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DESVENDANDO OS GRANDES TRUQUES Luisa da Fonseca Tavares Tabita Caroline dos Santos Bastos ** RESUMO Este artigo vem tentar esclarecer algumas questões presentes no filme “O Grande Truque”. Pretende explorar a relação entre a mágica e a ciência: o uso de aparelhos para se fazer Graduando em Produção Cultural pela IFRJ. E-mail: [email protected]. ** Graduando em Produção Cultural pela IFRJ. E-mail: [email protected] 1

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DESVENDANDO OS GRANDES TRUQUES

Luisa da Fonseca Tavares

Tabita Caroline dos Santos Bastos**

RESUMO

Este artigo vem tentar esclarecer

algumas questões presentes no filme “O

Grande Truque”. Pretende explorar a

relação entre a mágica e a ciência: o uso

de aparelhos para se fazer o truque; o

que ocorre na mente das pessoas

enquanto assistem uma mágica. Além

de esclarecer a sobre a arte mágica, o

mágico e os elementos fundamentais

para a elaboração de um truque.

Palavras-chave: Ciência, mágica,

mágico, objetos.

Graduando em Produção Cultural pela IFRJ. E-mail: [email protected].** Graduando em Produção Cultural pela IFRJ. E-mail: [email protected]

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O Grande Truque é um filme

feito por Christopher Nolan. Um diretor

que teve como filme comercial de

estréia, que lhe rendeu vários prêmios,

“Amnésia” e apresenta a peculiaridade

de iniciar seus filmes com flash-backs

ou com cenas do final da história.

Característica presente no filme a ser

abordado nesse artigo. Nolan ainda atua

como roteirista em alguns dos seus

filmes.

O filme lançado em 2006 se

passa no ano de 1897, no final do século

XIX e inicio do século XX época de

descobertas e do positivismo. “O

Grande Truque” narra a história de dois

jovens mágicos inicialmente amigos

mas com as circunstâncias que vão

ocorrendo, começam a construir uma

rivalidade que os leva a um fim trágico.

Robert Angier e Alfred Borden são os

mágicos interpretados por Bale e Hugh

Jackman. Alfred apresenta um truque

espetacular; Robert fica obcecado em

descobrir qual o segredo no truque do

rival. Dessa forma o filme vai se

desenvolvendo no meio de vários

espetáculos de mágica. O cineasta

conduz o filme com cuidado mostrando

a trama e os personagens levando o

espectador a pensar e a refletir mesmo

sem ter um tempo seqüencial. O filme

mescla cenas de passado e do presente

sem aviso e com narrações de vários

personagens.

Este artigo pretende esclarecer

algumas questões que não ficaram

claras no filme. Além de abordar temas

relacionados com a mágica como os

elementos fundamentais para sua

elaboração e também explicar a relação

da mágica com a ciência.

A Mágica

A mágica é a ciência que

trabalha com a surpresa e o espanto. Ela

atrai o público por nos enganar, não

revelar seus truques e acaba nos

deixando muito curiosos.

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Hoje em dia a mágica só funciona

mesmo se for surpreendente, algo

extremamente extraordinário. No filme

“O Grande Truque” percebemos a

dificuldade do personagem de Christian

Bale, Alfred Borden, logo após se

separar de seu parceiro para conseguir

agradar o público. Os truques

apresentado por Borden eram

considerados velhos e repetido, como

exemplo, a mágica de juntar duas

argolas. Isso no século XIX. A mágica,

segundo o Dicionário Aurélio é “arte ou

ciência oculta com que se pretende

produzir efeitos e fenômenos contrários

a leis naturais”. Ela faz acreditar que o

impossível é possível de alguma forma

e as provas são os truques. As melhores

ilusões devem ultrapassar a lógica e

desafiar a explicação. O que se esquece

de dizer é que cada truque é baseado em

princípios claros da ciência, algo como

a psicologia de distração. Ilusão de

ótica: um efeito que acontece por si só,

independente do artista. Manipulação da

realidade: nossas mãos são capazes de

fazer movimentos pequenos, sutis, que

escondem pequenas coisas que não

queremos que outras pessoas vejam.

