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A VISITA DO OMBUDSMAI DAFIUA NR 5 ANO X FLORIANÓPOUS, 28 DE ABRIL DE 1993 CURSO DE JORNAUSMO DA UFSC '. e " E o ::; " l� PLEBISCITO NÃOMOBIUZA POPULAçÃO Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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A VISITADO OMBUDSMAI

DAFIUA

NR 5 • ANO X • FLORIANÓPOUS, 28 DE ABRIL DE 1993 • CURSO DE JORNAUSMO DA UFSC

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PLEBISCITONÃOMOBIUZAPOPULAçÃO

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZEBO"5ANOX

ABRIL93CURSO DE JORNALISMO

CCE-COM

Melhor

pela GráficaI, I, 11/, IVe V

Set Uni"ersitárioMaio 88

Setembro 89, 90 e 91Outubro92

Jornal-Laboratório do Cursode Jornalismo da Universida­deFederaldeSanta Catarina

Apoio: Alessandra Meinicke,Josemar SehnemArte: José da Silva JúniorColaboração: KipperCoordenação: Maria Alice

Baggio, Viviane AraújoCopy-write: Jornalistas­professores Gilka Girerde-110, Luis Scotto, Ricardo Bar­reto, Zeni RatesDiagramação: Celso Gick,Marta Scherer, Pstttcie Jaco­mel, Victor CarlsonDireção de Redação e Super­visão: ProfessorRicardo Bar­reto (MTb 2708/RS)Edição: Alexandre Gonçal­ves, Celso Gick, Emerson

Gssperin, José da Silva Jú­

nior, Nelson Correia, Rogé­rio Mosimann, Victor Carl­son

Editoração Eletrônica:Emerson Gssperin, (senior),Victor Carlon, Angelita Cor­reia, Jaime MoraesFotografia: Ana CarineMon­

tero, Diógenes BotelhoLaboratório Fotográfico:Ana CarineMontero, Dióge­nes BotelhoTextos: Alexandre Gonçal­ves, Bob Barbosa, CelsoGick , Diógenes Botelho,Diógenes Fischer, EmersonGssperin, Ivana Back, JaimeMoraes, Janaína Toscsn, Jo­sé da Silva Júnior, Jussara

Campelli, Luis Carlos Festl,Marcelo Santos, MaurícioOliveira, Meire Bertotti, Ps­tttcieMárcia de Souza, SilvioPereiraAcabamento e impressão: Im­pretsrRedação: Curso ck_JomaJis­mo (UFSC-C�COM),Trindade, CEP 88049-900,Florianópolis/SCTelefones: (0482) 31-9215 e

31-9290Telex e telefax: (0482)34-4069Distribuição gratuitaCirculação dirigida

ANO FÉRTIL

quisa e Extensão, César Zuc­co, e a professora CarmemRosa, autora de trabalhos so­bre jornalismo e gênero em

jornais ingleses. Teses demestrado e doutorado na

área de comunicação, proje­tos de pesquisa do departa­mento e projetos de conclu­são de curso de diversos alu­nos incluem a programação.Num programa à parte,

alunos formados na UFSC e

que agora trabalham em ou­

tros estados deverão voltar aFlorianópolis. Rosângela dosSantos, que faz a previsão do

tempo no Jornal Nacional, jáaceitou vir contar sua expe­riência aos ex-colegas.Hemeroteca - Mesmo com

toda essa programação Fran­cisco Karan, chefe do Depar­tamento de Comunicação,ressalta que o curso precisa,antes de mais nada, de mu­

danças nas instalações. Os la­boratórios exigem mais e me­

lhores equipamentos e, assimcomo a hemeroteca, mais es­

paço físico. Está quase im­

possível trafegar entre as pi­lhas de jornais e revistas queesperam encadernação na

"hemerô" , e de nada adiantao Laboratório de Áudio ga­nhar um CD-Player, se não

há verba para comprar os dis­cos digitais.A informatização das salas

de redação é um plano quepoderá se concretizar em bre­ve. Um minicomputadorcom doze terminais vai serdesativado da BibliotecaUniversitária, e com um pou­co de sorte poderá iniciar a

substituição gradativa das

"emperradas" máquinas deescrever.

A ampliação do quadro deprofessores também é uma

necessidade urgente. Nestesemestre, o curso tem 80 tur­mas abertas - um recorde. Se­te professores estão afasta­dos completando sua forma­ção, o que obrigou a contra­tação de sete professoressubstitutos - situação sempreincômoda, pois os contratossão feitos para seis meses e

têm que ser renovados apósesse período.Em março passado, os pro­

fessores Moacir Pereira e Jo­sé Hamilton Ribeiro foram�provados no concurso paratitular na área de RedaçãoJornalística. Outro concurso

para a área teórica será feitoem junho.

Jornalismo sobepara ta:no rankingexpande a circulação do Zero e vaitrazermais jornalistas este ano

.

UFSC. o projeto ainda estásem patrocínio, mas deve co­

meçar este semestre. Outrosucesso: os alunos de Jorna­lismo também mantêm con­

tato com grandes nomes daimprensa nacional através doprojeto Memória do Jorna­lismo que já trouxe José Ha­miltom Ribeiro, WashingtonNovaes e Guillermo Piernes- só em 92.O último convidado a dar

palestra pelo projeto dia 19de março foi o jornalista e

escritor Ricardo Kotscho,atual assessor de comunica­ção de Lula. O objetivo doprojeto é resgatar os bons

tempos do jornalismo das dé­cadas passadas. Ainda deve­rão vir a Florianópolis profis­sionais como Joel Silveira,que foi correspondente dosDiários Associados na 2�

£iLf··.

UFSC poderão treinar na

prática suas habilidades com

duas feras nas áreas de foto­

grafia e ilustração. O cartu­nista Edgar Vasquez vai estardurante uma semana no cur­

so, com a oficina Grafismoe Jornalismo Impresso, a Ca­ricatura no Jornal. Vasquez,um dos melhores cartunistasdo país, é autor do Rango e

do Analista de Bagé. As his­tórias do Analista, escritas

pelo escritor Luís FernandoVeríssimo, foram publicadasdurante dois anos na revistaPlayboy.Entre os dias 16 e 20 de

agosto, Luís Humberto Mar­tins Pereira também estaráoferecendo o cursoFotogra­fia: O Registro do Óbvio ou

a Descoberta do Sensível?Luís Humberto é ex-fotógra­fo de Veja e hoje é professor

Karine Montero - Zero

Um PC-386já executa parte da editoração eletrônica

Curso entra com tudo em 93

Guerra Mundial e Mino Car­ta, diretor de redação da re­

vista Isto É.Falando sobre a fase mais

recente do jornalismo brasi­leiro o projeto traz em maio,o repórter Caco Barcelos daTV Globotgeração mais novade jornalistas; estão previstasas vindas para os próximosmeses de Gilberto Dimens­tein, Walter Clark e AlbertoDines.

E, finalmente, dando con­

tinuidade ao debate iniciadopelo ombudsman do Folhade São Paulo, Mario Vitor·Santos, dia 30 de abril estará

aqui o chefe de redação doEstado de São Paulo, DelmoMoreira, que também é res­

ponsável pelo Projeto Inte­

gração dentro do jornal.Cartum - Saindo da teoria,

os futuros jornalistas da

titular dáUniversidade Fede­ral de Brasília.Talentos - As radionovelas

Luna Caliente adaptação dolivro do escritor argentinoMempo Giardinelli e o CrimePerfeito do catarinense Gus­tavo Neves Filho, estão em

busca do patrocínio para irao ar. Mas o Núcleo de Ra­dionovelas não pára: uma no­va produção deve sair aindaeste semestre. O Universida­de Aberta, produzido pelosalunos de radiojornalismotambém poderá vo!tar à ati­va. O programa que era apre­sentado na antiga RádioUnião está à procura de novoapoio.

Entre os meses de maio e

junho, a professora CarmemRial organiza a Semana de

Pesquisa. Alguns convidadoscomo o Pró-Reitor de Pes- Janaína Toscan

ABRIL 93

OCurso de Jornalismoda Universidade Fe­deral de Santa Cata­

rina retoma ao clube dos dezmelhores do país, segundo a

pesquisa publicada na ediçãode março da revista Playboy.Prova de que o curso estácrescendo são os ex-alunos,que hoje competem lado a la­do com profissionais de todoo Brasil. Para entrar com tu­

do, o Departamento de Co­municação da UFSC preparavários projetos para este se­

mestre: cursos de extensão,palestras, semana de pesqui­sa, e em andamento, a infor­matização das. salas de reda­ção.Outro grande passo para o

reconhecimento externo docurso é o jornal-laboratórioZero. O jornal vai passar a

ser distribuído a órgãos deimprensa, sindicatos, escolasde comunicação, editores detodo o país e corresponden­tes estrangeiros sediados no

Brasil. O projeto Gestão deJamal Laboratório e sua Re­lação com a Imprensa conta

agora com uma bolsa de ex­

tensão para administrar essescontatos.

Com a mudança de públi­co, o Zero também está ad­

quirindo um novo perfil, compautas mais abrangentes e

um projeto gráfico que o le­vará de vez para a era da edi­

toração eletrônica. Isso gra­ças ao computador 386 com

40MHz e vídeo SVGA, queo Laboratório de'JornalismoGráfico adquiriu recente­mente. Aos poucos, alunose professores vão mantercontato com esse processo de

diagramação, rápido e mo­

derno, agilizando a produçãodo Zero e de outros projetos.O jornal que completou dezanos em 92, vai estar mos­trando um pouco de sua his­tória na Univale, em Itajaí,durante o mês de abril, coma exposiçãoDezAnos do Ze­ro. Para o segundo semestre,o departamento pretende fa­zer uma mostra de 50 jornaisdo mundo todo, incluindo ca­

pas do New York Times, LeFigaro e La Revolucion.Memória do Jornalismo -

O contato com a imprensa in;ternacional não pára por aí.OPaís Visto deFora prometetrazer, num prazomáximo dedois anos, 30 jornalistas es­

trangeiros a Florianópolis e

ainda traduzir códigos de éti­ca de 70 países, que serão pu­blicados pela Editora da

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PLEBISCITO 93

Para organizaro Estado surgiramChefes e reis

Frentes criam confusãoPropaganda

políticagratuita no Brasilsempre foi sinônimode rádios e tevês desli­

gadas. E com a campanha pa­ra o plebiscito de 21 de abrilnão foi diferente. As frentesparlamentarista, presidencia­lista e monarquista deram um

show de desrespeito ao elei­tor. Os programas exibiramdiariamente um festival deacusações, informações erra­das e superficiais, brigas emuito jogo de interesses. Oresultado disso é que a maio­ria das pessoas votaram inde­cisas.

