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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DIEGO ANTUNES DOS SANTOS LIMA SILVA FISCALIZAÇÃO E CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA TERCEIRIZAÇÃO: Estudo da Associação de Atividades de Valorização Social (ATIVA) NATAL-RN 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

DIEGO ANTUNES DOS SANTOS LIMA SILVA

FISCALIZAÇÃO E CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA

TERCEIRIZAÇÃO: Estudo da Associação de Atividades de Valorização Social

(ATIVA)

NATAL-RN

2014

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DIEGO ANTUNES DOS SANTOS LIMA SILVA

FISCALIZAÇÃO E CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA

TERCEIRIZAÇÃO:Estudo da Associação de Atividades de Valorização Social

(ATIVA)

Monografia apresentada na Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como um dos requisitos para

obtenção do título de bacharel em Ciências Contábeis.

Orientadora: Halcima Melo Batista, Ms.C.

NATAL

2014

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Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Silva, Diego Antunes dos Santos Lima.

Fiscalização e controle da administração pública na terceirização: estudo da

Associação de Atividades de Valorização Social (ATIVA) / Diego Antunes dos

Santos Lima Silva. - Natal, RN, 2014.

56f.

Orientadora: Profa. Ma. Halcima Melo Batista.

Monografia (Graduação em Ciências Contábeis) - Universidade Federal do

Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de

Ciências Contábeis.

1. Ciências contábeis - Monografia. 2. Contabilidade pública – Monografia. 3.

Fiscalização - contratos - Monografia. 4. Empresa terceirizada - Monografia. I.

Batista, Halcima Melo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.

Título.

RN/BS/CCSA CDU 657:336.13

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DIEGO ANTUNES DOS SANTOS LIMA SILVA

FISCALIZAÇÃO E CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA

TERCEIRIZAÇÃO:Estudo da Associação de Atividades de Valorização Social

(ATIVA)

Monografia apresentada na Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como um dos requisitos para

obtenção do título de bacharel em Ciências Contábeis.

APROVADO EM 05/12/2014.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

PROFª. Ms. HALCIMA MELO BATISTA

Orientadora

________________________________________

PROF. Dr. VICTOR BRANCO DE HOLANDA

Membro

________________________________________

PROF. LEANDRO SARAIVA DANTAS DE OLIVEIRA

Membro

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RESUMO

A Administração Pública tem aumentado a utilização dos contratos com terceiros na intenção

de diminuir os gastos públicos. No âmbito do terceiro setor observa-se que, devido a

incapacidade do Estado em realizar ações de cunho social, este tem delegado esta tarefa a

entidades sem fins lucrativos através da realização de convênios. O presente trabalho tem

como objetivo verificar a importância do controle e da fiscalização da administração pública

nos contratos de terceirização. Quanto ao modelo de pesquisa adotada, foi utilizado o estudo

de uma entidade do terceiro setor com convênio celebrado com o poder executivo municipal,

tratando-se também de uma pesquisa documental e bibliográfica. Realizou-se uma analise

qualitativa, onde se comparou as irregularidades encontradas pelo Ministério Público na

entidade pesquisada em relação aos princípios de controle interno e as normas de fiscalização

de contratos. Verificou-se a inexistência de qualquer tipo de controle ou fiscalização nos

convênios celebrados entre a instituição e o Estado, de forma que foram encontradas várias

irregularidades na execução do contrato. Todos esses problemas culminaram na extinção da

entidade e geraram perdas enormes de recursos públicos, pois cabia ao ente público a

obrigação de fiscalizar a execução do contrato, o que gerou a responsabilidade do Município

Natal em pagar as verbas trabalhistas e previdenciárias dos trabalhadores lesados e que

entraram na justiça trabalhista.

Palavras-chave: Administração Pública, Fiscalização, Controle, Contratos.

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ABSTRACT

Public administration has increased the use of contracts with third parties to justify the

reduction in public spending. Within the third sector is observed that due to the state's

inability to perform social actions, it has delegated this task to nonprofits through making

covenants. This study aims to determine the importance of control and supervision of public

administration in outsourcing contracts. As for the adopted research model, the study of a

nonprofit entity with an agreement signed with the municipal executive power was used also

in the case of a documentary and bibliographic research. We performed a qualitative analysis

where we compared the irregularities found by the Ministério Público in the entity

investigated in relation to the principles of internal control and inspection standards for

contracts. There was a lack of any kind of control or supervision in agreements signed

between the institution and the state, so that several irregularities were found in the contract.

All these problems led to the extinction of the entity and generated huge losses of public

resources, as it was for the public entity an obligation to oversee the execution of the contract,

which generated the responsibility of the Natal City in pay labor and social security funds of

injured workers and entered the labor courts.

Keywords: Public Administration, Supervision, Control, Contracts.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................8

1.1 Tema e Problema..................................................................................................................8

1.2 Objetivos.............................................................................................................................10

1.2.1 Geral.................................................................................................................................10

1.2.2 Específicos.......................................................................................................................10

1.3 Justificativa.........................................................................................................................10

2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................12

2.1 Terceiro Setor......................................................................................................................12

2.2 Terceirização.......................................................................................................................17

2.3 Administração Pública........................................................................................................22

2.4 Controles e Fiscalização......................................................................................................26

2.5 Histórico da Entidade..........................................................................................................33

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS......................................................................36

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS.........................................................................................38

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................49

REFERÊNCIAS........................................................................................................................51

ANEXO A - INSTRUÇÃO NORMATIVA MP Nº 2, DE 30 DE ABRIL DE 2008.................55

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1 INTRODUÇÃO

1.1 TEMA E PROBLEMA

Desde sua idealização, em meados da segunda guerra mundial, nas décadas de 40 e 50,

a terceirização tem crescido cada vez mais no mercado global. De acordo com seus

idealizadores, seus objetivos eram os melhores possíveis, pois através da terceirização visava-

se aumentar a produção e baratear os custos, utilizando-se de empresas mais especializadas,

de forma que as grandes empresas conseguissem diminuir os tamanhos de suas estruturas e

cadeias de comando, que aumentavam consideravelmente os gastos com manutenção. Por

isso, ao delegar funções que não fazem parte do objetivo fim da entidade, para empresas

menores e mais especializadas, diminuem-se os gastos, além de melhorar a qualidade dos

produtos.

O problema é que, com o passar do tempo, as empresas começaram a se utilizar deste

modelo com o objetivo de diminuir os gastos, principalmente com tributos, sem se preocupar

com a qualidade dos serviços prestados. Nesse tipo de contrato, o trabalhador é a parte que

mais sofre, pois o mesmo acaba por perder muitos direitos trabalhistas conquistados,

principalmente pelos sindicatos. Quando o trabalhador passa de contratado para terceirizado,

ele acaba por perder a identidade com quem o está contratando, visto que o mesmo pode ser

remanejado a qualquer momento.

No Brasil, a terceirização tem tomado grandes proporções, sendo inclusive a

administração pública grande adepta deste tipo de empreendimento, principalmente quando se

trata do terceiro setor1. A administração pública no Brasil possui um sistema burocrático em

excesso, o que torna a realização de muitas atividades uma complicação, principalmente na

área social. Para isso, o Estado tem se utilizado cada vez mais de contratos com as chamadas

entidades sem fins lucrativos, repassando as verbas necessárias para a execução das ações. As

entidades do terceiro setor, por terem personalidade jurídica privada, possuem menos entraves

burocráticos, por essa razão é que tem crescido cada vez mais os investimentos neste tipo de

instituição.

Cabe à administração pública fiscalizar as empresas com quem ela celebra contratos,

pois o Superior Tribunal Federal (STF) reconheceu a responsabilidade subsidiária sobre os

direitos trabalhistas e previdenciários dos funcionários terceirizados, através da Ação

Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº. 16. Assim, caso a entidade contratada venha a

1 Entidades com personalidade jurídica privada, sem fins lucrativos e constituídas com um determinado objetivo,

geralmente de assistência social.

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cometer irregularidades que prejudiquem os trabalhadores quanto aos seus direitos, onde a

empresa não tenha condições de pagá-los, o Estado deverá fazê-lo, pois cabe a este a

obrigação de fiscalizar a execução do contrato e inibir este tipo de acontecimento.

Com base em experiência profissional foi observado no âmbito do Tribunal Regional

do Trabalho 21º região, que corresponde ao estado do Rio Grande do Norte, a grande

quantidade de processos trabalhistas envolvendo a Associação de Atividade de Valorização

Social (ATIVA),uma instituição, sem fins lucrativos e que possui convênios com a

administração pública do Município de Natal/RN para a realização de atividade de cunho

social.

No ano de 2012 a referida instituição foi alvo de ação civil pública de dissolução e

liquidação de entidade de interesse social com pedido de intervenção judicial. Essa ação foi

realizada devido a uma serie de irregularidades constatadas na sua administração, as quais

foram posteriormente comprovadas. Neste ano (2014), o Tribunal de Justiça do Estado do Rio

Grande do Norte acatou o pedido de dissolução da entidade, marcando a data para 19 de

dezembro de 2014.

Refletindo sobre este caso e todo o contexto que o envolve, algumas questões

surgiram: A partir de que momento houve a necessidade de intervenção do Ministério

Público? Houve algum tipo de fiscalização ou controle antes desta atitude do Ministério

Público? Em que medida, fiscalizações desta natureza são necessárias para o bem do

Estado?

Assim, com base nestes questionamentos é que e presente estudo foi realizado.

O trabalho descrito nesta monografia foi assim organizado: O primeiro capítulo, que

se tratou desta introdução, comentou brevemente sobre o universo em que se insere a

pesquisa, os fatos que levaram a realização do trabalho e os objetivos a serem alcançados.

O segundo capítulo constitui-se do referencial teórico, onde é abordado o terceiro

setor, a terceirização, a administração pública, o controle interno e a fiscalização além do

histórico da entidade.

No terceiro capítulo são demonstrados os procedimentos metodológicos utilizados no

estudo e a analise das informações.

O quarto capítulo refere-se às considerações finais do autor sobre tudo que foi

abordado.

No último capítulo são dispostas as referências utilizadas no trabalho.

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

Conforme Prodanov e Freitas (2013, p. 124), o objetivo geral "está ligado a uma visão

global e abrangente do tema. Relaciona-se com o conteúdo intrínseco, quer dos fenômenos e

eventos, quer das idéias estudadas. Vincula-se diretamente à própria significação da tese

proposta pelo projeto"

O objetivo geral da pesquisa é verificar a importância do controle e da fiscalização

da administração pública nos contratos de terceirização.

1.2.2 Específicos

Em relação aos objetivos específicos, Prodanov e Freitas(2013, p. 124) entendem que

estes "apresentam caráter mais concreto. Têm função intermediária e instrumental,

permitindo, de um lado, atingir o objetivo geral e, de outro, aplicar este a situações

particulares"

Para o alcance do objetivo geral se fazem necessários alcançar os seguintes objetivos

específicos:

a) Levantar as irregularidades encontradas no contrato entre a ATIVA e a

administração pública;

b) Analisar o controle interno da ATIVA com base nos princípios de controle interno;

c) Verificar se a administração pública adotou os procedimentos de fiscalização

necessários com base nas irregularidades encontradas.

1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Ao conviver durante certo período com o cotidiano de um tribunal regional do

trabalho, foi verificado a existência de grande números de processos trabalhistas envolvendo a

entidade objeto do estudo. Assim nasceu a curiosidade de realizar uma investigação mais

aprofundada sobre o assunto, de modo a verificar quais os motivos que levaram a existência

desse grande número de processos. Destacando também a responsabilidade subsidiária da

administração pública nos referidos processos, de forma que, caberá ao Município de Natal o

pagamento de todos os processos trabalhistas, valores que já deveriam ter sido pagos com o

dinheiro dos convênios.

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A partir dessa verificação, foi observado que tratava-se de um tema ainda pouco

explorado e que pode contribuir para o setor contábil, principalmente nas áreas de controle e

fiscalização. Outro fator importante é que se trata de um caso que afeta diretamente a

população, pois envolve recursos públicos de altos valores, tem participação de políticos

potiguares e de uma entidade sem fins lucrativos, a qual tinha como objetivo realizar ações de

assistência social.

Dessa forma, o estudo é importante no sentido de evidenciar o quão importante é a

necessidade de um controle interno e de uma fiscalização eficaz, de modo a evitar

irregularidades e combater a corrupção envolvendo a administração pública na terceirização.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo é indicado o referencial teórico utilizado para fundamentar esta

pesquisa. Inicia-se tratando dos tipos de setores socais existentes. Em seguida comenta-se

sobre o terceiro setor, como é estruturado e sua importância social. Após é abordado

historicamente e legalmente a terceirização com foco nos contratos com o estado.

Posteriormente é dado um panorama da estruturação da administração pública no Brasil.

Continuando, é tratado sobre o controle interno e as normas de fiscalização dos contratos. Por

fim é feito um panorama da instituição estudada.

Entende Tachizawa (2004), que a sociedade é dívida em três setores:

O primeiro setor ou Estado é composto por representantes da população e tem como

objetivo assegurar o bem-estar da sociedade. A manutenção de suas funções é realizada

através da instituição de tributos aos cidadãos com o intuito de arrecadar recursos financeiros,

que servirão para oferecer para a população, saúde, educação, segurança etc.

O segundo setor ou Mercado é constituído por qualquer pessoa ou empresa que se

disponha a inserir no mercado, tendo como objetivo principal o lucro. A criação e manutenção

de suas atividades provem do capital próprio do investidor e dos lucros advindos de seus

esforços.

