ficha sobre impacto ambiental - madeira serrada da amazônia extraída por exploração convencional

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Ficha sobre impacto ambiental - Madeira serrada da Amazônia extraída por exploração convencional CT Materiais CBCS Outubro/2012 1/3 Ficha sobre Impacto Ambiental Madeira serrada da Amazônia extraída por exploração convencional A madeira amazônica serrada utilizada em construção civil possui duas origens: exploração por manejo, em que o madeireiro possui matrícula da área da floresta e realiza a retirada das toras comerciais com procedimentos que permitam a manutenção do ambiente florestal, ou exploração convencional, um processo de obtenção dos produtos madeireiros isento de preocupação com a conservação da floresta e preservação da sua vegetação. Em ambos os modelos de exploração da floresta Amazônica, o processo produtivo da madeira serrada é constituído por quatro etapas: extração das árvores, transporte entre floresta e serraria, processamento das toras em produtos serrados e transporte da madeira serrada ao mercado consumidor, com diferentes graus de impacto em cada um dos modelos de exploração. Ao longo dessas etapas, o carbono é liberado como dióxido de carbono (CO 2 ) a partir de resíduos de biomassa, da extração e do processamento, e na queima de energia fóssil: Resíduos de biomassa da extração - Vegetação da floresta destruída durante a extração das toras comerciais, pela abertura de caminhos e trilhas para derrubada e transporte das toras. Os resíduos são compostos por árvores destruídas, troncos quebrados ou ocos, pedaços de madeira sem aproveitamento comercial, galhos de pequeno diâmetro, folhas, etc. Essa vegetação é geralmente abandonada no ambiente florestal, onde irá degradar com o tempo. A quantidade de matéria morta e abandonada, correspondente à vegetação destruída e à biomassa de árvores não comerciais derrubadas, é significativamente maior do que o da madeira comercial removida. Resíduos de biomassa do processamento - As perdas e restos de madeira sem aproveitamento comercial como produto serrado (pedaços de madeira, cascas, aparas e pó de serragem) são abandonados na floresta para degradação ou queimados. A queima pode ser feita para uso energético, como carvão ou lenha, ou unicamente com objetivo de eliminar o material. Menor quantidade é utilizada como adubo. Energia fóssil - Consumida para funcionamento de equipamentos, como motosserras, tratores, maquinário de processamento das toras e veículos de transporte. Os resultados estimados para emissão de CO 2 , geração de resíduos e consumo de energia por tonelada de madeira amazônica serrada, ao fim do processo produtivo (portão da fábrica), desconsiderando o transporte até o mercado consumidor, são apresentados na tabela abaixo para o cenário de exploração convencional da floresta: Emissão CO 2 Geração de resíduos Consumo de energia tCO 2 /t t resíduos/t produto GJ/t 7,5 - 28,4 5,0 - 8,0 0,25 - 1,50

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Esta ficha compila faixas de resultado para alguns impactos - geração de resíduos, consumo de energia e emissão de CO2 - causados pelo processo produtivo da madeira serrada da Amazônia, com recorte para as etapas de extração das árvores, transporte entre floresta e serraria e processamento das toras em produtos serrados. Com intenso consumo pelo setor de construção civil, atualmente grande parte da madeira serrada originária da Amazônia é explorada no modelo convencional, sem o uso de técnicas de manejo e compromisso com a conservação do ambiente florestal, o que causa grande destruição do bioma.

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Ficha sobre impacto ambiental - Madeira serrada da Amazônia extraída por exploração convencional

CT Materiais CBCS Outubro/2012 1/3

Ficha sobre Impacto Ambiental

Madeira serrada da Amazônia extraída por

exploração convencional

A madeira amazônica serrada utilizada em construção civil possui duas origens: exploração por manejo,

em que o madeireiro possui matrícula da área da floresta e realiza a retirada das toras comerciais com

procedimentos que permitam a manutenção do ambiente florestal, ou exploração convencional, um

processo de obtenção dos produtos madeireiros isento de preocupação com a conservação da floresta

e preservação da sua vegetação.

Em ambos os modelos de exploração da floresta Amazônica, o processo produtivo da madeira serrada é

constituído por quatro etapas: extração das árvores, transporte entre floresta e serraria,

processamento das toras em produtos serrados e transporte da madeira serrada ao mercado

consumidor, com diferentes graus de impacto em cada um dos modelos de exploração.