Os presidencialistas alerta­ram a população contra o que

. chamam de o "golpe do par­lamentarismo", ou seja, o fimdas eleições diretas para pre­sidente. Mas, segundo os par­lamentaristas , pelo modeloparlamentar proposto pelaFrente Ulisses Guimarães, opresidente da República seráeleito pelo voto direto. Masa frente parlamentarista não

Desinformação, mentirase fofocas dão espetáculona propaganda gratuitaficou atrás na hora do ataque,e em seus programas nãocansou de repetir que no sis­tema presidencialista é maisfácil eleger u.m I?�e.si�e!ltecorrupto e mars difícil tua-lodo poder. O parlamenta­rismo foi apresentado como

um sistema imune à corrup­ção, mas seus apoiadores "es­quecem" de mencionar a ava­lanche de escândalos que vemacoritecendo na Itália, paísque adota o sistema de gover­no parlamentarista.Rei das BesteirasOs monarquistas tiveram a

coragem de ir à televisão pe­dir ajuda financeira para a

campanha. Bastava telefonarpara "coroar a democracia"e fazer contribuições de Cr$

100 mil, Cr$ 500 mil, ou Cr$1 milhão. Provavelmente écom esse dinheiro que elespretendem continuar falandobesteiras como a que foi ditanos programas: segundo os

monarquistas, o brasileirotem uma grande atração pelacoroa, e um exemplo disso éo grande número de casas co­

merciais que usam símbolosreais, como o "Império dasTelhas" ou "O Rei do Baca­lhau" .

Preocupado com o rumo

que a campanha estava to­mando, o ministro do Tribu­nal Superior Eleitoral, PauloBrossard, decidiu intervir nosprogramas. Ele gravou trêsdepoimentos, de 15 minutoscada, para explicarmelhor ao

eleitor os sistemas e as formasd� governo em jogo no ple­biscito de abril. Usando ter­mos que não são comuns àmaioria das pessoas como"eletividade" e "vitaÍicieda­de", o pronunciamento nãoalcançou o resultado espera­do. Uma pesquisa realizadapelo Data-Folha, dois diasapós os pronunciamentos,constatou que 44% dos entre­vistados consideram as expli­cações do ministro pouco es­clarecedoras.

Mas quem pensa que a idado ministro Brossard aos pro­gramas intimidou as frentes,se enganou. Elas continua­ram mantendo a campanhano mesmo nível. E pior. Pro­meteram "pegar" mais pesa­do. E incrível, mas isso sãocoisas do Brasil. Usar instru­mentos democráticos, como a

propaganda política gratuita,para promoção pessoal, nummomento tão importante co­

mo esse, é com certeza, de­plorável.

Ivana Back

Eleitores votam no escuro

Depoisde 67 anos de di­

nastia Bragança e 103anos de República a so­

ciedade brasileira vai escolhera forma de governo e tambémo sistema pelo qual quer ser go­v:rnad�. Quanto à forma, a op­çao sera entre a volta à monar­quia e a permanência da repu­blica. Com relação ao sistemadeverá decidir entre presiden�cialismo ou parlamentarismo.Para ajudar nesta tarefa é indis­pensável que o eleitor conheçao mínimo sobre cada possívelescolha. Na monarquia, não épreciso prenunciar-se sobre osistema de governo, já que, deaco�do com a Constituição, elasera constitucional, necessaria­mente parlamentarista. A fun­ção de chefe de Estado é exer-

ABRIL 93

cida por um rei com direito he­reditário. Suas atribuições, po­rém, limitam-se a representaro país externamente, já que o

governo, de fato, é entregue a

um primeiro-ministro. Caso es­

ta forma de governe ganhe, ca­berá ao Congresso Nacional de­finir quem será o monarca.

Se o eleitor escolher a repú­blica, deverá então optar entreos dois sistemas de governo.No Presidencialismo, as fun­

ções de chefe de estado e chefede governo confundem-se nu­

ma só pessoa - o presidente daRepública. Seu mandato é fixo,bem como o dos membros doparlamento; a não ser nos casos

excepcionais de impeachmentd.o presidente, e da cassação domandato dos parlamentares.Na República Parlamentarista.

o chefe de Estado é o presi­dente e o chefe de governo e

o primeiro-ministro eleito peloparlamento. Diante de uma de­cisão polêmica, de queda de

prestígio ou de fissuras na .bas�de apoio do governo, o pnmei­ro-ministro e o resta�te. d� ga­binete podem ser distituídospor uma moção de desconfian­ça aprovada pelo parlamento.Em contrapartida, o parlamen­to pode ser dissolvido pelo che­fe de Estado. Isto demonstraa mistura entre os poderes exe­cutivo e legislativo, que no par­lamentarismo se confundem e

interferem um no outro.

Mesmo com todos os esclare­cimentos, nomomento de votaro eleitor deu um salto no escu­

ro Algumas questões impor-

tantes só vão ter respostas de­

pois do plebiscito: O sistema es­

colhido para o País será aplica­do também nos estados? Votarno presidencialismo significaaprovar o modo como ele temfuncionado até agora? Se o par­lamentarismo ganhar, qual seráo papel dos governadores? Oprimeiro-ministro será obriga­toriamente um parlamentar?Uma coisa, porém, é certa:

seja qual for o resultado do ple­biscita, o Congresso Nacionalsairá fortalecido. No parlamen­tarismo - monárquico ou repu­blicano - o parlamento será o

governo de fato. No presiden­cialismo, a forma proposta peloMovimento Republicano Presi­dencialista (MRP) limita os po­deres do presidente.

QUANDO os homens rea­lizaram as primeiras tenta­tivas de organizar um Esta­do, surgiram os problemassociais e políticos, e com

eles os grandes chefes e reis.O rei era coroado por di­

reito divino, isto é, todo o

poder se concentrava nas

suas mãos e ele não preci­sava responder pelos seus

atos. Era a monarquia abso­luta. Em 1215, surgiu a mo­

narquia constitucional,quando 'os nobres inglesesdecidiram limitar por uma

constituição (a Carta Mag­na) o poder absoluto do ReiJoão Sem Terra. Nenhumimposto poderia ser lançadosem consulta a um conselho(o Parlamento) onde esta­riam representadas as prin­cipais figuras do reino. Estefoi o primeiro passo na dire­ção de uma democracia mo­

derna.A Revolução Inglesa, em

1688, trouxe como, conse­qüência a deposição do ReiJaime II. Seus sucessores,Guilherme III e Maria II fo­ram coroados não mais pordireito divino, mas por deci­são do Parlamento que se

afirmava como fonte de po­der. A partir daí, o regimeparlamentarista se aprimo­rou até atingir a formaatual, onde o rei ou o presi­dente detém um papel sim­bólico, cabendo o poderefetivo ao gabinete formadopela maioria parlamentar.Contrário ao Parlamenta­

rismo e fruto de uma longaevolução histórica, o Presi­dencialismo nasceu de um

evento: a independência dasColônias Americanas. Em1787, na Filadélfia, os cons­tituintes americanos inven­taram um sistema baseadonuma figura dominante pa­ra comandar o Poder Exe­cutivo - o presidente -,mas com margem de mano­

bra severamente controladapelos poderes Legislativo e

Judiciário, e pelas imposi­ções do regime federativo.Praticamente toda a

América Latina imitou o

bem-sucedido presidencia­lismo americano, e o parla­mentarismo inglês ganhouespaço em quase todos os

países europeus.

Textos:Meire Berto"; ,

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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MíDIA PERDEU

Povo respondeA reportagem do Zero foi às

ruas em Florianópolis entre os dias5 e 7 de abril e fez as seguintesperguntas: Você já sabe em quevotar DO plebiscito? Qual o motivode sua escolha?"Eu vou votar no parlamenta­

rismo presidencialista. Não, querodizer, sou parlamentarista e achoque essa é a única proposta quetraz algo de novo. E é bom paraosjovens".Eduardo Goes - artesão"O parlamentarismo é melhor,

porque é o sistema que mais con­diz com a realidade brasileira. Pe­lo passado se sabe que o presiden­cialismo não dá resultado, é só ob­servar o que aconteceu com o últi­mo presidente".Paulo Roberto Paes

os:

Ii18'õmo

Õu.

Paes: "Presidencialismo não dá"

"Vou votar no parlamenta­rismo republicano para dividir o

poder, só assim o monopólio no

governo acaba. Na propaganda daTV as frentes preocupam-se em

criticar-se mutuamente não tra­zendo nada de novo para o de­bate"Erivelto Peixoto

Soares: "Não voto em ninguém"

"Não vou votar em proposta al­guma. Já faz um tempão que eu

não voto em ninguém, pois tô sa­

bendo que político é tudo igual.O único que prestava era o Getú­lio, que já morreu faz uns dezanos, não é verdade"?

Seu Soares-mendigoVoto no parlamentarismo por­

que nesse sistema se escolhe um

primeiro-ministro que é obrigadoa apresentar um plano de governo,que tem urn prazo fixo para ser

cumprido. Votar no parlamenta­rismo é apostar no futuro do Bra­sil".Priscila Souza

4 ZERO ABRIL

Imprensa opta pelamudançaA

grande imprensa bra­sileira se posicionou a

favor do parlamenta­rismo durante toda a campa­nha pelo plebiscito. Apesar damaioria dos jornais terem fei­to um serviço de esclareci­mento a seus leitores, apre­sentando prós e contras de ca­

da proposta, nos editoriais e

nos artigos dominaram mes­

mo as idéias parlamentaristas.O mais engajado entre os

"jornalões" foi o Folha de SãoPaulo. Mesmo abrindo espaçoaos artigos de todas as trêsfrentes, o FSP favorecia o par-

Todos os grandes jornaisquerem o país governadopor um primeiro-ministrolamentarismo. Além dos edi­toriais defendendo a mudançado sistema, o jornal publicouquase que diariamente as co­

lunas de José Serra, DelfimNetto, Tasso Jereissati e JoséSarney, principais membrosda Frente ParlamentaristaUlysses Guimarães. Depois

de 'ter saído na frente duranteas Diretas-Já e nas críticas ao

governo Collor, com edito­riais de primeira página, o

FSP vacilou: apostava na vitó­ria parlamentarista e na sua

consagração como o principalveículo escrito de formação de

opinião.