O terceiro setor ou entidades sem fins lucrativos são instituições de caráter privado,

mas ao contrário do segundo setor, estas não possuem como objetivo o lucro e sim a

realização de trabalhos de assistência social, os quais serão definidos na sua constituição. Para

a realização destes objetivos a entidade pode utilizar recursos tanto do estado como da

iniciativa privada através de contratos, convênios, doações, assim como a ajuda de voluntários

(pessoa física).

2.1 TERCEIRO SETOR

A incapacidade do estado em prover as necessidades básicas previstas na constituição

federal gerou a necessidade de um novo tipo de entidade organizada de forma privada, ou

seja, sem a intervenção do estado, cujo objetivo é promover o bem estar social. O poder

público com sua burocracia excessiva, má administração de recursos e falta de iniciativa, não

consegue chegar a determinadas partes da população e nem ser eficaz mesmo nos trabalhos

que realiza. As entidades do terceiro setor, por serem entidades privadas criadas com um

objetivo especifico, conseguem ter mais agilidade e flexibilidade para realizar determinadas

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ações sociais, seja na saúde, na educação, no lazer, na alimentação etc. Sabendo disso, o

Estado percebeu no terceiro setor a oportunidade para realizar ações de cunho social sem a

necessidade de ele mesmo o fazer, delegando a outros o papel que lhe deveria caber. Assim, o

Estado tem cada vez mais se utilizado de contratos, convênios e outros modelos de negócio

com entidades do terceiro setor, repassando os recursos financeiros necessários e dando

incentivos para que as entidades realizem as atividades.

O terceiro setor é juridicamente classificado em associações e fundações e possui

inúmeras denominações popularmente utilizadas, como: Instituto, Entidade, Organização sem

fins lucrativos, ONGs, Organização Filantrópica etc.

As Fundações são criadas a partir de um patrimônio, seja ele de pessoa física ou

jurídica, o qual será destinado para um determinado objetivo de cunho social sem objetivar a

lucro. Assim a essência das fundações não está nas pessoas que a compõem (embora estas

incorporem as entidades auxiliando na realização das tarefas), mas sim no patrimônio, o qual

fora designado para alguma finalidade sendo esta inalterável. Dessa forma, aos

administradores cabe apenas colocar em prática os objetivos.

Conforme o art. 62 do Código Civil, a fundação somente poderá constituir-se para fins

religiosos, morais, culturais ou de assistência e sua constituição deve ser realizada através de

escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se

destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

As Associações tem como essência a união de pessoas que se organizam

coletivamente com objetivos não econômicos. De acordo com o art. 54 do código civil são

constituídas através de estatuto o qual sob pena de nulidade deverá conter: a denominação, os

fins e a sede da associação; os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos

associados; os direitos e deveres dos associados; as fontes de recursos para sua manutenção; o

modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; as condições para a

alteração das disposições estatutárias e para a dissolução; a forma de gestão administrativa e

de aprovação das respectivas contas. As associações poderão ter seu fim alterado, desde que

os associados queiram, sendo que o mesmo não acontece com as fundações, cujo objetivo,

para qual seu patrimônio fora destinado, é inalterável.

O Estado se utiliza, principalmente, de benefícios fiscais como forma de incentivar a

criação de novas entidades e aumentar o desenvolvimento do setor. Para obter os benefícios

que o Estado fornece, faz-se necessário preencher alguns requisitos para receber os registros e

títulos. Com a qualificação alcançada poderá se obter imunidade, isenção de tributos, receber

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recursos públicos, tudo isso através de convênios, contratos, subvenções sociais, auxílios,

doações e termos de parceria.

Existem quatro titulações dadas pela administração pública. São elas: Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), Organização Social, Certificado de Entidades

Beneficentes de Assistência Social (CEBAS) e Título de Utilidade Pública.

As OSCIPs são regidas pela Lei nº 9.790, de 23 de Março de 1999 que qualifica

pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos desde que atendam os objetivos

sociais e normas estatutárias da referida lei, sendo estes descritos nos artigos 3º e 4º

respectivamente. Além disso, o art. 2º relaciona uma serie de entidades que mesmo

obedecendo os artigos 3º e 4º não poderão receber o título de OSCIP. Em relação às OSCIPs é

realizado o termo de parceria formando-se um vinculo de cooperação entre as partes, com o

objetivo de executar as atividades de interesse público. Tal termo tem vantagem sobre os

convênios por serem menos burocráticos.

A Lei nº 9.637, de 15 de Maio de 1998 é responsável pela normatização das

Organizações Sociais que são qualificadas a partir pessoas jurídicas de direito privado, sem

fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao

desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde.

Em seu art. 2º ela dispõe de uma série de requisitos necessários para a habilitação do referido

título. As Organizações Sociais realizam suas atividades através de um contrato de gestão,

tendo assim direito à dotação orçamentária, mantendo-se autonomia financeira e

administrativa, desde que esteja de acordo com as normas de composição do conselho de

administração, conforme disposto no art. 3º.

As entidades que recebem o Titulo de CEBAS devem obedecer aos requisitos expostos

na Lei nº 12.101, de 27 de Novembro de 2009, a qual revogou outros dispositivos acerca do

tema. Conforme a norma, são qualificados como CEBAS pessoas jurídicas de direito privado,

sem fins lucrativos, reconhecidas como entidades beneficentes de assistência social com a

finalidade de prestação de serviços nas áreas de assistência social, saúde ou educação, desde

que cumpra os requisitos dispostos nela. Os ministérios da Educação, Saúde e

Desenvolvimento Social e Combate à Fome são os responsáveis pela análise e decisão dos

requerimentos de concessão ou de renovação dos certificados, sendo o prazo de validade dos

certificados com variação entre 1 (um) a 5 (cinco) anos conforme critérios definidos em

regulamento. Desde que cumpra os requisitos necessários, as entidades beneficentes farão jus

a isenção do pagamento das contribuições de que tratam os art. 22 e 23 da Lei nº 8212, de 24

de Julho de 1991, dentre as quais está a cota patronal de INSS, no importe de 20% sobre as

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remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título durante o mês, aos segurados

empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços.

O Título de Utilidade Pública é, dentre os quatro tipos, o mais antigo, sendo regido

pela Lei nº 91, de 28 de agosto de 1935. A referida Lei traz em seu art. 1º a seguinte redação:

Art. 1º As sociedades civis, as associações e as fundações constituídas no

país com o fim exclusivo de servir desinteressadamente á coletividade

podem ser declaradas de utilidade publica, provados os seguintes requisitos:

a) que adquiriram personalidade jurídica;

b) que estão em efetivo funcionamento e servem desinteressadamente á

coletividade;

c) que os cargos de sua diretoria, conselhos fiscais, deliberativos ou

consultivos não são remunerados.

Não poderá ocorrer nenhum tipo de favor por parte do estado, exceto a utilização de

emblemas, flâmulas, bandeiras ou distintivos próprios, devidamente registrados no Ministério

da Justiça e a da menção do titulo concedido. Assim como o CEBAS o Título de Utilidade

Pública concede Benefício Fiscal Previdenciário, podendo ser Municipal, Estadual ou Federal.

É importante ressaltar a diferença entre convênio e contrato, pois ainda são bastante

confundidos. O conceito de convênio pode ser verificado no Decreto n.º 6.170, de 25 de julho

de 2007, onde o mesmo considera:

I - convênio - acordo, ajuste ou qualquer outro instrumento que

discipline a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas

nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tenha como

partícipe, de um lado, órgão ou entidade da administração pública federal,

direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da administração

pública estadual, distrital ou municipal, direta ou indireta, ou ainda,

entidades privadas sem fins lucrativos, visando a execução de programa de

governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de

bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação;

Em relação aos contratos, de acordo com a lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993,

"considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da Administração

Pública e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formação de vínculo e a

estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada".

Assim, a principal diferença entre ambos os modelos consiste no interesse das partes,

ou seja, enquanto no convênio há um interesse mútuo e colaborativo de realizar um

determinado objetivo, no contrato os interesses são divergentes, de forma que, é esperado uma

contraprestação pelo serviço prestado ou entrega de um produto.

De acordo com o Código Tributário Nacional (CTN) correspondente a Lei nº 5.172, de

25de outubro de 1966 dispõe que é vedado à União, Estados e Municípios instituir impostos

ao patrimônio, renda ou serviços sobre templos de qualquer culto, partidos políticos,

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fundações, entidades sindicais de trabalhadores, instituições de educação e de assistência

social sem fins lucrativos. A Imunidade fiscal é um direito constitucional, ou seja,

permanente. Já a isenção fiscal é um direito temporário, cuja origem provém de alguma lei

específica que determine os requisitos necessários, o tributo isento e o tempo de duração deste

benefício.

Em relação a essa diferença a Lei nº 9.532, de 10 de dezembro de 1997,nos seus

capítulos 12 e 15 dispõe as seguintes redações:

Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alínea c, da

Constituição, considera-se imune a instituição de educação ou de assistência

social que preste os serviços para os quais houver sido instituída e os

coloque à disposição da população em geral, em caráter complementar às

atividades do Estado, sem fins lucrativos.

§ 1º Não estão abrangidos pela imunidade os rendimentos e ganhos de

capital auferidos em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda

variável.

§ 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a que se refere este artigo,

estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos:

a) não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços

prestados;

b) aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos

seus objetivos sociais;

c) manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros

revestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão;

d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data da

emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e a

efetivação de suas despesas, bem assim a realização de quaisquer outros atos

ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial;

e) apresentar, anualmente, Declaração de Rendimentos, em conformidade

com o disposto em ato da Secretaria da Receita Federal;

f) recolher os tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou

creditados e a contribuição para a seguridade social relativa aos empregados,

bem assim cumprir as obrigações acessórias daí decorrentes;

g) assegurar a destinação de seu patrimônio a outra instituição que atenda às

condições para gozo da imunidade, no caso de incorporação, fusão, cisão ou

de encerramento de suas atividades, ou a órgão público;

h) outros requisitos, estabelecidos em lei específica, relacionados com o

funcionamento das entidades a que se refere este artigo.

Art. 15. Consideram-se isentas as instituições de caráter filantrópico,

recreativo, cultural e científico e as associações civis que prestem os serviços

para os quais houverem sido instituídas e os coloquem à disposição do grupo

de pessoas a que se destinam, sem fins lucrativos.

§ 1º A isenção a que se refere este artigo aplica-se, exclusivamente, em

relação ao imposto de renda da pessoa jurídica e à contribuição social sobre

o lucro líquido, observado o disposto no parágrafo subseqüente.

§ 2º Não estão abrangidos pela isenção do imposto de renda os rendimentos

e ganhos de capital auferidos em aplicações financeiras de renda fixa ou

de renda variável.

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Quanto à fiscalização das entidades do terceiro setor é possível citar: Conselho

Nacional de Assistência Social (CNAS), o Ministério de Previdência e Assistência Social

(MPAS), o Ministério Público, o Ministério da Justiça, o Tribunal de Contas da União, a

Receita Federal do Brasil, os Conselhos Municipais, os Tribunais de Contas Estaduais e

Órgãos de fiscalização e controle do terceiro setor.

2.2 TERCEIRIZAÇÃO

De acordo com Miraglia (2008), no início do século XX, o modelo de produção

praticado pelas empresas em geral era o Taylorismo, cujo seu idealizador Frederick Taylor

utilizava um modelo rígido de controle do tempo de cada tarefa a ser executada. Os

empregados eram colocados em tarefas específicas realizando-as repetidamente durante todo

o expediente e sendo rigidamente controlados pelo tempo, onde deveriam produzir uma certa

quantidade de peças em determinado tempo de serviço.

O modelo de Taylor foi aperfeiçoado por Henry Ford, o qual implementou a

integração de todo o sistema de produção, transformando as empresas em estruturas verticais,

imensas e custosas, sendo responsáveis por todo o processo produtivo.

Segundo Miraglia (2008), com o aumento da competitividade do mercado, visando

cada vez mais o aumento do lucro, as empresas procuraram diminuir os custos de produção

focando apenas no objetivo para quais elas foram instituídas, repassando as tarefas auxiliares

a outras empresas, cujo modelo se conhece hoje como terceirização.

O crescimento da terceirização se deu principalmente com a segunda guerra mundial,

onde havia escassez de material bélico. Assim, procurou-se transferir determinadas tarefas

para terceiros de forma a acelerar o processo de produção e diminuir os custos. Este novo

modelo segue os preceitos do Toyotismo cujo objetivo é enxugar e flexibilizar as estruturas

das empresas, transformando estruturas verticais em horizontais.

As empresas passaram a se preocupar apenas com o objetivo fim, delegando

atividades secundarias a empresas menores que eram especializadas em alguma atividade

especifica. Com a diminuição da estrutura necessária, há diminuição dos custos tanto com

maquinas, matéria-prima, como também com a mão-de-obra. Nesse caso as empresas

terceirizadas deverão oferecer seus profissionais para a contratante, onde esses profissionais

irão trabalhar dentro da empresa que os está contratando, sendo que os mesmos são de

responsabilidade da empresa terceirizada.

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Para Miraglia (2008), essa nova prática provou-se benéfica para as empresas, pois

desonera consideravelmente os custos com mão-de-obra, principalmente dos tributos

trabalhistas. Por outro lado, o trabalhador perde muitos direitos trabalhistas, visto que ele não

é totalmente integrado ao seu ambiente de trabalho,já que desempenha suas atividades na

empresa tomadora, a qual não tem responsabilidade direta por sua evolução profissional. Essa

situação faz com que o trabalhador não se insira integralmente na tomadora, de forma que

muitos direitos lhe são negados, como a participação em treinamentos e nos programas de

incentivos. Além disso, eles podem ser substituídos a qualquer momento a pedido da

tomadora.

