física - energia 05 - biomassa

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    5.1. INFORM AES GERAIS

    Do ponto de vista energtico, para fim de outorga de empreendimentos do setor eltrico, biomassa todo recurso renovvel oriun-do de matria orgnica (de origem animal ou vegetal) que pode ser utilizada na produo de energia. Assim como a energia hi-

    drulica e outras fontes renovveis, a biomassa uma forma indireta de energia solar. A energia solar convertida em energiaqumica, atravs da fotossntese, base dos processos biolgicos de todos os seres vivos.

    Embora grande parte do planeta esteja desprovida de florestas, a quantidade de biomassa existente na terra da ordem de dois tri-lhes de toneladas; o que significa cerca de 400 toneladasper capita. Em termos energticos, isso corresponde a mais ou menos 3.000EJ por ano ou seja, oito vezes o consumo mundial de energia primria (da ordem de 400 EJ por ano) (RAMAGE; SCURLOCK, 1996).

    Uma das principais vantagens da biomassa que, embora de eficincia reduzida, seu aproveitamento pode ser feito diretamente,por intermdio da combusto em fornos, caldeiras etc. Para aumentar a eficincia do processo e reduzir impactos socioambientais,

    tem-se desenvolvido e aperfeioado tecnologias de converso mais eficientes, como a gaseificao e a pirlise, tambm sendo co-mum a co-gerao em sistemas que utilizam a biomassa como fonte energtica, conforme comentado no captulo 2. No referidocaptulo, pode-se observar a participao da biomassa em 30% dos empreendimentos de co-gerao em operao no Pas.

    A mdio e longo prazo, a exausto de fontes no-renovveis e as presses ambientalistas podero acarretar maior aproveitamen-to energtico da biomassa. Atualmente, a biomassa vem sendo cada vez mais utilizada na gerao de eletricidade, principalmenteem sistemas de co-gerao e no suprimento de eletricidade para demandas isoladas da rede eltrica.

    5.2. DISPONIBILIDADE DE RECURSOS E CONSUMO DE BIOMASSAEmbora grande parte da biomassa seja de difcil contabilizao, devido ao uso no-comercial, estima-se que, atualmente, ela pos-sa representar at cerca de 14% de todo o consumo mundial de energia primria. Em alguns pases em desenvolvimento, essa par-cela pode aumentar para 34%, chegando a 60% na frica (Tabela 5.1).

    Atualmente, vrias tecnologias de aproveitamento esto em fase de desenvolvimento e aplicao. Mesmo assim, estimativas da AgnciaInternacional de Energia (AIE) indicam que, futuramente, a biomassa ocupar uma menor proporo na matriz energtica mundial cercade 11% em 2020 (AIE, 1998). Outros estudos indicam que, ao contrrio da viso geral que se tem, o uso da biomassa dever se manter

    estvel ou at mesmo aumentar, por duas razes, a saber: i) crescimento populacional; ii) urbanizao e melhoria nos padres de vida (HALL;HOUSE; SCRASE, 2000). Um aumento nos padres de vida faz com que pessoas de reas rurais e urbanas de pases em desenvolvimentopassem a usar mais carvo vegetal e lenha, em lugar de resduos (pequenos galhos de rvore, restos de materiais de construo etc.).

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    TABELA 5.1 Consumo de biomassa (MtEP)

    Pas ou Regio Biomassa [1] Outros Total [2] [1/2] %

    Mundial 930 5.713 6.643 14

    China 206 649 855 24

    Leste Asitico 106 316 422 25

    Sul da sia 235 188 423 56

    Amrica Latina 73 342 415 18frica 205 136 341 60

    Pases em desenvolvimento 825 1.632 2.457 34

    Pases da OCDE 81 3.044 3.125 3

    Fonte: AGNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA AIE. Nuclear pow er: sustainabi lit y, cli mate change and competi tion. Paris: IEA/OECD, 1998.

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    A precariedade e a falta de informaes oficiais sobre o uso da biomassa para

    fins energticos deve-se principalmente aos seguintes fatores: i) trata-se deum energtico tradicionalmente utilizado em pases pobres e setores menosdesenvolvidos; ii) trata-se de uma fonte energtica dispersa, cujo uso, via deregra, ineficiente; iii) o uso da biomassa para fins energticos indevida-mente associado a problemas de desflorestamento e desertificao.