O Jornal do Brasil foi o úni­co dos quatro principais jor­nais do país que inclinou, ain­da que disfarçadamente, parao lado monarquista. Para o

JB, o apoio à volta a monar­

quia era quase uma questãode tradição: sua fundação, em1891, estava ligada a simpati­zantes da Coroa, que ainda so­

nhavam em reimplantar a mo­narquia. Se depender do dis­creto poder de persuasão doJB, o Brasil não vai cair na

real tão cedo.

Diário peca pelavontade de dar tudo,

até o que é fútil

A cobertura feita pelos quatro principaisjornais de Santa Catarina sobre o plebiscito,não conseguiu evitar a opinião. Eles critica­ram a falta de informação sobre o assuntoe a péssima qualidade dos programas eleito­rais, tratando disso em editoriais e colunasassinadas.

O Estado é o que menos se preocupoucom uma cobertura informativa, dando

pouco espaço aos fatos da campanha e pu­blicando apenas os mais relevantes ou maisinteressantes. As poucas matérias sobre o

plebiscito foram escritas e editadas dentrode uma ótica parlamentarista. Embora o

jornal não toque no assunto nos editoriais,a coluna Ponto de Vista do dia 28 de feve­reiro resume a sua posição. O editor-chefe,Mario Pereira, assina o artigo entitulado"Parlamentarismo sim".O Diário Catarinense procura cobrir tudo

o que acontece na campanha do plebiscito.A preocupação em "dar tudo", que o DCassumiu leva o jornal a publicar coisas do

tipo Videntes prevêem parlamentarismo.Amnésia - O jornal publicou duas edi­

ções especiais, nos dias 10 de fevereiro e

21 de março, e mantém uma coluna perma­nente chamada ABCdo Plebiscita, que res­

pondeu às dúvidas enviadas pelos leitores.Mas toda essa busca pela informação é pre­judicada quando o jornal comete erros pri­mários, como usar o mesmo título, em duasedições diferentes na semana - ver box.

O Jornal de Santa Catarina, RBS em Blu­menau, chama para si toda a opinião queo DC procura evitar. De cada dez artigostratando do plebiscito, em média sete foramsimpatizantes ou defensores ferrenhos doparlamentarismo. Os outros três são dividi­dos entre os presidencialistas, os monar­quistas e os defensores simplesmente da Re­pública, sem especificar o sistema de go­verno.

Outro dos quatro grandes, o jornal ANotícia, de Joinville , procura manter um

tom de imparcialidade. Apesar de abrir es­paço para opiniões e artigos assinados. ANotícia distribui esses espaços igualmenteentre as três frentes.

Diógenes Fishel'

Maciel quer responder àFrente Parlamentarista

José da Silva Jr.

é rece; '; ":0com},,,

Bah u,

DC usa

títuloduas vezes

Sábado, 13 de março de 1993. Página 6 do Diário Catarinense.D título: "Macie

quer responder à Frente Parlamentarista". Bonitinho, não? E o que deve te

achado o editor de política, pois na edição do dia 15, segunda-feira, iá estav

o mesmo título novamente, alegre e saltitante, só que desta vez na página oitoAcorda DC!

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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SantaCatarina utilizou

o fax para agilizar a

apuração dos votos noplebiscito de 21 de

abril, repassando os dados dointerior diretamente para o

Tribunal Regional Eleitoral(TRE), em Florianópolis. Adivulgação do resultado finalfoi tabulada até a meia-noitedo dia 21, quando os númerostotais do estado foram envia­dos para Brasília.O sistema de apuração foi

elaborado no Tribunal Supe­rior Eleitoral (TSE) em Bra­sília e repassado para todo o

PRÓS E CONTRAS

Fax agiliza apuração em se

Sistema impede fraudes e

possibilitu contagem dosvotos em tempo recorde

país. Os votos passaram pelas dade foram remetidos, via fax,juntas apuradoras que totali- ao TRE, em Florianópolis. Ozaram o resultado e entrega- sistema é considerado à provaram o boletim de urna ao Juiz de fraude, pois os fiscais con­

Eleitoral da região. Ao térmi- ferem o boletim de urna antesno da apuração o resultado fi- e depois dos números passa­nal de todas as umas da locali- rem pelo computador.

Políticos ficam desacreditadoscom festival de contradiçõeso flagrante desinteresse dos eleitores

em relação ao plebiscito de 21 de sbrilmostra, entre outras coisas, o descré­dito que sofre a classe política do país.Fato que não é de se estranhar, poisas lideranças políticas fazem da campa­nha do plebiscito um festival de contra­dições, onde cada grupo busca viabi­lizar seu êxito eleitoral em 94.O líder do PT, Luís Inácio Lula da

Silva, que defendeu veementemente o

parlamentarismona Constituinte de 88,atualmente afirma estarpresidencialis­ta. "ApesãRas vou dizer que meu par­tido recomenda o voto neste sistemadegoverno e temos que acatar'a decisãodo plebiscito interno".Mas o próprio Lula e as lideranças

do PT jogaram o partido na posiçãoptesidencieliste mesmo antes doplebis­cito interno. Na verdade o PT já se

sente com ospés no Planalto, prevendoa derrota do parlamentarismo.Obviamente quase toda esquerda é

presidencislists, este é o caminho maiscurto e viável para sua chegada ao po­der. Esta afirmação serve também parao PDT de Leonel Brizola que é, semdúvida, o partido mais coeso na pro­posta presidcncielists. Posicionamentoesperado, porque com a vitória parla­mentarista seria enterrado de vez o obs­tinado sonho de Brizola de ser presi­dente do país.Mas Brizola nem sempre foi tão pre­

sidencialista. Em dois momentos de­fendeu o regime de gabinete. Em 1947achava que o melhor sistema de gover­no para o Rio Grande do Sul era o

parlamentarismo, também em 1957dis­se que opresidencislismo teria morridocom Vargas. "Só falta exorcizarmos o

fantasma que ficou e nos atormenta".Metamorfose

Outra figura que costura sua base polí­tica para 94 é o prefeito de São Paulo,Paulo Ma/uf O prefeito que nunca fa­lou em parlamentarismo, hoje é um deseus maiores defensores, comorome-

ABRIL 93

tendo-se até a subir em pslsnque paradefender a proposta. Mas essa meta­morfose política tem explicação. Malufdefendendo o parlamentarismo ampliaseu campo de negociação política. As­sim se aproxima do PSDB e de setoresde centro direita e com a provável vitó­ria presidcncislists, a seu ver, teráme­lhores condições de trânsito nosgruposderrotados no plebiscito.O ex-governador Orestes Ouercie»

presidencislists, quase ausente da cam­panha no vídeo pela repercussso dasdenúncias que recaem sobre sua admi­nistreçéo, também sonha com a presi­dênciadopaís. Quércia instrumentalizasua campanha para 94, através do pro­grama de rádio da frente presidencie­lista, espaço que usa quase diariamen- .

te. Sobre Quércia o atual governadorde São Paulo, LuisAntônioFleury, dis­se em entrevista: "Ele teve um papelimportante naminha eleição, mas apo­pulação já vê que existem diferençasentre nós". .

Celso Gick

ZERO

Para atender os 260 municí­pios catarinenses esta eleiçãocontou com 66 mil mesários e

quatro mil escrutinadores. Omaterial eleitoral (urnas, cé­dulas, cabines) foi remetidopara todas as comarcas eleito­rais do estado, e está prontopara receber os 2.974.926 elei­tores de Santa Catarina. Oseleitores catarinenses que es­

tavam fora de seu domicílioeleitoral, puderam justificar aausência e os de outros estados

puderam votar em trânsito.

Diógenes Botelho

Convergência fazcampanha pejaanulação do voto

A Convergência Socialista e vá­rias outras frentes de esquerda com

tendências trotskistas defendem a'anulação do voto para o plebiscitodo dia 21 de abril. Consideram que"seja qual for o resultado da consul­ta, será o Congresso que terá os po­deres para definir o regime". Expul­sa do PT em 1992, a ConvergênciaSocialista está reunindo várias ten­dências de esquerda para formar umnovo partido, a Frente Socialista.Para Edilson Francisco da Silva, daConvergência, todos estes' gruposdefendem o voto nulo no plebiscitode abril."Caso milhões de pessoas anulas­

sem o voto, o mandato do Congres­so estaria questionado e poderia ha­ver reformas mais democráticas na

sociedade", foi isso que TarcísioEberhardt, dirigente da Convergên­cia em Florianópolis afirmou duran­te um debate realizado dia 18 demarço, no Centro de Filosofia e

Ciências Humanas da UFSC. Nomesmo dia e horário, no Centro Só­cio Econômico, outro debate sobreo plebiscito estava sendo realizado.Lá também estavam representantesda Convergência Socialista, defen­dendo o voto nulo.Entre as opções disponíveis, a

Convergência considera o Parla­mentarismo como o sistema "maisdemocrático", mas segundo Ebe­rhardt somente se ele vier acompa­nhado de reformas que incluam am­

pla liberdade partidária, represen­tação proporcional dos estados nãoao voto distrital. Para ele, votar emum dos sistemas é passar "um che­que em branco ao Congresso".

Sílvio Pereira

"Eu e meu marido vamos vo­

tar em branco porque não adian­ta confiar nesses políticos, Naeleição passada votei no Collore deu no que deu, se não fosseobrigado votar nem ia." Rita deCássia Antunes, dona de casa.

"Defendo o presidencialismo,em primeiro lugar porque sou

presidente de uma entidade e

acho que é o melhor sistema parao país. Além disso, tenho medode entregar o poder para nossos

parlamentares." Fernando deMattos, presidente do C. A. deCiências Contábeis da UFSC.

