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MARCELO MENA

2

MARCELO LEMES MENA

AS AVENTURAS DE JORGE

NA BUSCA DOS IMORTAIS

ISBN: 978-85-912042-1-2

1° edição

São Paulo

Edição do autor

2013

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

3

DEDICATÓRIA

Dedico este livro as minhas filhas e esposa.

MARCELO MENA

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade de escrever a continuação

do livro, aos meus alunos e amigos que tanto aguardaram por

esta obra.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

5

Índice

Uma Nova Viagem..........................................................................06

Jorge e o Sobrenatural....................................................................37

Viajem ao Egito.............................................................................62

Um Roubo Estranho......................................................................85

Sequestrados ................................................................................98

Os Atanasianos...........................................................................123

Conhecendo os Céus .................................................................138

Voltando pro Cairo....................................................................174

Encontrando as Chaves.............................................................184

Terra Santa...............................................................................208

Tesouro de Salomão.................................................................226

Voltando pra Casa....................................................................254

A Verdade.................................................................................270

Consertando a Máquina............................................................308

Ana e Pedro..............................................................................320

Decifrando a Caixa do Cetro...................................................327

Terra de Akmelon....................................................................334

MARCELO MENA

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AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS

IMORTAIS

Capítulo 1

Uma Nova Viagem

A máquina começou a fazer um barulho forte e logo uma luz

começou a brilhar, e podíamos sentir a máquina se

movimentando, a luz era intensa, os relógios marcavam uma

contagem regressiva, estava chacoalhando bastante, era bem

diferente de quando viajamos pra terra do Harmes, parece que

estava levando mais tempo para parar, então a luz começou

aumentar bem mais forte, já não dava pra ficar com os olhos

abertos, e aos poucos a intensidade da luz foi diminuindo e o

barulho da máquina foi parando, e podíamos ver que tudo estava

escuro, não dava pra enxergar nada ao redor.

- Vocês estão bem? – Perguntou o senhor Simon!

- Sim, eu estou e você, Sandra?

- Estou bem, onde estamos? – Respondeu Sandra se soltando do

cinto!

- É isso que vamos ver, parece que chegamos algum lugar de

noite. – Falou o senhor Simon todo empolgado.

- E agora, vamos sair? – Perguntei.

- Primeiro, vou ligar os faróis que instalamos e vamos ver o que

temos aqui fora.

Assim que o senhor Simon ligou as luzes, foi incrível podíamos

ver algumas vegetações ao redor e algo se movimentou ao nosso

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

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lado e quando olhamos para ver o que era, levantou, batendo as

asas.

- O que era aquilo? – Gritou Sandra me agarrando pelo braço.

- Calma, era apenas uma coruja. Onde será que estamos senhor

Simon?

- Pelos cálculos do computador estamos no ano de 162 antes de

Cristo.

- Então não viajamos milhões de anos?

- Pelo jeito não, Sandra!

- Ah! Pensei que ia ver dinossauros. – Falou Sandra com um

olhar decepcionada.

- Graças a Deus! Eu não estava a fim de passar sufoco

novamente. Podemos sair da máquina e dar uma olhada por aí,

senhor Simon?

- Só vou pedir pra vocês tomarem cuidado, e temos que ficar

todos juntos, pois não sabemos o que podemos encontrar.

Saímos da máquina e andamos um pouco, a luz da máquina

iluminava bem o lugar, e percebemos que estávamos em cima

de uma montanha, e podíamos ver sinais de fogo bem ao longe e

espalhado, mas não conseguíamos perceber o que era, pois

estava escuro.

- Olha, Jorge! Lá embaixo, parece ser cavalos caídos no chão.

- Estão mortos, Senhor Simon?

MARCELO MENA

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- Acredito que sim, estamos no fim de uma batalha, pode ver

que tem alguns homens caídos e com flechas cravadas no corpo.

- Não estou gostando daqui. Houve alguma batalha nesta época?

- Que eu me lembre, a única batalha que houve nesta época foi à

libertação dos Macabeus, e isto ocorreu próximo a Jerusalém!

- E que batalha é essa?

- Essa batalha, Jorge, foi iniciada com o sacerdote Matatias e

seus filhos em busca de libertação do povo Judeu, onde queriam

voltar à prática religiosa e sair da idolatria imposta pelos

helenistas.

- Eu não quero saber quem é Matatias e nem helenista e só tenho

uma certeza, senhor Simon.

- E qual é, Jorge?

- Que temos de sair daqui o mais rápido possível, se aqueles

homens estão mortos, provavelmente quem os matou estão por

aí também.

- É, Jorge, acho que você tem razão. Vamos voltar pra máquina

e retornar. Cadê a Sandra?

- Sandra? Ela estava bem aqui.

- Ela sumiu, Jorge. Vamos ter que procurá-la!

Nesta hora, começamos a olhar ao redor e havia muitas pedras

ficava difícil achá-la, começamos a gritar então ela respondeu

por detrás de uma pedra, e corremos até lá, ao chegarmos vimos

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

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a Sandra paralisada e bem na sua frente havia um homem

deitado no chão com duas flechas na barriga.

- Sandra, porque você se afastou de nós? – Perguntei.

- É que escutei um barulho e achei que fosse outra coruja, então

vim olhar e vi este homem. Será que está morto?

- Sei lá, vamos embora que não quero levar nenhuma flechada!

- Espere, Jorge, o homem está se mexendo!

Nesta hora, o senhor Simon segurou a cabeça do homem que

abriu os olhos e agarrando a roupa do senhor Simon, começou a

falar uma língua que nunca tinha ouvido na minha vida, e ele

tirou de uma bolsa de couro um rolo de pergaminho amarrado e

entregou para o senhor Simon, e nesta hora o homem deu seu

ultimo suspiro.

- Ele morreu, senhor Simon? – Perguntou Sandra quase que

chorando.

- Sim, Sandra, não tinha mais o que fazer! – Disse o Senhor

Simon, olhando para o pergaminho.

- E o que é este pergaminho? O senhor entendeu o que ele

falou?

- Um pouco, Jorge, ele falava grego e pelo que entendi era pra

esconder ou guardar este pergaminho dos inimigos de Deus,

pois levará ao dinheiro de Salomão.

- Dinheiro de Salomão? Será algum mapa? E onde o senhor vai

guardar isto? Ele não vai interferir na história ou no tempo?

MARCELO MENA

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- Calma, Jorge. Eu acredito que não iremos interferir no tempo

ou na história, pois tudo já aconteceu, e não podemos mudar

nada.

- Isto é papo de cientista louco. E agora o que vamos fazer com

o morto? Vamos deixá-lo aqui?

- Sandra, não podemos mais perder tempo aqui. Podemos estar

correndo perigo, temos que voltar para a máquina e retornar.

Acho que o melhor lugar para guardar este documento será no

futuro, e poderemos decifrar e entender o que é isto! – Falou o

senhor Simon.

- Senhor Simon, há pessoas vindo pra cá!

- Aonde, Jorge?

- Olha lá para trás!

- Vamos correr até a máquina.

Nesta hora, a Sandra saiu em disparada, parecia uma atleta

tentando alcançar o primeiro lugar. Os homens que vinham em

nossa direção pareciam um grupo de caçadores falando àquela

língua que não dava pra entender nada, eles estavam com lanças

e espadas que brilhavam com o aparecimento do sol. Corremos

até a máquina. Para a idade do Simon até que ele correu muito

rápido, os homens então pararam assustados, não sei se por ver

um velho correr tão rápido ou pela máquina, pois acredito que

nunca tinham visto algo tão luminoso. E nem preciso dizer que

fui o último a chegar à máquina.

- Vamos entrem! Acho que eles querem o pergaminho! – Disse

a Sandra já colocando o cinto de segurança.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

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- Será que viram o homem te entregando o pergaminho?

- Talvez eles sejam os inimigos de Deus, Jorge!

- Eles não estão com uma cara muito boa! – Falei.

- Então devolve pra eles, senhor Simon!

- Não posso, Sandra. O homem me pediu pra guardar, eles

podem ser os inimigos!

- Eles eram os inimigos só daquele homem, agora pelo jeito

viraram nossos inimigos também, mas acho melhor discutirmos

isso lá na sua casa senhor Simon!

- Boa ideia, Jorge!

Entramos na máquina e os homens ficaram falando mais baixo,

e um deles estava com arco e flecha e se aproximou um pouco

mais.

- Senhor Simon, o vidro aguenta flechada? – Perguntei.

- O vidro é resistente, mas a lataria talvez venha furar! –

Respondeu o senhor Simon, fechando a porta.

- Liga logo essa máquina e vamos embora, pelo amor de Deus!

- Vou ligá-la, Sandra!

Neste momento ouvi uma flecha bater no vidro, e a máquina

começou fazer barulho, alguns homens correram de medo, mas

o que estava com o arco continuou flechando a máquina, então

começou a iluminar tudo e a vibrar bastante, um barulho forte

começou a fazer debaixo do painel, um cheiro forte de

queimado começou a subir. A Sandra segurou a minha mão com

MARCELO MENA

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força e começou a chorar, mas em pouco instantes estávamos de

volta na sala do senhor Simon.

- Puxa foi por pouco. Parece que a máquina foi danificada. –

Falou o senhor Simon.

- Nunca mais quero viajar com vocês, esse negócio dá medo,

pensei que ia morrer!

- Eu te avisei, Sandra!

- Calma gente! Isto foi apenas um acidente! Nem eu esperava

cair no meio de uma batalha! – O senhor Simon falou isto já

com um extintor de incêndio na mão.

- Ainda bem que chegamos vivos! – Falei.

- Verdade, Jorge! – Disse Sandra com os olhos ainda molhados

de chorar.

Saímos da máquina e vimos que algumas flechas perfuraram a

lataria e atingiram as placas internas.

- E agora, senhor Simon, vai ter conserto?

- Vou ter que verificar, Jorge, tentar consertar de novo!

- Não acredito que vocês vão viajar de novo, essa viagem pra

mim valeu, por isso não me convide mais!

- Mas foi você mesmo que se convidou, Sandra!

- Eu sei, mas mesmo assim, não quero mais!

- Sem problemas. – Respondi.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

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- E o pergaminho, senhor Simon. Podemos ver? – Perguntei por

que estava curioso pra saber o que tinha.

Então, o senhor Simon abriu o rolo, que tinha aproximadamente

um metro de comprimento, sobre uma mesa e estava cheio de

escrita estranha.

- Que língua é esta, Senhor Simon?

- Parece ser Sírio antigo, Jorge.

- E o senhor entende?

- Não, Sandra, mas tenho um amigo que poderá nos ajudar, vou

tirar cópias e mandar pra ele.

- Parece ter um mapa desenhado aqui no final, senhor Simon!

- Deixe-me ver. Sim, parece um mapa.

- Mas de onde será?

- Não sei ao certo, Jorge, a escrita é muito diferente, nunca vi

algo parecido.

- Jorge, me leva pra casa, quero beber um chá e me acalmar! –

Falou a Sandra, já pegando sua bolsa.

- Senhor Simon, nós vamos indo, depois nos falamos.

- Certo, Jorge, enquanto isso, vou ligar pra este amigo meu e ver

o que ele consegue descobrir.

- Até mais, senhor Simon, desculpe atrapalhar a viajem! – Falou

Sandra, ainda tremendo.

MARCELO MENA

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- Que isso, se não fosse por você, não teríamos achado aquele

homem e o pergaminho!

- Não sei se foi uma boa coisa, mas não quero mais viajar!

- Calma, Sandra. Acho que vai demorar pra viajarmos

novamente, a máquina ficou bem danificada.

Saímos da casa do senhor Simon e fomos caminhando até a casa

da Sandra.

- Olha, Jorge, o que será aquele pergaminho?

- Não sei, mas estou vendo que o senhor Simon vai até o fim do

mundo pra descobrir!

- Ele é bem curioso, não é?

- Ele é um cientista, o pior é que ainda vai sobrar pra mim!

- É muito perigoso viajar no tempo, Jorge. Melhor você não ir

mais, pois vou ficar preocupada.

- Que isso, não precisa se preocupar, a gente toma cuidado.

- Vi mesmo o cuidado que vocês têm. Levamos flechadas e, já

pensou se a máquina pifa naquele lugar!

- Graças a Deus não pifou, Sandra, e conseguimos voltar.

- Poderíamos ter morrido! – disse Sandra

- Como morreríamos se não tínhamos nascido?

- Ai, Jorge, pare com este papo de louco, eu estava bem viva lá!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

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- Eu sei, Sandra, só estou brincando, você já pode ficar mais

calma.

Chegamos à casa da Sandra, ela me abraçou e me beijou.

Acredito que ela devia estar muito nervosa pelo que passamos,

pois ainda continuava tremendo.

- A gente se vê mais tarde, Jorge?

- É claro, Sandra, não consigo ficar longe de você.

- Eu te amo, Jorge.

- Também te amo, Sandra. Vamos ao cinema mais tarde?

- Sim, faz tempo que não vamos, passo na sua casa então, lá

pelas dezoito horas.

- Está certo, te espero então.

Fui para minha casa, no caminho encontrei meu pai com sua

Brasília setenta e oito, comprada há alguns meses. Ele estava

mexendo no motor. Me esqueci de dizer que meu pai fechou a

eletrônica e acabou montando uma cozinha pra minha mãe,

afinal, as encomendas de doces aumentaram tanto que tiveram

de contratar duas funcionárias pra ajudar. Resumindo, meu pai

virou entregador de doces e comprou este carro de um amigo,

para ajudar na entrega, o problema é que o lucro dos doces

acaba indo todo para o conserto dele. Meu tio Fred fica rindo

do meu pai dizendo que o problema é o nome do carro, pois

Brasília é símbolo de corrupção e por isso leva todo o dinheiro

do meu pai!

- Oi, pai, deu problema de novo?

MARCELO MENA

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- Agora foi o carburador, mas já consegui consertar. Sua mãe

está te procurando, parece que precisa entregar um doce pra sua

tia!

- Já sei. É desejo, não é?

- Depois que sua tia ficou grávida, ela só pensa em comer!

- É verdade.

Entrei em casa e desci na cozinha, onde, antigamente, era a

eletrônica do meu pai. Encontrei a Valdete, (ela com a Tânia

ajudam minha mãe na cozinha), ela é uma solteirona de uns

quarenta anos e vive me cantando, dizendo que quer me

namorar. A Sandra morre de ciúmes dela. A Tânia já é casada e

tem um filho de cinco anos, no final de semana ela o leva junto,

ele gosta de ficar com meu pai e o velho fica todo cheio. Até já o

levou para passear no zoológico, às vezes até eu sinto um pouco

de ciúmes.

- Oi, gatão! Qualquer hora eu vou te agarrar e dar uns beijos! –

Disse a Valdete, me encarando.

- Quero ver, Valdete, a namorada dele te pega na paulada!

- Que nada, Tânia! Já falei que se ela bobear, eu caso com o

Jorge!

- Valdete, qualquer hora você vai me colocar em situação ruim

com a Sandra! – Falei.

- Isso pode ser tratado como assédio sexual na minha empresa,

Valdete! – Disse minha mãe.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

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- Me desculpa, Maria. A gente se fala depois do expediente, não

é, Jorge?

- Larga do meu pé, Valdete, eu amo a Sandra, e com ela quero

viver até o fim da minha vida.

- É isso aí, Jorge! Amor tem que ser até o fim. Não liga pra

Valdete, ela já arrumou um admirador!

- Verdade? E quem é? – Perguntei pra Tânia.

- Sabe o Antônio do bar?

- Aquele que anda movido a álcool?

- Este mesmo. Ontem, ele deu pra ela uma flor murcha, assim

que fomos embora do serviço!

- Ai fica quieta, Tânia. Deus me livre, ele deve ter roubado

aquela flor do cemitério!

- Jorge, deixa essas meninas discutirem sobre namorados,

preciso que vá à casa de sua tia e leve esse doce de maracujá

com feijão pra ela!

- O que? Maracujá com feijão, mãe?

- Ela me pediu, pois está com desejo!

- Mãe, qualquer hora a vigilância sanitária vai proibir a senhora

de fazer doces!

- Pare Jorge, a sua tia acabou dando novas ideias pra doces,

experimente esse pra você ver!

MARCELO MENA

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- Eu prefiro levar pra tia, sei que ela vai comer e não estou nem

um pouco tentado a comer este doce.

Então, peguei os doces e levei pra minha tia, meu pai já havia

saído com o carro pra fazer entrega. A nossa vida melhorou

bastante, minha mãe não precisa mais trabalhar como diarista,

pois agora tem seu próprio negócio. Meu pai se sente muito útil,

até anda fazendo um curso, à noite, de administração, pois

segundo ele precisa muito saber administrar os negócios da

minha mãe. Quem viu como era meu pai e o vê hoje, quanta

diferença!

Cheguei à casa dos meus tios e meu tio Fred estava do lado de

fora, sentado no banco de carro que fica na parte de fora da

oficina.

- Oi, tio, pensando na vida?

- Ruela, vou falar uma coisa, quando você casar e a sua esposa

resolver ficar grávida, fale pra ela que você prefere adotar uma

criança, pois já vem pronto e não tem todo o trabalho da

gravidez!

- Como assim, tio?

- Jorge, a sua tia é outra pessoa. Não posso chegar perto dela

que já me manda ir tomar banho, pois fica enjoada com o cheiro

de graxa. Fora isso, tenho, às vezes, que sair de madrugada pra

comprar melancia, broto de mandioca, casca de canela e etc.

- O senhor está triste com isto?

- Claro que não, Ruela, estou super feliz, só estou dizendo que é

sofrido, mas a gente aguenta, ainda mais sabendo da novidade.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

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- Que novidade, tio?

- Sua tia vai ter gêmeos, e será um casal!

- E já sabe que nome colocar?

- Ainda não, mas a sua tia já está fazendo pesquisa de campo,

até cogitou a ideia de Jorge e Sandra, imagine!

- Seriam belos nomes!

- Imagine, o meu filho com nome de Ruela!

- No fundo o senhor sabe que é um nome bonito!

- Vai levar a encomenda da sua tia, seu Ruela!

Entrei na casa da minha tia e ela estava próximo da pia na

cozinha, com um enorme barrigão!

- Oi, Jorge. Tudo bem, filho?

- Sim, tia, que barrigão, hein?

- Você viu que lindo, Jorge. E vai ser um casal!

- É, o tio me falou, eu trouxe o doce da senhora!

- Que bom, não via a hora de experimentar!

Ela sentou-se à mesa, pegou a sacola da minha mão e começou a

comer com gosto, era até bonito de ver, e logo meu tio entrou.

- E ai, querida, já está comendo doce de novo?

- Esse é aquele doce que você não encontrou, a Maria fez pra

mim!

MARCELO MENA

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- O doce de feijão e maracujá?

- Este mesmo, o Jorge me trouxe!

- Cada sabor que você inventa! – Respondeu meu tio.

- Quer experimentar? Está uma delícia! Mas não chega perto,

com este cheiro de graxa! – Falou a minha tia, tampando o nariz

com os dedos!

- Vai, Ruela, me passa um pedaço!

- Não chama o menino de Ruela, se a gente colocar o nome de

Jorge no nosso filho, você vai chamá-lo de Ruela também?

- Claro que não, querida, o Ruela sempre vai ser ele, o nosso

filho pode ser Jorge e não vai dar confusão, mas ainda prefiro

André e Lúcia.

Meu tio começou a comer o doce, fez uma careta, mas não

parou de comer.

- Olha até que é bom esse doce! – Falou o meu tio, pegando

mais um pedaço.

- Não falei pra você? Quer um pedaço, Jorge?

- Não obrigado, tia. Tio, o senhor já ouviu falar da guerra dos

Macabeus?

- Sim, Ruela! O que você quer saber? E porque esse interesse?

- É que o senhor Simon, comentou sobre esta guerra, que foi

aproximadamente no ano 162 a.C.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

21

- Então deixe sua tia aí comendo o doce e vamos pra sala

conversar!

- Isto, Jorge, conversa com o seu tio na sala, assim esse cheiro

de graxa fica por lá! E não se esqueça de forrar o sofá Fred, pra

não impregnar o cheiro.

- Está vendo, Jorge, mulher grávida é complicada. E sua mãe

ainda fica atendendo os desejos dela, se bem que o docinho

ficou bom!

- Minha mãe tem mãos abençoadas!

- Verdade, mas me diga, o quer saber? – Perguntou o meu tio,

colocando um plástico na poltrona.

- Queria saber como foi essa guerra.

- Essa história está na bíblia católica, no livro dos Macabeus.

- E porque não está nas bíblias evangélicas?

- Por ser um livro histórico, não inspirado e por ter algumas

contradições!

- Entendi, mas me conta sobre esta história.

- A história narra a luta da família Macabeus, contra os gregos,

que queriam acabar com adoração a Deus. Esta guerra fez com

que os judeus criassem a independência, isto até que os romanos

dominassem tudo, a guerra foi terrível, muita gente foi morta,

mas tem algo que não é contado.

- Imagino essa gente morta, mas o que não é contado?

MARCELO MENA

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- Dizem que a guerra realmente aconteceu: o rei Antíoco ficou

sabendo que havia um grupo de pessoas chamado de

Atanasianos, que guardava um mapa onde se encontravam os

tesouros de Salomão. Estes tesouros deixariam um homem

muito rico e ainda poderia se utilizar algumas invenções

tecnológicas de Salomão. Esse grupo estava escondido em

Jerusalém e era preciso entrar na cidade, para poder encontrá-

los.

- Mas o que aconteceu?

- Conta-se que o grupo de Atanasianos foi atacado, então um

soldado de confiança, na hora da guerra, pegou o mapa e fugiu

para a montanha mais alta. Diz a lenda, que este soldado foi

ferido e na hora da sua morte entregou o mapa para três homens

de roupas estranhas, que desapareceram diante dos olhos deles,

numa espécie de carruagem de luz. E o mapa foi perdido para

sempre!

- Eles acharam que a Sandra era homem, por causa do cabelo

curto? Que história, tio!

- Também acho, mas o que a Sandra tem haver com tudo isto?

Estou te contando a história e você fica pensando no cabelo da

sua namorada?

- E que acabei pensando nela.– Respondi, tentando disfarçar o

meu fora!

- Isto já não é amor, é doença.

- Desculpa, tio, acabei pensando alto, mas continue!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

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- Então, você vai prestar atenção, seu Ruela? Ou vai ficar

sonhando?

- Pode falar, estou prestando atenção!

- Tudo isto é lenda, a verdade é que os judeus sofreram nesta

guerra pra defender a adoração a Deus.

- O que era o grupo de Atanasianos?

- Na realidade, o nome quer dizer: “Os Imortais”, em grego!

- E eles eram imortais?

- Claro que não, mas eles defendiam algumas ideias de que

poderiam ser imortais!

- Entendi, e quem o senhor acha que levou o mapa?

- Pode ser apenas uma história inventada, pra ninguém mais

procurar o mapa!

- Certo! Preciso contar esta história pro senhor Simon, mas

agora tenho que ir, pois vou levar a Sandra no cinema, depois a

gente conversa mais, tio!

- Por falar nisto, como está o trabalho com o velho do chapéu?

- É muito bom, aprendo bastante com o senhor Simon, ele agora

está me ensinando um pouco de eletrônica e tecnologia espacial!

- Você está fazendo muita falta aqui na oficina, não tenho

ninguém para tirar sarro!

- Se quiser, posso vir no final de semana te ajudar!

MARCELO MENA

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- Tá maluco! E quem quer trabalhar no final de semana? O final

de semana é para descanso, Ruela, e ainda tenho que cuidar da

igreja.

- É verdade. Assim que eu tiver uma folguinha, passo aqui pra te

ajudar tio.

- Está bem!

- Mas tenho que ir embora. Obrigado pelos esclarecimentos, tio.

Tchau, tia, até mais!

- Vai com Deus, filho! – Respondeu ela, ainda comendo doce.

- Tchau, tio, e até mais!

- Vai pela sombra, seu Ruela!

Saí da casa dos meus tios pensando na história dos Macabeus e

dos Atanasianos. Só de saber que o senhor Simon poderia estar

com um mapa do tesouro, isto me deixava empolgado e com

muita vontade de avisá-lo. Então corri até a minha casa, tentei

ligar pra ele, mas ninguém atendeu, ele devia ter saído. Então

subi no meu quarto, para me arrumar e ir ao cinema.

- Filho, a Sandra acabou de chegar e está te esperando. – Disse

minha mãe gritando.

- Já estou descendo, mãe.

Comecei descer as escadas e vi a Sandra experimentando alguns

doces da minha mãe.

- E ai, como está o doce, Sandra?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

25

- Está uma delícia, dona Maria, a senhora sabe mesmo fazer

doce.

- Pode deixar, no casamento de vocês dois, eu vou fazer o bolo.

– Falou minha mãe sorrindo e me olhando.

- Vai ficar uma delícia! – A Sandra falou, de olhos fechados,

tentando saborear o doce.

- Ei, mãe, não faz nem oito meses que a gente namora e a

senhora já tá falando do bolo de casamento?

- No meu tempo, a gente namorava no máximo uns três meses e

depois já marcava o casamento!

- No seu tempo, Maria das Dores, hoje é diferente, a gente

precisa se conhecer melhor e depois pensar em casar! – Falei pra

minha mãe!

- Acho que vocês já se combinam tanto, porque esperar mais

ainda?

- E onde vamos morar, mãe?

- O seu tio Fred e a sua tia Fábia já me falaram que quando você

marcar o casamento, eles vão dar a casa que eles têm no bairro e

que está no momento alugada, pra vocês de presente de

casamento.

- A tia do Jorge falou mesmo isso, mas achei que era

brincadeira! – Sandra falou, com os olhos arregalados.

- É, Sandra, vocês ganharão uma casa.

MARCELO MENA

26

- Ei, dá pra parar as duas, desse jeito amanhã estou casado! E

não esqueçam que eu ainda vou precisar comprar os móveis e

outras coisas!

- Com o salário que você está ganhando, trabalhando com o

senhor Simon, dá muito bem pra economizar e comprar o que

falta. E você Sandra, já pense no seu enxoval! – Minha mãe

continuou falando, toda empolgada.

- O meu enxoval já está quase pronto, meu pai e minha mãe já

compraram bastante coisa e me deram de presente, eles também

não veem a hora da gente se casar!

- Meu Deus! Vamos embora, Sandra, senão a gente vai perder o

filme.

- Até mais, dona Maria.

- Vão com Deus, meus filhos.

Saímos de casa caminhando e a Sandra me olhava sorrindo sem

parar.

- Porque você está me olhando deste jeito?

- Ai seu bobo, você sabe onde fica a casa que a gente vai

ganhar?

- Sei.

- É perto do caminho do cinema?

- É sim.

- Você me mostra onde é? Estou curiosa!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

27

- Deixa pra outro dia. A gente nem sabe ainda se realmente eles

vão nos dar a casa!

- Eles já falaram com sua mãe, e quando sua tia fala, ela não

volta atrás.

- Está bem, mas não fique tão empolgada, você pode não gostar

da casa.

- É claro que vou gostar, porque não gostaria?

- Ela fica perto da casa da Valdete.

- Aquela mulher mora perto?

- Não tão perto, mas na mesma rua.

- Não tem problema, Jorge, pois já vou estar casada com o meu

amor.

E assim, a Sandra foi o caminho todo fazendo planos de como

seria o nosso casamento e quantos filhos teríamos. No caminho,

encontramos o Antônio do bar, ele usa uma calça jeans que

muito tempo não vê um sabão, seus sapatos, um de cada cor.

Usa um paletó bem velho, é barbudo e tem cabelos bem

compridos. Uma vez, ele teve o cabelo cortado e a barba

aparada, tomou banho e teve roupas novas, e isso aconteceu no

dia em que a igreja Caminho do Céu, fez o “Dia da Mudança”.

É um evento promovido pela igreja, onde todas as pessoas tem a

oportunidade de mostrar seus talentos para ajudar assim as

pessoas carentes. Neste dia tem advogado, cabeleireiro,

massagista, médicos, psicólogos, todos trabalhando pra ajudar

a quem precisa. Essa foi uma ideia do meu tio, que hoje

MARCELO MENA

28

pastoreia a igreja, e deu tão certo que todo mês agora tem o

“Dia da Mudança”.

- Jorge, olha o Antônio! – Disse a Sandra, tentando se esconder

do Antônio do bar.

- Estou vendo, e pelo jeito quer conversar!

- Oi, Borges, tudo bem?

Outro detalhe, ele sempre confunde o meu nome, por Borges,

mas como já me cansei de tentar explicar que meu nome é

Jorge, então atendo assim mesmo.

- Oi, seu Antônio, o que faz por aqui?

- Vim trazer a minha namorada em casa! – Respondeu ele, todo

romântico.

- Quem? – Perguntei como quem não sabia de nada.

- Ai Borges, é a Valdete! Eu dei uma flor pra ela e começamos a

namorar, ela ainda reluta, mas ainda vou me casar com ela.

- Olha, seu Antônio, o senhor precisa mudar de vida, precisa

parar de beber, quem sabe ela realmente se apaixona pelo

senhor.

- Eu tento Borges, mas não consigo, é mais forte que eu!

- O senhor se lembra do pai da Sandra? Hoje é um homem

completamente curado!

- É verdade, quando ele ainda ia no bar, sempre me pagava uma

bebida. Agora ele anda todo arrumado, vai pra igreja, estes dia

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

29

ele me encontrou e falou que se eu quisesse ele me ajudava a

sair desta vida.

- Então, seu Antônio, Deus está te dando uma oportunidade,

procura o pai da Sandra e ele vai te ajudar, e assim que o senhor

mudar, garanto que a Valdete vai se apaixonar pelo senhor!

- Seu pai vai estar lá, Cassandra? – Disse ele.

Outro pequeno detalhe, é que ele chama a Sandra de

Cassandra, ela fica muito nervosa!

- Meu nome é Sandra, seu Antônio! E meu pai vai estar em casa

sim, pode ir que ele atende o senhor e com certeza vai ajuda-lo a

largar este vício!

- Ok, eu vou indo então, até mais!

- Até mais, seu Antônio!

- O que será que aconteceu pra ele viver deste jeito, Jorge?

- Dizem que foi uma decepção com a família. Os pais morreram

em um acidente de carro porque estavam bêbados, e ele teve que

viver com um tio, que era muito ruim. Então ele fugiu de casa.

A partir daí começou a beber e a viver nas ruas, não tem casa e

vive pedindo esmolas.

- Que dó! Meu pai pode ajuda-lo, garanto que vai leva-lo na

clínica onde ele se recuperava.

- Fale pro seu pai, que se acaso precisar de ajuda financeira, ele

pode falar com o meu tio, pois a igreja pode ajudar nisto

também.

MARCELO MENA

30

- Legal! Depois que seu tio assumiu a igreja como pastor, a

igreja mudou completamente, ela faz uma verdadeira obra

social.

- O meu tio pegou a igreja num maior problema, por causa do

pastor Nilson, você se lembra?

- Claro! Foi por causa dele que meu pai passou a beber.

- Então meu tio começou a utilizar todo o dinheiro arrecadado

nas ofertas, para obra social e ajuda missionária, pode ver que,

no fundo da igreja ele sempre coloca o relatório do que a igreja

contribuiu e onde está sendo gasto.

- Eu vi mesmo, no ultimo culto. As pessoas realmente estão

ofertando com o coração!

- Ele diz que, cada um deve contribuir com o que sentir no

coração. E depois ele mostra onde está sendo gasto as ofertas,

com isto houve um aumento das ofertas e tem ajudado muita

gente.

- É muito lindo ver as pessoas sendo ajudadas, tanto

espiritualmente, quanto materialmente.

- Bem, chegamos, Sandra, esta é a casa.

A casa tem uma grade na frente e um belo jardim, com um pé de

limão, é toda pintada de rosa com detalhes em branco e possui

uma varanda na parte de cima.

- Jorge, a casa é linda! É mais bonita do que eu imaginava. Tem

alguém morando nela?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

31

- Tem sim, é o irmão da minha tia que mora ai. Ele é super

bacana. É casado e está construindo uma mansão no bairro da

Cruz alta.

- E, se ele tiver que sair desta casa, vai poder entrar na que está

construindo?

- Calma, Sandra, não vamos casar hoje.

- Eu sei, seu bobo. Só estava perguntando.

- A minha tia Fábia, me disse que ele só está nesta casa pra

poder terminar a outra, mas que ele logo vai mudar. Já está na

hora do filme, vamos.

- Seus tios vão nos dar um presentão.

Depois do cinema levei a Sandra embora, comentei com ela

sobre o que o meu tio tinha falado, sobre a lenda dos

Atanasianos.

- Jorge, então quer dizer que o pergaminho fala onde estão os

tesouros de Salomão?

- Acredito que sim, mas ainda preciso falar com o senhor

Simon.

- Será que ele vai querer descobrir este tesouro?

- Não sei, Sandra. O mais incrível é a lenda falar de nós três,

numa carruagem de luz.

- Cada vez mais fico com a cabeça doendo, tentando entender

estas coisas Jorge. Vamos falar de outra coisa.

MARCELO MENA

32

Então ela rapidinho mudou de assunto e não parou mais de falar

da casa. Chegamos à casa dela e nos despedimos. Fui embora e,

na minha casa, encontrei o senhor Simon, na sala tomando um

café e comendo bolo que minha mãe havia preparado. Meu pai

estava sentado na sua poltrona, com uma cara meio séria.

- Boa Noite, senhor Simon.

- Boa noite, Jorge, eu não sei como você é magro deste jeito,

pois não consigo parar de comer este bolo delicioso! Sua mãe é

uma ótima cozinheira!

- Jorge, sente-se aqui, precisamos conversar!

- Certo pai. O que houve?

Minha mãe também puxou uma cadeira e sentou-se próximo de

meu pai, enquanto isso o senhor Simon levava a boca mais um

pedaço de bolo.

- O senhor Simon veio aqui para te convidar a ir com ele numa

viagem de alguns dias, fora do país. – Comentou o meu pai.

- Como assim, fora do país? – Perguntei.

- Sim, Jorge, sabe aquele pergaminho que encontramos? – Falou

o senhor Simon.

- Sim, sei. Até preciso conversar com o senhor, pois descobri

algumas coisas com o meu tio sobre isso.

- Então Jorge, eu tirei uma cópia de um pedaço do pergaminho e

enviei ao meu amigo, arqueólogo, que está no Egito. Não deu

cinco minutos, ele me ligou e disse que este pergaminho é algo

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

33

fantástico, me explicou do que se tratava. Então, me pediu que

fosse até ele, para podermos examinar, juntos, o mapa.

E eu, vim aqui para te convidar a ir comigo para o Egito e

passarmos alguns dias por lá. Assim, você já vai poder ver como

são feitas as escavações e como trabalha um arqueólogo. Seus

pais acharam que será uma oportunidade de você aprender

bastante e vai te ajudar na sua carreira profissional!

- Nossa, será demais! Ainda bem que estou de férias da escola,

mas e a Sandra?

- Não sei se poderei leva-la, Jorge! Mas converse com ela,

depois você me fala. Daqui a três dias estaremos partindo!

- Onde vocês arrumaram este pergaminho? – Perguntou o meu

pai todo curioso.

- Uma pessoa me passou, antes de falecer, seu Chico!

- E o que é pergaminho? – Perguntou minha mãe, sem entender

nada.

- É um material feito de couro de animal, que se utilizava pra

escrever antigamente, e estes pergaminhos chegavam a durar

milênios, dona Maria!

- Entendi. É bem antigo então?

- Sim, mãe, é bem antigo.

- Olha, senhor Simon, será a primeira vez que o Jorge fará uma

viagem longa.

- É, mãe, vamos dizer que sim.

MARCELO MENA

34

Dei uma piscada com o olho pra o senhor Simon, que sorriu e

levou mais um pedaço de bolo à boca.

- E você, não tem medo de viajar de avião, Jorge?

- Claro que não, pai, acredito que é mais seguro do que outros

meios de transporte, não é, senhor Simon?

- É, vamos dizer que sim. Desculpe atrapalhar vocês, mas está

na hora e tenho que ir.

- É cedo, senhor Simon! O senhor sempre será bem vindo aqui.

- Obrigado, seu Chico! Tenho que ir mesmo, preciso ainda

consertar um equipamento!

- Então leva alguns pedaços de bolo, para comer mais tarde!

- Não sei se vai durar até mais tarde, mãe.

- Verdade, Jorge, este bolo está uma delícia!

Saímos do lado de fora da casa e o senhor Simon, com uma

sacola, levando os pedaços de bolo.

- Senhor Simon, o senhor acredita que há uma lenda, sobre três

pessoas, que sumiram com o pergaminho do tesouro de

Salomão?

- Sim, Jorge, este meu amigo comentou sobre isto, e ainda falou

sobre os Atanasianos. Ele está no Egito e está atrás dos

Atanasianos há muito tempo, ele acredita que agora, com este

pergaminho, conseguirá encontra-los.

- Estes Atanasianos, se diziam imortais, não é isso?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

35

- Sim, Jorge. Este meu amigo sempre defendeu a tese de que os

imortais existem e estão no nosso mundo, ainda.

- Mas quem são eles? E são mesmo imortais?

- Este meu amigo, seu nome é Joseph Cicley, tem uma tese de

que os Atanasianos estão no nosso mundo, há mais de três mil

anos, mas ele não me deu mais detalhes, por isso precisamos

encontra-lo e saberemos mais sobre este assunto!

- Isto eu nunca tinha ouvido. Imagine haver pessoas que não

podem morrer. Isto é loucura!

- Também acho, mas só saberemos quando conversarmos com

ele!

- Se bem que, existe um grupo de pessoas que não morrem,

senhor Simon!

- Quem é este grupo, Jorge?

- Os anões!

- Quem falou isto?

- O senhor já foi a um enterro de anão?

- Claro que não!

- Então, eu também não! Então podemos concluir que, eles não

morrem, portanto, são imortais!

- Que absurdo, Jorge! Só porque nunca fui num enterro de anão,

então são imortais?

- Vai saber, não é? Vai que eles são imortais.

MARCELO MENA

36

- Piadinha sem graça, esta a tua. Toda vez que você fica

nervoso, vem com uma piada.

- É que, ficar longe da Sandra, vai ser ruim!

- Então, vamos fazer o seguinte, converse com ela e veja se ela

pode ir, mas teremos que viajar na classe econômica.

Abracei o senhor Simon, ele ficou todo cheio.

- Obrigado, senhor Simon, a Sandra vai poder nos ajudar.

- Assim espero. E que não faça o que fez na última viagem, em

que tivemos que procura-la.

- Mas, se não fosse ela, o senhor não teria o pergaminho.

- É, está certo. Pode chegar mais tarde amanhã no laboratório e

depois a gente se fala.

O senhor Simon saiu acertando o chapéu e se apoiando na sua

bengala. Ele agora está com uma bengala nova, essa tem na sua

ponta a cabeça de um tigre dourado, segundo ele custou muito

caro.

Só de Imaginar que agora a Sandra poderia ir, me deixou muito

feliz. Não via a hora de conversar com ela sobre viajarmos

juntos.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

37

Capítulo 2

Jorge e o Sobrenatural

Ao acordar pela manhã, percebi um alvoroço dentro de casa,

parecia que havia muita gente ali. Ao descer as escadas, percebi

que a Valdete estava conversando com minha mãe, muito triste.

Meu pai estava todo pensativo, no canto da sala. A Tânia, com

cara de choro.

- O que aconteceu, gente? – Perguntei.

- Você não vai acreditar, Jorge. Ontem à noite, alguns homens

pegaram o Antônio do bar e lhe deram uma surra. Agora, ele

está no hospital em coma. Os médicos não deram muita

esperança, pois ele teve hemorragia interna e acho que foi tudo

culpa minha, pois ele foi até a minha casa me perturbando, então

briguei com ele.

- Mas onde foi isso Valdete? Pois eu e a Sandra encontramos

com ele antes de ir ao cinema, ainda conversamos um pouco, ele

nos disse que ia conversar com o pai da Sandra, para se internar.

Ele queria ficar bom pra te pedir em namoro.

Nesta hora, a Valdete chorou mais ainda e minha mãe tentava

consolá-la.

- Já falei, este bairro está começou a ficar violento desde que

abriram aquela lanchonete na esquina do mercado. Pra mim, ali

não vende só lanche, devem estar vendendo drogas também.

Vocês podem ver, só chegam pessoas que nunca vimos no

bairro. Ontem mesmo, conversando com o Luís da farmácia, ele

disse que já foi assaltado duas vezes este mês. E você, Jorge,

MARCELO MENA

38

tome cuidado por onde anda à noite. Hoje, foi o Antônio, mas

amanhã pode ser qualquer um.

- E o que vamos fazer, pai?

- Já avisei seu tio e ele está vindo pra cá, pois como agora ele é

o pastor da igreja, deve ir visita-lo e quem sabe, ver no que pode

ajudar.

- Que dó do seu Antônio, ontem ele saiu todo feliz e que ia pedir

ajuda pra sair da bebedeira!

Nesta hora, meus tios chegaram de carro e pararam em casa.

- Bom dia, pessoal, tudo bem com vocês?

- Oi Fred, graças a Deus tudo bem, você vai ao hospital?

- Sim, Maria. Vou levar o Ruela comigo!

- O que? Eu, no hospital? Que vou fazer lá, tio?

- Calma, Jorge! Falei pro seu tio, que depois do encontro que

você teve com Jesus, coisas sobrenaturais começaram a

acontecer, você ajudou o senhor Simon, o assassino foi parar na

cadeia, ajudou o pai da Sandra, e ainda orou por mim e fiquei

grávida! – Disse minha tia.

- Eu sei tia, mas isso era o que tinha que ser feito. Agora, Jesus

não falou nada e não sei como vou poder ajudar.

- Meu filho, fica em paz, vá com seu tio e lá você pode orar pelo

Antônio, Deus pode restabelecer a sua saúde! – Falou minha

mãe, me abraçando.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

39

- Está bem, mas eu não garanto nada. Eu não sou nenhum

milagreiro!

- Ruela, larga mão de drama e vamos orar pelo Antônio do bar.

Você vai junto, Chico?

- Não vou poder ir, tenho que entregar algumas encomendas da

Maria, já estou atrasado.

- Maria de Deus, esta noite sonhei que você fazia uns doces de

brigadeiro com tomate seco! – Minha tia falou, puxando minha

mãe para a cozinha.

-Meu Deus, Fábia, já vai começar com esses desejos?

- Deixa ela, Fred. Venha, Fábia. Você pode me ajudar com este

doce e quem sabe venha ser um sucesso!

As mulheres entraram para a cozinha e a Tânia ainda consolava

a Valdete. Sabe, agora acredito que ela tenha uma quedinha pelo

Antônio do bar.

- Então vamos, Ruela.

- Deixa eu me arrumar primeiro, tio.

Saí de casa e meu tio já estava no carro, conversando no celular.

Então, quando entrei, percebi que ele conversava com o

delegado Euclides.

- Você parece uma noiva pra sair. – Disse meu tio.

- Tinha que me arrumar né, tio. Não podia ir de qualquer jeito.

MARCELO MENA

40

- É verdade, do jeito que você estava, iam achar que tinha sido

atropelado por um trem, e te socorreriam na hora, com aquele

cabelo todo levantado!

- Eu tinha acabado de acordar, né!

- Percebi. A Sandra já te viu levantando da cama?

- Claro que não né, tio!

- É bom nunca ver. Deixe esta surpresa pra depois do

casamento, assim ela não vai poder te largar mais.

- Estou morrendo de rir.

- Puxa! Acordou de mau humor hoje?

- Não é, tio, as pessoas acham que porque um dia eu orei e

alguns fatos aconteceram, eu tenho que ficar orando por tudo

agora!

- Ei, calma ai, profeta revoltado! Você sabe muito bem que

Deus te ouve, e as pessoas sentem muita necessidade de Deus.

Quando veem que existe alguém que possui um dom, elas

tentam se aproximar com a esperança de serem atendidas. Por

isso, não rejeite isto. Saiba levar e tenha paciência, ajude as

pessoas, seu Ruela. Assim você estará ajudando a tornar o

mundo um pouco melhor.

- Está certo. Mas e aí, o senhor estava conversando com o

delegado?

- Sim, ele me disse que tem uma gang no bairro que está

atacando os mendigos e bêbados.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

41

- E o delegado já conseguiu prender alguém?

- Pior que ainda não, pois ele conseguiu algumas filmagens e os

marginais usavam máscaras. Mas vai tentar achar alguma pista.

- Como podem bater em alguém indefeso e deixa-lo quase

morto?!

- Foi muita sorte do Antônio ter sobrevivido, pois dois

mendigos, que eles pegaram, morreram no caminho do hospital.

- Que horror, tio.

- Por isso te falei, você pode ajudar a melhorar um pouco este

mundo.

- Mas é difícil. A violência cresce a cada dia, é uma tristeza.

- Pense bem, Ruela, como não deve estar o coração de Deus

olhando este mundo? Se nós já ficamos tristes, imagine Deus?

Chegamos ao hospital e fiquei na recepção. Havia muita gente

doente e ferida. Meu tio foi entrando e apresentou um

documento pedindo pra falar com o responsável do hospital. Ele

pode entrar sem problemas nos hospitais, pois ele já é conhecido

por visitar os doentes e orar por eles. Mas eu não pude entrar,

devido o seu Antônio estar na UTI. Não demorou muito, meu tio

voltou e veio falar comigo.

- Jorge, você terá que esperar aqui. Tenho que falar com o

doutor Elias e ver se ele te autoriza entrar.

- Sem problema, tio. Eu espero aqui.

MARCELO MENA

42

Na minha frente, havia uma senhora chorando e nos seus braços

uma criança imóvel. Parecia estar desmaiada. Alguns

enfermeiros pegaram a criança e levaram para um quarto. A mãe

ficou chorando, alguns tentavam consolá-la, mas ela se batia, até

que a levaram para uma sala, ao lado da recepção.

- Oi, Jorge.

Olhei, ao meu lado estava um homem de branco (que deduzi ser

um enfermeiro), seus sapatos estavam brilhando, seu rosto não

me parecia estranho, mas eu não me lembrava de quem era.

- Me desculpe, senhor. Mas eu não me lembro do senhor!

- Eu sou Gabriel, você não me conhece, mas sou muito amigo

do seu grande amigo!

- Do meu amigo? Que amigo?

- Não tenho muito tempo, mas você vai se lembrar dele. Foi ele

quem me pediu pra te dizer que hoje precisa fazer algo

importante, e não deve ter medo. Tudo acontece por intermédio

dele, seu compromisso será ajudar o Antônio e aquele bebê que

você estava olhando. Pois ele viu o teu sentimento por eles,

venha comigo.

- Espere, não estou entendendo nada. Preciso esperar meu tio.

- Seu tio não vai conseguir fazer com que você entre, por isso,

venha comigo.

O homem me pegou pela mão e entramos pela porta que dá

acesso aos quartos. Parecia que ninguém se incomodava com a

gente. Este Gabriel parecia ser alguém importante dentro do

hospital. Logo, ele abriu uma porta, onde estava um médico e

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

43

duas enfermeiras. Na cama, estava uma criança toda branca, e

eles desligavam os equipamentos sobre ela.

- Por favor, vamos sair, pois não há mais nada pra fazer. – Disse

o médico.

O médico saiu da sala e com ele uma enfermeira, enquanto a

outra ainda arrumava um carrinho cheio de peças de metais.

- É a sua vez, Jorge! Aproveite que a enfermeira não está

olhando. – Falou Gabriel, me empurrando ao lado da cama.

- Como assim? A criança pelo jeito morreu.

- Você já imaginou a dor desta mãe, quando souber deste fato?

- Sim, vai ser terrível. – Respondi.

- Você pode mudar isto! – Disse Gabriel, me empurrando de

novo.

- Como assim? Quem sou eu? Já sei, você deve ser amigo do

Anselmo, o pai da Sandra. Ele deve ter te contado sobre o que

aconteceu no meu encontro com Jesus, mas eu não posso fazer

nenhum milagre! Desculpe-me, seu Gabriel.

- Você realmente não pode fazer nada, se Deus não quiser. Mas

ele me mandou aqui pra que você entenda que pode ajudar as

pessoas!

- E o que você acha que devo fazer?

- Põe a tua mão sobre a criança e ore a Deus por ela.

- Se eu fizer isso, você me deixa voltar pra recepção?

MARCELO MENA

44

- Sim. Faça isso e pode voltar.

Fui até onde estava aquela criança, pus a minha mão sobre sua

testa (estava bem gelada). A enfermeira parecia nem me ver,

então eu fechei os olhos e falei:

- Jesus, o Senhor sabe que não tenho nenhum poder, mas me

ajude agora, estou orando em favor desta criança. Não sei o seu

nome, nem sei do que ela morreu. Sua mãe está muito triste e

desesperada, por favor, dá vida novamente a esta criança!

Amém.

Nesta hora, a enfermeira estava me olhando. Procurei o Gabriel

e não o vi. Com certeza saiu correndo da sala e me deixou

sozinho ali.

- O que você faz aqui, moleque! Aqui é proibido entrar! –

Gritou a enfermeira.

- Mas é que o Gabriel me trouxe, acho que ele é doutor ou

alguma coisa, foi ele quem me pediu para orar por esta criança.

- Tá maluco?! Não tem ninguém que trabalhe aqui com este

nome, esta criança faleceu há alguns minutos e teve uma parada

cardíaca. Ela já tinha um problema no coração. Vou chamar os

seguranças, você vai parar na cadeia!

- Calma, senhora, eu vou sair!

Quando ela me pegava pelo braço e me levava para o lado de

fora, escutamos o som de um respiro forte e a criança começou a

chorar.

- O que é isto? A criança está viva? Meu Deus! – Falou a

enfermeira me largando e correndo para o lado da criança.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

45

Nesta hora, a enfermeira pegou o estetoscópio do seu pescoço e

começou a ouvir o coração da criança. Logo, apertou um botão

que parecia uma campainha, em poucos segundos a sala estava

cheia de enfermeiros e médicos. Aproveitei para sair de

mansinho da sala e quando estava no corredor, vi o seu Antônio

e o meu tio num quarto, e entrei.

- Jorge, o que você está fazendo aqui? O médico não permitiu a

sua entrada.

- Eu sei, tio, mas aconteceu algo estranho. Depois te conto.

- Então, já que está aqui, ore pelo Antônio. Os médicos disseram

que ele está muito mal e não sabem quando vai sair do coma.

- Mas, tio, ore o senhor por ele.

- Jorge, você pode começar que eu termino!

- Está bem.

Meu tio segurou a minha mão e colocou-a sobre a do Antônio, e

comecei a orar:

- Jesus, estou aqui de novo. Por favor, ajude o seu Antônio a sair

desta situação e faça com que ele venha se curar também da

bebedeira.

E meu tio continuou:

- Sim, Jesus, atenda a oração do Jorge, pois confiamos na Tua

palavra, acreditamos na cura e no restabelecimento deste

homem. É o que pedimos, em teu nome. Amém.

Nesta hora, percebi o seu Antônio abrir os olhos, me olhando.

MARCELO MENA

46

- Borges, você aqui? Onde estou? Não vão dizer que fui

atropelado de novo?!

- Calma, seu Antônio, vou chamar o médico.

Meu tio saiu no corredor, encontrou o primeiro homem de

branco que viu e o chamou para atender o seu Antônio.

- O que este menino faz aqui? – Reclamou o médico.

- Vocês não podem ficar aqui. Venham comigo! – Chamou a

enfermeira.

- Está bem, estamos indo. – Retrucou o meu tio.

- Até mais, seu Antônio.

- Até mais, Borges. Depois a gente se fala.

