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FILOSOFIA DE EDUCACAO I PARTE – INTRODUCAO AO ESTUDO DE FILOSOFIA DE EDUCACAO 1. Conceito de Filosofia 1.1. O Uso Popular do Conceito Filosofia 1.2. O Uso Profissional do Termo Filosofia 2. Conceito de Filosofia de Educacao 2.1. O Sentido Comum de Filosofia de Educacao 2.2. O Sentido Profissional de Filosofia de Educacao 2.3. Os Componentes da Filosofia de Educacao 2.3.1. A Metafisica 2.3.2. A Epistemologia 2.3.3. A Axiologia ou Teoria de Valores 2.4. A Importancia da Filosofia de Educacao para o Sistema de Educacao II PARTE - OS PENSADORES EDUCACIONAIS NA ANTIGUIDADE 2.1.O Sistema de Educacao em Esparta e Atenas 2.1.1. A Teoria Educacional em Sofistas 2.1.2. A Teoria Educacional de Platao 2.1.3. A Teoria Educacional de Aristoteles 2.1.4. A Teoria Educacional de Isocrates 2.1.5. A Teoria Educacional de Quintiliano III PARTE – OS PENSADORES EDUCACIONAIS IDADE MODERNA 3.1. A Teoria Educacional de Comenius 3.2. A Teoria Educacional de Jean-Jaques Rousseau 3.3. A Teoria Educacional de Jean Henrich Pestalozzi 3.4. A Teoria Educacional de Frobel 3.5. A Teoria Educacional de John Dewey IV PARTE – AFRICANIZACAO OU MODERNIZACAO DA EDUCACAO EM AFRICA - James Africanus Beale HORTON - Edward Wilmot BLYDEN - Julius Kamabarage NYERERE V PARTE – AS CORRENTES DA EDUCACAO 1

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FILOSOFIA DE EDUCACAO

I PARTE – INTRODUCAO AO ESTUDO DE FILOSOFIA DE EDUCACAO

1. Conceito de Filosofia1.1. O Uso Popular do Conceito Filosofia1.2. O Uso Profissional do Termo Filosofia2. Conceito de Filosofia de Educacao2.1. O Sentido Comum de Filosofia de Educacao2.2. O Sentido Profissional de Filosofia de Educacao2.3. Os Componentes da Filosofia de Educacao2.3.1. A Metafisica2.3.2. A Epistemologia2.3.3. A Axiologia ou Teoria de Valores2.4. A Importancia da Filosofia de Educacao para o Sistema de Educacao

II PARTE - OS PENSADORES EDUCACIONAIS NA ANTIGUIDADE

2.1.O Sistema de Educacao em Esparta e Atenas2.1.1. A Teoria Educacional em Sofistas2.1.2. A Teoria Educacional de Platao2.1.3. A Teoria Educacional de Aristoteles2.1.4. A Teoria Educacional de Isocrates2.1.5. A Teoria Educacional de Quintiliano

III PARTE – OS PENSADORES EDUCACIONAIS IDADE MODERNA

3.1. A Teoria Educacional de Comenius3.2. A Teoria Educacional de Jean-Jaques Rousseau3.3. A Teoria Educacional de Jean Henrich Pestalozzi3.4. A Teoria Educacional de Frobel3.5. A Teoria Educacional de John Dewey

IV PARTE – AFRICANIZACAO OU MODERNIZACAO DA EDUCACAO EM AFRICA- James Africanus Beale HORTON- Edward Wilmot BLYDEN- Julius Kamabarage NYERERE

V PARTE – AS CORRENTES DA EDUCACAO

VI PARTE – OS DESAFIOS DA EDUCACAO EM MOCAMBIQUE

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Debate Filosofico do Conceito “Educacao”

A educação sempre foi e ainda é o objecto de preocupação do homem. Tanto maior é essa preocupação do homem pela educação quanto mais agudo é o seu sentimento de viver um tempo crítico, um período histórico de crise. Tal é o caso do nosso tempo. Nestes momentos críticos, em que a incerteza, o atordoamento e a angústia estão presentes e em que desejamos escapar à ansiedade, pode dizer-se que o homem, antes de estar ocupado já está pré-ocupado com objecto da sua inquietação, neste caso a educação. E esse objecto à educação foi primeiro tratado filosoficamente e só depois cientificamente. A questão que nos parece pontual perceber é sobre a abordagem filosófica da educação e os seus representantes mais significativos.

Na Grécia os processos educativos estavam separados segundo as classes sociais; mas menos rígidas e com um evidente desenvolvimento para formas de democracia educativa. Para as classes governantes uma escola, isto é, um processo de educação separado, visando preparar para as tarefas do poder, que são o pensar e o fazer ( política e as armas)1. Para os produtores governados nenhuma escola inicialmente, mas só um treinamento no trabalho; para essa classe os seus filhos eram condenados a observar e imitar a actividade dos adultos no trabalho, vivendo com eles.

Manacorda prefere começar por fazer uma abordagem arcaica da educação onde a figura do Homero aparece como “educador de toda a Grécia”2. Homero procura fazer uma abordagem simultânea entre o dizer e o fazer; os dois termos não estão em oposição e não indicam as opostas tarefas de quem governa e de quem produz, e sim os dois momentos da acção na juventude e político na velhice. Platão teorizando sobre isso projectará uma educação dos guerreiros, para escolher entre aqueles que na velhice, serão os governantes – filósofos. “ portanto, queres que, examinemos isto: de que maneira poderão esses homens aparecer e como os faremos subir até a luz, como alguns que, diz-se, subiram de Hades até aos deuses? – se eu quero! – Parece que isso não é comparável àquele jogo em que se tira uma concha, pois, aqui, trata-se da conversão da alma de um qualquer dia nocturno para o verdadeiro dia do ser e esta ascensão é o que declaramos ser a verdadeira filosofia. – Certamente. – Por isso, precisaríamos de examinar qual das ciências tem um poder deste género”3. Este pensamento é completado neste passo onde Platão diz : “….Do mesmo modo, todas as vezes que, durante o movimento do diálogo, se tenta, sem se servir de nenhuma sensação, unicamente através da reflexão, ganhar impulso para aquilo que cada coisa é em si própria, sem parar antes de ter percebido, pela inteligência, o que o bem é em si mesmo, então chegamos ao termo do inteligível, como ainda há pouco tempo, na nossa alegoria, o outro atingia o termo de visível ”4

Ao lado do Homero, está o Hesíodo que procurou incidir na moral do trabalho. “ o seu poema “os trabalhos e os dias ”constitui um testemunho excepcional de um moral do trabalho, contra os poderes e os prepotentes”5.

A educação dos cidadãos em Creta e Esparta, cidades consideradas durante muito tempo modelo de política e de educação por todos os conservadores gregos baseava-se na música e na ginástica. “Nessas cidades a educação era tarefa precípua do estado: confiada a um magistrado, o “pedônomo” ou

1 Cfr. Mario Alighiero MANACORDA; História Da Educação; da Antiguidade aos nossos dias; Cortez Editora; 8ª edição; São Paulo; 2000; p412 Ibidem.3 Cfr. PLATÃO; República ( Livros VI e VII); Didáctica editora; Trd. Por Dr. António Maia Rocha; 2000; p.28-29.4 Cfr. Idem; Op. Cit; p425 Cfr. Mario Alighiero MANACORDA; História Da Educação; da Antiguidade aos nossos dias; Cortez Editora; 8ª edição; São Paulo; 2000; p44

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legislador para infância, ela não se realizava isoladamente,(…) mas colectivamente, nas tropas ( aghélai) ou nos coros ( choròi) ”6

Por isso no seu primeiro momento da maturidade, a filosofia tomou como objecto de eleição, precisamente, a educação. Eis Sócrates, cujo problema crucial é o problema educativo e cuja missão divina é a de educar, assim ele o confessa.7

Para Sócrates pensar a educação é pensar o homem. Ou pensar o homem é pensar a educação. Indissoluvelmente o homem e a educação estão intrínseca e umbilicalmente ligados. Não é possível pensar um sem o outro.

Toda filosofia da educação comporta necessariamente uma antropologia, tal como toda a antropologia tem forçosamente implicações educativas. Neste sentido, qualquer filosofia que se preze, qualquer filosofia digna desse nome, se pode, globalmente definir como Paideia- como projecto educativo.

É porque se vive um tempo em que o homem, a sociedade, a educação estão corrompidos – como é o tempo de Sócrates – que é preciso pensar reflectidamente e antes de mais, que homens queremos ser, já que recusamos o que somos agora. A antropologia esclarecerá o ideal do homem, a educação se encarregará de o realizar ou, pelo menos, de se aproximar dessa imagem, em Sócrates, pela axiologia e, mais especificamente, pela ética.

Ao interrogar-se sobre o homem – e esta é a interrogação primeira a mais fundamental de toda a filosofia, a questão fundante de todas as questões – isso significa que o homem é, entre todos os “objectos ”, o mais valioso e por isso, foi escolhido entre todos. A antropologia implica a axiologia. E se o homem vale em si e por si é porque esse “objecto” é intrinsecamente bom, caracteriza-se pela sua bondade face a todos os outros objectos. Aos olhos de Sócrates, este triângulo – antropologia, axiologia, ética – é indissociável e constitutivo da filosofia e, portanto, do homem e, também da educação.

Ainda ligada a questão antropológica, axiológica, e ética, o filósofo Moçambicano Severino Elias Ngoenha, escreve “Estatuto E Axiologia Da Educação” onde procura compreender as questões ligadas à valores, a maneira de transmissão; criticando assim a educação praticada em Moçambique pela missão Suiça.

No prefácio do mesmo livro elaborado pelo Professor Doutor José P. Castiano está claro os propósito do livro quando diz “ … o seu mérito é o de fazer-nos rever a nossa historicidade – desta vez sob a perspectiva da história educacional” e a “questão do estatuto dos saberes particulares educacionalmente à margem ( micronarrativa) – se assim quisermos, dos saberes culturais diversos – no sistema educacional em Moçambique”8. Por isso a reflexão sobre a educação deve necessariamente comportar ou reflectir sobre os ítenes anunciados.

