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FILOSOFIA PARA CRIANÇAS – UMA ABORDAGEM A PARTIR DA INVESTIGAÇÃO DIALÓGICA E DA PEDAGOGIA DO CORPO Antônio Márcio Dutra Barbosa Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil Jussara Isabel da Silva Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil RESUMO: Neste artigo buscamos elaborar um projeto sobre docência de Filosofia para crianças. Partimos com a ideia de gênese para tal modo de se fazer Filosofia, isto é, trazendo dos estudos do professor estadunidense Matthew Lipman as contribuições fundamentais e necessárias, ao nosso ver, para a empreitada à qual pretendemos contribuir. Além das bases epistemológicas de Lipman, aliamos a chamada Investigação Dialógica, método proposto pelo Professor Juarez Sofiste, que ao ir até os escritos de Sócrates dá uma boa percepção de como pode-se fazer Filosofia, a saber, filosofar, mesmo com crianças ou demais pessoas que não acadêmicos de Filosofia. Na nossa proposta de Filosofia para Crianças, centrada na ideia de Investigação Dialógica, entendemos ser interessante uma aliada que venha a estabelecer um elo que torna possível esse tipo de conduta para o filosofar com as habilidades e requerimentos cognitivos médios de crianças com as idades entre 6 e 9 anos, faixa etária a qual vamos nos deparar na educação básica (Ensino Fundamental). A aliada em questão é a chamada Pedagogia do Corpo, que vem fundamentar as atividades com boa qualidade lúdica, onde jogos, imagens e sons permitem uma melhor absorção por parte dos educandos à interação do ambiente de investigação. Palavras-chave: Filosofia para Crianças. Investigação Dialógica. Pedagogia do Corpo. Matthew Lipman ABSTRACT: In this article we seek to develop a project on philosophy teaching for children. We start with the idea of genesis for such a way of doing philosophy , that is, bringing the studies of american professor Matthew Lipman fundamental and necessary contributions , in our view, for the contract to which we intend to contribute . In addition to the epistemological foundations of Lipman, we combine the call Dialogical Investigation, method proposed by Professor Juarez Sofiste that to go to the writings of Socrates gives a good insight into how one can make philosophy , namely philosophizing , even with children or other people who do not academic philosophy . In our proposal for Philosophy for Children , centered on the idea of Dialogical Investigation, we believe it is interesting an ally that will establish a link that makes it possible to conduct this kind of philosophizing with the skills and cognitive average requirements of children with ages between 6 and 9 years age group which we find ourselves in basic education ( primary education ) . The ally in question is called the Pedagogy of the Body , which comes with good support activities playful quality where games, pictures and sounds allow for better absorption by the students to the interaction of the research environment. Key-words: Philosophy for childrens. Dialogical Investigation. Pedagogy of the body. Matthew Lipman FILOSOFIA PARA CRIANÇAS – UMA ABORDAGEM A PARTIR DA INVESTIGAÇÃO DIALÓGICA E DA PEDAGOGIA DO CORPO

