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O Filho Pródigo e Rembrandt

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Page 1: Filho prodigo

O Filho Pródigo

eRembrandt

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Trabalho TranscritoDe uma

Palestra deDivaldo Franco

Page 3: Filho prodigo

Lucas Cap 15, 11 - 32

Um homem tinha 2 filhos.

Disse o mais moço a seu pai:- Meu pai, dá-me a parte dos bens que me toca.

Ele repartiu seus haveres entre ambos.

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Poucos dias depois o filho mais moço ajuntando tudo que era seu, partiu para um país longínquo e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.

Depois de ter consumido tudo, sobreveio a aquele país uma grande fome e ele começou a passar necessidades.

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Foi encontrar-se com um dos cidadãos naquele país e este o mandou para os seus campos guardar porcos.

Ali desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhe as dava.

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Caindo porém em si, disse:- Quantos jornaleiros de meu pai tem pão com fartura e eu aqui estou morrendo de fome!

Levantar-me-ei, irei a meu pai e dir-lhe-ei:- Pai, pequei contra o céu diante de ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho, trata-me como um dos teus jornaleiros.

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Levantando-se foi para seu pai.

Estando ele ainda longe, seu pai o viu e teve compaixão dele e correndo o alcançou e o beijou.

Disse-lhe o filho:- Pai, pequei contra o céu e diante de ti, já não sou digno de ser chamado teu filho.

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O pai porém disse a seus servos:

-Trazei-me depressa a melhor roupa, vesti-lha e põe-lhe o anel no dedo e sandália nos pés. Trazei também um novilho cevado, matai-o. Comamos e regozijemo-nos, porque esse meu filho era morto e reviveu, estava perdido e se achou.

E começaram a regozijar-se.

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Seu filho mais velho estava no campo.

Quando voltou e foi chegando a casa, ouviu a música e a dança e chamando um dos criados perguntou-lhe o que era aquilo.

Este lhe respondeu:- Chegou teu irmão e teu pai mandou matar um novilho cevado, porque o recuperou com saúde.

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Ele se indignou e não queria entrar.

E saindo seu pai, procurava concilia-lo.

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Mas ele respondeu a seu pai:- A tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir uma ordem tua e nunca me destes um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos! Mas quando veio este teu filho que gastou seus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele um novilho cevado.

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Replicou-lhe o pai:

- Filho, tu sempre estás comigo e tudo que é meu é teu, entretanto cumpri a regozijarmos e alegrarmos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e se achou.

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A parábola é inconclusa, nós não sabemos exatamente o que aconteceu a partir daí.

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Para nós podermos entender bem esta parábola, vale a pena que retrocedamos um pouco e observemos em a narrativa do evangelista, que Jesus estava sempre ao lado das pessoas infelizes.

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É notável observar-se por exemplo, que ele preferia as meretrizes, os ébrios, os hansenianos, todos estes condenados taxativamente pelos códigos de ética de Israel.

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Israel tinha uma lei com 613 preceitos. 365 eram preceitos para os dias. Naquela época o ano era lunar, então o número de preceitos diários eram menor. E os outros preceitos eram as obrigações para com o corpo, para com a família, para com Deus, para com o sinédrio.

E então Jesus preferia quebrar todos esses preceitos, para colocar a lei de amor.

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E narra Lucas, que logo no começo do Seu ministério, ao estar com os infelizes, Ele era duramente censurado pelos fariseus.

Que perguntavam:- Por que Ele come com os pecadores?Por que as meretrizes?Os hansenianos?

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E as pessoas chamadas brahms haas harres, os excluídos, eram cancelados do livro dos vivos.

Toda vez que o indivíduo delinquia ou era vítima de uma doença irreversível, era expulso da cidade e tinha o seu nome tirado do livro dos vivos.

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Por isso que, toda vez que, quando Jesus recuperava alguém, dizia:

- Agora vai e apresenta-te aos doutores para que eles saibam o que pode fazer aquele que veio em nome de Deus.

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Então certo dia estando Jesus a dialogar com os infelizes e os fariseus reprochando com os seus discípulos, Ele ouviu serenamente e com a Sua sabedoria. Ele aproximou-se daqueles rebeldes dominados pela sombra e narrou 3 parábolas.

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Qual o homem que tendo 100 ovelhas e uma delas se perca, não abandona as 99, para ir procurar aquela que estava perdida?

E quando a encontra, rejubila-se e convida os seus amigos, dá uma festa e diz:- A ovelha que eu havia perdido está recuperada, alegrai-vos.