Para Platão, a filosofia tem uma dimensão pedagógica essencial ou a filosofia é pedagogia. É verdade que o problema platónico fundamental é a política mas toda a política exige uma filosofia prévia que determine e defina o que é o Bem, o que é o justo. O que é o homem, o que é a educação. Sem uma filosofia que a norteie, a política, por si só, não tem sentido. Toda a politica realiza uma educação. Por 6 Cfr. Idem, OP. Cit.; p477 cfr. Maria de Jesus Fonseca; Sócrates; in: Millenium; Revista do IPV; nº 4; 1996; pp38-55.8 Cfr. Severino Elias NGOENHA; Estatuto E Axiologia Da Educação; Livraria Universitária; universidade Eduardo Mondlane; Maputo; sa; p.15

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isso Rousseau, reconhece a República de Platão como obra meramente política. “Quereis uma ideia da educação pública? Lede a República de Platão. Não é essa uma obra política, como pensam os que ajuízam tão só pelo título acerca daquilo que os livros são: é o mais belo tratado de educação que se fez ”9

E se o problema político é o de recta direcção do homem, logo o problema político é filosófico por excelência, e ao mesmo tempo o problema da educação. Não há pois, como separar filosofia, política e educação. Por isso, só há uma solução aos olhos de Platão: não podendo ser separadas, têm de ser exercidas pela mesma pessoa, isto é, o filósofo educador tem de fazer a política.

Aristóteles quase pensa da mesma maneira, pois a sua ideia de educação está ligada à sua teoria ética que procura responder à questão: Como é que o homem deve orientar a sua vida?. E responder à questão implica saber qual é a finalidade do homem.

Se formos vasculhar as páginas anterior ao Aristóteles, veremos que os grandes moralistas reconheceram a tendência natural do homem para a felicidade. Consequentemente Aristóteles procura o que pode tornar o homem feliz ou como preservar a sua infelicidade. Por isso “a função essencial do Estado é a educação dos cidadãos, que deve ser igual para todos e dirigida não só a preparar para a guerra, mas também para a vida pacífica e, sobretudo, para a virtude”10.

Mas para se treinar um arqueiro, pega-se num algo, coloca-se esse algo bem em evidência e informa-se depois o principiante de quais as regras a observar indispensáveis ao bom sucesso dos seus disparo.

A felicidade é o conceito base na filosofia educacional de Aristóteles. Então o que é a felicidade? “a felicidade que é o bem supremo, consiste em realizar o que é específico do homem, isto é, a razão. A plena realização do elemento racional humano supõe a realização nos mais diversos aspectos tais como: saúde, fortuna, situação social, etc.”11. Daí a teoria de virtudes que é o conjunto de meios através dos quais o homem realiza aquilo que nele há de mais especificamente racional, logo, humano. Aliás, viver segundo a razão é praticar as virtudes, e praticar as virtudes é ser feliz. É nisso mesmo que vai consistir o educar para a felicidade – habituar à prática de virtudes.

Resta saber se a educação é possível. Se é possível transformar o homem num ser mais justo, mais bom, mais recto ( e por isso mais culto). E assim se coloca a questão fundamental de toda a filosofia de educação: quais são as condições de possibilidade da educação? Quais os princípios que a legitimam e a tornam possível e sem os quais a educação, pura e simplesmente, não é? O problema é posto no Ménon sob esta forma. A virtude pode ser ensinada? se sim, os homens podem tornar-se mais virtuosos. Se não, o homem não tem salvação, nada vale a pena e não há mais esperança.

É também neste sentido que toda a filosofia se constitui como utopia, como projecto para o futuro e como pensamento que se há-de realizar e tornar real no futuro.12 De onde a antropologia, a axiologia, e a ética, dimensões constitutivas de toda a filosofia da educação, têm um carácter futurante e utópico,

9 Cfr. J. J ROUSSEAU; Emílio, Cadernos Culturais; Editorial INQUÉRITO; Lisboa; 2ª Edição; Trad. por ANTÓNIO SÉRGIO; sa; p28.10 , N. ABBAGNANO e VISALBERGHI; História Da Pedagogia; Editorial Gleba; Lda ou Livro Horizonte; Lda, Lisboa,

s.a., p. 12311, Claudino PILETTI e Nelson; Filosofia e História da Educação, Editorial Ática, São Paulo, 1985, p. 6612 Cfr. Severino Elias NGOENHA; Filosofia Africana, Das Independências Às Liberdades; Edições Paulinas - África; Maputo; 1993; pp. 149 -.167

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porquanto se hão-de realizar um tempo por vir. De onde também, o carácter teleológico de toda a filosofia da educação.

Os princípios que ela estabelece hoje, as concepções de homem, de valor e de bem que agora se desenham, são os fins a realizar num tempo que está a chegar.

Chateau vê no Platão como primeiro filósofo a estabelecer uma filosofia de educação; ele mesmo afirma dizendo Platão “ foi o primeiro a estabelecer uma filosofia da educação”13. Uma das outras grandes figuras na história da filosofia da educação, e que exerceu enorme influência, foi Rousseau. Apesar da aparente diversidade dos seus escritos, a sua obra constitui uma unidade profunda. Unidade essa que é assegurada, precisamente, por aquilo que foi a sua grande preocupação de sempre, a preocupação pedagógica, ou simplesmente a sua vocação pedagógica.

Chateau produz da seguinte maneira o pensamento supra citado “ as opiniões pedagógicas são inseparáveis das filosóficas, políticas, religiosas e morais”14. De facto o projecto rousseauniano é o de reconstruir o homem, fazendo-o seguir a sua própria natureza, e nisso consiste a felicidade humana. “O homem natural é tudo, para si mesmo; é a unidade numérica, o total absoluto que só tem deveres para consigo próprio ou para com o seu semelhante.”15A par deste projecto de reconstrução do homem, encontra-se a ideia de que é preciso reformar a sociedade que é má porque se desnaturalizou. “ Tudo esta bem, ao sair das mãos do Autor das coisas; tudo degenera-se entre as mãos do homem”16

Reformar a sociedade é re-naturalizá-la. Não se admira que logo no início do Emílio, Rousseau afirma dizendo “ o nosso verdadeiro estudo é o da condição humana”17. Uma boa educação, aquela que é capaz de reformar o homem e a sociedade, é uma educação diferente da que se pratica; é uma educação conforme à natureza e o seu alvo “é o mesmo da natureza”18. Desprovidos de tudo desde o nascimento, formam-se os homens pela educação. Mas essa educação só é sã quando os homens a realizam de acordo com a natureza. Por isso, “ essa educação vem-nos da natureza”19 e a educação artificial, contraria a natural, é a maior de todas as perversões.

Rousseau não é, contudo, um educador, no sentido prático do termo, é, sim, tal como Platão, um filósofo que pensa a educação: “…a exemplo de tantos outros, não porei mãos à obra, mas apenas; e, em vez de fazer o que é preciso, esforçar-me-ei por dizê-lo”20. Por isso, não se procure na leitura das suas obras em particular no Emílio receitas e técnicas pedagógicas mais ou menos exactas. “Rousseau preocupa-se com a filosofia da educação e não com didácticas particulares”. Não é “… um pedagogo de bolso em que haverá de procurar essas ‘ tolices ’ que são técnicas precisas”21. O seu domínio, e ele próprio o adverte por várias vezes, é o dos princípios, a partir dos quais as regras técnicas serão fáceis de deduzir.

13 Cfr. Moreau, Platão e a educação; in Jean CHATEAU; Os Grandes Pedagogos; Lisboa; Edições Livros do Brasil; sa; p1314 Cfr. Jean, CHATEAU; Os grandes pedagogos; Lisboa; Edições Livros do Brasil; sa; p1189.15 Cfr. Jean-Jacques, ROUSSEAU; Emílio; Europa-América; Portugal; Vol.1; Trad. 1990; p.18.16 Cfr. Idem; Op. Cit. p 1517 Cfr. Idem; Op. Cit; p. 2118 Cfr. Idem; Op. Cit; p.1719 Cfr. Idem; Op. Cit.; p.1620 Cfr.Idem; Op. Cit. p.3221 Cfr. Jean CHATEAU; Os grandes pedagogos; Lisboa; Edições Livros do Brasil; sa; p1188.

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Por este motivo, avisa que “ contentei-me em explicar os princípios cujas verdade todos deviam sentir”22, e não atribuir qualquer importância a “ todas essas aplicações particulares” que “não sendo essenciais para o meu assunto, não entram no meu plano”23

Tal como Platão, a filosofia da educação que Rousseau propõe tem um carácter necessariamente utópico. E sublinhamo-lo porque não se trata de um aspecto acidental, mas antes pertence à própria natureza de uma filosofia da educação que, ao esforçar-se por construir princípios educativos, considera, simultaneamente, que esses princípios ainda não estão realizados, mas hão-de vir a nortear todos os projectos educativos, a partir dos quais a educação se realizará no futuro “ não vejo as coisas como os outros homens; há já muito que mo censuram (…) ‘ proponde o que é possível fazer ’, não cessam de me repetir. É como se dissessem: ‘ proponde o que já se fez ’; (…) Em todos os projectos, sejam elas quais forem, há a considerar duas coisas: em primeiro lugar, a absoluta bondade do projecto; em segundo, a facilidade da sua execução”24.

Sentido Profissional de Filosofia de Educacao

O elemento principal da Filosofia de Educacao reside no facto de ser capaz de analisar profundamente um Sistema de Educacao na sua totalidade e de refletir sobre um sistema alternativo. A analise filosofia, tal como dissemos em filosofia no geral, compoe-se na perpectiva do processo assim como do produto do sistema de educacao.

Mas, assim como no senso comum, tambem no sentido profissional e tecnico nao existe uma unica opiniao do que ‘e uma “Filosofia de Educacao”. Por um lado, se tem a ideia de que Filosofia de Educacao ‘e uma actividade de reflexao, de analise e de criticismo ao sistema de educacao corrente e, a producao de uma reflexao para um sistema alternativo nao estaria na optica desta reflexao. Assim, a actividade de reflexao e critismo em si, ‘e considerada como o seu fim. Por outro lado, ha os que opinam que na Filosofia de Educacao, nao se deve limitar a uma actividade de reflexao e criticismo em si. Ela deve ter como finalidade um produto final que seria a producao de um sistema de educacao que pudesse ser uma alternativa.

Analisemos em seguida dois filosofos que seguem diferentes perspetivas quanto a Filosofia de Educacao: George Newsome e John Dewey.

Segundo George Newsome, “Filosofia de Educacao ‘e aplicacao da Filosofia na Educacao”. O que ele quer expressar, no fundo, ‘e que a filosofia de Educacao deveria ser montada na perspectiva de tentar selecionar e recapturar o sentido das respostas que os diferentes filosofos deram a questao de educacao nos seus sistemas de pensamento. Ser’a evidente que, ao tentarmos darmos corpoa esta versao de Newsome, depararemos com a dificuldade de que nem todos os filosofos derao a mesma resposta ao fenomeno educacao. De facto, eles expuseram mais questoes do que respostas.

