florianÓpolis, marÇo ano xv, ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf ·...

11
FLORIANÓPOLIS, MARÇO DE 1888 - ANO XV, NÚMERO 4 I Começou em Ipanema e foi gravado até por Frank Sinatra. Nasceu com Chega de Saudade e hoje é considerado o movimento mais inovador da música brasileira João, o brotinho e o violão Ocupação desordenada vai contaminar a água do Norte da Ilha Viaduto do CIC passa por CIma da comunidade Câmara não defende a população, as empresas de ônibus Retransmissoras de 1V perpetuam o poder de políticos Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Upload: vutram

Post on 18-Jan-2019

235 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

FLORIANÓPOLIS, MARÇO DE 1888 - ANO XV, NÚMERO 4

I

Começouem Ipanema e foigravado até porFrank Sinatra.

Nasceu com Chegade Saudade e hoje

é considerado o

movimento mais inovador damúsica brasileira

João,o brotinhoe o violão

Ocupação desordenadavai contaminar a

água do Norte da Ilha

Viaduto do CIC•

passa por CImada comunidade

Câmara não defendea população, só as

empresas de ônibus

Retransmissoras de 1V perpetuam o poder de políticosAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 2: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

ZERO Jornalismo brasileiro perdeCURS:�çg;�:SMO um grande repórter e editorCCE - COM

UFSC

������Melhor Peça GráficaI, II, III, Iv, V e XISet Universitário

88,89,90,91,92 e 98

Dedicado à memóriado repórter

Marcos Faermann

Jornal-laboratório doCurso de Jornalismo daUniversidade Federal de

Santa Catarina editado peloLaboratório de InfografiaConcluído em 15 de março

Arte: Romeu MartinsColaboração: Prof. ÁureoMoraes, Caio Cézar, Jornal ANotícia, José da Silva [rDireção de arte e deredação:Prof. Ricardo Barreto

Edi5ão: Carolina de Assis,Natalia Viana, Salvador Gomes(Sêniors), Camila Olivo, CleideKlock, Filipe Bezerra, JadeMartins, Gustavo Schwabe,Rhodrigo Deda, Romeu Martins,Sara Stopazzolli, Sílvio SmaniottoEditoração eletrônica:Carolina de Assis, Natália Viana,Salvador Gomes, Sílvio Smaniotto(Sêniors), Cleide Klock, FábioFava, Filipe Bezerra, JadeMartins, Gustavo Schwabe,Rhodrigo Deda, Sara StopazzoliFotografia: Gustavo Schwabe,Salvador Gomes, Samanta Lopes,Wagner MaiaLaboratório Fotográfico:Salvador Gomes, Samanta Lopes,Wagner Maia,Secretário de redação :

Pedro ValenteServiços editoriais: Bravo,Companhia das Letras, O Estadode São Paulo, Versão dosJornalistasTextos: Adriana Sobierajski,Alexandre Brandão, Anacris deOliveira, Camila Gallo, CamilaOlivo, Jade Martins, GustavoSchwabe, Lúcia de Barros,Natália Viana, Romeu Martins,Salvador Gomes, Samanta Lopes,Sílvio Smaniotto, Valdecir BeckerTratamento de Imagens:Camille Reis, Fábio Fava, JoséLacerda, Pedro Valente, SaraStopazzoliPre-press: ArtlineImpressão: Diário CatarinenseRedação: Curso de jornalismo(UFSC-CCE-COM), Trindade, CEP88040-900, Florianópolis/SCTelefones: (048) 331-9490 e

331-9215Fax: (048) 331-9898Site: www.cce.ufsc.brj-comE-mail: [email protected]ção: gratuita e dirigida

Marcos Faermann trabalhou 24 anos no Jornalda TardeO jornalismo brasileiro per- 12

deu um de seus maiores reporte- �res. Marcos Faermann, 55 anos, -ªlgaúcho de Rio Pardo, jornalista há :';38 anos. Morreu de infarto do mio- .�

Q

cárdio, em São Paulo, dia 12 de fe-vereiro.

Em um de seus textos, ounarrativas, como preferia chamá­los, afirmou que "às vezes, o nomeé uma condição". Se isso é verda­de, o nome dele era uma condiçãopara ser jornalista. E dos tons.

Em 1961 iniciou a carreira no

jornal ÚltimaHora, de Porto Alegree de lá, foi para o Zero Hora. Deste

tempo quem tem boas recordaçõesé Luiz Fernando Veríssimo. Em crô­

nica, no jornal O Estado de São

Paulo, descreveu o colega, comquem aprendeu o que era a rotinade um jornal, assim:

"O Marcão vivia em ebuliçãointelectual e física. Seu entusias­mo pelo jornalismo, pela possibili­dade de criar mesmo dentro das li­

mitações de um diário precário e

de um clima repressivo, era conta­

giante. Havia uma área de risco,literalmente de risco, em torno desua inquietação permanente.Como ele não sabia pensar ou falarsem rabiscar jlguma coisa, vocêprecisava recolher mãos e protegera roupa da sua esferográfica distra­ída."

Em 1968, Faermann foi parao jornal da Tarde, em São Paulo,onde ficou como repórter especialpor 24 anos. Paralelamente, parti­cipou da criação ou da execução demuitos jornais alternativos. Entreeles: O Bondinho, o Grilo, o Ex e o

Versus. Criou a revista Singular &

Futebol ejornalismoforam as maiorespaixões de Faermann

Plural, que foi editada entre 1977 e

1978.na." Entendia o jornalismo como

um método de trabalho e não uma

linguagem.Em dezembro último, Faer­

mann esteve em Florianópolis, naUniversidade Federal de Santa Ca­

tarina, participando do encontro

jornalistaspela Paz. Veio falar so­bre o novo jornalismo.

Atualmente estava envolvi­do na realização do livro Históriada reportagem - de Heródotoaos nossos dias. Afirmava queseria o livro de sua vida. Na sua

opinião, a grande lacuna na for­mação acadêmica de novos pro­fissionais do jornalismo era nãose deter na história da reporta­gem.

O coração the traiu em ple­na atividade. Para Veríssimo foi

paixão demais - "nunca conheci

ninguém tão apaixonado por jor­nalismo como o Marcão." Suaobra confirma isso.

O jornalista, que tinha uma

relação "quase melancólica com

Porto Alegre", teve dois filhos, Lau­ra e Julio. Foi chefe do PatrimônioHistórico do município de São Pau­lo e até setembro de 1995 editavaas revistas da Secretaria Municipalde Cultura. Era responsável tam­

bém pela edição de revistas dirigi­das para a comunidade israelita, amensal Hebraica e a trimestralShalon.

Jornalismo era sua maior pai­xão. Em entrevista ao jornalista Ri­cardo Barreto, em 1995, para o jor­nal Versão dos jornalistas, mos­

trou um pouco de suas idéias. "O

jornalismo humanista tem uma

busca de inquietação e dos mistéri­os da condição humana, tem a

emoção da telas de Van Gogh, dostextos de Cortázar, que têm a an­

gústia das buscas de Marx e doFreud, carregado da angustiosa bus­ca dos limites da condição huma-

Hápelomenos oito anos, ouoi-lo era um exer­

cício depaciência. Fruto da doutrina beutmüllerianade-falar; PauloHenriqueAmorim cansava os ouvidos,como correspondente da Globo em "Nôuaiorrrrque "Nãopassava de, com o devido respeito aoprofissio­nal, um diuulgadordas notícias sobre curas, remédi­os, neve, wallstreet, etc... etc... etc... A surpreendentetransferênciapara aBandeirantes representou inici­almente uma grandejogada de marketingpessoal.Nomomento seguinte, a sensação era a de que nadade novopoderia surgir nomal'de telejornalismo quesehavia transformado em um congestionamento deâncoras. Muitas delas, é certo, ajudando a afundarseuspróprios navios. Boris Caso)' talvezseja omelhorexemplo.

No entanto, aospoucos, o jornal da BandcomhudoHenriqueAmorim, transformou-se nopon­to de referênciapara o telespectador interessado es­

tritamente na notícia. Contrariando as teorias de quejornal bom não bate defrente com o jN, encarou o

mesmo horário. Umaprova de que,para brigai; nãohá quesefugtrda briga. Depois, autônomo, indepen­dente, ofereceu ao telejornalismo brasileiro algo ab­solutamente diferente. Sefossepreciso, e em alguns

Amorim foi uma vítima da ditadura do Ibopeque os videntes damídia não houvessemprevisto. Oque assusta, contudo é a absolutafalta de respeitopol'quemjá sehavia acostumado ao simpático "olá,tudo bem?"que se transformou na marca registra­da dojornaldaBandeirantes.

O resultado do atropelo da informaçãopelorolo compressor dos números dofaturamento co­

mercial junto às massas é o fim desta saudáveltentativa de alterar o cenário cansado e repetitioodos telejornais brasileiros. Como diz ojornalistaFa­biano Galgo, em seu artigo na edição 61 do Obser­vatórioda Imprensa, "A única coisa coerenteque osSaadpoderiamfazer seria manter-se nopedestalde emissora quepreza a irformação séria, com um

apresentador colhido dos anais da Globo que tentaoferecer umprodutojornalístico de qualidade umpouco melhor do que se tem nomercado.." Com o

devido respeito ao senhorCasoy, a atitude da emis­sora e dos coordenadores da recém-criada Uni­dade de Produção de jornalismo é, sem dúvida,uma vergonha!fi

Lúcia de Barros

casosfOi, ocupavapraticamente todo o tempo com um

único assunto - comofoi a convocação do congressopara discutiras reformas naprevidência.

O maiorménto dojbandestavamesmo nofatode valorizara informaçãopeta seu conteúdo; estabele­cer complementos à notícia através da participaçãodiária de repórteres ao vivo, aofinal dasprincipaisreportagens. Eevitando os comentários absolutamenteinócuos emoralistasutilizadosporoutros apresentado­res como Caso)' ou Witte Fibe. A escolhapelopadrão deapresentaçãopessoalmas nãopersonalista tornou o

jornaldaBandsério, respeitávele infinitamentesupe­rior aos demais. Fosse nas entreoistasjustas no tempomas completas e objetiuas.fosse nas informações debastidoracrescentadasaofinaldas tnatérias.fossepelacitação expressa e diária do nome do editor-chefe e

apresentador na oinbeta de entrada dojornal, tudo nojornaldeAmorim soava como novo, diferente, e atéporisso de bomgosto.

Mas... a ditadura da pesquisa, do ibope, daaudiência, decantadaporMarioMarana dojNcomo

determinante na bora de compor a estrutura dojornalque dirige, acaboupor tomar de assalto a autonomiadesejada e até bastantepraticadaporAmorim. Nada

Frases extraídas da en­trevista que Marcos Faer­mann concedeu ao jornalVersão dos Jornalistas emdezembro dé 1995:

OJornalismo tem his­tó,._rias, tempropostas; te,!,canones, nao e uma bistô­ria qut} se reinventa a cadageraçao.

Há muita gratuidadena cara dos jornais, acho os

jornaismuifogratuitos,mui­to induzidores, todos osmes­mos. Mudam os logotipos,mas osjornais sãoparecidos,as soluções gráficas idênti­cas.

Vejo o desapego à in­vestigação, o flesapego aotexto e tambem a grandeverdade éque osjornaispa­gam tão mal que os jorna­listas muito lions nao têminteresse em estar em suas

redações. OsJornais de um

modogeral, abrirammão dagrande re}!ortagem como

exercício sistemãtico de in­vestigação da realidade.

Eu acredito na grandehistória, mas é preciso terima/{inação, bons repórte­res, 1Jonsfotógrafos, que te­nham essa arte 'de comoveraspessoas, de contar coisashumanas.

Eu sou um apaixonadodefensor das escolas dejor­nalismo. Pormais

�ueo ob­

jeto delas não este a muitopreciso é o único ugar emque velhos repórterespodemJtJlarde reportagem, onde sediscute texto, estilo.

Talvez o Coojornal te­nha sido omelhorjornal dereportagens de toda impren­sa alternativa. Fazia repor­tagens sensacionais e com o

punch do reporter gaúcho,que éparec'lão com os.ioga­ilores do Grêmio e do Infer:estão sempre lutando, acre­ditando, chutando, se ma­

tando e tudo. Ofutebol e o

jornalistagaúcho sãomuitoparecidos, graças aDeus. Eutenho muito orgulho dosdois.

Aureo MoraesJornalista e professor

do Curso de Jornalismo da UFSC

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 3: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

Poder, dinheiro e votos no arPolíticos são principais favorecidos no jogo da distribuição de RTVs

As RTVs existem pnncipalmente para repetir o sinaldas geradoras de televisão nas localidades onde ele nãochega ou chega precariamente, por isso ficaram de forado decreto numero 1.720, assinado em 28 de novembrode 1995 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, quetornou obrigatória a realização de licitaçao para a outorgade canais de rádio e Tv.

Há outro motivo para as RTVs terem se transforma­do em presa suculenta. De acordo com a lei, elas podemgerar até 15% da programação quando repetem a pro­gramação de emissoras educativas ou quando ficam nachamadaAmazônia legal, que inclui toda a região Nortemais Mato Grosso e parte do Maranhão. E aí que o

que seria uma simples repetidora se transformanuma vigorosa arma política. "Uma TV dessas, pormenor e mais precária que seja, confere ao seu pro­prietário um poder fantástico", diz o ex-rninistro

e ex-senador Jarbas Passarinho, que conheceI de perto o modo de funcionamento de alEU;

mas RTVs instaladas no seu estado, o Para. Epossjvel ouvir queixas até na bancada governis­ta. "E uma vergonha o 9ue estão fazendo comas emissoras educativas', reclama o deputadofederal Roberto Brant (PSDB-MG). "EmMinas,as retransmissoras de TV educativa se transfor­maram em instrumento de política ,l?artidária. Epreciso pôr um fim nesses abusos.

Antenas da fé- A lista das redes de televisãobeneficiadas com autorizações de concessão nãoapresenta muitas surpresas: SBT ( 342 novas re­

transmissoras), Globo (319), TISJRP (310), Ban­deirantes (252), Manchete (226), Record (151).Em sétimo lugar aparecem as TVs educativas, com125 concessoes. A sigla impronunciável (TISJRP),

de Televisão Independente de São José do RioPreto, que ocupa o terceiro lugar, tem como

nome de guerra Rede Vida, e aguardamais140 autorizações do Ministério das Comu­nicações.