Rita: "Vou porque é obrigado"

"Sou presidencialista porqueacho que o problema da crisebrasileira não está na forma degoverno, o que falta são adrninis­tradores sérios. Prefiro elegerum bom presidente do que con­

fiar em 503 deputados." NicoleOrfali, estudante.

Nicole: "Falta gente séria"

"Esta história de parlamenta­rista é puro aluguel na cabeçado povão. Sou presidencialistaconvicto, e acredito que esta

campanha vai botar todo nosso

dinheiro na mão dos tubarões.No ano que vem, vou fazer quenem em 89: vou votar no Ma­luf." Francisco Silva, comercian­te."Escolhi o presidencialisrno

pOrque quando o presidenterouba, a gente tira como fez como Collor. Atualmente, rvâo se

aceita mais políticos corruptos,hoje os cara pintadas vão às ruase tiram eles do poder." Carolinados Santos, almoxarife.

Celso Gick e

Diógenes Botelho

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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 6: FLORIANÓPOUS,hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993abri.pdf · 2016-05-31 · excepcionais de impeachment d.opresidente,edacassaçãodo mandato dos parlamentares. NaRepúblicaParlamentarista

ZERO DEPOIMENTOEIID Qual o perfil dosprofissionais que chegam iaimprensa hoje: seucompromisso com o leitor.seu empenho profissional?KotIeho - Eu sou sempremuito oti­mista. Tenho a esperança que a ge­ração de vocês tenha mais

disposiçlo para a luta do que aquela que fica entre a

minha geraçlo e a de vocês. Aqueles que hoje estio com30 anos entregaram os pontos. Nem tentaram fazer algu­ma coisa. E nlo é só questlo de ser bom proíissioaal, desaber escrever bem. Acima de tudo émna questIo de serbom cidadlo. Jornalista não é um poeta que escreve

bonito. Deve ter compromisso com a sociedade do seu

tempo. com omomento que o pais está vivendo. Vejo as

gerações que safram das faculdades nos últimos anos

muito individualistase com poucahumildadepara apren­der as coisas. Se pensava que com o fim da ditadura e a

liberdade de imprensa as coisas fossem melhorar. O quehouve foi um retrocesso. Os jornais de hoje 510 piores doque há 10 anos. Isso nlo quer dizer que tenham quecontinuar assim. É preciso pensar em mudar isso daquipara a frente.

resumo daquilo que a TV veiculou Ao invés do jornal irmais fundo, fica aquém daprópria TV.1ssodecorredessejornalismo estilo telegráfico. igual Asnoticias daFolhadeSio Paulo. que mais parecem boletins de ocorri!nciapreenchidos pelo cscrivlo de policia. O jomal USA To­day. que introduziu essemodelo na impn:Dsa americanaestá falido e nós continuamos a copiar isso noBrasil NaEmopa, ao contrário. os jornais sIo s6lidos, porque é umjornalismo de autor. Em vez de dizer que a bomba foidaqui para lá, na guerra da Iugoslávia, você conta a

história de um personagem. de uma famflia, ou faz umaanálise das causasda guerra e o quepode 8CClIltecerdaquia alguns dias. Para fazer isso é necessério compet&lciaproflSSional.muita informaçlo e vontade de trabalhar.Existe também uma grande IRguiça do pessoal maisnovo que se acomodou. Hoje é comum fazernoticias portelefone. Se cOrtarem. todas as linhas telefônicas dasredações dos principais jornais brasileiros. eles nIo cir­culam no dia seguinte. Esse é um jornalismo de segundamio.Nlo é nem jornalismo de gabinete. émuito pior. OSrepórteres nem saem da redaçlo.É fácil botara culpa nosoutros, no chefe.nopatrlo.MasosrqXmeres.o queestlofazendo? Devem ser eles a levar a boa infonnaçlo parao jornal. e convencer o chefe que vale a pena gastardoisou três dias para cobrir aquilo. edepois brigarpara que seja publi­cada. E por isso nlo pode traba­lhar seis horas por dia como em

um banco. Outro capitulo ébrigarno sindicato pelas horas extras e

um salário melhor. O que não

pode é trabalhar aquelas hori­nhas. deixaro texto pelomeio e irembora. Quem quer ter horáriocerto deve procuraroutro empre­go. não ser jornalista. Há um dis­tanciamento completo entre a

imprensa e a realidede brasileira.Os jornais estio cheios de opi­niões sobre plebiscito. parlamen­tarismo. presideaeialismo, comoseessafosseaquestio fundamental.MasexisteumBrasiltal com outras preocupaçOes. como a de conseguir umprato de comida, por exemplo.

ojornalista Ricardo Kotscho esteve na

UFSC no dia 20 de março como o quartoconvidado doprojeto MemóriJ'do

JorlUllismo. PromovidofpeloDepartamento de ComunicdÇlto da

Universidade e o Sindicato dosJornalistas Profissionais de Santa

Catarina, com o apoio da Souza Cruz, oprojeto já trouxe à Florianópolis

Washington Novaes, José HamiltonRibeiro e Guillermo Piernes.

Ao contrário dos outros convidados, que'fizerampalestras, Kotschopreferiu ser

"entrevistado"pelos presentes. Durante aconversa resgatou alguns episódios de

sua trajetóriaprofissional em 30 anos na

imprensa brasileira.

Jornalistanão é poeta

..

Z - Dizem que a imprensa brasileira sofre depessimismo. que 56 publica notrcias ruins.Você concorda com isso?

Z - Você est6 de acordo com a t... de que nofuturo sobreviver6 somente um grande jornalem cada capital? OU existem outras

perspectivas?Kotscho - A tend&lciaéa regionaJizaçloe a segmentaçloda i.mpn:nsa. Existem hojemilhares de publicaçOes diri­gidas. Omercado seamplioumuitonosúltimos anos. EmSIo Paulo estio crcsccodo as te1evisties regionais quecriaram mercados locais. A própria Folha de SIo Paulo

Ele iniciou naprofissão aos 15 anos emumjornal de bairro em SantoAmaro,

São Paulo. Aos 18, foipara O Estado de

São Paulo, ondeficou 11 anos,

exercendo as funções de repórter. editore chefe de reportagem. Em 1977,

Kotscho realizou "o sonho de todo

jornalista: ser correspondente noexterior". Ficou dois anos naAlemanha

como con-espondeltte do J017lll1 doBrasil. Entre os momentosmais

imponantes de sua carreira ele cita acampanha das Diretas-Já em 84. Na

época ojomal onde trabalhava, a Folhade São Paulo, "acreditou e incentivou a

camJ!Hl1tha". Em 1989 Kotscho viveu"uma experiênciafantástica, como

profissional e cidadIJo", assessorando o-, candidato da Frente Popular nas

eleiçõespresidenctais.A reportagem doZero destaca algunspontos do

"bate-papo" entre Kotscho,os alunos e profissionais.

Enfrevi.fa: Jaime Morae.

criou cadernos por região, abrindo novos mercados nointerior. A verdade é que os grandes meios. incluindo os

quatro ou cinco maiores jornais. nlo tem essa força todaque já tiveram no Brasil. É uma ilusão imaginar que elespodem tudo. A campanha das Diretas em 84 foi umexemplo disso.ARede Globonãonoticiava nada até queo povo na rua começou a virar seus carros e as concor­

rentes transmitiam ao vivo os grandes comicios. QuandoaGlobocomeçouaperderaudi&lciafoiobrigada amudaro comportamento.

.

Z - Como você vê os jornais das ddades dointerior e sua influência sobre a população?Kotldao - Quantomenor a cidade emenoro jornal, maisfacilmenteele émanipuladoporquemdetém opoder. Emuma pequena cidade o coronel local é o dono do jornalque serve para fazer suas campanhas politicas. E se o

proflSSional não é do mesmo grupo politico nlo temliberdade nenhuma. Em 1988. houve uma ampliaçlo dosCUITaisde imprensa. com a distnbuiçlo de canaisderádioe televisão durante aquela batalha pelos cinco anos parao Samey. Foram distribuídos centenas de canais de rádio

Z - Qual é a sarda para a demoaatização dos Kotleho - Eu nIo digo que alguém deva ser um Dommeios de comunicação? Quixote. que jogue tudo para o alto. Mas quando eu

Kotleho - A saidanlo é única. É preciso brigarem todas comecei nlo se pensava só no emprego. A gente brigavaas frentes. É importantissimo semobilizar pera lutar no muito. não por idéias politicas.mas pelo nosso trabalho.Congresso durante a revislo constitucional. Isso nlo E esta é uma briga�an�. A� é o

impede a criaçlo de rádios-pirata onde for possível, ou a valor ftmdamental do Jornalista e tam� do Cl�.participaçlo na im- XY����=��=�X��=��=�W�======��W�����XW��WA�'X:WA'X���WI�� ��o 8CC1tar as C01S8S doprensa sindical. do jeito que �o. V�

. movimento popular. "No caso Collor a imprensa � que brigar até o li-daIgreja.Masépreci- �te das forças de queso que aesça a cons- deu um sbonr

. dispõe, sem ser�ciência de cidadania. 'n Quando não dá mais

Essas coisas devem para fazer um bom tra-

vir juntas. quanto de hipocrisia" balhoeudemitoojornalmaior a consciência e vou embora. Émelhordo cidadio maior a do que ficarfazendoum

dem�çIo e quanto mais democráticos forem os trabalho indigno e se queixando da vida.meios, maior a consciência de cidadania. Há 10 aos os

metalúrgicos de sao Bernardo estio brigando por umarádio própria, ao invés de lutarcontra a rádio dos cheRIespoliticos. E agora, no govemo Itamar. finalmente saiu a

v

"Jornais de hoje são piores doque há deúmos"- - -

-

Z- Durante o processo de impeachment sefalou muito do papel da imprensa. doressurgimento do jornalismo investigativo.Kotlebo·-- Houve um grande festival de hipocrisia. Aimprensa se auto-endeusou exageradamente nesse episó­dio. Desde 1989. dunmte a campanha presidencial todosos jornais e todos os jornalistas sabiam de todas aquelashistórias do Fernando Collor de Mello. O que o PedroCollor contou não era novidade para nenhum jornalista.A novidade é que ele procurou uma revista de prestígio! como a Veja e tomou público o que todos sabiam e