Saímos da sala e fomos até a recepção. Meu tio parou pra beber

um copo d’água e depois fomos até o carro.

- Bem, agora me conte, Jorge, como você foi parar lá dentro?

- Encontrei um homem que se chamava Gabriel, acredito que ele

seja amigo do Anselmo, o pai da Sandra. Porque ele sabia o meu

nome, me disse pra entrar com ele e que eu deveria ajudar as

pessoas. Entramos numa sala onde tinha uma criança morta e ele

me pediu que orasse a Deus, e orei pela criança.

- E o que aconteceu, Jorge?

- A criança começou a chorar, a enfermeira ficou brava comigo

por estar naquela sala e o bendito Gabriel fugiu sem deixar

vestígios. Acho que ficou com medo de ser pego. Foi então que

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

47

os médicos vieram ver a criança, escapei da enfermeira e

encontrei o senhor, no quarto do seu Antônio.

- Espera aí! Você conhecia este homem, Jorge?

- Não!

- E como você sabia que ele era amigo do Anselmo?

- Ele me disse que era amigo de um grande amigo meu.

- Jorge, você quer me dizer que este homem te colocou lá dentro

e através da tua oração a criança ressuscitou?

- Sim, tio. Acho que a criança não devia estar totalmente morta e

acabou despertando com a oração.

- Acho esta história meio estranha, Jorge. Será que era um anjo?

- Pare, tio. Ele não me parecia anjo, usava um sapato mocassim.

- Falei pra você, seu Ruela. Você tem um dom de Deus.

- Não conte pra ninguém tio, senão, vai ficar difícil pra mim.

Vão ficar achando que sou curandeiro.

- Sim, claro. Não vou contar nada, somente ore a Deus e peça

para que ele te oriente no que deve fazer.

- Obrigado, tio. Tem como o senhor me deixar na casa da

Sandra?

- Claro, mas hoje você não vai trabalhar com o Simon?

- Sim, eu vou, mas preciso passar na casa da Sandra pra saber se

ela vai poder viajar comigo pro Egito!

MARCELO MENA

48

- O que? Pro Egito? Depois sou eu que faço piada sem graça.

- É verdade, tio, vamos com o senhor Simon, ele vai bancar

tudo.

- Pronto. Agora, o velho do chapéu ganhou dois netos caros.

- Que isso, tio. Vai ser muito legal viajar pro Egito.

- E quando vocês vão?

- Pelo que o senhor Simon disse é daqui a dois dias.

- Que legal, não se esqueçam de trazer umas lembranças de lá

pra nós. E por falar nisto, vou te arrumar um dinheiro pra levar,

assim não ficará totalmente à custa do senhor Simon.

- Obrigado, tio.

Espero que ele não fale nada mesmo pra ninguém do que

aconteceu. Cheguei à casa da Sandra e meu tio seguiu pra minha

casa. Então apertei a campainha e a Sandra veio me atender.

- Oi, meu amor.

- Oi, Sandra.

- Não foi trabalhar hoje?

- Eu fui com meu tio no hospital pra visitar o Antônio do bar.

Ele levou uma surra, ontem à noite, de um grupo de marginais.

- Verdade? Por isso ele não apareceu aqui pra falar com meu

pai. Achei que ele tinha desistido. E como ele está?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

49

- Os médicos não deram muita esperança, ele estava em coma,

mas meu tio fez uma oração e ele acordou.

- Ai que dó, por que fizeram isso com ele?

- O delegado disse que é um grupo de pessoas que andam por aí

batendo nos mendigos.

- Ai Jorge, que coisa horrível!

- Mas vim aqui antes de ir pra casa do senhor Simon, pois

preciso te fazer um convite.

- Convite?

- Sabe aquele pergaminho? Então, o senhor Simon mandou para

o amigo dele uma cópia e ele o convidou para ir ao Egito, pois

se trata de um mapa dos tesouros do rei Salomão. Ele nos

convidou pra irmos juntos, com ele. Já que estamos de férias da

escola. Ele vai pagar tudo.

- Você está Brincado? – Disse Sandra, meio desconfiada!

- Não é brincadeira, é sério.

- E quando ele vai viajar?

- Daqui a dois dias.

- Ai meu Deus! Não vai ter perigo, vai?

- Claro que não, Sandra, vamos ajudar um arqueólogo a

encontrar os tesouros de Salomão.

MARCELO MENA

50

- Eu não sei, aquele homem lá do passado pediu pra ele guardar

o pergaminho e agora o senhor Simon quer descobrir o tesouro?

Acho que vai dar problema.

- Imagine, Sandra! Aquele homem queria salvar o pergaminho

dos inimigos de Deus e isso foi lá no passado.

- Mas vai que eles ainda continuam procurando.

- Quantas gerações já não passaram, acho que aqueles inimigos

já desapareceram.

- Olha, vou perguntar pra minha mãe e pro meu pai, depois eu te

ligo. Você vai estar na casa do senhor Simon?

- Estou indo pra lá agora.

- Está bem, depois te ligo então, te amo.

- Também te amo.

Despedi-me da Sandra e fui até a casa do senhor Simon. Ao

chegar lá, ele estava sentado em sua cadeira e com um livro na

mão.

- Oi, senhor Simon, lendo um pouco?

- Estava pesquisando sobre este pergaminho. O interessante é

que os Atanasianos sempre aparecem na história, são como uma

sociedade secreta. Buscam este pergaminho há séculos.

- A Sandra acha que não devemos ir atrás disso, pois tem medo

que os inimigos de Deus ainda estejam procurando o mesmo

pergaminho.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

51

- Se eles estiverem procurando, o melhor seria entregarmos aos

Atanasianos.

- E como vamos descobrir quem são eles?

- Não sei, Jorge, por isso precisamos ir ao Egito e conversar com

meu amigo, talvez ele saiba quem são eles. E a Sandra, vai?

- Ela disse que iria conversar com os pais e ligaria aqui pra dar a

resposta.

- Então, enquanto esperamos, vamos começar a consertar a

máquina, retirar as flechas e reparar o que estiver danificado.

Assim, passamos a tarde consertando a máquina. Ela estava com

flechas cravadas na lataria e tinha sofrido grandes estragos.

Algumas peças teriam que ser substituídas. O senhor Simon já

tinha separado algumas, acho que a próxima viagem ao passado

demoraria um pouco.

- Pelo jeito vai demorar pra ficar pronta, não é, senhor Simon?

- É, o estrago foi feio, tivemos a sorte de não sermos atingidos!

- Verdade mesmo.

- Estou vendo que você está meio preocupado, Jorge, o que

houve?

- É que estou intrigado com algumas coisas que aconteceram

esta manhã comigo.

- E o que foi?

- Fui com meu tio visitar o Antônio do bar, pois o homem levou

uma surra de uns marginais.

MARCELO MENA

52

- Fiquei sabendo desta história lá no mercado da dona Zenaide!

- Como sempre, o mercado da dona Zenaide é o meio de notícia

mais rápido do mundo, ganha até da internet.

- Sim, Jorge. Lá a gente sabe de tudo o que acontece. Mas

continue.

- Então, enquanto esperava meu tio acertar a minha entrada na

UTI, um homem todo de branco, que parecia médico, me pediu

para entrar e orar por uma criança que havia morrido. Ele disse

que meu compromisso era ajudar a criança e o Antônio, o nome

dele era Gabriel.

- E você orou por eles?

- Sim, a criança voltou e o seu Antônio saiu do coma. O Gabriel

desapareceu e meu tio acha que era um anjo.

- Olha, Jorge, é possível que você tenha visto realmente um

anjo, já que o milagre aconteceu como ele disse.

- Eu sei, mas o problema é que as pessoas acham que sou

milagreiro.

- Essa é boa, milagreiro? Jorge, desde aquele dia em que

falamos com a Grande Sabedoria, muita coisa mudou em nossa

vida, acredito que recebemos um dom, pra ajudar as pessoas.

- Como assim, Senhor Simon?

- Quando voltamos da terra do Harmes, aqui tudo se resolveu,

ou seja, conseguimos melhorar a vida das pessoas, não foi?

- Sim, isto é verdade.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

53

- Então devemos continuar assim, ajudando a quem precisar.

Seja na oração, no auxílio financeiro, ou mesmo orientando

sobre as Escrituras Sagradas.

- Por isso o senhor está dando aula na igreja?

- Comecei a dar aula e tenho ajudado muita gente a sair da

ignorância religiosa.

- E o que devo fazer?

- Faça o que você sentir no coração. Quando precisarem de

você, ajude com alegria, não com tristeza. Você acha que Deus

daria um dom pra que fique triste e magoado?

- Entendi, mas, e se as pessoas acharem que sou curandeiro?

- Mostre pra elas que você é apenas um homem tentando fazer a

vontade de Deus, e quem faz o milagre é Deus, não você.

- Entendi, mas ainda acho que vai ser difícil esse negócio.

- E quem falou que vai ser fácil? Você lembra, o príncipe

Lúcifer não está contente com a gente.

- Nem fale neste calça-curta!

Nesta hora, o telefone tocou e o senhor Simon atendeu, era o pai

da Sandra querendo saber sobre o convite. Só ouvia o senhor

Simon concordando. O que será que eles estavam falando? Será

que a Sandra vai poder ir? Assim ficaram uns dez minutos no

telefone, pelo jeito até mudaram o assunto e começaram a falar

do curso da igreja. Até que ele desligou.

- E aí, senhor Simon, a Sandra vai?

MARCELO MENA

54

- Infelizmente não vai poder ir Jorge, o pai dela me pediu mil

desculpas, mas acha muito complicado a filha viajar com apenas

dois homens. Ela tem compromisso com a mãe na produção de

artesanatos e por isso não irá conosco. Eu lhe disse que não

haveria problema, e que realmente ele estava certo, não ficaria

bem ela conosco. Você já pensou, onde ela iria dormir? Teria

que ficar num quarto de hotel sozinha.

- É verdade, não tinha pensado nisto. Tudo bem, eu ligo do

Egito pra ela.

- E por falar na viagem, é melhor você arrumar sua mala.

- Bem, acho que minha mãe vai querer arrumar.

- Fale pra ela fazer um bolo pra comermos no caminho.

- O senhor gostou mesmo do bolo, hein?!

- Sua mãe é uma ótima doceira.

- Vou falar pra ela.

- Se você quiser ir embora agora, pode ir. Não temos mais o que

fazer na máquina, terei de esperar algumas peças chegarem, vou

avisar seu pai para que receba as peças pra mim no correio.

- Com certeza ele recebe pro senhor. Deixa que aviso ele.

- Obrigado, Jorge. Até mais.

- Tchau, senhor Simon!

Saí da casa do senhor Simon e encontrei o Nando andando de

bicicleta, quando me viu veio na minha direção.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

55

- E aí, meu amigo Jorge. Como estão as coisas?

- Tudo bem, Nando. E com você?

- Estou passeando de bike, já que estou de férias da escola.

Ainda está namorando a Sandra?

- Claro. E você, tem visto a Helen?

- Cara, aquela menina sumiu do mapa depois que ficou grávida

do Anderson. Você se lembra dele? O carinha rico da escola.

- Sim, fiquei sabendo. E você não estava namorando a Larissa?

- Que nada, ela ficou comigo uns dois dias depois me chutou. E

você pelo jeito vai casar com a Sandra.

- Se Deus quiser.

- Você teve sorte. O que está fazendo da vida? Está trabalhando?

- Estou trabalhando com o senhor Simon.

- E o que este velho faz da vida? Pra mim era um velho

aposentado.

- Ele é um cientista e tem um laboratório, onde faz algumas

experiências.

- Então você virou ajudante de um cientista maluco. He he!

- Quase isto. Ele é um bom cientista.

- E como ele arranja dinheiro?

MARCELO MENA

56

- Ele patenteou algumas invenções e vendeu pra algumas

empresas.

- Quer dizer que já inventou alguma coisa útil?

- Sim, Nando. Ele conseguiu montar um circuito eletrônico,

onde é possível analisar como está a qualidade da água e,

quando ligada com outras máquinas, regula a quantidade

necessária de produtos químicos para melhorá-la.

- É Jorge, aprenda com ele. Assim, vê se inventa algo pra tornar

a nota de dez em cem, com isso vamos ficar ricos!

- Nando, você não tem jeito mesmo. E o que está fazendo?

- Eu estou numa parada com uns amigos. Estamos tentando abrir

uma loja.

- E que loja seria?

- Qualquer uma, se não tiver segurança ou câmeras, a gente abre

e leva o que tiver!

- Você é maluco? Isso é roubo.

- É uma piada, Jorge.

- Só você mesmo, Nando.

- Me deixa ir, ainda vou passar lá na casa do Pedro, ver se ainda

tem alguns perfumes, pois minha mãe está precisando.

- Com certeza tem, ele fez uma compra esses dias com a dona

Rute, porque conversei com ele semana passada.

- Então beleza, Jorge. Até mais.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

57

Ele saiu rápido com a bicicleta, quase atropelando uma senhora

que estava na calçada. Ela reclamou e ele ainda saiu rindo. Esse

Nando não toma jeito mesmo.

Quando cheguei não havia ninguém em casa. Acredito que meu

pai tinha saído com minha mãe para fazer entregas de doces. A

cozinha estava toda arrumada, pelo jeito tinha terminado o

expediente. Aproveitei e liguei pra Sandra.

- Oi, Sandra. Tudo bem?

- Estou meio triste, pois vou ter que ficar longe de você.

- O senhor Simon me falou que seu pai não deixou.

- De certa forma ele tem razão, Jorge. Ficaria complicado pra

mim.

- Bom, pelo menos poderemos namorar por telefone.

Assim, ficamos no telefone por um bom tempo e não vimos a

hora passar. Quando ouvi o barulho da Brasília, me despedi da

Sandra, pois se meu pai me pega namorando no telefone me dá

uma bronca tremenda. Fui para meu quarto e minha mãe veio

falar comigo.

- Está dormindo, filho?

- Não, mãe. Estou cassando algumas roupas pra separar pra

viagem!

- Pode deixar que eu arrumo a mala pra você. O senhor Simon já

nos avisou que por lá é muito calor de dia e a noite esfria

bastante, então, terá que levar bastante agasalho.

MARCELO MENA

58

- Oh, dona Maria, não me vá fazer carregar um monte de mala.

- Você tem que pensar, Jorge. Lá, eu não vou poder lavar suas

roupas, você terá que dar um jeito sozinho.

- Está bem, mãe.

E assim ela começou a mexer no guarda roupa e tirou muita

coisa de lá de dentro que já não usava mais.

- Jorge, você tem roupa aqui de quando você tinha uns dez anos.

- Sim, mãe. Faz um tempinho que não arrumo o meu guarda

roupa.

- Tempinho? Deve fazer uns sete anos. Vou separar tudo e fazer

doação, enquanto preparo sua mala.

Assim, fiquei conversando com minha mãe, enquanto ela

arrumava as roupas. Fazia um bom tempo que a gente não

conversava, pois ela é uma mulher batalhadora. Não para

nunca. Férias, nem pensar. Diz que férias são pra quem tem

tempo, e realmente ela nunca tem tempo pra descansar. Meu pai

passou pelo meu quarto, como estávamos conversando não quis

atrapalhar e foi dormir. Cada roupa que ela pegava sempre se

lembrava de algum detalhe ou de alguma história que passamos,

quando pegou a minha medalha de honra ao mérito por ter

ganhado uma corrida na escola, ela chorou.

- Que foi, mãe?

Ela pegou a medalha na mão e colocou no meu pescoço.

- Lembrei-me deste dia. Como foi sofrido, você se lembra?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

59

- Eu devia ter uns doze anos.

- Sim, seu pai não queria que você participasse desta corrida,

pois achava que tudo isto era coisa do diabo. Me proibiu em te

levar, se eu fizesse isso ele me entregaria na igreja e eu seria

excluída por incentivar meu filho a participar de competições

demoníacas.

- Mas não fiquei sabendo disto, mãe.

- Sim, fiz de tudo pro seu pai não saber da data que era, pois

quando você entrou pela porta todo animado, dizendo que tinha

sido escolhido pra participar da corrida, e seus olhos brilhavam,

resolvi que iria fazer de tudo pra que você participasse, pois não

acreditava que uma corrida fosse coisa do diabo.

- Verdade? Por isso você não queria que eu contasse?

- Você queria contar pra ele, e não deixei. Naquela idade, você

não entenderia o fanatismo religioso do seu pai.

- E você me falou pra deixar quieto e seria um segredo nosso.

- Foi mesmo.

- No dia, a senhora não pode ir, não é?

- Você que pensa. Eu estava lá. Acha que perderia a corrida do

meu filho?

- Mas não te vi.

- Claro que não, fiquei escondida pra ninguém me ver. Vai que

alguém me visse e contasse pro seu pai.

MARCELO MENA

60

- Eu subi pra receber a medalha e achei que só os pais da Sandra

me viram naquele dia.

- Eu me lembro que o diretor da escola te chamou de pernas de

vento, por você ser muito rápido, lembra?

- Mãe, eu não acredito que a senhora estava lá e nem vi.

- Foi lindo ver você correr, ultrapassando todo mundo e ainda

ganhar a corrida. Eu fiquei feliz em ver que meu bebê havia

crescido e agora estava correndo com as próprias pernas.

Ela me abraçou e não consegui resistir, começamos a chorar. De

repente, meu pai entrou pela porta e nos olhou.

- Escutei tudo o que vocês conversaram.

- Pai, eu pensei que estava dormindo.

- Como vou dormir com duas pessoas que não param de falar?

- Me desculpe, Chico. É que estávamos relembrando algumas

histórias.

- De forma nenhuma, eu é que tenho que pedir desculpas pra

vocês. Eu fui muito ignorante e fanático pela religião e vocês

sofreram comigo, me perdoem.

- Claro, pai.

- Oh, Chico. Não é sua culpa, pois não conhecia a verdade.

- E graças ao Jorge, pude ver a realidade, e estou aprendendo

muito com o senhor Simon, aos domingos na igreja.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

61

- Seu Chico, venha aqui então e vamos nos abraçar, pois graças

a Jesus, nossa família é outra.

Assim, nos abraçamos e ainda conversamos mais um pouco

antes de dormir, pois já era de madrugada quando fomos nos

deitar. Agora, podia me deitar feliz, saber que meu pai era outra

pessoa.

MARCELO MENA

62

Capítulo 3

Viajem ao Egito

- Jorge, acorde.

- Mãe, ainda é cedo.

- Eu sei, filho. Mas, o senhor Simon chegou e diz que vai ter que

viajar ainda hoje.

- Como é? Hoje? Mas, por quê?

- Você só vai saber se descer e falar com ele.

- Já vou descer, mãe!

Assim que desci, percebi que era bem cedo, pois ainda as

funcionárias da minha mãe não haviam chegado. O senhor

Simon estava tomando café na cozinha com o meu pai.

- Bom dia, Jorge. Desculpe-me te fazer levantar tão cedo.

- Que isso, Simon, o Jorge ama acordar bem cedo, não é, Jorge?

- O senhor está de brincadeira, não é, pai?

Os dois riram, algumas migalhas de bolo voaram da boca do

senhor Simon.

- Sabe Jorge, nós vamos ter que viajar ainda hoje para o Egito.

- E por que esta pressa?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

63

- É que meu amigo pediu urgência, pois parece que ele

encontrou algo escrito no manuscrito e precisa do original

urgente. Segundo ele, há mais coisas do que imaginava.

- Que coisa, que horas iremos?

- Só estou te esperando, o nosso voo sai daqui a duas horas.

- E como iremos até o aeroporto?

- Seu tio vai nos levar até lá.

- Então, Jorge, corre se arrumar que o senhor Simon tem pressa.

- Está bem, pai. Ainda bem que minha mãe arrumou as malas

ontem.

Subi me trocar e minha mãe ainda estava arrumando algumas

coisas dentro da mala. Não demorou muito e meu tio chegou pra

nos levar ao aeroporto. Minha mãe me abraçou forte e me deu

várias recomendações de como deveria me comportar e

obedecer ao senhor Simon. Parecia o dia em que ela me levou

pra escola infantil.

- Mãe, e a Sandra? Não vou me despedir dela?

- Calma. Quando o senhor Simon nos falou da pressa liguei pra

mãe dela e avisei, elas devem de estar chegando.

- Mãe, como vou sobreviver sem a senhora? De tudo a senhora

lembra.

- Isso você fala agora, depois que casar vai esquecer-se de mim.

- Claro que não.

MARCELO MENA

64

- Quero só ver.

Quando descemos com as malas, havia uma multidão na sala,

acho que nunca havia ficado tão lotada deste jeito, até a Zenaide

do mercado estava lá, querendo saber pra onde estávamos indo.

A Sandra correu e pulou no meu pescoço e me beijou. Nesta

hora, todo mundo bateu palma, nós dois ficamos sem graça e o

povo riu.

- Bem, já que os pombinhos se beijaram, o melhor a fazer é uma

oração pra que Deus guarde o senhor Simon e o Jorge nesta

viajem e que possam retornar desta aventura com muita alegria e

presentes pra gente, vocês não acham?

- É verdade, Fred. Mas depois, precisamos deixar os pombinhos

um pouco a sós, pra que possam se despedir direito.

- Está é a Fábia sempre defendendo o amor.

- Mas é claro, Valdete. Os dois foram pegos de surpresa e nem

puderam conversar. Agora, toda esta multidão olhando pros

dois, até eu ficaria envergonhada.

Todos deram as mãos e começaram a orar por nós nesta viajem,

a Sandra apertava a minha mão com força e a minha mãe do

outro lado também. Estava vendo que iriam ficar roxas se a

oração demorasse um pouco mais. Assim, quando terminou todo

mundo começou a nos abraçar, o pai da Sandra me abraçou e

falou no meu ouvido:

- Que Deus te guarde nesta viajem, Jorge. Saiba que vou sentir

muito a sua falta, principalmente das nossas conversas todos os

dias. – Disse o pai da Sandra.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

65

É verdade, sempre que vou à casa da Sandra pra namorarmos,

o pai dela me puxa pra conversa e ficamos horas conversando.

Às vezes, a Sandra fica brava com ele dizendo que até parece

que é ele que namora comigo. A hora que a Valdete veio me

abraçar, a Sandra entrou na frente e ela vendo que não tinha

como me abraçar estendeu a mão e me cumprimentou. Saiu

rindo do jeito da Sandra.

- Que mulher folgada, querendo abraçar o meu amor.

- Deixa de ciúmes, Sandra.

- Não são ciúmes, é cuidado.

Meu tio Fred me abraçou e colocou algo no meu bolso.

- Juízo por lá, hein, seu ruela.

- Vou ter sim, tio. O que é isto que o senhor colocou no meu

bolso?

- É um cartão de crédito internacional, para o que você precisar

por lá. Tome cuidado. Não me vá perder, ou gastar de mais.

- Mas tio, não precisa.

- Precisa sim, e me faz favor de trazer presente, se não vou ficar

muito chateada com você! – Falou minha tia me puxando e me

abraçando.

- Está bem, tia. Muito obrigado.

Assim, todos foram saindo da casa e indo para o lado de fora.

Começou a juntar mais gente na rua, pois pensavam que havia

acontecido alguma coisa. Dona Clara, a vizinha de frente, ficou

MARCELO MENA

66

brava ao saber que a Zenaide estava lá e soube antes dela, o fato

da viajem. Minha tia aproveitou e me puxou pelo braço junto

com a Sandra, para dentro da casa.

- Agora vocês podem se despedir mais tranquilo aqui dentro e

eu ficarei na porta pra ninguém entrar. Mas, vamos rápido, não

quero que seu tio vá correndo para o aeroporto.

- Obrigado, tia.

- Vai, vamos logo.

A Sandra então me abraçou e nos beijamos. Ficava pensando na

saudade que sentiria dela, pois desde pequenos a gente não se

separa, crescemos na mesma rua, nós estudamos na mesma

escola infantil e acho que era a primeira vez em toda a nossa

vida que ficaríamos tanto tempo separados.

- Ai, Jorge. Como vou ficar sem você?

- A gente vai se falar por telefone. Assim que conseguirmos um

telefone lá, eu te ligo.

- Que nada, seu bobo. Olha aqui.

- O que é isto? Dois celulares novinhos? Você comprou?

- Que nada, meu pai comprou pra nós, assim a gente poderá

conversar sem problemas.

- Que legal, Sandra.

- Não se preocupe que já gravei os números na memória, assim,

se você quiser ligar pra mim, é só discar o numero um.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

67

- Entendi, meu número um. Eu te amo e vou sentir muita a sua

falta.

Nesta hora, minha tia abriu a porta, balançando a cabeça e

apontando para o relógio.

- Vamos, meninos, está na hora.

- Está bem, tia.

Entramos no carro e meu tio logo saiu, vi a Sandra abraçando a

minha mãe e as duas chorando.

- É Jorge, acabei de ver que você é muito querido aqui na rua.

- Que nada, senhor Simon. Esse pessoal estava era fazendo cena,

é só virarmos ali na esquina, o senhor vai ouvir alguns rojões de

alegria. Faz dezessete anos que esse povo quer ter um pouco de

paz nesta rua, porque o Jorge sempre foi um tormento, tanto

pros vizinhos, como para os parentes.

- Verdade, Jorge?

- Meu tio está brincando, senhor Simon. Sempre fui um bom

menino.

Na hora que viramos a esquina, não demorou muito, começamos

ouvir alguns rojões e bastante gente gritando viva. Nesta hora

realmente me assustei.

- Jorge, você está ouvindo os rojões?

- O pior que estou, senhor Simon.

Meu tio chorava de rir no volante, ele até parou o carro de tanto

rir.

MARCELO MENA

68

- O povo está festejando por eu ir embora e o senhor fica rindo,

tio?

- É que esta foi demais, nunca havia planejado algo tão preciso!

– Ele falou, enxugando as lágrimas.

- Como assim? – Falou o senhor Simon sem entender nada.

- Eu paguei pra uns moleques gritarem e soltarem os rojões.

Assim, a hora que eu passasse eles iriam fazer a festa, pois eu

queria te zoar. Mas o senhor Simon puxou o assunto e deu tão

certo, acabou saindo melhor do que eu esperava.

- Quer dizer que você planejou tudo isto?

- Me desculpe, senhor Simon, mas não podia deixar passar esta.

- Olha, Fred, você me surpreende com estas coisas. Bem

pensado!

- O senhor ainda apoia, senhor Simon?

- Mas vamos ser sincero, foi bem engraçado, Jorge! – Disse meu

tio, ligando o carro novamente.

Assim, os dois ficaram rindo e já que não tinha outro jeito,

comecei a rir também. Fomos conversando no caminho sobre

vários assuntos, meu tio e o senhor Simon, discutiram várias

vezes sobre assuntos bíblicos, assim, logo chegamos ao

aeroporto e meu tio se despediu. Fizemos tudo o que foi preciso

para encaminhar as malas e confesso que era a primeira vez

que viajava de avião, mas não estava com medo.

- E aí, Jorge, está preocupado em voar de avião?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

69

- Que nada, senhor Simon. Pra quem já viajou na sua máquina,

avião é fichinha.

- Minha máquina é bem mais segura.

- É mesmo, deu pra ver na ultima viajem.

- Realmente, nesta ultima viajem não esperava por flecha.

- Então, senhor Simon, como o avião voa bem alto, e flecha não

chega lá, estaremos mais seguros.

- É engraçado. Você, quando fica nervoso, gosta de fazer piada.

- O senhor acha que demora muito a viajem daqui até lá?

- Serão aproximadamente treze horas de voo.

- Meu Deus, tudo isto?

- Vamos chegar bem à noite, mas meu amigo estará no

aeroporto pra nos receber.

- E por falar nele, como é o nome dele mesmo?

- O nome dele é Joseph Cicley.

- E o senhor trouxe o pergaminho?

- Claro, carrego junto comigo.

- Vai ser uma emoção conhecer outro país. E por falar nisto, que

língua eles falam?

- No Egito se fala o Árabe, mas não se preocupe usaremos o

inglês.

MARCELO MENA

70

- O senhor fala inglês?

- Sim, e você, Jorge?

- Fiz curso de dois anos que meu tio pagou, mas nunca coloquei

em prática.

- Que bom. Assim, você vai usar bastante por lá.

Entramos no avião e havia muita gente diferente, tinha alguns

que falavam o que parecia árabe. Sentamos na poltrona e o

senhor Simon me deixou sentar na janela. Era bem legal. Na

nossa frente sentou um casal, conversavam muito sobre a festa

de casamento, pelo jeito haviam se casado há pouco tempo. O

rapaz foi colocar uma de suas malas no bagageiro e acabou

derrubando sobre o senhor Simon, o homem pediu mil desculpas

e assim começaram a conversar.

- Meu nome é Flávio e ela é minha esposa Samanta, a gente se

casou há três dias e estamos indo em lua de mel para o Egito.

- Muito prazer, Flávio, o meu nome é Simon e este é meu amigo

Jorge. Estamos indo ao Egito para estudos.

- O senhor é arqueólogo?

- Não. Sou cientista tecnológico, mas temos muita curiosidade

no Egito.

- Nós dois estamos muito emocionados é a primeira vez que

viajamos de avião, ainda mais fora do país.

- É a minha primeira vez também. – Falei para o Flávio.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

71

- Que legal. É bom conhecer novos amigos, assim nos sentimos

um pouco mais seguros, pois estar num país diferente, sem

conhecer ninguém é difícil. – Disse ele, apertando minha mão.

- É verdade, mas lá vocês não terão problemas, só tem que ficar

atento para não serem enganados, pois sempre tem alguém para

tirar vantagem dos outros, sempre é bom ficar no hotel e

somente sair com indicações do próprio hotel. – Falou o senhor

Simon.

- Então não é a primeira vez que o senhor viaja para o Egito? –

Disse o Flávio, tentando se acomodar na poltrona.

- Na realidade já é quarta vez que viajo para o Egito. – Disse o

senhor Simon, colocando sua bengala entre as poltronas.

- Nós vamos ficar no hotel Quéops, o senhor sabe onde fica? –

Finalmente, Samanta falou meio tímida.

- Não lembro ao certo, pois existem muitos por lá! – Respondeu

o senhor Simon.

- O hotel nos avisou que haverá uma pessoa nos esperando pra

nos levar. – Flávio falou, colocando o seu braço sobre o ombro

de Samanta e os dois se abraçaram.

- Não se preocupem, o hotel cuida de tudo pra vocês. – Falou o

senhor Simon.

Nesta hora ouvimos nas caixas de som do avião que era pra

todos se sentarem e apertar o cinto, pois o avião já iria levantar

voo.

- Quer dizer que o senhor já viajou pro Egito?

MARCELO MENA

72

- Sim, Jorge. A última vez foi com o Joseph, pois precisávamos

participar de uma palestra sobre escavações no Egito. Foi

quando Joseph largou tudo e ficou por lá. Ele amava

arqueologia e desde esta época não o vejo.

- Quanto tempo faz, senhor Simon?

- Já está fazendo oito anos. Me lembro dos passeios nas

pirâmides, aprendemos muito sobre arqueologia. Este casal vai

se divertir muito, tem muitos lugares pra visitar.

- E o senhor acha que eles vão ter tempo pra isso?

- Ai, Jorge, é claro que vão ter tempo, eles não vão ficar o tempo

todo no hotel, não é?!

- Sei lá, são casados novos. E por falar em hotel, onde vamos

ficar?

- Bem, o Joseph nos convidou pra ficar na casa dele, assim fica

mais econômico.

O avião levantou voo. Na viagem, o senhor Simon foi ao

banheiro várias vezes. Reclamava que o banheiro era muito

apertado. O casal foi a viagem inteira se beijando e abraçando,

só paravam quando iam comer alguma coisa, e por falar nisto, a

comida era horrível.

- Jorge, você experimentou esse frango? – Falou o senhor

Simon, cuspindo dentro de um saquinho de papel.

- Sim, está horrível. Parece que o frango sofreu pra morrer.

- Como assim, Jorge?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

73

- A carne pra estar assim é porque correram atrás,

desesperadamente, do frango e o bichinho sofreu suado, pra

depois o matarem.

- Essa é boa. Só você mesmo pra pensar nesta história, Jorge.

Mas, pensando bem, vou ficar só com o doce.

- Eu também, não sabia que a comida de avião era ruim assim.

- É que estamos na classe econômica.

- E o pior, senhor Simon, é que não dá pra jogar pela janela.

- Verdade.

O casal virou para trás e disse:

- Vocês também estão achando ruim a comida?

- Está terrível! – Respondi.

- Vamos evitar comer neste avião. – Falou Flávio.

- Sim, é bom evitar, mas o que você faz da vida? Perguntou o

senhor Simon, comendo um pedaço do doce.

- Sou consultor de vendas e a Samanta é professora.

- Desculpe atrapalhar a conversa, mas será que ainda falta muito

pra chegar, senhor Simon?

- É, Jorge, ainda faltam nove horas.

- Então acho que vou tirar um cochilo, senhor Simon.

MARCELO MENA

74

- Tudo bem, Jorge. Pode descansar você acordou bem cedo, não

é?

O senhor Simon continuou conversando com o Flávio e a sua

esposa, que ainda insistia em comer aquele frango horrível.

Assim, acabei fechando os olhos e não vi mais nada. De repente

acordei com uma barulheira dentro do avião, olhei do lado o

senhor Simon não estava, nem o Flávio no banco da frente. Sua

esposa estava no corredor olhando pra frente.

- O que está acontecendo? – Perguntei.

- Parece que um homem está passando mal e caiu no corredor. –

Disse ela, como que desesperada.

Olhei e vi que tinha um homem caído no chão, o senhor Simon e

o Flávio seguravam a cabeça do homem. Alguns seguravam os

braços e tentavam fazer uma massagem, fui até mais perto para

ver. O rosto do homem estava roxo, parecia não respirar,

algumas aeromoças estavam entrando em desespero. Uma

senhora gorda gritou bem alto:

- Não tem nenhum médico a bordo?

- Calma, senhora. Estamos tentando localizar. – Respondeu a

aeromoça, toda pálida.

Aproximei pra conversar com o senhor Simon, sobre como

poderia ajudar, mas de repente o avião balançou por inteiro.

Alguns caíram no chão e outros sobre os bancos, o senhor

Simon e o Flávio caíram para trás, e por incrível que pareça,

caí em cima do homem que estava morrendo. Bati com a minha

cabeça no seu estômago. Nesta hora, o homem deu uma tossida

tão forte que voou um pedaço de osso de frango, que chegou a

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

75

fincar no teto do avião, logo o homem voltou a respirar. Uma

aeromoça gritou:

- Graças a Deus, ele voltou respirar.

- Obrigado, garoto. Você me salvou! – Falou o homem, com

uma voz ofegante.

- Foi sem querer que caí em cima do senhor.

- Se não fosse você cair, estaria morto agora. Como é seu nome,

garoto?

- É Jorge.

- Muito obrigado, Jorge. Nunca vou me esquecer do seu nome.

O homem levantou com um pouco de dificuldade, me abraçou e

todos bateram palmas. Então, todos voltaram pro seus lugares e

alguns diziam que o frango estava tão ruim que quase matou o

homem.

- É Jorge, começo acreditar que realmente você tem um dom. –

Falou o senhor Simon, batendo nas minhas costas.

- Como assim?

- Você acabou de salvar a vida daquele homem, acho que mais

alguns minutos, ele não conseguiria sobreviver.

- Foi coincidência, senhor Simon.

- Jorge, eu não acredito em coincidência e sim providência

divina, pois te vi voando dentro do avião e caindo de cabeça na

barriga do homem!

MARCELO MENA

76

- A minha sorte que o homem estava lá e amorteceu a minha

queda. Se não, eu tinha estourado a cabeça no chão, senhor

Simon.

- O importante que deu tudo certo. – Disse o Flávio, também

batendo nas minhas costas.

Nesta hora, chegou um homem com uma aeromoça dizendo que

ele era médico e perguntando onde estava o homem desmaiado.

Todos começaram a rir, o Flávio virou para o homem e disse:

- Um pouco tarde agora, meu senhor. O homem já está bem.

- O que aconteceu? – Perguntou o médico.

- Vamos dizer que houve um milagre. – Disse o senhor Simon

me olhando e rindo.

Chegamos ao aeroporto do Egito e era de madrugada, havia

poucas pessoas, então fomos pegar nossas malas e saímos pela a

porta principal do aeroporto. Não havia ninguém nos esperando,

então, nos sentamos próximo a um bebedouro. O lugar era bem

bonito, cheio de cores.

- Era pro Joseph estar aqui. – Falou o senhor Simon, meio

preocupado.

- Ele deve ter se atrasado.

- Estranho, Jorge, pois ele é bem sistemático com o horário, ele

nunca atrasa. Vamos esperar um pouco.

- O senhor não tem o telefone dele?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

77

- Tenho, acho que vou ligar pra ele daquele telefone ali. –

Apontando pra um telefone público.

- Usa o meu celular. É só ligar a bateria e depois vou ligar pra

Sandra e minha mãe.

O senhor Simon pegou o meu celular e se afastou pra ligar.

Estava um pouco frio o lugar. Toda vez que abriam a porta

automática dava pra sentir um vento gelado entrando. Víamos

algumas pessoas passando. Pensei que ia encontrar muita gente

com roupas estranhas, camelos andando pela rua, mas não vi

nada disso. Era como se estivéssemos numa cidade bem

desenvolvida, as ruas estavam com muitos carros e muitas lojas

fechadas. Enquanto eu olhava algumas lojas, o senhor Simon

começou a falar em inglês e o que entendi foi mais ou menos

isso:

- Alô, Joseph? Quem? Polícia Egípcia? Como assim? Sou amigo

dele e vim do Brasil para ficar na casa dele, estou no aeroporto

de Cairo e estou o aguardando. Meu nome é Simon e estou com

meu amigo Jorge. Está bem, estaremos esperando.

- O que foi, senhor Simon?

- Não entendi direito, parece que houve alguma coisa com o

Joseph e o celular dele estava com a polícia. Agora estão vindo

aqui pra falar conosco.

- O que será que aconteceu?

- Não sei, Jorge, mas algo ruim deve de ter acontecido com ele.

Vamos aguardar.

- Agora vou ligar pra Sandra e pra minha mãe.

MARCELO MENA

78

- Não comente nada sobre isso. Pra elas não ficarem

preocupadas diga que estamos aguardando no aeroporto.

- Está bem. Vou ligar. Está chamando. Alô?

- Oi, Jorge. Já chegaram? Como foi de viagem?

- Oi, Sandra. Acabamos de chegar, foi muito boa, só a comida

do avião é que era horrível.

- Estou morrendo de saudades. – Disse a Sandra, com voz de

choro.

- Também estou com muitas saudades, pena você não estar aqui,

você ia amar ver as lojas de roupas que tem por aqui.

- Verdade? Vê se tira foto com o celular e me manda.

- Pode deixar, mas vou ter que desligar, pois preciso ligar pra

minha mãe.

- Não precisa, ela está aqui do meu lado.

- Ela está na sua casa?

- Que nada, eu é que estou na sua casa. Ficamos aqui a convite

de sua mãe até esperar você ligar, mais um pouco tinha virado

uma bola, pois sua mãe não para de dar as coisas pra gente

comer.

- Isso é normal dela, Sandra.

- Mas vou passar pra ela, só um minuto.

- Oi, Filho. Tudo bem por ai?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

79

- Graças a Deus, mãe. E a senhora e o pai?

- Agora estamos tranquilos, sabendo que vocês chegaram. E

como é o lugar aí?

- Muito bonito, tem muitas lojas. Estamos morrendo de fome.

- Mas não comeram no avião?

- A comida era horrível, se eu fosse a senhora iria lá ao

aeroporto e oferecia seus serviços pra eles. Quem sabe assim

melhoraria a alimentação e a senhora teria que aumentar a

empresa.

- Boa ideia, Jorge. Quem sabe dá certo. Mas vou parar por aqui,

pra não ficar caro. Qualquer coisa me liga, filho.

- Pode deixar, mãe.

- Vou passar pra Sandra de novo.

- Você é o amor da minha vida, Jorge.

- E você da minha, Sandra. Mas, vou ter que desligar, assim que

eu puder te ligo de novo.

- Está bem, um beijão.

Desliguei o telefone e percebi que o senhor Simon estava muito

nervoso.

- Fique calmo, senhor Simon. Vai dar tudo certo.

- Estou preocupado com meu amigo.

MARCELO MENA

80

Nesta hora, o Flávio e a Samanta se aproximaram da gente e

perceberam o nervosismo do senhor Simon.

- Algum problema, seu Simon?

- É que nosso amigo está atrasado.

- A pessoa que vinha buscar vocês? – Perguntou Flávio,

colocando as malas no chão.

- Isso. – Respondi.

- Olha, não precisa se preocupar Flávio, a gente vai esperar e

qualquer coisa a gente vai pra um hotel. – Falou o senhor

Simon, tentando não demonstrar nervosismo.

- Qualquer coisa, fica com o número do meu telefone e se acaso

precisar, é só ligar. Se for o caso, vocês ficam no mesmo hotel

que a gente e pode deixar que eu pago. – Falou Flávio.

- Agradeço a boa vontade de vocês, mas não se preocupem,

aproveitem a lua de mel de vocês! – Disse o senhor Simon.

- Então nós vamos indo, qualquer coisa me liga! – Disse Flávio,

pegando as malas e abraçando a Samanta.

- Até mais. Boa lua de mel pra vocês! – Falei.

Os dois saíram conversando sobre nós e logo pegaram o carro

do hotel que já os aguardava.

- Este casal é muito legal, senhor Simon.

- Também achei, Jorge. Quem iria querer pagar um hotel pra

nós, sem nos conhecer?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

81

Nesta hora entraram dois homens engravatados, vieram em

nossa direção e falaram uma língua muito esquisita. Não

entendemos nada.

- Vocês não falam inglês?

- Sim, falamos. Vocês são os dois brasileiros que eram amigos

do professor Joseph? – Falou um homem careca e de gravata

vermelha.

- Sim, somos nós. – Respondeu o senhor Simon.

- Por favor, nos sigam até a delegacia. Precisamos conversar. –

Falou o outro rapaz de gravata cinza florida e com um sapato de

bico fino.

- Mas o que aconteceu? – Perguntou o senhor Simon.

- Não podemos falar agora, somente na delegacia tudo será

esclarecido. – Falou o careca.

Então, entramos em um carro preto com os vidros escuros e

fomos até a delegacia. A rua era bem iluminada. Passamos

próximo a uma praça bem grande e entramos em uma rua bem

estreita, não demorou muito chegamos até a delegacia. Fomos

levados para uma sala grande com algumas poltronas. Lá havia

uma garrafa de suco e algumas bolachas.

- E agora, senhor Simon? – Perguntei.

- Não sei, Jorge. Temos que esperar pra ver o que querem e

saber o que aconteceu.

- Será que podemos comer estas bolachas?

MARCELO MENA

82

- Não sei, Jorge.

- Vou pegar uma, estou com muita fome.

Quando peguei a bolacha e estava levando a boca, um homem

alto entrou com uma pasta na mão. Fiquei sem saber se

continuava a levar na boca ou deixava no prato.

- Podem comer, fiquem à vontade, é pra vocês mesmo.

- Obrigado, estamos morrendo de fome. – Falei.

- A comida do avião é horrível, não é? Vocês comeram o

frango? – Falou o homem.

- Como o senhor sabe? – Perguntei pra ele.

- É que um dos passageiros veio até a delegacia prestar queixa,

pois parece que um homem quase morreu por causa do frango.

- É verdade! – Falei com a boca cheia de bolacha.

- Bem, meu nome é Zaid. Sou responsável por este distrito.

Desculpe-nos os transtornos, mas é que precisamos fazer

algumas perguntas antes de liberar vocês.

- Sim, sem problemas. Mas preciso saber sobre o meu amigo

Joseph. – Falou o senhor Simon meio nervoso.

- Não te falaram o que aconteceu? – Perguntou Zaid.

- Ninguém nos falou nada até agora. – Disse o senhor Simon.

- É que o professor Joseph foi morto hoje ao meio dia e seu

apartamento foi todo revirado. Estamos achando que foi roubo

seguido de morte. – Disse Zaid.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

83

- Não acredito, o meu amigo foi morto? E como o mataram?

- Sinto muito pela perda. Ainda não saiu o laudo do legista, mas

parece que foram dois tiros. – Zaid falou, tentando ser legal com

o senhor Simon.

- Ele nunca fez mal a ninguém. – Falou o senhor Simon,

Chorando.

- O professor era um homem querido aqui, tanto na faculdade,

onde ele dava palestras sobre suas descobertas, como com a

equipe de escavações. – Disse Zaid.

- E vocês tem ideia de quem fez isto? – Perguntei.

- Não ainda, mas estamos investigando. Agora posso fazer

algumas perguntas?– Perguntou Zaid.

- Sim, claro! – Falou o senhor Simon.

Assim, Zaid começou a fazer perguntas pro senhor Simon sobre

como o conhecia, quando se falaram. Só sei que a conversa

levou mais ou menos uma hora e meia, pois esta situação era

bem triste, acredito que o senhor Simon ficou bem chocado com

a morte de seu amigo.

- Bem, Simon, acredito que terminamos por aqui. O senhor tem

algum lugar pra ficar? Perguntou Zaid, colocando seus papeis

em uma pasta.

- Iríamos ficar na casa do Joseph, mas agora ficamos sem saber

o que fazer, nós vamos precisar de um hotel.

- Então vamos fazer o seguinte: vou levar vocês pra um hotel

aqui perto. Pode deixar que a delegacia paga a diária de vocês

MARCELO MENA

84

até amanhã, depois é por conta de vocês. Até quando o senhor

pretende ficar?

- Bem, a minha ideia era uns trintas dias, mas agora não sei

mais.

- Daqui a quatro dias vamos liberar o corpo para o enterro, mas

universidade já está providenciando tudo. Então, meus

sentimentos pelo seu amigo e tenha uma boa estadia no Cairo.

Qualquer informação, ou algo que queira falar, é só nos ligar. –

Disse Zaid, abrindo a porta para sairmos acompanhado pelos

dois policiais.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

85

Capítulo 4

Um Roubo Estranho

Passamos a noite no hotel indicado pela polícia, que não era lá

grande coisa. Era um pequeno quarto com banheiro e uma

televisão, que só falava em árabe. Tínhamos direito ao café da

manhã e almoço. O senhor Simon ficou calado um bom tempo,

não quis incomodá-lo, pois sabia que ele estava triste com a

morte de seu amigo. Logo pela manhã, eu estava um pouco

cansado, devido o fuso horário.

- E agora, senhor Simon? O que vamos fazer?

- Andei pensando sobre tudo isto, Jorge. Acho que devemos ir

embora após o enterro, pois não conseguiremos decifrar o mapa

sem meu amigo. Então, enquanto esperamos o enterro, pensei

em passar pelas pirâmides pra você conhecer, alguns outros

lugares turísticos e depois partiremos.

- Sinto muito pela morte de seu amigo.

- Eu sei, Jorge, foi uma tristeza e atrapalhou todo o nosso plano.

Mas vamos descer, nos alimentar e conhecer um pouco o Egito.

Chegamos ao restaurante do hotel e havia bastantes frutas e pães

para comer. A mesa era bem farta e não havia muita gente.

- Jorge, experimente este café. – Disse o senhor Simon, pegando

uma xícara de café de uma máquina e me dando para beber.

- Puxa, é muito forte e gostoso.

- Esse café é brasileiro, percebeu a diferença?

MARCELO MENA

86

- Brasileiro? É bem diferente do nosso café.

- Aqui chega o melhor café do Brasil, o nosso país fica com o de

pior qualidade, Jorge.

- Que coisa. Então, a gente bebe o pior, enquanto o melhor da

nossa terra é mandado pra outros países.

- Pra você ver como o Brasil é complicado.

Pegamos alguns pães e nos sentamos em uma mesa próxima à

janela que dava para a rua.

- Este pão parece com o que minha mãe faz, está uma delícia,

senhor Simon.

- Verdade, Jorge.

Enquanto estávamos comendo, entrou um homem bem vestido,

sentou-se próximo a nossa mesa e ficava nos olhando.

- Senhor Simon, está vendo aquele homem?

- Sim. Vi, ele não para de olhar para nós.

- O que será que ele quer?

- Pode ser que seja da polícia. Está nos observando para ver o

que iremos fazer, Jorge!

- Por que, senhor Simon?

- Eles estão investigando a morte do meu amigo. Como viemos

de outro país, justamente quando ele morre, parece meio

suspeito, você não acha?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

87

- É, até pode ser. O pior é que ele está vindo até aqui.

O homem estava com uma calça social cinza e uma camisa

listrada. Usava óculos na ponta do nariz e tinha um cabelo bem

liso, caído sobre a testa.

- Com licença. Vocês são brasileiros? – Perguntou ele.

- Sim. – Respondeu o senhor Simon.

- Vocês eram amigos do Joseph? – Falou ele, pegando um

pedaço de pão da nossa mesa.

- Sim, por quê? – Perguntou o senhor Simon, não gostando

muito do que ele fez.

- Graças a Deus são vocês. Posso me sentar aqui? – Perguntou

ele, já arrastando a cadeira e se sentando.

- Sim, mas, quem é você? – Perguntou o senhor Simon.

- Meu nome é Khar, fui aluno do senhor Joseph e estava

trabalhando com ele. Ele me contou que vocês estavam

chegando do Brasil, trazendo um pergaminho.

- Sim, mas por que está falando tão baixo? – Perguntei.

- É que estou com medo, foi por causa deste pergaminho que

Joseph morreu.

- Como assim? Explique! – Disse o senhor Simon, encarando o

Khar.

- Ele recebeu uma parte da cópia do pergaminho e ficou muito

empolgado. Comentou comigo que este pergaminho era o que

ele tanto procurava, pois com ele seria possível descobrir sobre

MARCELO MENA

88

os atanasianos e os tesouros de Salomão. Mas ele não contou só

para mim, ele comentou com algumas pessoas da universidade

que ajudavam a financiar as suas escavações e após isso, um

grupo de pessoas o cercaram numa noite, após a saída da

universidade, e pediram que ele entregasse o pergaminho. Ele

disse que não poderia, pois não estava com ele, deram, então,

um prazo para entregar, que foi ontem.

- Porque ele não procurou a polícia?

- Não podia, ele disse que tinha sempre alguém o seguindo em

qualquer lugar que fosse. Se ele denunciasse, seria morto.

Acredito que foram eles que mataram o professor Joseph.

- Então vamos até a polícia e você conta esta história para o

delegado. – Falou o senhor Simon se levantando da mesa.

- Não, por favor! Se sente. Eu não quero me envolver, posso ser

morto também! – Disse o Khar, olhando dos lados e puxando o

senhor Simon para se sentar.

- Então porque está aqui nos contando tudo isto? – Perguntei.

- É que ontem, o professor Joseph me encontrou na

Universidade, pela manhã, e me chamou dentro de uma sala de

aula. Me disse que estava correndo perigo de vida, por causa do

pergaminho, e que precisava avisar vocês. Mas não poderia, pois

o telefone dele estava grampeado, portanto, me pediu que fosse

até o aeroporto receber vocês.

- E porque você não foi? – Perguntou o senhor Simon com a voz

meio brava.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

89

- Eu fui. Mas quando cheguei, a polícia já estava lá, então fiquei

esperando até que trouxeram vocês pra este hotel. Não quis

incomodar vocês na madrugada, por isso vim agora, de manhã.

- Sim, e onde Joseph queria que nos levasse? – Perguntou o

senhor Simon.

