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DERMATOFUNCIONAL Radiação ultravioleta e psoríase Fototerapia e cicatrização de queimaduras DIABETES Glicemia e parâmetros cardiovasculares em fisioterapia aquática COLUNA Reposicionamento da cabeça e dor cervical Protocolos de fisioterapia em pós-operatório de cirurgia cardíaca TREINAMENTO Parâmetros eletromiográficos nos exercícios da articulação glenoumeral DIABETES Insulina em fonoforese no tratamento de úlceras diabéticas Diabetes e disfunções pélvicas femininas Fisioterapia B r a s i l V. 16 - n o 2 ISSN 1518-9740 Physical Therapy Brazil www.atlanticaeditora.com.br 16 anos Nessa edição CADERNO PILATES

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DERMATOFUNCIONAL• Radiaçãoultravioletaepsoríase• Fototerapiaecicatrizaçãodequeimaduras

DIABETES• Glicemiaeparâmetroscardiovascularesemfisioterapiaaquática

COLUNA• Reposicionamentodacabeçaedorcervical• Protocolosdefisioterapiaempós-operatóriodecirurgiacardíaca

TREINAMENTO• Parâmetroseletromiográficosnosexercíciosdaarticulaçãoglenoumeral

DIABETES• Insulinaemfonoforesenotratamentodeúlcerasdiabéticas

• Diabetesedisfunçõespélvicasfemininas

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ISSN 1518-9740

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www.atlanticaeditora.com.br

16 anos

Fisioterapia Brasil - A

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Nessa edição

CADERNO PILATES

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Fisioterapia BrasilP h y s i c a l T h e r a p y B r a z i l

(Ano 2015, vol. 16, nº 2 - 81-160)

EDITORIALE aí vamos publicar? Mario Antonio Baraúna .............................................................................................................................. 83

ARTIGOS ORIGINAISOs efeitos da radiação ultravioleta nas lesões cutâneas de mulheres portadoras de psoríase, Hedioneia Maria Foletto Pivetta, Caroline Prochnow, Patrícia Hilbig Lucas, Luciana Cezimbra Weis ........................................... 84 O alongamento estático interfere no desempenho da força isométrica e ativação muscular durante o exercício de cadeira extensora? Felipe Heylan Nogueira de Souza, Rodrigo Ramalho Aniceto, Ana Cristina Nóbrega Marinho Torres, José Onaldo Ribeiro de Macêdo, Maria do Socorro Cirilo de Sousa, Elvis Costa Crispiniano ........................................................................................................... 90Comportamento da glicemia, pressão arterial sistêmica e frequência cardíaca em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 praticantes de fisioterapia aquática, Marília Gomes da Silva, Caliandra Letiere Coelho Dias, Clarice Zuquetto Viana Roso, Márcia Prado Kettermann, Muriel Gonçalves de Vargas, Alecsandra Pinheiro Vendrusculo ...................................................................................................... 96Ativação do centro de força e da musculatura respiratória de idosas com e sem incontinência urinária de esforço, Sinara Porolnik, Melissa Medeiros Braz, Juliana Falcão Padilha, Enio Júnior Seidel .................................................................................................................................... 101Fototerapia acelera cicatrização de queimaduras em ratos desnutridos, Katiuscia Pereira da Silva, Marcel Nani Leite, Samuel Straceri Lodovichi, Luciana Maria dos Reis, Saulo Nani Leite, Marco Andrey Cipriani Frade .................................................................................... 107Comparação do reposicionamento da cabeça em jovens assintomáticos e com dor cervical, Felipe José Jandre dos Reis, Bruno Alexandre Mendes Cardoso, Débora Rodrigues Jatobá, Adriana de Macedo, Leandro Calazans Nogueira ......................................................................................................................... 113Análise dos parâmetros eletromiográficos do músculo deltoide posterior nos exercícios crucifixo invertido e remada baixa no pulley da articulação glenoumeral, Frank Shiguemitsu Suzuki, Bruno Miguel dos Santos, Roberta Luksevicius Rica, Alexandre Lopes Evangelista, Aylton Figueira Junior, César Augusto Souza Casarin, Andrey Jorge Serra, Francisco Luciano Pontes Junior, Charles Ricardo Lopes, Danilo Sales Bocalini ........................................... 118Características dos pacientes do sexo masculino com disfunção erétil do município de Santa Maria/RS, Larissa Fernandes, Letícia Fernandez Frigo .................................................................................................. 123

CADERNO PILATES ....................................................................................................................................................129Modos somáticos de atenção de praticantes do Método Pilates, Daniela Meirelles Lagranha, Adriane Vieira, Christiane Garcia Macedo ................................................................................................................................... 131Desenvolvimento e validação de um método de avaliação do nível de prática no método Pilates por meio de exercícios do próprio método, Giselen Benedetti, Cláudia Tarragô Candotti, Kaanda Nabilla Souza Gontijo, Gabriela Manosso Bampi, Jefferson Fagundes Loss ..................................................................... 137Comparação da cinemática e atividade muscular e de joelho e tornozelo entre três exercícios de footwork do Método Pilates, Isabel C.N. Sacco, Ivye L.R. Pereira, Bergson W.C. Queiroz, Daniella R. Gomes .................... 145Efeito de um programa de exercícios baseado no método Pilates sobre a postura de crianças: um estudo piloto, Vanessa Salgado Silva, Joana Cardoso Mascarenhas, Aline Mendonça de Sá, Cloud Kennedy Couto de Sá .................................................................................................................. 152

OPINIÃOAs que se autorizam a ser as pessoas que não querem ser, Marco Guimarães............................................................................ 158

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ......................................................................................................................................159

EVENTOS ........................................................................................................................................................................160

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I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.

Fisioterapia BrasilEditor

Mario Antônio Baraúna (Universidade Federal de Uberlândia – MG)

Conselho científicoAbrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)

Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)

Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)

Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)

Jamilson Brasileiro (UFRN)João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)

Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)

José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)

Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)

Maria Isabel Pombas de Sousa Coutinho (Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Portugal)Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)Neide Gomes Lucena (UFPB)

Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)

Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)

Grupo de assessoresAntonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo)

Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro)Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro)João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro)José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro)Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)

Jorge Tamaki (PUC – Paraná)Marisa Moraes Regenga (São Paulo)

Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)

Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)

Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]

Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências

da Saúde, CINAHL, LATINDEXAbreviação para citação: Fisioter Bras

E-mail: [email protected]

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Praça Ramos de Azevedo, 206/1910Centro 01037-010 São Paulo SP

Atendimento

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Editor executivoDr. Jean-Louis Peytavin

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Editor assistenteGuillermina Arias

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83Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Editorial

E aí vamos publicar?Prof. Dr. Mario Antonio Baraúna

Recordo-me quando vi pela primeira vez o entusiasmo de uma colega, ao anunciar o aceite de seu trabalho por uma revista científica. Confesso não ter entendido por que tama-nha alegria e tampouco o “porquê” de valorizar o feito. Isso revelava o sinal dos tempos; naquele tempo a formação de profissionais estava voltada apenas para o “exercer” da profis-são, se bem que até hoje muitas escolas ainda assim procedam.

Muito embora as coisas tenham mudado e evoluído, pouco valor se dá à produção científica e inúmeros são os alunos que não sabem o real valor de uma publicação.  Participar de grupos de pesquisa para quê? Essa lacuna também persiste na formação de alunos. Por vezes esse é o reflexo de inúme-ros membros de um corpo docente, que para ser professor acredita-se bastar ser um profissional experiente. O grande número de escolas que abriram também contribuiu para a adesão deste professor, o que é proporcionalmente inverso ao número de mestrados.

Assim criou-se um círculo vicioso. O aluno então fica alheio a este pequeno e seleto grupo de pesquisadores; mas eis que chega o último ano do curso. Fala-se então em TCC, temcece! Não trabalho de conclusão de curso ou me engana que eu gosto; muitos professores nem sequer sabem fazê-lo, mas é “ejijencia” ETA! Esse seria um bom momento para realizar-se um trabalho que teria grandes chances de publica-

ção. Mas é para valer? Será que haverá tempo? Os professores estão preparados para serem orientadores? Eles percebem por este trabalho?  O tempo está passando e o aluno diz: “Eu nem defini o tema”; outro: “Não consigo dormir”; ainda outro: “Será que teremos mesmo que realizá-lo?”

A metodologia científica então faz falta, porém inúmeros são os currículos que só a proporciona aos alunos nos primei-ros semestres e por vezes os professores não estão adequados aos conteúdos que poderiam de forma prática realizar um trabalho científico. Falar então em estatística é caso de polícia.

Mas eis que surge um santo milagreiro. Faremos um estudo de caso ou uma revisão bibliográfica. O aluno volta a dormir e os colaboradores da seleção de um trabalho científico não, por que publicar se as revistas não aceitam os trabalhos? desculpa esfarrapada, pois quando o caso apresentado é raro merece ser publicado, quando a revisão é boa, artigos recentes e de várias origens, por que não?

E aí não há publicação, mas cumpriram-se as normas, o aluno foi aprovado. Soubesse eu o valor desta publicação, não teria ficado pasmado com o feito da minha colega, e com um currículo competitivo, eu, com certeza, teria muito mais facilidade para conseguir um melhor emprego dentre os demais colegas. E aí vamos publicar?

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 284

Os efeitos da radiação ultravioleta nas lesões cutâneas de mulheres portadoras de psoríaseThe effects of ultraviolet radiation on cutaneous injuries in women with psoriasis

Hedioneia Maria Foletto Pivetta, D.Sc.*, Caroline Prochnow, Ft.**, Patrícia Hilbig Lucas, Ft.**, Luciana Cezimbra Weis, M.Sc.***

*Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, **Centro Universitário Franciscano – UNI-FRA, ***Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA

ResumoIntrodução: A psoríase é uma doença inflamatória crônica da

pele que causa manchas bem definidas, às vezes levemente salientes, rosadas ou avermelhadas, cobertas de escamas apresentando-se em distintos graus. A radiação ultravioleta (RUV) consiste em recurso terapêutico possível para o tratamento da psoríase. Objetivo: Verificar os efeitos da RUV sobre as lesões cutâneas da psoríase, na qualidade de vida e no stress. Métodos: Pesquisa de caráter quasi experimental com pré e pós-teste, sem grupo controle, em que participaram qua-tro mulheres com idade entre 20 e 51 anos portadoras de psoríase do tipo vulgar. Utilizou-se como instrumentos de pesquisa uma ficha de avaliação para portadores de psoríase, o questionário de qualidade de vida (QV) e o questionário de nível de stress (QE). As participantes foram submetidas a 15 sessões de radiação ultravioleta B (RUVB) de banda estreita. A análise quantitativa dos dados foi realizada através dos testes estatísticos de Kolmogoroff-Smirnov e t de Student. O nível de significância usado foi de p = 0,05. Re-sultados: Os escores da QV variaram de 5 a 10 (7,58 ± 1,981) no pré-teste e 8,2 a 9,3 (8,75 ± 0,6351) no pós-teste. Os escores do QE variaram de 6 a 2 (1,600 ± 0,6683) no pré-teste, sendo que no pós-teste essa variação foi de 5 a 1,6 (1,225 ± 0,5188). Conclusão: A RUV mostrou-se eficaz no tratamento das lesões psoriáticas, porém não se obteve resultados significativos. Para melhor comprovação, acredita-se que seria necessária a continuidade no tratamento e um maior número de amostra.Palavras-chave: Fisioterapia, psoríase, qualidade de vida, radiação ultravioleta.

Artigo original

AbstractIntroduction: Psoriasis is a chronic inflammatory skin disease

which causes well-defined pink or reddish, slightly elevated patches covered with silvery scales presenting different severity levels. The UV radiation consists in a therapeutic measure in the treatment of psoriasis. Objective: To verify the effects of the UV radiation on skin lesions of psoriasis, on quality of live and, ultimately, on stress. Methods: After the 15th application of the proposed treatment, a questionnaire was applied. During this quasi-experimental resear-ch, with pre and post-test, with no control group, we performed a quantitative analysis of data obtained through statistical tests of Kolmogorov-Smirnov and Student t test. The significance level used was p = 0.05.  Participants included four women, 20 to 51 years old, with psoriasis vulgaris. The research instruments consisted in an evaluation record for each patient, a quality of life questionnaire and a stress level questionnaire. Results: The statistical analysis identified that the results were different regarding the questionnaires on quality of life and stress levels. The QV scores varied from 5 to 10 (7.58 ± 1.981) on the pre-test and from 8.2 to 9.3 (8.75 ± 0.6351) on the post-test. The QE scores varied from 6 to 2 (1.600 ± 0.6683) on the pre-test and from 5 to 1.6 (1.225 ± 0.5188) on the post--test. Conclusion: The UV radiation was effective in the treatment of psoriatic lesions; however no significant results were obtained. Further investigation, continued treatment and more pacientes would be necessary.Key-words: Physical therapy, psoriasis, quality of life, ultraviolet rays.

Recebido em 15 de dezembro de 2012; aceito em 20 de outubro de 2014. Endereço de correspondência: Hedioneia Maria Foletto Pivetta, Rua Recanto Verde, 5, lot. Santos Dumont, Camobi, 97604-105 Santa Maria RS, E-mail: hedioneia@yahoo. com.br

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85Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Introdução

Atualmente observa-se uma ampla variedade de proble-mas relacionados à pele. As afecções cutâneas mostram-se de formas diferentes e atingem várias partes do corpo. Dentre essas afecções a psoríase se destaca como uma patologia com incidência crescente e que está intimamente implicada com a qualidade de vida das pessoas.

A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele que causa manchas bem definidas, às vezes levemente salientes, ro-sadas ou avermelhadas, cobertas de escamas apresentando-se em distintos graus. Essas manchas proporcionam desconforto físico e psicossocial e atinge cerca de 1% a 3% da população [1]. É de etiologia desconhecida, tendo períodos de exacerbação que agra-vam no clima seco de inverno e distribuem-se quasi sempre de forma simétrica [2]. Estudos indicam que há forte predisposição genética na psoríase, sendo que a herança é poligênica com risco de cerca de 10 vezes maior para familiares de primeiro grau [1].

Os períodos de exacerbação da psoríase podem estar relacionados aos fatores psíquicos do cotidiano da pessoa e está fortemente ligado aos aspectos emocionais. As lesões provocadas pela psoríase podem causar limitações e dificul-dades no convívio social, pudor, sentimento de discriminação e baixa autoestima, o que vem a repercutir sobre a qualidade de vida dos portadores [2]. A psoríase leva ao aumento da morbidade, influenciando negativamente a qualidade de vida e ocasionando significativo impacto socioeconômico para o sistema de saúde [3].

O tratamento da psoríase pode se medicamentoso e ou tópico, este por sua vez é representado pela fototerapia que tem sido de grande auxílio para tratamento de algumas afec-ções de pele. Os efeitos da fototerapia estão baseados nas ações da radiação ultravioleta (UV) de imunossupressão local, redução da hiperproliferação epidérmica e apoptose de linfócitos T [1,4]. A RUVB interfere na produção de proteí-nas e ácidos nucléicos, que leva à redução da proliferação de queratinócitos. O intuito é suprimir a doença por seu efeito antiinflamatório e imunossupressor uma vez que ocorre a redução do número de células de Langerhans, com prejuízo à habilidade de apresentação de antígenos, enquanto há redução de secreção de citoquinas nos macrófagos [1,5,6].

Assim, com o propósito de minimizar as lesões e as conse-quências físicas e psicossociais provocadas pela psoríase, este estudo teve por objetivo verificar os efeitos da RUV sobre a pele, qualidade de vida e stress de mulheres portadoras de psoríase, colocando-se como questão norteadora da pesquisa: Qual a eficácia da RUV nas afecções cutâneas provocadas pela psoríase? Existe influência da RUV na qualidade de vida e nível de stress dessas pessoas?

Material e métodos

Esta pesquisa teve caráter do tipo quasi experimental com pré e pós-teste sem grupo controle. Pertence ao Grupo

de Pesquisa Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas a Fisioterapia, Linha “Tecnologias aplicadas à saúde”.

O estudo foi realizado na clínica escola de Fisioterapia da Instituição responsável. Os sujeitos de pesquisa constituíram--se de quatro mulheres procedentes do grupo de autoajuda ao portador de psoríase do Município e também voluntárias que aderiram à pesquisa a partir da divulgação da mesma através da imprensa escrita local.

Como critério de inclusão estipulou-se: mulheres com idade entre 20 e 55 anos, portadoras de psoríase do tipo vulgar, que aceitaram participar da pesquisa. Foi escolhido grupo do sexo feminino devido à aparência estética, por ser um fator de maior relevância para a mulher, assim como as alterações hormonais que podem influenciar os níveis de estresse [2].

As participantes selecionadas assinaram o Termo de Con-sentimento Livre e Esclarecido (TCLE) concordando com sua participação. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com Seres Humanos do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA, previamente ao início da coleta de dados, conforme a resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196/96, e aprovado conforme registro 215.2010.2.

Como instrumento de pesquisa foi utilizado uma ficha de avaliação para portadores de psoríase, elaborado pelas autoras, e o diário de campo para anotações consideradas relevantes durante o desenvolvimento da pesquisa. A ficha continha dados de identificação da paciente e informações quanto à psoríase, tais como, localização, fase em que se encontra, se possuía antecedentes familiares, forma das lesões, tempo que foi diagnosticado e se era tabagista.

Após a seleção das pacientes, aplicaram-se os questionários de qualidade de vida e nível de stress [3], também instru-mentos de pesquisa. O questionário de qualidade de vida em dermatologia foi adaptado de Andrew y Finlay, validado para língua portuguesa por Martins, Arruda e Mugnaini [4].

Os questionários foram aplicados no início e ao final das 15 aplicações de ultravioleta nas regiões que a participante elencasse como aquela que mais lhe causava incômodo ou constrangimento, sendo estas: cotovelo e joelho. O instru-mento de qualidade de vida consistiu em questões fechadas, relacionadas às atividades de vida diária, atividades sociais, de lazer e de trabalho. O questionário relacionado ao stress foi composto por afirmações, às quais foram atribuídos valores de 0 a 3. Quanto maior o escore obtido, maior predisposição do paciente para desfiguração, prurido e mais surtos, ou seja, stress.

Inicialmente obteve-se contato com as participantes esclarecendo os objetivos da pesquisa, as condutas a serem realizadas e o preenchimento dos questionários juntamente com o TCLE. Para a coleta dos dados as participantes foram orientadas a não usar nenhum creme na pele, hidratante, pomadas e não se expor ao sol para não alterar os resultados da pesquisa. Foi utilizado Ultravioleta pedestal e lâmpada

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 286

Philips, sendo está uma indicação para o tratamento de psoríase, utilizando-se um saiote para centralizar o foco da radiação UV sobre a área dermatológica de tratamento. Elencou-se a radiação ultravioleta B (RUVB) de pequena faixa, entre 311 e 313 nm, denominada UVB de banda estreita (narrow band).

No segundo momento realizou-se o Teste de Saidman ou teste de eritema mínimo (DEM) para determinar a sensibilida-de de cada paciente frente às radiações de UV e determinar o tempo de aplicação inicial de cada uma. As pacientes iniciaram com o tempo de 7 minutos, quando se percebeu alteração na coloração da pele, exceto a paciente C que obteve coloração rosada aos 5 minutos iniciando com esse tempo; conforme a observação do eritema mínimo, relatos das pacientes e a adaptação da pele, aumentaram-se a cada sessão dois minutos o tempo das aplicações chegando aos 15 minutos, no máximo. Foram realizadas 15 aplicações no total, em dias alternados três vezes por semana, e todas alcançaram o tempo máximo de 15 minutos.

A proposta inicial da pesquisa contemplou o uso da fotodocumentação padronizada como método de avaliação. Entretanto, por problemas técnicos ocorridos no momento de coleta no pré-teste optou-se por descartar os dados. Assim, para a análise da pele com psoríase durante o tratamento optou-se por utilizar as informações contidas no diário de campo usado pelas pesquisadoras no decorrer da pesquisa.

A análise dos dados foi realizada mediante a aplicação do teste t de Student, pois os dados seguiram a normal após a aplicação do teste de Kolmogoroff-Smirnov. As diferenças entre as médias antes e as médias depois foram estudadas pelo teste t de Student considerando amostras pareadas e a hipótese alternativa unilateral. O nível de significância utilizado foi de p = 0,05. Também se realizou a análise descritiva simples para os dados compilados no diário de campo das pesquisadoras.

Resultados

Constituíram-se participantes da pesquisa quatro mulheres portadoras de psoríase vulgar, com idade entre 24 e 51 anos com média de 37,5 anos. Destas, 03 possuíam antecedência de lesões psoriáticas na família de primeiro ou segundo grau de parentesco e 01 não apresentava história familiar dessa natureza. A caracterização das participantes da pesquisa pode ser observada no quadro.

Quadro I - Caracterização geral das participantes. Características

PacienteLocal psoríase

Fase da doença

Forma da lesão

Tempo da lesão

Tempo diag-nóstico

Tabagismo

A Todo corpo Crônica Placas 14 anos 10 anos SimB Todo corpo Crônica Escamas 20 anos 20 anos SimC Cotovelo, joelhos e mãos Crônica Placas 25 anos 25 anos Não

DTornozelo cotovelos e coxas

CrônicaPlacas com escamas

+ 40 anos + 40 anos Sim

Percebe-se que as mulheres A, B, possuíam distribuição das lesões em todo o corpo (membros superiores e inferiores e tronco), entretanto para a aplicação da RUV, neste estudo, elencou-se a região dos joelhos para paciente A e a região dos cotovelos para paciente B. A paciente C (com lesões nos coto-velos, joelhos e mãos) elegeu a região dos cotovelos e a paciente D (com lesões em tornozelos, cotovelos e coxas) aplicou-se na região dos cotovelos. Como a distribuição das lesões era extensa, para fins de pesquisa elencou-se uma única região, sendo essa escolhida por motivação pessoal de cada paciente.

Quanto ao exame físico realizou-se teste de sensibilidade utilizando estesiômetro para sensibilidade superficial e pro-funda e gelo para sensibilidade térmica, sendo que nenhuma participante apresentou alterações.

A análise estatística realizada possibilitou identificar que os resultados foram distintos quanto aos questionários de qualidade de vida (QV) e nível de stress (QE). O quadro 2 apresenta esses resultados.

Quadro 2 - Média e desvio padrão dos questionários de qualidade de vida e stress pré e pós-tratamento.

N Minimum Maximum Média DPMQVA 4 5 10 7,58 1,981MQVD 4 8,2 9,3 8,750 ,6351MQEA 4 ,6 2,0 1,600 ,6683MQED 4 ,5 1,6 1,225 ,5188Valid (listwise) 4

MQVA: média qualidade de vida antes; MQVD: média qualidade de

vida depois; MQEA: média questionário stress antes; MQED: média

questionário stress depois.

Os escores da qualidade de vida variaram de 5 a 10 (7,58 ± 1,981) no pré-teste. No pós-teste variaram de 8,2 a 9,3 (8,75 ± 0,6351). Observa-se que no pós-teste os escores foram mais altos e com maior homogeneidade, verificado pelo menor desvio padrão. Porém, embora tenha ocorrido aumento dos escores, ou seja, melhora na qualidade de vida, este não foi estatisticamente significativo (observável no quadro 3).

Os escores do QE variaram de 6 a 2 (1,600 ± 0,6683) no pré-teste, e no pós-teste essa variação foi de 5 a 1,6 (1,225 ± 0,5188). Esses escores denotam que no pós-teste houve melhora do stress, porém estatisticamente não demonstrou significância.

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87Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Quadro 3 - Diferença entre as médias pré e pós-tratamento de-monstrada pelo teste t de Student.

Média N DPStd. Error

MeanPair 1 MQVA 7,58 4 1,981 ,990

MQVD 8,750 4 ,6351 ,3175Pair 2 MQEA 1,600 4 ,6683 ,3342

MQED 1,225 4 ,5188 ,2594MQVA: média qualidade de vida antes; MQVD: média qualidade de

vida depois; MQEA: média questionário stress antes; MQED: média

questionário stress depois.

O quadro 3 demonstra o resultado do teste t que evi-denciou diferença significativa entre a média pré e pós para a variável MQE (p = 0,044), mas não mostrou diferença significativa para as médias da variável MQV.

Utilizou-se também a análise subjetiva das lesões pso-riáticas a partir dos apontamentos dos diários de campo das pesquisadoras. Neste observou-se melhora nos aspectos cutâneos das lesões psoriáticas. Estes dados são apresentados de acordo com manifestações de cada participante e estão disposta no quadro 4.

No decorrer das aplicações, notou-se nítida melhora das lesões das pacientes A, B e D, enquanto a paciente C não obte-ve grandes alterações. Foi relatado pelas participantes melhora da autoestima, o que pressupõe diminuição do nível de stress.

Pode-se dizer que pelos relatos das participantes e pela diminuição da extensão das lesões, diminuição do prurido e escamação a RUV teve efeito positivo na amostra estudada. Acredita-se que esses fatores determinaram a melhora no stress e na qualidade de vida dessas mulheres apesar da cronicidade das lesões.

Discussão

O tratamento da psoríase abrange desde tratamento tópico, fototerapia, agentes imunomoduladores e imunossu-pressores [9]. A escolha da modalidade de fototerapia deve basear-se em outros fatores além da eficácia, incluindo segu-rança, resposta prévia ao tratamento, gravidade da psoríase e adesão ao tratamento [10]. A fototerapia pode ser classificada

de acordo com o tipo de irradiação utilizada, sendo UVA ou UVB. Consiste em opção terapêutica de modo isolado ou associado a outros medicamentos tópicos e/ou sistêmicos, com o objetivo de se obter controle rápido das dermatoses [1].

As lesões psoriáticas, neste estudo, apresentaram-se distri-buídas nos cotovelos, joelhos, pés, mãos, região sacral e couro cabeludo. Em outros casos, as lesões podem se espalhar por todo o corpo [2], como é relatado por estudiosos ao referirem que as lesões podem aparecer em todo o corpo, porém sendo mais raro [1]. A generalização por toda a pele denomina-se forma entrodérmica. Formas de difícil controle são represen-tadas pelas psoríases artropática e eritrodérmica [6] as quais não se constituíram foco dessa pesquisa.

O tipo mais comum de psoríase é a denominada vulgar, caracterizada por pápulas e placas róseas e vermelhas que são de tamanhos variáveis, nitidamente demarcadas, secas e usualmente cobertas com camadas de finas escamas prateadas [7,11], o que vem ao encontro dos achados deste estudo, uma vez que a psoríase vulgar apresentou-se na forma de placas e escamas, encontradas nas regiões dos cotovelos, joelhos, couro cabeludo, região lombo-sacra.

É uma doença de etiologia desconhecida, seu curso varia individualmente, porém, em geral, tende a assumir caráter crônico [6,12]. Acomete homens e mulheres, em qualquer idade, com picos de incidência na segunda e quinta décadas de vida, associados a diferentes antígenos de histocompatibilida-de. Pesquisadores afirmam que a psoríase possui etiologia genética, mas também envolve aspectos ambientais, geográficos e étnicos [1].

Muitos pacientes podem apresentar diversas formas de recidiva e piora do quadro. Existem fatores agravantes para manifestação da psoríase como irritação da pele causada por pressão, traumatismos e queimaduras por exposição ao sol, abuso crônico de álcool, stress físico, alguns medicamen-tos, infecções crônicas ou obesidade [13]. Outros autores [1,14,15] também evidenciam que o estresse emocional, medicamentos, clima e ainda o tabagismo, no qual existe um maior risco para lesões psoriáticas em placa crônica, também podem desencadear ou agravar a doença.

Neste estudo, os escores do questionário de stress variaram de 6 a 2 (1,600 ± 0,6683) no pré-teste, sendo que no pós-teste

Quadro 4 - Dados do diário de campo-avaliação subjetiva das lesões no pré e pós-fototerapia.Características

Paciente

Escama-ção

Vermelhidão Prurido/ardor

Ressecamento Avaliaçãoda paciente pós fototerapia

A Sim Leve Intenso Sim Ausência de ardor/ prurido. Redução na extensão da lesão e escamação.

B Não Intensa Intenso Não Melhora no aspecto visual e redução das lesões.

C Não Moderada Moderada Sim Pouca mudança nas lesões. Alívio do ardor.

D Sim Leve Ausente Sim Redução da extensão das lesões.

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 288

essa variação foi de 5 a 1,6 (1,225 ± 0,5188), não conferindo resultado estatisticamente significativo. A psoríase tem uma relação muito íntima com a área emocional, no seu fator de-sencadeador ou potencializador, tanto o stress físico ou emo-cional tem repercussões em inúmeras dermatoses [16]. Stress é um estado que ocorre quando a pessoa se depara com eventos que colocam em perigo seu bem-estar físico ou psicológico e quando tentam superá-los excessivamente podem esgotar os recursos do corpo e torná-lo mais vulnerável à doença [17]. Torrezan [18] concorda que o stress excessivo promove des-gaste do organismo e aumenta a suscetibilidade às doenças, tendo relação com seu aparecimento ou agravamento.

Como já mencionado anteriormente, a psoríase é uma doença de distribuição global que acomete ambos os sexos e ampla faixa etária. Optou-se estudar a faixa etária de jovens e adultos que se encontram em períodos de maior estresse físico e emocional. Essa tese se confirma conforme achados [18-20] de que nessa faixa etária o desconforto e uma série de alterações levam a um grande estresse e uma baixa qualidade de vida. Nessa pesquisa a qualidade de vida apresentou escores de 5 a 10 (7,58 ± 1,981) no pré-teste, e após as sessões de fo-toterapia os resultados variaram de 8,2 a 9,3 (8,75 ± 0,6351).

Em um estudo clínico que teve por objetivo avaliar as dimensões de experiências estigmatizadoras do paciente com psoríase, foram identificados problemas relativos à autoestima, isolamento social, rejeição, diferenças quanto à idade, tempo de doença e gênero. Problemas associados à aparência física e socialização também foram relatados em estudo de pacientes com psoríase, e o impacto da doença apresentou-se mais intenso na faixa etária de 18 a 45 anos [19]. O que se sabe é que não existe cura para psoríase. A estratégia do tratamento é minimizar a severidade da lesão melhorando a qualidade de vida do paciente [1,3,11].

Existem tratamentos que utilizam agentes terapêuticos tópicos ou sistêmicos, biológicos e fototerapia que não visam cura, apenas mantém a doença em remissão melhorando o bem-estar do paciente. A fototerapia, utilizada neste estudo, é uma modalidade terapêutica empregada para tratamento de várias dermatoses, inclusive a psoríase. A radiação UVB é um tratamento eficaz para a psoríase, pois penetra na pele e retarda o rápido crescimento das células. A luz UV tem propriedades anti-inflamatórias, antiproliferativa e imunossupressora. A radiação UVB que alcança somente a epiderme, assim como o UVA, tem se mostrado mais efetiva nas lesões psoriáticas. Estudo realizado que investigou a indicação de dois tipos de fototerapia no tratamento da psoríase refratária à terapia tópica (UVB banda estreita e UVA) identificou que as pres-crições de UVB banda estreita excederam as de UVA devido ao menor número de contraindicações, menor possibilidade de efeitos colaterais [12].

O efeito da radiação ultravioleta pode ser explicado pela absorção dos raios por cromóforos endógenos, e as reações fotoquímicas resultantes alteram a biologia cutânea, levando ao efeito terapêutico biológico desejado [20,1]. A radiação

UVB interfere no DNA nuclear, levando a formação de fotoprodutos, principalmente dímeros de pirimidina, que interferem na progressão do ciclo celular, diminuindo ou bloqueando sua multiplicação. Tem ação direta sobre os que-ratinócitos, alterando-os na sua estrutura e função por meio de fenômenos imunológicos e maior produção de citocinas imunossupressoras [20-22].

Estudo realizado com pacientes com psoríase tratados com fototerapia mostrou redução de 80% da severidade de área da lesão com redução das lesões na ordem de 70% [23].

Desse modo, como não tem cura, o tratamento visa dimi-nuir as lesões e prolongar o tempo das recidivas, melhorando a qualidade de vida do paciente e, consequentemente, seu convívio social, diminuindo também seu stress [2].

Conclusão

No presente estudo comprovou-se que houve diminuição nas lesões psoriáticas, melhorando a autoestima, o que pro-porcionou resultados significativos sobre os níveis de stress. O efeito da radiação ultravioleta mostrou-se eficaz no tratamento das lesões, porém não apresentou resultados significativos na melhora da qualidade de vida. Para melhor comprovação do resultado sugere-se maior tempo de aplicação da fototerapia tendo em vista a cronicidade das lesões.

Entretanto, considera-se que as melhoras obtidas carecem de maior tempo de acompanhamento, bem como exigem outros estudos com amostras maiores envolvendo ambos os gêneros. Sugerem-se, ainda, estudos que possam averiguar os efeitos de outros recursos terapêuticos que atuem sobre as lesões, mas também sobre os níveis de stress desses pacientes, diretamente implicado com a dermatose estudada.

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 290

O alongamento estático interfere no desempenho da força isométrica e ativação muscular durante o exercício de cadeira extensora?Static stretching interferes in performance of the isometric force and muscle activation during knee extension exercise?

Felipe Heylan Nogueira de Souza, Ft., Esp.*, Rodrigo Ramalho Aniceto, M.Sc.**, Ana Cristina Nóbrega Marinho Torres, Ft., D.Sc.***, José Onaldo Ribeiro de Macêdo, M.Sc.****, Maria do Socorro Cirilo de Sousa, D.Sc.*****, Elvis Costa Crispiniano, Ft., M.Sc.****

 *Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Desportiva pelas Faculdades Integradas de Patos (FIP) e Professor da Faculda-de Maurício de Nassau (UNINASSAU), **Doutorando em Educação Física pelo Programa Associado de Pós-Graduação em Educa-ção Física UPE/UFPB (PAPGEF UPE/UFPB) e Professor das FIP, ***Professora da UNINASSAU, ****Professor das FIP, *****As-sociada da UFPB e do PAPGEF UPE/UFPB

ResumoO estudo teve como objetivo analisar os efeitos agudos do

alongamento estático no desempenho da força isométrica e ativação muscular no exercício de cadeira extensora. A amostra foi composta por 29 homens jovens, aparentemente saudáveis com idade 21,89 ± 3,35 anos. Os sujeitos foram submetidos a um protocolo de alongamento estático passivo durante 30 segundos e relaxado por 30 segundos (3 vezes), a intensidade foi controlada pela Escala de Esforço Percebido na Flexibilidade. A atividade eletromiográfica do vasto medial (VM), vasto lateral (VL) e reto femoral (RF), e o teste de contração isométrica voluntária máxima (CIVM) foram coletados durante o exercício de cadeira extensora em quatro momentos: antes do alongamento, imediatamente após, e 15 minutos e 30 minutos de recuperação. Utilizou-se o teste t de Student pareado para comparar os valores de pré e pós-testes. Os resultados demonstraram que não houve diferença na CIVM após o alongamento (p > 0,05), no entanto, a ativação muscular do RF foi maior em 15 minutos e 30 minutos de recuperação (p < 0,05). Conclui-se que o alongamento estático com 30 segundos de duração, não afeta o desempenho da força muscular isométrica, apesar de aumentar a ativação muscular do RF após 15 minutos e 30 minutos.Palavras-chave: eletromiografia, força muscular, exercícios de alongamento muscular.

Artigo original

AbstractThe main purpose of this study was to analyze the acute effects

of the static stretching on the performance of isometric force and muscle activation in knee extension exercise. The sample was com-posed by 29 young men, apparently healthy, 21.89 ± 3.35 years old. The subjects were submitted to a static stretching protocol during 30 seconds and relaxed during 30 seconds (3 times), the intensity was monitored by the Scale of Perceived Exertion in the Flexibility. The electromyography activity of the vastus medialis (VM), vastus lateralis (VL) and rectus femoris (RF), and the maximal voluntary isometric contraction test (MVIC) were collected during knee ex-tension exercise at four moments: before stretching, immediately after, and after 15 minutes and 30 minutes of recovery. Analysis from the paired samples t-test was performed to compare the pre and pos-tests values. The results demonstrated no difference on the MVIC after stretching (p > 0.05); however, the muscle activation of the RF was bigger 15 minutes and 30 minutes of recovery (p < 0.05). It is concluded that the static stretching with 30 seconds duration, does not affect performance of isometric muscle strength, despite increase muscle activation of the RF after 15 minutes and 30 minutes.Key-words: electromyography, muscular strength, muscular stretching exercises.