Sendo assim todo mágico é conhecedor

de um pouco de ciência.

Vários artifícios da ciência são usados nos truques de mágica, como esse de John

Thompson, que usa de uma teoria neurocientista e aplica em palco: O refletor se

acende sobre a assistente. A mulher de vestido branco curtíssimo é uma fonte luminosa

que irradia beleza do palco para o público. O Grande Tomsoni anuncia que irá

transformar a cor do vestido dela em vermelho. Tensos, sentados nas poltronas, os

espectadores se concentram na mulher, gravando a imagem dela nas retinas. Tomsoni

bate palmas e os holofotes se apagam rapidamente, antes de criarem uma atmosfera

vermelha. A mulher agora está inundada pela vermelhidão dos projetores.

Mas esperem! Mudar a cor com um holofote não era exatamente o que o público tinha

em mente. O mágico pára na lateral do palco, olhando alegremente para sua

brincadeirinha. Sim, ele admite ter sido um truque barato; o que ele prefere, explica

diabolicamente. Mas temos de concordar, o vestido dela ficou vermelho – junto com

todo o resto. Então, o perdoe, e preste atenção mais uma vez em sua bela assistente

enquanto ele acende a luz para o próximo truque. Ele bate palmas e as luzes baixam de

novo; depois, o palco é coberto por uma imensidão de branco.

Espere! O vestido dela realmente ficou vermelho. O Grande Tomsoni conseguiu mais

uma vez! (Martinez-Conde; Macknik, 2009)

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O truque e a explicação dada por John

Thompson (conhecido como o Grande

Tomsoni) revelam um profundo

conhecimento intuitivo dos processos

neurais que acontecem no cérebro dos

espectadores. Veja a explicação de

Susana Martinez-Conde e Stephen

L.Macknik (2009) de como o truque

funciona.

Quando Thompson apresenta sua assistente com o vestido branco e justo dela, os espectadores a acreditam que nada poderia estar escondido sob o vestido branco. Sendo que essa suposição está errada. A mulher atraente em seu vestido apertado também ajuda a atrair a atenção das pessoas para onde Thompson quer – o corpo da mulher. Quanto mais olham para ela, menos percebem os dispositivos dissimulados no chão, e mais adaptados se tornam seus neurônios retinais à brancura da luz e à cor que percebem.Durante a rápida fala de Thompson depois da pequena “piada”, o sistema visual de cada espectador passa por um processo cerebral chamado de adaptação neural. A reação de um sistema neural a um estímulo constante (como medida pela taxa de disparo dos neurônios importantes) diminui com o tempo. É como se os neurônios ignorassem efetivamente um estímulo constante para guardar energia e sinalizar que um estímulo está mudando. Quando cessa o estímulo constante, os neurônios adaptados disparam uma resposta “de ricochete”, conhecida como pós-descarga.

Nesse caso, o estímulo de adaptação é o vestido iluminado de vermelho, e Thompson sabe que os neurônios retinais dos espectadores irão ricochetear por uma fração de segundo antes de as luzes se apagarem. O público continuará vendo uma imagem residual vermelha na forma da mulher. Em menos de um segundo, um alçapão se abre no palco, rapidamente, e o vestido branco, preso levemente ao corpo com velcro e amarrado a cabos invisíveis sob o palco, é retirado do corpo dela. Depois, as luzes se acendem.Dois outros fatores fazem o truque funcionar. Primeiro, a luz é tão intensa antes de o vestido ser retirado que, quando apagada, o espectador não consegue perceber os rápidos movimentos dos cabos e o vestido branco desaparecendo sob o palco. A mesma cegueira temporária pode nos dominar quando saímos de uma rua ensolarada e entramos em uma loja mal iluminada. Segundo, Thompson faz o truque verdadeiro só depois de o público pensar que já acabou. Com isso ele ganha uma vantagem cognitiva importante – os espectadores não estão procurando um truque naquele momento crítico, e por isso relaxam brevemente seus olhares atentos. (MARTINEZ-CONDE; MACKNIK, 2009)

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O truque de Thompson demonstra bem

a essência da mágica de palco.