J'estavam escondendo. Se nlo fosse a brigaenR osmem-

o bros da quadrilha o Collor estaria no poder até hoje.Todos os heróis que surgiram depois. inclusive a impren­

� sa, não teriam aparecido se o Pedro não tivesse colocadoo dedo na ferida. Houve bons trabalhos de investigaçêo, �O resto foi tudo festivo. muito oba-oba. E depois? Tão Igrave quanto a roubalheira da quadrilha das Alagoas é a �fome e a seca no nordeste. Aliás. essas coisas estão .

ligadas porque o Collornlo é o único responsável. Ele é io produto de um sistema politico. do comportamento de �uma elite que o levou ao poder e continua mandando e imatando no pais. E eles continuam todos soltos. E o que

Ia imprensa está fazendo agora?Z - Por que você deixou de fazer reportageme se tomou assessor de imprensa? IKotleho - Eu não gosto muito da paíavra assessone de �imprensa. Elaestámais parapublicidade e omeu negócio ié jornalismo.Estou nisso devido às circunstâncias. Em ,1989 o Lula me convidou para fazer a campanha e�o

pude recusar. Sempre fomos amigos. desde antes daexistência do PT e por isso aceitei. Quando terminou a

campanhavolteiparaoJomaldoBrasil. Láeaeoatreidoisproblemas. O primeiro é que não se podia mais viajar edevia fazerasmatériasporte1efone. Sempre combati issoporque é enganaro leiter. Em algunsmomentos chegueià viajar pagando do meu bolso. E mesmo quando faziaessas aben'a9Oes profissionais você chegava na redaçêocom 'Cmft(IU duas páginas sobreo assunto e temandavam-fazer 30 linhas. E esse era o segundo problema: nlo tinhaespaço para publicar. E o Jomal do Brasil ainda era o

último quepermitia fazerum bom trabalho. Na coberturado impeachment, duranteo grande comicio doAnhanga­baú, CDCOJItRi o Clóvis Rossi num canto. triste. Tinhampedidoparaelemandaro textodanoticiaaté as oito horasdanoite.an 2S linhas,nlo importandooque acontecesse.Quer dizer, não importa mais o fato. Isso é o fim dojomalismo.. Nunca quis deixar a reportagem. Fui obriga-do porque não havia mais espaço para mim. Nesse mo­mento eu senti que tinha chegado ao teto cm um jornal.Tudo o que eu podia fazer. tinha feito. E o caminho queencontrei pera continuar tentando mudar as coisas e in­fluindosobreatalidadefoivoltaratrabalharcomoLula.Penso que cada um deve encontrar um caminho na vidaeeunlogostodegentequeficareclamandootempotodo.Você tem que brigar por aquilo em que acredita.

Z - Qual a sua opinião sobre os quatrograndes jornais brasileiros?Kotldao - É dificil generalizarporque os jornaismudammuito dependendo de quem os faz. Nlo importa tanto

quem é o dono do jornal ou a linha editorial. mas qual aequipe que está fazendo o jornal naquele momento: doeditor-chcfe ao último repórter, Por exemplo, um dosjornais mais conservadores do pais. O Estado de 810Paulo, foi o que mais combateu a censura durante a

ditadura militar. A equipe de redação daquela épocabrigava muito com os censores para publicar as noticias.AFolha de Sio Paulo teve doismomentos completamen­te diferentes: um de subordinação total ao regime e outrode confronto e insubordinação. quando Cláudio Abramoassumiu a direção de redação, E os donos eram e conti-.nuam sendo osmesmos. Por isso. digo que não é sempreigual e não depende só do dono do jornal. O Globo é um

jornal queháalgum tempoeunem lia.Hojeachoumbomjornal. Tecnicamente está sendo bem feito e também porquestOes de mercado resolveu abrir espaço para temas epersonagensqueantesnãopodiam aparecer. Porque alémda ideologia do pado. há uma questio de mercado.�ente. o problema domcrcadonIo pode ser leva--� a extremos como 8CClIltece atualmente em sao Paulo. Kotleho - Concordoplenamente. Há�adefonnaçlo naH

.

e a de nossa unprensa porqueseOJdá :.:par� :w.«<�:;(«*:;;>:.m:<<<<<,,<<<�<<:::;;::<<<:::;;:y.<*<:;;:;;<:::;::::::;;:::;;:;::;;«mm::<::m«::<:;;<<<<:;;<<<<<'i�'i:<<<<<::::::::m<<<<<<::<'ió<<<<«<<< �coumais fácil denun-quemtemamelhorno- "A

ub dlnGta"" Clarasdesgraças.oqueticia, a melhor man- IDS or uau,yao e � errado. ��todlcte, mas quem faz o ISSO tem mwta COIsa

mel�or caderno de fundam.ental para o boa8CODnio�otic·�:;classifioados. É o "en- que aauD

deusaménto" do mar-•

alista Idad"'" O desafio que se apre-

keting, Em nenhum Jorn e o c.

ao senta não é tanto �-desses jornais você contr'a! asmás notiCIastem grandes jomalis- mas SIDl as boa. c ter

tas,mas tem 8f8IJdcs "mll'lc:eteiros". coragan de divul�á-las. Nós.temos um� flDtásticoque está conseguindo soIRviver nesta ense, que supera

Z - As reportagens estão desapaNatdo dos dificuldades imensas. Eparamudaranossarealicl8deDiojornais. É urna polrtica das empresas de besta denunciar o que está cnado. É prcciIo tambémcomunicaçio ou Incompetênda dos aptacntarso�moslrlr o quead funciooando.profissionais?Kotleho - Uma qucstIo central é an=ssIo ccon6mica.Um bom jornalismo exige dinheiro. Mas não é s6 isso.Hoje. na chefia das reda¢Gcs está mna geraçio que nIofez reportagem. O sujeito sai da faculdade. trabalha umano e vira editor-chcfe. Como formaros novos profissio­nais senasredaç&:snlohá gente que fezrcportagcm com

conhecimento para transmitir? Houve uma evoluçlo nojornalismo dos meios eletrônicos - principalmente a TV- e retrocesso no jornalismo i.mpn:sso. O que se vê é um

AM, FM. c TV. Iocas, criIDdo-se assim um imensoCUII'II eleta&ico. Eale é o ..... poder noBrasil hoje.Nio é IÓ a Rede Globo. ou OI grandes jornais. SiopriDcipalmcnte asdIdios locais.UIIdas com finspoliticoso tempo inteiro. Servem pera desIruir os adversários eenaltecero dODo da tWlio. Isso -=-be criando um inocên­cio de Oliveira. prcsideDte da camara Federal.

rádio para eles. É uma primeira amostra, também paraoutras categorias, que é possivel rompcrcssemonopólio.Isso nlo impede que se use os espaços nas rádios quecstIoai

Z - E o problema da insubordinação c:ktntro dahierarquia da empresa?

1,

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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vembro de 92. Passados qua­tro meses sem negociação, a

Secretaria de AdministraçãoFederal entregou uma res­

posta que os servidores acha­ram inaceitável. No dia 2 demarço em Brasília, foi reali­zado um ato público de pro­testo em frente ao Ministérioda Fazenda. Entre os pontosdefendidos pela categoria es­

tão uma política salarial comreajustes mensais de acordocom a inflação, recuperaçãodas perdas salariais a partirde 90, liberação do fundo degarantia e combate ao suca­

teamento do serviço públicoe à privatização.Na última semana o gover­

no liberou um reajuste de33%. Gelson Luis Albuquer­que, tesoureiro da APUFSC,diz que isto não representanada, já que as perdas de ja­neiro a março chegam a maisde 100%. Pelos cálculos doDieese a reposição de janeirode 90 a dezembro de 92 deve­ria ser de 3.353,77%.

CAMPUS

o Catharinensereaparece,na surdina

Reapareceu, na BibliotecaUniversitária, o único exemplarconhecido da primeira edição OCatharinense, de 1931. O jornal,marco inicial da imprensa em

Santa Catarina, estava desapare­cido há mais de três anos. Os fun­cionários da Biblioteca resolve­ram procurar o exemplar porquehavia o boato de que ele estaria"no lugar de sempre". Dito e fei­to: no primeiro dia de trabalhodeste ano, 4 de janeiro, depoisde uma semana de feriado, O Cs­tharinense foi encontrado entreos jornais antigos da seção deobras raras. O jornal estava den­tro de um saco plástico, o quechamou a atenção por se tratarde um procedimento incomumentre as obras raras.

Mesmo com o reaparecimentodo jornal O Catharinense , a

UFSC abriu inquérito adrninis­trativo para investigar o caso. Acomissão já foi nomeada e os tra­

balhos, que incluem depoimen­tos dos envolvidos - devem estarconcluídos em cinqüenta dias.A dúvida é saber se o jornal

nunca saiu da sala de obras raras

ou se estava, de fato, sumido portanto tempo. O certo é que, pormais que tenha sido procurado,o jornal não foi visto desde outu­bro - quando o Zero denunciouo seu desaparecimento - até o

dia em que foi encontrado, maisde dois meses dapóis.A sala de obras raras, foi inter­

ditada em novembro para refor­mas e reavaliação do acervo. A

partir desta data, o acesso à salaesteve limitado aos funcionários- ou a quem que, por ventura,tenha uma cópia da chave da por­ta.

Segundo a diretora da Biblio­teca Universitária, Maria Ghiso­ni, as reformas na sala de obrasraras estão lentas por falta de ver­bas e funcionários. A colocaçãode cortinas "black-out" e o con­

serto do ar-condicionado, únicostrabalhos feitos até agora, us-a­ram dinheiro das multas por atra­so na devolução de livros.

Maurício Oliveira

8

Servidores preparam greve geral

Vamos ver esta cena de novo?

