fichamento_hall_identidade cultural e diaspora

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  • 7/29/2019 Fichamento_HALL_identidade Cultural e Diaspora

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    Universidade Federal do Par

    Programa de Ps Graduao em ArtesTpicos Especiais em Antropologia:

    Estudos Ps-Coloniais em Perspectiva InterdisciplinarDocente: Prof. Dr. Agenor Sarraf

    Discente: Vanessa Simes

    1- Dados bibliogrficos do texto:HALL, Stuart. Identidade cultural e dispora. In: Comunicao & Cultura, n 01,2006, pp. 21-35.

    2-Sobre o autor:Stuart Hall nasceu em Kingston, na Jamaica, em 1932, mas se mudou para o Reino

    Unido em 1951, onde vive atualmente. Ele foi professor da Open University, na

    Inglaterra, entre os anos de 1979 e 1997. um dos grandes nomes da rea das cincias

    sociais, sendo conhecido e bastante respeitado na Europa e Amrica do Norte. Suas

    obras representam uma grande contribuio para a rea dos estudos culturais e estudos

    dos meios de comunicao, ganhando ainda destaque por tratarem de questes polticas

    e dialogarem com outros grandes autores como o tambm terico cultural, Raymond

    Williams.

    Fonte:http://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/aidentidadeculturahall.pdf

    3-Objeto de estudoA questo da identidade cultural negra representada dentro na nova cinematografia

    afrocaribenha.

    4-ProblemticaDiante da nova cinematografia produzida por afrocaribenhos das disporas do

    Ocidente, como entender as representaes ali postas e as dinmicas de identidade que

    elas configuram?

    5-Objetivos- Analisar identidade como produo e no como fato, uma posio e no algo esttico;

    - Reconhecer a identidade resultante do processo de dispora pela tica da diversidade e

    hibridismo cultural;

    - Analisar como a recente cinematografia produzida pelos afrocaribenhos revela novas

    representaes e reconhecimentos (identificaes) de uma dita identidade cultural

    construda em dispora.

    http://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/aidentidadeculturahall.pdfhttp://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/aidentidadeculturahall.pdfhttp://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/aidentidadeculturahall.pdfhttp://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/aidentidadeculturahall.pdf
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    6-Aporte terico:

    O autor utiliza contribuies importantes do pensamento e obra de Franz Fanon, alm

    de Edward Said, Benedict Anderson, K. Mercer, C. Norris e Peter Hulme.

    7-Tese: Cinematografia negra como exerccio de identificao a partir da elaborao de novas

    representaes:

    Temos vindo a tentar teorizar a identidade como constituda, no a partir de fora mas

    a partir de dentro da representao; da o cinema, no como um espelho de segunda

    ordem que ergue para reflectir o que j existe, mas como aquela forma de

    representao que capaz de nos constituir como novos tipos de sujeitos e, dessa

    forma, permitir-nos descobrir lugares a partir dos quais podemos falar [...] Eis avocao das modernas cinematografias negras: ao darem-nos a possibilidade de ver e

    reconhecer as diferentes partes e histrias de ns prprios, permitem-nos construir

    aqueles pontos de identificao, aqueles posicionamentos a que chamamos,

    retrospectivamente, as nossas identidades culturais . p.34

    8-Tpicos para o debate Identidade como uma construo/ produo

    A identidade no to transparente ou desproblematizada como gostamos de pensar.

    Por isso, em vez de pensarmos na identidade como um facto, que encontra

    representao a posteriori em prticas culturais novas, talvez devamos pensar na

    identidade como uma produo, algo que nunca est completo, que sempre

    processual e sempre constitudo no quadro, e no fora, da representao. Este ponto

    de vista problematiza a prpria autoridade e autenticidade que o termo identidade

    cultural reclama. p.21

    Concepo essencialista de identidade culturalPrimeiro posicionamento define identidade cultural em termos de uma cultura

    indivisa mas partilhada, uma espcie de verdadeiro modo de ser colectivo, oculto no

    seio de muitos outros modos de ser mais superficiais ou impostos de forma artificial,

    que as pessoas com uma histria e ancestralidade em comum partilhariam. De acordo

    com os termos desta definio, as nossas identidades culturais reflectiriam as

    experincias histricas comuns e os cdigos culturais partilhados que nos forneceriam,

    enquanto povo uno, um quadro de referncias e de sentido que sob a mutabilidade

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    das divises e vicissitudes da nossa histria concreta, se caracterizaria pela estabilidade,

    imutabilidade e continuidade. p.22

    Papel desempenhado pela concepo essencialista de identidade em sociedades ps-coloniais

    Em sociedades ps-coloniais, a redescoberta desta identidade muitas vezes objecto

    daquilo que Frantz Fanon descreveu como uma investigao apaixonada... motivada

    pela secreta esperana de descobrir, para l da infelicidade de hoje, para l do desprezo

    pelo que nos prprio, da resignao e da retractao, uma era bela e esplendorosa

    cuja existncia nos reabilitaria, tanto perante ns prprios como perante os outros.

    p.22

    A questo que a observao de Fanon coloca a de saber qual a natureza desta

    investigao profunda que motiva as novas formas de representao visual e flmica?