Delgado (2003 apud MIRAGLIA, 2008), entende que no âmbito Brasileiro existem

dois tipos de terceirização: as chamadas Internas ou de serviços e as externas ou de bens ou

atividades. No caso da terceirização de bens ou atividades, a empresa prestadora realiza as

atividades contratadas dentro do seu próprio estabelecimento. Esse tipo de contrato

assemelha-se à compra de bens, pois a empresa contratante repassa alguma etapa de sua

produção, que pode ser a fabricação de determinada peça ou utensílio necessário a sua

produção para uma terceira, de forma a enxugar sua estrutura e focar seus esforços no projeto

principal, agilizando, assim, a sua produção. Importante ressaltar a necessidade de observar se

há existência de grupo econômico por trás deste tipo de empreendimento, visto que a empresa

principal ao optar por repassar quase todo seu processo produtivo para uma única terceirizada,

tornando-a economicamente dependente da primeira com objetivo de burlar as normas

trabalhistas.

O outro tipo de terceirização, a chamada terceirização de serviços é o caso mais

comum na sociedade Brasileira, onde a "empresa principal" contrata empresas especializadas

a fim de terceirizar atividades não essenciais ou atividade-meio. Os principais exemplos de

terceirização de serviços são as atividades de limpeza e conservação e de segurança, pois

esses são serviços básicos em quase todo tipo de empreendimento.

Existe, ainda, uma terceira modalidade, mas que por conter características únicas é

considerada a parte das outras duas. Esta modalidade é o trabalho temporário, o qual é o único

tipo de contratação de trabalhadores por empresa interposta legal no Brasil. De acordo com a

Lei nº 6.019, de 03 de janeiro de 1974, o trabalho temporário tem como objetivo atender uma

necessidade transitória de substituição ou acréscimo de pessoal, podendo estes serem

inseridos na atividade-fim da empresa. É necessário o contrato do trabalhador com ambas as

empresas, sendo que cabe à empresa de trabalho temporário a qualificação, assistência e

remuneração.

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Pela possibilidade de os trabalhadores serem utilizados na atividade-fim da empresa,

possuem uma relação de subordinação com a empresa tomadora, sendo que neste caso há uma

limitação temporal de 3 meses, salvo autorização conferida pelo órgão local do Ministério do

Trabalho e Previdência Social, segundo instruções a serem baixadas pelo Departamento

Nacional de Mão-de-obra. De modo a evitar fraudes pelas empresas, no tocante ao excesso de

contratos de trabalho temporário, a fim de escapar das normas trabalhistas, a lei obriga as

empresas a justificar, no contrato, os motivos da necessidade de mão-de-obra extra. Por fim, o

trabalhador temporário tem todos os direitos trabalhistas já conquistados pelos empregados da

empresa tomadora, além de que se o período do contrato ultrapassar o exposto na norma, o

mesmo será automaticamente considerado por tempo indeterminado e subordinado a CLT.

Conforme Martins (2001 apud MIRAGLIA, 2008), o surgimento da terceirização no

Brasil se deu com as multinacionais, principalmente da indústria automobilística já na década

de 50. Apenas na década de 60 é que foram criadas as primeiras normas sobre o tema. Tais

normas abordavam apenas o setor bancário e especificamente os serviços de segurança.

No âmbito da administração pública, em 1967, através do decreto-lei de nº 200, de 25

de fevereiro, é disposto que para diminuir o crescimento da maquina pública e melhor

executar o planejamento, coordenação, supervisão e controle é necessário descentralizar as

atividades de execução, mediante contratos com terceiros e desde que exista iniciativa privada

competente. Foi somente em 1970 com a lei nº 5.645, de 10 de dezembro, que foram

relacionadas às atividades passiveis de terceirização, sendo elas as atividades de transporte,

conservação, custódia, operação de elevadores, limpeza e outras assemelhadas. Existiram

outras normas acerca do tema, mas que se restringem a assuntos específicos gerando muitas

brechas na legislação. Para evitar fraudes na administração pública quanto à contratação de

terceiros, o Decreto n.º 2.271, de 7 de julho de 1997, proibiu a execução indireta de atividades

inerentes às categorias funcionais abrangidas pelo plano de cargos do órgão ou entidade,

corroborando assim com a Constituição Federal de 1988, a qual proíbe a contratação de

servidor público sem a realização de concurso de provas ou de títulos, de acordo com a

natureza e a complexidade do cargo ou emprego.

Explica Maurício Delgado (2007 apud MIRAGLIA, 2008, p.146), que visto todos os

problemas que decorreram por falta de uma legislação abrangente sobre a terceirização, o

Superior Tribunal do Trabalho interveio através da criação de súmulas2 sobre o tema.

2 As súmulas são instrumentos utilizados como interpretação e aplicação do direito pelo Tribunais Superiores

sobre determinada matéria, sendo muito importantes nos casos em que não há normatização legal.

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A Súmula n.º 239, de 09 de dezembro de 1985, tinha como objetivo impedir

cometimento de fraude pelos bancos, onde utilizavam empresas de processamento de dados,

que eram integrantes do grupo econômico bancário, para subcontratação de funcionários,

como forma de transgredir a legislação acerca do regime de trabalho especial dos bancários.

Em seguida, foi aprovada a Súmula n.º 256, de 30 de setembro de 1986, que mais

tarde seria substituída pela Súmula nº 331, de 31 de maio de 2011, sendo que a primeira,

através de sua redação, restringia quase em sua totalidade o sistema de terceirização, pois só

era licito os contratos de trabalho temporário e de serviços de vigilância contidos na Lei nº

7.102, de 20 de junho de 1983. Esse entendimento por parte de Súmula gerou problemas, pois

tornava atividades antes legais em ilegais além de que a atividade terceirizada já era uma

realidade tanto no setor privado como na administração pública.

A Súmula nº 331 fora criada com intuito de resolver os problemas gerados pela

Súmula nº 256. A Súmula nº 331 dispõe que:

Súmula n.º 331 do TST

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE(nova

redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação) - Res. 174/2011,

DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-

se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de

trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não

gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta,

indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços

de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem

como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador,

desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,

implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto

àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das

autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades

de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e

constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de

21.06.1993). V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta

respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso

evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º

8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das

obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora.

A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das

obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.

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VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as

verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral.

A Súmula n.º 331 originalmente não abordava em seu item IV os órgãos da

Administração Pública, além de não conter os itens V e VI. O item IV foi elucidado através da

Resolução n.º 96 do TST, de 11 de setembro de 2000, que finalizou a discussão da aplicação

do referido item também à administração pública. Já os itens V e VI foram inseridos devido às

dúvidas geradas sobre qual a responsabilidade do ente público quanto a culpa da

inadimplência das obrigações nessa relação. Assim, coube ao Superior Tribunal Federal (STF)

determinar qual o entendimento sobre a legislação existente com base na discussão sobre a

Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº. 163 acerca do imbróglio entre o art. 71, §

1º, da Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993 (Lei de Licitações) e Súmula de Jurisprudência

n.º 331 do Tribunal Superior do Trabalho.

Lei n.º 8.666/93 Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas,

previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.

§1º A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas,

fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a

responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato

ou restringir a regularização e o uso das obras e edificações, inclusive

perante o Registro de Imóveis. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

Súmula n.º 331 do TST

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do

empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços,

quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração

direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das

sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação

processual e constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº

8.666, de 21.06.1993). (Alterado pela Res. 96/2000, DJ 18.09.2000).

De acordo com o STF, a mera inadimplência do contratado não poderia transferir à

administração pública a responsabilidade pelo pagamento dos encargos, mas reconheceu-se

que isso não significaria que a eventual omissão da administração pública, na obrigação de

fiscalizar as obrigações do contratado, deixasse de gerar essa responsabilidade.

3 Supremo Tribunal Federal (2010)

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2.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Segundo Meirelles (1984 apud KOHAMA, 2003, p.29): "Administração Pública é

todo o aparelhamento do Estado, preordenado à realização de seus serviços, visando à

satisfação das necessidades coletivas". Já para Silva (2004 apud CASTRO, 2010, p.18),

"Administração Pública é o conjunto de meios institucionais, materiais, financeiros e

humanos organizados e necessários para executar as decisões políticas".

Com base nos conceitos apresentados pelos autores, pode-se perceber que a

administração pública nada mais é do que a ferramenta utilizada pelo Estado para realizar

seus objetivos, estes então gerados das decisões políticas.

Em seu art. 3º, a Constituição Federal do Brasil destaca seus objetivos fundamentais.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades

sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,

idade e quaisquer outras formas de discriminação.

A partir da descrição dos objetivos transcritos na Constituição Federal percebe-se que

o Estado, neste caso representado pela República Federativa do Brasil, é uma entidade criada

pela sociedade brasileira com o intuito de que, através da utilização de normas, gere o bem

estar social.

Conforme Castro (2010), acerca do Estado são atribuídos três elementos principais que

ele deve possuir. São eles: Povo, Território e Soberania.

O povo nada mais é do que o conjunto de pessoas pertencentes a determinado Estado,

ressaltando-se a diferença entre povo e a população, pois o primeiro está vinculado

institucionalmente e de forma estável a um governo específico, enquanto a população se trata

de um elemento apenas quantitativo, por estarem inseridos nesta tanto as pessoas natas, assim

como estrangeiros e apátridas.

O Território é um elemento espacial, pois se trata de todo espaço geográfico de um

determinado governo, compreendendo o espaço terrestre, marítimo e aéreo.

Já a soberania é um elemento de poder, pois se trata da independência e a capacidade

de se auto-administrar sem interferência de outrem, consubstanciado a partir da vontade de

seu povo e dentro do seu território.

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Acerca de como se divide a estrutura da administração pública, a própria Constituição

Federal, nos seus artigos 1º e 2º aborda os níveis e os poderes públicos:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel

dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado

Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o

Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Neste caso, existem três níveis, o Municipal, o Estadual e o Federal e os três poderes,

o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O conjunto dos três poderes, atrelado aos três

níveis, correspondem à administração pública direta.

Conforme o Portal Brasil (BRASIL, 2009), o poder Legislativo tem a função de

legislar, ou seja, criar as leis ou normas que regem a nação, sendo subdivididas em emendas à

Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias,

decretos legislativos e resoluções. Entre as atribuições do Poder Legislativo está a atuação

como controle externo na fiscalização do poder executivo, sendo auxiliado nesta tarefa pelo

Tribunal de Contas da União.

No âmbito federal, o poder Legislativo é representado pelo Congresso Nacional, este

que se subdivide em Senado Federal composto pelos senadores e a Câmara dos Deputados

composta pelos deputados federais. Nas esferas estaduais e municipais representam o poder

legislativo, as Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais compostas respectivamente

por deputados estaduais e vereadores.

O poder Executivo tem como função administrar a máquina pública, ou seja, colocar

em prática todas as normas dispostas na legislação brasileira. Desta forma o poder executivo

é, dos poderes, o que possui maior volume, tanto de pessoal, como de despesas.

Na Esfera federal, compete ao Presidente, auxiliado pelos Ministros de Estado, a

manutenção do executivo. Nas esferas estaduais e municipais, o poder executivo é

representado pelos Governadores com seus Secretários Estaduais e Prefeitos com seus

Secretários Municipais respectivamente.

Segundo o Portal Brasil (BRASIL, 2009, p.1) "A função do Poder Judiciário é garantir

os direitos individuais, coletivos e sociais e resolver conflitos entre cidadãos, entidades e

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Estado. Para isso, tem autonomia administrativa e financeira garantidas pela Constituição

Federal".

O Supremo Tribunal Federal (STF) é o órgão Máximo da justiça brasileira, tendo

como função principal o zelo pela Constituição Federal. Logo abaixo se encontra o Superior

Tribunal de Justiça (STJ) responsável pela interpretação da legislação Federal. No Brasil, o

poder judiciário se divide em quatro tipos: Justiça Comum, Justiça Militar, Justiças do

Trabalho e Eleitoral sendo estas duas ultimas divididas em Tribunais superiores e Regionais,

sendo ambos órgãos federais. Na justiça do trabalho há as figuras do Tribunal Superior do

Trabalho (TST) e Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) e na justiça eleitoral o Tribunal

Superior Eleitoral (TSE) e Tribunais Regionais Eleitorais (TRE). Já na justiça comum

diferentemente das Justiças do Trabalho e Eleitoral, existem a Justiça Federal comum,

responsável por processar e julgar causas em que a união, autarquias ou empresas públicas

federais façam parte e cabe aos próprios estados instituírem e organizarem sua própria Justiça,

estas que serão responsáveis por quaisquer casos que não envolvam a Justiça Federal Comum,

do Trabalho, Eleitoral e Militar.

Todos os três poderes, além de suas atribuições normais, são responsáveis pelo próprio

controle interno. Com exceção dos Senadores que possuem mandatos de 8 anos, todos os

outros cargos do Poder Legislativo tem 4 anos de mandato.

Entre os órgãos mais importantes da Administração Pública quanto a manutenção da

ordem jurídica e defesa da democracia está o Ministério Público. Este possui independência

funcional e administrativa e se divide, basicamente, em Ministério Público da União (MPU) e

Ministério Público dos Estados (MPE). A Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, em

seu artigo 9º, dispõe sobre as funções do Ministério Público.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de

relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo

as medidas necessárias a sua garantia;

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do

patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos

e coletivos;

IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de

intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;

V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;

VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua

competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na

forma da lei complementar respectiva;

VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei

complementar mencionada no artigo anterior;

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VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito

policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações

processuais;

IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis

com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria

jurídica de entidades públicas.

A Administração Pública Indireta segundo Kohama (2003, p.35), "é aquela atividade

administrativa, caracterizada como serviço público ou de interesse público, transferida ou

deslocada do Estado, para outra entidade por ele criada ou cuja criação é por ele autorizada".