    Entretanto, essa imagem da biomassa est mudando, graas aos seguintesfatores: i) esforos recentes de mensurao mais acurada do seu uso e po-tencial, por meio de novos estudos, demonstraes e plantas-piloto; ii) uso

    crescente da biomassa como um vetor energtico moderno (graas ao de-senvolvimento de tecnologias eficientes de converso), principalmente empases industrializados; iii) reconhecimento das vantagens ambientais douso racional da biomassa, principalmente no controle das emisses de CO2

    e enxofre (ROSILLO CALLE; BAJAY; ROTHMAN, 2000).

    No que concerne especificamente ao peso relativo da biomassa na gera-o mundial de eletricidade, embora difcil de avaliar, projees da Agn-cia Internacional de Energia (1998) indicam que ela dever passar de 10

    TWh em 1995 para 27 TWh em 2020 (AEI, 1998).

    Estudos indicam que, nos Estados Unidos, a capacidade instalada do parquegerador de energia oriunda de biomassa, no final dos anos 70, era de apenas

    200 MW, subindo para 8,4 GW no incio dos anos 1990 (WALTER; NOGUEI-

    RA, 1997). A maioria corresponde a plantas de co-gerao, com utilizao deresduos agrcolas e florestais. Embora com eficincia termodinmica relativa-mente baixa (18% a 26%), essas plantas tm sido economicamente compe-titivas. Os custos foram avaliados em cerca de US$ 1.400,00 por kW instaladoe entre US$ 65,00 e US$ 80,00 por kWh gerado.

    As metas do Departamento Americano de Energia (DOE) so de 18 GWde capacidade instalada em 2010 e, para 2030, 100 GW. Espera-se queo desenvolvimento de novas tecnologias, como o acoplamento de siste-

    mas de gaseificao e a integrao da pirlise s turbinas a gs, aumen-te substancialmente a eficincia termodinmica das plantas e reduza oscustos de capital e gerao. Em termos de eficincia, estima-se que os n-dices sero de 35% a 40%. Quanto aos custos, o kW instalado dever fi-car na faixa de US$ 770,00 a US$ 900,00 e o MWh gerado, entre US$40,00 e US$ 50,00.

    No Brasil, a imensa superfcie do territrio nacional, quase toda localiza-da em regies tropicais e chuvosas, oferece excelentes condies para a

    produo e o uso energtico da biomassa em larga escala. Alm da pro-duo de lcool, queima em fornos, caldeiras e outros usos no-comer-ciais, a biomassa apresenta grande potencial no setor de gerao deenergia eltrica.

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    No caso especfico do Estado de So Paulo, intensa a produo de bio-massa energtica por meio da cana-de-acar, sendo comparvel pro-duo de energia hidrulica. O Estado import ador de eletricidade (40%do que consome) e exportador de lcool para o resto do Pas. Verifica-se, portanto, que, apesar da produo de biomassa ser mundialmenteconsiderada uma atividade extremamente demandante de terras, mes-mo numa regio com alta densidade demogrfica possvel encontrarreas para essa atividade. A maior parte da energia dessa biomassa uti-lizada na produo do etanol combustvel lquido.

    A produo de madeira, em forma de lenha, carvo vegetal ou toras, tam-bm gera uma grande quantidade de resduos, que podem igualmente seraproveitadas na gerao de energia eltrica. Como ilustrado na Figura 5.1,os Estados brasileiros com maior potencial de aproveitamento(14) de res-duos da madeira, oriunda de silvicultura, para a gerao de energia eltri-ca so Paran e So Paulo. O tipo de produo de madeira, atividadeextrativista ou reflorestamento, influi na distribuio espacial dos resduos

    gerados. Nos casos de extrao seletiva e beneficiamento descentralizado,o aproveitamento de resduos pode se tornar economicamente invivel.