- Na realidade ele só me pediu pra que encontrasse vocês no

aeroporto e entregasse esta chave. Recomendou que fosse até a

estação férrea, onde estiveram alguns anos atrás. Ele disse que

saberia onde é. – Falou Khar, colocando a chave sobre a mesa.

- Sei sim. – Respondeu o senhor Simon, pegando a chave.

- Então está bem, vou embora e não quero nem saber mais sobre

este assunto. Terminei a minha missão, que prometi ao

professor. Boa sorte pra vocês.

O homem saiu correndo sem olhar pra trás, pegou o carro e saiu

que nem louco.

- Que história maluca, senhor Simon. Será que é verdade tudo

isto?

- Não sei, Jorge. Vamos até a estação e veremos o que tem lá.

- E esta chave, pra que serve?

- A última vez que estivemos aqui, possuíamos algumas

mochilas e não tínhamos onde deixar. Então, nos informaram

que poderíamos deixar na estação de trem. Lá havia vários

armários, onde fazíamos um cadastro e pegávamos uma chave

pra guardar nossas coisas.

- Será que ele deixou alguma coisa lá, senhor Simon?

MARCELO MENA

90

- É possível. Mas só vamos descobrir se formos até lá.

- E se as pessoas, que seguiam o Joseph, estiverem lá? Pode ser

que o tenham seguido e estão esperando alguém ir até lá.

- Só tem um jeito de descobrir.

- Como, senhor Simon?

- Indo até lá, Jorge.

- Não gosto quando o senhor fala assim. Bem que a Sandra disse

que os inimigos de Deus poderiam estar à procura deste

pergaminho. A gente vai acabar morrendo por causa deste

bendito pergaminho!

- Calma. Ninguém vai matar a gente na estação de trem, lá é

superlotado de pessoas.

- Neste caso, eles podem nos pegar, levar para outro lugar e nos

matar! Pode ver, quem pega este pergaminho acaba morrendo.

- Como assim, Jorge?

- O homem, há dois mil anos atrás, morreu com flechas na

barriga por causa deste pergaminho. Seu amigo, agora, morreu

com tiros por causa disto. O melhor é irmos embora e deixar

esta história de pergaminho como está.

- Então vamos fazer o seguinte: iremos até lá, veremos o que o

meu amigo deixou e vemos se encontramos os atanasianos, para

devolvermos o pergaminho.

- Que loucura! Então vai à busca dos imortais? Nem sabemos se

eles existem.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

91

- Você não ouviu o rapaz dizendo que este pergaminho

conseguirá descobrir sobre os atanasianos e os tesouros de

Salomão?

- Não quero nem saber mais sobre tesouros. Mas sei que o

senhor não vai sossegar até descobrir, não é?

- Jorge, veja quanta coisa podemos descobrir, será uma

aventura!

- Está bem, já que não vou conseguir mudar sua opinião, então

vamos.

Assim, pegamos um táxi e fomos até a estação de trem que o

senhor Simon conhecia. Realmente, havia uma multidão de

gente.

- Jorge, acho que ele escolheu esta estação, pois quem o

estivesse seguindo não conseguiria ver o que ele estaria fazendo.

Seria um ótimo lugar pra despistar alguém.

- Está certo. Vamos encontrar o armário.

Chegamos numa sala enorme e havia vários armários com

numeração.

- Qual o número, senhor Simon?

- 1350, Jorge.

- Estamos, ainda, no número 144!

- Vamos seguir por aqui, Jorge.

Eram muitos armários, pareciam infinitos.

MARCELO MENA

92

- Achei, Jorge. Venha!

Ele abriu o armário e havia uma pequena maleta. Do lado de

fora, um papel colado.

- O que está escrito, senhor Simon?

- Está dizendo para sairmos rápido daqui e só abrirmos a maleta

num lugar mais tranquilo.

- Estou indo.

- Calma, espera, Jorge!

- Vamos seguir tranquilos, sem dar sinal de que estamos

nervosos.

- Não estou nervoso, senhor Simon!

- Não está?

- Estou é morrendo de medo.

- Vamos sair andando normalmente, Jorge.

Saímos da estação e voltamos para o hotel.

- Olha, senhor Simon, naquela estação de trem, parecia que todo

mundo ficava olhando para nós. Pra mim, todos eram os

inimigos de Deus.

- Fique tranquilo, Jorge. Ninguém sabe que temos o

pergaminho. Quando chegarmos ao nosso quarto, a gente saberá

o que fazer.

- Está bem.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

93

Quando abrimos a porta do quarto, todas as coisas estavam

reviradas, parecia que havia passado um furacão, todas as

roupas estavam jogadas, as malas reviradas, os armários todos

abertos, uma situação realmente difícil.

- O que aconteceu, senhor Simon?

- Alguém entrou aqui e revirou nossas coisas!

- E agora, chamamos a polícia?

- Não podemos. Caso contrário, teríamos que falar sobre o

pergaminho.

- O que vamos fazer?

- Vou ligar para o gerente do hotel.

Assim que o senhor Simon ligou, o gerente chegou rapidinho.

Foi logo pedindo desculpas pelo fato e perguntou se queríamos

que chamasse a polícia.

- Não precisa chamar a polícia, pois não roubaram nada de

valor. Só queremos mudar de quarto, é possível? – Perguntou o

senhor Simon.

- Sim, vou pedir pra levarem as suas coisas para o andar de cima

e tentar descobrir se foi alguém daqui. Temos câmeras e

veremos quem foi. – Disse o gerente, todo nervoso.

Subimos para outro quarto e este era mais chique. Tinha até ar

condicionado. Levou um bom tempo arrumar tudo de volta.

- Senhor Simon, e o pergaminho? Não estava nas suas coisas?

MARCELO MENA

94

- Claro que não, Jorge. Está dentro de uma bolsa que carrego por

dentro da minha roupa.

- Ufa! Imagine se tivessem roubado.

- Graças a Deus não levaram nada.

- Espera um pouco.

- O que foi, Jorge?

- Roubaram minhas cuecas!

- O que? Suas cuecas? Hahahahaha! Pare de brincadeira, Jorge!

- É sério, não estão aqui.

- E porque levariam suas cuecas?

- Acho que foi algum pervertido.

- Espera aí, quando viemos da viagem do Harmes, você tinha

uma cueca de couro de animal, não tinha?

- Sim, aquela que a gente amarra com aqueles laços de couro.

- E você trouxe?

- Claro! Ela é bem confortável, melhor do que essas que a gente

usa.

- Então está explicado!

- Por quê?

- Aquela cueca aberta parece um pergaminho, talvez, levaram

achando ser isto.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

95

- Cretinos! Fiquei sem cuecas agora. Era só o que me faltava.

- Não se preocupe. Depois a gente compra nas lojas lá embaixo.

- Mas nunca vou ter outra igual àquela de couro.

- Está bem, vamos abrir a maleta pra ver o que tem, Jorge.

- Vamos!

Ao abrir a maleta, havia algumas notas de dinheiro e um

envelope branco. O senhor Simon foi logo abrindo.

- Veja, Jorge! É uma carta do Joseph.

- Leia, senhor Simon.

- Aqui Diz:

Bem, meu caro amigo, Simon. Se você estiver lendo esta carta é

porque provavelmente já estarei morto, mas não se preocupe,

pois posso dizer que já estava preparado para este

acontecimento. Sei que terminei a minha carreira na Terra,

trabalhei muito na busca de materiais arqueológicos, para cada

vez mais poder comprovar o que na bíblia está escrito. Meu

ultimo achado foi um vaso de alabastro. Acreditamos ser da

época de Cristo e está no museu de Londres. Se você passar por

lá, verá o meu ultimo achado. Então, devo estar agora

aproveitando das delícias do paraíso, pois vivi e morri tendo

Jesus como meu melhor amigo e mestre.

Bem, Simon, o assunto agora é de extrema importância. Pois,

daquela cópia do pergaminho, que você me enviou, consegui

traduzir alguns trechos que falam dos atanasianos e dos tesouros

de Salomão. Portanto, resolvi pedir ajuda aos meus

MARCELO MENA

96

patrocinadores, que são da Universidade e, logicamente, ficaram

empolgados com esta cópia do pergaminho. Mas só a cópia não

era suficiente, pois precisávamos de todo o pergaminho para

tentar desvendar a localização dos tesouros de Salomão. Por isso

pedi para que viesse para o Egito. O que eu não sabia era que

um dos meus patrocinadores estava envolvido com o senhor

Muled. Este homem é um ladrão de túmulos, aqui no Egito, e é

procurado pela polícia. Como tem muito dinheiro, consegue

comprar muita gente, até policiais. Você deve tomar muito

cuidado com ele, pois é inescrupuloso e assassino. Simon, não

confie em ninguém.

Muled queria que eu entregasse o pergaminho para ele, ou

então, iria me matar. Tentei falar que não o tinha comigo, mas

ele me deu um prazo de vinte quatro horas. Como sabia que

você estava vindo, não podia arriscar a tua vida também. Por

isso, preparei esta maleta com esta carta, para que não permita

que Muled tome posse deste pergaminho. Então, com o dinheiro

que deixei, quero que você vá até Alexandria e procure pelo

professor Bryan Sand. O endereço dele está dentro do envelope.

Ele poderá desvendar o pergaminho e ajudará no que for

possível. Já havia falado com ele, antes de tudo isto acontecer,

portanto, não perca tempo com nada. Saia do Egito o mais

rápido possível, antes que Muled saiba sobre você e o

pergaminho.

Você sabe a importância que existe na descoberta dos tesouros

de Salomão. Poderemos desvendar muitos mistérios que existem

sobre o passado, então, não desista Simon. Vá até o fim.

Tenha uma boa sorte. Deus te guarde em tudo. Um forte abraço

e até a eternidade, Simon.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

97

- E agora, senhor Simon?

- Arrume as malas e vamos embora para Alexandria.

- E se esse tal de Muled nos encontrar?

- Por isso precisamos sair daqui, urgente. Ele já sabe que

estamos aqui.

- Então vamos embora! Mas lembre-se que ainda precisamos

comprar cuecas.

- Está certo, Jorge. Em Alexandria a gente compra.

Saímos do hotel o mais rápido possível, fomos até a estação de

trem e, depois de algumas horas, descemos na cidade de

Alexandria. Já era bem tarde da noite, mas conseguimos

encontrar um hotel para ficar.

- É, Jorge, vamos descansar. Amanhã bem cedo precisamos

encontrar o Bryan Sand. Foi ótimo virmos à noite, assim, fica

difícil alguém nos seguir.

- É, mas ainda acho que devíamos ir embora.

- Sim, Jorge, mas é que a descoberta dos tesouros de Salomão é

de extrema importância. Agora, só esse professor poderá nos

ajudar, já que nós não conseguimos decifrar o que está escrito.

- Amanhã preciso de cueca, lembra?

- Sim, Jorge. Aqui em Alexandria tem bastantes lojas.

MARCELO MENA

98

Capítulo 5

Sequestrados

Acordei com o sol batendo na janela, olhei para a cama do

senhor Simon e já estava toda arrumada. Ele não estava no

quarto, então levantei e fui olhar pela janela. Havia muita gente

na rua, a cidade era bela e estávamos de frente para uma praia

muito linda. Assim, enquanto eu admirava o local, o senhor

Simon entrou com algumas sacolas nas mãos.

- Bom dia, dorminhoco!

- Bom dia, senhor Simon. Aonde o senhor foi?

- Fui comprar alguma coisa pra nós comermos e já comprei as

suas cuecas. Infelizmente não tem iguais às do Brasil, por isso,

você terá que se adaptar.

Peguei a sacola e dentro havia alguns calções.

- Estas cuecas parecem do tempo do meu avô!

- Você se adapta, Jorge. Tem mais uma coisa.

- Qual é?

- O chuveiro só tem água fria. Aproveite que a água é só até às

dez horas, depois, só amanhã.

Saí correndo para tomar banho. Realmente, a água era

congelante. Saí do banho tremendo e batendo os dentes. O

senhor Simon ficava rindo. Comemos algumas frutas e pães,

depois saímos em busca do professor. As ruas eram bem

estreitas, com vários prédios altos. Podíamos ver vários turistas

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

99

passeando pelas ruas, por causa de suas roupas coloridas.

Muitos deles eram americanos.

- Jorge, este é o prédio. Vamos entrar!

- O senhor já conhecia este lugar?

- Sim. Da última vez que estive aqui foi apenas para conhecer o

museu.

Chegamos à portaria e havia um homem gordo, fumando um

tipo de cachimbo muito estranho, o cheiro era insuportável. O

pior era que só falava em árabe. Então o senhor Simon mostrou

o nome e ele apontou para o número. Era o quarto trinta e dois,

ficava no terceiro andar. Ele balançava a mão para que fôssemos

ao quarto, pois, pelo que gesticulava parecia que o telefone

estava quebrado. Logo depois, voltou para o seu cachimbo e

ficou assistindo uma pequena televisão.

- O senhor viu que homem estranho?

- E o pior é que só fala em árabe, Jorge.

- Esse professor pelo jeito deve ganhar muito pouco, pois este

prédio está em situação precária.

- Tem razão, Jorge. Por onde a gente olha tem sujeira e até

parece que vi um rato correndo no corredor.

Quando chegamos ao quarto trinta e dois, a campainha estava

arrebentada. O senhor Simon bateu na porta. Demorou um

pouco, até que um homem baixo e magro abriu a porta. Estava

bem vestido e possuía um enorme bigode (chegava a tampar

parte de sua boca). Nos atendeu falando em árabe.

MARCELO MENA

100

- O senhor não fala inglês? – Perguntou o senhor Simon.

O homem mexeu a cabeça, como quem não entendeu nada.

- E agora, senhor Simon? Como vamos falar com ele?

Então alguém gritou de lá de dentro.

- Vocês falam português? De onde vieram?

Então um homem, todo de terno, apareceu na porta. Possuía

uma careca igual a do senhor Simon e tentava falar o português,

mas acabava trocando as palavras.

- Somos do Brasil. Éramos amigos do Joseph Cicley! – Disse o

senhor Simon, cumprimentando o homem.

- Fiz tempo que não ouvia essa íngua. Eu sou Bryan e aprendi com Joseph, mas não reparem que posso trocar algumas paraiva.

- São palavras! – Falei.

- Isso. Entrem. – Disse o Bryan, nos puxando para dentro do

apartamento.

O apartamento era pequeno, não possuía móveis, havia vasos

quebrados, cerâmicas e alguns metais espalhados por todo o

lugar. Parecia um museu bem sujo. O cheiro era terrível.

Acredito que alguma múmia estava guardada em algum lugar. O

homem de bigode falou com o Bryan e se retirou.

- Estamos atrapalhando? – Perguntou o senhor Simon.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

101

- Nom. Este é como vizinho que me ajuda na sujeira de peças que

encontramos. – Falou Bryan, tentando achar algum banco pra

sentarmos.

- Você quer dizer: limpeza? – Perguntou o senhor Simon,

empurrando um vaso com as mãos, para não bater com o pé.

- Isso. Ele me ajuda quando peças de escavações! Fiquei sabendo do Joseph.

Ontem, alguém Universidade me ligou. – Bryan falou nos apontando

um banco para sentarmos.

- Viemos aqui a pedido de Joseph, pois precisamos de ajuda

com o pergaminho. – Falou o senhor Simon, abrindo seu casaco.

- Espero um tempo! O pergaminho é dos atanasianos? – Perguntou

Bryan, com empolgação.

- É este mesmo! – Falei.

- No fale mais, venham aqui.

Ele nos levou num lugar que era pra ser um quarto, onde havia

várias peças de barro e vasos quebrados. Essa sala era toda

isolada com isopor e havia um ar-condicionado ligado.

Entramos e ele fechou a porta. O cheiro era pior.

- Melhor conversarmos aqui. Paredes têm orelhas! – Bryan falou, ligando

o ar condicionado, que fez um barulho muito forte.

- Ouvidos! – Disse o senhor Simon, o corrigindo.

- Isso. Você estar com pergaminho? – Bryan falou como uma criança

querendo um doce.

- Sim, está aqui! – Falou o senhor Simon, levantando a camisa.

MARCELO MENA

102

Na sua barriga havia um cinto, onde estava o pergaminho. Ele o

entregou para o Bryan. O homem parecia ter encontrado um

mapa do tesouro, estava tremendo.

- Esse pergaminho é incrível, ele tem mais de três mil anos e está tão

conservado, parece que foi como você diz? Feio? – Perguntou Bryan.

- Acho que você quer dizer Feito? – Perguntei.

- Isso, menino! Feito Ontem! – Disse Bryan, retirando algumas peças

de cima de uma mesa e desenrolando o pergaminho.

- Escrito Sírio antigo! – Falou Bryan.

- Você consegue entender? – Perguntou o senhor Simon todo

feliz, segurando uma das pontas do pergaminho.

- Sim, mas só pedaço, parte deste lado como diz? Estar em Código! – Falou

Bryan, coçando a sua careca.

- Está em código? – Perguntou o senhor Simon.

- Sim, parte mapa tudo código! – Disse Bryan.

- Você quer dizer, Bryan, que isto aqui não é sírio e sim um

código dos atanasianos? – Perguntou o senhor Simon,

apontando para um texto do pergaminho.

- Isso, Simon, tudo código! – Falou Bryan desconsolado.

- Então tente ler o que está escrito em Sírio antigo. – Falou o

senhor Simon, apontando de novo para o mapa do pergaminho.

- Senhor Simon, o senhor acredita que vamos entender? O

homem mal fala português.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

103

- Não tem nenhum outro, Jorge, que faça a leitura. Ele é o único

que consegue. Por favor, leia para nós, Bryan.

- Ok! Aqui dizer: documento Importante, pertencer atanasianos, se encontrado, devolve dono!

- Entendi. Devemos devolver aos Atanasianos. Estou falando

isto desde o início, não é, senhor Simon?

- E como vamos devolver, Jorge? – Falou o senhor Simon, meio

que, decepcionado.

- Onde eles estão? Tem algum endereço, Bryan? – Perguntei.

- Tem telefone, serve? – Disse Bryan, rindo.

- Tem telefone? Como assim? – Perguntei.

- Eu brincar com você, Jorge! Brasileiros humor bom.– Bryan falou, rindo

sem parar.

- Agora deu, mais um pra me tirar.

- Essa foi muito boa, Jorge! – Falou o senhor Simon, rindo

também.

- O senhor sempre gosta quando riem de mim.

- Foi brincadeira dele, Jorge. Vamos ver o que mais tem no

pergaminho.

- Aqui dizer: devolve no lugar Kabret. Tem mapa pequeno. Muito antigo,

onde será? Perguntou Bryan, tentando ler o pergaminho.

- Espera aí, Bryan. Kabret é onde o rei Dario marcou os seus

feitos, então, fica próximo ao canal de Suez.

MARCELO MENA

104

- Verdade. Lembro, Simon. Já trabalhei lá por perto, eu ter mapa novo.

Bryan abriu um armário no fundo da sala e pegou um mapa do

Egito. Comparou com o pequeno mapa que estava no

pergaminho e eram bem parecidos. Existia um símbolo no

mapa, onde seria o local para encontrar os atanasianos.

- Ver bem, é este lugar. – Disse Bryan, dando uns pulos de alegria.

- Qual o nome da cidade hoje? – Perguntou o senhor Simon.

- Porto de Said, Simon. Aqui diz: atanasianos consegue código.

- É Isso. Temos que acha-los Bryan! – Falou o senhor Simon, já

enrolando o pergaminho.

- Ei, espera um pouco, Senhor Simon! Este mapa foi escrito há

uns dois mil anos atrás, vocês acham que eles vão estar por lá

ainda?

- Tem razão, Jorge, mas é possível que isso tenha passado de

geração em geração, de pai pra filho. Talvez, ainda haja alguém

por lá, na esperança deste pergaminho voltar. Parece loucura,

mas só saberemos se formos até lá.

- Eu ver este síbolo. – Falou Bryan, coçando a careca.

- É símbolo, Bryan! – Eu o corrigi.

- Como assim, Bryan? Você já viu o símbolo dos Atanasianos?

- Isso, Simon! Eu já ver em algum lugar. – Falou Bryan, procurando

em alguns livros que estavam numa estante.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

105

O símbolo dos Atanasianos era a letra grega, Alfa, bem grande,

dentro havia, como se fosse, uma ave e por fora muitos cachos

de uva.

- Espera! Eu lembrar deste síbolo!

- É símbolo, Bryan! – Falei.

- Isso! Isso!

Ele foi e puxou um baú. Começou a tirar vários livros e revistas

de dentro, até que, pegou uma revista bem antiga. Começou

abrir e gritar.

- Aqui! Aqui!

Era um prédio, onde estava o símbolo colado na porta. Estava

tudo em árabe.

- Onde é isto, Bryan? – Perguntou o senhor Simon, pegando a

revista e comparando com o pergaminho.

- É perto no porto de Said, chegar lá! – Falou Bryan, pegando uma jaqueta.

- Aqui na foto da revista parece ser um prédio. O que será que

fazem lá, Bryan? – Perguntei.

- É uma plantação de papel! – Disse Bryan.

- Plantação? – Perguntei.

- Acho que deve ser alguma fábrica de papel, Jorge?

- Isso! Faz notícia! – Falou Bryan.

- Então é uma gráfica? – Perguntei.

MARCELO MENA

106

- Não, aquele de todo dia. – Ele disse.

- Jornal, Bryan? – Perguntou o senhor Simon.

- Isso!

- Provavelmente deve ser uma empresa de jornal, Jorge.

- Entendi. Mas, se for uma coincidência o símbolo do jornal ser

igual ao dos atanasianos?

- Só vamos saber quando chegarmos lá. – Falou o senhor Simon.

- Ir ao calo embaixo. – Disse Bryan, pegando uma chave na

escrivaninha de madeira.

- Que calo? – Perguntei.

- Meu calo, vrum. – Ele disse.

- Acho que ele quer dizer carro, Jorge?

- Isso! Certo!

- Tem hora que é difícil entender esse Bryan, senhor Simon.

- Pelo menos conseguimos entender o pergaminho, agora

sabemos como achar os atanasianos.

- Isso é verdade, então vamos até lá, senhor Simon.

Quando saímos daquele quarto, havia dois homens armados na

sala, nos esperando. Com eles, estava aquele homem de bigode.

Começaram a falar em árabe e não entendíamos nada.

- O que será que eles querem, Senhor Simon?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

107

- Acredito que eles são capangas do Muled e querem o

pergaminho. Pelo jeito, esse de bigode, o vizinho do Bryan, foi

quem chamou.

O Bryan começou a falar com eles, mas não havia diálogo.

Arrancaram da mão do senhor Simon o pergaminho e deram

tapa no rosto do Bryan. Nos colocaram pra fora do apartamento,

empurrando para irmos juntos. Descemos as escadas e passamos

pelo porteiro, que fez como se não estivesse vendo nada. Era

como dizia a carta de Joseph, eles compram as pessoas

facilmente. Saímos e fomos obrigados a entrar num furgão

preto. O do bigode foi na parte de traz com a gente, segurando

uma arma.

- Bryan, o que está acontecendo? – Perguntou o senhor Simon.

- Estamos, Simon, como diz? Embriagados!

- Sendo sequestrados, Bryan?

- Isso, Simon. Por pergaminho.

- E por que estão nos levando junto? – Perguntei.

- Querer traduzir, garoto.

- Entendi, Bryan! Então, tudo é por causa do pergaminho.

- Pelo jeito, vamos voltar para o Cairo, encontrar com o Muled,

Jorge!

- Será que são eles que mataram o Joseph, senhor Simon?

- Parece que sim, Jorge!

MARCELO MENA

108

- Agora estamos perdidos. Tudo por causa desta “Taturana de

rosto”!

- Fique calmo, Jorge, ele pode não gostar!

- E o senhor acha que ele entende alguma coisa?

Olhei bem na cara do homem de bigode e falei:

- Você é um besta de boca aberta e acho bom você fechar ela,

para não engolir esta taturana que está no seu rosto. Você vai

queimar no fogo do inferno seu traidor. Você enganou o Bryan

esse tempo todo, taturana de rosto!

- O que ser tarurana?

- É Taturana, Bryan! – Falou o senhor Simon.

- O que ser isso? – Perguntou Bryan.

- São aquelas lagartas que viram borboleta. – Respondi.

O Bryan começou a rir sem parar. Os homens, dentro do furgão,

não entendiam nada, pois como pode uma pessoa ser

sequestrada e ficar rindo. Acho que era isso que pensavam. Cada

vez que ele olhava o homem de bigode, começava a rir. Assim,

fomos levados de volta pro Cairo. Quando chegamos, fomos

levados pra dentro de uma casa gigantesca. Havia várias estátuas

brancas nos jardins, várias árvores (algumas eram enormes), a

casa era toda feita de pedra. Na entrada, imitava o coliseu de

Roma. Possuía uma infinidade de câmeras instaladas por todo o

lugar. Então, o carro parou no fundo da casa. Fomos levados

para uma sala enorme, tinha vários objetos antigos, o que

parecia ser de um colecionador de artes e nas paredes, somente

quadros de paisagens. Nos colocaram sentados em algumas

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

109

poltronas bem confortáveis. Os homens que nos trouxeram

ficaram um em cada porta, de vigia, olhando para nós. O cara de

taturana entrou por uma porta, acredito que foi chamar alguém.

- Você sabe onde estamos, Bryan? – Perguntou o senhor Simon.

- Nunca estar aqui!

- Senhor Simon, o senhor viu quanto objetos antigos?

- Vi sim, Jorge. Parece que realmente estamos na casa de Muled.

- E o que vai acontecer conosco?

- Não sei, Jorge. Estou preocupado.

Nesta hora, o meu celular começou a tocar, vi que era a Sandra,

mas antes que eu pudesse atender, um dos capangas de Muled

tomou da minha mão e desligou. Logo, um homem gordo, com

uma roupa árabe entrou, fumando um charuto e começou a falar

em inglês.

- Desculpem o mau jeito que vocês vieram pra cá. Meus homens

não possuem muita educação. Quero que vocês fiquem à

vontade.

Ele foi, pegou o celular do capanga e me devolveu.

- Devia ser alguém importante, meu jovem. Pode ligar pra essa

pessoa. Acredito que não teremos problema por aqui, certo?

- Sim, senhor. Mas eu ligo depois. – Respondi.

- Bem, gostariam de beber alguma coisa? Já pedi pra prepararem

um almoço pra vocês. – Disse o homem gordo, se sentando

numa enorme cadeira confortável dourada.

MARCELO MENA

110

- Olha, muito obrigado, mas não sabemos quem é o senhor e o

que quer de nós. – Disse o senhor Simon.

- Meu nome é Muled Hamsh, sou um grande amante da arte

antiga e vocês possuem algo que estou à procura faz muito

tempo. Meu amigo, Joseph, havia me dito que vocês viriam e

trariam para mim, pois estou disposto a dar um grande valor por

este pergaminho.

- O senhor nos desculpe, mas não era bem isso que Joseph

queria, e o pergaminho não está à venda. – Falou o senhor

Simon, meio bravo.

- Joseph está morto! Foi morto durante um assalto, isto foi muito

terrível, estamos vivendo num mundo violento e complicado.

Por isso, você não tem como saber o que ele queria ou deixava

de querer. – Disse Muled, ironicamente.

- Olha, seu Muled. Nós não queremos problemas. Deixe a gente

sair e não vamos chamar a polícia! – Falou o senhor Simon, já

se levantando pra sair.

- Polícia? Por que a polícia? Vocês são meus convidados,

ninguém está forçando vocês ficarem. Se quiserem, podem ir

embora! – Falou Muled, acenando pra um dos seus capangas.

O capanga chegou próximo do senhor Simon e o forçou a sentar

novamente na poltrona.

- Então está bem seu Muled, por favor, devolva pra nós o

pergaminho e iremos embora. – Falou o senhor Simon.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

111

- Bem, acho que você não entendeu, velhote. Eu comprei o

pergaminho e vou dar trezentos mil dólares por ele. – Disse

Muled, tirando um cheque do bolso.

- Mas nós não estamos vendendo o pergaminho. – Disse o

senhor Simon.

- Está bem, Velhote. Eu pago um bom preço pelo pergaminho

escrito, o outro vocês podem levar, aquele que vocês perderam

no hotel! – Podem buscar o outro pergaminho. – Disse Muled.

Nesta hora, Muled levantou a mão e outro dos seus capangas

saiu. Em alguns segundos, o cara veio com a minha cueca, do

tempo do Harmes, e colocou sobre uma mesa de vidro à nossa

frente.

- Você invadiu nosso hotel pra roubar o pergaminho?

- Cuidado com as palavras, garoto. Acho bom entender o que eu

quero, pois a criminalidade está muito alta neste bairro. Pode ser

que amanhã haja mais um funeral! Deu pra entender?

- Sim. Você está me ameaçando? – Perguntei.

- Entenda como quiser! Vou dar trezentos mil dólares pelo

pergaminho e pode levar esse que não tem nada escrito, só essa

mancha amarela.

- Já lhe disse que não está à venda e mesmo assim por mais que

você queira, nunca irá traduzi-lo. – Falou o senhor Simon.

- Por isso Bryan está aqui, seu idiota! Eu sei que ele é o único a

traduzir. Então, vamos deixar bem claro: Você e seu neto vão

pegar o dinheiro e irão embora do nosso país. O Bryan ficará

trabalhando pra mim e me ajudando no que for preciso. Pois,

MARCELO MENA

112

com este mapa, serei um homem poderoso e imortal. – Muled

falou, rindo bem alto.

Bryan estava totalmente assustado. Então, Muled começou a

falar em árabe com o Bryan e os dois pareciam discutir.

- Jorge, estamos num grande dilema. Não sei o que fazer. Se não

aceitarmos o dinheiro pelo pergaminho, iremos morrer.

- Eu tive uma ideia, senhor Simon. Pegaremos o dinheiro,

vamos para o porto Said e tentaremos encontrar os Atanasianos.

Eles são os únicos que podem traduzir o pergaminho.

- Boa ideia, Jorge. Se conseguirmos avisá-los, eles podem não

traduzir e tudo se encerra.

Nesta hora o Muled virou para nós, com uma cara não muito

boa.

- Mudança de planos! Conversei com o Bryan e este

incompetente não consegue interpretar os códigos do mapa, mas

disse que os atanasianos conseguem desvendar este mistério.

- Verdade mesmo, sem eles é impossível decifrar o mapa, então,

tudo acaba aqui, Muled! – Disse o senhor Simon.

- Os atanasianos sempre foram uma lenda, ninguém nunca os

viu, ou tem qualquer prova sobre eles, mas o Bryan diz que no

pergaminho mostra onde eles estão. – Disse Muled.

- Mas este Bryan é um boca aberta mesmo, tinha que falar?

- Jorge, fique calmo, estamos todos sobre pressão.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

113

- Já resolvi o que vou fazer: vou deixar o velho comigo aqui e

vocês dois irão até os Atanasianos. O prazo será de dois dias,

descubram como traduzir o mapa, e se demorarem, ou não

voltarem, o velho vai ter um encontro com Deus. Entenderam? –

Disse Muled, acenando pros capangas.

- Você está dizendo que vamos ter que ir atrás dos atanasianos,

que nem sabemos se existem e em dois dias eu tenho que

descobrir como traduzir, e se não conseguir, você irá matar o

senhor Simon?

- Garoto esperto! – Falou Muled, coçando sua barriga.

- Mas se os Atanasianos não existirem? – Perguntei.

- Acho melhor você torcer pra que existam, ou ficará sem seu

vovô! – Falou Muled, com uma cara de sarcasmo.

- Por que você não manda um de seus homens buscarem, ao

invés de mandar um garoto? – Perguntou o senhor Simon.

- Na realidade, os meus homens poderão ir até a divisa, pois do

outro lado eu já tenho problemas demais. – Respondeu Muled.

- Ah, então você pode ser preso do outro lado, mas aqui você já

comprou a polícia.

- Olha, Garoto, vamos dizer que eu ajudo nas finanças locais.

- Que absurdo! – Falei.

- Absurdo é você ficar perdendo tempo. Até parece que não

gosta do seu avô. – Falou Muled, dando mais um sinal para que

os capangas segurassem o senhor Simon.

MARCELO MENA

114

- E agora, senhor Simon?

- Jorge, faça o seguinte: pegue o primeiro voo para o Brasil e

deixe que eu me vire por aqui. Quero que você se salve.

- O senhor está maluco? Eles vão te matar!

- Talvez não, Jorge. Não se preocupe comigo vá embora e salve

a tua vida.

Nesta hora, alguns homens levaram o senhor Simon para outra

sala, Muled ficou me olhando estranho e a sua fisionomia

começou a mudar de repente.

- É garoto, você não se lembra de mim? – Muled falou, com

uma voz grossa.

Ele se aproximou e seus olhos estavam bem vermelhos.

- Nunca te vi, Muled. Está maluco?

- É, já faz alguns milhões de anos.

- Como assim? Não estou entendendo nada.

Ele virou para os homens e pediu que tirassem o Bryan, então

ele se sentou na sua cadeira e me fez sinal pra eu me sentar. O

cara de taturana ficou próximo da porta, por onde Bryan saiu, e

o Muled ficou me encarando.

- Você esteve no meu reino, alguns milhões de anos, onde eu era

um príncipe famoso, mas por causa da Grande Sabedoria fui

abandonado neste planeta, isto melhora tua memória?

- Lúcifer? Como pode?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

115

- Vejo que se lembrou de mim. Estou usando o corpo deste

capacho. Vocês humanos são tão frágeis que eu posso esmagar

com uma só mão.

- O que você quer aqui? Vá embora seu calça-curta.

- Tenha respeito comigo, garoto! Estou preparando tudo para

meu novo reino, vou dominar tudo e acabarei com vocês que

adoram este Deus. Eu vou ser o deus de vocês!

- Mas você não muda mesmo, né? Já foi um fiasco no passado,

ainda quer ser dominador?

- Cala-te! Com os tesouros de Salomão, poderei adquirir mais

poder e conseguirei dominar todo o mundo.

- Jesus nunca permitirá.

- Esse Jesus já os abandonou, tudo aqui é meu! Olhe os

noticiários: violência, drogas, corrupção, morte, guerra e etc. Ele

cansou dos homens.

- Então é você está fazendo tudo isto no mundo?

- Olha, posso te dizer sem nenhuma dúvida, uma boa parte sou

eu mesmo. Tenho dado uma forcinha, mas o ser humano,

sozinho, é capaz de fazer coisas terríveis e sem a minha ajuda.

- Mas eu não tenho medo de você, seu calça-curta!

- Não entendo porque me chamar de calça-curta, por um acaso

estou de bermuda?

MARCELO MENA

116

- É que você vive na lama da desgraça, e pra andar na lama tem

que arriar as calças, seu besta! Mas fique sabendo que Jesus

sempre está comigo e tem me ajudado.

Olhe pros lados, garoto idiota! Cadê ele? Está vendo? Nem ele

pode te ajudar.

- Posso não vê-lo, mas sinto em meu coração.

- Acho bacana essa coisa que a maioria dos que estão na igreja

falam: “está no meu coração”! Vivem mentindo, enganando,

roubando e falando mal dos outros, igual a tua mãe.

- O que tem a minha mãe?

- Hum, ficou preocupado? Você acha que ela é cristã? É só

fachada, eu bem sei a quem ela tem servido. É a mim!

- Não vou cair no seu papo. Você pode ter milhões de anos de

conhecimento sobre o ser humano e sabe como enganá-los, mas

eu tenho comigo a Grande Sabedoria! E sei a quem sirvo. Não

pense que vou te ajudar a achar os tesouros de Salomão.

- Vai me ajudar sim, ou aquele idiota do Simon morre!

- Que droga!

- Está vendo? consegui fazer você me servir!

- Jamais. Eu sirvo a Cristo e só obedeço a Ele. Meu Deus me

ajuda agora, por favor!

Dobrei os meus joelhos e comecei a pedir a Deus para me

ajudar. Nesta hora, Muled se aproximou de mim.

- Deixa de ser bobo, garoto. Ele não vai te atender. Levante daí!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

117

Quando ele colocou a mão sobre mim, vi um faixo de luz

invadir a sala e houve um grande estouro. Com isto, Muled caiu

de um lado e o cara de taturana veio correndo socorrer.

- O que houve comigo? Estou meio tonto, você tentou me

golpear, garoto?

- É você, Muled? Conseguiu voltar?

- É logico que sou eu? Voltar de onde, seu idiota?

- É que você estava possesso pelo diabo!

- Que diabo? Você está falando do grande espírito que às vezes

baixa em mim. Na realidade, ele foi um príncipe no passado e

hoje ele me ajuda a ser poderoso. Você o tirou de mim, seu

idiota? – Disse Muled, tentando se levantar com ajuda do cara

de taturana.

- Ele não presta, é mentiroso, Muled.

- Pare de falar do meu mestre, e pare de me perturbar. Vá com o

Bryan fazer o que tem que fazer, ou acabo com seu vovô. –

Disse Muled, se apoiando na poltrona.

O cara de taturana me pegou pelo braço e me levou até o Bryan,

que estava sentado, comendo algumas coisas.

- É melhor você embeber isto, e, assim, depois procurar os Atanasios.

- Olha, Bryan, é comer, não embeber. Não querendo ofender,

mas, você podia ter ficado quieto sobre os atanasianos.

- Eu saber. Não mintira!

MARCELO MENA

118

- Está bem, vai. O seu português é terrível, não sei como vamos

fazer pra chegar até os Atanasianos.

Assim, comi algumas frutas e bebi bastante água. Dois homens

ficavam nos observando. Meu coração estava angustiado pelo

senhor Simon, pois ele decidia tudo, agora, não sabia como ia

fazer. Ficava mais preocupado em saber que Lúcifer estava de

volta, isso me deixava mais apreensivo. O que teria nos tesouros

de Salomão que Lúcifer queria? Então, após a refeição, o cara

de taturana nos fez gesto pra segui-lo, assim, voltamos para o

furgão preto e fomos levados até uma estação de trem, onde nos

deixaram com um pouco de dinheiro.

- Você sabe onde estamos, Bryan?

- Sim, aqui é trem!

- Cara, se você não fala! Já pensei que pelos trilhos iriam vir

alguns barcos.

- Não! Barco no mar.

- Vai ser difícil a gente se comunicar.

- Jorge, tudo certo!

Um trem parou na estação e o cara de taturana nos fez entrar.

Havia uma placa que dizia: Porto Said. Então, deduzi que aquele

trem nos levaria até a cidade dos atanasianos. O cara de taturana

ficou na plataforma com os outros homens e ficamos sozinhos

no trem. Em pouco tempo estávamos seguindo viajem.

- E agora, Bryan, tem alguma ideia?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

119

Ele puxou um papel e uma caneta do bolso, começou a escrever

e a desenhar. Ficou calado por um bom tempo.

Fiquei olhando pela janela e tudo passava pela minha cabeça.

Lembrei-me da viajem onde conhecemos o Harmes e o calça-

curta, de como era bom ter o senhor Simon como amigo e ficava

pensando em como ele estaria lá na casa daquele Muled.

Imagine se a Sandra estivesse com a gente. Meu Deus a Sandra!

Precisava ligar pra ela. Disquei o número um, logo começou a

chamar.

- Alô, Sandra! Tudo bem?

- Oi, meu amor. Estava preocupada com você. Não me atendeu.

- É que a gente estava numa reunião importante.

- Verdade? Desculpa, Jorge, eu não sabia.

- Que isso. Você não tinha como saber.

- E aí? Já viu muita coisa interessante?

- E como, Sandra. Tem tanta coisa por aqui.

- Bem que eu gostaria de estar com vocês.

- É, você ia ficar bem espantada.

- E as pirâmides, Jorge, são bem grandes mesmo?

- Você acredita que ainda não fomos ver?

- Não acredito! Imagine ir pro Egito e não ver as pirâmides.

MARCELO MENA

120

- Verdade. Mas acredito que iremos ver, uma hora ou outra

vamos até lá!

- Você está comendo bem?

- Já está parecendo minha mãe.

- Estou perguntando, porque sei que ela vai me perguntar.

- Com certeza, vai mesmo!

- Você parece que está meio triste, Jorge! Aconteceu alguma

coisa?

- Estou bem, mas é que estou com muita saudade de você.

- Ai, meu amor. Eu também estou com muitas saudades. Você

fica querendo me agradar falando assim, mas sei que você está

amando conhecer outro país, conhecer coisas antigas. Acredito

que está se divertindo.

- Nem sabe como estou me divertindo, Sandra! Tenho que

desligar agora, pois estamos num trem, para chegar numa outra

cidade.

- Está vendo? Fica só viajando e diz que está com saudades.

- Eu te amo, Sandra! Manda um abraço para os meus pais e

meus tios.

- Pode deixar. Também amo você. Fica com Deus.

- Amém.

Quando desliguei, Bryan estava me olhando, acredito que ficou

prestando atenção na minha conversa.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

121

- Família, Jorge?

- Sim, era minha namorada.

- Jorge alegre ter família?

- Sim, sou muito feliz, Bryan. O senhor Simon também é como

um pai pra mim. E você, não tem família?

- Família morrer guerra aqui!

- Meus sentimentos. Não sabia. Você não tem ninguém?

- Eu estar sozinho, vinte anos.

- Nunca casou?

- Sim. Moça comigo dois anos.

- Você foi casado dois anos?

- Isso.

- E onde está tua esposa?

- Morreu de doença ruim!

- Doença ruim? Câncer?

- Isso!

- Puxa, deve ser difícil ficar sozinho.

- Eu sempre sozinho.

O trem parou numa estação e alguns passageiros começaram a

descer. Então, Bryan ficou de pé.

MARCELO MENA

122

- Vamos descer?

- Não você fica e acha os Atanasianos, Jorge! Fazer mapa!

- Como assim, Bryan? Você não vai comigo?

- Simon parente seu! Eu não ter!

- Mas pensei que você ia me ajudar.

- Não querer morrer, ir pra longe!

- Não posso fazer isso sozinho, Bryan.

- Desculpa, mas, quero vida!

Nesta hora ele tirou o dinheiro que lhe foi dado e me passou.

Junto estava o papel que ele escreveu, ele desceu e saiu

correndo, sem olhar pra trás. Que homem estranho, me deixou

sozinho. As portas do trem se fecharam e segui viajem. Abri o

papel e nele estava escrito tudo que eu deveria fazer. Tirando as

palavras erradas, até que dava para entender. Assim, segui até a

cidade de Porto Said.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

123

Capítulo 6

Os Atanasianos

Quando desci na estação, dois homens se aproximaram e

começaram a falar em árabe comigo, então, gesticulei com as

mãos que não estava entendendo. Um dos homens puxou uma

faca e apontou pra minha barriga. Entendi que era um assalto. O

outro enfiou as mãos no meu bolso, pegaram o dinheiro, o meu

celular, e saíram correndo. Pelo menos, deixaram o mapa do

Bryan. Fiquei sem saber o que fazer. A gente pensa que a coisa

está ruim, mas acaba ficando pior. Pensei em procurar um

policial, mas lembrei do senhor Simon. Ele estava preso e seria

difícil explicar tudo. Muled poderia matar o senhor Simon.

Resolvi sair da estação e fui caminhando pela calçada. A cidade

estava com grande movimento. Havia muitas pessoas, muitos

carros passando pela rua e muitas lojas. No mapa do Bryan, ele

escreveu que precisava pegar um táxi e mostrar para o

motorista o nome em árabe do lugar. Como poderia pegar um

táxi sem dinheiro? Encontrei uma praça, resolvi sentar e me

acalmar, pois eu estava entrando em pânico.

- Meu Deus, estou numa situação difícil e não sei o que fazer.

Dá alguma ideia!

Senti um cheiro de café, o aroma era delicioso, nunca havia

sentido um aroma tão gostoso assim. Percebi que vinha do

outro lado da praça, onde havia uma cafeteria. Nem dinheiro

pra um café eu tinha, então, me aproximei e fiquei sentado de

frente com a cafeteria esperando por algum milagre. De

repente, parou um táxi em frente ao local, e um homem, de

paletó bege e com uma pequena pasta na mão, desceu do carro e

MARCELO MENA

124

sentou-se numa mesa. Pediu um café, então, me olhou e se

levantou vindo em minha direção.

- Com licença, garoto. O seu nome é Jorge? Não é você que

estava no avião? – Perguntou o homem.

- Me desculpe, senhor, eu te conheço?

- Sou o homem que quase morreu com um osso de frango e você

me salvou.

- Me desculpe não te reconhecer, pois naquela hora o senhor

estava meio roxo.

- É verdade, mas o que você faz aqui, garoto?

- Como é o seu nome mesmo?

- Perdão, mas, não me apresentei no avião. Também, nem

conseguia falar direito. Meu nome é Francisco.

- Olha, seu Francisco, eu precisava ir neste endereço, mas acabei

de ser assaltado na estação ferroviária, perdi o dinheiro e fiquei

sem saber o que fazer.

- Opa! Então chegou o momento de te pagar o favor que me fez.

- Imagine, se o senhor puder me ajudar serei muito grato, pois

fiquei aqui nesta praça esperando por um milagre.

- Então suas orações foram ouvidas, eu estava fazendo uma

venda aqui perto e iria pegar uma carona pra voltar ao aeroporto,

mas por coincidência esqueci um documento no escritório, e

enquanto fui pegar, perdi a carona. Então, resolvi pegar um táxi

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

125

e quando passei nesta praça senti o cheiro de café, resolvi parar

e experimentar.

- Foi por Deus, seu Francisco.

- Quer tomar um café? Vamos lá, depois te levo no endereço

que você precisa. – Disse o Francisco, pegando sua pasta.

- Muito obrigado. O senhor não sabe como estou grato pela tua

ajuda.

- Que isso, Jorge. Só estou retribuindo o favor.

Posso dizer que realmente foi um milagre ter encontrado o seu

Francisco. Assim, tomamos um café (realmente, era muito

saboroso) e após o café fomos caminhando pela calçada.

- Jorge, você está com o endereço?

- Está aqui. – Falei, lhe passando o papel.

Ele pegou e começou a ler o nome do lugar!

- Parece que este lugar é uma gráfica de um Jornal famoso aqui.

- Isto mesmo. Você conhece, seu Francisco?

- Já passei por perto uma vez, quando estive aqui há uns dois

anos atrás.

Fomos em direção de uma praça, onde havia alguns carros de

táxi. O Francisco falou com o motorista do táxi e seguimos

viajem.

- O senhor fala árabe?

MARCELO MENA

126

- Falo um pouco. Foi graças a este idioma que consegui este

emprego, Jorge.

- E o senhor vende o que?

- Vendo software de computador.

- Que legal. E, dá muito dinheiro?

- Dinheiro até que me rende um pouco, mas o mais legal são as

viagens pagas pela empresa. Posso dizer que conheço uma boa

parte do mundo.

- O senhor tem família?

- Sim. Tenho uma esposa e dois filhos que ficaram no Brasil.

- Então o senhor os vê muito pouco?

- Quando eles eram pequenos eu trazia comigo em algumas

viagens, agora eles estão casados e cada um cuida de sua vida.

- E a tua esposa?

- Ela ama viajar comigo, mas desta vez não deu, pois meu

primeiro netinho tinha acabado de nascer, e ela não quis perder

nenhum momento com o neto.

- Que bacana, meus parabéns, seu Francisco.

- Obrigado, Jorge. Se Deus quiser, até o fim do ano eu me

aposento. Vou virar um vovô coruja e ensinar a criançada

aprontar, pois você sabe que o pai educa e vô deseduca, não é?

- Verdade. Meu pai sempre fala isso.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

127

- Por falar no seu pai, ele não estava viajando com você?

- Não. Aquele era o Simon, ele é meu amigo, mas posso dizer

que é como um pai pra mim.

- E onde ele está, Jorge?

- Ele teve que ficar no Cairo.

- Depois daqui você vai encontrá-lo?

- Essa é a minha esperança, seu Francisco.

- Como assim, esperança?

- Modo de dizer.

Assim ficamos conversando um bom tempo, até que paramos de

frente com um prédio enorme.

- Acho que chegamos, Jorge. Você vai ficar bem? Tem algum

conhecido por aí?

- Acredito que tudo vai dar certo, o senhor não precisa se

preocupar, daqui eu me viro.

- Está bem, mas fique com meu cartão. Qualquer coisa me liga.

- Obrigado, seu Francisco! Quando eu voltar para o Brasil, vou

te convidar pra conhecer minha família.

- Vou esperar o convite. Se cuida, garoto!

- Pode deixar.

MARCELO MENA

128

Desci do táxi e vi na porta do prédio o símbolo dos atanasianos.

Tinha uma fachada toda escrita em árabe, então, entrei e logo vi

uma recepcionista na entrada. Ela logo foi falando em árabe, e

perguntei se ela falava inglês.

- Oh! Sim! – Ela me respondeu com um olhar de dúvida.

- Que bom. Eu estou procurando os atanasianos.

- Oh! Sim!

- Você está me entendendo?

- Oh! Sim!

- Tem alguém que fala inglês aqui?

- Oh! Sim!

Ela me fez um gesto pra sentar, percebi que ela não estava me

entendendo. Sentei numa poltrona e fiquei aguardando. Nas

paredes havia muitas fotos antigas e também de algumas

máquinas que pareciam gráficas. Em um dos quadros pareciam

os quatro elementos da terra e na frente de cada elemento escrito

em hebraico e inglês. Fiquei um bom tempo analisando aquele

quadro, logo depois de uma meia hora apareceu uma senhora de

cabelos lisos e bem grisalhos, veio em minha direção.

- É você que fala inglês? – Perguntou ela, me olhando.

- Sim, senhora.

- De que país você é?

- Sou do Brasil.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

129

- Então fale em português.

- A senhora me entende?

- Eu sei falar português. Morei muitos anos em Portugal, e já fui

muitas vezes ao Brasil.

- Que legal, assim fica mais fácil.

-Como é o seu nome?

- Eu sou Jorge.

- Muito prazer em te conhecer. Meu nome é Afsana. Diga-me, o

que deseja?

- Estou procurando os Atanasianos, ou como são conhecidos: Os

imortais.

- Imortais? Você está de brincadeira, garoto?

- É uma longa história, preciso achá-los, para que possam me

ajudar.

- Você ficou maluco? Eles não existem.

- Como assim? Aqui não é o lugar dos atanasianos?

- Menino, aqui é um Jornal. O nome do Jornal é Atanásius.

Atanásius foi o nosso fundador. Você deve ter se enganado.

- Não pode ser, vocês possuem o mesmo símbolo do

pergaminho.

- O que? Que Pergaminho?

MARCELO MENA

130

- Um antigo pergaminho que fala dos imortais. É por isso que

estou aqui.

- Cadê o pergaminho? Está com você?

- Não está comigo. Eu preciso dos imortais para ler o

pergaminho e salvar o meu amigo.

- Menino, você é igual uns malucos que aparecem por aqui.

Acham que descobrem coisas antigas e vêm aqui para que a

gente faça anúncio da descoberta.

- Não estou aqui pra fazer anúncio de descoberta. Eu preciso

falar com os imortais.

- Menino, você está drogado? Não existem imortais. A não ser

que você tenha encontrado alguma múmia andando.

Nesta hora me deu vontade de dizer que ela era a múmia. Mas,

um homem, de terno cinza com riscas e uma gravata bem

vermelha, começou a falar em árabe com a mulher. Ela, então,

mexia os braços e me apontava.

- Olha, Jorge, este aqui é o senhor Khalida. Ele queria saber o

que estava acontecendo e disse que você estava procurando os

imortais, então ele quer conversar com você. – Disse Afsana.

- E quem é ele?

- Ele é o dono do jornal. Venha comigo.

