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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título Formação em Serviço: um trabalho coletivo na

instituição escolar Autor Eli Cristina Domingues Escola de atuação Colégio Estadual Padre José de Anchieta Município da escola Jaguariaíva Núcleo Regional de Educação Wenceslau Braz Orientador Vera Lucia Martiniak Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG Disciplina/Área Pedagogia Produção Didático-pedagógica Artigo Relação Interdisciplinar Todas as disciplinas do Ensino Fundamental e

Médio Público Alvo Gestor, Pedagogo e Professores Localização Colégio Estadual Padre José de Anchieta

Rua Abílio Russi, 319 Jardim Matarazzo Jaguariaíva – PR

Apresentação Este artigo aborda as dificuldades e possibilidades de organização do trabalho coletivo na instituição escolar, a partir de pressupostos de que essa modalidade organizacional pode vir a constituir-se num fator de construção de uma escola democrática e de qualidade, apta a responder as exigências de uma sociedade em constante mudança. O objetivo deste estudo é levar os professores a refletirem sobre a importância da prática do trabalho coletivo dentro da escola, favorecendo a discussão, o diálogo, a interação, o enriquecimento e fortalecimento do trabalho educativo. Aborda o cotidiano escolar como espaço de reflexão coletiva e a formação continuada a partir de iniciativas da própria escola, culminado com algumas considerações finais sobre o tema, que indicam a importância da continuidade e aprofundamento dos estudos sobre formação em serviço, tornando-se condição indispensável para superar o individualismo, fazendo com que a escola venha a alcançar seus objetivos

Palavras-chave professores, formação continuada, trabalho coletivo

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FORMAÇÃO EM SERVIÇO: UM TRABALHO COLETIVO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

Domingues, Eli Cristina1 Martiniak, Vera Lucia2

RESUMO Este artigo aborda as dificuldades e possibilidades de organização do trabalho coletivo na instituição escolar, a partir de pressupostos de que essa modalidade organizacional pode vir a constituir-se num fator de construção de uma escola democrática e de qualidade, apta a responder as exigências de uma sociedade em constante mudança. O objetivo deste estudo é levar os professores a refletirem sobre a importância da prática do trabalho coletivo dentro da escola, cujo coletivo favoreça a discussão, o diálogo, a interação, o enriquecimento e fortalecimento do trabalho educativo. Aborda inicialmente o cotidiano escolar como espaço de reflexão coletiva. Também são enfocados diversos fatores do cotidiano escolar que podem auxiliar na construção de coletivo escolar, destacando-se a atuação do gestor e do pedagogo na escola. Abordou-se, a seguir, a formação continuada a partir de iniciativas da própria escola, culminado com algumas considerações finais sobre o tema, que indicam a importância da continuidade, reflexão e aprofundamento dos estudos nessa área do conhecimento tornando-se condição indispensável para superar o individualismo, fazendo com que a escola venha a alcançar seus objetivos. Palavras-chave: professores, formação continuada, trabalho coletivo

1 Pedagoga participante do PDE - 2010 2 Professora Dra. - Orientadora da UEPG

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1. INTRODUÇÃO

O propósito deste artigo é socializar a investigação acerca do trabalho

coletivo na unidade escolar, dentro do enfoque do pedagogo. Este tema se reveste

de grande importância, pois nos dias de hoje, a escola e o professor não podem

insistir em permanecer isolados, visto que a sociedade brasileira, em que a escola

está inserida, vive momentos de grandes transformações – tecnológicas e

econômicas – e o ser humano, por ser essencialmente social, só pode construir sua

identidade em interação com o outro.

Diante dos problemas que o educador enfrenta na educação, traçar uma

trajetória solitária em busca de alternativas novas é como em qualquer atividade

humana, sempre difícil e as vezes desalentador, por trazer poucos resultados.

Assim, o trabalho coletivo se constitui numa condição indispensável para

superar o individualismo, presente na escola e nas relações sociais, fazendo com

que a escola alcance seus objetivos por meio da interação entre direção, equipe

pedagógica, corpo docente e comunidade escolar.