"A Rede Vida é um dos únicos siste-w mas de televisão em todo o mundo a ter a

coragem de dizer: somos católicos", diz o dire­tor-presidente da TISJRP, João Monteiro de Barros Filho.Ele diz ainda que conseguiu unificar todas as correntesda igreja para defender os valores da família. Foi reconhe­cido pelo governo. Hoje, cada diocese que desejar receberas imagens da TISJRP compra seu próprio retransmissore o coloca à disposição da emissora, mantendo a posse.Com uma programação variada, os programas de maioraudiência são os terços transmitidos ao vivo. ''A Rede Vidanão tem nenhuma vmculação política", garanteJoãoMon­teiro de Barros Filho.

No campo evangélico, a linha de frente está com a

Igreja Universal do Reino de Deus, proprietária da RedeRecord, com suas 47 emissoras e centenas de repetidorasespalhadas pelo país.

Diversos políticos foram beneficiados por autoriza­cões de instalação de Retransmissoras de TV (RTVs) du­rante o governo FHC. Ao total foram 87 beneficiados,cuja maioria das concessões foi feita por portarias assina­das em datas próximas a janeiro de 97, data da votação daemenda da reeleição. Além de políticos, também forambeneficiadas prefeituras e igrejas.

Apesar da relutância do Ministério das Comunica­ções em fornecer informações a respeito do tema, o Ob­servatório da Imprensa publicou na internet um dossiêapurado pelos repórteres Jayme Brener e Sylvio Costa, doCorreio Brasiliense, que aponta uma série de írregulari­dades. Entre elas, veiculaçao irregular de propaganda, des­cumprimento da legislação eleitoral, emissao ilegal deprogramas, além do "favorecimento de políticos como JoséSarney, Antônio Carlos Magalhães, Inocêncio de Oliveira,entre outros, nas concessoes de RTVs durante o governode Ferrando Henrique Cardoso.

Conforme o dossiê, o resultado das eleições provouo uso político das RTVs, além de mostrar seu poder. AIgreja Universal, que comanda a TV Record, elegeu 14deputados federais, além de fazer o deputado estadualmais votado em São Paulo, Faria jr. (PMDB, com170 mil votos). No Rio de Janeiro, Ronaldo CezarCoelho, cujo irmão, Arnaldo, comanda a TV RioSul (autorizada, neste governo, a retransmitir aGlo- "bo em mais 5 cidades), foi o 4° deputado mais vota- \\do, pelo PSDB. O mato-grossense-w'ellington Fagun- \�"des (PL), integrante do grupo de Júlio Campos, foi o \\federal mais votado. Ele tõi autorizado amontar, neste \

governo, uma rede que já conta com três RTVs. Nomesmo estado, Pedro Henry (PSDB), que era su­

plente, foi o 3° mais votado. Ele é irmão de RicardoLuiz Henry, sócio majoritário da TV Descalvados(SBT), autorizada a funcionar neste governo.

Em Pernambuco, reluz a figura de Inocên­cio Oliveira (PFL, 2° mais votado do estado), pilo­to da TV Asa Branca (Globo) em Caruaru, autori­zada por FHC a montar retransmissoras em maisquatro municípios. O maranhense Roberto Ro­ella, (4° mais votado, PSDB), é sócio da TV Vale doFarinha (Bandeirantes, em Balsas), autorizada a

retransmitir em mais três municípios. E SarneyFilho (PFL), irmão de José Macieira Sarney, sóciomajoritário da TVMirante, foi o 3° federal mais vota-do do estado.

A pesquisa demonstrou primeiramente que amai­oria das repetidoras foi entregue a empresas de comuni­cação tradicionais, sem nenhum vínculo partidário dire­to, ou a prefeituras interessadas em oferecer à populaçãolocal a imagem das grandes redes nacionais ou regionaisde Tv. Confundindo-se com elas, porém, aparecem 268RTVs entregues a empresas ou entidades controladas porpolíticos. Sao 19 deputados federais e 11 estaduais, seissenadores, dois governadores, sete prefeitos, três ex-go­vernadores, oito ex-deputados federais, oito ex-prefeitos e

23 outros políticos sem mandato.Usando oyoder- Como presidente da República,

o hoje senador José Sarney (PMDB-AP) escreveu entre1987 e 1988 um decisivo capítulo da história da radiodi­fusão no País ao distribuir concessões de rádio e TV aaliados políticos. Sarney distribuiu 1316 emissoras, dasquais apenas 288 passaram pela apreciação do congres-so.

Beneficiário direto ou indireto de 21 estações re­transmissoras de televisão (RTVs) distribuídas no gover­no Fernando Henrique o grupo Sarney é no momentouma potência na área de comunicação. Controla o Siste­ma Mirante de Comunicação, que edita no Maranhão o

principal jornal do estado, O Estado doMaranhão, e man­tém tres afiliadas da Rede Globo e pelo menos sete emis­soras de rádio. Possui ainda o SistemaMeio Norte de Co­municação, cuja influência se estende ao Piauí, onde o

grupo Rublica o jornal Meio Norte e repete a programa­ção do SBT a partir do município maranhense de limon- separado da capital piauiense, Teresina, apenas pelo rioParnaíba. Isso sem falar do controle indireto. Sãoligadosao ex-presidente os proprietários de 9,uase todas as emis­soras de rádio e TV do Maranhão. Nada vem para cánessa área sem o aval de Sarney", acredita o ex-deputadofederal maranhense José Carlos Sabóia (PSB). Adversáriode Sarney, o senador Epitacio Cafeteira (PPB-MA) chega abrincar: "All, meu filho, no Maranhão o negócio é ani­mado demais ... "

Ministro das Comunicações do governo Sarney, oatual presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães(PFL-BA), é alvo de uma longa lista de reclamaçoes con-

tra a utilização política do seu gru�o de comunicação -um conglomerado que inclui um Jornal, sete afiliadas daRede Globo (uma na capital e as outras no interior), qua­se 400 RTVs e várias emissoras de rádio.

A TV Asa Branca, afiliada da Globo em Caruaru e

parte do forte esquema de comunicação mantido em

Pernambuco pelo líder do PFL na Câmara, InocêncioOliveira. A Tv, que já tem um faturamento mensal de R$300 mil, recebeu, através de uma portaria assinada emmarço do ano passado, mais quatro retransmissorasque devem duplicam o seu mercado potencial, ._=;-como informa Vicente Jorge, sócio minoritá- .. -

rio da emissora e presidente da Associaçãodas Empresas de Comunicação de Pernam­buco. Ele é sócio majoritáríô da Rede Nor­deste de Comunicaçao Ltda., junto com assuas duas filhas. O grupo de Inocênciotambém controla duas rádios no interi­or (umaAM e umaFM) e a CBN de

Rec�.­fe.As repetidoras de televisão libe-

",�...•,. ,I �I

. )

radas no

atual gover-no também

ampliaram consi­deravelmente o poder

de fogo do empresárioMário Petreli. Ligado ao ex­

presidente nacional do PFL eatual senador por Santa Catarina,

Jorge Bornhausen, ele é dono de 70%do capital das quatro afiliadas da Record no Paraná (osoutros 30% são da Igreja Universal), q_ue ganharam 26RTVs entre maio de f996 e março de 1997: O seu grupode comunicação também mantém a TV O Estado, querepete o sinal do SBT em Florianópolis e Chapecó (SC)alem de duas rádios líderes de audiência em Curitiba: aJovem Pan FM e a Rádio Independência AM. Textos: Valdecir Becker

Clientelismo eletrônico também inclui SCEstado não ficou de fora da farta distribuição de sinais

José CarlosMartinez (PFL-PR) - controla . Mário Petreli (PFL-P�- Muito ligado ao

a Rádio e Televisão OM Ltda. e a Televisão Carimã ex-presidente nacional do PFL, orne Bornhausen, éLtda., que geram e distribuem a programação da SÓCIO maiori�o da Rádio � �levisão Vanguardasua rede, a CNT. As duas empresas fõram autori- Ltda. da Rádio 1V Independência Sudoeste Ltda. ezadas a instalar 28 repetidoras: 20 no Paraná uma da TV IndependênciaSIA, que retransmitem no Pa­no Espírito Santo uma no Mato Grosso do Sul raná o sinal da Record. AS três empresas receberamuma no Rio Grande do Norte duas em Santa Cata� no total26 rependoras, cuia instalação foi autoriza­rina e três em São Paulo.

' da entre 15.05.96 e 21.03.�7. Próspero empresário,Petreli tem 70% do capital do Sistema IndependentedeComunicação.

. Roberto Rogérb Amaral (PPB-SC) ePlínio David de Nez Filho (PFL-SC) - sócios doSistema Catarinense de Comunica_çao (SBT)� querecebeu sete R1Vs, entre 17.07.�6 e 07.Ú).97.Amaral foi fundador e presidente do PDS em La­ges'T."onde-hdepois, presidiu o diretóriomunicipaldo l'RN. Plínlo é filho do ex-deputado estadualhomônimo, já falecido.

'Ivan Bonato (PFL-SC) - sócio-proprietáriodas empresas Televisao Joaçaba Ltda. e Firenze Co­municação e Produção Ltdâ., ambas ligadas à redeBarrigaVerde (retransmissora da Bandeirantes).A rede recebeu 12 repetidoras, entre 23.08.96 e07.03.97. Bonato foí suplente do senador eleitoJorge Bornhausen da [egíslatura anteiior. Exerceuo mandato enquanto Bornhausen ocupou o cargode ministro da Educação, no governo Sarney.

MARÇO - 99,

ZERO 3Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 4: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

o esgoto jogado no solovai contaminar a água

abaixo das dunas

Poluição ataca manancial de águaEsperar pela ajuda do Ministério Público pode ser tarde demais

''A água que abastece todo o norte

de Florianópolis pode ser contaminadade maneira irreversível". Este é o alertafeito em tese de doutorado do sanitaristaEdio Laudelino da Luz, ainda em anda­mento. A contaminação pode ocorrer

devido à construções irregulares que ocu­param as dunas dos Ingleses, região decoleta da água. ''A situação já é preocu­pante", garante o sanitarista, apesar denão saber com exatidão quanto tempolevará para ocorrer. Caso isso aconteça, oestado perderá sua fonte mais pura dei­xando Z5 mil pessoas sem água no in­verno e 70mil no verão.

Cerca de ZOO famílias, instaladashoje nas dunas da Rua do Siri, colabo­ram para apressar os acontecimentos e

tirar o sono de Da Luz. É que o esgotoproduzido ali é jogado diretamente no

solo já que, estando em situação irregu­lar de ocupação, as casas não dispõemde nenhuma espécie de saneamento. Domesmo modo que acontece com a águada chuva, o esgoto escorre pela areia e

pode vir a atingir o lençol freático daonde são retirados 8,5 milhões de m3 de

água ao ano, que são usados para abas­tecer as comunidades de Ingleses.jure­rê, Daniela, Canasvieiras, Ponta das Ca­nas e Ratones. "É uma área de recarga. A

água da chuva é filtrada quando passapela areia e acaba sendo armazenada 60metros abaixo da superfície", conta DaLuz. "Se não houver controle, o nitrato(substância presente no esgoto) podecontaminar a água e servir de alimento

para bactérias".A única medida, caso a

água

Acidentes

e pouca

fiscalizaçãonão impedem

os abusos

Casas e barracos tomaram conta das dunas nos Ingleses. Autoridades não assumem oproblema

captada nos Ingleses torne-se im­própria para o consumo, seria bombear

água do continente - à cerca de 80 km.

Ação impraticável segundoDa Luz. "Comovamos ter dinheiro para fazer isso?", re­clama.

,

A Casan - Companhia Catarinen-se deAgua e Saneamento - examina cons­

a tantemente a pureza da água da região.� "Caso se constate a poluição da água,:2 faremos trabalho de descontaminação",1 diz o gerente regional do órgão, Adilsonc?5 Pereira. Para Da Luz, a descontamina­

� ção do manancial seria impossível. "Já� há um caso em Camboriú. Toda a água't; do subsolo está contaminada e não há-êl como recuperá-la", compara.u;

Não bastasse a iminente conta-

minação, a urbanização do local tam­bém ameaça a água da região. SegundoDaLuz, os telhados, boeiros, pavimenta­ção e tudo que impeça a água de chegara areia, fazendo com que ela escorra di­retamente para o mar, pode diminuir ovolume da reserva de água.

As construções localizadas nas

dunas dos Ingleses ameaçam, não só a

água da região, como também o própriolocal. E que as dunas são áreas de pre

servação permanente e apenas a Casantem permissão para estar ali, ocupandouma pequena área na estação de capta­ção. As invasões na região começaramem 1980 e hoje, segundo dados do Ins­tituto de Planejamento Urbano de Flori­

anópolis - IPUF, existem ZOO casas na

Rua do Siri. As construções utilizam-sede luz e recolhem água através de poçosartesianos, alguns com apenas um me­

tro de profundidade. O IPUF realizouestudo sobre o local, inclusive destinan­do área naVargem Grande para acomo­

dação dessas famílias, mas diz que não ésua função retirar as famílias de lá.

O problema fica mais difícil por­que ninguém quer assumi-lo. ''Agentespúblicos, polícia ambiental, Fatma, Iba­ma, todos justificam-se dizendo que jámandaram para o Ministério Público",reclama o Coordenador deDefesa doMeioAmbiente, Brasil Pinto. "O processo ju­dicial é o extremo do problema. Os ór­gãos responsáveis têm capacidade paraintervirmas não o fazem", reclama. ''Ago­ra tem lá mais ou menos ZOO famílias e

ninguém quer mexer. Pilhas de proces­sos não adiantam, tem que usar repres­são". Segundo Brasil Pinto, oMinistério

Público é que teve que intervir para re­

mover 70 famílias que estavam instala­das no trevo de Canasvieiras para viabili­zar a construção do viaduto. ''A área é daprefeitura, mas nós é que tivemos queretirá-los" .

Paraexemplificar o problema comos processos, Pintomostra uma ação de1994, quando quatro pessoas foram in­diciadas por venderem terrenos na áreade preservação, e que já vinha ocorren­do há mais de dez anos. Em dezembrode 97 foram todos absolvidos. "Me vejoafogado nos processos, tentando incen­tivar uma ação".