Paralisaçãotem indicativopara mala

osservidores públi­

cos federais decidi­ram dar início aos

preparativos para a

greve geral unificada da cate­

goria, a realizar-se na primei­ra quinzena de maio. Os ser­

vidores fizeram paralisaçãonacional na quarta-feira, dia14, exigindo a moralização doserviço público, e uma polí­tica salarial que garanta a re­

cuperação de perdas e a ma­

nutenção do valor do venci­mento. Em Santa Catarinaparticipam do movimento o

Sindicato dos Trabalhadoresda Universidade Federal(Sintufsc), o Sindicato da Jus­tiça Federal, a Apufsc daUFSC e outras entidades.A pauta de reivindicações

contém 43 pontos e foi apro­vada no encontro nacional dacategoria, realizado em no- Jussara Campelli

Estudantes pressionam K1einübingOs estudantes secundaris­

tas de Florianópolis tomaramgosto pelas ruas, e no últimodia 12 experimentaram o sa­

bor de vitória da mobilizaçãocoletiva. Depois de sair em

passeata e ocupar o plenárioda Assembléia Legislativa,conseguiram que os deputa­dos aprovassem por unanimi­dade a Lei n� 081, de autoriade Miguel Ximenes, que regu­lamenta a cobrança de meia­entrada para estudantes de 1�,2� e 3� graus em todo o estado.

A lei da meia-entrada jáexistia desde 1990, mas algu­mas falhas na sua redação da­vam margem a várias inter­

pretações e artimanhas porparte dos empresários, comopor exemplo, a instituição da"meia-entrada para todos",adotada pela maioria dos ci­nemas locais. De acordo com

a Lei n� 081, teatros, cinemas,casas de shows e eventos es­

portivos são obrigados, a terestipulados os valores das en­tradas inteiras e meias entra­das. Terão desconto de 50%todos os estudantes portado­res de carteirinha expedidapor entidades filiadas à UniãoNacional dos Estudantes(UNE) ou União Brasileira

Acampados brigam pels sanção da lei da meia entrada

dos Estudantes Secundaristas(EBS).Para entrar em vigor, a no­

va lei. da meia-entrada deveainda ser sancionada pelo go­vernador Vilson Kleinübing e

depois publicada no DiárioOficial, o que deve levar cercade um mês. Rui Oliveira, pre­sidente da União Catarinensede Estudantes Secundaristas,o mesmo que organizou pas­seatas e até um acampamentoem frente ao Palácio SantaCatarina, diz que a pressão

vai continuar, até que a 081saia dos trâmites burocráticose ganhe os guichês de cinemas,teatros e estadíos.

Os únicos que não fícaràmcontentes, é claro, foram os

empresários. "Vai ficar piorpara todo mundo", garanteMário Santos, dono da Em­

presa Cinemas Arco-Íris Lt­

da, responsável pela progra­mação de todos os cinemas co­merciais -de cidade. As casas

da rede vinham cobrando Cr$

40 mil pelO ingresso, a chama­da "meia-entrada para to­

dos". Agora, Santos diz quevai igualar os preços aos co­

brados no eixo Rio-São Paulo- cerca de Cr$ 100 mil pelainteira e Cr$ 50 mil para estu­dantes. "É um blefe" , dizRuide Oliveira, que aposta na

realidade de mercado paraimpedir que os empresáriosexagerem nos preços. "Se elesfizerem isso, as casas vão ficarvazias".

ABRIL 9:

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 8: FLORIANÓPOUS,hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993abri.pdf · 2016-05-31 · excepcionais de impeachment d.opresidente,edacassaçãodo mandato dos parlamentares. NaRepúblicaParlamentarista

-----------------------------------------------------.-- - �_.- � -_._--_. -'.

Durante a ditadura, Manoel se escondeu quatro meses no forro de sua casa

Primeiro comunista de secompleta 90 anos aindafiel a sua ideologia

Seu Mimo acuso Roberto Freire de traidor

por participar do governo Itamar Franco

e'"N

os:

�'""

iis

III

, I

I

, ,A esquerda doBrasil tem me­

do de liderar asmassas rumo ao poder". Es­ta é a opinião de ManoelAlves Ribeiro, primeiro ve­

reador comunista eleito em

Santa Catarina. "Seu Mi­mo", como é conhecido porfamiliares e amigos, come­morou 90 anos dia 13 demarço, com um almoço ofe­recido a parentes, amigos e

personalidades como o pre­feito de Florianópolis Sér­gio Grando.

Eleito para o período59-63, sua candidatura sófoi possível graças a uma fa­lha da polícia que permitiuque um companheiro departido fosse nomeado pre­sidente do diretório munci­pal do PSP na capital.' OPartido Comunista, na ile­galidade desde a década an­

terior, pôde então colocarna Câmara Municipal seu

primeiro representante,ainda que ele estivesse ofi­cialmente no PSP de Ade­rnar de Barros.

Trabalhador da constru­

ção civil, talvez o único ain­da vivo a ter trabalhado na

edificação da ponteHercílioLuz, Manoel Ribeiro ouviufalar em comunismo pelaprimeira vez aos 15 anos,quando ajudou na fuga de

ABRIL 93

PERFIL

dois jovens anarquistas, iro­nicamente, anticomunistas.Logo tratou de saber maisa respeito daquele novo ti­po de pensamento que o ha­via fascinado. Aos 16 anos

já chefiava a primeira gre­ve, na mina de carvão deLauro Müller. Participouativamente do chamado So­corro Vermelho, espécie decomitê de arrecadação defundos para os revolucioná­rios russos.

A amizade com Luís Car­los Prestes, qt.� perdurariaaté a morte do C« valeiro daEsperança, começou du­rante a famosa Coluna Pres­tes, em 1924. Prestes foi tãoimportante para Manoel,que ele o homenageou com

o nome do seu primeiro fi­lho, Luís Carlos. A sua par­ticipação na Intentona Co­munista de 1935 rendeu-lhetrês dias de cadeia. Em 39,ajudou na primeira mani­festação a favor da entradado Brasil na guerra. No ano

de 62. já como vereador emFlorianópolis, visitou a

União Soviética, onde foiconhecer de perto as refor­mas implantadas por seus

"camaradas" ,

Com o golpe militar de64, foi obrigado a se escon­

der para não ser preso. Aoinvés de ir para longe , o que

seria mais 'seguro, preferiuse ocultar em casa mesmo.

Ficou durante quatro meses

entre o forro e o telhado decasa. Só voltou a viver umpouco mais tranqüilo quan­do foi anistiado, cinco anos

depois.Sobre a União Soviética,

ele diz que as recentes refor­mas vividas por lá já eram

esperadas, que elas não sig­nificaram o fim, e sim um

avanço do socialismo. Dissetambém que o povo sovié­tico deu um rumo à humani­dade. Ele considera sem

fundamento as acusaçõesde Kruschev a Stálin. Dizque foi um ato de levian­dade do ex-líder.Com relação a Cuba, Ma­

noel Ribeiro é enfático:"O povo brasileiro não

tem moral para criticar Cu­ba, pois os cubanos fizerama revolução, tiveram a cora­

gem de enfrentar a situaçãoque existia lá". Assim eledefende Cuba, destacandoque o regime deve perma­necer como está, e com Fi­del Castro no poder.O deputado federal Ro­

berto Freire é por ele consi­derado um traidor desdeque resolveu apoiar um go­verno que ele avalia como

seqüência do de Collor.

Marcelo Santos

ZERO

Nove entre dez crülce s musicais moderninhas contéma palavra crossover. Significa misturar, fundir, mixar

estilos musicais diversos e, aparentemente, sem nadaem comum. A banda Urban Dance Squad nãoexistiria se não fosse este conceito. Desde seu

primeiro disco, Mental Floss For The Globe (89), elesapontam as diretrizes de toda essa mistureba, tanto na

qualidade como na quantidade. Não satisfeitos,lançaram o segundo Ip com uma verdadeira profissãode fé como t(tulo: Life 'N Perspectives Of A Genuine

Crossover. Pretensãol Megalomanial Não. Poucos

conjuntos conseguem tanta coesão ao lidar com

coisas tão diferentes como rap, rumba, tecno e ritmos

ISSG latinos com a maestria do UDS.

É QUE ÉFormado em 1987 em Amsterdam, na Holanda, oUrban Dance Squad não se limita a apenas uma

praia. Se na estréia com Mental... o astral era "dancemusic a quilômetros de distância de baterias

eletrônicas", é neste Ufe 'N... �ue a fórmula realmentevingou. Não há nada que lembre uma discoteca, e

tudo parece que foi feito sob medida para discoteca."Careless", com baixa rotação e uma batida pra lá

de safada, é capaz de agradar a reggaemanfacos, fãsdo Red Hot e coroas que adoram saborear um bornjazz. Não é a toa que a banda já arrancou elogiosde Rick Rubin (produtor do Red Hot e visionário do

rap), Anthony Kieldis (vocalista do Red Hot) e VernonReid (guitarrista do living Colour),

Continuando com as

perspectivas de um genuínocrossover, podemos usar

como material didático a

faixa l'(Thru) The Gates OfX The Big Fruit', que soa

� como se o Cure tivesse idoã2 passar uma temporada noC.!) Caribe e lá encontrasse umaQ excursão do Harlem. Jimi5 Hendrix diz presente emu, NHarvey Qulnnt", uma

mClsica que pra acompanharo swing, só sendoinverte6rado mesmo. E a

faixa t(tulo, loucura dasloucuras, é dividida em

quatro pedaços que variamde 50 segundos a um

minuto e meio. Todos elescom urn rap poderos(ssimo,de rachar o assoalho como

o ultra radicai Public Enemy.Tanto é que o inimigopúblico Chuck O declarouque o UDS era o seu grupopreferido e se ofereceu paraproduzir e remixar suas

próximas gravações.

A banda é formadapor Rude Boy (vocal),Tres Manos (guitarra).

Silly' Sir (baixo)Magic Stick (bateria)e DNA (dj). Um do

Suriname, um daIndonésia e três

holandeses.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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C:ULTURA

Grammy consagra ClaptonJURADOS PREMIAM SOM ACÚSTICO

PARA SE REDIMIREfVl DAS FARSAS DO PASSADO

O público da música popinternacional acompa­nhou em fevereiro des­

te ano a 35': edição do prêmioGrammy, patrocinado pelaAcademia de Ciências Fono­gráficas dos Estados Unidos. Apremiação dos artistas foi mar­cada pela prudência na escolhados nomes e conseguiu unir su­cesso comercial e consistênciaartística em muitas categorias.Com a sua singela composiçãoTears in heaven, Eric Claptonfoi o grande vencedor desseano. A música foi feita em ho­

menagem ao seu filho Conor,que morreu em 92, ao cair do53': andar do prédio onde mo­

rava.

