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FLORESTA AMAZÔNICA: ESPAÇO NÃO-FORMAL POTENCIAL PARA APRENDER BOTÂNICA ARAÚJO, Joeliza Nunes 1 -UEA SILVA, Maria de Fátima Vilhena da 2 - UFPA Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: FAPEAM Resumo No presente trabalho analisamos as potencialidades da diversidade vegetal Amazônica para promover aprendizagem significativa de Botânica. Para esta pesquisa adotamos os procedimentos metodológicos: seleção de uma turma de alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública; Selecionamos a área de floresta nativa “Raimundo Reis” para desenvolvimento de atividade de campo. Realizamos duas visitas ao espaço não-formal para conhecer as características da floresta e realizar a atividade de campo. Após a atividade, os alunos responderam um questionário com perguntas abertas e fechadas. As analises dos resultados foram realizadas à luz da Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel, com base no significado de espaços não-formais abordados por Jacobucci, Pivelli, Marandino e aulas de campo abordados por Tomita, Seniciato e Cavassan, Ikemoto. Durante visitas à área de floresta percebemos suas potencialidades para o ensino de Botânica e elegemos temas a serem abordados. Durante a atividade os alunos fizeram um passeio pela trilha no qual abordamos temas em Botânica. Nas respostas ao questionário, expuseram que a atividade proporcionou um momento de aprendizado sobre os vegetais e contribuiu para sensibilizá-los sobre a preservação dos recursos naturais. Concluímos que, a pesquisa foi relevante por evidenciar as potencialidades da floresta Amazônica como um espaço não-formal para promover a aprendizagem significativa de Botânica. Percebemos que os recursos presentes na Floresta Amazônica são relevantes para motivar os alunos a aprender Botânica pelo apelo estético que influencia as emoções e os sentimentos. Ademais, a pesquisa contribuiu para o desenvolvimento da alfabetização científica como possibilidade de formação de cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade. Palavras-chave: Floresta Amazônica. Ensino de Botânica. Espaços Não-formais. Introdução 1 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Rede Amazônica em Ensino de Ciências e Matemática. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail: [email protected].

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FLORESTA AMAZÔNICA: ESPAÇO NÃO-FORMAL POTENCIAL

PARA APRENDER BOTÂNICA

ARAÚJO, Joeliza Nunes1-UEA

SILVA, Maria de Fátima Vilhena da2 - UFPA

Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas

Agência Financiadora: FAPEAM Resumo No presente trabalho analisamos as potencialidades da diversidade vegetal Amazônica para promover aprendizagem significativa de Botânica. Para esta pesquisa adotamos os procedimentos metodológicos: seleção de uma turma de alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública; Selecionamos a área de floresta nativa “Raimundo Reis” para desenvolvimento de atividade de campo. Realizamos duas visitas ao espaço não-formal para conhecer as características da floresta e realizar a atividade de campo. Após a atividade, os alunos responderam um questionário com perguntas abertas e fechadas. As analises dos resultados foram realizadas à luz da Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel, com base no significado de espaços não-formais abordados por Jacobucci, Pivelli, Marandino e aulas de campo abordados por Tomita, Seniciato e Cavassan, Ikemoto. Durante visitas à área de floresta percebemos suas potencialidades para o ensino de Botânica e elegemos temas a serem abordados. Durante a atividade os alunos fizeram um passeio pela trilha no qual abordamos temas em Botânica. Nas respostas ao questionário, expuseram que a atividade proporcionou um momento de aprendizado sobre os vegetais e contribuiu para sensibilizá-los sobre a preservação dos recursos naturais. Concluímos que, a pesquisa foi relevante por evidenciar as potencialidades da floresta Amazônica como um espaço não-formal para promover a aprendizagem significativa de Botânica. Percebemos que os recursos presentes na Floresta Amazônica são relevantes para motivar os alunos a aprender Botânica pelo apelo estético que influencia as emoções e os sentimentos. Ademais, a pesquisa contribuiu para o desenvolvimento da alfabetização científica como possibilidade de formação de cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade. Palavras-chave: Floresta Amazônica. Ensino de Botânica. Espaços Não-formais.

Introdução

1 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Rede Amazônica em Ensino de Ciências e Matemática. E-mail: [email protected]. 2Doutora em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail: [email protected].

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A diversidade biológica é uma característica específica da Amazônia. Sua floresta

possui uma grande variedade de espécies nativas pouco estudadas e distribuídas

principalmente em florestas de terra-firme, várzea e igapó. Essa diversidade florística e

faunística constitui-se numa ferramenta potencial para subsidiar o ensino e aprendizagem em

botânica.

Sua imensa floresta nativa pode funcionar como um laboratório vivo para o

desenvolvimento de atividades de ensino e de pesquisa. Os elementos bióticos como as

árvores, os animais, os fungos e os elementos abióticos como a água presente nos rios e

riachos, o solo podem constituir-se em recursos pedagógicos para o Ensino de Ciências e

Biologia.

O uso de alternativas metodológicas de ensino em espaços não-formais, em especial,

as reservas da megabiodiversidade amazônica pode permitir aos professores de Biologia dar

sentido ao conteúdo específico de Botânica e integrá-los às demais disciplinas do currículo

escolar (ARAÚJO, 2009). Segundo as DCNEM (BRASIL, 1998), a contextualização do

ensino de ciências naturais é a forma pela qual o professor pode dar sentido ao conteúdo

específico de sua área e integrá-lo às demais disciplinas do currículo escolar.

Nesse sentido, o presente trabalho teve o objetivo de analisar potencialidades para

promover aprendizagem significativa de Botânica.

Espaços Não-formais de Educação

Os espaços formais de Educação constituem-se nos espaços escolares com todas as

suas dependências como salas de aula, laboratórios de ciências, laboratório de informática,

quadra poliesportiva, biblioteca, videoteca, cantina e refeitório. A educação realizada nos

espaços formais é formalizada, garantida por Lei e organizada de acordo com um padrão

estabelecido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).

Os espaços não-formais de Educação são espaços diferentes da escola onde é

suscetível de ocorrer uma ação educativa. São instituições e não instituições em que ocorre a

educação não-formal. Jacobucci (2008, p. 56) descreve que:

Na categoria Instituições, podem ser incluídos os espaços que são regulamentados e que possuem equipe técnica responsável pelas atividades executadas, sendo o caso dos Museus, Centros de Ciências, Parques Ecológicos, Parques Zoobotânicos, Jardins Botânicos, Planetários, Institutos de Pesquisa, Aquários, Zoológicos, dentre outros. Já os ambientes naturais ou urbanos que não dispõem de estruturação

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institucional, mas onde é possível adotar práticas educativas, englobam a categoria Não-Instituições. Nessa categoria podem ser incluídos teatro, parque, casa, rua, praça, terreno, cinema, praia, caverna, rio, lagoa, campo de futebol, dentre outros inúmeros espaços.

Desse modo, a Educação Formal é aquela ligada ao espaço escolar e apresenta um

programa sistemático de ensino, leis e normas com um currículo rígido. Enquanto a Educação

não-formalocorre em ambientes fora da escola, como Museus e Zoológicos (GOHN, 2006)

por meio de metodologias e currículos flexíveis tendo o aluno como centro do processo de

ensino e aprendizagem.

Marandino (2008, p. 13) difere educação formal e educação não-formal da seguinte

forma:

Educação formal: sistema de educação hierarquicamente estruturado e cronologicamente graduado da escola primária à universidade, incluindo os estudos acadêmicos e as variedades de programasespecializados e de instituições de treinamento técnico e profissional.

Educação não-formal: qualquer atividade organizada fora do sistema formal de educação, operandoseparadamente ou como parte de uma atividade mais ampla, que pretende servir a clientes previamenteidentificados como aprendizes e que possui objetivos de aprendizagem.

Embora seja consenso entre os autores que a Educação não-formal é diferente da

Educação formal por utilizar ferramentas didáticas diversificadas e atrativas, isto nem sempre

é verdade. Há muitos exemplos de professores que adotam estratégias pedagógicas variadas

para abordar um determinado conteúdo, fugindo do tradicional método da aula expositiva não

dialogada. E também há exemplos de aulas tradicionais e autoritárias que são realizadas em

espaços não escolares.

Para Pivelli (2006, p. 75) “a estrutura que caracteriza a educação não-formal não

indica que não exista uma formalidade e que seu espaço não seja educacional; ambas as

condições estão presentes, porém de uma maneira diversa da escola”. A educação não formal

pode preencher as lacunas deixadas pela educação escolar e é importante ressaltar que esta

forma de educação sempre coexistiu com a educação formal.

Outro tipo de educação considerada é a educação informal que “abrange todas as

possibilidades educativas proporcionadas ao longo da vida de um individuo, constituindo um

processo permanente e não organizado” (PIVELLI, 2006, p. 74). A educação informal pode

ser transmitida pelos pais, por amigos, pela leitura de livros, revistas e jornais. É um tipo de

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educação decorrente de processos naturais mesmo que seja carregada de valores e

representações.

O termo espaço não-formal tem sido utilizado por pesquisadores e profissionais que

trabalham com divulgação científica para descrever lugares, diferentes do espaço escolar,

onde é possível desenvolver atividades educativas. Jacobucci (2008) afirma que a definição

do que é um espaço não-formal de Educação é muito mais complexa do que se pode imaginar.

Apesar do termo espaço não-formal ser constantemente usado para definir lugares em que

pode ocorrer uma Educação não-formal, a conceitualização do termo ainda está sendo

construída.

Alguns espaços não-formais têm se constituído como um campo para diversas

pesquisas em Educação que buscam compreender as relações entre os espaços não-formais e a

Educação formal. Concomitantemente, esses locais são utilizados por alunos e professores

para a obtenção de conhecimentos científicos pelas potencialidades que apresentam em

favorecer o trabalho interdisciplinar, a contextualização, a motivação, a divulgação da ciência

e da tecnologia e, promover a alfabetização cientifica (PRAXEDES, 2009, p. 29).

As aulas em espaços não-formais favorecem a observação e a problematização dos

fenômenos naturais. Segundo Almeida e Terán (2011, p. 5) a visita a espaços não-formais é

uma estratégia para o ensino-aprendizagem, podendo corroborar com o conteúdo estudado em

sala de aula. Nesses ambientes, o aluno tem a possibilidade de realizar observações in loco de

seres vivos (plantas, animais e fungos) que não é possível em sala de aula.

Aulas de campo para estudar ciências

Uma visita a um espaço não formal pode estimular o aprendizado além de promover o

exercício da cidadania por meio das atividades educativas. Marandino (2008, p. 21) descreve

que a aprendizagem em espaços não-formais “pode ocorrer num diálogo constante entre o

indivíduo e o ambiente e, para compreendê-la, é necessário considerar o contexto no qual

transcorre uma visita”. Para a autora deve-se considerar o contexto físico, o contexto pessoal e

o contexto sociocultural que envolve todas as formas de mediação que o individuo estabelece

durante a visita.

As aulas de campo são instrumentos eficientes para o estabelecimento da relação

homem e natureza (SENICIATO; CAVASSAN, 2004). Em se tratando de aulas de Ciências

Naturais e Biologia realizadas em ambientes naturais, os autores concordam que estas “têm

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sido apontadas como uma metodologia eficaz tanto por envolverem e motivarem crianças e

jovens nas atividades educativas, quanto por constituírem um instrumento de superação da

fragmentação do conhecimento” (2004, p.134).

Cordeiro, Wuo e Morini (2010) defendem que as atividades de campo permitem

observações, coleta de dados, análise e inferências em situações reais. Para os autores são

experiências que “auxiliam os alunos a confrontar suas concepções sobre a natureza da vidae

oferecem oportunidades para obter e analisardados, construir modelos, fazer analogias e

diversificar suas vivências perceptuais” (2010, p. 247). Por meio dessas atividades os alunos

são capazes de construir significados e compreender os fenômenos biológicos.

Para Tomita (2009) a saída dos alunos a campo incentiva atitudes investigativas,

levando-os a analisar a própria realidade em que vivem. Além disso, o trabalho de campo bem

planejado e bem conduzido traz retorno para a aprendizagem significativa, sendo

indispensável para o ensino de Botânica.

Os ambientes naturais favorecem abordagens investigativas (aprendizagem ativa) e

permitem maior integração entre os fatores afetivos e cognitivos. Em uma pesquisa feita por

Seniciato e Cavassan (2008), os autores evidenciaram que a motivação e o interesse pelas

aulas de ciências são mais frequentes quando são desenvolvidas em ambientes naturais em

comparação com aulas expositivas tradicionais em sala de aula. Isso é possível,

principalmente, se o ambiente de estudo for familiar aos alunos.

Em se tratando especificamente de aulas de campo para a aprendizagem de conteúdos

de Botânica em espaços não-formais, sabemos que o trabalho de campo aliado à observação

pode ser relevante para o ensino de Botânica, já que as plantas podem ser estudadas como um

todo e em interação com o ambiente natural. Esse tipo de atividade aguça a percepção, o

senso estético e a curiosidade do aluno em relação às plantas, motivando-o para o aprendizado

na escola e a busca de mais informações por conta própria e a ter atitudes mais responsáveis e

cidadãs em relação às plantas (IKEMOTO, 2007).

Metodologia

Para esta pesquisa adotamos os seguintes procedimentos metodológicos: seleção de

uma turma de alunos do 3º ano do Ensino Médio que estudam em uma escola pública para a

pesquisa de campo. Os critérios para seleção da escola e da turma foram: a familiaridade com

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a equipe de professores e alunos da escola e porque o conteúdo de Botânica está no programa

do 3º ano do Ensino Médio.

Selecionamos uma área de floresta nativa localizada na Comunidade do Macurany,

município de Parintins/AM para desenvolvimento da atividade de campo em Botânica com

alunos do Ensino Médio. Realizamos duas visitas ao espaço não-formal “Raimundo Reis” nas

quais foi possível conhecer as características da floresta e realizar a atividade de campo. As

característica que foram levadas em conta na escolha do local foram: presença de espécies

nativas da floresta amazônica, diversidade de seres vivos e acesso favorável a visitação.

Após a atividade de campo, os alunos responderam um questionário com perguntas

abertas e fechadas. Para análise dos resultados os alunos foram identificados como A1, A2,

A3, ... etc. a fim de manter em anonimato a identidade dos participantes da pesquisa. As

analises dos resultados obtidos na pesquisa foram realizadas à luz da Teoria da Aprendizagem

Significativa de David Ausubel, com base no significado de espaços não-formais abordados

por Jacobucci, Pivelli, Marandino e aulas de campo abordados por Tomita, Seniciato e

Cavassan, Ikemoto dentre outros autores.

Resultados e discussão

A floresta de Terra Firme selecionada para a atividade de campo possui uma área de 2

hectares. Durante as visitas foi possível perceber suas potencialidades para o ensino de

Botânica elegendo-se temas suscetíveis de serem abordados em atividades de campo. Os

temas são: Florestas Tropicais; diversidade vegetal; características das florestas de Terra

Firme; plantas epífitas; plantas parasitas; plantas hemiepífitas; raízes tabulares; morfologia

dos órgãos vegetativos (folhas, caule e raízes) e dos órgãos reprodutivos (flores e frutos);

crescimento primário e secundário das angiospermas; plantas invasoras como Selaginellasp.;

lianas (cipós); taxonomia e sistemática das angiospermas e pteridófitas. Outros temas

relacionados à ecologia como interações ecológicas e sucessão ecológica também podem ser

abordados em atividades de campo em Botânica no espaço não-formal em estudo.

Após a visita ao espaço “Raimundo Reis” e a identificação de suas potencialidades

para o ensino de Botânica realizou-se a atividade de campo. Durante a atividade os alunos

observaram a floresta fazendo registros em seus cadernos sobre suas impressões da floresta

(Fotos 01 e 02). Após o registro, cada aluno pode falar sobre suas observações e impressões

iniciais do local.

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Foto 01. Atividade individual. Foto 02. Atividade individual. Fonte: Atividade de campo ( 2012). Fonte: Atividade de campo ( 2012).

Após os alunos apresentarem oralmente suas observações, o professor os conduziu

pela trilha abordando os assuntos: diversidade vegetal presente na área (Foto 03);

Angiospermas: diferença morfológica entre as plantas monocotiledôneas e dicotiledôneas;

órgãos vegetativos (raiz, caule e folhas) e órgãos reprodutivos (flores e frutos) e, também,

outras características das angiospermas, como o crescimento primário e o crescimento

secundário (Foto 04). Abordamos sobre as plantas invasoras como Selaginella sp. e os

prejuízos que elas podem causar para a vegetação nativa; a serapilheira com suas

características e seus principais benefícios para a floresta Amazônica; a presença das lianas

(cipós) que é uma característica da Floresta Amazônica; mostramos a associação simbiótica

entre alguns seres vivos como os liquens e outras associações harmônicas e desarmônicas que

foram encontradas ao longo da trilha. Dentre os temas abordados, apenas Angiospermas já

havia sido tratado e discutido em sala de aula.

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Foto 03. Diversidade vegetal da floresta. Foto 04. Crescimento secundário. Fonte: Atividade de campo (2012). Fonte: Atividade de campo (2012).

Durante o passeio pela trilha fizemos uma parada dentro da floresta para a realização

da atividade denominada “Prática do Pé Ecológico”. A prática do pé ecológico consistiu em

que todos os alunos, inclusive o professor, tirassem o tênis e pisassem no chão para contato

direto com o solo da floresta. Na atividade, o contato direto com o ambiente natural favoreceu

a aprendizagem em botânica. Esse contato com o ambiente é eficiente para a aprendizagem,

pois o contexto proporcionou uma visão mais integrada dos fenômenos e maior envolvimento

emocional do aluno com o assunto, acarretando em aumento do conhecimento (SENICIATO;

CAVASSAN, 2009).

Outra atividade realizada na floresta foi o “Abraço da árvore”, na qual cada aluno

adotou uma árvore e a abraçou. Em seguida, cada aluno falou sobre a importância da

preservação da floresta amazônica para as gerações presentes e futuras.

Após a realização das atividades de campo, os alunos responderam aos questionários,

nos quais expuseram suas impressões da atividade de campo. Apresento algumas dessas

respostas:

Achei muito boa a atividade no campo, pois tivemos contato direto com a natureza e conhecemos coisas que não tínhamos conhecimento (A1).

Nós observamos coisas incríveis, coisas que desconhecíamos e isso estimulou nosso aprendizado, enriqueceu nossa mente. Bom, foi ótimo (A2).

As respostas dos alunos A1 e A2 evidenciam que a atividade proporcionou um

momento de sensibilização no contato com o ambiente da floresta. Essa afetividade é um bom

começo para motivar o aluno a aprender o que nos propomos com a visita. O apelo estético da

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floresta influencia nas emoções e nos sentimentos e, por conseguinte, desperta o interesse e

motiva para a aprendizagem do conteúdo científico. Nesse sentido, sabemos que a

aprendizagem significativa pressupõe que o aluno manifeste uma disposição para relacionar o

novo material à sua estrutura cognitiva (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN,1980) e, nesse

aspecto, a motivação é condição necessária para a aquisição de novos conhecimentos.

Quanto ao momento da atividade de campo considerado mais importante para os

alunos:

No momento em que nós adotamos uma árvore, porque as árvores são importantes para a sobrevivência humana e por que ela dispõe de muitos recursos (A1);

A parte mais importante foi quando encontramos algumas plantas que não tínhamos contato com as mesmas: vários fungos que se alimentam de madeira e que sobrevivem de outra matéria (A5).

É perceptível que a aula de campo contribuiu para sensibilizar os alunos sobre a

necessidade de preservação dos recursos naturais presentes na Floresta Amazônica e

aprendizagem de novos conhecimentos científicos. O conceito de meio ambiente apresentado

pelo aluno A1 é utilitarista, no sentido de que o ambiente é fornecedor de vida e de recursos

para a nossa sobrevivência. Sauvé (2005) identifica categorias para os diferentes tipos de

concepções sobre meio ambiente: o meio ambiente natureza; o meio ambiente recurso; o meio

ambiente problema; o meio ambiente sistema; o meio ambiente lugar; o meio ambiente

biosfera; o meio ambiente projeto comunitário. Para a autora, “a análise dessas proposições

permite identificar uma pluralidade de correntes de pensamento e de prática na educação

ambiental: naturalista, conservacionista, solucionadora de problemas, sistêmica, holística,

humanista, crítica, bio-regional, feminista, etc.” (SAUVÉ, 2005, p. 319).

Constatamos na fala de A5 que a atividade foi importante para a aquisição de novo

conhecimento, ou seja, o aluno superou o conhecimento prévio. Para Ausubel, Novak e

Hanesian (1980) o fator isolado mais importante influenciando a aprendizagem é aquilo que o

aprendiz já sabe. As novas ideias devem se relacionar a aspectos relevantes que já se

encontram na sua estrutura cognitiva: os subsunçores. Para que ocorra a aprendizagem

significativa é necessário que o conteúdo de ensino esteja relacionado com a realidade do

aluno, ou seja, o material de aprendizagem precisa fazer sentido para o aluno. Nesse caso, o

conhecimento que o aluno já traz consigo deve ser considerado pelo professor.

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Ao tratarmos da importância de preservação da floresta Amazônica os alunos

responderam:

É importante preservar a floresta amazônica por que ela é essencial para a vida, dela tiramos o nosso sustento e também matéria-prima para construção de móveis e casa (A1);

Devemos cada vez mais preservar a Amazônia ela é um fator muito importante para a nossa sustentabilidade e do nosso planeta devemos parar de desmatar a floresta ela é um fator muito rico para a nossa sobrevivência (A4).

