos: a realidade, Niteri: Heresis.Lima, S. T. de. 1996. Paisagens & Ciganos, Rio Claro: UNESP (tese de Geografia)Locatelli, M. 1981. O ocaso de uma cultura: uma anlise antropolgica dos ciganos , Santa Rosa:

    edio do autor (dissertao de Antropologia)Lopes, M. P. 1999. Ser viajor, ser morador: uma anlise da construo da identidade cigana em

    Sousa PB, Porto Alegre: UFRGS (dissertao de Antropologia)---- 2004. O Tempo de Atrs: um estudo de construo da identidade cigana em Sousa PB, Joo

    Pessoa: UFPB (tese de Sociologia)Maia, L. Mariz. 1995. The rights of the Gypsies under English and Brazilian Law, London: School of

    Oriental and African Studies, LMM Essay.Malinowski, B. 1951. Die Dynamik des Kulturwandels, Wien: Humboldt Verlag----- 1978.Argonautas do Pacfico Ocidental, So PauloMartinez, N. 1989. Os Ciganos, Campinas: Ed. PapirusMello Moraes Filho. 1981 [1886/1885]. Os ciganos no Brasil & Cancioneiro dos ciganos, Belo

    Horizonte: ItatiaiaMelo, E. S. Silva de. 2008. Sou cigano sim!: identidade e representao, uma etnografia sobre os

    ciganos na regio metropolitana do Recife PE, Recife : UFPE ( dissertao de Antropologia)Melo, F. J. Dantas. 2005. Os ciganos Calon de Mamba: a sobrevivncia de sua lngua , Braslia:

    Thesaurus (dissertao de Lingustica UnB)----- 2010.A lngua da comundade calon da regio norte-nordeste do estado de Gois, Braslia: UnB

    (tese de Lingustica)Moonen, F. 1988.Antropologia Aplicada, So Paulo: tica (Srie Princpios 161)---- 1993. Ciganos Calon no serto da Paraba, Brasil, Joo Pessoa: PR/PB .---- 1994. Ciganos Calon no serto da Paraba, Joo Pessoa: Cadernos de Cincias Sociais, UFPB

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    17/21

    17

    ---- 1996. A Histria esquecida dos ciganos no Brasil, Saeculum: Revista de Histria, JooPessoa/UFPB, n 2, pp.123 -138.

    ---- 2000a. Rom, Sinti e Calon: os assim chamados ciganos, Recife [www.dhnet.org.br]---- 2000b.As Minorias Ciganas: direitos e reivindicaes, Recife [www.dhnet.org.br]---- 2000c. Ciganos Calon na Paraba, Brasil (1993), Recife [ www.dhnet.org.br]

    ---- 2001. Historia de los gitanos de Brasil, I Tchatchipen, n 34, pp. 4-18---- 2008a/2011a.Anticiganismo: os ciganos na Europa e no Brasil, Recife [www.dhnet.org.br]---- 2008b/2011b. Ciganos Calon no serto da Paraba: 1993 e 2000, Recife [www.dhnet.org.br]--- 2012.Anticiganismo e polticas ciganas na Europa e no Brasil, Recife [www.caravanacigana.com]Moreira Neto, C. 1959. Relatrio sobre a situao atual dos ndios Kayap, Revista de

    Antropologia, 7(1/2), pp. 49-64Okely, J. 1983. The traveller-gypsies, Cambridge: Cambridge University Press.Pereira, P. de Castro. 2010. Re-memory and construction of the romani identity: a reading of the

    Eight Sin` by Stefan Kaufer, and `Zoli ` by Colum McCann, Rio de Janeiro: UERJ (dissertaode Letras)

    Piasere, L. 1989. Les amours des tsiganologues, In: Williams, P. (ed.). Tsiganes: identit, volution,Paris: tudes Tsiganes/Syros Alternatives, 1989, pp. 99-110

    ---- 1994. Les Tsiganes sont-ils bons penser anthropologiquement?, tudes Tsiganes 2/1994,pp. 19-38

    Rezende, D. F. de Almeida. 2000. Transnacionalismo e etnicidade: a construo simblica doRomanesthn (Nao Cigana), Belo Horizonte: UFMG (dissertao de Sociologia)