Recebido em 12 de janeiro de 2013; aceito em 19 de novembro de 2014. Endereço para correspondência: Felipe Heylan Nogueira de Souza, Rua Getúlio Vargas, 85, Centro, 58735-000 Teixeira PB, E-mail: [email protected]

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91Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Introdução

Os exercícios de alongamento muscular têm sido alvo de numerosos estudos que objetivaram investigar os efeitos do alongamento na ativação muscular [1,2], as propriedades elásticas-passivas [3], a capacidade funcional do músculo [3] e de contração muscular [4], a força muscular isométrica [5] e dinâmica [2,6,7], a potência [8], o trabalho muscular [9], o torque [8,10,11], a amplitude de movimento [8,9,12], a flexibilidade [4,13, 14], o equilíbrio, a propriocepção, o tempo de movimento [15], o tempo de reação [15,16], o desempenho da marcha [12] e do salto vertical [17], a rea-bilitação osteomuscular [4] e a prevenção de lesões [18,19].

De acordo com os tipos de alongamentos temos: estático, balístico, dinâmico e por facilitação neuromuscular proprio-ceptiva (FNP) [20]. O alongamento estático tem sido uma técnica bastante utilizada para análise do desempenho da força e aplicabilidade a situações práticas. Porém, não há um con-senso estabelecendo em relação ao alongamento e a geração de força muscular, já que as evidências atuais mostram que a utilização de exercícios de alongamento antes do exercício com pesos, pode ser inadequada [10,21], apontando que a técnica estática pode induzir a perda aguda da força muscular [1,17,22]. Em contrapartida, outras investigações não veri-ficaram redução significativa na força após a realização dessa técnica [2,5,6,11,16, 23-27]. De acordo com o estudo de revisão sistemática de Kay e Blazevich [28], tais achados são dependentes da relação dose-reposta, dessa forma, a duração e a intensidade de alongamento são determinantes.

Adicionalmente, a contradição entre os estudos deve-se aos vieses metodológicos e o protocolo de alongamento uti-lizado, haja vista que a maioria dos estudos relata a duração de alongamento, mas não utiliza instrumentos para controle da intensidade, por exemplo, escalas de percepção subjetiva. Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo anali-sar os efeitos agudos do alongamento estático no desempenho da força e ativação muscular no exercício de cadeira extensora. Nossa hipótese é que o alongamento estático não interfere no desempenho da força e ativação muscular.

Material e métodos

Caracterização da pesquisa e aspectos éticos

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa experimen-tal, pois examina a relação de causa e efeito entre as variáveis independente e dependente. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas de Patos (#041/2011). Informados sobre os objetivos da pes-quisa e procedimentos empregados, bem como os possíveis riscos e benefícios do estudo, foi solicitada de forma voluntária a assinatura individual do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Amostra

A amostra foi composta por 29 homens jovens, estudantes universitários, aparentemente saudáveis, fisicamente ativos, com idade (21,89 ± 3,35 anos), massa corporal (72,26 ± 7,91 kg), estatura (174,86 ± 4,74 cm) e índice de massa corporal (IMC) (23,36 ± 1,87 kg/m2). Foram incluídos na pesquisa indivíduos entre 19 e 30 anos, não obesos (IMC entre 18,5 e 24,5 kg/m²) e sem distúrbios ou doenças que alterassem o desempenho muscular. Foram excluídos indivíduos que apresentavam dor, bloqueio articular ou cirurgias prévias que contra indicasse a prática de exercício ou de alongamento.

Instrumentação

Para a coleta de dados utilizou-se o Eletromiográfo Miotool 400 de quatro canais (Miotec Equipamentos Biomédicos Ltda, Porto Alegre, Brasil), com amplificador de ganho em 100x, faixa de rejeição a modo comum de 110db. A captação mioelétrica foi realizada por eletrodos descartáveis autoadesivos do tipo passivo da Maxicor® (Paraná, Brasil), compostos por espuma adesivada, rebite de prata (Ag/AgCl), gel condutor de celulose sólido e protegido por uma lâmina de PVC. Para avaliação da força muscular foi acoplada ao eletromiógrafo uma célula de carga do tipo BERMAN construída em alumínio com strain gauge, e capacidade nominal de 200 kgf de tração ou compres-são, calibrada antes do experimento através de uma anilha com 20 kg de carga, obtendo-se um sinal inicial de 0,00.

Para a realização dos esforços isométricos de extensão de joelho foi utilizada, uma cadeira extensora da Physicus® (São Paulo, Brasil) com dimensões: 103 x 43 x 171 cm. Os dados antropométricos foram coletados com o auxílio de uma balan-ça analógica da marca Micheletti® com fita métrica integrada modelo 33 (São Paulo, Brasil).

Protocolo experimental

Os procedimentos de preparo e posicionamento dos ele-trodos para avaliar a ativação muscular no exercício, seguiram as recomendações do SENIAM (Surface Electromyography for a Non-Invasive Assessment of Muscles), órgão responsável pela divulgação e padronização de estudos que utilizam a eletromiografia de superfície [29]. Após a preparação da pele com higienização abrasiva com álcool a 70%, e tricotomia do local de acoplamento dos eletrodos em sujeitos com excesso de pelos na região, os eletrodos foram colocados no ventre dos músculos: vasto medial (VM), vasto lateral (VL) e reto femoral (RF) do membro inferior dominante.

Na fase inicial (pré-teste) os sujeitos foram posicionados na cadeira extensora, sendo orientados a realizar extensão do joelho dominante, partindo da posição inicial de 90º até a posição final estabelecida em 30º, realizando uma contração isométrica voluntária máxima (CIVM) durante cinco segun-dos. Durante as contrações os sujeitos, foram verbalmente

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 292

encorajados pelo avaliador a realizar força máxima sendo nesse momento coletado juntamente a atividade eletromio-gráfica dos músculos. Após ter sido completada a fase inicial de execução do exercício, foi concedido um intervalo de recuperação de três minutos, logo após iniciou-se o protocolo de alongamento e em seguida, a fase final da sessão de testes (pós-teste) conforme protocolo supracitado em três momentos distintos: imediatamente após o protocolo de alongamento, e 15 minutos e 30 minutos de recuperação. Esse período de recuperação de 15 minutos entre as medidas foi decidido para que os músculos tivessem uma recuperação antes de uma nova repetição, evitando uma possível fadiga, e não mascarando desta forma os resultados da pesquisa.

Durante o alongamento muscular, os sujeitos foram po-sicionados em decúbito lateral, o membro foi mantido em posição estacionária em seu maior comprimento possível por um período de 30 segundos e relaxado por 30 segundos [1]. Este procedimento se reproduziu por três vezes consecutivas [7]. De acordo com Pinheiro e Góes [13], a intensidade de tensão no alongamento deve ser aplicada até o sujeito referir um incômodo, desconforto, tensão sem dor, leve sensação de alongamento ou até o terapeuta sentir uma rigidez ou restrição ao movimento. Dessa forma, para avaliar a percepção subjetiva de esforço do alongamento, utilizou-se um método adimen-sional através da Escala de Esforço Percebido na Flexibilidade (PERFLEX) conforme Figura 1, que possui cinco níveis de intensidade em forma de descritores verbais, variando de 0 a 110, para que o avaliado possa traduzir em números seus pensamentos de esforço enquanto se exercita, demonstrando a sensação correspondente à amplitude de movimento reali-zado: de 0 a 30 – normalidade; de 31 a 60 – forçamento; de 61 a 80 – desconforto; de 81 a 90 – dor suportável; e de 91 a 110 – dor forte [30]. Para este estudo utilizou a zona de 61 a 80 pontos como controle da intensidade de alongamento.

Análise estatística

A normalidade dos dados foi confirmada pelo teste de Shapiro-Wilk. Para as variáveis da root mean square máxima (RMS), expressos em microvolts (μV), e da força muscular

expressa em quilogramas força (kgf ), utilizou-se o teste t de Student pareado para comparar os valores de pré e pós-testes. Os dados são apresentados em média ± desvio padrão com nível de significância adotado de p < 0,05. As análises foram realizadas no SPSS 16.0.

Resultados

A Figura 2 demonstra o desempenho da força muscular durante CIVM antes e após o protocolo de alongamento. Podemos observar que não houve diferença significativa na força muscular imediatamente após o alongamento (39,54 ± 13,86 kgf; p = 0,740), 15 minutos (40,58 ± 14,44 kgf; p = 0,683) e 30 minutos (39,76 ± 13,67 kgf; p = 0,855) de recu-peração, quando comparado aos valores antes do protocolo de alongamento (39,97 ± 15,33 kgf ).

Figura 2 – Desempenho da força muscular durante contração iso-métrica voluntária máxima antes e após o protocolo de alongamento.

0

10

20

30

40

50

60

FSA FALI FAL15 FAL30

Forç

a m

uscu

lar (

kgf)

FSA = força muscular sem alongamento; FALI = força mus-cular imediatamente após o protocolo de alongamento; FAL15 = força muscular após 15 minutos de recuperação; FAL30 = força muscular após 30 minutos de recuperação.

Figura 1 - Escala de Esforço Percebido na Flexibilidade (PERFLEX).

NívelDescrição da

sensaçãoEfeito Especificação

0 – 30 Normalidade MobilidadeNão ocorre qualquer tipo de alteração em relação aos componentesmecânicos, componentes plásticos e componentes inextensíveis.

31 – 60 Forçamento AlongamentoProvoca deformação dos componentes plásticos e os componenteselásticos são estirados ao nível submáximo.

61 – 80 Desconforto FlexionamentoProvoca adaptações duradouras nos componentes plásticos, elásticos e inextensíveis.

81 – 90 Dor suportável Possibilidade de lesãoAs estruturas músculo-conjuntivas envolvidas são submetidas a um estiramento extremo, causando dor.

91 – 110 Dor forte LesãoUltrapassa o estiramento extremo das estruturas envolvidas incidindo, principalmente, sobre as estruturas esqueléticas.

Fonte: Dantas et al. [30].

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93Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Em relação aos níveis de ativação muscular (RMS) dos músculos VM, VL e RF durante CIVM antes e após o pro-tocolo de alongamento (Figura 3), encontrou-se diferença significativa apenas no RF em 15 minutos (659,64 ± 223,37 μV; p = 0,020) e 30 minutos (638,56 ± 181,95 μV; p = 0,041) de recuperação, quando comparado aos valores antes do alongamento (613,87 ± 185,62 μV).

Figura 3 - Níveis de ativação muscular (RMS) dos músculos vasto medial (VM), vasto lateral (VL) e reto femoral (RF) durante contração isométrica voluntária máxima antes e após o protocolo de alongamento.

0

200

400

600

800

1000

1200

AL0 ALI AL15 AL30

RMS

(µV)

VM VL RF

**

ALO = ativação muscular sem alongamento; ALI = ativação muscular

imediatamente após o protocolo de alongamento; AL15 = ativação

muscular após 15 minutos de recuperação; AL30 = ativação muscular

após 30 minutos de recuperação; *Significativamente diferente da ALO.

Discussão

O presente estudo teve como objetivo analisar o efeito agudo do alongamento estático no desempenho da força e ativação muscular no exercício de cadeira extensora. Nossa hi-pótese foi comprovada parcialmente Os principais resultados demonstraram que o alongamento estático não interfere no desempenho da força muscular isométrica, e aumenta apenas a ativação muscular do RF após 15 minutos e 30 minutos de recuperação.

Corroborando nossos resultados, o estudo de Albuquerque et al. [6] observou que o desempenho da força muscular di-nâmica na extensão do joelho (dinamômetro isocinético) não sofre alterações significativas após o protocolo de alongamento em mulheres. Nesse sentido, Silva et al. [5] encontraram achados semelhantes na força muscular isométrica, quando homens realizaram o teste de preensão manual após o alon-gamento, entretanto, nesse estudo, observou-se em mulheres, redução da produção de força.

No presente estudo, possivelmente não houve diferença na força muscular, devido ao teste de CIVM ser realizado antes e após o protocolo de alongamento na mesma sessão experimental, apesar de no estudo de Albuquerque et al. [6] o protocolo de alongamento e o pós-teste foram realizados 48 horas após o pré-teste, mas mesmo assim diferenças sig-nificativas não foram encontradas. De fato, a ausência de um grupo controle sem a realização de alongamento, limitou a explicação dos nossos achados.

Simic et al. [22], em um estudo de meta-análise, con-cluíram que o alongamento estático realizado antes do exercício tem significativos efeitos agudos negativos sobre o desempenho da força muscular máxima e explosão muscular, entretanto, os efeitos agudos correspondentes a potência muscular ainda não estão claros. De acordo com os autores, a magnitude do efeito negativo induzido pelo alongamento estático foi mais pronunciada nos testes de força isométrica quando comparado aos testes de força dinâmica.

Em relação à duração do alongamento, Simic et al. [22] observaram que quando o alongamento é realizado em curta duração de ≤ 45 segundos existe um menor efeito agudo ne-gativo sobre o desempenho da força muscular máxima (pooled estimate = –3,2%; mais provável efeito trivial), diferentemente, de 45–90 segundos (pooled estimate = –5,6%; provável efeito negativo) e > 90 segundos (pooled estimate = –6,1%; quase certo efeito negativo). Adicionalmente, em outro estudo de revisão sistemática, Kay e Blazevich [28] concluíram que o protocolo de alongamento com duração ≤ 45 segundos pode ser utilizado pré-exercício sem riscos de diminuição signifi-cativa na força, entretanto, durações longas de alongamento (por exemplo, ≥ 60 segundos) são mais propensos em causar uma pequena ou moderada redução no desempenho. Neste

Quadro 4 - Dados do diário de campo-avaliação subjetiva das lesões no pré e pós-fototerapia.Características

Paciente

Escama-ção

Vermelhidão Prurido/ardor

Ressecamento Avaliaçãoda paciente pós fototerapia

A Sim Leve Intenso Sim Ausência de ardor/ prurido. Redução na extensão da lesão e escamação.

B Não Intensa Intenso Não Melhora no aspecto visual e redução das lesões.

C Não Moderada Moderada Sim Pouca mudança nas lesões. Alívio do ardor.

D Sim Leve Ausente Sim Redução da extensão das lesões.

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 294

estudo, foi encontrado para duração < 30 segundos (pooled estimate = –1,1% ± 1,8%) e 30–45 segundos (pooled estimate = –4,2% ± 2,7%).

Nesse sentido, quando o alongamento é realizado com tempo de duração até 30 segundos, diversos estudos repor-taram não haver reduções significativas na força muscular, durante o exercício de flexão plantar [16,27], preensão manual [5,23], supino horizontal [2,24,25], leg press [24], flexão do joelho [26] e extensão do joelho [6,11]. Possivelmente, no presente estudo, não houve diferenças significativas, devido à duração do protocolo de alongamento de 30 segundos, achado este que apresenta semelhança com os estudos.

Apesar de termos encontrado aumento na ativação muscu-lar do RF após 15 minutos e 30 minutos de recuperação, este não foi capaz de interferir no desempenho da força muscular isométrica. Possivelmente tais resultados foram influenciados pela interação entre fatores neurais e mecânicos [1,17], haja vista, que no estudo de Silveira et al. [2] os resultados demons-traram que o alongamento estático não interfere no desempe-nho da força e na ativação muscular. Adicionalmente, Ogura et al. [26] utilizando o mesmo protocolo de alongamento de 30 segundos com 30 segundos relaxado, encontraram aumento na flexibilidade dos isquiotibiais durante o teste de sentar e alcançar, porém, não houve diferenças significativas no teste de CIVM. Nesse mesmo sentido, Siatras et al. [11] confirmaram tais achados.

A contradição dos achados encontrados na literatura é resultante de diversas diferenças nos desenhos experimen-tais, protocolo de alongamento, diferenças interindividuais, tamanho da amostra, equipamentos utilizados entre outros aspectos. No presente estudo, buscamos controlar as variáveis intervenientes, porém, apresenta-se como limitação a falta de uma sessão controle.

Conclusão

O alongamento estático, quando realizado com 30 se-gundos de duração antes do exercício de cadeira extensora, não afeta o desempenho da força muscular isométrica, apesar de aumentar a ativação muscular do RF após 15 minutos e 30 minutos de recuperação. De acordo com a literatura, a relação dose-resposta depende do volume do alongamento, sendo demonstrado que quando este é realizado até 30 se-gundos de duração, parece não influenciar negativamente no desempenho da força muscular. O alongamento estático pode ser utilizado antes dos exercícios com pesos, todavia sugere-se realizar uma sessão isolada de alongamento na perspectiva de almejar os objetivos específicos desse tipo de movimento.

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 296

Comportamento da glicemia, pressão arterial sistêmica e frequência cardíaca em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 praticantes de fisioterapia aquáticaBehavior of glucose, systemic blood pressure and heart rate in pacientes with diabetes type 2 performing aquatic physical therapy

Marília Gomes da Silva*, Caliandra Letiere Coelho Dias*, Clarice Zuquetto Viana Roso*, Márcia Prado Kettermann*, Muriel Gonçalves de Vargas**, Alecsandra Pinheiro Vendrusculo, Ft., M.Sc.***

*Acadêmica do curso de fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, **Graduada em fisioterapia pelo UNIFRA, ***Professora orientadora, docente do curso de fisioterapia do UNIFRA, especialista em fisioterapia ortopédico-Trau-matológica pela ACG

ResumoIntrodução: O Diabetes Mellitus (DM) é hoje considerado um

problema de saúde pública. A fisioterapia aquática é indicada para diabéticos, pois ajuda no controle glicêmico. Objetivo: Este estudo analisou o comportamento da glicemia, PAS e FC pré e pós um programa de fisioterapia aquática em indivíduos diabéticos tipo 2 e sedentários. Material e métodos: O programa consistiu-se de 36 sessões. Cada sessão foi dividida em aquecimento, exercícios prin-cipais e relaxamento. Utilizou-se a escala de Borg para determinar a intensidade dos exercícios. A PA foi aferida no início e final das sessões e a FC foi analisada a cada 5 minutos. Os testes sanguíneos de glicemia foram realizados pré, pós 4, 8 e 12 semanas de fisioterapia aquática. Resultados: A PAS e a FC aumentou conforme a intensidade do exercício em função da elevação do débito cardíaco. Já a PAD pouco variou, acontecendo redução significativa de 38,3% da glice-mia dos participantes. Conclusão: Concluiu-se após os resultados que o programa foi muito significativo, pois contribuiu para o controle glicêmico tipo 2, diminuindo a FC de repouso, aumentando a PAS de acordo com a intensidade do exercício e proporcionando melhor condicionamento físico.Palavras-chave: glicemia, pressão arterial sistêmica, frequência cardíaca, diabetes mellitus 2, fisioterapia aquática.

Artigo original

AbstractIntroduction: Diabetes mellitus (DM) is today considered a

public health problem. The aquatic therapy is recommended for diabetic because it helps in glycemic control. Objective: This study analyzed the behavior of glucose, SBP and HR before and after a program of aquatic physical therapy in patients with type 2 diabe-tes and sedentary. Methods: The program consisted of 36 sessions. Each session divided into warm-up, main exercises and relaxation. We used the Borg scale to determine the intensity of exercise. BP was measured at the beginning and end of sessions and HR was evaluated every 5 minutes. The blood glucose tests were performed pre, after 4, 8 and 12 weeks of aquatic physical therapy. Results: The SBP and HR increased with exercise intensity as a function of elevation of cardiac output. The DAP changed little, and there was a significant reduction of 38.3% of participants blood glucose. Conclusion: We concluded that the program contributed to improve the glycemic control, lowering resting HR, increasing SBP according to the intensity of exercise, and providing better physical condition. Key-words: blood glucose, blood pressure, heart rate, diabetes mellitus 2, aquatic physical therapy.

Recebido em 23 de agosto de 2013; aceito em 17 de novembro de 2014. Endereço para correspondência: Marília Gomes da Silva, Avenida Presidente Vargas, 1924/201, 97015-512 Santa Maria RS, E-mail: [email protected], [email protected]

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97Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Introdução

O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica que se caracteriza por um excesso de glicose no sangue de-vido à falta ou ineficácia da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas endócrino [1]. Essa síndrome constitui hoje um problema de saúde pública em razão de sua elevada prevalência, acentuada morbidade e mortalidade e, por fim, repercussões econômicas e sociais decorrentes do impacto dessas complicações [2].

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes [3], o DM tipo 2 representa a forma mais comum da doença, abran-gendo 85 a 90% do total de casos e ocorre frequentemente em pacientes com mais de 40 anos, com forte predisposição genética e familiar, obesos e sedentários.

Segundo Iwasenko [4], no Brasil, as taxas de incidência do diabetes vêm aumentando muito, exatamente pela urba-nização que leva ao sedentarismo e ao acesso a alimentos industrializados, que contêm maiores índices de gordura e que favorecem o aumento de peso.

O tratamento do DM tipo 2 é realizado com hipogli-cemiantes orais e/ou insulina, controle da dieta alimentar e prática regular de exercícios físicos. Esses ajudam a diminuir e/ou manter o peso corporal, reduzem a necessidade de hipoglicemiantes orais, diminui a resistência à insulina e contribuem para uma melhora do controle glicêmico, pois a glicose serve como combustível para os músculos em ativi-dade, o que, por sua vez, reduz o risco de complicações [5].

No âmbito da fisioterapia, a fisioterapia aquática é indicada para diabéticos, pois segundo Koury [6], facilita o movimento, aumenta o suprimento sanguíneo para os músculos, aumenta o metabolismo muscular, diminui a pressão arterial sistêmica pelos efeitos da pressão hidrostá-tica, aumenta a circulação periférica e leva ao relaxamento muscular geral [7], ajuda no controle glicêmico melhorando a sensibilidade à insulina e tolerância à glicose [8]. Esses resultados são alcançados através dos princípios físicos da água que levam a alterações fisiológicas diferentes do exercício em meio terrestre.

Diante do exposto acima, o objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento da glicemia, frequência cardíaca e pressão arterial sistêmica durante um programa de fisio-terapia aquática, em portadores de DM tipo 2, sedentários.

Material e métodos

Esta pesquisa caracterizou-se por ser do tipo quase--experimental, apresentando um delineamento de pesquisa do tipo pré e pós-teste sem grupo controle, pois, para Jerry e Nelson [9], nem todas as pesquisas em que uma variável independente é manipulada se encaixam perfeitamente em um dos delineamentos experimentais verdadeiros.

A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e pesquisa do Centro Universitário Franciscano-UNIFRA sob o registro

159.2010.2 e após a aprovação entrou-se em contato com a amostra.

A amostra deste estudo foi composta por 3 indivíduos do sexo feminino e 1 indivíduo do sexo masculino, convidados de forma aleatória e voluntária a participar do estudo, com média e desvio padrão de 66,66 ± 14,04 anos, respectiva-mente, com diagnóstico clínico de DM tipo 2 da cidade de Santa Maria/RS. Os critérios de inclusão foram indivíduos que apresentaram diagnóstico médico de DM tipo 2, pres-crição médica para realização de atividades no meio líquido, com independência funcional sem comprometimento cogni-tivo e que não praticassem atividade física regularmente. Os critérios de exclusão foram distúrbios visuais como a cegueira, insuficiência renal, erupções cutâneas, hipertensão não con-trolada, portadores de insuficiência cardíaca congestiva não controlada e lesões neurológicas que pudessem influenciar no resultado.

No primeiro encontro foi assinado o termo de consen-timento livre e esclarecido e realizou-se uma entrevista com cada um dos participantes que preencheram uma ficha de avaliação contendo dados pessoais e dados referentes à doença.

No segundo encontro, esclareceram-se as dúvidas dos participantes e realizou-se o teste de glicose, utilizando aparelho da marca Accutrend Plus, sendo que estes testes foram realizados na primeira avaliação, ou seja, avaliação Pré, avaliação Pós 1 (após 4 semanas), avaliação Pós 2 (após 8 semanas) e avaliação Pós 3 (após 12 semanas do programa de fisioterapia aquática). Para a coleta da glicose os participantes permaneciam em jejum. A coleta de sangue foi realizada em uma sala do Laboratório de Práticas Profissionais da UNIFRA, sempre pelo mesmo avaliador.

Para a aferição da pressão arterial (PA) durante as sessões de fisioterapia aquática, os participantes tiveram um período de dez minutos de repouso na posição sentada e após este período foi realizada a aferição da PA, através do método auscultatório, utilizando um esfigmomanômetro, colocado no membro superior esquerdo e um estetoscópio. Para a aferição da PA final os participantes foram chamados individualmente. A pressão foi aferida sempre pelo mesmo avaliador e os valores encontrados na aferição foram anotados na tabela de controle da PA.

Para aferição da frequência cardíaca (FC), cada participan-te utilizou um frequencímetro cujos valores foram verificados de 5 em 5 minutos durante toda a sessão. Os dados foram anotados na tabela de controle da FC.

O programa de fisioterapia aquática foi realizado durante 12 semanas, com frequência de três sessões semanais, totali-zando 36 sessões. Destas 36 sessões, 4 sessões foram utilizadas para as avaliações Pré, Pós 1, Pós 2, e Pós 3. Anteriormente ao início do programa de fisioterapia aquática, foram realizadas duas sessões de adaptação ao meio líquido e a utilização da Escala de sensação subjetiva ao esforço de Borg.

A intensidade do programa foi controlada através da Escala de sensação subjetiva ao esforço de Borg, que ficou

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 298

exposta durante as sessões de fisioterapia aquática para que cada participante pudesse identificar a sua sensação subjetiva de esforço. A intensidade dos exercícios foi pré-determinada pelas pesquisadoras.

A sessão de fisioterapia aquática foi dividida em 3 etapas: Etapa I: aquecimento, Etapa II: exercícios aeróbios e Etapa III: relaxamento. O aquecimento consistia em 10 minutos de caminhada em diferentes sentidos, saltitos e coreografias variadas e utilizou- se o nível 11 (leve) da escala de Borg em todas as sessões. Os exercícios aeróbios tiveram duração de 30 minutos, sendo utilizados 2 minutos para cada exercício, os quais foram divididos em exercícios para membros superiores e membros inferiores e tronco. Os exercícios para membros superiores consistiam em ombro em flexão a 90° realizavam flexão e extensão de cotovelo, abdução e adução de ombro com o braço estendido. Caminhada para frente resistida com a prancha imersa em posição vertical. Os exercícios para membros inferiores consistiam em abdução e adução de quadril com o joelho flexionado com o uso de caneleiras de 2 kg, saltos na cama elástica, Step (variações – sobe e desce de frente, sobe e desce para o lado). Os exercícios para tronco e abdômen consistiam em rotação de tronco bilateral com o uso da prancha imersa na posição horizontal, abdominal na posição horizontal com o uso do espaguete, bicicleta com o uso de espaguete. A intensidade utilizada nos exercícios aeróbios nas primeiras 4 semanas foi de pouco intenso (13) e nas 8 semanas seguintes, utilizou-se o nível intenso (15) da escala de Borg. O relaxamento teve duração de 10 minutos onde foram realizadas técnicas de Ai Chi (uplifting, enclosing, folding, gathering) associado a músicas de relaxamento, técnicas de Bad Ragaz (padrão passivo) e finalizando com mensagens para relaxar.

Análise estatística

Foi aplicado o teste Kolmogoroff-Smirnoff para verificar a normalidade dos dados. Como este teste mostrou que os dados de PAS e PAD não podem ser estudados como pertencentes à distribuição normal, as diferenças da média inicial versus final para essas variáveis foi verificada pelo teste não paramétrico de Wilcoxon. A FC foi medida de 5 em 5 minutos e para ela procurou-se uma equação que ajustasse a FC aos tempos de medida (X) em minutos desde o início da sessão. Para FC, PAS e PAD também foram ajustadas equações sendo X o tempo em dias desde o início da pesquisa e Y a FC, PAS e PAD iniciais e finais. Foi usado o nível de significância p = 0,05.

Resultados e discussão

O teste de Wilcoxon evidenciou diferença significativa entre a média do início e a média do final da PAS. Para a variável PAD não houve diferença significativa (Tabela I).

Tabela I - Médias da pressão arterial sistólica e diastólica inicial e final.

P.A.S. I. P.A.D I. P.A.S. F. P.A.D. F. PMédia 136,97* 81,18 145,63 83,28 0,001DP 14,471 13,288 13,507 14,907 0,211

P.A.S.I. = pressão sistólica inicial; P.A.D.I. = pressão diastólica inicial;

P.A.S.F. =pressão sistólica final; P.A.D.F. = pressão diastólica final

(*ocorreu diferença estatisticamente significante entre as médias).

Os dados sugerem que os resultados encontrados po-dem ser atribuídos à associação do exercício físico com as alterações fisiológicas promovidas pela água, principalmente nos sistemas cardiovascular e renal.

Durante os exercícios, a pressão arterial sistêmica tende a aumentar. Segundo Mcardle, Katch e Katch [10], a diferença entre as pressões sanguíneas na aorta e no átrio direito au-menta e, consequentemente, há um aumento da velocidade de deslocamento do fluxo, principalmente para os grupos musculares mais exercitados, tornando a diminuir conforme a intensidade do exercício, adquirindo uma normalidade ao longo do programa. Porém ainda existem os efeitos fisiológicos da imersão, que pela pressão hidrostática levam a um maior tempo de enchimento cardíaco e alterações hemodinâmicas do volume sanguíneo e do tônus venoso, fazendo com que ocorra também redução da FC e PA [11].

Isoladamente, a PAS e a PAD exibem comportamentos diferenciados durante o exercício, segundo Polito e Farinatti [12], em atividades contínuas de intensidade progressiva, a PAS aumenta em proporção direta a intensidade do exercí-cio, em função da elevação do débito cardíaco. Já a PAD pouco varia durante a prática de alguns exercícios quando comparada a PAS e FC, posto que a pressão sistêmica durante a diástole cardíaca tende a permanecer nos níveis de repouso.

A FC foi medida de 5 em 5 minutos e para ela procurou--se uma equação que ajustasse a FC aos tempos de medida em minutos desde o início da sessão. A variável FC em função do tempo decorrido desde o início da sessão se ajustou a uma regressão cúbica (p = 0,012) (Figura 1).

Figura 1 - Média da frequência cardíaca durante o programa de fisioterapia aquática.

888786858483828180

FC

Minutos5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Y=85,33-0,39500X+0,02800X2+0,00043X3R=0,933

Verificou-se que a FC comportou-se bem como mostra a literatura, aumentando na parte principal e diminuindo

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ao final da sessão quando era realizado o relaxamento. As respostas da FC associam-se diretamente com a intensidade do exercício, pois durante o exercício, a quantidade de sangue colocada em circulação aumenta de acordo com a necessidade de fornecer oxigênio aos músculos [12], porém, existe diferença significativa da FC quando comparada ao solo. Segundo Graef e Kruel [13], no meio líquido a FC é influenciada, entre outros fatores, pela temperatura da água e pela profundidade de imersão que causa diminuição na FC de repouso, decorrente de fatores como o retorno venoso e volume sistólico durante o exercício, associado com a ação da pressão hidrostática formam os prováveis responsáveis por essa redistribuição sanguínea, resultando no aumento do retorno venoso e do volume sanguíneo central [14].

Kruel et al. [15] observaram redução média da FC durante a realização de exercícios na água em intensidade moderada. Heithold e Glass [16], também compararam a FC durante a realização de exercícios aeróbios idênticos dentro e fora d’água, com velocidade de execução baseada na percepção subjetiva dos participantes. Os autores observaram valores de FC inferiores durante a hidroterapia para a mesma in-tensidade de esforço.

Os resultados obtidos mostram diminuição da FC em imersão aquática quando comparada na literatura com o ambiente terrestre, assim como redução do peso hidrostático que é proporcional à profundidade de imersão. Com esses resultados, podemos concluir que o exercício em ambiente aquático é benéfico a essa população e pode ser adequado para a prática regular de exercício físico.

Quanto aos resultados obtidos nas avaliações da glicemia, houve uma diminuição significativa na glicemia de 84,25 para 52 mg/dl, ou seja, uma diminuição de 38,3% compa-rada ao início do programa (Tabela II). Esta diminuição se deve ao fato de um aumento da captação de glicose pelo músculo esquelético conforme a intensidade do exercício [17], de acordo com a literatura, é esperado que os níveis de glicose sanguínea diminuam com o exercício físico. Mcar-dle et al. [10] afirmam que os níveis plasmáticos de glicose sofrem uma queda brusca, que pode persistir por vários dias, devido a uma maior sensibilidade à insulina por parte dos músculos ativos. Nas medidas da avaliação pré para pós 1 houve um aumento na produção de glicemia explicada pelo fato do organismo possuir mecanismo fisiológicos para conter a queda abrupta da glicemia no sistema sanguíneo aumentando a produção da mesma adquirindo normalidade após este período de adaptação e diminuindo conforme a frequência dos exercícios físicos.

Silva e Lima [18] salientaram a importância do exercí-cio físico diário, facilitando o controle do diabetes. Esses exercícios devem ser executados com uma intensidade de moderado a intenso.

Segundo Powers e Howley [19], o exercício tem sido visto como uma porta útil no tratamento para manter o controle da glicemia no diabético. Comprovando, assim,

que um programa de fisioterapia aquática baseado em exer-cícios resistidos e aeróbicos é adequado para os participantes diabéticos tipo II (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Média e desvio padrão da glicose nas medidas de ava-liação pré, pós 1(após 4 semanas), pós 2 (após 8 semanas) e pós 3 ( após 12 semanas).

DP Média1 2 3 4

160140120100806040200

Glic

ose

(mg/

dl)

Conclusão

Concluiu-se por meio da análise dos resultados que um programa bem orientado e regular de fisioterapia aquática, de intensidade moderada a intensa, com 50 minutos de dura-ção e 12 semanas de exercício contribui para reduções significativas na glicemia, auxiliando no controle da mesma em indivíduos com DM tipo 2.

O exercício físico no meio líquido contribuiu para a efici-ência cardíaca, diminuindo a frequência cardíaca de repouso, aumento da PAS de acordo com a intensidade do exercício e proporcionando o efeito hipotensor pós-exercício associado com as propriedades físicas da água que contribuíram para a melhora no condicionamento físico dos participantes.

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Ativação do centro de força e da musculatura respiratória de idosas com e sem incontinência urinária de esforçoCore and respiratory muscles activation in elderly women with and without stress urinary incontinence

Sinara Porolnik, Ft.*, Melissa Medeiros Braz, D.Sc.**, Juliana Falcão Padilha, Ft.***, Enio Júnior Seidel, D.Sc.****

*Especialista em Reabilitação Físico Motora pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), **Docente do Curso de Fisiote-rapia da UFSM, Grupo de estudos da postura corporal, Departamento de Fisioterapia e Reabilitação, UFSM, ***Especialista em Reabilitação Físico Motora e Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde pela UFSM, ****Docente da Universida-de Federal do Pampa (UNIPAMPA)

ResumoO objetivo do estudo foi comparar a ativação do centro de

força e da musculatura respiratória de idosas com e sem inconti-nência urinária de esforço (IUE). Trata-se de estudo observacional comparativo transversal, com análise quantitativa. Os dados foram coletados através da aplicação de questionário estruturado e de testes para avaliação de músculos respiratórios, transverso do ab-dome e multifido, realizados com idosas participantes do grupo de hidroginástica do CEFD/UFSM. Participaram 22 idosas, 8 sem perda urinária (continentes) e 14 com perda urinária aos esforços (incontinentes). Não houve diferença estatística entre os grupos quanto ao recrutamento do músculo transverso do abdome. A ativação do multifido nas continentes foi normal em 3 (37,5%) e boa em outras 3 (37,5%), enquanto foi normal em 10 (71,4%) das incontinentes. Na força muscular respiratória, as incontinentes apresentaram melhor desempenho que as continentes. Ficou eviden-ciado que a maioria das idosas realizou de forma satisfatória os testes de ativação do centro de força. A amostra foi pequena, salientando a necessidade de investigação com estudos prolongados e número maior de participantes.Palavras-chave: pessoas idosas, incontinência urinária de esforço, Fisioterapia.