    Atualmente, o recurso de maior potencial para gerao de energia eltri-ca no Pas o bagao de cana-de-acar. A alta produtividade alcanadapela lavoura canavieira, acrescida de ganhos sucessivos nos processos detransformao da biomassa sucroalcooleira, tm disponibilizado enormequantidade de matria orgnica sob a forma de bagao nas usinas e des-tilarias de cana-de-acar, interligadas aos principais sistemas eltricos,

    que atendem a grandes centros de consumo dos Estados das regies Sule Sudeste. Alm disso, o perodo de colheita da cana-de-acar coincidecom o de estiagem das principais bacias hidrogrficas do parque hidrel-trico brasileiro, tornando a opo ainda mais vantajosa.

    O setor sucroalcooleiro gera uma grande quantidade de resduos, quepode ser aproveitada na gerao de eletricidade, principalmente emsistemas de co-gerao. Ao contrrio da produo de madeira, o culti-vo e o beneficiamento da cana so realizados em grandes e contnuas

    extenses, e o aproveitamento de resduos (bagao, palha, etc.) faci-

    litado pela centralizao dos processos de produo(15). A Figura 5.2mostra o potencial de aproveitamento desses resduos para geraoexcedente de energia eltrica, segundo cada Estado da Federao.

    Na produo de etanol, cerca de 28% da cana transformada em ba-gao. Em termos energticos, o bagao equivale a 49,5%, o etanol a43,2% e o vinhoto a 7,3%. Mesmo com esse alto valor energtico, obagao pobremente utilizado nas usinas, sendo praticamente incine-rado na produo de vapor de baixa presso (20 kgf/cm 2). Esse vapor utilizado em turbinas de contrapresso nos equipamentos de extra-o (63%) e na gerao de eletricidade (37%). A maior parte do vaporde baixa presso (2,5 kgf/cm2) que deixa as turbinas utilizada noaquecimento do caldo (24%) e nos aparelhos de destilao (61%); orestante (15%) no aproveitado.

    Em mdia, cada tonelada de cana processada requer cerca de 12 kWhde energia eltrica, o que pode ser gerado pelos prprios resduos da

    cana (palha, bagao, vinhoto etc.). Os custos de gerao j so compe-titivos com os do sistema convencional de suprimento, o que possibilitaa auto-suficincia do setor em termos de suprimento energtico, pormeio da co-gerao.

    Trabalho elaborado pelo Centro Nacional de Referncia em Biomassa,com a colaborao de outras instituies e o apoio financeiro da ANEEL,indica um potencial tcnico(16) de co-gerao de excedentes de energiaeltrica de 3.851 MW no setor sucroalcooleiro do Brasil (17) (CENBIO, 2002).

    Contudo, o referido trabalho tambm constata que apenas 133 MW es-tavam sendo comercializados em setembro de 2001, o que correspondea cerca de 11% do potencial tcnico dessas usinas e a somente 3,4% doreferido potencial brasileiro. No obstante, os dados tambm revelam queh perspectivas de 1.578 MW em novos projetos (348 MW em curto pra-zo, 772 MW em mdio prazo e 458 MW em longo prazo), o que corres-ponde a 28% do potencial tcnico indicado pelo levantamento. A Tabela5.2 apresenta uma sntese desses resultados por unidade da federao.

    (14) A quantidade de energia aproveitvel a partir de resduos de extrao vegetal funo do poder calorfico desses resduos.(15) Tambm pesa sobre a deciso econmica de implantao de usinas de aproveitamento o transporte desses resduos at as usinas.(16) Considerando-se o uso de tecnologias eficientes, comercialmente disponveis no Brasil.(17) Ressalte-se que esses dados se referem a apenas 51% das usinas sucroalcooleiras dos pas, uma vez que as demais no responderam ao questionrio utilizado no levantamento dos dados.

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    FIGURA 5.1 Potencial de gerao de energia eltrica a part ir de resduos florestais (silvicultura)

    Fonte: CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA EM BIOMASSA CENBIO. Panorama do potencial de biomassa no Brasil. Braslia; Dupli grfica, 2003. 80 p. (adapt ado)

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    FIGURA 5.2 Potencial de gerao de excedente de energia eltrica no setor sucroalcooleiro

    Fonte: CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA EM BIOMASSA CENBIO. Panorama do potencial de biomassa no Brasil. Braslia; Dupli grfica, 2003. 80 p. (adapt ado)

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    TABELA 5.2 Potencial e perspectivas de co-gerao no setor sucroalcooleiro*