    Ribeiro, D. 1977. Os protagonistas do drama indgena, Actes du XLII Congrs International desAmericanistes, Paris, Vol. 2

    ---- 1979. Antropologia ou a Teoria do Bombardeio de Berlim, Encontros com a CivilizaoBrasileira, n 12

    SantAna, M. de L. 1983. Os ciganos: aspectos da organizao social de um grupo cigano emCampinas, So Paulo: USP (dissertao de Antropologia)

    Silva, L. Ferrari da. 2010. Aqui todo mundo da mesma famlia: parentesco e relaes tnicasentre os ciganos na cidade alta, Limoeiro do Norte CE, Natal: UFRN (dissertao de CinciasSociais)

    Silva, V. Sanchez. 2006. Devir cigano: o encontro cigano no cigano (rom gadj) como elementofacilitador do processo de individuao, So Paulo: PUC (dissertao de Psicologia Clnica)

    Simes, S. R. Chaves de Freitas. 2007. Educao cigana: entre-lugares entre escola e comunidadetnica, Florianpolis: UFSC (dissertao de Educao).

    Soria, A. P. C. B. 2008. Entre a dor de ser cigano e o orgulho de ser rom, Braslia: UnB(dissertao de Literatura)

    Souza, M. Alves de. 2006. Os ciganos calon do Catumb: ofcio, etnografia e memria urbana,Niteri: UFF (dissertao de Antropologia)

    Stewart, M. 1997. The time of the gypsies, Oxford: Westview PressSutherland, A. 1986. Gypsies: the hidden americans, Illinois: Waveland PressTeixeira, R. Corra. 1998. Correrias de ciganos pelo territrio mineiro (1808-1903), Belo Horizonte:

    UFMG (dissertao de Histria publicada em 2000 e 2007)----- 2000. Histria dos ciganos no Brasil, Recife. [ www.dhnet.org.br]----- 2007. Ciganos em Minas Gerais: breve histria, Belo Horizonte: CrislidaYoors, J. 1987 [1967]. The gypsies, Prospect Heights, Illinois: Waveland Press

    http://www.dhnet.org.br/http://www.dhnet.org.br/
  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    18/21

    18

    ANEXO 1Bibliografia do European Roma Rights Center (ERRC)

    Budapest [www.errc.org]

    1.1. Relatrios nacionais (Country Reports)

    01. Divide and deport: Roma & Sinti in Austria (1996).Introduction; The racist climate; Roma and Sinti in political Austria;The new situation (illegalized poverty accommodation according to the standards of the community the evaporating legitimacy); Invasion of privacy: theinvitation to public violence; Summary: the exclusion machine; Roma and Sinti among asylum-seekers in Austria;Falling out: the schusshaft system; Conclusion: deporting the poor; A just settlement: recommendations of the ERRCto the austrian government.

    02. Sudden rage at down: violence against Roma in Romania [1996].Past abuses not yet rectified; Official violence (raids without justification raids for illegal domicile raids to fight crime); Use ofexcessive force by law enforcement officials; Conclusion: claiming legal rights; A just settlement: recommendations of the ERRCto the romanian government.

    03. Time of the skinheads: denial and exclusion of Roma in Slovakia [1997].Introduction; Racially-motivated attacks against Roma; The denial of roma rights in Slovakia; Exclusion (linguistic exclusion geographic exclusion); Conclusion: the patronizing state; A just settlement: recommendations of the ERRC to the slovakgovernment.

    04. The misery of law: the rights of Roma in the Transcarpatian region of Ukraine [1997].Roma in Transcarpathia; Crime prevention and crime investigation; Roma in the criminal justice system; The effect of land reformon Roma; Inequality before the law: Roma and other minorities in Transcarpathia; Uzhorod school 13; Transcarpathian Roma inregional perspective; A just settlement: recommendations of the ERRC to the ukranian government.

    05. No Record of the Case: Roma in Albania [1997].Introduction; Hate crime: the killing of Fatmir Haxhiu; Police abuse of Roma in Albania; Community violence; Discriminatory

    treatment of Roma; Political manipulation of albanian Roma; Albanian Roma abroad; In the Human Rights Office; Epilogue: thelogos os chaos; A just settlement: recommendations of the ERRC to the albanian government.