Entre as entidades que compõem a administração pública indireta, estão: Autarquias,

Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista e Fundações Públicas. O Decreto-Lei nº

200, de 25 de fevereiro de 1967, alterado pelo Decreto-Lei nº 900, de 29 de setembro de 1969,

considera os seguintes conceitos:

Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:

I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade

jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da

Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento,

gestão administrativa e financeira descentralizada.

II - Empresa Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito

privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criado por lei

para a exploração de atividade econômica que o Governo seja levado a

exercer por força de contingência ou de conveniência administrativa

podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito.(Redação

dada pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969)

III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de personalidade

jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade

econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a

voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade da Administração

Indireta. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969)

IV - Fundação Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de

direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização

legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução

por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa,

patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e

funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes. (Incluído

pela Lei nº 7.596, de 1987)

As Autarquias mesmo não integrando o poder executivo são, em essência, uma

extensão da administração pública direta, por executarem atividades típicas da administração

pública. Devem as autarquias prestar contas aos seus respectivos Ministérios, dependendo da

sua área de atuação. Exemplos de Autarquias são as Universidades Federais e Conselhos de

Classe Profissional.

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As Empresas Públicas são regidas por preceitos comerciais, mas que se utilizam de

capital público, criadas a partir de uma necessidade do poder público por não haver no

mercado empresa privada que proveja essa demanda. São exemplos de Empresas Públicas, a

Caixa Econômica Federal e os Correios.

As Sociedades de Economia Mista mais conhecidas no Brasil são a Petrobrás e o

Banco do Brasil, ambas pioneiras nos seus respectivos ramos de atuação, característica deste

tipo de entidade, pois não havia ainda um mercado estruturado na época de suas criações.

2.4 CONTROLE E FISCALIZAÇÃO

A terminologia "Controle", de acordo com o dicionário Michaelis4, significa "a

Fiscalização e domínio de alguém ou alguma coisa". Assim pode-se entender como controle,

a fiscalização de alguém ou alguma coisa de forma a exercer domínio sobre ele, neste caso as

finanças, e para isso se utilizam técnicas e modelos.

Segundo Chiavenato (2004), na Teoria da administração existe uma abundância de

princípios defendidos por vários pensadores da ciência administrativa. Dentre os inúmeros

princípios destaca-se os quatro princípios da administração científica idealizados por Taylor,

sendo eles: Planejamento, organização, direção e controle. Neste sentido, o controle é

entendido como o processo de assegurar que as tarefas estão sendo executadas de acordo com

planejamento. Através deste monitoramento, devem ser realizadas as correções necessárias

para diminuir ou mesmo extinguir os problemas encontrados.

O controle é uma ferramenta importante na administração das empresas do setor

privado, mas na administração pública este se faz essencial, pois tem como principal objetivo

coibir a corrupção. Porém, é necessário que haja um equilíbrio na utilização de ferramentas de

controle, pois conforme Castro (2010), seu excesso pode gerar uma burocracia que pode

atrapalhar a gestão e torna a execução das tarefas cada vez mais lentas. São inúmeros os

problemas gerados pelo excesso de burocracia, desde o atraso de obras públicas ao simples

atendimento na rede pública de saúde.

Acerca do controle na administração pública, destaca Castro (2010, p. 263) uma maior

complexidade de se manter uma administração eficiente e eficaz durante o passar do tempo,

visto a tendência com que se cai de rendimento. O referido autor destaca características que

diferenciam o setor público:

4 Michaelis (2009).

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É uma instituição onde a participação do cidadão é obrigatória;

Dispõe de um enorme poder de compulsão: o poder de tributar, de

emitir moeda, de definir tipos de proibições para o cidadão, de punir

etc.;

Não dispõe de mecanismos naturais de correção de desvios como

ocorre nas atividades privadas, onde a competição e o lucro

funcionam como potentes instrumentos para reduzir desperdícios,

melhorar o desempenho e alocar recursos de forma mais eficiente; e

O direito de propriedade estatal é difuso, não existindo a vigilância

do "olho do dono" como na empresa, o que dá margem ao

surgimento de grupos de pressão, internos ou externos ao aparelho

estatal, que procuram explorar o interesse e o patrimônio públicos

em proveito próprio.

(Castro, 2010, p. 263)

Percebe-se que, no setor privado, a própria situação em que as empresas se inserem já

lhes obriga a realizar um controle interno eficiente das atividades, pois caso não haja, essa

empresa irá sair do mercado. Neste caso, todo o capital inserido na empresa para a

manutenção das suas atividades possuem donos específicos, estes que o investiram por

vontade própria procurando retorno financeiro. Já em relação ao setor público, os recursos

utilizados são oriundos de toda população e de maneira imposta pelo estado através

principalmente da tributação. Assim caberia a população a obrigação de fiscalizar sua

aplicação, ou seja, exercer um controle social5. Porém, a maioria da população está alheia aos

seus direitos.

Ademais, o controle como ferramenta de averiguação e analise da execução das

atividades em relação ao planejamento tem ligação direta com a contabilidade e a auditoria. A

contabilidade pode ser entendida como a atividade de registrar os fatos ocorridos com o

intuito de quantificar e controlar o patrimônio das entidades; ela serve como base de dados

para que seja exercido o controle interno nas entidades. Já em relação a auditoria, o controle é

utilizado como ferramenta de análise, pois avaliando-se a eficiência de um sistema de controle

interno, a auditoria poderá determinar os riscos inerentes ao trabalho efetuado e,

posteriormente, indicar melhorias a serem efetuadas.

Assim, quanto ao aspecto temporal do controle, Castro (2010), afirma que ele foi

dividido em três etapas: o controle prévio, o controle concomitante e o controle posterior. O

primeiro acontece anteriormente a conclusão dos atos administrativos e tem como função

prevenir erros ou desvios e também dar segurança tanto ao agente público como aos cidadãos.

O controle concomitante é o acompanhamento constante dos atos administrativos, garantindo

5 Controle e fiscalização por parte da Sociedade sobre as ações do Estado

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assim execução correta das ações. Por fim, o controle posterior é aquele realizado após a

conclusão do ato administrativo com o objetivo de avaliar a eficiência, corrigir defeitos ou

declarar sua nulidade.

Segundo Castro (2010, p.290), a definição mais aceita de controle interno é a

divulgada pelo American Institute of Certified Accountants6 (AICPA), que dispõe:

O controle interno compreende o plano de organização e todos os métodos e

medidas, adotadas numa empresa para proteger seu ativo, verificar a

exatidão e a fidedignidade de seus dados contábeis, incrementar a eficiência

operacional e promover a obediência às diretrizes administrativas

estabelecidas.

Levando essa definição para o setor público, pode-se entender o controle interno como

um sistema de técnicas que visam proteger os cidadãos de possíveis manobras políticas dos

gestores públicos em benefício próprio, procurando assim combater a corrupção.

Outra característica é estimular a eficiência. Um exemplo disso seria a realização de

uma obra utilizando materiais e maquinaria em excesso, tornando os custos da obra maiores

que os previstos, recursos estes que poderiam ser empregados em outros projetos. Por fim

outro ponto em destaque é a obediência às diretrizes administrativas estabelecidas, também

chamadas de legislação.

O controle interno possui uma serie de princípios que devem ser seguidos para

diminuir os riscos dentro da entidade. Castro (2010, p.294), relaciona estes princípios da

seguinte forma:

Fixação de responsabilidades: numa estrutura de controles internos

deve haver delimitação de responsabilidades, para evitar o

comprometimento de sua eficiência;

Segregação de funções: a segregação de funções, conhecida como

princípio de oposição de interesse, consiste no fato de que, numa

estrutura de controles internos, a pessoa que realiza uma operação

não pode ser a mesma envolvida na função de registro;

Ciclo de uma transação: preconiza que uma só pessoa não deve

realizar todas as fases de uma transação, quer seja funcionário ou

administrador;

Pessoal de controle deve ser criteriosamente selecionado: para

contratação de funcionários para cargos de controle, torna-se

necessário que seu passado seja investigado e as referências,

conferidas;

Rodízio de pessoal: a entidade deve promover, periodicamente, o

rodízio de servidores, visando, inclusive, permitir que cada um possa

ser capaz de desenvolver novas tarefas. Isso impede a existência de

servidores imprescindíveis, traz motivação ao pessoal e aumenta a

segurança do sistema de controles;

6 Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados.

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29

As tarefas devem estar previstas em manuais operacionais: as

instruções inerentes ao desempenho funcional da estrutura devem

ser escritas em manual de organização, a fim de evitar a ocorrência

de erros e aumentar a eficiência operacional; e

Utilização de processamento eletrônico: sempre que possível, a

entidade deve adotar processo eletrônico para registrar as operações.

Este procedimento aumenta a eficiência operacional dos controles

internos, evita erros e dificulta fraudes.

É necessário destacar, porém, a necessidade de se avaliar todo o custo benefício

advindo da implantação desses procedimentos, pois, em certos casos, o benefício esperado por

determinada medida implantada é muito inferior ao benefício obtido. Dessa forma, se faz

necessário utilizar outro procedimento com menor custo, mas que ainda assim consiga atender

às necessidades da entidade.

Na Administração Pública brasileira, o controle é efetuado externamente pelo Poder

Legislativo com o auxílio dos Tribunais de Contas e internamente por cada um dos três

poderes. A Lei complementar n.º 101, de 4 de maio de 2000, mais conhecida como Lei de

Responsabilidade Fiscal, foi implementada com o intuito de melhorar a gestão pública no

sentido de responsabilidade e transparência por parte dos agentes públicos, procurando, assim,

organizar as finanças públicas e controlar o equilíbrio entre receitas e despesas. A referida Lei

em seu escopo traz a seguinte redação:

Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas

voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II

do Título VI da Constituição.

§ 1o A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e

transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar

o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de

resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no

que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da

seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de

crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e

inscrição em Restos a Pagar.

§ 2o As disposições desta Lei Complementar obrigam a União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios.

Em relação ao controle sobre os contratos efetuados com terceiros, a administração

pública se utiliza da fiscalização, que pode ser considerada como o controle concomitante, ou

seja, o acompanhamento contínuo das atividades da entidade contratada, com o objetivo de

verificar se existem irregularidades e se é mantida a eficiência dos trabalhos.

Como já abordado, existe uma escassez em relação à normatização dos contratos de

terceirização, principalmente em relação ao terceiro setor, sendo inclusive necessária a

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intervenção do TST para resolver as discussões acerca dos limites da legislação. A Lei nº

8.666, de 21 de junho de 1993, é quem regula a execução dos contratos. De acordo com a

referida lei:

Art. 66. O contrato deverá ser executado fielmente pelas partes, de acordo

com as cláusulas avençadas e as normas desta Lei, respondendo cada uma

pelas conseqüências de sua inexecução total ou parcial.

Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por

um representante da Administração especialmente designado, permitida a

contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de informações

pertinentes a essa atribuição.

§ 1o O representante da Administração anotará em registro próprio todas as

ocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o que

for necessário à regularização das faltas ou defeitos observados.

§ 2o As decisões e providências que ultrapassarem a competência do

representante deverão ser solicitadas a seus superiores em tempo hábil para a

adoção das medidas convenientes.

Observa-se que a norma obriga a necessidade de acompanhamento das atividades por um

representante da administração, sendo que não entra em detalhes sobre as técnicas de

fiscalização utilizadas neste processo.

No tocante à execução da fiscalização, existem normas e procedimentos que devem ser

adotados, emitidos por órgãos de controle e fiscalização dos gastos públicos em diversas

áreas. Neste caso, foram utilizados os modelos emitidos pelo Tribunal de Contas da União

(TCU) e pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG).

O TCU é o órgão diretamente responsável pelo controle externo das entidades da

administração direta e indireta, onde qualquer pessoa física ou jurídica que esteja envolvida

com a administração de recursos públicos deve prestar contas ao referido órgão. O TCU no

uso de suas atribuições com o objetivo de melhorar a gestão dos recursos públicos emitiu a

Portaria nº 297, de 14 de novembro de 2012.

A fiscalização dos contratos é realizada mediante a atuação de dois tipos de profissionais:

os fiscais e os gestores. Os fiscais são aqueles incumbidos de atuar no local, ou seja, dentro da

entidade contratada ou no local da execução das suas atividades. Já os gestores atuam

externamente, analisando toda a documentação levantada. De acordo com os art. 5º e 6º

compete aos fiscais e gestores:

Art. 5º Ao fiscal técnico do contrato compete:

I – verificar a conformidade da prestação dos serviços e da alocação dos

recursos necessários, de acordo com o objeto do contrato;

II – atestar as notas fiscais e as faturas correspondentes à prestação dos

serviços;

III – prestar informações a respeito da execução dos serviços e de eventuais

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glosas nos pagamentos devidos à contratada; e

IV – quando cabível, manter o controle das ordens de serviço emitidas e

cumpridas.

Art. 6º À gestora do contrato cabe a análise da documentação trabalhista,

previdenciária e fiscal e a juntada dos documentos probantes, nos respectivos

processos administrativos de liquidação e pagamento, e de acompanhamento

e análise da documentação trabalhista e previdenciária.

(Portaria TCU nº 297, de 14 de novembro de 2012)

Devem ser exigidos documentos que comprovem a situação fiscal, trabalhista e

previdenciária do contratado, sendo eles:

Art. 7º Os documentos a serem exigidos da contratada, durante a vigência do

contrato, são os seguintes:

I – certidão conjunta negativa de débitos relativos a tributos federais e à

Dívida Ativa da União;

II – certidão negativa de débitos junto às fazendas estadual ou distrital e

municipal do domicílio sede da contratada;

III – certidão negativa de débitos relativos às contribuições previdenciárias e

as de terceiros (CND);

IV – certidão de regularidade junto ao Fundo de Garantia do Tempo de

Serviço (FGTS/CRF);

V – certidão negativa de débitos trabalhistas (CNDT);

VI – aqueles de comprovação de pagamento de salários, inclusive férias e

13º salário, quando cabível, de vale-transporte e de vale-alimentação na

forma do artigo 13 desta Portaria; e

VII – extratos comprobatórios do recolhimento do FGTS e da contribuição

social previdenciária (INSS) na forma dos artigos 10 e 11 desta Portaria.