Ela me deu sinal para acompanhá-la, e enquanto ela conversava

em árabe com ele, eu os seguia. Entramos em um elevador e

subimos ao quarto andar. O elevador era todo de vidro, a gente

conseguia ver as pessoas e tudo o que acontecia do lado de fora.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

131

Dava pra ver uma praça enorme, cheia de lojas, que ficavam em

frente ao prédio. Descemos do elevador numa sala enorme.

Tinha várias prateleiras, cheias de livros, revistas e jornais. O

senhor Khalida sentou-se numa poltrona enorme (parecia que ia

sumir dentro dela) e Afsana me apontou um banco de madeira,

que entendi que era pra sentar. Ela então voltou para o elevador

e fiquei com ele ali me olhando. Então, ele começou a falar em

inglês:

- Seu nome é Joshe?

- Não. Meu nome é Jorge.

- Foi o que eu disse, Joshe.

- Senhor Khalida, preste atenção é Joorrggee, entendeu?

- Sim. É Joosshhee.

Percebi que ele teria dificuldade de falar meu nome (como o

Antônio do bar), e que ia perder muito tempo até que ele

aprendesse meu nome. Então, deixei que falasse desta forma

mesmo.

- É isso aí.

- Você veio procurar os atanasianos?

- Sim, você os conhece?

- Joshe, há muitos anos que ouço falar sobre eles.

O homem se levantou, foi até uma prateleira e retirou um grande

livro grosso, com uma capa, que parecia de madeira, e trouxe.

Colocou sobre uma pequena mesa, no centro desta sala.

MARCELO MENA

132

- Venha aqui ver.

Levantei e fui até esta mesa, ele assoprava cada página que

virava, pois estava toda empoeirada.

- Olhe isto aqui.

Notei que o livro, na realidade, era um álbum de fotos bem

antigo e possuía desenhos.

- Esse aqui foi o senhor Atanásius, meu avô.

Apontava para uma foto, onde estava um senhor, todo vestido de

caçador, com uma espingarda. Debaixo de um dos seus pés

havia um animal morto, o que parecia ser um leão.

- Ele era caçador?

- Sim. Ele viajou o mundo todo, seu sonho sempre foi achar o

pergaminho dos tesouros de Salomão.

- E como ele sabia do pergaminho?

- Meu avô sempre falava deste pergaminho, pois ele dizia que

tinha como decifrar através de outro. Este possuía os códigos, os

quais, ele chamava de sagrado.

- Então ele era um dos atanasianos?

- Sim, ele sempre dizia isso. Ele comentava que seus

antepassados, foram os guardiões deste pergaminho. Segundo

ele, o próprio rei Salomão havia escolhido essa família como

guardiã. E, assim foi, por muitos anos, até que conseguiram

perder o pergaminho.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

133

- Entendi. Então o outro pergaminho era passado de pai para

filho?

- Sim, por isso eram chamados de Atanasianos. Foi o nome dado

à nossa família por Salomão, pois estes tesouros deveriam ser

mantidos em segredo, por todo tempo, se tornando imortal. Na

dúvida, deveriam seguir o Eclipse.

- Que eclipse?

- O meu avô dizia que era pra segurança, Quando tivesse que

tomar uma decisão, sempre deveriam seguir o eclipse.

- E o que isso quer dizer? Quais são os tesouros? Pra que

servem?

- Eu não sei, Joshe. Só sei que meu avô gastou toda sua vida em

busca deste pergaminho. Quando estava no leito de morte, eu

ainda era criança, ele passou o pequeno pergaminho para o meu

pai e disse que era necessário que ele continuasse na busca pelos

tesouros de Salomão, pois o tempo estava chegando.

- E seu pai foi atrás do pergaminho e do tesouro?

- Meu pai começou a busca, mas sofreu um acidente de avião,

morrendo ele e mais alguns parentes que o ajudavam nisto.

- E o pergaminho?

- Minha mãe ficou transtornada com a morte de meu pai. Me

lembro que ela pegou o pergaminho, que ficava guardado no

cofre, e ateou fogo. Me disse que nunca mais ninguém morreria

por causa desta maldição.

- Como assim, pegou fogo? Que maldição?

MARCELO MENA

134

- Minha mãe dizia que esta busca matou muitos dos nossos

familiares, isto acabaria ali. Faz muitos anos.

- Então não existe mais o pergaminho?

- O original não existe mais, minha mãe destruiu. Agora me

diga, Joshe, como sabia da história deste pergaminho?

- É uma longa história, seu Khalida, mas, vamos dizer que meu

amigo ganhou de uma pessoa que ele não conhecia e pediu para

guardar. Um arqueólogo, aqui do Egito, conseguiu decifrar

alguns trechos que diziam para procurarmos os Atanasianos.

- Então vocês têm o primeiro pergaminho?

- Sim, só que Muled nos encontrou e ficou com o pergaminho.

- Você está falando do ladrão de túmulos? O pior bandido do

Egito?

- Acho que deve ser ele!

- Ele é terrível. Neste jornal, noticiamos várias mortes de

pessoas que ele mandou matar. Aqui, ele é procurado até pela

Interpol.

- Esse é o problema. Ele prendeu meu amigo e me mandou

procurar este segundo pergaminho. Se voltar sem ele, matará

meu amigo.

- Chame a polícia.

- A polícia também está envolvida, se ele souber da denúncia,

meu amigo morre.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

135

- É como dizia minha mãe, este pergaminho é uma maldição,

quem se envolve com ele só tem tragédia.

- E agora? Não existe mais o pergaminho com os códigos?

- Espera um pouco.

Ele começou a folhear o álbum e chegou numa página cheia de

desenho. Ali mostrava dois homens com dois pergaminhos.

- Está vendo estes homens no desenho, Joshe?

- Sim, o que tem?

- Este dois homens foram ancestrais do meu avô e aqui

deixaram este desenho. Este álbum foi feito para colocar todos

os eventos da família Atanasianos, e você pode notar que foi

feita mais uma cópia do pergaminho. Um foi passado para meu

avô, o que minha mãe destruiu, a cópia ficou com este homem.

- Sim, mas onde posso encontrar este homem, seu Khalida?

- Já não sei dizer.

- Mas não é um de seus parentes?

- Sim, mas este desenho foi feito há quase seiscentos anos atrás,

Joshe. Nem sei quem é este homem.

- Você pode me ajudar a encontrá-lo?

- Não posso, Joshe. Fiz uma promessa à minha mãe, nunca iria

atrás deste pergaminho, ou dos tesouros. Agora, vejo que ainda

continua amaldiçoado.

- E o que faço agora, seu Khalida?

MARCELO MENA

136

- Se fosse você voltaria para o seu país e nunca mais falaria

deste pergaminho.

- E meu amigo?

- De uma forma ou de outra ele irá morrer, pois Muled nunca

deixa ninguém vivo para contar as histórias. Se você voltar,

também morrerá. Por isso, vá embora enquanto há tempo.

Ele enfiou a mão no bolso e tirou um pacote, e colocou na

minha mão, e parecia dinheiro.

- Isto daí é pra você, tente ir embora.

- Mas não posso viajar.

- A decisão é sua, Joshe. Por favor, vou pedir que você saia

deste prédio. Nunca diga a ninguém que esteve aqui. Não quero

nem saber desta história. Se alguém me perguntar sobre você,

vou dizer que não te conheço.

- Você é o único que pode me ajudar, seu Khalida!

- Contei tudo que sabia, vá embora o mais rápido possível, não

quero me envolver neste assunto com o Muled.

Ele foi me empurrando até o elevador e apertou o botão do

térreo. Assim, fui descendo até sair na sala da recepção do

prédio. Então vi que Afsana estava atendendo um homem, com

uma enorme mochila, bem na entrada do prédio. O homem

falava muito alto e em árabe. Fui caminhando até a porta da

entrada para sair e do lado de fora dava pra ver que estava

ventando muito. Resolvi beber um pouco d’água em um

bebedouro, que ficava próximo da porta, e, como havia duas

pessoas na fila, fiquei esperando um pouco e pensando no que

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

137

poderia fazer. Estava com vontade de voltar pra casa, mas não

poderia deixar o senhor Simon. Assim, fiquei esperando a

oportunidade de beber um copo d’água, olhando pela janela e

vendo que tudo na cidade corria normalmente, e sem qualquer

problema, enquanto dentro de minha cabeça passavam vários

pensamentos do que fazer.

MARCELO MENA

138

Capítulo 7

Conhecendo os Céus

Enquanto eu bebia água, uma porta, que ficava próximo ao

bebedouro, se abriu e alguém me chamou dando sinal com a

mão para ir até lá, acenava que deveria ser rápido, mas não

conseguia ver o rosto de quem era. Então, me aproximei e esta

pessoa me puxou pelo braço, me colocou do lado de dentro e

fechou a porta. Olhei para a pessoa que estava ali, mas não

conseguia vê-lo, estava escuro. A pessoa então falou:

- Tudo bem, Jorge? – Aquela voz não me era estranha.

- Você me conhece? – Perguntei.

Como não conseguia ver o seu rosto, baixei minha cabeça vi os

seus sapatos, também não era estranho. Então aos poucos o

lugar foi iluminando e vi que era um homem todo vestido de

branco. A gente estava dentro de uma sala bem pequena e só

tinha aquela porta, não tinha nenhuma janela.

- Não se lembra? Sou Gabriel.

- Espera aí, você é aquele homem que me colocou dentro do

hospital e fugiu?

- Sim, mas não fique bravo, apenas fiz o que me mandaram.

- Como chegou aqui? Estava me seguindo? Quem é Você?

- Calma. Tudo será explicado. Eu vou abrir a porta e você me

segue.

- E porque deveria te seguir de novo?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

139

- Você quer saber onde está pergaminho com os códigos?

- Sim, como você sabe disto?

- Como você faz perguntas. Venha e me siga!

Ele abriu a porta e entramos novamente na recepção. Então,

segui o Gabriel, mas agora parecia que estávamos em outro

prédio. Já não havia uma recepcionista, na realidade, não havia

mais nada dentro do prédio, nem pessoas, nem móveis, nem

quadro nas paredes e tudo era pintado de branco. Até o Gabriel

chegava a ficar mais brilhante.

- Venha, Jorge.

- Onde está todo mundo? Cadê os móveis e aquela mulher, a

Afsana?

- Venha comigo, vamos pegar o elevador.

Entrei no elevador com ele, o elevador parecia ser mais

moderno agora. Conseguia ver as casas, os prédios e a praça.

Era estranho, pois parecia que estávamos no último andar do

prédio, pois tudo lá em baixo era pequeno.

- Como estamos vendo os prédios de cima, se estamos no térreo,

Gabriel?

- Jorge, Jorge. Quantas perguntas. Bem que me falaram, você é

muito falador.

- Quem falou de mim?

O Gabriel me olhava e balançava a cabeça, então o elevador

começou a subir.

MARCELO MENA

140

- Você não tem medo de altura, Jorge?

- Até agora eu não tinha, mas se já estamos no alto pra onde ele

vai subir?

O Gabriel ficava me olhando. Começamos a subir muito rápido,

tudo do lado de fora passava rápido, pude ver um avião

passando bem próximo de nós e logo estávamos acima dele.

- Esse avião não está voando muito baixo?

- Na realidade somos nós que estamos subindo mais alto.

- Como assim? Quantos andares têm este prédio?

- Já não estamos no prédio, Jorge.

- Não estamos no prédio? Onde estamos, Gabriel?

- O elevador só está voando, Jorge.

- Está só voando?

- Isso mesmo, Jorge.

- Eu não acredito! Devo estar sonhando e achando que estou no

filme, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Você deve ser o

Willy Wonka, e eu o Charlie.

- Você não é o Jorge?

- Estou falando do filme. Você nunca assistiu?

- Não tenho tempo para isto.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

141

- Você trabalha no quê? Onde estamos indo? Quando vou

acordar?

- Você não para de fazer perguntas, Jorge. Logo vou te

esclarecer tudo. Como vocês dizem: Aprecie a viagem.

Parecia loucura, mas a gente estava acima das nuvens. O

elevador parecia uma cápsula, voando no céu.

- Posso te fazer só mais uma pergunta?

- Já está perguntando.

- Pra onde estamos indo, Gabriel?

- Bem, Jorge, meu compromisso é levar você até a Grande

Sabedoria.

- Como assim? A Grande Sabedoria? Você está falando de

Jesus?

- Sim, Jorge. Você irá falar com Ele.

- Vou falar com Ele? Por quê?

- Você não quer saber onde está a cópia do segundo

pergaminho, dos códigos?

- Sim, eu quero.

- Então ele vai dizer onde está.

- Que legal. Faz tempo que não falo com Ele, sei que vai me

ajudar a salvar o Simon. Mas, espera aí, Ele está no céu?

- Isso mesmo, Jorge.

MARCELO MENA

142

- Então você é um anjo? Com certeza devo estar sonhando.

- Olhe para lá agora, poucos humanos têm este privilégio de ver.

Olhei do lado de fora e vi que estávamos no espaço. Tinha

muitas estrelas. Tudo aquilo era, pra mim, algo fantástico. Aos

poucos, estávamos nos afastando da Terra, e como é bonita,

toda azul. Passamos bem próximo da estação espacial

internacional, logo, passamos próximo da lua, como ela é cheia

de buracos. Assim, tudo ficava mais longe, e podíamos ver

outras constelações.

- Que planeta é aquele?

- Aquele é Júpiter.

- Agora, vamos sair desta Via Láctea. Quero te mostrar aquela

outra constelação, Jorge.

Começamos a nos aproximar de um planeta, me pareceu um

pouco menor que a Terra, mas também bem azul. O sol era um

pouco mais fraco que o nosso, e ao redor deste planeta havia três

luas.

- Que planeta é este?

- Este planeta é chamado de Terra-B.

- Porque Terra-B?

- Ele tem as mesmas características da Terra, mas é um pouco

diferente em alguns pontos.

- E, existem extraterrestres ali?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

143

- Agora não posso te dizer, mas, a Grande Sabedoria falou que

numa próxima viagem você irá conhecer toda a história deste

planeta.

- Que viagem? Quando será?

- Isso eu já não sei, Jorge.

Cada vez minha cabeça ficava mais confusa. Continuamos a

subir com o elevador.

- Olhe para cima, Jorge.

Ao olhar pra cima do elevador, verifiquei que estávamos indo

em direção a uma parede formada por espelhos.

- Aquilo é espelho?

- Sim. O final do universo é todo formado por espelhos, e, não é

infinito, como alguns homens pensam, ele é finito, e termina

com esta parede de espelhos. Você nunca leu no livro de Jó?

- Como assim, no livro de Jó?

- Quando você voltar, procure na Bíblia. Jó, capítulo trinta e

sete, verso número dezoito, onde diz que os céus são firmados

por espelhos.

- Nunca li.

- O livro de Jó é um livro científico, mas poucos sabem disso.

Melhor você se segurar, porque agora vamos atravessar esta

parede de espelho.

- Vai quebrar tudo?

MARCELO MENA

144

- Não. No mundo espiritual só entra o que é espírito, a matéria

não pode passar.

- Então vou morrer?

- Não. Seu corpo apenas ficará aguardando sua alma voltar.

- E qual a diferença, Gabriel? Pois, quando morro a minha alma

se separa do corpo.

- Fique calmo. Vai dar tudo certo!

Quando estava próximo de bater nesta enorme parede de

espelho, fechei os olhos. Senti um grande arrepio por todo o

meu corpo, um frio enorme em minha barriga. Então, abri os

olhos e estávamos num lugar lindo, todo branco. O piso era

como se fosse de vidro, bem limpo. Ao olhar o Gabriel, ele

estava resplandecendo uma luz forte. Agora, ele estava muito

mais alto e possuía duas asas enormes. Quando olhei para minha

roupa, estava com uma veste branca, bem longa. Minhas roupas

normais haviam desaparecido. O elevador parecia ter ficado

maior, pois Gabriel ainda cabia dentro dele.

- Olhe, Jorge. Lá na frente, onde está aquele trono.

Havia um enorme trono todo dourado e cheio de pedras

preciosas que irradiava muita luz. Mas, não conseguia visualizar

quem estava sentado, havia vários anjos como Gabriel. Se

aproximavam do trono e logo desciam por um portão enorme,

todo dourado.

- Estes são os anjos, Jorge.

- Os anjos?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

145

- Sim. Nós fomos criados há milhões de anos.

- E o que eles estão fazendo aqui?

- Estamos no primeiro céu, Jorge, onde todos os anjos que estão

na Terra vêm para comunicar a Deus tudo que ocorre e receber

ordens para o trabalho que irão fazer.

- Então, todos os anjos que estão na Terra, ajudando as pessoas,

vêm aqui prestar conta e voltam pra continuar o serviço?

- É isso aí. Você entende rápido.

Olhei e vi uma grande porta dourada, era muito linda e estava

fechada. Possuía algumas coisas escritas numa outra língua, não

consegui decifrar. Dois anjos ao lado com espadas que pareciam

chamas de fogo e iluminava toda a porta.

- O que é aquela porta, do outro lado do trono, que tem dois

anjos com espadas?

- Aquele é o portal que leva para o segundo céu. Somente anjos

com patentes maiores podem entrar, os demais têm que ficar

aqui.

- Eles não podem passar por ali? Quer dizer que existem anjos

superiores a estes? Por que precisa de guardas ali?

- Sim. Através daquele portal passam anjos levando os salvos

que morrem na terra. Infelizmente tivemos um pequeno

incidente há alguns milhões de anos atrás, onde Lúcifer tentou

subir todos os céus.

- Sim, me lembro.

MARCELO MENA

146

- Como você se lembra, se sua raça nem era nascida?

- Vamos dizer que sei desta história.

- Certo. Então, a partir daí, Deus colocou anjos da guarda

fechando estes portais, para que ele não tente subir? Mas ele

ainda vem aqui?

- Sim. Toda vez que quer fazer algum mal na Terra, ou com

alguém, ele vem pedir a permissão de Deus.

- Que coisa! Então o calça-curta ainda vem perturbar aqui

também?

- Calça-curta?

- É o outro nome dele.

- É você que inventa, Jorge?

- Não fui eu, mas a gente chama assim.

- Entendi.

- Então quer dizer que aquela é a porta que leva ao paraíso?

- Ainda não. Aquela porta leva para o segundo céu.

- E o que é o segundo céu?

- Vamos subir mais um pouco. Pra isso devemos descer do

elevador, iremos caminhando.

Nesta hora, a porta se abriu e Gabriel desceu, me puxando pelo

braço. Ao pisar o chão, não senti frio, pois eu estava descalço. O

lugar era fofo, parecia que estava caminhando por cima de uma

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

147

lã bem macia, chegava a dar uma sensação boa. O cheiro era

gostoso, nunca senti um cheiro suave como aquele. Neste

instante, foi como da primeira vez, senti um arrepio e frio na

minha barriga.

- Pronto, Jorge! Estamos na porta do segundo céu.

Quando olhei, a gente estava de frente com o portal, onde tinha

os dois anjos. Um deles abriu a porta e nos deixou entrar.

- Da próxima vez, tem como me avisar, Gabriel? Pois é muito

rápido, sinto um arrepio enorme e um frio na barriga.

- Sim, te avisarei.

À frente, vi que estávamos num campo bem verdejante. Para

trás de nós, o anjo fechou a porta novamente. Aquele lugar era

lindo, tinha algumas pequenas flores que nunca tinha visto. O

céu era sempre bem azul e logo depois de algumas árvores podia

ver outro portal, como o primeiro, também guardado por anjos.

- Onde estamos, Gabriel?

- Aqui é o segundo céu, também chamado Seio de Abraão.

- E cadê o povo? Não é aqui que vêm todos os que morrem

salvos?

- Não. Aqui foi um lugar temporário criado por Deus, para que

todos os que acreditaram na promessa de salvação viessem para

cá, esperando a salvação.

- Explique melhor, não entendi nada.

- Venha comigo.

MARCELO MENA

148

Caminhamos um pouco e o lugar tinha um cheiro maravilhoso.

Havia uma brisa refrescante que nos envolvia por completo e

nos dava uma paz e alegria. Era um lugar contagiante, não dava

vontade de sair dali.

- Neste lugar, vinham todos os que morreram antes de Jesus

morrer na cruz do calvário. Porque a salvação vem somente por

ele.

- Então, no caso, Moisés veio para este lugar antes de Cristo?

- Isto. Aqui vieram todos os que acreditaram na promessa da

salvação.

- Agora entendi. E para onde foram?

- Após a morte de Cristo, eles foram levados para o Paraíso.

Como está escrito no livro de Efésios, capítulo quatro e

versículo oito: - Por isso foi dito: Subindo ao alto, levou cativo o

cativeiro.

- E porque não ficaram aqui?

- Venha comigo.

Gabriel me pegou pela mão e me levou para o outro lado do

Seio de Abraão, foi num piscar de olhos.

- Que coisa! Já te falei pra me avisar quando for fazer estes

movimentos.

- Eu avisei. Falei: venha comigo. Lembra?

- Então está bem. Quando for me levar de novo, me avise bem

antes.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

149

- Está bem. Olhe lá para baixo, Jorge.

Estávamos à beira de um precipício. Lá em baixo, havia uma

grande escuridão e podíamos ver, como se fossem chamas,

subindo de lá. Formas de pessoas se movimentavam em meio a

estas chamas. O cheiro era terrível, havia um portal aberto,

onde, de lá, caiam muitas pessoas que acabavam mergulhando

naquelas chamas. Havia muitos gritos e gemidos.

- Que lugar é este, Gabriel?

- Aqui é o Hades. As pessoas que morrem na terra e que

praticaram coisas ruins, fazendo maldades ou mesmo sem

acreditar em Cristo, vêm parar neste lugar.

- Então é o inferno?

- Não ainda. Aqui é um lugar temporário também, eles ficam no

tormento até chegar o juízo final, aonde, após o julgamento, irão

para o inferno.

- É como está escrito na Bíblia, da história de Lázaro e o rico?

- Sim! Está escrito no livro de Lucas, capítulo dezesseis e verso

dezenove.

- Este lugar é horrível, Gabriel!

- Por isso, todos que estavam no seio de Abraão foram tirados,

para que não ficassem vendo estes, serem atormentados.

Comecei ouvir o grito de desespero daquelas pessoas, era

realmente assustador ficar ali. Meu coração parecia doer de

tristeza, o lugar era escuro e fedido.

MARCELO MENA

150

- Podemos ir embora daqui, Gabriel?

- Claro, Jorge! Vamos voltar. Se prepare que vai ser rápido de

novo.

Mal ele acabou de falar, já estávamos novamente próximo ao

outro portal, senti arrepio novamente.

- Você fez de novo, muito rápido! Você tem que avisar e dar um

tempo, pra que eu possa me preparar.

- Você não disse que era pra te avisar? Não falou nada de tempo.

- Quando for fazer isso novamente, me dê alguns segundos pra

entender.

- Entendi. Agora, vamos para o terceiro céu.

Nesta hora, outro anjo abriu o portal e nos deixou entrar,

fechando a porta. Assim que passamos, vi uma luz maravilhosa.

Esta luz parecia até tocar uma música linda, nunca tinha ouvido

algo tão maravilhoso. Olhei do lado e percebi que até o Gabriel

estava gostando daquele lugar.

- Aqui, Jorge, é o Paraíso!

O lugar era muito melhor que o seio de Abraão, havia uma

vegetação rasteira e várias flores que pareciam cantar. Era

cheiroso e um frescor tomava conta do ambiente. Tinha muita

gente de branco, alguns sentados, outros em rodas conversando,

alguns em pé andando e conversando. Todos tinham um rosto

feliz e estavam alegres. O céu era de um azul, nunca visto, e,

também tinha outro portal com anjos.

- É aqui que os salvos ficam, Gabriel?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

151

- Sim. É neste lugar, Jorge.

- É maravilhoso!

- Eu gosto muito de estar aqui também, Jorge.

Gabriel me pegou pela mão e foi me levando. Algumas pessoas,

que ali estavam, começaram a me olhar e sorrir.

- Aonde vamos?

- Preciso te mostrar uma pessoa. Ela quer te conhecer.

- E quem é ela?

- Você verá, Jorge.

O lugar era muito lindo, não há nada na terra que a gente possa

comparar. Os meus pés pareciam estar pisando em algo tão

macio que não tem como comparar. Neste momento, Gabriel

parou e ele deu sinal para uma pessoa chegar até onde

estávamos.

- Jorge, quero que você conheça o Humberto.

Então me virei e este Humberto me abraçou com muita alegria.

- Faz tempo que queria te conhecer, Jorge. – Humberto falou,

com uma voz cheia de alegria.

- Como você me conhece? – Perguntei.

- Fui um grande amigo de seu pai. Eu vim para este lugar logo

que você nasceu. Sempre fiquei esperando te ver novamente.

Agora você está crescido, que privilégio Jesus me concedeu.

MARCELO MENA

152

- E como está sua família lá na Terra? – Perguntou ele, me

olhando nos olhos. - Está tudo bem. – Respondi.

- E a sua mãe? – Perguntou ele, olhando pro Gabriel.

- Está bem, também. – Respondi.

- Humberto, agora chega. Preciso levar Jorge para conhecer

outras pessoas. É melhor se despedir. – Falou Gabriel, com uma

voz meio forte.

Novamente aquele homem me abraçou, sua face não me era

estranha, parecia com alguém que eu conhecia.

- Boa sorte, Jorge. Eu só quero que você saiba que sempre te

amei. – Falou Humberto, emocionado.

Mais uma vez me abraçou. Então, Gabriel me pegou pela mão e

saímos dali. Humberto me acenava com a mão. Com toda

sinceridade, não entendi nada.

- Gabriel, quem era aquele homem? Por que ele demonstrou

tanto amor por mim?

- Jorge, eu recebi ordens pra te levar até ele, pois o seu desejo

era te conhecer, já que em vida, na Terra, não conseguiu. Ele

pediu a Deus e assim foi concedido.

- Achei tudo meio estranho.

- Algumas coisas você não compreende, mas, com o passar do

tempo, tudo se esclarece.

Gabriel parou um instante, e, apontando para um lugar mais alto

disse:

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

153

- Está vendo aqueles homens conversando?

- Sim.

Estavam sobre um monte, três homens de roupas bem claras.

Conversavam bem descontraídos, pareciam velhos amigos.

- Aqueles são Pedro, Moisés e Samuel.

- Meu Deus! Você está falando do apóstolo, o Moisés do Mar

Vermelho e o profeta da Bíblia?

- Sim, Jorge, são eles.

- Não parecem nem um pouco com o que eu imaginava. Vamos

ir até lá?

- Não, Jorge. Você precisa rever mais um amigo seu. Depois

iremos subir mais um céu.

- E quem é?

- Vamos lá, vou te mostrar.

Ele me levou muito rápido voando por aquele lugar. Havia

muita gente, alguns olhavam para nós e acenavam. Paramos

num lugar mais alto e alguns vieram nos encontrar e começaram

a me abraçar. Quando olhei, vi o Harmes.

- Ei, Jorge. Quanto tempo! – Gritou Harmes, correndo.

- Harmes? – Perguntei.

Ele me abraçou forte.

MARCELO MENA

154

- Você ainda continua magrinho, hein, rapaz? – Harmes

começou a bater em minha barriga.

- O que você faz aqui? – Perguntei.

- Lembra a última vez que nos vimos? – Perguntou Harmes.

- Sim. Estávamos para voltar à nossa terra. Você e o Clin foram

para a caverna, junto com a Grande Sabedoria. – Respondi pra

ele, enquanto mais pessoas se aproximavam.

- O nosso mundo estava desabando por causa de Lúcifer, então,

quando chegamos à caverna, todos ficaram felizes de ver a

Grande Sabedoria. Ele pediu que todos nós fechássemos os

olhos. Quando abrimos, estávamos no que vocês chamam de

seio de Abraão, depois nos trouxe para cá e aqui estamos. –

Disse Harmes, todo empolgado.

- O Clin está aqui também? – Perguntei pra ele.

Foi só falar no Clin que ele veio e me abraçou muito forte.

- Não falei que a gente ainda ia se encontrar, Jorge? – Falou

Clin, todo alegre.

Ainda bem que não cuspiu no meu pé, como da última vez que

nos conhecemos.

- Verdade, Clin. – Respondi, batendo em seu ombro.

- Vamos, Jorge. Precisamos subir. – Falou Gabriel, me pegando

pela mão.

- Mas aqui é tão maravilhoso, nem dá vontade de sair Gabriel, e

estas pessoas são meus amigos.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

155

- Eu sei, mas é necessário ir, Jorge. – Falou Gabriel, me

puxando novamente.

- Pessoal, foi bom rever vocês.

- Jorge, manda um abraço pro Simon. Diga que estamos

esperando ele aqui.

- Pode deixar, Harmes, espero que eu consiga encontrá-lo e

salvá-lo.

- Eu sei que você é um garoto corajoso. Já enfrentou até o

Xenton! – Falou Harmes, imitando o Xenton.

- Valeu, Harmes! Até mais, Clin!

Gabriel me puxou e saímos voando. Ele me levou novamente

até o próximo portal.

- Nem acredito que encontrei o Harmes. Dá vontade de ficar pra

sempre aqui.

- Eu sei, Jorge. Mas, lembre-se que aqui também é temporário.

- Como assim, temporário?

- Neste céu, ficam os salvos, aguardando o arrebatamento. Após

o arrebatamento, irão para o próximo céu, o qual te mostrarei.

Venha!

Após entrarmos pelo portal, chegamos ao outro céu. O lugar era

como o paraíso, estava cheio de mesas, era impossível contá-las.

Todas eram revestidas de ouro, com várias cadeiras de ouro.

Sobre estas mesas havia coroas de ouro, umas diferentes da

outra, algumas estavam cheias de pedras preciosas e outras com

MARCELO MENA

156

apenas algumas pedras. O lugar estava totalmente vazio, havia

vários anjos trabalhando nas coroas, outros, nas mesas.

- Aqui, Jorge, é o quarto céu.

- Mas só tem anjos, Gabriel?

- Eles estão trabalhando para deixar tudo pronto. Olhe lá na

frente.

Havia uma mesa diferente de todas as outras, nesta mesa, um

grande trono cheio de pedras e metais preciosos.

- Aquele é o trono preparado pra Jesus.

- Que lugar é este?

- Aqui é o quarto céu, aonde virão todos os salvos após o

arrebatamento da igreja. Aqui irão ganhar o seu galardão e

receber a sua patente.

- Como assim, galardão e patente?

- Galardão é o prêmio pelo que fizeram na Terra, a patente é a

posição que irão adquirir pelo esforço realizado de não negar a

fé.

- Então é por isso que algumas coroas são bem recheadas de

pedras preciosas e outras não?

- Isto mesmo. Cada pedra tem um valor e uma característica,

para uma nova função.

- Função?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

157

- Vocês estão sendo preparados na Terra, para terem uma nova

função e trabalho no futuro.

- E qual vai ser este trabalho?

- Só no futuro você saberá. Quer ver sua coroa, Jorge?

- Melhor não.

- Por quê? – Perguntou Gabriel, sem entender.

- Ainda preciso enchê-la de pedras.

- Entendi, Jorge.

- E porque está cheio de mesas?

- É aonde será servido o grande banquete.

- É aqui que Jesus vai servir um banquete?

- Isto mesmo, Jorge. O banquete que todos estão esperando.

- E você sabe qual será o cardápio, Gabriel?

- Você não sabe, Jorge?

- Não.

- Você nunca leu o livro de provérbios? – Perguntou Gabriel não

acreditando.

- Só alguns trechos. E lá fala deste grande banquete?

- Sim, em provérbios, capítulo nove. Quando você voltar

procure ler e entenda o que é o banquete. Agora, vamos subir

para o próximo céu.

MARCELO MENA

158

- Cada vez fico com mais dúvida.

- Eu sei, Jorge. Mas, as escrituras falam sobre tudo isto que você

está vendo, por isso procure ler um pouco mais.

- Entendi. Tenho que ler mais a bíblia.

- Sim, Jorge, tudo está escrito.

De novo, ele me pegou pelo braço e fomos até o outro portal.

Logo, os anjos abriram e entramos para o outro céu. O lugar era

muito mais lindo que os outros, possuía muito mais cor, havia

anjos de diferentes tipos voando por cima de nossas cabeças. O

brilho era muito intenso e havia uma paz inigualável naquele

lugar. Ao longe parecia correr um rio, mas era diferente de

qualquer coisa que tinha visto, não consigo descrever isto, pois é

muito maravilhoso.

- Não existem palavras do seu vocabulário para entender este

lugar não é, Jorge?

- Nunca vi nada parecido. Que lugar é este?

- Aqui é o quinto céu, onde vai ocorrer o maior casamento de

todas as criações.

- Casamento? De quem?

- De Jesus e a sua noiva, a Igreja!

- Você quer dizer as bodas do Cordeiro?

- Sim. Será neste lugar, Jorge.

- E o que vai acontecer, Gabriel?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

159

- Aqui haverá algo extraordinário. O noivo e a noiva estarão

juntos para todo o sempre e não haverá impedimento. Agora, é

necessário subir mais um céu.

Novamente, chegamos num outro lugar e este era muito

silencioso. Não havia cânticos, ou algo parecido. O ambiente era

de paz, muita paz. Ao longe, vi um templo enorme de ouro e

brilhantes, as portas estavam fechadas.

- Aqui, Jorge, é o sexto céu.

- E o que tem naquele templo, Gabriel?

- Ali está guardada a Arca do Conserto.

- Aquela Arca, construída por Moisés, onde Deus falava com o

povo?

- Isso mesmo, Jorge. O bom é que você conhece algumas

histórias bíblicas, não é?

- Sim, Gabriel. Sei que é muito pouco, mas já li algumas

histórias. Mas, por que a arca está aqui? Você não me disse que

aqui só entra o que é espiritual? A Arca era feita de madeira e

revestida de ouro, dentro tinha o maná, as tábuas da lei e a vara

de Arão? Isto não é matéria?

- Sim, Jorge. Deus a trouxe pra cá, pois no futuro ela será

utilizada. Ela está aí dentro, como se estivesse em uma cápsula,

capaz de mantê-la no mundo espiritual e lá dentro é o sétimo

céu. O apóstolo João teve o privilégio de vê-la por alguns

segundos. Houve trovões, relâmpagos, terremotos e saraivas que

ecoaram por todos os céus, depois, fechou novamente. É só você

ler apocalipse, capítulo onze e verso dezenove.

MARCELO MENA

160

- Então quer dizer que a matéria sofre rejeição no espiritual, pois

não pertence a este lugar?

- Isto mesmo. Por isso está dentro deste templo.

- Podemos entrar pra ver, Gabriel?

- Você já quer demais. Ninguém nunca entrou ali. Isto será

privilégio de alguns vencedores, dos salvos. Quem sabe se você

vencer alcançará este privilégio, pois estando lá dentro fará parte

da perfeição, por isto é o sétimo céu.

- Deus me ajude que eu consiga.

Chegamos ao outro portal. Entramos num outro lugar, onde

havia uma quantidade de anjos imensurável, um louvor era

entoado sem cessar.

- E aqui, que céu é este?

- Este é o oitavo céu, onde ficam todos os adoradores de Deus. É

neste lugar que ficam os Serafins e louvam a Deus,

constantemente. Faça o seguinte, feche os seus olhos. Escute e

sinta o louvor.

Fechei os meus olhos, comecei a ouvir os cânticos, era

maravilhoso. Podia sentir a voz ecoar dentro de minha mente,

sem abrir os olhos. Enxergava uma luz muito clara e era como

se estivesse voando. Sentia um amor muito grande dentro do

meu coração. Aos poucos, parecia entrar num lugar muito mais

lindo do que já tinha visto. Ao longe, podia ver que alguém

olhava para mim e sorria, mas não consegui ver o seu rosto, a

luz era muito forte.

- Jorge, pode abrir os olhos. – Falou Gabriel, me puxando.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

161

Abri os olhos e estava no oitavo céu ainda. Os louvores

ecoavam por todos os céus.

- Que coisa linda. Para onde fui, Gabriel?

- Quando você fechou os olhos pôde sentir a presença de Deus

neste lugar e você estava quase voando. Acredito que quase o

viu.

- Sim. Era como se Ele estivesse me olhando e sorrindo.

- Ele está neste lugar também, você quase alcançou o último

céu. Mas, não é permitido ainda.

- Como assim, Gabriel?

- Ver o Pai será o maior privilégio de todos os santos, isto

acontecerá num breve futuro.

- Então ele está no ultimo céu?

- Sim. Onde fica toda a Trindade, Jorge.

- Vamos continuar até chegar lá?

- Aqui pra você é o fim da nossa viajem, Jorge. Não podemos

passar deste céu. Daqui pra frente é somente quem tem uma

patente maior, ou o privilégio de chegar até o ultimo céu.

- E, quantos céus existem? Gostaria de saber.

- Venha comigo, irei te mostrar!

Ele me levou até o portal de ouro, os dois anjos o saudaram e

abriram a porta.

MARCELO MENA

162

- É o seguinte, Jorge, você não pode entrar, mas poderá dar uma

olhada na parede direita, lá haverá um mapa de todos os céus.

Então coloquei a cabeça por dentro deste portal. Gabriel ficava

me segurando, me impedindo de entrar. Pude ver um mapa

descrito com algumas palavras que não conseguia entender,

mas pude contar e vi que o ultimo céu marcava número doze.

Quando olhei à frente, uma luz muito forte tomou conta do

ambiente e não conseguia enxergar mais nada, então, Gabriel

me puxou.

- São doze os céus, Gabriel?

- Isso mesmo, Jorge! Lá existe o nono céu, que é o lugar dos

Querubins, depois no décimo o lugar dos Arcanjos e no décimo

primeiro o lugar dos Anjos Superiores, também conhecido como

Anjos da Guarda e por último o lugar Santo, Santo e Santo.

Existem coisas lá nestes céus que nenhum homem sabe, mas um

dia saberão.

- Que pena não poder subir mais.

- Entendo. Também gostaria, mas não é permitido. Venha,

Jorge, preciso te levar até aquela porta.

Virei de lado e vi uma porta, como se fosse de madeira, toda

trabalhada, com uma maçaneta de ouro.

- E o que tem naquela porta, Gabriel?

- Você tem que entrar por ela. Ficarei aqui te esperando voltar.

- E o que tem lá dentro?

- Sempre perguntando. Entre e veja!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

163

- Está bem.

Abri a porta e fui entrando. Gabriel, vendo que entrei, fechou a

porta. Vi que estava dentro de uma sala enorme. Havia uma

pequena cadeira e uma mesa. Ao me aproximar, vi que tinha um

bilhete em cima da mesa, lá estava escrito: “Meu querido amigo,

abra a gaveta da mesa e retire o pergaminho que lá se encontra,

depois, guarde o pergaminho em algum lugar seguro, espere

sentado nesta cadeira”. Então, abri a gaveta e vi o pergaminho.

Neles estavam todos os códigos que era preciso pra revelar o

outro pergaminho. Fiquei muito alegre e enrolei o pergaminho.

Comecei a procurar um bolso para guardar o pergaminho, mas

aquela roupa não tinha bolso. Então, voltei até a porta e abri. Vi

que Gabriel estava ali esperando.

- Pronto, Jorge?

- Ainda não, é que tinha um bilhete me pedindo pra guardar este

pergaminho num lugar seguro. Só que, infelizmente, esta roupa

não tem bolso, você tem algum bolso nesta sua roupa?

- E porque eu teria um bolso?

- Sei lá. De repente pra guardar algum documento.

- Que documento, Jorge?

- Vai que vocês tem que ter algum RG de anjo.

- Não tenho bolso e nem RG.

- Então, faz um favor pra mim, fica segurando aí o pergaminho

até eu voltar. Existe algum lugar mais seguro que as mãos de um

anjo?

MARCELO MENA

164

- Vai, Jorge, me dá este pergaminho.

Entrei novamente na sala. Gabriel já tinha fechado a porta

novamente. Sentei na cadeira e esperei pra ver o que

aconteceria. Ainda era possível ouvir o louvor dos serafins

naquela sala. Então, pensei em fechar os olhos, como fiz

anteriormente. Senti a música novamente e algo maravilhoso

começou acontecer no meu ser. Logo pude ver aquela luz forte e

perceber alguém me olhando e sorrindo. Aos poucos, comecei

ver a face, como se fosse de uma pessoa, logo este rosto não me

era estranho e falou comigo:

- Oi, Jorge.

Quando abri os olhos, era a Grande Sabedoria que estava a

minha frente, sorrindo pra mim.

- Jesus?

- Quanto tempo, Jorge. Venha, me dê um abraço! – Ele disse,

abrindo os braços e me chamando.

Corri e saltei em seus braços. Como era maravilhoso sentir Jesus

me abraçando de novo, podia sentir uma alegria muito forte no

meu coração.

- Faz tempo que a gente não conversa, Jesus.

- Sim, faz muito tempo, Jorge. Mas você se afastou de mim e

não quis mais conversar.

- Eu? Como poderia conversar se não apareceu mais?

- Não significa, que por não me ver estou longe, Jorge. Sempre

estou bem perto.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

165

- E como vou conversar com o senhor?

- A oração é a nossa conversa. Sempre que você ora, estou

ouvindo. Mas, quando quero falar, você termina a oração e diz

amém. Nunca deixa tempo pra eu falar, acaba que, sua oração

vira um monólogo, só você fala. Então, deixe um tempinho pra

eu poder falar também.

- Me perdoa, Jesus. Nem imaginava que o Senhor queria falar

comigo.

- É o que todo mundo pensa. Acreditam que estou tão longe. Às

vezes, pensam que sou surdo e gritam, mas mal sabem que estou

tão perto, e que nem precisa falar, pois já sei o que querem.

- Vou começar orar diferente agora.

- Por isso gosto de você, Jorge. A sua sinceridade vem do

coração, não apenas dos lábios. Diga-me, como foi conhecer os

céus?

- Foi maravilhoso. Nunca vi, nem senti tanta coisa maravilhosa.

- Obrigado por esta oportunidade, Jesus.

- Você parece ter crescido um pouco, desde a última vez.

- Só se for dos lados, pois na altura não cresci quase nada.

- Jorge, seu senso de humor ainda está ótimo.

- Gabriel deve estar se divertindo com você.

- Não sei não. Ele é meio sério, não é muito de brincadeira.

- Mas é um ótimo anjo. Por isso vocês se diferem deles.

MARCELO MENA

166

- Já sei, nós somos mais divertidos que eles?

- Quase isso, Jorge. É que vocês têm sentimentos. Você é

semelhante a mim, por isso são especiais. Mas estou vendo que

está aflito por causa do Simon.

- É que, aquele Muled disse que vai matá-lo se não levar o

pergaminho com os códigos. Por isso estou aflito.

- Você foi corajoso. Enfrentou todas as dificuldades, sem temer,

e chegou até aqui por amar o Simon.

- Ele é um grande amigo. Me ajudou numa hora difícil. Não

posso deixar o Muled machucá-lo.

- Então você consegue ver como me sinto quando vejo o

inimigo tentando acabar com as pessoas que amo, Jorge?

- Sim, Senhor. Sei que o inimigo tem feito estragos na Terra,

tem prejudicado muitos dos teus servos. Quando isso terá fim?

- Em breve, Jorge! Falta pouco tempo, logo tudo isso irá findar.

Saiba que o Simon está constantemente orando por você, para

que eu possa te guardar e te abençoar.

- Então ele está bem?

- Sim. Ele está um pouco triste, mas está bem.

- Agora, vou poder voltar e soltá-lo, pois já tenho o pergaminho.

- Você está vendo? Através de um pergaminho, pequeno, com

alguns códigos, poderá libertá-lo.

- Com estes códigos o Muled vai soltá-lo, não é mesmo?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

167

- Na terra também é assim, Jorge. A minha Palavra, que veio de

vários pergaminhos, pode libertar muita gente das mãos do

inimigo e trazer a salvação do pecado. Se você não levar o

pergaminho o Simon poderá morrer. Da mesma forma,

acontecerá com as pessoas que não receberem a minha Palavra.

Alguns não querem mais levar esta Palavra aos que estão presos

nas amarras do mundo, em que o inimigo os prende. Muitos

estão sendo condenados à perdição por falta desta mensagem.

- Entendi, Senhor. Se não levarmos a Palavra à humanidade,

todos irão para o inferno, sem a salvação. Eu vi como era o

Hades, imagino como será no inferno. Vou fazer a minha parte,

me desculpa se não entendi quando tive que orar pela criança no

hospital e pelo Antônio.

- Sim, Jorge. Você tem a Verdade. Leve-a para todos.

- Sim, Jesus. Gostaria de falar também sobre Aquele Muled, que

está sendo usado pelo calça-curta. Ele não sabe o que está

fazendo, acredita que se conseguir o tesouro de Salomão, irá se

tornar poderoso.

- Jorge, os Atanasianos eram um grupo de homens separados

por Salomão. Eles tentaram impedir a descoberta destes

tesouros, e, o pergaminho, era o único meio. Foi quando vocês

pegaram, naquela última viajem. Após a perda deste, já não

houve mais motivo, ou vontade para continuarem. Isto fez com

que a busca pelo tesouro terminasse, há muitos anos atrás.

- Quais são os tesouros de Salomão?

- Vai perder a emoção se eu contar. Você não acha, Jorge?

- Acho que o Senhor poderia me dar uma dica.

MARCELO MENA

168

- Jorge, Jorge. Como é curioso. Espere pra ver!

- E se Muled Conseguir os tesouros? O que vai acontecer?

- Vá junto com ele e descubra os tesouros de Salomão. Na hora,

você saberá o que fazer. Estarei lá com vocês.

- Como assim? O Senhor quer que a gente vá, junto, achar?

- Sim, Jorge. Será uma aventura incrível, e você poderá aprender

muito.

- Cada dia eu me surpreendo. Enquanto alguns acham que te

servir é uma coisa monótona, eu fico pensando nas aventuras

que já passei desde que te conheci.

- Agora me diga, Jorge, é ruim? Quer desistir?

- Jamais, Senhor! Só depois de conhecer estes céus, eu quero ser

vencedor e alcançar tudo isto.

- Muito bem. Agora, me responda. Se você descobrisse, que

tudo aquilo que acha que é verdade, fosse mentira. O que faria?

- Não entendi. Como a verdade poderia ser mentira, Jesus?

- Imagine um aluno, estudando com um professor, descobre que

o seu professor nunca foi um professor de verdade. Se você

fosse o aluno, o que faria?

- Eu me sentiria muito chateado, pois fui enganado.

- E como ficaria você e o professor? Ainda teriam a mesma

amizade?

- Não estou entendendo. É a respeito do Simon?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

169

- Não, Jorge. É só um exemplo.

- Acho que eu não voltaria mais a falar com este professor.

- Mesmo sabendo que muitos ensinos dele foram verdade e te

ajudaram muito?

- Não sei dizer o que faria, Jesus. Porque tudo isto?

- Porque, mesmo descobrindo alguma mentira, Jorge, às vezes,

precisamos analisar todo o contexto, descobrir algumas verdades

ali contidas, para que possa se apegar, e, nunca permitir que uma

mentira estrague tudo o que foi construído durante uma vida.

- Jesus, suas palavras estão difíceis de entender.

- Você pode não entender agora, mas entenderá em breve.

Quando você voltar pra sua casa, vá à loja M&D Modas, do seu

bairro. Você conhece?

- Sim. Aquela loja, chique, de roupas.

- Isso Mesmo. Vá lá e compre aquele tênis que você queria, já

que o seu ainda é o da última viajem, e está terrível.

- Eu sei, Jesus, mas não tenho dinheiro.

- Não se preocupe. Apenas confie em mim, faça o que estou lhe

pedindo.

- Eu queria mesmo aquele tênis novo.

- E você vai ter, mas pense nisso que te falei.

- Vou pensar.

MARCELO MENA

170

- Agora, Gabriel vai te levar de volta. Ajude Muled a conseguir

os tesouros de Salomão.

Então, Jesus me abraçou novamente e me levou até a porta. Ao

abrir a porta, Gabriel estava esperando por mim. Quando virei

pra falar com Jesus, ele não estava mais.

- Pronto? Podemos ir, Jorge?

- Acho que sim, Gabriel. Vamos voltar.

Voltamos por todos os portais até chegar ao elevador. Então,

entrei e Gabriel ficou do lado de fora.

- Você não vem, Gabriel?

- Meu trabalho termina aqui. Bom retorno, Jorge.

- Obrigado, Gabriel. Você foi muito legal.

- Até a próxima, Jorge.

A porta do elevador se fechou. Num piscar de olhos, já estava de

novo na Terra. O elevador estava com todas as luzes apagadas.

Pelo vidro, pude ver muita gente do lado de fora do prédio.

Havia carros de polícia e bombeiros. Comecei a sentir um cheiro

forte de queimado e entrou muita fumaça dentro do elevador,

estava me sufocando. Tentei abrir a porta, mas estava trancada.

Parecia ter um incêndio no prédio, então, comecei a gritar e a

bater na porta.

- Me ajudem! Socorro!

Em alguns minutos, o elevador estava totalmente tomado pela

fumaça e já estava difícil respirar. Ouvi um barulho na porta do

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

171

elevador, alguém falava em árabe. De repente, pude ver a porta

se abrindo devagar. Um bombeiro conseguiu entrar, me viu e

gritou bem alto. Então, outros vieram até onde estávamos. Ele

me retirou do elevador, e a sala de recepção estava totalmente

tomada por fumaça. Havia chamas em alguns lugares, muita

gente morta e, até, pedaços de corpos espalhados, foi uma cena

horrível.

- O que houve aqui? – Perguntei ao bombeiro.

O bombeiro me colocou numa máscara de oxigênio e me

carregou para o lado de fora. Algumas ambulâncias ajudavam

quem estava ferido. Havia muita sujeira e pedaços do prédio do

lado de fora, era como se tivesse explodido uma bomba. Fui

colocado numa maca e levado pra dentro de uma ambulância,

que já estava com mais três pessoas machucadas.

- Alguém aqui fala inglês? – Perguntei.

Uma enfermeira da ambulância me respondeu.

- O que você quer saber, jovem?

- O que aconteceu lá dentro do prédio?

- Pelo que todos estão falando, foi um homem bomba, e você

teve sorte de estar dentro do elevador. Impediu de ser atingido

por estilhaços da bomba. – Falou a enfermeira, colocando um

curativo na perna de um rapaz.

- Meu Deus! E agora? O que vai acontecer comigo? – Perguntei

pra ela.

MARCELO MENA

172

- Agora, como vocês têm ferimentos mais leves, levaremos até o

hospital do Cairo, pois o de Port Said está lotado de tanta gente

ferida. – Ela respondeu, fechando a porta da ambulância.

Saímos com a ambulância em toda velocidade para o hospital.

Havia uma moça de cabelos longos que chorava muito e estava

com os lábios feridos. Um enfermeiro a ajudava a estancar o

sangue. Também tinha outro rapaz, com o braço bem

machucado, ele mesmo segurava um pano sobre sua ferida. Eu

era o que não tinha nada, somente um pouco de intoxicação por

causa da fumaça, era obrigado a ficar segurando aquela máscara

de oxigênio no meu rosto. Comecei a pensar que tudo não tinha

passado de um sonho. Pensei que, por causa da explosão, eu

tinha desmaiado e sonhado com tudo aquilo, dos céus. E o

pergaminho? Acabei deixando com o Gabriel, então, minha ida

até lá tinha sido em vão, agora, estava voltando sem ter nada.

Coitado do senhor Simon! O que vou fazer agora? Seria tudo

sonho mesmo?

De repente o homem do braço machucado começou a me

apontar e a falar em árabe. Eu não entendia nada. A enfermeira

olhou pra mim e também começou a apontar.