Artigo original

AbstractThe aim of the study was to compare the core and respiratory

muscles activation in elderly women with and without stress urinary incontinence (SUI). This is an observational comparative study with quantitative analysis. Data were collected through a structured ques-tionnaire and tests for evaluation of respiratory muscles, transversus abdominis and multifidus, conducted with elderly group partici-pants of aerobics activities on CEFD/UFSM. Participants were 22 elderly women, 8 without urinary leakage (continents) and 14 with stress urinary incontinence (incontinence). There was no statistical difference between the groups regarding the recruitment of trans-versus abdominis. The activation of the multifidus of the continent group was normal in 3 (37.5%) and good in other 3 (37.5%), while it was normal in 10 (71.4%) of incontinent. On respiratory muscle strength, the incontinent performed better than the continents. It was evident that most of the women performed satisfactorily testing core activation. The sample was small, emphasizing the need for long-term studies and research with more participants.Key-words: aged, stress urinary incontinence, physical therapy specialty.

Recebido em 17 de setembro de 2013; aceito em 12 de novembro de 2014. Endereço para correspondência: Sinara Porolnik, Av. Evandro Behr Prefeito, 4800, 97110-620 Santa Maria RS, E-mail: [email protected]

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2102

Introdução

A incontinência urinária (IU) é definida pela Internatio-nal Continence Society (ICS) – Sociedade Internacional de Continência como a queixa de qualquer perda involuntária de urina [1]. Por longo período foi caracterizada como um sintoma, porém na atualidade é considerada uma patologia na Classificação Internacional de Doenças (CID10/OMS) [2].

É classificada em três tipos: incontinência urinária de esforço (IUE), definida como a perda involuntária de urina durante aumentos da pressão intra-abdominal; incontinência urinária por hiperatividade detrusora ou de urgência (IUU), e a associação destes dois tipos é definida como incontinência urinária mista (IUM) [1,3].

A integridade do assoalho pélvico (AP) é de fundamen-tal importância para a continência urinária, sendo suas principais funções: apoio de órgãos, manutenção da força esfincteriana, além de manter a posição do colo vesical. Na mulher, os mecanismos de estabilização do assoalho pélvico são vulneráveis, podem ocorrer traumatismos obstétricos, lesões do nervo pudendo, das fáscias e dos músculos do assoalho pélvico, além de mudanças que ocorrem devido ao avanço da idade, entre estas a menopausa e as modificações hormonais [4].

Além da atividade dos músculos do assoalho pélvico (MAP), outros grupos musculares parecem estar diretamen-te envolvidos com a continência urinária. São os músculos que constituem o centro de força: reto abdominal, oblíquo interno e externo, transverso do abdome, eretores profundos da espinha, extensores e flexores do quadril, juntamente com os músculos que compõem o assoalho pélvico. Fortalecer esta musculatura é de suma importância, pois promove a estabili-zação do tronco e um alinhamento biomecânico condizente com os movimentos solicitados. Durante os exercícios, a expiração é associada à contração dessas musculaturas e do diafragma [5].

O centro de força é uma unidade integrada composta de músculos que suportam o complexo quadril-pélvico--lombar. Tem como função estabilizar a coluna e a pelve durante os movimentos, manter um adequado alinhamento da coluna contra a ação da gravidade, criar movimentos eficientes da cadeia cinética, propiciar uma base de suporte para os movimentos dos membros (origem do movimen-to), gerar força para os movimentos do tronco e prevenir lesões [6].

As mulheres incontinentes podem apresentar problemas na ativação da musculatura que envolve o centro de força. Os músculos oblíquo interno e externo são ativados antes dos MAP em mulheres com IU, observando-se dissinergia entre esses grupos musculares, com tempos diferentes de ativação durante os aumentos de pressão intra-abdominal [7].

Da mesma forma, alterações no sistema respiratório po-dem ocasionar problemas de funcionalidade da musculatura

do assoalho pélvico, pois a musculatura abdominal e perineal e também a musculatura diafragmática (respiratória) devem estar em ação sinérgica para manter a estabilização das estru-turas envolvidas [8].

Entende-se que existe a coativação dos músculos abdo-minais, do diafragma e assoalho pélvico envolvidos na perda urinária e nas alterações posturais, não deixando de lado o envelhecimento que é um processo onde ocorrem mudanças em todo organismo do ser humano [9,4].

Assim, o estudo objetivou comparar a ativação do centro de força e da musculatura respiratória de idosas com e sem incontinência urinária de esforço.

Material e métodos

Trata-se de um estudo do tipo observacional comparativo de caráter transversal, com abordagem quantitativa. O projeto de pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, previamen-te ao início da coleta de dados, e aprovado conforme registro CAEE 11536912.2.0000.5346.

A amostra foi composta por 22 idosas com faixa etária entre 62 e 77 anos, no período de janeiro a abril de 2013, todas frequentadoras de atividades de hidroginástica no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da UFSM. O processo de seleção de amostra se deu por conveniência. A amostra respondeu o questionário estruturado, adapta-do de Stephenson e O’Connor [10] e Moreno [11], para verificar a presença ou não de incontinência urinária, bem como investigar sintomas que caracterizam a IUE, entre eles destacamos o período de tempo que consegue manter a urina, se havia dificuldade em interromper o fluxo, se perdia urina ao tossir, espirrar, levantar peso, ficar em pé, além do uso de protetores (exemplo absorvente). Foram excluídas aquelas com diagnóstico de patologias neurológicas, altera-ções cognitivas, uso de órteses, próteses, uso de tecnologia assistiva, amputadas, com outros tipos de incontinência urinária, que tivessem realizado cirurgia para o tratamento da incontinência e o não aceite do Termo de Consentimento Livre Esclarecido. Todas as idosas praticam atividade de hidroginástica há mais de 18 meses.

Em seguida, foi realizada a avaliação da força muscular respiratória através da manovacuometria, utilizando o apare-lho Manovacuômetro Digital, MVD 300, onde se verificou a pressão inspiratória máxima (PImáx) e a pressão expiratória máxima (PEmáx). Foram realizadas três manobras e consi-derado o maior valor entre elas. Se a diferença fosse mais de 10% entre as manobras, as mesmas foram repetidas [12,13]. Os valores ideais foram calculados individualmente de acordo com a equação de Neder et al., [14]: PImáx: y = -0,49 (idade) + 110,4, PEmáx: y= -0,61 (idade) + 115,6. Os resultados alcançados foram considerados satisfatórios caso atingissem acima de 80% do valor predito e insatisfatórios caso ficassem abaixo desse valor [15].

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103Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Para avaliação da ativação da musculatura profunda do ab-dome, foi utilizado o esfigmomanômetro da marca Premium como unidade de biofeedback pressórico, nivelado ao centro da parede abdominal, sendo o manômetro insuflado até 70 mmHg. Após a contração, se a pressão diminuísse de 4 a 10 mmHg e se fosse mantida por 10 segundos, a ativação era considerada satisfatória. Caso a diferença de pressão gerada ou o tempo não estivesse dentro destes parâmetros, a ativação era considerada insatisfatória [16].

A seguir, foi realizada a avaliação da capacidade do multifido de estabilizar o tronco durante movimentos dinâmicos das extremidades. As idosas foram colocadas na posição de quatro apoios com a pelve em posição neutra, utilizando o controle muscular para permanecer nesta po-sição. Foram solicitadas então que realizassem as seguintes manobras: fletir um membro superior e mantê-lo nesta posição, posteriormente elevar o membro inferior esten-dido e mantê-lo, e por fim associar os dois movimentos de forma contralateral, sendo o escore dos resultados a seguir: normal: capaz de realizar a elevação da perna e do braço contralateral, em ambos os lados, enquanto mantém a pelve neutra e manter por 20 a 30 segundos; bom: ca-paz de manter a pelve neutra enquanto realiza a elevação simples da perna e manter por 15 a 20 segundos; regular: capaz de realizar a elevação simples do braço enquanto mantém a pelve neutra e manter por 15 a 20 segundos; fraco: incapaz de manter a pelve neutra enquanto realiza a elevação simples do braço; traço: incapaz de elevar o braço ou a perna da maca até a posição estendida [17].

Os dados foram analisados através do Software R versão 2.15.2, para Windows [18]. A normalidade dos dados foi testada utilizando-se o Teste de Shapiro-Wilk. Foram rea-lizadas as distribuições de frequência e de médias. Com o intuito de avaliar a relação entre ser continente ou incon-tinente e para algumas variáveis categóricas foi utilizado o Teste Exato de Fisher. Para a análise de comparação dos dois grupos, com e sem IUE, foi utilizado o Teste de Hi-pótese para comparação de duas médias independentes. Utilizado o Teste t, para as variáveis que apresentaram normalidade, e Teste de Mann-Whitney, para os dados que não apresentaram normalidade. Utilizou-se nível de sig-nificância de 5% para todos os testes aplicados. O cálculo amostral deste estudo foi baseado na pesquisa de Fozzati et al. [19], que incluiu 26 pacientes que apresentavam queixa clínica de IUE.

Resultados

A amostra deste estudo foi composta por 22 idosas, 8 sem perda urinária (continentes) com média de idade 70,6 ± 5,4 e 14 com de perda urinária aos esforços (incontinentes),

estas com média de idade 67,2 DP ± 3,9. Na Tabela I, estão apresentadas as variáveis do questionário para ambos os gru-pos. As incontinentes apresentaram IMC superior do que as continentes. Contudo, para as demais variáveis, os grupos não apresentaram comparação com diferenças estatisticamente significativas.

Tabela I - Distribuição de médias (± DP) da idade, número de gestações, maior e menor peso do RN e Índice de massa Corpórea (IMC).

VariávelContinentes

(n=8)Incontinentes

(n =14)Valor p

Idade t 70,6 a (± 5,4) 67,2 a (± 3,9) 0,1040

Número de Gestaçõesm

2,5 a (± 3,2) 2,8 a (± 1,4) 0,4440

Maior peso do RN (gramas)

4245 * (± 897) 3680 (± 465) -

Menor peso do RN (gramas)

2675 * (± 618) 2986 (± 566) -

Índice de Massa Corpórea – IMC (kg/m²) t

25,0 a (± 1,6) 28,3 b (± 3,7) 0,0105

* A média foi feita a partir daquelas mulheres que tiveram filhos, pois

4 delas são nuligestas; Médias seguidas de mesma letra, na linha, não

diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade; tTeste t; mTeste

de Mann-Whitney.

Quanto ao número de partos, as continentes realizaram 17 partos vaginais (frequência de 94,4%) e as incontinentes realizaram 31 partos vaginais (frequência de 83,8%).

Nas continentes, ocorreram 3 (75%) partos vaginais com episiotomia, 2 (50%) com laceração, sendo que as outras 4 (50%) pesquisadas não tiveram filhos. Em relação aos partos vaginais das incontinentes foram realizados 9 (64,3%) partos com episiotomia e 5 (35,7%) sem, sendo que em 12 (85,7%) partos houve presença de laceração. Apenas 1 (frequência de 25%) das continentes e 6 (frequência de 16,2%) das incon-tinentes foram submetidas a parto cesáreo.

Para este estudo não existiu relação entre incontinência e o número de partos vaginais, episiotomia ou laceração no parto.

Ativação muscular

A Tabela II apresenta a frequência da ativação da mus-culatura envolvida na estabilidade central, sendo que não parece haver relação entre ser continente ou incontinente e a situação satisfatória ou insatisfatória do músculo transverso do abdome.

Em relação à força muscular respiratória, não ocorreu diferença estatística para a comparação de médias entre os grupos, conforme visualizado na Tabela III.

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2104

Tabela II - Frequências da ativação dos músculos da estabilidade central. Variável Continentes Incontinentes

Valor p n(8) % n(14) %

Músculo Multifido #Normal 3 37,5 10 71,3

-Bom 3 37,5 3 21,4Regular 1 12,5 1 7,1Traço 1 12,5 - -

Músculo Transverso Abdome ns

Satisfa-tório

4 50 5 35,7

0,8377

Insatis-fatório

4 50 9 64,2

*Relação significativa pelo teste exato de Fisher a 5% de probabilidade;

nsNão significativo; #Não foi aplicado teste para Músculo Multifido,

pois os dados não se adequaram as pressuposições.

Tabela III - Comparação das médias entre a PImáx e a PEmáx, em cmH20, para os grupos continentes e incontinentes.

VariávelContinentes

n (8)Incontinentes

n (14) Valor p

PImáx* 64,7 a 70 a 0,1253PEmáx* 72,7 a 75,4 a 0,4442

*Médias seguidas de mesma letra, na linha, não diferem

estatisticamente, pelo Teste t, ao nível de 5% de probabilidade.

Discussão

Verificou-se neste estudo que a maioria da amostra foi submetida ao parto vaginal com episiotomia e, no grupo das incontinentes, a laceração perineal foi bastante comum. Estes dados corroboram o estudo de Berlezi et al. [20], sobre incon-tinência urinária em mulheres no período pós menopausa, no qual das 33 mulheres que apresentaram perda urinária, 21 (70%), tiveram partos vaginais.

Estudos mostram que o procedimento rotineiro de episio-tomia acarreta aumento do risco de lesões ao esfíncter anal e ao reto, além de impedir que as mulheres possam ter partos com períneo íntegro [21].

Alguns estudos avaliando a força do AP após a episiotomia não demonstraram benefício no método. Pelo contrário, de cinco estudos avaliados por Hartmann et al. [21], um identificou dimi-nuição da força muscular após o procedimento. Por outro lado, recente ensaio clínico randomizado entre cesariana planejada e parto vaginal não conseguiu evidenciar diferenças na prevalência de IU entre os grupos depois de dois anos do parto [22].

Rortveit et al. [23] em sua pesquisa relatou que a incidência de IU aumentou com qualquer tipo de paridade, Índice de Massa Corpórea e tempo decorrido desde o último parto, a obesidade vem a ser um fator de contribuição para o desenvolvimento de IUE. Assim como nosso estudo não houve diferença estatística a pesquisa de Hvidman et al. [24], por sua vez, também não

encontrou correlação entre a IUE e peso do recém-nascido. O resultado do IMC das incontinentes apresentou maior índice em comparação com as continentes, corroborando os dados da pesquisa em que as mulheres obesas têm risco maior de desen-volverem IU durante a gestação e puerpério [23].

Algumas pesquisas revelam que o músculo transverso do abdome é o principal músculo gerador da pressão intra--abdominal [25]. Quando este músculo é ativado ocorre um aumento da pressão intra-abdominal, e consequentemente ocorre a estabilização da coluna [26]. Junginger et al. [27], em seu estudo, avaliaram o aumento da pressão abdominal durante as contrações dos MAP e do músculo transverso do abdome, e puderam perceber que a pressão intra-abdominal aumentou na contração do músculo transverso do abdome e a contração máxima dos MAP associado a contração abdominal aumentaram a pressão intra-abdominal.

Madill, Harvey e McLean [28], em seu estudo sobre as diferenças de controle de motor durante as contrações mus-culares voluntárias do AP com mulheres com IUE concluíram que a sequência de ativação dos músculos abdominais se dá antes dos MAP em mulheres incontinentes. Portanto, a resposta sinérgica da musculatura abdominal e de tronco é alterada e a resposta da MAP frente a um aumento de pressão intra-abdominal é afetada [29].

O estudo de Bo, Stein [9] verificou, por meio de exame de atividade eletromiográfica do esfíncter externo e do AP, que ocorre contração da musculatura abdominal sinergicamente à contração do AP. Já Moreira e Arruda [30] observaram a existência da ação sinérgica entre os músculos abdominais, perineais e respiratórios. A musculatura abdominal tem expressiva importância na atividade respiratória, na fase expiratória pode ser observado por meio da eletromiografia que ocorreu aumento da atividade elétrica destes músculos, e na fase inspiratória um declínio [31].

Entende-se que a sinergia que ocorre entre a descida do centro frênico e a correspondente co-contração da muscula-tura abdominal tendem a empurrar caudalmente às vísceras provocando estiramento do períneo, o qual realiza uma contração impedindo a descida do conteúdo abdominal, aumentando consequentemente a pressão intra-abdominal, facilitando a função respiratória e a estabilização postural [30].

Na inspiração a base do tórax é estabilizada pela parede abdominal devido às suas inserções, ocorrendo fechamento da abertura inferior da caixa torácica e promovendo susten-tações das vísceras para o apoio do diafragma. Sendo assim, o diafragma precisa da estabilidade da coluna lombar para desempenhar efetivamente seu papel, é nesta região que seus pilares estão inseridos [32].

Na avaliação das pressões musculares respiratórias, os valores de PImáx e PEmáx, no grupo das continentes foi mais baixo em relação ao grupo das incontinentes, mas não encontrou-se diferença estatística. No estudo de Fonsêca et al. [33], os valores das forças dos músculos respiratórios obtidos estão acima dos preditos pela equação de Neder et al. [14]

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pois, as mulheres idosas devem apresentar para PImáx acima de 85,3 cmH2O, e para PEmáx acima de 75,6 cmH2O.

Sendo assim, estes resultados diferem do estudo de Gon-çalves et al. [34], no qual as pressões respiratórias estáticas máximas em um grupo de idosas brasileiras foram verificadas, e houve diferença significativa entre o grupo que praticava atividades físicas e o grupo que não praticava atividades físicas, já no presente estudo não puderam ser verificadas grandes diferenças nas pressões respiratórias máximas mesmo as idosas sendo ativas, praticantes de atividades físicas.

Para executar eficazmente o ciclo respiratório é importante o equilíbrio da coluna, pois esta possibilitará a expansão da caixa torácica. A respiração afeta a estabilidade da coluna e, vice-versa, a posição da coluna afeta a qualidade da respiração [35]. A efetividade do diafragma depende da estabilidade da parede abdominal, que promove a sustentação das vísceras durante a inspiração e depende também da estabilidade dos paravertebrais lombares, local da inserção vertebral do diafragma. Estes músculos impedem a elevação em bloco da caixa torácica [36,37]. O músculo multifido é responsável por manter a postura lordótica e realizar a extensão de tron-co, quando o paciente apresenta sintoma de dor lombar este músculo demonstra-se prejudicado [38,39]. Na pesquisa em questão parece não haver relações ao ser continente ou não, quando analisada a questão muscular de multifidos e trans-verso do abdome, porém sabe-se que ocorrem influências musculares interligadas e que a parte respiratória envolvida pode estar “sobrecarregada” apresentando resultados abaixo dos esperados na equação de Neder.

Assim, qualquer alteração funcional provoca alterações em cadeia nos segmentos subjacentes, levando a adequações em todo o complexo articular e muscular do corpo. Se um músculo está deficiente ocorre necessariamente sobrecarga em outro segmento corporal. Uma alteração em qualquer nível da coluna vertebral promove compensações nas curvaturas vizinhas. Dada à complexidade biomecânica da postura, é possível entender que, frente a alguma alteração muscular do complexo lombo-pélvico, ocorra refinamento dos sistemas de controle postural, sobrecargas das estruturas corporais próximas ou distantes através de compensações. Para que isso não ocorra é necessário o funcionamento harmônico dos músculos do centro de força [36].

Algumas limitações foram encontradas no decorrer da pesquisa referente à disponibilidade de alguns aparelhos, o período do tempo do estudo e a amostra, os quais podem ter interferido nos resultados. Salientamos a necessidade de investigação com estudos prolongados, com número maior de participantes, além de outras populações.

Conclusão

Neste estudo percebemos que houve por parte das incon-tinentes maior dificuldade em ativar os músculos profundos do abdome os quais se remetem ao centro de força, pois,

quando solicitado para recrutar a musculatura do transver-so do abdome as incontinentes obtiveram dificuldades em ativá-los, já em relação ao músculo multifido as mesmas incontinentes recrutaram a musculatura normalmente em sua maioria.

Na força muscular respiratória, as incontinentes apresenta-ram melhor desempenho que as continentes, mas não foram verificadas diferenças estatísticas entre os grupos nas pressões respiratórias máximas tanto na expiração máxima, quanto na inspiração máxima.

Sendo assim, no presente estudo mesmo apresentando sintomas de IUE, as idosas não demonstraram dificuldades em recrutar as musculaturas que envolvem a estabilidade central e a musculatura respiratória.

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107Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Fototerapia acelera cicatrização de queimaduras em ratos desnutridosPhototherapy improves burn healing in undernourished rats

Katiuscia Pereira da Silva, Ft.*, Marcel Nani Leite**, Samuel Straceri Lodovichi***, Luciana Maria dos Reis, D.Sc.****, Saulo Nani Leite, D.Sc.*****, Marco Andrey Cipriani Frade******

*Centro Universitário da Fundação Educacional de Guaxupé (UNIFEG), Guaxupé/MG, **Farmacêutico e Bolsista CNPq pela Narcissus Pesquisa Clínica Biotecnologia, RP, ***Especialista, Docente do curso de Fisioterapia do UNIFEG, ****Docente do De-partamento de Enfermagem/Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL)/MG, ***** Docente do curso de Fisioterapia do UNIFEG, ******Docente do Departamento de Clínica Médica, Divisão de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo/SP

ResumoObjetivo: Avaliar efeitos da fototerapia na cicatrização de

queimaduras em ratos desnutridos. Métodos: Utilizou-se 24 ratos Wistar em controle dietético, doze selecionados para receber dieta normoproteica associada à proteína de baixa qualidade (gelatina) durante 30 dias. Para confirmação do estado nutricional foi realizada a medida da massa corporal e dosagem de albumina. Os animais nutridos (N) e desnutridos (D) foram distribuídos em grupos (n = 6) tratados com laser diodo desligado (Sham) e ligado (Laser): GNS, GNL, GDS e GDL. Queimaduras 2 x 2 cm foram realizadas no dorso dos animais e irradiadas (2 J, 660 nm,100 mW), 3 vezes por semana, 21 dias. O programa Image J® foi utilizado para cálculo do índice de cicatrização das queimaduras (ICQs) no 2°, 7º, 14º e 21° dias. Resultados: Os ratos desnutridos apresentaram perda de massa corporal (p = 0,0001), porém não houve diferença nos níveis de albumina. Quanto à fototerapia houve diferença dos ICQs no 14º dia, GDS em relação ao GNS (p = 0,005) e GNL (p = 0,03); GDL em comparação ao GNS (p = 0,001) e GNL (p = 0,01). Já no 21° dia, GDL apresentou maiores ICQs que os demais grupos, GNL (p = 0,02), GNS (p = 0,0003), GDS (p = 0,02). Conclusão: O laser acelerou a cicatrização de queimaduras nos animais desnutridos, fato que não ocorreu com os animais nutridos.Palavras-chave: queimaduras, fototerapia, desnutrição, análise de imagem assistida por computador.

Artigo original

AbstractObjective: To evaluate the effects of phototherapy in the healing

of burns in nourished and undernourished rats. Methods: We used 24 Wistar rats at dietary control, twelve were selected randomly with normal protein diet associated with low quality protein (gelatin) confirmed by weight loss, clinical signs and serum albumin. The animals nourished (N) and undernourished (D) were divided into groups (n = 6) treated with laser diode off (Sham) and connected (Laser), being designated GNS; LNG; GDS and GDL. A burn was performed in 2x2 cm back and irradiated (laser diode, 2 J, 660 nm, 100 mW), three times a week for 21 days. The program ImageJ ® was used to analyze the images of burns to calculate the index of healing in the 2nd, 7th, 14th and 21st days. Results: The undernourished rats showed body weight loss after malnutrition, but there was no difference in the level of albumin between groups. The phototherapy proved significant difference at day 21, showing the laser effects on the healing of 3rd degree burns in rats undernourished. Conclusion: There was no evidence of malnutrition in the healing of burns, but with biostimulator effects of diode laser on wound healing.Key-words: burns, phototherapy, malnutrition, image processing computer-assisted.

Recebido em 3 de outubro de 2013; aceito em 21 de novembro de 2014. Endereço de correspondência: Saulo Nani Leite, Departamento de Clínica Médica – Divisão de Dermatologia, Avenida dos Bandeirantes, 3900 (4º andar do HC), 14048-900 Ribeirão Preto SP, E-mail: [email protected]

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2108

Introdução

Milhares de pessoas no mundo sofrem com as sequelas físicas, psicológicas e sociais causadas pelas queimaduras que podem permanecer por longo tempo ou serem definitivas [1,2]. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 300.000 mortes são estimadas por ano no mundo devido às queimaduras [3]. No Brasil, ocorre em torno de 1.000.000 de acidentes com queimaduras por ano e, destes, 2.500 mortes direta ou indiretamente de suas lesões [4]. Elas constituem uma forma grave de trauma, podendo resultar em complicações como, desnutrição, aumento da taxa de infec-ção, da permanência no hospital, do tempo de inatividade e maior taxa e mortalidade [1,5-7].

Queimaduras são lesões no tecido de revestimento do corpo, causadas por ação local do calor, entre outros, destruindo parcial ou totalmente a pele [6]. Elas podem ser classificadas como 1º, 2º e 3º grau de acordo com a profundidade. A queimadura de 3º grau estende através da epiderme, derme e tecido subcutâneo ocorrendo um aumento nos níveis metabólicos teciduais [7]. Mitsunaga et al. [8] mostraram por meio de revisão sistemática que a maioria dos estudos revisados utilizaram queimaduras de 3º grau para estudo da cicatrização de queimaduras em ratos. A reparação das queimaduras é um processo complexo e coordenado, e os fatores locais e sistêmicos podem alterar a reparação tecidual. Um dos fatores sistêmicos é a desnutrição, que pode ser definida como estado de deficiência de energia, proteína e/ou outro nutriente específico, que acarreta uma alteração na função corporal e que se associa à piora de doenças [9]. Além disso, a desnutrição pode estar associada à ingestão de proteínas de má qualidade como a gelatina. Ela se caracte-riza por colágeno desnaturado, cuja composição aminoacídica corresponde à alta concentração de glicina, prolina e hidro-xiprolina associada à baixa ou nula concentração de tirosina, isoleucina, cistina, histidina e triptofano [10,11]. O processo de desnutrição prolonga a fase inflamatória, altera a função imune e regeneração tecidual, causando atraso na cicatrização e maior risco de infecções [12-15].

Existem diversos tratamentos para cicatrização de queima-duras, e, nas últimas décadas, a fototerapia tem sido descrita como uma valiosa ferramenta no estímulo a reparação teci-dual. Estudos têm demonstrado efeitos positivos no processo inflamatório [16,17], na proliferação celular [18,19], síntese de colágeno [20,21], e reepitelização de queimaduras em modelos animais [18,22,23]. Adicionalmente, alguns estudos in vitro e in vivo têm sugerido que a fototerapia em situações de estresse oxidativo (como diabetes, desnutrição, hipóxia, infecções) promove melhores efeitos que sob condições normais [24-26]. Apesar dos efeitos benéficos citados, ainda não há um consenso nos parâmetros de aplicação e dosagem na utilização da fototerapia. Além disso, há poucos modelos experimentais patológicos (diabetes, desnutrição, infecções) para mimetizar a interação desses distúrbios sistêmicos com a cicatrização tecidual e a fototerapia.

O objetivo deste estudo foi padronizar um modelo ex-perimental patológico (desnutrição) para avaliar os efeitos da fototerapia na cicatrização de queimaduras em ratos.

Material e métodos

Tratou-se de estudo experimental, randomizado, compa-rativo, no qual foram selecionados aleatoriamente 24 ratos Wistar (Rattus norvegicus), machos, pesando entre 120 e 130 g oriundos do Biotério da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP). O estudo foi realizado no Centro Universitário da Fundação Educacio-nal Guaxupé (UNIFEG), onde os animais receberam água ad libitum e ficaram alocados em gaiolas de polietileno com tampas de aço inoxidável com três animais cada. O ambiente foi mantido em temperatura de 22°C, umidade relativa do ar de 60% e luz artificial em um ciclo alternado de claro e escuro. Os procedimentos experimentais do estudo estavam de acordo com as normas do Colégio Brasileiro de Experi-mentação Animal (COBEA), e foi aprovado pela Comissão de Ética em Experimentação Animal (CETEA) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Processo 115/2007).

Após período de adaptação de cinco dias, os animais foram divididos aleatoriamente em dois grupos de 12 ratos e receberam dieta fornecida pelo Departamento de Nutrição da FMRP-USP. O grupo nutrido recebeu dieta normoproteica, enquanto o grupo desnutrido recebeu dieta normoproteica associada à gelatina durante 30 dias [27] (Tabela).

Tabela I - Composição das dietas experimentais do grupo nutrido e desnutrido.

Nutrientes Dietas experimentais (G/1000g de ração)

Nutridos DesnutridosProteína (caseína)Gelatina

200-

50150

Lipídeo (óleo de soja) 70 70Carboidrato (amido de milho) 532,5 532,5Sacarose 100 100Fibra (celulose) 50 50Mix mineral 35 35Mix vitamínico 10 10Colina 2,5 2,5

Para confirmação do estado nutricional, foi realizada a medida da massa corporal e dosagem de albumina sérica no 30º dia. Os animais foram pesados em balança digital calibra-da e a dosagem de albumina foi realizada a partir da punção da veia caudal dos animais na qual foi coletada uma amostra de sangue de 1ml realizada no Laboratório de Nutrição da FMRP - USP.

Quanto ao procedimento cirúrgico, os animais receberam anestesia intraperitoneal por meio do anestésico tribromoe-

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109Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

tanol a 4%, 1 ml/100g do animal. Logo após, foi realizada tricotomia e depilação com creme depilatório no dorso dos animais e, após 5 minutos, o excesso de creme foi retirado e em seguida induzido uma queimadura térmica, 2 x 2 cm, a 100°C, durante 25 segundos por aparelho padronizado pela Oficina de Precisão da FMRP-USP (Figura 1).

Figura 1 - Aparelho utilizado para indução das queimaduras (A). Procedimento da queimadura realizada no dorso dos animais (B).

Após esse procedimento, os animais foram divididos aleatoria-mente em 4 grupos (n = 6), irradiados ou não, a saber:• Grupo Nutrido Sham (GNS): animais nutridos cujas áreas

de queimaduras foram submetidas à fototerapia com aparelho desligado.

• Grupo Nutrido Laser (GNL): animais nutridos cujas áreas de queimaduras foram submetidas à fototerapia com laser ligado.

• Grupo Desnutrido Sham (GDS): animais desnutridos cujas áreas de queimaduras foram submetidas à fototerapia com aparelho desligado.

• Grupo Desnutrido Laser (GDL): animais desnutridos cujas áreas de queimaduras foram submetidas à fototerapia com laser ligado.Para a aplicação da fototerapia foi utilizado o aparelho Flash

Lase (DMC equipamentos, São Carlos, Brasil), laser de diodo, comprimento de onda de 660 nm, potência de saída de 100 mW, dose de 2 J, fluência de 70 J/cm2. A irradiação foi realizada em um único ponto no leito da queimadura a qual estava protegida por filme plástico PVC, sendo a primeira aplicação imediata-mente após a cirurgia e, posteriormente, 3 vezes por semana, durante 21 dias.

As áreas de queimaduras, semelhante à metodologia aplicada à cicatrização de úlceras (cálculo de ICUs) [28,29], foram fotografadas com câmera digital (Sony DSC-93) fixada em suporte padronizado nos dias 0, 2, 7, 14 e 21 dias de tra-tamento. As áreas (A) das queimaduras foram avaliadas pelo programa Image J® e calculado os índices de cicatrização das queimaduras (ICQ) pela fórmula, Área inicial - Área final/Área inicial, onde ICQ = 0 representa área inalterada, ICQ > 0 diminuição da área, ICQ < 0 aumento da área e ICQ = 1 reepitelização total da queimadura.

A medida da massa corporal, dosagem da albumina séri-ca e análise dos ICQs foram analisadas pelo teste t student, considerando que os valores de p < 0,05 mostram evidências estatísticas de que há diferença entre os dados em questão.

Resultados

Após 30 dias de desnutrição, os animais do grupo desnu-trido apresentaram menor massa corporal que os animais do grupo nutrido (p = 0,0001) (Figura 1). Já a albumina sérica foi semelhante entre os grupos nutrido e desnutrido (Figura 2). Além disso, por meio de observação clínica, notou-se que os animais desnutridos apresentaram sinais característicos da desnutrição como, diminuição do peso e crescimento, atrofia muscular, queda de pelos e pele atrófica.

Figura 2 - Massa corporal dos animais nutridos e desnutridos após 30 dias de seguimento.

Nutridos Desnutridos

400

300

200

100

0

Mas

sa c

orpo

ral

p=0,0001

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2110

Figura 3 - Valores de albumina sérica (g/dL) dos animais nutridos e desnutrição após 30 dias de seguimento.

Nutridos Desnutridos

3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

Albu

min

a gr

amas

/dL

Quanto ao processo de cicatrização (reepitelização) por meio dos ICQs e clinicamente, no 2° dia pós-operatório não houve diferença entre os grupos. As áreas queimadas aumentaram de tamanho, com-paradas ao dia inicial (Figura 4). No 7° dia, as áreas queimadas do GNS apresentaram-se maiores e consequentemente apresentaram menores ICQs em relação ao GDS (p = 0,01) e GDL (p = 0,01) (Figura 5). Nos grupos nutridos as áreas queimadas ainda estavam maiores em comparação às áreas iniciais e encontravam-se cobertas por crostas. Em contrapartida, as áreas de queimaduras dos grupos desnutridos apresentavam crostas menores (Figura 4). No 14° dia, os grupos desnutridos apresentaram maiores ICQs que os grupos nutridos, sendo que o GDS apresentou maiores ICQs em relação ao GNS (p = 0,005) e GNL (p = 0,03) e o GDL também apresentou diferença quanto ao GNS (p = 0,001) e GNL (p = 0,01) (Figura 4). As áreas de queimaduras dos GNS e GNL ainda apresentavam-se cobertas por crostas e nos GDS e GDL, as crostas já haviam caído e as lesões apresentavam predomínio de tecido de granulação (Figura 4). Já no 21° dia, o GDL apresentou maiores ICQs em relação aos grupos nutridos, GNS (p = 0,0003) e GNL (p = 0,02), e ao GDS (p = 0,02) (Figura 5). As queimaduras do GDL apresentaram estágio avançado de reepitelização, diferente dos demais grupos, nos quais a maioria das lesões ainda apresentava tecido de granulação (Figura 4).

Discussão

Queimaduras atingem o tecido de revestimento do corpo, podendo destruir parcial ou totalmente o tecido cutâneo e tecidos profundos [6]. A cicatrização dessas lesões é um processo complexo, e a presença de alguns fatores sistêmicos, como a desnutrição, podem atrasar o processo cicatricial e proporcionar complicações [8,13,14,17].

No presente estudo, a desnutrição foi induzida nos ani-mais utilizando proteína de baixa qualidade (gelatina), com o intuito de analisar os efeitos da fototerapia por meio do laser diodo na cicatrização de queimaduras comparadas com animais eutróficos. A desnutrição foi confirmada por sinais clínicos apresentados pelos animais, como, perda de peso, déficit de crescimento, e queda de pelos. Além disso, os re-sultados da massa corporal dos animais desnutridos após 30 dias mostraram diferenças significativas (p = 0,0001) quanto aos nutridos. A gelatina apresenta ausência de triptofano,

e com isso a conversão para niacina é diminuída, levando a supressão do crescimento [30,31]. Quanto à albumina sérica, que foram semelhantes entre os grupos, a ausência do triptofano na gelatina leva a uma supressão de niacina, sendo que o triptofano presente no organismo passa a ser utilizado na síntese de proteínas endógenas importantes (albumina). Portanto, a manutenção dos níveis de albumina nos animais desnutridos é provavelmente devido ao uso do triptofano endógeno para sua síntese [32].

Figura 4 - Evolução das queimaduras nos grupos experimentais durante 21 dias de acompanhamento.