    Unidade da Pot ncia Excedent e Pot encial t cnico Perspect ivas de Gerao de Excedent e

    Federao instalada comercializado de co-gerao 2003-2004 A partir de 2005

    So Paulo 851 110 2.244 368 140

    Alagoas 173 0 369 38 35

    Pernambuco 102 0 203 10 44

    Paran 95 6 283 133 102Mato Grosso 61 5 125 11 28

    Gois 50 5 109 107 21

    Minas Gerais 50 0 162 41 2

    Mato Grosso do Sul 37 0 95 18 33

    Rio de Janeiro 30 0 60 19 15

    Paraba 26 0 52 10 0

    Rio Grande do Norte 16 0 29 3 0

    Esprito Santo 13 0 39 10 0Bahia 13 0 33 2 9

    Sergipe 7 0 21 3 17

    Piau 6 7 3 0 0

    Maranho 5 0 12 0 15

    Par 3 0 7 0 0

    Amazonas 1 0 3 0 0

    Cear 1 0 2 0 0

    Total 1.540 133 3.851 773 461

    Fonte: CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA EM BIOMASSA - CENBIO. Levantamento do Potencial Real de excedentes de cogerao no setor sucro alcooleiro - Relatrio tcnico. ANEEL: 2002.

    (* ) Considerando-se o uso de tecnologias efici entes, comercialmente disponveis no Brasil. Ressalte-se que esses dados se referem a apenas 51% das usinas sucroalcooleiras do pas que operavam em 2001, umavez que as demais no responderam ao questionrio utilizado no levantamento dos dados.

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    Em alguns Estados brasileiros, principalmente na Regio Amaznica,verifica-se tambm a importncia de vrias plantas para a produo

    de leo vegetal, que pode ser queimado em caldeiras e motores decombusto interna, para a gerao de energia eltrica e o atendimen-to de comunidades isoladas do sistema eltrico. Entre essas plantasdestaca-se o dend, com produtividade mdia anual de 4 toneladasde leo por hectare (dez vezes maior que a da soja, por exemplo!) ea maior disponibilidade tecnolgica para o uso do leo. Outras cultu-ras de grande potencial so o buriti , o babau e a andiroba, fartamen-

    te encontrados naquela regio (FREITAS; DI LASCIO; ROSA, 1996). AFigura 5.3 apresenta uma estimativa do potencial para gerao de

    energia eltrica a partir de leo de palma (dend), cujos clculos ba-searam-se em projetos experimentais na Amaznia.

    Outros resduos agrcolas tambm apresentam grande potencial no setorde gerao de energia eltrica. Os mapas das Figuras 5.4, 5.5 e 5.6 ilus-tram os potenciais de aproveitamento da casca de arroz, da casca de cas-tanha de caju e da casca de coco-da-baa, respectivamente.

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    FIGURA 5.3 Est imati va de potencial para gerao de energia eltri ca

    a partir do leo de palma (dend)

    Fonte: CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA EM BIOMASSA CENBIO. Panorama do potencial de biomassa no Brasil. Braslia; Dupli grfica, 2003. 80 p. (adapt ado)

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    FIGURA 5.4 Potencial de gerao de energia eltri ca a part ir de casca de arroz

    Fonte: CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA EM BIOMASSA CENBIO. Panorama do pot encial de biomassa no Brasil. Braslia; Dupli grfica, 2003. 80 p. (adaptado)

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    FIGURA 5.5 Potencial de gerao de energia eltri ca a part ir de casca de castanha de caju

    Fonte: CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA EM BIOMASSA CENBIO. Panorama do potencial de biomassa no Brasil. Braslia; Dupli grfica, 2003. 80 p. (adapt ado)

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    FIGURA 5.6 Potencial de gerao de energia eltrica a part ir de casca de coco-da-baa

    Fonte: CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA EM BIOMASSA CENBIO. Panorama do potencial de biomassa no Brasil. Braslia; Dupli grfica, 2003. 80 p. (adapt ado)

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    TECNOLOGIAS DE5.3. APROVEITAMENTO

    O aproveitamento da biomassa pode ser feito por meio da combustodireta (com ou sem processos fsicos de secagem, classificao, compres-so, corte/quebra etc.), de processos termoqumicos (gaseificao, pir-

    lise, liquefao e transesterificao) ou de processos biolgicos (digestoanaerbia e fermentao). A Figura 5.7 apresenta os principais processosde converso da biomassa em energticos.