Continuando com Susana Martinez-

Conde e Stephen L.Macknik no artigo

“Mágica e Truques que iludem o

cérebro” os mágicos são artistas da

atenção e da consciência. Eles

manipulam o foco e a intensidade da

nossa consciência. Isso é feito em parte

pelo uso de combinações

desconcertantes de ilusões visuais

(como as imagens residuais), ilusões

ópticas (fumaça e espelhos), efeitos

especiais (explosões, tiros falsos,

controles de iluminação regulados com

precisão), prestidigitação, recursos

secretos e artefatos mecânicos

(“apetrechos”).

Nos truques, os mágicos

utilizam o chamado 'misdirection', que

são técnicas para desviar a atenção do

objeto da mágica. Pode ser uma careta,

uma brincadeira, um objeto maior ou

qualquer outra coisa que chame mais a

atenção do que o componente do truque.

Há séculos os mágicos usam essa

fórmula para fazer com que cachecóis

ou animais apareçam fora do lugar de

origem ou 'ajudem' outros objetos a

desaparecer. Mas foi só nas últimas

duas décadas que os cientistas

descobriram que apenas uma pequena

parte da informação que entra através da

visão - a parte que tem o foco de

atenção - entra na consciência.

O uso de aparelhos nos truques

de mágica já foi criticado no século XX.

O Dr. Frederico Carlos da Costa Brito,

discípulo direto do famoso ilusionista

húngaro C. Hermann, criticou todos os

mágicos daquela época que se valiam de

aparelhos durante as suas apresentações.

Segundo ele, tais mágicos estavam

fadados ao fracasso porque pertenciam a

uma "escola antiga" e os aparelhos

utilizados não mais serviam para

enganar o público porque tiravam o

brilho da ilusão. Brito defendia uma

nova escola intitulada por ele como

sendo a "escola moderna" sem o uso de

aparelhos. Atualmente os mágicos têm

se utilizado cada vez mais de aparelhos

em suas apresentações; e pouquíssimos

são os que se utilizam apenas da

agilidade mental e habilidade manual

para produzirem efeitos. Os que

defendem o uso de aparelhos afirmam

que o público vai assistir um truque de

ilusionismo esperando ser enganado e

não estão preocupados em saber se a

ilusão é feita com auxílio de caixas,

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mesas, etc. Os acessórios usados pelos

mágicos são chamados de gimmicks.

Gimmicks são dispositivos que ajudam

a apresentar uma mágica.

A História da mágica

Acredita-se que a palavra

“mágica”, ou “magic” em inglês, vem

do grego “magi”, palavra usada para

descrever os prestigiados membros e

seguidores de “Zoroaster” vindos da

Pérsia. Zoroaster foi um líder religioso e

profeta da antiga Pérsia e fundador da

religião Zoroastrianismo. Assim, os

“magis” eram vistos como homens

sábios, possuidores de grandes poderes

e controle sobre os demônios. Apenas a

partir do século 16 d.C., a palavra magic

começou a perder seu caráter religioso e

passou a ser associada a “sujeito que

engana através de truques feitos pela

habilidade com as mãos”.

Na verdade não se sabe ao certo

quando a arte da mágica surgiu. Já

foram encontrados objetos mágicos

trucados e desenhados em grutas da era

pré-histórica. No Egito em uma tumba

de Beni Hassan de 1.500 a.C, são

encontrados desenhos de um dos mais

antigos truques de mágica: Cups and

Balls.