São raros estudos que abordaram os efeitos da fototerapia em queimaduras em modelos patológicos. Alguns estudos mostraram efeitos positivos do laser em queimaduras em ratos normais e diabéticos [31,33], porém não há estudos em modelos de desnutrição.

Surpreendentemente, por meio dos ICQs, os resultados mostraram que no 7° e 14° dia o grupo desnutrido sham (GDS) apresentou maiores ICQs em comparação ao grupo nutrido sham (GNS), o que representa menor tempo de cicatrização. Provavelmente, tal fato se justifica pelo estado hipermetabólico gerado na pele desencadeado logo após lesão térmica [7], o que proporciona um grande influxo de células inflamatórias necessárias para o processo de reparação, provo-cando fase inflamatória exuberante. Simultaneamente, células

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111Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

responsáveis pela fase de coagulação, iniciam a formação do coágulo (crosta) e posteriormente a formação do tecido de granulação [7,11]. Já nos estados de desnutrição, esse influxo inflamatório e a proliferação celular ocorrem de maneira mais discreta inicialmente, porém o processo é prolongado, pois esses eventos dependem de alta demanda energética o que não é possível nos quadros de desnutrição devido a níveis inadequados de nutrientes [34,11,12]. Esse fato pode explicar um processo reparativo inicial mais rápido dos animais do GDS, por meio de estímulo inflamatório menos exacerbado e consequente queda precoce das crostas por volta do 14° dia. Porém, após uma semana, no 21° dia, os animais do GDS já mostraram atraso no processo cicatricial com menores ICQs, enquanto os animais do GNS apresentaram melhora na cicatrização das áreas de queimaduras, consequentemente maiores ICQs.

Em relação aos grupos irradiados, o GNL não apresen-tou diferença em relação ao GNS em nenhum dos tempos avaliados. Na literatura, alguns estudos não apresentaram efeitos positivos do laser na cicatrização de lesões cutâneas em ratos normais comparados ao controle [33-38]. Noudeh et al. [38] avaliaram os efeitos do laser diodo (670 e 810 nm) na cicatrização de úlceras cutâneas em ratos. Os resultados mostraram que não houve diferença significativa entre os animais irradiados e controle em relação a diminuição das áreas ulceradas. Em contrapartida, no presente estudo, o GDL apresentou resultados significativos (menores ICQs) em relação ao GDS e aos grupos nutridos (GNS e GNL) no 21° dia, mostrando efeitos positivos da fototerapia nos animais com desequilíbrio metabólico (desnutrição), e alguns estudos têm relatado maior efetividade da luz na presença de déficit energético 24-26,33,40]. Parece que a resposta celular perante a fototerapia é fraca ou ausente quando o estado oxidativo celular é ótimo ou próximo disso [33-40]. No presente estu-do os animais nutridos irradiados (GNL) não apresentaram efeitos positivos quando comparados ao grupo nutrido con-trole (GNS). Segundo Karu [24], a resposta celular perante

a fototerapia é mais significativa quando a célula alvo está em ambiente de estresse oxidativo como em certas condições patológicas (diabetes, infecção, desnutrição). Portanto, células em ambiente de estresse oxidativo respondem melhor à luz do que as células em ambiente normal [24-26,33,40]. No presente trabalho, os animais desnutridos irradiados (GDL) apresentaram efeitos benéficos em comparação com o grupo desnutrido controle (GDS) e com ambos os grupos nutridos (GNS e GNL).

Como foi relatado, não há na literatura estudos relacio-nando queimaduras, fototerapia e desnutrição. Porém, essa relação foi analisada em outros modelos patológicos como, por exemplo, modelo de diabetes. Al-Watban et al.[33] de-terminaram os efeitos da fototerapia por meio de LEDs em queimaduras de 3° grau em ratos diabéticos e não diabéticos. Os resultados apontaram efeitos positivos da fototerapia somente nos animais diabéticos, mas não houve diferença significativa entre os animais não diabéticos irradiados e o controle. Esses dados corroboram os resultados do presente estudo, no qual somente os animais desnutridos irradiados apresentaram efeitos positivos na cicatrização (maiores ICQs) diferente dos animais nutridos irradiados com menores ICQs e atraso na cicatrização.

Conclusão

No estudo foi padronizado um modelo experimental patológico (desnutrição) para o estudo da cicatrização de queimaduras. O laser diodo no comprimento de onda de 660 nm e dose 2 J acelerou significativamente o processo de cicatrização de queimaduras nos animais desnutridos, fato que não ocorreu com os animais nutridos. Esses achados prelimi-nares sugerem que efeitos similares podem ser encontrados em pacientes com queimaduras e quadro de desnutrição por doenças crônico-degenerativas como Aids, câncer ou pacientes graves internados por longo período.

Figura 5 - Evolução dos ICQs das queimaduras nos grupos avaliados durante 21 dias de acompanhamento.p=0,0003

p=0,02

p=0,02p=0,03

p=0,01

p=0,005

p=0,001

p=0,01

p=0,01

GNS GNL GDS GDL GNS GNL GDS GDL GNS GNL GDS GDL GNS GNL GDS GDL

dia 2 dia 7 dia 14 dia 21

1,0

0,5

0,0

-0,5

-1,0

ICQ

s

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113Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Comparação do reposicionamento da cabeça em jovens assintomáticos e com dor cervical Head repositioning sense in young without or with neck pain

Felipe Jose Jandre dos Reis, D.Sc.*, Bruno Alexandre Mendes Cardoso**, Débora Rodrigues Jatobá**, Adriana de Macedo, D.Sc.*, Leandro Calazans Nogueira, D.Sc.***

*Professor do Curso de Fisioterapia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - IFRJ, Rio de Janeiro, **Aluno, Iniciação Científica (PIBIC) do curso de Fisioterapia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – IFRJ, ***Professor do curso de Fisioterapia. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – IFRJ, Rio de Janeiro, Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro

ResumoA dor cervical é uma das principais condições musculoesqueléti-

cas responsáveis por provocar limitações funcionais. O comprome-timento de músculos profundos da coluna cervical pode alterar as informações do sistema proprioceptivo cervical e consequentemente suas interações com o sistema vestibular e visual. O estudo buscou comparar a capacidade de reposicionamento da cabeça em jovens assintomáticos e com dor cervical mecânica. Participaram 60 vo-luntários sendo 43 assintomáticos e 17 com história de dor cervical mecânica. Avaliou-se a capacidade de reposicionamento da cabeça com os participantes sentados, vendados, utilizando um capacete com um laser pointer fixado. Os participantes realizaram 6 repetições do movimento de rotação e as diferenças entre o posicionamento inicial e final eram mensuradas em centímetros (erro absoluto-EA) e convertidas em graus. A diferença entre os grupos foi realizada por meio do teste de Mann-Whitney com p ≤ 0,05. Para as rotações direita e esquerda as médias do EA foram: no grupo com dor cer-vical 6,1 e 4,7 graus e no assintomático 5,3 e 5,3 graus. Não houve diferença na capacidade de reposicionamento da cabeça entre os grupos. É possível que outros fatores associados a dor contribuam para o comprometimento da cinestesia cervical. Palavras-chave: cervicalgia, propriocepção, cinestesia, dor.

Artigo original

AbstractCervical pain is a major musculoskeletal conditions responsible

for causing functional limitations. The involvement of the deep muscles of the cervical spine can change the information of cervical proprioceptive system and consequently their interactions with the vestibular and visual system. The aim of this study was to compare the ability to reposition the head in asymptomatic young volunteers with mechanical neck pain. The study included 60 volunteers, being 43 allocated in the asymptomatic group and 17 with history of mechanical neck pain. To evaluate the ability of head repositioning, the participants remained seated, blindfolded, using a helmet with a laser pointer attached on top. Participants performed 6 repetitions for each side and the differences between the initial and final position were measured in centimeters (absolute error-EA) and converted into degrees. The differences between groups was performed using the Mann-Whitney test with p ≤ 0.05. Right and left rotation EA mean values were respectively: in the group with cervical pain 6.1 and 4.7 degrees and asymptomatic 5.3 and 5.3 degrees. There was no difference in the ability to repositioning the head between the groups. It is possible that other factors associated with pain contri-bute to impairment in cervical kinaesthesia.Key-words: neck pain, proprioception, kinesthesis, pain.

Recebido em 3 de outubro de 2013; aceito em 21 de novembro de 2014. Endereço para correspondência: Felipe Reis, Instituto Federal do Rio de Janeiro, Coordenação de Fisioterapia, Rua Prof. Carlos Wenceslau, 343, Realengo, 21715-000 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected]

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2114

Introdução

As queixas de dores na coluna vertebral são frequentes na prática do fisioterapeuta e podem comprometer a qualidade de vida e limitar as atividades diárias. Estes distúrbios são caros para a sociedade e para os pacientes e são responsáveis pela perda de anos de vida saudável [1]. A prevalência de dor cervical varia entre 4% e 75% de acordo com a metodologia do estudo [2]. Acredita-se que entre 10,4% e 21,3% da popu-lação tenha pelo menos um episódio de dor cervical durante a vida [1]. Além disso, estima-se que em 50% a 80% dos casos de dor cervical não é possível identificar um fator subjacente determinante, o que caracteriza a dor cervical mecânica [3-5]. Esta condição pode ser definida como alterações não específicas que comprometem a coluna cervical, incluindo as lesões em chicote (whiplash injury), o espasmo cervical, a síndrome cervical-ombro e os desarranjos mecânicos, ou seja, são consideradas como dor cervical mecânica aquelas sem sinais e sintomas patogênicos e /ou patognomônicos [6]. Estão excluídas deste grupo todas as dores cervicais com diagnóstico clínico, como hérnia de disco, artrite reumatóide, doenças degenerativas e outras [7].

As explicações para a dor cervical mecânica envolvem teorias multifatoriais que incluem a ocupação, as alterações emocionais, a insatisfação no trabalho, as posturas, as con-dições físicas do ambiente, a etnia e o tabagismo [5,8-10].

Apesar de 33% a 65% das pessoas ficarem assintomáticas ao longo de um ano, alguns casos evoluem com diminuição da amplitude articular, da resistência muscular e distúrbios da cinestesia cervical (capacidade de reconhecimento da posição da cabeça), vertigem, perturbações visuais e as alterações do equilíbrio [11]. A presença dessas alterações contribui nega-tivamente nas atividades diárias e resulta em prejuízos para a qualidade de vida [1,5].

A coluna cervical, em virtude do grande número de meca-norreceptores e pela sua integração com os sistemas vestibular e visual, desempenha um papel importante no fornecimento das informações proprioceptivas referentes à posição da cabeça [11,12-14]. O comprometimento dessa capacidade pode levar a alterações da postura da cabeça e contribuir para a sobrecarga articular e manutenção do estado doloroso. Dessa maneira, o objetivo deste estudo foi comparar a cinestesia cervical entre pessoas assintomáticas e aquelas com dor cervical mecânica de intensidade leve.

Material e métodos

Aspectos éticos do estudo

O projeto foi previamente submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Federal do Rio de Janeiro (CEP-IFRJ) e aprovado sob o número de registro 001/11. Todos os voluntários receberam instruções prévias sobre os objetivos e os procedimentos da pesquisa. Aqueles

que concordaram em participar do estudo assinaram o termo de consentimento livre esclarecido.

Características do estudo e da amostra

Este estudo transversal foi composto por alunos voluntá-rios do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (campus Realengo) selecionados por conveni-ência. Inicialmente foi realizada uma entrevista com objetivo de coletar os dados sociodemográficos e a presença ou não de queixas de dor cervical. Em seguida, os participantes foram classificados como assintomáticos quando não apresentaram quaisquer queixas de dor ou de limitação do movimento da região cervical. Os voluntários classificados como sintomáticos enquadravam-se no grupo Grau I segundo os critérios do Task Force on Neck Pain and Its Associated Disorders [15]. Neste grau estão incluídas as pessoas com dor no pescoço, associada ou não a rigidez, mas sem queixas neurológicas significativas. Não há sinais ou sintomas que sugerem distúrbios graves como fratura vertebral, luxação, lesão da medula espinhal ou nervos, infecção, neoplasia ou doença sistêmica, incluindo as artropatias inflamatórias [15-17]. Considerou-se para o estudo sujeitos com dor cervical há pelo menos 6 meses. Os voluntários deveriam ter tido pelo menos um episódio de dor nas últimas 2 semanas e a da dor no momento do exame deveria ser ≤ 3,0 na Escala Analógica Visual (EVA).

Não foram considerados para o estudo os sujeitos com diagnóstico específico da coluna cervical, história de traumas da coluna vertebral, relato de diagnóstico de comprometimen-to do sistema vestibular, doenças de origem reumatológica ou endócrinas e doenças neurológicas progressivas.

Procedimentos

A avaliação da capacidade de reposicionamento da cabeça seguiu a metodologia descrita por Revel et al. [18] e Treleaven [19]. O voluntário permaneceu sentado em uma cadeira de madeira, com encosto e sem apoio de braços, posicionada a uma distância de 0,90m de uma parede. Na parede foi fixada uma placa de isopor (1,00 m x 0,50 m x 30 mm) a 0,90 m do chão. Os voluntários foram avaliados individualmente, por um único examinador treinado, em ambiente silencioso e com temperatura controlada.

Cada participante utilizou um capacete de ciclismo com aproximadamente 230 g, com tira regulável e com um laser point de 45 g fixado em seu topo e constantemente ligado. A posição inicial da cabeça foi marcada no alvo de isopor e em seguida o participante foi solicitado a realizar os movimentos de rotação da cabeça para a direita e para a esquerda, com os olhos abertos, para se familiarizar com o procedimento. Para o teste, o voluntário teve seus olhos vendados e foi instruído a realizar 6 rotações da cabeça para cada lado tentando retornar a posição inicial (neutra). Mensuraram-se as distâncias entre a posição inicial e a posição final com uma fita métrica e em

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115Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

seguida obteve-se a média entre as 6 repetições (erro absoluto--EA). Os valores do EA foram convertidos de centímetros, para ângulos (em graus) [18,20].

Análise estatística

Após a coleta, os dados foram armazenados em planilha eletrônica, utilizando o software SPSS versão 13 para Windows.

Procedeu-se a análise de frequência e a descritiva (média, desvio padrão, máximo e mínimo) para o sexo, a idade, EA para a rotação direita e EA para a rotação esquerda. A com-paração dos resultados entre os grupos foi realizada por meio do teste de Mann-Whitney. Para verificar a correlação entre a idade e o erro absoluto, utilizou-se o coeficiente de correlação de Spearman. O nível de significância adotado foi de 0,05. O tamanho da amostra foi calculado baseado na diferença entre os erros para a rotação do pescoço entre indivíduos saudáveis e com dor cervical considerando os achados de Roren et al. [20] de 3,6 graus de diferença para indivíduos saudáveis e 6,3 graus de diferença os sintomáticos, com poder de 90%, intervalo de confiança de 95% e um desvio padrão de 2,4 graus. Estimou-se que pelo menos 17 participantes fossem necessários para cada um dos grupos.

Resultados

Participaram do estudo 60 estudantes voluntários do IFRJ com média de idade 20,2 (DP = 1,8; xmin = 18; xmax = 25), dos quais 38 do gênero feminino com idade média de 19,8 (DP = 1,6) e 22 do masculino com idade média de 20,8 (DP = 2,1). Ao se comparar os resultados do EA entre os grupos assintomático e sintomático não foram observadas diferenças estatisticamente significativas. Quando comparados os valores dos EA para as rotações pelo teste de Mann-Whitney, o grupo assintomático apresentou mediana igual a 4,1 graus para a rotação esquerda e 4,9 para a rotação direita. No grupo sin-tomático estes valores foram 4,4 e 5,5 respectivamente. De acordo com o teste U de Wilcoxon, os resultados do EA para esquerda (U = 339,5; r = -0,05) e para direita (U = 322,5; r = -0,09) indicam não haver diferença entre os grupos.

A Tabela I apresenta a comparação das médias do EA entre os grupos sintómático e assintomático assim como o intervalo de confiança.

Apesar de as mulheres terem apresentado maior EA para os movimentos de rotação da cabeça, não houve associação entre o gênero e o EA para a rotação esquerda (p = 0,3) e para a rotação direita (p = 0,1).

Gráfico 1

masculinofemininoSexo

15

12

9

6

3

0

EA Rotação direitaEA Rotação esquerda

O coeficiente de Spearman mostrou uma correlação negativa muito fraca entre idade e EA rotação esquerda (rs = -0,11; p = 0,4 ) e EA rotação direita (rs = -0,20; p = 0,1) sem que houvesse significância estatística.

Discussão

Atualmente, existe um maior interesse no estudo das alterações da capacidade de reposicionamento da cabeça e sua influência na dor cervical [12,13,21,23]. A capacidade de reposicionamento da cabeça é importante para a manutenção da estabilidade da articulação durante condições dinâmicas [21]. Alguns autores apontam que a insuficiência no repo-sicionamento da cabeça pode ser um fator de predisposição para o desenvolvimento de dor cervical [23,24].

Com o objetivo de avaliar a cinestesia cervical entre pes-soas jovens assintomáticas e dor cervical crônica de intensi-dade leve, foi utilizado um teste que se baseia no exame da capacidade em retornar a cabeça para a posição inicial após executar um dado movimento e em situação de privação da visão [18,22]. Este método é considerado a principal medida para se avaliar a propriocepção cervical. O procedimento de avaliação é relativamente simples podendo ser incorporado na prática clínica do fisioterapeuta. Além disso, apresenta boa confiabilidade teste-reteste e excelente correlação com técnicas consideradas mais precisas como as que utilizam o ultrassom [20]. A escolha desse teste se deu em virtude da facilidade de execução assim como da possibilidade de aplicação na prática clínica do fisioterapeuta.

Tabela 1Grupo Erro Absoluto (graus)

Rotação Direita Rotação Esquerda (p)Média (DP) IC 95% Média (DP) IC 95%

Assintomático (n=43) 5,3 (2,4) 4,5-6,1 5,3 (2,8) 4,5-6,2 0,67Sintomático (n=17) 6,1 (3,3) 4,4-7,8 4,7(2,2) 3,5-5,9 0,48

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2116

Embora o movimento da cabeça durante o teste de repo-sicionamento possa estimular tanto os aferentes da coluna cervical quanto os vestibulares [11,12,19,25], alguns estudos têm relatado que a estimulação aferente vestibular é mínima porque o movimento da cabeça é executado de modo relativa-mente lento no teste [12,25]. Além disso, durante o recruta-mento dos voluntários, buscou-se incluir pessoas sem história de diagnóstico de comprometimento do sistema vestibular.

A seleção dos integrantes se deu por conveniência e foi feita a partir dos alunos voluntários que se encontravam no mesmo local da pesquisa. No que diz respeito a capacidade de reposicionamento da cabeça, não foram observadas alterações quando comparados os grupos assintomáticos e o sintomático. Este achado pode ser em virtude do perfil da amostra que foi composta por indivíduos jovens, com dor cervical de baixa intensidade e de origem não traumática.

Em relação aos aspectos da dor cervical, buscou-se verificar se mesmo pessoas com dor cervical de intensidade leve pode-riam apresentar comprometimento da cinestesia cervical. Para isso optou-se por utilizar um ponto de corte de EVA ≤ 3,0. Segundo Collins et al. [26], valores acima de 3,0 cm na EVA incluem 85% dos pacientes que classificaram sua dor como moderada em uma escala categórica de quatro pontos, e 98% dos pacientes que relataram dor severa. As características da dor como a intensidade e duração mostraram não ter influên-cia na cinestesia cervical [18,21,27,28]. Entretanto, segundo Lee et al. [25], os maiores erros de reposicionamento da cabeça estariam associados a maior frequência de dor cervical.

Os resultados em relação ao teste de reposicionamento são consistentes com alguns estudos nos quais não houve diferenças significativas entre o grupo de dor cervical e o con-trole [29-31]. No estudo de Palmgren et al. [31], utilizando a mesma metodologia para se avaliar a cinestesia cervical, os autores observaram que o erro de reposicionamento nos sujeitos sintomáticos foi maior somente em um (flexão) dos seis movimentos testados. Teng et al. [12] investigaram 20 pa-cientes com dor cervical crônica moderada e não encontraram associação entre a história de dor cervical e a sensibilidade cinestésica em adultos jovens. Armstrong et al. [30] investi-garam 23 indivíduos após lesão em chicote comparando-os com um grupo controle e não encontraram diferença no reposicionamento da cabeça entre os grupos. Edmondston et al. [32] comparam 21 indivíduos com dor cervical postural com 22 assintomáticos e concluíram que não houve diferença significativa na sensibilidade cinestésica. Woodhouse e Vas-seljen [33] não verificaram diferenças na cinestesia cervical em uma amostra de 116 pacientes com dor cervical crônica pós traumática e não-traumática. Mais recentemente, Chen e Treleaven [34] não observaram erros de posicionamento entre saudáveis e sintomáticos utilizando a mesma metodologia de avaliação. Além disso, pessoas assintomáticas jovens (média de 31,8 anos) também apresentaram erros de posicionamento conforme observado por Hallgren e Andary [35].

No entanto, os resultados encontrados diferem de outros

estudos [11,13,27,36]. Revel et al. [13] observaram a presença de um grupo de 30 pacientes com dor cervical crônica, em comparação com um grupo de mesma faixa etária de indivídu-os saudáveis. Heikkilä e Wenngren [21] e Heikkilä e Åström [27] encontraram erros significativamente maiores nos pacien-tes que sofreram lesão em chicote quando comparados com os sujeitos saudáveis. Loudon et al. [36] compararam um grupo pós lesão em chicote e outro com dor crônica, e encontraram maiores médias de erros de posição quando comparados com os indivíduos saudáveis. No estudo de pacientes com dor cervical idiopática ou traumática realizado por Sjolander et al. [37], maiores erros de reposicionamento foram encontrados em pacientes com dor cervical crônica em comparação com indivíduos assintomáticos, sendo maiores em pacientes com dor cervical pós-traumática. Os resultados contraditórios podem estar relacionados com as metodologias variadas e populações avaliadas. Este estudo, como indicado por Swait et al. [38], foi realizado com seis repetições em comparação com os outros usando três ou dez repetições [11,18,27,29,36]. Além disso, a amostra foi composta exclusivamente de pessoas com dor cervical não traumática.

Dentre as principais limitações do estudo, destaca-se a ausência de dados referentes a outros aspectos da dor como a qualidade, a duração e a frequência. Outro aspecto que não foi estudado refere-se a postura da cabeça e do pescoço. É possível que a postura da cabeça exerça alguma influência sobre a cinestesia cervical. Ressalta-se ainda a necessidade de se incluir um questionário de avaliação da função como o Índice de Incapacidade do Pescoço (NDI). Estimula-se a realização de outras pesquisas que incluam essas variáveis.

Conclusão

De acordo com os resultados, não houve diferenças significativas na capacidade de reposicionamento da cabeça entre indivíduos assintomáticos e aqueles com história de dor cervical de intensidade leve. É possível que outros fatores relacionados a dor contribuam para o comprometimento da cinestesia cervical.

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2118

Análise dos parâmetros eletromiográficos do músculo deltoide posterior nos exercícios crucifixo invertido e remada baixa no pulley da articulação glenoumeralAnalysis of electromyographic parameters of posterior deltoid muscle in inverted cross and low pulley row of glenohumeral joint

Frank Shiguemitsu Suzuki*, Bruno Miguel dos Santos**, Roberta Luksevicius Rica**, Alexandre Lopes Evangelista**, Aylton Figueira Junior**, César Augusto Souza Casarin***, Andrey Jorge Serra****, Francisco Luciano Pontes Junior*****, Charles Ricardo Lopes******, Danilo Sales Bocalini**

*Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade São Judas (USJT), SP, São Paulo, Departamento de Educação Física, **Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade São Judas (USJT), São Paulo, ***Departamento de Educação Física USJT, ****Programa de Pós-Graduação em Biofotonica da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Pau-lo, *****Programa de Pós-graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), São Paulo, ******Grupo de Pesquisa em Ciências da Performance Humana, Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Piracicaba, Faculdade Adventista de Hortolândia, Hortolândia (UNASP), São Paulo

ResumoIntrodução: O treinamento resistido apresenta diversos movi-

mentos e equipamentos para promover adaptações em diferentes grupos musculares. O músculo deltoide é estimulado por diversas variações de exercícios, porém devemos entender qual exercício potencializa as porções deste músculo. Sendo assim o objetivo do presente estudo foi analisar a atividade mioelétrica da porção espinal do músculo deltoide em contração dinâmica nas fases concêntrica e excêntrica na realização do exercício crucifixo invertido com hal-teres e a remada sentada no pulley. Materiais e métodos: A amostra foi composta por 22 sujeitos do sexo masculino, com idade ≥ 18 anos, com experiência em treinamento resistido de no mínimo 1 ano. Os dados foram coletados com aparelho EMG de 8 canais, no músculo deltoide espinal. Resultados: Os parâmetros EMG encontrados foram: Remada: 709 ± 189 vs. Crucifixo: 411 ± 152. Na ativação máxima, Remada: 964 ± 291 vs. Crucifixo: 615 ± 383. Na ativação mínima, Remada: 577 ± 218 vs. Crucifixo: 279 ± 141. Na área espectral, Remada: 562 ± 200 vs. Crucifixo: 313 ± 169. Conclusão: Nossos dados indicam que a maior atividade EMG foi encontrada no exercício remada sentada no pulley.Palavras-chave: treinamento de resistência, eletromiografia, músculo deltoide.

Artigo original

AbstractResistance training proposes many movements and equipment

to develop any muscle group. The deltoid muscle is stimulated by several variations of exercises, but we should understand which exercise enhances this muscle. Therefore the objective of this study was to analyze the myoelectric activity of spinal deltoid muscle in dynamic concentric and eccentric contraction when performing dumbbell inverted cross and seated row pulley. Methods: The sample consisted of 22 male subjects, 18 years old of age or older, with one year of experience in resistance training. Data were collected by 8-channel device for EMG in the deltoid muscle spinal. Results: The EMG parameters were: rowing workout: 709 ± 189 vs. Cross: 411 ± 152. At maximum activation, rowing workout 577 ± 218 vs. cross workout: 615 ± 383. At minimum activation, rowing workout 577 ± 218 vs. cross workout: 279 ± 141. In the spectral area, row-ing workout: 562 ± 200 vs. cross workout: 313 ± 169. Conclusion: Our data indicated that EMG activity was highest in the seated row exercise in the pulley.Key-words: resistance training, electromyography, deltoid muscle.

Recebido em 26 de junho de 2014; aceito em 2 de dezembro de 2014. Endereço para correspondência: Danilo Sales Bocalini, Rua Ary Barroso, 68/105, Torre 1, 09790-240 São Bernardo do Campo SP, E-mail: [email protected]

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119Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Introdução

O objeto de estudo da educação física é o corpo em mo-vimento. Para tanto, se faz necessário o entendimento deste corpo em movimento sob diversos olhares, como por exemplo, a filosofia, antropologia, sociologia, fisiologia, cinesiologia entre outros [1]. A partir desse entendimento o profissional de educação física poderá compreender este fenômeno conhecido como movimento humano, o qual depende de um aparato de ossos, músculos e articulações para se locomover.

No treinamento resistido (TR), especificamente no mé-todo musculação, o profissional de educação física necessita dominar algumas dessas áreas supracitadas para correta pres-crição dos exercícios, desta maneira a biomecânica assume um papel de destaque quando nos referimos à análise de movimento. A partir de apreciações do movimento é possível determinar quais grupos musculares estão sendo exercitados em cada equipamento e exercícios livres, porém existem diversas variações de exercícios para os mesmos grupos mus-culares. A literatura procura entender quais as diferenças entre os exercícios que são preconizados para as mesmas muscula-turas, buscando apresentar quais as melhores situações para utilização de cada uma delas [2,3].

Nesta perspectiva a eletromiografia de superfície (EMG) tem sido frequentemente utilizada como ferramenta de diag-nóstico capaz de mensurar o potencial elétrico gerado pelo músculo quando o mesmo é recrutado para a execução de um determinado esforço [4].

Quando nos referimos ao movimento articular da região glenoumeral, os músculos como peitoral maior, latíssimo do dorso e deltoide são ativados para a realização do movimento articular, ou seja, quando se treina os grupos musculares: peitoral, dorso e ombro, estes músculos são estimulados a partir da resposta neuromuscular que condiciona movimentos realizados por esta articulação [5]. Anatomicamente o mús-culo deltoide é dividido em três porções, clavicular (anterior), acromial (media) e espinal (posterior) e para que estas três porções sejam ativadas separadamente se faz necessária à uti-lização de movimentos distintos em sentidos diferentes, seja por meio de pesos livres ou máquinas. Existe uma variedade de exercícios que possivelmente possam ativar as porções do músculo deltoide, dentre eles, o exercício do crucifixo inver-tido e a remada sentada no pulley são exemplos de exercícios que ativam as fibras da porção espinal do músculo deltoide anterior [6].

Diante destas informações, surge o questionamento da possível existência de diferentes padrões de ativação muscular das fibras musculares durante a realização destes exercícios. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi analisar a atividade mioelétrica da porção espinal do músculo deltoide em contração dinâmica nas fases concêntrica e excêntrica na realização de exercícios com peso livre (crucifixo invertido) e a remada sentada no pulley.

Material e métodos

Amostra

A amostra foi composta por 22 sujeitos fisicamente in-dependentes, com idade ≥18 anos, com experiência de pelo menos um ano em treinamento resistido. Todos os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, segundo a Resolução n°466/12 do Conselho Nacional da Saúde, aprovado pelo CEUA da Universidade São Judas Tadeu sob o número de protocolo (nº 019281/2014).

Protocolo de exercício

Todos os sujeitos realizaram seis sessões de 1RM com intervalos de 48 horas entre as sessões de conformidade com a publicação anterior do nosso grupo Bocalini et al. [12]. Todos os exercícios foram realizados no mesmo dia, com intervalos de repouso de 5 minutos entre cada um. Todos os testes fo-ram realizados com o mesmo examinador. Os participantes foram instruídos a não realizar qualquer outra atividade física durante o período em que o experimento ocorreu. Em cada sessão de teste, bem como em todos os exercícios, uma série de 10 repetições foi realizada com aquecimento para os músculos específicos usando 50 % da carga estimada. Após um descanso de 2-3 minutos, o teste foi iniciado. Quatro tentativas foram oferecidas para alcançar a força voluntária máxima (1RM). Na primeira tentativa, os sujeitos foram instruídos a completar duas repetições. A segunda tentativa foi realizada depois de um intervalo de 5 minutos, com uma carga maior ou menor do que a que foi aplicada na tentativa anterior. Este procedimento foi repetido durante a terceira e quarta tentativa no caso de a carga correspondente a 1RM ainda não ter sido identificada. A carga correspondente a 1RM foi considerada aquela com a qual a pessoa apenas pode completar uma repetição correcta. Não mais do que cinco tentativas foram necessárias para alcançar 1RM.

Para a coleta de dados foi estabelecido como exercício ini-cial à remada sentada e posteriormente o crucifixo invertido. Todos os sujeitos foram orientados sobre as técnicas corretas de execução dos exercícios e a fixação do ritmo de contração dinâmica muscular fixada em, aproximadamente, três se-gundos controlada por um metrônomo (KORG® - MA30), configurado a 60 batimentos por minuto [7]. O tempo de intervalo padronizado entre cada exercício foi de três minutos para evitar a fadiga muscular.

Estudo eletromiográfico

O protocolo para a captação dos sinais mioelétricos utili-zado foi adaptado de acordo com o protocolo de Sá [7]. Foi utilizado um aparelho EMG com oito canais (EMG System do Brasil Ltda®), com ganho de amplificação de 1000 vezes e modo comum de rejeição de 120 dB. A aquisição dos dados

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2120

foi realizada por meio do software EMGLab V1.2_2010, digitalizados por placa de conversão A/D com 16 bits de resolução e sinais com frequência de 2 kHz.

A atividade mioelétrica foi avaliada com eletrodo bipolar de fixação passiva descartável dupla Ag/AgCl (MeditraceTM ® 100, eletrodos de superfície, Kendall-LTP, a Covidien, Estados Unidos), com pré-amplificadores com ganho de 20 vezes, de 1 cm de diâmetro para cada área condutora e de 1 cm de espaçamento centro-a-centro. Foram colocados ao longo dos eixos longitudinais da porção espinal do músculo deltoide em 10 milímetros (mm) de distância entre os pon-tos de captura [8]. A tricotomia foi preparada e a pele limpa com álcool a 70% [9] antes da colocação dos eletrodos. Os eletrodos foram alocados de acordo com as recomendações SENIAM [10,11]. O eletrodo de referência foi colocado no osso clavícula dos voluntários.

Os registros mioelétricos foram realizados com os voluntá-rios realizando os exercícios: crucifixo invertido sentado, com um par de halteres com a quilagem previamente calibrada em balança eletrônica (Filizola Personal Line®) e remada sentada no aparelho pulley (ZUCCO®). Durante o intervalo todos os sujeitos permaneceram com os eletrodos devidamente fixados para evitar qualquer alteração no registro mioelétrico.

O tratamento dos sinais mioelétricos foi realizado com um filtro tipo Butterworth passa-banda 20-500 Hz de quarta ordem, e atraso de fase zero, foi utilizado a Root-Mean Square (RMS) como unidade de medida da amplitude do sinal, como uma janela móvel de três segundos durante as doze repetições máximas de ambos os exercícios. Os dados EMG foram de-finidos pelo início e final da fase de contração dinâmica que tivessem maior amplitude de sinal, coletados simultaneamente a partir do comando de voz para início do exercício.

Analise estatística

O teste de D’Agostino-Pearson foi aplicado para análise da distribuição e normalidade. Para efeito das comparações foram utilizados os testes “t” de Student para amostras inde-pendentes. Os dados são apresentados sob a forma de médias ± erro padrão da média. As análises foram realizadas com auxílio dos programas Prism 4.0 (GraphPad Softwares Inc., San Diego, CA, USA) com nível de significância estabelecido para as análises de p < 0,05.

Resultados

Na tabela I é possível observar as características antropo-métricas da amostra.

Os parâmetros eletromiográficos podem ser visualizados na figura 1. Diferenças significativas foram encontradas na ativação muscular (Remada: 709 ± 189 - Crucifixo: 411 ± 152; p < 0,0011), na ativação máxima (Remada: 964 ± 291 - Crucifixo: 615 ± 383; p < 0,0347), na ativação mínima (Remada: 577 ± 218 - Crucifixo: 279 ± 141; p < 0,0019) e na área espectral (Remada: 562 ± 200 - Crucifixo: 313 ± 169; p < 0,0077). Não foram encontradas diferenças no desvio padrão da ativação muscular (Remada: 98 ± 50 - Crucifixo: 143 ± 66; p = 0,0986) e na variação do sinal eletromiográfico (Remada: 13061 ± 10746 - Crucifixo: 22853 ± 21425; p = 0,2127).

Discussão

O exercício físico age como mecanismo de microlesão tecidual atuando de duas maneiras, basicamente: 1) os da-nos teciduais são resultados dos efeitos tóxicos de produtos metabólicos dissipados pela célula (stress metabólico) e 2) os danos teciduais são induzidos por efeitos diretos de forças resultantes de contrações excêntricas (stress mecânico) [13].

Treinamento resistido com peso potencializando a fase excêntrica gera maior tensão na musculatura do que o traba-lho isométrico ou concêntrico, devido a menor formação de pontes cruzadas causando o aumento de lesões nos sarcômeros [14,15]. Já que as maiores tensões musculares normalmente equivalem aos maiores ganhos de força, o treinamento de forma excêntrica (negativo) apresenta ganhos de força 10-35% maior em relação aos outros métodos utilizados [13-15].

A fase excêntrica da ação muscular tende a proporcionar um índice maior de danos aos sarcômeros, tal como distúr-bios nas linhas Z e bandas A além de ruptura do retículo sarcoplasmático [16,17].