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E logo depois:Qual a mulher que tendo 10 drácmas, (uma moeda grega), e havendo perdido uma, não toma de um candeeiro, não varre a casa, não a procura até encontrá-la? E quando a encontra, o júbilo que a domina é tão grande, que ela diz a suas amigas:- Encontrei-a! Encontrei a moeda que estava perdida.Assim também rejubilai-vos.

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Conta por fim a terceira parábola, a da compaixão, a da misericórdia.

Se nós examinarmos do ponto de vista da psicologia analítica, notemos a sabedoria de Jesus.

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Primeiro Ele usa a figura masculina: Animus

Qual o homem?

O animus é a característica forte do hebreu.

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Qual o homem portanto que não se rejubila quando ele consegue reabilitar-se?

A ovelha pode ser um self. A superação do ego reencontrando o self.

Quando o indivíduo faz essa fusão entre aquilo que aparenta e aquilo que é, que alegria!

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Ele diz aos amigos:

- Você não imagina a luta que tenho travado!Você não tem ideia do meu esforço!A minha existência é uma peregrinação permanente na busca da realidade que eu sou.

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E logo depois Jesus se utiliza da figura feminina qual da mulher, a Anima.

Que havendo perdido uma drácma, não a vai procurar?

Qual é a mulher?

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A nossa anima, ela está em todos nós, que depois de qualquer prejuízo não se procura reabitar?

Encontrar um sentido existencial para poder ficar integrado no conserto universal?

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Então as 2 primeiras parábolas são eminentemente psicológicas.

A Anima e o Animus integram-se a terceira parábola, a parábola do filho pródigo, que está muito bem representada por este quadro notável de Rembrandt.

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Este quadro foi produzido no ano de 1667 a 1669.Rembrandt foi considerado um dos maiores pintores no claro escuro.Ele conseguia arrancar da treva, a realidade dos seus desenhos.E quando ele já estava velho, ele dedicou-se a pintar particularmente idosos e cegos, porque ele foi perdendo a vista.

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A história de Rembrandt, também é uma história notável da psicologia humana, da busca da verdade.

Ele nasceu em Leyden, numa cidade da Holanda, no ano de 1606.

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E logo, por volta de 1634, ele casou-se com uma jovem muito bela, muito rica, a quem muito amou, Saskia.

A vida de Rembrandt faz muito lembrar a vida do filho pródigo, porque eles tiveram 3 filhos que nasceram e morreram sucessivamente.

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O quarto filho de nome Titus sobreviveu, mas veio a morrer depois.

Quando sua mulher morreu, Saskia, ele entrou em desespero.

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Ele era muito narcisista.

Os seus auto retratos iniciais são todos eles com roupas de veludo, com chapéus de pluma, como sendo dos homens mais gozadores de Amisterdã.Amealhou uma grande fortuna.

Mas com a morte de Saskia, ele perdeu a direção da vida e entregou-se as dissipações.

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Teve relacionamentos desastrosos.

E por fim casou-se com uma mulher que era portadora de alucinações mentais.

Os biógrafos variam muito, dizendo que o caráter de Rembrandt não era dos melhores e que ele internou a mulher num hospício para poder ver-se livre dela.

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Então foi isto, ele experimentou uma grande dor, quando então casou-se pela terceira vez.

Mas nesse período ele havia malbaratado toda fortuna e os seus bens foram levados a leilão 2 vezes.

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Ele foi reduzido a miséria mais extrema, de tal forma que ele foi residir num bairro miserável de Amisterdã, onde ele produziu telas incomparáveis como a descida da cruz, que é uma tela de um vigor incomum, em que no meio da sombra, ele coloca o corpo de Jesus em Luz, portando no estado luminoso.

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Porque é o primeiro pintor que tira Jesus da cruz sem a coroa, é um Jesus totalmente livre, sem ego, que havia atingido a plenitude do Reino dos Céus ainda na terra.

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Um pai tinha 2 filhos, mas em verdade não tinha filho nenhum.

Porque um viajou, foi embora e o outro ficou, mas não por amor a seu pai, ficou na expectativa da herança.

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Porque entre os hebreus da época, quando os filhos atingiam a idade adulta, eles podiam reivindicar a herança e foi o que aquele jovem fez:- Dai o que é meu, meu pai.

E o pai lhe deu. Vendeu alguma coisa para dar-lhe tudo em moedas.

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E depois de lhe dar as moedas, o jovem viajou e foi para um país distante.