    06. Profession: Prisoner Roma in detention in Bulgaria [1997].Introduction; Roma in Bulgaria: overview; Recently documented abuse of Roma by the police; Roma in places of detention inBulgaria ( abuse of Roma in police detention facilities abuse of Roma in investigation detention facilities prisons: over-representation of Roma); Conclusion: inadequate judicial response to abuse by authorities; A just settlement: recommendations ofthe ERRC to the bulgarian government.

    07.A Pleasant Fiction: the Human Rights situation of Roma in Macedonia [1998].Introduction; Germany I; Roma made stateless by the Act on Citizenship of the Republic of Macedonia; Ethnic tensions on therise; You gypsies dont know how to live properly: police and judicial abuse of Roma in Macedonia; Uncertain ground: abuse ofRoma by municipal authorities; Abuses of political rights of Roma in Macedonia; Education: a lost generation of romani youth;

    Servive bans on Roma in public establishments; Conclusion: Germany II; A just settlement: recommendations of the ERRC to thegovernment of the Republic of Macedonia.

    08.A special remedy: Roma and schools for the mentally handicapped in the Czech Republic1999].Introduction: Roma in the Czech Republic; Roma and schooling in Bohemia, Moravia and Silesia; Roma in remedial specialschools in he Czech Republic; Allocation to remedial special schools; Abuse in remedial special schools; Getting out of remedialspecial schools; Remedial special schools as romani ghettos Opava district as czech microcosm; Czech basic schools: sourceof damaged romani children; Further limits on the right to education: the 1992 Act on czech citizenship and the education ofromani children; Minority education; Violations of the right to education as the key to other roma rights issues in the Czech

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    19/21

    19

    Republic; Conclusion: blaming the romani family; A just settlement: recommendations of the ERRC to the government of theCzech Republic.

    09. Campland: racial segregation of Roma in Italy [2000].Introduction; Roma in Italy: racial segregation; Abuses by police and judicial authorities; Violence against Roma by non-stateactors; Discriminatory treatment of Roma in the provision of public services; Denying Roma the right to education in Italy; The right

    to employment; Conclusion: racial discrimination; A just settlement: recommendations of the ERRC to the government of Italy.

    10. State of impunity: Human Rights abuse of Roma in Romania [2001].Introduction; Roma in Romania: slavery, rejection, persecution; Denial of justice; State of impunity: violent abuseson-going; Abuse of political rights of Roma in Romania; Child homelessness and institutionalisation; Disccriminationagains Roma (housing medical care employment access to goods and services); Roma in the educationsystem of Romania (exclusion from school racial segregation racially-motivated abuse teacher neglect schoolabandonment); The Strategy of the government of Romania for improving the condition of the Roma; Conclusion:Roma rights in Romania; A just settlement: recommendations of the ERRC to the government of Romania.

    11. The limits of Solidarity: Roma in Poland after 1989 [2002].Introduction; Roma in Poland: Orbis Exterior; Racially motivated attacks on Roma; No protection and no remedy forracially motivated violence; Police abuse of Roma; Discrimination against Roma (adequate housing medical care

    employment social welfare support public services refusals to register Roma); Roma in the polish educationsystem; The Malopolska Programme; Conclusion; Recommendations.

    12. Cleaning operations: excluding Roma in Greece [2003].Introduction; A short history of Roma in Greece; Cruel, inhuman and degrading treatment: the housing rights ofRoma in Greece; Police violence against Roma; Exclusion of Roma from the education system; Barriers to access tohealth care and other social support services; Anti-discrimination law and government programmes on Roma;Conclusion: cleaning operations; Recommendations.

    13. The non-constituents: rights deprivation of Roma in post-genocide Bosnia and Herzegovina[2004].Introduction; The history of Roma in Bosnia and Herzegovina; Roma in the 1992-1995 war; Romani representation in

    the Dayton State; Citizenship and access to personal documents; The treatment of romani refugees in Bosnia andHerzegovina; Police abuse of Rom; Racially motivated attacks on Roma; Housing and property rights of Roma inBosnia and Herzegovina; Other social and economic rights (employment social security health care educationaccess to public places and services); Government efforts to date to address the situation of Roma and other weakgroups; Conclusions.