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FILOSOFIA PARA CRIANÇAS – UMA ABORDAGEM A PARTIR DA INVESTIGAÇÃO

DIALÓGICA E DA PEDAGOGIA DO CORPO

Antônio Márcio Dutra BarbosaUniversidade Federal de Juiz de Fora, Brasil

Jussara Isabel da SilvaUniversidade Federal de Juiz de Fora, Brasil

RESUMO:Neste artigo buscamos elaborar um projeto sobre docência de Filosofia para crianças. Partimos coma ideia de gênese para tal modo de se fazer Filosofia, isto é, trazendo dos estudos do professorestadunidense Matthew Lipman as contribuições fundamentais e necessárias, ao nosso ver, para aempreitada à qual pretendemos contribuir. Além das bases epistemológicas de Lipman, aliamos achamada Investigação Dialógica, método proposto pelo Professor Juarez Sofiste, que ao ir até osescritos de Sócrates dá uma boa percepção de como pode-se fazer Filosofia, a saber, filosofar,mesmo com crianças ou demais pessoas que não acadêmicos de Filosofia. Na nossa proposta deFilosofia para Crianças, centrada na ideia de Investigação Dialógica, entendemos ser interessanteuma aliada que venha a estabelecer um elo que torna possível esse tipo de conduta para o filosofarcom as habilidades e requerimentos cognitivos médios de crianças com as idades entre 6 e 9 anos,faixa etária a qual vamos nos deparar na educação básica (Ensino Fundamental). A aliada emquestão é a chamada Pedagogia do Corpo, que vem fundamentar as atividades com boa qualidadelúdica, onde jogos, imagens e sons permitem uma melhor absorção por parte dos educandos àinteração do ambiente de investigação.Palavras-chave:

Filosofia para Crianças. Investigação Dialógica. Pedagogia do Corpo. Matthew Lipman

ABSTRACT:In this article we seek to develop a project on philosophy teaching for children. We start with theidea of genesis for such a way of doing philosophy , that is, bringing the studies of americanprofessor Matthew Lipman fundamental and necessary contributions , in our view, for the contractto which we intend to contribute . In addition to the epistemological foundations of Lipman, wecombine the call Dialogical Investigation, method proposed by Professor Juarez Sofiste that to go tothe writings of Socrates gives a good insight into how one can make philosophy , namelyphilosophizing , even with children or other people who do not academic philosophy . In ourproposal for Philosophy for Children , centered on the idea of Dialogical Investigation, we believe itis interesting an ally that will establish a link that makes it possible to conduct this kind ofphilosophizing with the skills and cognitive average requirements of children with ages between 6and 9 years age group which we find ourselves in basic education ( primary education ) . The ally inquestion is called the Pedagogy of the Body , which comes with good support activities playfulquality where games, pictures and sounds allow for better absorption by the students to theinteraction of the research environment.Key-words:Philosophy for childrens. Dialogical Investigation. Pedagogy of the body. Matthew Lipman

FILOSOFIA PARA CRIANÇAS – UMA ABORDAGEM A PARTIR DA INVESTIGAÇÃODIALÓGICA E DA PEDAGOGIA DO CORPO

1. INTRODUÇÃO

No presente artigo estudaremos e procuraremos esclarecer algo que para nós é de

extrema necessidade e pode ser um divisor de águas no pensar a Filosofia e no padrão de

Ensino Fundamental em que as crianças se veem por vezes entediadas e sem muita atração

por ir à escola e com uma certa dificuldade em estabelecer laços com as disciplinas

estudadas, mesmo que apenas o letramento e a iniciação matemática.

Ao elencar alguns pontos da História da Filosofia é possível notar que, embora não

pareça, a Filosofia não é uma exclusividade de acadêmicos ou iniciados. Sócrates nos traz a

mente algo muito importante, aprende-se por meio de questionamentos, a chamada

Maiêutica, ou parto das ideias, é um resultado da arte de perguntar.

Com uma observação interessante sobre a realidade da educação dos EUA nos anos

da década de 1950, Matthew Lipman sentiu que algo faltava a mesma, e então fundou uma

instituição e lançou um programa que viria a ser um marco para a proposta de Filosofia

para Crianças.

O professor Juarez Sofiste contribui com a proposta de Filosofia para Crianças com

um método intitulado ‘Investigação Dialógica’. Onde há um processo de argumentação,

escuta ao outro e porque não, de diversão para as crianças.

Aliado as ideias de Sofiste achamos adequado um grande foco no lúdico e com

bastante ênfase nos sentidos, ou seja, uma Pedagogia do Corpo.

2. AS POSSIBILIDADES DA FILOSOFIA

Tida sempre como uma disciplina acadêmica ou mesmo área do conhecimento de

rigoroso trato, tendo em conta sua alta complexidade e aprofundamento de difícil método,

sobre absolutamente tudo e todas as coisas, e aliás, sobre o que são as coisas, e o que é ela

própria. Assim é a Filosofia, o “amor pela sabedoria”, a vontade de saber ou o ‘tesão’ como

diz o Professor Juarez Sofiste. O ‘tesão’ em questão retrata bem o que é a busca pelo saber

(o filosofar), se entendermos etimologicamente que os vocábulos saber e sabor, sapere e

sapore, tem a mesma raiz gramatical. Já o ‘tesão’ pode ser entendido como vontade

exacerbada, uma grandiosa atração.