Esse país distante, na colocação junguiana é o self.

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Nós sempre estamos viajando para longe do self.

O ego, a sombra, sempre nos leva para a perdição, com falsas perspectivas de triunfo, de glória, de júbilo.

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E o pai que o amava muito e amava muito aos 2 filhos, deu-lhe tudo aquilo que ele queria e o jovem foi.

Foi cercado de luxo e de poder.

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E nesse país distante ele era um alienígena, porque não pertencia a aquela raça, não participava dos costumes, mas era rico e a riqueza sempre atrai os bajuladores, como a carne podre sempre atrai os abutres e as hienas, porque não são amigos, são interesseiros.

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São aqueles amigos da mesa farta, são aqueles que não tendo brilho, ficam ao lado de pessoas importantes, para poderem brilhar na sua claridade.

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E o jovem esqueceu completamente do pai, como o nosso ego esquece da realidade que somos e por extensão da divindade.

Na hora das nossas alegrias, raramente nos lembramos de Deus.

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Nós pedimos tudo, antes de reencarnar nós pedimos mesmo os meus haveres, porque eu pretendo viajar para um país distante.

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E a sombra toma conta de nós.

Desfrutamos, gozamos, malbaratamos os bens, a saúde, a organização física, as emoções e de repente... de repente jogamos tudo fora como fez o jovem.

Ele desfrutou, gozou ao máximo e como era inevitável, de repente ele estava na miséria.

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E ao estar na miséria os amigos abandonaram-no, porque não eram seus amigos, eram amigos dos seus bens.

Há um ditado náutico que diz, que os ratos são os primeiros a abandonar os navios quando estes naufragam.

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Assim também são os falsos amigos, eles ficam acompanhando a decadência e usurpando até o momento em que o outro cai em desgraça e ele foge para não ser arrastado na mesma onda de decadência e no íntimo, goza... goza de ver a ruína dos outros.

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Naquele momento em que ele estava na miséria, veio uma seca.

Como diz o ditado: Uma miséria nunca vem a sós, sempre vem acompanhada de outra.

Então advindo a miséria, graças a seca, ele ficou ainda mais arruinado.

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E por ser estrangeiro, por ser judeu, ele não tinha amigos, recorreu a um conhecido e pediu um trabalho.

Ele não desejava ficar as costas daquele conhecido, pediu trabalho.

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Nosso ego quando se dá conta das dissipações arrepende-se.

Arrepende e procura uma solução apressada que seja, sem pensar, qualquer solução serve.

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E o amigo sabendo que ele era judeu, para humilha-lo, para degrada-lo, porque ele havia sido seu competidor, mandou-o cuidar de porcos.

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Ora veja, cuidar de porcos é uma das piores funções que se pode dedicar a um servo de Israel, por várias razões:

Porque pela tradição, porco é um animal imundo, ele é portador de uma enfermidade que pode afetar o indivíduo.

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Quando os ovos, essas larvas desenvolvem-se no organismo humano são sempre fatais, especialmente quando vai ao coração, quando vai ao cérebro.

Então o judeu detesta o suíno, sequer pronuncia-lhe o nome.

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E aquele amigo perversamente colocou-o para cuidar de suínos e ele vai cuidar.

E a fome era tal, que a alfarroba que era jogada para os suínos, não dava para ele.

A alfarroba tem uma semente dura, espinhosa, que os suínos roem.

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E então naquela mendicância, naquele estado de desesperação, ele tem um insight.

Sempre a sombra lembra-se do self, sempre a aparência tem aquele momento que descobre que não é isto.

Eu não sou isto! Eu estou isto.

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É o momento a que Joanna se refere como a experiência da iluminação.

E ele aí diz:- Não, eu não preciso de estar aqui, eu estou auto punindo-me, eu vou procurar meu pai.Eu lhe direi... eu lhe direi que estou arrependido, porque meu pai é um homem bom.

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Então ele recorda-se do pai que é tão bom e diz:- Eu lhe peço perdão, eu pequei contra Deus, porque fui cuidar de porcos, o que é proibido pela torá e pequei contra ti, porque eu te abandonei.

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E com este sentimento de entusiasmo, ele volta.Ele sai do país distante e volta para casa.

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- Meu pai tem tudo em abundância!E eu nem quero ser mais seu filho, eu quero ser seu empregado.

E então ele parte para casa e vai jubiloso, na certeza de que o pai o espera.