O alerta de Da Luz começou jáem 1997 com o artigo "Água das Du­nas, A Sustança dosManezinbos ", pu­blicado no jornalDiário Catarinense. Otexto trazia a mensagem: ''A perda da­

quele manancial implicará numa perdacoletiva, resultante da insensatez tanto

do poder público quanto privado de per­ceber a interrelação e interdependênciados dois sistemas - o natural e o econô­mico".

Salvador Gomes e

Adriana Sobierajski

Pilotos dejet-skis na Ilha andam fora da lei- Eu queria alugar umjet-ski, é comvocê?- Sai ZO reais por 15 minutos.- Mas eu não tenho habilitação.- Não tem problema, só que você vai

poder andar só na Lagoa Pequena.O diálogo acima aconteceu na

semana passada na Lagoa da Concei­ção. Mesmo sabendo que é proibido e

que por isso pode pagar umamulta de600 reais, adonadosjet-skil' não pensaduas vezes em alugá-los para qualquerpessoa. O arraes amador, a habilitaçãonecessária para quem quiser andarcom un1jet-ski, é concedido pela Ca­

pitania dos Portos paramaiores de 16anos que pagarem sete reais e dez cen­tavos e fizer umaprova sobre um ques­tionário cedido pelaCapitania na épo­ca de inscrição. Além dejet-skil', quemtiver este arraes pode pilotar qualquerbarco de pequeno porte, chamado de

embarcação miúda no jargão maríti­mo.

Miguel Ferreira tem 17 anos deidade, umjet-ski que ganhou no ani­versário e já tirou a habilitação. Pilotatodos os finais de semana e a brinca­deira preferida por ele é "pular ondas",coisa que faz com certa freqüência."Praia muito cheia não dá, o pessoalreclama muito. Uma vez eu fui naGalheta e gostei, quase não tinha nin­

guém". Quando sai com ojet-ski,Miguel não costuma levar sua habili­tação.

Ao fazer isso todos os finais desemana, Miguel está pulando ondas e

pulando leis que ele conhece. A pri­meira: não pilotar a menos de 200metros de distância da praia. Ao fazersuamanobra preferida, ele coloca emrisco a segurança dos banhistas. A

segunda: é proibido pilotar qualquerembarcação sem os documentos. Mi­

guel diz que não precisa se preocuparcom isso porque a fiscalização nãoexiste.

De fato, a Capitania dos Portos

dispõe de dois barcos e um bote parafiscalizar as 42 praias da ilha e a Lagoada Conceição. Segundo o cabo jairOli­veira, da Capitania de Florianópolis,este ano a PolíciaMilitar também esta­

va autuando os infratores. Mas segun­do o soldado jean Carlos, que trabalhana Barra da Lagoa, a orientação é paradeter o infrator e chamar o pessoal daCapitania. Para complicar aindamais a

fiscalização, o infrator tem que ser pegoem flagrante e receber a notificação nahora. Esta notificação não é sinônimode multa: para ser multada, a pessoatem que ir à Capitania dos Portos apre­sentar o auto. Ainda lá, a pessoa podese defender e, ou anular a notificação,ou pagar menos. Por conta disso, nãoexiste um valor pré-definido paramul­tas.

Embora as praias preferidas dailha para quem pilotajet-ski sejam In­

gleses e Canasvieiras, os moradores da

Barra da Lagoa vêm enfrentando pro­blemas há dois anos com os pilotos.A velocidade máxima permitida no

Canal da Barra é a de três nós, massegundo o pescador Claudionor Viei­ra, ninguém respeita. Amãe do pesca­dor já foi derrubada de uma batera pe­las marolas causadas por umjet-skique passou em alta velocidade. Clau­dionor diz que a fiscalização não exis­te e que os moradores já quiseramvárias vezes partir para a pancadaria.

Ainda segundo o cabo jail', daCapitania dos Portos de Florianópolis,a segurança pessoal de banhistas é deresponsabilidade da PrefeituraMuni­cipal, e que talvez no próximo ano a

fiscalização ficaria também por contado Corpo de Bombeiros. Por enquan­to, os banhistas têm que se contentar

com o telefone 248 5500. Segundo a

Capitania é só chamar que a fiscaliza­

ção aparece.Anacris de Oliveira

4 ZERO MARÇO-99Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 5: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

Polêmica contraprojeto turístico no Costão do Santinho começou em 1984, com o apoio de órgãospúblicos e ambientais

Destruindo em nome do lucroEmpreendimento avança sobre área de preservação permanente

o Costão do Santinho, complexoturístico localizado no norte de Floria­

nópolis, não tem, agora, problemas comórgãos de proteção ambiental; não tem,hoje, nenhuma construção ilegal e, muitomenos, desrespeita, teoricamente, algu­ma lei ambiental. Não haveria nada de­

mais, não fosse a discrepância de al­

guns órgãos responsáveis pela fiscaliza­ção. É que a área destinada à constru­

ção de 118 apartamentos é nada menos

que o Morro das Aranhas. Classificado

pelo Ibama, Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e Recursos Naturais Renová­

veis, como promontório (espécie de for­mação daquela região), o morro é, pre­ferencialmente, área de preservação am­biental. Apesar disso, um Tem10 de Ajustede Condutas (TAC) de janeiro de 98,assinado pelo Ministério Público Fede­

ral, Ibama, Fatma (Fundação deAmparoTecnológico ao Meio Ambiente), Prefei­tura Municipal, União Federal e Santi­

nho Empreendimentos Turísticos S.A, dápossibilidade para que o empreendi­mento prospere.

É, nomínimo, estranho que umaárea que antes havia sido classificada

como "área de preservação permanen­te" por vistoria realizada pelo Ibama,agora possa ser invadida e depredadasobre a tutela de um termo. Em vistoria

realizada em fevereiro de 96 o instituto

foi claro: "não há licenciamento ambi­ental com validade que permita a im­

plantação do empreendimento, e nempoderá haver, posto que a construção domesmo significaria a destruição de con­siderável parcela de área de preserva­

ção permanente". O que fez o Ibama

realizar a vistoria foi a construção, noMorro das Aranhas, de uma espécie demostruário do que seria um dos 118

apartamentos destinados a servirem de

quartos para hotel. Na época a obra foiembargada.

"O Termo deAjuste de Condutasfoi feito para que a área seja preservadao máximo possível"explica o responsá­vel técnico do Ibama, André Boclir. "O

Morro das Aranhas é promontório. A leié tênue e subjetiva quanto a esse tipo de

formação. Ela diz que a área deve ser

preferencialmente considerada de pre­servação. Não é como as dunas, porexemplo, que devem obrigatoriamenteser preservadas", explica. Grande partedo morro foi transformada em reserva

particular, ou seja, na prática o propri­etário encarrega-se da preservação da

área em troca de abatimentos no impos­to. "É uma área particular. A única nor-

veniente do alojamento e refeitóriodestinados aos operários da empresa,foi embargado.

A briga entre o Costão do Santi­nho e os órgãos ambientais arrasta-sedesde sua implantação, em 1984.Mais do que isso, já naquela época os

órgãos de meio ambiente entravam em

contra-dição. No início, a Fatma en­

tendeu que não deveria exigir o Estu­do Prévio de Impacto Ambiental que,normalmente, é feito em casos como

a conivência da imprensa e das auto­ridades. O Costão sobreviveu até 98,quando foi firmado o Termo de Ajustede Condutas. A partir daí as coisas

tornaram-se mais simples. Agora, ajei­tando estruturas e localizações, os 118apartamentos - o projeto inicial pre­via 200, mas o acordo reduziu o nú­mero - já estão devidamente legaliza­dos.

É claro que esta legalidadenão convence muita gente que mora

ma é respeitar o Termo deAjuste de Con­dutas", lembra Boclin.

O problema é que quem deve­

ria cuidar da ocupação de todo litoralcatarinense é o próprio estado. SegundoBoclin, através do Plano de Gerencia­

mento Costeiro a União decidiria queáreas poderiam ser ocupadas. "Mas o

estado nunca fez este Plano. Aliás, achoque nenhum estado já fez", reclama.

Na última vez que Ibama au­

tuou o Costão do Santinho - outubro

do ano passado, os cofres públicos ar­recadaram R$ 4.900,00. A multa foi

por "despejar esgoto resultante de de­

jetos humanos, a céu aberto e sem

qualquer tratamento". O esgoto pro-

este. Além disso, o órgão concedeu,em 1988, Licença Ambiental Prévia

para o Costão, através doqual ele se

sustentou até 96, quando o Ibama em­bargou a obra do Morro das Aranhas.Na época, a procuradora da Repúbli­ca, Analúcia Hartmann, chegou a de­clarar em jornais que a situação doCostão era "totalmente irregular" e quepartiria para uma Ação Civil Públicacaso os órgãos ambientais não resol­vessem o problema. Também em 96,o Costão enfrentava um abaixo assina­do promovidopelaAssociação dos Sur­fistas dos Ingleses e Santinho que acu­sava o empreendimento de desrespei­tar a legislação ambiental e apontava

na região e passa, quase todos os dias

pelo Morro das Aranhas. Paulo Eduar­do Antunes é um exemplo. Ele foi au­tor da denúncia contra o Costão, envi­ando cartas a diversos órgãos e autori­

dades, inclusi-ve ao ministro do meioambiente." O Ibama fiscaliza atravésde denúncias. Se há algo errado, cer­tamente alguém irá denunciar", aco­moda-se o responsável pela fiscaliza­ção no instituto, Rogério Melo.

Os resultados dessa história po­dem ser vistos no próprio local ou nas

fotografias dessa página.

Poderpúblico e Santinho

Empreendimentos Turísticos,ignoram abaixo assinadopelapreservação doMorro dasAranhas. Prefeitura dizamém

1ft

Salvador Gomes

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 6: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

Hoje tampouco está no ar oprojeto Universidade Aberta

Livro vai resgatar acarreira de catarinensemestre do estilo

o crítico musical José Ramos Ti-nhorão definiu como uma imitação dojazz americano e um momento únicode alienação das elites brasileiras, Ocantor e compositor Iomjobim afir­mou que ela influenciou toda uma

geração de arranjadores, guitarris­tas, músicos e cantores, Em meioa tanta polêmica, a bossa nova

completa quarenta anos e se firmacomo o mais fino produto de exportação da

cultura nacional.Em 1959, o cantor e compositorjoâo Gilberto entrava no

estúdio da gravadora Odeon para gravar seu primeiro long-playing, inti­tulado Cbega de saudade, Considerado um grande marco, o LP consoli­dou o estilo da bossa nova e é o grande divisor de águas da músicabrasileira, Apesar de muitos acreditarem que ele deu início aomovimen­

to, muita semente já havia sido plantada,Três anos antes do lançamento de Chega de saudade, a cantora

Sylvlnha Telles, ex-namorada dejoão Gilberta, gravouum 78 r,p,m, con­tendoFoi a noite, dos compositores Iorn jobim e Newton Mendonça, eMenina, de Carlinhos Lyra, Numa época em que predominava a voz deOrlando Silva e o tipo de música de Dorival Caymmi, amelodia simples e

o ritmo deFoia noite deixou todos em dúvida, Sem saber como classificaraquele estilo diferente de música, nada foi escrito no selo do disco, EFoia noite acabou sendo lançado semnenhuma especificação de gêne-ro,

Nestamesma época, a aca­demia de violão dos compositoresCarlinhos Lyra e Roberto Menescalpassou a ser o grande reduto dosjovens que procuravam um novo

rumo para a música brasileira,

Inaugurada em 1956, a academiacarioca localizada na avenidaViei­ra e Souto tinha como finalidadegarantir os milk shakes e as pipo­cas de seus proprietários - entãocom dezoito anos, Além do dinhei­ro, Lyra e Menescal sonhavam en­

contrar uma batida de violão querevolucionasse a história da MPB,algo diferente de tudo o que já ha­via sido feito, Para compartilhardesse desejo, a dupla conseguiu,em poucas semanas, mais de 50alunos. Três meses depois já eram200, sendo 80% dos matriculadosmulheres. Entre elas, Nara Leão.Com 14 anos na época, a meninapretendia cantar e tocar profissio­nalmente.

Os encontros proporciona­dos pela academia de violão não

pararam por aí. Ainda em 1956,Menescal e o jornalista RonaldoBôscoli conheceram-se numa rodade violão e não se desgrudararn mais. Já na primeira conversa percebe­ram que compartilhavam o desprezo pelas músicas dramáticas e melo­sas, hegemônicas no Brasil daquela épo.a, Como um queria fazer letra e

o outro música, perceberam que aquela amizade acabaria rendendomuitos frutos para a música popular brasileira.

Algum tempo depois, Menescal começou a namorar Nara Leão e o

apartamento da menina passou a ser uma extensão da academia. De lásaiuNãofazassim, mais tarde considerada uma das primeiras cançõesda bossa nova. No apartamento, reunia-se toda a turma que mais tardecaracterizaria omovimento: Bôscoli, Lyra, Chico Feitosa, Menescal, Dori

\,

Caymmi e até João Gilberto. Ao bater na porta do apartamento de Menescal

para pedir um violão emprestado, o baiano entrava definitivarnente para a

turma. Naquela noite,João Gilberto cantou para o grupo a cançãoHã-ba-la­lá. E bastou ouvir uma única nota para Menescal perceber que o músicobaiano sintetizava tudo o que eles tanto procuravam na academia de violão. Osegredo da inovadora batida de João Gilberto mais tarde ficou conhecidocomo violão gago, técnica que multiplicava as síncopas, acompanhadas dadescontinuidade do acento rítmico da melodia e do acompanhamento, ge­rando assim a birritmia que mais tarde acompanharia todos os sambas dabossa nova.