O stress metabólico do dano celular acontece devido a uma produção insuficiente de ATP em relação à sua demanda, favorecendo um processo isquêmico e gerando a degradação de estruturas proteicas ocasionando um quadro de prejuízo citoesquelético. O estresse mecânico produzido pelo exercício promove alterações em níveis de substrato, elevação de tempe-ratura celular, produção de radicais superóxido, incapacidade de fornecimento adequado de ATP para o funcionamento das

Tabela I - Características antropométricas.Média ± DP Valor min-máx Intervalo de confiança

Idade (anos) 29 ± 5 22 - 39 25,60 - 32,23Estatura (m) 1,77 ± 0,04 1,68 - 1,85 1,73 - 1,80Peso (kg) 79 ± 4 72 - 85 76,98 - 81,68IMC (kg/m2) 25 ± 1 24 - 28 24,48 - 26,02% gordura 18 ± 3 13 - 23 15,86 - 19,97Peso de gordura (kg) 14 ± 4 5 - 19 11,70 - 16,30Massa magra (kg) 65 ± 5 58 - 75 62,18 - 68,49

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121Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

bombas iônicas, queda do pH e elevação em concentração de Ca+2 citoplasmático [18].

Com esta informação podemos associar a sensação de “desconforto” dos sujeitos ao estresse mecânico exercido du-rante os testes. Embora os resultados EMG obtidos durante a execução da remada sentada no pulley sejam maiores, o crucifixo invertido possui dois picos na EMG, durante a mes-ma contração dinâmica, comprovando que o feixe posterior do deltoide sofre um estresse mecânico maior durante a fase excêntrica em relação à remada sentada no pulley.

Em adição, exercícios multiarticulares promovem maior torque devido à sinergia das musculaturas envolvidas, enquan-to as monoarticulares exigem maior ativação em um menor número de músculos [19]. Tendo em vista o exposto acima, a remada sentada no pulley deveria recrutar menos unidades motoras durante a execução do teste, já que é um exercício biarticular. Acreditamos que essa ativação apresentada na EMG deve ter ocorrido devido à amplitude de movimento que pode ser realizada quando se executa o movimento da remada sentada no pulley. Com uma amplitude de movi-mento extensa o músculo deltoide espinhal consegue maior contração e, portanto, consegue gerar maior tensão indo ao encontro aos valores encontrados no EMG. Já no crucifixo invertido, a amplitude do movimento é limitada em virtude das características anatômicas da cintura escapular evitando que o mesmo forneça um grande sinal EMG.

A remada sentada no pulley proporcionou uma ativação EMG maior durante as fases concêntricas e excêntricas da contração muscular, porém o crucifixo invertido mantém a fase excêntrica próxima do pico de ativação por mais tempo.

Assim sendo, indicamos a remada sentada no pulley como exercício de força. O professor poderá periodizar os treinos de seus alunos buscando a quebra de platô para o feixe posterior do deltoide. Acreditamos que o crucifixo invertido, mesmo tendo valores inferiores de ativação EMG, é o exercício mais adequado para contribuir para o estresse mecânico no mesmo feixe muscular.

Conclusão

Com os resultados apresentados pode-se concluir que o músculo avaliado apresentou atividade eletromiográfica significativa em ambos os exercícios praticados, com maior atividade eletromiográfica no exercício remada sentada no pulley durante as fases concêntricas e excêntricas da contração muscular.

Agradecimentos

Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-soal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio para execução do estudo e da concessão de bolsa dos alunos Frank Shiguemitsu Suzuki e Roberta Luksevicius Rica.

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Figura 1 - Parâmetros eletromiográficos (media ± DP) dos exercícios remada e crucifixo.

Remada Crucifixo Remada Crucifixo Remada Crucifixo

Remada CrucifixoRemada CrucifixoRemada Crucifixo

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ação

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* *

* indica diferenças significativas (teste t de Student) quando p < 0,05.

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123Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Características dos pacientes do sexo masculino com disfunção erétil do município de Santa Maria/RSCharacteristics of male patients with erectile dysfunction of municipality of Santa Maria/RS

Larissa Fernandes, Ft *, Letícia Fernandez Frigo, Ft., M.Sc.**

*Centro Universitário Franciscano, Santa Maria/RS, **Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano, San-ta Maria/RS, Membro do grupo de pesquisa Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas à Fisioterapia e Orientadora do trabalho

ResumoIntrodução: A disfunção erétil (DE) é definida como a inca-

pacidade persistente para obter ou conservar uma ereção peniana suficiente para o desempenho sexual satisfatório, podendo indicar a existência de doenças subjacentes, sobretudo aquelas relacionadas ao sistema cardiovascular. A partir do conhecimento da etiologia, a fisioterapia pode traçar objetivos e condutas para o tratamento deste paciente. Objetivo: Investigar quais são as características dos pacientes do sexo masculino com DE do município de Santa Maria/RS. Material e métodos: Pesquisa do tipo descritiva com abordagem quantitativa. Foi aplicada uma ficha semiestruturada e o Índice Internacional de Função Erétil, após entregue uma cartilha com exercícios. Resultados: 58 homens com média de idade 62,41 ± 11,53 anos; 15,52% apresentaram grau DE leve, 51,72% moderada e 32,76% grave. Conclusão: Observou-se no estudo que a causa da DE está associada à alta prevalência da hipertensão arterial sistêmica e a idade.Palavras-chave: disfunção erétil, Fisioterapia, homens.

Artigo original

AbstractIntroduction: Erectile dysfunction (ED) is defined as the persis-

tent inability to achieve or maintain penile erection sufficient for satisfactory sexual performance and may indicate the presence of underlying diseases, especially those related to the cardiovascular system. From the knowledge of the etiology, therapy can define ob-jectives for the treatment of this patient. Objective: To investigate the characteristics of male patients with ED at the municipality of Santa Maria/RS. Methods: Survey of descriptive and quantitative approach. A semi structured application form and the International Index of Erectile Function were applied after handed a booklet with exercises. Results: Fifty eight men with mean age 62.41 ± 11.53 years; 15.52% had mild ED, 51.72% moderate and 32.76% severe. Conclusion: It was observed in the study that the cause of ED is associated with high prevalence of hypertension and age.Key-words: erectile dysfunction, physical therapy specialty, men.

Recebido em 10 de agosto de 2014; aceito em 28 de novembro de 2014. Endereço para correspondência: Letícia Fernandez Frigo, Rua Serafim Valandro, 464/101, 97010480 Santa Maria RS, E-mail: [email protected], [email protected]

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Introdução

A disfunção erétil (DE) é definida como a incapacidade persistente para obter ou conservar uma ereção peniana sufi-ciente para o desempenho sexual satisfatório [1]. Por muito tempo, acreditava-se que a única causa desta disfunção eram os fatores psicológicos. Entretanto, já se sabe que a DE pode originar-se por inúmeras alterações vasculares [2], como, desequilíbrio entre contração e relaxamento da musculatura lisa do corpo cavernoso [3].

A DE pode ser classificada em psicogênica, orgânica e mis-ta. A causa psicogênica poder ser classificada como primária e secundária, estando relacionada ao emocional ou problemas no relacionamento. Já a orgânica classifica-se em arterial ou vascular, neurogênica, endócrina e medicamentosa [3]. A causa orgânica vascular é comum aos problemas de ereção, devido ao estilo de vida [4].

Apesar da DE não ser letal, pode indicar a existência de doenças subjacentes, sobretudo aquelas relacionadas ao sistema cardiovascular [5]. A artéria peniana mede a metade da artéria coronariana, portanto, a irrigação do pênis tende a diminuir antes de alguma manifestação cardiovascular [4].

Em uma pesquisa realizada no Brasil, em 2002, na qual foram avaliados 2.862 homens com média de idade de 38 anos, 45,1% dos avaliados apresentaram DE [5]. A incidência da DE aumenta com a idade, devido aos baixos níveis de testosterona, podendo atingir a população mais jovem [6]. A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) também está associada à DE, danifi-cando o endotélio, fazendo com que a pessoa torne-se incapaz de gerar a dilatação necessária do leito vascular peniano em resposta à excitação sexual, produzindo falhas na ereção [7].

Na população masculina, a DE é mais prevalente quando comparados aos distúrbios ejaculatórios e de desejo [4]. Este problema de saúde pública afeta a saúde física e psicossocial, podendo gerar déficit significativo na qualidade de vida, ge-rando consequências nas relações interpessoais [5].

A DE pode ser prevenida e tratada [8]. O diagnóstico pode ser feito pelo Índice Internacional de Função Erétil Simplifi-cada (IIFE-5) [9,10], tanto para a identificação da disfunção erétil quanto para estratificação do risco cardiovascular, pois constitui uma ferramenta simples e de fácil aplicabilidade para o diagnóstico da presença e/ou gravidade da DE e a presença de Doença Arterial Coronariana (DAC) [11]. O tratamento da DE pode ser cirúrgico ou conservador, sendo este medicamentoso e/ou fisioterapêutico [8].

A fisioterapia constitui um tratamento complementar que vem aperfeiçoando seus conhecimentos, pois utiliza técnicas não invasivas como a cinesioterapia [12,13], eletroestimula-ção [14,15], tratamento comportamental [12,16], podendo estas serem utilizadas de forma individual ou combinadas, assim melhorando o aporte sanguíneo da região do pênis e auxiliando na ereção [17,18].

Levando em consideração o impacto da disfunção erétil na população masculina, verifica-se a necessidade de pesqui-

sar os fatores de risco destes pacientes; assim favorecendo a ampliação da gama de recursos disponíveis ao tratamento fisioterapêutico e/ou desenvolver técnicas de intervenções apropriadas para o tratamento da DE. Diante do exposto, este estudo buscou investigar quais são as características dos pacientes do sexo masculino com DE do município de Santa Maria/RS.

Material e métodos

Para análise das características dos pacientes do sexo mas-culino com disfunção erétil do município de Santa Maria/RS, foi realizada uma pesquisa do tipo descritiva com abor-dagem quantitativa. A população deste estudo foi composta por homens com idade igual ou superior a 18 anos com diagnóstico médico de disfunção erétil. Responderam ao questionário 62 voluntários, dos quais quatro foram excluídos, pois não identificaram a idade. A amostra foi composta por 58 voluntários do município de Santa Maria, encaminhados por médicos urologistas no período de abril a maio de 2014 no Laboratório de Ensino Prático da Fisioterapia no Centro Universitário Franciscano.

Os critérios de inclusão utilizados foram: homens com DE, homens com idade igual ou maior que 18 anos e que aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre e Es-clarecido. Os critérios de exclusão foram: homens com DE há menos de três meses, prostatectomizados, com neoplasia prostática, homens que faziam uso de prótese peniana, que não utilizavam medicamentos para a ereção, que apresentavam doença de peyronie ou doenças neurológicas e que não acei-taram assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A coleta foi realizada com a autorização do Centro Uni-versitário Franciscano do Município de Santa Maria/RS e com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Insti-tuição de acordo com a resolução 466/2012, sob o parecer 25198914.5.0000.5306. A pesquisadora entrou em contato com a população a ser pesquisada, através de indicações de médicos urologistas, esclarecendo os objetivos da pesquisa e convidando-os a participar voluntariamente deste estudo. Os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, através do qual foi declarado seu aceite em participar da pesquisa. Foram garantidos sigilo e anonimato quanto à identificação dos participantes.

Foi realizada uma avaliação no Laboratório de Ensino e Prática do Centro Universitário Franciscano, em um horário previamente agendado pela pesquisadora. Nesta avaliação foi aplicada uma Ficha de Avaliação semiestruturada pela pesqui-sadora, contendo os dados sociodemográficos e características de cada entrevistado, abordando aspectos relacionados aos fatores de risco cardiovasculares.

Foi aplicado o Índice Internacional de Função Erétil, ins-trumento validado, utilizado para avaliar a função sexual, no momento da entrevista, que foi lido, interpretado e respondi-do pelos voluntários, orientando que as respostas deveriam ser

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sobre o funcionamento natural da ereção, ou seja, sem uso de medicamentos ou dispositivos que auxiliassem na ereção [19]. O índice contém seis questões referentes à função erétil. Cada questão tem um valor que varia de um a cinco, e o participante escreve no espaço fornecido o número que melhor descreve. O resultado de cada resposta deste foi somado respectivamente, gerando um escore final, sendo considerados valores baixos entre um a dez, que indicam disfunção erétil grave; entre 11 e 16, moderada; entre 17 e 21, leve a moderada; entre 22 e 25, leve e entre 26 e 30, normal, portanto, não apresenta disfunção erétil [19].

Ainda para que não existissem interferências externas, cada participante do estudo foi entrevistado individualmente pela pesquisadora. O tempo de aplicação da avaliação foi de aproximadamente 20 minutos.

Após a entrevista, foi entregue uma cartilha aos volun-tários, contendo exercícios para o assoalho pélvico (AP), associados à respiração e contrações do ânus e períneo, Os músculos do AP, como qualquer outro músculo, são treina-dos a desenvolver aumento da força muscular, o que acarreta melhora da função e possível diminuição dos sintomas da DE [20], orientando que os exercícios deveriam ser realizados em harmonia respiratória, ou seja, as contrações deveriam ser realizadas durante a expiração.

Para as analises estatísticas foram calculados as medidas descritivas, já para as variáveis categóricas (qualitativas) foram calculados os percentuais e para as variáveis quantitativas foi calculada média e desvio padrão. Para verificar a associação entre algumas variáveis como depressão, diabete mellitus, hipertensão arterial sistêmica, idade, IMC e a disfunção erétil, utilizou-se o teste qui-quadrado com nível de significância α 0,05. Devido à amostra de tamanho pequeno, a correção analítica de Yates e a correção computacional bootstrap fo-ram utilizadas [21]. Para analisar os resultados do teste qui--quadrado foram verificados os resíduos studentizados. Todas as análises foram feitas utilizando o software R [22].

Resultados

Foram avaliados 58 homens com média de idade de 62,41 ± 11,53 anos, variando de 35 a 89 anos, classificados por faixa etária de 30 a 50 anos de idade 15,52% (9), 51 a 65 anos de idade 51,72% (30) e 66 a 89 anos de idade 32,76% (19), sendo que destes 15,52% (9) apresentaram grau DE leve, 51,72% (30) moderada e 32,76% (19) grave (Figura 1).

Figura 1- Grau da disfunção erétil apresentado pelos participantes.

15,52

51,72

32,76

leve moderada grave

A Tabela I mostra a classificação socioeconômica dos participantes com número(n) e sua porcentagem (%) res-pectivamente.

Tabela I - Características sociodemográficas dos participantes.Características Sociodemo-

gráficasParticipan-

tes (N)%

Estado civilSolteiro 6 10,34Casado 50 86,21Divorciado e/ou viúvo 2 3,45Situação empregatíciaEmpregado 31 53,45Desempregado 2 3,45Aposentado 25 43,1Classificação socioeconômicaAlta* 1 1,72Média** 36 62,07Baixa*** 20 34,49EscolaridadeFundamental Completo 20 34,48Médio Completo 21 36,21Superior Completo 17 29,31

*vinte ou mais salários mínimos; **seis a dez salários mínimos;***um a

dois salários mínimos.

Quanto à patologia, 29,31% (17) apresentaram HAS, 11,54% (6) apresentaram DM, 18,97% (11) apresentaram depressão, 5,17% (3) apresentaram dislipidemia, 8,62% (5) eram tabagistas e 3,45% (2) eram ex-tabagistas. A maioria dos homens 72,41% (42) não apresentou hiperplasia da próstata. No IMC devido à classificação, apresentaram 62,07% (36) em normal, 36,21% (21) sobrepeso e 1,72% (1) obeso, no entanto, 72,41% (42) eram sedentários.

A média idade que os homens começaram a relação sexual foi de 19,62 ± 1,55, a média de idade que os sintomas da DE apareceram foi de 59,33 ± 10,84 e 84,43% (49) fizeram o uso de medicamentos para melhorar a ereção sem procurar o médico e 15,52% (9) procuram o médico.

Tabela II - Comparação da disfunção erétil com as patologias (variáveis).

Variável Qui-qua-drado

P-valor

Depressão 1,1315 0,5181 (ns)Diabete mellitus 2,0506 0,5914 (ns)Hipertensão arterial sistêmica 7,5204 0,02328*Idade 23,3273 > 0,01*I.M.C. 4,0423 0,4003 (ns)

*valor significativo; ns = não significativo ao nível de significância α ≤

0,05.

Não foram encontradas associações estatisticamente sig-nificantes entre DE e variáveis como depressão, DM e IMC.

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Houve significância estatística, onde α ≤ 0,05, entre DE com a idade que apresentou ˃ 0,01 e a HAS que apresentou 0,02328 (Tabela II).

Tabela III - Resíduos studentizados: disfunção erétil X hipertensão arterial sistêmica.

Disfunção Erétil Hipertensão Arterial SistêmicaSIM NÃO

Leve -0,51 0,51Moderado -2,19 2,19Grave 2,72 -2,72

O que está dentro do intervalo (-1,96; 1,96) não é signi-ficativo. No entanto ter HAS está associado de forma inver-samente com o grau de disfunção erétil moderada, ou seja, ter HAS reduz as chances de estar no grau de DE moderado, já possuir HAS está associado diretamente com o nível de DE grave, ou seja, ter HAS aumenta as chances de ter o grau grave da DE (Tabela III).

Não apresentar HAS está associado diretamente com o grau de DE moderada, portanto, aumenta as chances de estar no grau moderado, que está inversamente associado com o grau de DE grave (Tabela III).

Tabela IV- Resíduos studentizados: disfunção erétil x idade.Disfunção Erétil Idades/anos

35 a 50 51 a 65 66 a 89Leve 1,61 0,25 - 1,51Moderada 0,98 2,36 - 3,26Grave -2,28 - 2,70 4,64

Apresentar idade entre 35 e 50 anos está associado inversa-mente com ter DE grave, já entre 51 e 65 anos está associado diretamente com ter DE moderada e inversamente com o grau de DE grave e idade entre 66 e 89 anos está associado inversa-mente com ter disfunção erétil moderada e diretamente com ter DE grave, todos não apresentando significância dentro do intervalo -1,96; 1,96 (Tabela IV).

Discussão

A definição de DE também pode ser a incapacidade de manter relações sexuais e não a envergadura erétil em si, em função disto deve ter uma causa a se diagnosticar [23].

O estudo de Haczynskiet et al. [24] mostrou que dos 3.552 pacientes entrevistados com idade entre 40 anos, 42,7% apre-sentaram DE, 44,9% não apresentaram e 12,4% recusaram-se a responder as perguntas. Os pacientes entre 41-50 anos apre-sentaram maior DE, se comparados com pacientes com idade inferior a 41 anos. No presente estudo a maior prevalência de DE foi de 51 a 65 anos de idade apresentando 51,72% (30).

A idade revelou ser importante fator de risco nesta pesqui-sa, como evidenciado também na pesquisa realizada com os profissionais da saúde, que avaliou a influência da idade no

comportamento sexual dos norte-americanos, e revelou que 40% dos homens com idade entre 60-69 anos já apresenta-ram suas primeiras dificuldades de ereção e 2% relataram o problema antes dos 40 anos [8].

Vários estudos têm mostrado que os homens com dia-betes correm risco para predispor a DE. Para Enzlin et al. [25], no estudo com pacientes portadores de diabetes tipo 1, observaram-se 222 pacientes, sendo destes 95 homens, 22% apresentaram DE. Estes tinham idade e IMC mais elevados, apresentando maior tempo de diabetes, fato que não corrobo-ra, pois dos homens entrevistados 11,54% (6) apresentaram DM, não mostrando correlação com a gravidade.

A depressão e/ou a ansiedade é uma etiologia que pode desencadear a DE. Em um estudo de Brito et al. [26], ava-liaram 42 homens, destes, 21 com DE e 21 com ejaculação precoce (EP), com média de idade entre 31,21 ± 6,16 anos. Em relação aos resultados das avaliações dos questionários, Inventário de Depressão de Beck (BDI) e Inventário de An-siedade de Beck (BAI), identificou-se que o grupo com DE apresentou maiores valores significativos no BAI (13,57 ± 7,40) do que o BDI (13,38 ± 9,74) que comparados com o grupo de EP. Já em outro estudo foi observado que 54,3% dos 2862 homens entrevistados apresentaram depressão associados à DE, sendo um resultado significativo, apresentando uma alta incidência [5].

Um estudo fez o levantamento aleatório de uma determi-nada população de Massachusetts, pesquisando a presença de DE associados à depressão. Avaliaram através do questionário autoaplicável a DE e a depressão através da escala do centro de estudos epidemiológicos - depressão, esta escala mensura o nível de sinais da depressão e não diagnóstica a depressão clínica. Constataram que dos 449 indivíduos entre 40 e 50 anos de idade 25% tinham depressão e 1,92 tinham razão de chance para a associação de DE e sintomas de depres-são, já entre 61-70 anos de idade, dos 333 indivíduos 47% apresentaram DE e 2,88 tinham associações de sintomas de depressão [27].

Os sintomas de DE associados à depressão, devido aos estudos, mostram que a etiologia é significativa, o que não corrobora este estudo, podendo ser justificada pela amostra muito pequena composta por 58 participantes, porém destes 18,97% (11) apresentaram depressão, não significativa.

Uma das causas de DE é a HAS, também pode estar relacio-nada ao tratamento desta. Uma pesquisa qualitativa realizada no ano de 2012 avaliou 14 homens com idade superior a 40 anos, hipertensos e com vida sexual ativa, estes relataram que após a descoberta e o tratamento da HAS diminuíram as atividades sexuais; pensaram em parar o tratamento para demonstrar virilidade às parceiras, sem conhecerem as reais consequências da suspensão do tratamento [28]. Em outro estudo, dos 1.516 pacientes que apresentaram DE, apenas 13,6% não tinha nenhuma doença crônica associada; já 86,4% relataram uma ou mais doenças crônicas. As doenças mais comuns foram diabete mellitus (40%), aterosclerose e/ou DAC (55,2%) e

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HAS (55,8%) [24]. O que se evidenciou que a HAS, nos estudos, apresentou um alto nível significativo para a causa da DE, corroborando este estudo, no qual 29,31% (17) dos entrevistados possuíam esta patologia associada.

Em outro estudo realizado em Massachusetts, acompa-nharam os homens por uma média de 16,2 anos, avaliaram 1.165 homens, destes 213 tinham DE com média de idade de 59 ± 8 anos, 33% (71) apresentou HAS associados à DE [29]. Já nesse estudo não se mostrou significativo a hiperten-são associadas à causa da DE, podendo ser justificado pelo desenvolvimento da HAS durante os anos de pesquisa.

Na pesquisa de Abdo et al. [5], a média de idade foi de 38 anos, 45,1 % apresentaram DE, os participantes referiram começar a relação sexual com uma média de idade de 15,9 anos, o que é constatado neste estudo é uma média de 19,62 ± 1,55, sendo uma diferença de aproximadamente três anos.

Corroborando ainda o estudo, não foram encontradas as-sociações estatisticamente entre DE, tabagismo e sedentarismo [5]. A prática de exercícios físicos e uma dieta balanceada são modificações essenciais na vida do indivíduo, pois melhoram o condicionamento cardiovascular e a qualidade de vida, associando com outros tratamentos [30].

Já Constance et al. [8] relataram que o exercício vigoroso, como correr pelo menos três horas por semana, foi associado à redução no risco da DE, se comparado ao grupo de seden-tários ou com pouca atividade física. Apesar de o exercício proteger contra a DE, homens com menos de 60 anos se beneficiaram mais do treinamento que os com idade superior ou igual a 80 anos.

Em um estudo, foram avaliados e tratados 42 homens com DE que aceitaram participar de um programa de reeducação do assoalho pélvico com média de idade de 46 ± 11 anos. As sessões constituíram de exercícios ativos, biofeedback e eletroestimulação dos músculos perineais. Foi realizado o tratamento durante quatro meses, uma vez por semana; 47% (24) dos participantes recuperaram a ereção normal, 24% (12) relataram melhora e 12% (6) não houve alteração na ereção sexual [31]. A fisioterapia está em crescente estudo nessa área, mas o que se pode observar é que ela pode contribuir para a melhora da DE. O que não corrobora o estudo, pois nenhum dos entrevistados tinha realizado tratamento fisioterapêutico, a primeira opção foi o tratamento medicamentoso, podendo ser justificado, já que nenhum destes conhecia a fisioterapia para a DE.

Conclusão

Conclui-se, através dos dados obtidos nesta pesquisa, que os resultados encontrados permitem afirmar que as principais causas de DE é a idade e a HAS, mostrando valores significa-tivos nestes participantes.

Quando a prevalência da etiologia é pesquisada através de estudos populacionais, possibilita intervenções fisiotera-pêuticas adequadas.

Ainda há poucos estudos que investigam a importância da fisioterapia na DE, necessitando mais pesquisas. Espera--se que a referida pesquisa crie subsídios para novos estudos sobre a temática, acrescentando qualidade de vida aos homens com DE.

Agradecimentos

Agradecemos aos pacientes e aos médicos que contribuí-ram para a realização deste trabalho, em especial ao José Alberi Moreira Félix e ao Marcio Rigo.

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B r a s i lV. 16 - no 2

FisioterapiaP h y s i c a l T h e r a p y B r a z i l

E s p e c i a l P i l a t e s

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Editorial

Um espaço científico para o PilatesJefferson Fagundes Loss

Nasce hoje o Caderno de Pilates dentro da Fisioterapia Brasil. A ideia deste Caderno foi concebida durante o Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pilates, ocorrido em agosto de 2014 em Bento Gonçalves/RS. O tema central do Congresso era “Levando a ciência para o studio” com vistas a fundamenta-ção científica do Pilates. Um Caderno específico sobre Pilates reforça esta busca. A Revista passa a partir de agora contar com um fórum de discussão para aqueles que se dedicam ao Pilates como meio de promoção da saúde, seja no âmbito acadêmico, seja nos studios, academias e consultórios de fisioterapia.

É grande a expectativa que colocamos neste Caderno e estamos certos de que contribuirá para aproximar os profis-sionais que buscam por embasamento científico do Pilates para tomadas de decisões no dia a dia da prática profissional.

Nesta perspectiva, estamos tentando construir uma via de mão dupla, ou seja, precisamos não só que o conhecimento gerado saia dos muros da Universidade, mas também pro-porcionar aos profissionais que trabalham com Pilates uma forma deles também irem ao encontro deste conhecimento.

Cumprimentamos a Fisioterapia Brasil pelo pioneirismo ao criar este espaço científico para o Pilates, e comunicamos que a partir de agora passamos a receber propostas de pu-blicação específicas para este Caderno, que conta com um Comitê Editorial próprio ao qual agradecemos imensamente sua participação. Todos os trabalhos devem seguir as normas da Fisioterapia Brasil e enviados ao e-mail [email protected], com assunto “submissão ao Caderno de Pilates”.

Desejamos a todos uma ótima leitura.

Fisioterapia BrasilP h y s i c a l T h e r a p y B r a z i l

Especial Pilates

ARTIGOS ORIGINAISModos somáticos de atenção de praticantes do Método Pilates, Daniela Meirelles Lagranha, Adriane Vieira, Christiane Garcia Macedo ...................................................................................... 131Desenvolvimento e validação de um método de avaliação do nível de prática no método Pilates por meio de exercícios do próprio método, Giselen Benedetti, Cláudia Tarragô Candotti, Kaanda Nabilla Souza Gontijo, Gabriela Manosso Bampi, Jefferson Fagundes Loss ............................................................................................................................................................... 138Comparação da cinemática e atividade muscular e de joelho e tornozelo entre três exercícios de footwork do Método Pilates, Isabel C.N. Sacco, Ivye L.R. Pereira, Bergson W.C. Queiroz, Daniella R. Gomes ................................................................................................................................. 146Efeito de um programa de exercícios baseado no método Pilates sobre a postura de crianças: um estudo piloto, Vanessa Salgado Silva, Joana Cardoso Mascarenhas, Aline Mendonça de Sá, Cloud Kennedy Couto de Sá ....................................................................................................................................................... 153

EditorProf. Dr. Jefferson Fagundes Loss (UFRGS-RS)

Comitê editorialProfa. Dra. Adriane Vieira (UFRGS-RS)

Profa. Dra. Aline Haas (UFRGS-RS)Prof. Dr. André Rodacke (UFP-PR)

Profa. Dra. Cláudia Tarragô Candotti (UFRGS-RS)Prof. Dr. Cloud de Sá (UEFS-BA)

Profa. Dra. Cristina Cabral (UNICID-SP)

Prof. Dr. Guilherme Veiga (USP-SP)Profa. Dra.Isabel de Camargo Sacco (USP-SP)Prof. Dr. Jefferson Fagundes Loss (UFRGS-RS)

Prof. Dr. Jefferson Rosa Cardoso (UEL-PR)Profa. Dra. Lídia Mara Aguiar Bezerra (UNB-DF)Profa. Dra. Mônica de Oliveira Melo (UCS-RS)

Contato e envio de manuscritos:Jefferson Fagundes Loss, [email protected]

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Modos somáticos de atenção de praticantes do Método PilatesSomatic modes of attention of practitioners of Pilates method

Daniela Meirelles Lagranha*, Adriane Vieira**, Christiane Garcia Macedo***

*Fisioterapeuta mestranda em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS, **Docente do Curso de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da UFRGS, ***Licenciada em Educação Física e doutoranda em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

ResumoO objetivo desta pesquisa foi conhecer e compreender como os

princípios do Método Pilates são incorporados, constituindo-se em modos somáticos de atenção. A corporeidade foi o ponto de partida para analisar como as experiências na prática do Método Pilates nos vinculam a um mundo cultural. Foram entrevistadas 10 mulheres praticantes de Pilates da cidade de Porto Alegre/RS com no mínimo seis meses de prática. Identificamos que o princípio de concentração é um elemento chave para que a centralização, a respiração e o con-trole sejam incorporados e relacionados a novas formas de perceber o corpo durante as aulas e em situações do cotidiano. Palavras-chave: corpo, modos somáticos de atenção, Método Pilates.

Artigo original

AbstractThe aim of this research was to know and understand how the

principles of Pilates Method are incorporated, consisting in Somatic Modes of Attention. The incorporation was the starting point for analyzing how experiences in the practice of Pilates Method bind us to a cultural world. Ten women practicing Pilates in Porto Alegre/RS for at least six months were interviewed. We have identified that the principle of concentration is a key element for incorporating other principles such as centralization, breathing and control and relating new ways of perceiving the body during classes and in daily life situations. Key-words: body, somatic modes of attention, Pilates Method.

Recebido em 24 de outubro de 2014; aceito em 30 de abril de 2015. Endereço para correspondência: Daniela Meirelles Lagranha, Rua Santana, 744/403, Bairro Farroupilha 90040-371 Porto Alegre RS, E-mail:[email protected]

Introdução

Toda a sociedade apresenta valores, hábitos e costumes particulares que estão inscritos no corpo e são revelados nos gestos, nas expressões e nas formas de pensar e agir do indiví-duo. O corpo é, portanto, tanto produto como produtor de cultura, estabelecendo relações que nos vinculam ao mundo [1,2]. O primeiro antropólogo a trabalhar essas questões foi Mauss ao publicar o texto “Técnicas Corporais” em 1974 [3], no qual salienta que o corpo é o primeiro instrumento do homem e, por intermédio dele, os indivíduos constituem e transmitem hábitos culturais.

Csordas [1], numa leitura sobre a corporeidade como um paradigma para a Antropologia, tem investigado essas maneiras de estar atento ao corpo e com o corpo em diferen-tes grupos culturais. Busca, através disso, entender como as pessoas incorporam diferentes formas de dar atenção ao corpo a partir da vivência de determinadas práticas corporais e os sentidos e interpretações que dão a tais práticas. Esse processo foi chamado por Csordas [1] de modos somáticos de atenção.

Durante a década de 1990, houve um aumento conside-rável de espaços e propostas direcionadas aos cuidados com a saúde e o condicionamento físico [4]. Dentre as práticas difundidas na atualidade, o Método Pilates tem se destacado como uma proposta que visa a otimização do uso do corpo e o aprimoramento da consciência corporal [5]. Devido a isso, alguns autores, como Siler [6], Kolyniak Filho & Garcia [7], Isacowitz & Clippinger [8], sugerem que o método permite a melhora do condicionamento físico, como ganho de força e flexibilidade; enquanto outros, como Rouhiainen [9] e Denovaro [10], acreditam que o método melhora a saúde psicofísica, através do autoconhecimento e da autorregulação.

Shusterman [11] propõe que a motivação para vincular--se a uma prática corporal sistematizada está relacionada aos resultados que esperamos dela. Sendo assim, a prática pode centrar-se no condicionamento físico, visando adquirir uma determinada estética, ou no aprimoramento da acuidade per-ceptiva, visando um ganho de controle e domínio do corpo. Na prática do Método Pilates, o aluno pode almejar um corpo mais alinhado e delineado, direcionando sua prática para

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aquisição de uma melhora dos contornos corporais. Entre-tanto, ele também pode privilegiar a percepção das sensações decorrentes da respiração, do movimento e da organização dos segmentos corporais, geradas durante e após a aula, visando um maior conhecimento e entendimento dos seus processos internos. Esses distintos enfoques possibilitam ao praticante transitar entre diferentes experiências corporais, levando-os a diferentes modos somáticos de atenção.

Na literatura sobre o Método Pilates, há um consenso em relação aos princípios que devem estar presentes durante a prática que são concentração, centralização, precisão, controle, respiração e fluidez [12-16].

O princípio de concentração visa o direcionamento do foco de atenção do aluno durante a prática, de modo a trazer o aluno ao momento presente, estabelecendo as conexões entre corpo e mente [6,17]. A centralização, também conhecido como Power House, é considerada um dos princípios mais importantes, já que todos os exercícios iniciam com o acio-namento dos músculos da região do assoalho pélvico, tronco e quadril [6,17,18]. Os princípios da precisão, do controle e da fluidez estão mais relacionados à qualidade do movimento, visando um controle melhor do corpo através de movimentos mais precisos e, consequentemente, mais fluidos [6,17]. Por fim, o princípio da respiração tem como objetivo promover uma melhor consciência corporal e também auxiliar no con-trole dos movimentos, no relaxamento da musculatura e na estabilização do tronco [17,19]. Esses princípios direcionam a atenção do aluno ao corpo e com o corpo durante a práti-ca do método. Entretanto, ainda pouco se sabe como esses princípios são percebidos pelos alunos e incorporados como modos somáticos de atenção.

O objetivo do estudo é, portanto, conhecer e compre-ender como os princípios que caracterizam o Método Pilates são percebidos e incorporados, constituindo-se em modos somáticos de atenção.

Material e métodos

Este estudo foi qualitativo e tomou por referência o pa-radigma da corporeidade, entendendo-a, segundo Csordas [1], como campo metodológico e ponto de partida para uma análise e reflexão sobre as experiências que nos vinculam a um mundo cultural. Para este autor, o corpo é considerado o sujeito da cultura e a corporeidade é a maneira de nos rela-cionarmos com o mundo e, a partir dela, podemos entender as interações do indivíduo com o meio social e compreender a cultura e o sujeito através da experiência corporificada.

O instrumento empregado para coleta de informa-ções foi a entrevista semiestruturada por ser aberta e permitir a abordagem de outros assuntos pertinentes que surgissem durante a entrevista além daqueles inclusos no roteiro da entrevista [20]. Neste roteiro contemplamos questões sobre as motivações das praticantes e os significados e sentidos que elas dão a sua prática corporal. Também questionamos

sobre os princípios do método, se elas os conheciam e, caso a resposta fosse sim, perguntamos se elas sabiam nomeá-los e de que maneira os percebiam em aula e em situações do cotidiano.

As entrevistas foram realizadas no período de janeiro a fevereiro de 2014 na cidade de Porto Alegre/RS com dura-ção média de 45 minutos. Todas as entrevistas foram feitas pela mesma entrevistadora, gravadas e transcritas na íntegra. O texto final foi entregue as participantes que realizaram a validação comunicativa do que haviam relatado, ou seja, confirmaram que o conteúdo da transcrição correspondia ao conteúdo das suas falas [20].

Para começarmos o processo de análise de conteúdo, realizamos uma leitura completa das entrevistas para ter uma noção ampla sobre os temas emergentes das falas das participantes. Num segundo momento, discutimos sobre as informações coletadas para, então, começarmos a separar os trechos que incluíam as falas mais significativas relacionadas aos princípios do método, que foi a categoria escolhida para nossa análise [20].