Existe um antigo papiro egípcio

escrito por volta de 2000 a.C que conta

da existência de um mágico chamado

Dedi. Esse é o mais antigo registro de

um número de mágica e está exposto no

Berlin State Museum. O relato, escrito

aproximadamente mil anos depois da

morte de Dedi, nos conta a história de

seu incrível desempenho perante a corte

do faraó Cheops. Dizia-se que era capaz

de colocar a cabeça de volta em corpos

decapitados fazendo-os voltar a vida,

entre outros truques. De acordo com tal

papiro, Dedi realizou a decapitação de

três animais: um ganso, um pato e um

boi. Dedi, na frente de todos, restaurava

a cabeça dos animais e depois com

palavras mágicas o animal levantava

vivo e andava em direção ao mágico. O

faraó Cheops desafiou o mágico a

realizar o truque com um humano mas

ele recusou. O registro foi escrito mil

anos depois da performance, o que nos

deixa suspeitas do que realmente

aconteceu, porém o truque de decapitar

animais e lhes dar vida novamente foi e

é um clássico até os dias de hoje.

A prática de truques de mágica

demorou muito mais para difundir-se na

Europa. A esmagadora maioria da

população européia da Idade Média era

ignorante, sem estudo, e muito

influenciada pelos padres da época, que

em tudo viam bruxaria. Portanto, para a

maioria da população, um indivíduo que

fosse capaz de fazer uma moeda sumir

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em sua mão ou decapitar uma galinha e

ressuscitá-la certamente tinha um pacto

com o diabo. Esse aspecto da sociedade

da época não permitiu que a mágica se

difundisse em grande escala. Mesmo

assim, na Inglaterra e em partes da

Europa Ocidental existem registros de

mágicos que executavam truques muito

simples para pequenas platéias em

tabernas, bares e que obtinham bastante

êxito.

Em meados do século XVI foi

escrito um livro fundamental na história

da mágica: The Discovery of Witchcraft

(A Descoberta da Bruxaria). Esse livro

foi escrito por um fazendeiro chamado

Reginald Scot, que vivia no condado de

Kent, na Inglaterra. Indignado com a

crueldade das condenações por bruxaria

e com a superstição tola da época que

associava tudo que parecia inexplicável

com o diabo, Scot decidiu aprender

fundamentos da arte mágica com os

artistas da época. Seu professor foi um

francês chamado Cautares, que o

ensinou que um truque mágico, quando

executado na frente de ignorantes, se

torna sobrenatural. Após ter adquirido

conhecimento suficiente, escreveu seu

livro com 560 páginas, o qual explicava

vários dos fundamentos usados pelos

mágicos da época, colaborando

imensamente para o surgimento de uma

distinção entre bruxaria e truques de

mágica. Os princípios citados em sua

obra são usados até hoje. Porém sua

obra foi considerada profana tempo

depois por James VI, que assumiu o

trono inglês e mandou queimar todas as

cópias do livro de Reginald Scot. Sendo

que para a sorte dos estudantes de

mágica, muitos sobreviveram e algumas

versões originais podem ser encontradas

ainda hoje.

Na virado do século XIX, os

cartazes de publicidade dos mágicos

freqüentemente os mostravam

trabalhando com pequenos demônios

sussurrando segredos úteis em seus

ouvidos. Apesar das possibilidades

exóticas e sobrenaturais que tais

cartazes insinuavam, os mágicos

deixavam claro que seus efeitos eram o

resultado de mecanismos de truque,

prática e trabalho de palco. A negação

deles do status "oculto" ofereceu vários

ganhos. Primeiro, desviou a fascinação

do público do Espiritualismo e o oculto

para seus próprios atos. Segundo, os

artistas não corriam mais o perigo das

autoridades trancafiá-los como

feiticeiros. Finalmente, estabelecendo-

se como as contrapartes honestas das

fraudes Espiritualistas da época, os

mágicos se posicionaram como aliados

da ciência, ajudando a livrar o público

da superstição.

