ficha4(plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/ficha4_pteridofitos.pdf ·...

8
Biologia (Botânica) Práticas, 2010/11 DBV/FCUL Francisco Carrapiço & Isabel Caçador Ficha 4 Plantas vasculares sem semente As plantas vasculares, diferentemente dos briófitos, são caracterizadas pela dominância da geração esporófita e pela existência de tecidos vasculares: xilema e floema. Podem ser distribuídas por dois grandes grupos, sem qualquer valor taxonómico: plantas vasculares sem semente e plantas vasculares com semente. As plantas vasculares sem semente, incluem as plantas vulgarmente designadas por licopódios, cavalinhas e fetos, entre outros. São normalmente reconhecidas quatro filos: Psilotophyta, Lycophyta, Sphenophyta e Pteridophyta. Os três primeiros filos (Psilotophyta, Lycophyta e Sphenophyta) possuem actualmente poucos representantes, embora estejam bem documentadas no registo fóssil. Psilotophyta, Lycophyta e Sphenophyta possuem micrófilos, enquanto Pteridophyta possui macrófilos. Todas as plantas vasculares sem semente possuem ciclos de vida muito semelhantes. Tal como nos briófitos o seu ciclo de vida possui duas gerações alternas: a gametófita e a esporófita. O esporófito é sempre a geração dominante e de vida livre. O gametófito, de dimensões reduzidas, toma o nome de protalo e possui uma duração variável dependente das espécies. Existem espécies iso e heterospóricas. No primeiro caso, apenas existe um tipo de esporos que ao germinarem dão origem a protalos onde se formam simultaneamente anterídeos e arquegónios. No segundo caso, existem dois tipos de esporos: os macro e os microsporos que ao germinarem dão origem respectivamente a protalos femininos onde se formam arquegónios, e a protalos masculinos onde se formam anterídeos. Objectivo Observar alguns géneros representativos dos diferentes filos que constituem este grupo de plantas. Observar a diversidade na forma das folhas (frondes) dos fetos bem como a estrutura dos soros e relacionar com o maior ou menor grau de evolução destas plantas. Material vegetal Psilotum Phylum Psilotophyta Selaginella Phylum Lycophyta Equisetum Phylum Sphenophyta Polypodium/Adiantum – Phylum Pteridophyta

Upload: trinhque

Post on 03-Dec-2018

240 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Ficha4(Plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/Ficha4_Pteridofitos.pdf · Biologia’(Botânica)’Práticas,’2010/11’ DBV/FCUL’ Francisco’Carrapiço’&’Isabel’Caçador!

Biologia  (Botânica)  Práticas,  2010/11   DBV/FCUL   Francisco  Carrapiço  &  Isabel  Caçador

 Ficha  4  -­‐  Plantas  vasculares  sem  semente                                                                                                            As   plantas   vasculares,   diferentemente   dos   briófitos,   são   caracterizadas   pela  dominância   da   geração   esporófita   e   pela   existência   de   tecidos   vasculares:   xilema   e  floema.   Podem   ser   distribuídas   por   dois   grandes   grupos,   sem   qualquer   valor  taxonómico:  plantas  vasculares  sem  semente    e  plantas  vasculares  com  semente.    As   plantas   vasculares   sem   semente,   incluem   as   plantas   vulgarmente   designadas   por  licopódios,   cavalinhas   e   fetos,   entre   outros.   São   normalmente   reconhecidas   quatro  filos:  Psilotophyta,  Lycophyta,  Sphenophyta  e  Pteridophyta.  