A partir daí, tudo ficou mais fácil. Apesar de João Gilberto ainda ser

um rosto desconhecido, sua voz e suas canções eram reproduzidas em todo o

Brasil. Em abril de 1958, foi a vez da cantora Elizete Cardoso gravar Cbega desaudade. Seu disco Canção do amor demais, só com canções de Newton

Mendonça e Iomjobirn, foi o incentivo que faltava à bossa nova. Se nas letras

quem aparecia eram os já consagrados Tom Jobim e o poeta Vinícius deMoraes, no violão, estavajoão Gilberto e sua inovadora batida - pela primeiravez apresentada ao Brasil. O sucesso, porém, ainda não veio desta vez. Comoo seloAfesta não era muito conhecido, a divulgação de Canção do amordemais foi precária e o disco não alcançou o reconhecimento pretendido.Também sem sucesso, o grupo Os Cariocas gravou a canção Cbega de sauda­de, com o próprioJoão Gilberto no violão. Apesar de já estar na boca dos maisnovos músicos do Rio dejaneiro.joão Gilberto entrou e saiu do estúdio sem

ninguém reconhecê-lo. Nem crédito no disco ele recebeu.Três meses depois foi a vez deJoão Gilberto, enfim, gravar ele próprio

sua Cbega de saudade. Com a

ajuda de Tom Jobim e Viníciusde Moraes, conseguiu um con-

trato com a Odeon para gravarseu primeiro 78 r.p.m., comChega de saudade num lado e

Bim bom no outro. Mas para con­seguir entrar num estúdio pelaporta da frente, teve que traba­lhar muito. Passou por conjun­tos como Garotos da Lua, foi cro­oner de grupos desconhecidos,cantou em bares e boates sem

ganhar quase nada e até foi in­ternado num hospício pelo pai -

o motivo era a idéia fixa de en­

contrar uma nova batida com seu

violão. Mas tanto esforço valeu a

pena. No dia em que conseguiupisar o estúdio da Odeon, entrouJoãozinho e saiu João Gilberto.

No início, porém, poucosouviram o 78 rotações. Quaseninguém comentou. O Brasil es­tavamais preocupado com a Copado Mundo da Suécia e com o pri­meiro título. Ninguém sabia di­zer se gostava e muito menos

conseguiam definir. Alguns cha­maram de samba moderno.Quando chegou em São Paulo,porém, Cbega de saudade pas­sou por um forte lobby da grava-

dora com a loja de discosAssumpção, amais importante da capital paulista,e praticamente estourou. Somente de agosto a dezembro de 1958, o 78r.p.m. vendeu 15 mil cópias. Um número muito elevado se comparado a

Sylvinha Telles - com 10 mil cópias vendidas - e Lúcio Costa, com 5 mil. O

principal mercado, como havia previsto a gravadora, foram os jovens. Nãohavia secundarista ou universitário que não tentasse reproduzir com suas

próprias mãos a batida bossa nova do violão deJoão Gilberto. Até os modernosTom Jobim e Edu Lobo, antigos ídolos da juventude, foram considerados

ultrapassados. Nos poucos minutos deste 78 r.p.m., as principais caracterís­ticas da bossa nova já foram traçadas.

foi transferir o show para o anfiteatro da Fa­culdade Nacional de Arquitetura, na PraiaVer­melha. Lá, mais de 2 mil pessoas se aperta­ram para ver e ouvir Sylvinha Telles, A1aydeCosta, Ronaldo Bôscolí, Luis Carlos Vinhas,Roberto Menescal, Nara Leão, os irmãos Cas­tro Neves e, claro, Norma Bengell. E se aindanão bastasse, tinha Tom Jobim fazendo co­

mentários na fila do gargarejo. Além de co­

laborar para o primeiro disco da turma, oshow socializou o nome bossa nova, enter­rando de vez a expressão "samba moder­no".

No meio jovem, a aceitação donovo ritmo era cada vez maior. Apesar dasdúvidas - É samba? Não é samba? Que rit­mo é esse? - o movimento acabou percor­rendo o Brasil inteiro. Os vários convites

11 surgidos levaram a bossa nova à imprensa,i# às universidades, aos estádios, aos festivais

e às rádios. Apesar do sucesso, muitos de­sencontros aconteceram nesta fase. Carli­nhos Lyra deixou o movimento, rompeucom Ronaldo Bôscolí e criou um novo

tipo de ritmo, chamado por ele de sam­

balanço. Recuperado da ruptura, Bôsco­li aproximou-se de Menescal, agora tam-bém compositor, e seguiu seu caminhofazendo cada vez mais shows pelo Brasil.

Foi quando um caso amoroso di­vidiu ainda mais a turma. Mesmo noivode Nara Leão, Bôscoli teve um caso com

a cantora Maysa e a introduziu no uni­verso das canções bossa nova. Sentindo-se traída, Nara não só terminou o

noivado como reaproxirnou-se de Carlinhos Lyra. A partir daí, interessou-sepor um novo tipo de música e aproveitou cada entrevista para falar mal dabossanova.

João Gilberto parecia seguir no mesmo ritmo. Após o sucesso doseu segundo disco, OAmai; o sorriso e afiar, o baiano gravou seu terceiroe último Lp, chamado apenas deJoão Gilberto. Mesmo mostrando o reper­tório mais bossa nova do Brasil, o disco foi um fracasso de vendas - se

comparado aos outros dois, Entretanto o lançamento damúsicaGarota de

Ipanema, em 1962, fez a bossa nova recuperar o fôlego e alcançar propor­ções mundiais nunca imaginadas. A música de Tom e Vinícius inspiradaem Heloísa EneidaMenezes Paes Pinto, a Helô, estourou nas paradas mu­sicais e foi interpretada até mesmo por Frank Sinatra. Ainda hoje é uma das

canções mais tocadas nas rádios americanas e recordista mundial em

versóes, depois dos Beatles.Logo as assimetrias rítmicas da bossa nova passaram a sermelhor

assimiladas pelos brasileiros. E seus ecos acabaram chegando aos ouvidosdo mundo inteiro. Em 1962, após a morte de Dolores Duran e Newton

Mendonça, e a importante adesão de Elis Regina, a batida da bossa novavirou produto de exportação e chegou aos Estados Unidos. Em Nova Iorque,no Carnegie Hall, aconteceu o 1°Festival de BossaNova, popularizando o

novo ritmo e influenciando toda uma geração de músicos e até de cantores• do jazz americano. O sucesso do concerto e os aplausos no meio das músi­cas deram segurança para que muitos cantores ficassem por lá. João Gil­berto arrumou suas malas e só voltou em 1969. Neste meio tempo, SylvinhaTelles morreu num desastre de automóvel, Elis estourou com o show e o

programa OFino da Bossa, Tom gravou com o internacionalmente reco­

nhecido Frank Sinatra e a bossa novamudava de endereço, construindo seu

mais novo reduto nas ruas de São Paulo.Polêmica - Apesar do sucesso, muitos críticos musicais foram

contra o movimento. O mais importante deles foíjosé Ramos Tinhorão,estudioso da música popular brasileira com mais de dez livros publicados.Para ele, a bossa nova foi a ascensão musical de jovens completamentedesligados da tradição musical popular da cidade. Influenciados pelasmúsicas estrangeiras, os meninos da bossa nova estariam apenasinternacionalizando a música do país e importando um outro tipo de

produto estrangeiro - o jazz. O jornalista e escritor Ruy Castro, em seu livro

Chega de saudade - A história e as histórias da Bossa Nova, discorda.Para ele, o movimento foi feito por meninos que estudavammuito sobre a

músicamundial. A técnica erudita e o jazz foram os estilosmais aprofundados.Tinhorão ainda afirma que a bossa nova rompeu definitivamente

com a única coisa que restava de original no samba popular: o ritmo.Substituindo a intuição rítmica e o improviso por um esquema cerebral, osmeninos da bossa nova "mostraram-se incapazes de sentir na pele o impul­so musical dos negros". Para Tinhorão, a experiência da bossa nova foi umexemplo, embora não conscientemente desejado, de alienação das elitesbrasileiras, atraídas pelo rápido progresso.

O crítico explica: quando os jovens da zona sul do Rio de Janeirocansaram da importação da música norte-americana, resolveram montar

no Brasil um outro tipo de samba, com elementos damúsica clássica e do

jazz - que não passava de uma imitação dasjazz-bands. Para Tinhorão, abossa nova foi feita para turistas e para um público brasileiro conhecidocomo café-society, que pedia uma músicamais próxima do gosto interna­cional. Portanto, era um tipo de música que de popular não tinha nada. Ementrevista publicada no livroMúsicapopularBrasileira, de José EduardoHomem de Mello, a cantora Elis Regina retrucou dizendo que eles faziammúsica para brasileiros e não para estrangeiros. O compositor, intérprete e

cineasta, Sérgio Ricardo, fecha com a opinião de Tinhorão dizendo que a

bossa nova não passava de um sambinha. Tinha uma literaturamais apu­rada, uma voz mais afinada, mas não tinha quase nenhuma emoção. Paraele, "o verdadeiro samba está na favela".

Textos: Jade Martins

Com seu

inseparável violãoe cercado de brotinhos

na prata, João Gilberto. Depé, Newton Mendonça, como violão, Carlinhos Lyra, e

Nara Leão ao lado deVinícius de Moraes em uma

mesa de bar

Reconhecido no Brasil inteiro, o 78 r.p.m. dejoão Gilberto mobili­zou vários músicos do país e acabou facilitando a gravação de seu primeiroLp, também chamado Chega de saudade. O esforço, principalmente porparte de Tomjobim, acabou trazendo resultados. Após mais de três meses

de negociações, o diretor da Odeon, Aloysio de Oliveira, enfim deu cartabranca para o baiano gravar. Das 12 faixas necessárias, já existiam quatro.Entre elas, Desafinado, música de NewtonMendonça e Tomjobim, com­posta especialmente para o cantor Lélio Gonçalves, o mais desafinadocrooner de boates no Rio deJaneiro. Com o contrato firmado.joâo Gilbertotratou de procurar as outras músicas. E Chega de saudade chegou ao

mercado com Hõ-ba-la-lá, Bim-bom e a própria Chega de saudade, desua autoria; Brigas, nuncamais, de Tom eVinícius;Morena boca de ouro,de Ary Barroso; Lobo bobo e Saudadefez um samba, deBôscoli e Lyra;Maria ninguém, só de Lyra; RosaMorena, de Caymmi; E luxo só, de AryBarroso e Luís Peixoto eAospés da cruz, de Marino Pinto e Zé da Zilda.Prontamente rotulado como "música para jovens", o LP de estréia dejoãoGilberto consolidou o inovador modo de fazer música apresentado em seu

78 r.p.m. No texto da contracapa do disco, Tom Jobim foi curto e grosso."Em pouquíssimo tempo, João Gilberto influenciou toda uma geração".

Paramontar seu LP de estréia.joão Gilberto contou com referênciasno mínimo ecléticas. Sua bagagem musical incluía Lúcio Alves, DoloresDuran, Luis Bonfá, Newton Mendonça, Tom Jobim, Tito Madi, músicaerudita, Dick Farney e Johnny Alf. Considerado o precursor daquele novo

samba que surgia, o cantorJohnnyAlf apresentava já no início dos anos 50as melodias e harmonias rebuscadas e sofisticadas, características quedefiniriam a bossa nova mais tarde. Dick Farney, por sua vez, foi quemestabeleceu uma relação direta entre o jazz americano, sobretudo o cooljazz, e a música popular brasileira.

Apesar de não ter sido o precursor, Chega de saudade foi o primeiroLP a reunir os elementos que viriam a caracterizar o movimento. Criandoum outro tipo de estética musical, a bossa nova dava um novo estilo àmúsica brasileira através do leve ritmo quaternário (o normal era bínári) com deslocamentos independentes, da economia de instrumentos, da pr­esença do silêncio e dos vários saltos melódicos inesperados. Todas ess

s características faziam com que as músicas domovimento servissem à inte­

rpretação de um único cantor, dificultando a sua absorção pelas massa.A ação dos cantores e as letr também eram inovadoras. Enquanto

o modo de interpretar era intimista, as músicas apresentavam intenções

construtivas mais intelectualizadas, juntando poesia e música na simbiosemais importante da MPB. Com temas simples: mar, praia e mulheres, abossa nova diferenciava-se dos boleros dramáticos da época. A cançãoChega de Saudade resume bem esses aspectos. Seu jeito cool de ser canta­da e sua letra elaborada, e ao mesmo tempo coloquial, refletem bem o

espírito bossa nova. Em seu LP de estréia.joão Gilberto também já cantavabaixinho, o famoso canto-falado, sem tantos agudos e entonações. Foi esteestilo livre de cantar que permitiu o lançamento de cantores como Tom

Jobim eVinícius de Moraes, considerados sem voz.

Um outro estilo de letra, ainda mais trabalhado, era o de RonaldoBôscoli. Por ser repórter, dominava a linguagem clara e concisa dos textosde jornais. Além disso, usava artifícios extraídos da literatura de vanguardae da poesia concreta, estilo em voga na época. Autor de Saudadefez umsamba, Bôscoli foi um dos mais revolucionários letristas da época, ao ladodo próprio João Gilberto. Em Bim Bom eHô-ba-la-lâ, o baiano juntou o

humor e a economia verbal, ímportantes características da bossa nova.Chega de saudade também serviu para reunir em torno de um

objetivo comum - a efetiva mudança da música brasileira - boa parte do

grupo que caracterizaria o movimento da bossa nova: os veteranos, com os

já profissionais Tomjobirn e Vinícius de Moraes (conhecidos pelo trabalhoconjunto que realizaram na peça teatral a/feu da Conceição), SylvinhaTelles, João Gilberto e Alaíde Costa; e os novatos, com Ronaldo Bôscoli,Roberto Menescal e Carlinhos Lyra (donos de uma academia de violão

conceituada), Nara Leão, os irmãos Castro Neves, Chico Feitosa e outros.

Com constantes encontros no apartamento de Nara, a turma pretendiaaprimorar ainda mais a batida do violão de João Gilberto. Apoiado na

música erudita e ouvindo muito jazz americano.joão Gilberto também se

preocupava em apresentar cada vez mais qualidade em sua música.Norma Bengell - Não demorou muito para a turma reunir-se

profissionalmente, no]O Festival de Samba-Session. Marcado para o dia22 de setembro de 1959, o primeiro grande show dos meninos da bossanova aconteceria no teatro da PUC carioca. O único problema era a presen­ça damodelo, atriz e celebridade instantânea Norma Bengell, determinadapela própria gravadora. Ela já havia alcançado o título de mais nova musasexy do país, com seu trabalho na chanchada O homem do sputinik e sua

figura não agradava o clero católico que dirigia a faculdade. Após muitasnegociações, o padre responsável, Laércio Dias de Moura, foi taxativo. Nãoqueria Norma Bengell dentro daquela escola de forma alguma. A solução

Apesar de seus discos continuarem em catálogo nos EUA e noJapão,a obra do compositor catarinense Luiz Henrique Rosa permanece ignoradano Brasil. Porenquanto: um livro biográfico que promete resgatar e colocarLuiz Henrique no seu merecido patamar está em fase de pré-produção. Ainiciativa é de Emerson Gasperin (editor da GazetaMercantíl), Zé Dassilva(chargista do Diário Catarinense e autor de dois livros) e Jorge Gomez

(músico), todos ex-alunos do Curso dejornalísrno da UFSC. Luiz Henriquenasceu em Tubarão, no sul do estado, em 25 de novembro de 1938, dia deSanta Catarina. Ainda adolescente, veio com a farnflia para a capital. Come­çou a se destacar nas rádios da cidade, tocando ao vivo em seu próprioprograma, durante os anos 50. Era a época de ouro do rádio. Luiz Henri­

que cantava em português, em inglês e sonhava com vôos mais altos.O compositor catarinense chegou no Rio de Janeiro em 1960 e,

junto de seu violão, parti­cipou da bossa nova. Fezamizade e inúmeros tra­

balhos com gente como

Tom Jobim, Edu Lobo,Hermeto Paschoal, NaraLeão, Walter Wanderley,Sivuca.jorge Ben. Respei­tado e influente, apresen­tou Elis Regina para os

diretores da gravadoraPhilips, possibilitando àcantora gravar seu primei­ro disco.