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O filme se passa na mesma

época e em Londres. Mais

especificamente na Era Vitoriana,

período de rápidas mudanças. Este foi

um longo período de prosperidade e paz

(Pax Britannica) para o povo britânico,

como os lucros adquiridos a partir da

expansão do Império Britânico no

estrangeiro, bem como o auge e

consolidação da Revolução Industrial e

o surgimento de novas invenções,

permitiu que uma grande e educada

classe média se desenvolvesse.

Percebemos essas inovações no “O

Grande Truque” no desenvolvimento

das mágicas de Angier e Borden.

Devido a competição entre eles, ambos

entram no reino das descobertas

científicas. Angier chega a utilizar os

novos e fantásticos poderes da

eletricidade trabalhados pelo cientista

Nikola Tesla.

Nikola Tesla

Nikola Tesla (1856-1943) foi um

inventor radical, engenheiro e cientista.

Nasceu na Croácia, mudou-se para os

Estados Unidos e sonhava com robôs,

computadores, fornos de microondas,

radares e máquinas de fax, muito antes

de alguém imaginar essas tecnologias

“mágicas”.

Ele registrou mais de 700

patentes e ajudou a forjar a nossa

moderna sociedade de alta tecnologia.

Descobriu o campo magnético rotativo,

que se tornou a base para toda a

maquinaria que usa corrente alternada;

também inventou a Bobina de Tesla,

usada na tecnologia do rádio. Foi na

verdade sua tecnologia que ajudou a

transformar o mundo de uma infindável

cadeia de comunidades desconectadas

numa unidade liderada pela informação

e pela comunicação.

Era tão excêntrico que dizem

que foi a inspiração para o cientista

louco nos quadrinhos originais do

Super-Homem, de Max Fleischer. Tesla

forçou todas as fronteiras da ciência, foi

até onde ninguém mais tinha ousado.

No seu laboratório de Colorado Springs,

descrito no filme, ele fazia toda espécie

de experimentos, inclusive forjando

raios. Diz-se que estudava viagens no

tempo, raios da morte e comunicação

interestelar.

Durante uma cena na parte do

filme, Thomas Edison é citado no

momento em que Tesla parte da cidade

rapidamente deixando o telespectador

sem entender. O recepcionista do hotel

ainda pede a Angier para não contar

sobre a “caixa” ao homem de Edison.

Na verdade essa cena é baseada na

história real. Tesla foi empregado na

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Companhia Continental Edison em

Paris. O primeiro encontro entre os dois

não foi nada harmonioso. Tesla faz um

acordo de aumentar em 25% a

eficiência da companhia em dois meses.

Edison não acreditando aceita tendo que

pagar cinqüenta mil dólares caso Tesla

conseguisse.

Tesla depois de um esforço

massivo, virtualmente sem paradas

conseguiu cumprir com a promessa,

melhorando até mesmo mais do que

havia prometida a Edison. Mas, quando

pediu por seus cinquenta mil dólares,

Edison recusou-se a honrar o acordo,

dizendo que estava apenas brincando.

Irado, Tesla demitiu-se e nunca mais

trabalhou com Edison. Dizem que

Thomas Edison invejava o sucesso de

seu antigo empregado com a corrente

alternada, e efetivamente liderou uma

campanha para destruir o nome de

Tesla. Ele organizou demonstrações nas

quais animais eram eletrocutados

letalmente com equipamentos AC.

No filme “O Grande Truque”,

Angier, depois de várias tentativas de

descobrir o método de um dos truques

de Borden, procura Tesla para

desenvolver um número chamado Em

Um Flash, que tem um resultado

similar, mas usa um método totalmente

diferente. Para o truque de Angier,

Tesla desenvolveu um aparelho

realmente capaz de transportar um ser

de um local para outro com o uso da

eletricidade. Na verdade o aparelho

recriava o ser como se fosse um clone.

Porém não há fontes que confirmem o

envolvimento de Tesla com a clonagem.