II SIfpe, outubro de 2015

Por meio da atração ao saber, vultos que tiveram seu nome marcado na história

universal por razão de suas contribuições e conceituações no campo da Filosofia, fizeram o

que ela é hoje. E aí que entra uma séria questão que nos intriga e por que não, nos leva a

refletir, e mesmo a filosofar. Pode a Filosofia ser feita fora da Academia? Seria isso uma

‘heresia’?

É necessário antes colocar que o objetivo não é o de tirar a Filosofia das

universidades, ou simplesmente supor isso, tendo em vista que as aproximações das ‘filhas,

netas e ...’ como a Teologia ou as Teologias (que são várias e de variadas formas de ser) e

demais outros ramos de estudos, que são muitos, e que tendem a cada vez mais buscar se

legitimar como disciplinas/áreas do conhecimento acadêmico.

O nosso objetivo é, antes, expor que para filosofar não é necessário ser um

estudante ou pesquisador de Filosofia, acadêmica e legalmente reconhecido. Para esclarecer

mais sobre o que isso representa é bom lembrarmos ou procurarmos ter um primeiro

contato com um dos fundadores da Filosofia e um grande teórico da metodologia a que

propomos como o que vem a ser o filosofar.

Sócrates - natural de Atenas, nascido em 470 ou 469 Antes da Era Comum e morto

em 399 AEC – demonstrou que para filosofar é necessário dialogar, e ele com toda sua

capacidade intelectual permitia-se ao diálogo, dando assim aos estudantes atenienses uma

oportunidade de construção teórica, construção de pensamentos e reflexões plausíveis e

com boa e forte argumentação.

Sócrates interessava-se por extrair dos estudantes com os quais dialogava uma

importante característica, a ‘arte de perguntar’. É da questão que surge toda oportunidade

de abertura ao conhecimento, e onde vemos na atualidade de nossos dias mais surgir

questionamentos? Com os estudantes de uma graduação ou pós-graduação de Filosofia ou

com as crianças?

Se é ‘natural’ para as crianças um questionamento frequente perante as coisas, o que

temos de fazer é auxiliá-las nesse processo de - descoberta do mundo -, aliás, esse é um

processo ao qual só o paramos (ou somos parados) quando temos interrompida nossa

consciência, isto é, quando morremos.

filosofia para crianças – uma abordagem a partir da investigação dialógica e da pedagogia do corpo

Quando Sócrates desenvolve seu método, a Maiêutica, que leva e induz o outro a

por seu autorraciocínio chegar a um conhecimento, ou mais especificamente a solução para

sua dúvida.

[...]o ensino da filosofia em Sócrates não está separado do fazer filosofia.Não existe, portanto, dicotomia entre o ensinar e o fazer filosofia, ensinarfazendo e fazer ensinando é a novidade da pedagógica socrática. [...]adocência de filosofia ao modo socrático proporciona o exercício daracionalidade filosófica, isto é, o colocar em ação as habilidades ecompetências, tais como investigar, raciocinar, conceituar, interpretar.(SOFISTE, 2007, p. 45)

3. UMA RÁPIDA ANÁLISE DA FILOSOFIA PARA CRIANÇAS

A ideia de uma Filosofia para Crianças surge quando um estadunidense, professor

universitário de Filosofia e Civilização Contemporânea, de nome Matthew Lipman ao se

deparar com a situação da educação em seu país e dela extrair uma certa preocupação

quanto à sua precariedade em se tratando de uma grande falta de estimulo aos educandos

para a formação de um pensamento reflexivo, crítico, criativo e claro, filosófico.