    As principais tecnologias de aproveitamento energtico da biomassa sodescritas a seguir.

    FIGURA 5.7 Diagrama esquemt ico dos processos de converso energtica da biomassa

    Fonte: BALANO ENERGTICO NACIONAL - BEN. Braslia: MME, 1982. (adaptado)

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    Combusto direta: combusto a transformao da energia qumicados combustveis em calor, por meio das reaes dos elementos consti-tuintes com o oxignio fornecido. Para fins energticos, a combusto di-reta ocorre essencialmente em foges (coco de alimentos), fornos(metalurgia, por exemplo) e caldeiras (gerao de vapor, por exemplo).Embora muito prtico e, s vezes, conveniente, o processo de combus-to direta normalmente muito ineficiente. Outro problema da combus-to direta a alta umidade (20% ou mais no caso da lenha) e a baixa

    densidade energtica do combustvel (lenha, palha, resduos etc.), o quedificulta o seu armazenamento e transporte.

    Gaseificao: como o prprio termo indica, gaseificao um processode converso de combustveis slidos em gasosos, por meio de reaestermoqumicas, envolvendo vapor quente e ar, ou oxignio, em quantida-des inferiores estequiomtrica (mnimo terico para a combusto). Hvrios tipos de gaseificadores, com grandes diferenas de temperaturae/ou presso. Os mais comuns so os reatores de leito fixo e de leito flui-

    dizado. O gs resultante uma mistura de monxido de carbono, hidro-gnio, metano, dixido de carbono e nit rognio, cujas propores variamde acordo com as condies do processo, particularmente se ar ou oxi-gnio que est sendo usado na oxidao.

    A gaseificao de biomassa, no entanto, no um processo recente. Atual-mente, esse renovado interesse deve-se principalmente limpeza e versatili-dade do combustvel gerado, quando comparado aos combustveis slidos. Alimpeza se refere remoo de componentes qumicos nefastos ao meio am-

    biente e sade humana, entre os quais o enxofre. A versatilidade se refere possibilidade de usos alternativos, como em motores de combusto inter-na e turbinas a gs. Um exemplo a gerao de eletricidade em comunida-des isoladas das redes de energia eltrica, por intermdio da queima diretado gs em motores de combusto interna (SANCHEZ; LORA; GMEZ, 1997).Outra vantagem da gaseificao que, sob condies adequadas, produzgs sinttico, que pode ser usado na sntese de qualquer hidrocarboneto.

    Pirlise: a pirlise ou carbonizao o mais simples e mais antigo pro-cesso de converso de um combustvel (normalmente lenha) em outrode melhor qualidade e contedo energtico (carvo, essencialmente). Oprocesso consiste em aquecer o material original (normalmente entre300C e 500C), na quase-ausncia de ar, at que o material volt ilseja retirado. O principal produto final (carvo) tem uma densidadeenergtica duas vezes maior que aquela do material de origem e quei-ma em temperaturas muito mais elevadas. Alm de gs combustvel, a

    pirlise produz alcatro e cido piro-lenhoso.

    A relao entre a quantidade de lenha (material de origem) e a de car-vo (principal combustvel gerado) varia muito, de acordo com as carac-tersticas do processo e o teor de umidade do material de origem. Emgeral, so necessrias de quatro a dez toneladas de lenha para a produ-o de uma tonelada de carvo. Se o material voltil no for coletado,o custo relativo do carvo produzido fica em torno de dois teros da-quele do material de origem (considerando o contedo energtico).

    Nos processos mais sofisticados, costuma-se controlar a temperatura ecoletar o material voltil, visando melhorar a qualidade do combustvelgerado e o aproveitamento dos resduos. Nesse caso, a proporo de car-vo pode chegar a 30% do material de origem. Embora necessite de tra-tamento prvio (reduo da acidez), o lquido produzido pode ser usadocomo leo combustvel.