    14. In search of happy gypsies: persecution of pariah minorities in Russia [2005].Introduction: anti-romani racism; A short history of Roma in Russia; Racially-motivated violence and abuse of Romaby law enforcement officials; Discrimination against Roma in the criminal justice system; Abuse of roma rights bynon-state actors; hate speech against Roma in the media; Access to personal documents; Discrimination in accessto social and economic rights; Abuse of romani womens rights; Roma rights in the context of the national culturalautonomy; Conclusions; Recommendations.

    15.Always somewhere else: anti-gypsyism in France [2005].Introduction: a climate of racism against travellers and gypsies; Gypsies and travellers in France: a history ofrejection, control and repression; Second class citizens: inequality of travellers and gypsies in the exercise of basiccivil and political rights; Assauls on a way of life: laws, policies and practices related to travelling, halting and livingconditions of gypsies and travellers; Denying gypsies and travellers adequate housing; Discriminatory treatment andabuse of travellers and gypsies by criminal justice officials; Discrimination in access to social and public services;Discrimination against gypsies and travellers in access to employment; Violations of the right to education of travellerand gypsy children; Anti-discrimination legislation; Subjecting romani migrants to inhuman and degrading treatment;Conclusion: failed equality; Recommendations.

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    20/21

    20

    16. Proceedings discontinued: the inertia of roma rights change in Ukraine [2006].Introduction; History of Roma in Ukraine; Human Rights and Roma in Ukraine; Failure to give effect to theinternational law ban on racial discrimination; Human rights concerns with respect to the treatment of Roma in thecriminal justice system; Violence by non-state actors; Discrimination in access to social and economic rights; Lack ofpersonal and/or other documents; Conclusions: Recommendations.

    1.2. Publicaes temticas.

    17. Knowing your rights and fighting for them: a guide for romani activists [2004].What are Human Rights?; Fighting discrimination: the universal rights of equality; How are human rights protexted?National institutions and the United Nations / Regional european mechanisms; Human rights research anddocumentation; Reporting: getting the word out; Advocacy; Human rights litigation; Direct action; Appendices.

    18. Defending roma housing rights in Slovakia: a training manual on international law and the rightsto adequate housing[2004].Framing the discussion about housing rights; Understanding economic, social and cultural rights in general; Housingrights under international and european law; Discrimination and housing rights; Slovak law and policy relating to

    housing; Violation of housing rights; Forced evictions; Acessing the rights to adequate housing strategies topromote housing rights; Non-judicial strategies to promote housing rights; The justicability of housing rights;Appendices.

    19. Stigmata: segregated schooling of Roma in Central and Eastern Europe [2004]Introduction; Obligations of States under international human rights law; Data about the segregation of Romaeducation; Segregation of Roma in special schools for children with developmental disabilities; Segregation of Romain mainstream schools; Segregation of Roma in ghetto schools; Conclusion; Desegregation of romani education:ERRC recommendations for the government policy; Appendices.

    20.Ambulance not on the way: the disgrace of health care for Roma in Europe [2006].Introduction; The rights to the highest attainable standard of physical and mental health, and the ban ondiscrimination in the provision of healt care; Systemic exclusion of Roma from access to health care; Direct racialdiscrimination against Roma in the provision of health care and other extreme forms of human rights abuse ocurringin the health care system; Systemic frustration of the right to adequate housing and the right to education whereRoma are concerned and the implications of this for effective realisation of the right to health; Positive action;Conslusions; Recommendations.

    21. The glass box: exclusion of Roma from employment [2007].Introduction; Profiles of the labour market actors targetted in this research; Key findings of the research; Employmentdiscrimination against Roma; Road untravelled: from prohibition of discrimination to promoting equality; Labourmarket measures: do they reach Roma?; Equality policies: examples of good practice outside Central and SouthEastern Europe; Conclusion; Recommendations.