O padrão do sistema de educação dos estadunidenses de então era aquele em que o

foco estava em preparar os indivíduos para as provas e não para adquirirem um

conhecimento para a vida, algo eficaz e não apenas uma preparação/auxílio para um

momento ou atividade em específico.

É interessante aqui expormos as dificuldades dos professores de Ensino Médio da

disciplina Filosofia nos dias atuais aqui no Brasil, já que com um grande exame-marco a se

preparar os educandos, a saber, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), estes tem de

se desdobrar para fazer da Filosofia uma ‘disciplina resumão’ de citações e conceitos de

filósofos, que muitas vezes os alunos nem os reconhecem pelas figuras/desenhos/fotos, e

dar ênfase na História da Filosofia.

Há uma grande perda de oportunidade para focar no filosofar, ou seja, em dar

oportunidade de participação aos educandos de se construírem e construir um pensamento

filosófico via diálogo e que oportunize uma abertura ao outro (alteridade), onde tem de se

ouvir e respeitar opiniões que por vezes possam ser contrárias às do próprio indivíduo, mas

filosofia para crianças – uma abordagem a partir da investigação dialógica e da pedagogia do corpo

II SIfpe, outubro de 2015

que ao absorvidas servem de base para a posterior posição do portador do argumento (na

linha dialógica: tese – antítese – síntese).

Mas em meio a uma problemática similar, Matthew Lipman ao se deparar com as

situações já outrora mencionadas, refletiu sobre questões como seria possível ajudar as

crianças a pensar com maior habilidade? Eu não tinha dúvidas que as crianças pensavam

tão naturalmente como falavam e respiravam. Mas como conseguir que pensassem bem?

A partir de tais questionamentos, Matthew Lipman e dois outros professores e

pesquisadores, Ann Margaret Sharp – professora do Departamento de Fundamentos da

Educação e Frederick Oscanyan – professor especializado em Lógica, iniciaram o projeto

de Filosofia para Crianças.

De início o método era o de planejar um projeto, e então surge o Programa de

Filosofia para Crianças. Na Universidade de Montclair em 1973 é realizado o promeiro

Congresso sobre Filosofia Pré-Universitária e fundado por Lipman o Institute for

Advancement of Philosophy for Children (IAPC).

Após a estruturação do Instituto, foram estabelecidos os objetivos centrais do

projeto, a saber:

escrever e publicar o material do currículo;

organizar as pesquisas experimentais;

preparar os professores e os formadores de professores sobre a Filosofia para

Crianças de acordo com as exigências do Programa;

lutar pela inclusão da Filosofia no Ensino Fundamental.

Por meio dos manuais, Lipman começou então a confeccionar novelas filosóficas

que viriam a servir de base para os roteiros de atividades com os educandos.

Quanto às novelas filosóficas de Lipman são elas as seguintes:

REBECA – escrita pelo colaborador Ronal Reed, ela é utilizada para a

iniciação filosófica com as crianças da educação infantil. A partir de temas

como realidade e fantasia ela abre para desenvolvimento de habilidades

como: detectar semelhanças e diferenças, raciocínio hipotético, critérios de

classificação, relação de causa e efeito, relação parte e todo, esclarecimento

filosofia para crianças – uma abordagem a partir da investigação dialógica e da pedagogia do corpo

de conceitos. Envolve-se na temática problemas filosóficos como os de

percepção, identidade, imaginação, verdade, relações entre realidade e

aparência, conhecimento, probabilidade e possibilidade, perguntas e

pensamento.

ISSAO E GUGA – para alunos das 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental.

Nesta novela são abordados assuntos como linguagem, o mundo e as

diferentes formas de percepção. Há questões como conhecimento humano,

preocupações com a ecologia, reflexão sobre o belo e o bom, o real e a

verdade. A ênfase na Fenomenologia da percepção é o mote central.

PIMPA – para crianças de 9 à 11 anos, tem como temática a verdade, o que é

urgente, o que é justiça, direito e dever, necessidades, regras de conduta, etc.

Tem-se temas de Metafísica, Fenomenologia e Teoria da Linguagem.