Um argumento a defender esta ideia de Newsome, seria o que ‘e utilizado pelos filosofos modernos (como K. Jasper) que defende que a Filosofia nao deveria procurar respostas acabadas, senao ajudar a questionar para assim tambem ajudar as pessoas a expressarem as suas opinioes de forma mais clara possivel e sem ambiguidades. Ora este aspecto tem o merito de dar um sentido particular a filosofia de Educacao, nomeadamente que os mesmos metodos, instrumentos analiticos, tecnicas da Filosofia, 22 Cfr. Jean-Jacques ROUSSEAU; Emílio; Europa-América; Portugal; Vol.1; Trad. 1990; p.3223 Idem; Op. Cit. p. 1124 Idem; Op Cit; pp. 10-11.

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devem tem ser aplicados na investigacao de problemas educacionais ou na sala de aulas pelo professor. Mas esse sentido podera ter duas vertentes, sendo a primeira, a de expressar a necessidade de analise em si pondo questoes relacionadas a educacao aplicando os metodos filosoficos. Sendo a segunda, o aplicar estes metodos para se chegar a uma solucao ou resposta aos problemas. No primeiro caso, o metodo de analise serviria para clarificar os argumentos e a as posicoes defendidas assim como arrumar os argumentos que sustentariam essas posicoes e nao se estaria preocupado por um acordo ou consenso na sala de aulas. Neste caso de aplicacao da Filosofia a Educacao, o professor estaria mais interessado no caminho e nao no ponto de chegada e deixaria, de certa forma, os alunos inseguro sobre o caminho a seguir ou sobre os conceitos e terminologia correcta a utilizar.

Um outro sentido que se pode dar as palavras de Newsome – Filosofia de Educacao como o aplicar a Filosofia a Educacao – ‘e o de usar os sistemas filosoficos para analisar, explicar e interpretar a educacao. Este sentido quer dizer ver a educacao na perspectiva das grandes correntes filosoficas, ou seja, perguntar-se com ‘e que o Marxismo, por exemplo, interpretaria um fenomeno educativo. A grande dificuldade, porem, resideria no facto de nao se considerar os diferentes contextos onde um diferente sistema de educacao se cria, havendo assim dificuldades em reconhecer novos paradigmas educacionais que por ventura podem emergir. A Filosofia de Educacao ficaria num plano secundario em relacao a Filosofia.

E, finalmente, a optica de Newsome pode ser interpretada no seguinte sentido: deduzir as implicacoes educacionais a partir de sistemas filosoficos estabelcidos. Neste caso, aplicando o exemplo de Marxismo, seria perguntar, como montar um sistema de educacao que corresponde ao sistema filosofico a que n’os inclinamos. O comentario, aqui se assemelha ao ultimo: as reflexoes em torno da Filosofia de Educacao continuariam a ser um produto complementar a actividade de reflexao filosofica em si.

Independentemente das formas de aplicacao da Filosofia a Educacao que Newsome nos propoe, esta perspectiva apresenta-nos actividade de pensarmos sobre a educacao e de educar como derivada da actividade de filosofar melhor, como um capitulo da Filosofia; mas ao mesmo tempo nao supera a dicotomia entre a Filosofia e a Educacao.

Vejamos uma outra posicao defendida por John Dewey, um filosofo pragmatico americano.Para ele, Educacao e Filosofia significa a mesma coisa, mas olhadas de diferentes: “Filosofia de Educacao nao ‘e uma aplicacao externa das ideias feitas a um sistema de praticas educacionais que tem origem e propositos totalmente diferentes”. O que Dewey nos sugere ‘e uma integracao ou fusao dos dois termos (Filosofia e Educacao) em redor de uma so tematica: ambos procuram a solucao dos problemas da vida e ambos tratam de problemas dos valores, ou seja, com o que ‘e bom ou mau, o que ‘e desejavel ou indesejavel; ambos se preocupam em saber o que ‘e verdade ou conhecimento numa situacao e contextos dados e qual ‘e a soluacao apropriadas para problemas contextualmente determinados. Esta posicao sera defendida e desenvolvida mais tarde.

Os Componentes da Filosofia de Educacao

Quais sao, entao, os componentes de Filosofia de Educacao no seu sentido especulativo? As componentes principais de Filosofia de Educacao derivam das componentes principais da Filosofia Geral, assim estes sao a Metafisica, a Epistemologia e Axiologia.

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A Metafisica

A Metafisica ‘e teoria acerca da natureza do homem e do mundo em que vivemos. Na sua origem, a matefisica trata de questoes como “O que ‘e o homem”, “Qual ‘e a sua origem” e “Para onde ‘e que ele vai depois da morte”. Tambem trata da forma como o homem se comporta e porque o homem se comporta daquela forma. Nos ultimos tempos, no entanto, a metafisica vai abracando temas relacionados com a alma “Se o homem tem ou nao uma alma”, questoes ligadas a natureza das consciencias humanas e o que sucede a nossa consciencia e alma apois a morte. Outras questoes dizem respeito a existencia ou nao de Deus, se sim, como ‘e que podemos conhece-lo ou expermenta-lo. Por ultimo, questoes ligadas a fe, destino, predestino e a liberdade podem tambem ser abordadas do ponto de vista metafisico.

Em seguida vamos explorar como ‘e que, a partir de um topico (por exemplo, as visoes de uma pessoa ou mesmo de um povo) pode ter implicacoes no processo de educacao ou mesmo no desenho do sistema nacional. Muitos religiosos, principalmente os cristaos e os islamicos, acreditam que o homem ‘e constituido por corpo e alma, sendo o corpo constitudo pela carne e sangue que nela corre, e a alma uma substancia invisivel de origem divina e espiritual. Entre os dois elementos, o mais importante, segundo ambas religioes ‘e a alma ou espirito. Por isso, a educacao segundo esta crenca, ‘e mais importante para o desenvolvimento da alma de modo a preparar o homem para a sua imortalidade, ou seja, para a vida para alem do corpo. Encontrapartida, as escolas de pensamento mais empiricas, como o pragmatismo, argumentam que o homem ‘e tal e como o vemos, isto ‘e, como um organismo vivo que interage com o seu meio ambiente que tem sentimentos, paixoes, interesses e ambicoes. Assim, para esses, seria uma grande expeculacao se o homem teria ou nao uma alma, ou se o homem deveria ter fe ou nao. Educacao, na sua concepcao, seria essencialmente para permitir a esta homem viver feliz agora e hoje e nao essencialmente uma preparacao para a vida do alem.

A Epistemologia

Esta talvez seja a parte mais relevante da Filosofia de Educacao, particularmente para o ensino na sala de aula e para aprendizagem. De facto, a busca de conhecimento ‘e uma actividade comum a Filosofia assim como a Educacao, como vimos em John Dewey, mas como a diferenca de que na educacao como processo o interesse pelo conhecimento est’a na sua transmissao pelo professor e na sua adquisicao pelo aluno, ja na Filosofia busca-se a fonte de conhecimento. A Filosofia questiona, por exemplo, o seguinte: Qual ‘e o conceito de Conhecimento em si? O que significa conhecer alguma coisa? Quais sao as fontes de conhecimento? Conhecemos da mesma forma em todas as disciplinas de Curriculo? Se nao, quais saos os diferentes tipos de conhecimentos possiveis? Qual ‘e o tipo de conhecimento mais valido para nos? Estas sao as questoes com que a Filosofia se debate enquanto, por exemplo, a Psicologia da Educacao estuda as melhores formas pelas quais um determinado conhecimento pode ser adquirido ou ensinado.

Os professores repartem, na sala de aulas, diferentes tipos de conhecimentos, dependentes da disciplina que ensinam. Seria importante para professor qual ‘e o tipo de conhecimento que ele ensina, quais sao as fontes deste conhecimento e qual ‘e a sua relevancia para a vida. Alem disso, seria importante que o professor conhecesse as formas de conhecimentos da sua disciplina particular. Isto

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ajuda a conhecer qual ‘e o tipo de material apropriado para um dado conhecimento e que tipo de enfase a por em cada caso.

Os tipos de conhecimentos dependem da sua fonte, o seu metodo de adquisicao e da forma como ele ‘e validado. O primeiro tipo de conhecimento que vamos considerar ‘e o que ‘ e que tem como fonte a Revelacao, isto ‘e, o Conhecimento Religioso.

Um outro tipo de conhecimento ‘e o racional Cientifico. Este tipo de conhecimento provem da observacao do meio que nos rodeia ou pode ser resultado dos sentidos o ainda a experiencia pessoal e colectiva. Ela pode abranger o ambiente natural (ciencias naturais) ou ainda o ambiente social (ciencias sociais). ‘E empirio na medida em que, geralmente, a sua veracidade pode ser provada pelomenos por pessoas treinadas para tal (os cientistas). Por isso, os professores deveriam dominar muito profundamente as caracteristicas do conhecimento cientifico (a especificidade da filosofia reside na autonomia, radicalidade, historicidade e universalidade) assim como as questoes epistemologicas ligadas a sua producao. Na base desse dominio, os professores estarao em condicoes de promover uma atitude cientifica entre os estudantes e alunos. A atitude cientifica consiste em submeter a verificacao tudo o que ‘e nos dado a conhcer (o que sabemos ou o que ouvimos dizer). Efectivamente os estudantes deveriam ser estimulados a obervar as coisas que os rodeiam, a formular hipoteses de trabalho, a registar as suas observacoes, a tentar desobrir as irregularidades por traz das evidencias, etc. A cultura da atitude cientifia pressupoe, assim, inculcar nos estudantes o espirito de verificacao constantes das suas assercoes.

Em fim, sob o ponto de vista da epistemologia, ‘e importante que o professora conheca as limitacoes da disciplina que ensina, mais tambem ‘e igualmente importante conhecer o tipo de conhecimento que ele se baseia num determinado capitulo.

A Axiologia ou Teoria de Valores

A questao de valores ‘e de extrema importancia nos assuntos escolares, sejam eles dirigidos a sala de aulas, a politia escolar em geral ou ao papel da educacao na sociedade em geral. Para o professor particularmente ‘e de capital importancia conhecer os valores bases sobre os quais se assentam o sistema de educacao, os quais ele transmite as criancas na escola consciente ou inconscientemente.