    Tratar-se- apenas de pr a descoberto aquilo que a experincia colonial enterrou e

    escondeu, iluminando as continuidades escondidas que aquela suprimiu? Ou implicar

    uma prtica bastante diferente no a redescoberta mas a produo de identidade.

    No uma identidade fundada na arqueologia mas na renarrao do passado? p.23

    As histrias ocultas desempenharam um papel fundamental na emergncia de

    muitos dos mais importantes movimentos sociais dos nossos temposnas correntes

    feministas, anticoloniais e anti-racistas. A obra fotogrfica de toda uma gerao deartistas jamaicanos e rastafarianos, bem como a de um artista visual como Armet

    Francis (um fotgrafo natural da Jamaica que vive em Inglaterra desde os oito anos),

    testemunham o ininterrupto poder criativo desta concepo de identidade adentro das

    prticas emergentes de representao. As fotografias que Francis tirou aos povos do

    Tringulo Negro, recolhidas em frica, nas Carabas, nos EUA e no Reino Unido,

    tentam reconstruir, em termos visuais, a unidade fundamental dos povos negros que a

    colonizao e a escravatura se encarregaram de espalhar por toda a dispora africana.

    O texto do fotgrafo um acto de, reunificao imaginria. p.23

    Crucial o facto de estas imagens constiturem um modo de impor uma coerncia

    imaginria experincia da disperso e da fragmentao que a histria de todas as

    disporas foradas. p.23

    Constituem fontes de resistncia e identidade, com as quais podem confrontar-se as

    formas fragmentadas e patolgicas em que essa experincia tem sido reconstruda no

    quadro dos regimes dominantes de representao cinematogrfica e visual do

    Ocidente. p.23

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    Concepo de identidade pela diferenaNo algo j exista e transcenda lugar, tempo, histria e cultura. As identidades

    culturais vm de algures, tm histrias. Porm, tal como acontece com tudo o que

    histria tambm elas sofrem transformaes constantes. Longe de se fixarem

    eternamente num qualquer passado essencializado, esto sujeitas ao contnuo "jogo"

    da histria, da cultura e do poder. Longe de se fundarem numa mera "recuperao" do

    passado, que est espera de ser descoberto e que, uma vez encontrado, assegurar

    para todo o sempre a estabilidade do nosso sentido de ns prprios, as identidades so

    os nomes que damos s diferentes formas como somos posicionados pelas narrativas

    do passado e como nos posicionamos dentro delas. p.24

    Experincia da dispora caribenha dialoga com a segunda concepo de identidadeS a partir desta segunda posio podemos entender adequadamente o carter

    traumtico da "experincia colonial". As formas como se posicionaram e se sujeitaram

    os negros e as experincias dos negros nos regimes dominantes de representao

    foram o resultado de um exerccio crucial de poder cultural e de normalizao. Esses

    regimes no s nos configuraram no sentido "orientalista" como diferentes,

    como o outro, dentro das categorias do conhecimento do Ocidente, mas tiveram ainda

    o poder de fazerem com que nos vssemos e vivssemos os a experincia de ns

    prprios como o "Outro". p.24 Identidade como posicionamento

    As identidades culturais so os pontos de identificao, os pontos instveis de

    identificao ou sutura, que se concretizam adentro dos discursos da histria e da

    cultura. No so uma essncia mas um posicionamento. Da haver sempre uma

    poltica da identidade, uma poltica do posicionamento, que no encontra garantia

    absoluta numa "lei da origem" que seja desproblematizada e transcendental. p.25

    Identidade caribenha constitui-se de continuidades e descontinuidadesTalvez possamos pensar as identidades caribenhas negras num "enquadramento"

    constitudo por dois eixos ou vectores, a operar em simultneo: o vector da

    semelhana e da continuidade e o vector da diferena e da ruptura. H que pensar as

    identidades caribenhas sempre em termos da relao dialgica entre estes dois eixos. O

    primeiro proporciona-nos algum enraizamento no passado, assim como alguma

    continuidade. O segundo lembra-nos de que o que partilhamos precisamente a

    experincia de uma profunda descontinuidade: os povos arrastados para a escravatura,

