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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: CORONELISMO, ONTEM E HOJE

Autor MARIA ROSSATO MARCOLINA

Escola de Atuação COLÉGIO ESTADUAL SANTA CLARA

Município da escola CANDÓI

Núcleo Regional de Educação

GUARAPUAVA

Orientador WALDEREZ POHL DA SILVA

Instituição de Ensino Superior

UNICENTRO

Disciplina/Área (entrada no PDE)

HISTÓRIA

Produção Didático-pedagógica

CADERNO TEMÁTICO

Relação Interdisciplinar

(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)

HISTÓRIA, GEOGRAFIA, ARTES, LINGUA PORTUGUESA.

Público Alvo

(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)

ALUNOS DA TERCEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO DO COLÉGIO ESTADUAL SANTA CLARA

Localização

(identificar nome e endereço da escola de implementação)

RUA MANOEL LOPES DE OLIVEIRA 2956

Apresentação:

(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200

JUSTIFICATIVA

Sabendo-se que a escola é um espaço de troca e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular, fontes sócio-históricas do conhecimento, o ensino de História deve levar a emancipação humana, através de seus

palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

conteúdos específicos.

Nesta perspectiva a contextualização sócio-histórica é princípio integrador do currículo e deve contribuir para que o conhecimento ganhe significado para os alunos, fazendo-os se apropriarem do conhecimento, compreenderem que as estruturas sociais são históricas, contraditórias e abertas, propiciando a formação de sujeitos.

OBJETIVOS

Aprofundar o conhecimento teórico através da leitura, a interpretação e a reflexão na disciplina de História, enfocando na História da República Velha do Brasil, o coronelismo, contextualizando-o com a nossa realidade.

Levar os alunos a busca do conhecimento teórico através da leitura dos fatos do passado.

Buscar diferentes autores, a fim de verificar a veracidade dos fatos.

METODOLOGIA

Este trabalho se processará através da apresentação e análise de dados das bibliografias referentes ao tema escolhido. Após estas abordagens, requer-se um método específico baseado na explicação e interpretação dos fatos do passado numa perspectiva do tempo e do espaço, e o processo de mudança, rupturas e permanências.

Isso deverá ocorrer através de estudo de textos, questionamento, resumos e análise da realidade, história oral dos alunos, contextualizando com o conteúdo específico proposto.

Palavras-chave ( 3 a 5 palavras)

CORONELISMO, REPÚBLICA VELHA, ECONÔMIA, POLÍTICA

1- Apresentação

Secretaria de Estado da Educação – SEED

Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE

Universidade do Centro Oeste – UNICENTRO

Produção Didática Pedagógica – Caderno Temático

Profª PDE – Maria Rossato Marcolina.

Disciplina: História

Profª Orientadora – Walderez Pohl da Silva

IES Vinculada – Unicentro

Escola de Implementação: Colégio Estadual Santa Clara. Ensino

Fundamental e Médio.

Público e Objeto da Intervenção: Ensino Médio – 3ª Séries

Tema de estudo: História e Historiografia da Disciplina de História

Título: Coronelismo Ontem e hoje

Resumo

Este trabalho trata do coronelismo, o qual foi um modelo político

econômico que se desenvolveu na República Velha do Brasil, mas que ocorre

até hoje em algumas regiões do país.

O coronelismo não passa despercebido aos olhos do governo.

Sabendo-se que o poder econômico gerencia o político. Os escritos sobre o

coronelismo nos dão prova disso.

O poder econômico e político na República Velha, no que concerne aos

coronéis é algo repugnante, tendo em vista a nossa democracia hoje. “É

oportuno lembrar que essas práticas somente ocorriam na República Velha”.

Justificativa do Tema do Estudo:

Sabendo-se que a escola é um espaço de troca e diálogo entre os

conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular, fontes

sócio-históricas do conhecimento, o ensino de História deve levar a

emancipação humana, através de seus conteúdos específicos. Nesta

perspectiva a contextualização sócio-histórica é princípio integrador do

currículo e deve contribuir para que o conhecimento ganhe significado para os

alunos, fazendo-os se apropriarem do conhecimento, compreender que as

estruturas sociais são históricas, contraditórias e abertas, propiciando a

formação de sujeitos históricos numa perspectiva crítica, despertando reflexões

de aspectos político, econômicos, culturais e sociais da produção do

conhecimento histórico.