De forma basica, valores refletem-se aos objectivos que nos rodeiam: n’os apreciamo-los, precisamo-los, desejamo-los... Um psicologo iria difinir valores como objecto dos nossos desejos ou interesses. Mas esta analise ‘ede certo modo unilateral porque um sujeito pode desejar qualquer coisa e dar valor a esta coisa, mais esta mesma coisa, pode transformar-se em algo nao desejavel a si. Por exemplo, se deixarmos as criancas por si s’os, elas poderiam desejar brincar ao longo de todo o dia mas os professores, por considerarem queisto nao seria desejavel, sempre dao trabalhos para ocuparem nos momentos livres. Este ‘e um exemplo claro que demostra que nao ‘e suficiente o facto de uma pessoa manifestar desejo de uma coisa, para n’os dizermos que esta coisa tem valor. Assim, no desenho curricular, o que o aluno talvez desejaria de fazer os seus interesses expontaneos, deveria ser conjugados com o que ele precisa fazer e com as capacidades que ele precisaria para o seu futuro desenvolvimento.

A questao dos objectivos na educacao esconde por traz a questao dos valores ou mais precisamente, a questao da Teoria de Valores. Os objectivos educacionais podem ser individuais ou sociais. Os individuais sao orientados por aqueles valores que beneficiem ao individuo singular. Por exemplo, os valores intelectuais e esteticos pertencem a esta categoria de objectivos: ‘e de facto o individuo que

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aprecia a leitura de um livro ou poema ou ainda um quadro. Este individuo so pode tentar ler um poema para os outros, mas nao pode apreciar em nome deles. Estes valores sao, portanto, subjectivos.

No entanto, muitos valores vao para alem dos individuos singulares. Por exemplo, o fim da educacao ‘e o desenvolvimento do conhecimento e a capaidade individual para o seu bem economico e social. Mas, ao mesmo tempo, nao ha duvidas que este individuo utiliza as capacidades economicas e sociais para o bem estar da sua familia, a sua comunidade e sociedade em geral. Assim , os valores tem uma importancia individual e social simultaneamente. ‘E importante aperceber-se que os valores sociais tem a sua origem nas relacoes sociais na familia, na comunidade ou numa determinada sociedade. Por exemplo, o valor de ser um bom cidadao ‘e antes de tudo social, ou seja, tem como o seu substrato basico a pertenca do individuo a certa sociedade.

Por ultimo ‘e importante destacar que ‘e na base dos valores que um determinado sistema de educacao se eres. Se os valores forem tradicionais, entao o proprio sistema sera montado de uma forma adequada a estes valores. Por exemplo, nos ecossistemas tradiionais africanos, o valor de respeitar os mais velos tem sido mais destacado que os outros (por exemplo, o de competencia individual). Assim, a forma como os ritos de iniciacao sao organizados procuram inculcar o maximo daquele valor, enquanto que nos sistemas modernos onde o individuo esta no centro, organizam-se modos de avaliacao individual para se apurar as competencias individuais.

Importancia da Filosofia de Educacao Para o Sistema de Educacao

A Filosofia de Educacao joga um papel imporante para o sistema de educacao, particularmente na formacao de professores. Por exemplo, na medida em que estimula no pensamento argumentativo sobre a educacao (ao em vez de tomar as coisas como elas sao e como sendo evidente), ajuda o professor a tornar-se mais consciente sobre as implicacoes que pode advir de certas posicoes suas e descobrir outras dimensoes que outros professor pode nao ter notado. Para alem disso, a filosofia de Educacao ensina ao professor a reconhecer os limites epistemologicos da sua disciplina, assim como de aplicar as melhores formas de ensino.Em segundo lugar, a Filosofia de Educacao contribuiria para que os professores vejam os assuntos educacionais de uma forma mais critica e desenrolem argumentos mais convincentes porque baseados numa busca insensante da verdade. Isto aumento o clima o debate intelectual em redor aos problemas que a educacao enfrenta hoje em dia, aumentando tambem o menu das solucoes possiveis para os mesmos problemas.

Em terceiro lugar, a Filosofia de Educacao aumenta a capacidade dos professores em enfluenciarem o curso da educacao no seu proprio pais dado que eles se engajam num debate teorico sobre a educacao. Este nao sera simplemesmente um receptor das politicas e orientacoes adoptadas pelos ministerios, mas tentara cooperar no sentido de se adoptarem politicas mais realistas, ou ainda, tera maior capacidades de aplicas as politicas nas salas de aulas. Basta para isso, termos presente o exemplo dos valores dados a cima.

II PARTE - OS PENSADORES EDUCACIONAIS NA ANTIGUIDADE

O estudo sobre o que os grandes pensadores esreveram sobre a educacao ‘e de capital importante para o debate sobre a educacao contemporanea. Como iremos notar, muitos dos pontos discutidos, por exemplo, por Platao, ainda continua a alimentar os debate, hoje, mostrando a sua actualidade.Por outro lado, na discussao dos problemas educacionais de hoje, ‘e de extrema importania para os professores mostrarem habilidades e competencias no dominio dos classicos, ou seja, mas rotas tradicionais da

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questao em debate. Uma outra razao para esta importancia deriva do facto de que quase as mesmas questoes ressurgem ao longo dos tempos, sempre que o debate for sobre educacao dos mais novos. Por exemplo, a questao do que ensinar, ou ainda de quais os valores que estao por traz do acto educativo, sao questoes ja postas por Platao e os seus discipulos antes da nossa era.

SISTEMA DE EDUCACAO EM ESPARTA E ATENAS

Grecia era constituida por pequenas cidades-estados (polis) entre as quais Esparta e Atenas eram as mais importantes. Ambas eram dependentes do trabalho dos escravos. OS habitantes da polis dividiam-se em gregos e nao-gregos, sendo estes ultimo por “barbaros” na linguagem grega. Ambos grupos eram rivais.

A cidade de Esparta desenvolveu-se como um estado militar, onde a minoria de espartano dominava a maioria de escravos constituido por nao-gregos ou por “meio-espartanos”. Estes eram maioritariamente cortadores de lenha ou carregadores de agua.

Este trabalho faziam-no quase sempre extreitamente escoltados pelos espartanos. Por isso, devido ao medo de enfrentarem uma revolta geral, todas as actividades politicas, sociais, culturais e eduacionais eram orientadas para fortificar a ordem do comando militar e manter a prontidao combativa. Toda a cidade era dirigida como se fosse um quartel afectando assim a maneira de conceber a educacao.

O sistema de educacao era controlado inteiramente pelo Estado e tinha como objectivo produzir cidadaos patriotas, obdientes e militarimente eficientes. ‘E preciso acrescentar que a educacao estava reservada so aos espartanos puros e cobria toda a vida, desde crianca ate a semilidade. Para garantir a sua robustrez, os espartanos chegavam a praticar infanticidios matando as criancas invalidas e diminuidas, para que so crescem os mais fortes. Toda as criancas eram sustentadas pelo Estado e eram criados em campos especiais para onde iam compulsivamente a partir dos sete anos com a justificacao de se criar um espirito de camaradagem entre elas ja nos primeiros anos de vida. Tanto meninas como raparezes recebiam o mesmo tipo de educacao, naturalmente que o curriculo priorizava exercicios fisicos negligenciando a literatura e o cultivo do espirito. Mesmo nos casos em que a literatura fazia parte do conteudo, este conteudo era funional ao objectivos de formar militares. Por exemplo, nas aulas de musicas, ensinava-se muisica militar de banda, o teatro era ensaiado no sentido os papeis constituirem forma de espiar o inimigo.

O sistema de esparta pode ser dificilmente denominado de “educacional” dado que, como vimos, tinha muitos conteudos militares e de educacao fisica. Nesta ordem de ideias, ele se confunde entre uma formacao militar e educacional em si. Mas fora disso, tinha ja em si aspectos que ate hoje perduram e sao considerados positivos: o principio do controlo estatal sobre a educacao se mantem ate hoje na maioria dos pais, tambem a igualdade entre os rapazes e as raparigas no acesso ‘e demarcadamente positivo, mas, talvez o mais impornte era o facto de que a educacao foi organizada funcionalmente, isto ‘e, para resolver os problemas da sociedade espartana – a defesa da cidade estado.

Contrariamente Atenas era um estado democratico. De facto Atenas pode ser considerada a mae da democracia no qual os cidadaos livres gozavam do direito de votar e de ser eleito para cargos administrativos, tambem gozavam do direito de participar na tomada de decisoes sobre assuntos publicos. O facto de a popupalacao de atenas perfazer somente alguns milhares permitia para que eles se reunissem regularmente em assembleia, a Agora a fim de debaterem e decidirem sobre as leis da cidade. O que era surpreendente ‘e o facto de que, alias, isto surprendeu Platao, nao eram exigidas qualidades especiais para se exercerem cargos publicos e nem para legislar. O que, sobretudo

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surpredeu Platao, foi a ausencia de uma educacao promovida pelo Estado para preparar as pessoas para os ditos cargos publicos.

A ideia dominante em Atenas era a de que um bom cidadao ‘e auge demonstrava “independencia de espirito, multitalento e que confia totalmente nos seus membros e inteligencia” – como o estadista Pericles gostava de dizer. Quer dizer que em Atenas, contrariamente a Esparta, a inteligencia e o cultivo do espirito eram muito apreciado entre os cidadaos. Mais, em contraste, a educacao para estes talentos era deixada a cargo de qualquer “soldado, cigano ou alfaiate” – como se customava dizer ironicamente para destacar o facto de que, em Atenas, qualquer pessoa poderia abrir uma escola sem nenhum tipo de controlo estatal, nem mesmo sobre os conteudos do ensino. Tirando este facto, o curriculo medio nestas escolas, era composta por uma ginastica combinada (exercicio fisico, luta livre, natacao). E ducacao “musical” cujo conteudo era uma compilacao equivalente das humanidades “escrita, leitura, literatura, a musica propriamente dita e arte”. No entanto, este tipo de educacaco conseguiu produzir homens talentosos, entre os quais temos Platao e Aristoteles.

A TEORIA EDUCACIONAL DE PLATAO (427 – 348 aC)

Platao foi disciplulos de Socrates, este ultimo que pode ser considerado o pai da Filosofia. Como dissemos, Platao estava particularmente preocupado com a falta de cuidados pela eduacacao na sua cidade-estado. O que mais o encomodava era o facto de nao haver uma educacao especial para treinar as pessoas a servirem o aparelho administrativo dado que ele considerava que os assuntos publicos exigiam qualidades especiais dos seus funcionarios. Estas atitudes e qualificacoes – sobretudo as qualidaes tecnicas – so poderiam ser adequiridas, segundo Platao por meio de uma educacao orientada para o efeito. Platao comparava as questoes administrativas comparaveis a medicinas ou advogacias que exigem um treinamento especial. No seu livro “A Republica”, Platao procura compor e descrever um sistema educacional baseado naquilo que ele considera serem “pontos fortes” de ambos sistemas de educacao, isto ‘e, de Esparta e Atenas, mas numa perspectiva filosofica – politica profundamente nova.