VIII - Guias da Previdência Social e Guias de Recolhimento do Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência social com

comprovante de entrega.(AC) (Portaria – TCU nº 120, de 14/05/2014, BTCU

nº 15/2014)

§ 1º Poderão ser requeridos outros documentos complementares relativos ao

cumprimento dos encargos trabalhistas e previdenciários.

§ 2º Os documentos mencionados nos incisos I a V deste artigo podem ser

substituídos, total ou parcialmente, por Declaração do Sistema de

Cadastramento Unificado de Fornecedores (Sicaf).

(Portaria TCU nº 297, de 14 de novembro de 2012)

Já quanto aos procedimentos mensais, podem-se destacar os seguintes quesitos:

Art. 9º Cabe à gestora do contrato realizar mensalmente os seguintes exames

relativos aos empregados terceirizados:

I – comprovação do recolhimento do INSS e do FGTS; e

II – verificação do pagamento de salários e demais verbas cabíveis.

Art. 10. O exame da comprovação do recolhimento do INSS e do FGTS pela

contratada será realizado por meio de extratos fornecidos pelos empregados,

solicitados de, pelo menos, 10% (dez por cento) do total dos empregados

terceirizados, mediante utilização de amostra com reposição.

§ 1º Se o total de empregados terceirizados contratados for inferior a 10

(dez), a gestora do contrato deve analisar os extratos de todos os

empregados, no mínimo, a cada quatro meses.

§ 2º A gestora do contrato deverá assegurar a todos os empregados

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terceirizados os meios necessários para acesso aos extratos de que trata o

caput deste artigo.

Art. 11. Detectada irregularidade nos depósitos do FGTS ou nos

recolhimentos ao INSS, a gestora do contrato poderá ampliar a amostra

examinada a fim de verificar se o evento representa caso isolado ou

impropriedade de maior relevância.

Art. 13. Será utilizada relação nominal assinada, no mínimo, por 10% (dez

por cento) dos empregados terceirizados, para averiguação se o pagamento

de salários, inclusive férias e 13º salário, quando cabível, vale-transporte e

vale-alimentação foi realizado tempestivamente.

§ 1º A relação tratada no caput deste artigo conterá, no mínimo, os seguintes

dados:

a) nome do empregado terceirizado;

b) data de recebimento do salário;

d) datas de recebimento do vale-transporte e do vale-alimentação;

e) mês de referência; e

f) campos para observações e assinaturas.

§ 2º Se o total de empregados terceirizados contratados for inferior a 10

(dez), a relação tratada no caput deste artigo deverá abranger todos os

empregados e ser realizada, no mínimo, a cada quatro meses.

§ 3º Se os pagamentos aos empregados terceirizados não forem realizados

nas datas previstas legalmente ou em convenções coletivas de trabalho, a

gestora do contrato fixará prazo para a empresa resolver a irregularidade.

§ 4º Os casos isolados de falhas no pagamento das verbas a que se refere o

caput serão objeto de acompanhamento por parte da gestora do contrato e

ensejarão a adoção de medidas formais se a pendência não for regularizada

em cinco dias após comunicação da irregularidade à contratada.

(Portaria TCU nº 297, de 14 de novembro de 2012)

Segundo o próprio portal do MPOG7, o órgão é integrante do executivo federal e tem

como algumas de suas atribuições a formulação de planejamento estratégico nacional e a

Coordenação da gestão de parcerias público-privadas. Sua missão é " Planejar e coordenar as

políticas de gestão da administração pública federal, para fortalecer as capacidades do Estado

para promoção do desenvolvimento sustentável e do aprimoramento da entrega de resultados

ao cidadão".

Através da Instrução Normativa MP nº 2, de 30 de abril de 2008, que posteriormente

foi alterada pela Instrução Normativa MPOG nº 3, de 15 de outubro de 2009, é disposto sobre

regras e diretrizes para a contratação de serviços, continuados ou não. O texto destacado da

Instrução normativa MP nº 2, contendo o art. nº 34 e o guia de fiscalização dos contratos de

terceirização, foi inserido no trabalho na forma do Anexo A, devido ao volume de texto.

A Instrução Normativa nº 3 além de alterar a Instrução Normativa nº 2, também

adicionou outros quesitos, entre eles o disposto no anexo VII. O referido anexo instrui a

administração pública da necessidade de se criar uma conta vinculada com o objetivo de

assegurar os direitos trabalhistas dos funcionários terceirizados num possível "calote" da

7 BRASIL. Ministério do Planejamento.

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entidade contratada. Esta abordagem também é necessária para resguardar os recursos

públicos, visto que caberia ao Estado a obrigação de pagar as dívidas trabalhistas por ser

responsável subsidiário.

ANEXO VII

CONTA VINCULADA PARA A QUITAÇÃO DE OBRIGAÇÕES

TRABALHISTAS 1.1 As provisões realizadas pela Administração contratante para o

pagamento dos encargos trabalhistas de que tratam este Anexo, em relação à

mão de obra das empresas contratadas para prestar serviços de forma

contínua, por meio de dedicação exclusiva de mão de- obra, serão destacadas

do valor mensal do contrato e depositados em conta vinculada em instituição

bancária oficial, bloqueada para movimentação e aberta em nome da

empresa.

1.2. A movimentação da conta vinculada será mediante autorização do órgão

ou entidade contratante, exclusivamente para o pagamento dessas

obrigações.

1.3 O montante do depósito vinculado será igual ao somatório dos valores

das seguintes previsões:

13º salário;

Férias e Abono de Férias;

Adicional do FGTS para as rescisões sem justa causa;

Impacto sobre férias e 13º salário.

Observa-se muitas semelhanças entre as abordagens do TCU e do MPOG em suas

orientações, onde ambos os órgãos dão ênfase principalmente na fiscalização dos

trabalhadores. Esta preocupação é muito importante, visto que, neste tipo de contrato, é o

trabalhador quem mais sofre perdas tanto em relação ao ambiente de trabalho como seus

direitos remuneratórios. Mais importante ainda é o fato de que cabe ao Estado defender os

direitos do trabalhador, por este ser a parte mais fraca na relação entre a administração

pública, a entidade e o empregado. Outro fato que favorece ainda mais essa preocupação é de

que o Estado é responsável subsidiariamente pelos direitos não pagos pela entidade, ou seja,

caso não haja uma fiscalização eficiente, poderá a administração pública pagar em dobro pelo

mesmo serviço.

2.5 HISTÓRICO DA ENTIDADE

De acordo com seu estatuto, a Associação de Atividades de Valorização Social

(ATIVA) é uma entidade civil sem fins lucrativos, com duração por tempo indeterminado,

sediada em Natal/RN, sendo constituída em 13 de abril de 1989 por interesse da gestão

municipal. Ainda sobre sua constituição a Ação Civil Pública do Ministério Pública contra a

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entidade informa que a mesma está registrada sob nº de ordem 1288, do Livro Anº 16, às fls.

151v/152, no Cartório do 2º Ofício de Notas de Natal-RN, em 12 de maio de 1989, e que em

virtude de reformas, foram feitos novos registros, sob os nºs de ordens 2300, 2456, 3794,

6093 e 6094, nas datas de 25/07/1994, 23/05/1995, 30/12/1999,08/03/2006 e 08/03/2006,

respectivamente

No seu art. 2º o referido estatuto dispõe acerca das finalidades da entidade:

Art. 2º. A sociedade terá como finalidades básicas:

I - Realizar estudos e pesquisas no campo de assistência e promoção social.

II - Promover a coordenação e a conjugação de esforços para a melhoria das

condições de vida nas comunidades.

III - Desenvolver programas, prestação de serviços e assistência social à

família carente, à infância, à maternidade, à adolescência e à 3ª idade,

complementando a atuação dos órgãos governamentais e organizações

privadas.

IV - Integrar a ação com participação ativa de um corpo de voluntários,

visando despertar a cooperação em prol da melhoria da assistência e

pesquisa no campo social.

V - Desenvolver, por si ou em colaboração com voluntários e/ou outras

entidades, quaisquer atividades compreendidas nos objetivos e propósitos da

instituição.

VI - Promover e desenvolver a captação de recursos voltada para o seu

objetivo social, revertendo sua eventual receita para manutenção,

funcionamento e desempenho de atividades da ATIVA.

É uma entidade sem fins lucrativos, pertencente ao terceiro setor e de Utilidade

Pública, assim a entidade tem direito a realizar convênios com empresas privadas e a

administração pública nas três esferas de governo.

A associação é constituída por um número ilimitado de sócios, os quais não

respondem, nem mesmo subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

Sua administração será realizada por: Assembleia Geral, Diretoria, Conselho de

administração e Conselho fiscal. A diretoria é constituída por Presidente e Vice, sendo

presidente nato da entidade a esposa do Prefeito de Natal, com igual tempo de mandato,

podendo o cargo, em caso especial, ser ocupado por pessoa de confiança do Prefeito de Natal.

No art. 26 do estatuto da entidade é relacionado o pessoal que poderá prestar serviços:

Art. 26 - Para a consecução dos seus objetivos e desenvolvimento de suas

atividades, a entidade disporá de:

I - Colaboradores sem remuneração à título de voluntariado;

II - Pessoal remunerado, admitido mediante contrato de trabalho e sujeito,

em seus direitos e deveres, ao estabelecido na Consolidação das Leis

Trabalhistas;

III - Servidores Públicos ou de outras entidades que, a título de colaboração,

venham a ser colocados à disposição da Entidade sem perda dos

vencimentos e vantagens proporcionais pelos órgãos a que pertençam.

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A ATIVA, no ano de 2012, possuía dois convênios em curso, sendo o primeiro com a

Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) no valor de R$

1.150.000,00 (hum milhão e cento e cinquenta mil reais) e o segundo com a Fundação

Cultural Capitania das Artes (FUNCARTE) no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). A

sobrevivência da ATIVA está atrelada diretamente a esses convênios com o poder público.

Devido a inúmeras irregularidades detectadas na entidade, foi alvo de intervenção

judicial pelo Ministério Público do RN, que pediu a dissolução da entidade. Este pedido foi

acatado pelo Poder Judiciário no RN, o qual decretou que se mantivesse o funcionamento da

entidade pelo período de 100 dias, pela sua característica, bem como para que os funcionários

fossem devidamente notificados, sendo a data oficial de liquidação marcada para dia 19 de

dezembro de 2014.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capitulo é apresentado a metodologia utilizada no estudo, descrevendo-se todos

os procedimentos adotados na análise dos dados.

O procedimento metodológico adotado, para o desenvolvimento deste trabalho, foi o

estudo de caso. Segundo Prodanov e Freitas (2013, p.60).

O estudo de caso consiste em coletar e analisar informações sobre

determinado indivíduo, uma família, um grupo ou uma comunidade, a fim de

estudar aspectos variados de sua vida, de acordo com o assunto da pesquisa.

É um tipo de pesquisa qualitativa e/ou quantitativa, entendido como uma

categoria de investigação que tem como objeto o estudo de uma unidade de

forma aprofundada, podendo tratar-se de um sujeito, de um grupo de

pessoas, de uma comunidade etc. São necessários alguns requisitos básicos

para sua realização, entre os quais, severidade, objetivação, originalidade e

coerência.

Sendo assim, o estudo de caso, realizado nesta pesquisa, consistiu em analisar,

especificamente, o controle e a fiscalização no âmbito da Associação de Atividade de

Valorização Social (ATIVA) com base nas normas referentes a fiscalização dos contratos de

terceirização e nos princípios de controle interno adotados pelos especialistas na área, se

tratando, portanto, de uma pesquisa bibliográfica. Por outro lado, a pesquisa também se

caracteriza como documental, por utilizar documentos provenientes do Ministério público.

Sobre a diferença entre os dois tipos de pesquisa mencionados, Gil (2008, apud Prodanov e

Freitas, 2013, p.55) destaca:

como principal diferença entre esses tipos de pesquisa a natureza das fontes

de ambas as pesquisas. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza

fundamentalmente das contribuições de vários autores sobre determinado

assunto, a pesquisa documental baseia-se em materiais que não receberam

ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com

os objetivos da pesquisa.

Utilizando-se de uma análise qualitativa foi realizado um estudo comparativo entre as

normas de fiscalização, juntamente aos princípios de controle interno, adotados em relação

aos problemas encontrados na entidade estudada - ATIVA.

As normas de fiscalização utilizadas neste estudo foram elaboradas por órgãos com

competência na área, sendo eles o TCU e o MPOG. Já quanto aos problemas encontrados na

entidade, foi utilizada a ação de dissolução e intervenção judicial realizada pelo Ministério

Público do Rio Grande do Norte, que realizou inúmeras investigações, incluindo analise

documental, entrevista com funcionários e ex-funcionários etc.

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O estudo foi realizado em etapas, da seguinte forma: Realizou-se um resumo dos

principais problemas encontrados pelo MP-RN em sua ação de dissolução (ver referências),

onde se dividiram os problemas em categorias e comparou-os com as respectivas medidas que

seriam necessárias para evitá-los. As categorias seguindo a ordem são: Intervenção Política na

entidade contratada; Irregularidades nas contratações de funcionários; Descontrole das folhas

de ponto dos funcionários; Problemas referentes à documentação; Concessão excessiva de

horas-extras e diárias; Irregularidades em licitações e pagamentos; Descontrole dos recursos

recebidos. Na parte final do estudo foi realizado um resumo comparativo entre as

irregularidades encontradas e as medidas necessárias que deveriam ter sido adotadas.