Os  três  primeiros  filos  (Psilotophyta,  Lycophyta  e  Sphenophyta)  possuem  actualmente  poucos   representantes,   embora   estejam   bem   documentadas   no   registo   fóssil.  Psilotophyta,   Lycophyta   e   Sphenophyta   possuem   micrófilos,   enquanto   Pteridophyta  possui  macrófilos.      Todas  as  plantas  vasculares  sem  semente  possuem  ciclos  de  vida  muito  semelhantes.  Tal  como  nos  briófitos  o  seu  ciclo  de  vida  possui  duas  gerações  alternas:  a  gametófita  e  a  esporófita.  O  esporófito  é  sempre  a  geração  dominante  e  de  vida  livre.  O  gametófito,  de   dimensões   reduzidas,   toma   o   nome   de   protalo   e   possui   uma   duração   variável  dependente  das  espécies.    Existem  espécies   -­‐iso-­‐   e   heterospóricas.  No  primeiro   caso,   apenas   existe  um   tipo  de  esporos  que  ao  germinarem  dão  origem  a  protalos  onde  se  formam  simultaneamente  anterídeos  e  arquegónios.  No  segundo  caso,  existem  dois  tipos  de  esporos:  os  macro-­‐  e   os   microsporos   que   ao   germinarem   dão   origem   respectivamente   a   protalos  femininos   onde   se   formam   arquegónios,   e   a   protalos   masculinos   onde   se   formam  anterídeos.    Objectivo      -­‐   Observar   alguns   géneros   representativos   dos   diferentes   filos   que   constituem   este  grupo  de  plantas.    -­‐  Observar  a  diversidade  na  forma  das  folhas  (frondes)  dos  fetos  bem  como  a  estrutura  dos  soros  e  relacionar  com  o  maior  ou  menor  grau  de  evolução  destas  plantas.      Material  vegetal    Psilotum    -­‐    Phylum    Psilotophyta              Selaginella    -­‐    Phylum    Lycophyta    Equisetum    -­‐  Phylum    Sphenophyta      Polypodium/Adiantum    –  Phylum  Pteridophyta      

Page 2: Ficha4(Plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/Ficha4_Pteridofitos.pdf · Biologia’(Botânica)’Práticas,’2010/11’ DBV/FCUL’ Francisco’Carrapiço’&’Isabel’Caçador!

Biologia  (Botânica)  Práticas,  2010/11   DBV/FCUL   Francisco  Carrapiço  &  Isabel  Caçador

2

 Phylum    Psilotophyta    (Psilófitas)    

Observação  de  Psilotum  nudum  

 Método    1-­‐   Observe   o   exemplar   que   está   na   sua   sala   de   aula,   faça   um   esquema   e   procure    responder  às  seguintes  questões:                                -­‐  Que  tipo  de  ramificação  caracteriza  Psilotum?                        -­‐  Que  tipo  de  folhas  nele  podemos  observar  (Fig.  1)          

 www.botany.hawaii.edu/.../psilophyta.htm  

Fig.1-­‐  Exemplar  de  Psilotum  nudum  

 

Page 3: Ficha4(Plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/Ficha4_Pteridofitos.pdf · Biologia’(Botânica)’Práticas,’2010/11’ DBV/FCUL’ Francisco’Carrapiço’&’Isabel’Caçador!

Biologia  (Botânica)  Práticas,  2010/11   DBV/FCUL   Francisco  Carrapiço  &  Isabel  Caçador

3

 Phylum  Lycophyta  (Licófitas)    Os  esporófitos  de  Selaginella   têm  um  porte  rastejante,  com  um  caule  ramificado,  no  qual  se   inserem  fiadas  de  micrófilos  que  dependendo  das  espécies,  podem  ser   iguais  ou  dimórficos.  Na  base  de  cada  micrófilo,  existe  geralmente  uma  pequena   lígula.  Os  esporângios  são  de  dois   tipos  distintos:  macro-­‐  e  microsporângios,  assim  designados  por   encerrarem   os   macrósporos   e   os   micrósporos,   respectivamente.   Conforme   a  natureza   dos   esporângios,   as   folhas   que   os   suportam   (esporófilos)   denominam-­‐se  macrosporófilos   e  microsporófilos.   Os  esporófilos   têm   uma   estrutura   idêntica   à   das  folhas  vegetativas  e  cada  um  tem  uma  lígula  na  base,  diferenciam-­‐se  geralmente  em  ramos  terminais,  designando-­‐se  o  conjunto  por  estróbilo  (Fig.  2).    

www.hlasek.com/selaginella_helvetica_4956.html  

Fig.  2.  Exemplar  de  Selaginella  sp.  

 Método    1.  Observe  à    lupa    um  exemplar  do  género  Selaginella  que  lhe  foi  distribuído    2.  Observe  ao  microscópio  os  esporos  desta  planta.                        Observações    O  esporângio  está  ligado  à  página  abaxial  ou  adaxial  do  esporófilo?  Quantos  esporângios  encontra  por  esporófilo?  Os  esporângios  são  todos  iguais?  Esmague  um  esporângio  amarelo  e  outro  cor-­‐de-­‐laranja.  Observe  o  número,   forma  e  dimensão  dos  esporos.    Selaginella  é  uma  planta  homospórica  ou  heterospórica?  Porquê?  