O seu Estado Ideal era um Estado onde os valores predominantes sao a justica e harmonia social. Para Platao, contudo, a nocao de justica social nao estava nada ligada a ideia de uma distribuicao equitativa do “bolo”, isto ‘e, da riqueza nacional, ou devolver as coisas a quem se deve, o que Platao demonstrou pode passar a ser injustica. Justica definia-se em funcao das responsabilidades que cada um tinha para com o Estado e era medida pela forma como cada um poderia dar a sua contribuicao para o Bem-Estar do Estado na base dos seus talentos naturais e da sua formaao especifica. Era cada homem procurando fazer o melhor possivel o seu trabalho e nao imiscuindo no trabalho dos outros.

Para Platao, uma sociedade ideal era, portanto, aquela onde havia uma divisao de trabalho de acordo com area de espertize de cada um no quadro da administracao do Estado. As areas por ele definidas no quadro da administração estatal era a legislativa, a executiva, a organização da segurança publica da cidade, os serviços de divisão economica, etc. Obviamente que o Filosofo-Rei seria aquele que iria dirigir a cidade, os guardas (soldados e policias) iriam defender a cidade e a população constituida por farmeiros, artesões, etc, produziam os bens materiais necessarios. A tarefa da educação, conforme Platão, é a de fazer com que cada um destes possa ser eficiente e competente no exercicio das suas responsabilidades em função da divisão de trabalho. Nestas condições, Platao achava que todas as actividades educativas deviam ser organizadas, financiadas e controladas pelo Estado porque estavam no seu interesse. Não haveria, portanto, escolas privadas. Da mesma forma, não haveria lugar para uma descriminação baseada no genero dado que o criterio de alocação dos deveres na divisão do trabalho também não se baseava no sexo. Segundo Platão, todas as crianças deviam ser juntadas para uma

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educaçao basica comum, apois a qual seriam divididas de acordo com o talento e habilidades naturais que demonstrassem.

Para a sua divisão em classe, Platao basea-se numa psicologia rudimentar que corresponderia a sua divisão tripartida. Ele sopunha que todas as pessoas são constituidas por uma mentalidade tripartida composta pelo elemento racional, espiritual e aquisitivo ou apetitivo. Em cada pessoa predomina um formava a base para a divisão do trabalho ou função que iria exercer dentro do Estado. Na base desta caracteristica, a sua educação e o treino teria que ser dirigida no sentido de se especializar e preparar-se para exercer a profissão pela qual ele tivesse um talento natural. Aqui vemos, pois, os fundamentos do principio de profissionalização aplicado.

De facto, o principio de preparação profissional em Platao baseava-se num outro principio mais fundamental que ele aprendera de Socrates – o seu mestre – que seria: “conhecimento é virtude” e “ignorancia é verso”. Por virtude, naquele contexto, entendia-se mais como “eficiencia com que cada um cumpria os seus deveres” e menos como actual significado de “qualidade moral” de uma pessoa. Assim, Platao podia falar de virtude de uma faca para se referir ao facto de a faca cortar bem, e da virtude de um medico se ele curar bem. Para conduzir perfeitamente a sua vida o homem precisa de ter onhecimento e, para cumprir bem os seus deveres o homem precisa de ser formado especialmente.

Estas ideias de Platão ainda tem muita importancia nos actuais sistemas de educação. Em primeiro lugar, o principio de divisao do trabalho é um dos principio que funciona nas sociedades modernas das nações ressuscitado na planificação economica. Embora a ideia de Platao em termos das profissões e especialidades existentes fossem bastante limitada a sua epoca, este facto porém, não pode deitar a baixo todo o principio por traz. Em Segundo lugar, pode destacar-se o principio de profissionalização defendido por Platao, segundo o qual o desenho curricula deveria ser na base da ocupação futura do aluno. Este principio vigora hoje. Em terceiro lugar está o principio de que a educação é um instrumento poderoso para a reconstituição do Estado e para o desenvolvimento politico e social. A mensagem é a de que um Estado deve adoptar uma ideologia nacional, a sua propria concepção de vida e identificar as suas prioridades. Na base destas então desenharia um sistema de educação apropriado.

Foi, em parte, pelo facto de Platão ter reconhecido na educação uma verdadeira força na planificação estatal que ele advocou para um secularismo na educação, isto é, fazendo a organização, o financiamento, a planificação e o controle da educação um monopolio do Estado. No entanto ele não excluia uma educação religiosa nas escolas estatais. De facto, na Grecia antiga em que viveu Platão, não havia uma separação nitida entre a vida religiosa e civil: a religião fazia parte de um aspecto essencial e indivisivel da vida e não havia nenhuma instituição religiosa que detinha o monopolio da vida religiosa, tais como igrejas ou mesquitas.

Finalmente, uma das questões que Platão nos propõe para o debate é a de considerarmos a psicologia da criança para a sua orientaçao profissional – o que hoje se denomina de “aconselhamento profissional”. O que se pode criticar em Platão é pelo facto dele optar por uma orientação deste genero num periodo de crescimento considerado por muitos de “muito cedo”, pondo no entanto de parte este aspecto, não podemos descorar por completo do principio adjacente de observar as inclinações e as habilidades de uma criança para direcionar melhor a sua direcção. Deve-se recordar, para ressalvar Platão, de que ainda no seu sistema se abre uma possibilidade de “reorientação” da criança, mesmo depois de ter sido originalmente conduzida para uma das três vertentes da educação. Infelizmente, este meanismo “correctivo” não foi apliucado ou previsto nos sistemas modernos de educação.

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O que discutimos acima, são aspectos que dizem respeito a uma filosofia educacional mais geral. Em seguida lancenos um olhar para o processo de educação em si, em particular para o curriulo platonico.

Para Platão, o processo de educação é um processo de “virar os olhos da alma da escuridão para a luz”, o que quer dizer, o processo de tirar a pessoa da ignorancia (escuridão) para o conhecimento (claridade da luz). Não se trata porém, pôr o conhecimento na alma de uma pessoa como se deita agua numa panela ate ela ficar cheia. Pelo contrário, éum processo de conduzir a pessoa a descobrir por si o conhecimento atraves do uso da sua razão. De facto, para Platão, é um processo de Re-Conhecimento dos conhecimentos adequiridos anteriormente pela alma. Esta filosofia de educação como um processo de re-conhecimento de Platão é no fundo baseada na sua filosofia da alma da pessoa. Segundo Platão, cada pessoa possui uma alma que já teria tido uma existencia previa no mundo ideal, ao qual Platão denominava do Mundo das Ideias. Naquele mundo, a alma teve aesso a um conhecimento perfeito. Por outro lado, existe o Mundo das Sombras, no qual nós vivemos, em que o que vemos e sentimos como coisas, são de facto “copias imperfeitas” das ideias que existem no outro mundo. No entanto quando uma determinada alma é destacada e implanta-se num corpo, ela passa por um processo de esquecimento e educação é um processo em a pessoa é ajudada a recuperar aos poucos o conhecimento esquecido (processo de reiminiscência). Assim o processo da educação não se trata de alimentar a criança de novos conhecimentos, senão, passa a ser um processo em que, através de questões bem elaboradas, ajudamos a alma do aluno a recordar-se do que esquecera.

Platao como grande teorizador da Educação, foi de facto o primeiro a dividir o processo de educação em niveis formais e a atribuir a cada nivel um certo conteudo de aprendizagem e objectivos especificos. Os niveis advogados por Platão eram faseados para 3 a 6 anos de idade, este nivel era devotado para jogos e para brincar. O castigo deveria ser empregado para punir as más atitudes, enquanto que o bem seria recompensado. O nivel seguinte, o elementar – para 6 a 10 anos tinha um curriculo composto por jogos e desposto, elementos basicos de leitura e moral e desenvolvimento espiritual através de historias retiradas da mitologia grega. No nivel secundario, que compreendia dos 11 a 17 anos, a educação era mais rigorosa, procurando combinar a ginastica com a educação “musica”, esta ultima no sentido que ressaltamos acima, Alguma das disciplinas que seriam incluidas, em forma de introdução, seriam a Matematica (Artimetica, Geometria, Geometria Solida), Literatura e Musica no sentido que a conhecemos hoje. Em todas estas disciplinas, Platão tentará deixar claro que, qualquer que fosse a disciplina em causa, mesmo a matematica, o objectivo é “o desenvolvimento da alma” e conduzi-la no seu processo de aquisição do conhecimento. O nivel secundario seria para preparar a alma para um nivel superior onde esta estaria em condições de readequirir a verdade, a beleza e a espiritualidade. O onteudo do ensino superior era mais abstrato, dedica-se a matematica complexa, astronomia, dialetica e filosofia. Este conteudo ocupariam os estudantes entre os 20 a 35 de idade e seria somente para aqueles cujo talento natural se destacará para uma actividade predominantemente racional, e, desta forma qualificado para a categoria de Rei-Filosofo.

O significado para esta estrutura platonica para Educação ficará mais claro se tivermos em mente que, nos dias de Platão, em Atenas, a educação de um aluno não era oferecida neessariamente pelo mesmo professor e de baixo do mesmo tecto. De facto eram os tutores conhecidos como “Sofistas” ou ainda como “Professores Itinerentes” dado que viajavam de cidade em cidade fazendo publicidade dos conhecimentos que eles poderiam transmitir mais cobrando dinheiro para cada disciplina. Neste sentido, as ideias de Platão quando a educação maracaram um passo fundamental para o desenvolvimento do ensino formal e do seu respectivo curriculo.

Em segundo lugar, Platão foi o primeiro a reconhecer e a destacar a importancia do ambiente para a aprendizagem. Ele estava consciente que a mente da criança era extraordinaria, por isso, ela devia ser

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exposta o mais possivel a boas experiencias (morais). O aluno deveria, na optica de Platão, ser rodeiado de um ambiente propricio para torna-lo um individuo moralmente sã. Os alunos, para tal, seriam obrigados a copiar toda a mitologia grega, a historia dos deuses e cortar as historias que nao dignificava a Grécia.

Em terceiro lugar, Platão manteve um equilibrio perfeito entre as partes diferentes do curriulo desde que o seu objectivo fosse produzir um “homem belo no corpo e de boa conduta”. Assim, na teoria platonica de educação, havia até ao ensino secundario uma boa mistura entre a musica e ginastica, em que esta ultima servia em parte para o desenvolvimento do fisico e em parte para o desenvolvimento da alma. No terceiro nivel – o superior – havia um optimo equilibrio entre os estudos literarios e o estudo da Matematica.