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    para o transporte forado, a colonizao e a migrao vieram predominantemente de

    frica. p.25

    Perceber a diferena mesmo na continuidadeA diferena, portanto, persiste- na e a par da continuidade. Regressar s Carabas aps

    uma longa ausncia voltar a sentir o choque da "duplicidade" da semelhana e da

    diferena. [...] Alm disso, as fronteiras da diferena esto em constante

    reposicionamento em relao a diferentes pontos de referncia. Perante o Ocidente

    desenvolvido, somos, em grande medida, o mesmo . p.26

    Por outro lado, no mantemos a mesma relao de alteridade com todos os centros

    metropolitanos. Cada um negociou a sua dependncia econmica, poltica e cultural de

    forma diferente. E esta diferena, quer queiramos quer no, est j inscrita nas nossas

    identidades culturais. p.26

    Jogo da diferena na idia de identidadeComo descrever ento este jogo da diferena dentro da identidade? A histria

    comum - o transporte forado, a escravatura, a colonizao - foi profundamente

    formativa para todas estas sociedades, pois unificou-nos para l das nossas crenas.

    Porm, no constitui uma origem comum, visto que ela foi, metafrica e literalmente,

    uma traduo. H que no esquecer que a inscrio da diferena especfica e

    decisiva. [...] Este "jogo" cultural no pode, portanto, ser representado, em termoscinematogrficos, como uma oposio simples, binria passado/presente,

    eles/ns A sua complexidade ultrapassa esta estrutura binria de representao. Em

    lugares e momentos diferentes, quando em relao com questes diferentes, as

    fronteiras so re-situadas. p.26-27

    Differnce por Derrida compe-se dos sentidos de diferenciar e diferir (adiar)na medida em que diferenciar se vai matizando em diferir.. na ideia de que o

    sentido sempre diferido [...] Este segundo sentido de diferena desafia osbinarismos fixos que estabilizam o significado e a representao e mostra como o

    sentido no est nunca acabado ou completo, mantendo-se pelo contrrio em

    movimento, de modo a incluir outros significados adicionais ou suplementares que,

    como Norris afirma num outro texto, [...] perturbam a economia clssica da linguagem

    e da representao (Norris, 1997: 15). Sem relaes de diferena, no haveria

    representao. Porm, o que se constitui assim dentro da representao est sempre

    sujeito a ser diferido, a vacilar, a ser serializado. p.27-28

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    Onde entra, ento, a identidade neste infinito adiamento do sentido? [...] Pois, se a

    significao depende do infinito reposicionamento dos seus termos diferenciais, o

    significado depende, num dado momento, da paragem contigente e arbitrria - a

    "pausa" necessria e temporria na infindvel semiosis da linguagem. Isto em nada

    diminui a argcia original. Apenas pode parecer faz-lo e treslermos este "corte" na

    identidade - este posicionamento que torna possvel o significado - como um "fim"

    natural e permanente, em vez de arbitrrio e contigente, sendo que eu entendo

    qualquer posio deste tipo como estratgica e arbitrria, na medida em que no

    existe uma equivalncia permanente entre frase que conclumos, em particular, e o seu

    verdadeiro significado como tal. O significado continua a desdobrar-se, por assim

    dizer, para l da concluso arbitrria que o torna, num dado momento, possvel. p.28

    3 presenas fundamentais nas identidades culturais caribenhasCom esta concepo de "diferena", possvel repensar os posicionamentos e

    reposicionamentos das identidades culturais caribenhas em relao a, pelo menos, trs

    presenas, para utilizar a metfora de Aime Cesaire e Leopold Senghor: a Presnce

    Africane, a Prsence Europenne e a terceira e mais ambgua de todas as presenas - o

    termo instvel: Prsence Americane [...] frica, o significado que no podia ser

    representado directamente durante a escravatura, permaneceu e permanece a

    presena interdita e indizvel da cultura caribenha. _ Esconde-se por detrs de cadainflexo verbal, de cada meandro narrativo da vida; cultural caribenha. o cdigo

    secreto com que se "releram" todos os textos ocidentais. o basso ostinado de todos

    os ritmos e movimentos corporais. Esta eraa frica que est viva e de boa

    sade na dispora (Hall e Jefferson: 1976). p.28

    Porm, embora quase toda a gente minha volta tivesse a pele em tons de castanho

    ou negro (frica fala!), nunca ouvi ningum referir-se a si prprio ou a outros como

    sendoou tendo sido nalgum momento do passado -, de alguma forma, "africano".