    Nos processos de pirlise rpida, sob temperaturas entre 800C e 900C,

    cerca de 60% do material se transforma num gs rico em hidrognio emonxido de carbono (apenas 10% de carvo slido), o que a torna umatecnologia competitiva com a gaseificao. Todavia, a pirlise convencio-nal (300C a 500C) ainda a tecnologia mais atrativa, devido ao proble-ma do tratamento dos resduos, que so maiores nos processos comtemperatura mais elevada (RAMAGE; SCURLOCK, 1996).

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    A pirlise pode ser empregada tambm no aproveitamento de resduosvegetais, como subprodutos de processos agroindustriais. Nesse caso, necessrio que se faa a compactao dos resduos, cuja matria-prima transformada em briquetes. Com a pirlise, os briquetes adquiremmaiores teores de carbono e poder calorfico, podendo ser usados commaior eficincia na gerao de calor e potncia. Ensaios de laboratriotm sido realizados no Laboratrio de Combustveis Alternativos da Uni-versidade Estadual de Campinas (LUENGO; BEZZON, 1997).

    Digesto anaerbia:a digesto anaerbia, assim como a pirlise, ocor-re na ausncia de ar, mas, nesse caso, o processo consiste na decompo-sio do material pela ao de bactrias (microrganismos acidognicos emetanognicos). Trata-se de um processo simples, que ocorre natural-mente com quase todos os compostos orgnicos.

    O tratamento e o aproveitamento energtico de dejetos orgnicos (es-terco animal, resduos industriais etc.) podem ser feitos pela digesto

    anaerbia em biodigestores, onde o processo favorecido pela umida-de e aquecimento. O aquecimento provocado pela prpria ao dasbactrias, mas, em regies ou pocas de frio, pode ser necessrio caloradicional, visto que a temperatura deve ser de pelo menos 35C.

    Em termos energticos, o produto final o biogs, composto essencial-mente por metano (50% a 75%) e dixido de carbono. Seu contedoenergtico gira em torno de 5.500 kcal por metro cbico. O efluente ge-rado pelo processo pode ser usado como fertilizante.

    Fermentao: fermentao um processo biolgico anaerbio em queos acares de plantas como a batata, o milho, a beterraba e, principal-mente, a cana de acar so convertidos em lcool, por meio da aode microrganismos (usualmente leveduras). Em termos energticos, oproduto final, o lcool, composto por etanol e, em menor proporo,metanol, e pode ser usado como combustvel (puro ou adicionado gasolina cerca de 20%) em motores de combusto interna.

    Transesterificao: transesterificao um processo qumico que con-siste na reao de leos vegetais com um produto intermedirio ativo(metxido ou etxido), oriundo da reao entre lcoois (metanol ou eta-nol) e uma base (hidrxido de sdio ou de potssio) (RIBEIRO et al., 2001).Os produtos dessa reao qumica so a glicerina e uma mistura de ste-res etlicos ou metlicos (biodiesel). O biodiesel tem caractersticas fsico-qumicas muito semelhantes s do leo diesel e, portanto, pode ser usadoem motores de combusto interna, de uso veicular ou estacionrio.

    CENTRAIS TERMELTRICASA BIOM ASSA EM OPERAO

    5.4. NO BRASIL

    Em setembro de 2003, havia registro de 217 termeltricas a biomassaem operao no Brasil, perfazendo uma capacidade instalada de 2.696MW. Como ilustra a Figura 5.8, a grande maioria dessas usinas est locali-

    zada no Estado de So Paulo, onde se concentra grande parte do setor su-croalcooleiro do pas. O Anexo 5 apresenta uma lista completa das centraistermeltr icas a biomassa em operao no Brasil, destacando-se o nome doempreendimento, o proprietrio, o municpio e a unidade da Federao,assim como a potncia instalada e o tipo de combustvel utilizado.

    FUTURAS CENTRAIS TERMELTRICAS5.5. A BIOMASSA NO BRASIL

    Em setembro de 2003, existiam 27 empreendimentos apenas outorga-dos e dois em construo, conforme Tabela 5.3. Em conjunto, poderoadicionar ao sistema eltrico nacional cerca de 180 MW de capacidadede gerao. Entre as centrais apenas outorgadas, destaca-se uma maiordiversidade dos combustveis a serem utilizados: doze usaro resduos demadeira, nove iro queimar bagao de cana e cinco usinas tero o bio-gs como combustvel.