- Menino, caiu algo do seu bolso. Vai perder seu documento e

acabará ficando num situação ruim.

Coloquei a mão no meu bolso, mas minha carteira estava no

lugar, então, olhei ao lado, no chão, e vi o rolo de pergaminho

ainda amarrado com uma fita. Abri para ver, e era o pergaminho

que tinha deixado com o Gabriel. Havia um papelzinho escrito:

“Veja se não perde. Agora, está em suas mãos. Assinado,

Gabriel”.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

173

Então tudo era real. Meu Deus! Agora estou indo para o Cairo

e lá ficará fácil pra chegar. Obrigado, Meu Deus.

MARCELO MENA

174

Capítulo 8

Voltando pro Cairo

Chegamos ao hospital e já estava escurecendo. Descemos,

então, vários médicos e enfermeiros vieram nos atender.

Examinaram-me, e vi o médico conversando com a enfermeira.

Ela veio em minha direção sorrindo.

- Jovem, como é o seu nome mesmo?

- Meu nome é Jorge.

- Qual é o seu país?

- Sou do Brasil!

- Brasil? Que legal! Conhece Ronaldo?

- Minha senhora, tem tantos Ronaldos no Brasil.

- E todos jogam futebol? – Perguntou ela, com olhar espantado.

- Ah, entendi. Você fala do Ronaldo, o jogador?

- Sim! Ele mesmo.

- Não o conheço pessoalmente.

- Que pena, ele jogava muito futebol. – Ela falou, tentando fazer

uma embaixadinha com um papel amassado.

- Eu sei. Mas, mudando de assunto, posso ir embora?

- O médico disse que você pode ir, mas tem alguém que pode te

buscar? Algum parente? Ou amigo?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

175

- Pensando bem, eu acho que sei quem pode me buscar. A

senhora já ouviu falar do Muled, um colecionador?

- O ladrão de túmulos? Essa pessoa é muito perigosa. Você o

conhece? – A enfermeira falou assustada, se afastando de mim.

- Vamos dizer que sim. Se você tiver como arrumar um telefone,

e uma lista telefônica, quem sabe a gente consiga achar o

número, garanto que ele vai querer me buscar. – Falei pra ela.

Ela saiu, foi até o balcão, chamou o segurança e ficou um bom

tempo falando com ele. Ela saiu do hospital sem falar comigo,

como se estivesse vendo algo terrível em mim. Acredito que por

ser o Muled um bandido, pensou que eu seria também. Então, o

segurança veio em minha direção, me pegou pelo braço e me

colocou na calçada, do lado de fora do hospital. Percebi que já

não era bem aceito naquele lugar. Já estava escuro e esfriando,

olhei e vi um ponto de táxi logo à frente, pensei em perguntar se

alguns deles sabiam onde era a residência do Muled. Estavam

três motoristas sentados conversando.

- Algum de vocês sabe inglês? – Perguntei.

Os três olharam e mexeram a cabeça, ignorando o que eu falava.

Então, percebi que seria inútil tentar me comunicar com eles.

Continuei andando pela calçada, não sabia nem que direção

tomar, quando ouvi uma sirene atrás de mim. Era a enfermeira

da ambulância. O motorista da ambulância parou, e ela, na

janela, começou a falar:

- Jorge! É este seu nome, não é?

- Sim. - Você trabalha pro Muled, jovem?

MARCELO MENA

176

- Não, senhora! Eu tenho, vamos dizer, alguns assuntos com ele.

- Como você o conheceu?

- Olha, é uma história longa e complicada.

- Você sabe que ele é perigoso. Nós já socorremos muita gente

que sofreu com ele. Então, porque você não volta pro seu país e

fica em paz?

- Na realidade, estou indo pra lá para salvar um amigo que ele

sequestrou.

- Entendi. E você acha que sozinho vai resolver a situação?

- Eu preciso tentar, já que a polícia não poderá me ajudar.

- Sei. Neste caso nem a polícia vai te ajudar mesmo.

- Eu sei disto. A senhora sabe como faço pra chegar à casa dele?

- Você tem dinheiro aí?

- Estou sem nenhum. Espera aí, eu tenho o que o senhor Khalida

me deu, é este aqui.

Passei o pacote de dinheiro pra ela. Ela começou a olhar as

notas e balançar a cabeça.

- Isto aqui não é dinheiro do nosso país. É do seu país? Aqui não

vale nada.

- Como assim? Não é do meu país também. Então, por que será

que o Khalida me deu este dinheiro?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

177

- Você deve procurar algum colecionador, parece ser dinheiro

antigo. Não tem problema, já sei o que vou fazer.

Ela desceu do carro, fez sinal pra um taxista que se aproximou

dela e começaram a conversar. Então, ele saiu correndo e foi

buscar o carro.

- Ele vai te levar e deixar na rua da casa do Muled.

- Mas como vou pagar, moça?

- Eu disse pra ele que você é amigo do Ronaldo, o jogador, e

que, quando chegar ao Brasil, vai mandar uma camiseta

autografada pra ele.

- É sério?

- Ou é assim, ou vai ter que andar uns quarenta quilômetros.

- Está certo! Eu dou um jeito depois. Muito obrigado! Você foi

muito bacana. Qual é o teu nome?

- Meu nome é Isis. Quando voltar ao Brasil me manda um

postal.

Então, ela me entregou um cartão, com o endereço dela. Assim,

ela entrou na ambulância e saiu. O táxi chegou e o homem me

fez sinal para entrar. Na mesma hora, ele pegou um papel, me

entregou e falava alguma coisa que dava entender: Ronaldo.

Olhei e estava tudo escrito em árabe, mas parecia ser o endereço

dele, para mandar a camiseta. Ele, então, ligou o rádio e só

tocava música árabe. Às vezes ele falava alguma coisa comigo,

talvez perguntando sobre o que eu achava da música, então, ele

ria e mudava a estação, assim fomos. Passou alguns minutos e

comecei a reconhecer a rua. Vi que já estávamos na rua certa,

MARCELO MENA

178

então, ele parou o carro. Assim que desci, ele saiu do carro, me

abraçou e falou alguma coisa sobre o Brasil. Acho que ele

queria dizer que amava o Brasil, não estava bem certo sobre

isso. Ele entrou no carro e saiu acenando. Andei mais alguns

minutos e cheguei em frente ao portão do Muled. Era um portão

enorme de ferro. O muro todo era bem alto e ainda possuía uma

cerca por cima. As câmeras de segurança viraram em minha

direção e algo no interfone falou, mas não entendi nada. Em

poucos segundos, vieram dois seguranças que me deram sinal

para entrar, fui seguindo eles. Eu nem acreditava que estava

naquele lugar de novo. Bem, depois que tudo que havia passado

não via a hora de encontrar o senhor Simon. Entramos pela

cozinha e Muled estava sentado à mesa comendo. Parecia um

elefante carnívoro.

- Pensei que não conseguiria, garoto. Cadê seu amigo?

- O Bryan? Ele me largou sozinho e ainda por cima fui

assaltado.

- Este país está ficando perigoso, é difícil de confiar nas pessoas.

Se o Bryan fugiu, vou mandar alguém ir atrás dele.

- Estas horas ele deve estar em outro país. Ele não é bobo.

- Pelo menos conseguiu os códigos, garoto? Achou os

atanasianos?

- Sim, consegui.

- Então me passa!

- Primeiro, cadê meu amigo Simon?

- Sei. Querendo negociar? Sou um homem de palavra.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

179

Ele deu sinal, com uma coxa de frango na mão, para o

segurança, que saiu rápido da cozinha e foi para a sala.

- Vamos, garoto, sente e coma alguma coisa. Não quero ver

ninguém dizer que foi maltratado na minha casa.

Uma senhora, de boa aparência, veio, colocou um prato e

começou a me servir. Ela me olhava e sorria. Parecia ser uma

boa pessoa, mas, infelizmente, trabalhava pro Muled.

Realmente, não ia rejeitar aquela janta, pois estava morrendo

de fome, não havia comido nada até àquela hora.

- Garoto, você subiu no meu conceito, pois, além de ficar

sozinho, ainda conseguiu o código e voltou antes do dia

marcado.

- Não estou preocupado com o que o senhor acha de mim, eu só

fiz isto pelo meu amigo.

Nesta hora, senhor Simon entrou pela porta, junto com o cara de

taturana. Ele veio em minha direção e nos abraçamos.

- Por que você não foi embora, Jorge? – Perguntou o senhor

Simon, com cara de cansado.

- Nunca ia te deixar, senhor Simon. Você é como um pai pra

mim.

- Obrigado, Jorge. Mas você se arriscou de mais vindo aqui de

novo.

- Ei, dá pra parar de momento família aí? Cadê os códigos? Já te

entreguei o velho.

MARCELO MENA

180

Tirei o pergaminho do meu bolso e entreguei pro Muled. Ele

abriu e começou a olhar. O cara de taturana foi do seu lado e

começaram a conversar em árabe.

- Cadê o Bryan, Jorge? – Perguntou o senhor Simon.

- Aquele doido me largou no trem e foi embora.

- Ele te abandonou? Que covarde! Mas quem vai traduzir?

Precisamos sair daqui e irmos embora. Já entregamos o que ele

queria.

- Senhor Simon, nós vamos ter que ajudá-lo a encontrar os

tesouros de Salomão.

- Como assim, Jorge? Este Muled é perigoso, ele pode querer

nos matar assim que encontrarmos o tesouro, e o pior, como

vamos traduzir o mapa?

- Encontrei a Grande Sabedoria, Ele me disse que precisamos

encontrar o tesouro, e tudo vai dar certo.

- A Grande Sabedoria? Onde você encontrou?

- É uma longa história, depois te conto.

O cara de Taturana trouxe para o Muled o pergaminho que tinha

o mapa. Os dois tentaram entender o que tinha ali com os

códigos. Discutiram bastante, até que Muled ficou nervoso.

- Como vou traduzir isto sem o Bryan?

- Posso dar uma olhada? – Perguntou o senhor Simon.

-Você acha que consegue, velhote? – Com um olhar de

desconfiado, Muled entregou o pergaminho.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

181

- Vou tentar.

Eles, então, colocaram os pergaminhos na mesa, o senhor Simon

pediu uma lâmpada para iluminar melhor. Enquanto ele tentava

entender os pergaminhos, comecei a comer, e que comida

deliciosa aquela senhora sabia fazer. Depois de algumas horas,

o senhor Simon conseguiu entender o pergaminho.

- Entendi agora! Estes códigos mostram as palavras do Sírio

antigo para o grego, e vice-versa. Com isto, consigo ler o que

está no Sírio antigo.

- Muito bem! Agora vocês ainda continuam como meus

convidados. Estude este pergaminho, amanhã iremos ao

encontro deste tesouro. Eu vou me retirar para descansar,

depois, Riane e Tatuhãna levarão vocês para seus aposentos.

Espero que não tentem escapar.

- Nós o ajudaremos, com a condição de nos permitir voltar para

nosso país depois que tudo isso acabar.

- Claro, Velhote. E, se conseguirem me ajudar a achar este

tesouro, eu vou recompensá-los.

Ele, então, saiu da cozinha, acompanhado dos seguranças. O

pior de tudo é que o cara de taturana se chama Tatuhãna. Depois

de ouvir isto, comecei a rir sem parar.

- Jorge, porque está rindo?

- O bigodão ali, se chama Tatuhãna.

- Engano seu, Jorge.

- Engano?

MARCELO MENA

182

- Tatuhãna é aquela senhora. O dele é Riane.

- Ai, que dó dela. Agora entendi o porquê do bigodão.

- O que tem a haver o bigode, Jorge?

- Ele se olha no espelho pela manhã, vê aquela taturana no rosto

e diz: - Eu sou Homem, me chamo Riane, mas sou homem.

- Jorge, pare de rir. Assim, eles vão ficar desconfiados!

- Não consigo. Esse cara é muito engaçado.

Pelo jeito, o baixinho não gostou da minha risada, ele começou

a falar em árabe e deu sinal pra sairmos. A Tatuhãna foi à frente

e nos mostrou o nosso quarto. O quarto era enorme, tinha camas

muito grandes e cheias de almofadas. Parecia que estávamos

num filme de Ali babá, tudo no estilo árabe, um tapete enorme,

que parecia mais um colchão do que um tapete. As janelas

tinham grade e havia um pequeno banheiro no fundo do quarto.

Assim que entramos, fecharam a porta e trancaram pelo lado de

fora.

- E agora, senhor Simon?

- Agora, quero que me conte tudo o que aconteceu com você.

Então, comecei a contar para o senhor Simon tudo o que

aconteceu, como conheci Gabriel, os céus e tudo mais. Logo

fomos nos deitar. Ficava pensando se a Sandra estava tentando

me ligar, já que agora estava sem celular, isto me doía o

coração.

- Jorge, amanhã, a gente vê se consegue uma oportunidade de

ligar para o Brasil, e você conversa com sua família.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

183

- Obrigado, senhor Simon.

- Sabe o que mais está me intrigando, Jorge?

- O que?

- Por que Lúcifer está usando Muled pra descobrir este tesouro?

Será que tem alguma coisa que ele queira? O que será, Jorge?

- Não sei, senhor Simon, mas acredito que logo a gente saberá.

- Você tem razão. Boa noite, Jorge.

- Boa noite.

MARCELO MENA

184

Capítulo 9

Encontrando as Chaves

Logo pela manhã, a senhora Tatuhãna entrou no quarto, colocou

nosso café sobre uma pequena mesa e se retirou rápido. Então,

percebi que o senhor Simon já estava acordado. Sobre a sua

cama estavam os pergaminhos e ele não parava de analisá-los.

- Bom dia, Jorge.

- Bom dia, senhor Simon. Pelo jeito, acordou cedo pra estudar?

- Preciso estar por dentro de tudo, para não cometermos nenhum

erro. Não sabemos o que Muled pode fazer. Aproveite que a

Tatuhãna já trouxe o nosso café.

- Estou morrendo de fome! O senhor já descobriu onde está o

tesouro?

- Se entendi o que está aqui, precisamos encontrar três chaves

antigas, cada uma se encontra em um lugar. Como já faz muito

tempo, não sei se conseguiremos encontrá-las, pois pode ser que

tenha se perdido, o lugar, os nomes são muito antigos.

- Entendi. E o que estas chaves fazem?

- Com estas chaves, teremos que ir para o sul do Egito e lá

encontrar a porta sagrada.

- Meu Deus! Pelo jeito, vamos ter que viajar muito.

- Provavelmente, Jorge. Os nomes aqui são antigos e precisamos

desvendar onde seriam estes lugares hoje.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

185

Nesta hora, alguém abriu a porta e Muled entrou no quarto. Ele

estava vestido com roupa de safari e um chapéu em sua mão.

Pelo jeito, fazia muito tempo que não vestia aquela roupa,

estava bem apertada e a cinta, mal conseguia segurar toda

aquela banha.

- Meus amigos, vocês têm, apenas, cinco minutos, pois o carro

já esta pronto. Agora, me diga aonde vamos, Simon.

- Segundo o pergaminho, precisamos encontrar três chaves. A

primeira se encontra na pirâmide do faraó Khufu, você sabe qual

é, Muled?

- Esta é a pirâmide Quéops. Você acha que ainda vamos

encontrar esta chave por lá? Já foi revirada tanto por dentro,

como por fora. Essa chave já deve ter sido encontrada.

- Segundo o pergaminho, Muled, existe um lugar dentro dela,

que é secreto. É preciso usar alguns códigos para abri-la.

- Hum, então, a nossa primeira viajem é Quéops. Se arrumem

que já iremos.

Muled saiu e o senhor Simon ficou pensativo, olhando o

pergaminho.

- Algum problema, senhor Simon?

- Não sei ao certo, Jorge. Isto pode ser perigoso, pois, aqui há

um sinal, como se fosse representando morte, mas não consigo

entender.

- Estou vendo que ir à pirâmide de Khufu vai dar muita

“Khunfusão”!

MARCELO MENA

186

- Só você, Jorge, pra me fazer rir.

Nos arrumamos e partimos para as pirâmides. Fomos com o

carro de Muled, era bem confortável. Os carros dos seguranças

seguiam um na frente, e outro atrás. A paisagem era desértica,

só víamos estrada e areia. Algumas vezes, víamos pessoas

andando com camelos e alguns turistas de carro, ou de ônibus.

Não demorou muito, logo chegamos às pirâmides. Nunca tinha

visto algo tão fantástico, eram pedras enormes colocadas umas

sobre as outras. Como estava ventando muito forte, tínhamos

que cobrir o rosto com um pano, pois era muita areia e se

déssemos bobeira elas enchiam os nossos olhos. A pirâmide

Quéops é uma das maiores. Havia uma pequena porta para

entrar, mas estava proibida a entrada de visitantes.

- Como vamos fazer para entrar, senhor Simon?

- Boa pergunta, Jorge. Tem um segurança proibindo a entrada.

- Não se preocupem. Mandei fechar para que tivéssemos a

liberdade de procurar a chave sem turistas.

- Você mandou, Muled? Você pode mandar aqui?

- É, garoto, sou uma pessoa muito respeitada por aqui.

- Não sei bem se é respeito, acredito mais em medo e covardia.

- Cuidado com o que fala, garoto. Posso me arrepender do que

prometi.

- Jorge! Se controle e não ofenda o Muled.

- Isso mesmo, Jorge. Ouça o seu avô Simon.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

187

Muled entrou na pirâmide com dois seguranças atrás, entramos

após eles. Dentro da pirâmide havia um salão enorme e algumas

escadarias, uma que subia, outra que ia para baixo da pirâmide.

O lugar era meio escuro e tinha pouca iluminação.

- E agora, senhor Simon? – Perguntei.

- Segundo o pergaminho, devemos descer mais esta outra

escada. Acho melhor você ficar aqui, Jorge. Deixa que vou até

lá.

- O garoto vai junto, Riane também. – Disse Muled, meio bravo.

- Tanto segurança e ele vai mandar este cara de taturana.

- Vamos fazer o que ele manda, Jorge. – Falou o senhor Simon,

já descendo uma das escadas.

Descemos as escadas que parecia não ter fim. Até que,

chegamos numa sala pequena e não havia nada ali, apenas uma

pequena abertura na pedra.

- Pra que serve aquele buraco ali? – Perguntei para o senhor

Simon.

- Aquilo, Jorge, é um duto de ar que sai na parte de cima da

pirâmide. Serve para não faltar ar neste lugar.

O senhor Simon abriu os pergaminhos sobre uma pedra e

começou a analisar a sala e as pedras que ali havia. Então,

parou, olhando uma grande, no canto da sala.

- Acho que é esta pedra, Jorge. Me ajude a empurrar! – Falou o

senhor Simon, tentando arrastar a pedra.

MARCELO MENA

188

- O senhor viu o tamanho dela? Deve pesar uma tonelada.

- Eu sei, Jorge, mas precisamos arrastá-la, pois em baixo dela

deve estar o que procuramos.

O senhor Simon deu sinal para o Riane, que entendeu o que

queríamos e começou a nos ajudar. Bem devagar, conseguimos

arrastar esta pedra do lugar.

- O senhor deve ter se enganado, não tem nada aqui.

- Engano seu, Jorge. Me dê o pergaminho.

Então, o senhor Simon limpou o piso com a mão. Entre as

pedras, que serviam de piso, uma possuía um pequeno desenho.

- Olhe, Jorge. É o desenho dos Atanasianos!

- Sim, é o mesmo símbolo! Mas, e agora?

- Olhe o pergaminho, ele tem alguns sinais que mostram como

devemos apertar esta pedra.

O senhor Simon apertou com a mão os símbolos da pedra que

estava no piso. Ouvimos um estalo, e assim, cada aperto que ele

dava fazia barulho. O símbolo, que ele apertava, afundava no

chão, e, no estralo voltava na posição.

- Não aconteceu nada, senhor Simon.

- Acho que errei a sequência, Jorge. Vou tentar de novo!

Então o senhor Simon começou, novamente, apertar a pedra e

mais estalos dava. Até que, deu um estalo bem forte e apedra se

deslocou para cima. Com um pouco de dificuldade, o senhor

Simon conseguiu retirar a pedra. Era um buraco meio fundo, ele

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

189

colocou a mão dentro, chegando até seu ombro, e retirou um

pedaço de couro, enrolado e amarrado. Ao abrir, havia uma

chave pequena que parecia ser de ouro. O seu formato era muito

estranho, parecia mais uma haste, com alguns dentes.

- Conseguimos, Jorge! Olha, que maravilha!

Nesta hora, o cara de taturana pegou a chave e subiu pelas

escadas.

- Que cara chato, nem me deixou pegar a chave, senhor Simon.

- Vamos sair daqui também, Jorge!

Nesta hora, começamos ouvir um barulho estranho vindo do

buraco, de onde o senhor Simon retirou a chave.

- O que será isso? – Perguntei assustado.

- Não faço ideia, Jorge!

- Tenta tampar de volta.

- Me ajuda aqui, Jorge!

Tentamos colocar a pedra que tinha o símbolo dos Atanasianos,

no lugar, mas foi em vão, ela acabou caindo dentro do buraco.

- O buraco aumentou de tamanho?

- Parece que sim, Jorge. Melhor sairmos daqui!

Pegamos os pergaminhos e começamos a subir as escadas. De

repente, a escada começou vibrar, os degraus começaram

desaparecer e virou um escorregador. Acabamos caindo e

escorregando pra dentro da sala novamente.

MARCELO MENA

190

- O que está acontecendo, senhor Simon?

- Lembra que eu te disse que havia um símbolo de morte no

pergaminho?

- Sim! Será que vamos morrer? E do quê?

- Não sei, Jorge. Não consegui decifrar o que estava escrito após

o símbolo!

- Ai que maravilha! Vamos morrer e nem sabemos do que!

O barulho começou aumentar mais dentro da sala. Tentamos

subir a antiga escada, mas era muito escorregadia. Então,

começamos a gritar pro Muled, para que nos socorresse,

ninguém respondia.

- Não acredito que Muled foi embora e nos deixou.

- Impossível, Jorge! Estamos com o pergaminho, ele precisa

dele.

Nesta hora, de dentro do buraco, começaram a sair muitos

escorpiões, não paravam de sair, era um maior que o outro.

- Senhor Simon, é escorpião, e está enchendo a sala!

- Jorge, tire a sua camisa, rápido!

- O quê? Por quê? Já estamos numa sala sem poder sair, ficando

lotada de escorpiões e ainda quer que eu fique sem camisa? O

senhor endoidou?

- Rápido, Jorge! Depois te explico.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

191

Nesta hora, tirei a camisa. O senhor Simon pegou a sua bengala,

enrolou minha camisa nela e acendeu fogo com um isqueiro.

Assim, começou a balançar de um lado para o outro. Com isto,

os escorpiões não se aproximavam de nós.

- Que ideia brilhante, senhor Simon!

- Obrigado, Jorge. Mas, procure subir esta rampa e chamar o

Muled, porque a hora que sua camisa terminar de queimar, vai

precisar de mais algum pano, e quem sabe será a sua calça.

- Deus me livre! MULEEEEDDDD!

Nesta hora, caiu uma corda, próximo da porta.

- Segurem nesta corda, vamos puxar! – Gritou Muled.

Segurei na corda e o senhor Simon deixou o pano, pegando

fogo, bem na entrada da porta. Com isto, os escorpiões não se

aproximavam (a sala estava infestada e não parava de aumentar

o número de escorpiões). Assim, subimos rapidamente pela

rampa e chegamos onde Muled estava.

- O que houve lá embaixo? – Perguntou Muled.

- De onde tiramos a chave, está saindo escorpiões! – Disse o

senhor Simon para o Muled.

- Senhor Simon!

- Fale, Jorge.

- O fogo apagou e os escorpiões estão subindo a rampa.

O lugar todo estava sendo tomado por eles.

MARCELO MENA

192

- Vamos sair daqui o mais rápido possível! – Disse Muled, já

correndo.

Nesta hora, saímos todos, correndo, entramos nos carros, e

fomos embora daquele lugar. O senhor Simon pegou o

pergaminho e com ele no colo apontava, me olhando.

- Olhe, Jorge! Então, este símbolo representa o escorpião.

- Agora o senhor entendeu? Estou arrepiado até agora, só de

lembrar. Tem outra coisa que quero saber.

- E o que é, Jorge?

- Vou ficar sem camisa até achar este tesouro?

- Verdade, Jorge, mas eu tinha que pensar em alguma coisa pra

queimar naquela hora. É melhor você, sem camisa, do que eu

que já estou velho.

Nesta hora, Muled jogou uma sacola onde eu estava.

- Veja se serve esta camisa. É do meu sobrinho, ele comprou faz

alguns dias e acabou esquecendo no carro. Ninguém vai querer

ficar olhando este teu “corpo atlético”. Mas, me diga garoto, lá

no Brasil você passa fome? – Muled falou e ficou rindo.

- Muito engraçado, Muled, só não vou falar nada porque o

senhor me emprestou esta camisa.

Muled estava sentado no banco da frente e, ainda rindo,

começou a analisar a chave que havíamos encontrado. A camisa

era bem colorida, ficou um pouco grande, mas dava pra usar.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

193

- Ficou bem em você, Jorge. – Disse o senhor Simon com uma

cara de que estava com vontade de rir.

- Fiquei parecendo um havaiano.

- Verdade mesmo, Jorge!

- Tudo bem! Pelo menos agora estou mais confortável. Me diga,

senhor Simon, esta chave deve valer muito dinheiro, não é?

- Sim, Jorge. Deve valer muito dinheiro, mas ainda faltam duas

chaves. Pelo pergaminho, ainda temos que ir à África

Meridional, precisamente em Moçambique, encontrar a árvore

do rio Limpopo.

- Sei onde fica. Vamos até o aeroporto. Iremos com o meu

helicóptero, será muito mais rápido. – Falou Muled, se virando

todo pra nos ver.

- E o que é esta árvore do rio Limpopo, senhor Simon?

- É uma árvore milenar que misteriosamente tem esculpida no

seu tronco, vários animais. Até hoje, ninguém sabe quem

esculpiu. Eu nunca vi pessoalmente, já vi na internet, algumas

fotos. É interessante. O pergaminho indica que nesta árvore está

a nossa outra chave.

- E tem mais algum símbolo de morte?

- Aqui, Jorge, tem outro símbolo estranho, mas não consigo

identificar. Teremos que tomar muito cuidado. – Falou o senhor

Simon com o pergaminho aberto no seu colo.

- E porque tem que ser tão perigoso? Não era mais fácil fazer

que nem os piratas, antigamente, achar uma ilha deserta, enterrar

MARCELO MENA

194

um baú, colocar uma cruz desenhada no chão e fazer um mapa?

Simples!

- Sim, Jorge, mas acredito que Salomão não queria que ninguém

descobrisse os tesouros, pois deve possuir algo que seja

perigoso, ou muito poderoso.

- Esse Salomão só complica as coisas, se não queria que

descobrisse, por que fez um mapa? Era mais fácil ter enterrado

num lugar que só ele soubesse e quando morresse, o segredo

morreria com ele, ninguém descobriria.

- Bem pensado, Jorge. Mas pode ser que seja necessário

encontrar. Talvez ele tenha deixado desta forma, para que a

pessoa certa o encontrasse.

- Ah, tá! O gordo do Muled?

- O que foi, garoto? Perguntou Muled, quando ouviu o seu

nome.

- Nada, Muled, eu só queria agradecer pela camisa.

- Está vendo, garoto, não sou tão mal quanto você pensa.

- Sim, Claro! Vamos acreditar, não é?

- Uma coisa é certa, Jorge, só descobriremos o que é este

símbolo, quando chegarmos lá e encontrarmos a outra chave. –

Disse o senhor Simon, coçando sua careca.

Assim, fomos até o aeroporto. Quando chegamos, o senhor

Simon pediu para Muled se tinha como fazer uma ligação para o

Brasil, mas Muled negou e prometeu nos dar um telefone

quando tudo isto acabasse. Fiquei meio preocupado com tantas

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

195

promessas do Muled, achei que ele andava tramando algo

contra nós, pra quando tudo isto terminasse. Infelizmente,

tivemos que seguir em frente, e achar o tesouro. Entramos no

helicóptero e Riane não pôde ir, Muled lhe disse algo ao ouvido

que ele saiu e pegou o carro. Então, fomos de viagem até

Moçambique. Olhando por cima, a África era maravilhosa, um

lugar lindo.

- Sabe, Jorge, a África é um dos países que mais tem achado

arqueológico.

- Verdade? Será que aqui foi à terra do Harmes?

- Pode até ser, Jorge.

- Quem é Harmes?

- Foi um amigo nosso, Muled.

Descemos num lugar próximo a um rio. A vegetação estava bem

alta, então, fomos caminhando. Ao longe, podíamos ver algumas

pessoas que pareciam ser de alguma tribo. Estavam com roupas

coloridas e algumas com varas nas mãos. Havia muitas crianças,

que ficaram nos olhando de longe. Parece que nunca tinham

visto um helicóptero.

- Vamos depressa, antes que as autoridades deste lugar

cheguem. – Falou Muled, descendo rápido um pequeno

barranco.

Bem abaixo de nós, havia uma árvore gigantesca, seu tronco era

enorme e possuía vários animais esculpidos nela.

- Esta é a árvore, senhor Simon?

MARCELO MENA

196

- Sim, Jorge! Veja quantos animais esculpidos.

Os animais foram feitos com uma perfeição incrível, até

pequenos detalhes nas expressões dos macacos. O senhor Simon

abriu os pergaminhos e começou a olhar a árvore.

-Bem, Jorge, aqui diz que devemos procurar o leão.

- Do outro lado, senhor Simon. – Disse Muled, apontando pra

árvore.

Nos aproximamos do leão e era muito perfeito. Parecia até que

era de verdade e algo o havia transformado em madeira. Então,

o senhor Simon apertou um dos seus dentes e deu um estalo

forte.

- Vai começar tudo de novo! Daqui a pouco vai sair escorpião!

- Fique calmo, Jorge. Agora, preciso achar o caranguejo.

- Está neste tronco, Simon! – Disse Muled todo empolgado por

achar o caranguejo.

- Obrigado, Muled! – Respondeu o senhor Simon, carregando os

pergaminhos.

Então, o senhor Simon puxou uma das pernas do caranguejo e

novamente outro estalo forte.

- Agora, precisamos achar a serpente.

Enquanto o senhor Simon procurava a serpente, percebi que as

pessoas estavam se aproximando do outro lado da margem do

rio.

- Senhor Simon!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

197

- Que foi, Jorge?

- Tem um monte de gente nos olhando com cara brava, e estão

com lanças nas mãos.

Um dos que estavam ali (parecia ser um dos chefes) começou a

gritar e falar alto uma língua que nunca ouvi. Então, Muled

chamou um dos seus seguranças que retirou uma arma e deu

dois tiros para o alto. Foi uma correria que não ficou nenhum

pra contar história.

- Esses ignorantes acham que podem querer alguma coisa aqui.

Pode continuar, Simon! – Falou Muled revoltado.

- Acho que eles queriam nos avisar sobre algo. – Falei para o

Muled.

- Que nada, moleque! Este povo é muito primitivo, qualquer

coisa acham que é um deus. – Muled falou, tentando se apoiar

na árvore.

- Sei não, Muled. Eles devem saber de alguma coisa.

- Estes primitivos não sabem de nada. – Agora, Muled tentando

se sentar em uma das raízes, se abanava por causa do calor que

estava aumentando.

Enquanto eu discutia com Muled, o senhor Simon achou a

serpente e começou a procurar algo em torno dela.

- O que o senhor está procurando? – Perguntei.

- O símbolo dos Atanasianos, Jorge!

MARCELO MENA

198

Começamos a procurar e olhei dentro da boca da serpente. Lá

dentro, havia algo bem pequeno, o que parecia ser o símbolo dos

Atanasianos.

- Senhor Simon, olhe aqui dentro!

- Parece que é o símbolo. Que coisa linda! É bem pequeno, deve

ter sido difícil esculpir aí dentro. – Disse o senhor Simon,

colocando seu pequeno óculos, para enxergar dentro da boca da

serpente.

Ele pegou uma caneta do seu bolso e tentou tocar no símbolo,

mas era curto e não alcançava. Então, ele pegou um galho que

estava no chão e empurrou o símbolo para dentro. Nesta hora,

houve um estalo bem forte que chegou a balançar até o topo da

árvore. Alguns pássaros levantaram voo e os animais pareciam

se mexer em toda árvore. Neste momento, as pessoas da tribo

começaram se aproximar novamente, bem devagar, com muito

medo.

- E agora, o que acontece? – Perguntei.

- Aqui no pergaminho diz que devemos ir até o casal de

babuínos. – Respondeu o senhor Simon, olhando os animais da

parte de cima da árvore.

Encontramos o casal de babuínos e um deles abriu a boca.

- Jorge, você é jovem. Suba nos galhos e enfie a mão dentro da

boca daquele macaco, veja o que tem lá dentro.

Então, subi. Enquanto subia, o pessoal do outro lado começou a

gritar e acenar com a mão. O segurança atirou para o alto de

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

199

novo, eles agora não saíram correndo, continuavam gritando,

como se algo fosse acontecer.

- Acho que eles não querem que eu mexa na boca do macaco,

Senhor Simon.

- Estranho, Jorge. O que será que eles querem?

- Vai logo, garoto! Pegue esta chave! – Gritou Muled, tentando

levantar todo seu peso.

Coloquei a minha mão por dentro da boca do macaco e havia

algo macio lá dentro ao puxar era um pedaço de couro

amarrado. Então, joguei para o senhor Simon que abriu e viu

que tinha uma chave semelhante à outra.

- Desça daí, Jorge!

- Estou descendo.

Fui descendo rápido e o pessoal do outro lado ficou em silêncio

absoluto. Quando terminei de descer houve outro estalo e a

árvore balançou novamente. Começamos ouvir um estranho

som, como se fosse chacoalho, não parecia nem um pouco com

os dos escorpiões e alguns minutos parou. De repente, do outro

lado do rio houve uma gritaria e correria, não ficou nem um

indivíduo pra contar história.

- Porque será que correram?

- Não sei, Jorge, mas é melhor sairmos daqui, rápido! – Falou o

senhor Simon preocupado.

- Eu quero esta chave, Simon! – Falou Muled, arrancando as

chaves do senhor Simon.

MARCELO MENA

200

Ele ficou admirando a chave, era como se tivesse dado um doce

a uma criança.

- Vamos sair daqui e ir embora, Muled! – Falou o senhor Simon.

- Claro! Vamos pro Helicóptero. – Respondeu Muled,

guardando a chave no seu bolso.

Quando subimos o barranco, em direção ao helicóptero, vi que

no céu havia uma nuvem escura se aproximando rapidamente.

- Será que vai chover, senhor Simon?

- Acho que isto não é nuvem de chuva, Jorge!

- Não é chuva?

- Agora entendi o símbolo, Jorge!

- Como assim?

- Aquilo não é nuvem de chuva, são vespas e estão vindo pra cá!

- E agora? Vai dar tempo de chegar ao helicóptero, senhor

Simon?

Nesta hora, o helicóptero já havia levantado voo e estava

subindo.

- Vejam, o piloto se assustou e está indo embora! – Disse o

senhor Simon.

- Como pode ser? – Perguntei.

- Vou matar este cara! Covarde! – Falou Muled, sendo puxado

pelo segurança.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

201

Em poucos segundos o helicóptero foi tomado pelas vespas e

derrubado no chão.

- Acho que o senhor não vai mais precisar matar o piloto,

Muled. – Falei.

- Venha, Jorge! Tive uma ideia, vamos entrar no rio. Peguem

aqueles caniços e utilizem pra respirar. – Disse o senhor Simon,

descendo novamente o barranco e indo para dentro do rio.

Então, entramos rio e começamos a respirar com os caniços. Era

horrível, parecia que não vencia puxar o ar e soltar. Dava

vontade de subir e respirar do lado de fora, mas era impossível.

Ainda dava pra ouvir o zoar das vespas, assim, ficamos alguns

minutos, até que elas se foram. Então, saímos da água. Um dos

homens do Muled estava com o rosto todo inchado, ele devia ter

colocado a cabeça do lado de fora e as vespas lhe pegaram.

- Essa foi por pouco. E agora?

- Sinceramente não sei, Jorge!

- Vamos descer este rio. Logo chegaremos ao povoado mais

próximo e lá conseguiremos um telefone, ou rádio, para que

venham nos buscar. – Falou Muled, tentando sair do rio.

Assim, andamos muito. Parecia não ter fim, e, mesmo de longe,

dava pra ver a fumaça do helicóptero.

- Senhor Simon, será que aquela tribo conseguiu se livrar das

vespas?

- Não sei, Jorge! Espero que eles tenham conseguido.

MARCELO MENA

202

Depois de muito andar, os meus pés estavam doendo. O senhor

Simon parecia poder andar mais uns vinte quilômetros, não

reclamava de nada, já o Muled, estava toda hora parando e o

segurança o apoiava a cada tropeço. Logo mais à frente, vimos

algumas casas de madeira com telhado de palha. O segurança

saiu correndo e foi na frente, até estas casas. Não demorou

muito, algumas pessoas, vestidas com roupas de couro e

sandálias saíram e foram ao nosso encontro. Falavam muito alto

e não entendíamos nada. Então, nos levaram para dentro de uma

destas casas e, nos prepararam um banquete com muita carne e

verdura. Quando fui beber o suco, senhor Simon segurou a

minha mão.

- Não beba isto, Jorge.

- Por quê? Estou com sede.

- Eu sei, mas esta bebida possui algum tipo de alucinógeno.

- Como o senhor sabe?

- Olha o Muled, a primeira coisa que ele fez foi beber e veja

como está.

O Muled estava sem camisa, e toda a sua banha descia sobre a

sua calça. Ele havia se levantado e, dançando, cantava uma

música em árabe. Foi a pior visão que tive desde que

começamos esta viagem. Quando ele parava, suas banhas ainda

se mexiam que nem gelatina. Alguns dos homens, que vieram

nos buscar, riam sem parar e tentavam imitar o Muled.

- Que coisa mais ridícula, senhor Simon.

- Por isso, não beba!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

203

- Sim, senhor! Não quero dar vexame.

Não demorou muito, Muled caiu no chão e começou a roncar. O

segurança tentou levantá-lo, mas não conseguiu. Então, fui e

tentei ajudar, mas ele era muito pesado. Logo, um dos que

ficaram rindo veio nos ajudar. O colocamos sobre uma esteira

que trouxeram. Assim, ficamos naquela tribo algumas horas, até

que apareceram alguns jipes de safari e nos levaram até a cidade

mais próxima, dela, voltamos para casa de Muled. E, nem

preciso mencionar que Muled foi desmaiado a viajem toda.

Quando chegamos, nos colocaram de volta ao nosso quarto e

nos trancaram novamente.

- Quanta coisa aconteceu hoje.

- Nem me fale, Jorge. O pior acredito que será amanhã.

- Como assim? O que o senhor descobriu?

- Amanhã teremos que ir à Terra santa.

- Jerusalém?

- Isto mesmo. Pelo pergaminho, a terceira chave está no templo

de Salomão.

- O templo não existe mais. Como vamos fazer?

- Uma parte do templo ainda está de pé.

- Sério? Que parte seria?

- É o muro das lamentações.

- Vamos ter que ir para Jerusalém. Sempre tive vontade de

conhecer. Mas porque o senhor disse que será a pior parte?

MARCELO MENA

204

- Aqui no pergaminho tem algo que não consigo decifrar, esta é

a minha preocupação. Já tivemos escorpiões e vespas, agora o

que será que virá? Ainda tem o problema da guerra que existe

por lá.

- Não quero nem ver. E tem outro problema, a minha família

deve estar preocupada.

- Tem razão, Jorge, mas o que vamos fazer?

- Não temos nenhum telefone.

Nesta hora, a porta se abriu e Tatuhanã entrou com algumas

coisas para comer. Abriu uma estante que estava com cadeado,

e, dentro, havia uma pequena televisão. Ela, então, ligou e saiu

do quarto.

- Acho que ela quer que a gente assista a TV.

- Agora não posso, Jorge, preciso entender este pergaminho.

- Senhor Simon, acho melhor o senhor dar uma olhada neste

noticiário. Eles falam árabe, mas tem legenda em inglês.

- Eu sei, Jorge, mas estou ocupado!

- Está falando sobre a pirâmide.

- Como assim?

O senhor Simon virou para a TV e ficou assistindo. Estavam

falando sobre uma praga de escorpiões que havia surgido

naquela manhã. As autoridades estavam tentando dedetizar tudo,

pois eles acreditavam que por muitos anos estes insetos se

multiplicaram em baixo da pirâmide, e, devido um terremoto, de

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

205

baixa intensidade, haviam saído de seu ninho. Muitos estavam

acreditando na maldição da múmia Khufu, pois, numa inscrição,

dentro da pirâmide, dizia que se ele fosse perturbado do seu

sono, haveria escorpiões, vespas e tempestades de poeira. E,

logo, o repórter mostrava uma nuvem de vespas vindo em

direção à pirâmide. As autoridades pediam que ninguém saísse

de casa e mantivesse tudo fechado, para evitar as vespas, e, que

eles fariam de tudo para matar estes insetos. Numa outra

reportagem mostravam alguns homens com lança chamas,

tentando matar as vespas.

- Você viu, senhor Simon?

- Estou espantado com tudo isto. As vespas foram até a

pirâmide. Agora estou começando a entender, Jorge!

- A entender o que?

- Veja bem. Aqui mostra a pirâmide, o desenho, que se refere ao

escorpião, e aquele símbolo das vespas. Juntando cada símbolo,

veremos a localização de onde está o tesouro. Vou te mostrar.

Pegue aquele papel e o lápis.

Então, o senhor Simon começou a desenhar e olhar o

pergaminho. Depois de algum tempo, saiu um desenho que

parecia uma montanha.

- Olhe, Jorge! Consegui!

- E o que é isso?

- Esta é a localização do tesouro. Após encontrarmos a terceira

chave, iremos até esta montanha e encontraremos este tesouro.

- Sim, mas onde fica isso?

MARCELO MENA

206

- Não tenho certeza, acho que já vi esta montanha, não me

lembro de onde!

- Agora ficou fácil, mas tem outra coisa que o senhor esqueceu.

- O que é, Jorge?

- A tempestade de areia.

- Tem razão, não se encaixa com a montanha. Espera um pouco!

De onde vem areia mesmo?

- Do mar?

- Não, Jorge! Pense, onde encontramos muita areia e onde

ocorre tempestade de areia?

- No deserto?

- Isso! Agora sei de onde é esta montanha.

- Onde, senhor Simon?

- É o monte Sinai. O antigo nome aqui é Suassipaniz veja o

desenho. Agora me lembro. Este monte fica no deserto.

- O senhor quer dizer que devemos ir ao muro das lamentações,

pegar a terceira chave e depois ir ao monte Sinai encontrar o

tesouro?

- Isto mesmo. Está fácil!

- Quem ouve o senhor falando, até imagina que é fácil, mas na

hora, sempre acontece algo errado.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

207

Enquanto o senhor Simon ficava entretido com o desenho e o

pergaminho, comecei a comer alguns doces que a Tatuhãna

havia deixado. Logo mais, fomos nos deitar.

MARCELO MENA

208

Capítulo 10

Terra Santa

Logo pela manhã bem cedo, fomos acordados pelo Riane, que

apontava para o relógio da parede e gesticulava, acredito que era

pra nos apressar. Então, ele desceu e deixou um segurança na

porta.

- Acho que ele está com pressa, Jorge.

- Percebi que o taturana tá nervoso, até o bigode dele treme.

- Vamos nos aprontar e descer rápido.

Outro rapaz veio até o nosso quarto e, falando com o segurança,

colocou as nossas malas sobre uma cômoda, no canto do quarto.

- Trouxeram nossas malas, senhor Simon?

- Acho que sim. Devem ter pego lá no hotel, Jorge.

- Essa turma deve de ter roubado do hotel.

- O mais importante é que estamos com nossas coisas de volta,

Jorge.

- Deixa ver se está aqui o cartão de crédito do meu tio, assim,

numa oportunidade, podemos comprar alguma coisa e fazer uma

ligação.

Comecei a verificar minhas calças e encontrei o cartão. Então,

me lembrei do dinheiro que recebi do Khalida, no prédio dos

Atanasianos. Encontrei e levei para o senhor Simon.

- Olhe aqui, senhor Simon, o dinheiro que o Khalida me deu.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

209

- O Atanasiano?

- Ele mesmo. Acabei deixando dentro da minha calça, mas

parece que não tem valor.

- Porque será que ele te daria um monte de dinheiro sem valor?

- Sei lá. Vai ver ele queria me fazer de bobo.

Coloquei o cartão e o dinheiro no meu bolso, e assim, fomos

acompanhando o segurança até a cozinha. Lá dentro, o Muled

estava com uma cara horrível, parecia estar de ressaca.

- Estou com uma dor de cabeça horrível! Me diga aonde iremos

agora, Simon.

- Precisamos ir ao muro das lamentações.

- O quê? Você deve estar brincando!

- É sério! A terceira chave está lá, depois precisamos ir ao

monte Sinai.

- É a busca pelo tesouro ou uma peregrinação à Terra Santa? –

Falou Muled, batendo com as mãos sobre a mesa.

- O pergaminho está indicando estes lugares. – Mostrou o

senhor Simon com o pergaminho na mão, apontando com o

dedo.

- O problema vai ser entrar em Jerusalém. Lá não sou muito

bem vindo, mas já sei o que vamos fazer: o Riane levará vocês

até o muro das lamentações, e, conseguindo a terceira chave

vocês voltam e vão para o monte Sinai. Darei um jeito de

esperar por vocês lá no monte Sinai. Não tentem escapar ou

MARCELO MENA

210

fazer qualquer bobagem, senão Riane terá que tomar atitudes

drásticas, vocês me entenderam?

- Sim, Muled! – Respondeu o senhor Simon.

Saímos da casa. Novamente, fomos de avião até Jerusalém.

Nunca imaginei estar na terra onde Jesus viveu, pena não poder

conhecer os lugares, pois a pressa de Riane me dava nos nervos.

Sempre indo rápido pelas ruas e se desviando dos guardas de

Israel, ele, muitas vezes, gesticulava com as mãos para irmos

mais rápido. Havia muito movimento no local e as ruas eram

estreitas e cheias de lojas.

- Senhor Simon, será que podemos dar uma parada e comprar

algum celular?

- Jorge, não sei não, pois o problema de ter vindo com o Riane é

que ele não fala inglês, como vamos fazer isto?

- Deixa comigo!

Paramos, então, Riane começou a tremer o bigode, fiz um gesto

pra ele de que precisava ir ao banheiro, dei sinal de que eu

entraria naquela loja e veria se teria algum banheiro. Ele, talvez,

não tenha entendido muita coisa, mas falou em árabe, segurou o

Simon pelo braço e me deu sinal que entrasse. Entendi que, se

demorasse, algo aconteceria com o senhor Simon.

- Jorge, tome cuidado!

- Pode deixar, volto logo, senhor Simon!

Entrei na loja e tinha muita coisa lá dentro, vendia de tudo que

se possa imaginar, mal dava pra passar pelo corredor. Foi

quando cheguei ao balcão e perguntei se possuía algum celular.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

211

- Você é brasileiro? – Perguntou um homem de camiseta branca,

sentado em um pequeno banco de madeira.

- Sim! Como você descobriu?

- Pelo seu sotaque! Meu nome é Armando, também sou

brasileiro e moro aqui há mais de quinze anos.

Aquele homem se levantou, devia de ter mais de dois metros de

altura. Ele saiu do balcão, veio na minha direção e me abraçou

bem forte.

- Não é sempre que a gente vê brasileiro na minha loja! Eu

precisava te dar um abraço, mas, me diga: o que precisa?

- Perdi meu celular, gostaria de comprar outro, para poder ligar

pra minha casa no Brasil.

- Tenho um aqui que tem um ótimo preço. O único problema é

que para fazer o cadastro vai levar mais ou menos uma hora,

pois aqui em Israel é muito complicado, as operadoras são

controladas, devido aos atentados que ocorrem. Você tem tempo

pra se cadastrar?

- Estou com muita pressa, não vou ter tempo pra isso!

- Então já sei, use o meu telefone e ligue, deixe os teus parentes

tranquilos e depois te cobro só a ligação.

- Beleza! E onde está o telefone?

- Entre por aquela porta, lá no fundo você vai ver o telefone na

parede. Fique a vontade!

MARCELO MENA

212

Entrei, e havia um corredor grande com muita caixa, encontrei o

telefone e fiz a ligação.

- Alô, mãe?

- Jorge, é você? Graças a Deus! Estávamos todos preocupados,

seu telefone está dando fora de área, já faz dias que não temos

notícias tuas. O que aconteceu?

- Calma, dona Maria! Está tudo bem. Acabei perdendo o celular,

por isso não pude ligar. Na casa onde estamos não tem telefone,

então, vim numa loja pra comprar outro telefone, mas aqui é

difícil.

- Está tudo bem por aí?

- Sim, mãe, tudo tranquilo. Estamos viajando. Hoje, estou em

Jerusalém.

- Que bom que está tudo bem, filho! Seu pai vai ficar feliz em

saber que você está em Jerusalém.

- E a Sandra, mãe?

- Ela está aqui do meu lado, desesperada pra falar com você. Só

um minuto.

- Seu chato! Só agora você liga? Estávamos todos preocupados.

Você fica passeando e nem liga!

- Calma, meu amor! Eu perdi o celular.

- Ligasse de um telefone público.

- Eu sei, Sandra. Me desculpe, mas só agora consegui achar um

telefone pra ligar.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

213

- Tudo bem! Já te perdoei. Me diga, como está o passeio?

- Aqui está tudo bem. Agora, estamos em Jerusalém, mas pode

ficar sossegada, assim que eu puder ligo de novo, agora tenho

que desligar.

- Como assim? Fica o maior tempão sem falar com a gente e já

tem que desligar?

- Depois, com mais tempo, a gente se fala, mas saiba que amo

você. Manda um abração bem forte pra todos, logo a gente

retorna.

- Está bem. Amo você também. Não demore pra ligar de novo.

Desliguei o telefone e voltei ao balcão. Armando me olhou

assustado, e Riane estava com uma arma apontada para o senhor

Simon, dentro da loja. Então, disfarcei puxando o zíper da calça

e falei:

- Ei, calma aí já saí, taturana.

- Vocês vieram me assaltar? Assalta outra loja, eu também sou

brasileiro! – Disse Armando todo nervoso.

- Não se preocupe, Armando! Não viemos assaltar, é que esse

taturana é nervoso, não aguenta esperar. Já estamos saindo.

Quanto fica minha ligação?

- Nada! Ficou de graça. – Falou Armando, querendo que

saíssemos o mais rápido da loja.

- Obrigado! – Falei para o Armando.

MARCELO MENA

214

Saímos da loja e seguimos pelo caminho. Riane continuava com

pressa.

- Quase que ele te pega lá, Jorge! – Disse o senhor Simon.

- Foi por pouco, mas, graças a Deus, consegui falar com o

pessoal e deixei-os mais tranquilizados.

- Que bom, Jorge. Foi por pouco, agora, podemos seguir para o

muro.

Ao chegarmos no muro, estava todo fechado, só podíamos

entrar por uma porta, com um detector de metais. Eu e o senhor

Simon passamos sem problemas, mas o Riane acabou se

complicando. Ele tinha um arsenal de armas nos bolsos, acabou

sendo barrado e preso.

- Agora ele se complicou. – Falei.