Em 1965, Luiz

Henrique trocou o Rio de

Janeiro por NovaYork Es­colha oportuna: a bossa nova era um ritmo recém-descoberto pelos ameri­canos e estava em alta após o prêmio Gramm)' conquistado porjoão Gil­berta e Stan Getz no ano anterior. Permaneceu nos Estados Unidos de 1965a 1971 e gravou sete discos, convivendo com artistas como o próprio Stan

Getz, Sammy Davis Jr. e LizaMinelli.De volta a Florianópolis, Luiz Henrique eramais do que LlIll compo­

sitor de bossa nova: era LII11 artista completo. Em suas quase 200 composi­ções, o músico incursionava pelo chorinho, samba, capoeira. O retorno àIlha de Santa Catarina, provocado pela saudade, também rendeu belas

canções de amor à Florianópolis.Luiz Henrique identíficou-se com hábitos típicos domanezinbo da

ilha, ô tipo regional característico da capital catarinense. Na época da

repressão militar, editou o tablóide Galera da Ilha. Em 1979, trouxe a

amiga LizaMinelli para conhecer o Carnaval da cidade. E quando morreu,em um acidente de carro em 1985, Luiz Henrique era uma das figurasmais folclóricas e carismáticas da cidade.

Livros resgatam movimentoPara saber mais sobre o movimento bossa nova,existe alguma bibliografia a disposição. Dos várioslivros publicados, estes são os mais completos.• Chega de Saudade - A História e as Histórias dabossa nova. Editora: Companhia das Letras. Escritopelo jornalista e escritor Ruy Castro, é o livro rnaiscornpleto sobre a bossa nova. Descrevendo tanto a

vida pública e os bastidores do rnovimento, o livroainda conta a vida de João Gilberto desde o seu

nascimento.

• Música Popular Brasileira, de José EduardoHomem de Mello, editora da Universidade de SãoPaulo. Aqui, a história da bossa nova é "cantadae contada" pelos próprios integrantes, alérn deoutros cantores corno Caetano Veloso e

Gilberto Gil. Apesar de ser centrado na bossanova, o livro ainda passa pelo Tropicalisrno e as

canções de protesto dos anos 60..Balanço da Bossa e outras bossas, de

Augusto dos Carnpos, editora Perspectiva,série Debates, O livro reúne diversos artigossobre a música popular brasileira, em especiala bossa nova, Por serem acadêmicos, osartigos prendem-se rnais a questões técnicasdo rnovirnento, corno ritrno, harmonia e

profundas análises sobre o violão de JoãoGilberto.• História social da Música Popular

Brasileira e Pequena História da MúsicaPODuiar - Da modinha ao Tropicalismo,al1lOOS de José Rarnos Tinhorão, editoraCarninho da Música, No primeiro livro, ornais controvertido estudioso da músicabrasileira critica os rnais diversosestilos adotados pela MPS. É um bornlivro para quern quer conhecer umaoutra opinião sobre o terna. No

segundo, traça um breve resumo

desses estilos,

-

ZERO

o som ganha nomeAcumulando também afunção de diretor artístico do Gru­

po Universitário Hebraico doBrasil, MaysésFuchs, editor do cader­no de variedades dojornal UltimaHora, viu-se diante de um im­

passe. Precisava achar umgrupo musicalpara as atrações sema­nais do Hebraico do Brasil e o dinheiro em caixa não davaparacontratar ninguém. Nestemeio tempo, sua irmã, aluna da acade­mia de violão deMenescal e Lyra, colocou-o em contato com seus

amigos de sala. Impressionado com as cançõesmodernas da tur­ma, Fucks chamou-ospara uma apresentação no auditório do Gru­po. Noprograma, apromessa: uma noite bossa nova. No quadronegro emfrenteao auduôrio, a informação: "Hoje, Sylvinha Telles eum grupo bossa nova ". Como bossajá era uma expressão usada

paradljinir qualquerpessoa que cantasse ou tocasse alguma coisadiferente,foiescrito assimmesmo, comminúsculas. Como adjetivo,a expressãomais definia um estilo abrangente de música do queum movimento isolado. Mesmo assim, as duzentas pessoas queassitiram ao espetáculo repetirampela cidade e a expressão aca­bou caindo na boca dopovo. Para completar, o então reprterMe­nescal adorou epublicou na revistaManchete e nojornalÚltimaHora, onde trabalhava. Hoje, quarenta anos mais tarde, bossanova é o nome dado aomovimento reconhecidamentemais revolu­cionário da música brasileira deste século. Goste dele ou não.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 7: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

Prefeita elege mega elefante branco' - .. -... .-.-- ----- das para a construção não mede esforços - nem gastos - para

das vias de acesso que tirá-lo do papel. Mas de acordo da ava-fazem a ligação do ele- Iíação de alguns especialistas em ar-

vado ao bairro da Trin- quitetura e tráfego urbano, o projetodade. O presidente do "abre alas" da prefeitura não deve ge-Instituto de Planeja- rar grandes expectativas na populaçãomento Urbano de Flo- da capital. Nem a curto, e muito menos

rianópolis (lPU), Car- a longo prazo. Essa é a opinião, porlos Alberto Riederer, exemplo, da professora do Curso de Ar-afirmou que já estão quitetura e urbanismo da UFSC, Marga-em negociações com a reth Pimenta. Para ela, o projeto é uma

prefeitura a Casa do En- agressão total à paisagem, e a sua cons-canador, que terá sua trução sacrifica o patrimônio cultural efachada toda mudada, natural da cidade.e as Casas daI\gua, que Outro professor de arquiteturaocupará a área onde da UFSC, FranciscoAntônio Carneiro Fer-

está oBanco Barnerin- reira, acredita que é preciso fazer umdus - pertencente à estudo sobre o impacto causado na pai-prefeitura. As desapro- sagem, o que não foi feito no projetopriações devem come-

o

çar à partir do mês de março. As indeni- �zações serão parciais se parte do terreno �for preservada, ou totais caso a área fi- :â;

que menor que 360 metros quadrados. �Antes do início das obras, um �

estudo sobre o impacto ambiental no �mangue causado pelo aterro foi feito pela �Universidade Federal de Santa Catarina.Foram removidos caranguejos e vegeta­ções para outras áreas de preservação.O departamento de biologia da UFSC

acompanha de perto o andamento dasobras para que não aconteça nenhumaperda da biodiversidade que o mangueabriga.

O elevado do CIC foi uma das pro­postas mais comentadas e mais prome­tidas da então candidata à prefeituraAn­gela Amin. Hoje eleita, a conclusão do

projeto virou, como já era de se esperar,questão de honra para a prefeita, que

J _... ...

Projeto da UFSC levouprêmio como um dos melbares em arquitetura do país

Obra atropelaquinto melhor

projeto de

arquiteturado país

Ministro querprisão para

os jornalistassem punir

as empresas

A Secretaria de obras da Prefei­turaMunicipal de Florianópolis inicioua construção do Elevado do CIC há sete

meses. Quem passa no local já percebea diferença. Uma nova estrutura urbanaestá sendo montada com a intenção defacilitar o fluxo dos carros que circulam

pela capital.A obra foi projetadapor três em­

presas particulares de engenharia, aPro­sul, a Engevix e a APPE. O orçamento éde R$ 9.670.87,00, incluindo o viadu­to e as vias de acesso (avaliados em R$7.221.024,50) e o alargamento das pon­tes da avenida da Saudade (R$2.449.862,60), que dá acesso as praiasdo norte e leste de Florianópolis. Tam-bém faz parte do projeto a construção

de um terminal de ônibus ur­

i bano para fazer a ligação en­

i tre bairros. Segundo o enge--::_lo nheiro responsável pela

Gerência do Sis­

IIItema Viário

..... § (GSV), LírioJosé Lignane, o

caminho que vai

para as

praias foiin t e r­

rompidologo após

aprovado. Francisco Ferreira tambémalerta que amelhor solução para resol­ver os problemas de tráfego em Floria­

nópolis é tentar afastar os carros do cen­tro da cidade. Assim a paisagem é pre­servada e é estimulado o uso do ônibusurbano. Ele avisa que o elevado levarámais carros ao centro, que já não supor­ta o volume atual de automóveis que cir­culam na ilha.

O ÓperaPrima, concurso nacio­nal de arquitetura e urbanismo, esco­lheu em 1996 o projeto do arquitetoPaulo Roberto do Nascimento como umdos cinco melhores trabalhos de arqui­tetura e urbanismo do país. Ele previa a

construção de um terminal de ônibusurbano inter bairros na rótula do CIC,onde hoje será construído o elevado.

Engarrafamentos diários que a "grande imprensa" não vê

Impacto ambiental do elevado nãofoi avaliadopeloprojeto

Apresentado aos diretores do IPUF, o pro­jeto foi rejeitado. Segundo o arquiteto o

atual projeto é uma "contra maneira deencarar o problema". O sistema viário éfuncional, mas em compensação na áreaambiental, de transportes e de tráfegoficamuito defasada.

Paulo Nascimento considera queesse é um trabalho feito sem a preocu­pação com o futuro e em menos de 15anos o projeto já estará defasado. ''A in­tenção de fazer com que as pessoas dei­xem seus carros e passem a andar deônibus não dará certo, pois o terminal

que será construído não é confortável ese tornará um empecilho. Nem teorica­mente o projeto se sustenta", desabafa.

Camila Gallo

Código penal deve ser reformulado após 60 anos

O Ministro dajustíça, Renan Ca­

lheiros, resolveu criar uma comissão es­

pecial para sugerir mudanças que ino­vem e modernizem a quase sexagenáriacartilha de leis nacionais. As vésperas decompletar 60 anos, o Código Penal bra­sileiro continua regendo o nosso país deacordo com leis formuladas em 1940,ano em que entrou em vigor. Entre as

primeiras sugestões, estão a desqualifi­cação do adultério e da bigamia como

atos criminosos, a redução da pena poreutanásia e a regulamentação do crimede assédio sexual. Entre todas asmodifi­

cações, a que geramaior alvoroço, prin­cipalmente por parte da imprensa, é o

artigo que inclui prisão para jornalistas.De acordo com este projeto de

lei, será punido com pena de detenção ojornalista que divulgar qualquer notíciaque contribua para influenciar ou indu­zir juízes, testemunhas e jurados, isen­tando a empresa de qualquer punição. Aproposta ainda não foi sequer aprovada,

mas a discussão já começou. Em decla­

ração dada ao jornal O Globo, a presi­dente da Federação Nacional dos [orna­listas, Beth Costa, disse que "os limitesno exercício do jornalismo devem ser

estabelecidos na Lei de Imprensa, e nãono Código Penal".

No mesmo jornal, o advogado e

professor de direito penal, Ney Moura

Teles, um dos integrantes da comissão,defendeu o projeto de lei dizendo que o

objetivo dos juristas foi assegurar aos réusum julgamento imparcial e isento, livrede pressões da imprensa. Moura Teleslembrou um caso em que, segundo ele,o noticiário jornalístico teve o objetivo de

pressionar juízes e testemunhas: o assas­sinato do índio pataxó, por rapazes declasse média de Brasilia. Seria o caso dese perguntar como e quantos iriam ser

presos se na época já vigorasse este pro­jeto, já que aquele crime hediondo teve,por parte damídia, uma ampla cobertu­ra nacional. Mais um problema para o já

superpopuloso sistema carcerário brasi­leiro.

Segundo o advogado, esse tipo de

punição já existe no Código Penal fran­cês, justamente de onde foi retirado o

modelo para o projeto brasileiro. A ver­são brasileira do artigo pune o jornalistainfrator com três meses a um ano de

detenção, mas o seu texto ainda podesofrer alterações, já que a comissão estátentando estabelecer um critério de pro­porcionalidade para as penas, de acordocom a gravidade dos crimes. O proble­ma não é só evitar influências sobre juí­zes e jurados, mas também a rejeiçãosocial causada por uma decisão tomada

emjuízo.Bigamia permitida: Além dis­

so, outras sugestões foram apresentadas,como a inclusão de um artigo contra ospaparazzi. Aquele que violar a intimi­dade alheia através de imagem, texto oupalavra, sofrerá pena de um a três me­ses. Outras sugestões foram apresenta-

das, e devem, assim que ganharem no­

toriedade, também criar polêmica, prín­cipalmente entre a população em geral.A pena da eutanásia, por exemplo, seriareduzida de seis a vinte anos, para dois acincoanos.

Pelo novo projeto, exigir favoressexuais para criar ou preservar direitos,aproveitando-se de uma situação de su­perioridade, passaria a constar no Códi­

go como crime de assédio sexual. O in­frator seria detido de três meses a um

ano. Há ainda um artigo que prevê a

desconsideração da bigamia e do adul­tério como atos criminosos, que deve es­candalizar uns e agradar outros. Outraproposta polêmica é a de sepunir o res­ponsável pela transmissão doHNem uma

relação sexual. Polêmica e perigosa, jáque responsabiliza apenas uma pessoa,em uma situação em que ambos estãoconscientes do risco que correm.

Gustavo Schwabe

o cama-

rr:'-�:�z>--�.�;::�� �a�ofo���,ii" ' 1 r �

ção de semáforos

Assim será o trevo do CIC com o elevado provisórios e dos pilaresdo viaduto da direita.

