figuras de linguagem
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Figuras de linguagem
São recursos de expressão, utilizados por um
escritor, com o objetivo de ampliar o significado de um
texto literário ou também para suprir a falta de termos
adequados em uma frase. É um recurso que dá uma
grande expressividade ao texto literário.
Metáfora
A metáfora é um tipo de comparação, mas sem os termos comparativos (tal como,
como, são como, tanto quanto, etc). Na metáfora, a comparação entre dois elementos
está implícita, trazendo uma relação de semelhança entre eles. Exemplo:
Tempo é dinheiro.
Percebemos neste exemplo a relação implícita, onde o tempo é tão valoroso quanto o
dinheiro, por isso ele é colocado como semelhante à moeda.
Aquela criança é uma flor.
“O amor é pedra no abismo, a meio passo entre o mal e o bem” (Zeca Baleiro, “Cigarro”)
DICA: Verbo SER é comum nas metáforas
Comparação (Símile)
A comparação consiste na aproximação entre dois objetos por meio de uma
característica semelhante entre eles, dando a um as características do outro. Difere da
metáfora porque possui, obrigatoriamente, termos comparativos. Conectivos
comparativos são usados: como, feito, tal qual, que nem... Exemplo:
Tempo é como dinheiro.
Neste exemplo vemos o principal definidor de uma comparação: a palavra como traz
explicitamente a ideia de que o tempo é valoroso como o dinheiro.
Aquela criança era delicada como uma flor.
AntíteseA antítese consiste no uso de palavras, expressões ou ideias que se opõem. Exemplo:
Soneto da Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
(Vinícius de Moraes)
Neste soneto vemos claramente a antítese por trás da temática da separação
amorosa: o que antes era riso trouxe lágrimas com a separação; as bocas unidas pelo
beijo no amor se separam como a espuma que se espalha e se dissolve. A oposição de
sentimentos e atos forma claramente a antítese.
Antítese
Exemplos:
“O sonho de um céu e de um mar
E de uma vida perigosa
Trocando o amargo pelo mel
E as cinzas pelas rosas
Te faz bem tanto quanto mal
Faz odiar tanto quanto querer."
(Charly Garcia)
“Tristeza não tem fim,
Felicidade, sim.”
(Vinícius de Moraes)
O amor e o ódio caminham lado a lado.
Paradoxo (ou Oxímoro)Paradoxo é a presença de elementos que se anulam numa frase, trazendo à tona
uma situação que foge da lógica. Exemplo:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
(Luís de Camões)
A situação do paradoxo aqui é clara: os elementos marcados se anulam, trazendo
uma série de questionamentos. Como pode uma ferida, algo que causa dor física, não
ser sentida? Como o contentamento, que causa felicidade, pode ser descontente? Como
a dor pode não doer? Vemos claramente a fuga da lógica.
Paradoxo (ou Oxímoro)
Exemplos:
"Estou cego e vejo. Arranco os olhos e vejo." (Carlos Drummond de Andrade)
Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha mais
tem dificuldades econômicas.
MetonímiaUso de uma palavra no lugar de outra que tem com ela alguma proximidade de
sentido.
A metonímia pode ocorrer quando usamos:
o autor pela obra
Ex.: Nas horas vagas, lê Machado.
(a obra de Machado)
o continente pelo conteúdo
Ex.: Conseguiria comer toda a marmita.
Comeria a comida (conteúdo) e não a marmita (continente)
Metonímia
o lugar pelo produto feito no lugar
Ex.: O Porto é o mais vendido naquela loja.
O nome da região onde o vinho é fabricado
a parte pelo todo (Sinédoque)
Ex.: Deparei-me com dois lindos pezinhos chegando.
Não eram apenas os pés, mas a pessoa como um todo.
Metonímia
a matéria pelo objeto
Ex.: A porcelana chinesa é belíssima.
Porcelana é a matéria dos objetos
a marca pelo produto
Ex.: - Gostaria de um pacote de Bom Bril por favor.
Bom Bril é a marca, o produto é esponja de lã de aço.
Catacrese
É o emprego de palavras com um sentido diferente do real, mas cujo uso
reiterado torna imperceptível o sentido figurado.
Exemplo:
“O pé da mesa”, “A perna da calça”, “Embarcar no avião”, etc.
Autonomásia (ou perífrase)
É a utilização de uma expressão caracterizadora para designar um nome próprio.
Exemplo:
“O poeta dos escravos”, referindo-se a Castro Alves;
“A cidade maravilhosa”, em lugar de Rio de Janeiro.
Amo passear na cidade-luz.
SinestesiaA sinestesia traz textos que expressam as sensações humanas, com o cruzamento
de palavras referentes aos cinco sentidos.
