fichamento de: malinowski, bronislaw. introdução. (argonautas do pacífico ocidental)

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MALINOWSKI, Bronislaw. 1976 [1922]. Introdução: tema, método e objetivo desta pesquisa. In:______. Argonautas do pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. I (:21) Malinowski inicia fazendo algumas considerações sobre a sociedade que vai estudar, neste livro. Os nativos que irá estudar são as populações habitantes da costa e das ilhas periféricas da Nova Guiné. São todos navegadores, artesãos e comerciantes habilidosos. Na atividade comercial, existe um sistema, caracterizado como complexo. Esse sistema de comércio, o Kula, é o que Malinowski se propõe a descrever. Ele assume uma importância fundamental na vida tribal e sua importância é plenamente reconhecida pelos nativos que vivem no seu círculo. II (:22) Antes de Malinowski descrever propriamente o Kula, ele apresenta uma descrição dos métodos utilizados na coleta do material etnográfico. Falta, segundo Malinowski, a apresentação de como determinados estudiosos alcançaram os resultados apresentados por eles. Propõe-se a fazer isso neste primeiro capítulo. Diz que é frequentemente imensa a distância entre a apresentação final dos resultados da pesquisa e o material bruto das informações coletadas pelo pesquisador através de suas

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Fichamento da "Introdução" de "Argonautas do Pacífico Ocidental", de Bronislaw Malinowski.

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MALINOWSKI, Bronislaw. 1976 [1922]. Introduo: tema, mtodo e objetivo desta pesquisa. In:______. Argonautas do pacfico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquiplagos da Nova Guin Melansia.

I(:21) Malinowski inicia fazendo algumas consideraes sobre a sociedade que vai estudar, neste livro. Os nativos que ir estudar so as populaes habitantes da costa e das ilhas perifricas da Nova Guin. So todos navegadores, artesos e comerciantes habilidosos. Na atividade comercial, existe um sistema, caracterizado como complexo. Esse sistema de comrcio, o Kula, o que Malinowski se prope a descrever. Ele assume uma importncia fundamental na vida tribal e sua importncia plenamente reconhecida pelos nativos que vivem no seu crculo.

II(:22) Antes de Malinowski descrever propriamente o Kula, ele apresenta uma descrio dos mtodos utilizados na coleta do material etnogrfico. Falta, segundo Malinowski, a apresentao de como determinados estudiosos alcanaram os resultados apresentados por eles. Prope-se a fazer isso neste primeiro captulo. Diz que frequentemente imensa a distncia entre a apresentao final dos resultados da pesquisa e o material bruto das informaes coletadas pelo pesquisador atravs de suas prprias observaes, das asseres dos nativos, do caleidoscpio da vida tribal.(:23) O que Malinowski prope neste captulo assemelha-se ideia de cosmopoltica, apresentada numa aula de Teoria Antropolgica. Isso ocorre a partir do momento em que Malinowski afirma que no mais contempla a busca pela compreenso da realidade a formulao de enunciados abstratos sobre o mundo. Ou seja, a cincia passa a perder sua posio de fala privilegiada o que significava falar e a gua parar e deve agora demonstrar o porqu deve a gua parar segundo sua fala.

III(:24) No comeo do trabalho de campo nas Ilhas Trobriand, Malinowski conta que no foi possvel entrar em conversas mais explcitas ou detalhadas com os nativos, a soluo encontrada era coletar dados concretos, e, assim, passou a fazer um recenseamento da aldeia: anotou genealogias, alguns desenhos, relao dos termos de parentesco. Porm, isso tudo no era suficiente para entender a verdadeira mentalidade e comportamento dos nativos, como ideias sobre religio, magia, suas crenas e etc. A sada para desvendar o verdadeiro esprito dos nativos, seria atravs da aplicao sistemtica e paciente de algumas regras de bom-senso assim como de princpios cientficos. Os princpios metodolgicos podem ser agrupados em trs unidades: em primeiro lugar, o pesquisador deve possuir objetivos genuinamente cientficos e conhecer os valores e critrios da etnografia moderna. Em segundo lugar, deve o pesquisador assegurar boas condies de trabalho, o que significa, basicamente, viver mesmo entre os nativos, sem depender de outros brancos. Finalmente, deve ele aplicar certos mtodos especiais de coleta, manipulao e registro de evidncia.

IV(:25-26) Malinowski comea pelo segundo ponto, a saber, ter boas condies de trabalho. Isso significa: a) no alojar-se em localidade distante dos nativos; b) no estabelecer alojamento em um local separado dos nativos, assumindo ainda um papel de exterioridade em relao a estes; c) evitar, o mximo possvel, o contato com os brancos entendidos aqui como aqueles indivduos mais prximos sociedade nativa do antroplogo; d) estar realmente dentro da aldeia, ou seja, acompanhar os acontecimentos em tempo real, inserindo-se neles; por fim, e resumindo os pontos anteriores, e) assumir uma posio de entrada na sociedade dos nativos, entrar realmente em contato com os nativos, participar do cotidiano deles.