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    TABELA 5.3 Futuras UTEs Sit uao em setembro de 2003

    Nome da Usina Potncia (kW) Municpio Combustvel Destino Proprietrio Situao

    da Energia

    Coinbra - Frutesp 5.000,00 Bebedouro - SP Resduos da cana-de-acar PIE Frutesp Industrial Ltda Construo

    Lages 28.000,00 Lages - SC Resduos madeireiros PIE Lages Bioenergtica Ltda Construo

    Araguaia I 9.000,00 - Resduos da cana-de-acar - - Apenas Outorgado

    Bandeirante 20.000,00 - Biogs - - Apenas OutorgadoCAAL 3.825,00 Alegrete - RS Casca de arroz APE-COM Cooperativa Apenas Outorgado

    Agroindustrial Alegrete Ltda

    Capricho 2.400,00 - Resduos da cana-de-acar - - Apenas Outorgado

    Cargi ll Bebedouro 5.000,00 - Resduos da cana-de-acar - - Apenas Out orgado

    Chapec 4.000,00 - Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    Dois Vizinhos 3.000,00 - Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    Ecoluz 10.000,00 - Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    Fazenda Cancela 7.200,00 - Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    Fazenda Sant a Mart a 3.600,00 - Resduos madei reiros - - Apenas Out orgado

    Florevale 2.520,00 Gro Mogol - MG Resduos madeireiros APE-COM Florestal do Vale Apenas Outorgadodo Jequitinhonha Ltda

    Galvani 4.000,00 Paulnia - SP Resduos da cana-de-acar APE Galvani S/A. Apenas Outorgado

    Gaseifamaz II 27,00 - Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    Itacoatiara 5.000,00 Itacoatiara - AM Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    Jatiboca 3.800,00 Urucnia - MG Resduos da cana-de-acar APE Cia Agrcola Apenas OutorgadoPontenovense

    Marca 1.000,00 - Biogs - - Apenas Outorgado

    Novagerar 4.000,00 - Biogs - - Apenas Outorgado

    Pasa 2.400,00 - Resduos da cana-de-acar - - Apenas Outorgado

    PCT Barueri Biogs 2.601,00 Carapicuba - SP Biogs APE Companhia de Apenas OutorgadoSaneamento Bsico doEstado de So Paulo

    Rickli 5.000,00 - Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    So Joo Biogs 20.000,00 - Biogs - - Apenas Outorgado

    Sgurio Itapeva 1.485,00 Nova Campina - SP Resduos madeireiros APE Sgurio Indstria Apenas Outorgadode Madeiras Ltda

    Solonorte 800,00 - Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    Sumama 4.000,00 - Resduos da cana-de-acar - - Apenas Outorgado

    Termocana 8.200,00 - Resduos da cana-de-acar - - Apenas Outorgado

    Toledo 3.000,00 - Resduos madeireiros - - Apenas Outorgado

    Trilcool 11.500,00 Canpolis - MG Resduos da cana-de-acar APE-COM Laginha Agro Apenas OutorgadoIndustrial S/A

    Fonte: AGNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELTRICA ANEEL. Banco de In formaes de Gerao BIG. 2003. Disponvel em: w ww.aneel.gov.br/15.htm.

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    FIGURA 5.8 Usinas termeltri cas a biomassa em operao e potncia instalada por estado

    situao em setembro de 2003

    Fonte: Elaborado com base em dados da AGNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELTRICA ANEEL. Banco de Informaes de Gerao BIG. 2003. Disponvel em: ww w.aneel.gov.br /15.htm.

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    5.6. ASPECTOS SOCIOAM BIENTAIS

    Embora ainda muito restrito, o uso de biomassa para a gerao de eletri-cidade tem sido objeto de vrios estudos e aplicaes, tanto em pasesdesenvolvidos como em pases em desenvolvimento. Entre outras razes,esto a busca de fontes mais competitivas de gerao e a necessidade dereduo das emisses de dixido de carbono.