A nova proposta pedagógica das DCEs considera a diversidade cultural

e a memória brasileira, sob uma perspectiva de inclusão social, e os conteúdos

de História do Brasil são obrigatórios no ensino fundamental e médio, pois a

História passou a existir como disciplina escolar com a criação do Colégio

Pedro II em 1837. No mesmo ano, foi criado o Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro que constituiu a História como disciplina acadêmica nos moldes do

positivismo. Mas hoje a História é trabalhada sob outros moldes, principalmente

atrelando a História oficial com a popular e a realidade da escola em que se

trabalha.

Objetivos:

Objetivo Geral:

Aprofundar o conhecimento teórico através da leitura, a interpretação e a

reflexão na disciplina de História, enfocando na História da República Velha do

Brasil, o coronelismo, contextualizando-o com a nossa realidade.

Objetivos Específicos:

Levar os alunos a buscar o conhecimento teórico através da leitura dos

fatos do passado.

Buscar, juntamente com os alunos, diferentes autores, a fim de verificar

a veracidade dos fatos.

Levar os alunos a conhecer fatos da realidade, confrontando-os com os

conteúdos estudados.

Despertar consciência crítica para o entendimento da realidade.

Buscar meios para que o estudo se torne agradável.

Lembrar-los que mais tarde eles poderão estar no poder político,

municipal, estadual ou até federal.

Problematização:

A História é uma disciplina abrangente e, por isso exige dedicação à

leitura. Mas os alunos ou a maioria deles não gostam de ler ou não tem esse

hábito, em conseqüência se torna muito difícil a interpretação dos fatos.

Levando em consideração outros meios para se buscar o conhecimento,

sem a leitura do passado, a contextualização se torna inviável, pois muitas

vezes em determinados espaços ou regiões, a realidade é idêntica a certos

episódios do passado e os alunos não entendem ou sequer percebem. Aí está

à dificuldade de se trabalhar a História, mas é preciso partir do pressuposto de

que ensinar História é construir um diálogo entre presente e passado.

Fundamentação teórica

Com o intuito de buscar maior conhecimento bem como dividi-lo com os

alunos, parece oportuno reproduzir aqui pequenos trechos de estudo do

coronelismo na República Velha do Brasil. Acontecimento histórico ocorrido

nos anos de 1889-1930, tendo em vista que este assunto é pouco abordado

nos livros didáticos e sabendo-se que este é o único material acessível ao

público alvo desta pesquisa.

Como pode ser visto nos modelos político- econômicos, não somente na

República Velha, mas desde a época da colonização até hoje, esse modelo

ocorre em territórios mais distantes e muitas vezes bem perto do nosso local de

origem.

O que mais chama a atenção é o fato de que esses poderosos sabem o

quanto isso é destruidor, levando-se em consideração o povo, os chamados

“cidadãos”, tendo em vista ainda a exploração e expropriação dos direitos de

exercer a cidadania e participar da construção da História como um todo, como

pode ser visto nos textos a seguir.

Caderno Temático

Coronelismo Ontem e Hoje

Conceitos:

Coronel:

No império o termo Coronel é uma alusão à Guarda Nacional Imperial. Na República é a figura do dono das terras, árbitro social e líder político. (VILAÇA & ALBUQUERQUE: 2003, 23)

Este coronel exercia poder econômico, pois era dono de grandes áreas

de terra, o chamado latifúndio, trata-se também de alguém que em

conseqüência desse poder, onde abrigava ou não muitas pessoas exerciam

domínio social. É muito importante destacar que a nível político havia acordos

com o governo no que diz respeito às três esferas políticas. Como pode ser

visto nos modelos apresentados. Em épocas eleitorais o coronel manipulava o

povo. Isso pode ser chamado “Voto de Cabresto”.

Coronelismo:

O Coronelismo foi um sistema político, uma complexa rede de relações que vai desde o coronel até o presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos. (CARVALHO: 1998, 131)

Dentro do quadro o qual vimos o coronelismo não passa despercebido

aos olhos do governo. Sabendo-se que o poder econômico gerencia o político.