- Vamos seguir em frente, Jorge! Se misture com a multidão

para os guardas não perceberem que estamos com ele. Olha, siga

por aquele corredor, vamos tentar encontrar a terceira chave!

- E depois, como vamos voltar sem o Riane?

- Depois a gente resolve, Jorge. Vamos, primeiramente, achar a

chave.

O muro era muito alto, tinha pedras gigantes. Elas foram

colocadas umas sobre as outras, com tamanha precisão, que

pareciam grandes tijolos. Havia muita gente naquele lugar.

Alguns judeus, vestidos de preto, se mexiam inteiro, pareciam

bater a cabeça no muro. Eles faziam suas orações, enquanto

outros, principalmente turistas, colocavam pequenos pedaços de

papéis nas brechas do muro. Nós tivemos que colocar um

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

215

chapeuzinho, que tem por nome de kipá. Nos aproximamos do

muro.

- E agora, senhor Simon, o que temos que fazer?

- Bem, me ajuda a olhar, pois é pra existir cinco pedras de

mesmo tamanho e muito parecidas.

Olhando para o muro, era difícil discernir quais eram iguais,

pois uma era totalmente diferente da outra.

- Veja, Jorge! Acho que descobri quais são!

- O senhor conseguiu? Onde?

- Dá uma olhada. Naquela direção.

Olhei, e, do lado direito, de onde estávamos, havia uma pedra

grande só que dividida em cinco pedaços iguais. Ainda bem que

estava do lado masculino, pois o muro é divido: homens de um

lado e mulheres do outro. O senhor Simon se aproximou e como

havia um homem orando naquele muro, ficamos esperando ele

sair e foi rápido, pois o homem ficou olhando desconfiado pra

nós e saiu.

- Acho que o senhor o assustou!

- É que fiquei olhando e prestando atenção na oração dele,

então, ele se sentiu incomodado. Veja Jorge!

- O que senhor Simon?

- Aqui está o sinal dos atanasianos, mas está quase se apagando.

Segure o pergaminho pra que eu possa ver a ordem correta das

pedras.

MARCELO MENA

216

- Entre os vãos está cheio de papéis, senhor Simon!

- Espero que não atrapalhe.

Assim, o senhor Simon começou a apertar as pedras e não

ouvimos nenhum barulho.

- Não fez nada, senhor Simon.

- Estranho. Me deixe tentar de novo!

- Nada, senhor Simon! Será que está certo? Tenta empurrar a

pedra com mais força.

- Vou tentar de novo, Jorge!

O senhor Simon empurrou a primeira pedra, ela se movimentou

para dentro, uns três centímetros, deu um estralo forte e assim

ele continuou apertando as outras. Quando empurrou a última

pedra, houve um estralo tão forte que tremeu o muro todo. Nesta

hora, todos que estavam orando se assustaram, olhando para o

muro e se afastando.

- E agora?

- Vamos esperar, Jorge.

Não deu um minuto, o muro todo começou a balançar e

movimentar as pedras. Alguns pedaços de pedra se soltaram da

parte de cima e começaram a cair. Muita gente saiu correndo

com medo. De repente, houve um estralo tão forte que parecia

que tudo ia desabar. Uma das cinco pedras se soltou, caindo no

chão, se despedaçando. Alguns soldados começaram a gritar e

pedir que as pessoas se retirassem. Então, neste instante, o

senhor Simon enfiou o braço por dentro do muro e conseguiu

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

217

retirar um rolo de pergaminho com a chave dentro (igual às

outras) e nos retiramos. Neste momento, houve, como se fosse,

um terremoto que movimentou todo o lugar. Muitas pessoas

gritavam desesperadas e corriam por todos os lados, então,

corremos e saímos do lado de fora. Ficamos próximo a uma

lanchonete e tudo ficou calmo, logo todos voltaram ao normal.

- Conseguimos, Jorge! Agora, precisamos ver como iremos

fazer pra chegar ao monte Sinai.

- O senhor não acha que ainda está faltando algo?

- O que seria, Jorge?

- A tempestade de areia.

- Acho que essa tempestade era só um símbolo para irmos ao

deserto.

Neste instante, um alarme começou a soar na cidade toda.

- O que é isso, senhor Simon?

- Acho que é algum tipo de alerta.

Todos começaram a entrar nos lugares mais próximos. Casas e

lojas começaram a se fechar. Havia uma correria de gente por

todos os lados. Então, um senhor bem velho, com roupas velhas,

bem barbudo, nos deu um sinal com a mão para que o

acompanhássemos.

- E agora, senhor Simon, quem será este homem?

- Não sei, Jorge, mas não temos outra escolha, vamos atrás dele.

MARCELO MENA

218

Corremos atrás deste velho e o alcançamos, então, ele nos olhou

e apontou para uma montanha. Vimos uma nuvem marrom se

aproximando da cidade, era a tempestade de areia que vinha

com muita velocidade. Continuamos seguindo aquele velho e,

no caminho, a tempestade nos alcançou. Era horrível não

enxergávamos nada. A poeira entrava nos nossos olhos e nariz.

O homem, então, segurou na minha mão e eu na do senhor

Simon pra não nos perdermos. Chegamos a uma porta, onde ele

abriu com uma chave que parecia ser muito antiga. Lá dentro,

podíamos respirar normalmente. A minha garganta estava

totalmente seca, dava pra sentir as pedrinhas nos dentes, o

senhor Simon tentava tirar areia de uma das orelhas.

- Que horrível esta tempestade, Jorge, veio muito rápido.

- Ainda bem que este homem nos ajudou!

A casa era bem pequena, com poucos móveis e tinha algumas

cadeiras espalhadas. O homem veio com um vaso de barro,

cheio de água dentro, e dois copos pequenos. Beber esta água

foi algo muito bom para tirar o gosto de areia da boca.

- Vocês iam acabar morrendo nesta tempestade! – Disse o velho.

- O senhor fala inglês?

- Sim, garoto! Neste lugar temos que falar várias línguas para

sobreviver.

- Meu nome é Simon, muito obrigado por nos ajudar!

- Eu me chamo Akiba. Sei que você foi o culpado desta

tempestade de Areia.

- O que você quer dizer? – Perguntou o senhor Simon.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

219

- Simples, vi que vocês retiraram a chave atanasiana do muro e

após isto veio a tempestade. Ela vai durar algumas horas. –

Falou Akiba, retirando aqueles panos velhos de cima dele.

- Me desculpe, seu Akiba, mas como sabe da chave atanasiana?

– Perguntou o senhor Simon.

- Eu sou um Atanasiano!

- E como o senhor pode provar isto? – Perguntei.

- Muito simples, garoto!

Ele levantou a manga de sua camisa, e, no seu braço direito

havia uma marca com o símbolo dos Atanasianos.

- Eu sou um dos descendentes. Minha função era esperar quem

buscaria a chave do muro.

- E como você sabe sobre a chave? Pois, para encontrá-la,

precisava do pergaminho e dos códigos. – Perguntou o senhor

Simon.

- O último guardião do pergaminho somente lembrava que uma

das chaves estava no muro, e como o pergaminho havia

desaparecido, foi escalado um grupo para ficar de guarda e não

permitir que a chave fosse levada.

- Então você vai nos impedir de achar o tesouro de Salomão? –

Perguntei.

- E como é o seu nome, garoto? – Perguntou Akiba, me olhando

bem sério.

- Eu sou, Jorge!

MARCELO MENA

220

- Muito bem, Jorge! Eu acreditava que ninguém nunca iria

aparecer para retirar esta chave, desde meus cinquenta anos de

idade estou ali. Só fiquei porque meu pai me fez prometer que

ficaria no seu lugar. Ele havia passado por guerra, tempestade,

doença e sempre ficou aguardando, então, ele me elegeu como

um atanasiano e me colocou em seu lugar. A partir dali fiquei

esperando por vocês. Tenho que impedi-los de achar este

tesouro, pois existem coisas ali, que se cair em mãos erradas,

pode fazer o mundo entrar num colapso!

- Você sabe o que é o tesouro? – Perguntei.

- Nem imagino o que é! Só sei que é algo perigoso. – Disse

Akiba, se sentando em uma das cadeiras.

- Mas precisamos achar o tesouro! – falou o senhor Simon.

- Só existe uma condição para prosseguirem.

- E o que seria Akiba? – Perguntei.

- É necessário que vocês tenham sido escolhidos por um

atanasiano e tenham em mãos os títulos de valor. O que acho

muito difícil você possuir, pois estes títulos eram feitos de

papiro antigo e carimbados como nota. Além disso, estes títulos

foram dados à uma família Atanasiana há mais ou menos uns

seiscentos anos atrás. Somente eles poderiam ter acesso a este

tesouro.

- Sem querer ofender, mas, como você pretende nos impedir?

Pois somos dois e você somente um e, ainda, é um pouco velho

para tentar nos impedir! – Falei, olhando bem sério.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

221

- Você tem toda razão, garoto. Por isso coloquei veneno na água

que beberam. Vai fazer efeito em mais alguns minutos, por isso,

estou sentado esperando.

- Espera aí! Você nos envenenou? Vamos morrer? – Perguntei

desesperado.

- Sim! A não ser que tenham os títulos. – Disse Akiba no maior

sossego.

- Que títulos? Como vou saber o que é isso? – Perguntei.

- Estes títulos são pequenos papiros, que foram divididos em

partes pelos atanasianos, quem tiver a posse destes títulos

poderá obter a quarta chave.

- Quarta chave? Não eram três? – Perguntou o senhor Simon.

- Como o senhor ainda pensa em chave, sabendo que vai

morrer?

- Calma, Jorge! Ainda temos alguns minutos, não é, Akiba?

- Sim, se vocês tiverem os títulos não morrerão! E pra terem

estes títulos, algum atanasiano teria que ter passado. Ninguém te

entregou nada? – Disse Akiba

- Eu não tenho nada, mas, espera aí! Jorge, você não recebeu

alguma coisa do atanasiano? – Perguntou o senhor Simon, se

virando pra mim.

-O descendente dos Atanasianos, que encontrei, estava

morrendo de medo, porque dizia haver alguma maldição no

pergaminho. Ele me deu este dinheiro aqui.

MARCELO MENA

222

Nesta hora, o senhor Akiba pegou o dinheiro de minha mão e

começou a admirar.

- São eles, os títulos! Que coisa linda! Isto tem mais de

seiscentos anos. Como está conservado!

- O negócio aí pode até estar conservado, mas tem como você

resolver o nosso problema e nos conservar com vida, já que

você tem os títulos?

- Sim, claro, peguem aqui estes comprimidos e engulam, rápido!

Ele retirou de dentro de sua roupa dois comprimidos verdes e

nos entregou. Mais que depressa, pegamos os comprimidos e

engolimos muito rápido. Senti um gelo dentro da minha barriga.

- É só isso o antídoto, Akiba?

- Que antídoto, Simon?

- O que você nos deu!

- Ah! Isto era bala de hortelã. Não tem antídoto. – Falou Akiba,

rindo.

- Como assim, vamos morrer? – Perguntei desesperado.

- Claro que não, eu não coloquei veneno nenhum na água. Só fiz

isso pra vocês pensarem, assim, iriam querer trocar a chave pelo

antídoto, que os impediria de encontrarem o tesouro. – Falou

Akiba, rindo.

- Muito inteligente! – Falou o senhor Simon.

- Inteligente? A gente fica aqui, achando que vai morrer, e o

senhor ainda chama o Akiba de inteligente?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

223

- Ele usou de sabedoria, Jorge, para nos impedir, pois na força

física ele não conseguiria.

- Só de pensar que ia morrer me deu dor na barriga.

- Me diga, Akiba, qual é a quarta chave? Se o pergaminho fala

de três chaves. – Disse o senhor Simon.

- Deixe-me ver o pergaminho! – Falou Akiba.

O senhor Simon abriu o pergaminho sobre uma pequena mesa e

o Akiba começou a olhar deslumbrado pelo pergaminho.

- Olha que lindo! Achei que nunca veria isto. Ainda bem que

terminei aqui a minha espera, meu filho não precisará continuar

esta tarefa. – Akiba falou aliviado.

- Você tem um filho que iria continuar esta tarefa? – Perguntei.

- Não tive tempo de ter filhos! Estava imaginando como passaria

isso à frente. Teria que arrumar uma esposa e ter um filho com

ela e ensiná-lo! – Akiba falou, sem tirar os olhos do

pergaminho.

- E, quantos anos o senhor tem?

- Tenho noventa e cinco anos, Jorge.

- E o senhor acha que vai dar tempo de fazer tudo isto ainda?

- Sim! Já arrumei uma noiva, ela tem setenta e dois anos.

- Vocês acham que ainda conseguem ter filhos?

- Claro que não! Poderíamos adotar uma criança e ela seria o

nosso filho, não de carne, e nem de sangue, mas do coração.

MARCELO MENA

224

- Você fará uma coisa boa, adotando uma criança. – Disse o

senhor Simon.

- Aqui tem muitas crianças que perderam os pais na guerra e

ficaram órfãs. Quero ter a oportunidade de cuidar de pelo menos

uma. Mas, vamos analisar o pergaminho. Veja aqui, a terceira

chave.

- Sim, estou vendo e fala do muro! – Disse o senhor Simon,

tentando entender o pergaminho.

- E este símbolo aqui. Está vendo?

- Sim, Akiba, mas não sei dizer o que é.

- Este é o símbolo do título.

Então, Akiba pegou o que nós achávamos que era o dinheiro

antigo e espalhou sobre o pergaminho. Começou a juntá-los

como se fosse um quebra cabeça, formando o desenho do monte

Sinai e o lugar onde deveriam ser colocadas as três chaves.

- Veja isto, Simon! Não é lindo? – Disse Akiba muito alegre.

- Entendi agora! Com os títulos e o pergaminho conseguimos

achar a localização de onde colocar as três chaves, por isto os

títulos eram a quarta chave. Sem eles, não saberíamos onde

colocá-las!

- Muito bem, Simon, mas agora é por conta de vocês. Cuidado,

este tesouro não pode cair em mãos erradas. – Falou Akiba.

- Você não vem conosco? – Perguntei para Akiba.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

225

- Se eu fosse mais jovem, até gostaria garoto, mas agora, é por

conta de vocês.

- Entendi! Podemos ir agora? – Perguntei.

- Sim! Agora estou livre do meu compromisso, vou atrás de

minha noiva para planejarmos o nosso casamento e adotarmos o

nosso filho.

O senhor Simon recolheu os títulos e os pergaminhos, enquanto

isto, o Akiba nos abriu a porta. A cidade toda estava com muita

areia, ainda era sufocante, mas o pior já havia passado, então,

continuamos caminhando e tirando informações pra chegarmos

ao monte Sinai. Logo, pegamos um ônibus e seguimos viagem.

MARCELO MENA

226

Capítulo 11

Tesouro de Salomão

Algumas horas depois, conseguimos chegar próximo ao monte

Sinai. Realmente, o lugar é um deserto, tem muita areia, pedras,

existem algumas barracas. As barracas são feitas de madeira,

onde o pessoal vende alguns produtos, e, como sempre, existem

muito soldados, por todos os lados, muita gente andando e

alguns camelos, carregados de sacolas e bolsas, principalmente

de turistas.

- E agora, senhor Simon, será que vamos encontrar o Muled?

- Não sei, Jorge, mas vamos nos aproximar do monte, quem

sabe ele esteja por perto.

- O que será que tem nestes tesouros?

-Isto também está me preocupando, Jorge! Pois foi tanto

trabalho pra chegar aqui, deve ser algo muito importante.

Passamos por uma rua de terra e chegamos próximo a uma casa,

ao pé do monte. Lá havia uma grande palmeira e nos sentamos

embaixo dela. Ficamos aguardando, mas, não demorou muito,

um dos seguranças do Muled se aproximou de nós e deu sinal

para que o seguíssemos.

- Estava tão bom debaixo da palmeira!

- Realmente, Jorge, este lugar é muito quente e seco.

- Uma coisa é verdade, senhor Simon, esta viajem para o Egito

nos deu mais aventura que a máquina do tempo!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

227

- Tem razão, Jorge, temos que ficar espertos com o Muled e,

dependendo do que encontrarmos por lá, teremos que impedi-lo.

- E como vamos fazer isto?

- Não sei ainda, Jorge! Só sei que não devemos deixá-lo com os

tesouros.

- O senhor está me deixando mais nervoso, o homem é cheio de

seguranças.

- Só não podemos nos distrair por nada, Jorge!

- Entendi, senhor Simon.

Andamos contornando o monte, até chegarmos próximo a um

carro com vidros escuros. Quando nos aproximamos, Muled

saiu do carro com um chapéu enorme e de óculos escuros.

- Cadê o Riane? – Perguntou Muled bravo.

- Ele foi preso, lá no muro das lamentações, pois tentou passar

pelo detector de metais com armas. – Explicou o senhor Simon.

- Não acredito, é um idiota mesmo! Agora, a polícia vai

interrogá-lo. Espero que não abra o bico de onde estou, pois

aqui não sou muito bem vindo. – Disse Muled.

- Você faz muitas amizades por onde passa, não é, Muled? –

Perguntei.

- Garoto, não zombe de mim, se quiser voltar vivo pra sua casa!

– Muled respondeu, vindo pra cima de mim.

- Calma, Muled! Jorge vai parar de fazer piadas. – Falou o

senhor Simon, segurando-o.

MARCELO MENA

228

- Vamos encontrar este tesouro logo. Para onde devemos ir? –

Falou Muled, olhando para o senhor Simon.

- Temos que encontrar uma caverna que se encontra quase no

topo da montanha. – Falou o senhor Simon, mostrando no

pergaminho.

- Acho que sei qual é a caverna! – Falou Muled.

- Você sabe onde fica, Muled? – Perguntei.

- Sim. É a caverna chamada: Retiro de Elias. Fica bem acima

daqui, vamos ter que subir as escadas. – Disse ele, dando sinais

aos seguranças para segui-los.

- Que caverna é esta? – Perguntei para o senhor Simon.

- Acredito que seja a caverna onde o profeta Elias se escondeu

de Jezabel, Jorge!

- Sei, já li esta passagem na Bíblia.

Então, começamos a subir, pois o monte Sinai tem degraus até a

parte de cima do monte, para ficar mais fácil dos peregrinos

subirem. Muled, a cada dois degraus, parava para tomar fôlego.

- Senhor Simon, o senhor não tem a sensação de que já esteve

neste local?

- Sim, tenho esta impressão. Espera um pouco! Olhe pra aquele

lado, Jorge!

Eu me virei e vi uma planície. Ao longe, um grande amontoado

de terra. Foi como se tivesse sido transportado no tempo, me

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

229

lembrei de quando subimos o monte para falar com a Grande

Sabedoria, na terra do Harmes.

- Senhor Simon, aqui é a montanha da Grande Sabedoria.

- Isto mesmo, Jorge!

- Mas ela parece menor do que era.

- O tempo a deve ter desgastado.

- Então, senhor Simon, quer dizer que estamos de volta no

mesmo lugar da primeira viajem?

- Sim, Jorge! O monte encantado.

- Vocês podem me explicar do que estão falando? – Muled falou

como se estivesse sem ar, balançando seu chapéu para se

refrescar.

- Estamos apenas conversando e falando deste belo lugar! –

Respondeu o senhor Simon.

- Nem pensem em planejar algo contra mim, como fizeram com

Riane, pois tenho homens em todo lugar! – Disse Muled.

- Olha, Muled, não temos nada haver com Riane, ele mesmo se

complicou, apenas queremos achar o tesouro e ir embora. –

Falou o senhor Simon.

- Então, continue subindo, Simon! Não vamos mais perder

tempo. - Falou Muled.

- E somos nós que estamos atrasando? – Perguntei.

MARCELO MENA

230

- Garoto, você está me provocando demais! – Falou Muled, me

olhando bravo.

- Jorge, vamos subir! Pare de provocar o Muled! – Disse o

senhor Simon, me puxando pra ficar longe do Muled.

Continuamos subindo, até chegarmos ao lugar indicado no

pergaminho. Ainda bem que não ficava no topo, senão, nunca

teríamos chegado lá, pois Muled ia muito devagar, atrasando

todo mundo. O lugar tinha um espaço grande, com várias

pedras. As pessoas ali paravam para tomar fôlego e descansar,

para depois seguir, subindo as escadas até em cima da

montanha. Numa pequena parte, da parede da montanha, havia

uma abertura, não muito grande, e entramos ali.

- E agora, senhor Simon? – Perguntei.

- Bem, agora preciso abrir o pergaminho, colocar os títulos em

cima e ver se consigo localizar as frestas para colocarmos as

chaves, Jorge.

O senhor Simon colocou o pergaminho sobre o piso da caverna,

apoiando os quatro cantos do pergaminho com algumas pedras e

montando os títulos, como fez Akiba.

- Jorge, me passe o pergaminho com os códigos agora. Muled,

me passe as chaves.

Muled retirou do bolso as duas chaves, e o senhor Simon as

colocou sobre os títulos. Alguns curiosos chegavam à porta da

caverna, mas os seguranças fizeram correr, mostrando as armas.

- Vamos, Simon!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

231

- Calma, Muled, me deixa entender os pergaminhos! Aqui diz

que a luz, dentro da caverna indicará, mas que luz será esta?

- Seria o sol?

- Pode ser, Jorge. Acho que em alguma parte do dia, a luz do sol

bate dentro da caverna e mostra os lugares das chaves.

- Agora já é tarde, senhor Simon! O sol não vai bater mais, a não

ser que a gente espere até amanhã.

- Nem pensar, garoto! Precisamos fazer isto agora! – Falou

Muled, acho que, preocupado em ter que descer e subir de novo

as escadas.

- Então, como o senhor vai fazer para o sol entrar aqui? –

Perguntei.

- Vamos usar um espelho e refletir a luz aqui dentro. –

Respondeu Muled.

- Ótima ideia, Muled. Onde, por acaso, vamos achar um

espelho? – Perguntou o senhor Simon.

- Tenho um pequeno comigo!

Muled retirou sua carteira e de dentro um pequeno espelho. Era

todo banhado a ouro em sua lateral.

- E pra que você usa um espelho de bolso? – Perguntei.

- Este foi meu primeiro artefato antigo que roubei. Me dá muita

sorte! – Falou, segurando o espelho com todo o cuidado.

- O que você acha, senhor Simon? Vai dar certo?

MARCELO MENA

232

- Vamos tentar, antes que o sol se ponha de vez! Preciso, Jorge,

que você vá até onde está sol, do lado de fora, e tente refletir a

luz dentro da caverna.

- Não! Este garoto não vai com meu espelho lá fora, ele pode

trazer má sorte pra mim. Vou mandar um dos meus seguranças.

Ele, então, falou em árabe com um segurança, que saiu e foi do

lado de fora com o espelho. De lá, começou a iluminar uma

pequena parte da caverna.

- Muled, pede pra ele abaixar um pouco, e, tente ir passando o

reflexo em toda a parede da caverna. – Disse o senhor Simon.

Conforme o reflexo batia na parede da caverna, parecia que ela

era toda de brilhante, e, numa parte, apareceu o símbolo dos

Atanasianos, quase que apagado.

- Aqui, senhor Simon! Veja!

- Isso mesmo, Jorge! Mande-o voltar com a luz, Muled! Peça

pra ele parar aqui.

O símbolo apareceu bem nítido, à nossa frente. Logo abaixo

havia três pequenos buracos.

- Vamos, Jorge, me passe as chaves!

- Espera um pouco, senhor Simon. Será que não vamos ter

nenhuma surpresa, como escorpiões, vespas e tempestade?

- Aqui não diz nada, Jorge, vamos ter que colocar as chaves pra

ver.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

233

Nesta hora, houve um vento muito forte e gelado que passou do

lado de fora, levantando uma grande quantidade de poeira que

acabou enchendo os olhos do segurança, que estava com o

espelho. Ao coçar o olho, acabou o derrubando no chão e

quebrando. Muled ficou olhando em silêncio, acho que ficou

chocado com a imagem do seu espelho no chão, moído. O

segurança não pensou duas vezes e saiu correndo, nos largou ali.

Acredito que ficou com medo do Muled mandar matá-lo.

- E agora, senhor Simon?

- Me passe as chaves, Jorge, antes que eu perca os buracos.

Entreguei as chaves. O senhor Simon colocou todas em seus

lugares e não tinha como inverter, cada uma cabia em seu

respectivo buraco. O mais estranho é que Muled continuava

olhando pra fora, em silêncio. O outro segurança ficou do seu

lado, esperando receber alguma ordem, e nada.

- Senhor Simon, eu acho que Muled está em choque!

- Vamos virar a chave e ver o que acontece.

Ele começou a virar primeira chave e escutamos um estralo, na

segunda, dois estralos e na terceira, o estralo foi tão forte que

chegou tremer a caverna. Começamos ouvir um barulho, como

de engrenagens, por dentro da caverna e parou, fazendo silêncio.

Nesta hora, Muled estava nos olhando e ainda em silêncio.

- Senhor Simon!

- Fale, Jorge!

- Tem algo estranho acontecendo com o piso, está tremendo!

MARCELO MENA

234

- Como assim, Jorge?

Antes de eu responder qualquer coisa, o piso da caverna se abriu

e fomos caindo, como se estivesse em um escorregador. Parecia

que essa descida não acabava mais. Nas laterais, eram somente

rochas e o segurança do Muled gritava como um doido. A minha

preocupação era o Muled por último, no escorregador. Se

tivesse uma parede, no final do escorregador, seríamos

achatados e, em pouco tempo. Para alívio nosso, caímos em um

lago escuro e gelado. Por pouco, o Muled não cai sobre mim.

- Jorge, você está bem?

- Eu estou bem, e o senhor?

- Venha pra mais perto de mim. Vamos nadando até

encontramos algum lugar para nos apoiar.

- Está muito escuro este lugar, senhor Simon!

De repente, vi um fogo e era o senhor Simon, com um isqueiro.

Já dava pra ver que, logo em frente, tinha um lugar mais raso.

Assim, com a luz do isqueiro, conseguimos chegar ao outro lado

daquela caverna e podíamos sair daquele lago gelado. Muled e o

segurança também vieram, mas Muled ainda estava em silêncio.

- Onde será que estamos?

- Parece que descemos para dentro da montanha, Jorge!

- Olha, senhor Simon, tem uma passagem logo ali à frente.

- Precisamos de algo pra queimar, Jorge, antes que acabe o

isqueiro.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

235

- Me parece que tem algo ali na frente, como um galho.

Corri à frente e peguei, caído ao chão, um pedaço de madeira,

então, o acendemos e já melhorou a iluminação.

- Olhe, senhor Simon, o pergaminho e os títulos caíram no lago

e estão afundando!

- Agora, não precisamos mais deles! Eles mostravam como

chegar, mas não falava nada de como sair.

- Muito bom! Agora quero ver como sair daqui.

- Acredito que vamos achar a saída, Jorge.

- E se não tiver?

- Vamos ter que ser otimistas, Jorge!

Chegamos até a passagem. Era um corredor estreito, mas

comprido, aberto dentro da rocha (mal cabia uma pessoa).

Então, o segurança pegou a tocha do senhor Simon e foi à

frente, Muled parecia emperrar no corredor. Teve uma hora que

ele ficou travado, foi quando Muled resolveu falar.

- Vamos, me ajudem! Estou sem sorte, aquele idiota foi quebrar

meu amuleto.

- Vamos, Jorge! Ajude a empurrar o Muled, senão, vamos ficar

aqui o resto da vida.

Começamos a empurrar o Muled, até que conseguiu sair. Aos

poucos, começamos ouvir, como se fosse um rio, correndo.

Continuamos a caminhada e chegamos num salão enorme. Tudo

em volta era pedra. O segurança já havia achado alguns outros

MARCELO MENA

236

galhos e ateou fogo ali mesmo. Tudo começou a aparecer. Havia

várias estátuas de pessoas, vestidas com roupas compridas, tudo

feito em pedra. Eram lindas, com muito musgo em volta delas e,

mais a frente, um rio, fazendo um enorme barulho. Interessante

é que o rio saia da parede de pedra, com uma correnteza muito

forte, jogando água e formando uma névoa. Ela molhava tudo ao

redor, seguia uma caneleta escavada, muito larga, e voltava a

entrar na parede do outro lado. Um prédio enorme com uma

escadaria, que parecia um templo, ficava depois desse rio. Na

entrada, dois leões enormes, com aproximadamente três metros

de altura, e uma porta de bronze, toda esverdeada, fechada. De

onde estávamos não tinha nenhuma ponte para atravessarmos.

- Olhe, Jorge, é uma réplica do Templo de Salomão! Tem uma

placa escrita na porta, mas não dá pra ler. Precisamos ir até lá e

verificar.

- E como vamos fazer isto? Ir nadando é complicado, pois a

correnteza é muito forte.

- Tem razão, Jorge! Lá fora é um deserto, então, este rio deve

estar abaixo do nível da terra e deve sair no Mar Vermelho, isto

tudo no subsolo. Se entrarmos neste rio, e formos sugados,

vamos acabar morrendo afogados.

- Estou falando, perdi a minha sorte. Vamos acabar morrendo

aqui, e não tem nenhuma saída!

- Fique calmo, Muled! Acredito que, lá dentro deste templo,

haja alguma forma de sair.

- E como vamos chegar lá, senhor Simon?

- Tive uma ideia, Jorge, mas vou precisar da ajuda de todos.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

237

- O que o senhor quer fazer?

- Estão vendo aquela estátua, próxima ao rio?

- Sim!

- Então, vamos nos juntar e tentar derrubá-la, pois, como ela é

maior que a largura do rio, poderá servir de ponte para nós!

- Acho que ela deve ter uns vinte metros de altura e muito

pesada, senhor Simon!

- Temos que tentar, Jorge. Por isso, vou precisar da ajuda de

todos!

- Ok! Então, vamos lá!

A estátua era de um homem com uma espada na mão, devia ser

um guerreiro, mas o interessante é que ele olhava para a abertura

de onde passamos.

- Senhor Simon! Porque esta estátua está olhando pra a abertura

de onde viemos?

- Não sei, Jorge! Mas vamos tentar derrubá-la!

Ela era enorme e pesada. Por mais que tentássemos, não se

mexia nem um centímetro.

- Vai ser impossível! A estátua é muito pesada! – Reclamou

Muled.

- A minha ideia não foi boa.

- Espera um pouco, senhor Simon!

MARCELO MENA

238

- O que foi, Jorge?

- A espada dele é solta, está só encaixada! Se eu conseguir subir

e retirar a espada, podemos utilizá-la como uma alavanca.

- Boa ideia, Jorge! Veja se consegue subir, mas tome cuidado

pra não cair!

Comecei a subir na estátua, era muito escorregadia, e o

segurança subiu junto, me apoiava com sua mão. Uma hora,

escorreguei e acabei pisando em sua cabeça. Ele não falou nada.

Cheguei ao braço da estátua, me arrastando sentado até chegar à

sua mão. Comecei a empurrar a espada, era muito pesada, devia

de ser feita de bronze. Fui aos poucos empurrando e puxando, e

foi saindo, acho que nunca suei tanto na minha vida. Aquela

sala, dentro da caverna, era abafada, ainda bem que a água do

rio refrigerava um pouco o local.

- Senhor Simon! Não vou conseguir segurar a espada. Vou ter

que jogá-la no chão.

- Faça isso! Vamos tentar impedir de ela cair no rio.

Quando derrubei a espada, fez um barulhão enorme no chão e,

por pouco, não caiu no rio. A sorte que o senhor Simon e o

segurança apoiaram com um pedaço de galho.

- Essa foi por pouco! – Disse o senhor Simon.

O segurança sorriu e começou a falar alguma coisa em árabe.

Não entendemos nada.

- O que ele disse Muled? – Perguntei.

- Não interessa! Vamos logo derrubar esta estátua.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

239

Colocamos a espada em uma fresta que havia no pé da estátua,

com uma pedra fizemos apoio e começamos a empurrar. O

segurança apoiou a estátua com mais duas pedras embaixo dela.

Na próxima levantada, ela deitou, caindo com a cabeça do outro

lado do rio, formando uma ponte. A sua outra mão caiu dentro

do rio, fazendo com que a água espirrasse para o lado da

fogueira, apagando o fogo. Tudo ficou escuro novamente.

- E agora, senhor Simon?

- A madeira molhou, não tem como reutilizá-la. Vamos subir na

estátua e seguiremos com o isqueiro, quem sabe, do outro lado

podemos encontrar alguma coisa pra queimar.

Assim fizemos. Muled, por duas vezes, quase caiu no rio, mas

conseguiu chegar do outro lado.

- Estou mesmo sem minha sorte! Quase escorreguei pra dentro

do rio.

- Olha, Muled, se realmente o senhor não tivesse sorte, teria

caído.

-Você não entende nada de amuleto da sorte!

- Jorge, deixe Muled. Venha, vamos subir a escadaria.

Começamos a subir, e a estátua parecia ter sido feita de

mármore, era muito linda. Ao pisar em um dos degraus o senhor

Simon quase caiu.

- O piso se mexeu, Jorge!

- Como assim?

MARCELO MENA

240

- Ele afundou quando pisei. É como se acionasse alguma coisa.

Nesta hora, começamos ouvir um barulho do outro lado, mas

não conseguíamos ver.

- O que será que acionou?

- Não sei, Jorge, vamos continuar.

Muled e o segurança, mais do que depressa, subiram as escadas

com medo do que poderia acontecer. Eles nos passaram e

chegaram à frente do templo.

- Olhe, senhor Simon, tem dois vasos enormes aqui, próximos

aos leões. Estão lacrados. O que será?

- Não sei, Jorge. Deixe-me ver o que diz esta placa aqui na

porta. Está escrito em grego antigo!

- E o que diz?

- Está dizendo que devemos derramar os azeites nos pés dos

leões, depois acender o fogo na boca deles.

- Então tem azeite nestes frascos, senhor Simon!

- Acho que servirá pra iluminar o local. Vamos derramar no pé

do leão.

Quebramos a tampa e levantamos o vaso. Derramamos o azeite

no pé dos dois leões, então, o senhor Simon colocou o isqueiro

aceso dentro da boca do leão. Ela se acendeu e começou a

iluminar o local, aos poucos, outros pontos do templo. Tudo

começou a acender e o ambiente ficou iluminado. Agora,

podíamos ver todo o local bem claro. Para a nossa surpresa a

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

241

passagem por onde passamos estava lacrada. Quando o senhor

Simon pisou no degrau, acionou alguma coisa que fechou a

passagem, nos deixando presos naquele local.

- Agora estamos presos, pois nem por aonde viemos poderemos

voltar. Estou falando, estou sem sorte mesmo!

- Vamos entrar neste templo e ver o que tem lá dentro. Quem

sabe nos indica uma saída, Muled!

- É, senhor Simon, o Muled ainda está pensando no seu amuleto.

- Verdade, Jorge, mas me ajuda a tirar esta tranca.

A tranca era feita de bronze e travava a porta. Com muita

dificuldade, conseguimos tirar. Ao abrir as portas, elas rangeram

demais (acho que fazia muito tempo que não se abria). Lá

dentro, era um salão enorme. Nas paredes daquele salão, havia

chifres, apontando para o céu e acendendo, automaticamente,

fogo nas pontas, iluminando o salão. Logo a frente, havia um

trono, todo trabalhado. Não havia mais nada naquele salão. O

piso era feito de mármore branco e preto, parecendo um jogo de

xadrez.

- Isto é o tesouro de Salomão? Só um trono de mármore

trabalhado?

- Calma. Olhe pras paredes, Jorge!

- Estão cheias de inscrições? Que língua é essa?

- É a mesma do pergaminho.

- E o que diz? Está falando de coisas que aconteceram no

passado.

MARCELO MENA

242

- Na época de Salomão?

- Não sei, Jorge, deixa ver se consigo ler.

Nesta hora, Muled e o segurança começavam a olhar por todos

os lugares, tentando achar algum tesouro.

- Jorge, isto é incrível! Está falando do início de todo o planeta e

a primeira geração criada. Salomão descobriu algo, dentro do

Egito, e resolveu escrever nestas paredes. Tudo que descobriu e

fez, acreditava ser um dos maiores tesouros: O conhecimento

humano.

- Como assim? As paredes são os tesouros?

- Espera, Jorge, ainda tem mais.

- Têm mesmo, as paredes estão completamente cheias de

inscrições.

- É que ele escreveu em várias línguas. Todas as paredes tem a

mesma história, só que em várias línguas, que na época

existiam.

- E o que mais fala?

- Aqui diz assim:

Nestas paredes estão os maiores segredos de todos os tempos.

Eu, Salomão, filho de Davi e servo de Jeová, resolvi aqui deixar

escrito tudo que aconteceu e tudo que descobri dentro das

pirâmides do Egito. Após me casar com a filha de Faraó, passei

a ter mais acesso aos arquivos secretos das pirâmides. Como não

havia quem revelasse os segredos, Faraó prometeu que se eu

conseguisse descobrir, com minha sabedoria, os segredos ali

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

243

contidos, ele mesmo conquistaria a cidade de Gezer, passaria

estas terras à sua filha e o meu reino começaria a crescer. Assim,

passei algum tempo lendo e descobrindo o que existia ali. Com

ajuda de Azarias, Zabude, e outros sábios do Egito, passamos a

escrever nestas paredes o que conseguimos revelar. Segue a

revelação:

Numa época bem remota à nossa, bem antes do nosso ancestral

Adão, Deus fez o nosso planeta, astros e outros planetas, que

agora não vemos mais. Ele criou um lindo território com

homens fortes e sábios, juntamente, criaturas angelicais que

tinham formas diferentes das humanas, algumas, tinham a

semelhança de homens com corpos de cavalos e asas. Eram tão

amáveis que todos viviam pacificamente. Em pouco tempo,

construíram grandes civilizações e se modernizaram de tal

forma, que nunca haverá tanta tecnologia. Conseguiam viajar a

outros planetas, criando e habitando em distâncias nunca

conhecidas por homens atuais. Eles criaram uma porta de

passagem entre estes mundos, e, tudo Deus, assim, permitia que

fizessem, pois havia uma verdadeira comunhão entre eles e

Deus. Até que, um dia, um desses seres angelicais, chamado

Nabadom, percebeu que os homens estavam crescendo,

Formando civilizações em outros planetas, enquanto sua espécie

estava se tornando em menor número. Então, resolveu se rebelar

e formar um grande grupo. Com isto, iniciou-se uma verdadeira

guerra. Os homens, também se achando melhores, se

corromperam nesta guerra. Houve uma batalha neste planeta,

como nunca houve, ou haverá. Então, Nabadom conseguiu criar

um cetro de poder, que vinha de uma pedra desconhecida no

universo. Era capaz de controlar a natureza, fazendo com que

pessoas feridas, ou mesmo mortas, retomassem a vida. Fazia

cair fogo do céu, conseguia controlar a mente dos homens,

MARCELO MENA

244

tornando-os seus escravos, e ainda fazer com que estátuas de

pedra tivessem vida. Então, usando deste poder, conseguiu

destruir todos os homens da Terra. Não contente com isto, ainda

viajou por outros planetas, destruindo tudo o que os homens

fizeram. Assim, os homens que restaram formaram um exército

no planeta, chamado Terra-b e resolveram acabar com a tirania

de Nabadom. Como sabiam que seu poder vinha do cetro, pois

com ele conseguia reviver seus soldados após uma batalha,

criaram uma armadilha e conseguiram separar o cetro dele.

Assim, o destruíram. Todo o planeta Terra estava devastado e

sem vida. Então, perceberam que seria impossível refazer todo

planeta. Resolveram permanecer no planeta Terra-b e lá viver.

Mas o que eles acreditavam ter acabado virou contra eles, pois,

um dia, alguém pegou o cetro e acabou sendo dominado pelo

mesmo mal. Começou, novamente, a guerra neste planeta.

Depois de muitas batalhas, conseguiram o cetro e impediram

que outro o tocasse. Assim, o lacraram dentro de uma caixa de

metal e enviaram ao planeta Terra. Colocaram dentro das

pirâmides, que aqui foram construídas para manter esta caixa

com cetro em segurança, pois, o planeta Terra estava sem vida e

gases tóxicos tomavam conta de todo o planeta. Logo,

acreditavam que ninguém mais teria o cetro novamente, por

várias gerações. O povo da Terra-b, temendo que algum dia essa

caixa fosse aberta novamente, resolveram destruir todos os

portais de passagem para o seu planeta, ficando isolados e

seguros de qualquer outro que os quisesse dominar. Assim, este

segredo ficou guardado nas pirâmides por milhões de anos, até

que a vida voltou a existir na Terra. Depois de muito tempo,

estudando a língua do povo da Terra-b, acabei descobrindo onde

estava o cetro e resolvi usá-lo. Acreditava que por ter uma

grande sabedoria, conseguiria controlá-lo e assim fiz. Descobri

que este cetro, realmente, tinha grande poder. Conseguia

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

245

controlar até os demônios, que eram obrigados a fazerem o que

eu queria. Fora isto, até às estátuas de pedra e de metal era

possível dar vida por algum tempo. Todos ao meu redor me

temiam. Foi quando percebi que estava sendo dominado por este

cetro, e para impedir que este mal crescesse em mim, resolvi

escondê-lo e mantê-lo afastado de todos. Construí este local e

escondi sob o trono de mármore. Deixei o grupo dos atanasianos

para que cuidasse de tudo e mantivesse longe do ser humano.

Agora, o cetro está lacrado numa caixa de metal. Para abri-la

terá que desvendar o código existente. Somente um sábio poderá

fazê-lo. Se tentar tirá-la deste local tudo isto irá desabar e terão

pouco tempo para sair.

- Que loucura, senhor Simon!

- É, Jorge, por isto Lúcifer quer tanto este cetro. No livro de

Apocalipse, capítulo treze, está escrito que ele fará grandes

sinais, até fogo vai fazer descer do céu e, ainda, uma imagem de

pedra terá vida!

- Então, se ele pegar este cetro, o apocalipse começará?

Nesta hora, Muled já havia arrastado o trono. Começou a fazer

um barulho estranho naquele templo, abriu um buraco no piso e

uma caixa, toda dourada, saiu levantada por uma pedra. Então,

Muled a tomou e tentou abri-la.

- Muled, não faça isso! Se Lúcifer pegar este cetro tudo estará

perdido.

- Quem são vocês para me impedirem, com este cetro não

precisarei mais de Lúcifer e terei todo o poder. – Muled queria

de toda a forma abrir a caixa.

MARCELO MENA

246

A caixa possuía quatro letras, algumas, em forma de

engrenagens. Acredito que era como um código de cofre.

- Pare, Muled, vai destruir todo este lugar.

- Droga! A caixa está lacrada, mas vou levá-la e descobrir como

decifrá-la.

Ele, então, falou em árabe com o segurança que nos apontou

uma arma. Saíram do templo, fechando a porta com a tranca e

ficamos dentro dele.

- O que vamos fazer, senhor Simon?

- Vamos procurar outro lugar pra sair.

Olhamos tudo por dentro do templo, mas não havia mais

nenhuma saída. Várias vezes, vi o senhor Simon tentando

empurrar a porta.

- É, Jorge, não tem como sair.

Nesta hora, todo o lugar começou a tremer e partes do teto

começaram a cair. Tentamos nos esconder debaixo de uma

coluna e tudo parecia vir abaixo. Uma parte da parede desabou

pela lateral e conseguimos descer para o lado de fora. Ainda

estava iluminado, e uma parte do azeite escorria levando fogo

próximo a canaleta do rio. Quando vimos, o rio havia secado.

Não tinha mais água correndo, era como se alguma coisa tivesse

fechado a passagem. Muled e o segurança deviam ter corrido

pela canaleta do rio.

- Vamos seguir a canaleta do rio, Jorge. Vamos sair deste lugar.

- Mas e o cetro de poder que está com o Muled?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

247

- Vamos sair primeiro, depois a gente vê o que faz.

O lugar não parava de tremer e pedras começaram a cair sobre

aquele templo. Tudo estava, realmente, vindo abaixo. Corremos

pela canaleta e entramos em um túnel. Cada vez, ficava mais

escura, não sei como Muled conseguiu correr por dentro. Ainda

bem que o senhor Simon tinha o isqueiro. Chegamos num lugar

que se dividia em três partes. O barulho atrás de nós estava

aumentando muito, parecia que a água estava voltando com toda

força.

- E agora? Acho que o rio está voltando. Pra que lado é a saída?

- Não sei dizer, Jorge, só sei que a água está chegando.

Olhei do lado direito e vi, desenhado, algo na parede da rocha.

- Senhor Simon, ilumine aqui, por favor!

- Sim! O que tem aí? Parece ser um desenho de um eclipse.

- É isto! O Khalida me disse que, na dúvida, seguisse o eclipse.

- Então, vamos por aqui!

Nesta hora, entramos por este corredor e uma grande pedra caiu

na entrada, impedindo de voltarmos.

- Agora não temos mais escolha, é por aqui mesmo, Jorge! A

rocha tampou a abertura, isto vai fazer com que a água não

entre!

- Olhe por baixo da rocha, está vertendo água, senhor Simon!

- Então, vamos correr pra frente!

MARCELO MENA

248

Começamos a correr e já não ouvíamos o barulho da água

correndo. Fomos caminhando um bom tempo, até que acabou o

isqueiro do senhor Simon.

- É sempre assim, quando você pensa que a coisa está ruim,

pode esperar, logo vem o pior.

- Vamos devagar e apalpando para não termos surpresas, Jorge!

- É isso que me incomoda, andar sem ver nada!

Fomos andando e várias vezes parávamos para descansar. Uma

pequena porção de água corria pelos nossos pés.

- Bem, pelo menos não vamos ficar com sede.

- Isto é verdade, Jorge! Vamos continuar, espero que haja

alguma saída.

Andamos muito e parecia não ter fim. Aos poucos, as paredes

foram diminuindo e logo tínhamos que andar agachados.

- É, Jorge, acho que vou ter que concordar com você, está

ficando cada vez pior, as minhas costas estão ardendo.

- O senhor está ouvindo?

- O que, Jorge?

- Parece ser barulho de mar.

- Sim, estou ouvindo. Acho que este túnel deve desembocar no

mar vermelho.

- Então, vamos! Finalmente, uma esperança!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

249

Continuamos, e logo, podíamos ver uma luz no fim do túnel. Ao

longe dava pra ver que as ondas batiam na saída, nem

acreditava.

- Onde será que vamos sair?

- Espero que não tenhamos que nadar, pois estou muito cansado,

Jorge!

Chegamos à saída do túnel, e, à nossa frente, havia um mar. De

onde estávamos, as ondas batiam com muita força.

- Jorge, nós vamos ter que pular no mar, pois acredito que por

ser maré baixa, a água não chega até aqui, mas se demorarmos,

ela vai entrar e vai encher esse túnel de água.

- O senhor não quer descansar um pouco?

- Acho que não teremos tempo. Tente colocar a cabeça para o

lado de fora e veja se consegue ver alguma praia, ou algo

parecido.

Aproveitei que a onda tinha se afastado e vi que onde estávamos

era cheio de pedras. Daria pra subir e seguir por cima das

pedras, pois, mais à frente teria uma pequena parte de areia.

Enquanto olhava, uma onda veio forte e me jogou para dentro.

- Você está bem, Jorge?

- Sim, só com o ouvido um pouco cheio de água.

- A maré está subindo, precisamos sair logo.

MARCELO MENA

250

- Acho que dá pra gente se apoiar na saída deste túnel e subir

por cima, sem precisar pular na água. Vamos andando por cima

das rochas até chegar à praia, logo à frente.

- Então, vamos nos sincronizar com a onda. Quando ela recuar,

a gente sobe!

- Teremos que ir um de cada vez. Primeiro vai o senhor!

- Então eu vou, Jorge!

Na primeira recuada das ondas, o senhor Simon subiu as rochas

com certa dificuldade, mas conseguiu, antes de ser atingido por

uma onda forte. Então, assim que tive oportunidade também

subi. As pedras eram escorregadias, mas deu pra me apoiar e

subir um pouco mais alto. Já de cima das pedras, dava pra ver

uma pequena praia.

- Vamos, Jorge, chegar até aquela praia e descansar um pouco.

- Vamos, mas cuidado pro senhor não cair.

- Pode deixar, Jorge, estou cansado, mas dá pra ir.

Depois de alguns minutos, chegamos à praia. Era um lugar bem

sossegado, não havia ninguém. Nos sentamos próximo à

algumas palmeiras.

- Onde será que estamos?

- Acredito que é um dos dois braços do mar vermelho. Se

subirmos naquela direção, quem sabe, exista alguém que nos

ajude. – Ele apontou para um caminho que havia entre as pedras

e a areia.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

251

- E como vamos fazer, sem dinheiro?

- Você ainda está com o cartão do seu tio?

- Verdade! Está aqui comigo.

- Espero que tenha crédito pra pagarmos um ônibus e voltarmos.

- E vamos voltar pra onde?

- Pra casa do Muled.

- O senhor está maluco? Aquele gordo vai querer nos matar! Se

é que ainda está vivo. Será que conseguiram sair?

- Precisamos voltar lá e pegarmos nossas coisas, depois, tentar

pegar o cetro dele. Se Lúcifer souber que ele está com o cetro,

irá possuí-lo e esconder em qualquer outro lugar até decifrá-lo.

- E se pegarmos, o que vamos fazer?

- Isto a gente pensa depois, Jorge!

- O senhor disse que Lúcifer vai usar isto no apocalipse?

- Sim. Segundo o livro do Apocalipse, o anticristo vai ter um

grande poder dominador. Irá escravizar a população, sofrerá de

uma doença incurável e Lúcifer o fará ter saúde. Ainda, criarão

um ídolo de adoração que terá vida e fará com que muitos sejam

mortos.

- Isto é o que o cetro de poder faz?

- Isto mesmo, Jorge! Então, acredito que Jesus já nos fez

encontrar o cetro para que se cumpra o que está escrito no

apocalipse.

MARCELO MENA

252

- Quer dizer que Lúcifer vai conseguir decifrar o código?

- Provavelmente, mas não sabemos quando, nem onde.

- Isto poderá levar séculos ou pode ser hoje, não é, senhor

Simon?

- Não sei, Jorge! Por isto, vamos tentar encontrar o cetro pra que

haja mais tempo.

- E de que vai adiantar ter mais tempo, se ele vai conseguir de

qualquer forma?

- Com mais tempo, existe muito mais chance de mais pessoas

crerem em Jesus e serem salvas, antes do fim.

- Entendi!

- Então, vamos!

Começamos a nossa caminhada e andamos um pouco, logo

encontramos uma estrada.

- E agora, pra que lado vai?

- Não faço a mínima ideia, Jorge!

Ao longe, se aproximou uma caminhonete branca, bem velha e

soltando muita fumaça. Então, demos sinal para parar e o

senhor, que estava dirigindo, usava um turbante na cabeça, e

falando árabe, nos deus sinal para subir na carroceria. Subimos e

tinha umas três cabras amarradas ali. O cheiro era terrível, mas

pelo menos não teríamos que andar. Assim fomos, até

chegarmos em uma cidade pequena. Como era bom ver a

civilização novamente. Logo, a nossa carona parou e descemos.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

253

Fomos agradecer, mas o homem não queria assunto, apenas nos

deu sinal para irmos embora.

- E agora, senhor Simon?

- Veja! Ali tem um hotel, quem sabe alguém fale inglês e nos

ajude.

- Vamos lá!

Chegando lá, fomos atendidos por um rapaz da recepção, que

também era fã do Ronaldinho, e conseguiu um micro-ônibus pra

nos levar até o canal de Suez. De lá, poderíamos pegar uma

condução até o Cairo, e não precisaríamos pagar nada, com a

única condição de mandar uma camiseta autografada do

Ronaldinho.