    Foi s nos anos 70 que esta identidade afro-caribenha ficou historicamente disponvel

    para a grande maioria do povo jamaicano, tanto na Jamaica como no estrangeiro.

    Nesse momento histrico, os Jamaicanos descobriram que eram negros assim

    como, no mesmo momento, descobriram ser os filhos e filhas da escravatura . p.29

    Ela pertence, para ns, irrevogavelmente aquilo a que Edward Said chamou uma

    geografia e histria imaginativas que ajudariam a mente a intensificar o seu sentido

    de si prpria ao dramatizar a diferena entre o que lhe est prximo e o que est

    longe [...] O facto de lhe pertencermos constitui aquilo que Benedict Anderson

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    designou por uma comunidade imaginada (Anderson, 1982). No h como

    voltarmos literalmente a casa, para esta frica que uma parte integrante do

    imaginrio caribenho. p.30

    A Europa pertence irrevogavelmente ao jogo do poder, s linhas de fora e de

    consentimento, ao papel do dominante na cultura caribenha. Em termos de

    colonialismo, subdesenvolvimento, pobreza e racismo, foi a presena europeia que, na

    representao visual, colocou o sujeito negro dentro dos seus regimes dominantes de

    representao: o discurso colonial, as literaturas de aventura e explorao, a seduo

    do extico, o olhar etnogrfico e viajante, as linguagens tropicais do turismo, das

    brochuras de viagens e de Hollywood e as linguagens violentas e pornogrficas da

    ganja e da violncia urbana. p.31

    Frantz Fanon recorda-nos, em Black Skin, White Masks, que este poder se tornou um

    elemento constitutivo das nossas prprias identidades. p.31

    O dilogo de poder e resistncia, de recusa e reconhecimento, com e contra a

    Prsence Europenne quase to complexo como o dilogo com frica. Em termos

    de vida cultural de cariz popular no se encontra em lado nenhum na sua forma pura,

    primeva. Aparece sempre-j fundido, sincretizado, com outros elementos culturais.

    Aparece sempre-e-j crioulizado - no perdido algures na rota atlntica mas

    omnipresente: desde as harmonias nas nossas msicas ao basso ostinato de frica,atravessando e intersectando as nossas vidas em cada um dos seus pontos. p.31

    A terceira presena, a do Novo Mundo, no tanto poder, mais solo, lugar,

    territrio. a encruzilhada em que os muitos principais tributrios culturais se

    encontram, a terra vazia (os colonizadores europeus esvaziaram-na) em que

    estranhos, de todas as outras partes do globo colidiram. Nenhum dos povos que agora

    ocupam as ilhas negros, castanhos, brancos, africanos, europeus, americanos,

    franceses, naturais das ndias Orientais, chineses, portugueses, judeus, holandeses

    pertencia l originariamente. o espao onde se negociaram as crioulizaes e

    assimilaes e sincretismos. O Novo Mundo o terceiro termoo cenrio primordial

    em que se encenou o encontro fatdico/fatal entre frica e Ocidente. Acresce que

    tem de entender-se este espao como lugar de muitas e contnuas deslocaes: dos

    originrios habitantes pr-colombianos, dos Aruaques, dos Carabas e Amerndios,

    povos que foram permanentemente deslocados das suas terras natais e dizimados; dos

    demais povos deslocados de maneiras diferentes de frica, da sia e Europa; das

    deslocaes originadas pela escravatura, colonizao e conquista. p.32

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    Dispora entendida pela diferenaA presena do Novo Mundoa Amrica, Terra Incognitaconstitui, portanto, o

    prprio incio da dispora, da diversidade, do hibridismo e da diferena, daquilo que

    faz do povo afro-caribenho j um povo da dispora. Utilizo aqui este termo de forma

    metafrica e no literal: dispora no nos remete para as tribos dispersas cuja

    identidade s pode ser garantida na relao com uma qualquer ptria sagrada a que

    tm, a todo o custo, de regressar, mesmo que isso signifique empurrar outros povos

    para o mar [...] A experincia da dispora como a entendo aqui definida, no pela

    essncia ou pureza, mas pelo reconhecimento de uma heterogeneidade e diversidade

    necessrias, por uma concepo de identidade que vive com e pela diferena, e no

    apesar dela, por hibridismo. As identidades da dispora so aquelas que jamais deixam

    de se ir produzindo e reproduzindo pela transformao e pela diferena. p.33