A DESCOBERTA DE ARI DOS TELLES – indicada para adolescentes de

11 a 13 anos. O principal objetivo da obra está em levar aos alunos a

aprender a pensar e a pensar sobre o pensar, proporcionar um argumento e

raciocínio estruturado, em suma as ideias lógicas. Leva a uma investigação

filosófica, onde surgem conceituações de Ontologia, Antropologia

Filosófica, Teoria do Conhecimento, Ética, Estética, Fenomenologia,

Política, Linguagem e Educação.

LUÍSA – indicada para adolescentes de 13 a 15 anos. Discute temas como:

O que é certo ou errado? O que é liberdade? O que é justo?

Tais temas levam a uma investigação ética.

4. A PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO DIALÓGICA

Dentre todas as propostas de Lipman podemos encontrar um tema central, há uma

necessidade importantíssima de levar aos educandos uma proposta de diálogo, ou uma

‘discussão dialógica’.

Como bem elaborado e documentado, a ideia de discussão dialógica em Lipman

leva a uma forma pela qual os próprios educandos construiriam o processo educacional a

II SIfpe, outubro de 2015

que se propõe, ou seja, a construção de uma realidade educacional onde o pensamento

crítico, criativo e reflexivo, isto é, o filosofar esteja presente.

Quando as pessoas se envolvem num diálogo, são levadas a refletir, a seconcentrar, a levar em conta as alternativas, a ouvir cuidadosamente, aprestar muita atenção às definições e aos significados, a reconheceralternativas nas quais não havia pensado anteriormente e, em geral,realizar um grande número de atividades mentais nas quais não teria seenvolvido se a conversação não tivesse ocorrido. (LIPMAN, 1994, p. 44apud BROCANELLI, 2010, p. 32)

Para a chamada ‘discussão dialógica’, Lipman a caracteriza de uma forma tal que

podemos colocá-la como um esboço daquilo que viria ser trabalhado por Juarez Sofiste e

depois contextualizado à realidade brasileira e sendo conceituada como Investigação

Dialógica.

Como bem descrito por Cláudio Roberto Brocanelli este é

Um meio importante para que esta metodologia funcione e que ascrianças, juntas, percebam os erros e descubram que o correto é o diálogo.Na discussão dialógica o conteúdo é enriquecido com o surgimento denovas ideias e a reflexão é gerada. (BROCANELLI, 2010, p. 32)

É interessante para ilustrarmos tal proposta um vínculo com a ideia de

‘Comunidade de Investigação’, um termo proposto pelo logicista Charles Sanders Peirce

em que

Originalmente foi restrito aos profissionais da investigação, científica ounão. Portanto, na educação, a sala de aula torna-se uma Comunidade deInvestigação, na qual os alunos dividem opiniões com respeito,desenvolvem questões a partir de ideias de outros, desafiam-se para dar asrazões de seus argumentos, enfim, é um diálogo que pretende serorientado por um raciocínio lógico. (BROCANELLI, 2010, p. 32)

Juarez Sofiste busca como referencial teórico para a construção de sua ‘Investigação

Dialógica’ a ‘pedagogia para docência de filosofia’ oriunda dos escritos de Sócrates.

Diálogo e investigação são os princípios pedagógicos e metodológicosusados por Sócrates para fazer filosofia. Pelo que podemos observar, emmomento nenhum Sócrates está dando aula, portanto, se pensarmos seguiras pegadas do mestre, precisamos, em princípios, exorcizarmos a ideia deaula. Socraticamente falando, é um termo impróprio para o que se deveacontecer em um encontro para se fazer, viver, aprender filosofia. Aula,em geral, está diretamente ligada à ideia de ensino e ensino não temnenhuma relação com o modo socrático de filosofar. Procedersocraticamente é negar a ensinar filosofar como um conjunto deconhecimentos, conceitos, teorias ou história da filosofia. (SOFISTE,2007, p.87)

filosofia para crianças – uma abordagem a partir da investigação dialógica e da pedagogia do corpo

Além do método proposto por Sofiste e levado como o nosso arcabouço teórico para

tal implementação da proposta de Filosofia para Criança, temos que levar em consideração

a questão da necessidade de ser discutido em sala de aula todo um aspecto de História da

Filosofia e do Pensamento de uma forma mais clara, mas, a nosso ver, o aspecto do enfoque

de História da Filosofia tem de ser algo mais voltado para o Ensino Médio, e quanto à nossa

proposta é mais específica do Ensino Fundamental.