- Já estou devendo duas camisetas autografadas!

- É, Jorge, pelo menos vamos voltar!

Esta viajem foi a única oportunidade que tivemos para dormir.

Alguns turistas se assustavam com o ronco do senhor Simon,

mas não era pra menos, ele devia de estar muito cansado. Assim

que chegamos ao Cairo, era de madrugada, estávamos exaustos.

Graças ao cartão do meu tio, conseguimos pagar um hotel e ali

passamos o resto da madrugada.

MARCELO MENA

254

Capítulo 12

Voltando pra Casa

Acordei pela manhã com o barulho dos hóspedes, que estavam

saindo e conversando bem alto.

- Acordou, Jorge?

- Meu Deus, parece que levei uma surra, senhor Simon! Estou

com o corpo todo dolorido.

- E você só tem dezessete anos! Imagine como estou. Pelo

menos, conseguimos chegar vivos.

- Nem me fale. Vamos ter que ir à casa do Muled?

- Vamos sim. Temos que tentar. Antes, tome café e coma pão.

Você deve estar faminto.

Depois do café, pegamos um táxi até a casa do Muled e

apertamos o interfone da entrada. Antes de alguém falar

qualquer coisa o portão se abriu.

- Estranho, já abriu o portão.

- Vamos, Jorge! Que Deus nos guarde.

Fomos entrando e um segurança apareceu na entrada da porta e

fez sinal para seguirmos. Chegando numa sala enorme,

Tatuhãna estava sentada numa poltrona com um lenço nas mãos.

Seu rosto era de alguém que estivera chorando e o segurança

nos apontou o sofá para sentarmos.

- Que bom! Vocês voltaram vivos. – Disse Tatuhãna.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

255

- Você fala inglês? – Falou senhor Simon com olhar assustado.

- Sou a esposa do Muled.

Essa eu não esperava. A Tatuhãna era esposa do Muled, aquele

homem tratava a mulher como escrava, nunca iria imaginar.

- Então, Tatuhãna, gostaríamos de falar com ele. – Falou o

senhor Simon se acertando na poltrona.

- Vocês não ficaram sabendo? Não estavam junto com ele? –

Disse Tatuhãna, nos olhando admirada.

- Estávamos junto com ele, mas nos abandonou numa caverna e

saiu correndo com o seu segurança. – Falou o senhor Simon.

- Isto era costume dele. Toda vez que queria algo, fazia de tudo

pra conseguir, não importava o que fosse. – Disse Tatuhãna,

limpando o nariz com o lenço.

- E o que aconteceu? – Perguntei.

- Ele apareceu morto, junto com o segurança na praia de Abu

Galum. Os dois se afogaram, e junto ao corpo de Muled tinha

uma caixa metálica antiga. Os dois estavam pra ser trazidos pra

cá, para prepararmos o funeral deles, mas no meio do caminho o

segurança voltou à vida, dentro de carro funerário em que

viajavam pra cá. Arrancou a porta do carro e saiu correndo pela

estrada e ninguém conseguiu segurá-lo.

- Como assim? Ele não estava morto? E a caixa metálica? –

Perguntava o senhor Simon espantado.

- A caixa tinha sido levada a um posto da polícia, próximo onde

eles foram encontrados, pois como se tratava de um material

MARCELO MENA

256

antigo, ficou lá para ser analisado. Se fosse importante seria

levado para o museu, mas aconteceu outra coisa estranha. –

Disse Tatuhãna olhando diretamente ao senhor Simon.

- Que coisa? – Perguntei.

- Disseram que o segurança do Muled, que fugiu do carro

funerário, foi até o posto policial e conseguiu pegar esta caixa

antiga de volta. Os policiais tentaram impedi-lo, mas não

conseguiram. Houve até tiros e ele foi baleado diversas vezes,

mas não parou, conseguiu levantar um soldado com uma só mão

e jogá-lo longe, então saiu de lá correndo com a caixa.

- E alguém sabe onde ele está agora? – Perguntou o senhor

Simon.

- Ligaram um pouco antes de vocês chegarem, dizendo que o

encontraram morto, próximo a divisa de Israel. – Respondeu

Tatuhãna com um olhar de quem não sabia explicar.

- E a caixa? – Perguntei.

- Acreditam que algum ladrão tenha pego. Até agora, está

desaparecida. – Falou Tatuhãna com olhar de que não sabia

como tudo aquilo havia acontecido.

- Minha senhora, meus sentimentos pela morte de seu esposo. –

Disse o senhor Simon, segurando na mão de Tatuhãna.

- Pelo menos, agora vou ter um pouco mais de sossego. Não vai

mais aparecer polícia por aqui, questionando morte ou roubo

que Muled tenha praticado. – Disse ela.

- Entendo, mas precisamos pegar nossas coisas e partirmos para

o Brasil!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

257

- Sim! Fiquem à vontade, podem subir no quarto e pegar suas

coisas. Eu sei que Muled prometeu dar uma parte do tesouro, se

fosse encontrado, não foi?

- Desculpe, Dona Tatuhãna, mas ele era bem mentiroso. Não

dava pra acreditar nele. – Respondi.

- Eu sei, menino. Ele nunca cumpria suas promessas, por isso

abandonou vocês por lá. Ainda bem que ele gostou de você, pois

se parece muito com o nosso filho que morreu há alguns anos,

de uma doença rara. Acredito que por isto não matou vocês

antes. – Novamente, ela limpou o nariz em um lenço.

- Graças a Deus! – Falei.

- Podem subir. Fiquem à vontade. – Disse Tatuhãna.

Então, subimos para o quarto e começamos a arrumar as malas.

- Senhor Simon, que história maluca é essa do morto vivo?

- Provavelmente ele foi possesso por Lúcifer, que foi buscar o

cetro, Jorge.

- Mas ele pode tomar conta de um corpo morto?

- Olha, Jorge, é meio que difícil dizer, mas acredito que ele não

devia estar totalmente morto. Após os tiros, o corpo acabou

falecendo e ele deve ter tomado o corpo de outra pessoa e

levado à caixa para Jerusalém.

- Mas porque Jerusalém?

- É considerada a cidade de Deus, e é lá que ele quer conseguir o

seu domínio mundial.

MARCELO MENA

258

- Será que ainda tem chance dele não conseguir abrir?

- Sim! Salomão era muito sábio. Talvez, leve algum tempo pra

ele decifrar os códigos da caixa. O difícil é saber que ele pode

abrir esta caixa a qualquer momento. Não temos mais condições

de encontrá-la.

- Vamos partir mesmo, senhor Simon?

- Vamos, Jorge, já passamos muita coisa ruim por aqui e

acredito que foi da vontade de Deus que isto acontecesse.

- Entendi. Tudo tem que se cumprir, não é?

- Sim, Jorge! Por isto não conseguiremos encontrar a caixa.

-Por falar em ruim, como será que eles se afogaram?

- Eles devem ter pegado alguma das outras saídas, mas o rio os

alcançou e acabaram se afogando, indo parar no lado oposto ao

nosso.

- Deve ter sido uma morte horrível, que pena deles.

- É, Jorge, infelizmente receberam por aquilo que fizeram.

Nesta hora, entrou no quarto a Tatuhãna com duas bolsas nas

mãos.

- Por favor, quero que vocês aceitem estes presentes, pra tentar

pagar pelo prejuízo que Muled fez com vocês. – Disse ela,

colocando as bolsas no chão.

- Não precisa se desculpar. A senhora não tem culpa. –

Respondeu senhor Simon.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

259

- Eu sei, mas peguem estes presentes. Não é roubada, esta é uma

das minhas coleções, que comprei com meu salário. Recebam

como forma de perdão. – Ela falava, olhando para o senhor

Simon.

- A senhora não tem culpa pelos atos de seu esposo. – Disse ele.

- Eu sei, mas é um presente que quero dar a vocês, por favor,

recebam. Será uma honra pra mim. – Ela falava com uma voz

mais suave, olhando pro senhor Simon.

- Está bem! A gente recebe, muito obrigado! – Respondi,

segurando as duas malas que estavam bem pesadas.

- A partir de hoje vou ligar para alguns museus e

colecionadores. Devolverei aquilo que Muled roubou. – Disse

Tatuhãna.

O senhor Simon a abraçou e ela chorou bastante. Depois, saímos

da casa e ela mandou um carro nos levar até o aeroporto. Me

parecia que estava havendo certo clima entre Tatuhãna e o

senhor Simon.

- Tomara que Tatuhãna fique bem.

- Bem que o senhor podia casar com ela. Agora ela é milionária

e é viúva.

- Cada bobagem, Jorge!

- Não sei, mas acho que o senhor tem uma quedinha por ela.

- Pare, Jorge, a moça acabou de ficar viúva.

- Eu sei, mas quem morreu foi o Muled, não ela.

MARCELO MENA

260

- Me nego a falar qualquer coisa sobre isto!

- Tudo bem, mas nem quer saber se ela te achava interessante?

- Como você ia saber?

- Se interessou em saber, não é?

- Fique quieto, Jorge! Pare com isso!

- Tudo bem. É que acho que nós trocamos de sacola e devo ter

pegado a sua.

- Por quê?

- A minha tem uma carta endereçada ao Simon e no remetente

está escrito: Tatuhãna.

- Você está me zoando?

- Não estou. Quer ver?

- Me deixa ver.

Passei pra ele a carta. Enquanto esperávamos o voo, ele ficou

lendo e sorrindo. Então, fui e aproveitei pra ligar pra casa.

- Alô!

- Mãe?

- Jorge?

- Sou eu mãe, tudo bem por aí?

- Morrendo de saudades! Como vocês estão? Comeram?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

261

- Calma, dona Maria! Só estou ligando pra avisar que estamos

voltando.

- Verdade? E quando chegam?

- O nosso voo sai daqui alguns minutos, mãe.

- Ai que bom, filho! Vamos esperar vocês.

- A Sandra está aí? Não está, mas pode deixar que aviso ela.

- Está bem, mãe! Logo a gente chega. Vou lá buscar as malas

pra irmos, pois já chamou o nosso voo.

- Vai lá! Boa viajem, meu filho. Nós te amamos.

- Também te amo. Fica com Deus.

Desliguei o telefone e o senhor Simon estava saindo de um

telefone público.

- Vamos, Jorge! Já chamou para embarque.

- E aí, cadê a carta?

- A carta é minha, e particular!

- Hummm! Sei. Já entendi.

- Ela apenas contou que sofreu muito com o Muled, pois quando

se tornou uma cristã, ele resolveu colocá-la como sua

empregada, enquanto fazia festas com outras mulheres na sua

casa. Então, ela disse, na carta, que gostou de nós e quando nos

conheceu queria muito ter amizade, pois sabia que éramos

cristãos também. Ela sentia muita paz enquanto estávamos por

MARCELO MENA

262

lá, então, ela deseja continuar tendo uma amizade conosco.

Depois disto, liguei e conversei um pouco com ela!

- Uma amizade com a gente?

- Sim! Só isso!

- Está bem. Eu nunca vi o senhor com este sorrisinho.

- Estou feliz por podermos voltar pra casa.

- Sim, claro! Voltar pra casa apaixonado!

- Jorge, pare com isto. É apenas amizade.

- Sim, eu vou parar, mas que está apaixonado, está!

- Não vou falar mais nada. Você está muito engraçadinho!

Pegamos o voo e voltamos para casa. Vou ser sincero não via a

hora de voltar pra casa. Nós dois dormimos na viajem. Uma

hora, fui acordado pela aeromoça.

- Meu Jovem, desculpe incomodar.

- Oi! O que houve?

- Tem um senhor sentado ali na frente, ele me pediu pra te

chamar e pediu pro senhor ir até lá, pois ele precisa conversar.

- Quem é ele?

- Me desculpe, não perguntei o nome, mas ele me disse que você

o conhece.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

263

Levantei a cabeça para ver por cima do banco, só vi uma mão

acenando e me chamando.

- Está bem, muito obrigado. Já vou até lá.

Olhei para o senhor Simon para avisá-lo, mas ele estava

roncando, então, não quis incomodá-lo.

Pode ser que seja o casal que encontramos na ida ao Egito.

Fui até ele.

- O senhor me chamou?

- Sim, Jorge, senta aqui pra conversarmos.

- O senhor sabe o meu nome?

Ele retirava uma revista do banco, liberando o lugar, mas como

ele estava de cabeça baixa, não dava pra ver quem era. Foi

quando ele virou e olhou para mim. Jamais esqueço aquele

rosto.

- Jesus? É o Senhor mesmo?

- Sim, Jorge! Sou Eu mesmo.

- Mas o que faz neste voo?

- Você acha estranho estar dentro de um avião?

- Sim! Porque se eu disser que vi o senhor no avião, as pessoas

vão achar que iremos cair.

MARCELO MENA

264

- Ai, Jorge! Você me surpreende com cada coisa. Mas, estou

aqui pra gente conversar um pouco. Me diga, Jorge, como foi a

busca pelo tesouro de Salomão?

- Horrível, Jesus! Além de passar por várias situações terríveis,

quase morremos!

- Eu sei, mas se saíram muito bem.

- O pior foi ter perdido o cetro de ouro.

- Sim, aquele cetro foi algo terrível no passado.

- Não se preocupe, Lúcifer vai ter muito trabalho para decifrá-lo.

- E ele vai conseguir?

- Sim! Um dia, ele irá descobrir e vai levantar o anticristo.

- E porque o Senhor vai permitir tudo isso?

- É necessário que o homem tenha a oportunidade de escolha,

pois como seria Livre arbítrio, se não pudesse escolher?

- Entendo. Precisamos ter os dois lados. E de onde veio aquele

cetro?

- Uma das primeiras civilizações da Terra, onde o mundo que

você conhece era totalmente diferente. Já havia alguns seres que

se tornaram malignos e eles conseguiram fabricar aquele cetro.

Com ele, se consegue atrair tudo que é maldade, tanto da pessoa

que o segura, como pra quem é apontada, abrindo portas para

que os demônios ajam.

- Mas uma pessoa justa e inocente pode ser corrompida por este

cetro?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

265

- Se a pessoa for justa, sincera e temente a Deus jamais será

possuída, ou dominada. Mas, infelizmente, o ego humano é

complicado e pode se corromper. Com este cetro, Lúcifer irá

lutar contra a igreja no futuro, pois ele dominará muitos povos,

mas a pessoa que ainda confiar em Deus, ele não conseguirá

dominar. Pra resolver esta situação vai perseguir e matar todos

os que se disserem Cristãos.

- Isto será terrível!

- Eu sei, por isto mandei meu servo João escrever as cartas do

apocalipse às igrejas, para que aproveitem a porta da graça,

enquanto estiver aberta, e subam no arrebatamento. Não quero

ver ninguém sofrer, mas como existe a escolha, alguns não

querem aproveitar a oportunidade e vão ficar. Após o

arrebatamento, irão se arrepender, e aí, passarão pelo

sofrimento.

- Entendi!

- Eu vim aqui apenas para confortar o seu coração e do Simon,

para que não se preocupem com o cetro. Era necessário que isto

acontecesse e vocês acabaram fazendo parte do meu plano

divino, através dos séculos.

- Olha, sou muito grato por ter sido escolhido, mas da próxima

vez, pode ser um pouco mais leve, sem muitos perigos?

- Você, Jorge, é muito hilário! Fica querendo algo mais

tranquilo, mas ama as aventuras que passa com o Simon. Não é

verdade?

MARCELO MENA

266

- Isso realmente é verdade, aprendo muito com ele. O senhor

Simon vai ficar feliz em saber que você está aqui, posso chamá-

lo?

- Não precisa, já conversei com ele.

- Sério? E quando foi isto?

- Foi antes de te acordar. Passamos um bom tempo conversando,

e sabe, Jorge, ele te ama muito, como se fosse o filho dele. Você

acabou tirando este homem da solidão que vivia e fê-lo viver

novamente. Você está de parabéns.

- Vindo do Senhor, eu fico muito grato!

- Sabe, Jorge. Existem, no mundo, muitos com o mesmo

problema, na solidão. Às vezes, estão entre muitos amigos e

familiares, mas completamente ilhados e sozinhos, precisando

de um Jorge para vencer esta batalha. Alguns conhecem a

verdade, mas estão tão acostumados com o conforto que não

possuem coragem de ajudar os outros, vivem preocupados só

consigo mesmo e sem dar a mão de ajuda. Posso dizer que

também são solitários. O homem foi feito para viver em

companhia de outros, nunca sozinho.

- E o que podemos fazer para melhorar?

- Só isso, Jorge, apenas querer fazer, já é o início para a pessoa

vencer, depois precisa entrar em ação. Por isso, continue sempre

fazendo o que você tem de melhor.

- Sim, eu vou fazer.

- Fica na minha paz. Até a próxima oportunidade, Jorge!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

267

- Como assim?

Nesta hora, Jesus sorriu me abraçando e uma luz muito forte

começou a brilhar. Era tão intensa que meus olhos começaram a

arder, então, os fechei e quando abri o avião já tinha pousado. O

senhor Simon ainda dormia e eu estava do seu lado. Tudo

parecia ter sido um sonho, novamente.

- Senhor Simon, chegamos!

- Oi, Jorge. Já chegamos?

- Sim, graças a Deus!

- Vamos lá, porque esta viajem parece que passou muito rápido.

- Tem razão, senhor Simon, nós dois dormimos e nem vimos

nada.

- Tive um sonho maravilhoso, você nem sabe quem me acordou

no avião, Jorge.

- Sei sim, por um acaso foi a Grande Sabedoria?

- Como você sabe?

- Sonhei com Ele também. Me disse que já tinha conversado

com o senhor.

- Olha, Jorge, em toda minha vida de cristão, nunca tive tanta

comunhão com Ele, como estou tendo agora, depois de conhecê-

lo pessoalmente.

- Isto é verdade. É maravilhoso!

- Você pode contar comigo para o que precisar, Jorge.

MARCELO MENA

268

- Sim, senhor Simon, agradeço muito.

Descemos do avião, e após pegarmos as bagagens, saímos.

Estava todo mundo esperando, do lado de fora, a nossa chegada.

A minha tia, com um barrigão enorme, sentada numa poltrona,

comendo o que parecia ser um doce e meu tio, do seu lado.

Minha mãe e a Sandra estavam de pé, olhando pra multidão

saindo e meu pai pegando água. Assim que Sandra me viu,

correu e se agarrou no meu pescoço, me beijando. Todos vieram

nos cumprimentar e meu tio já foi pegando as malas com o meu

pai.

- Que saudades, Jorge! – Falou Sandra agarrada no meu

pescoço.

- Eu também estava, Sandra!

- Você e o Simon parecem que emagreceram! – Disse minha

mãe, nos olhando da cabeça aos pés.

- Foi muita caminhada a pé, mãe.

- Vocês não comeram direito por lá? Ainda bem que preparei

um banquete em casa.

- Agradeço, dona Maria. Realmente, o Jorge e eu perdemos

muito peso. A comida de lá é bem diferente da sua. – Disse o

senhor Simon.

- Olha, Simon, pode ficar tranquilo que em poucos dias vocês se

recuperam, pois se depender da Maria, amanhã mesmo já estão

bem gordinhos. – Explicou a minha tia

- Enquanto a gente esperava vocês, ela já deixou um cartão da

doceria nesta empresa de avião. – Concluiu o meu tio.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

269

- Seria bom mesmo que eles aceitassem pegar os doces da

minha mãe, pois a comida e o doce dessa empresa são horríveis!

– Respondi.

Assim, fomos conversando, matando a saudade. Nos dividimos

nos carros do meu pai e do meu tio para voltarmos. Chegamos

em casa, realmente, minha mãe tinha feito um belo de um

banquete, tinha de tudo, desde frango assado, até pão doce. O

senhor Simon comeu que não aguentava mais, enquanto todos

ficaram por ali, contava sobre o que passamos no Egito. É

lógico que não comentamos sobre tudo, só comentamos sobre

os pontos turísticos e outras histórias que vivemos. Então, a

Sandra me chamou à parte e sentamos na sala para

conversarmos sozinhos.

- Jorge, me fale o que realmente aconteceu, pois o Simon só está

falando de como eram as pirâmides e a Terra santa, mas eu sei

que tem mais coisas por trás. – Sandra falou bem baixo no meu

ouvido.

- Realmente, Sandra, contarei desde o início que chegamos lá e

o que aconteceu.

Contei toda a história pra Sandra. Ela, às vezes, ficava

admirada, assustada. Uma hora, até chorou e ficou muito

emocionada com tudo. Quando terminamos, o dia já estava

amanhecendo e cada um foi pra sua casa, tentar descansar um

pouco. Meu tio levou a Sandra e o senhor Simon embora, eu

também fui tentar descansar um pouco e me adaptar com o

novo fuso horário.

MARCELO MENA

270

Capítulo 13

A Verdade

Levantei, já era hora do almoço, sentia o cheiro de carne assada

na cozinha. Fui até lá e vi minha mãe toda atarefada com as

coisas.

- Dormiu bem, filho? – Perguntou minha mãe, segurando uma

panela com água fervendo.

- Graças a Deus, dona Maria!

- Já estou terminando de arrumar a mesa e logo você pode

almoçar.

- A senhora vai trabalhar hoje?

- Não. Hoje dei folga pra Valdete e a Tânia, pois ontem

adiantamos tudo pra irmos buscar vocês, sabia que a conversa ia

varar a madrugada.

- E o pai?

- Ele teve que fazer as entregas, mas logo ele chega pra almoçar,

você pode comer.

- Que saudades desta comida temperada. Diga, mãe, como

ficaram as coisas por aqui?

- Bem, você ficou sabendo do Antônio do bar?

- Não, o que aconteceu?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

271

- Logo depois que vocês viajaram, ele saiu do hospital com uma

ótima melhora e o pai da Sandra o encaminhou para a clínica e

está se recuperando muito bem.

- Que legal fico feliz que tenha melhorado!

- Agora, tem alguém que não deixou de visitá-lo um dia sequer.

- Quem foi?

- A Valdete! Ela tem ajudado, dando remédio, trocando os

curativos. Não sei não estes dois.

- Vai ver que a Valdete está apaixonada.

- Com certeza está, filho!

- Estes dias, aconteceu algo interessante na igreja. Apareceu

uma senhora e pediu para o seu tio a deixar falar. Ela havia

levado sua filha pequena ao hospital, pois estava muito doente, e

quando chegou lá, sua filha havia morrido. Os médicos disseram

que não tinha mais o que fazer, e graças a um jovem da nossa

igreja, que orou por ela, a menina voltou à vida.

- Verdade? Como ela sabia que era da igreja?

- Uma enfermeira disse que já tinha visto o jovem, que esteve no

quarto com a menina, e ele era da nossa igreja.

- E a igreja sabe quem é o jovem?

- O seu tio deve saber, mas ele disse que é melhor não revelar,

pois o jovem não quer que fique falando.

- Que bom, a família desta mulher deve estar feliz.

MARCELO MENA

272

- Agora, eles fazem parte da igreja e estão ajudando nos

trabalhos sociais. Não vêm a hora de conhecer o jovem para

agradecer.

- Que bom! O tio deve estar feliz.

- E como está feliz.

- Mãe, vou à casa da Sandra!

- Sei, já vai namorar. Não volte tarde.

- Pode deixar, mãe. Vou dar uma olhada nas minhas coisas e

guardar as roupas.

- Não se preocupe, deixa que guardo as suas roupas.

- Está bem, mas antes de guardar, preciso dar uma olhada nas

coisas que trouxemos.

Subi no quarto e resolvi abrir a sacola que havíamos ganhado da

Tatuhãna. Quando vi, estava com bastantes peças de

antiguidade, entre elas, um relógio de bolso, bem antigo, e que

estava funcionando, era feito todo de ouro. Tinha, também, um

pequeno prato de porcelana, que pertencia a uma dinastia

chinesa antiga. Uma pequena bolsa guardava algumas moedas

romanas e um bracelete de ouro. Desci e dei o prato de

porcelana de presente pra minha mãe, ela ficou muito feliz e

colocou dentro de uma prateleira de vidro, para ficar a mostra.

- Vai ficar lindo aqui, você não acha, Jorge?

- Sim. Ficou legal, mãe!

- Este é o presente do melhor filho do mundo!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

273

- Não exagera, dona Maria. Já vou indo!

- Vai com Deus.

Fui para casa da Sandra. Quando cheguei, o irmão dela veio me

atender.

- Oi, Jorge!

- Fala, Sandro, tudo bem?

- Agora, graças a Deus estamos muito bem, pois ninguém mais

aguentava a Sandra chorando e dizendo que estava com

saudades de você.

- Imagino. A Sandra está aí?

- Está! Entre.

Alguém lá de dentro da casa gritou:

- Quem é que está aí, Sandro?

- É a múmia da lagartixa que veio do Egito, Mãe!

A Sandra veio correndo ao meu encontro. Ela deu uma tapa nas

costas do Sandro, só deu pra ouvir o belo de um estralo.

- Ai, Sandra! Dói! – Disse ele, colocando as mãos nas costas.

- Isso é pra você parar de chamar o meu namorado de lagartixa!

- O dia que ele engordar, eu paro de chamá-lo de lagartixa e

chamo de lagarto gordo, ok?

MARCELO MENA

274

- Seu bobo. Vou chamar a sua namorada de lombriga. – Gritou a

Sandra, me abraçando.

- Quero ver você chamá-la de lombriga! – Disse o Sandro, se

afastando com medo de levar mais um supetão.

- Só não chamo porque ela é minha amiga.

- Sandra, pare de brigar! – Falei pra ela.

- Isso, Jorge, bota juízo nesta garota chorona. – Respondeu

Sandro, correndo.

Ele entrou e a mãe da Sandra, a Nandinha, veio me abraçar.

- Liga pra eles não, Jorge, irmãos são assim mesmo, o dia todo

brigando, mas não vive um longe do outro.

- Que nada, eu sei que eles se amam.

- Ele é um chato, fica chamando o Jorge de lagartixa, e eu não

gosto, mãe.

- Ele fala isso, pois sabe que te provoca, Sandra. Me fale, Jorge,

foi boa a viajem?

- Sim, foi muito boa, Nandinha.

- Mãe, o Jorge e eu vamos sair pra passear.

- Está vendo, Jorge, tem ciúmes até de mim, não deixa nem a

gente conversar.

- Claro que não, mãe. É que faz tempo que a gente não sai.

Depois que a gente voltar, ele te conta sobre a viajem.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

275

- Está bem, Sandra. Depois a gente conversa, Jorge.

- Até mais, Nandinha. – Respondi.

Percebi que Nandinha voltou resmungando pra dentro da casa.

- Você podia ter me deixado contar sobre a viagem.

- Ela ia ficar te alugando um montão, depois você fala. É que eu

consegui uma coisa que vai te deixar feliz.

- O que?

- Sabe as camisetas que você disse que ficou devendo pros

egípcios?

- Sei, as autografadas pelo Ronaldinho.

- Eu consegui!

- Como conseguiu?

- Meu pai tem um amigo que é funcionário em um dos sítios do

Ronaldinho. Falei pra ele, e assim ligou para o homem, e me

disse que amanhã envia pelo correio as camisetas autografadas.

- E quanto vai ficar?

- Não vai custar nada. Ele está mandando pro meu pai como um

favor pelo que fez por ele quando estava desempregado.

- Que Maravilha, Sandra!

- Assim, você paga o que prometeu lá no Egito.

- Valeu mesmo, Sandra!

MARCELO MENA

276

- Agora, nós vamos tomar um sorvete.

- Vamos, mas antes, quero te dar um presente que trouxe do

Egito.

- E o que é?

- Isto aqui! - Coloquei a mão no bolso, tirei a pulseira de ouro e

entreguei.

A Sandra colocou no pulso, ficou admirando, me abraçou e me

beijou muito.

- Que lindo, Jorge! Deve ter custado uma fortuna.

- Vamos dizer que ganhei de presente.

- A mulher taturana?

- Não, Sandra, é Tatuhãna.

- Não importa! Amei. Espera, vou mostrar pra minha mãe e

depois a gente vai tomar sorvete. – Disse Sandra, correndo para

dentro da casa.

A mãe da Sandra ficou admirada. Sandro saiu na porta e disse:

- Você quer acabar comigo, não é, Lagartixa?

- Eu? Por quê?

- A Sandra vai mostrar pra minha namorada e ela vai me

infernizar pra comprar uma pulseira de ouro pra ela. – Falou

Sandro com uma cara fechada.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

277

Sandra deixou a pulseira pra mãe guardar e veio correndo toda

feliz.

- A Marina vai querer uma. Quero ver você trabalhando,

fazendo hora extra pra pagar, Sandro! – Falou a Sandra fazendo

careta para o Sandro.

- Vocês dois são uns chatos! Está vendo mãe o que fazem

comigo?

A Nandinha apenas ria. Saímos pra sorveteria.

- Você ficou sabendo do Nando, Jorge?

- Não. O que aconteceu?

- Ele foi preso com mais cinco garotos.

- Não acredito, Sandra. Por quê?

- Ele pertencia à gangue que batia nos bêbados e mendigos.

- Meu Deus! Não acredito nisto. Não é possível, como

descobriram?

- No dia que eles pegaram o Antônio do Bar, havia uma casa

com câmera que acabou gravando tudo. O pior que todos os

garotos são de classe média.

- Sandra, que absurdo!

- O Nando sempre foi descabeçado, Jorge!

- Eu sei, mas nem imaginava isso dele. Vou ter que ir falar com

ele.

MARCELO MENA

278

- Ele é um bandido! Quase matou o Antônio do Bar.

- Eu sei, Sandra, mas preciso ver o que ele fala sobre isto. Eu

não consigo acreditar.

- Não sei, Jorge! Depois você pensa nisto, agora vamos tomar

um belo sorvete.

- Ok, Sandra.

Depois de tomarmos sorvete, saímos e passamos em frente à

loja M&D Modas. Me lembrei do que Jesus tinha dito.

- Sandra, vamos comigo ali, naquela loja.

- E o que você vai fazer lá?

- Vou comprar aquele tênis, que eu tanto queria.

- E você tem dinheiro?

- Tenho uns trocados aqui comigo.

- Mas será que dá pra comprar, Jorge?

- Vamos lá ver pelo menos o preço.

- Vamos, quem sabe você pode parcelar.

Entramos na loja e estava bem arrumada. Havia várias

prateleiras de roupas e sapatos, também tinha uma área só de

esportes. No fundo da loja, havia um balcão com as duas

proprietárias. Só percebi isto, porque os demais funcionários

usavam uniformes.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

279

- Jorge, olha o tênis ali! Está em promoção, cinquenta por cento

de desconto! – Falou Sandra, indo na direção à prateleira.

- Foi por isso que Jesus me mandou vir nesta loja.

- Como que é, Jorge? Jesus te mandou vir na loja comprar um

tênis?

- Sim! Tudo por causa da promoção.

- Você acha que por causa da promoção ele te mandaria aqui?

- Ele queria que eu economizasse.

- Sei não, Jorge. Tudo bem que Jesus quer o nosso bem, mas pra

comprar um tênis em promoção? Acho que esta história está

meio estranha.

- E qual outro motivo seria?

- Sei lá, só estou achando estranho.

Nisto, uma vendedora, que usava o uniforme da loja, se

aproximou.

- Desejam alguma coisa? – Perguntou ela, nos olhando.

- Aquele tênis, eu gostaria de experimentar. – Respondi.

- Sim, claro! Está em promoção. Qual seria o número? – Falou a

vendedora, olhando para os meus pés.

- Pode trazer o quarenta e um.

- Podem se sentar ali. Já volto!

MARCELO MENA

280

Nos sentamos num banco, de frente para um espelho grande,

que ia do chão até a parte do teto, dava pra ver tudo o que

acontecia na loja. Pelo espelho, vi que tinha uma senhora

limpando a loja, que também possuía o mesmo uniforme. Com

um espanador ela tirava o pó das prateleiras e dos produtos. A

Sandra ficava se olhando no espelho sem parar.

- Eu sabia que esta calça não ficava muito bem em mim. – Disse

a Sandra, puxando a sua calça e se olhando no espelho.

- Como assim, Sandra?

- Olhe, a calça fica torta na parte de trás.

- Imagine, Sandra. Está perfeito!

- Homem não entende de roupa mesmo.

Nesta hora, percebi que a mulher que estava tirando pó, não

parava de olhar pra nós.

- Sandra.

- O que foi?

- Está vendo aquela senhora?

- Sim, o que tem?

- Ela não para de olhar pra nós, acho que pensa que nos

conhece.

- Espera aí, Jorge, aquela é a Rosa. Ela trabalhou com minha

mãe uns dias no artesanato.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

281

- Então deve ser por isto que está nos olhando. Vamos

cumprimentá-la?

- Claro, Jorge!

Fomos até onde a mulher estava e ela virou de costas, como se

estivesse fazendo algo na prateleira.

- Oi, dona Rosa, tudo bem?

Ela virou e ficou me olhando. Estava meio pálida e tremendo.

- Oi, Sandra. Esse menino é o...

- É o Jorge, meu namorado!

Estendi a mão para cumprimentá-la, mas ela abaixou o rosto,

começou a chorar e saiu rápido, empurrando a Sandra. Foi até o

fundo da loja, abrindo uma porta. Algumas moças, que estavam

no caminho, tentaram falar com ela, mas não conseguiram.

- O que deu nela, Sandra?

- Eu sei lá, Jorge!

- Será que ela está passando mal?

Nesta hora, a dona da loja veio em nossa direção, era uma jovem

de cabelos longos e lisos.

- Posso saber o que aconteceu aqui? – Falou a moça, nos

olhando brava e com as mãos na cintura.

- Nada. Só viemos falar com ela, pois já trabalhou pra minha

mãe, mas, de repente, perguntou o nome do meu namorado e

saiu correndo. – Respondeu a Sandra.

MARCELO MENA

282

- E como é o nome de vocês? – Perguntou a moça.

- O meu é Sandra, o dele é Jorge!

- Jorge?

- Isto! Por quê? – Perguntei.

- Meu nome é Délia Isis, por favor, venham comigo até o meu

escritório.

No caminho, Sandra me olhou, balançando os ombros sem

entender. A moça, que foi buscar o meu tênis, apareceu e a

Délia deu sinal com a mão, então, ela deixou a caixa sobre o

balcão e foi atender outro cliente. Passamos as portas do fundo e

entramos numa outra sala. Lá, outra jovem, sentada, de cabelos

curtos, estava no telefone, quando nos viu entrar terminou logo a

conversa e desligou o aparelho.

- Esta é minha irmã e sócia da loja, o nome dela é Mariza.

- Muito prazer, meu nome é Sandra e este é o Jorge.

- Muito prazer. O que foi Délia?

- A Rosa passou mal e está no refeitório, tomando uma água

com açúcar por causa deste Jorge. – Falou a Délia, me

apontando.

- Ele é o Jorge? – Falou a Mariza, ficando de pé, com um baita

barrigão de grávida que estava.

- Sim, pelo jeito é ele. – Délia respondeu, puxando uma cadeira

para nós.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

283

- Espera um pouco, o que está acontecendo, vocês me

conhecem? – Perguntei.

- Nós não podemos falar. Espere até a Rosa chegar. Respondeu

Mariza.

As duas ficavam me olhando e um silêncio tomava conta da

sala. Então, a porta se abriu e a Rosa entrou. Com os olhos

inchados de tanto chorar, se sentou numa cadeira. A Délia

chegou perto da Rosa e disse:

- Olha, Rosa, hoje você tem uma grande oportunidade, não era o

que você pedia a Deus?

- Sim, Délia, mas não posso falar.

- Falar o quê? A senhora me conhece? – Perguntei.

Ela virou o olhar e ficou olhando pra janela, chorando. A Mariza

se levantou e disse:

- Olha, Rosa, você fez uma promessa, não foi?

- Sim. Eu não posso falar. – Disse Rosa, curvando a cabeça.

- Tudo bem. Você não precisa falar, deixa que eu mesma digo. –

Mariza foi empurrando a cadeira.

- Não. – Rosa falou, segurando a Mariza.

- Assim, você não quebra a sua promessa. Você tem certeza que

é ele? – Disse Mariza.

- Sim, é ele mesmo, mas deixe-os ir embora e tudo volta ao

normal como estava. – Rosa falou, chorando.

MARCELO MENA

284

- Não, senhora. Deixa de sofrer, mulher. É o seguinte, Jorge,

esta mulher ela é sua mãe. – Falou Mariza.

- Como é? Está ficando maluca? A minha mãe se chama Maria

das Dores! – Respondi bravo.

- Essa é sua mãe adotiva. – Falou Délia.

- Pare! Eu tenho a certidão do meu nascimento. – Respondi.

- A dona Rosa vai esclarecer o assunto. – Falou Mariza

- Vocês devem estar confundindo a pessoa! – Falei.

A dona Rosa olhou pra mim e a Sandra segurou forte a minha

mão.

- Jorge, sente aí e me deixa esclarecer o assunto. – Rosa falou,

segurando no meu ombro.

- Não tem assunto! Eu sou filho da dona Maria, ela é minha

mãe. – Respondi, tirando a sua mão do meu ombro.

- Fique calmo, Jorge! Vamos esperar pra ouvir.

- Sandra, esta mulher é maluca.

- Bem, dona Rosa, a Mariza e eu vamos sair e deixar vocês

conversarem. Qualquer coisa, estaremos do lado de fora. – Disse

Délia, puxando a Mariza.

Sentei, sendo puxado pela Sandra, e ficamos ali pra ouvir o que

ela tinha pra falar. A Délia e a Mariza saíram da sala.

- A história começa há mais ou menos uns dezessete anos atrás.

Meu marido Humberto e eu estávamos passando uma grande

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

285

dificuldade, ele estava desempregado e eu estava grávida, só não

passamos fome, por causa de ajuda de alguns vizinhos. Meu

marido resolveu que deveríamos voltar ao nosso Estado, pois lá

ele tinha família, que poderia nos ajudar. Quando conheci o

Humberto, tinha acabado de perder minha mãe e não tinha mais

família, então, a nossa esperança seria viajarmos pra lá.

Quando ela falou do Humberto, minha alma gelou, pois me

lembrei do Humberto que conheci no paraíso, mas acreditei ser

coincidência.

- Então, Humberto tinha aqui um grande amigo chamado Chico,

que trabalhava numa eletrônica e frequentava uma igreja

chamada: Caminho dos Céus. Ele nos daria o dinheiro pra esta

viajem. O problema era que não poderia viajar grávida, então,

teríamos que esperar mais alguns dias. Perdemos a casa, onde

morávamos, e fomos ficar num cômodo emprestado de uma

vizinha, foi então que você nasceu.

- Eu não sou seu filho, Rosa!

- Espera, Jorge! Vamos ouvir a história. – Disse Sandra.

- Eu sei que é difícil, Jorge, mas você vai entender tudo no final.

- Então, como estava falando, você nasceu e meu marido te

pegou nos braços, foi muita emoção pra nós, mas logo no outro

dia, ele teria que viajar para preparar as coisas e encontrar a

família. Assim, fiquei sozinha, esperando o seu retorno. Depois

de dois dias, recebi a notícia de que o ônibus em que ele viajava

se perdeu na estrada, capotando e matando muitas pessoas,

inclusive ele. Fiquei sozinha com uma criança recém-nascida,

sem ter o que fazer. Foi então que o Chico e a Maria me

procuraram e se ofereceram para cuidar do bebê. Assim, eu

MARCELO MENA

286

poderia voltar a trabalhar e refazer a minha vida, mas que

deveria me esquecer do bebê, pois como eles não tinham filhos,

o tratariam como seu e eu nunca mais poderia vê-lo. Jamais

deveria contar sobre isto. Na situação que eu estava não sabia o

que fazer. Até a minha vizinha, que sedia o quarto, pediu que

saísse, para ela poder reformar e alugar. Então, como não tinha

mais o que fazer, deixei o bebê com eles e me deram um bom

dinheiro para refazer minha vida. Saí daqui e fui morar em outra

cidade, lá comecei de novo, mas ficava em meu peito uma dor

imensa, pois queria revê-lo e de tê-lo de volta. Foi quando, há

oito anos, voltei e aluguei uma casa, próximo da mãe da Sandra

e trabalhei com ela no início. Sempre te via indo pra escola, com

os colegas, ao lado da Sandra e sempre tive vontade de te contar

tudo, mas você tinha uma família feliz e não podia estragar tudo

isso. Comecei a ter depressão e passei muito mal. Foi quando

conheci estas duas irmãs, que me ajudaram muito. Hoje, estou

tendo a oportunidade de falar de algo que está há mais de

dezessete anos guardado: Sou sua mãe, Jorge!

- A senhora está maluca! Não sou seu filho.

Naquela hora, saí daquele lugar correndo. Minha cabeça estava

uma confusão, já não sabia o que fazer. Acabei deixando a

Sandra e fui pra minha casa, queria saber toda a verdade.

Lembrava-me dos momentos com minha mãe, quando pequeno.

Aquela mulher, falando ser minha mãe, me causava enjoo. Eu

estava muito nervoso, queria chegar em minha casa pra que

minha mãe dissesse que tudo era mentira. Cheguei em casa,

minha tia Fábia e meu tio Fred estavam na sala conversando

com meu pai, enquanto minha mãe estava na cozinha. Entrei e

fui direto pra onde ela estava.

- Mãe, fale que é mentira daquela mulher.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

287

- O que foi, Jorge? Que mulher? Porque está tão pálido,

aconteceu alguma coisa?

Comecei a chorar, todos vieram pra cozinha, meu tio Fred me

abraçou.

- O que aconteceu, Jorge? – Perguntou ele.

- Eu estava com a Sandra na loja de tênis. Lá, tinha uma mulher

com o nome de Rosa e ela me disse que não sou seu filho, e que

sou filho dela.

Minha mãe se sentou com as mãos na cabeça, meu pai fechou a

cara e falou:

- Jorge, esta mulher é maluca, de onde ela tirou isto?

- Esta é boa, Ruela, arrumou uma maluca de mãe?

- Pare, Fred, o menino está assustado! - Disse minha tia.

- Ela disse que conhece vocês e que há dezessete anos me

entregou.

- Essa mulher está querendo confundir a sua cabeça e destruir

nossa família. – Disse o meu pai, batendo com a mão na mesa.

Minha mãe me olhou nos olhos, e me lembrei de quando queria

me repreender ou me ensinar, sempre fazia isto. Ela, então,

bateu na mesa e disse:

- Chega, Chico! O Jorge tem que saber a verdade.

- Não, Maria! Isso vai estragar tudo que construímos. – Disse o

meu pai.

MARCELO MENA

288

- Devíamos ter contado tudo a ele, agora ficou sabendo da pior

forma. – Falou minha mãe, me abraçando.

- Ela prometeu não contar nada! – Meu pai falou, se sentando

numa cadeira.

- Como assim, mãe, é verdade esta história?

Meu tio se levantou, olhou pra minha tia Fábia e disse:

- Bem que desconfiei. Lembra, Fábia, sempre te disse que

achava que o Jorge não era filho do Chico, pois era branquinho

demais.

- Como assim, tio?

- Ficamos sabendo que sua mãe tinha tido um bebê, pois como

morávamos longe daqui, nos víamos cada três anos. Nem

imaginava que você não era filho deles. Eles nunca falaram

nada.

- Jorge, fique calmo. Deixa explicar certinho o que aconteceu. –

Disse minha mãe, chorando e me segurando.

- Então, vocês mentiram este tempo todo pra mim?

- Você pode não ser meu filho de sangue, mas te amamos,

Jorge!

- Por isso meu pai nunca me tratou com carinho, pois sabia que

não era seu filho.

- Sempre fiz o melhor pra você! – Respondeu ele.

- Eu não acredito no que estou ouvindo. Até você mentiu pra

mim, mãe.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

289

- Jorge, me perdoe! Você sempre será meu filho.

Enquanto minha cabeça doía de pensar, minha tia começou a

passar mal, suar muito e sentir dores.

- O que houve, Fábia? – Perguntou meu tio, segurando ela.

- Ai, Fred, é muita coisa pra mim, me leva para o hospital estou

muito mal. Jorge, eu quero que saiba que sempre serei sua tia,

lembre-se que sempre te amei.

Meu tio a carregou no colo e meu pai ajudou colocá-la no carro.

Ele saiu em alta velocidade para o hospital.

- Vamos, Jorge, entrar e conversar, colocar tudo a limpo. –

Falou meu pai.

- Por isso, quando saí de casa você nem se preocupou comigo. A

dona Maria ficava preocupada, com medo de eu descobrir tudo,

né?

- Jorge! Por favor, vamos conversar. Sempre te tratei como filho

e amei de todo coração. Seu pai e eu precisamos esclarecer tudo,

não quero te perder, filho.

- Agora não! Quero ficar sozinho.

Minha mãe tentou me segurar, mas saí correndo pela rua. De

longe, podia ver ela caída de joelhos no chão, chorando e meu

pai tentando levantá-la. Corri muito, até subir no morro do

sossego (que tem este nome por ficar retirado do bairro e de lá

de cima dá pra ver toda a cidade) sempre subia ali quando era

criança, pra soltar pipa, e quantas vezes meu pai vinha me

buscar e me levava pelas orelhas. Agora, começava entender o

porquê de tanta raiva que ele me tratava. Não conseguia

MARCELO MENA

290

acreditar em tudo aquilo, como queria desaparecer e sumir do

mapa, que dor no meu peito. Sentei sobre uma pedra e o dia

estava bem claro, a cidade continuava funcionando

normalmente, enquanto que pra mim tudo estava

desmoronando. O que estava acontecendo comigo, porque não

podia ser filho da minha mãe? Quem era aquela mulher

chamada Rosa? Como ela podia ser minha mãe se nem a

conheço? Por que mentiram pra mim?

- Jesus! Jesus! Por favor, me ajuda. Fale comigo. Não sei o que

fazer!

Minha voz ecoava entre as pedras e a vegetação. Uma brisa

soprou entre as árvores, esperei uma resposta e nada.

- Por que não fala comigo? Estou aqui, não me desampare,

Jesus. Me ajude, fale comigo!

Baixei a minha cabeça e comecei a chorar. Nunca saíram tantas

lágrimas dos meus olhos como nesta hora, foi quando ouvi um

barulho por trás de mim. Como se alguém se aproximasse.

- Jorge, você está aí?

- Jesus, é você?

- Desculpe te decepcionar, mas sou eu, o Simon.

- Senhor Simon?

- Sim.

- O que o senhor faz aqui?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

291

- Eu estava me perguntando até agora sobre isto, o que estou

fazendo aqui. Lembra quando estávamos no avião, voltando pra

casa, Jorge?

- Você me disse que tinha tido um sonho com a Grande

Sabedoria, não foi?

- Foi mesmo! – Respondi.

- Eu também havia sonhado. Neste sonho, a Grande Sabedoria

me dizia pra que, quando eu voltasse, no outro dia, subisse este

monte, pois ele queria que eu ajudasse um amigo dele. Então,

subi e fiquei procurando a pessoa, não encontrava ninguém e já

estava com vontade de ir embora, até que eu ouvi você chorar e

me aproximei. O que aconteceu?

- Descobri que não sou filho da minha mãe e nem do meu pai.

Minha mãe verdadeira se chama Rosa.

- Como assim? Conte-me isso!

Contei pra ele toda a história de como encontrei a Rosa e tudo o

que aconteceu dentro da minha casa.

- Não acredito, Jorge. Você deve estar confuso com tudo isto.

- Não sei o que fazer, senhor Simon. Deixei tudo e vim pra cá

pra ver se Jesus falava comigo, mas Ele não me respondeu.

- E não vai responder, Jorge!

- Por que não?

- Você, agora, está com muita raiva e ódio no coração, não

consegue perdoar. Isto faz com que haja um bloqueio de

MARCELO MENA

292

comunicação entre você e Deus. Por isto me mandou aqui, pra te

ajudar.

- Eu não sei o que fazer.

- Você se lembra do que Jesus te disse, sobre descobrir o que há

de verdade, mesmo sendo mentira, Jorge?

- Sim, me lembro. Como enxergar a verdade, se a mentira é o

que mais aparece?

- Tente lembrar alguma coisa boa que sua mãe, ou o seu pai

tenham feito, que você realmente possa dizer que eles o amam.

- Não vou conseguir. Só consigo ver as coisas ruins de meu pai e

agora entender o motivo.

- E qual o motivo, Jorge?

- Eu sou adotado.

- Está bem. Então, vamos nos lembrar do que aconteceu no

hospital, quando você se encontrou com o Gabriel, e você teve

que orar por uma criança.

- O que tem?

- Você se lembra como a mãe ficou quando soube que ela havia

morrido?

- Desesperada. Sem saber o que fazer, pois ela havia perdido a

filha.

- Isto mesmo! E como você acha que ela ficou quando soube

que a filha tinha voltado?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

293

- Minha mãe, que não é minha mãe, falou que ela foi à igreja e

estava muito feliz pelo milagre.

- Sim. Agora, imagine quando a sua mãe verdadeira teve que te

entregar, quando ainda era pequeno, você acha que foi fácil?

- Mas ela me trocou por dinheiro.

- Acredito que não foi bem pelo dinheiro, Jorge. Foi pela sua

sobrevivência que ela aceitou isto, senão, estaria jogada na rua e

sem ter como alimentar o seu filho. Ela, depois que conseguiu se

recuperar, voltou. Imagine como foi a angústia de ver o filho e

não poder abraçá-lo, ou falar com ele.

- Eu fiquei triste por ela e pela situação, mas minha mãe podia

ter me contado a verdade?

- É, Jorge. A sua mãe podia ter te contado a verdade, desde

pequeno, mas ela nunca saberia o que seria ter um filho de

verdade, pois se você soubesse disto tudo nunca a trataria como

mãe, sempre a trataria como uma tia ou algo parecido, pois a sua

mãe seria outra.

- É difícil processar tudo isto na minha cabeça.

- Tenho certeza, Jorge que ela e seu pai fizeram isto achando

que era o melhor. Sabiam que um dia podia correr o risco de

você saber de tudo e deixá-los pra sempre, mas arriscaram, para

ter a oportunidade de serem pai e mãe de um jovem tão

maravilhoso.

- E o que vou fazer agora, senhor Simon?

- Quando estávamos naquele túnel, dentro do monte Sinai e o

isqueiro apagou, você se lembra?

MARCELO MENA

294

- Sim, que dificuldade foi naquela hora.

- Se ficássemos ali, parados, esperando uma solução,

poderíamos ter ficado por lá e morrido. Mas o que fizemos?

- O senhor disse pra ir apalpando e seguindo em frente.

- E o que aconteceu?

- Nos machucamos, caímos e nos arranhamos, mas seguimos até

achar a saída.

- Isso mesmo, Jorge! Então, a partir de agora, você vai andar por

caminhos bem diferentes, mas encontrará a saída de tudo isto,

não precisa correr, o importante é não parar. Veja o lado bom.

- Lado bom?

- Sim. Agora, você terá a oportunidade de ajudar uma mãe que

há dezessete anos espera muito ter o abraço do filho, e a outra

mãe entender que criou um filho de verdade, com caráter e

dignidade, que sabe reconhecer tudo o que fizeram por ele e que

é capaz de enfrentar obstáculos, mesmo que difíceis, mas de

cabeça erguida.

- O que devo fazer agora, senhor Simon?

- Primeiro, perdoar todos eles pela verdade que esconderam por

tanto tempo.

- Entendi. Só estou preocupado com uma coisa.

- E o que seria?

- No próximo dia das mães vou ter que comprar dois presentes?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

295

- Com certeza, três.

- Três?

- E a sua tia que tanto te ajudou?

- É verdade. Acho bom o senhor me dar um aumento.