A TEORIA EDUCACIONAL DE ARISTOTELES (384 – 322)

Aristoteles tambem viveu em Atenas por isso discipulo de Platão. Aristoleles pode ser considerado como um filosofo tipico na antiguidade grega por que, para alem de ter escrito muitos livros, abarcou quase todas as areas de conhecimento incluindo as ciencias naturais como a Fisica e Biologia e outras como Leis, Logica, Etica, Metafisica. Os seus escritos em educação foram, na realidade, poucos e dispersos em varias obras. No entanto é nas suas obras A Politica e Etica onde se pode encontrar conteudos sobre a educação.

Aristoteles compara a mente de uma criança como um pedaça de argila pronta a ser moldada para ser um adulto racional ou seja, a criança estava potencialmente pronta para ser tomada adulta. É comparavel a uma semente que potencialmente está em condições de se tornar uma planta com todos os elementos condensados nela. O que se destaca nesta comparação é o facto de que a semente de uma planta vai sempre crescer no sentido de ser aquela planta. Por exemplo, não seria possivel que uma semente de milho se desenvolva numa palmeira. Assim também uma criança vai crescer para ser uma homem ou uma mulher, mas nunca se transformar unm animal porque uma forma vaga de adulto já está presente na criança, em potencia.

Assim, para este filosofo, a tarefa de educação está muito clara: ela deve ajudar a criança a crescer e tornar-se num adulto feliz. Mas quando perguntamos ao Aristoteles, o que seria uma adulto feliz já entramos nas suas posições eticas, porque isto corresponde a questionarmos o que seria Felicidade. Para Aristoteles a finalidade do homem é de ser feliz. Alguns iriam pensar que felicidade é uma vida cheia de prazeres ou com poderes entre outras. Mas para Aristoteles., felicidade é uma vida em que o homem consegue desenvolver em pleno todas as suas capacidades. A maior capacidade que o homem tem e que o distingue dos outros seres, segundo Aristoteles é a razão ou intelecto. Assim, uma vida boa ou feliz seria, no sentido aristotelico, uma vida em que o exercicio intelectual é plenamente realizado.

Para Aristoteles existem dois tipos de actividades – a intelectual e a pratica, e esses dois tipos de actividades são aspectos da Razão, respectivamente a razão teorica e a razão pratica. A Razão Teorica é desenvolvida por uma intensa actividade intelectual e é, segundo Aristoteles, uma actividade mais alta que o homem pode desenvolver porque o proposito desta actividade é a descoberta do conhecimento e da verdade. Mas como o homem é uma animal social, isto é, ele vive em sociedade, ele necessita o segundo tipo de razão que é a Prática. Pois, é com esta que ele consegue conduzir assuntos sociais.

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Efectivamente a razão pratica reflete questões de conduta moral dos homens assim como orienta a sua acção politica. Aristoteles era de opinião nem todos os homens tem habilidades suficientes para realizar plenamente actividade intelectual. Só o segundo tipo de razão é que estaria aberto para todos porque a razão pratica, na sua concepção é a que todos necessitam para uma vida moralmente sã e como cidadão da polis.

Assim, a tarefa da educação é a de tornar esta criança num adulto do seu tipo, em seugndo lugar, é a de desenvolver actividade racional do homem desde que esta fosse a sua vocação maxima, em terceiro lugar, é a de inculcar no homem a razão pratica que lhe possam permitir conduzir uma vida moralmente sã, em quarto lugar, a educação deveria desenvolver nos individuos capazes um engajamento teorico e intelectual. Nesta actividade, o professor seria aquele que deveria conduzir ao aluno nos moldes necessários para que ele conduza uma vida plena e de acordo com as virtudes necessárias. Em outras palavras, o trabalho do professor é ajudar ao aluno a desenvolver na plenitude as suas potencialidades. Nesta perspectiva, a instrução era uma actividade muito importante do professor. Só que, para Aristoteles, esta não bastava, era necessário envolver ao aluno em actividade para que pratique o que ele aprende repetidamente. Este elemento de pratica é particularmente importante para a razão pratica : “Um homem só se torna justo praticando a justiça, corajoso praticando acções corajosas”... costumava dizer Aristoteles. Na sua opinião um determinado caracter só se forma praticando as acções correspondentes. Este metodo aristotelico foi cunhado por ele proprio como sendo o de habituação. Ele considera-o muito importante para a educação fisica das crianças.Não é suficiente dizer as crianças o que deveriam fazer ou como se deveriam comportar ou que ela deveria saber, o professor deve fazer com a criança pratique repetidamente o bom caracter repetidamente ate que ela se habitue e faça-o naturalmente.

O que seria entao importante para nós nesta filosofia de educação de Aristoteles? Primeiro, notamos como é que a filosofia de educação é desmembrada da proria filosofia – mae. Em segundo lugar, é a sua ideia de criança, esta possui em potencia capacidades imprecionante de se tornar adulto por meio de instrução dada pelos adultos. Há certeza que ela vai-se tornar adulta, mais não há certeza absoluta em que tipo de adulto ela se iria tornar, em terceiro lugar, notamos uma vida plena é aquela em que se combina a qualidade intelectual com as qualidade praticas (morais, justas) da vida. Porem, temos que ressalvar que para Aristoteles, o exercicio da razão teorica tem um valor elevado em relação ao pratico, o que, de certa forma, para os tempos modernos se torna questionavel. No entanto, temos que ver estas suas concepções no contexto da Grecia antiga, onde, as actividades como o fabrico de pão, construção .... eram reservadas ao escravos estes considerados de segunda categoria. A actividade do raciocinio teorico e pratico era só reservado aos cidadãos de\Atenas. Em ultimo lugar, foi com Aristoteles que aprendemos que a educação é uma forma de auto-realização individual do homem para a sua feliidade (desenvolvimento pleno das suas faculdades e potencialidades). PORTANTO, segundo Aristoteles existem três ideias absolutamente essenciais para o desenvolvimento de uma boa educação, a saber:

o A natureza do educacndo, pois bem, esta natureza, que por razões biologicas irá condicionar em muitos aspectos o comportamento do aluno, deve ser compreendida e respeitada pelo educador. O programa de ensino precisa ser elaborado a partir da aceitação deta na natureza, isto é, do conhecimento da sua virtude e dificiencia.

o A formação de bons habitos. Aristoteles afirmava que muito dos nossos desejos instintivos são contrarios ao sadio desenvolvimento de nossa personalidade. Então, torna-se necessario controlarmos estes desejos através de habitos produtivos que nos induzam a assumir, automaticamente um comportamento construtivo.

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o O desenvolvimento da Inteligencia e da Razão. Para Aristoteles são estas as nossas faculdades mais importantes e por isso, devem merecer uma atenção toda especial. A educação precisava se dedicar ao aprimoramento destas faculdades através de um adequado programa de ensino que proporcionasse treinamento e disciplina mental.

A TEORIA EDUCACIONAL DE ISOCRATES (436 – 388 DC)

Este tambem era ateniense, mas om diferenca de que era um filosofo profissional como o eram Platao e Aristoteles; por isso, Isorates nao `e frequentemente mencionado entre as listas de pensadores educacionais. Isocrates foi um professor veterano que exerceu a sua profissicao durante cinquenta anos de sua vida durante a qual desenvolveu uma pratica que lhe torna peculiar na Historia da Filosofia de Educacao, er portanto merece um lugar aqui.Recordamos que o sistema politico ateniense era democratico, gozando os cidadaos atenienses de liberdades, assim tambem, havia uma distincao muito nitida entre orgaos legislativos e judiciais que eram relativamente independentes. Mas no tempo de Isocrates Atenas havia perdido a sua liberdade politica, embora se mantivessem as suas instituicoes formalmente. A educacao esta muito fortemente ligada a preparacao dos cidadaos para poderem orar nos tribunais, na administracao e em outras formas de participacao politica a sua disposicao. A grande contribuicao de Aristoteles ‘e a de ter reonhecido a necessidade de uma educaao virada para os aspectos legais, para assuntos administrativos e para a cidadania. Ele mesmo era um bom jurista, mas como bom professor conseguia instruir pessoas a serem grandes eloquentes nas cortes.

Quais sao pois as ideias desenvolvidas por Isocrates?

Em primeiro lugar se destaca sem duvidas o facto de ele ter orientado a educacao para as necessidades concretas da vida dos atenienses. ‘E certo que haviam os sofistas que eram professores itinerantes que vendiam o mesmo tipo de onhecimento de cidade em cidade, mas Isocrates suplantou-os ao formular um curriculum estavel. Ele fundou a propria sua escola, uma especie de escola secundaria, com um curriculum integrado para desenvolver a personalidade completa ao lado das habilidades profissionais. As suas ideias sobre a eduacao profissional ultrapassam as ideias predominantes na sua epoca, porque, para ele, um homem que era treinado profissionalmente deveria tambem adquirir uma forte formacao cultural e civica, com enfase na formacao para uma conduta moralmente sa. Assi, o seu curriculo, para alem de conter materias juridicas contemplava a ginastia (un jurista devia ter uma compleicao fisica boa e uma presenca comandante), estetica, matematica (para casos de conflitos de terra e casos que envolvem calculos) assim como a Literatura. Ele argumentava que um bom jurista deveria dominar uma vasta gama de conhecimentos para ser bem sucedido.

Em segundo lugar, Isocrates identificou tres elementos importantes para que a educacao fosse bem sucedida: em primeiro lugar, o professor deveria ser capaz de reconhecer os talentos individuais ou naturais dos alunos; em segundo lugar, o aluno deveria ter uma auto-disciplina rigorosa e ser apliado nos estudos e em terceiro lugar, o aluno deveria ser inventivo, ter iniciativa, ter boa memoria e um bom tacto, mas acima de tudo, uma conduta e um caracter moralmente impecaveis. Estes tres elementos eram, na sua optica, indispensaveis para que se exercesse uma profissao com sucesso.

Em terceiro lugar Isocrates funda um humanismo na educacao, isto ‘e, era de opiniao que o fim ultimo da educacao nao era em si a profissao, mas a formacao de um homem integral. Em outras palavra, o seu humanismo demonstra-se pelo facto de o homem ser o fim ultimo das actividades educativas.

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Qualquer que fosse a profissao visada pela educacao, nao seria ela em si exercidade com sucesso se a componente das humanidades faltasse. Este aspecto ‘e muito importante porque constuti um desafio para as nossas praticas de hoje. Efectivamente, pressionadas pelas politicas que se devem adoptar e pelas necessidades economicas, os professores tendem a ver a sua funcao como sendo de preparar o aluno ou estudante para o sector da economia e pouco no sentido de desenvolver uma personalidade completa.