Os escritos sobre o coronelismo nos dão prova disso.

Voto de Cabresto:

Na República Velha, o sistema eleitoral era muito frágil e fácil de ser manipulado. Os coronéis compravam os votos para seus candidatos ou trocavam votos por bens materiais. Como o voto era aberto, os coronéis mandavam capangas para os locais de votação com o objetivo de intimidar os eleitores e ganhar votos. As regiões controladas politicamente pelos coronéis eram conhecidas como currais eleitorais. (www.suapesquisa.com pág. 1)

Fraude Eleitoral:

Os coronéis costumavam alterar votos, sumir com urnas e até mesmo patrocinavam a prática do voto fantasma. Este último consistia na falsificação de documentos para que as pessoas pudessem votar várias vezes, ou até mesmo usar o nome de pessoas falecidas nas votações. (www.suapesquisa.com pág. 1)

Efetivamente como apresentam os textos o poder econômico e político

na República Velha, no que concerne aos coronéis é algo repugnante, tendo

em vista a nossa democracia hoje. “É oportuno lembrar que essas práticas

somente ocorriam na República Velha”.

Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo

Pode-se argumentar que o problema das relações políticas entre o poder local e o poder nacional não será resolvido por meio de discussões conceituas. O que seria necessário é mais pesquisa de campo.

Parece-me que estamos em um desses momentos nos estudos de poder local e suas relações com o Estado Nacional do Brasil. Há imprecisões e inconsistência no uso de conceitos básicos como mandonismo, coronelismo, e patrimonialismo. (CARVALHO: 1998,

130).

Conforme indicado acima será necessário um estudo de campo para

análise de aspectos econômico políticos e sociais a fim de verificar possíveis

permanências, bem como confirmar ou não conceitos estudados anteriormente.

De qualquer forma estudaremos os conceitos já existentes.

Coronelismo:

O Coronelismo é datado historicamente. Na visão de Leal, ele surge na confluência de um fato político com uma conjuntura econômica. O fato político é o federalismo implantado pela república em substituição ao centralismo imperial. O federalismo criou um novo ator político com amplos poderes, o governador do Estado. O antigo presidente de província, durante o império, era um homem de confiança do ministério, não tinha poder próprio, podia a qualquer momento ser removido, não tinha condições de construir suas bases de poder na província à qual era muitas vezes, alheio. No máximo, podia preparar sua própria eleição para deputado ou senador. (CARVALHO: 1998, 131)

Segundo José Murilo de Carvalho, o coronelismo é um fato surgido em

consequência do poder econômico. No Império essa conotação política era o

federalismo o qual substituía o centralismo imperial. O federalismo fez surgir

outra figura política, o governador do Estado com grandes poderes, já que os

presidentes das províncias não tinham poder próprio.

O governador republicano, ao contrário, era eleito pela máquina dos partidos únicos estadual, era o chefe da política estadual. Em torno dele se arregimentavam as oligarquias locais dos quais os coronéis eram os principais representantes. “Seu poder consolidou-se após a política dos Estados implantada por Campos Sales em 1898, quando decidiu apoiar os candidatos eleitos pela política dominante no respectivo Estado”. Segundo Sales, era dos Estados que se governava a República. (CARVALHO: 1998, 131-132)

O texto deixa claro, a relação entre governo e elite rural. Para realizar-se

o desejo do presidente no que concerne à política, efetivamente a troca de

favores, era a regra geral. Conforme indicado acima, foi no governo de Campos

Sales em 1898 que essa conjuntura política se efetivou, tendo em vista a

dependência do governo no que diz respeito aos grandes proprietários de terra.

A conjuntura econômica, segundo Leal, era a decadência econômica dos fazendeiros. Esta decadência acarretava enfraquecimento do poder político dos coronéis em face de seus dependentes e rivais. A manutenção desse poder passava então, a exigir a presença do Estado, que expandia sua influência na proporção em que diminuía a dos donos da terra. O coronelismo era fruto de alteração na relação de forças entre os proprietários rurais e o governo, e significava o fortalecimento do poder do Estado antes que o predomínio do coronel, durante a Primeira República. (CARVALHO: 1998, 132)

No que diz respeito à visão de Leal, dentro deste quadro ao qual vimos,

é importante destacar que nem o governo, nem o coronel, considerando a

relação recíproca entre ambos, não agiam isoladamente. Portanto, o

coronelismo é um sistema político de estreita relação existente onde havia as

barganhas entre o governo e os coronéis. Nesse processo o coronel garante

votos ao governo e este concede-lhes o controle de cargos políticos.