    Do ponto de vista tcnico-econmico, os principais entraves ao maioruso da biomassa na gerao de energia eltrica so a baixa eficinciatermodinmica das plantas e os custos relativamente altos de produoe transporte. De um modo mais genrico, incluindo aspectos socioam-bientais, verifica-se a necessidade de maior gerenciamento do uso eocupao do solo, devido falta de regularidade no suprimento (sazo-nalidades da produo), criao de monoculturas, perda de biodiversi-dade, uso intensivo de defensivos agrcolas etc. Esses entraves tendem

    a ser contornados, a mdio e longo prazos, pelo desenvolvimento, apli-cao e aprimoramento de novas e eficientes tecnologias de conversoenergtica da biomassa (CORTEZ; BAJAY; BRAUNBECK, 1999) e pormeio dos incentivos institudos pelas polticas do setor eltrico, algunsdos quais foram citados no Captulo 2.

    Alm de ambientalmente favorvel, o aproveitamento energtico e racio-nal da biomassa tende a promover o desenvolvimento de regies menosfavorecidas economicamente, por meio da criao de empregos e da ge-

    rao de receita, reduzindo o problema do xodo rural e a dependnciaexterna de energia, em funo da sua disponibilidade local, conformeexemplo ilustrado no Quadro 5.1.

    QUADRO 5.1 Exemplo de uso de leos vegetaisna gerao de energia eltrica

    leo de andiroba pode substituir diesel

    Carauari, 16/05/2000 - A comunidade de So Roque, localizada no mu-nicpio de Carauari, a cerca de 800 km a sudoeste de Manaus, no Ama-zonas, realiza este ano uma experincia piloto, substituindo o diesel porleo de andiroba, em um gerador de energia de 144 kVA, especialmen-

    te adaptado. A andiroba uma rvore relativamente abundante nas vr-zeas do rio Juru, de cujas sementes tradicionalmente se extrai leo paraproduo de sabo e sabonete caseiro. O uso em motores, no lugar dodiesel, tornou-se possvel graas a uma nova tecnologia de extrao doleo, 50% mais produtiva, e de processos de depurao, ainda em fasede testes. A adaptao do motor simples, apenas no sistema de pr-aquecimento, e foi feita na Alemanha. O motor foi doado pela organi-zao no-governamental Biomass Users Network. Na ponta do lpis, oleo de andiroba mais caro do que o diesel, mas a alternativa pode seruma soluo para comunidades muito isoladas, que hoje dependem delongas viagens de barco para obter o diesel dos geradores de energia emotores de popa das canoas e voadeiras (como so chamados os barcosde alumnio). O custo de produo do leo de andiroba est entre 1 e1,5 real o litro, enquanto o diesel aqui comprado a R$0,85, diz o en-genheiro eletricista Jos de Castro Crrea, da Universidade do Amazo-nas, coordenador do projeto. A diferena fica menor se tirarmos o sub-sdio do diesel e considerarmos que a queima do leo de andiroba noproduz xidos de enxofre (causadores da chuva cida) e no h emissode carbono (porque o crescimento da rvore seqestra o carbono emiti-do na queima do leo). O projeto de pesquisa j tem 3 anos e vematraindo a ateno dos rgos financiadores de pesquisas, como o Con-selho Nacional de Pesquisas Cientficas e Tecnolgicas, CNPq, e mesmoda Agncia Nacional de Energia Eltrica, ANEEL. Este ano, a comunida-

    de de So Roque aumentou a capacidade de produo de 60 para 450kg de andiroba por hora, o que rende aproximadamente 150 litros deleo por hora e equivale ao processamento de 60 toneladas de semen-tes por safra. Para os ribeirinhos de toda a vrzea do Juru, a venda dassementes de andiroba para uma futura usina de processamento de leo tida como uma das poucas sadas para a atual estagnao econmicada regio. Castro ainda trabalha com o aproveitamento da torta de an-diroba (casca e polpa aps a retirada do leo) para a fabricao de velasesprays repelentes de mosquitos. Alm de utilizar um resduo, esses re-pelentes no so txicos para o homem, como os de origem sinttica. Apesquisa sobre as propriedades repelentes da andiroba da Fundao

    Osvaldo Cruz e j existem indstrias colocando estas velas no mercado.

    Fonte: JOHN, Liana. leo de andiroba pode substituir diesel. Agncia Estado, 2000.Disponvel em: www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2000/mai/16/40.htm.