Aspectos de História da Filosofia e do Pensamento Ocidental para o Ensino Médio,

principalmente tendo em conta as exigências de preparação para o ENEM, podem ser

repartidos com outras disciplinas, como a própria História e a Sociologia. Cada qual com

temas afins, como a área de Política, Ética e Moral com a Sociologia, e os temas de História

do Pensamento com a História.

Devido às poucas horas de aula reservados para a Filosofia, o único método de

adequação para haver tempo o suficiente para os alunos dialogarem e filosofarem seria esse

tipo de adequação e suporte interdisciplinar que venha a contribuir e constituir uma

realidade que seja boa para os educandos e principalmente para, no caso em questão, as três

disciplinas.

Como colocado por Sofiste, não se pode deixar de lado o tema da História da

Filosofia, até mesmo porque é dela que se sobressai a base para identificação de

autores/filósofos e pensamento padrão na sociedade da época em que estabeleceram tais

teses e posições.

Não estamos, no entanto, negando os conhecimentos historicamenteconstituídos de filosofia, ou seja, os conteúdos de filosofia. Procedersocraticamente é negar, também, a ideia de filosofar no vazio. Propomosos conteúdos conceitos (saberes historicamente constituídos de filosofia)como meio para a aprendizagem do filosofar. (SOFISTE, 2007, p. 87)

5. O PROCEDIMENTO PARA A REALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

DIALÓGICA

Na Investigação Dialógica é necessário que se mude o esquema atual que nós temos

para a Sala de Aula, aliás, o próprio termo aula deve ser deixado de lado com a nossa

proposta. O termo aluno, aquele ‘sem luz’, também é coisa do passado.

II SIfpe, outubro de 2015

O ambiente deve ser, ao contrário das salas de aula padrão que conhecemos, algum

local em que haja bom espaço, que não haja influência visual e sonora externa, porque tais

fatores poderiam atrapalhar uma boa atividade, já que os educandos poderiam ficar

‘perdidos’ em meio a uma agitação.

Ao invés das tradicionais carteiras ou cadeiras e mesas em fileiras, tem-se aqui uma

ideia de sentar-se em círculo, onde todos ficam em situação à qual estejam no campo de

visão de todos, e que suas ações sejam possíveis de observação também de todos.

O professor servirá de organizador, coordenador e responsável pela direção das

ações, mas todos os participantes participam do processo de construção do conhecimento.

É o próprio ‘aluno’, ou educando – um termo que pensamos, seja mais adequado –

que planejará as ações para alcançar conhecimento. Ou seja, o professor monta o plano de

investigação, com diretrizes que possam ser ao decorrer da ação dialógica ressignificados,

mas sempre tendo em conta um mote filosófico.

Já que no caso que escolhemos como indicado para a execução da proposta é o

Ensino Fundamental em seus anos iniciais, temos por proposta uma Pedagogia do Corpo.

A ideia de Pedagogia do Corpo tem como prioridade por se tratar de crianças com

idades entre 6 e 9 anos, o que faz-se necessário uma atividade mais lúdica e com maior

participação ativa e física do educando, mas sem esquecer o importante papel do pensar e

refletir.