O coronelismo é a fase do processo mais longo de relacionamento entre fazendeiros e o governo. Essa visão do coronelismo distingue da noção de mandonismo. Este talvez seja o conceito que mais se aproxima do caciquismo na literatura hispano-americana. Refere-se à existência local de estruturas oligárquicas e personalizadas de poder. O mandão, o patentado, o chefe ou mesmo o coronel como indivíduo é aquele que, em função do controle de algum recurso estratégico, em geral a posse da terra, exerce sobre a população um domínio pessoal e arbitrário que a impede de ter livre acesso ao mercado e à sociedade política. O mandonismo não é um sistema é uma característica da política tradicional. (CARVALHO:

1998, 132-133)

Segundo o autor, o texto refere-se às oligarquias poderosas, onde o

controle era exercido de forma arbitrária sobre a população, a qual não possuía

liberdade no aspecto econômico e político.

Pode-se concluir que o mandonismo como característico do

coronelismo, efetivamente não deixava de lado a exploração e opressão sobre

o povo expropriado de capital, a terra.

Da imagem simplificada do coronel como grande latifundiário isolado em sua fazenda, senhor absoluto de gentes e coisas, emerge das novas pesquisas um quadro mais complexo em que coexistiam vários tipos de coronéis desde latifundiários e comerciantes, médicos e até padres. Alguns autores encontraram o coronelismo urbano. De modo geral indicam um tipo de relação entre atores políticos na forma de empregos, vantagens fiscais, isenções, em troca de apoio político, sobretudo na forma de votos. (CARVALHO: 1998, 133)

Sob tal enfoque, fica claro a relação entre poder econômico e poder

político, e, esta pode ser reconhecida à medida que se realizam pesquisas.

Contudo há uma melhor compreensão dos fatos e acontecimentos através dos

tempos.

Considerando estas colocações, cabe aqui ressaltar que o coronelismo,

hoje pode ser chamado clientelismo, à medida que em épocas eleitorais se tem

conhecimento através de notícias de jornal, rádio e televisão, de escândalos no

sentido de compra de votos por candidatos, os quais praticam ações que

designa fraude eleitoral.

Contudo é importante destacar que tais atitudes tomadas por alguns

candidatos são com relação a pessoas pobres e desprovidas de benefícios.

Desta forma fica muito fácil a compra de votos em troca de alguns quilos de

alimento. O que se pode afirmar é que muito pouco é feito por parte desses

caciquismo em prol dessa população, no sentido de formação ou educação,

saúde, trabalho e lazer. Estas considerações deixam claro o que ocorre a cada

época eleitoral em muitas regiões do país.

O importante em todo o debate não é discutir se existiu ou se existe dominação. Ninguém nega isto. O problema é detectar a natureza da dominação. Faz enorme diferença se ela procede de um movimento centrado na dinâmica do conflito de classes, gerado na sociedade que surgiu da transformação do feudalismo na moderna sociedade industrial via contratualismo, representação de interesses, partidos políticos liberalismo político; ou se ela se funde na expansão lenta do poder do Estado que aos poucos penetra na sociedade e que engloba as classes via patrimonialismo, clientelismo, coronelismo, populismo,

corporativismo. É esta diferença que faz com que o Brasil e a America Latina não seja os EUA e a Europa. (CARVALHO: 1998, 147-148)

A partir do conjunto dessas idéias, é importante lembrar o início da

nossa colonização. Trata-se de um modelo calcado sob o aspecto de

exploração. Desde a chegada dos europeus, em 1500 o Brasil foi explorado. A

partir desta concepção, há que se ressaltar que esse modelo parece ser uma

doutrina ao longo dos tempos. Mudam os sujeitos, mas não as práticas. De

maneira geral, o que se percebe claramente são as formas com que muitas

pessoas chegam ao poder. Considerando que somos um país em

desenvolvimento, mas que ainda a maioria da população é desprovida do

saber e do ter. Desse fato decorre a tendência de existir os chamados:

coronelismo ou clientelismo em muitas regiões do Brasil.