Aquilo que inicialmente se­

ria um desabafo emocional se

transformou em sucesso e ren­

deu quatro prêmios Grammy:melhor álbum, melhor cantorpop, canção do ano e melhorprodução. Clapton também re­

cebeu o prêmio de melhor can­ção de rock, pela músicaLayo­la composta em 1970.

A festa do Grammy teve ou­

tras atrações marcantes. Entreelas as apresentações do grupoRed Hot Chili Peppers (me­lhor canção de hard rock, comGive itaway) e do grupo Arres­ted Development (melhor gru­po de rap, com Tenessee); as

premiações do brasileiro Sér­gio Mendes (melhor disco deworld music, com Bresileirai eda dupla Celine Dion & PeaboBryson (melhor duo pop, coma música The Beauty and thebeast, tema do filme a Bela e

a Fera) e a homenagem ao su­

perastro da música pop, Mi­chael Jackson prêmio especialpelo conjunto de sua obra. Es­ta foi uma das raras ocasiõesem que o público concordoucom os críticos. aoós uma longa

Um jornalque fala deimprensaProfissionais, professores e es­

tudantes de jornalismo devemsair atrás da edição comemora­

tiva dos 70 do jornal A Notícia,de Joinville, publicada dia 21 deabril. E que o jornal em vez dese curvar sobre si mesmo, publi­cou cinco cadernos (72 páginas)falando só de jornalismo e im­

prensa. Reportagens investiga­ram o futuro da profissão, comosão todos os cursos do Estado e

do Rio Grande e deram um vasto

perfil da imprensa em Santa Ca­tarina. Artigos de jornalistas re­

conhecidos abordaram a ética e

outros temas. Confira.

Clapton: tributo tardio

história de equívocos e grandesfarsas, patrocinadas peloGrammy.Em 1990, a Academia Fono­

gráfica norte-americana conce­

deu o prêmio de grupo revela­ção à dupla de cantores MilliVanilli, por Girl, you know it'strue. Alguns meses depois, a

dupla teve que devolver o prê­mio. pois foi comprovado pu­blicamente que os dois inte-'grantes do grupo não passavamde imitadores profissionais. Asvozes de seus discos eram deanônimos cantores de estúdio.O prêmio foi devolvido-mas a

promoção da dupla rendeu setemilhões de discos em todo o

mundo.Nos anos seguintes, o pres­

tígio do Grammy foi novamen­te arranhado. Em 91, o prêmiode melhor cantora pop era dis­putado por Sinead O'Connor(Nothing compares to you),

Memória doJornalismo trazDimensteinGilberto Dimenstein, chefe da

sucursal de Brasília da Folha deSão Paulo é o próximo convidadocom palestra confirmada para o

projeto Memória do Jornalismo.Vai ser no dia 8 de junho no audi­tório do CCE, às nove da manhã.Na véspera, será exibido o filmeA Guerra dosMeninosde SandraWerneck ;- exigência de De­menstein. E que ele aproveita pa­ra fazer o lançamento em Floria­nópolis de seu best-seller Meni­nas da Noite. O projeto,já trouxeJosé Hamilton Ribeiro, Washing­ton Novaes, Ricardo Kotsho e

Guillermo Piernes.

Mariah Cerey (VÍsions of la­ve), Lisa Stansfield (Allaround the World) e outras. Si­nead O'Connor, que na épocaera apotada como favorita de­clarou à imprensa que iria recu­sar o prêmio, caso fosse con­

templada. Disse também quea arte e a música dos EstadosUnidos estavam sendo usadascomo forma de controle da in­formação, comercialismo e

materialismo.No ano passado a imparcia­

lidade do Grammy foi nova­mente posta em dúvida. Nata­lie Cole é a grande vencedoracom a música Unforgettable,sucesso dos anos 50, inicial­mente gravada por seu pai NatKing Cole. O que pesou real­mente na escolha de Natalie foio fator eletrônico. A regrava­ção de sua voz, mixada em duócom a voz original, arrebatouseis prêmios. O videoclipe damúsica teve tons de nostalgia,com imagens da cantora mes­

clados com as do pai feitas em

1951.Nesta trajetória de 35 anos,

o Grammy já esqueceu de gen­te como Little Richard e os Ro­lling Stones. Por outro lado, jápremiou exaustivamente artis­tas consagrados com as maio­res vendagens de discos, os

contratos mais bem pagos pelasgravadoras e os videoclipesmais caros e mais assistidos.Fazem parte desse clube: Mi­chael Jackson (Thriller, 83Bad, 87 e Dangerous, 91) Ma­donna (Like a virgin, 80), Prin­ce (Purple rain, 84) e outrosmenos cotados. O maior prê­mio da indústria fonográficados Estados Unidos, que se au­

to-proclama o Oscar da mÚSI­ca, revela, então, a sua preocu­pação básica: o retorno finan­ceiro.

Luis Carlos Festl

UniversidadeAberta voltaem agostoDia l� de agosto volta ao ar o

programa Universidade Aberta,experiência bem-sucedida do La­boratório de Audio do Curso deJornalismo. O programa que, emdez minutos conta tudo que de

importante acontece na UFSCvai ser apresentado de segundaa sábado dentro do noticioso Pri­meira Hora, transmitido pelaBarriga Verde FM, a partir dassete da manhã. A coordenaçãoé da professora Valci Zuculotoe a produção de seis alunos bolsis­tas. Em sua primeira fase, o pro­grama foi apresentado durante

quatro meses de 91.

ZERO10

Curso de Jornalismoresgata radioteatroUm dos patrimônios do rádio brasileiro

está sendo resgatado peloCurso deJornalismoda UFSC. As famosas radionovelas queemocionaram vovós e titias estão de volta,graças ao trabalho desenvolvido por alunosdo Curso junto ao Núcleo de Produção deRadioteatro, comandado pela professoraValeiZuculoto.A "operação resgate" começou em 91,

comarealização doprimeiro projetodoNúcleo,urna adaptação para Luna Caliente, livro do

.

-""-_....

escritor MempoGiarginelli. Os novecapítulos Prokssora VaieIZucololo

da novela foram concluídos em um ano e sua pré-estréia aconteceu em abrilde 92, nwnmovimentado bar de Florianópolis. A idéia de se trazer de voltaas radionovelas chamou a atençãodemuitagente, atraindo tambémdiretoresdas rádios da cidade. Começou a surgir então, a possibilidade de veiculaçãocomercial da radionovela, que ainda não foi acertada.Valei Zuculoto pretende apresentar em breve urn projeto de patrocínio,

que viabilizará a veiculação das radionovelas. Com o projeto pronto, Valeivai correr atrás de empresas que banquem um espaço nas rádios para queLuna Caliente e O CrimePerfeito, de GustavoNeves Filho, atualmente emfase dereedição. possam ser apresentadas ao grande público. Enquanto issonão acontece, Valei e os alunos preparam a terceira radio-novela do Núcleo.provavelmente A Caminho do Céu, também de Gustavo Neves Filho.

principal autor da "fase áurea" do rádio catarinense. Lá pelo mês de maiocomeça a seleção de rádio-atores. feita com a colaboração da diretora doteatro Carmem Fossari. Qualquer pessoa pode participar. basta entrar em

contato com o Curso de Jornalismo da tJFSC.

FM critica ImitaçõesA TransaméricaFM(lOI,7MHZ) Em parte a Transamérica tem ra-

vem colocando lenha na fogueira na zão. OPonha aBocana Cidade éte­

briga das FMs de Florianópolis. almente wna cópia mal-feita, muitoatravés de wna vinheta veiculada em mal-feita e sem graça do Transa/ou­sua programação. Na vinheta, a ca. Uma pergunta babaca, com res­

Transamérica critica, citando nomes, postaspiores ainda. Em contrapartida,as rádios Cidade (99.3 MHZ) e osprogrametesdehumordaAtlântidaAtlântida (100.9 MHZ). A critica é conseguem ser melhores que o TVdirecionada ao programa Ponha a Cover por urn simplesmotivo: o caraBoca na Cidade e aos programetes quefazas imitações chama-se Escovade humor que aparecem de hora em (aquele que trabalhoucom o Faustãohora na Atlântida. O que a naépocadoPerdidosnaNoite),semTransamérica faz é tirar uma onda dúvida um dos melhores imitadores,em cima das concorrentes, afirmando pelo menos ele consegue ser muito

que os novos programas não passam mais engraçado que a maioria. Suade cópiasmal-feitas da Transalouca imitação do Clodovil é impecável e oe do TV Cover, transmitidos pela bordão "quer café, quer vinho do

Iemissora. porto" fica ainda mais hilário.

·1Espottestem alta

Alegria Iem baixai'

Tremenda manobra. As rádiosCidade FM (99.3 MHZ) e AtlântidaFM (100,9 MHZ) abriram espaçopara programas sobre esportesradicais (surf. skate, vôo livre, entreoutros). O Rock Paim (sábado, àsoito da noite, na cidade) e o Zona deImpacto (segunda, às oito da noite,na Atlântida) surpreendem pelaquantidade e pela qualidade dasinformações. Não pinta nadatruncado e às vezes tem até entrevista.Tudo numa linguagem que às vezes

chega a ser didática, fazendo até o

mais leigo dos leigos sacar algumacoisa de vôo livre, por exemplo.

Trabalhando na boa, sem muitobarulho, a Antena I FM(92ml MHZ)acirra a disputa com a Alegria FM

(96,9 MHZ) pela preferência do po­vão. Pelomenos osmotoristas de ôni­bus estão sintonizando a Antena commaior frequência. Essa vantagem de92, I é explicada pelo fato da sua pro­gramação popular, ao contrário doque acontece naAlegria, não seprendea massificada música sertaneja. Oimpacto inicial daAlegria aos poucosvai se acabando, junto com o furorsertanejo, estranguladopelaexcessivaexecução. Resumindo: encheu tantoo saco que ... filão se acabou.

ABRIL 93

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Oportunismo ressuscita RaulRaul

Santos Seixas, omessias do rock nacio­nal, ressuscitou. Não no terceiro dia, masapós o terceiro aniversário de sua morte.