- Assim que você voltar a trabalhar, a gente conversa. Venha

aqui, me dê um abraço, garoto. É por isto que gosto de você,

Jorge. Você tem um coração maravilhoso.

Nos abraçamos, e vou dizer, foi algo maravilhoso o que o

senhor Simon me fez ver. Agora, podia voltar e falar com meus

pais e minha nova mãe.

- Vamos voltar.

- Claro, senhor Simon.

- Graças a Deus, pois estou morrendo de fome. Da próxima vez

que a Grande Sabedoria me mandar fazer algo assim, vou pensar

em trazer um lanche.

- Jesus sabia de tudo isto e queria que esta situação fosse

resolvida, para que a minha mãe não passasse a vida toda

omitindo uma verdade, senhor Simon.

- É verdade, Jorge! Ele quer que todos andem na verdade.

- O senhor vai comigo pra minha casa?

- Não, Jorge! Agora, você vai sozinho e resolva tudo, se precisar

de mim é só ligar.

- Obrigado, Senhor Simon.

MARCELO MENA

296

Ele foi para sua casa e corri de volta pra minha. Quando

cheguei, minha mãe estava sentada na sala com meu pai, os dois

estavam chorando. Quando minha mãe me viu, correu me

abraçar.

- Onde você estava, filho?

- Estava conversando com um grande amigo, o senhor Simon.

- A gente pode conversar agora, Jorge?

- Sim, mãe, me perdoe por ter saído assim, não sabia o que

fazer.

- Jorge, nos perdoe por não ter lhe contado antes. – Disse ela.

- Entendi porque fizeram isto e obrigado por serem meus pais.

Então, me sentei. Minha mãe e meu pai me abraçaram forte e ela

me contou toda a história:

- Jorge, seu pai e eu não podíamos ter filhos, mas tínhamos o

desejo de adotar uma criança. Foi quando o Humberto, amigo de

seu pai, nos procurou pedindo ajuda. Sua mulher estava grávida

e ele estava sem trabalho, mas queria encontrar um irmão dele

que morava em outro Estado e acreditava que poderia ajudá-lo.

Então, seu pai procurou, na época, o pastor Nilson da igreja,

para ver se tinha como ajudá-los, quem sabe arrumando um

lugar para eles ficarem ou achando emprego, até ele ir à busca

deste irmão. O pastor Nilson não quis fazer nada, pois dizia que

os dois não eram casados, por isso Deus o estava castigando, a

igreja não aceitava pessoas assim. Chico pegou algumas

economias, que davam o dinheiro da passagem, e uma vizinha

arrumou um quarto pra eles ficarem. Assim, você nasceu e seu

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

297

pai Humberto foi atrás deste irmão. Infelizmente, ele acabou

falecendo num acidente, deixando a mulher com a criança

pequena. Então, fomos até lá, pra ver como ela estava. O que

vimos ali foi terrível, o lugar não tinha nada, apenas um

pequeno colchão em que você dormia, enquanto ela dormia no

chão gelado, com apenas um lençol. Não tinha nada pra comer.

No dia que chegamos, fazia dois dias que ela não comia e estava

ficando sem leite. Então, arrumamos alguns alimentos e o Chico

te pegou no colo, naquele momento, você sorriu pra ele, foi a

primeira vez que vi seu pai chorar. Ele, então, disse que

venderia o carro e daria este dinheiro pra ela poder sair daquela

situação, se quisesse, cuidaríamos da criança dando roupa,

alimento, estudo e educação. Nós não poderíamos levá-la pra

casa, devido à igreja, senão, seríamos excluídos. Por isso,

deveria nos passar a criança, então, ela, sozinha, ficaria mais

fácil de arrumar emprego, quem sabe, um novo marido, mas

deveria esquecer-se do bebê e nunca mais voltar. Vendo que não

teria outra opção, aceitou e a ajudamos em tudo que foi preciso,

sem o pastor Nilson saber. No dia em que ela foi embora, fomos

até a rodoviária e, lá, ela nos entregaria o bebê. Aquela jovem

chorou demais e não queria se separar do bebê, até que me

entregou, te deu o último beijo e se foi. Ainda guardo a sua

roupinha, a que você usou naquele dia. Voltamos pra casa e

decidimos que você seria nosso filho, ninguém diria o contrário.

Seu pai fez de tripa coração para trabalhar sem carro, quantas

vezes ia buscar televisão nas costas, consertava e levava de

volta. Ás vezes eu dizia pra ele: Você se arrepende de ter

vendido o carro e ter pegado este bebê. Ele me olhava e dizia:

Eu venderia até a casa, se fosse possível, pra ter este menino

comigo, Maria! Ele só nunca soube demonstrar este amor,

Jorge.

MARCELO MENA

298

Nesta hora, corri até ele e o abracei como nunca. Vi aquele

homem gordo chorar feito criança.

- Me perdoe, Jorge.

- Perdoar o senhor por me amar?

- Sempre fui um ignorante e rude, mas sempre quis te dar uma

boa educação, para que você pudesse ser um grande homem.

- E conseguiu, seu velho Chico. Eu te amo! E quero que saibam

que sempre serão os meus pais de verdade.

Minha mãe nos abraçou e choramos muito naquele momento.

- Jorge, quando você viajou, meu coração doía muito,

principalmente quando não tinha notícias tuas. Fiquei pensando

como a sua mãe verdadeira deve ter ficado sem ter você. Por

isso, precisamos encontrá-la e conversarmos.

- Sim, mãe! Agora, não sei onde ela vai estar, a deixei com a

Sandra na loja e saí correndo de lá.

- Ligue para a Sandra. Acho que ela deve saber onde está a

Rosa. – Disse meu pai.

Fui até o quarto e liguei pra Sandra. Ela estava muito nervosa.

- Oi, Sandra.

- Jorge, como você está?

- Agora estou melhor.

- Fiquei preocupada. Você saiu que nem um louco da loja e me

deixou lá.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

299

- Desculpa, Sandra, a minha cabeça deu reboliço.

- Imagino. Você conversou com os seus pais?

- Sim. Agora, eu precisava conversar com a dona Rosa.

- Então, venha pra minha casa, ela está aqui com minha mãe.

Quando você saiu, liguei pra minha mãe e ela veio na loja. Pediu

pra Rosa nos acompanhar, preparou um calmante pra ela e agora

está descansando.

- Estou indo, Sandra!

Logo que desliguei o telefone, minha mãe ligou para o meu tio

Fred. Ele disse que estava tudo bem com minha tia, foi apenas

um mal estar, logo estariam voltando pra casa e amanhã

conversaria conosco. Saímos de casa e fomos à casa da Sandra.

Chegando lá, ela nos recebeu e nos convidou para entrar.

- E aí, Jorge, como você está se sentindo?

- Ai, Sandra, ainda estou muito estranho.

- Que bomba de notícia hoje! Vamos entrar, ela está na sala,

esperando vocês.

Entramos na sala e a Rosa estava com os olhos inchados de

tanto chorar. Ficou me olhando e esperando a minha reação. Eu

não sabia o que fazer, ali estava uma mulher totalmente

estranha e era a minha mãe. Foi quando recebi um empurrão da

Sandra que me jogou em direção à Rosa. Ela, então, veio ao

meu encontro e me abraçou forte, começamos a chorar e ela não

parava de pedir perdão.

- Perdão, perdão, perdão, meu filho, por tudo que fiz!

MARCELO MENA

300

- Mãe, a senhora está perdoada.

- Você me chamou de mãe?

- Sim. Agora eu sei que é a minha mãe.

- Eu queria muito reparar o meu erro, mas não posso filho.

- A senhora fez o que era certo naquele dia, me deixou com um

casal maravilhoso, que me ensinou tudo o que sei. Eles

souberam fazer tudo certinho. Infelizmente, foi preciso

acontecer desta forma. Então, não se culpe pelo que passou,

vamos seguir daqui pra frente, sendo uma família maior.

Minha mãe, Maria, ficava olhando aquela cena, como se

estivesse perdendo um filho, então, virei pra ela e a chamei

naquele abraço.

- Venha, Mãe! A senhora também é minha mãe. Agora, tenho

duas: A mãe Rosa e a mãe Maria.

As duas, então, se abraçaram e choraram muito. Depois de tanto

abraço e tanto choro, nos sentamos no sofá. Minha mãe Maria se

sentou do meu lado direito e a Rosa do lado esquerdo. A Sandra

ficou olhando e disse:

- Agora é que quero ver. Pra namorar o Jorge, vou ter que

enfrentar duas sogras ciumentas?

As duas caíram na risada.

- Agora, me diga, mãe Rosa, você se casou de novo? Tenho

irmãos ou irmãs?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

301

- Não, Jorge, estive sempre sozinha. Desde o dia que te deixei,

prometi a mim mesma que iria refazer a minha vida, depois,

voltaria pra te buscar. Era difícil viver sem você, ficava um

vazio dentro de mim. Trabalhei em vários lugares e tudo que

ganhava ia guardando. Queria juntar o dinheiro que o Chico

havia me dado, para devolvê-lo, acreditando que assim poderia

ter você de volta. Assim fiz, com juros e um pouco mais, juntei

este dinheiro e resolvi voltar pra cá. Aluguei uma pequena casa

e consegui um trabalho. Comecei a te procurar, até que um dia,

achei a eletrônica de seu pai e te vi brincando com a Sandra, do

lado de fora. Todos os dias ficava te espiando de longe, e

descobri que você estava muito feliz com esta família, não podia

estragar. Isto me causou muita dor, fui internada várias vezes

por depressão, pois sabia que nunca iria conseguir ter você de

volta, e mesmo que conseguisse, nunca te daria a alegria de ter

uma família. Um dia, estava no mercado e uma de minhas

sacolas se rasgou, derrubando tudo no chão, de repente um

jovem se aproximou e me ajudou, quando percebi, era você,

Jorge. Eu estava perto do meu filho, ali, naquele momento, e

você sorriu pra mim e disse pra não me preocupar que você iria

colocar tudo dentro de uma nova sacola. Como queria te abraçar

e dizer que te amava, mas como aquele garoto iria reagir? Fiquei

muda, sem fala. Você me deu a sacola e saiu sorrindo, não

consegui dizer um obrigada para o meu filho.

- Nem imaginava que aquela mulher no mercado era você.

- Sim, Jorge era eu mesma. Fiquei ali, parada, pensando o que

poderia ter feito, mas você foi embora. Fui muito boba,

pensando que conseguiria devolver o dinheiro e ter você de

volta. Então, resolvi me afastar e ficar de longe. Fiquei pedindo

a Deus uma oportunidade de que tudo se resolvesse.

MARCELO MENA

302

- É, dona Rosa, Deus atendeu o teu pedido.

- Vai se acostumando, Rosa, que este menino, às vezes, me

chama também de dona Maria.

- Eu gostaria, seu Chico, de devolver o dinheiro daquele carro

que o senhor havia vendido pra me ajudar. – Falou a Rosa, se

levantando e indo na direção do meu pai com um cheque nas

mãos.

- Não precisa, Rosa, aquele dinheiro era pra ajudar você,

naquele momento difícil. Entenda, foi um presente. Faça o

seguinte, você já tem onde morar? – Perguntou o meu pai.

- Eu alugo uma pequena casa. – Ela respondeu.

- Então, utilize este dinheiro pra comprar uma casa pra você.

- Olha, seu Chico, não sei como agradecer.

- Que legal. A casa do Bueno está vendendo e fica perto da

nossa, se você comprar lá, poderá morar perto da nossa casa. –

Falei pra minha mãe Rosa.

- Eu gostaria de ter uma casa com um belo quarto pra você,

Jorge. Quando você quiser passar uns dias comigo terá onde

ficar, pode ser, Maria e Chico? – Disse a minha mãe Rosa, me

abraçando de novo.

- Acredito que vocês terão sim, muito tempo pra ficar juntos.

Não se preocupe, vou deixar sim. Sei que você precisa muito

dele ao teu lado. Vai doer um pouco em mim, mas sei o quanto

doeu em você este tempo todo. – Falou minha mãe Maria.

- Não se preocupem, amo vocês duas. – Eu disse.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

303

- Estou vendo que vou ter que dividir o meu tempo também. –

Falou a Sandra, colocando as mãos na cintura

- Calma, Sandra, vou ter tempo pra todas.

- Eu sei que vocês precisam conversar muito, mas posso levar o

Jorge pra passear um pouco e depois a gente volta?

- A Sandra tem razão vou deixar vocês duas conversando e

depois a gente volta. – Falei.

Então, saímos da casa e fomos até uma praça próxima. Ali

ficamos sentados conversando.

- Fiquei muito preocupada com o que aconteceu, mas estou

aliviada em saber que tudo deu certo, Jorge.

- Não vou dizer que é fácil, Sandra, mas como disse o senhor

Simon, será um dia por vez.

- O que achei interessante foi Jesus te mandar justo na loja em

que ela trabalhava.

- O que Ele queria era que tudo se resolvesse, e eu achando que

ele queria que aproveitasse a promoção.

- Por isso estava achando muito estranho, Jorge.

- Eu sei, mas o que Jesus queria era que minha mãe Maria

ficasse livre da culpa de mentir e minha mãe Rosa conseguisse

ter seu filho de volta. Ainda é estranho saber que tenho duas

mães.

- O pior é ter duas sogras.

- É verdade, mas no fim tudo dará certo, Sandra.

MARCELO MENA

304

Assim, passamos a tarde conversando e rindo bastante de tudo, e

quando voltamos, tudo já estava tranquilo. Fui levar minha mãe

até a sua casa. Ela morava próximo à loja onde trabalhava e era

um pequeno quarto com cozinha e banheiro, mas tudo bem

arrumado e limpo. Ficamos conversando. Ela me preparou um

café delicioso, que me fez lembrar aquele café que tomei na

cafeteria com o Francisco, no Egito. Ali ficamos um bom tempo

conversando e ela me contando tudo que passou.

- Mãe, deixa te fazer uma pergunta?

- Claro, Jorge!

- A senhora já conheceu Jesus?

- Nunca fui à igreja, Jorge. Seu pai era de uma igreja, mas havia

se afastado por decepção, por causa de algumas pessoas. Ele lia

muito a Bíblia, eu tenho guardada comigo até hoje, mas nunca

li. Devo ter guardado dentro de uma caixa.

- E o Humberto falou de Jesus pra senhora?

- Sim. Várias vezes.

Ela foi numa pequena cômoda, que estava do lado de sua cama,

retirou uma pequena caixa de sapato, de dentro tirou uma bíblia

pequena, bem surrada.

- Olha, Jorge está aqui.

Ela me entregou. Quando abri a bíblia havia um pequeno pedaço

de papel escrito.

- O que é este papel?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

305

- Não sei, Jorge. Como disse, nunca abri esta bíblia.

- Posso ler? Parece ser um recado do Humberto.

- Sim, leia.

- Diz assim:

“Meu amor, Rosa, sei que estamos numa situação bem apertada,

estou indo ver se encontro meu irmão. Estou pedindo a Deus

que me ajude encontrá-lo e que Ele te guarde com nosso filho.

Saiba que amo vocês. Se acaso acontecer alguma coisa, nunca

perca a fé. Deus vai te ajudar a fazer o que é correto, pois sei

que nosso filho é um escolhido Dele. Leia este livro e nunca se

esqueça de falar com Deus. De seu amor, Humberto.”

Neste instante a Rosa começou a chorar.

- Jorge, parece que ele sabia o que ia acontecer.

- Uma coisa eu tenho certeza, meu pai conhecia este Jesus.

Acredito que ele queria que você também o conhecesse.

- E como faço isso?

- É simples, é só você abrir o coração e acreditar Nele, sabendo

que morreu pelos nossos pecados e nos trouxe a salvação.

- Você, falando, lembra seu pai. Como gostaria que ele te visse.

- Neste ponto, a senhora pode ficar despreocupada, pois ele viu.

- Como assim?

- É uma longa história, quem sabe um dia eu te conto, mas quero

te convidar um dia destes ir comigo à igreja.

MARCELO MENA

306

- Não sei, é meio estranho, acho que vou parecer um peixe fora

d’água.

- Isto é normal. Quando a senhora chegar lá, as pessoas vão vir

te conhecer e você vai se sentir amada e importante, vai te

ajudar muito.

- Então eu vou.

- Que bom. Domingo eu passo aqui e te levo. Assim, a senhora

vai conhecer meu amigo, senhor Simon.

- Seu pai, Chico, me falou deste homem. Gostaria de conhecê-

lo.

- Pode deixar. Domingo será um grande dia, mas tenho que ir.

Vou deixar você descansando e amanhã a gente se vê na loja,

pois preciso buscar meu tênis.

- Está certo, Jorge!

Ela me abraçou forte e não parava de me beijar. Quando saí fui

direto pra minha casa. Chegando lá, meu pai estava no telefone

e minha mãe ansiosa ao seu lado.

- O que está acontecendo, dona Maria?

- A tua tia.

- O que tem a tia?

- Ela entrou em trabalho de parto quando estava pra sair do

hospital, e já deu a luz.

- Como assim, já nasceu?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

307

- Sim, é um casal! Seu tio está falando com seu pai.

- Mas está tudo bem?

- Sim, disseram que foi tudo bem, estão descansando agora, mas

amanhã a gente pode visitá-los.

- Meu Deus, é uma notícia atrás da outra.

- Nem me fale, Jorge.

Meu pai desligou o telefone. Nos contou que tinha ido tudo

bem, minha tia estava bem e as crianças também. Só meu tio

que machucou um pouco a cabeça, pois quis participar e ver o

parto, quando saiu a primeira criança, tiveram que socorrê-lo,

pois havia desmaiado. Assim, rimos um pouco e depois fomos

dormir, aguardando pelo outro dia que também estaria cheio de

coisas pra fazer.

MARCELO MENA

308

Capítulo 14

Consertando a Máquina

Logo pela manhã, minha mãe me acordou bem cedo.

- Vamos, Jorge, hoje é dia de trabalhar.

- É verdade, mãe, foram tantas coisas que nem me lembrava.

- Vai tomar um café que já preparei.

- A senhora vai ao hospital hoje?

- Sim, vou esperar a Tânia chegar e vou pra lá. Já deixei quase

tudo pronto, quero ver a sua tia e seus primos. Você vai lá vê-

los?

- Vou esperar a tia voltar pra casa, não gosto muito de hospitais.

- Está certo. Não se esqueça de levar uma lembrancinha, Jorge.

- Sim, vou ver com a Sandra o que compro depois.

Então, tomei o café com um pedaço de bolo e meu pai já estava

lendo o jornal.

- Olha, Jorge, saiu aqui no jornal que lá no monte Sinai houve

um terremoto e encontraram uma fonte de água corrente. Vai

ajudar muito aquele local. Você passou por lá?

- Passei, pai, é muito bonito.

- E chegou a ver este rio?

- Vimos de muito perto.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

309

- Que oportunidade você teve! – Falou ele, balançando o jornal.

- Estou indo trabalhar, depois a gente conversa pai.

- Sim, estou só esperando sua mãe pra irmos ao hospital.

Saí de casa e chegando à casa do senhor Simon, vi que ele

falava ao telefone, em inglês, já imaginava quem era. Entrei no

laboratório e vi a máquina com boa parte desmontada e várias

caixas sobre a mesa, eram as novas placas. Então, o senhor

Simon entrou pela porta.

- Teremos muito trabalho pra trocarmos as placas hoje, Jorge.

- Pensei que o senhor ia desistir de viajar de novo.

- Você viu quanta coisa aprendemos com esta máquina? Já

sabemos até o que aconteceu com a primeira geração.

- Sim, é verdade, senhor Simon.

- Já pensou em viajarmos há, mais ou menos, um bilhão de anos

atrás, encontrarmos esta civilização avançada e ainda irmos pra

outros planetas, até pra Terra-b?

- Fico com uma vontade imensa de ir, mas só de pensar o que já

passamos e o que ainda pode acontecer, fico até com frio na

barriga, senhor Simon.

- Que nada, Jorge, será outra aventura incrível.

- Mas dá pra esperar um pouco?

- Sim, claro, até instalarmos tudo e regularmos vai demorar.

- Que bom.

MARCELO MENA

310

- E como foi a conversa com suas mães, Jorge?

- Eu sei por que o senhor está puxando assunto, é só pra desviar

a minha atenção, não é?

- Atenção?

- É. Só pra não perguntar com quem o senhor estava no telefone.

- Imagina, não tenho nada pra esconder, Jorge.

- Sim, claro. Estava namorando no telefone.

- Pare com isto! Estava conversando com a Tatuhãna, minha

amiga.

- Eu e a Sandra éramos amigos também.

- Isto é bem diferente. Nós já somos maduros e sabemos separar

amizade de amor.

- Sim, senhor. Estou vendo como são maduros!

- Não vou discutir esta questão com você, Jorge.

- Está bem, só estava brincando. E ela, como está?

- Ela disse que devolveu tudo que o Muled havia roubado e

pretende viajar para o Brasil, para passar uns dias conosco.

- Que bonito, quer conhecer onde o senhor mora?

- Jorge, vamos trabalhar!

- Está certo!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

311

Assim, ficamos trabalhando e o senhor Simon estava bem

empolgado com tudo. Passamos muitas horas trabalhando e após

todo este trabalho saí, fui até a casa da Sandra e fomos juntos até

a loja onde minha mãe, Rosa, trabalhava. Quando chegamos,

fomos recebidos pela mesma vendedora.

- Vieram buscar o tênis, certo? – Perguntou a vendedora.

- Sim, mas é que viemos... – Nem deu tempo de responder, ela

já falou:

- Espere que eu já trago.

Ela saiu em disparada para o depósito e nem tive tempo de

avisá-la que estávamos ali para, também, ver a minha mãe.

- É, Jorge, ela está querendo ganhar a comissão dela com a

venda, não quer perder tempo! – Disse a Sandra.

Neste instante, minha mãe apareceu e veio falar conosco.

- Oi, filho, tudo bem? E você, Sandra, tudo bem?

- Sim, dona Rosa, viemos buscar o tênis do Jorge.

- Já está guardado lá no balcão, venham comigo.

Fomos até o balcão e a dona Délia tirou debaixo do balcão uma

caixa, toda embrulhada com papel de presente e falou:

- Está aqui o seu presente, Jorge!

- Mas eu vou pagar o tênis, dona Délia.

- De forma nenhuma, aqui o filho da nossa amiga tem

privilégios. Isto é um presente nosso pra você.

MARCELO MENA

312

- Não sei nem o que dizer.

- Fala obrigado, Jorge.

- Eu sei, Sandra.

Nesta hora, a vendedora apareceu com outra caixa na mão.

- Está aqui o tênis.

- Não precisa, Gabriela, estamos dando de presente pra ele. –

Respondeu a dona Délia.

- É brincadeira, né? Duas vezes tento vender o tênis para o rapaz

e vocês me atrapalham, assim como vou receber minha

comissão? – Falou a vendedora.

- Calma, depois a gente conversa. – Falou a Délia.

A moça saiu resmungando algo que não deu pra ouvir.

- Olha, muito obrigado. – Agradeci.

- De nada. Pra você, mocinha, este presente.

Ela retirou do balcão uma caixa pequena, toda embrulhada, e

entregou pra Sandra.

- Pra mim, dona Délia?

- Sim, a namorada também merece, mas lembre de que estamos

fazendo isto pra sermos convidadas para o casamento.

- Obrigada, é um belo colar. É lógico que vamos te convidar

para o casamento.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

313

A Sandra ficou toda empolgada com o colar, a ajudei a colocar,

então, passamos um tempo ali conversando com minha mãe, já

que não tinha tanto movimento na loja, depois, fomos até uma

outra loja comprar um presente para os bebês que nasceram.

Levei a Sandra até a sua casa, e enquanto estávamos do lado de

fora conversando, o pai dela chegou.

- Oi, Jorge!

- Oi, seu Anselmo!

- Tenho uma boa notícia pra vocês. – Disse ele.

- E qual é? – Perguntou a Sandra.

- O Antônio do bar está se recuperando muito bem, acredito que

no domingo estará conosco na igreja.

- Que boa notícia, pai.

- É verdade, estou ajudando ele. Graças à sua namorada, a

recuperação está sendo ótima, pois quando a pessoa sente que é

querida, consegue vencer muito mais rápido o vício.

- Namorada? Perguntei.

- É uma moça chamada Valete.

- É Valdete, pai!

- Sim, este nome mesmo. – Falou o Anselmo, arrumando a sua

gravata.

- Ela está namorando ele? – Perguntou Sandra.

MARCELO MENA

314

- É, Sandra, acho que a Valdete sempre foi apaixonada por ele,

mas como era um bêbado, ela não queria saber. Agora, pelo

jeito, está ajudando a sair do vício.

- É, Jorge, todos os dias ela vai visitá-lo na clínica e passa um

bom tempo com ele. E você, como está? Fiquei sabendo sobre

sua mãe.

- Estou bem. Tentando compreender tudo.

- Imagino. Estou pronto a te ajudar no que precisar, Jorge.

- Obrigado, seu Anselmo.

- Mas deixa entrar e descansar um pouco. Até mais, Jorge!

Seu Anselmo entrou assoviando. Ele, pelo jeito, estava muito

feliz.

- Meu pai está muito feliz em poder ajudar na clínica, onde ficou

internado muito tempo.

- Estou vendo, Sandra.

- Estava pensando numa coisa agora.

- E o que seria Sandra?

- Deus faz as coisas perfeitas mesmo, não é?

- Como assim, Sandra?

- Os seus tios vão dar mais atenção aos bebês agora do que a

você. Deus, pensando nisto, apresentou sua nova mãe, então,

você continuará sendo mimado, mas agora não com os seus tios.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

315

- Sem graça. Eu não sou mimado.

- Eu sei, seu bobão, quem vai te mimar sou eu.

- Vamos amanhã à casa deles ver os bebês?

- Claro! Mas só poderei ir no final da tarde, pois tenho que

ajudar minha mãe no artesanato.

- Sem problemas, passo aqui no final da tarde pra irmos juntos.

Então, nos despedimos e fui para minha casa. Já estava escuro e,

no caminho, passei pela praça. Havia poucas pessoas e vi que

havia um jovem sentado em um banco de cimento, quando me

aproximei vi que era o Nando.

- Nando, é você?

- Oi, Jorge.

- O que faz aqui na praça? Fiquei sabendo que estava preso.

- A gente faz cada burrice, Jorge.

- Me fale, o que aconteceu?

- Estava com meus amigos, bebendo na lanchonete e eu não

sabia que eles tinham formado uma gangue, então, disseram que

se eu queria continuar com eles, teria que participar do próximo

ataque.

- Eu não acredito, Nando, que você foi.

- Não podia perder meus amigos, Jorge!

- Amigos? Você os chama de amigos?

MARCELO MENA

316

- O que você queria, Jorge? Eu não sou que nem você, todo

certinho que tem um monte de gente ao seu redor. Na minha

casa, ninguém liga pra mim, se estou bem ou não. Pra você ter

ideia, foi meu tio que me buscou na delegacia, pois meus pais

estavam numa festa.

- Eu sei, Nando.

- Não sabe, Jorge. Eu aceitei ir porque queria continuar o

vínculo de amizade, foi quando eles resolveram pegar o Antônio

do bar e ele nem reagiu. Eu fiquei assustado e fugi de lá. Ver o

rosto do Antônio, sentindo dor, foi terrível, não consigo tirar isto

da minha mente. Fiquei em casa por alguns dias e quando

resolvi sair, a polícia me prendeu, pois haviam pegado uma

filmagem, onde me viam com eles.

- Mas você não chegou a participar do espancamento do

Antônio?

- Não! Por isto o delegado me soltou, mas terei que responder o

processo, por ser daquele grupo.

- Eu nem sei se o Antônio morreu.

- Ah, Nando, o seu Antônio está bem, conseguiu sobreviver e

domingo irá à igreja.

- Que bom, Jorge, fico mais aliviado.

- Nando, acho que você precisa de um novo amigo.

- Mas você já é meu amigo.

- Sim, estou falando do melhor amigo que alguém possa ter.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

317

- E quem é ele?

- É Jesus!

- Lá vem você, querendo me converter pra sua igreja.

- Não, Nando! Estou te apresentando Jesus, não uma Igreja.

- Como assim, não é tudo a mesma coisa?

- Não. Jesus é aquele que morreu pra nos tirar do pecado e nos

dar uma nova vida. A Igreja nada mais é do que um grupo de

perdidos, perdoados por Jesus, que se juntam para cultuar e

agradecê-lo pela salvação.

- E ele perdoa as nossas escolhas erradas?

- É claro. Ele te aceita como está e te ajuda enfrentar as

dificuldades da vida, te garantido uma vida eterna.

- E como faço pra ter isto?

- É só você falar que o aceita em seu coração, que a partir de

hoje vai segui-lo.

- Só isso?

- Sim, Nando! É simples.

- Olha, Jorge, é muito simples, prefiro continuar como estou, e,

sem querer ofender, não quero ser careta que nem você.

- Nando, ser um Cristão não é ser careta.

MARCELO MENA

318

- Tem que fazer tudo certinho. Prefiro a vida louca, Jorge. Pare

de falar nisto, o dia em que eu precisar da religião, eu te

procuro. Tchau.

Ele, então, saiu correndo em direção à sua casa. É difícil

reconhecer que certos amigos não levam Jesus a sério, fui

embora triste. Cheguei em casa e meu pai estava assistindo a

TV, minha mãe na cozinha, limpando.

- Boa noite, pai.

- Boa noite, Jorge. Você tem que ver os seus primos.

- São bonitinhos?

- Que nada, parecem com o seu tio.

- Então são feios, pai?

Minha mãe deu um berro na cozinha.

- Que isso, Chico! As crianças são lindas!

- O Jorge, amanhã, vai vê-las e aí quero ver o que ele vai falar.

Minha mãe veio da cozinha, dizendo:

- Seu pai é chato, Jorge! Nem ligue pra ele, venha comer, a sua

janta está pronta.

Fui até a cozinha e como sempre, minha mãe não para de fazer

as coisas, parece que quando ela vê tudo limpo, começa a fazer

um bolo, ou um doce, pra sujar de novo.

- Estou morrendo de fome, mãe!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

319

- Chegou tarde hoje, Jorge.

- Estava conversando com o Nando.

- Ele não estava preso?

- Foi solto, porque estava com o grupo, mas não agrediu o

Antônio.

- Menino sem juízo.

- Conversei com ele.

- Tomara Deus que ele consiga sair desta vida.

- Acho que é meio difícil, só quando entrar numa situação

terrível é que vai se arrepender.

Assim, ficamos conversando na cozinha e meu pai acabou

cochilando no sofá. De onde estávamos, podíamos ouvir o ronco

dele. Minha mãe, então, o acordou e o levou para o quarto.

Assim, também fui dormir, já de barriga cheia.

MARCELO MENA

320

Capítulo 15

Ana e Pedro

Comecei o dia trabalhando com o senhor Simon. No final da

tarde, fui com a Sandra e minha mãe, Rosa, até a casa dos meus

tios, para conhecermos as crianças. Ao chegarmos no portão da

oficina, estava fechado, meu tio estava cuidando da minha tia e

dos bebês, por isso, não tinha tempo para consertar os carros.

- Vamos entrar!

- Acho melhor você bater palma, Jorge! Eu sou uma estranha,

eles não me conhecem.

- Que nada, mãe, vamos entrar. Com meus tios não há problema.

- Pode ficar tranquila, dona Rosa, eles vão gostar da senhora.

Enquanto estávamos conversando na calçada, meu tio apareceu

na janela e gritou:

- Ô Ruela! Vai ficar aí na rua?

- Estamos entrando, tio!

- Quem é Ruela?

- Sou eu, mãe, é o apelido que ele me colocou.

- Que apelido feio. Não gostei. – Falou minha mãe com uma

cara fechada.

Entramos na casa e minha tia estava no quarto com as crianças.

Meu tio nos recebeu na sala.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

321

- Oi, tio, meus parabéns!

- Obrigado. Saiba que eu merecia um prêmio!

- Prêmio? – Perguntei.

- Sim, as crianças são as mais lindas do mundo. – Respondeu

ele, sorrindo.

- Não posso falar nada, ainda não vi. Esta aqui é minha mãe,

Rosa.

- Muito prazer, dona Rosa. Então a senhora é a mãe do Ruela?

- Prazer em conhecê-lo, mas sou mãe do Jorge e não do Ruela.

- Desculpe, é apenas um apelido carinhoso. – Falou meu tio sem

graça.

- É um apelido muito feio, pra um menino tão lindo. – defendeu

minha mãe.

A minha tia veio até a porta e se apoiou sobre uma cadeira.

- É isso aí, dona Rosa, já gostei da senhora! Esse Fred precisava

ouvir isto. Eu sou a Fábia.

- Muito prazer em conhecê-la.

- Entre aqui, venha ver os bebês. Pode vir, traga ela aqui,

Sandra.

- É, Ruela, acho que sua mãe não gostou de mim. – falou meu

tio, bem baixinho no meu ouvido.

- Gostou sim, o que ela não gostou foi do apelido.

MARCELO MENA

322

Entramos no quarto e tudo estava arrumado para os bebês, até

um carrinho duplo estava encostado perto do berço. As crianças

eram bem pequeninas e estavam dormindo, um com uma manta

rosa, ou outro com uma manta azul. E pareciam mesmo com

meu tio.

- Você viu, Jorge, estão falando que os dois parecem com seu

tio. – Disse minha tia com todo orgulho.

- Meu pai falou o mesmo.

- Eles puxaram a beleza do pai e a fome da mãe, Ruela!

- Fred! Pare de chamar o Jorge assim, porque agora são duas

contra você.

- Está bem, desculpe!

- Tem uma caixa de videogame ali em cima, tia?

- Esse foi um presente do Simon! Ele disse que é pra quando

eles estiverem maiores.

- Posso pegar eles um pouquinho, dona Fábia?

- É claro, Sandra!

A Sandra pegou o menino e minha mãe, Rosa, pegou a menina.

- Que belezinhas, dona Fábia!

- Foi um presente de Deus pra nós. Tanto tempo esperando, e,

através da oração do Jorge, fui abençoada.

- Verdade? Isto o meu filho não contou.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

323

- Pelo jeito, vocês ainda tem que atualizar muita coisa. Até pra

nós está sendo difícil assimilar toda esta história, mas quero que

você saiba que Jorge continua sendo nosso filho.

- Obrigado, Tia! Qual é o nome deles?

- Eu e o seu tio já decidimos, será Ana e Pedro.

- Que nomes bonitos, dona Fábia! – Falou Sandra, carregando a

Ana.

- Obrigada. Foram nove meses tentando achar os nomes.

- Ô Ruela. Desculpa. Jorge, venha aqui na sala um pouco, deixe

as mulheres conversarem sobre os bebês.

Deixei elas no quarto e fui pra sala. Meu tio foi até a estante e

retirou alguns papeis.

- Como que você gastou tanto com o cartão? – Perguntou o meu

tio, olhando bem sério pra mim.

- Ai, tio, me desculpa! Eu ia te explicar, é que houve alguns

imprevistos.

- E quantos imprevistos!

- Vou pagar tudo pro senhor!

- Não precisa, Jorge.

- Não?

- O Simon já depositou o valor na minha conta, ele me explicou

o que aconteceu e agora só peço que você leve pra ele o

relatório e o comprovante, pra ele guardar nas coisas dele.

MARCELO MENA

324

- Pensou que ia te cobrar?

- Não, fiquei pensando em como ia te pagar.

- Nunca iria te cobrar, foi só pra te assustar.

- Ficou muito caro?

- Um pouquinho, mas o Simon disse que vendeu uma pulseira

de ouro que cobriu as despesas dele e ainda deu pra pagar o

cartão.

- Que bom. Fico aliviado.

- Agora, precisamos conversar sobre a casa que ia te dar.

- Sim, a minha mãe me falou.

- Então, ia te dar a casa porque você era filho do meu irmão,

mas agora, descobrimos que não é, certo?

- É verdade, tio! Não se preocupe, eu entendo o que o senhor

quer dizer.

- Entende?

- Claro! Agora o senhor tem filhos e precisa deixar alguma coisa

pra eles, como não sou parente não tem que me dar nada.

- Eu resolvi, já que você não é filho do meu irmão, vou dar a

casa de presente, porque pra nós você sempre será o nosso filho

mais velho. Será uma grande honra te dar este presente.

Ele, então, veio me abraçar e fiquei emocionado, pois meus tios

sempre foram como uma família.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

325

- Obrigado, tio, nem sei o que dizer.

- Ruela, eu vou ter que dar uma reformada e deixá-la perfeita

pra vocês, por isso vai levar alguns meses para te entregar.

- Não tem pressa, tio!

- Então veja se não me apronta nada, porque vai que, de repente,

a Sandra engravida e não terei tempo pra reformar as pressas.

Você me entendeu?

- Entendi, tio!

- Jorge, venha aqui um pouquinho! – Gritou minha tia do quarto.

Fui até o quarto. As duas ainda carregavam os bebês e minha tia

estava sentada na cama.

- Jorge, gostei da sua mãe, a gente se entende e tem o mesmo

pensamento.

- Que bom, tia.

- Ela já se comprometeu em me ajudar com as crianças, na hora

de folga dela.

- Verdade, mãe?

- Sim, Jorge. Será um prazer cuidar destes pequeninos.

- Assim, o seu tio pode voltar a trabalhar na oficina.

- Que bom, dona Rosa, seja bem vinda a esta família. – Disse

meu tio.

MARCELO MENA

326

- Muito obrigada, seu Fred, só espero que não coloque apelido

neles também.

- É verdade, mãe. Se deixar, vai formar ruela, parafuso e porca.

Todos no quarto riram e meu tio sorria sem graça.

- Tia, a senhora me dá licença pra ir ali fora com a Sandra,

enquanto a senhora conversa com minha mãe?

- Claro, Jorge!

Saímos bem rápido deixei eles no quarto. Ficamos sentados no

degrau da frente da casa e ali passamos um bom tempo

conversando.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

327

Capítulo 16

Decifrando a Caixa do Cetro

No domingo, acordei ansioso, pois era o dia em que minha mãe,

Rosa, iria comigo à igreja, mas como ainda era cedo e a Sandra

teve que ir para outra cidade com os pais, (iriam se despedir do

irmão, que estava indo de viajem para os Estados Unidos, fazer

um estágio numa empresa) resolvi ir à reunião que meu tio faz

em sua casa, pra discutir teses teológicas e livros que liam. O

senhor Simon sempre gosta de estar junto, defendendo suas

ideias. Assim que cheguei, eles estavam todos na oficina, alguns

sentados em caixotes, outros em alguns bancos. Tinha livros

espalhados por cima do capô de uma caminhonete que estava

pra conserto. Sentei-me do lado do senhor Simon.

- Oi, senhor Simon, porque estão todos na oficina?

- Sua tia colocou todo mundo pra correr da sala, pois não queria

que os bebês acordassem. Segundo ela, a gente estava fazendo

muito barulho e eles passaram a noite sem dormir, pois os bebes

choraram a noite devido a cólicas.

- Por isso o meu tio está com cara de sono?

- Sim! Já o peguei cochilando algumas vezes.

- Ai que dó. Qual é o assunto agora?

- Estamos discutindo o orçamento para a reforma da igreja e

quanto ainda pode ajudar na assistência social.

- Quer dizer que o assunto teológico de hoje ainda não

começou? Esse negócio de dinheiro é chato.

MARCELO MENA

328

- Então, aproveita e dá uma olhada nesta bíblia nova que

comprei, Jorge.

Era uma bíblia de capa de couro marrom e as folhas eram

douradas. A letra era bem grande, de um lado estava escrito em

hebraico e do outro em português. Quando abri, caiu na

passagem de provérbios, capítulo quatro e o versículo cinco, que

dizia: - Adquire a sabedoria. Procurei no Hebraico, a palavra

Sabedoria, e eram quatro letras estranhas (חכמה).

- O senhor sabe o que está escrito aqui, senhor Simon?

- Sim, é chokmah e quer dizer sabedoria.

- O senhor é inteligente.

- Não, Jorge, apenas aprendi a língua hebraica.

- Estas quatro letras parecem com o que estava escrito na caixa

do cetro... Senhor Jesus!

- O que foi, Jorge?

- Descobri.

Nesta hora, todos pararam de falar e ficaram me olhando. O

senhor Simon se levantou, me pegou pelo braço e me tirou para

fora, dizendo pra todos que eu havia descoberto algo do nosso

trabalho. Ele me levou até o banco de carro, que fica na frente

da oficina, e nos sentamos ali. O pessoal continuou discutindo

sobre a reforma da igreja.

- Agora, me diga o que você descobriu, Jorge?

- Descobri como abrir a caixa do cetro, senhor Simon.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

329

- Como assim? Você apenas viu algumas palavras do hebraico.

- Sim, mas me lembrei de que quando estava no prédio dos

Atanasianos, havia um quadro, mostrando os quatro elementos

da terra. Cada um tinha as palavras escritas em hebraico e

inglês, era água, terra, fogo e fôlego.

- Jorge, estou mais confuso ainda.

- Vou explicar. Na caixa do cetro, estava estas quatro letras da

sabedoria, em cada lado. Então, lembrei que o número quatro

representa o planeta Terra.

- Entendi, continue.

- Antigamente, eles acreditavam que tudo no planeta era

formado por terra, água, fogo e ar, mas no quadro, em vez de ar

escrevia fôlego. Então, como Salomão escreveu sabedoria nas

quatro letras do hebraico, seguindo a ordem, na primeira letra

teríamos que virar a quantidade de letras da palavra terra.

- Agora entendi. Cada lado seria destravado com essa regra. Mas

e a parte de baixo e a de cima?

- Olhe, o final do versículo termina com que palavra?

- Boca.

- E como escreve em hebraico?

- É a palavra Pê (הפה)!

- Então, em cada uma destas teríamos que usar o que sai da

boca, ou seja, a palavra que em hebraico, contando as letras

viriam ser...

MARCELO MENA

330

- Pare, Jorge!

- Por quê? Só iria faltar a trava final de...

- Pare! Não continue.

- Imagine se algum demônio, ou mesmo Lúcifer, ouvir isto.

- Misericórdia!

- É melhor guardar isto pra você. Você é sábio, descobriu o

segredo.

- Foi coincidência, abrir justamente neste versículo e ver o

escrito em hebraico.

- Está ótimo! Nunca comente isto com ninguém.

- Pode deixar!

Fiquei admirado de ter descoberto isto, mas ainda bem que o

senhor Simon me fez parar, pois, se Lúcifer descobrir isto, o

mundo irá cair sob o domínio dele. Com o cetro nas mãos, só

Deus sabe o que ele poderá fazer. Voltamos pra reunião e o

senhor Simon ficava me olhando admirado. Mais tarde estava na

frente de casa, esperando a Sandra e minha mãe para irmos à

igreja. Não demorou muito, chegaram e fomos a pé. Meus pais

já haviam saído, pois meu pai precisava abrir a igreja e ligar o ar

condicionado, deixando o ambiente bem fresco pra quem

chegasse. A Sandra estava com um vestido longo, todo azul, e

com um perfume maravilhoso. Minha mãe estava com um

vestido um pouco curto, bem rosa, e com os cabelos soltos. Era

a primeira vez que a via de cabelo solto, ela estava linda.

- E aí, Jorge, estou bem arrumada para ir à igreja?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

331

- Olha, mãe, acho que não.

- Não? Como assim, Jorge? Sua mãe levou maior tempão se

arrumando.

- Desse jeito, Sandra, ela vai acabar arrumando um namorado

por lá. Ela está muito linda.

- Ai, seu tonto! – Gritou Sandra.

- Você quer me matar do coração, filho?

- Claro que não, mãe, estava brincando.

- E aí, Sandra, como foi a despedida?

- Um chororô só!

- Imagino, Sandra.

- Será bom pra ele, pois assim ele consegue treinar bem o inglês.

- É verdade. E se ele resolver ficar por lá?

- Minha mãe e a namorada morre do coração, Jorge.

- Coitada. Eu sei bem o que é ficar longe de um filho.

- Está certo, dona Rosa! Vamos andando pra não chegarmos

atrasados.

Chegamos à igreja e apresentei a minha mãe para o senhor

Simon. Os dois conversaram e minha mãe agradeceu muito por

ele ser meu amigo. No final da reunião, minha mãe saiu toda

encantada com a igreja e viemos conversando pelo caminho.

MARCELO MENA

332

- Sabe, Jorge, o que mais me encantou na reunião?

- O que, mãe?

- Aquele seu tio que fica te chamando de Ruela, ele fala tão bem

e me fez chorar com aquelas palavras bonitas.

- Ele tem um dom, mãe!

- Meu amor, você já pensou, qualquer dia, falar lá em cima?

- Nunca, Sandra! Acho que desmaio.

- Eu ia ficar orgulhosa de ver meu namorado lá em cima, e você,

dona Rosa?

- Olha, Sandra, será um sonho pra mim.

- Pronto, agora vou ter que ser pastor!

- Melhor não.

- Desistiu, Sandra?

- As mocinhas da igreja iam ficar todas atrás do pastor e eu

quero que você seja só meu pastor.

- Só vocês mesmo.

- Eu já ia me esquecendo.

- O que, Sandra?

- O senhor Simon pediu que, amanhã, você fosse mais cedo

trabalhar.

- E por quê?

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

333

- Eu pedi pra ele te liberar mais cedo, pois amanhã é aniversário

da minha mãe e vamos fazer uma festa surpresa pra ela.

- Legal, então está bem.

Assim, levamos minha mãe pra casa e depois levei a Sandra pra

casa dela. Ficamos namorando até um pouco mais tarde.

MARCELO MENA

334

Capítulo 17

Terra de Akmelon

Cheguei mais cedo do que de costume e o senhor Simon estava

fazendo café, o cheiro estava delicioso.

- Quer um pouco de café, Jorge?

- Está muito cheiroso o seu café.

- É de lá do Egito.

- O senhor trouxe de lá?

- Que nada, pedi pra Tatuhãna me mandar.

- Ainda se conversam?

- Claro, é assim que se fazem amigos.

- Sei! Ela vem para o Brasil?

- Ela me disse que, talvez, no mês que vem. Experimente o café.

- Está uma delícia, senhor Simon.

- Acho que agora vou ter que ficar importando café.

- Se o senhor fizer isso só vou tomar café aqui. Agora, senhor

Simon, o que vamos fazer hoje?

- Sabe aquelas placas que colocamos semana passada?

- Sim.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

335

- Ela funcionou e agora consigo dar mais velocidade nos

elétrons, com a carga atômica do motor.

- E o que isto quer dizer?

- Acredito que iremos viajar muito mais anos atrás.

- Quantos anos atrás?

- Acredito que iremos para, aproximadamente, pelos meus

cálculos, dois bilhões de anos. Por isso já reprogramei o

computador para nos dar a data exata de onde pararmos.

- Não gosto quando o senhor me olha assim. Estava querendo

perguntar quando o senhor pretendia fazer isto, mas pelo que

estou vendo é agora.

- Não, Jorge, eu queria ir depois do café.

- Ai, meu Deus!

- Não podemos perder tempo, precisamos conhecer o que houve

no passado.

- Eu sei que o senhor não vai desistir mesmo. Então, vamos, mas

iremos voltar antes da festa de aniversário?

- Se formos agora, voltaremos nesta mesma hora!

- Então que vá!

Após o café, entramos na máquina e colocamos os cintos.

- Senhor Simon, onde estão os óculos?

- Troquei por lentes mais grossas, estão debaixo do console!

MARCELO MENA

336

- Mais grossas?

- Estou calculando uma luminosidade mais forte.

- Espero não ficar cego.

- Por isso é mais grosso, Jorge. Podemos ir?

- Vamos lá!

A máquina começou a fazer um barulho diferente, era um

zunido bem forte e agudo.

- O senhor tem que pensar em arrumar um protetor auditivo

também.

- Tem razão, Jorge!

Uma luz começou a brilhar em torno da máquina e foi

aumentado gradativamente, até que já não dava pra ficar

olhando nem com os óculos, tivemos que cobrir com as mãos. O

zunido aumentou e parou de repente. Aos poucos, a luz foi se

apagando, tudo ficou escuro e a máquina parou.

- Será que pifou?

- Estranho. Foi muito rápido, Jorge.

- Só falta estarmos no mesmo lugar ainda.

- Espera um pouco, o computador está marcando dois bilhões de

anos antes de Cristo.

- O senhor tem certeza?

- É o que está marcando!

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

337

- Está tudo escuro aqui.

- Vamos acender os faróis externos, Jorge!

Quando tudo ficou bem claro, percebemos que estávamos dentro

de uma caverna e havia apenas uma abertura no canto daquela

caverna.

- Estamos dentro de uma caverna, senhor Simon.

- Vamos sair, passar por aquela abertura e ver o que tem do

outro lado, Jorge!

- Vamos!

Saímos da máquina e entramos no buraco. Tínhamos que nos

arrastar por dentro, não dava pra ficar em pé. O senhor Simon

foi indo na frente, nos arrastamos por uns vinte metros e saímos

numa outra caverna, um pouco maior e tinha uma abertura para

o lado de fora. Parecia que estava anoitecendo.

- Uma coisa vai ser boa, Jorge.

- O quê, senhor Simon?

- A máquina vai ficar bem escondida desta vez!

- O senhor pretende continuar e sair?

- Sim, Jorge! É pra isso que viemos.

- Eu não sei por que ainda pergunto.

Saímos da caverna e estávamos bem na parte de cima de uma

montanha. De lá, só dava pra ver algumas vegetações, mas as

cores eram totalmente diferentes do que temos no nosso mundo.

MARCELO MENA

338

Havia grama bem roxa, plantas com as suas folhas brancas e

marrons, as árvores ainda eram semelhante às nossas, só que um

pouco mais altas e com folhas bem largas, eram bem diferentes

uma das outras.

- Olhe, Jorge! Plantas nunca vistas por homens da nossa

geração!

- São estranhas! Vamos descer.

- Tome cuidado ao descer, pode estar escorregadio.

Descemos com todo cuidado e chegamos num lugar aberto.

Estávamos muito cansados, parecia que ia acabar o fôlego.

- Estou passando mal, senhor Simon! Nunca me cansei tanto.

- Acho que estamos num lugar com pouco oxigênio. É melhor

sentarmos um pouco e descansarmos, depois a gente continua.

Nos aproximamos de algumas pedras, em que dava pra sentar.

Ali ficamos até recuperarmos as nossas forças. De repente, saiu,

como se fosse um lagarto, de uma das pedras e veio em nossa

direção. Ele era um pouco maior que um calango, andava sobre

duas pernas e ficou nos encarando.

- Que bicho é esse?

- Não faço ideia, Jorge. O pior é que não tem rabo!

- É impressão minha, ou ele está gesticulando com as mãos

como se estivesse nos mandando embora?

- Ele está fazendo isto! Parece que quer falar conosco.

AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS

339

- Acho que o ar daqui deve de ter alguma droga e estamos

sonhando, senhor Simon.

Ele parou, pôs a mão sobre a cabeça, como quem não acreditava

que ainda estivéssemos parados ali, então, ele olhou pra trás e

saiu correndo em meio à mata.

- Falta de oxigênio pode fazer a gente ter ilusões?

- Só pode ser, Jorge, ou os animais daqui podem falar conosco.

Nesta hora, apareceu uma nave enorme na nossa frente, fazendo

um barulho terrível. Várias pessoas, que pareciam homens, e

outras, totalmente estranhas, corriam em nossa direção e

passaram por nós, dizendo que deveríamos correr, então,

corremos junto com eles. Quando olhei para trás, vimos alguns...

... Continua no livro: As Aventuras de Jorge e a Terra de

Akmelon.