“A pedagogia, literalmente falando, tem o significado de “condução dacriança”. Era, na Grécia Antiga, a atividade do escravo que as conduziaaos locais de estudo, onde deveriam receber instrução de seus preceptores.O escravo pedagogo era o “condutor de crianças”. Cabia a ele levar ojovem até o local do conhecimento, mas não necessariamente era suafunção instruir esse jovem. Essa segunda etapa ficava por conta dopreceptor. Quando da dominação romana sobre a Grécia, as coisas semodificaram. Aí, os escravos eram os próprios gregos. E, nesse caso, osescravos eram portadores de uma cultura superior à dos seus dominadores.Assim, o escravo pedagogo não só continuou a agir como “condutor decrianças”, mas também assumiu as funções de preceptor”.(GHIRALDELLI JUNIOR, 1987, P. 8)

Pode-se perceber na colocação de Paulo Ghiraldelli Jr. que assim como a educação e

seus processos estão em constante mudança, o próprio papel do educador também muda.

Não é necessário que este venha a manter aquele padrão de escrever na lousa e de ficar de

filosofia para crianças – uma abordagem a partir da investigação dialógica e da pedagogia do corpo

pé na frente dos alunos, que em suas mesas apenas escutam (por vezes escutam, mas não

ouvem).

É necessidade de crianças com as idades mencionadas para as atividades propostas

uma maior ação física, então é importante que nas dinâmicas haja espaços de tempo e

mesmo espaços físicos que venham a dar uma contribuição para que ocorram brincadeiras e

jogos lúdicos que tenham vínculo com a investigação que esteja sendo realizada e que não

venha a ser um motivo de dispersão dos educandos para outras atividades/brincadeiras.

Então, assim como Juarez Sofiste, optamos pela atividade de investigação dialógica,

mas com um foco na Pedagogia do corpo, para que as crianças do Ensino Fundamental

venham a filosofar.

FILOSOFAR

PROFESSOR-INCENTIVAÇÃO

EDUCANDOS- PROBLEMATIZAÇÃO

PROFESSOR- INVESTIGAÇÃO

EDUCANDOS – ARGUMENTAÇÃO

PROFESSOR – FIXAÇÃO

EDUCANDOS – CONCEITUAÇÃO

PROFESSOR E EDUCANDOS – AVALIAÇÃO

6. MATERIAIS QUE PODERÃO SER UTILIZADOS COMO RECURSOS

Alguns livros aparecem como de grande proveito para serem trabalhados em tal

proposta de Investigação Dialógica para uma Filosofia para Crianças no Ensino

Fundamental.

Assim como as novelas filosóficas de Matthew Lipman (já citadas no artigo),

podemos incluir algumas outras séries, a saber:

iNo livro “A CORUJINHA FILÓSOFA –

INTRODUÇÃO AO PENSAR NO ENSINO

FUNDAMENTAL” nos é apresentado um modo de aliar

leitura e construção de uma proposta filosófica.

II SIfpe, outubro de 2015

A coleção “Pequenos Filósofos” da Panda Books traz livros ricos em ilustrações além

de uma boa contribuição com a temática de Filosofia com conteúdo adequado às idades a

que propomos aplicar nossa proposta.

Figura – Capa do livro “ Por que eu nãoposso fazer o que quero? “

Figura – Capa do livro “ Por que você meama? “

Figura – Capa do livro “ Por que eu voupara a escola? “

Figura – Capa do livro “ Por que euexisto? “

Na coleção “O pequeno filósofo” é oferecido a criança uma grande quantidade de

imagens e com estórias onde é possível extrair uma boa temática para a aula de Filosofia.

filosofia para crianças – uma abordagem a partir da investigação dialógica e da pedagogia do corpo

Figura – Capa do livro “ Não, não fui eu!“

Figura – Capa do livro “ Eu quero a motovermelha! “

Figura – Capa do livro “ O que é a morte?“

Figura – Capa do livro “ Isto é meu! “

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este artigo pudemos encontrar uma boa base para uma inicial referenciação

quanto à temática que procuramos estudar e debater. É com toda certeza uma área

interessante e ainda pouco estudada, mas que com toda certeza é de suma importância um

maior aprofundamento.