Exemplo:
Recordação
Agora, o cheiro áspero das flores
leva-me os olhos por dentro de suas pétalas
(Cecília Meireles)
Aqui, vemos uma característica do olfato (cheiro) misturada com outra do tato (áspero).
No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = auditivo; negro = visual)
Hipérbole
Esta figura de linguagem consiste no emprego de palavras que expressam
uma ideia de exagero de forma intencional. Exemplo:
Ela chorou rios de lágrimas.
Chorar rios remete a um choro contínuo, exagerado e o termo rios vem para
enfatizar a ideia de que foi um choro intenso.
Estou morrendo de sono
Já falei mil vezes com esse menino e ele não me obedece.
EufemismoO eufemismo ocorre quando utilizamos palavras ou expressões que atenuam e
substituem outras que produzem um efeito desagradável e chocante. Exemplos:
Faltei com a verdade ao dizer que fui à igreja.
Menti ao dizer que fui à igreja.
A expressão e o impacto negativo que a palavra menti traz é ""suavizado" ao dizer que
"faltei com a verdade".
Ele é desprovido de beleza. (Em lugar de feio)
Ele entregou a alma a Deus. (Em vez de morreu)
Prosopopeia (ou personificação)A personificação, também chamada prosopopeia, consiste na atribuição de
características humanas, como sentimentos, linguagem humana e ações do homem, a
coisas não-humanas. Exemplo:
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro.
(Carlos Drummond de Andrade)
Neste exemplo, o medo, uma sensação, é transformado em pai e companheiro, algo que
só é atribuído a um ser humano.
IroniaÉ a expressão de ideias com significado oposto ao que se realmente pensa ou
acredita. Exemplo:
Moça linda, bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor!
(Mário de Andrade)
O trecho é o exemplo claro de ironia: a moça é descrita como, bonita e bem tratada,
tradicional, conservadora (é de família) e burra. O destaque em "um amor", apoiando-se
na descrição da moça, mostra que ela, ao contrário de ser esse "amor de pessoa", é, na
verdade, alguém sem atrativos, sem graça.
ApóstrofeConsiste numa invocação, interpelação ou chamamento de algo personificado ou
de alguém, quer seja real ou imaginário, quer esteja presente ou ausente. Ocorre uma
breve alteração na narração ou discurso, sendo invocada a entidade ou dirigida a
palavra à entidade à qual se refere a mensagem.
“Criança! não verás país nenhum como este: / Imita na grandeza a terra em que
nasceste!” (Olavo Bilac)
“Tende piedade de mim, Senhor, de todas as mulheres” (Vinícius de Moraes)
“Pai, afasta de mim esse cálice, Pai” (Chico Buarque de Holanda)
“É, Senhor, o contrário que mais temo!” (Bocage)
Gradação
Nesta figura as ideias aparecem de forma crescente ou decrescente dentro de um texto.
Exemplo:
Meia noite em ponto em Xangai
A mulher foi-se encolhendo, agarrada aos braços da poltrona. Cravou o olhar esgazeado no
retângulo negro do céu. Encolheu-se mais ainda, cruzando os braços. Limpou as mãos pegajosas
no brocado da bata. Susteve a respiração.
(Lygia Fagundes Telles)
Aqui a gradação crescente vem trazendo uma ideia da sensação do medo que vai aumentando.
ElipseTemos elipse quando, em um texto, alguns elementos são omitidos sem ocasionar
a perda de sentido, uma vez que as palavras omitidas ficam subentendidas através do
contexto.
Exemplos:
Ela está passando mal! Depressa, um médico!
Ela está passando mal! Depressa, chamem um médico!
Na primeira frase temos a elipse ao vermos que a palavra chamem está escondida.
Não é necessário colocá-la e não há perda de sentido, porque mesmo sem ela
entendemos que é necessário chamar um médico depressa porque ela está passando
mal.
Zeugma
É parecido com a elipse, no entanto, só podemos identificar desta forma esta figura de
linguagem quando há omissão de algo que já foi expresso no texto. Sabemos que o termo foi omitido
porque já foi apresentado. Exemplo:
Canção do Exílio
Nosso céu tem mais estrelas
Nossas várzeas tem mais flores
Nossos bosques tem mais vida
Nossa vida mais amores
(Gonçalves Dias)
Neste trecho vemos a omissão da palavra tem no último trecho. Não foi necessário o emprego dessa
palavra para entender que a vida tem mais amores, pois já houve repetição da palavra nos outros
versos.
Silepse
É a concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto, mas sim com a
ideia que ele representa. É uma concordância anormal, psicológica, espiritual, latente, porque se faz
com um termo oculto, facilmente subentendido. Há três tipos de silepse: de gênero, número e
pessoa.
SILEPSE DE GÊNERO (masc./fem.)
Vossa Excelência está admirado do fato?
O pronome de tratamento “Vossa Excelência” é feminino, mas o adjetivo “admirado” está no
masculino. Ou seja, concordou com a pessoa a quem se referia (no caso, um homem).