Estratégia de ação

A implementação será realizada no Colégio estadual Santa Clara, com os

alunos do 3º ano do ensino médio, em contra turno. Serão utilizadas

aproximadamente 10 horas aula. Todas as atividades serão desenvolvidas no

período contra turno, em sala de aula, no colégio Estadual Santa Clara em

Candói-PR.

Os critérios adotados serão os seguintes:

Apresentação aos Alunos, do conteúdo situando tempo e espaço.

Distribuição de material de apoio.

Explanação aos alunos, através de tópicos referentes ao conteúdo,

utilizando TV pen-drive e outros recursos tecnológicos.

Construção de texto de forma coletiva.

Confecção de sharges sobre o tema estudado.

Elaboração de atividades referentes ao coronelismo, como: cruzadinha e

outras para a fixação do conteúdo.

A avaliação contínua, individual e em grupos.

Produção de texto individual.

Textos de Apoio

Formar grupos de três alunos e fazer a leitura dos seguintes textos:

Texto 1

CORONELISMO

O coronelismo é um sistema político, uma complexa rede de relações

que vai desde o coronel até o presidente da República, envolvendo

compromissos recíprocos. O coronelismo, além disso, é datado historicamente.

Na visão de Leal, ele surge na confluência de um fato político com uma

conjuntura econômica. O fato político é o federalismo implantado pela

República em substituição ao centralismo imperial. O federalismo criou um

novo ator político com amplos poderes, o governador de Estado. O antigo

presidente de província, durante o Império, era um homem de confiança do

Ministério, não tinha poder próprio, podia a qualquer momento ser removido,

não tinha condições de construir suas bases de poder na província à qual era,

muitas vezes, alheio. No máximo, podia preparar sua própria eleição para

deputado ou senador.

O governador republicano, ao contrário, era eleito pelas máquinas dos

partidos únicos estadual, era o chefe da política estadual. Em torno dele se

arregimentavam as oligarquias locais, das quais os coronéis eram os principais

representantes. (CARVALHO: 1998, 131-132).

Texto 2

MANDONISMO

Essa visão do coronelismo distingue-o da noção de mandonismo. Este

talvez seja o conceito que mais se aproxime do de caciquismo na literatura

hispano-americana. Refere-se à existência local de estruturas oligárquicas e

personalizadas de como indivíduo, é aquele que, em função do controle de

algum recurso estratégico, em geral a posse da terra, exerce sobre a

população um domínio pessoal e arbitrário que a impede de ter livre acesso ao

mercado e à sociedade política. O mandonismo não é um sistema, é uma

característica da política tradicional. Existe desde o inicio da colonização e

sobrevive ainda hoje em regiões isoladas. A tendência é que desapareça

completamente à medida que os direitos civis e políticos alcancem todos os

cidadãos. A história do mandonismo confunde-se com a história da formação

da cidadania, desaparecendo um ao ser expulso pela outra.

Na visão de Leal, o coronelismo seria um momento particular do

mandonismo, exatamente aquele em que os mandões começam a perder força

e têm de recorrer ao governo. Mandonismo, segundo ele, sempre existiu. É

uma característica do coronelismo, assim como o é o clientelismo. Ao referir-se

ao trabalho de Eul-Soo Pang, que define coronelismo como exercício de poder

absoluto, insiste: “Não é, evidentemente, ao meu coronelismo que se refere”, e

continua: “não há uma palavra no meu livro pela qual se pudesse atribuir o

status de senhor absoluto ao coronel, ou às expressões pessoais de mando do

sistema coronelista.” Mais ainda: “Em nenhum momento, repito, chamei o

coronel de senhor absoluto.” (Leal, 1980, p.12-13; Pang, 1979). (CARVALHO:

1998, 133).

Texto 3

CLIENTELISMO

Outro conceito confundido com o de coronelismo é o de clientelismo.

Muito usado, sobretudo por autores estrangeiros escrevendo sobre o Brasil,

desde o trabalho pioneiro de Benno Galjart (1964, p.3-24; 1965, p.145-152), o

conceito de clientelismo foi sempre empregado de maneira frouxa. De modo

geral, indica um tipo de relação entre autores políticos que envolvem

concessão de benefícios públicos, na forma de empregos, vantagens fiscais,

isenções, em troca de apoio político, sobretudo na forma de voto. Este é um

dos sentidos em que o conceito é usado na literatura internacional. (Kaufman,

1977). Clientelismo seria um atributo variável de grandes sistemas políticos.

Tais sistemas podem conter maior ou menor dose de clientelismo nas relações

entre atores políticos. Não há duvida de que o coronelismo no sentido

sistêmico aqui proposto envolve relações de troca de natureza clientelística.

Mas, de novo, ele não pode ser identificado ao clientelismo, que é um

fenômeno muito mais amplo. Clientelismo assemelha-se, na amplitude de seu

uso, ao conceito de mandonismo. Ele é o mandonismo visto do ponto de vista

bilateral. Seu conteúdo também varia ao longo do tempo, de acordo com os

recursos controlados pelo atores políticos, em nosso caso pelos mandões e

pelo governo.

De algum modo, como o mandonismo, o clientelismo perpassa toda a história

política do País. Sua trajetória, no entanto, é diferente da do primeiro. Na

medida em que o clientelismo pode mudar de parceiros, ele pode aumentar e

diminuir ao longo da história, em vez de percorrer uma trajetória

sistematicamente decrescente como o mandonismo. Os autores que vêem

coronelismo no meio urbano e em fases recentes da história do País estão

falando simplesmente de clientelismo. As relações clientelísticas, nesse caso,

dispensam a presença do coronel, pois ela se dá entre o governo, ou políticos,

e setores pobres da população. Deputados trocam votos por empregos e

serviços públicos que conseguem graças à sua capacidade de influir sobre o

Poder Executivo. Nesse sentido, é possível mesmo dizer que o clientelismo se

ampliou com o fim do coronelismo e que ele aumentou com o decréscimo do

mandonismo. À medida que os chefes políticos locais perdem a capacidade de

controlar os votos da população, ele s deixam de serem parceiros interessantes

para o governo, que passa tratar com os eleitores, transferindo para estes a

relação clientelística.

Exemplo claro dessa situação é o da cidade que na década de 60 era

dominada por duas famílias, cujo poder se baseava simplesmente na

capacidade de barganhar empregos e benefícios públicos em troca de votos.

(Carvalho, 1966, p.153-194). As famílias não tinham recursos próprios, como

os coronéis, e o fenômeno não era sistêmico, embora houvesse vínculos

estaduais e federais. Por vários anos as duas famílias mantiveram o controle

político da cidade, alternando-se no poder. Os resultados eleitorais eram

previstos de antemão com precisão quase matemática. Os votos tinham dono,

eram de uma ou de outra família. Tratava-se de um caso exacerbado de

clientelismo político exercido num meio predominantemente urbano. Não se

tratava de coronelismo. (CARVALHO: 1998, 134-135).

Texto 4

NO IMPÉRIO

Os grandes proprietários são vistos como onipotentes dentro de seus

latifúndios, onde, como disse um cronista, só precisavam importar ferro, sal,

pólvora e chumbo. Durante a Colônia eram alheios, se não hostis, ao poder do

governo. Após a Independência, passaram a controlar a política nacional,

submetendo o Estado a seus desígnios. A formulação mais contundente da

tese feudal esta em Nestor Duarte. As capitanias hereditárias seriam segundo

este autor, instituições legitimamente feudais, e o feudalismo teria dominado os

três primeiros séculos da historia nacional. Pouco teria mudado após a

Independência, pois “o poder político se encerra nas mãos dos que detêm o

poder econômico”. (Duarte, 1939, p.181). A ordem privada, antagônica e hostil

ao Estado como poder público, teria governado soberana durante todo o

período imperial e ainda predominaria à época em que o livro foi escrito. Para

ser tolerado pela ordem privada, o Estado, enquanto tal omite-se e reduz suas

tarefas à mera coleta de impostos. No resto, o Estado é privatizado e age em

função dos interesses da classe proprietária. (CARVALHO: 1998, 140).