Subindo pelo elevador dos fundos, nem foi pre­ciso vir em seu corpo físico: o que insiste em

viver são suas músicas e sua memória, propa­gadas por seus fãs como um autêntico evangelho.Mas enquanto as confrarias raulseixistas se

multiplicam pelo país e seu corpo espera o NovoAeon no cemitério Jardim da Saudade, em Salva­dor, os vermes trabalham. Empresários e oportu­nistas de ocasião, que sempre dedicaram um des­dém todo especial a Raul, roem suas magras en­tranhas atrás de míseros milhões. São os vendi­lhões no templo, que tentam pasteurizar as idéiasdo maior rocker brasileiro para que caibam nas

agendas das menininhas, impondo-lhe um tristepurgatório. E Raulzito bem que implorou: "Deusme livre, eu tenho medo de morrer penduradonuma cruz".E dá-lhe ignorância em toda circunstância.

Quemmeteu os dentes primeiro foi a SonyMusic,que contratou artistas (?) para gravar um LP in­terpretando as músicas de Raul. O esquálido cor­po do baianinho certamente se revirou no caixãoao saber quem eram os tais "artistas". Ultrajea Rigor, Nenhum de Nós, Barão Vermelho, Ci­dade Negra, Vange Leonel (quem mesmo?) e

até a "aberração de laboratório" conhecida porRPM.

O ex-parceiro Paulo Coelho também tentouabocanhar prestígio, escrevendo por aí que sesentia orgulhoso com a renascença raulseixista,como se o mérito fosse seu. Logo ele, que traiua Sociedade Alternativa e que posa hoje como

mago convertido. Aliás, a única mágica do PCdas livrarias foi ter vendido mais de dois milhõesde livros às custas da paranóia da nossa gente.Até os new-sertanejos estão faturando, regra­vando os sucessos de Raul sem escrúpulo algum.E, a gente nem sabe mais de que lado estãocertos cabeludos ...Exílio e boicote - Para aprende o jogo dos ratos,

Raul Seaixas tinha que transar com Deus e como lobisomem. Sem fazer concessões, Raulzitosempre foi a verdadeira mosca na sopa, voandode gravadora em gravadora-os diretores o consi­deravam um artista maldito. Mexeu com os mili­tares e foi exilado nos Estados Unidos, onde co­

nheceu John Lennon.Também nunca acumulou riquezas materiais;

não queria se sentar no trono de um apartamento\

e esperar a morte chegar. Preferia convencer as

paredes de seu quarto sobre seu idealismo e dor­mir tranqüilo.

Raul sempre viveu segundo sua própria manei­ra, desde seu nascimento, em 28 de agosto de1945 (não, não foi há dezmil anos atrás). Inicioucedo no rock, influenciado por jovens norte-ame­ricanos que eram seus vizinhos. Em 1957, fundouo primeiro conjunto de rock de Salvador; depoisde dez anos, grava o primeiro disco, com o nome

da banda: Raulzito e os Panteras. Três anos de­pois, a Metamorfose Ambulante se transformaem diretor artístico da CBS, no Rio de Janeiro.Em 1972, após o fim da banda e já fora da CBS,polemiza no Festival Internacional da Culturacom seu Let me sing. No ano seguinte, gravaseu primeiro LPKrig-Hs Bandolo.Para Nóia - No recém-lançado livro O Baú

do Raul, os escritos até há pouco inéditos dorocker baiano provam que ele não era um malucotão beleza quanto se proclamava. Os textos do

r\BRIL 93

OURO DE TOLO

''Sempre estivemos mortosantes de nascer.

Vivemos um curta periodocom a capacidadee a certezade que oamos

voltar para a morte.

Nascer de novo

para o absurdoda vidaé impossívelA morte éo verdadeiro lugardo homem.

.

A vida, um

pequenopasseio curta

num lugar doidoe de mau gosto.

1/

Fragmentodo livroBaú do Raul

livro, escolhidos pela esposa Kika Seixas, apre­sentam um Raul depressivo e paranóico, que cho­rava depois de ficar um dia inteiro grudado no

rádio sem ouvir uma única música sua. A fasemais triste se passa no início da década de 80,quando osDJ's cuspiam em seus discos. Raulzito,em seu diário, se lembrava dos conselhos desua mãe, que sonhava com um filho presidenteda República. Dedicava seus textos a sua para­nóia de ser alguém de "por o polegar para carim­bar a História".

. Foi seu fã Marcelo Nova, o ex-vocalista dabanda Camisa-de-Vênus, que ajudou Raul a eli­minar sua paranóia. Depois de ter gravado algunsdiscos em pequenas gravadoras entre 1983 e 1988,Raulzito voltou a excursionar com Marcelo Novae prepararam um LP em parceria, A Panela doDiabo. Aclamado nos shows por sua legião de

fãs, o baianinho se consagrava definitivamentecomo o maior roqueiro do país. Sem querer dizer

nada, cantando por cantar, Raulzito mostrou

porque tantos admiradores, a maioria pobre,identificavam-se com suas músicas: Macunaímada MPB era a cara do Brasil.A Terra parou - Mas, cansado da presença

constante damorte em seu calcanhar, Raul Seixas"deu um tempo" no dia 21 de agosto de 1989.

Agora, Raulzito é celebridade: reportagem na

Veja, coletâneas com seus sucessos, fica difícilaté distinguir os fiéis dos profanos. Mas não se

preocupe: Raul, agora junto do Pai do rock, ébem capaz demandar um dilúvio que desmascareos falsos profetas. "E a chuva promete não deixarvestígios ...

"

José da Silva Jr.

ZERO

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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COBERTURA À LA FSP

_; 'IIf'

"Folha tem debilidade informatiya emuitos erros de português. Seu acabamento é fraco para jornal que pretende ser omelhor do pais"

Ombudsman não poupa seu jornalcoin o leitor.Hoje, o FSP é um jornal que cria tendências,

modas jornalísticas e tem uma imagem de jornalmoderno, visualmente atraente. Mas Mário Vi­tor não se esquece de dizer dos poucos correspon­dentes que o jornal tem nos estados brasileirose no exterior e da estrutura econômica aindadébil embora seja um dos que paga os melhoressalários. "A Folha tem mais prestígio fora do

que dentro de São Paulo, ou seja, gosta menos

do jornal quem o conhecemelhor(...) Seu méritoé que, com tantas debilidades, ainda assim mos­

tra seus erros, expondo-se à opinião pública,"assegura.

A Folha ainda tem grandes debilidades infor­mativas e há muitos erros de português. Seuacabamento, embora exuberante, ainda é fracopara um jornal que tem a pretensão de ser o

melhor do país" reconhece o jornalista.A Folha de São Paulo foi o primeiro jornal

da América Latina a ter um ombudsman. Essanecessidade veio depois da campanha DiretasJá, quando atingiu projeção nacional, devidoà sua postura radical a favor da campanha. Erapreciso segurar a nova posição e a velha fórmulade "conservador em economia, liberal em polí­tica e radical em cultura" precisava ser repen­sada. O que poderia sustentar o jornal era a

boa informação, valiosa, bem escrita, clara e

rapidamente. Era preciso preocupar-se mais

Oombudsman da Folha de São Paulo,Mário Vitor Santos esteve no audi­tório do Centro. de Convivência daUFSC, no dia 10 de março. Sua vinda

concretizou a proposta feita ao Curso de Jorna­lismo e ao Departamento de Comunicação parauma visita patrocinada pelo seu jornal para falarde jornalismo e do Zero.Mas o que é ombudsman? It a pessoa encarre­

gada de representar a opinião pública dentrode uma empresa, jornalística ou não. No caso

de·Mário Vitor, além de atender diariamenteo público e levar suas reclamações à direção dojornal, escreve uma coluna semanal na Folhade São Paulo onde, com toda liberdade, apontaos erros e as falhas do jornal: Patrícia Marcia de Souza

"Zero possui unidade grálica mas desconhece leitor••. . •.deve ousar e definir linha editorial com clareza"

CRiTICA DO OMBUDSMAN

.:.e não foi poupado por nosso crítico",' jFolha. E Mário Vitor, ao que parece, não se

ressente com sua condição dentro do jornalmais "moderninho e radicalzinho" do país, se­gundo sua própria definição.

"Vocês sabem o que é a coisa mais impor­tente em no� vides? É o dinheiro, ràpazes.O dinheiro!"E esse o ideal do nosso "advoga­do"?De quell.!Mário Vitorpretende nos defen-der?

'

Por fayor, Mário Vitor, diga que você estsv«blefando. Fale, em sua próxima coluna na Fo­lha, sobre seu idealismo e sobre seu compro­misso com o leitor. Ou, se preferir, liste qui­nhentasmentiras, apenaspara lembrar ao pú­blico que a demagogia da Folha é o dobro daconcorrente.

se conhece um jornal, menos ele é apreciado.Omesmoacontece com a ligura deMário Vitor:suas opiniões em nada lembram o que se possaesperar de um pretenso "adyogado do leitor".Sua função parece servir apenas para atenuaras eventusds falhas da Folha. No caso deMárioVitor, "advogado do patrão" soaria melhor.As declarações do ombudsman da Folha dei­

xaram dúvidas na cabeça dos alunos da UFSC.Mário Vitor, porexemplo, admitia que sua opi­nião, preferencialmente, coincide com a do pa­trão. Os estudantes, então, perguntam: comuma ligação tão umbilical com os interessesda Folha, há espaço para a credibilidade dojornal?Não seria a função do ombudsman umafarsa, um engodo aos leitores desayisados?Possivelmente, o tal "advogado do leitor"

sirve apenas para aumentar a vendseem da

MárioVitor Santos visitou o Curso

de Jornalismo da UFSC para co­

nhecer de perto o sistema de pro­dução do Zero. Durante amanhã,

Mário Vitor conversou sobre jornalismo com

os a1uDOS e professores do Curso, relatandosua experiência como ombudsman. Pela tarde,participou de uma aYaliação doZero, opinandoe comentando o jornal-laboratório da UFSC.Por definição, ombudsman é o jornalista pa­

go para avaliar o jornal em que trabalha, bus­cando a satisfação do leitor - e, conseqüente­mente, melhores vendas. A cada edição, MárioVitor elabora um comentário escrito, com cir-

, culação interna. Além disso, garimpa as falhasda imprensa nacionalpara expô-Ias em sua co­luna dominical na Folha.Segundo opróprio ombudsman, quantomais EII/otNe••

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina