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Ficha para Catálogo de Artigo – Trabalho Final
Professor PDE/2010
Título
O POEMA NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: Uma estratégia metodológica para leitura e aprendizagem
Autor Ivanete Perondi Bachi
Escola de Atuação Colégio Estadual Leonardo da Vinci
Município da escola Dois Vizinhos
Núcleo Regional de Educação Dois Vizinhos
Orientador Elisabete Arcalá Sibin
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
Área do Conhecimento Língua Portuguesa
Público alvo Alunos da 1ª Série do Ensino Médio
Localização Rua José de Alencar, 170 - Centro
Resumo: Trabalhar com poemas frequentemente e de forma correta, pode desmistificar a ideia de que compreender, interpretar poesias é algo difícil, complicado e por isso chato. A leitura de poemas de diversos estilos e temáticas pode ser o início de um interesse pela leitura de textos literários. Através da Teoria da Estética da Recepção, que valoriza a interação efetiva entre aluno/ professor/ autor/texto, pode-se perceber que são muitos os elementos existentes para motivar o hábito da leitura de nossos alunos através do texto poético. Diante da necessidade de estimular na escola a formação de alunos leitores desenvolveu-se este Artigo como parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.O Artigo enfatiza o trabalho contínuo com poemas nas aulas de Língua Portuguesa, cuja aplicação envolveu alunos do 1º Ano do Ensino Médio do Colégio Leonardo da Vinci, no município de Dois Vizinhos. Para a efetivação das atividades foram utilizados inúmeros e diversificados recursos. Dentre eles destacaram-se: leitura e análise de poemas de diversos estilos e autores, produção de textos poéticos, ilustrações interpretativas de poemas, leituras e produções de Haicais, leituras e produção de autorretrato, exibição de vídeos e a finalização do projeto que culminou com um chá literário envolvendo toda comunidade escolar, familiares e amigos para socializar todo o aprendizado. Enfim, diversas dinâmicas foram aplicadas objetivando ampliar o conhecimento sobre poesia em forma de poema, considerando os critérios da estética da recepção, revendo as relações entre texto literário e o leitor, a fim de estimular o hábito da leitura. O presente trabalho teve êxito, sensibilizou os educandos para a importância e beleza de um texto poético e da leitura em geral.
Palavras-chave
Poema; Estética da Recepção; Leitura; Aprendizagem.
O POEMA NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: Uma estratégiametodológica
para leitura e aprendizagem
Autora: Ivanete PerondiBachi1
Orientadora: Elizabete ArcaláSibin2
Resumo
Trabalhar com poemas frequentemente e de forma correta, pode desmistificar a ideia de que compreender, interpretar poesias é algo difícil, complicado e por isso chato. A leitura de poemas de diversos estilos e temáticas pode ser o início de um interesse pela leitura de textos literários.Através da Teoria da Estética da Recepção, que valoriza a interação efetiva entre aluno/ professor/ autor/texto, pode-se perceber que são muitos os elementos existentes para motivar o hábito da leitura de nossos alunos através do texto poético.Diante da necessidade de estimular na escola a formação de alunos leitores desenvolveu-se este Artigo como parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. O Artigo enfatiza o trabalho contínuo com poemas nas aulas de Língua Portuguesa, cuja aplicação envolveu alunos do 1º Ano do Ensino Médio do Colégio Leonardo da Vinci, no município de Dois Vizinhos. Para a efetivação das atividades foram utilizados inúmeros e diversificados recursos. Dentre eles destacaram-se:leitura e análise de poemas de diversos estilos e autores, produção de textos poéticos, ilustrações interpretativas de poemas, leituras e produções de Haicais, leituras e produção de autorretrato, exibição de vídeos e a finalização do projeto que culminou com um chá literário envolvendo toda comunidade escolar, familiares e amigospara socializar todo o aprendizado. Enfim, diversas dinâmicas foram aplicadas objetivando ampliar o conhecimento sobre poesia em forma de poema, considerando os critérios da estética da recepção, revendo as relações entre texto literário e o leitor, a fim de estimular o hábito da leitura. O presente trabalho teve êxito, sensibilizou os educandos para a importância e beleza de um texto poético e da leitura em geral.
Palavras chave:Poema; Estética da Recepção; Leitura; Aprendizagem.
1 Especialista em Literatura Brasileira e em Supervisão Escolar. Graduada em Português e Literatura, professora
no Colégio Leonardo da Vinci – Dois Vizinhos – PR 2 Mestre em Letras , Graduada em Letras , professora do Departamento de Letras da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus de Cascavel.
Abstract
Working with poems often and correctly, can demystify the idea that understanding, interpreting poetry is something difficult, complicated and so boring. The reading of poems of varying styles and subjects can be the beginning of an interest in reading literary texts. Through the theory of aesthetics of reception, which appreciates the effective interaction between student/teacher/author/text, one can realize that there are many existing elements to encourage the habit of reading to our students through the poetic text. Faced with the need to stimulate the formation of students in school readers developed this article as part of the Programa of Desenvolvimento Educacional – PDE. The Article emphasizes the continuous work with poems in Portuguese language classes, which involved students from 1st year high school students of Colégio Leonardo da Vinci, in the municipality of Dois Vizinhos. For the implementation of activities were used numerous and diverse resources. Among them stood out: reading and analysis of various poems and styles authors, production of poetic texts, illustrations, readings and poems of interpretive productions of the have-nots, readings and production of self-portrait, viewing videos and the finalization of the project that culminated in a literary tea involving all school community, family and friends to socialize all learning. Anyway, several were applied in order to expand the dynamic knowledge about poetry in the form of poem, considering the criteria of aesthetics of reception, reviewing relations between literary text and the reader, in order to encourage the habit of reading. This work was successful, was heartened to learners about the importance and beauty of a poetic text and reading in General.
Keywords:Poem; Aesthetics of Reception; Reading; Apprenticeship.
1Introdução
É preciso rever as relações existentes entre texto literário e o leitor.
É preciso considerar que as expectativas da sociedade relação ao ensino
eficiente da leitura e escrita é, na verdade, o que mais pesa, no que se refere á
significação do trabalho escolar.
Percebe-se que a relação dialética que deve existir entre o leitor, o texto e a
realidade social, há um enfraquecimento dessa ligação no âmbito das escolas . Daí
talvez a razão de a leitura de textos literários principalmente, transformar-se num
processo de ensino e aprendizagem desinteressante para muitos alunos.
Um efetivo trabalho com leitura e produção de poemas pode ser uma
excelente estratégia para melhorar a relação do professor e aluno frente ao
processo de leitura, interpretação e escrita dos educandos que no geral demonstram
um alto nível de afastamento do contato com poemas em sala de aula.
A leitura de um poema, mesmo que às vezes pareça difícil de compreender,
é geralmente fácil de encantar. E que por ser a expressão de sentimentos e
pensamentos, torna-se capaz de abrir caminhos, ampliar horizontes, uma vez que a
poesia, é uma arte que disciplina a mente, orienta a reflexão, ordena as ideias,
permitindo conhecer melhor o mundo e a nós mesmos.
Prática da leitura poética pode ampliar conhecimentos capazes de estimular
o interesse e o gosto pela leitura de outros textos literários, gerando uma maior
liberdade ao escrever, tornando-se mais criativo e original ao registrar seus
pensamentos e sentimentos.
Sendo assim, através do Método Recepcional, torna-se possível dar outro
enfoque ao texto poético em sala de aula, desenvolveu-se este trabalho que visa
ampliar os conhecimentos sobre o fazer poético, a fim de estimular o hábito da
leitura, partindo de um trabalho contínuo com poemas nas aulas de Língua
Portuguesa
2 Uma questão de Didática
É preciso ressignificar o trabalho com textos literários (poemas), a partir da
teoria da Estética da Recepção. Praticar a leitura de poemas em diferentes
contextos, buscar perceber as várias vozes que o constituem, reconhecer as
intenções e os interlocutores do discurso. Precisa-se perceber e analisar
características da poesia em vários textos literários, diferenciando-a do conceito de
poema.
É importante que no plano de aula diário, o professor reavalie sua prática
pedagógica, com o intuito devalorizar a diversidade de gêneros textuais com suas
diferentes formas de linguagens. Torna-se indispensável perceber e envolver-se
com a plurissignificação das palavras, sair do papel tradicional de quem apenas
ensina, para ler coletivamente, ouvir os alunos, mediar, transformar o trabalho com a
leitura, em algo sedutor, produtivo.
Não é necessário o professor assumir a responsabilidade de fazer poetas,
mas de desenvolver no aluno sua habilidade para ler com competência, para sentir a
poesia, para saber apreciar o texto literário. O professor sendo sensível a poesia e
interessado em utilizá-la de forma correta no processo de ensino aprendizagem
saberá buscar formas de manter e intensificar o trabalho com poemas nas aulas de
Língua Portuguesa.
A complexidade e a riqueza de um texto poético, precisa ser algo que
provoca o leitor e esse olhar provocativo precisa ser trabalhado pelo professor.
Em se tratando de complexidade poética, Borges afirma que não podemos
definir poesia em palavras, “tal como não podemos definir o gosto do café, a cor
vermelha, nem o significado da raiva, do amor, do ódio, do pôr-do-sol. Essas coisas
estão tão entranhadas em nós que podem ser expressas por aqueles símbolos
comuns que partilhamos”. (Borges, 2000, p. 27)
Falando em definição, precisa-se tomar cuidado com algumas
generalizações ao conceituar termos distintos como poesia e poema.
Pedro Lira,faz a diferenciação dizendo:
“Se o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não. Ou seja: O poema depois de criado existe em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe em outro ser: primeiramente, naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, secundariamente no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta objetivá-la num poema; terciariamente no próprio poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta.” ( LIRA, 1992, p.07 )
Considerando está definição, pode-se dizer então, que há poesia em objetos
ou em situações do mundo. Poesia é o que provoca nossos sentimentos, permite
nossa sensibilidade transitar entre a percepção da realidade e o pensamento. A
poesia concretizada em palavras, pode sim formar o poema como resultado da
atividade humana.
É preciso descobrir formas de familiarizar e de aproximar os adolescentes e
os jovens do texto poético . E essa forma de familiarização e aproximação deve ser
feita através de uma sequência didática bem fundamentada para evitar afirmações
infundadas como: Poemas são difíceis de interpretar porque são subjetivos.
É necessário que o professor compreenda que o ato de interpretar um
poema, não pode ficar restrito a sua forma de apresentação, ou seja, como ocorre a
disposição das palavras,dos versos, das rimas, e nem somente pelos questionários
propostos pelos livros didáticos ,pois em geral são superficiais. O professor deve
partir de uma leitura poética de mundo, da percepção da intertextualidade e das
figuras de linguagem presentes nos textos, da apreciação lúdica e de muitas outras
formas, criar com seriedade, mas brincando com palavras. È interessante que
poemas sejam trabalhados com os alunos durante o ano todo, para que
gradativamente aumentem o interesse pela leitura deste gênero textual.
Carlos Drummond de Andrade publicou uma crônica com o título: A
Educação do ser poético, onde comenta: “O que eu peço à escola com suas luzes
pedagógicas, é que considerem a poesia como primária visão direta das coisas, e
depois como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o
fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a
sensibilidade poética”.
O professor ao trabalhar com poemas precisa ser muito “aberto”, evitando
frustrações ao aluno. Precisa ter claro que o texto poético pode ter várias
interpretações. O autor em seus versos de caráter subjetivo e emotivo sugere,
insinua mais do que informa.
Fazendo uso da Teoria da Estética da Recepção, que valoriza a interação
efetiva entre aluno/professor/autor/texto, pode-se perceber que são muitos os
elementos existentes para se encontrar veios poéticos belíssimos, que podem
chegar aos educandos de modo simples, aberto e prazeroso, tornando-se rica a
experiência de ler e sentir um poema. E foi embasada nesta teoria, que as
dinâmicas deste projeto tornaram-se realidade em sala de aula
3 A Estética da Recepção e o texto literário
Para formar um leitor competente, que seja ativo no processo de leitura, que
decodifique sinais e faça escolhas, preencha lacunas e se solidarize com o autor e
complete seu trabalho de criação, é preciso basear-se em uma teoria, seguir uma
metodologia, e aqui a sugestão é trabalhar com o método recepcional. Esse método
proposto por Maria da Gloria Bordini e Vera Teixeira Aguiar, em Literatura: A
formação do leitor, a partir das concepções da Estética da Recepção de WolfangIser
e Hans Robert Jauss , da Escola de Constança, responsáveis pela valorização do
papel do leitor no processo literário.
De acordo com Bordini & Aguiar, o método recepcional de ensino de
literatura, enfatiza a comparação entre o familiar e o novo, entre o próximo e o
distante no tempo e no espaço. Portanto, o método é eminentemente social ao
pensar o sujeito em constante interação com os demais, através do debate e ao
atentar para a atuação do aluno como sujeito da história.
Segundo as autoras, o primeiro passo do método seria determinar o
horizonte de expectativas da classe, ou seja, detectar valores e juízos introjetados
por cada individuo ao longo de sua formação, e que se responsabilizam pelas
percepções que esse indivíduo possui do meio que o circunda:
“O processo de recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto. O leitor possui um horizonte que o limita, mas que pode transformar-se continuamente, abrindo-se. Esse horizonte é o do mundo de sua vida, com tudo que o povoa: vivências pessoais, culturais, sócio-históricas e normas filosóficas, religiosas estéticas, jurídicas, ideológicas, que orientam tais vivências”. (BORDINI; AGUIAR, 1988, P.87).
Após detectar os valores e as preferências de seus alunos, as preocupações
do professor se voltarão ao como vai atender a essas expectativas, levando para a
sala de aula não só o tipo de texto desejado pelo leitor como também uma estratégia
de leitura que lhe seja familiar. Já num terceiro momento, textos e atividades
deverão ser propostos de modo a romper o horizonte de expectativas, provocando
novos desafios à classe, entretanto, deverá haver um vínculo com a etapa anterior,
seja em relação à temática, seja em relação à forma do texto, para que o aluno não
se sinta totalmente desamparado, podendo rejeitar a nova situação de leitura. Frente
às novidades propiciadas pela ruptura de seu horizonte de expectativas, o aluno vai
poder refletir sobre semelhanças e diferenças entre a suas potencialidades iniciais e
as novas, procedendo a um autoexame para detectar tanto suas conquistas quanto
as dificuldades e percalços no processo de conhecimento. Dessa reflexão resulta,
segundo Bordini e Aguiar, a última etapa do método, a ampliação do horizonte de
expectativas, o que ocorre, concretamente, quando os alunos, ao compararem o
horizonte inicial e seus novos interesses, podem perceber diferenças significativas
em seus níveis de exigência e de capacidade de decifrar o mundo.
O final desta etapa é o início de uma nova aplicação do método, que evolui
em espiral, sempre permitindo aos alunos uma postura mais consciente com relação
à literatura e a vida. É uma proposta de ensino de leitura da literatura com um
processo gradativo de crescimento intelectual e cultural do leitor, ao longo de sua
escolarização.
A tarefa executada pela estética da recepção destaca o dinamismo da
relação produtor/obra/leitor e amplia o significado da literatura, muito mais do que
representativa de uma realidade; a obra literária transforma-se na mediadora entre o
mundo real e consciência de quem recebe.
4 Poesia / Poema – realidade escolar
Antes mesmo de qualquer ação individual ou coletiva que envolvesse o fazer
poético e visando compreender melhor a problemática da falta de gosto pela leitura,
foi necessário verificar a real situação dos alunos do 1º ano do Ensino Médio do
Colégio Leonardo da Vinci, no período matutino, a fim de coletar dados suficientes
para se entender a situação e posteriormente contribuir para melhorias ao trabalhar
continuamente com poemas em sala de aula que é o objetivo do Projeto de
Implementação.
Na enquete (pré- teste), foram envolvidas questões como:
- Você gosta de ler?
- O que é poesia?
- Poesia e poema são palavras sinônimas? Explique:
- Gosta de ler poemas? Comente:
- Gosta de escrever poemas? Justifique:
- Todos podem se tornar um poeta ou só quem tem um dom especial?
- Cite o nome de alguns poetas, que tenha lido um de seus poemas ou que já ouviu
falar de suas produções.
- Durante os estudos de 8º e 9º ano, em sala de aula trabalhavam com poemas,
semanalmente, mensalmente ou quase nunca? Que tipo de trabalhos faziam com os
poemas? Gostava desse tipo de atividade?
Após a coleta de dados e a representação dos mesmos em gráficos, foi
possível fazer muitas considerações:
Gosto pela leitura
35%
40%
25%
gostam de ler
gostam um pouco
não gostam
Gráfico1:Gosto pela Leitura.
Fonte: BACHI, 2011
Pode-se observar no quadro acima, que a maioria dos alunos ainda afirmam
gostar de ler, e isso é muito positivo, é claro que talvez ainda não estejam lendo o
que os professores em geral consideram importante, mas é preciso tomar cuidado
com os pré-conceitos, uma vez que os recursos são os mais variados e que é
relativo o que visto como boa leitura ,pois sabe-se que em cada fase da vida o foco
de interesse é um e que nem por isso o que é considerado um gênero menor deixa
de ter sua importância, quando se trata de motivação para leitura. Mas, que a
porcentagem dos que não gostam de ler, mais os que gostam um pouco é
preocupante e isso só reforça o fato de que o desafio escolar é grande e que cabe a
cada um dos educadores contribuir para reverter essa situação, seja através da
conscientização ou de sua prática diária.
Gráfico2: Conceito de Poesia.
Fonte: BACHI, 2011
Evidencia-se aqui que os alunos possuem o conceito de poesia correto.
Sabem que é o texto que lida com as emoções, sentimentos, que é algo subjetivo,
imaginário, que é algo espontâneo,artístico e que não se explica através da teoria
apenas, que é particular.
Sobre a complexidade do conceito de poesia diz Massaud Moisés:
A poesia, entendida indefinidamente , como forma ou conteúdo, é tão real quanto as pessoas e os objetos que nos cercam, e tão real quanto os sonhos e os planos de viagem que nunca se realizam. A poesia é uma forma do real, o real do espírito, contraposto do real da matéria, o real físico cuja percepção se faz pelos sentidos. (Moisés 1984,p.83)
Gráfico3: Poesia e poema – sinônimos ou não.
Fonte: BACHI, 2011
Constata-se aqui, que a maioria dos alunosnão percebem diferença alguma
entre os termos, isso revela que as discussões em sala de aula não estão sendo
aprofundadas, uma vez que diferenciar poesia e poema,são conceitos básicos da
teoria poética .
Afinal, Poema e poesia são termos sinônimos?
Não são termos sinônimos. E então qual a relação do poema com a poesia?
A poesia não se apresenta necessariamente em verso, em forma de poema.
Pode haver poesia em prosa. A poesia não se contém apenas nos chamados
gêneros poéticos, mas pode estar presente na prosa de ficção; e que pode ser feito
em verso muita coisa que não é poesia. Afinal de contas, poesia passou a ser tudo o
que alguém escreve movido por uma “inspiração”, uma paixão, um discurso livre e
anterior ao poeta, independente do poema e da linguagem. A poesia concretizada
em palavras, pode sim formar o poema como resultado da atividade humana.
Pedro Lira faz a diferenciação dizendo:
Se o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não. Ou seja: O poema depois de criado existe em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe em outro ser: primeiramente, naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, secundariamente no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta objetivá-la num poema; terciariamente no próprio poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta.( LIRA, 1992, p.07 )
Considerando está definição, pode-se dizer então, que há poesia em objetos
ou situações do mundo. Poesia é o que provoca nossos sentimentos, permite nossa
sensibilidade transitar entre a percepção da realidade e o pensamento. Esta ação
poética contribui para a transformação do próprio sujeito, uma vez que passa a ver o
mundo com novo olhar, incorporando novos conceitos e valores, ou seja, torna-se
um ser em constante mutação.
Quando o poeta consegue através de sua criatividade atribuir novos
significados a um objeto, combate a falta de originalidade na produção de um
poema.
Com base nas reflexões de Pedro Lira, conclui-se: “A poesia é – sobretudo –
beleza/grandeza/novidade, de conteúdo e de expressão. O poema, é apenas o
resultado de um processo técnico (escritura) que resgata a poesia do se estado
anterior de potência e a textualiza num estado posterior de objeto.” (LIRA, p. 55)
Gráfico4: Gosto pela leitura e produção de poemas. Fonte: BACHI, 2011
A leitura dos gráficos nos revelam uma não pró-atividade em relação a
escrita, embora os alunos afirmam gostarem de ler. No relato dos mesmos, escrever
é algo difícil e compor poemas é pior ainda, porque é preciso escolher as palavras,
sintetizar as ideias e ainda fazer rimas.
É preciso rever a forma como ocorre o encaminhamento da produção textual
para desmistificar o fato de que esta ação é complicada. Um dos fatores
responsáveis por essa rejeição é o excesso na ênfase dada as questões gramaticais
poetas conhecidos
56%
20%
24%citam nome de até 5poetas
citam até 3 poetas
não respondem
ou estruturais que compõe o texto. Dessa forma o encantamento pelo texto literário
tende sempre a diminuir.