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul (no 459.230) e todas as participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do qual consta que o anonimato seria mantido. O nome de cada participante foi substituído pelo nome de uma flor.

Resultados

O estudo contou com a participação de 10 mulheres voluntárias com idades entre 29 a 63 anos praticantes do Método Pilates, com 6 meses a 8 anos de prática. Todas possuíam nível superior completo, sendo duas aposentadas e oito que atuavam no mercado de trabalho em profissões diversas. Todas as participantes do estudo demonstraram um forte interesse pela prática de exercícios, relatando que mantinham, além do Pilates, pelo menos outra prática regular como caminhada, Corealign, Yoga, Gyrotonic, Treinamento Funcional, dança e Hidrobike.

Ao analisar a fala das participantes em relação à prática do Método Pilates, identificamos que o princípio mais comen-tado e valorizado pelas participantes foi o da concentração, mostrando-se como um elemento fundamental na prática do Método Pilates, como exemplificado nas seguintes falas:

“Essa questão da consciência, do comportamento, tu tem que tá com atenção pra ti poder fazer, realizar o exercício. Eu acho que tu tens que ter consciência do movimento, do que tu estas fazendo.” (Amarilis, 62 anos)

“Porque essa coisa da respiração, quando tu faz ela super direitinho, que tem o cuidado de respirar bem, nossa, tu sai muito diferente. Sem falar que tu sai mais alongada, relaxada, mesmo que a aula tenha sido mais “power”, mais forte. (Liz, 51 anos)

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“Naqueles [exercícios] que eu preciso de mais força, eu preciso de mais concentração. Então eu já não consigo, se eu for conversar. Eu acho que perde um pouco da intensidade assim, da força que eu tenho que fazer”. (Rosa, 40 anos)

Apesar de a concentração ser considerada um princípio chave na prática do método, chama a atenção que os ele-mentos valorizados no ato de concentração diferem entre as participantes. Amarílis salienta a sensação de presença no momento da aula como fundamental para integração do corpo e conscientização do movimento. Liz concentra-se nas sensações de bem-estar e relaxamento decorrentes da respira-ção, incorporadas mesmo após uma aula difícil. Rosa cita a força como elemento central de sua atenção, concentrando-se na execução de exercícios mais intensos e, para que consiga realizá-los, evita a conversa.

A concentração também foi relacionada pelas participantes com relação à dificuldade e compreensão do exercício. Devido a isso, algumas participantes evitam ou interrompem con-versas durante as aulas, mesmo que consideradas agradáveis e relevantes na interação com o instrutor e com o colega, visando não perder essa concentração:

“Existem alguns exercícios na minha percepção que não precisam de tanta concentração, que depois que tu entendeu como se executa, você consegue executá-lo e também conversar alguma coisa sobre a família ou um filme que você viu. Outros exercícios a gente não consegue conversar muito durante a execução porque neles precisa de mais concentração, de respiração”. (Rosa, 40 anos)

“[...] até hoje, às vezes, eu tento entender, tá, mas o que é que eu tenho que encaixar? É colocar o peito pra dentro, a escápula encaixa, daí às vezes tu encaixa e “ah, agora que eu tó conseguindo entender o que é” [...] até por isso eu gosto mais de fazer sozinha, porque, por exemplo, se minha mãe faz junto ela fica querendo conversar, daí eu e a instrutora, a gente tem que ficar colocando ‘tá, deu, foca na aula’.” (Margarida, 32 anos)

“Eu acho que muita coordenação também [...] Porque às vezes essa questão do movimento mesmo, tu faz as coisas sem pensar, e, no Pilates, tu tem toda conscientização, a respiração né, a coordenação do movimento com a respiração. Isso no início pra mim foi bem difícil.” (Amarilis, 62 anos)

Na fala das participantes observamos que os exercícios que necessitam de mais conexões corporais tanto para ajustar o corpo como para associar o movimento à respiração, foram àqueles que demandam de maior concentração. Associar o exercício à respiração foi importante para Rosa e Amarílis no processo de incorporação da execução do movimento. Já para Margarida, o entendimento de “aonde tem que encaixar” acontece a partir de ajustes corporais necessários que vem com o tempo e com a repetição dos comandos. Margarida acrescenta que, para não perder a concentração e compreender esse processo, ela evita conversar.

Outro princípio bastante comentado e valorizado pelas par-ticipantes do estudo foi o da centralização. Esse princípio pode ser associado à atenção dada a musculatura abdominal durante as aulas de Pilates e foi considerado pelas participantes como uma características que diferencia o método de outras práticas:

“Meu foco de atenção fica nessa região abdominal e lombar, nessa cinta, que é pra flexibilizar, fortalecer, alongar toda essa muscula-tura, porque ai que reside a minha queixa, a minha dificuldade, o meu ponto frágil. Então, a gente sabe que uma musculatura abdominal forte tu segura a lombar, não deixa a lombar ir pra frente.” (Camélia, 63 anos)

“Trabalho do abdome, acho que é isso o que mais eu sinto, e a respiração, porque trabalha sempre concomitante, isso diferencia, porque alongamento muitos deles [outras práticas] fazem. Mas eu acho que o que mais se diferencia, pra mim, é o trabalho do abdome.” (Dália, 60 anos)

Camélia considera que a ênfase dada ao abdome durante os exercícios é relevante para estabilidade lombar e Dália que é algo que diferencia o Pilates de outras práticas corporais. Camélia, ao dar continuidade em sua fala, relata que a prática do método lhe viabilizou um corpo mais maleável em situações cotidianas, o que lhe possibilitou brincar com seu neto e realizar posturas da yoga sem sentir dor, o que não era possível antes de praticar Pilates. Entretanto, apesar de Camélia identificar mudanças no seu cotidiano, sua descrição da experiência não foi além de “sentir seu corpo mais preparado, descansado e recomposto”.

Diferentemente de Camélia, outras participantes des-crevem com mais detalhes uma mudança na sua percepção corporal, referindo-se a uma experiência reveladora, que vem de dentro para fora, que ocorre a partir da descoberta do “tal centro de força”, sugerindo que, para elas, o princípio da centralização é incorporado e levado ao cotidiano de forma que conseguem descrever essa experiência com mais detalhes:

“Eu sentia que a descoberta desse tal centro de força, que eu também não fazia ideia do que era, fazia com que na aula de ballet os meus exercícios rendessem mais, por exemplo, eu conseguisse saltar mais alto, e mais, o corpo mais firme e mais conectado. E conseguia fazer exercícios na barra, com o tronco também com o peso no lugar certo, não ficava aquela dificuldade de se colocar pra poder ficar numa perna só com a outra no ar. Então tudo isso, graças, creio eu, a essa descoberta do tronco todo, não só o abdome, mas que o tronco exis-tia, porque no ballet é só perna, perna, perna, e a gente não faz um trabalho específico de musculatura do tronco.” (Anabela, 29 anos)

“Eu acho que o que é mais legal, eu me lembro que as primeiras vezes que eu fiz, a sensação que eu tinha era a de que alguém tinha colocado a mão dentro do meu abdome e tinha mexido assim [...] E é interessante porque eu sinto que as mudanças são de dentro pra fora e por isso são mais duradouras assim, eu acho que isso é o mais encantador.” (Rosa, 40 anos)

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A descoberta do “tal centro de força” por Anabela durante a prática do Pilates possibilitou a sensação de um corpo conectado em outras atividades. Rosa também rela-cionou a percepção do abdome a uma sensação intrínseca e que vem de dentro para fora, de maneira que é percebida como um a sensação duradoura. Ambas descrevem sua experiência detalhando suas sensações, sugerindo que a aquisição de uma nova percepção da região do abdome foi capaz de mudar as formas de moverem seus corpos após as aulas de Pilates.

A descoberta do centro de força e a incorporação da ativação da musculatura abdominal também são levadas ao cotidiano das participantes como uma forma de autocuidado:

“Eu sinto muito na caminhada, a presença do abdome, da conexão do abdome, que quando eu não faço aula, que eu já passei alguns meses sem fazer, a minha caminhada é pesada, é difícil porque eu sinto que o corpo parece que vai todo pesando sobre as pernas, então fica difícil caminhar. Agora quando eu pratico Pilates, parece que o corpo vai pra cima, talvez essa conexão do abdome eleve a coluna, eleve o tronco, e a caminhada se torne mais leve, eu sinto muito isso, uma das coisas que eu mais percebo é na caminhada. E tu te policia, querendo ou não, tu te policia, se ficar na frente do computador, toda jogada, aí daqui a pouco tu “ah não, tenho que me alinhar”, claro que isso não dura muito tempo, mas o im-portante é que tu tá sempre buscando se alinhar e tu sabe, tu tem pelo menos um padrão pra seguir, tu sabe como é ficar alinhada”. (Anabela, 29 anos)

“Eu também não me esqueço de usar o meu abdome, de usar a força do abdome e não das minhas costas. Isso pra mim fez uma diferença muito grande. Se eu for subir ou sentar no carro, com o tempo e com a idade, tu vais percebendo as tuas limitações e tu tens que usar de outras alternativas pra fazer com que teu dia a dia seja mais leve”. (Angélica, 51 anos)

Anabela e Angélica sentem a presença de uma ativação do abdome, a qual elas percebem como sendo útil e necessária em situações do cotidiano. Para elas, essas mudanças no foco de atenção ao corpo, inicialmente apreendidas nas vivências das aulas de Pilates, têm um sentido de ser e são incorporadas em situações do cotidiano, modificando a experiência e as sensações corporais.

Outro princípio considerado relevante pelas participantes foi o controle da respiração durante a realização dos exercí-cios, possibilitando um autoajuste corporal e aprimorando a execução de movimentos:

“Eu acho que isso [respiração] pra musculatura abdominal é fun-damental [...] Se você não fizer a respiração correta na execução, que algumas vezes é automática, algumas vezes ela diz como fazer “inspira, expira”, eu acho que é uma das coisas que pra reforço é fundamental [...] De como respirar corretamente durante a exe-cução.” (Rosa, 40 anos)

“Sim, porque se tu respiras errado, tu respiras ao contrário do que é, dificulta o exercício. Alguns exercícios necessitam da respiração.” (Acácia, 54 anos)

“Cada vez indo mais e olhando para trás. No início eu não conseguia nem fazer a metade da curva [extensão da cervical] e agora eu vou até o fim, com a respiração [...] Se tu fizer a coisa de uma maneira mais pausada, tu começa a te organizar melhor.” (Angélica, 51 anos)

Conforme as falas das participantes, observamos que a respiração foi percebida e valorizada como algo que facilita o movimento e aperfeiçoa o uso do abdome. Além disso, a respiração também foi mencionada por algumas participantes como um elemento que auxilia na sensação de calma e na diminuição de estresse:

“[...] A questão da respiração é uma coisa que é importante, não só melhorou como ela trás outra série de benefícios fora do Pilates. O controle da respiração faz até com que tu te acalmes, no momento em que tu esta com estresse até fora do Pilates. Tu aprendes coisas no Pilates para aplicar no teu dia a dia.” (Angélica, 51 anos)

“Tu tem que fazer a respiração direito, que tu tem todo um tempo pra fazer o exercício, pra levantar a perna, tu sabe que não pode fazer muito rápido, tudo tem um tempo. Então isso baixa tua ansiedade.” (Liz, 51 anos)

Observamos nos relatos acima que a atenção dada à respiração é associada a uma mudança de atitude mental, tornando-a mais positiva e aprimorando o autocontrole. Elas sentem que a percepção e o controle da respiração colaboram para aterem-se ao momento presente e lidarem melhor com o estresse do cotidiano.

Os princípios da precisão e do controle foram referidos pelas participantes como a atenção dada à qualidade do mo-vimento. A precisão dos movimentos que leva ao controle de posturas na prática do Método Pilates é percebida como algo que possibilita a realização de determinado exercício:

“Então tu ficas no ar. E tu tens que ter um controle aqui [abdome], porque se tu começar a tremer aqui [abdome], tu cai. Tu tens que ter controle aqui [pelve], tu tens que fazer uma prancha. Abdome, braço e perna. Todo um controle pra ti ficar parada no ar. Só que dai ela [instrutora] vai fazendo primeiro um exercício de braço, depois nas pernas, ela faz a prancha e depois ela junta tudo. Não interessa o exercício que tu tá fazendo, do mais simplesinho ao mais difícil, ele, todo ele, tem uma função de ser. Um vai auxiliando o outro, um vai somando ao outro. Acho que é isso, um somatório. E se tu fizer bem, e se tu fizer com prazer e gostando, melhor ainda.” (Liz, 51 anos)

Liz sente prazer e satisfação pela aquisição de controle dos movimentos, o que nos leva a perceber que a incorporação da precisão ocorre a partir dos ajustes corporais que vem tanto

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da apreensão de habilidades motoras quanto da sensação subjetiva de controle decorrentes dessa experiência. O foco de atenção ao controle da postura também foi salientado pelas participantes como fundamental a manutenção do alinhamen-to corporal. Para elas, a prática do Método Pilates auxilia a se manterem mais alinhadas, eretas e simétricas. Entretanto, as maneiras que as participantes direcionam a atenção ao corpo para atingirem esse controle postural se diferem, algumas sa-lientam as sensações vindas da experiência da aula, enquanto outras se voltam às representações culturais do corpo:

“Ah, eu gosto muito da sensação do pós-aula que é de alinhamento. Tu sentes, tu sofres ali na hora pra fazer, nem sempre é tão bom, às vezes nem quer fazer, mas vem, mas chega ao final da aula tu sentes que o corpo parecia que tava todo fora do lugar e, no final da aula, a coluna tá alinhada, os ombros tão alinhados, sem tensão, sem forças extras, então é isso, é essa sensação.” (Anabela, 29 anos)

“Tem que ter postura, ficar mais ereta, mais reta. E tem que deixar o corpo mais alongado, aí ela diz pescoço de girafa. Acho assim que é porque eu tenho que me alongar.” (Liz, 51 anos)

Observamos nessas falas que Anabela refere-se à experi-ência de sentir-se alinhadas, enquanto Liz a intenção de ficar ereta e reta. Anabela sente que, após a aula, sua coluna e seus ombros “voltam para o lugar” de forma alinhada e sem tensão ou força extra. Para ela é essa sensação que é incorporada e levada ao seu cotidiano. Já na fala Liz, não fica claro se ela se percebe diferentemente com a prática do método ou se apenas valoriza esses parâmetros.

Discussão

No Método Pilates, os princípios são utilizados pelos instrutores para orientar os alunos durante as aulas. Segundo Csordas [1], as maneiras que damos atenção ao corpo e com o corpo em uma atividade, nesse caso o Método Pilates, constituem modos somáticos de atenção que, ao serem incor-porados, nos vinculam de maneiras peculiares a determinado mundo cultural. Por isso, consideramos que a percepção das participantes sinaliza como a experiência vivida em aula é internalizada e incorporada como um modo somático de atenção.

O acionamento da musculatura do abdome, ou do Po-wer House como definido por Joseph Pilates, mostrou-se como componente central na percepção das participantes para o desenvolvimento de um controle adequado do corpo. Esse controle, definido como princípio de centra-lização, também foi salientado por praticantes do Método Pilates no estudo de Adams et al. [5] como um fator impor-tante durante a prática e que altera a percepção do corpo no cotidiano. Contudo, observamos que nem todas as participantes comentaram a percepção de uma modificação dos ajustes corporais gerado pela incorporação de uma nova

forma de acionar o abdome. Assim, questionamo-nos se essas participantes incorporaram um novo ajuste corporal a partir das informações e sensações percebidas durante a aula, ou se elas apenas incorporam tais ações musculares durante a prática dos exercícios.

No Método Pilates, os exercícios têm uma estrutura de execução bem definida que preconiza determinadas quali-dades motoras, de modo que sejam precisos e que possibi-litem ao aluno um melhor controle da postura durante a sua prática [7,19]. Isacowitz & Clippinger [8] definem que o controle é um elemento primordial ao domínio de uma habilidade e definem precisão como algo que antecede o controle e diferencia o Método Pilates de outras práticas corporais. Esse controle da postura apareceu na fala das participantes de formas distintas. Algumas relataram deta-lhes das sensações geradas no corpo, as quais lhes indicavam a presença de um novo alinhamento, enquanto outras se restringiram a comentar a importância de ficarem eretas. Observamos, entretanto, que todas as participantes do estudo tem a postura retilínea como um valor e uma meta dentro da prática do Pilates, o que não é de se estranhar, uma vez que nossa cultura vincula essa postura retilínea a valores morais, estéticos e salutares [21].

A sensação de calma e de diminuição do estresse de-correntes da atenção dada à respiração foi outra percepção salientada pelas participantes do presente estudo. No estudo de Adams et al. [5], os participantes também destacaram que tomar consciência da respiração durante a prática do Pilates proporciona uma sensação de calma e de bem estar, aliviando o estresse do cotidiano. A respiração, no Método Pilates, é utilizada de maneira controlada e dirigida pelo instrutor de acordo com o ritmo e a dinâmica de cada exercício [8,19]. A experiência e o treino de determinados padrões de respiração sugerem, portanto, a incorporação de uma maior atenção à respiração e a percepção de sua relação com os estados corporais, o que pode contribuir para a autorregulação em situações do cotidiano.

Dos princípios do Método Pilates, o da fluidez foi o menos citado, sugerindo uma menor percepção e incorpo-ração por parte das praticantes. A fluidez no método é dada pelo sequenciamento dos exercícios, de forma a realizar as transições em cada movimento de maneira harmônica, não demasiadamente rápido e nem demasiadamente lento [17]. Acreditamos que isso se deva ao método ser uma prática que necessite de um direcionamento da atenção a muitos outros ajustes e, por isso, a fluidez não seja tão enfatizada, estando o foco de atenção das alunas direcionado aos demais princípios do método.

Por fim, temos o princípio da concentração que, como vimos, foi o princípio mais valorizado do método pelas entrevistadas. Segundo Joseph Pilates, “você adquire primeiro o controle completo do corpo e depois, com repetições apropriadas dos exercícios, adquire gradual e progressivamente um ritmo natural e a coordenação associada às atividades do subconsciente” [22].

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2136

Semelhante à afirmação de Pilates, identificamos na fala das participantes a percepção da necessidade de concentração às sensações corporais, ou seja, de um direcionamento da atenção para si, como um pré-requisito para desenvolverem um controle do corpo que vai sendo incorporado com o tempo e utilizado nas aulas e nas situações do cotidiano. A conscientização das ações musculares, da respiração e da conexão dos segmentos corporais foi valorizada pelas participantes tanto como algo que acreditam melhorar a saúde e a postura quanto como um elemento que sentem alterar a sua experiência corporal durante atividades de cotidiano como caminhar, subir escada e entrar no carro.

Para Denovaro [10], o Método Pilates é uma prática que possibilita a aprendizagem de novas formas de se movimen-tar e amplia a percepção e consciência do movimento. Essa afirmação está presente na fala das entrevistadas, que perce-bem benefícios do método no seu cotidiano, cada uma a sua maneira. Como vimos, algumas trazem uma percepção mais plena; enquanto outras, apenas percebem essa transferência para atividades cotidianas de maneira pontual.

O princípio da concentração se aproxima da definição de modos somáticos de atenção de Csordas [1], tanto na definição teórica de autores que definem esse princípio [6,17] quanto pela fala da maioria das entrevistadas e sua relação com a modificação da percepção no cotidiano. Percebemos que não há uma forma única de direcionar a atenção no Método Pilates, cada entrevistada trouxe-o a sua maneira e, como relatamos em alguns casos, a transferência dos princípios do método para o cotidiano parece depender da valorização ou não desses princípios e dos objetivos do aluno.

Conclusão

Iniciamos este artigo com a finalidade de conhecer e compreender como os princípios que caracterizam o Método Pilates são incorporados e verbalizados constituindo-se em modos somáticos de atenção. Os princípios de concentração, centralização, respiração e controle foram os mais citados como qualidades adquiridas e pareceram depender de um estado de atenção aos processos internos do organismo para que pudessem ser percebidos e incorporados nas aulas e, para algumas participantes, em algumas situações do cotidiano. Por outro lado, os princípios de fluidez e precisão não aparecem de forma tão clara nas falas, sendo aparentemente secundários para as praticantes entrevistadas.

Dentre os princípios que regem a prática do método, consideramos que o de concentração permite ao praticante desenvolver uma melhor atenção ao corpo e com o corpo, sendo um elemento central para a percepção e incorporação de novos modos somáticos de atenção. Na fala das partici-pantes do estudo, o princípio de centralização foi associado principalmente a um melhor ajuste da postura, a respiração mais controlada a uma sensação de calma e de alívio do estresse e o controle e precisão do movimento a sensação de satisfação e bem-estar.

Concluímos que o Método Pilates pode ser visto como uma prática que estimula uma consciência corporal e o auto-cuidado, possibilitando que o praticante valorize suas sensações, incorporando uma nova forma de perceber-se de colocar-se no mundo. É pertinente dizer que a realização de outros estudos faz-se necessário para que se aprimore o conhecimento sobre o Método Pilates e se compreenda melhor as maneiras que esse método está sendo compreendido, conduzido e praticado.

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Desenvolvimento e validação de um método de avaliação do nível de prática no método Pilates por meio de exercícios do próprio métodoDevelopment and validation of a evaluation method of the practice level of Pilates method through exercises of the method itself

Giselen Benedetti, Ft.*, Claudia Tarrago Candotti, Ft., D.Sc.**, Kaanda Nabilla Souza Gontijo, Ft., M.Sc.***, Gabriela Manosso Bampi, Ft., M.Sc. ****, Jefferson Fagundes Loss, Ft., D.Sc.**

*Especialista em Pilates pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, **Docente do Curso de Fisioterapia e do Programa de Pós--Graduação em Ciências do Movimento Humano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), ***Mestre em Ciências do Movi-mento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul), ****Mestre em Biotecnologia pela Universidade de Caxias do Sul

ResumoEmpiricamente, a avaliação do nível do praticante iniciante de

Pilates pode demorar mais de uma aula/sessão devido à carência de instrumentos capazes de fornecer avaliações fidedignas. O objetivo deste estudo foi desenvolver e validar o Método de Avaliação do Nível de prática no Método Pilates (MANiPilates). A validação de conteúdo foi realizada por seis expert. A validação de constructo foi testada com 20 indivíduos de níveis distintos, utilizando o teste t independente. A reprodutibilidade foi testada com 30 indivíduos, utilizando ICC, teste t-pareado, ANOVA one-way, coeficiente Kappa (k) e % de concordância (C) (p < 0,05). Os resultados de-monstraram que o MANiPilates: 1) foi considerado muito adequado por quatro experts, 2) apresenta excelentes níveis de reprodutibilidade intra e inter-avaliador (k = 1; C = 100%) e 3) apresenta validade de constructo. Conclui-se que o MANiPilates é capaz de fornecer informação confiável sobre o nível de prática, podendo auxiliar no processo de avaliação e acompanhamento de um treinamento. Palavras-chave: avaliação, nível de prática e reprodutibilidade, validação.

Artigo original

Abstract Empirically, the evaluation of the beginner level of Pilates

practitioner may take more than one class/session due to lack of instruments able to provide reliable assessments. The aim of this study was to develop and validate the Method of Evaluation Level in practice of Pilates Method (MANiPilates). The content validation was performed by six experts. The construct validation has been tested with 20 persons of different level, using the independent t test. Reproducibility was tested with 30 subjects, using ICC, paired t-test, one-way ANOVA, Kappa coefficient (k) and % agreement (C) (p < 0.05). The results showed that the MANiPilates: 1) was found very suitable for four experts and 2) exhibits excellent levels of intra-and inter-rater reliability (k = 1; C = 100%) and (3) it sho-ws construct validity. We conclude that the MANiPilates is able to provide reliable information on the level of practice and may assist in the evaluation and monitoring of a training process.Key-words: evaluation, level in practice, reliability, validation.

Endereço para correspondência: Cláudia Tarragô Candotti, Rua Fernando Osório, 1887 Bairro Teresópolis 90720-330 Porto Alegre RS, E-mail: [email protected]

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2138

Introdução

Atualmente, o Método Pilates é referido como sendo uma técnica dinâmica de exercícios mente-corpo que trabalha força, flexibilidade, atenção ao controle muscular, postura e respiração, preocupando-se, ainda, em manter as curvaturas fisiológicas do corpo enquanto foca o abdome como o centro de força em todos os exercícios [1,2].

A maioria dos exercícios do Método Pilates é executada na posição deitada, seja no solo ou em aparelhos, diminuindo os impactos nas articulações de sustentação do corpo. Estes exercícios são rotineiramente divididos em níveis: básico, intermediário e avançado. O nível básico inclui um programa de exercícios que fortalece a musculatura abdominal e paraver-tebral trabalhando a flexibilidade da coluna, além de conter exercícios gerais para o corpo todo. Já nos níveis intermediário e avançado são introduzidos, gradualmente, exercícios de extensão do tronco e outros para o corpo todo, procurando melhorar a relação de equilíbrio agonista-antagonista [3-5].

Assim, como em qualquer outra forma de prática de exer-cícios físicos, o indivíduo, para iniciar um programa de trei-namento no Pilates, necessita de uma avaliação que permita identificar seu nível de prática, a fim de que seu treinamento possa ser corretamente prescrito. Nesse sentido, entende-se como necessária a realização de estudos que visem à proposição de rotinas de avaliação, baseadas em princípios cinesiológi-cos e biomecânicos, que privilegiem o aspecto dinâmico do Método, avaliando os praticantes de forma mais fidedigna e ágil. Acredita-se que de posse de informações dessa natureza, os instrutores de Pilates poderão planejar a evolução do trei-namento de forma menos empírica e favorecer ainda mais a evolução do desempenho do aluno. Assim, o presente estudo teve como objetivos: 1) apresentar o Método de Avaliação do Nível de prática no Método Pilates (MANiPilates); 2) realizar a validação de conteúdo; 3) verificar sua reprodutibilidade in-ter e intra-avaliadores; e (4) realizar a validação de constructo do instrumento proposto.

Material e métodos

Apresentação do MANiPilates

O Método de Avaliação do Nível de prática do Método Pi-lates (MANiPilates), consiste em uma filmagem de indivíduos, individualmente, realizando uma sequência de 6 exercícios executados no Mat Pilates seguida do registro das pontuações obtidas pelo praticante, mediante o preenchimento da plani-lha avaliativa que acompanha o instrumento. A sequência dos exercícios escolhidos baseou-se no Método Pilates segundo a formação da escola Polestar® Education e encontra-se descrita na Figura 1 [5-7].

Na planilha de pontuação que acompanha o instrumento (Figura 2), cada exercício é composto por critérios que deve-rão ser observados durante as suas execuções. Avaliando cada

um destes critérios, o instrutor que utilizar o MANiPilates, deverá, então, assinalar com um “x” na planilha o critério que observar que está sendo realizado pelo praticante. Enquanto preenche a planilha de pontuação, o instrutor deverá ainda considerar apenas a terceira, quarta e quinta repetições de um total de seis repetições executadas sequencialmente pelo praticante filmado.

Após o preenchimento da planilha, a pontuação final (PF) do aluno será dada pela Equação 1, onde: Ʃ total de pontos é igual a soma de todos os pontos obtidos em cada um dos seis exercícios do MANiPilates. A PF deve ser utilizada para identificar em qual nível o aluno avaliado estará enquadrado: Básico (caso a PF fique entre 0 e 3,0); Intermediário (caso a PF fique entre 3,1 e 5); ou Avançado (caso a PF fique entre 5,1 e 6,1).

Pontuação Final (PF)= ∑total de pontos 6

Validação de conteúdo

Seis instrutoras experts no Método Pilates, com formação de 400 horas/aula e com o mínimo de um ano de atuação profissional, foram convidadas a participar da validação de conteúdo do MANiPilates. Essas avaliadoras receberam para apreciação: a filmagem de uma voluntária executando a sequência dos seis exercícios que compõe o MANiPilates, o quadro de apresentação do instrumento e a sua planilha de pontuação, contendo as instruções de utilização. Foi solicitado às avaliadoras que: 1) preenchessem a planilha de pontuação a partir da observação da filmagem; e 2) respondessem um questionário de validação composto por quatro perguntas objetivas. Primeiramente, as perguntas foram referentes à clareza, facilidade de entendimento e aplicabilidade do modelo da planilha de pontuação do instrumento, tanto de forma geral como específica, mediante a análise de cada exercício separadamente. Secundariamente, elas se referiam, à capacidade de visualização e avaliação do nível de prática a partir da filmagem realizada seguindo os critérios definidos. Por fim, além dessas perguntas, as avaliadoras puderam acres-centar sugestões e propuseram modificações no instrumento de maneira descritiva.

De posse dessas respostas, foram realizadas modificações na planilha de pontuação do MANiPilates, seguindo as su-gestões e modificações feitas pelas mesmas. E, para finalizar o processo de validação de conteúdo, foi solicitado às avaliado-ras que avaliassem a nova planilha de pontuação, a partir da observação da mesma filmagem da voluntária. Para tanto, as avaliadoras deveriam responder uma segunda vez ao mesmo questionário de validação.

Avaliação da reprodutibilidade inter e intra--avaliadores

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Figura 1 - Apresentação dos seis exercícios que compõem o MANiPilates.

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2140

Figura 2 - Modelo da Planilha de Pontuação do instrumento MANiPilates utilizada para avaliar o nível de prática do praticante do Método Pilates.

Trinta praticantes do Método Pilates de todos os níveis de prática, da cidade de Caxias do Sul/RS, com idades entre 18 e 49 anos, foram selecionados intencionalmente. Os critérios de inclusão foram: estarem praticando o Método Pilates indepen-

dente do tempo de prática, possuírem boas condições físicas e ou liberação médica para a prática (essa liberação também foi necessária para mulheres puérperas com tempo de gestação inferior a seis meses). Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê

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de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) sob o número CAAE 20408113.6.0000.5347.

Nesta fase, foram convidadas para analisarem os 30 vídeos coletados, quatro pesquisadoras (denominadas Pesq1, Pesq2, Pesq3 e Pesq4), as quais eram fisioterapeutas e instrutoras de Pilates. As quatro pesquisadoras avaliaram, separadamente, todas as filmagens em um primeiro dia, sem que houvesse contato entre elas, e tiveram suas respostas comparadas entre si para verificar a reprodutibilidade inter-avaliador do MANiPilates. Sete dias depois, uma delas reavaliou todas as filmagens, para a verificação, então, da reprodutibilidade intra-avaliador do instrumento, possibilitada pela comparação das suas respostas antes e depois desse período [8].

Validação de constructo

A última etapa do estudo consistiu na validação de cons-tructo. Para esse procedimento foram convidados a participar: (1) dez praticantes de Pilates de nível avançado (todos tam-bém instrutores do Método) e (2) dez indivíduos que nunca praticaram Pilates, ambos da cidade de Caxias do Sul-RS. Os indivíduos foram divididos em dois grupos: avançados e iniciantes, respectivamente, filmados uma única vez e por um único avaliador (Pesq1) realizando a sequência de exercícios do MANiPilates. Para análise, os vídeos foram sorteados, de modo que a análise dos vídeos foi aleatória, realizada por outro avaliador (Pesq2), o qual não tinha conhecimento de qual grupo pertencia o indivíduo que estava avaliando.

Os resultados obtidos pelos dois grupos foram comparados entre si, para que se pudesse avaliar a sensibilidade do MANi-Pilates em distinguir o padrão de realização de cada exercício entre sujeitos que não detêm um conhecimento específico (não praticantes) e sujeitos detentores de um conhecimento sobre o Método (nível avançado).

Tratamento estatístico

O tratamento estatístico foi realizado no software SPSS versão 17, sendo primeiramente verificada e confirmada a normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk. Para a análise de conteúdo, as respostas objetivas das seis avaliadoras convi-dadas foram codificadas e submetidas à estatística descritiva, por meio de tabela de frequência. Para a análise da reprodu-tibilidade inter-avaliador e intra-avaliador foram utilizados o Coeficiente de Correlação Intra-classe (ICC), o teste t--pareado, a ANOVA one way, o percentual de concordância (C) e a medida de concordância Kappa de Cohen (k). Para a análise de constructo foi utilizado o teste t para amostras independentes e o teste U Mann-Whitney.

Os valores de ICC foram classificados em fracos (ICC < 0,40), moderados (ICC entre 0,4 e 0,75) e excelentes (ICC > 0,75) [9]. Os valores Kappa foram classificados em “fraco” (k ≤ 0,2), “razoável” (k de 0,21 a 0,4), “moderado” (k de 0,41 a 0,6), “substancial” (k de 0,61 a 0,8) e “quase perfeito”

(k ≥ 0,81) [10]. O nível de significância estatística adotado foi de 0,05.

Resultados

A validação de conteúdo, realizada pelas seis avaliadoras, apresentou inicialmente resultados que indicaram a neces-sidade de melhorias no instrumento, pois somente uma avaliadora o considerou, de forma geral, “muito adequado” quanto ao quesito “clareza, facilidade de entendimento e aplicabilidade do modelo da planilha de pontuação do ins-trumento” (questão 1 do questionário de validação) (Tabela I). Depois de implementadas as melhorias, contemplando todas as sugestões, o MANiPilates foi alterado não somente em seu conteúdo, mas também na sua estrutura. Nessa 2ª fase de avaliação, quatro avaliadoras o consideraram, de forma geral, “muito adequado” quanto ao quesito “clareza, facilidade de entendimento e aplicabilidade do modelo da planilha de pontuação” (Tabela I).

Tabela I - Frequência das respostas das seis avaliadoras referente aos resultados do processo de validação de conteúdo das 1ª e 2ª versões do MANiPilates.

1ª Versão 2ª VersãoMA A PA MA A PA

Quanto à Planilha de pontu-ação: Clareza; Facilidade de entendimento; Aplicabilidade.

1 3 2 4 2 0

Quanto ao vídeo: Capacidade de visualização; Capacidade de avaliar o nível de prática.

3 1 2 4 1 1

MA = muito adequado; A = adequado; PA = pouco adequado

A necessidade de melhorias foi também identificada no quesito “objetividade do instrumento” (questão 2 do questio-nário de validação). Somente duas avaliadoras consideraram o modelo da planilha de pontuação capaz de avaliar o nível de prática no Método. As outras quatro avaliadoras consideraram que a planilha somente “em parte” seria capaz de avaliar o nível de prática e sugeriram que esta deveria possibilitar uma pontuação individual para cada critério, em cada exercício. Depois de realizada esta modificação sugerida, na 2ª versão, esse quesito, foi considerado “muito adequado” por quatro das seis avaliadoras, sendo que as duas que continuavam considerando que planilha somente “em parte” é capaz de avaliar o nível de prática, não deram nenhuma nova sugestão de melhoria (Tabela I).

Ao questionar o quesito “clareza, facilidade de entendi-mento e aplicabilidade do modelo da planilha de pontuação do instrumento”, separadamente, da 1ª versão do MANiPi-lates (questão 3 do questionário de validação), verificou-se que: 1) apenas uma avaliadora considerou o exercício “The Hundred” “muito adequado”; e 2) somente duas avaliadoras

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2142

consideraram os exercícios “Roll Up” e “Push Up” “muito adequados”, o que justificou a realização das melhorias no instrumento (Figura 3).

Figura 3 - Frequência das respostas das seis avaliadoras referentes à validação de conteúdo da 1ª versão (a) e da 2ª versão (b) do MANiPilates.

(b)

Muito adequadoAdequadoPouco adequado

6

5

4

3

2

1

0Nº

aval

iado

ras

(inst

ruto

ras

expe

rts)

The Hudred Roll up Swan I Side kick Saw Push up

Muito adequadoAdequadoPouco adequado

6

5

4

3

2

1

0Nº

aval

iado

ras

(inst

ruto

ras

expe

rts)

The Hudred Roll up Swan I Side kick Saw Push up

(a)

Para melhoria, então deste quesito, as avaliadoras sugeri-ram que fossem acrescentados: dois novos critérios ao exercício “The Hundred” (observar se há abaulamento do músculo Reto Abdominal e observar se o praticante mantém a pelve neutra); um novo critério ao exercício “Roll Up” (observar se há abau-lamento do músculo Reto Abdominal); e um novo critério ao exercício “Push Up” (observar se os cotovelos estão próximos ao tronco e fletidos a 90º ou mais). Logo após implemen-

tadas essas melhorias, na 2ª versão do MANiPilates, quatro avaliadoras consideraram os exercícios “The Hundred” e “Roll Up” “muito adequados” e cinco avaliadoras consideraram o exercício “Push Up” “muito adequado” (Figura 3).