Os dados como quantidade de funcionários, valores de horas extras pagos, valor das

passagens emitidas, são utilizados apenas para ilustrar as irregularidades encontradas, de

forma que não foi realizada uma análise quantitativa dos mesmos.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo é apresentado os resultados obtidos a partir da análise feita pela

comparação entre as irregularidades encontradas na ATIVA e as normas de fiscalização e

princípios de controle interno. O levantamento das irregularidades foi realizado com base na

Ação civil pública do Ministério Público do RN contra a entidade. Todos os depoimentos

contidos neste capítulo foram coletados da Ação do MP-RN (ver referências).

Em 26 de Outubro de 2012, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP-RN)

entrou com uma Ação civil pública de dissolução e liquidação contra a ATIVA, pedindo

intervenção judicial devido às inúmeras irregularidades averiguadas pelo órgão.

Essa ação está de acordo com o Decreto-lei nº 41/66, o qual dispõe o

seguinte texto: “Art. 1º - Toda sociedade de fins assistenciais que receba

auxílio ou subvenção do Poder Público, ou que se mantenha, no todo ou em

parte, com contribuições periódicas de populares, fica sujeita à dissolução

nos casos e formas previstas neste Decreto-lei.

Art. 2º - A sociedade será dissolvida se:

I – deixar de desempenhar efetivamente as atividades assistenciais a que se

destina.

II – aplicar as importâncias representadas pelos auxílios, subvenções ou

contribuições populares em fins diversos do previsto nos seus atos

constitutivos ou estatutos sociais.

III – ficar sem efetiva administração por abandono ou omissão continuada

dos seus órgãos ou diretores

De acordo com o MP-RN, após uma investigação sobre as ações da ATIVA, foram

encontradas dentre outras, as seguintes irregularidades:

O Inquérito Civil Público nº 001/12 foi instaurado com o fim de investigar

uma série de irregularidades detectadas na ATIVA como, à guisa de

exemplo: a) desvio de finalidade da instituição; b) Presidente nomeado pelo

Chefe do Executivo Municipal de Natal; c) irregularidades nas contratações

de funcionários; d) ausência de controle no ponto dos funcionários

contratados para a prestação de serviços aos órgãos públicos conveniados; e)

variação de remuneração para funcionários que exercem os mesmos cargos e

funções; f) irregularidades em licitações e pagamentos; g) ausência de

controle dos recursos recebidos a título de convênio.

Ressalta-se a responsabilidade subsidiária do Município de Natal pelas irregularidades

averiguadas, principalmente em relação aos direitos trabalhistas, pois os valores repassados,

via convênio, tinham como principal finalidade a contração de funcionários para prestar

serviços públicos de forma terceirizada. Inclusive o próprio termo de convênio dispõe sobre a

responsabilidade do ente público com o seguinte texto:

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"CLÁUSULA QUARTA

É da responsabilidade da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência

Social, dentro do interstício de validade do presente Convênio e no seu

âmbito de atuação:

I - Repassar mensalmente os valores estipulados no presente Convênio, na

sua forma e de seus anexos;

II - Analisar os relatórios enviados pela "CONVENIADA", oferecendo as

sugestões cabíveis, bem como analisando a prestação de contas dos recursos

repassados, sempre com o escopo de verificar o cumprimento do presente e

de seus princípios, administrativamente firmados."

Diante de todos esses problemas descritos, um grande número de processos

trabalhistas passou a tramitar nas Varas do trabalho de Natal do Tribunal Regional do

Trabalho 21ª região (TRT-21), inclusive o próprio depoimento das testemunhas averiguadas

pelo MP-RN afirmam que as pessoas demitidas no ano anterior da ação de intervenção

judicial, em 2012, ainda não tinham recebido as verbas rescisórias, corroborando com o alto

volume de ações trabalhistas contra a ATIVA.

Com base apenas nessas informações pode-se perceber que uma instituição com tantos

problemas identificados não deve possuir sistema de controle interno eficiente, ou sequer

mesmo existir um. Também é cabível afirmar que não havia fiscalização adequada por parte

da administração pública, visto a proporção que as irregularidades tomaram.

Esses problemas não acontecem de uma hora para outra; eles vão somando-se e

gerando cada vez mais transtornos até chegarem a um ponto em que não há mais solução,

ocasionando, neste caso, a dissolução da entidade peticionada pelo MP-RN. Se houvessem

qualquer tipo de controle ou fiscalização quanto as atividades da investigada, poder-se-ia

evitar que os problemas se acumulassem e chegasse a esta situação.

INTERVENÇÃO POLÍTICA NA ENTIDADE CONTRATADA

Avaliando-se a relação que deve existir entre contratado e contratante num processo de

licitação, bem como na administração dos convênios, percebe-se que não havia qualquer

separação entre as partes, tornando a ATIVA totalmente dependente da administração pública.

O próprio estatuto da entidade dispõe a seguinte redação quanto a administração da mesma.

Art. 17 É Presidente nato da entidade a esposa do Prefeito de Natal e tendo

seu mandato coincidente com o do chefe da edilidade. Em caso especial a

presidente poderá ser pessoa designada e de confiança do Prefeito

Municipal.

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Há também uma série de depoimentos colhidos através de um processo que tramita na

Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e que podem ser encontrados na ação de

dissolução do MP-RN, onde se observa a existência de intervenção política na contratação de

funcionários. Nestes depoimentos prestados pelos próprios ex-funcionários da entidade é

verificado que vários eram contratados pela ATIVA através de indicação política, pois já

prestaram serviços em campanhas eleitorais de políticos potiguares. Outra informação

relatada que reforça ainda mais essa intervenção é a rotatividade das pessoas ocupando altos

cargos na administração, sendo a modificação das pessoas, ligadas diretamente as mudanças

no poder executivo e legislativo de Natal. De acordo com o relato de uma ex-funcionária,

houve uma grande reformulação nos cargos de chefia na entidade a partir da mudança do

chefe do executivo municipal.

Verifica-se que é inexistente a independência da instituição, sendo ela alvo de controle

político de quem está no poder. Esta intervenção política vai totalmente contra o princípio de

segregação de funções num sistema de controle interno, princípio este que também pode ser

interpretado como princípio de oposição de interesse. Não é legal, moral e ético que o prefeito

de Natal tenha poder sobre a escolha do presidente da ATIVA, tendo em vista que a entidade

possui convênios com a administração pública municipal.

Não é legal, pois no Brasil é vedado o Nepotismo8, e a 13ª Súmula vinculante do STF

aprovada em 21 de agosto de 2008 reconheceu que o Nepotismo praticado em qualquer esfera

Pública viola a constituição federal. Não é moral e nem ético, pois esse tipo de conduta

baseia-se em trocas de favores pessoais e políticos em detrimento da qualificação profissional.

Caberia ao gestor do contrato analisar o estatuto da entidade quanto aos possíveis

abusos contidos nele. Neste caso, ou se pediria a mudança do estatuto no quesito referente a

escolha do presidente da entidade, ou se optaria por extinguir o convênio.

Outro ponto importante está na escolha do pessoal responsável pelo controle da

entidade, pois não há nenhum tipo de processo seletivo, mas sim contratações por indicação

política.

IRREGULARIDADES NAS CONTRATAÇÕES DE FUNCIONÁRIOS

Quanto às irregularidades nas contratações, convêm destacar o trecho de um dos

depoimentos coletados pelo MP-RN, prestado pela esposa do ex-advogado da ATIVA acerca

8 Favorecimento de Parentes ou amigos em relação a outras pessoas

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da superintendência (Setor da entidade): "[...] que a administração da ATIVA é exercida pela

superintendência; que é a superintendência quem contrata e demite funcionários, contrata e

paga fornecedores, enfim quem executa todos os atos de gestão da entidade […]”.

De acordo com o MP-RN, grande parte dos empregados estão lotados nas

dependências da administração pública, exercendo funções próprias de servidores públicos.

Assim a entidade estaria sendo utilizada como esquema para burlar a necessidade de

realização de concurso público imposta pela Constituição Federal, em seu art. 37, inciso II,

inclusive não eram feitas nem processos seletivos pelos responsáveis das contratações.

Ocorre também que vários funcionários foram contratados, mas não eram utilizados,

pois os projetos os quais iriam trabalhar nunca saiam do planejamento, de forma que muitos

só compareciam para receber o salário. O MP-RN constatou ainda a existência de vários

funcionários sem lotação definida corroborando com suspeita de existência de "funcionários

fantasmas", ou seja, funcionários apenas na forma, mas não em essência, pois recebiam

remuneração sem que fossem realmente utilizados nas atividades da entidade.

Conforme depoimentos recolhidos tanto pelo MP-RN como num procedimento que

tramita na Promotoria de Justiça do Patrimônio Público, gravados em DVD, a Secretaria

Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) e a Fundação Cultural Capitania das

Artes (FUNCARTE), as quais são responsáveis pelo repasse dos convênios com a ATIVA,

organizavam as contratações já definindo o cargo e a remuneração, de forma que a ATIVA

não tinha controle nenhum sobre quem contratava.

Quando da realização da intervenção, existiam apenas dois projetos em funcionamento

na entidade, sendo eles: o Recicla Ativa, o qual era direcionado a produção de peças

artesanais com a utilização de materiais recicláveis; e o Cidadão Nota 10, projeto este que na

verdade foi criado pelo Governo do Estado do RN, proporcionando ajuda financeira as

entidades beneficentes, através da arrecadação de cupons fiscais. Todos os outros projetos, ou

foram cancelados, ou nunca entraram em vigor.

Percebe-se, nessa situação, que também não é obedecido o princípio de segregação de

funções e nem o princípio do ciclo de transição, tanto internamente como externamente.

Internamente porque, conforme depoimento, apenas um setor, a superintendência, realizava

todas ações dentro da entidade. Já em relação a parte externa, verifica-se a contradição

existente na contratação de funcionários, pois principalmente a SEMTAS, que deveria ser o

órgão gestor responsável por fiscalizar as ações da entidade contratada, definia as

contratações. Segundo o TCU o gestor deve ser responsável pela juntada e analise de todos os

documentos que comprovem as informações sobre licitações, pagamentos, verbas trabalhistas

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e previdenciárias. Com base no exposto, percebe-se a contradição do que ocorria na entidade,

onde quem realizava os procedimentos era o mesmo que analisava a veracidade das

informações. Esta situação deixa brechas enormes para a existência de corrupção.

Essa ingerência política sobre a entidade fez com que não houvesse fiscalização que

pudesse comprovar as irregularidades que ocorriam na contratação dos empregados, sendo

que seriam necessárias uma série de ações para identificar os problemas, dentre elas:

Elaboração de uma planilha contendo todas as informações dos trabalhadores terceirizados

com todas as informações necessárias: nome, salário, cargo, horário de trabalho etc;

Verificação das Carteiras de Trabalho e Previdência Social (CTPS), observando se o número

de funcionários em cada função coincide com o que está no contrato.

DESCONTROLE DAS FOLHAS DE PONTO DOS FUNCIONÁRIOS

Através da analise das folhas de pagamento e de ponto, verificou-se que foram

contratados vários candidatos a vereador na capital e no interior do estado, estes filiados ao

partido da então prefeita.

Foi observado que uma série de funcionários ou não possuem folhas de ponto, ou

estão incompletas. Com base em depoimentos gravados em DVD, prestados por funcionários

da ATIVA através de um procedimento que tramita na Promotoria de Justiça do Patrimônio

Público, havia um total descontrole das folhas de ponto, pois enquanto uns afirmam que

existia folha de ponto outros atestam que não, destacando-se que os entrevistados também não

sabiam precisar quem era o responsável por esse controle. Ademais, de acordo com o relato

de testemunhas, a ATIVA começou a imprimir várias folhas de ponto na tentativa de justificar

a contratação de funcionários, sendo que a maior parte desses funcionários sequer prestou

serviço a entidade.

Segundo a analise dos dados fornecidos pela ATIVA ao MP-RN, o mesmo concluiu

que "[...]35% dos funcionários existentes na folha de pagamento da entidade não possuem

folha de ponto[...]" e que "[...]a ATIVA chegou a pagar 50% mais funcionários do que os

efetivamente existentes no dia a dia laboral[...]", ou seja, várias pessoas foram contratadas

sem necessidade. Elas recebiam salário sem nem mesmo prestar os serviços para qual foram

convocadas inicialmente. Para contextualizar a necessidade da contratação dessas pessoas era

realizados vários projetos que nunca foram colocados em prática, sendo apenas utilizados

como justificativa. Para ilustrar essa situação no quadro 1 consta o comparativo do número de

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pessoas constantes na folha de pagamento e de pessoas com folha de ponto referente ao ano

de 2011.

QUADRO 1 - Comparação entre a folha de pagamento e as folhas de ponto

MÊS/2011 FOLHA DE PAGAMENTO FOLHA DE PONTO

Jan 968 571

Fev 894 600

Mar 868 587

Abr 768 616

Mai 874 625

Jun 919 643

Jul 974 670

Ago 974 674

Set 990 622

Out 995 665

Fonte: Documentos da Ativa - Extraído da Ação Civil do MP-RN

Visando aumentar a eficiência e combater fraudes, segundo um dos princípios de

controle interno relacionado por Castro (2010), é necessário haver uma documentação muito

bem organizada e que dê preferência a utilização de processos eletrônicos. Observando-se os

depoimentos dos funcionários e também a tabela comparativa entre a quantidade de pessoas

registradas na folha de pagamento e nas folhas de ponto, percebe-se que não havia controle

nenhum dos funcionários, sendo inclusive necessário a "fabricação" de folhas de ponto para

enganar a fiscalização.