    22. The impact of legislation and policies on school segregation of romani children [2007].

    Introduction; The prohibition of discrimination and segregation in education under domestic law; Policy documents onthe education of Roma; Policies and measures tarfeting segregation of romani children in standard education;Legislation and policies on the education of children with special educational needs; Educational measures targetedon Roma and their impact on school desegregation; Conclusion: challenges to school desegregation;Recommendations.

    23. Standards do not apply: inadequate housing in romani communities [2011].

  • 7/23/2019 FMO_Ciganos_e_Ciganlogos_2012

    21/21

    Introduction; The right to adequate housing; Segregation of romani communities; Security of tenure; Forcedevictions; Substandard conditions and their impact on the other rights of Roma; Access to social housing;Conclusions; Recommendations.

    24. Breaking the silence: trafficking in romani communities [2011].Introduction: What is trafficking in human beings?; Roma as trafficked persons; Vulnerability factors and the

    functioning of social protection systems; Access of romani trafficked persons to legal protections and victimprotection services; Exploitative and risky situations; Conclusions; Recommendations.

    ANEXO 2Bibliografia complementar sobre Minorias tnicas e Raciais (seleo).

    Allport, G. 1958. The nature of prejudice, New York: DoubledayAzevedo, E. 1987. Raa: conceito e preconceito, So Paulo: ticaBanton, M. 1967. Race relations, London: Tavistock Publications----- 1972. Racial minorities, London: Fontana/Collins----- 1979.A idia de raa, Lisboa: Edies 70----- 1994. Discrimination, Buckingham: Open University PressBarth, F. (org.) 1976. Los grupos etnicos y sus fronteras, Mxico: Fondo de Cultura EconomicaBettelheim, B. & Janowitz, M. 1964. Social change and prejudice, London:The Free Press of GlencouBlalock Jr, H.M. 1967. Toward a theory of minority-group relations, New York: John Wiley & SonsBrando, C. R. 1986. Identidade e etnia: construo da pessoa e resistncia cultural, So Paulo:

    BrasilienseCapotorti, F. 1979. Study on the Rights of Persons belonging to Ethnic, Religious, and Linguistic

    Minorities, Geneve: United Nations.Dinstein, Y. & Tabory, K. (eds.) 1992. The Protection of Minorities and Human Rights . Dordrecht:

    Martinus NijhoffGordon, M. 1978. Human nature, class, and ethnicity, New York: Oxford University PressHarding, J. et alii, 1969. Prejudice and ethnic relations, IN: G. Lindzey e E. Aronson (eds.), The

    handbook of social psychology, 2th. ed., Vol. V, Reading: Addison-Wesley, pp. 3 - 76Hutchinson, J. & Smith, A. D. (eds.) 1996. Ethnicity, Oxford: Oxford University PressJones, J. M. 1972. Prejudice and racism, Reading: Addison-Wesley----- 1973. Racismo e preconceito, So Paulo: Blucher/USPLerner, N. 1991. Group Rights and discrimination in international law, Dordrecht: Martinus NijhoffOliveira, R. C. de 1976. Identidade, etnia e estrutura social, So Paulo: PioneiraPacker, J. & Myntti, K. (eds.), 1995. The protection of ethnic and linguistic minorities in Europe,

    Abo/Turku: Abo Akademi UniversityPhilips. A. & Rosas, A. (eds.) 1995. Universal minority rights, Abo/Turku: Abo Akademi UniversityPoutignat, Ph. & Streiff-Fenart, J. 1998. Teorias da Etnicidade, So Paulo: UNESPRex, J. 1988. Raa e etnia, Lisboa: Editorial EstampaRex, J. & Mason, D. (eds.) 1986. Theories of Race and Ethnic Relations , New York: Cambridge

    University PressShibutani, T. & Kwan, K. M. 1965 .Ethnic stratification: a comparative approach, New York:

    Macmillan CompanyThornberry, P. 1991. International law and the rights of minorities, Oxford: Clarendon PressUNESCO 1970/1972. Raa e Cincia I e II, So Paulo, PerspectivaWieviorka, M. 1991. L'espace du racisme, Paris: ditions du Seuil----- 2007. O racismo: uma introduo, So Paulo: Ed. Perspectiva