A TEORIA EDUCACIONAL COMO RESPEITO PELA NATUREZA DO ALUNO EM MARCO FABIO QUINTILIANO (35 – 95 DC)

Embora entre Isocrates e Quintiliano decorra um grande periodo de tempo, na verdade as suas teorias e praticas educacionais sao muito proximas. Quintiliano era romano; mas tal e qual Isocrates era jurista e foi um professor de renome durante muito tempo e com muita experiencia; e tal e qual como Isocrates foi um homem pratio no seu pensamento, pouco dado a reflexoes filosoficas. Ele defende que a formacao em retorica (que era a teoria e a pratica do direito) era a forma ideal de educacao na qual tambem a filosofia fazia parte simplesmente como uma das disciplinas. Mas antes de de ontinuarmos com o desenvolvimento dos pontos de vistas de Quintiliano, seria ideal lancar uma visao geral sobre o sistema de educacao em Roma.

O desenvolvimento de educacao em Roma pode ser divido em tres fases, nomeadamente (1) a era da eduacao tradicional, (2) a era da introduao da cultura grega e (3) o periodo da assimilacao e transformaao da cultura assimilada. Estes periodos educacionais corresponde aos periodos de transformacaodo sistema politico: a Monarquia, a Republica e o Imperio Romano.

O Sistema Tradicional de Educacao Romano era pratico e vocacional. O seu objetivo era produzir bons cidadaos farmeiros, portanto, que pudessem produzir mas ao mesmo tempo que poderiam ser chamados para o exercito ou para os servicos administrativos sempre que fosse necessario. Havia pouco atencao para cadeiras como a Literatura e mesmo para a Leitura e a escrrita. Mas com a conquista romana, os gregos nos meados do se. III aC, comecam a entrarm em roma, junto ao espojo de guerra, tambem livros diversos que se versavam sobre a civilizacao grega. Assim, comecam a entretar alguns escravos que serviam como professores ou mestres das criancas romanas. Desta forma, a pouco e pouco, Roma se foi distanciando de um tipo de educacao vocacional para uma educacao mais literaria e intelectual.

No periodo da Republica, a educacao virada para questoes juridica foi particularmente favorecida, isto devido as estruturas legislativas e democraticas que desbotam nessa altura. No entanto, com o advento do imperio, estas estruturas democraticas foram destruidas. A educacaco para a eloquencia oral continua, mas ja mais virada para o lazer ou para os debates inteletuais, e de certas formas para preparar os serventes da administracao publica e os administrado das provincias. Foi neste terceiro periodo em que Quintiliano viveu e escreveu os seus pensamentos educacionais numa obra intitulada Institutio Oratoria (Educacao de um Orador).

A obra referida no paragrafo anterior comporta doze volumes. O homem ideal, segundo Quintiliano, seria aquele que possui um bom caracter mais ao mesmo tempo eloquente na expressao. A sua definicao de um bom jurista era a de um homem que nao s’o dominasse a retorica, mas que sobretudo fosse moralmente sao. Como, no entanto, se poderia educar esse homem?

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Segundo Quintiliano, os pais tinham em primeiro lugar, grande responsabilidade para a educacao nos primeiro anos de vida. Por isso ele recomendava que houvesse uma educacao especial diriga aos pais (educacao de adultos) para que eles comprissem os seus deveres duma forma mais eficiente. Ele tambem determinou que as criancas deveriam ser escolarizadas aos 7 anos ou mais cedo se se tratasse de crianca precosse. Ele defendia que o primeiro tipo de instrucao da crianca deveria basear-se no jogo. Nesta fase, deveria se ensinar a leitura, escrita e a artimetica.

O ensino secundario iria at’e dos 12 aos 14 anos com um curriculado baseado nas humanidades (e quase nada das ciencias naturais). O Curriulo era prescrito e era centrado no desenvolvimento da personalidade. Uma das virtudes do mestre era o reconhecimento no aluno das caracteristicas individuais de sua inteligencia e caracter (personalidade) para postumamente adequar o metodo de ensino no aluno. Nesta fase, ensinava-se musica, geometria, literatura e Oratoria.

Aos 17 ou 18 anos comeca a educacao para a retorica. Esta correspodia praticamente ao ensino superior que destinado somente aos melhores estudantes. Trata-se da escola da Retorica com objectivo de formacao de bons oradores para a defesa das virtudes morais. Nesta fase ensinavasse a Historia, Logica, Direito, Critica Literaria e o Desenvolvimento das Tecnicas e da Arte de bem falar em publico.

Segundo Quintiliano, a memoria ‘e o principal indicador da inteligencia que se revela em duas qualidades. A primeira, aprender facilmente e guardar com facilidade e, a segunda qualidade, ‘e a imitacao, isto ‘e, o aluno deveria imitar tudo o que o professor ensinava. Por isso, segundo ele, o bom aluno era aquele que compreendia facilmente e nao fazia muitas perguntas. Acresentou ainda que o bom aluno, nao poderia desenvolver mais nada para alem do que foi ensinado, por isso, o seu sistema educacional sufocava a criatividade do aluno; repelia como indespensavel a antecipacao de questoes, menosprezava as ideais inabituais e desencorajava a audacia intelectual. Por isso, os bons alunos, estudantes e meninos deviam ser bem comportados, repetindo tudo o que seu mestre mandasse (Gilberto COTRIM & Mario HARISI, Fundamentos da Educacao, pgs. 130-131).

Quintiliano destacou-se nas suas recomendacoes dirigidas ao professor. Este deveria adoptar uma atitude parental em relacao aos seus alunos e olhar-se a si mesmo como alquem que carrega a responsabilidade dos pais que lhe confiaram aos filhos. O professor deveria ser severo mas nao austero, generoso mas nao familiar, porque a austeridade vai toma-lo impopular e a familiaridade origina desprezo. O professor deveria ser alguem que controle as suas emocoes e que nao deixe que elas interfiram na sua actividade lectiva. Quando ele corrigir os erros dos alunos, nao dever’a nunca ser abusivo e nem duro, porque, segundo Quintiliano, muitos estudantes desistem do saber quando os seus professores se dirigem a eles como se os odeiasse pelo facto de nao saberem, Por ultimo, ele revolta-se veemente contra os castigos corporais, pedagogia da brutalidade que era predominante na sua epoca classificando-os de forma mais despreziveis de educacao.

III PARTE – OS PENSADORES EDUCACIONAIS IDADE MODERNA

A TEORIA EDUCACIONAL DE COMENIUS

Pode considera-se Comenius como um elo de ligacao entre as ideais antigas e novas e sobretudo a educacao. De facto, as suas ideias de educacao, representam um criticismo sobre a pratica educativa na epoca em que ele viveu, mas ao mesmo tempo, ontem recomendacoes antecipadas para educacao

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moderna. Comenius foi, sobretudo um pratico na educacao e, por isso, as suas riticas sugestoes sao produtos de experiencias que ele foi fazendo na vida.

Contexto historico das ideias de Comenius

Mas antes de entrarmos nas suas ideias, vamos contextualizar historicamente o desenvolvimento da educacao entre Quintiliano e Comenius. A historia da europa entre os sec. V- XVI pode ser dividida em cinco periodos, nomeadamente a idade Obscura, a idade Media, o Renascimento, a Reforma e a Contra Reforma. O imperio Romano, apois Quintiliano, foi internamente enfraquecido devido a corrupcao e pelas lutas intertinas dos imperadores pelo poder. Mas por outro lado, Roma teve que enfrentar varios ataques externos ja no sec. V. Com o colapso do imperio, tambem o sistema de educacao entrou em crise total. Este facto levou Roma a um periodo de longa letargia cultural – conhecido como periodo Obscuro. No entanto, a igreja catolica, com a sua politica de alianca com o invasor e de sua conversao em catolico, conseguiu desta forma manter alguma pratica educativa. Para alem disso, aquilo que chamamos de letargia cultural, nao tinha atingido todo o imperio; efectivamente, parte deles, como foi o caso do oriente medio, a Espanha e o norte de Africa sairam ilenso da obscuridao cultural conseguindo levar a cabo actividades intelectuais, que sao essas que levaram ao estabelecimento de uma serie de Universidades Islamica e outros centros de aprendizagem em Codova (Espanha) e a famosa Universidade Al-Azar na cidade de Cairo. Estudiosos vindo de muitas regioes juntavam-se nestas cidades e, o mais importante, juntaram e preservaram o material, conhecimento e documentos da Civilizacao grega para a pasterioridade.

Na idade media ha uam certa retomada das actividades intelectuais no resto da europa. Nesta fase, a igreja apostolica romana aparece como um poder espirito que se complementa ao poder temporal dos estados. ‘E que, devido ao caos cultural que se havia instalado na idade anterior, a igreja catolica romana tinha onseguido momopolizar e ontrolar a educacao em quase toda a europa do Oeste, e assim poder espalhar-se a si mesma religiao. Este monopolio viria a durar cerca de mil anos, durante os quais, o selo da igreja ganhou maior desimilicao. Pois ela estabeleceu escolas como as monasticas e as escolas das catedrais nas quais o unico objectivo era introduzir as pessoas a leitura e aos numero, o suficiente para poder participar em cerimonias religiosas. Com o periodo das guerras santas levadas a cabo pelos papas para expalhar a religiao crista entre os maometanos no oriente medio, uma nova era comeca. ‘E que os guerreiros durante as cruzadas, tinham contacto com os centros do saber de que fizemos mensao e, trouxeram de volta para a europa, manuscritos da antiga grecia e Roma, mas muito em particular trouxeram conhecimentos de numeros arabes, estes ultimos que vieram a substituir os romanos entao em uso em toda a Europa. O subsequente desenvolvimento da Filosofia e da Matematica na Europa, ficou-se a dever, em parte, deste manancial de conhecimentos trazidos do oriente medio e da arabia para a europa. E um dos resultados mais importantes deste processo, foi, de facto, o Renascimento, uma epoca em que a cultura foi revivida na Europa. Este renascimento viria a ser favorecido por um desenvolvimento tambem importante do continente europeu: a descoberta e o uso da impressao.

Um outro desenvolvimento signifiante para a educacao foi o estabelecimento de varias Universidades na Europa medieval, as primeiras das quais foram, as Universidades de Salermo e de Bolonha (Italia) e de Paris: estas,muito cedo, ultrapassaram as universidades antigas islamicas. Estas universidades consagraram-se em verdadeiros centros do saber, sobretudo devidoao facto de, confluirem para la sabios de varios pontos da europa. Para defenderem os seus interesses, os mestres e os estudantes destas universidades, cedo de se congregarem em associacoes (chamdas por universitas), donde erdamos a palavra universidades. A terminologia completa entao usada foi universita magistrorum et

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scholarum, isto ‘e, associacao de mestres e estudantes. Foi assim, parte destas associacoes que engatinharam a cultura da aprendizagem, conhecida como o Renascimento.