De modo a controlar os funcionários realmente ativos, seria necessário que houvesse

uma planilha-mensal que constasse os nome completo do empregado, função exercida, dias

efetivamente trabalhados, horas extras trabalhadas, férias, licenças, faltas, ocorrências e

exigir, ainda, a apresentação das folhas de ponto da entidade, de preferência através de

processo eletrônico. O acompanhamento deveria ser tanto diário como mensal, fazendo um

comparativo entre as folhas de ponto entregues pela entidade e a planilha elaborada pelo

fiscal.

PROBLEMAS REFERENTES À DOCUMENTAÇÃO

A Controladoria Geral do Município (CGM), órgão responsável pelo controle interno

do poder executivo de Natal em Ofício nº 150/2012-CGM (22/05/2012), relatou uma série de

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dificuldades ao solicitar os documentos referentes aos convênios com a ATIVA. Entre as

irregularidades encontradas na prestação de contras estão: Falta de documentos acerca dos

recolhimentos de INSS, ISS e IRRF, inconsistências entre documentação apresentada e a

contabilidade, erro nos cálculos de verbas trabalhistas, pagamento de multa indevida, falta de

justificativa e definição do objeto da contratação ou aquisição, processos de despesa sem

parecer jurídico, despesas superiores aos valores repassados pelos convênios. Outro agravante

é a renovação do convenio entre a ATIVA e SEMTAS sem que esta última realizasse a

prestação de contas a CGM.

Foi encontrado, também, grande dificuldade na obtenção dos documentos solicitados

pelo MP-RN, onde a ATIVA não respondia as solicitações. Além da desobediência quanto

atender às solicitações, foram encontradas várias omissões e irregularidades nos documentos

enviados, gerando incapacidade dos órgãos em atestar a veracidade das informações

dispostas.

Assim como em relação às folhas de ponto, os documentos referentes aos pagamentos,

licitações, recolhimentos previdenciários etc. não atendiam os preceitos de controle interno

necessários, pois os documentos continham várias inconsistências, gerando uma falta de

segurança quanto a veracidade das informações.

Para atestar a veracidade das informações, existem uma série de documentos

necessários a serem apresentados aos órgãos de fiscalização, tais como: cópia do Protocolo de

Envio de Arquivos, emitido pela Conectividade Social (GFIP); cópia da Guia de

Recolhimento do FGTS (GRF); cópia da Relação dos Trabalhadores Constantes do Arquivo

SEFIP (RE); cópia da Guia da Previdência Social (GPS); Certidão Negativa de Débito junto

ao INSS (CND); Certidão Negativa de Débitos de Tributos e Contribuições Federais; e

Certificado de Regularidade do FGTS (CRF).

CONCESSÃO EXCESSIVA DE HORAS-EXTRAS E DIÁRIAS.

A partir de analises em relação às horas extras e concessão de diárias, constatou-se o

pagamento de um número excessivo de horas extras a vários funcionários que não condizem

com a realidade, chegando a existir meses em que determinado funcionário tinha mais horas

extras do que horas normais trabalhadas. Para exemplificar esse excesso, no Quadro 2 consta

o resumo de horas extras de um determinado funcionário da entidade:

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QUADRO 2 - Excesso de horas extras

Nome Referência Qtde Horas Valor (R$)

Ivan Carlos da Costa Folha 03/2012 164 926,98

Ivan Carlos da Costa Folha 04/2012 224 1.248,97

Ivan Carlos da Costa Folha 05/2012 231 1.354,25

Ivan Carlos da Costa Folha 06/2012 243 1.448,24

Ivan Carlos da Costa Folha 07/2012 272 1.565,04

Ivan Carlos da Costa Folha 08/2012 280 1.594,77

TOTAL 8.138,25

Fonte: Elaboração do Setor Contábil PJCSFTFEIS (Parecer Contábil 009/2012) - Extraído da Ação

Civil do MP-RN

Em relação a concessão de diárias o MP-RN através do Parecer Contábil 009/2012

entendeu que:"[...]foram, mais uma vez, detectadas inúmeras irregularidades, a exemplo da

não comprovação do valor concedido, valores consideráveis e incompatíveis com os eventos

relacionados, não indicação dos eventos que motivaram a concessão das diárias(...)".

Utilizando-se novamente da planilha-mensal, juntamente com o acompanhamento

diário, onde são averiguados todos os dados dos empregados, seriam levantados as horas

extras efetivamente trabalhadas, devendo ser instaurada uma rotina para autorizar pedidos de

realização de horas extras por terceirizados, e combinar com a entidade a forma da

compensação de jornada.

Exigir da entidade a comprovação das informações prestadas nos relatórios, através de

documentos e notas fiscais que atestem a veracidade quanto aos valores e os motivos da

concessão de diárias.

IRREGULARIDADES EM LICITAÇÕES E PAGAMENTOS

Identificou-se uma série de irregularidades no contrato com a empresa de viagens,

quanto às justificativas e a comprovação dos destinos. Entre os beneficiários das passagens

estão os próprios responsáveis por autorizá-las e os valores das passagens não condizem com

a realidade, pois o valor dos destinos a que elas se referem são inferiores aos registrados. Para

demonstrar essa discrepância segue trecho do parecer contábil nº 009/2012-

27aPmJCSFTFEIS elaborado pelo Setor contábil do MP-RN:

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Em 19 de março de 2010 foi emitido uma fatura para cobrança das passagens

aéreas emitidas para a Sra. Cássia Araújo e para a Sra. Emanuela Alves. As

passagens tinham como trecho Natal/Brasília/Natal, no valor de R$ 5.259,76.

A referida fatura não menciona o período a que se referem.

Existiam contratos de locação de veículos com duas empresas, sendo o sócio de uma

delas integrante de organização criminosa identificado na operação "Pecado Capital9". Tais

contratos não contêm nenhuma justificativa para a necessidade dos veículos e nem

comprovação de sua utilização.

Mesmo que não haja relação direta entre o contratante, neste caso o Município de

Natal através dos convênios SEMTAS e FUNCARTE e possíveis empresas contratadas pelo

terceiro, neste caso as empresas de viagens e locação de veículos, o ente público tem

obrigação de fiscalizar estes contratos, vistos que são realizados utilizando recursos públicos

repassados através dos convênios. O fiscal não deve atestar as Notas Fiscais enquanto não

forem cumpridas a total execução, entrega ou correção dos bens ou serviços. Devem verificar

a conformidade da prestação dos serviços e da alocação dos recursos necessários, de acordo

com o objeto do contrato. Realizar a juntada dos documentos probantes, nos respectivos

processos administrativos de liquidação e pagamento.

DESCONTROLE DE RECURSOS RECEBIDOS

Todos esses problemas geraram um total descontrole administrativo e financeiro na

entidade, onde suas despesas superavam em muito o total de receitas. Através da análise

contábil verificou-se que os somente os débitos trabalhistas e encargos sociais superavam as

receitas, chegando à conclusão de que os gastos com pessoal foi o principal motivo que levou

a essa crise financeira. Gastos esses que podem ser totalmente explicados, visto as inúmeras

irregularidades envolvendo a contração e remuneração de funcionários.

Através do Parecer Contábil nº 009/2012 elaborado pelo MP-RN com base nos

documentos fornecidos pela ATIVA, onde se analisou entre outros, o exercício de 2011.

foi constatado que a ATIVA gasta bem mais do que arrecada, comprovando

a dificuldade financeira instalada em seus quadros e ainda evidenciando que

os gastos mais expressivos se dão com as despesas de pessoal, os quais

chegam ao percentual de 167,13% do total das receitas auferidas, isto é, além

de ultrapassar de forma significativa as receitas obtidas no exercício, a

9 Procedimento de Investigação Criminal n.º 011/2011, cujo objetivo era apurar os desvios de recursos do

Instituto de Pesos e Medidas do Estado do Rio Grande do Norte (IPEM).

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entidade ainda utiliza tal montante exclusivamente para o pagamento de

pessoal.

Essa situação acarretou em demissões em massa na entidade, onde inúmeros

empregados foram demitidos sem receber as verbas rescisórias, o que gerou uma enorme

demanda de processos trabalhistas contra a ATIVA e o Município de Natal, este último como

litisconsorte10

. Assim o Município de Natal foi condenado pela justiça do trabalho em pagar

os processos trabalhistas envolvendo a ATIVA devido a falta de recursos da entidade em

fazê-lo, pois o Tribunal entende que os empregados não podem sair prejudicados nessa

relação.

Esses problemas poderiam ser minimizados se houvesse uma fiscalização sobre os

pagamentos de salários, visto que as demissões começaram bem antes da ação do MP-RN.

Deveriam ser exigidos da entidade os comprovantes de pagamentos de salários, bem como os

benefícios a que tenham direito, além dos recolhimentos do FGTS e INSS, comprovados

através das Guias da Previdência Social e Guias de Recolhimento do Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço e Informações à Previdência social.

De forma a proteger o erário diante de processos trabalhistas, deveria ter sido criada

uma conta vinculada, aberta no nome da entidade contratada, em uma instituição bancária e

que fosse bloqueada para movimentações. Neste conta deveria ser depositado provisões

referentes a 13º salário; Férias e Abono de Férias; Adicional do FGTS para as rescisões sem

justa causa; e Impacto sobre férias e 13º salário. Dessa forma o impacto financeiro sobre os

recursos no Município seria bem menor.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Para que houvesse uma fiscalização eficiente seria necessário que os funcionários

responsáveis pelo trabalho fossem totalmente independentes, seja os funcionários da ATIVA

realizando o controle interno, seja os funcionários pertencentes aos órgãos públicos

responsáveis pela fiscalização da execução do contrato. Na declaração do funcionário

responsável por elaboração de relatórios técnicos acerca do cumprimento das ações, dada ao

MP-RN , ele afirmou que tinha consciência de que possivelmente as folhas de ponto eram

forjadas, mas que ele seguia o que seus superiores informavam, ou seja, de que não havia

problemas quanto ao cumprimento dos horários pelos empregados.

10

Quando há mais de um interessado, seja como parte autora ou ré. Um réu autuado como litisconsorte num

processo que seja comprovado que foi beneficiado pelo contrato, será responsável subsidiário pelas verbas

trabalhistas e previdenciárias.

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Dessa forma, não havia uma fiscalização eficiente, visto que as investigações sobre

possíveis irregularidades não eram aprofundadas e os fiscais apenas acreditavam nas palavras

dos administradores. Levando-se em conta que foram encontrados problemas, não apenas nas

folhas de ponto, mas em vários outros itens, entende-se que a mesma metodologia era

aplicada quanto a fiscalização de outras possíveis irregularidades na entidade.

Confirmada as irregularidades, caberia ao Fiscal, juntamente com o gestor do contrato,

pedir a punição da entidade com a aplicação de advertências, multas e posteriormente a

possibilidade de rescisão dos contratos, inclusive com suspensão do direito de participar de

licitações durante um período de tempo. Essas medidas se fazem necessárias para que o órgão

fiscalizador se imponha sobre as partes, de modo que, ou se corrijam as irregularidades, ou

não mais repasse os recursos.

Visando resumir a avaliação das irregularidades em relação às medidas necessárias, o

Quadro 3 apresenta uma análise comparativa entre ambos.

QUADRO 3 - Resumo das irregularidades e medidas necessárias IRREGULARIDADES MEDIDAS NECESSÁRIAS

Intervenção política Analisar o contrato e o estatuto da empresa e

requerer a mudança do estatuto ou extinção do

convênio

Irregularidade nas contratações Elaborar a planilha contendo todas as

informações dos funcionários contratados, assim

como verificar as carteiras de trabalho.

Descontrole das folhas de ponto Acompanhar diariamente e mensalmente as

folhas de ponto e comparar com a planilha

elaborada pelo fiscal contendo as informações

dos funcionários.

Problemas com a documentação Exigir todos os documentos necessários para a

comprovação das informações, punindo a

entidade caso não cumpra as exigências.

Irregularidade em Horas-extras e diárias Acompanhar as horas-extras através de planilha

de controle; instaurar rotina na autorização de

horas-extras; exigir documentação comprobatória

sobre os valores e motivos das diárias.

Irregularidades em licitações e Pagamentos Não atestar Notas Fiscais sem a total execução,

entrega ou correção dos bens ou serviços.

Verificar a conformidade da prestação dos

serviços e da alocação dos recursos necessários.

Juntar documentos probantes, nos respectivos

processos administrativos de liquidação e

pagamento.

Descontrole dos recursos recebidos Exigir a comprovação do pagamento de salários,

bem como das verbas previdenciárias. Criar a

conta vinculada para proteger os trabalhadores e

o patrimônio público.

Fonte: Dados da pesquisa

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estado cada vez mais se utiliza de contratos de terceirização para realizar ações que

deveriam ser de sua responsabilidade, mas que devido a incapacidade do mesmo, seja técnica,

organizacional, entre outras, obriga a administração a recorrer a esse modelo de trabalho.

Assim, avaliando-se os problemas expostos na entidade alvo do estudo, percebe-se o

total descaso das pessoas que detinham o poder sobre os recursos públicos, valores que

deveriam ser utilizados para gerar bem estar social à população, principalmente os mais

necessitados.

Todas ações que envolvam recursos públicos devem receber atenção redobrada, de

forma a evitar deixar brechas para esse tipo de comportamento e dificultar a manipulação dos

contratos em benefício dos que estão no poder, principalmente em contratos envolvendo

terceiros, pois é mais fácil ocorrer a manipulação das informações, e os corruptos tem se

aproveitado disso.