A transmissão sem fio de energia

elétrica tornar-se-ia a maior pesquisa de

sua carreira. . “Wireless”, na linguagem

moderna. Ele inventou um dispositivo

que aumenta a tensão elétrica em

milhares de vezes, permitindo que raios

e centelhas quebrem a resistência do ar

e possam servir para alimentar

aparelhos situados a quilômetros de

distância. Esse fenômeno é citado em

uma cena do filme. Ressonância elétrica

era a chave desta descoberta. Ao

determinar a frequência da corrente

elétrica necessária, Tesla era capaz de

ligar e desligar séries de lâmpadas

diferentes de metros de distância.

Com relação a criar vida a partir

de eletricidade, Andréia Guerra, Marco

Braga e José Cláudio Reis autores no

artigo “Frankenstein: pode a

eletricidade gerar a vida?” dizem que no

século XVIII a população européia

tinha esperanças de restituir a vida

através da eletricidade. Isso surgiu

devido ao desenvolvimento dos estudos

sobre a eletricidade e principalmente

dos trabalhos do médico italiano Luigi

Galvani.

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O médico trabalhava com a idéia

da existência de eletricidade animal,

representada por um fluido vital mais

conhecido como neuroelétrico. Galvani

refez e criou novas experiências que

utilizavam descargas elétricas como

forma de reviver órgãos e pedaços de

corpos de animais.

Suas invenções demonstraram

ser possível produzir contrações

musculares em rãs sem que fosse

necessário descarga elétrica. Segundo os

autores bastava unir dois fios de metais

diferentes ao corpo da rã, fechando

assim um circuito, que as contrações

eram percebidas. Esses resultaram

reforçaram a tese de que a eletricidade

era a responsável pela vida.

Contudo, na época existiam

filósofos naturais que discordavam da

tese de Galvani. Dentre eles está outro

italiano Alessandro Volta que defendia

uma posição mecanicista, em que

atribuía a forças internas às fibras

musculares a responsabilidade pelo

comando dos músculos, sendo esse

absolutamente involuntário. Apesar das

críticas, Galvani permaneceu exercendo

influência na virada do século XVIII ao

XIX.

O Mágico

Para ser um mágico não basta

apenas ler sobre o assunto, comprar os

aparelhos ou mesmo executar efeitos

mágicos. Um mágico deve ter a postura

de ator, a criatividade de um escritor, a

sensibilidade do poeta, o senso estético

do pintor e a habilidade manual do

artífice. Algumas vezes necessita ainda

da comicidade do humorista e sempre

deve ter o domínio de público do

comunicador de massas. Necessita

também alguns conhecimentos básicos

de física, de química, de fisiologia e,

principalmente, de psicologia.

Acrescente ainda o respeito pelo

mistério, que é a base da sua arte, e ética

e a honestidade.

O mágico além de além de ter a

preocupação diária de ensaiar suas

rotinas e ter pleno domínio das mágicas

que realiza precisa criar um personagem

conforme seu estilo de trabalho. Ele

precisa criar um estilo interessante e

condizente com o personagem e com o

tipo de mágica realizada. No filme ao

retornar aos palcos, antes mesmo de

pensar no show, Angier escolhe seu

personagem e dá-lhe o nome de “O

Grande Danton”.

Outras questões devem ser

levadas em consideração também. O

vestuário é uma delas. A roupa do

mágico deve estar de acordo com o

estilo dele. O corpo é uma das partes

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mais difíceis e trabalhosas na criação de

uma personagem logo deve ser bem

trabalhada e ensaiada. Por isso o

profissional da mágica deve dar a

atenção aos mínimos detalhes da sua

personagem observando o jeito de andar

e a postura, definindo os trejeitos físicos

e trabalhando olhar.