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A parábola tem um detalhe comovedor:

Dizia o pai:Quando o viu saiu correndo, porque o pai sabia que ele ia voltar e estava sempre olhando, com seus olhos cansados ele olhava a estrada que serpenteava a distancia, porque ele sabia que o filho inexperiente ia voltar a casa.

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É curioso notar como ele está destroçado!

A aparência dele gasta!

Como ele se encontra roto!

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Toda miséria... como ele se encontra com os cabelos raspados, o que em Israel era uma ofensa ao tal muth.

Raspar os cabelos, raspar a barba do corpo, era imitar os romanos e os romanos eram detestados, daí não se cortavam o cabelo nunca, nem a barba.

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Então o pai vai e beija-o.

O beijo na face tem um significado profundo.

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Veja Jesus quando vai a casa do rico, para um banquete e a mulher vai lavar-Lhe os pés com unguento e o rico censura.

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Ele diz:- Quando vim a tua casa não me beijaste como é recomendado, não me deste água para as abluções, mas esta mulher desde que chegou chora e com as suas lágrimas, lava os meus pés e os enxuga com seus cabelos.

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Se nós observarmos a mão esquerda deste homem, essa mão esquerda é grosseira, é o Animus, é a mão que trabalhou a terra, é a mão do arado.

A outra mão é a mão direita, os dedos mais longos, não calejados, é a Anima.

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E então é curioso notar também o olhar e este é um olhar duro, um olhar masculino, como quem diz:

- Eu sabia que você ia voltar. Você abandonou-me porque era inexperiente.

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E este outro olhar é de infinita ternura.

Esta mão pousa suavemente. A outra crava e crava na parte rasgada do tecido, para o contato com a pele.

Rembrandt consegue penetrar na simbologia junguiana de uma maneira impressionante.

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Então o que sucede: Nós vamos ver que ele está com os sapatos rotos.

Entre os judeus é um sinal de indignidade.

Só os escravos andavam descalçados.

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A primeira providência do pai é:- Traga-lho um par de sandálias para caçar-lhe os pés.

Aí estão os pés experimentando a destruição do tempo, tudo aquilo que a perversão lhe fez.

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Então a ternura deste pai vigilante:- Traga-lhe o manto.

O manto que caracterizava a ordem, o poder e também a abundância, é o sinal.

Nós veremos também Jesus muitas vezes usando o manto, característico da nobreza israelita.

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Então nós observamos ai a figura de todos nós semidestruídos, amargurados, sofridos, voltando a casa de Deus.

- Vinde a Mim todos vós que estais cansados e aflitos. Tomais sobre vós o Meu fardo, recebei o meu julgo e aprendei comigo que sou manso e humilde de coração.

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Então observemos bem o dedo tocando o filho com imensa ternura.

E nós temos aqui uma proposta cósmica:

A cabeça do filho está praticamente no cosmo, no centro cardíaco, no plexo solar do pai.

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E se nós observarmos o trabalho de Rembrandt, o rosto está inconcluído.

Por que?

Porque o renascimento leva-nos a infância. Ele é um feto.

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A proposta de natureza teológica, é que com isso nasce uma nova teologia:

Deus não é aquele ser distante, é o Pai amor que está ao alcance do nosso grito, basta que nós lhe peçamos socorro e Ele distende as mãos generosamente e vem atrás de nós, vem nos buscar.

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E Rembrandt vai adiante mostrando os pés, que tem um significado psicológico muito grande: Os pés são nossos alicerces, são as raízes que nós plantamos no solo para podermos ficar apoiados em nossa segurança.

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Então os pés tem que ser revestidos para que dê dignidade ao corpo. Foram as sandálias que o mandou buscar.

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E há um detalhe curioso, o anel:-Traga o anel.

Que indicava o indivíduo como proprietário das terras, como membro da família.

O filho queria apenas ser um servo.

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Mas quando é que um filho é servo de um pai?

O Pai sempre nos vê a todos da mesma forma, com a mesma ternura, com a mesma majestade, com o mesmo carinho.

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E logo Rembrandt nos oferece algo peculiar que não está na parábola:

Uma testemunha, alguém que está observando a cena.

Essa testemunha Animus.

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O apóstolo Paulo dirá:

- Há uma testemunha, uma nuvem que nos acompanha, são os espíritos. Todos os nossos atos estão observados.

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Uma testemunha masculina.

Sempre há alguém a que nós vemos um ser físico.

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Mas, prossegue Rembrandt:

Com uma figura feminina: o Ânimus e a Ânima.

Ninguém sabe de quem se trata essa mulher, ela não está na parábola.