Nesta primeira fase daobra 20 casas devem ser desapropria-

a·.... Z F:Ro

-

. MARço - 99

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 8: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

Vereadores capachos criam outraNovernbradaCâmara fecha as portas para votar e solta a polícia em cima de manifestantes

A lei sobre transporte coleti­vo proposta pelo Executivo tem ar­

tigos polêmicos e até inconstitucio­nais. Por exemplo: o artigo 83 favo­rece ilegalmente as atuais opera­doras de transporte coletivo, ao con­ceder o direito de operação pormaisdez anos, com possibilidade de pror­rogação - ''As concessões e permis­sões que estiverem com o prazovencido, e aquelas que estiveremem vigor por prazo indeterminado,inclusive por força da legislação an­

terior, serão mantidas pelo prazo dedez anos". A Constituição Federalexige licitação para a concessão ou

permissão de serviços públicos.Por causa desse e de outros

artigos, dezenas de manifestan­tes - estudantes, sindicalistas, lí­deres políticos e trabalhadores -

estiveram no dia 22 de fevereiropara protestar contra a votaçãodo projeto. A presença da prefeitade Florianópolis, Angela Amin,autora do projeto, e o impasse na

formação das comissões cancela­ram a sessão. O vereador petistaLázaro Bregue estava sendo im­

pedido de entrar nas comissõesde Orçamento, de Viação e deMeio Ambiente. No dia seguintehavia mais manífestantes.D pre­sidente da Câmara, Paulo Avila daSilva, interrompeu a sessão diver­sas vezes por causa dos protes­tos. As pessoas presentes não

agüentavam mais tanta espera,não entendiam o motivo da de­mora para começar a votação. Aleitura do projeto de lei, feita pelosecretário da Câmara, foi feita em

voz baixa, irritando quem acom­

panhava a sessão. Como eles pe­diam que a leitura fosse feita em

voz alta, o presidente da casa in­

terrompeu mais uma vez a ses­

são e mandou policiais militaresentrarem.

Dezenas de policiais da Tropade Choque entraram na Casa, umdeles filmava as pessoas presentes.Foi quando a confusão começou. Osmanifestantes tentavam impedir a

Florianópolis é uma das poucascapitais brasileiras a merecer o adjetivode tranqüila. Por isso mesmo, em casos

de quebra dessa condição de tranqüili­dade espera-se uma cobertura à altura

por parte da imprensa local. Ainda maisquando a situação pode ser prevista comalguma antecedência, dando margem a

uma preparação dos repórteres e pau­teiros. E o caso da manifestação feita nodia 24 de fevereiro contra o projeto delei votado (e aprovado) pela Câmara dosVereadores, que renovava a concessão dasempresas de transporte coletivo por dezanos, prorrogáveis por outros dez. Alémde dispensar licitações, o projeto foi es­tranhamente encaminhado paravotaçãono dia anterior com o estranho pedidode urgência.

Era mais que óbvio que tal me­dida controversa atrairia o descontenta­mento de estudantes, líderes políticosde oposição e sindicalistas. Portanto nãofoi surpresa quando apareceram 150manifestantes no local, mas algo de sur­preendente foi a repressão - a atitudeinconstitucional de se proibir a entradados manifestantes na Câmara e as, pelomenos, quatro bombas lançadas pelapolícia nas pessoas. Outras medidas da

Angela nãorespeita a

Constituição

Por causa das agressões físi­cas os vereadores da Frente Popu­lar decidiram se ausentar da ses­

são. Com a palavra Lázaro Bregue:"Ainda não passei por um constran­

gimento tão grande. Fomos impedi­dos de transitar. Fomos agredidosfisicamente. Me sinto emocional­mente sem condições de continu­ar. Depois de tanta agressão, tenhoque sofrer o mesmo gue no tempode ditadura, com ate fita _gravadapela polícia. Faço apelo ao líder quea gente se retire". Assim acabou a

primeira parte da votação. Com os

vereadores da oposição ausentes, oprojeto de lei foi aceito por unani­midade. No final da noite, os verea­dores e algumas pessoas agredidasforam à 1 a Delegacia de Polícia de

da matéria, na página 2, deu o tom do

que estava escrito: "Sob protestos, pro­jeto de transporte é aprovado". Quemestava sem informações a respeito do talprojeto, continuou sem explicações sa­bre o assunto. O espaço dado às fontestambém foi revelador: três pessoas en­trevistadas; o comandante da ação daPM, o presidente daCâmara e no último

parágrafo, a vereadora de oposição Lia­Carmen Kleine (PCdoB). Isso contribuipara que a repressão fosse classificadade "pacífica e ordeira" e os manifestan­tes chamados de "claque de badernei­ros".

Na linha média dos diáriosque circulam em Florianópolis esteveo desempenho do Diário Catarinen­se. Com a primeira páginamais fracados três jornais, sem fotos da manifes­tação, e umamatéria reclusa na pági­na 29, o assunto mereceu pouco des­taque até mesmo quando se leva emconta o estilo econômico da publica­ção: apenas cinco parágrafos e fotosfracas. Pelo menos, foi o único a tratar

da motivação do protesto no parágrafoinicial, apesar da apuração mais im­

precisa do número de feridos. Tam­bém trouxe uma declaração que dá a

Florianópolis registrar queixa.No dia seguinte, 23 de feve­

reiro, a situação estava bem pior. Opresidente da Câmara simplesmen­te proibiu a entrada da populaçãona Casa. Há duas palavras que re­

sumem o fato: arbitrariedade e in­constitucionalidade. Em seguidahouve um festival de violência e

opressão. A polícia militar proibiu a

entrada dos manifestantes enquan­to a população exigia seus direitos e

tentava se defender das agressões.Cerca de 500 pessoas foram atingi­das por bombas de efeito moral e

de gas lacrimogêneo. E novamente,em definitivo, o projeto de lei foiaprovado por unanimidade.

�exandre Brandão

importância do ato: "É a primeira vez

na história que há uma intervençãomilitar no legislativo municipal, im­pedindo a população de assistir a umasessão pública". Em tempo, o autor

dessas palavras foi o secretário-geralda CUT, Clemente Mannes.

Versões à parte, o fato é que, a

portas fechadas, demaneira inconstitu­cional e em meio a uma repressão poli­cial que não era vista por esses lados há

tempos, um projeto de lei no mínimo

polêmico foi aprovado com estranhas

exigências (a dispensa da licitação e o

tal pedido de urgência). Uma última in­formação pode ser importante para se

julgar a cobertura dada ao caso: tanto a

prefeita de Florianópolis, Angela Amin,quanto o governador do estado, Esperi­dião Amin, têm ligações com uma das

empresas beneficiadas com o projeto jáaprovado. A Transol dispõe da principallinha que une o Centro da capital com a

maior universidade do estado, a UFSC.Motivo para que, num mundo ideal, origor da imprensa se fizesse mais pre­sente. No mundo real, a cobertura foifeita da maneira que saiu.

Romeu Marfins

Campo de batalha: manifestantes e vereadores de oposiçãoforam agredidos com cacetete, extintor de incêndio e bomba de gás

Um novoprojeto de lei propostopela prefeita Angela Amin à CâmaraMunicipal de Florianópolis, exclui parteda população do direito de utilizar oserviço público de transporte da capital.O projeto proibirá de circular nos ônibusas pessoas que estiverem drogadas,bêbadas, ou forem portadoras dedoenças contagiosas, causandoindignação àqueles que lutam pelapreservação dos direitos humanos.Além de seu caráter puramentediscriminatório, a lei também atinge - e

desagrada - os motoristas, aoresponsabilizá-los pela identificação dequais usuários poderão ou não subirnos ônibus.

Para a professora de Ética e Filosofiada UFSC, Sônia Felipe, esse artigo violaclaramente direitos humanos e

constitucionais fundamentais, como osde ir e vir, e o de não ser discriminado.Com uma opinião semelhante, acoordenadora do Centro de DireitosHumanos da Grande Florianópolis, VeraMaria de Mendonça Barros, vai maisalém. "Se nem os médicos conseguemdiagnosticar sintomas a olho nu,imagine os motoristas", compara ela. Eeles parecem estar de acordo com a

coordenadora, já que o própriopresidente do Sindicato dos Motoristas,Leonir Miguel Scheffer, confirmou quepretende pressionar os vereadores dacapital para que votem contra a

proposta do Executivo.A professora Sônia, que também

trabalha como voluntária no Centro deDireitos Humanos, lembra ainda queeste projeto vai contra o própriogoverno, que vem investindo cada vezmais em campanhas queconscientizem as pessoas a nãodirigirem enquanto bêbadas. A lei puniráexatamente estas pessoas que venhama obedecer os apelos governistas."Lugar de bêbado, nessa cultura queincentiva o uso de bebidas alcóolicas énos ônibus, desde que não causetranstornos e danos à terceiros", diz a

professora.

Gustavo Schwabe

MARÇO-99 ZERO 9

Reportagem: Alexandre Brandão

Imprensa não cumpre compromisso com leitor

gravação. O auditório da Câmaravirou um paleo de guerra. Os vere­adores da Frente Popular (PT e

PCdoB) tentaram impedir a agres­são. Não adiantou, eles tambémforam agredidos e até impossibili­tados de circular dentro da Casa.

Enquanto isso, os vereadores pro­tegidos por uma parede de vidroapenas assistiam à cena sem inter­ferir. A coordenadora do Centro deDireitos Humanos, Vera Maria deMendonça, que pretendia dialogarcom os vereadores, foi espancadapelos policiais. As pessoas gritavam:"Ditadura militar voltou" "NovaNouembrada em FlorianÓpolis".Para dispersar, os policiais atacaramos manifestantes com um extintorde incêndio.

PM foram dois disparos de revólver e

golpes de cacetete. Saldo final: oito pes­soas feridas, contando com um verea­

dor e um fotógrafo do jornal OEstado.Talvez por essa baixa de guerra

em sua equipe, amelhor cobertura fei­ta pelos jornais catarinenses no dia pos­terior foi exatamente ad'OEstado. Comchamada de primeira página e fotos tra­tando do assunto, amatéria ocupou me­tade da página inicial do segundo ca­

derno. Foi o único jornal a acertar o

número exato de feridos (foram conta­

dos sete pelo AN Capital e seis peloDiário Catarinense, ao invés de oito) e oque deu maior espaço para que os ma­

nifestantes dessem suaopinião. Omoti­vo do protesto, apesar de não constar nolead mas sim no 110. parágrafo, estavacitado na matéria, o que não aconteceuem outro jornal, oANCapital.

A pior cobertura, por sinal, veioexatamente desse suplemento local dojoinvillenseANotícia. Apesar de trazeramelhor apresentação de primeira pá­gina, com uma foto de impacto do vere­ador Márcio de Souza (PT) ferido no

conflito, e uma manchete acertada -

"Polícia reprimemanifestantes" - o con­

teúdo deixou muito a desejar. O título

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 9: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

Arquivos estãosendo perdidospor descaso

ou falta dedinheiro

Editora busca

recursos paracontinuar a

divulgar osautores locais

Cotia, Grande São Paulo. Uma parte dasfitas apodreceram e só em 1985 foram

repassadas à Cinemateca de São Paulo.Através de uma parceria com a TV Cultu­

ra, a cinemateca passou o acervo para ví­

deo, mas o estrago já estava feito - mais de

1,2 mil fitas foram perdidas.Outra explicação para a falta de

imagens do início da televisão no Brasilera a falta de recursos: "Para fazer um

programa ou novela era preciso apagar as

fitas da semana anterior", explica o ex­

diretor da Tupi Luiz Galon em entrevista

ao jornal O Estado de São Paulo. Esse era

o procedimento das também extintas Ex­

celsior, TV Paulista, Continental e TV Rio,

A televisão brasileira perdeu, nosúltimos 49 anos, uma boa parte de sua

memória. Por causa de incêndios, des­cuido ou falta de recursos, imagens histó­ricas desapareceram. Só a partir da déca­da de 80 que as emissoras de TV começa­ram a se preocupar com a preservação deseus arquivos. Para se ter uma idéia do

estrago, dos mais de 1.815 programas ape­sentados por Chacrinha só sobraram seis,sendo cinco programas de sua fase na

Globo, um da Bandeirantes e 120 minu­

tos da Tupi. Outros exemplos são da nove­

la da Tupi Beta Rockfeler; de 1968, daqual só restam seis capítulos e dos pro­

gramas humorísticos A Família Trapo(Record, 1966/71) e Chico City(Globo 1973179) com três pro­gramas cada. Além disso, nãohá nenhum exemplar dos pro­gramas musicais da década de60 como O Fino da Bossa, deElis Regina, ou dojovem Guar­

da, comandado por RobertoCarlos.