Com o personagem criado, este

deve entrar no contexto de uma peça

teatral. Numa apresentação de mágica,

os truques devem estar acompanhados

de um espetáculo de teatro. Contar uma

história é essencial para tornar uma

apresentação cativante, pois de nada

adianta ter uma técnica avançada e uma

idéia mirabolante e ela não transmitir

emoção no que está realizando.

A parte mais importante da

apresentação é a finalização. Neste

momento todos esperam um final que

supere tudo o que foi , e é nesta hora

que criatividade do mágico tem que ser

explorada ao limite. O clímax de toda a

história deve ser algo inesperado que

surpreenda as pessoas. Isso é retratado

no filme quando Angier deixa seu

melhor truque para o final. Notamos o

público bem apreensivo esperando esse

momento. A mente brilhante por trás

dos truques, o engenheiro Cutter

interpretado por Michael Caine, mostra

a Angier uma mágica nova que iria

atrair todos os olhares e tirar a audiência

de Borden. Essa mágica era a mesma

apresentada no início do filme por

Borden. No truque, um pássaro preso na

gaiola some e reaparece. Na verdade o

pássaro era esmagado e outro era

apresentado a platéia. Uma criança ao

assistir esse truque começa a chorar pois

sabia que o mágico matara o pássaro.

Borden mostra o pássaro ao menino

tentando convencê-lo que não tinha

assassinado o animal mas nada faz a

criança mudar de idéia. O truque

reformulado por Cutter não matava o

bicho. O pássaro era colocado numa

gaiola que não o esmagava. Angier

usada uma máquina por dentro da roupa

que fechava a gaiola deixando um

espaço para o pássaro. O melhoramento

da mágica está atrelado ao

desenvolvimento da ciência, nesse caso

das máquinas. Angier ao apresentar o

truque para o dono da casa de

espetáculos pergunta a ele se já

conhecia esta mágica. O homem

responde que sim mas espera que o

animal não seja morto. O público

também espera inovação ainda mais no

século XIX em que as idéias estavam

borbulhando e a tecnologia crescendo.

O engenheiro foi fundamental na

formulação dos truques de Angier e

Borden. Ele é a figura que cria os

truques com habilidade técnica. Era ele

que compartilhava os segredos que

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faziam os mestres da magia

desaparecer, invocar espíritos, flutuar,

morrer e ressuscitar, por fim. Ao seu

mágico ele dedicava exclusividade. Era

uma relação profissional perfeita e

financeiramente vantajosa. Cutter quem

recoloca Angier nos palcos e traz um

novo truque. Como ele disse deveria ser

cativante, ser o apogeu do show. Cutter

sempre tinha algum método com grande

dose de engenharia aplicada para por

em prática.

Outra figura essencial no

espetáculo é a assistente: são mulheres

charmosas e sensuais que servem como

uma forma de distrair o público. Ela

dever ser destemida também para poder

participar de alguns truques. Antes da

briga entre os mágicos, logo no início

do filme, a mulher de Angier é morta

por um descuido de Borden. No truque

a assistente era amarrada nas mãos e nos

pés e posta dentro de um aquário cheio

d’água. Ela se soltar e sai do aquário

sozinho. Porém num dia Borden faz um

nó diferente, a moça não consegue se

soltar e acaba morrendo. Daí a relação

de Borden e Angier se desfaz e a

rivalidade começa.

O segredo

A mágica nunca deve ser

revelada como é feita. Ao contar o

mágico corre o risco de perder sua

audiência. O público não acreditará

mais que ele seja capaz de fazer coisas

incríveis. Talvez nunca mais seja visto

como mágico. A completa essência da

mágica vem do mistério e dos segredos

que ela guarda. Quando você descobre o

segredo, a essência se perde e a

fascinação pelo efeito não volta mais.

No caso do filme os dois

mágicos escondem seus truques num

criptograma. O objeto era um caderno

que apenas poderia ser lido com uma

palavra. Criptograma é um gênero de

quebra-cabeças matemáticos com

operações aritméticas onde os

algarismos foram substituídos por letras

do alfabeto ou outros símbolos.