Page 4: Ficha4(Plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/Ficha4_Pteridofitos.pdf · Biologia’(Botânica)’Práticas,’2010/11’ DBV/FCUL’ Francisco’Carrapiço’&’Isabel’Caçador!

Biologia  (Botânica)  Práticas,  2010/11   DBV/FCUL   Francisco  Carrapiço  &  Isabel  Caçador

4

         Phylum    Sphenophyta    (Esfenófitas)      Embora  tenham  sido  um  grupo  muito  diversificado  de  plantas,  actualmente  a  divisão  Sphenophyta  encontra-­‐se  representada  por  um  único  género  o  Equisetum,  cujo  nome  vulgar  é  cavalinha.    O  esporófito  de  Equisetum  tem  um  rizoma  subterrâneo  horizontal,  que  com  frequência  penetra   a  mais   de   1m   abaixo   da   superfície   do   solo.   A   parte   aérea   do   esporófito,   é  constituída  por  um  caule  principal,  diferenciado  em  nós  e  entrenós.  Em  cada  nó  existe  um   verticilo   de   folhas   escamiformes,   pequenas   e   delgadas,   mais   ou   menos  concrescentes,   formando   uma   bainha   castanha,   em   torno   do   nó.   Em   cada   nó,  diferenciam-­‐se   ainda   numerosos   ramos   laterais   clorofilinos   (ramificação   verticilada),  também  com  nós  e  entrenós.  O  esporófito  apresenta  raiz,  caule  e  folhas  verticiladas,  sendo  a  raiz  constituída  por  uma  protostela  e  o  caule  por  uma  eustela  a  nível  dos  nós  e  uma   sifonostela   a   nível   dos   entrenós.   O   caule   apresenta   uma   parte   subterrânea  (rizoma)   com   entrenós   e   nós   com   esboços   de   ramos   alternando   com   folhas  rudimentares.   A   parte   aérea   do   caule   apresenta   folhas   escamiformes   verticiladas   e  concrescentes  na  base,  simples  ou  com  ramificações  finas  que  alternam  com  as  folhas.  As  células  epidérmicas  do  caule  caracterizam-­‐se  igualmente  pela  presença  de  sílica.  Os  estróbilos  são  terminais  e  são   formados  por  esporangióforos  peltados,  cada  um  com  alguns  esporângios  pendentes.  Os  esporos   formados  por  meiose  nestes  esporângios,  apresentam  4  expansões  espatuladas,  de  natureza  higroscópica,  presas  num  ponto  e  semelhantes  aos  elatérios  das  hepáticas.  Os  anterozóides  são  multiflagelados.      

a)       b)    

 

Page 5: Ficha4(Plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/Ficha4_Pteridofitos.pdf · Biologia’(Botânica)’Práticas,’2010/11’ DBV/FCUL’ Francisco’Carrapiço’&’Isabel’Caçador!

Biologia  (Botânica)  Práticas,  2010/11   DBV/FCUL   Francisco  Carrapiço  &  Isabel  Caçador

5

 c)  

 

 d)      e)    Fig.  3-­‐  Equisetum   sp.:  a)  caule  de  Verão;  b)   folhas  escamiformes  verticiladas  e  concrescentes  na   base   b)   caule   de   Outono   com   estróbilo;   d)   pormenor   do   estróbilo,   mostrando   os  esporângios;  e)  esporos  com  elatérios.    Método    1-­‐   Observe   à   lupa   o   esporófito   de   Equisetum   e   procure   responder   às   seguintes  questões:       -­‐  Onde  estão  as  folhas  desta  planta?                       -­‐  Qual  a  parte  da  planta  que  é  fotossintética?      

Page 6: Ficha4(Plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/Ficha4_Pteridofitos.pdf · Biologia’(Botânica)’Práticas,’2010/11’ DBV/FCUL’ Francisco’Carrapiço’&’Isabel’Caçador!