Ao longo dessas etapas, o carbono é liberado como dióxido de carbono (CO2) a partir de resíduos de

biomassa, da extração e do processamento, e na queima de energia fóssil:

• Resíduos de biomassa da extração - Vegetação da floresta destruída durante a extração das

toras comerciais, pela abertura de caminhos e trilhas para derrubada e transporte das toras. Os

resíduos são compostos por árvores destruídas, troncos quebrados ou ocos, pedaços de

madeira sem aproveitamento comercial, galhos de pequeno diâmetro, folhas, etc. Essa

vegetação é geralmente abandonada no ambiente florestal, onde irá degradar com o tempo. A

quantidade de matéria morta e abandonada, correspondente à vegetação destruída e à

biomassa de árvores não comerciais derrubadas, é significativamente maior do que o da

madeira comercial removida.

• Resíduos de biomassa do processamento - As perdas e restos de madeira sem aproveitamento

comercial como produto serrado (pedaços de madeira, cascas, aparas e pó de serragem) são

abandonados na floresta para degradação ou queimados. A queima pode ser feita para uso

energético, como carvão ou lenha, ou unicamente com objetivo de eliminar o material. Menor

quantidade é utilizada como adubo.

• Energia fóssil - Consumida para funcionamento de equipamentos, como motosserras, tratores,

maquinário de processamento das toras e veículos de transporte.

Os resultados estimados para emissão de CO2, geração de resíduos e consumo de energia por tonelada

de madeira amazônica serrada, ao fim do processo produtivo (portão da fábrica), desconsiderando o

transporte até o mercado consumidor, são apresentados na tabela abaixo para o cenário de exploração

convencional da floresta:

Emissão CO2 Geração de resíduos Consumo de energia

tCO2/t t resíduos/t produto GJ/t

7,5 - 28,4 5,0 - 8,0 0,25 - 1,50

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CT Materiais CBCS Outubro/2012 2/3

O exato impacto em geração de CO2 da exploração madeireira na Amazônia, dentre os valores indicados

na tabela como faixa estimada, é determinado basicamente por quatro fatores:

1. Concentração de biomassa da floresta - Quanto mais densa é a vegetação da floresta, maior

será destruição de biomassa para abertura de trilhas e para remoção das toras comerciais,

portanto, maior a quantidade de resíduos de biomassa da extração.

2. Quantidade de toras comerciais - A relação entre a biomassa extraída e a biomassa destruída

determinam parte do impacto. Na extração seletiva, de 3 a 9 árvores por hectare são retiradas

como espécies comerciais. A disposição entre elas define a extensão de trilhas e caminhos

abertos na floresta e, quanto menor o percurso, menor a quantidade de resíduos de biomassa

da extração.

3. Rendimento das serrarias - A quantidade de madeira serrada resultante usualmente obedece

uma parcela entre 35% e 47% do volume das toras. O melhor aproveitamento da madeira na

serraria reduziria a geração de resíduos de biomassa do processamento.

4. Demanda por energia - A energia consumida no processo produtivo integra o cálculo, com

liberação direta e imediata de carbono para a atmosfera, porém com parcela menos

significativa se comparada às emissões por resíduos de biomassa.

Recomendações para a minimização dos impactos em CO2

Prioritárias

• Inovação no modelo de exploração - Estudo de viabilidade econômica e impacto ambiental do

uso de serrarias móveis e do acesso e retirada das toras por vias aéreas;

• Planejamento da exploração - Adoção massiva do modelo de exploração por manejo florestal,

que tem como procedimentos padrão a identificação das espécies, o corte prévio de cipós, a

otimização das trilhas e caminhos, a análise da qualidade do tronco antes do corte, entre outras

ações.

Secundárias

• Aumento do rendimento das serrarias - Uso de equipamentos com alto rendimento e análise de

aproveitamento no corte das toras;

• Aproveitamento em produtos madeireiros dos resíduos de biomassa da extração e do

processamento (placas de madeira prensada, peças de madeira, artesanato, etc.);

• Redução de consumo energético em todo o processamento;

• Substituição de fonte energética fóssil, até mesmo pelo uso nas serrarias de eletricidade gerada

com a queima de resíduos de biomassa do processo produtivo.