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Observem os olhos desmesuradamente abertos, ela está olhando a atitude do pai, ela está surpresa.

Porque ninguém em Israel aceitaria um réprobo de volta, que gastou seu dinheiro com as meretrizes.

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Mas então sucede algo muito bonito na cena:

Na cena nós vemos o irmão mais velho e Rembrandt pinta-o de uma forma especial:

A palidez dele é quase mortal, os olhos estão cravados no irmão, o que não aconteceu.

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Porque o irmão entrou e ele chegou depois.

Quando ele chegou depois estranhou a festa:

- Mas o que é isto?

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E os servos disseram:

-Teu pai que recebeu de volta teu irmão e como ele estava vivo, estava salvo, teu pai mandou matar o novilho mais gordo, que sempre era reservado para um banquete.

Então ele foi dominado pela sombra, o ressentimento.

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E Joanna de Ângelis escreve isto como uma maneira grandiosa no livro.

Esse ressentimento dele, não é porque o irmão voltou, é porque veio talvez tirar a parte da herança dele. Não era por amor ao pai, ele não estava ali por amor como eu já disse, esperava o pai morrer, para entrar na herança toda e recusou-se a entrar.

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Então quando o pai soube, foi correndo até ele e lhe disse:-Meu filho! Meu filho! diz o pai: Entra. Teu irmão estava morto.

Não sei se notaram um detalhe: Este teu filho que gastou tudo com as meretrizes.

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Ele não chamou o filho do homem generoso de seu irmão.

Ali estava a competição máxima, a sombra densa.

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Tu o recebes e mandas matar um novilho!

O ciúme: A mim tu não me dás nem um cabrito para eu comemorar com os meus amigos.

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E o pai diz:Para mim é o momento culminante da parábola

- Meu filho, tudo que é meu é teu.

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O pai sabia que ele estava com medo de perder a sua parte.-Tudo que é meu é teu. Tu sempre estivestes comigo.

Mas ele não, ele estava perdido e ele foi achado.

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E então há um detalhe curioso, da tela, há uma pintura tão delicada, eu consegui descobrir com uma lupa, é impressionante, é que eu pedi a um especialista para clarear e notem o que aparece:

Uma mulher.

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E Joanna de Ângelis me disse:- É a mãe.

Porque a parábola fala que um pai tinha 2 filhos. Não fala que era um pai viúvo, a mulher deveria estar morta.

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E essa mãe que nunca deixou o filho, foi buscar o filho, trouxe para o pai, atraiu o outro e fez o triângulo do equilíbrio.

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É notável nós observarmos o semblante generoso da mãe. Ela ali está trazendo o filho ao regaço.

Deus Pai, Deus Mãe.

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E neste momento, o irmão mais velho fica profundamente magoado e o seu olhar agora é duro, é um olhar de severidade.

- Para que voltou, infame! Por que veio tirar de mim aquilo que é meu?

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Notem as mãos, a postura das mãos em defesa.

Ele segura o cajado.

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Notem o cajado, ele está torto da pressão que ele faz com tanta força.

Ele servia para expulsar os espíritos.

Portanto aí está como ele segura o cajado, com todo vigor, o que ocorre a sutileza de Rembrandt.

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Que ternura de olho, na tela agente não vê direito.O olhar agora do pai, severo. Da mãe dócil.

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Da mãe que diz:

- Que bom meu filho! Quanto foi bom você ter chegado de volta!Como ela o bem diz!

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Então nós verificamos agora a tela integral e quase o desaparecimento da figura da mãe.

A cena total representando portanto nosso retorno a casa do Pai, depois de peregrinarmos longamente por este país muito distante.

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Então Joanna de Ângelis disse-me e escreveu no seu livro:

- Meu filho, como a parábola ficou no ar porque o pai pede para que ele volte, diz que ele é também filho amado e encerra-se.

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Joanna me disse:

- Quando o filho pródigo soube que seu irmão estava muito magoado com a sua volta, ele foi ao seu irmão, ajoelhou-se-lhe aos pés e pediu-lhe perdão.

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E disse-lhe:

- Perdoa, eu não venho tomar o teu lugar. Tu és o filho bom, és aquele que suportou o vendaval, a canícula, o frio, a chuva, enquanto eu desperdiçava os bens de meu pai que ele me deu, com as meretrizes, aceita-me de volta.

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E então Joanna diz:

- Diante do gesto de humildade ele desarmou-se, abraçou ternamente teu irmão, tendo-o de volta ao seu regaço.

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