Biologia  (Botânica)  Práticas,  2010/11   DBV/FCUL   Francisco  Carrapiço  &  Isabel  Caçador

6

2-­‐   Na   extremidade   dos   caules   férteis   os   esporângios   formam   estruturas   hexagonais  designadas   esporangióforos   que   no   seu   conjunto   constituem   o   estróbilo   (Fig.   3c).  Destaque  um  esporangióforo,  faça  uma  preparação    e  observe  ao  microscópio.                      -­‐  Observe  o  esporangióforo,  esporângios  e  esporos  e  faça  um  esquema  em    que  essas  estruturas  sejam  evidentes.                    -­‐  Tente  observar  os  elatérios.  O  que  são  e  qual  a  função  destas  estruturas?      Observações      -­‐  Qual  lhe  parece  ser  o  orgão  (raiz,  caule  ou  folha)  com  maior  actividade  fotossintética?    -­‐  Toque  nos  caules  de  Equisetum  sp.  Como  descreveria  a  sua  textura?    -­‐  Poderá  o  esporo  conter  cloroplastos?      Phylum    Pteridophyta    (fetos)    Fazem  parte   deste   filo   as   plantas   às   quais   se   dá     geralmente   a   designação   de   fetos  (Figs.   4   e   5).   Os   fetos   pertencentes   ao   filo   Pteridophyta   diferem   de   todas   as   outras  plantas  vasculares  sem  semente  por  possuirem  macrófilos.  Estas  plantas,  que  possuem  um   esporófito   independente   (fase   dominante)   e   têm   um   eficiente   sistema   vascular,  apresentam  uma  enorme  diversidade,  desde  géneros  de  pequenas  dimensões  até  aos  majestosos  fetos  arbóreos  que  chegam  a  atingir  16m  de  altura.  Utilizados  hoje  como    pouco  mais  do  que  ornamentais,  já  constituiram  no  passado    verdadeiras  florestas.  Na  maior   parte   das   espécies   os   esporângios   estão   agrupados   em   soros   localizados   na  página   inferior  das   folhas.   Estes  podem  ser  nús   como  em  Polypodium   ou  protegidos    por   apêndices   epidérmicos   (indúsio)   ou   ainda  pela  própria  margem  das   folhas   (falso  indúsio)  como  no  género    Adiantum  (avenca).      Método    1.   Observe   o   esporófito   de   feto   que   tem   à   sua   disposição.   Identifique   e   faça   um  esquema  da  fronde  (folha),  o  ráquis  (extensão  do  pecíolo),  rizoma  (caule  subterrâneo)  e  as  raízes  (se  presentes).      2.  Faça  uma  preparação  colocando  um  "sorus"  (soro)  entre  lâmina  e  lamela  numa  gota  de  água  e  observe  o  indúsio,  o  anel  do  esporângio  e  os  esporos.  Faça  um  esquema  que  traduza  o  que  observou.  

Page 7: Ficha4(Plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/Ficha4_Pteridofitos.pdf · Biologia’(Botânica)’Práticas,’2010/11’ DBV/FCUL’ Francisco’Carrapiço’&’Isabel’Caçador!

Biologia  (Botânica)  Práticas,  2010/11   DBV/FCUL   Francisco  Carrapiço  &  Isabel  Caçador

7

     

 Fig.  4-­‐  Polypodium  vulgare  L.  

 Observações    -­‐  Observe  as  formas  das  frondes  e  identifique  o  ráquis  e  as  pínulas.  -­‐   Como   são   as   frondes?   A   lâmina   foliar   está   dividida   em   folíolos   ou   pínulas   que   se  encontram  ligadas  ao  ráquis.    -­‐  Explique  o  mecanismo  de  dispersão  dos  esporos  em  Polypodium.    

 

 

a)  

Page 8: Ficha4(Plantasvascularessemsemente!azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/Ficha4_Pteridofitos.pdf · Biologia’(Botânica)’Práticas,’2010/11’ DBV/FCUL’ Francisco’Carrapiço’&’Isabel’Caçador!

Biologia  (Botânica)  Práticas,  2010/11   DBV/FCUL   Francisco  Carrapiço  &  Isabel  Caçador

8

 

b)  

Fig.  5-­‐  Polypodium  vulgare.  a)  fronde;  b)  pormenor  mostrando  os  soros