V(:26-28) O primeiro ponto apresentado anteriormente, qual seja, possuir objetivos genuinamente cientficos, o que significa uma afiliao de fato prtica cientfica e suas caractersticas, abordado no tpico V. Fazer uma boa etnografia no significa apenas participar do cotidiano nativo. Tal empreendimento era realizado por viajantes e seus relatos. Mas justamente contra tais relatos que a etnologia de Malinowski se contrape, por no perceber um exerccio de alteridade ali. Algo importante para o etnlogo estar a par do caminhar cientfico, conceitos, teorias etc. Entretanto, ressaltado que, para fazer uma boa etnografia, conhecer bem a teoria cientfica e estar a par de suas ltimas descobertas no significa estar sobrecarregado de ideias preconcebidas. Quando parte para uma expedio o etnlogo deve ter a capacidade de levantar o maior nmero de problemas e no ter a incapacidade de mudar seus pontos de vistas. Em suma, portanto, o etngrafo deve equilibrar-se entre a prtica cientfica nativa de sua sociedade, e a participao no cotidiano nativo. Deve ter em mente o desenvolvimento cientfico, sem, entretanto, relativizar essa prpria prtica frente s prticas nativas.(:28) Alm disso, o objetivo fundamental da pesquisa etnogrfica de campo estabelecer o contorno firme e claro da constituio tribal e delinear as leis e os padres de todos os fenmenos culturais, isolando-os de fatos irrelevantes. necessrio, descobrir o esquema bsico da vida tribal. Este objetivo exige que se apresente, antes de mais nada, um levantamento geral de todos os fenmenos, e no um mero inventrio das coisas singulares e sensacionais. Deve, ao mesmo tempo, perscrutar a cultura nativa na totalidade de seus aspectos. A lei, a ordem e a coerncia que prevalecem em cada um desses aspectos so as mesmas que os unem e fazem deles um todo coerente. Um etngrafo que fragmenta seu trabalho, por exemplo, em estudar apenas a religio ou organizao social, ou tecnologia etc., estabelece um campo de pesquisa artificial e prejudica seu trabalho.

VI(:28) A partir da parte VI da introduo, Malinowski faz um aprofundamento sobre metodologia. Na pesquisa de campo o etngrafo deve estabelecer todas as leis e regularidades que regem a vida nativa, perceber sua estrutura cultural, sua forma de organizao social. Porm, esses elementos no se encontram formulados explicitamente em uma espcie de compndio, manual ou livro. O recurso para o etngrafo coletar dados concretos sobre todos os fatos observados e atravs disso formular as inferncias gerais. Assim, deve haver uma descrio densa do cotidiano dos nativos. Malinowski faz um esquema mental para obter essa induo. Ou seja, elabora um quadro sintico contendo diversos acontecimentos, falas, reaes etc., e a localizao de tais acontecimentos na totalidade do corpo social nativo. A partir disto extrai inferncias que podem ser capitais para seu trabalho. Esse quadro sintico ser utilizado como instrumento de estudos e apresentado como documento etnolgico. So documentos fundamentais da pesquisa etnogrfica: o recenseamento genealgico de cada comunidade, na forma de estudos detalhados: mapas, esquemas e diagramas ilustrando a posse da terra de cultivo, privilgios de caa e pesca, etc. A partir disso tudo possvel apresentar um esboo claro e minucioso da estrutura da cultura nativa. Esse mtodo, Malinowski chama de mtodo de documentao estatstica por evidncia concreta.

VII(:31-33) Num momento anterior realizao da etnografia, quem de fato dava uma explicao consistente embora nem sempre aproximada do real eram os informantes amadores, pessoas no vinculadas cincia que viveram muito tempo entre nativos, tais como fazendeiros, mdicos, negociantes, missionrios (os poucos inteligentes). A cincia, por no conseguir participar da vida nativa, dependia do relato amador e pouco cientfico de tais informantes. O papel da etnografia, para Malinowski, suprir a demanda de explicaes cientficas aproximadas com a realidade sobre sociedades que s eram acessadas por indivduos ou grupos de indivduos amadores.(:33-34) Em resumo, determinados fenmenos no podem ser compreendidos por via dos mtodos quantitativos, estatsticos, aplicao de questionrios simples e abstratos etc. A compreenso de sociedades distantes da nativa do antroplogo no , de forma alguma, acessada sem que o antroplogo participe dessas sociedades. A esses fenmenos Malinowski chama de os imponderveis da vida real. Pertencem a essas classes de fenmenos: a rotina do trabalho dirio do nativo; os detalhes de seus cuidados corporais; o modo como prepara a comida e come; as simpatias ou averses etc.(:35) certo que a subjetividade do antroplogo/etngrafo interfere no entendimento dos acontecimentos da vida do nativo. Entretanto, para Malinowski, o cientista deve sempre dar voz aos fatos, purificando-os de suas impresses. O mtodo para alcanar essa purificao, entretanto, contraria, em certa medida, a prtica cientfica comum: o etngrafo, em diversas ocasies, deve abandonar seus instrumentos de trabalho (cmera fotogrfica, lpis, cadernos, livros etc.), e viver com os nativos, o que significa dizer que deve participar dos acontecimentos. Assim, os acontecimentos falam atravs da voz do etngrafo.Na parte final da introduo, Malinowski finalmente passa para o ltimo objetivo da pesquisa de campo cientfica. Alm dos dados referentes vida cotidiana e ao comportamento habitual h ainda a registrar os pontos de vista, as opinies, as palavras dos nativos, pois em todo ato da vida tribal existe a rotina estabelecida pela tradio e pelos costumes, depois a maneira como se desenvolve essa rotina e o comentrio a respeito dela, contido na mente dos nativos.Fazendo uma sntese geral de todos os objetivos da pesquisa de campo etnogrfico podemos ver: primeiro, a organizao da tribo e a anatomia de sua cultura devem ser delineadas de modo claro e preciso. O mtodo de documentao concreta e estatstica fornece os meios com que podemos obt-las. Segundo, este quadro precisa ser complementado pelos fatos imponderveis da vida real, bem como pelos tipos de comportamento, coletados atravs de observaes detalhadas e minuciosas que s so possveis atravs do contato ntimo com a vida nativa e que devem ser registradas em algum tipo de dirio etnogrfico. Por fim, uma coleo de asseres, narrativas tpicas, palavras caractersticas, elementos folclricos e frmulas mgicas devem ser apresentados como documento da mentalidade nativa.