Gráfico5: Poetas Conhecidos. Fonte: BACHI, 2011
Gráfico6: No 8º e 9º ano trabalhavam com poetas. Fonte: BACHI, 2011
Primeiramente o fato de não citarem o nome de muitos poetas, comprova
que o trabalho com esse gênero não é muito familiar na escola e isso se confirma,
quando 85% dos alunos da turma dizem que nos dois últimos ano do Ensino
Fundamenta lI, quase nunca trabalhavam com poemas. Vale refletir: Como gostar de
ler distante de um ambiente de leitura?
Diante da realidade, aqui apresentada, desenvolveu-se o projeto:O Poema
na aula de Língua Portuguesa: Uma estratégia metodológica para leitura e
aprendizagem
5 Trabalhando com poema
De acordo com a Estética da Recepção, inicialmente o professor precisa
determinar e atender as expectativas dos leitores. Deve propor atividades que lhe
permitam explorar a relação entre o gênero poético e o lúdico, criando um clima para
leitura de textos, e ao mesmo tempo, determinar e atender as preferências dos
alunos. É um momento de observação, que definirá as próximas ações do trabalho
com poemas em sala de aula.
Exemplos de atividades:
a) Organização de uma Caixa Poética, que contenha uma coletânea de poemas, de
diversos temas e estilos, para leitura e apreciação – percepção das expectativas
(poemas de temas românticos, saudosistas, realistas, humorísticos, satíricos,
sociais, autorretrato, melancólicos, ecológicos, músicas, haicais)
Os alunos diante de vários poemas escolheram um de seu gosto, para no
final socializarem com a turma. Para a próxima aula, os alunos foram motivados a
trazer novos poemas com a mesma temática escolhida para socialização. A
repetição desta atividade contribuiu para que os próprios alunos fossem
responsáveis pela ruptura de seus horizontes de expectativas, na medida em que
acabaram trazendo poemas que abordavam o mesmo tema, mas de forma
diferenciada, seja na estrutura ou no tratamento temático.
Na sequência, foi feito um momento coletivo, para troca de ideias com
colegas sobre o poema escolhido na coletânea da caixa poética, como favorito,
(comentar jogos sonoros, imagens, ritmo, ideias, sensações, semelhanças e
diferenças entre os poemas selecionados, estilo, linguagem, etc)
b) Urna com frases poéticas incompletas:versos incompletos foram depositados
em uma urna. Eram versos engraçados, tristes, novos antigos... . No outro dia, os
alunos dirigiram-se até a urna e retiraram os versos, dando sentido aos mesmos
completando-os. Na sequência, os versos foram lidos pelos alunos e dependurados
em um varal de frases poéticas. Em um outro momento, eles puderam escolher,
entre os poemas do varal, aqueles que mais lhe agradaram, formando então, outros
grupos motivados pelo mesmo interesse.
c) Produção Ilustrativa de Poemas. Poemas ou versos, que inspiraram os alunos a
livremente expressarem-se através de desenhos. Foi uma forma de produção bem
interessante para desmistificar a ideia de que para compreender um texto literário,
precisa-se de perguntas diretas. O desenho transformou-se em outra poesia, um
texto rico em detalhes, de grande subjetividade, uma obra de arte.
Cada poema, verso ou fragmento, apresentou-se como uma nova
oportunidade para estendermos as discussões sobre o texto poético.
5.1 Ruptura das expectativas
Após a primeira fase de trabalho com os poemas tendo como objetivo
detectar os valores e as expectativas/ preferências dos alunos, foi realizado
atividades desejadas por eles e utilizado uma estratégia de leitura mais familiar, com
outras atividades que foram propostas para romper com o horizonte de expectativas,
propiciando um novo olhar, um contato com poemas de diferentes estilos e que
permitiu uma nova visão sobre o poder das palavras e como textos literários dizem
sempre mais do que está escrito.
Os poemas escolhidos nessa fase para trabalhar com a turma, precisamter
um estilo que não tenha surgido em sala nas primeiras atividades, para romper com
as expectativas. Exemplo:
A ponte dos meninos
A ponte
Um rinoceronte
com pés de cimento,
peito de ferro
e um ar de eternidade.
Os meninos debaixo da ponte
Tem pés de chinelo
Peito encolhido
E um ar de pouco tempo
Sobre a idade.
(Maria Dinorah)
O poema nos permitiu explorar:
A estrutura da 1ª estrofe - Ponte / rinoceronte. A metáfora: Aponte é um
rinoceronte. O significado de ar de eternidade. A antítese entre a1ª e a 2ª estrofe. A
junção dos elementos contraditórios na 3ª estrofe. Trabalhar as rima,as
comparações, aliterações.
Ao se trabalhar um texto literário, é preciso preocupar-se com a roupagem,
com os mistérios, com a organização, com a riqueza da linguagem. O olhar do aluno
precisa ser treinado para perceber esses elementos estéticos que compõe o poema.
O que se espera no trabalho do professor, é que a temática abordada no
poema não seja o único ponto a ser explorado em sala.
Um trabalho também interessante de questionamento e ampliação do
horizonte de expectativa pôde ser feito com os textos:
- Prosa Poética: Balada das mocinhas do passeio (Dalton Trevisan)
- Música: Meu caro amigo (Caetano Veloso e Chico Buarque)
A discussão da estrutura, contexto e composição foi pauta de reflexão
coletiva. A reflexão oriunda da discussão em equipes pôde ser verbalizada para toda
classe, revelando, inclusive, as necessidades de novas leituras.
5.2 O que é o HaicaiI?
Haicai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do
século 20 e hoje é uma técnica utilizada por muitos de nossos poetas. No Japão, e
na maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku.
Segundo Harold G. Henderson, em Haiku in English, o haicai clássico
japonês segue regras como:
- Consiste em 17 sílabas japonesas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas;
- Contém alguma referência à natureza ;
- Refere-se a um evento particular .
Exemplo:
Mulatas na pista,
Perco a vontade
De ser racista.
Trabalhar com Haicai em sala de aula,foi um excelente instrumento
pedagógico pois incentivou os alunos a escrever poesia e paralelamente a ampliar
as possibilidades de leitura.
A leitura de Haicais,oferece algumas vantagens ao leitor como: Ausência de
metáforas torna o haicai fácil de ser entendido, as coisas são vistas e registradas
como realmente são, sem a presença de figuras de linguagem. A poesia do haicai
surge da experiência do poeta, através da observação da natureza e da vida diária.
Não há uma receita pronta para se ensinar ou para aprender escrever
Haicai, mas algumas dicas bem objetivas,podem ajudar o professor que quer
trabalhar esse estilo com seus alunos:
- Levar os alunos para passear, num parque, no jardim da escola ou mesmo na rua,
pedindo-lhes que observem atentamente tudo ao redor.
- Após o passeio, pedir que descrevam o que lhes chamou a atenção, em três
linhas.
- Os registros devem então ser cada vez lapidados através da reescrita, até que
sobre apenas o essencial, isto é, sem acessórios.
- As três linhas que contemplam a essência de uma observação, esteticamente
trabalhada compõe um haicai.
Para alcançar a concisão do haicai, é importante insistir na simplicidade. Se
um aluno mistura árvores, pássaros, frutos e flores em um poema, precisa-se pedir
que faça uma escolha ,qual dos aspectos citados é realmente o mais importante no
momento. Inicialmente tema-se a ideia de que o poemeto quer dizer muito com
pouco, o que é um erro, uma vez que ele se propõe a dizer o necessário apenas.
Não interessa ao haicai abarcar o mundo com as pernas, mas simplesmente fazer
um registro do que está sendo visto, como lembra Ruiz (2008). Por isso, os
haicaístas são vistos como simplistas, por retratarem o mundo com uma escrita sem
floreios. Mas, segundo Schopenhauer (2008: 84), todo pensador autêntico se
esforça “para dar a seus pensamentos a expressão mais pura, clara, segura e
concisa possível”.
Existem poetas preocupados, ao extremo, com a precisão das palavras,
como é o caso de João Cabral de Melo Neto, que no poema Tecendo a manhã
(1994: 345) trabalha com a exatidão da palavra galo:
Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galo.
Após todo o trabalho de fundamentação, leituras e experiências com
Haicais, decoramos a sala com os Haicais produzidos pela turma, para que fossem
apreciados pelos demais alunos do colégio.
5.3 Autorretrato
O conceito de autorretrato abrange características tanto da aparência física
quanto psicológica da pessoa, é retratado aquilo que define mais a sua
personalidade;
É importante,antes de propor a atividade de produção do autorretrato,
retomar o conceito de retrato, ouvir a turma relatar experiências de retratar alguém.
Fazer algumas atividades preparatórias que servem para cada um pensar sobre si,
observar suas características físicas e psicológicas de maneira divertida, para em
seguida introduzir o exercício de se autorretratar.
A dinâmica de produção do autorretrato, é antiga, pois o ser humano sempre
quis deixar algum registro de sua imagem. O homem pré-histórico já desenhou sua
identidade com a marca das mãos dentro das cavernas. No Renascimento, o
autorretrato tornou-se bastante popular, pois os pintores começaram a retratar seus
próprios rostos com o intuito de deixar suas imagens gravadas para o futuro.
A construção do autorretrato, permite o autor expressar em suas pinturas o
que sente internamente, suas emoções, seus pensamentos, seu jeito de ser ( alegre,
desconfiado, agitado, calmo). Permite retratar sua aparência ressaltando traços que
aprecia ou rejeita em si mesmo e que marcam muito sua personalidade.
Contextualizando o assunto, o professor pode comentar as formas atuais
que os artistas usam para se retratar, como fotografia, esculturas, uso de novas
tecnologias como vídeos e etc.
5.4 Chá literário
Momento de socializar com familiares, amigos e professores o trabalho feito
com poemas em sala de aula.
Expor a toda comunidade as produções poéticas, fazer declamações, ouvir
depoimentos de como foi participar de todas as atividades do projeto, não deixa de
ser um estímulo aos demais , pois percebem que trabalhar com a poesia é algo que
prazeroso , interessante e muito produtivo.
Considerações Finais
A pesquisa bibliográfica e as atividades apresentadas nesse artigo visaram
enriquecer o trabalho realizado em sala de aula, com alunos do 1º ano do Ensino
Médio, envolvendo o texto poético (poema), como uma estratégia metodológica para
desenvolver o hábito da leitura.
Precisa ficar claro a todos os educadores, que o ato de escrever ou ler um
poema, precisa ter um sentido mais amplo e profundo, deve levar ao
questionamento, a descoberta do valor e da elegância das palavras. È preciso
considerar, que sendo a linguagem poética originária da imaginação e da
criatividade, não há uma receita para interpretar poemas, dependerá das
experiências e da sensibilidade de cada leitor ao se envolver com a
plurissignificação das palavras.
A realidade escolar, nos mostra que é preciso descobrir formas de
familiarizar e de aproximar os adolescentes e os jovens do texto poético. E essa
forma de familiarização e aproximação deve ser feita através de um bom plano de
aula, para evitar afirmações infundadas como: Poemas são difíceis de interpretar e
entender porque são subjetivos.
É necessário que o professor compreenda que o ato de interpretar um
poema, não pode ficar restrito a sua forma de apresentação, ou seja, como ocorre a
disposição das palavras ,dos versos , das rimas, e nem somente pelos questionários
propostos pelos livros didáticos,pois em geral são superficiais. O professor deve
partir de uma leitura poética de mundo, da percepção da intertextualidade e das
figuras de linguagem presentes nos textos, da apreciação lúdica e de muitas outras
formas, criar com seriedade, mas brincando com palavras. É interessante que
poemas sejam trabalhados com os alunos durante o ano todo, para que
gradativamente aumentem o interesse pela leitura deste gênero textual.
Fazendo uso da Teoria da Estética da Recepção, que valoriza a interação
efetiva entre aluno/ professor/ autor/texto, pôde-se perceber que são muitos os
elementos existentes para se encontrar veios poéticos belíssimos, que podem
chegar aos educandos de modo simples, aberto e prazeroso, tornando-se rica a
experiência de ler e sentir um poema.
Após a realização das atividades propostas, afirmo que socializar com
familiares, amigos e os demais alunos da Instituição (Chá poético), as experiências e
as produções poéticas é fundamental. A partilha é algo interessante, também
contagia positivamente todos os envolvidos, por isso, valeu a pena organizar um
momento de confraternização que valorizou todo o trabalho com poemas realizado
em sala de aula.
Referências Bibliográficas
JAUSS, Hans Robert et al. A literatura e o leitor: textos da estética da recepção.Trad. Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
BORDINI, M.G; AGUIAR, V. T. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Alberto, 1988. Série Novas Perspectivas.
BORGES, Jorge Luiz. Esse Ofício do Verso. Organização: Calin Andrei Mihailescu; tradução José Marcos Macedo – São Paulo - Companhia das Letras. 2000.
LIRA,Pedro.Conceito de Poesia,2ª.ed.São Paulo: Ática,1992
MOISÉS,M.1984.A criação literária – Poesia, São Paulo,Cultrix,317 p.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de LínguaPortuguesa para Educação Básica, 2006.