Texto 5

A GUARDA NACIONAL

No império, a Guarda Nacional foi à grande instituição patrimonial que

ligou proprietários rurais ao governo. Ela não foi criada por proprietários, nem

era uma associação que os representasse. Foi criada pelo governo durante a

Regência, inicialmente para fazer face aos distúrbios urbanos desencadeados

após a abdicação do Imperador e sua inspiração era a guarda francesa, uma

organização burguesa. (Castro, 1977). Posteriormente é que foi sendo

transformada no grande mecanismo patrimonial de cooptação dos proprietários

rurais. Daí os muitos conflitos estes analisados por Thomas Flory (1981). Os

oficiais da Guarda não apenas serviam gratuitamente como pagavam pelas

patentes e frequentemente fardavam as tropas com recursos do próprio bolso.

A escolha democrática dos oficiais, por eleição, foi aos poucos sendo eliminada

para que a distribuição de patentes de oficiais correspondesse o melhor

possível à hierarquia social e econômica. Em contrapartida, a Guarda colocava

nas mãos do senhoriato o controle da população local. (CARVALHO: 1998,

145).

Texto 6

PATRIMONIALISMO

Não se resumia à Guarda Nacional o ingrediente patrimonial do sistema

imperial. Os delegados, delegados substitutos, subdelegados e subdelegados

substitutos de polícia, criados em 1841, eram também autoridades

patrimoniais, uma vez que exerciam serviços públicos gratuitamente. O mesmo

pode ser dito inspetores de quarteirão, que eram nomeados pelos delegados.

Praticamente toda a tarefa coercitiva do Estado no nível local era delegada aos

proprietários. Algumas tarefas extrativas, como a coleta de certos impostos,

eram também contratadas com particulares. O patrimonialismo gerava

situações extremas como a de um município de Minas Gerais onde os serviços

patrimoniais, assim como os cargos eletivos de juiz de paz, vereador e senador

estavam nas mãos de uma só família. Treze pessoas ligadas por laços de

parentesco ocupavam quase todos os postos, algumas acumulavam cargos

eletivos e patrimoniais, como o de vereador e os de comandante da Guarda

Nacional e subdelegado. O Estado utilizava ainda os serviços da Igreja para

executar suas tarefas: todos os registros de nascimento, de casamento, de

morte eram feitos pelo clero e reconhecidos pelo Estado. Durante boa parte do

período imperial, os padres tinham também papel importante nas eleições, que

eram realizadas dentro das igrejas. Ele foram também encarregados de

informar ao governo sobre a existência de terras publicas nos municípios,

quando da aplicação da lei de terras de 1850. (CARVALHO: 1998, 145-146).

Texto 7

OS CORONÉIS

As figuras de donos de terras, árbitros sociais e lideres políticos que

foram os coronéis de Agreste e do Sertão, quatro delas retratadas neste livro,

enquadram-se na moldura dessa sociedade patriarcal que se formou no interior

seco do Nordeste e cujas raízes maiores se procuraram sucintamente delinear

até aqui.

Eles reproduzem nas fazendas e pequenas cidades do interior os

senhores de engenho das casas-grandes da Zona da Mata e dos sobrados das

maiores cidades do litoral dessa região.

Historicamente, os senhores de engenho guardam, com relação aos

coronéis do Agreste e do Sertão, a aura da ancestralidade, pois se

anteciparam, por mais de dois séculos, a eles. Os coronéis do interior, contudo,

prolongaram seu nome, prestigio e influência até pelo menos meados do

século XX, tendo, portanto, sobrevivido por mais de meio século a seus

precursores, os coronéis do açúcar.

Econômica e socialmente, esses coronéis interioranos não detiveram

grandes cabedais de riqueza, nem ostentaram o brilho e a pompa vividos, em

particular no século XIX, por alguns de seus prógonos do açúcar. Eles foram à

reverberação matuta, agropastoril, semi-árida dos enobrecidos senhores de

engenho e de canaviais da faixa úmida do litoral.

Confrontá-los é, pois, oportuno, tanto para salientar seu parentesco

quanto para ressaltar suas muitas peculiaridades.

Os senhores de engenho do Nordeste normalmente integravam o que, a

partir da Restauração Pernambucana (1654) e, com mais visibilidade, no tempo

da Guerra dos Mascates (1710), se passou a conhecer como a nobreza da

terra: um estamento social nitidamente diferenciado, autoconsciente de seu

poder e supremacia de classe. Alguns deles descendiam das melhores

linhagens portuguesas, embora tenham pertencido comumente a ramos

empobrecidos dela, por isso mesmo disposto a enfrentar a saga da

colonização. (VILAÇA & ALBUQUERQUE: 2003, 23-24).

Texto 8

OS CORONÉIS DO AGRESTE E DO SERTÃO

Os coronéis do Agreste e do Sertão são a contraparte interiorana dos

coronéis do açúcar. Alguns deles também integraram a Guarda Nacional,

podendo exibir, com especial orgulho, suas cartas-patentes. Outros, embora

não as possuindo, assim eram chamados e como tal amplamente

reconhecidos, desse modo ampliando seu prestígio à sombra da respeitada

distinção. Todos eles igualmente exercendo, em seus mundos, indiscutível

liderança: na economia, na sociedade, na política.

Foram donos de vastas extensões de terra, de numerosos rebanhos, de

muitos outros negócios. Tornaram-se os chefes patriarcais de famílias

estendidas, englobando toda a parentela e inúmeros outros agregados, além

de constantemente ampliadas pelos afilhados gerados nos muitos compadrios.

Tiveram a seu serviço milícias de capangas, prepostos de suas vontades.

Comandaram o processo político pelo controle quase completo, em suas áreas

de influencia, das eleições. Consolidaram-se, com o tempo, como senhores

absolutos, incontestados, donos também do comércio, da indústria local.

O fenômeno sociopolítico é o mesmo, na Zona da Mata e no Agreste e

Sertão: exprime-se pelo exercício de uma autoridade, de um poder, de um

domínio quase total. O que os distingue é o mundo que os cerca, diverso em

suas paisagens, nos modos de produção, nos níveis de riqueza acumulada,

nas molduras sociais, nos hábitos de viver, em algumas representações

ideativas. (VILAÇA & ALBUQUERQUE: 2003, 25-26).

Atividades

1 – Após ler os textos sugeridos, represente-os com charges.

2 – Trace um paralelo do conteúdo dos textos com a nossa realidade.

3 – Explique o conteúdo de cada texto aos colegas de classe. (Seminário)

4- Para saber mais consulte as seguintes bibliografias:

Conclusão

Na presente discussão procuramos buscar autores e textos claros, os

quais não deixaram dúvidas sobre o tema proposto. Mas, antes de tudo parece

importante salientar, como regra geral, a necessidade de muito mais estudo

tendo em vista a complexidade relevante deste assunto. Sim, porque a

dinâmica do sistema político e econômico do Brasil, levando-se em

consideração a dimensão do nosso território, existe um vasto estudo ainda a

ser feito no que diz respeito a esse tema.

Referências

ARRUDA, José Jobson de – Nelson Piletti. Toda História. São Paulo 1996. 4ª Ed. Ed Ática. CAMPOS, Flavio de – Renan Garcia Miranda. São Paulo. 2005. 1ª ed. Ed. Escola Educacional. CARVALHO, José Murilo de. Pontos e bordados: escritos de história política. Belo Horizonte. Ed. UFMG, 1998. COTRIN, Gilberto. História e Consciência do Brasil. São Paulo 1999. 7ª ed. Ed. Saraiva. DCEs, diretrizes curriculares da educação básica.Paraná 2008. FIGUEIRA, Divalti Garcia. Enxada e Voto. São Paulo 2005 5ª ed. Ed. Ática. JANOTI, Maria de Lourdes Monaco. Coronelismo: uma política de compromissos. 8ª ed. (S.1): Brasiliense, São Paulo, 1992. ISBN 85-11-02013-6.

LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto, Rio de Janeiro 1991. Revista Forense. PEREIRA QUEIRÓS, Maria Isaura de. O Mandonismo Local na Vida Política Brasileira. São Paulo. 1996 . Ed. Alfa-Ômega. SCHIMIDT, Mário. História Crítica. 1ª Ed São Paulo. 2008 Ed. Nova Geração. VILAÇA, Marcos Vinícios. Coronel Coronéis. Rio de Janeiro 2003. 4ª ed. Ed. Beltrand. Brasil LTDA.