Aqui temos o feminino e o masculino, logo, silepse de gênero.
Silepse
SILEPSE DE NÚMERO (singular/plural)
Aquela multidão gritavam diante do ídolo.
Multidão está no singular, mas o verbo está no
plural.
“Gritavam” concorda com a ideia de plural que
está em “multidão”.
Mais exemplos:
A maior parte fizeram a prova.
A grande maioria estudam uma língua.
SILEPSE DE PESSOA
Todos estávamos nervosos.
Esta frase levaria o verbo normalmente para a
3ª pessoa (estavam - eles) mas a concordância
foi feita com a 1ª pessoa(nós).
Temos aqui 2 pessoas ( eles e nós ) logo,
silepse de pessoa.
Polissíndeto
Consiste na repetição de conjunções para garantir um texto mais expressivo. (E, NEM)
Exemplo:
O olhar para trás
E o olhar estaria ansioso esperando
E a cabeça ao sabor da mágoa balançada
E o coração fugindo e o coração voltando
E os minutos passando e os minutos passando...
(Vinícius de Moraes)
"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se
espedaça,e morre." (Olavo Bilac)
Assíndeto
O assíndeto ocorre quando há omissão das conjunções.
Exemplo:
Morte no avião
Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me.
(Carlos Drummond de Andrade)
"Vim, vi, venci." (Júlio César)
A conjunção geralmente é substituída por vírgula, como no exemplo.
Pleonasmo (ou redundância)Repetição da mesma ideia com objetivo de realce. A redundância pode ser positiva
ou negativa. Quando é proposital, usada como recurso expressivo, enriquecerá o texto.
Exemplo:
“Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.”
(Manuel Bandeira)
Quando é inconsciente, chamada de “pleonasmo vicioso”, empobrece o texto, sendo
considerado um vício de linguagem: Irá reler a prova de novo.
Outros: subir para cima; entrar para dentro; monocultura exclusiva; hemorragia de
sangue.
Anáfora
Consiste na repetição de palavras ou expressões com o objetivo de enfatizar uma ideia.
Exemplo:
Elegia Desesperada
Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade
(Vinícius de Moraes)
Hipérbato
Hipérbato também conhecido como inversão, é uma figura de linguagem que
consiste na troca da ordem direta dos termos da oração ou de nomes e seus
determinantes.
“São como cristais as palavras.” (Eugênio de Andrade)
"Aquela triste e leda madrugada." (Luís Vaz de Camões)
Escura, sombria e assustadora noite.
Das minhas coisas cuido eu!
Anacoluto
O anacoluto consiste na quebra da estrututa sintática de uma frase ou período pela inserção de
uma expressão ou palavra solta no seu início, como se o locutor começasse uma frase e houvesse uma
mudança de rumo no pensamento.
“Eu, porque sou mole, você fica abusando”. (Rubem Braga)
Observe que o pronome “eu” encontra-se solto na frase, sem estabelecer uma relação sintática com
nenhum dos outros termos, já que houve uma troca entre o pronome “eu” e “você”.
“O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu”. (Rubem Braga)
Pedro, a fome lhe corroía as entranhas.
Eu, o cansaço me levou cedo pra cama.
Aliteração
Consiste na repetição de consoantes em uma sequência de palavras, trazendo um
texto com um efeito sonoro. Confira um exemplo no trecho da música Chove Chuva de
Jorge Ben Jor:
Chove, chuva, chove sem parar
Neste caso, o ch repetido vem para dar a sonoridade da chuva, além de dar ritmo à
música de Jorge Ben Jor.
"Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
Cruz e Souza
Assonância
Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos. Exemplos:
"Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral."
“Berro pelo aterro/Pelo desterro/Berro por seu berro/Pelo seu erro” (Caetano
Veloso)
OnomatopeiaTemos onomatopeia quando há o uso de palavras que reproduzem os sons de seres vivos e
objetos.
“E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no
pano.” (Machado de Assis)
Exemplos de palavras:
Atchim: espirro.
Piu-piu: canto do passarinho
Din-don: o som da campainha
Tibum: o som de alguém caindo
Buá: o choro de alguém
Snif: fungado.
ExercícioOxímoro (ou paradoxo) é uma construção textual que agrupa
significados que se excluem mutuamente. Para Garfield, a frase de saudação
de Jon (tirinha abaixo) expressa o maior de todos os oxímoros.
Nas alternativas abaixo, estão
transcritos versos retirados do
poema “O operário em construção”.
Pode-se afirmar que ocorre um
oxímoro em:
a)"Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão."
b) "... a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão."
c) "Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava."
d) "... o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.“
e) "Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão."
MORAES, Vinícius de. Antologia
Poética. São Paulo: Companhia das
Letras, 1992.