E de baixo de entusiasmo de aprendizagem que os mestre nao se limitaram a conteudos religiosos, mas sentiram-se livres de desbravar outras areas de saber, perseguindo a verdade e o conhecimento em toda as esferas. Desta forma predomina a tendencia para o secularismo, isto ‘e, estudos que nao se defeniam como sendo religiosos que, no fim de contas, comecaram a retirar paulatinamente o monopolio do saber e da educacao das maos dos religiosos. Na arena politica, o movimento do Renascimento originou o desenvolvimento das consciencias nacionais. Esta consciencia manifestava-se, no campo da educacao, na exigencia do uso das linguas nacionais como o meio de ensino nas universidades de cada Estado assim como a exigencia do controlo estatal sobre a educacao (secularizacao). Com a invensao da imprensa no sec. V, tornou-se praticamente possivel traduzirem-se os livros, especialmente a Biblia, o que iria muito cedo criar condicoes para o movimento da Reforma no seio da igreja. Este surge na tentativa corrigir a pratica indesejavel no seio dos servidores da igreja catolica romana. Mas concretamente, a pratica religiosas deveria ser reduzida directamente da Biblia, no lugar de estar sujeita a interpretacao intermedia dos clerigos. O desenvolvimento da consciencia nacional ajudou a fortalecer os sistemas nacionais de educacao, dado que cada Estado queria ver os seus cidadaos a saberem ler e escrever para poderem ler-a e interpretar Biblia Sagrada por eles proprios.

Contudo, a igreja catolica romana nao viu com bos olhos o processo da perda do seu proprio monopolio a favor dos diferentes movimentos protestantes. Assim, ela lanca um movimento tendente a parar a dessimilacao daqueles pela Europa. Este movimento ficou conhecido como a Contra Reforma. A Contra Reforma foi apoiada por alguns estados que ainda mantinham a tradicao religiosa catolica romana. Um dos poeminentes mentores da Contra Reforma foi Inacio Loyola que fundou uma ordem religiosa denominada por Sociedade dos Jesuitas, cujo objetivo principal era de o reeducar a sociedade em molde da religiao catolica ortodoxa, consentrando-se para isso na educacao das criancas para que, pensavam, as novas geracoes crescerem nas doutrinas ortodoxa. Sem duvida que esta extrategia de se concentrar as criancas atravez de uma rede de escolas primarias, foi aqui, de certa forma, deu um novo impulso a igreja catolica.

As Ideais Educacionais de Jean Amos Comenius

A confrontacao entre os apoiantes da Reforma e os apoiantes das Contra Reforma, conduziu, muito cedo, a uma serie de lutas e rivalidades entre os estados europeus, o que, de certa forma, acabou afectando os respectivos sistemas de educacao. Foi neste ambiente de confusao religiosa que Jean Amos Comenius nasceu (1592: Monrovia, Checoslavaquia). Ele foi teologo (chegando a ser um bispo da igreja nacional), professor contratado e reformador educacional combinando as tres partes numa so.

A Filosofia desenvolvida por Comenius est’a intimamente ligada a sua posicao dentro da hierarquia catolica como bispo da igreja catolica. Nas suas concepcoes, Comenius recupera a ideia de Aristoteles segundo a qual, o homem est’a no centro de todas as coisas da natureza; mas Comenius foi mais longe ao adicionar que a natureza ‘e uma criacao de Deus. Todos os seres vivos e nao vivos da natureza teriam sido feitos por Deus com intuito de satisfazer as necessidades, ou seja, para o seu bem-estar. Mas a proposito ultimo da existencia do homem ‘e o de descobrir os misterios da Existencia da Natureza, o de compreender a Natureza e, atravez de um exercicio profundo de compreensao de compreensao da Natureza, chegar a conhecer Deus. O objetivo da Educacao seria, assim, o desenvolvimento do intelecto humano para capacita-lo para conhecer a Natureza e a Deus. De acordo

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com Comenius, todo o individuo tem potencialmente a capacidade de conhecer Deus, assim a grande importancia da Educacao que iria iluminar este caminho para Deus.

Para clarificar as suas ideias sobre a educacao como um instrumento de usar as potencialidades individuais, Comenius usava o exemplo da semente e do solo. O homem ‘e como a semente, cheio de muitas potencialidades que podem ser realizadas ou atrofiadas, dependendo do solo em que ele cresce e os estrumes que sao aplicados. Assim, na educacao existem tres elementos que devem ser integrados: a capacidade do aluno, o conteudo do curriculo (o solo) e o professor e os seus metodos que corresponde ao estrume. Uma boa educacao seria aquela que ‘e organizada de acordo com estes tres factores. As potencialidades naturais sao uma dadiva de Deus, mas o Curriculo e os seus Metodos dependem do poder dos homens. ‘E desta forma que Comenius dedica a sua vida toda a evidenciar os melhores metodos de ensino para discobrir a organizacao e o sistema escolar favoraveis a aprendizagem.

Na sua concepcao da Educacaco como um Direito Natural e Universal de todos, Comenius tenta cobrir areas que ate entao estavam ausentes da teoria e da pratica educacional. Elas sao a educacao de adulto e a educacao especial. A educacao deve ser providenciada pelo Estado e deve abranger a toda gente e nao somente a poucos “deixe-nos nao excluir a ninguem (da educacao), a nao ser que Deus lhe tenha negado o senso e a inteligencia”.

Em relacao a educacao especial para os dificientes fisicos e mentais, Comenius defendia que, apesar do seu azar, eles merecem uma atencao educativa muito especial: quanto mais fraco e mais ingenio a pessoa fosse, mais ajuda precisava para poder superar as suas fraquezas e ingenuidades. Nao haveria nenhuma mente que seria tao doente que nao teria possibilidade de se recuperar atravez da educacao. Comenius advogou coerente e favorosamente por uma Educacao Popular mesmo antes dos movimentos contemporaneos por uma educacao universal.

Para traduzir as suas ideias de educacao popular ou universal em realidade ele desenhou um esquema que procura deduzir o conteudo curricular a ser ensinado, o proposito da educacao e a pessoa que vai ensinar a partir da consideracao do nivel do desenvolvimento da crianca, mas directamente a partir da idade. Ele dividiu assim o periodo que vai da infancia ao adulto simetricas, durando cada um seis anos. Esta divisao foi alvo de muito criticismo dado que apareceu que Comenius deu, em primeira mao, mais importancia aos anos do que propriamente na observacao das caracteristicas cognitivas e psicologicas do desenvolvimento do homem.Talvez este criticismo seja um pouco incorrecto na medida em que, nos seus dias, nao houvesse ainda estudos consagrados sobre a Psicologia de Desenvolvimento da Crianca, aos quais ele pudesse recorrer para as suas teorias educacionais.

O periodo da infancia, que sao os primeiros seis anos, deve ser passado em casa sob os cuidados da mae ou numa cresche. O objectivo pedagogico neste periodo ‘e o da crianca dominar e desenvolver habilidades da expressao da lingua materna. Na optica de Comenius, o Estado nao se devia ocupar por esta fase.

O periodo seguinte, abrange dos sete aos doze anos no qual a crianca deve ser matriculada numa escola elementar. A este nivel deve o Estado providenciar uma escola em cada aldeia ou vila. O curriculo para este nivel deve ser constituido por alfabetizacao, artimetica e por introducao a elementos basicos das diferentes disciplinas. O objectivo pedagogio a este nivel seria o treino da imaginacao e da memoria. O meio de instrucao seria a lingua materna ou uma lingua nacional.

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Para os adolescente entre os treze e os dozoito anos haveriam escolas secundarias. Este nivel de educacao deveria ser providenciado por Estado e de uma forma livre. Para isso, o Estado deveria construir uma escola secundaria em cada cidade ou vila. O objectivo da educacao seria o de treinar a inteligencia e a compreensao atravez de um curriculo geral e liberal. Outras linguas poderiam fazer parte do curriculo e seriam acrescentadas as alinguas nacionais.

O quarto nivel deveria providenciar educacao para as pessoas de idade compreendida entre dezanove e vinte e quatro anos; estes frequennatriam a universidade ou uma academia. Tambem este nivel deveria receber um apoio estatal (subsidiando) e deveria haver um estabelecimento em cada provincia ou reino. Os estudantes deveriam especializar-se em materia diferentes segundo os seus interesses. O proposito deste nivel ‘e o desenvolver o saber (ou a saberdoria) e a capacidade de avaliacao critica, isto ‘e, a capacidade de tomar decisoes objectivas assim como uma forca de caracter para levar avante as suas decisoes. Cada Estado deveria ter cada um dos niveis de educacao. Comenius vai mais longe propondo o estabelecimento de um colegio internacional – o qual ele denomina de Colegium Lucis – ou seja, o Colegio da Luz cuja a funcao seria a de coordenar e unificar o processo de aprendizagem assim como promover a compreensao, paz e harmonia atravez do acto educativo. Assim, o sistema de educacao em Comenius iria dos cuidados maternos ate atingir ao nivel internacional, como de resto hoje constituiu a pratica simbolizada pela UNESCO.

Comenius atribuiu uma grande importancia aos metodos de ensino para tornar o processo de aprendizagem mais fluido, efectivo e economico. Como professor, ele proprio aplicou as linhas pedagogicas que comandava na sala de aulas. Em seguida vamos enumerar alguns dos seus principios:

1. Todas as criancas sao curiosas e, portanto com desejo de aprender desde que vejam o proposito imediato da aprendizagem.

2. Facamos com que o processo de aprendizagem nas crianas decorra sem lagrimas, sem injurias e sem coersao.

3. O uso de memorizacao deveria ser evitado ao maximo4. Os temas de aprendizagem deveriam ser gradualmente introduzidos de acordo com o nivel de

conhecimento e com as dificuldades; assim, em geral, aprendizagm deveria comecar pelo conhecido para o desconhecido.

5. As salas de aulas deveriam ter uma boa iluminacao, limpas, agradaveis, bem mobiladas, com decoracoes educativas, quadros pendurados e outro tipo de objecto que auxiliem aprendizagem.

6. A escola deve ser tomada numa casa de alegria e nao um lugar de tortura

Resumindo, temos em Comenius um exemplo de educador que viu a sua missao nao somente confinada a ser professor, mas como alguem que procurou melhorar todos os seus aspectos do ensino-aprendizagem. Ele foi muito optimista em relacao ao poder da escola. Algumas das suas ideias foram retomadas pelos reformadores educacionais como iremos ver a seguir.

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