Por fim, na 1ª versão do MANiPilates, quanto ao quesito “avaliação do nível de prática através de filmagem” (questão 4 do questionário de validação), três avaliadoras consideraram “muito adequado” e duas avaliadoras consideraram “pouco adequado” a utilização de filmagem associada à planilha de pontuação (Tabela I). Na 2ª versão do MANiPilates o quesito “avaliação do nível de pratica através de filmagem” foi con-siderado “muito adequado” por quatro avaliadoras e “pouco adequado” por apenas uma avaliadora (Tabela I).

Diante do resultado favorável da maioria das avaliadoras para os quesitos (1) clareza, facilidade de entendimento e aplicabilidade do modelo da planilha de pontuação do instrumento; (2) objetividade; e (3) avaliação do nível de pratica através de filmagem, considerou-se que o MANiPilates apresenta validade de conteúdo, podendo, assim, passar para a segunda fase do estudo.

A Tabela II apresenta os resultados de tendência central e dispersão da pontuação de cada um dos exercícios do MANi-Pilates para cada uma das pesquisadoras, sintetizando a análise da reprodutibilidade inter e intra-avaliadores. A comparação das pontuações dadas pelas pesquisadoras (Pesq1, Pesq2, Pesq3 e Pesq4), utilizando a ANOVA, demonstrou que não existe diferença significativa (p = 0,156) entre as pontuações das quatro pesquisadoras. Do mesmo modo, a comparação das pontuações dadas pela Pesq4 nos dois momentos de avaliação (1º dia e 7 dias após), utilizando o teste t pareado, demonstrou que não existe diferença significativa (p = 0,877) entre as pontuações dos dois dias.

A Tabela III apresenta os resultados de reprodutibilidade da pontuação de cada exercício, obtidos por meio do Coefi-ciente de Correlação Intra-Classe (ICC). Pode-se observar que todos os resultados de reprodutibilidade intra e inter-avaliador foram classificados em excelentes (ICC > 0,75), bem como os resultados da pontuação total do MANiPilates.

Tabela II - Resultados de média e desvio padrão das pontuações de cada um dos exercícios do MANiPilates, para cada uma das pesquisadoras (Pesq1, Pesq2, Pesq3 e Pesq4).

ExercícioPesq1

Média (DP)Pesq2

Média (DP)Pesq3

Média (DP)Pesq4

Média (DP)

Pesq4 (após 7 dias)

Média (DP)The Hunded 5,8 (1,2) 4,7 (1,179) 6,1 (0,9) 5,1 (1,2) 5,3 (1,3)Roll Up 2,2 (1,6) 3,0 (1,721) 3,3 (1,6) 3,2 (1,5) 3,3 (1,7)Swan I 3,3 (1,7) 3,5 (1,634) 4,4 (1,4) 4,0 (1,7) 4,2 (1,6)Side Kick (Front Back) 4,2 (1,6) 3,7 (1,617) 5,0 (1,3) 3,9 (1,9) 4,0 (2,0)Saw 3,0 (1,1) 2,6 (1,497) 3,4 (1,5) 3,0 (1,2) 3,0 (1,2)Push Up 3,3 (2,3) 3,4 (2,622) 3,2 (2,8) 4,1 (2,1) 3,7 (2,4)Pontuação total 21,8 (7,5) 21,0 (9,1) 25,4 (7,1) 23,3 (8,7) 23,4 (9,1)

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143Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

Tabela III - Resultados de reprodutibilidade inter-avaliador e intra-avaliador para a pontuação de cada exercício do MANiPilates, obtidos por meio do Coeficiente de Correlação Intra-Classe (ICC).Exercícios do MA-

NiPilatesReprodutibilidade

Inter-avaliadorReprodutibilidade

Intra-avaliadorPesq1 x Pesq2 x Pesq3 x Pesq4

Pesq4 x Pesq4 (após 7 dias)

ICC Valor p ICC Valor pThe Hunded 0,825 <0,01 0,962 <0,01Roll Up 0,931 <0,01 0,913 <0,01Swan I 0,920 <0,01 0,948 <0,01Side Kick (Front Back)

0,945 <0,01 0,984 <0,01

Saw 0,931 <0,01 0,896 <0,01Push Up 0,924 <0,01 0,908 <0,01Pontuação total 0,981 <0,01 0,982 <0,01

Quanto ao nível de prática, cada pesquisadora utilizou o valor da pontuação total individual para determinar o nível que cada sujeito foi classificado. Para verificar a concordância entre a classificação do nível de prática dado por cada pes-quisadora, foram realizadas seis combinações (Pesq1xPesq2; Pesq1xPesq3; Pesq1xPesq4; Pesq2xPesq3; Pesq2xPesq4; Pes-q3xPesq4) com os resultados do nível de prática, utilizando o Coeficiente Kappa. Todas as combinações produziram resultados idênticos (k = 1; C = 100%), pois cada nível de prática prevê uma variação de pontuação. Assim, diferentes pontuações podem classificar um mesmo nível de prática.

Por fim, dentre todos os participantes da amostra da fase da reprodutibilidade, 23,4% (n = 7) foram classificados no nível Básico, 50% (n = 15) no nível Intermediário e 26,6% (n = 8) no nível Avançado. Essa classificação foi comum a todas as quatro pesquisadoras.

Os resultados referentes ao procedimento de validade de constructo estão apresentados na Tabela IV. O grupo do nível avançado apresentou resultados estatisticamente superiores para todos os exercícios e na pontuação geral do MANiPilates em comparação ao grupo do nível iniciante. Quando com-parado os níveis de prática atribuídos a partir da pontuação do MANiPilates, utilizando o teste U Mann-Whitney, as medianas (amplitude) foram de 5,7 (5,6 a 6,0) e 0,8 (0,5 a 1,0) para o grupo avançado e o grupo iniciante, respectiva-mente, sendo significamente diferentes (p < 0,001) entre si.

Tabela IV - Média e desvio padrão da pontuação do MANiPilates para os grupos de nível avançado e nível iniciante e resultado do teste t independente para a validação de constructo.

Exercícios do MANiPilates

Grupo de nível avan-

çado(n = 10)

Grupo de ní-vel iniciante

(n = 10)Valor p

The Hunded 7,0 ± 0,0 1,7 ± 0,8 < 0,001Roll Up 4,4 ± 0,5 0,5 ± 0,5 < 0,001Swan I 5,6 ± 0,5 0,1 ± 0,3 < 0,001

Side Kick (Front Back)

6,0 ± 0,00 0,6 ± 0,5 < 0,001

Saw 4,7 ± 0,4 1,0 ± 0,8 < 0,001Push Up 6,5 ± 0,9 0,6 ± 0,6 < 0,001Pontuação total 34,2 ± 1,2 4,5 ± 0,9 < 0,001

Discussão

O objetivo do presente trabalho foi desenvolver e apre-sentar o MANiPilates como um instrumento para avaliar o nível de pratica no Método. Os resultados demonstram que o instrumento, foi considerado muito adequado por quatro avaliadoras experts que o avaliaram previamente, na fase de validação de conteúdo. Na análise de reprodutibilidade intra--avaliador e inter-avaliador, os resultados foram classificados em excelentes e na análise de constructo, o instrumento demonstrou capacidade de diferenciar os diferentes níveis de prática. Estes resultados indicam que o MANiPilates, na ínte-gra, permite avaliar o nível de prática do praticante de Pilates.

A respeito da avaliação do exercício The Hundred, ressalta--se que, seguindo os critérios avaliativos definidos pelo MA-NiPilates (45º de angulação pélvica e posicionamento neutro da pelve durante as repetições) fora encontrada entre as res-postas das pesquisadoras uma pequena diferença. Acredita-se que esta diferença esteja relacionada aos aspectos subjetivos de avaliação inerente à opinião de cada avaliadora, já que a visualização de ambos os critérios citados não é medida quantitativamente durante a utilização do instrumento e precisa ser feita a olho nu. Logo, para auxiliar nesta avaliação, foram acrescentadas às fotos da planilha de pontuação uma representação gráfica dessas medidas (Figura 4). Outro aspecto ressaltado é que, no intuito de aprimorar o entendimento do critério relativo à região torácica do avaliado, foi inserida na planilha de pontuação do MANiPilates a seguinte frase: “elevando as escápulas do chão” ao lado do mesmo, para fa-cilitação do seu entendimento (Figura 4). Por fim, salienta-se uma importante instrução ao instrutor que vier a utilizar o MANiPilates: quando for avaliar o abaulamento do músculo Reto Abdominal neste exercício especificamente, ter cautela ao classificar o avaliado, pois, devido à gordura abdominal de alguns indivíduos, esta classificação pode se tornar difícil.

Não obstante, considerando a inexistência na literatura de outros instrumentos com características semelhantes às do MANiPilates e, considerando a importância de rotinas de avaliação, baseadas em princípios cinesiológicos e biomecâni-cos, que privilegiem o aspecto dinâmico do método estudado, entende-se como necessário a classificação do nível de prática do praticante do Método Pilates de forma menos empírica, favorecendo assim, a evolução do treinamento do aluno. Dessa forma, tendo como base outro instrumento, desenvolvido e validado para uma população específica (praticantes de ballet clássico) – Método de Avaliação Dinâmica do Alinhamento Articular dos Membros Inferiores de Bailarinos durante o passo plié do ballet clássico ou MADAAMI [11] – entende-

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2144

Figura 4 - Aprimoramentos da planilha de pontuação incluídos na avaliação do exercício The Hundred: 1) inserção dos referencias angulares em cor branca e 2) inserção de um complemento à questão (salientada no segundo critério apresentado na figura, pelo re-tângulo preto).

-se que o MANiPilates caracteriza-se como um instrumento que pode auxiliar diretamente os instrutores de Pilates a avaliarem seus praticantes de forma mais fidedigna e ágil e a acompanharem sua evolução no processo de treinamento.

Destaca-se ainda, que os exercícios do Método Pilates pos-suem poucas contraindicações, podendo ser realizados por indi-víduos com diferentes finalidades, sejam elas condicionamento físico, treinamento de atletas ou reabilitação [12,13]. Logo, devido a essa diversidade de público praticante, acredita-se ser necessário o desenvolvimento de instrumentos avaliativos como o apresentado no presente estudo, o qual permite identificar metodologicamente o nível de prática do praticante de Pilates, a fim de que seu treinamento possa ser corretamente prescrito e acompanhado pelos profissionais envolvidos.

Por fim, cabe ressaltar que a amostra do estudo contem-plou indivíduos dos três níveis de prática, sendo a maior porcentagem no nível intermediário (50%), o qual, justa-mente por estar entre o básico e o avançado, pode ser mais dependente da subjetividade do avaliador. No entanto, os resultados demonstram que a subjetividade das pesquisadoras embora contemplada na pontuação, não se refletiu no nível de prática. Os resultados da validação de constructo reforçam ainda mais a habilidade do MANiPilates em avaliar e classificar corretamente os indivíduos quanto ao seu nível de prática. Portanto, entende-se que o MANiPilates é um instrumento avaliativo capaz de identificar os diferentes níveis de prática, considerando as subjetividades dos avaliadores.

Conclusão

O MANiPilates foi considerado válido e reprodutível por apresentar índices excelentes de reprodutibilidade intra e inter--avaliador. O instrumento demonstrou, ainda, ter um caráter avaliativo acessível e simples, podendo ser facilmente aplicado

para auxiliar 1) no processo de avaliação do nível de prática do praticante do Método Pilates e 2) no desenvolvimento e acom-panhamento de um treinamento prescrito de forma correta.

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Comparação da cinemática e da atividade muscular de joelho e tornozelo entre três exercícios de footwork do Método PilatesComparison of muscle activity and kinematics of knee and ankle among three footwork exercises of the Pilates Method

Isabel C.N. Sacco*, Ivye L.R. Pereira, M.Sc.**, Bergson W.C. Queiroz**, Daniella R. Gomes, Ft.**

*Professora Associada, Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina da Universi-dade de São Paulo, São Paulo/SP, **Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo/SP

ResumoBuscamos descrever e comparar a cinemática angular de joelho e

tornozelo e os padrões de atividade muscular de membro inferior de 3 formas de execução do “footwork” do Método Pilates Posição Arco (PA), Posição Calcanhar (PC) e Posição em V (PV). Vinte e cinco adultos praticantes de Pilates executaram as 3 formas do footwork. Durante as fases de flexão e extensão de joelhos, foram calculadas as integrais dos envoltórios lineares do sinal EMG de vasto medial (VM), bíceps femoral (BF), gastrocnêmio lateral (GL), tibial ante-rior (TA) e fibular longo (FL); os índices de co-contração BF/VM e TA/GL; e a variação angular de joelho e tornozelo. Observamos menores amplitudes de movimento de tornozelo na PC em relação às demais posições. O BF ativou significativamente menos na PV em relação à PA durante a fase de extensão e flexão em relação aos outros dois padrões. A ativação de VM foi menor em PV em relação à PC. A co-contração de BF/VM foi significativamente menor em PV durante a fase de flexão. A PC gerou atividade significativamente maior de TA em relação aos outros padrões na fase de extensão e de flexão e maior atividade de FL e GL na fase de flexão. Todos os padrões permitem a ativação de agonistas e antagonistas de joelho simultaneamente, possibilitando, por meio dessa co-contração, uma melhor estabilização dessa articulação, muito embora na posição em V haja menor co-contração de VM e BF. A PC parece ser a melhor alternativa em um tratamento de fortalecimento e estabilização de tornozelo. Palavras-chave: eletromiografia, joelho, tornozelo, Pilates, exercício.

Artigo original

AbstractThe aim was to describe and compare the knee and ankle

kinematics and EMG patterns of lower limb muscles in 3 ways of performing the “footwork” of Pilates Method: Arc Position (PA), Heel Position (PC) and Position V (PV). Twenty-five adults experts in Pilates practice performed 3 forms of footwork. During knee flexion and extension phases, we calculated the integral of the linear envelops of the EMG signal of vastus medialis (VM), biceps femoris (BF), lateral gastrocnemius (LG), tibialis anterior (TA) and peroneus longus (PL); co-contraction indexes of BF/VM and TA/GL; and the kinematics of knee and ankle. We observed smaller ankle range of motion in PC exercise compared to the others. The BF activated significantly less in the PV compared to the PA du-ring both extension and flexion phases compared to the other two patterns. The VM activity was lower in PV compared to PC. The co-contraction of BF/VM was significantly lower in PV during the flexion phase. The PC produced significantly greater activity of TA compared to other patterns in both extension and flexion phases and showed increased activity of PL and LG in the flexion phase. All exercises variations allowed a proper simultaneous activation of agonist and antagonist of knee muscles, allowing a better stabiliza-tion of this joint, although in the PV there is less co-contraction of VM and BF. The PC seems to be the best alternative for strengthen and stabilize the ankle joint.Key-words: electromyography, knee, ankle, Pilates, exercise.

Recebido em 24 de outubro de 2014; aceito em 30 de abril de 2015. Endereço para correspondência: Isabel C. N. Sacco, Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Rua Cipotânea, 51 Cidade Universitária 05360-160 São Paulo SP, E-mail: [email protected]

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2146

Introdução

A prática do Método Pilates tem sido muito procurada por pessoas que buscam uma melhora na sua qualidade de vida por meio da atividade física. Nos Estados Unidos foi es-timado um aumento do número de praticantes deste método de 5.000 para 5.000.000 de pessoas em uma década [1]. O Método Pilates vem sendo utilizado em múltiplos campos, desde o condicionamento físico até a reabilitação, abrangendo reeducação postural, ortopedia, geriatria, neurologia e outras áreas [2-5]. Este método caracteriza-se por trabalhar de forma intensa a musculatura abdominal, enquanto procura fortalecer e alongar as outras partes do corpo, através de exercícios de baixo impacto, com baixo número de repetições para cada tipo de exercício.

No total, o Método Pilates contém cerca de 500 exercí-cios que podem ser divididos em duas grandes categorias: os exercícios de mat, realizados no solo em um colchonete (mat), e os exercícios de aparelhos, os quais são dotados de molas e polias para proverem resistência [6].

Dentre os objetivos posturais do Método Pilates está a correção de desvios de alinhamento de joelho e tornozelo [7], para cuja correção têm importância destacada os exercícios conhecidos em inglês como footwork, e que são executados no aparelho reformer com o indivíduo em decúbito dorsal apoiando os pés em uma barra cilíndrica de 3 a 5 cm de diâmetro, e empurrando esta barra com os pés [8,9]. Estes exercícios procuram fortalecer os membros inferiores, ao mesmo tempo em que aumentam a percepção do alinhamento corporal, enfatizando o alinhamento correto dos membros inferiores em relação ao tronco, e procurando corrigir os desvios de joelho e tornozelo, através das instruções verbais e do feedback tátil do instrutor de Pilates [8,9]. Estes são executados em três padrões básicos: Posição em V, Posição Arco e Posição Calcanhar.

Os exercícios de cadeia fechada são frequentemente re-comendados nos protocolos de reabilitação, por simularem movimentos funcionais e por promoverem a co-contração da musculatura agonista e antagonista, aumentando a esta-bilização articular e diminuindo as forças de cisalhamento [10,11]. Esta co-contração tem o efeito de aumentar a rigidez da articulação, sendo a maneira mais útil quando precisão e estabilização articular são necessárias. Os exercícios do foo-twork classificam-se como de cadeia cinética fechada, pois o segmento distal do membro inferior se mantém fixo; enquanto o tronco é deslocado. Porém, o apoio dos pés em uma barra cilíndrica permite maiores graus de liberdade de movimento para a articulação do tornozelo e pé, tendo repercussões na movimentação e alinhamento das articulações subsequentes de joelho e quadril.

Exercícios em cadeia cinética fechada (agachamento e leg press horizontal) promovem uma maior co-contração dos músculos isquiotibiais e quadríceps femoral em relação aos exercícios em cadeia aberta (cadeira extensora) estudados

[10,12]. Essa coativação de isquiotibiais diminui as forças de cisalhamento anteriores da tíbia, atuando como agonista do ligamento cruzado anterior e desta forma exercícios em cadeia fechada podem contribuir para melhora do controle dinâmico do joelho [13]. Estes resultados nos fazem acreditar que os exercícios “footwork” são uma opção interessante para tratamentos e treinamentos cujo objetivo seja ganho de força e estabilização de joelho.

Escamilla et al. [14] observaram que variações no posi-cionamento angular dos pés durante um exercício em cadeia fechada (agachamento e leg press) não influenciou a atividade muscular no joelho, porém a diminuição da distância entre os pés aumentou a atividade do gastrocnêmio, enquanto que para o leg press a posição mais afastada, com os pés posicionados na porção inferior da placa de apoio, aumentou a atividade dos isquiotibiais. Estes resultados nos sugerem que o posi-cionamento diferente do complexo tornozelo e pé na barra cilíndrica no reformer durante a execução dos exercícios de footwork deve resultar em atividades musculares distintas e, consequentemente, devem proporcionar benefícios diferentes aos praticantes.

Ao se reduzir o movimento no plano frontal das articula-ções talocrural e subtalar, haveria uma consequente ampliação do movimento de joelho no plano frontal, segundo Eng e Pierrynowski [15]. Com relação aos exercícios de footwork, a maneira como se lida ou se restringe a liberdade de movimento distal (tornozelo e pé) ao se procurar alinhar o tornozelo na barra cilíndrica, pode levar a implicações na movimentação e alinhamento e movimentação da articulação do joelho e esta investigação torna-se necessária quando o objetivo é prescrever tais exercícios dentro de um programa de reabilitação.

Nesse contexto, a utilização do equipamento reformer durante a execução de diferentes formas de apoio dos pés no footwork com a finalidade de fortalecimento ou reabilitação, necessita de maior fundamentação que podemos obter com o estudo dos padrões de ativação muscular e variação articular de joelho e tornozelo. Também é de interesse determinar a possível existência de co-contração nas articulações de joelho e tornozelo e a relação entre elas, em função dos ângulos ar-ticulares em cada tipo de exercício. Desta forma, o objetivo deste estudo foi descrever e comparar a atividade elétrica muscular de vasto medial, bíceps femoral, tibial anterior, gastrocnêmio lateral e fibular longo, bem como a amplitude angular de joelho e tornozelo nas fases de flexão e extensão de joelho durante a realização de 3 variações do exercícios footwork no reformer do Método Pilates.

Material e métodos

Casuística

A amostra constituiu-se de 25 adultos assintomáticos (5 homens, 20 mulheres; 31,2 (± 6,0) anos; 59,5 (± 8,8) kg; 1,66 (± 0,08) m; 16,4 (± 2,1) graus de angulo Q; 3,1 (± 2,1) anos

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de pratica do Pilates; 2 (± 0,9) vezes por semana de pratica do Pilates), e sem alterações posturais de membros inferiores evidentes por inspeção visual, tais como encurtamento dos grupos musculares das cadeias anterior e posterior, dor mus-culoesquelética e/ou diminuição da amplitude de movimento de membros inferiores, critérios estes baseados em Iunes et al. [16]. O ângulo Q também foi avaliado e foram incluídos sujeitos com valores entre 13º e 20º, valores estes conside-rados normais segundo Magee [17]. Todos os sujeitos eram praticantes de Pilates há no mínimo 6 meses ou 24 sessões e usuários do reformer em seus treinos.

Todos os sujeitos assinaram um termo de consentimento esclarecendo o protocolo experimental, aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (protocolo número: 884/06).

Exercícios footwork

Os exercícios do footwork foram executados em uma pla-taforma no aparelho reformer, com o indivíduo em decúbito dorsal apoiando os pés em uma barra cilíndrica e empurrando esta barra com os pés contra uma resistência proporcionada por molas. Apoios contra os ombros impediram que o prati-cante deslizasse na plataforma, que se movia juntamente com o tronco do praticante. Os sujeitos realizaram os exercícios footwork em três padrões básicos (figura 1) e a ordem de execução dos exercícios foi sorteada para cada sujeito. Os padrões foram: Posição Arco (PA), com o tornozelo em flexão de 90º (posição anatômica) com os dedos fletidos, com apoio do reformer abaixo da cabeça do quinto metatarso; Posição Calcanhar (PC), com o tornozelo em flexão de 90º (posição anatômica) com os dedos estendidos, com apoio no retropé e Posição em V (PV), com o tornozelo em extensão e rota-ção lateral de quadril, com apoio entre a base do segundo e terceiro artelhos.

Figura 1 - Exercícios Footwork: Arco, Calcanhar e em V, respec-tivamente.

Durante cada padrão básico foi adquirida, por fase do movimento – extensão e flexão de joelho – a atividade ele-tromiográfica unilateral dos músculos: tibial anterior, fibular longo, gastrocnêmio lateral, vasto medial e bíceps femoral. Além da medida eletromiográfica, também foi aferida a va-riação angular no plano sagital e frontal do tornozelo/pé e no plano sagital de joelho, unilateralmente. Cada padrão de movimento foi executado três vezes. Para controlar a veloci-dade de execução do movimento e minimizar o efeito desta variável nos resultados, um dos avaliadores deu comandos verbais durante fases de extensão e flexão de cada exercício ao sujeito, seguindo a cadência de 42 batimentos por minuto demarcado por um metrônomo digital.

Avaliação do conforto e biomecânica

Após a avaliação biomecânica, o conforto percebido em cada posição do “footwork” foi aferido por meio da escala de Borg de 0 a 10, sendo 0 nenhum conforto e 10 máximo de conforto.

Para a aquisição do sinal eletromiográfico, utilizou-se um eletromiógrafo da EMG System do Brasil (modelo 800C) com 8 canais e eletrodos de superfície diferenciais ativos descartáveis da Medtrace de prata com 10 mm de diâmetro. Os sinais foram pré-amplificados com fator 20 no próprio eletrodo e fator 50 no amplificador, totalizando um ganho de 1000 para cada canal. O contato entre os eletrodos e o eletromiógrafo foi feito através de uma interface ativa banhada a ouro, revestida por uma cápsula de poliuretano.

Os eletrodos foram colocados no ventre muscular distantes do ponto motor, conforme a recomendação da SENIAM (Surface ElectroMyoGraphy for the Non-Invasive Assessment of Muscles) [18] afastados em 25 mm de centro a centro e fixados na pele por meio de fita adesiva do tipo transpore e faixa elástica envolvendo cabos e eletrodos. A colocação dos eletrodos foi realizada após tricotomia e limpeza do local. O eletrodo referência foi posicionado na patela do membro inferior avaliado.

Os eletrodos do músculo vasto medial foram posicionados em 80% da linha formada pela espinha ilíaca anterossuperior e a borda anterior do ligamento medial do joelho. Os eletrodos do músculo bíceps femoral foram colocados no centro entre a tuberosidade isquiática e o epicôndilo lateral da tíbia. Os eletrodos do músculo tibial anterior foram posicionados em 1/3 da linha formada entre a cabeça da fíbula e o maléolo medial. Os eletrodos do fibular longo ficaram em 1/4 da linha entre cabeça da fíbula e maléolo lateral e os eletrodos do gas-trocnêmio lateral entre 1/3 da cabeça da fíbula e o calcanhar.

A medição da variação angular da articulação de torno-zelo e joelho foi feita por meio de dois eletrogoniômetros biaxiais flexíveis da marca Biometrics. O eixo de rotação do eletrogoniômetro do tornozelo coincidiu com a articulação de tornozelo e as hastes, fixadas com fita dupla face, foram posicionadas uma paralela à face lateral da fíbula e a outra

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paralela à superfície lateral do quinto metatarso. O eixo de rotação do eletrogoniômetro do joelho coincidiu com a li-nha articular do joelho e as hastes foram posicionadas uma paralela à face lateral da fíbula dirigida para o maléolo lateral e a outra paralela à superfície lateral do fêmur dirigida para o trocânter maior.

As aquisições dos eletrogoniômetros e do eletromiógrafo foram feitas sincronizadamente por meio de um conversor A/D de 12 bits com frequência de amostragem de 1000 Hz. Esta aquisição foi necessária para, além de medir a amplitude de movimento da articulação do tornozelo e joelho no plano frontal e sagital, interpretarmos temporalmente o sinal eletro-miográfico em cada fase de movimento por meio da variação angular de joelho.

Análise matemática e estatística dos dados

Do sinal eletromiográfico foram calculados os envoltórios lineares de cada músculo analisado e, a partir deste envoltório, calculou-se a sua integral em cada fase do movimento (ex-tensão e flexão do joelho) para cada exercício avaliado, como forma de representar a energia do sinal. Para construção do envoltório, foi retirado o off-set do sinal bruto quando exis-tente, retificado o sinal eletromiográfico por onda completa, filtrado com filtro passa-baixa tipo butterworth de 4a ordem com frequência de corte de 5 Hz, normalizados na base de tempo (0 a 100% do ciclo) e na intensidade pelo pico.

Também foi calculado um índice de co-contração utili-zando a integral do sinal eletromiográfico. Avaliou a relação entre a atividade de 2 pares de músculos antagonistas: tibial anterior e gastrocnêmio lateral; vasto medial e bíceps femoral. Para tal, adotamos a seguinte equação [19]:

Índice de co-contração BAA

+•= min2

onde min é o menor sinal entre A e B e A e B correspon-dem à integral do sinal EMG retificado, filtrado e normalizado pelo pico de contração do sujeito durante cada exercício. No presente estudo, optamos por utilizar o cálculo com o nume-rador da fórmula pré-definido. Assim, definimos o numerador como o valor da integral do envoltório do músculo tibial anterior na co-contração de tornozelo e o músculo bíceps femoral na co-contração de joelho.

Após a confirmação da normalidade dos dados pelo teste de Shapiro Wilks, as variáveis em escala de razão foram com-paradas entre os exercícios pelo teste interferencial ANOVA

para medidas repetidas, seguida de Post hoc de Tukey. Para as variaveis do estudo em escala ordinal (questionário de conforto), utilizamos o teste ANOVA de Friedman entre os exercícios. Adotamos o nível de significância de 0,05 para diferenças significativas.

Resultados

Notou-se um conforto significativamente menor na po-sição Arco (7,2 ± 1,9) em relação à posição em V (8,6 ± 1,2)

e calcanhar (8,3 ± 1,6) (p = 0,07). Não foram encontradas diferenças significativas para a amplitude de joelho entre os exercícios (tabela I). Já para a amplitude de tornozelo, observou-se uma menor amplitude no plano sagital e uma maior amplitude no plano frontal para a posição calcanhar em relação às outras (tabela I).

Tabela I - Média, desvio padrão e valores de p da amplitude angular (graus) de joelho e tornozelo em cada padrão de exercício.

Amplitude Arti-cular (graus)

Posição Arco

Posição Calca-nhar

Posição em V

P1

Joelho sagital104,41

(4,6)104,4 (3,8)

105,4 (8,2)

>0,05

Tornozelo sagital 29,9 (5,5)

16,5 (7,4)*

33,6 (6,8)

<0,001

Tornozelo frontal 4,5 (1,7) 4,6 (2,4)*

4,3 (2,8) <0,001

1Teste ANOVA. Média (desvio padrão). * Representa o padrão estatisti-

camente diferente

Na posição em V, o BF ativou significativamente menos em relação aos outros padrões durante a fase de flexão e apresentou menores ativações de VM em relação a posição calcanhar (tabela II). Já durante a fase de extensão, a posição em V produziu menores ativações de BF em relação à posi-ção em Arco (tabela II). Nesta posição em V, a co-contração (tabela III) de BF/VM foi significativamente menor durante a fase de flexão em relação às outras posições. É interessante destacar que as atividades de BF e VM sempre apresentaram maiores integrais na fase de extensão comparados a de flexão. Já na posição calcanhar, a atividade de tibial anterior foi sig-nificativamente maior em relação aos outros padrões tanto na fase de extensão quanto na de flexão. Assim como observou-se neste padrão calcanhar, uma maior atividade de fibular longo e gastrocnêmio lateral na flexão de joelho e maior co-contração na extensão em relação às outras posições.

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Discussão

O objetivo deste estudo foi descrever e comparar os exer-cícios do footwork no aparelho reformer do Método Pilates por meio de medidas eletromiográficas de membro inferior e an-gulares de joelho e tornozelo. De modo geral, observamos que todos os padrões permitem ativação da musculatura agonista e antagonista de joelho e tornozelo, possibilitando, através dessas co-contrações, uma melhor estabilização dessas articulações. Além disso, a posição calcanhar apresentou melhores resultados quando se objetiva estabilização de tornozelo, pois além das estruturas ligamentares e do encaixe bimaleolar permitirem uma melhor fixação nessa posição, houve uma alta ativação de tibial anterior, fibular longo e gastrocnêmio lateral.

As mudanças no posicionamento de tornozelo e pé entre os padrões não influenciaram as amplitudes alcançadas pela articulação do joelho, mas interferiram, como esperado, nas amplitudes articulares de tornozelo durante a execução dos exercícios. A posição calcanhar apresentou menor variação no plano sagital e isso pode ser explicado devido à manutenção da dorsiflexão durante todo o movimento, ocorrendo um

maior encaixe na pinça bimaleolar, eestabilizando e fixando de modo mais eficaz o tornozelo, possibilitando, portanto, uma menor ADM para realizar o footwork.

A ativação de vasto medial foi maior na fase concên-trica (extensão de joelho), mas similar em todos os padrões de footwork. Variações no posicionamento do pé durante o agachamento, exercício semelhante ao analisado no presente estudo, avaliadas por Escamilla et al. [14], não modificam a ativação de quadríceps, tal como observamos no presente estudo. Porém, observa-se uma menor atividade na sua fase excêntrica, assim como menor atividade de bíceps femoral nesta fase, durante a execução do footwork na posição em V. Estes resultados mostram que o vasto lateral pode estar sendo auxiliado em sua função excêntrica flexora pelos adutores/rotadores laterais de quadril uma vez que nesta posição em V o quadril mantém-se em rotação lateral. Este fato muda a concepção descrita por Ninos et al. [20], que relatam não haver influência da posição do quadril em rotação lateral nas atividades musculares de isquiotibiais, vastos medial e lateral.

Na posição em V, houve uma menor atividade de BF na sua fase concêntrica resultante da provável participação da

Tabela II - Médias, desvios padrão e valores de p para as integrais de EMG (UA.s) (normalizado pelo pico da EMG) dos músculos bíceps femoral, vasto medial, gastrocnêmio lateral, fibular longo e tibial anterior para cada padrão de exercício em cada fase do movimento.

Músculo Fase Posição Arco Posição Calcanhar Posição em V P

Bíceps FemoralExtensão 0,613 (0,156)& 0,578 (0,165) 0,533 (0,081)& 0,0011

Flexão 0,514 (0,150) 0,5 (0,120) 0,348 (0,130)* <0,0011

p < 0,0011 0,0011 < 0,0011 0,0002

Vasto MedialExtensão 0,613(0,163) 0,638(0,142) 0,614(0,146) >0,3571

Flexão 0,419(0,121) 0,447(0,125)& 0,394(0,110)& 0,0011

P < 0,0011 < 0,0011 < 0,0011 0,2042

Gastrocnêmio lateralExtensão 0,550 (0,136) 0,507 (0,146) 0,570 (0,116) 0,0581

Flexão 0,443 (0,158) 0,536 (0,197) 0,374 (0,125) <0,0011

p < 0,0011 0,7551 < 0,0011 0,0002

Tibial AnteriorExtensão 0,353(0,171) 0,574(0,152)* 0,329(0,164) <0,0011

Flexão 0,541(0,136) 0,720(0,127)* 0,530(0,169) <0,0011

p < 0,0011 < 0,0011 < 0,0011 0,3872

Fibular LongoExtensão 0,602(0,133) 0,621(0,152) 0,636(0,102) >0,6391

Flexão 0,532(0,152) 0,723(0,154)* 0,476(0,131) <0,0011

p 0,0351 0,0011 <0,0011 <0,0012

1Teste Pos hoc Tukey; 2Teste ANOVA. Média (desvio padrão); *Representa o padrão estatisticamente diferente em relação aos outros; &Representa os

padrões estatisticamente diferentes entre si (p < 0,05).

Tabela III - Médias, desvios padrão e valores de p da co-contração de bíceps femoral e vasto medial e da co-contração de tibial anterior e gastrocnêmio lateral para cada padrão avaliado e fase do exercício.

Co-contração Fase Posição Arco Posição Calcanhar Posição em V P

Bíceps Femoral/ vasto medialExtensão 0,997(0,158) 0,939(0,193) 0,937(0,140) > 0,0811

Flexão 1,086(0,227) 1,049(0,200) 0,928(0,242)* < 0,0011

p 0,0021 < 0,0011 0,9981 0,0012

Tibial anterior/ gastrocnêmio lateral

Extensão 0,751(0,226) 1,07(0,204)* 0,695(0,242) < 0,0011

Flexão 1,096(0,166) 1,17(0,152) 1,152(0,218) > 0,2691

p < 0,0011 0,0531 < 0,0011 < 0,0012

1Teste Pos hoc Tukey; 2Teste ANOVA. Média (desvio padrão); *Representa o padrão estatisticamente diferente.

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2150

musculatura adutora agindo excentricamente, auxiliando no controle da frenagem do movimento e estabilização da articulação de joelho.