Até os anos 80 a Globo

arquivava apenas seis capítu­los de cada novela. Eram pre­servados os dois primeiros ca­

pítulos, os dois últimos e doisintermediários. Da década de70 só existem 12 novelas com­

pletamente preservadas. A

emissora só teria começado a

arquivar suas telenovelas a

partir de 1980 quando passoua exportar sua produção parao exterior. Além disso, o acer-

1'0 da Globo sofreu com os trêsincêndios das sedes da emis­sora (69, 71 e 76) nos quaisforam perdidas mais de 900fitas. Há três anos a Rede Glo­bo iniciou um processo de re­

cuperação de seu arquivo, en- A garotapropagandaNeideAparecidatre as fitas foi encontrado um

compacto das versões originais de Selrade Pedra de 1972 e Irmãos Coragem de

1970 i:IAs imagens de 30 anos da TV Tupi

estão reduzielas a um acervo ele 3850 fi­

tas, metade delas com novelas feitas en­

tre 1968 e 1980 e a outra metade com

reportagens, todas feitas de 1963 a 1979em 150 mil rolos de filme ele lôrnm, cadaum com duração ele um minuto. Os fil­mes guardam imagens históricas do go­verno de jânio Quadros e do período da

ditadura. Esse número reduzido ele ima­

gens deve-se, em granele parte, pelo des­caso de seus proprietários. Depois da fa­lência ela emissora em 1980, o seu arqui­vo foi abandonado em um armazém em

pIo, uma entrevista exclusiva de Luis Car­

los Prestes durante seu exílio na Europa."Encontraram a fita oxidada, porque foi

arquivada inadequadamente" explica a co­

ordenadora elo banco ele elaelos ela emisso­

ra, Maria Leonor Saad. A Record, por sua

vez, criou um setor para arquivo ele ima­

gens em 1985, mas só parou ele desgravarseus programas em 1997. Grande partedas imagens da emissora se perdeu porfalta ele cuidados e em três incêndios. Emesmo o SBT, uma emissora nova, sofrecom a falta de preservação. Há apenas 4mil fitas com pequenos trechos do que foi

proeluzielo na emissora entre sua inaugu­ração em 1981 e 1990

Valorização - Atualmente as emis­

soras estão mais preocupadas com seus

acervos. A Globo e a Bandeirantes man­

têm arquivos climatizados e informatiza­dos. A Record está investindo na amplia­ção do setor ele arquivos e o SBT estáinvestinelo em um memorial para contar

a sua história. Essa mudança ele atituele

tem um motivo bastante simples: a valo­

rização elo mercado ele imagens de arqui-

A miss BrasilAdalgisa Colombo

1'0. As emissoras cobram U$400 por se­

gundo de produtoras ele filmes e docu­mentários e também existe a possibili­daele de exportação, ou de reexibiçãode programas. Tendo isso em vista, a

Globo em 1995 criou o Projeto Quadru­pte» para passar para o sitema atual o

resto do estado e elo país, é atendido

pelo PIDL. As livrarias compram em

consignação pelo catálogo das editoras

e fazem uma prestação de contas men­

sal, retendo 50% da renda. No início

do mês ele fevereiro estava sendo co­

memorada a primeira venda feita pelainternet. A página na reele foi refor­mulada durante as férias, sofrendo am­

pliação e inclusão elo serviço de reem­

bolso postal. A consulta pode ser feitade qualquer ponto elo país. Para aces­

sar o catálogo e fazer o pedido, o ende­

reço é http://www.editora.ufsc.br.A Edufsc foi criaela em 1980 e

implantada no ano seguinte. Saiu deuma pequena sala sob a escada da Bi­

blioteca Central, para dividir um pré­dio com a Fapeu. Com apoio da Funda­

ção Banco do Brasil, em 1991 inaugu­rou sua casa própria, com alguns equi­pamentos e móveis. A produção ela Edu­

fsc é limitada, adaptada ao mercaelo.

Porém situa-se entre as maiores edito­ras universitárias, como as da USP e

UnB. Não compete com as editoras pri­vadas; antes, desenvolve um trabalho

complementar, lançando títulos de len­

to retorno financeiro. Através da Câ­mara Brasileira do Livro, estimulou o

conteúdo ele 19 mil fitas ele duas pole­gaelas, faltam cerca de eluas mil fitas

para a conclusão dos trabalhos. Nesse

projeto foi recuperado, por exemplo, o

programa TVAno 25 de 1975 que con­

tém uma série de imagens históricas.A Band mantém hoje um arquivo com

80 mil horas ele imagens. "Ainda nãoelá para manter tudo, mas, quando te­

mos que desgravar alguma coisa, usa­

mos um critério mais seletivo" afirmaMilton Trindaele, um dos responsáveispelo arquivo. O SBT pretenele transfer­mar a entrada dos seus estúelios em

um memorial com mais de mil fotos,telão com víeleo, além dos troféus dacarreira ele Silvio Santos. Há quatromeses a emissora passou a informati­zar o catálogo ele seu acervo ele 20 milfitas. A TV Cultura é a única emissora a

preservar imagens desele a criação há

30 anos. Seu acervo é formado por 70mil filmes de 17 mm com programasfeitos até 1980 e 60 mil fitas de vídeocom o que foi produzido desde então. A

situação mais delicada é a da Cinema­teca ele São Paulo quesofre com a elificuldadedos recursos públicos.

Em Florianópolis,a situação dos bancos de

imagens não é muito di­ferente. ARBS desele 1983arquiva as imagens es­

colhielas pelo eelitor-che­fe do telejornal. O crité­rio é priorizar os aconte­

cimentos mais importan­tes. Mas só a partir de 92que esse trabalho passoua ser diário. Já programasespeciais da emissora,como o Estúdio SC. são to­dos arquivados. Agora a

RBS está começando um

projeto para tentar recu­

perar imagens antigas. NaT\' Barriga Verde as ma­

térias mais importantessão arquivadas tempera­riarnente no computadore depois são passadaspara fita. Esse procedi­mento é feito com toelosos programas da emisso-ra desde 1985. Já na TV O

Estado só fatos marcantes foram arqui­vades. Porém a emissora iniciou no co­

meço elesse ano um trabalho de sele­

ção elas matérias que passarão a ser

arquivadas no computador.

1V não pode mostrar a própria história

elas quais nem existe acervo. Até 1962 as

emissoras brasileiras só trabalhavam com

programas ao vivo. O que foi produzidoantes ficou guardado em arquivos de jor­nais ou em fotos. Com o lançamento do

videotape é que se tornou possível o ar­

mazenamento elos programas. Mas a mu­

elança do pensamento das TVs demorou

para acontecer. "Mesmo com o tape, man­teve-se a cultura do ao vivo: as fitas nãoforam vistas como meio ele preservação,mas uma forma prática de fazer os pro­gramas" lembra jô Soares, que participoudo humorístico A Família Trapo. A Ban­deirantes é a rede brasileira que preser­vou melhor o seu acervo mas, mesmo

assim, perdeu muita coisa como, por exern-

lugar as humanas e em terceiro as tec­

nológicas. Neste mês de fevereiro, estásendo lançado Contos de Grenn (eeliçãobilíngue), Contos Fantásticos deMaupas­sant, Apicultura e Desenvolvimento Sus­

tentáoel, além do resgate da obra de Ho­

rácio Nunes, autor catarinense elo finalelo século passado.

A crise econômica que ronda a

universidaele com a ameaça de privatiza­ção, afeta também as rotativas off set. A

Edufsc é operada por servidores, 16 bol­sistas e três contratados para a área co­

merciaI. Quando um servidor se aposen­

ta, não pode haver recontratação. A vagapermanece ou é preenchida por bolsis­

tas, oneranelo ainela mais a editora. Há

quase sete anos sem receber recursos do

MEC, a ordem é publicar e vender parapoder investir. Matéria-prima como pa­peI, barbante, cola e arte-final são adqui­ridos com recursos próprios. Mas o dire­tor Alcides Buss, atribui ao excelente qua­dro de funcionários o padrão de qualida­de atingido pela editora.

O Programa Interuniversitário

de Distribuição de Livros surgiu como

forma de vender mais para investir

mais. A distribuição para Florianópolisé feita diretamente com as livrarias, o

Natália Viana

Edufsc resgata literatura catarinensesurgimento das editoras ela FURB (Blu­menau), Unoesc (Chapecó) e Univali

(Itajaí), todas no interior do Estado.Talvez pelo fato de dois dos seus

três diretores (incluindo o atual) se­

rem poetas, o tema recebe a deviela

atenção da Edufsc. As coleções Memó­ria Literária de SC e Ipsis Litteris, res­

gatam e abrem espaço para a literatu­

ra local. Vale destacar o livro Raimun­

do, peça teatral que fala da relação en­

tre a aristocracia e a plebe, publicadapostumamente em 1868 por Alvaro Au­

gusto de Carvalho. Álvaro ele Carvalho é

o nome do teatro (o TAC) construído no

início deste século e referência cultu­

ral do estado.A Edufsc tem consciência dos

intermináveis problemas que afetam a

atividade eelitorial, principalmentequanto à divulgação e distribuição eloslivros. Consielera papel das eelitoras uni­

versitárias oferecer alternativas a cres­

cente demanela de autores regionais,como forma ele resistência à globaliza­ção da cultura. E não é esta a funçãoprimeira da atividade cultural e da pa­lavra escrita?

Sílvio Smaniotto

10 ZERO MARÇO-99

Você já imaginou ter em casa

um livro raro de poesias do início elo

século, editado com qualidade e preçoacessível, cujo autor escrevia por amor à

poesia e para quem o ato ele escrever eramais importante que o reconhecimento

público? Pois este livro existe e é acessí­vel tanto a quem mora em Porto Alegrequanto em Macapá. História do Gosto e

Outros Poemas (238 p., R$ 17,00) de Er­

nani Rosa, foi relançado no final de 1998e faz parte da coleção Memória Literáriade Santa Catarina da Eelitora ela UFSC,dedicada ao resgate de autores catari­

nenses. Ernani Rosa (1886-1956) foi umdesconhecielo poeta simbolista, contem­porâneo de Cruz e Souza, pobre, boê­

mio, gago, homossexual e provavelmen­te apreciador do ópio.

Além de Memória ... ,há a cole­

ção Paideuma (obras traduzidas), IpsisLitteris (autores catarinenses de prosa,

poesia, ficção, conto e romance contem­

porâneos) e Cadernos de Cultura Popu­lar, que documentam aspectos culturaisdo estado. Há também as séries Didáti­

ca, Enfermagem, Ética Política e Violên­cia e Série Geral. Foram mais de mil

títulos publicados em 18 anos, com des­

taque para a área de letras, em segundo

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 10: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

Calvin e Fradim contra os distribuidores de HQA trajetória de dois artistas mostra a luta desigual para proteger suas criações

Tem uma

coisa em comum

em toda tira es­

trangeira publicadaem nossos jornais -

junto com a assinatura do artista,lá em baixo, em letras bem peque­nas, está impresso o copyright dealgum syndicate, as agencias dis­tribuidoras do material, nos EUA e

no mundo. Essa é a senha para quea tira seja entregue para milharesde jornais, é agarantia de que aquelepersonagem pode ser licenciado na

forma de vários produtos e, depen­dendo da popularidade, pode sígni­ficar ainda desenhos animados e fil­mes inspirados neie. Enfim, repre­senta muito dinheiro para o autor.

Parece o Paraíso, não?Pois para alguns artistas o es­

quemão dos syndicates represen­ta o Inferno. E como toda boa his­tória de diabo, essa começa com um

contrato. Ele dá à agência distribui­dora a exclusividade sobre o artistadurante anos e o direito de explo­rar comercialmente a tira, além deser uma autorização para que o ma­terial seja censurado deacordo com os critérios dogrupo. De tão autoritáriaque é essa relação, seriainevitável atritos entre ar­

tistas e syndicates. Doiscasos ficaram conhecidospor aqui: o do brasileiroHenfil, que teve uma CUf­

ta experiência com o sis­tema americano de dis­tribuição, nos anos 70, e

o do criador da tira Cal­vin e Haralda, Bill Wat­terson.

Henfil escreveu so­

bre o período que viveu"sindicalizado" para o se­

gundo número da revistaO Bicho, publicado em

março de 1975. Watter­son fez um desabafo dasua situação na coletâneaOs dez anos de Calvin e Haroldo,que saiu nos EUA em 1995. Apesardos 20 anos que separam os casos,ambos têm vários pontos em co­

mum quando falam do autoritaris­mo dos syndicates.

Mad Monks: Fradim pragringo ver - Henfil começa con­

tando qual a manha que usou paraentrar no fechado círculo das tirasdistribuídas por um syndicate: o

tráfico de influências. Um amigodele trabalhava na época para o Wa­

shington Post e arrumou urn en­

contro entre o Henfil e um dos do­nos da Universal Press Syndicate(UPS). Parecia a chave para o in­crível mundo da distribuição mun­dial: "eu só queria isso para espa­lhar minhas idéias, falar das 'ver­dades sociais' e assim enfrentar ainfluência de Walt Disney de igualpara igual". Tinha tudo para darcerto, pois logo na primeira sema­

na dez jornais fecharam contrato

com a tira Mad Monks, a versão

gringa dos Fradinhos.O primeiro problema do

brasileiro foi com as restriçõesfeitas pela UPS. Das primeiras 72tiras que ele entregou só 17 rece­

beram o OK. As outras 55 foramconsideradas "invendáveis" porserem sick (literalmente, "doen-

te"). "Pô, as tirassick eram tãolimpas, tão cal­mas, tão tímidasque não tive cora­

gem de mandarnenhuma delaspara o Pasquim.Seriam conside­radas fracas". Ostextos de algumastiras ainda foramrefeitos pelo pes­soal da UPS sem

a permissão doautor. QuandoHenfil peitou o

grupo e pergun-tou se havia censura ali, a res­

posta foi clássica e ríspida: "Nãoestamos censurando, estamoseditando!". O saldo total foi demais de 200 tiras vetadas.

Claro que não parou por aí.Os jornais, pressionados por car­tas indignadas dos leitores come­

çaram a largar osMadMonks. Al­guns aguentaram só duas sema­

nas. O Chicago Tribune desistiudepois de 45 dias,o canadense To­ronto Sun depoisde 51. Um jornalde Salt Lake fezuma pesquisa en­

tre seus leitores a

respeito da tira, e

entre 404 cartassomente quatrodefendiam a pu­blicação. A opiniãodos leitores era

que o material se­ria "anti-america­no, anti-Deus e

sick". A opinião deHenfil quanto ao

trabalho que eleconseguiu ver pu­blicado depois damutilação e cen­

sura a que foi sub­metido pelo syndicate era outra:"foi o subproduto do pior que jáproduzi na vida".

As molecagens de BillWatterson - No dia 18 de novem­bro de 1985, estreava em 35 jor­nais a tira mais cultuada das ulti­mas décadas. Apesar de todo o su­

cesso que fez, seu autor sempreconseguiu se manter afastado dasbadalações e tornou sua vida pes­soal um mistério para os fãs deCalvin e Haroldo. O que se sabiaera que ele havia sido recusado

GoO is LtF€�GOD rs HAPPiNESS!GoD is LíeHT!

NÃO HÁESPERANÇA DE

RESGATE DESTE

MUNÓO ÁRIDO E

ISOLADO!

por dois syndicates antes de co­

meçar a ser representado pelaUPS (sim, a mesma do Henfil) e

que em pouco tempo trouxe su­

cesso e muita dor de cabeça paraaquele grupo.

Para começo de conversa, du­rante os primeiros cinco anos, BillWatterson lutou contra qualquertentativa de licenciamento de seus

personagens (Henfil foi, muito pro­vavelmente, o primeiro a exigir queesse tipo de restrição constasse no

contrato que assinou, em 1974).Exausto da discussão, o criador deCalvin se tornou o terceiro artista a

tirar um longo período de férias en­quanto publicava uma tira. Os doispioneiros foram Garry Trudeau e

Gary Larsen. Foram dois períodosde folga, de nove meses cada, sepa­rados por três anos de trabalho di­ário. Hoje, dar folga aos artistas éprática comum nos syndicates. Aúltima bri$a de Watterson foi paramudar o ngido esquema da tira co-

lorida dominical, de modo a conse­

guir uma liberdade artística bemmaior do que vinha tendo.