O que não deve ocorrer é o que aconteceu com a instituição pesquisada, onde precisou

da intervenção do Ministério Público para resolver a situação, que acabou com a extinção da

entidade. O problema deste tipo de intervenção é que ela é realizada posteriormente aos

acontecimentos, ou seja, ao invés de se inibir a existência de corrupção, combatendo-a no dia-

a-dia das atividades, é realizado um levantamentos dos prejuízos e uma tentativa de punição

dos culpados.

Outro fato importante a se destacar é a escassez de servidores públicos nos órgãos de

fiscalização, somando-se a existência cada vez maior de contratos. Torna-se inviável uma

abordagem mais substancial e é cada vez mais importante a participação dos cidadãos através

de denúncias.

Para isso, enfatiza-se a necessidade de haver a existência de um controle interno que

seja eficiente e que possua total independência em relação ao administradores da entidade,

como também é estritamente necessário a fiscalização constante por parte da administração

pública, destacando servidores do quadro da entidade responsável pelos convênios, que

devem, também, possuir autonomia para realizar seus trabalhos.

O trabalho limita-se ao objeto de estudo, neste caso a ATIVA e o município de Natal.

Assim recomenda-se a pesquisa de outros casos para aprofundamento no tema. Sugere-se

pesquisar a existência de outros casos no próprio MP-RN, assim como nos Ministérios

Públicos dos outros estados da federação. Como a pesquisa envolveu apenas a esfera

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municipal é interessante a realização de um estudo envolvendo a administração pública no

âmbito estadual e federal.

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REFERÊNCIAS

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Contábeis, UFSC, Florianópolis, SC, 2010. Disponível em:

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1988. Disponível em:

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Altera disposições do Decreto-lei número 200, de 25 de fevereiro de 1967, e dá outras

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____. Instrução Normativa MP nº 2, de 30 de abril de 2008 - DOU de 23/05/2008 -

Alterado. Dispõe sobre regras e diretrizes para a contratação de serviços, continuados ou não.

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____. Instrução Normativa MPOG nº 3, de 15 de Outubro de 2009 - DOU de

16/10/2009. Altera a Instrução Normativa nº 02, de 30 de abril de 2008. Disponível em: <

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2014.

____. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças

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DF, 25 out. 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>.

Acesso em: 25 out. 2014.

____. Lei nº 5.645, de 10 de dezembro de 1970. Estabelece diretrizes para a classificação de

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DF, 10 dez. 1970. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5645.htm>.

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____. Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas

Empresas Urbanas, e dá outras Providências. Brasília, DF, 3 jan. 1974. Disponível em:

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____. Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983. Dispõe sobre segurança para estabelecimentos

financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares

que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores, e dá outras providências.

Brasília, DF, 20 jun. 1983. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7102.htm>. Acesso em: 25 out. 2014.

____. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade

Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Brasília, DF, 24 jul. 1991.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm>. Acesso em: 25

out. 2014.

____. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da

Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e

dá outras providências. Brasília, DF, 21 jun. 1993. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>. Acesso em: 25 out. 2014.

____. Lei nº 9.532, de 10 de dezembro de 1997. Altera a legislação tributária federal e dá

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<http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/leis/ant2001/lei953297.htm>. Acesso em: 25

out. 2014.

____. Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1988. Dispõe sobre a qualificação de entidades como

organizações sociais, a criação do Programa Nacional de Publicização, a extinção dos órgãos

e entidades que menciona e a absorção de suas atividades por organizações sociais, e dá

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53

outras providências. Brasília, DF, 15 mai. 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9637.htm>. Acesso em: 25 out. 2014.

____. Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999. Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas

de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse

Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. Brasília, DF, 23

mar. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9790.htm>. Acesso

em: 25 out. 2014.

____. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, DF, 10 jan. 2002.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 25

out. 2014.

____. Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009. Dispõe sobre a certificação das entidades

beneficentes de assistência social; regula os procedimentos de isenção de contribuições para a

seguridade social. Brasília, DF, 27 nov. 2009. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12101.htm>. Acesso em: 25

out. 2014.

____. Portaria-TCU nº 297, de 14 de novembro de 2012. Dispõe sobre a fiscalização dos

contratos de prestação de serviços terceirizados de natureza continuada no âmbito da

Secretaria do Tribunal de Contas da União. Disponível em: <

http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/PORTN/20121121/PRT2012-297.doc>.

Acesso em: 25 out. 2014.

____. Supremo Tribunal Federal. TST deve analisar caso a caso ações contra União que

tratem de responsabilidade subsidiária, decide STF. Disponível em:

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Acesso em 24 nov. 2014

____. Tribunal Superior do Trabalho. Resolução nº 96, de 11 de setembro de 2000.

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____. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 239. Bancário - Empresa de

Processamento de Dados - Mesmo Grupo Econômico. Disponível em: < http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0239.htm >. Acesso em: 25 out.

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____. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 256. Trabalho Temporário e Serviço de

Vigilância - Contratação de Trabalhadores por Empresa Interposta. Disponível em: < http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0256.htm >. Acesso em: 25 out.

2014.

____. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 331. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS. LEGALIDADE. Disponível em:

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54

CASTRO, Domingos Poubel de. Auditoria, contabilidade e controle interno no setor

público: integração das áreas do ciclo de gestão: contabilidade, orçamento e auditoria e

organização dos controles internos, como suporte a governança corporativa. 3. ed. São Paulo:

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CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de

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CRUZ, Luiz Carlos Lima da. Responsabilidade Subsidiária da administração pública

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KOHAMA, Heilio. Contabilidade pública: teoria e prática. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MICHAELIS. Dicionário de Português online. Controle. Disponível em:

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MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo:

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PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho

científico: Métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo:

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SEKIDO, Amelia Midori Yamane. Terceirização na administração pública: A gestão e a

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TACHIZAWA, Takeshy. Organizações não governamentais e o terceiro setor: criação de

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ANEXO A INSTRUÇÃO NORMATIVA MP Nº 2, DE 30 DE ABRIL DE 2008 - DOU DE 23/05/2008 - ALTERADO

Art. 34. A execução dos contratos deverá ser acompanhada e fiscalizada por meio de

instrumentos de controle, que compreendam a mensuração dos seguintes aspectos, quando for

o caso:

I - os resultados alcançados em relação ao contratado, com a verificação dos prazos de

execução e da qualidade demandada;

II - os recursos humanos empregados, em função da quantidade e da formação profissional

exigidas;

III - a qualidade e quantidade dos recursos materiais utilizados;

IV - a adequação dos serviços prestados à rotina de execução estabelecida;

V - o cumprimento das demais obrigações decorrentes do contrato; e

VI - a satisfação do público usuário.

§ 1º O fiscal ou gestor do contrato ao verificar que houve subdimensionamento da

produtividade pactuada, sem perda da qualidade na execução do serviço, deverá comunicar à

autoridade responsável para que esta promova a adequação contratual à produtividade

efetivamente realizada, respeitando-se os limites de alteração dos valores contratuais previstos

no § 1º do artigo 65 da Lei nº 8.666, de 1993.

§ 2º A conformidade do material a ser utilizado na execução dos serviços deverá ser

verificada juntamente com o documento da contratada que contenha a relação detalhada dos

mesmos, de acordo com o estabelecido no contrato, informando as respectivas quantidades e

especificações técnicas, tais como: marca, qualidade e forma de uso.

§ 3º O representante da Administração deverá promover o registro das ocorrências

verificadas, adotando as providências necessárias ao fiel cumprimento das cláusulas

contratuais, conforme o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 67 da Lei nº 8.666, de 1993.

§ 4º O descumprimento total ou parcial das responsabilidades assumidas pela contratada,

sobretudo quanto às obrigações e encargos sociais e trabalhistas, ensejará a aplicação de

sanções administrativas, previstas no instrumento convocatório e na legislação vigente,

podendo culminar em rescisão contratual, conforme disposto nos artigos 77 e 87 da Lei nº

8.666, de 1993.

ANEXO IV

Guia de Fiscalização dos Contratos de Terceirização

1. Fiscalização inicial (no momento em que a prestação de serviços é iniciada) (Nova redação

pela INSTRUÇÃO NORMATIVA MP Nº 3, DE 15/11/2009)

1.1 Elaborar planilha-resumo de todo o contrato administrativo. Ela conterá todos os

empregados terceirizados que prestam serviços no órgão, divididos por contrato, com as

seguintes informações: nome completo, número de CPF, função exercida, salário, adicionais,

gratificações, benefícios recebidos e sua quantidade (vale-transporte, auxílio-alimentação),

horário de trabalho, férias, licenças, faltas, ocorrências, horas extras trabalhadas.

1.2 Conferir todas as anotações nas Carteiras de Trabalho e Previdência Social (CTPS) dos

empregados, por amostragem, e verificar se elas coincidem com o informado pela empresa e

pelo empregado. Atenção especial para a data de início do contrato de trabalho, a função

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exercida, a remuneração (importante esteja corretamente discriminada em salário-base,

adicionais e gratificações) e todas as eventuais alterações dos contratos de trabalho.

1.3 O número de terceirizados por função deve coincidir com o previsto no contrato

administrativo.

1.4 O salário não pode ser inferior ao previsto no contrato administrativo e na Convenção

Coletiva de Trabalho da Categoria (CCT). (Alterado pela INSTRUÇÃO NORMATIVA

MP Nº 3, DE 15/11/2009) 1.5 Consultar eventuais obrigações adicionais constantes na CCT para as empresas

terceirizadas (por exemplo, se os empregados têm direito a auxílio-alimentação gratuito).

1.6 Verificar a existência de condições insalubres ou de periculosidade no local de trabalho,

cuja presença levará ao pagamento dos respectivos adicionais aos empregados. Tais condições

obrigam a empresa a fornecer determinados Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

2. Fiscalização mensal (a ser feita antes do pagamento da fatura) (Alterado

pela INSTRUÇÃO NORMATIVA MP Nº 3, DE 15/11/2009)

2.1 Elaborar planilha-mensal que conterá os seguintes campos: nome completo do empregado,

função exercida, dias efetivamente trabalhados, horas extras trabalhadas, férias, licenças,

faltas, ocorrências.

2.2 Verificar na planilha-mensal o número de dias e horas trabalhados efetivamente. Exigir

que a empresa apresente cópias das folhas de ponto dos empregados por ponto eletrônico ou

meio que não seja padronizado (Súmula 338/TST). Em caso de faltas ou horas trabalhadas a

menor, deve ser feita glosa da fatura.

2.3 Exigir da empresa comprovantes de pagamento dos salários, vales-transporte e auxílio

alimentação dos empregados.

2.4 Realizar a retenção da contribuição previdenciária (11% do valor da fatura) e dos

impostos incidentes sobre a prestação do serviço.

2.4.1 Realizar a retenção e o depósito do FGTS dos trabalhadores da contrata, caso exista

autorização da empresa contratada, conforme definido no instrumento

convocatório. (Incluído pela INSTRUÇÃO NORMATIVA MP Nº 3, DE 15/11/2009)

2.5 Exigir da empresa os recolhimentos do FGTS por meio dos seguintes documentos:

a) cópia do Protocolo de Envio de Arquivos, emitido pela Conectividade Social (GFIP);

b) cópia da Guia de Recolhimento do FGTS (GRF) com a autenticação mecânica ou

acompanhada do comprovante de recolhimento bancário ou o comprovante emitido quando

recolhimento for efetuado pela Internet;

c) cópia da Relação dos Trabalhadores Constantes do Arquivo SEFIP (RE);

d) cópia da Relação de Tomadores/Obras (RET).

2.6 Exigir da empresa os recolhimentos das contribuições ao INSS por meio de:

a) cópia do Protocolo de Envio de Arquivos, emitido pela Conectividade Social (GFIP);

b) cópia do Comprovante de Declaração à Previdência;

c) cópia da Guia da Previdência Social (GPS) com a autenticação mecânica ou acompanhada

do comprovante de recolhimento bancário ou o comprovante emitido quando recolhimento for

efetuado pela Internet;

d) cópia da Relação dos Trabalhadores Constantes do Arquivo SEFIP (RE);

e) cópia da Relação de Tomadores/Obras (RET).

2.7 Consultar a situação da empresa junto ao SICAF.

2.8 Exigir a Certidão Negativa de Débito junto ao INSS (CND), a Certidão Negativa de

Débitos de Tributos e Contribuições Federais e o Certificado de Regularidade do FGTS

(CRF), sempre que expire o prazo de validade.

3. Fiscalização diária

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3.1 Conferir, todos os dias, quais empregados terceirizados estão prestando serviços e em

quais funções. Fazer o acompanhamento com a planilha-mensal.

3.2 Verificar se os empregados estão cumprindo à risca a jornada de trabalho. Deve ser

instaurada uma rotina para autorizar pedidos de realização de horas extras por terceirizados.

Deve-se combinar com a empresa a forma da compensação de jornada.

3.3 Evitar ordens diretas aos terceirizados. As solicitações de serviços devem ser dirigidas ao

preposto da empresa. Da mesma forma eventuais reclamações ou cobranças relacionadas aos

empregados terceirizados.

3.4 Evitar toda e qualquer alteração na forma de prestação do serviço como a negociação de

folgas ou a compensação de jornada. Essa conduta é exclusiva do empregador.

4. Fiscalização especial

4.1 Observar qual é a data-base da categoria prevista na Convenção Coletiva de Trabalho

(CCT). Os reajustes dos empregados devem ser obrigatoriamente concedidos pela empresa no

dia e percentual previstos (verificar a necessidade de proceder ao equilíbrio econômico-

financeiro do contrato em caso de reajuste salarial).

4.2 Controle de férias e licenças dos empregados na planilha-resumo.

4.3 A empresa deve respeitar as estabilidades provisórias de seus empregados (cipeiro,

gestante, estabilidade acidentária).