Referências

Os resultados foram extraídos da dissertação de Érica Ferraz de Campos, orientada pelo Prof. Vanderley

M. John, apresentada à Escola Politécnica (USP) em 2012. Mais informações podem ser obtidas no

trabalho completo:

Campos, E.F. Emissão de CO2 da madeira serrada da Amazônia: o caso da exploração convencional. p. 150

(dissertação). Escola Politécnica, São Paulo, 2012.

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Ficha sobre impacto ambiental - Madeira serrada da Amazônia extraída por exploração convencional

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Demais referências:

ASNER, G. P. et al. Condition and fate of logged forests in the Brazilian Amazon. PNAS, v. 103, p. 12947–12950, Aug. 2006.

CEDERBERG, C. et al. Including Carbon Emissions from Deforestation in the Carbon Footprint of Brazilian Beef. Environmental Science & Technology, v. 45, n. 5, p. 1773–1779, 1 Mar. 2011.

GERWING, J.J.; VIDAL, E. Degradação de florestas pela exploração madeireira e fogo na Amazônia oriental

brasileira: Série Amazônia 20. Belém, PA: Imazon, 2002.

HUANG, M.; ASNER, G.P. Long-term carbon loss and recovery following selective logging in Amazon forests. Global

Biogeochemical Cycles, v. 24, n. 3, 2010.

IBAMA. Banco de dados de madeiras brasileiras. Disponível em: www.ibama.gov.br/lpf/madeira/introducao.htm.

JOHNS, J. S.; BARRETO, P.; UHL, C. Logging damage during planned and unplanned logging operations in the eastern Amazon. Forest Ecology and Management, v. 89, n. 1-3, p. 59–77, Dec. 1996.

LAWSON, S. Illegal logging and related trade: indicators of the global response. London: Chatam House, 2010.

PEREIRA, D. et al. Fatos florestais da Amazônia 2010. Belém: Imazon, 2010.

ZENID, G. J. Madeira: uso sustentável na construção civil. 2a. ed. São Paulo: IPT, 2009.

Ficha Técnica

A "Ficha sobre Impacto Ambiental da Madeira serrada da Amazônia extraída por exploração convencional" foi desenvolvida no Comitê Temático Materiais do CBCS, sob coordenação do Prof. Vanderley M. John e da Dra. Vera Fernandes Hachich, e contou com parceiros e colaboradores para seu desenvolvimento.

Coordenação

Prof. Vanderley M. John

Dra. Vera Fernandes Hachich

Elaboração

Érica Ferraz de Campos (CBCS)

Colaboração

Agradecimento aos associados participantes do CT Materiais pela colaboração: profissionais, empresas e entidades, por meio dos seus representantes.

Ana Carolina F. Carpertieri (Onduline)

Francisco Figueiredo (SG Arquitetura)

Gustavo Penteado (HM Engenharia-CCDI)

Katia R. G. Punhagui (CBCS/Poli-USP)

Kauê Fakri (CTE)

Nathália Chaves Lopes (Lwart Quimica)

Walter Ogliari (Even)

O CBCS apoia a construção sustentável como meio de prover um ambiente construído seguro, saudável e confortável enquanto simultaneamente limita o impacto sobre os recursos naturais.

Utilizará sua posição como liderança reconhecida para desenvolver e disseminar informações técnicas, normas, programas educacionais e pesquisas sobre aspectos de importância social para promover a sustentabilidade.

Integrará princípios de construção sustentável, práticas efetivas e conceitos emergentes em todas as suas diretrizes, manuais, referências técnicas e outras publicações.

Participará ativamente de grupos reconhecidos internacionalmente no tema construção sustentável.

Promoverá e proverá capacitação e transferências de conhecimentos em construção sustentável a seus membros e à sociedade, transversalmente nos comitês temático, lideradas por comitê coordenador.

O CBCS - Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, criado em 2007 como OSCIP por

profissionais, pesquisadores e empresários do setor de construção. Entidade vinculada às principais

organizações internacionais que tratam do tema, sua ação concentra-se em criar e disseminar

conhecimento e boas práticas, mobilizando a cadeia produtiva para essa transição. www.cbcs.org.br