A popularidade de Calvin e

Haroldo garantia a vitória de seu

criador, ao contrário do �ue acon­

teceu com Henfi!. Isso ate o dia em

que Watterson resolveu parar defazer a tira, em 1995. Nos dez anos

em que escrevia e desenhava a tira,ele aproveitou para gozar da sua

própria realidade disfarçando tudonas histórias de Calvin. Foi o caso

dos metafóricos monstros que vivi­am embaixo da cama do moleque.Calvin jogava lixo para que comes­

sem e parassem de incomodá-lo.Na visão de Watterson essa era sua

relação com os monstros do syndi­cate - ele os abastecia com mate­rial de qualidadeénferior ao que po­deria fazer em troca de um poucode paz.

Textos: Romeu Marfins

Syndicate,., ,

naoe

sindicatoo que nós entendemos por

sindicato em inglês é chamado deunion. Syndicate são as Agências de

Distribuição que funcionam demaneira parecida com as Agências deNotícia, a diferença é que ao invés dereportagens e artigos elas distribuemcharges e tiras. O custo desse materialé dividido pela enorme quantidade dejornais que são atendidos por todo o

mundo, tornando quase impossívelum artista independente competircom um esquema do tipo. Existeainda outro preço a se pagar por essaabrangência mundial que se

consegue, como lembrou BillWatterson: "comercializar tiras em

grande escala encoraja os quadrinhosa serem conservadores, facilmentecategorizáveis e imitadores desucessos anteriores".

No começo os artistas eram

contratados exclusivamente paratrabalhar em um único jornal, comofoi o caso do criador daquela que éconsiderada a primeira HQ da história,Yellow Kid, que trabalhava para o TheNew York World. Foi o inspirador dofilme Cidadão Kane, Willian RandolphHearst, que tirou o cartunista doconcorrente para trabalhar em seu

jornal, o The New York Herald. Hearstaproveitou a deixa para criar o primeirosyndicate importante dos EstadosUnidos, o King Features Syndicate. Adistribuidora para a qual tanto Henfilquanta Watterson trabalharam, a UPS,é considerada a mais liberal do país.Foram eles que editaram na década de70 a única tira que falava em

Watergate e Guerra de Vietnan,Doonesbury de Garry Trudeau. Apesardos atritos que os dois artistas tiveramcom ela, o mundo fora da"revolucionária" UPS é ainda pior.

UAUI NINGUÉM TÁNOS BALANÇOSI

EU NEM ACREDITOI

\

NINGUÉM TÁ MEDIZENDO PRA

ANDAR LOGOI

...OU ESTE É O MEU DIA DE

SORTE OU EU NÃO OUVI OSINAL DO FIM DO RECREIO DE

NOVO.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 11: FLORIANÓPOLIS, MARÇO ANO XV, Ihemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1999mar.pdf · FLORIANÓPOLIS,MARÇODE1888-ANOXV,NÚMERO4I Começou emIpanemaefoi gravadoatépor FrankSinatra

Símbololatino­americanomais conhecido do sécu­

lo segundo a ONU, Car­men Miranda ainda é, no­venta anos depois de seu nas­cimento, o estereótipo damu­lher latina. Do alto de seu um

metro e cinqüenta e três de altu-ra - estatura compensada pelosgrandes chapéus e sapatos plataforma -

,

aPequenaNotávellevou aos Estados Uni­dos todo o exotismo e alegria implícitosno significado da palavralatinidad paraos norte-americanos.

Carmen Miranda, apesar de tersido uma espécie de porta- bandeira dosamba, o mais brasileiro de todos os rit­

mos, era portuguesa. Nascida na provín­cia deMarco de Canavezes, em Portugal,no dia 09 de fevereiro de 1909, a meni­na Maria do Carmo Miranda da Cunhafoi trazida ao Brasil ainda no colo de sua

mãe, com apenas dez meses de idade.Suas primeiras apresentações lhe

custaram o emprego em uma loja de gra­vatas do Rio de janeiro. Foi demitida por­que distraía as colegas, que paravam detrabalhar para ouvi-Ia cantar. Daí, já co­nhecida pelos fregueses da loja, foi con­vidada para se apresentar em um recitalde caridade no InstitutoNacionaldeMú­sica. Aos vinte anos já fazia sucesso nos

pal­cos cario­

cas e recebeu o

apoio do compositor[o­sué de Barros, que, além de

financiar suas aulas de canto e

dicção, apresentou-a a todas as rádios e

gravadoras da época.Entre 1929 e 1938, na primeira

fase de sua carreira - quando seu sucessoainda era restrito às fronteiras do país -

gravou, para os selos RCAVictor,Brunswick e Odeon, 143 dis­cos, num total de 281 fai­xas. Seu primeiro grandehit foi a marchinha Taí

(pra você gostaI' de

mim), que vendeu 35milcópias no Carnaval de

1930, um valor astronô­mico para a indústria fono­

gráfica da época. Foi CarmenMiranda quem lançou o entãodesconhecido compositorDorival Caym­mi. Em seu último filme brasileiro -elafez seis filmes naCinédia- apresentou- se

pela primeira vez vestida de baiana, can­tando O Que é que a Baiana Tem?, deCaymrni

A estrelaprincipal e exclusiva doCassino da Urea foi "descoberta" numa

apresentação no início de 1939 pelo em­presário norte-americano Lee Shubert,consíderado na época o dono da Broa­

dway. Muitos atribuem as negociações quelevaram Carmen para os palcos america­nos à Política da BoaVizinhança. Sua ima­gem teria sido cinicamente explorada pelogoverno norte-americano durante aSegun­da Guerra, com o propósito de atrair a

atenção e os recursos daAmérica Latinacontra o Eixo (Alemanha, Itália e ja­pão).

Usada ou não pelos Es­tados Unidos, é certo que abrazi­lian bombshell (bomba brasi­leira) apelido dado pelos jor­nalistas americanos, cum­priu um papel fundamental

na popularízação de um ritmo deraízes brasileiras. Assim como Elvis Pres­

ley, que tornou populares ritmos negros eo blues, Carmen Miranda fez sucesso no

centro do show business mundial cantan­do e representandoum estilomusical não­

europeu.Seu sucesso nos palcos daBroadway

foi imediato. Estreou em junhode 1939 como espetáculo musicalStreetrjParis, semprejunto do conjunto brasileiro Bando da Lua.

Levar a banda para os Estados Unidos foi,aliás, suaúnicae.xigênciaao assinar o contra­to comShubert-elanamoravaum dos com­

ponentes doconjunto,AloysiodeOli­veira. No mesmo ano de sua

primeiraapresentação ame­ricana, alcançou tamanhosucesso que desbancouLa Guardia, o prefeitomais famoso que Nova

Yorque já tivera, eGretaGarbo, omonstro sagra­do do cinema, na lista

anual de popularidade dacidade.

Em julho de

1940, voltou pela primeira vez ao Brasil

para o casamento de sua irmãAurora Mi­randa. Foi recebida triunfalmente pelapo­pulação do Rio dejaneiro, desfilando emcano aberto pelaAvenidaRio Branco. Mas,ao cantar paraum espetáculo beneficenteno Cassino daUrca, recebeu aplausos frios

da elite carioca, que acusou-a de ter volta­do "amerícanízada". Serchamadade "fal­sa baiana" pelos jornais do dia seguinte foiuma das maiores mágoas de Carmen Mi­randa,mas também resultou numade suasmais brilhantes ínterpretações. Disseramque eu voltei americanizada foi escrita

por Luiz Peixoto e Vicente Paiva como res­

postas às críticas que recebera da impren­sa brasileira. Até hoje, muitos críticosacham que o sucesso de CarmenMirandacresceu em razão inversa à sua brasilida­

de, já que começou a carreíra cantandotoadas sertanejas e terminou cantando eminglês acompanhada do grupo vocal ame­ricano Andrews Sisters.

De suavi­sita ao Brasil, foidireto para Ho­

llywood, para cum­prir um contrato

que acabara de as­sinar com a 201/)Centuty-Pox. Thatnight inRio- UmanoitenoRio foi seudebut nas telas deprata internacio­nais. Seis meses

depois de chegarna Meca do cine- Carmen e seu marido David Sebastian (à dir.)ma deixou suas

mãos, pegadas e autógrafos na calçada dafama do Chinese Theatre. Na época, essahomenagem só era prestada aos artistas

com mais de dez anos de carteira, masCarmen, mesmo novata, já eraumaperso­nalidade famosa o suficiente para deixarsuamarcaem Hollywood.

Mas enquanto sua imagem era

associada a ínterpretações alegres e bem

humoradas, seu personagem na vida realviveu dramas e decepções. Em 1947, sur­preendendo até os amigos mais próximos,casou-se com o produtor americanoDavidSebastian. Nunca foi feliz no casamento. Oexcesso de trabalho da imigrante portu­guesa que cantou até na CasaBranca trou­xe o vício em tranqüilizantes e estimulan­tes. E ela nunca se conformou por ser tão

aplaudida num país estrangeiro e

tão criticada no Brasil.

33 horas de CarmenMirandaNos 23 anos de sua carreira cinematográ­fica Carmen Miranda gravou 22 filmes, 14deles nos Estados Unidos. Sua filmogra­fia, porém, contabiliza um filme a mais.

É o documentário Banana is My Busi­

ness, produzido no Brasil, em 1994. Nafita, disponível em apenas uma locadorade Florianópolis - a Raro Efeito - a dire­tora Helena Solberg conta a vida da Pe­

quena Notável misturando cenas origi­nais da cantora com cenas interpretadaspelo ator transformista Erick Barreto. Con­fira abaixo a lista dos filmes que a brasi­leira mais famosa dos Estados Unidos des­de a década de 40 fez:

PRODUÇÕES BRASILEIRAS

Degraus da Vida (1930)Direção: Lourival AgraCarnaval Cantado de 1932 no Rio

(1932)Direção?A Voz do Carnaval (1933)Direção: Adhemar Gonzaga e HumbertoMauro*é o primeiro filme sonoro da Cinédia,obteve grande êxito quando foi exibido em

Paris, em 1936. O filme, que conta a his­tória do Rei Momo que foge para assistir o

Carnaval no Rio de janeiro, tem cenas

reais, gravadas ao vivo.

12 ZERO MARÇO-99

Alô, Alô, Brasil! (1935)Direção: Wallace Downey, João de Barro e

Alberto Ribeiro* o filme foi tão bem feito que é conside­rado o primeiro produto industrial do ci­

nema brasileiro.Estudantes (1935)Direção: Wallace DowneyAlô, Alô, Carnaval! (1936)Direção: Adhemar GonzagaBanana da Terra (1939)Direção: João de Barro*Carmen Miranda canta O Que É Que a

Baiana Tem?, de Dorival Caymmi.Laranja da China (1940)Direção: Ruy CostaBanana isMyBusiness (1994)Direção: Helena Solberg* é um documentário ficcional sobre a

vida de Carmen Miranda.

PRODUÇÕES AMERICANASSerenata Iroptcal (Down ArgeutineWay)-1940Direção: Irving CummingsUma Noite no Rio (ThatNight in Rio)-1941Direção: Irving CummingsAconteceu em Havana (Weekend inHavana) -1941Direção: Walter Lang

Minha SecretáriaBrasileira (Spring­times in the Rockies) - 1942Direção: Irving CummingsEntre aLoura e aMoreno (TheGang'sAllHere) - 1943Direção: Busby BerkleyQuatroMoças Numjeep (Fourjills inajeep) - 1944Direção: William SeiterSereuataBoêmia (Greenwich Village)-1944Direção: Walter LangAlegria, Rapazes! (Somethingfor theBoys) -1944Direção: Lewis SeilerSonhos de Estrela (Doll Face) - 1945Direção: Lewis SeilerSeEu FosseFeliz (IfI'm Lucky) - 1946Direção: Lewis Seiler

Copacabana (Copacabana) -1947Direção: Alfred E. GreenO Príncipe Encantado (A Date With

judy) - 1948Direção: Richard ThorpeRomance Carioca (Nancy Goes toRio)-1950Direção: Robert LeonardMorrendo de Medo (Scared Stiff) -

1953Direção: George Marshall

Para se recuperar de um esgota­mento nervoso causado pelo uso excessivode anfetaminas e bebidas, e tentar umareconciliação com o passado, ela voltou ao

Rio dejaneiro em dezembro de 1954. Hos­pedou-se no Copacabana Palace por qua­tro meses, e, durante um mês, recebeu sóo médico, parentes e poucos amigos. Suaúltimaestadia no Brasil resumiu-se aquatromeses; ela teve que voltar aos Estados

Unidos,em abril de 1955, para a inaugu­ração do mais luxuoso e moderno cassino

de Las Vegas, ONewFrontier.Amorte súbita, no auge da fama,

aconsagrou parasempre. Carmen teve um

ligeiro desmaio durante a gravação de um

programa de televisão americano, o The

JimmyDurante Show. Na manhã do dia

seguinte, foi encontrada morta no closetde sua mansão em Beverly Hills, aos 46anos de idade, vítima de um colapso car­díaco. Seu enterro, no Rio de janeiro, foiacompanhado porumamultidão de qua­se ummilhão de pessoas.

A fama alcançada por CarmenMiranda é difícil de ser explicada. Expres­são da cultura latino-americana, imitadapOI'muitos, de EstherWilliams aBetteMi­

dler, não chegou ao sucesso exatamente

pelos seus atributos físícos ou por sua vozdemezo soprano. Muitas outras cantorascom talento e beleza tentaram e não che­

garamlá. Ela tinha carisma, tinha o que osamericanos chamavam de it, algo diferen-

te que, na verdade, ninguém até

hoje soube especificar. Suamaneira realista e teatral de

'''"' interpretar provocava nosouvintes uma impressão

"" de materíalldade que" não costumavam ouvir

em outras cantoras. Omito Carmen Miranda nãotem explicação. E nem pre­cisa. Basta lembrar ela di-

vulgou o Brasil e o sambacomo nenhum outro ar­

tistade suaépoca, e con­tinua fazendo sucesso

numa.épocaern queÉoTchan (o it das Sheílas éoutro ... ) é vendido como

músicapopular brasileira.

I .....

Camila Olivo

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina