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COMENTÁRIOS

Por um bife, de Jack London do blog de Milton Ribeirohttp://miltonribeiro.sul21.com.br/

Jack London (1876-1916) foi “oescritor” de minha infância ejuventude e também quem introduziumeus filhos no mundo dos livros. Caninos Brancos, O Chamado Selvagem, Antes de Adão e outros livros de London foram engolidos por nós com grande entusiasmo. Penso até que li O Chamado Selvagem emvoz alta para minha filha. London era uma figura singular. Aventureiro e independente desde os 14 anos, o escritor cruzou os Estados Unidos de trem, navegou o mundo inteiro, foi vagabundo de rua, passou fome, trabalhou como correspondente de guerra, tornou-se socialista, foi preso, virou minerador, sucumbiu ao

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alcoolismo, mas, neste ínterim e sabe-se lá como, escreveu 50 livros, apesar de ter vivido apenas 40 anos. Com surpresa, vi um livro de London que não conhecia na vitrine da Livraria do Globo da Getúlio Vargas. Adorei o nome da coletânea de histórias: Por um bife e outras histórias de boxeadores. É claro que tratei de lê-lo imediatamente. Já imaginava, são contosnaturalistas de um autor de estupenda capacidade descritiva. É leitura fácil e fluente. O assunto central é sempre o boxe que, aliás, também era praticado pelo autor. Por um bife (1909) é excelente; narra a decadência de um velho boxeador que vê a inexorável evolução dos jovens que lhe tirarão o sustento. O mexicano (1911) é um duro relato de um chicano que lutava não pelo prazer do esporte mas por seus ideais. O benefício da dúvida (1910) trata de uma curiosa disputa judicial a respeito de uma briga de rua em que o agredido torna-se réu, tendo por fundo a corrupção

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de uma pequena cidade; tem final delicioso. O jogo (1905), relato trágico da inocência, é fraquinho. Já O bruto insondável (1911) é a melhor história, sendo um retrato da corrupção do boxe, com suas lutas compradas e apostas. Não faz falta não ler, mas é, como sempre foi, boa diversão.

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SERAPIÃO

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Até Roberto Carlos foiafetado com a crise.Antigamente, para comprarum show do rei eranecessário R$ 1 milhão -fora os gastos extras comtransporte, hotel,alimentação etc -, hoje elevende sua apresentação porR$ 750 mil. Na lista das 'promoções'ainda conta Ivete Sangalo, Claudia Leite, Jorge &

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Mateus, Victor & Leo, Anitta e Naldo, que agora sobe ao palco por apenas R$ 6 mil.

Confira a queda do valor médio do cachê dos cantores:Wesley Safadão: R$ 500 a R$ 800 mil - agora R$ 200 miJorge & Mateus: R$ 400 mil - agora R$ 320 milIvete Sangalo: R$ 350 mil - agora R$ 250 milClaudia Leitte: R$ 300 mil - agora R$ 175 milGusttavo Lima: R$ 320 mil - agora R$ 220 milFernando e Sorocaba: R$ 250 mil-300 mil - agora R$ 150 milVictor & Léo: R$ 240 mil-R$ 280 mil - agora R$ 110 milLuan Santana: R$ 200 mil - agora R$ 160 milPaula Fernandes: R$ 150 mil - agora R$ 120 milAnita: R$ 80 mil - agora R$ 40 milNando Reis: R$ 65 mil - agora R$ 35 milNaldo Beni: R$ 30 mil - agora R$ 6.000Sobrou prá nós também: Serapião ao Vivo: Grátis - agora é caroRadiopeão diária inédita: 0800 - agora só do orelhão, pra economizar bateriaRadiopeão retrospectiva: abatia no imposto de renda - agora é isenta.

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- Bom dia Serapião! Tudo em ordem?- Bom dia! Tudo na rotina de sempre...- Diz aí...- De manhã, 8:50, vejo a coluna do Zé Simão na Band News, ele fala umas coisas parecidas com o que eu queria dizer, e então penso: "Sem radiopeão hoje, o Simão já saiu a frente..." Depois as notícias do impeachment, parece aquelas novelas que dão Ibope e ficam prolongando, ou filme que lançam mais um: "O Impeachment da Presidenta" "O Impeachment do Vice-Presidente, sucessor da Presidenta" "O Impeachment do Presidente da Câmara, sucessor do Vice-presidente, sucessor da Presidenta"

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"O Impeachment Presidente do Senado, sucessor da Presidente da Câmara, sucessor do Vice-presidente, sucessor da Presidenta" "O Impeachment Presidente do STF, sucessor do Presidente do Senado, sucessor da Presidente da Câmara, sucessor do Vice-presidente, sucessor da Presidenta" Não demora chega no Serapião, pretenso sucessor do Zé Simão... Já tou preparando minha defesa, a) já fiz meu imposto de renda b) já votei no BBB 16 c) já atualizei o Windows 10... não podem me acusar de nada...

e de tarde tem as notícias do futebol perguntado se o time tinha chande de se classificar, professor-mestre Cuca disse:- Está nas mão de Deus!

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- Vai deixar nas mãos de Deus, tendo Jesus, aquele menino bom de bola, no time?- O menino Jesus foi expulso, não joga no próximo jogo. É jovem ainda, chutaram a canela dele e em vez de dar a outra face ele revidou...Isso dá filme:"O Impeachment de Jesus..."

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- Serapião, por aqui de novo, você até já tinha se despedido, desejado bom final de semana e tudo...- Pois é, mas só vou tomar mais uma cervejinha aqui, pra esquecer o último jogo.- Fiquei sabendo que o time do bairro perdeu de novo.- Mas dessa vez a culpa é do juiz.- Serapião, deixa disso, vai dar desculpa de que o juiz também tá te perseguindo?- Mas é verdade.

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Eu faço um gol de direita e ele anula, diz que a chuteira que eu estou usando é paraguaia, há indícios de falsidade. Faço outro gol, agora de canela mesmo, só de raiva, ele anula de novo, suspeita que a caneleira foi adquirida com doação ilegal. Mais um, agora de “carrinho”, ele afirma que suspensão rebaixada não vale, anula o gol e ainda me dá 5 pontos na carteira. Eu reclamo e ele ameaça me fazer soprar o bafômetro. Tive que ficar quieto E pra acabar, eu capricho, marco mais um, um golaçode bicicleta. Sabe o que ele diz? Que pedalada agora táproibido!

4- Seu Serapião, de novo aqui na farmácia, subindo na balança?- É, uma vez antes do jogo, outra depois...- Que legal, controlando o peso antes e depois de jogar

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futebol!- Jogar, não, assistir!- Uai... como é isso? Isso emagrece?- Muito. Passei o campeonato todo vendo meu time ao vivo naTV. Agora que chegou nas finais, os jogos não são naqueles horários globalizados, tenho que pagar o "peiperviu " ou ouvir no rádio- Mas, e daí?- Fiquei ligado nos 90 minutos de jogo, 5 minutos de atraso, 1 minuto de homenagem aos falecidos, 4 minutos de parada técnica, 15 minutos de intervalo comercial, 30 minutos de prorrogação, 10 penalts; pra, finalmente,ouvir um grito, que até agora não sei se é "iluminado" ou "eliminado"- E emagreceu, pois nesse tempo todo não comeu nada- Nada- Nem as unhas?- Já tinham ido na semifinal...

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Márcio, o piadista

Do livro “Pacientes” de Jorge de Palma

Logo que começou a trabalhar no hospital, o porteirofez amizade com Marcio. Também era impossível não fazê-lo. Jovial e alegre, Marcio conversava com todos os colegas, sorria sempre e atendia pacientemente a todos, Com o tempo o porteiro descobriu que eles tinham algo em comum. Ambos gostavam de uma boa piada, para quebrar arigidez do trabalho sempre voltado para doentes. E foi assim, que um dia, sem mais, nem menos, Marcio lhe perguntou: -Sabe a principal semelhança entre o hospital e um bar? O porteiro respondeu que não sabia e Marcio lhe respondeu

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-No hospital o homem toma soro de pinguinho em pinguinho, e, no bar não toma soro, mas vai de pinguinha em pinguinha... No dia seguinte, o Marcio veio com essa:O médico ia assinar uma receita, mas quando a puxou o objeto de trás da orelha, percebeu que na verdade eraum termômetro retal. Elebalançou a cabeça e desabafou: - Nossa! Algum bundão ficou com a minha caneta…

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POESIA

Soneto

José Albano

Poeta fui e do áspero destinoSenti bem cedo a mão pesada edura.Conheci mais tristeza que venturaE sempre andei errante e peregrino.

Vivi sujeito ao doce desatinoQue tanto engana, mas. tão pouco dura;E ainda choro o rigor da sorte escura,Se nas dores passadas imagino.

Porém, como me agora vejo isentoDos sonhos que sonhava noite e dia,E só com saudades me atormento;

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Entendo que não tive outra alegriaNem nunca outro qualquer contentamentoSenão de ter cantado o que sofria.

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Venho de longe, trago o pensamento

Paulo Bomfim

Venho de longe, trago o pensamento Banhado em velhos sais e maresias; Arrasto velas rotas pelo vento E mastros carregados de agonia.

Provenho desses mares esquecidos Nos roteiros de há muito abandonados E trago na retina diluídos Os misteriosos portos não tocados.

Retenho dentro da alma, preso à quilha Todo um mar de sargaços e de vozes, E ainda procuro no horizonte a ilha

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Onde sonham morrer os albatrozes... Venho de longe a contornar a esmo, O cabo das tormentas de mim mesmo.

* do livro Transfiguração

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PENSAMENTOS

“Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanosna sua integridade.”

Simone de Beauvoir

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“O cansaço físico, mesmo que suportado forçosamente, não prejudica o corpo, enquanto o conhecimento imposto à força não pode permanecer na alma por muito tempo.”

Platão

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“Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é omais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo.”

Confúcio

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PIADAS

A loira no médico

Durante uma consulta médica a loira pergunta:- Doutor, vai doer?

O médico responde:- Vai sim, mas até amanhã passa!

E a loira diz:- Então amanhã eu volto!

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O preço do vaso

O sujeito pergunta na loja de jardinagem:- Moça, quanto custam esses vasos?

E ela responde:- O bom custa R$ 10,00 e o ruim R$ 100,00.

- Nossa, mas por que o ruim é mais caro?- É porque vaso ruim não quebra!

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Alimento e sofrimento

Durante um congresso sobre saúde alimentar, o orador faz uma pergunta:- Qual o alimento que causa sofrimento extremo, durante anos, depois de ser comido?

Depois de um longo silêncio, do meio da plateia, um idoso levante a mão e responde:- BOLO DE CASAMENTO!!

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O bêbado e os pastores

Dois pastores estão perdidos e um deles pergunta para um homem que está bêbado:- Com licença, você sabe me informar onde fica a farmácia?E o bêbado explica:- Claro, fica ali na esquina virando a direita.Os pastores agradecem, começam a seguir o caminho mas um pergunta ao outro:- Será que não deveríamos ajudar aquele pobre homem que tomou o caminho da bebida?E o outro pastor responde:- É verdade. Temos o dever de ensinar a palavra do Senhor e ajudar aquele homem.Eles voltam até o bêbado e perguntam:- Moço, você gostaria que te ensinássemos o caminho de Deus?E o bêbado responde:- Vocês não sabem nem o caminho da farmácia, imagine o caminho de Deus...

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O afogado Rubem Braga

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Não, não dá pé.Ele já se sentecansado,

mas compreendeque ainda precisanadar um pouco.Dá cinco ou seisbraçadas, e tem a impressão de que não saiu do lugar. Pior: parece que está sendo arrastado para fora. Continua a dar braçadas, mas está exausto.

A força dos músculos esgotou-se; sua respiração está

curta e opressa. É preciso ter calma. Vira-se de barriga para cima e tenta se manter assim, sem exigir nenhum esforço dos braços doloridos. Mas sente que uma onda grande se aproxima. Mal tem tempo para voltar-se e enfrentá-la. Por um segundo pensa que ela vai desabar sobre ele, e consegue

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dar duas braçadas em sua direção. Foi o necessário para não

ser colhido pela arrebentação; é erguido, e depois levado pelo repuxo. Talvez pudesse tomar pé, ao menos por um instante, na depressão da onda que passou. Experimenta: não. Essa tentativa frustrada irrita-o e cansa-o. Tem dificuldade de respirar, e vê que já vem outra onda. Seria melhor talvez mergulhar, deixar que ela passe por cima ou

o carregue; mas não consegue controlar a respiração e fatalmente engoliria água; com o choque perderia os sentidos. É outra vez suspenso pela água e novamente se deita de costas, na esperança de descansar um pouco os músculos e regular a respiração; mas vem outra onda imensa. Os braços negam-se a qualquer esforço; agita as pernas para se manter na superfície e ainda uma vez consegue escapar à arrebentação.

Está cada vez mais longe da praia, e alguma coisa o assusta: é um grito que ele mesmo deu sem querer e parou no meio, como se o principal perigo fosse gritar. Tem medo de engolir água, mas tem medo principalmente daquele seu

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próprio grito rouco e interrompido. Pensa rapidamente que, se não for socorrido, morrerá; que, apesar da praia estar cheia nessa manhã de sábado, o banhista da Prefeitura já deve ter ido embora; o horário agora é de morrer, e não de ser salvo. Olha a praia e as pedras; vê muitos rapazes e moças, tem a impressão de que alguns o olham com indiferença. Terão ouvido seu grito? A imagem que retém melhor é a de um rapazinho que, sentado na pedra, procura tirar algum espeto do pé.

A idéia de que precisará ser salvo incomoda-o muito; desagrada-lhe violentamente e resolve que de maneira alguma pedirá socorro, mesmo porque naquela aflição já acha que ele não chegaria a tempo. Pensa insistentemente isto: calma, é preciso ter calma.

Não apenas para salvar-se, ao menos para morrer direito, sem berraria nem escândalo. Passa outra onda, mais fraca; mas assim mesmo ela rebenta com estrondo. Resolve que é melhor ficar ali fora, do que ser colhido por uma onda: com certeza, tendo perdido as forças, quebraria o pescoço jogado

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pela água no fundo. Sua respiração está intolerável, acha que o ar não chega a penetrar nos pulmões, vai só até a garganta e é expelido com aflição; tem uma dor nos ombros; sente-se completamente fraco.

Olha ainda para as pedras, e vê aquela gente confusamente; a água lhe bate nos olhos. Percebe, entretanto, que a água o está levando para o lado das pedras.Uma onda mais forte pode arremessá-lo contra o rochedo; mas, apesar de tudo, essa idéia lhe agrada. Sim, ele prefere ser lançado contra as pedras, ainda que se arrebente todo. Esforça-se na direção do lugar de onde saltou, mas acha longe demais; de súbito, reflete que à sua esquerda deve haver também uma ponta de pedras. Olha. Sente-se tonto e pensa: vou desmaiar. Subitamente, faz gestos desordenados e isso o assusta ainda mais; então reage e resolve, com uma espécie de frieza feroz, que não fará mais esses movimentosidiotas, haja o que houver; isso é pior do que tudo, essa epilepsia de afogado. Sente-se um animal vencido que vai morrer, mas está frio e disposto a lutar, mesmo sem

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qualquer força; lutar ao menos com a cabeça; não se deixaráenlouquecer pelo medo.

Repara, então, que, realmente, está agora perto de uma pedra, coberta de mariscos negros e grandes. Pensa: é melhor que venha uma onda fraca; se vier uma muito forte, serei jogado ali, ficarei todo cortado, talvez bata com a cabeça na pedra ou não consiga me agarrar nela; e se não conseguir me agarrar da primeira vez, não terei mais nenhuma chance.

Sente, pelo puxão da água atrás de si, que uma onda vem, mas não olha para trás. Muda de idéia; se não vier uma onda bem forte, não atingirá a pedra. Junta todos os restos de forças; a onda vem. Vê então que foi jogado sobre a pedra sem se ferir; talvez instintivamente tivesse usado sua experiência de menino, naquela praia onde passava as férias, e se acostumara a nadar até uma ilhota de pedra também coberta de mariscos. Vê que alguém, em uma pedramais alta, lhe faz sinais nervosos para que saia dali, está em um lugar perigoso. Sim, sabe que está em um lugar

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perigoso, uma onda pode cobri-lo e arrastá-lo, mas o aviso oirrita; sabe um pouco melhor do que aquele sujeito o que é morrer e o que é salvar-se, e demora ainda um segundo parase erguer, sentindo um prazer extraordinário em estar deitado na pedra, apesar do risco. Quando chega à praia e senta na areia está sem poder respirar, mas sente mais vivo do que antes o medo do perigo que passou.

“Gastei-me todo para salvar-me, pensa, meio tonto; não valho mais nada.” Deita-se com a cabeça na areia e confusamente ouve a conversa de uma barraca perto, gente discutindo uma fita de cinema. Murmura, baixo, um palavrão para eles; sente-se superior a eles, uma idiota superioridade de quem não morreu, mas podia perfeitamente estar morto, e portanto nesse caso não teria a menor importância, seria até ridículo de seu ponto de vista tudo o que se pudesse discutir sobre uma fita de cinema. O mormaço lhe dá no corpo inteiro um infinito prazer .

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GEMEOS

Um conto de

JORGE PALMA

Ele era bonito, logicamente com feições masculinas. Andava como se estivesse nas nuvens. Não com as mãos viradas para cima. Flutuava,com braços abertos, mas a mãos viradas para baixo, como se fossem asas fazendo um esforço mínimo para voar, ou melhor, flutuar. Ele não voava, flutuava. Olhos azuis, pele branca, barba rasa, bons

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dentes, sorriso constante, como se a vida fosse uma eterna alegria. Era como se estivesse sob o efeito constante das drogas, que diziam que ele usava. Não sei se realmente usava, mas tentei imaginar. Deviam ser drogas muito boas para viver sorrindo e flutuando daquele jeito. Trabalhava? Não sei. Como vivia? Não sei. Eu era o balconista de bar e sempre o via daquele jeito. Só notava que as coisas que ele dizia, não faziam muito sentido. Soube um dia que ele era gêmeo, mas nunca penseiseriamente sobre isso. Numa noite,entre as muitas do trabalho, uma loira linda entrou no bar. A primeira coisa que notei, era que ela não andava. Flutuava. Era como se fosse ele, mas estava

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na cara. Tudo demonstrava que era ela. Os cabelos mais loiros, mais compridos, mais finos, esvoaçantes. Os mesmos olhos azuis, mas os labios mais sensuais. Cintura fina, seios proporcionais ao corpo. Se houvesse gêmeos nesta história ela só poderia ser a irmã gêmea dele. Nunca tive certeza. Ao servir o que ela pediu no balcão, procurei iniciar uma conversa: -Eu não a conheço, mas acho que conheço seu irmão! Ela me olhou diretamente nos olhos e eu fiquei desnorteado. E a conversa desnorteada continuou: -Voce conhece o meu irmão? -Sim, às vezes ele aparece por aqui. -E você gosta dele?

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-Gosto muito, ele é gente boa, respondi. Mas fiquei aturdido com o que ele disse a seguir: -Então não fale mais comigo.E ela pagou a conta e foi embora. Nunca mais a vi.