A alta atividade de bíceps femoral observada principalmen-te na sua fase excêntrica é proporcional à atividade de vasto medial concêntrica (fase de extensão do joelho). Segundo Escamilla et al. [12] e Wilk et al. [10], durante o exercício de agachamento, os músculos isquiotibiais apresentam picos 30 e 80% da CVM (contração voluntária máxima), ocorrendo próximos dos 50º-70º de flexão. Lutz et al. [21] mostraram que em exercícios de cadeia cinética fechada, tal como os exercícios de footwork avaliados, a atividade de isquiotibiais é maior próxima aos 30º-60º de flexão, diminuindo com o aumento da flexão. Já com o músculo quadríceps ocorre o inverso: a maior atividade desse músculo é verificada aos 90º de flexão. Desta forma, conclui-se que em todos os padrões de footwork há ativação simultânea de bíceps femoral e vasto medial promovendo uma co-contração, especialmente maior na fase de flexão do joelho e nas posições sem a rotação lateral de quadril, proporcionando semelhante ação estabilizadora no joelho. Esta atuação da musculatura antagonista, durante a extensão do joelho, permitiria uma melhor distribuição da pressão intra-articular [22], tornando o exercício mais seguro em relação à estabilidade articular, evitando os riscos de lesões ligamentares.

Observaram-se pelos padrões dos envoltórios de gastrocnê-mio lateral uma maior ativação próxima à extensão do joelho (final da fase de extensão e início da de flexão) em todos os footworks. Isso ocorre porque com a extensão do joelho tam-bém haverá maior extensão das molas, havendo uma produção proporcional maior de força [23] pelos músculos que atuam no tornozelo, já que simultaneamente à extensão de joelho há a extensão de tornozelo nas posições em V e Arco. E, além disso, como o footwork é realizado em cadeia cinética fechada, o gastrocnêmio lateral, músculo biarticular, além de estender o tornozelo, coativa para estabilizar a articulação de joelho, diante da força de translação anterior da tíbia causada pela contração do quadríceps [24].

O músculo tibial anterior apresenta maior atividade du-rante todo o padrão de footwork calcanhar e isso é resultado do apoio do pé no reformer que é feito em retropé e, portanto, a flexão do tornozelo deve ser mantida ativamente por ação dos músculos dorsiflexores – tibial anterior.

As maiores atividades observadas de fibular longo na posição calcanhar são resultantes da maior ativação de tibial anterior observada neste padrão. Esta maior atividade de tibial favorece o movimento de inversão do complexo tornozelo-pé; além disso, o ponto de apoio no reformer na posição em calca-nhar é no retropé e com isso o medio-pé e o antepé estão livres. Desta forma, é necessário maior controle do pé para diminuir as oscilações látero-laterais e estas maiores oscilações foram confirmadas pela maior amplitude do complexo tornozelo/pé no plano frontal nessa posição. Portanto é necessária maior ativação do fibular longo para evitar uma inversão provocada

pelo tibial anterior. A co-contração de tibial anterior e gastrocnêmio lateral

auxiliam na estabilização articular de tornozelo principal-mente no plano sagital. É interessante destacar um maior valor de co-contração na posição calcanhar, decorrente do posicionamento ativo em flexão através da contração de tibial anterior e da ativação de gastrocnêmio lateral para fixar a articulação talocrural.

De modo geral, os maiores valores de co-contração de bíceps/vasto e tibial/gastrocnêmio observados em todos os padrões na fase excêntrica (flexão de joelho) ocorrem devido a maior ativação da musculatura antagonista para auxílio no movimento de frenagem, já que as molas do reformer voltam ao seu tamanho inicial e é necessário um controle motor adequado para realização do movimento harmonicamente.

Conclusão

Os exercícios do footwork no aparelho reformer do Método Pilates proporcionam atividades de agonistas e antagonistas de joelho de maneira similar, muito embora o padrão em V produza menor ativação desta musculatura demonstrando a influência da rotação lateral de quadril na ativação de flexores e extensores de joelho. O padrão calca-nhar foi o exercício com maior ativação de tibial anterior, gastrocnêmio lateral e fibular longo e maior co-contração de tibial anterior e gastrocnêmio lateral em uma menor variação de amplitude de tornozelo no plano sagital, o que representa ser uma boa opção em um tratamento de fortalecimento e estabilização de tornozelo.

Agradecimentos

Os autores são gratos à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pelo financiamento da pesquisa (2006/03687-3).

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2152

Efeito de um programa de exercícios baseado no método Pilates sobre a postura de crianças: um estudo pilotoEffect of an exercise program based on method Pilates on children posture: a pilot study

Vanessa Salgado Silva*, Joana Cardoso Mascarenhas*, Aline Mendonça de Sá*, Cloud Kennedy Couto de Sá**

*ActivePilates Brasil, Salvador/BA, **Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana/BA, Escola Bahiana de Medici-na e Saúde Pública, Salvador/BA

ResumoIntrodução: Dados epidemiológicos apresentam elevada preva-

lência de alteração postural em crianças e adolescentes. O Método Pilates vem sendo proposto como meio de exercício capaz de promover harmonia corporal com impacto sobre a sua postura. Objetivo: Verificar o efeito de um programa de exercícios baseado no método Pilates sobre a postura/posicionamento da coluna vertebral e cinturas escapular e pélvica de crianças entre 6 e 12 anos. Ouvir Ler foneticamente Dicionário - Ver dicionário detalhado. Material e métodos: Seis crianças (9 ± 1 anos de idade, 34,33 ± 1,62 kg de massa corporal, 1,38 ± 0,5 metros de altura), sendo 50% do sexo feminino, foram submetidas a um programa de exercícios baseado no método Pilates, 2 vezes por semana, uma hora por sessão, totalizando 20 sessões. Antes de iniciar o programa e após a 10ª e 20ª sessão foram submetidas a avaliação postural por fotos digitais das vistas anterior e lateral pelo sistema SAPO. Os dados foram analisados considerando o nível de significância de 5%. Resultados: Verificou-se diminuição da inclinação e anteriorização da cabeça, persistência do desnivelamento de ombros, redução da cifose torácica, da lordose lombar, da anteversão e do desnivelamento pélvico. Conclusão: O programa de exercício foi eficaz para a melhora da postura do grupo de crianças estudadas. Palavras-chaves: Pilates, exercícios baseados no Pilates, postura, criança.

Artigo original

AbstractBackground: Epidemiological data show high prevalence of

postural changes during childhood and adolescence. The Pilates Method has been proposed as a means of exercise promoting body harmony and impact on posture. Objective: To investigate the effect of an exercise program based on Pilates method on the posture of spine and shoulder and pelvic waists of children between 6 and 12 years old. Methods: Six children (9 ± 1 years of age, 34.33 ± 1.62 kg body mass, 1.38 ± 0.5 meters tall), 50% female, performed an exercise program based on Pilates 2 times a week, 1 hour per session, totaling 20 sessions. Before starting the program and after the 10th and 20th session postural we take pictures of frontal and lateral views by SAPO system. Data were analyzed considering the significance level of 5%. Results: A decrease of the slope and forward head posture, persistent unevenness of shoulders, reduction of tho-racic kyphosis, lumbar lordosis and pelvic tilting and anteversion. Conclusion: The exercise program was effective for improving the posture of the children.Key-words: Pilates, Pilates-based exercises, posture, child.

Endereço para correspondência: Cloud K. C. de Sá, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Secretaria de pós-graduação e Pesquisa, Av. Dom João VI, 275 Brotas 40290-000 Salvador BA, E-mail: [email protected]

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Introdução

Dados epidemiológicos apresentam altas prevalências de alterações posturais no período de crescimento e desenvolvi-mento [1]. Desalinhamentos posturais verificados em crianças apresentam como principais fatores associados, o mobiliário escolar inadequado, sedestração prolongada, inatividade física e uso de mochilas, que podem trazer riscos potenciais para o surgimento de problemas mecânicos [1,2].

Um alinhamento corporal inadequado promove estresse articular, favorecendo o desgaste de suas superfícies e o en-fraquecimento e lesão de tecidos moles. Padrões posturais incorretos podem resultar em desequilíbrios do sistema musculoesquelético, com predisposição a disfunções, ge-ralmente manifestadas sob a forma de quadro álgico [1,2]. Estudos demonstram que dor lombar é freqüente em crianças e adolescentes, evidenciando prevalências entre 5-19% [3,4]. As respostas físicas e psicológicas à dor afetam diretamente a saúde das crianças, podendo predispô-las ao desenvolvimento de dor crônica na idade adulta.

A correção precoce de desvios posturais possibilita pa-drões corretos na vida adulta, aumentando a probabilidade de prevenção e tratamento dessas alterações. Esses aspectos ratificam a necessidade da identificação de alterações posturais em crianças, da educação postural das mesmas, e da interven-ção terapêutica precoce através de métodos que priorizem o restabelecimento da harmonia das relações musculares [2,5]. Níveis adequados de força muscular e flexibilidade são fun-damentais para o bom funcionamento musculoesquelético, contribuindo para a preservação de músculos e articulações saudáveis ao longo da vida [6]. O método Pilates, desenvol-vido por Joseph H. Pilates, é constituído por exercícios que favorecem o trabalho de músculos estabilizadores, eliminan-do tensões excessivas e compensações, através do controle consciente dos movimentos corporais [7,8]. Os exercícios do Pilates podem ser utilizados para fins de condicionamento físico, prevenção e reabilitação, sendo realizados no ritmo de cada praticante, com progressão gradual, podendo ser feitas adaptações respeitando-se os princípios do método [9].

O Pilates é capaz de proporcionar força, flexibilidade, con-trole, consciência e percepção do movimento, preconizando a harmonia das relações musculares. Estes aspectos são essenciais para a prevenção de lesões, melhora de quadros álgicos e manu-tenção de um bom controle postural [7,8,10]. No entanto, as evidências científicas que comprovem os benefícios deste método voltados à população pediátrica são limitadas. Logo, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito de um programa de exercícios baseado no método Pilates sobre a postura da coluna vertebral e cintura escapular e pélvica de crianças entre seis e doze anos.

Material e métodos

Trata-se de um estudo pré-experimental, cuja amostra foi formada por crianças de ambos os sexos, com idade entre seis e

doze anos, mediante autorização dos pais, os quais assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), de acordo com o decreto-lei n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Foram excluídas crianças que não completaram todas as etapas propostas no estudo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da EBMSP.

Procedimentos

Inicialmente, as crianças foram submetidas a uma avalia-ção postural mediante fotos digitais. Em seguida, participaram de um programa de exercícios baseado no método Pilates, sendo realizada uma reavaliação após a 10ª e 20ª sessão, de modo a permitir identificação dos efeitos do programa de exercícios sobre a postura de cada criança.

Avaliações

A análise postural foi realizada por método fotogramétrico com o objetivo de identificar os desvios posturais mais rele-vantes em cada segmento corporal. A validade de tal método de avaliação em crianças já foi previamente ressaltado [11]. As fotos digitais foram avaliadas através de um posturograma computadorizado disponível on-line e desenvolvido pela Universidade São Paulo (USP) que é o Sistema de Avaliação Postural (SAPO).

A avaliação postural estática foi realizada com a criança em ortostase, descalça, em frente a uma parede, na qual foi fixada uma régua de 30 cm, perpendicular ao chão, para permitir calibração do software. Em seguida foram obtidas fotos dos voluntários nas vistas anterior e lateral, utilizando-se de uma câmera digital (Olympus X-750, 7.1 megapixels), adaptada a um tripé regulável. A câmera foi posicionada a uma distância de 3m dos voluntários e a uma altura variável de acordo com a altura de cada indivíduo, sendo esta altura equivalente a 50% da estatura de cada criança. Para a realização das fotos, a criança foi posicionada a uma distância de 15cm da parede, dentro de um espaço de 50 x 50 cm demarcado com fita crepe. Cada voluntário trajava vestimenta adequada para atividade física, de modo a possibilitar a demarcação dos pontos ana-tômicos, localizados mediante palpação. Além disso, foram obtidos de cada criança a estatura em metros e o peso corporal em quilogramas.

Para interpretação das fotos, os pontos anatômicos fo-ram ressaltados com semi-esferas de isopor com 20 mm de diâmetro, demarcadas por fita adesiva colorida de maneira a formar uma cruz. As semi-esferas foram fixadas ao corpo dos participantes através de fita dupla face. Para melhor visuali-zação e determinação de variação angular, nas semi-esferas utilizadas nos processos espinhosos das vértebras ressaltadas foram acopladas hastes rígidas de plástico posicionadas na re-gião central das mesmas, caracterizando-se por uma marcação perpendicular ao corpo do voluntário.

Na vista anterior os pontos anatômicos ressaltados foram

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2154

espinhas ilíacas ântero-superiores (EIAS) direita e esquerda, processo mentual e glabela. Na vista posterior foram ressal-tadas as espinhas ilíacas póstero-superiores (EIPS), espinhas ilíacas póstero-inferiores (EIPI), processos espinhosos das vértebras C2, C7, T3, T7, T12, L3, S1. Já na vista lateral, os pontos ressaltados foram os maléolos laterais, cabeça da fíbula, trocanter maior, acrômio e pavilhão auditivo.

Programa de exercícios

O programa de exercícios baseado no método Pilates foi constituído por uma freqüência de duas vezes por semana, duração aproximada de uma hora por sessão, totalizando vinte sessões. A seleção dos exercícios foi realizada de modo a possibilitar um trabalho corporal global em cada etapa de forma gradativa, respeitando os princípios básicos do método Pilates [8,9], e os limites de cada criança. Os exercícios foram realizados visando trabalhar os aspectos mais relevantes identi-ficados na avaliação, bem como a aquisição de conscientização corporal, e o objetivo idealizado para cada criança.

Para cada praticante, foi estabelecida uma carga que possibilitasse a criança realizar uma série entre oito e doze repetições, sendo a progressão do exercício efetuada em todas as sessões em que ocorreu de forma clara a acomodação da carga. O intervalo de recuperação entre os exercícios foi de cerca de um minuto.

Os participantes foram orientados a realizar os exercícios sem a presença de dor ou desconforto. Todos foram orientados para informar a instrutora caso isto ocorresse, bem como se sentissem qualquer dificuldade em sua realização, visando as-sim realizar adaptações necessárias. Os responsáveis puderam acompanhar a realização de todas as etapas da coleta de dados.

Foram aplicados exercícios do método Pilates no solo e nos aparelhos [12], sendo realizadas adaptações específicas para cada criança, utilizando-se de almofadas, caixas de diferentes tamanhos e acessórios, como bolas, pranchas propriocepti-vas, meia-lua, thera-band, rolos e aros, de modo a tornar os exercícios mais lúdicos e variados.

A aplicação dos exercícios foi realizada por instrutoras do método Pilates e foi desenvolvido em duas fases para que as crianças pudessem evoluir quanto ao controle do Power House. A primeira fase (1ª a 10ª sessão) foi constituída por exercícios que priorizaram o ganho da conscientização e acionamento do Power House e a aplicabilidade dos princípios básicos do método. Na fase seguinte (11ª a 20ª sessão) foram incluídos exercícios que exigiam maior conscientização corporal, exer-cícios mais dinâmicos, com maior amplitude e com desafios proprioceptivos. Os exercícios utilizados encontram-se su-marizados no quadro 1.

Análise dos dados

Os dados adquiridos através das avaliações foram cata-logados e analisados no pacote estatístico SPSS versão 15.0. Para descrição das variáveis numéricas foram utilizados média, desvio padrão, valores mínimo e máximo. Para comparação dos valores entre os momentos inicial, após dez e vinte sessões foi realizada ANOVA com medidas repetidas, sendo atribuído um nível de significância em 5%.

Resultados

A amostra final constou de seis crianças (9 ± 1 anos de idade, 34,33 ± 1,62 kg de massa corporal, 1,38±0,5 metros de altura),

Quadro 1 - Exercícios do programa de treinamento baseado no método Pilates de um estudo sobre a postura de crianças.Período MAT/ACESSÓRIOS APARELHOS

1ª Etapa10 sessões

RespiraçãoKnee dropSholder bridge corsel The catSwimmingSpine twistSpine stretch foward

Leg circlesFoleHalf roll downThe swan Rolamento na bolaSaltitos na bola

Educativo do boobmerangRolling back Foot work Leg down standing Open side Arm work(Reformer)Educ. teaser (Cadillac)Horse Back (barrel)

Push Down/Up Shoulder bridge (Barrel)Tríceps press sit (Chair) Leg pumpRunning Leg Spring (Parede molas)Organização de cintura escapular (Cadillac)

2ª Etapa20 sessões

Single leg stretchThe hundred Cat to elephantRolling like a ballShoulder Bridge (unilateral)Mermaid Leg pull downRoll down/up

Double leg stretchCriss CrossGato na bolaSingle straigth leg stretch

Roll over (Chair)Standing cat Shoulder bridge (Reformer)Down stretch Quadrúpede (Reformer)Pull up (Chair)Side reachForward lunge

InversionsDissociação escapular unilateralLateral flexion rolling Pulling straps one/T Leg work out Tendon stretch (Cadillac)Arm spring (Parede molas)

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155Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2

onde 50% pertenciam ao sexo feminino e 83,3% apresentaram como dominante o membro direito. Verificou-se na avaliação inicial que 66,7% relataram apresentar dor, sendo as regiões mais citadas tornozelo e pé (50%) e membro superior (33,3%), referindo comprometimento de suas atividades físicas. Após 20 sessões apenas 33,3% ainda sentiam dor de pouca intensidade, e sem comprometimento de suas atividades.

As alterações posturais mais predominantes na vista anterior na avaliação inicial foram inclinação da cabeça para a direita, elevação de ombro esquerdo e elevação da EIAS direita. Ao final do programa, verificou-se redução progressiva da inclinação da cabeça, persistência da elevação em ombro esquerdo e diminuição da elevação das EIAS (Tabela I). Os valores referentes às alterações na vista lateral podem ser visualizadas na Tabela II.

Ao comparar os diferentes momentos do programa de exercícios, verificou-se diminuição da inclinação e anteriori-zação da cabeça, persistência do desnivelamento de ombros, redução da cifose torácica, da lordose lombar, anteversão e do desnivelamento pélvico (Tabela III).

Discussão

Os resultados do presente estudo apresentaram de modo geral, um efeito positivo do programa de exercícios baseado no método Pilates sobre a postura das crianças estudadas. Este achado encontra-se de acordo com um estudo de revisão, onde foi observado que variáveis relacionadas à postura corporal podem ser modificadas pela prática de exercícios físicos espe-cíficos de força, alongamento e auto-correção associados [13].

Alterações antero-posteriores tem sido demonstrado com uma elevada prevalência entre indivíduos em fase de cres-cimento [14]. Alterações como inclinação e anteriorização da cabeça, apresentaram melhora no decorrer do programa de exercícios desenvolvido pelo presente estudo. Achado semelhante foi encontrado em um trabalho realizado com mulheres universitárias que participaram de um programa de treinamento resistido [15]. Modificações na protrusão da cabeça também foram observadas em um estudo com adultos que realizaram exercícios de força e alongamento muscular direcionados à região cervical e cintura escapular, durante dez semanas [16]. Essas alterações são consideradas um mecanismo postural compensatório, em decorrência de desequilíbrios musculares como trapézio superior, elevador da escápula, esternocleidomastoideo e escalenos, que apresentam predisposição ao encurtamento, enquanto seus antagonistas diretos tendem ao estiramento [1]. Autores sugerem que a prática física, através do estímulo de exercícios de força e alongamento de pares de agonistas e antagonistas, seja essen-cial para a reeducação postural e manutenção de uma postura estável [13]. A adequação entre força e flexibilidade de grupos musculares, é continuamente trabalhada pelo Pilates, o que pode ter acarretado um equilíbrio das relações musculares cefálicas, auxiliando no reposicionamento esquelético, de-

monstrado pela tendência à centralização da cabeça ao final do programa de exercícios.

Referente ao desnivelamento de ombros, este foi o único segmento onde não foi verificada melhora após a aplicação do programa de exercícios. Autores associam a presença dessa assimetria à dominância, por promover hipertrofia muscular mais acentuada no lado dominante, causando elevação deste ombro [1]. No entanto, a maioria da amostra possuía o ombro esquerdo mais elevado, embora apresentassem o membro di-reito dominante. Outra hipótese para a presença de assimetria neste segmento está relacionada ao uso prolongado de mo-chilas com peso e transporte inadequados, levando a ajustes posturais e ações compensatórias. Isso acarretaria elevação do ombro diante da contração muscular excessiva exigida, onde músculos como elevador da escápula, trapézio superior e rombóides estariam realizando trabalho excêntrico durante a depressão e, posteriormente, isométrico para estabilizar o ombro [1]. O achado do presente estudo neste segmento pode estar relacionado ao transporte de materiais escolares das crianças estudadas, aspecto este onde não houve intervenção efetiva, e que poderia ser a causa dessa alteração.

Após o programa de exercícios foi verificada uma tendên-cia ao nivelamento pélvico na amostra estudada, embora esta melhora não tenha sido progressiva. O processo de instalação de um desequilíbrio muscular em geral não é perceptível até que suas conseqüências comecem a se manifestar, em geral sob a forma de quadros álgicos e deformidades. A estrutura das cadeias musculares que compõem o corpo humano faz com que este processo seja seguido de uma série de compen-sações locais e à distância [1]. A cintura pélvica é mantida por ligamentos fortes e músculos, que inseridos na estrutura lombo-pélvica, exercem forças que atuam para a manutenção da estabilidade. Logo, alterações dessa complexa estrutura de sustentação nunca são primárias e suas causas estão associadas com mecanismos de compensação nos processos de estabiliza-ção da coluna lombar [1,17]. Dentre outros fatores, diferença no comprimento de membros inferiores pode ser um fator desencadeante desse mecanismo compensatório, gerando um desnivelamento pélvico, cujo fator causal não pode ser corrigido somente através da prática do Pilates.

Os dados do presente estudo demonstram uma diminui-ção da lordose lombar e da anteversão pélvica no decorrer do programa. Autores sugerem que estas alterações sejam fisiológicas durante o desenvolvimento infantil, devido à fraqueza abdominal e de paravertebrais, gerando necessidade de busca pelo equilíbrio corporal por protrusão abdominal e aumento da anteversão [1,18]. No entanto, retração dos músculos flexores do quadril, contratura da musculatura lombar e fraqueza abdominal e de glúteos, contribui para formação de hiperlordose lombar e anteversão pélvica, que por sua vez acarreta mecanismos compensatórios como hi-percifose torácica e protrusão da cabeça [15,17,19]. Logo, é importante o reforço da musculatura do complexo abdominal de forma a gerar diminuição de mecanismos compensatórios

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2156

Tabela I - Efeito de um programa de exercícios baseado no método Pilates sobre a postura/posicionamento da coluna vertebral e cinturas escapular e pélvica de crianças entre seis e doze anos. Vista anterior.

% crianças com desvio Média ± DP Mínimo MáximoINCLCABInício DE

83,3016,70 3,43 ± 2,83

0,30 ± 0,730,000,00

7,501,80

10 sessões DE

66,700,00

1,15 ± 2,420,00 ± 0,00

0,000,00

6,100,00

20 sessões DE

33,300,00

0,46 ± 1,040,00 ± 0,00

0,000,00

2,600,00

DESNOMBInício DE

33,3066,70 0,51 ± 0,81

1,00 ± 1,640,000,00

1,804,30

10 sessões DE

50,0050,00

0,55 ± 0,751,20 ± 1,32

0,000,00

1,702,60

20 sessões DE

16,7066,70

0,18 ± 0,441,11 ± 1,40

0,000,00

1,103,70

DESNPELVInício DE

66,7033,30 0,90 ± 1,00

0,56 ± 0,950,000,00

2,302,30

10 sessões DE

66,7016,70

0,11 ± 1,280,50 ± 0,12

0,000,00

3,100,30

20 sessões DE

50,0033,30

0,73 ± 1,130,11 ± 0,24

0,000,00

2,600,60

INCLCAB = Inclinação da cabeça; DESNOMB = Desnivelamento de ombro; DESNPELV = Desnivelamento pélvico; E = lado esquerdo; D = lado direito.

e promoção de melhora no segmento lombo-pélvico, aspecto este observado no presente estudo.

Referente à cifose torácica, verificou-se uma redução após a aplicação do programa de exercícios. Achado semelhante foi observado na hipercifose de idosas em um estudo desenvolvi-do durante doze semanas, a partir da prática de exercícios de força para flexão de ombros e extensão torácica e de quadril, bem como de estabilização do transverso abdominal e exercí-cios de alinhamento [20]. Mudanças significativas da coluna torácica também foram verificadas em um estudo com adultos assintomáticos por meio de exercícios de força para rotadores externos e adutores de escápula, e de alongamento para os músculos peitorais, realizados durante seis semanas [21]. A hipercifose torácica é considerada como um mecanismo compensatório postural, onde grupos musculares, como o peitoral maior, apresentam predisposição natural ao encur-tamento [1]. A melhora postural observada neste segmento no presente estudo, pode ser proveniente do equilíbrio entre a mobilidade articular e as relações musculares idealizado durante o programa de exercícios desenvolvido.

A partir dos resultados do presente estudo, foi possível perceber a ocorrência de alterações posturais na infância. Este período é considerado como o mais eficaz para prevenção e tratamento desses desvios decorrentes do mau hábito postural e da sobrecarga biomecânica, devido à maturação osteomus-cular que ocorre nessa fase [22]. Este aspecto foi observado no presente estudo, onde tais alterações mostraram-se passíveis de correção. Dessa forma é de fundamental importância o desenvolvimento de programas de avaliação postural que

possibilitem a detecção dessas alterações e a aplicação de inter-venções terapêuticas precoces, a fim de controlar sua evolução e evitar maiores problemas futuros. Além disso, vale ressaltar a importância de programas preventivos através de um trabalho educacional que enfatize a postura corporal considerando a biomecânica da coluna vertebral e as influências do meio

Tabela II - Efeito de um programa de exercícios baseado no método Pilates sobre a postura/ posicionamento da coluna vertebral e cinturas escapular e pélvica de crianças entre seis e doze anos. Vista lateral.

Média ± DP Mínimo MáximoANTCABInício 49,05 ± 4,35 44,80 56,3010 sessões 52,13 ± 3,83 49,40 60,2020 sessões 55,58 ± ,35 53,30 58,90CIFTORInício 211,71 ± 2,68 208,90 215,9010 sessões 211,08 ± 1,71 209,00 213,8020 sessões 210,55 ± 2,29 208,90 214,70LORLOMBInício 54,81 ± 9,13 47,00 68,0010 sessões 50,18 ± 8,51 34,90 57,6020 sessões 51,95 ± 5,33 44,80 57,80ANTPELVInício 9,91 ± 5,70 2,40 16,9010 sessões 13,53 ± 5,82 6,80 20,9020 sessões 11,53 ± 4,86 4,10 17,30

ANTCAB = Anteriorização de cabeça; CIFTOR = Cifose torácica;

LORLOMB = Lordose lombar; ANTPELV = Anteversão pélvica.

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ambiente nos hábitos posturais adotados. Algumas limitações foram assumidas ao realizar este es-

tudo, de modo a tornar possível sua realização. O tamanho amostral e o período de intervenção adotado podem ser considerados reduzidos para a afirmação dos resultados deste estudo, bem como para a obtenção de grandes resultados no tratamento da postura. Sugere-se o desenvolvimento de estudos que analisem o efeito do treinamento contra-resistido sobre a postura corporal de crianças, por um período superior a três meses e com um tamanho amostral mais significante. Além disso, sugere-se a realização de estudos que graduem as variações consideradas normais durante o crescimento, de forma a possibilitar o diagnóstico de uma alteração fora dos padrões de normalidade e uma intervenção precoce.

Conclusão

A partir dos resultados encontrados no presente estudo, pode-se concluir que o programa de exercícios baseado no método Pilates foi eficaz para a melhora da postura do grupo de crianças estudadas. No entanto, a comparação com outros estudos é dificultada devido à escassez de dados na literatura que analisem a eficácia de programas de intervenção na mo-dificação da postura corporal, principalmente em crianças.

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Tabela III - Comparação das alterações posturais entre os momentos inicial, após 10 e 20 sessões de exercícios baseados no método Pilates.Início 10 sessões 20 sessões

Inclinação da cabeça 3,13 ± 3,32 1,15 ± 2,42 0,47 ± 1,04Anteriorização da cabeça 49,05 ± 4,12 52,13 ± 4,18 55,58 ± 2,39*˟Desnivelamento de ombro 0,48 ± 2,14 0,65 ± 1,97 0,93 ± 1,63Cifose torácica 211,71 ± 2,68 211,08 ± 1,71 210,55 ± 2,29Lordose lombar 54,81 ± 9,13 50,18 ± 8,51 51,95 ± 5,33Desnivelamento pélvico -0,73 ± 1,77 -1,06 ± 1,34 -0,61 ± 1,24*Anteversão pélvica -9,91 ± 5,70 -13,53 ± 5,82* -11,53 ± 4,86p ≤ 0,05 em relação ao início (*); p ≤ 0,05 em relação a 10 sessões (*)

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Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2158

As que se autorizam a ser as pessoas que não querem serMarco Guimarães

Opinião

Endereço para correspondência: Cláudia Tarragô Candotti, Rua Fernando Osório, 1887 Bairro Teresópolis 90720-330 Porto Alegre RS, E-mail: [email protected]

Antes de falar sobre o tema central desta crônica comenta-rei sobre a minha ida a Luanda, para participar do V Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, o qual, de uma certa forma, relaciona-se ao que discuto agora.

Apesar da via crucis para obtenção do visto e da burocracia do país, a experiência não poderia ter sido melhor, porque a impecável organização do evento, à cargo da UCCLA, mini-mizou e aplacou as nossas justificadas impaciências. E depois, as qualidades das conferências proferidas pelos escritores convidados por si só já teria valido a viagem. Assistir a uma comunicação de Manuel Rui, e de outros tantos, é sempre um experiência gratificante. Diz- se em Luanda que Manuel Rui marcou o início de uma época literária em Angola, com o seu livro Quem me dera ser onda. As suas colocações, ora em prosa poética, ora em poesia, costumam encantar os seus públicos. Com ele, tive prazer de escrever o meu terceiro romance A bicha e a fila.

Quando recebi o convite com os temas e subtemas para as conferências, resolvi optar por migrações e literatura, por considerá-lo um desafio para os escritores. Um desafio, porque a figura do emigrante, dentro do contexto literário, nos coloca diante de uma complexidade tal que vai muito além do simples deslocamento físico desse emigrante, já que há de se considerar a transição para a nova cultura que ele vai experimentar, um novo idioma que lhe é imposto, novos hábitos, etc. Isso tudo, dentro de um ambiente político e sócio económico, às vezes, muito complicado para ele.

Iniciei a minha fala com a Susan Sontag, analisando o romance Na América, no qual ela fala sobre os emigrantes poloneses que foram para os Estado Unidos. Aproveitei ainda para me apropriar de uma coisa que Sontag disse: “Para escre-ver, é preciso que o escritor se autorize a ser a pessoa que ele não que ser, dentre as tantas pessoas que existem dentro dele”. Afinal, o emigrante quando chega no local escolhido, perde, no primeiro momento, o seu padrão identitário, se acultura

para assimilar a cultura local, para depois, então, na medida que a realidade o permita, inserir dados de sua própria cultura Portanto, ele também deve se autorizar a ser a pessoa que, na maioria das vezes, não que ser por forças circunstanciadas à sua nova situação.

Mas nem sempre na literatura os personagens se autorizam a ser pessoas que não querem ser. Vemos isso claramente no livro O exílio e o reino, ultimo livro que Albert Camus escreveu antes de sua morte. Conta a estória de um professor que se exilia compulsoriamente, enfrentando uma total marginali-zação, porque se recusa a representar o papel que a sociedade lhe impõe. Aqui, o personagem não se autorizou a ser a pessoa que queriam que ele fosse.

Passei ainda pelas obras de G.W Sebald, de Jhumpa Lahiri, Bernardo de Carvalho, Milton Hatoum e Manuel Rui, este último com um conto onde o personagem mulato Luis Alvim recusa a sua própria etnia, e ao mesmo tempo a sua mãe. Pensa que assim será aceito pela sociedade de seu pai português da qual ele acredita fazer parte, ou melhor, na qual deseja se integrar. A qual ele acredita que faça parte. É um deslocado, um sem espaço, que se encaixa perfeitamente no que Pierre Bourdieu chamou de Atopo.

Levantei também a figura, presente em algumas das obras que citei acima, daqueles que são emigrantes dentro de suas próprias cidades e que, por algum motivo, aceitaram a ser a pessoa que não deveriam ser. E foi aí que um colega escritor de Portugal me chamou a atenção para as mulheres maltratadas pelos seus maridos machistas, ou aquelas que, submissas aos poderes religiosos ou regimes políticos autoritários, também se veem na condição de verdadeiras escravas do século XXI. Elas se assemelham aos emigrantes, emigrantes em suas pró-prias casas, emigrantes em suas próprias cidades, e também, para manter as suas frágeis sobrevivências, se autorizam a ser as pessoas que não querem ser.

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Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil

Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX - Abreviação para citação: Fisioter Bras

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimes-tral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das várias áreas relacionadas à Fisioterapia.Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publi-cados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao au-torizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com estas condições.A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as es-pecificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês das Recommendations for the Conduct, Reporting, Editing, and Publication of Scholarly Work in Medical Journals no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de dezembro de 2013.Submissões devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo ([email protected]). A publicação dos artigos é uma decisão dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial serão submetidas à revisão por pares anônimos.Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estu-dos em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo ado-tado (observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir o número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente registra-da no Conselho Nacional de Saúde.   1. EditorialO Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acon-tecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos impor-tantes publicados na própria revista.  É realizada a pedido dos Editores, que podem publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas de atualidade. 2. Artigos originaisSão trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados ori-ginais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em estu-dos com animais ou humanos. Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo (inglês e português), Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências.Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como ne-grito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel ou Word.Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com resolução de 300 dpi. Literatura citada: Máximo de 50 referências.

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AgradecimentosAgradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte.

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Exemplos:1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, edi-tor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and man-agement. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995.p.465-78. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of uro-kinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.

Envio dos trabalhosA avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser depo-sitada na conta da Shalon Representações: Bradesco, agência 0423-5, conta 79310-1, titular: Shalon Representações. Os assinantes da revista são dispen-sados do pagamento dessa taxa (Informar por e-mail com o envio do artigo).Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor executi-vo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail [email protected] texto completo das normas de publicação está disponível em nosso site.

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Agenda2015

Setembro

15 a 18 de setembroXXV Fórum Nacional de Ensino em Fisioterapia e II Congresso Brasileiro de Educação em FisioterapiaSão Paulo, SPInformações: abenfisio.com.br/forum2015

17 a 19 de setembroI Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato-ortopédicaPorto Alegre, RSInformações: abrafitobr.com.br/

Outubro

12 a 15 de outubroXIV Congresso Brasileiro de Terapia OcupacionalRio de Janeiro, RJInformações: www.atoerj.org.br/site.html

13 a 16 de outubroXXI Congresso Brasileiro de FisioterapiaSalvador, BAInformações: www.afbvirtual.net/congresso

27 a 31 de outubroXI Congresso Latinoamericano de Terapia OcupacionalSan José de Costa Rica, Costa RicaInformações: clatocostarica2015.com/inicio

29 de outubro a 1 de novembroV Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho (Abrafit 2015)Florianópolis, SCInformações: http://abrafit.fst.br/o-congresso

30 de outubro a 2 de novembro de 2015VII Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva Florianopolis, SCInformações: https://www.facebook.com/sonafe2015

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Fisioterapia Brasil

Page 83: Fisioterapia Brasil - Ano 2015 - Volume 16 - Número 2 16 ... 2016 - MANIPILATES.pdf · Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) ... Palavras-chave: Fisioterapia,
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DERMATOFUNCIONAL• Radiaçãoultravioletaepsoríase• Fototerapiaecicatrizaçãodequeimaduras

DIABETES• Glicemiaeparâmetroscardiovascularesemfisioterapiaaquática

COLUNA• Reposicionamentodacabeçaedorcervical• Protocolosdefisioterapiaempós-operatóriodecirurgiacardíaca

TREINAMENTO• Parâmetroseletromiográficosnosexercíciosdaarticulaçãoglenoumeral

DIABETES• Insulinaemfonoforesenotratamentodeúlcerasdiabéticas

• DiabetesedisfunçõespélvicasfemininasFi

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16

- no 2

ISSN 1518-9740

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Nessa edição

CADERNO PILATES