Na resposta de A1 percebe-se a concepção utilitarista de meio ambiente, isto é, a

natureza a serviço dos homens e A4 apresenta uma preocupação com a preservação

ambiental.

Quando questionados sobre a importância de estudar as plantas em um ambiente

natural (floresta) os alunos defendem que:

É importante porque nós não ficamos somente na parte teórica, mas também a conhecemos pessoalmente e aprendemos melhor (A1);

Estudando em um ambiente natural nós tiramos dúvidas que em sala de aula nós não temos o privilégio de conhecer. E ela nos transmite vontade de aprender mais (A3);

A importância é muito grande, pois conhecemos onde elas [as plantas] se reproduzem e como são suas características naturais. Isso faz com que aprendemos mais a respeito de nossa floresta (A5).

Notamos que os alunos se sentem privilegiados e motivados com a oportunidade de

participar de uma atividade de campo em Botânica. Ausubel; Novak e Hanesian (1980, p. 34)

descrevem que uma das condições para a ocorrência da aprendizagem significativa é que “... o

aluno manifeste uma disposição para a aprendizagem significativa – ou seja, uma disposição

para relacionar, de forma não arbitrária e substantiva, o novo material à sua estrutura

cognitiva”. Isso significa que uma das condições para a aquisição de novos conhecimentos é a

motivação do aluno. Neste sentido, o contexto cultural e o contato com o ambiente natural

associados aos conhecimentos prévios foi uma motivação para a aprendizagem significativa.

Os alunos compreenderam que participar de atividades de campo pode ser útil para adquirir

novos conhecimentos, relacionar teoria e prática e tirar dúvidas existentes sobre o conteúdo de

botânica.

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Em se tratando da pergunta sobre as características das angiospermas, 90% dos alunos

relacionou-as com sua capacidade de produção de frutos e reprodução. As respostas

apresentadas são uma indicação de que houve aprendizagem significativa.

Dos alunos entrevistados 83% afirmaram que a atividade de campo foi excelente e

justificaram:

Excelente por que a atividade foi muito precisa aprendemos mais, trouxe conhecimento das plantas que não sabíamos, como as angiospermas (A2);

Bom nós tiramos dúvidas, esclarecemos o que nós não estávamos entendendo. Eu acho excelente pelo fato de conhecermos de perto os mistérios das plantas (A3);

Porque aprendemos cada parte de uma planta e também observamos alguns tipos de fungos a natureza nos oferece, que muito das vezes não tivemos contato com os mesmo. Isso foi uma pesquisa muito importante pra todos nós (A4);

Foi excelente por que é muito chato ficar só na sala de aula só na parte teórica, então foi muito boa essa atividade de campo, onde nós conhecemos as plantas (A6).

Os alunos foram capazes de comparar as aulas teóricas em sala de aula e a atividade de

campo como sendo esta última relevante para o conhecimento dos vegetais. Apesar de os

esforços de educadores em defesa da aprendizagem significativa, o que ainda se presencia em

muitas escolas é “o ensino de botânica teórico, desestimulante, reprodutivo, com ênfase na

repetição e não no questionamento, seguindo sempre um único caminho de aprendizagem:

repetir afirmações do livro” (KINOSHITA et al.,2006).

Conclusão

Concluímos que a pesquisa foi relevante por evidenciar as potencialidades da floresta

Amazônica como um espaço não-formal para promover a aprendizagem significativa de

Botânica. Percebemos que os recursos presentes na Floresta Amazônica são relevantes para

motivar os alunos a aprender Botânica pelo apelo estético que influencia as emoções e os

sentimentos.

As falas dos sujeitos pesquisados evidenciaram que a atividade de campo

proporcionou momentos de construção de novos conhecimentos em Botânica e contribuiu,

ainda, para sensibilizá-los sobre a importância da preservação ambiental.

A participação e envolvimento dos alunos na atividade de campo mostraram que o

contato direto com os vegetais promove a motivação para a aprendizagem de conhecimentos

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científicos. Nesse estudo a floresta Amazônica constituiu-se em um laboratório vivo para o

desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem em Botânica.

Ademais, a pesquisa contribuiu para o desenvolvimento da alfabetização científica dos

alunos do 3º ano do Ensino Médio como possibilidade de formação de cidadãos críticos e

conscientes de seu papel na sociedade.

REFERÊNCIAS

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