O primeiro criptograma

registrado nos E.U.A. foi publicado em

1864 no periódico American

Agriculturist. Em todos os tempos, os

estadistas e diplomatas utilizaram o que

se chama linguagem cifrada, para

assegurar - de modo bem ilusório - o

segredo de suas comunicações, caso

caíssem em mãos adversárias ou rivais.

Os sistemas para isso usados, desde a

origem dos tempos, são inumeráveis;

mas a despeito de sua variedade, não há

cifra que não possa ser descoberta por

uma pessoa de espírito arguto. O

criptograma vem dos tempos de

Homero. A Grécia possuía um sistema

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de cifra chamado scytale. O scytale era

um bastão confiado aos generais

lacedemônios para sua correspondência

militar. Enrolava-se em torno desse

bastão uma estreita tira de papiro e

escrevia-se nela, assim enrolada em

linha reta, ao longo do bastão. Uma vez

desenrolada, a escrita não tinha sentido

e só podia tê-lo enrolada em um bastão

perfeitamente igual. Depois disso a

criptografia (do grego kruptos - secreto

e graphos - escrever ) fez consideráveis

progressos. O criptograma ficou mais

visível ao aparecer no filme “O Código

da Vinci” de Dan Brown. Neste filme

diversos segredos estavam codificados

ficando a cabo culta Sophie, neta do

curador do Louvre, Jacques Saunière,

do Departamento de Criptografia da

Policia Judiciária de Paris, de desvendar

os códigos para descobrir a verdade

sobre sua história e o assassinato de seu

avô.

Conclusão

Mágicos são artistas que usam

artifícios e efeitos que fogem ao

raciocínio comum. Trata-se de uma arte

baseada primordialmente na sua

habilidade e na sua capacidade de

persuadir. Seus efeitos são como um

quebra-cabeça, que além de alegrar e

divertir, torna-se um desafio à

inteligência dos espectadores, que não

conseguem explicações lógicas para

aquilo que vêem. Eles ainda se utilizam

de aparelhos criados e desenvolvidos

pela ciência. Por isso eles têm um pouco

de noção sobre essa área.

Muitos mágicos estão à frente

dos cientistas quando se trata de

compreender algumas das

peculiaridades da percepção humana.

Um estudo, publicado na última edição

do jornal Trends in Cognitive Sciences

(Tendências em ciências cognitivas),

nos mostra como elementos da cognição

humana - como a consciência e a

percepção - poderiam ser explicados

pelo sucesso de algumas técnicas

utilizadas por mágicos. Truques de fazer

com que objetos desapareçam, por

exemplo, contam com a idéia de que só

estamos conscientes de uma pequena

parte do que está no nosso campo

visual. "Apesar de que algumas

tentativas foram feitas no passado para

desenhar ligações entre magia e

cognição humana, o conhecimento

obtido por mágicos tem sido largamente

ignorado pela psicologia moderna",

disse o pesquisador Ronald Rensink,

especializado em visão e cognição na

University of British Columbia, no

Canadá, segundo publicação da Live

Science.

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O mágico não está sozinho

apenas com sua habilidade. Diversos

outros elementos estão por trás dele

para que um espetáculo ocorra. O filme

“O Grande Truque” mostra bem os

bastidores de um show de mágica por

meio de uma história intrigante de

disputa entre dois grandes mágicos. E

este artigo tentou abordá-los para

esclarecer ao grande público.

Referências:

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Page 15: Filme: O Grande Truque - culturalifrj.files.wordpress.com€¦ · Web viewLuisa da Fonseca Tavares (Tabita Caroline dos Santos Bastos ** RESUMO. Este artigo vem tentar esclarecer

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eletricidade gerar a vida? Ciência em foco: o olhar pelo cinema. Rio de

Janeiro: Garamond, 2008.

Dicionário:

MÁGICA. In: MINI-AURÉLIO Século XXI Escolar. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2001.

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