A idéia de um curso de Filosofia para Crianças é necessária para a atualidade, pois,

com a oficialização do ensino de Filosofia e até mesmo de Sociologia, outra disciplina com

forte conteúdo complexo e que exige um pensamento mais refinado, com carga crítica e

criativa, além de boa argumentação, no Ensino Médio, é preciso que desde cedo os

educandos já tenham um treinamento e uma preparação para tais estudos.

É preciso além de uma adequação da Filosofia, quanto ao conteúdo a ser dado, para

as crianças, mas também uma grande preparação com técnicas de ensino-aprendizagem

para que não se cometa algo que venha a comprometer a formação dessas crianças ao invés

de as ajudar no processo de uma melhor adaptação à educação e seus processos criativos e

críticos.

Embora o papel do professor em tal proposta seja algo mais próximo do que seria

um monitor, isto é, coordenando as investigações dialógicas, é preciso ter presença de

classe, ter controle sobre a turma, não como algo autoritário, mas como uma forma de

permitir que tudo ocorra com ordem e que os objetivos sejam cumpridos.

Para melhores resultados e uma continuação na proposta ora apresentada é preciso

que levemos a campo, ou seja, que façamos experimentos com o trabalho em questão com

crianças nas idades acima indicadas.

Divertir sabendo e saber divertindo tal é a proposta para um projeto eficaz de

Filosofia para Crianças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E CIBERGRÁFICAS

filosofia para crianças – uma abordagem a partir da investigação dialógica e da pedagogia do corpo

BROCANELLI, Cláudio Roberto. Matthew Lipman: educação para o pensar filosófico nainfância. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

GHIRALDELLI JR, P., O que é pedagogia? São Paulo, SP: Brasiliense, 1987.

SOFISTE, Juarez Gomes. Sócrates e o ensino da filosofia: Investigação Dialógica: umapedagogia para a docência de filosofia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

FIGURA 1 – Disponível em: http://www.universovozes.com.br/livrariavozes/web/view/DetalheProdutoCommerce.aspx?ProdId=8532635326 acesso em 21/06/2015

FIGURA 2 – Disponível em: http://www.submarino.com.br/produto/112058039/por-que-eu-nao-posso-fazer-o-que-quero-colecao-pequenos-filosofos acesso em 21/06/2015

FIGURA 3 – Disponível em: http://www.submarino.com.br/produto/112058055/por-que-voce-me-ama-colecao-pequenos-filosofos acesso em 21/06/2015

FIGURA 4 – Disponível em: http://www.submarino.com.br/produto/112058071/por-que-eu-vou-para-a-escola?DCSext.recom=Neemu_Produto_similares-categoria-1&nm_origem=rec_produto_similares-categoria-1&nm_ranking_rec=2 acesso em 21/06/2015 FIGURA 5 – Disponível em: http://www.submarino.com.br/produto/112058012/por-que-eu-existo-colecao-pequenos-filosofos?DCSext.recom=Neemu_Produto_similares-categoria-1&nm_origem=rec_produto_similares-categoria-1&nm_ranking_rec=2 acesso em 21/06/2015

FIGURA 6 – Disponível em: http://www.submarino.com.br/produto/120261336/livro-o-pequeno-filosofo acesso em 21/06/2015

FIGURA 7 – Disponível em: http://www.submarino.com.br/produto/120261299/livro-o-pequeno-filosofo?DCSext.recom=Neemu_Produto_mais-vendidos-categoria-2&nm_origem=rec_produto_mais-vendidos-categoria-2&nm_ranking_rec=1 acesso em 21/06/2015

FIGURA 8 – Disponível em: http://www.submarino.com.br/produto/120261352/livro-o-pequeno-filosofo?DCSext.recom=Neemu_Produto_similares-categoria-1&nm_origem=rec_produto_similares-categoria-1&nm_ranking_rec=3 acesso em 21/06/2015

FIGURA 9 – Disponível em: http://www.submarino.com.br/produto/120261310/livro-o-pequeno-filosofo?DCSext.recom=Neemu_Produto_similares-categoria-1&nm_origem=rec_produto_similares-categoria-1&nm_ranking_rec=3 acesso em 21/06/2015

II SIfpe, outubro de 2015

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