Acompanhando o professor, no cotidiano do trabalho escolar, percebe-se que

esse profissional tende ao individualismo e ao isolamento. Dificilmente os

professores trocam experiências, estudam em grupos ou se organizam em

encontros para propor alternativas à sua prática que, de modo geral, se apresenta

um tanto rotineira e solitária.

No entanto, se reconhece que o trabalho coletivo não é tarefa simples, uma

vez que a realização do mesmo não requer apenas profissionais que atuem lado a

lado numa escola, mas educadores que tenham princípios e objetivos comuns.

Essas atitudes do professor podem ser atribuídas a vários fatores, dentre

eles, destacam-se falhas na sua formação, a conjuntura escolar ou ainda, num nível

mais amplo, o individualismo, a fragmentação e o competitivismo reinantes na

sociedade capitalista em que a escola está inserida. Por essas razões, torna-se

necessário buscar meios para desenvolver um trabalho mais articulado dentro da

escola, que conduza os docentes à ações conjuntas capazes de melhorar seu

desempenho, tornando-os mais criativos e menos resistentes às mudanças.

Muitos são os fatores que interferem na participação nesses encontros, como:

faltas de professores ao trabalho, dificuldades em elaborar um espaço de encontro

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por área do conhecimento semanalmente devido aos professores atuarem em mais

de uma escola, rotatividade de professores, fora do horário de trabalho os

professores não comparecem, final de semana nem pensar, entre outros motivos.

Verifica-se a necessidade, no desenvolvimento do trabalho da equipe de

gestão escolar (direção e pedagogos), de envolver os professores/profissionais num

compromisso de parceria e dinamização do ensino, pois acredita-se que esse é o

caminho para a melhoria da escola e que a educação é uma das alternativas para

promover a transformação da sociedade.

2. O COTIDIANO ESCOLAR COMO ESPAÇO DE REFLEXÃO COLETIVA

Uma das características mais marcantes deste século tem sido o processo de

mudança, em ritmo cada vez mais acelerado, que se reflete em todos os setores da

sociedade, desencadeando revoluções sociais e tecnológicas e problemas como:

instabilidade, insegurança e indefinições. Essas transformações exigem homens

aptos a constantes adaptações e readaptações, para as quais os seres humanos

nem sempre se encontram preparados. Nessa visão de mundo em mudança, a

escola como instituição social, ainda não tomou consciência do sentido e da

importância das modificações que a sociedade vem sofrendo. Como diz Cruz, “[...] o

mundo a sua volta decididamente não é mais o mesmo, está se transformando em

todos os sentidos, numa rapidez vertiginosa.” (1993, p. 107).

A necessidade de compreender a situação em que o mundo de hoje se

encontra, devido ao avanço de ciência e da tecnologia, ao impacto da informatização

e à globalização da economia, faz com que a sociedade busque formas de enfrentar

essas questões por meio de uma escola crítica, que propicie oportunidades ao

indivíduo para instruir-se, instrumentalizar-se e enfrentar as exigências da sociedade

(CAVACO, 1991).

Para atender às necessidades da sociedade atual é necessário uma nova

escola, um novo educador, adaptado a um novo perfil de aluno, que é produto dessa

sociedade em constante mudança. Esse aluno, por sua vez, vai ingressar num novo

mundo do trabalho, nascido com o avanço tecnológico, com a globalização da

economia, que tem como características principais a competitividade, a integração e

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flexibilidade. Logo, exige um novo trabalhador, que precisa saber atuar em equipe,

apresentar ideias, estudar continuamente, tornando-se apto a enfrentar os desafios

da sociedade contemporânea.

Conclui-se que a escola precisa mudar, não podendo permanecer da forma

em que se apresenta, tanto no aspecto estrutural/organizacional quanto na maneira

de conceber/lidar com o conhecimento, pois a forma de organização da escola não

possibilita o trabalho coletivo, ao contrário estimula o trabalho isolado e solitário. E o

professor, principalmente o iniciante, inseguro, sente falta de apoio, porque não tem

com quem trocar idéias sobre sua atuação dentro do contexto escolar.

No interior da escola, as pessoas desempenham diferentes funções, e a

divisão do trabalho e a hierarquia existentes na escola refletem uma visão

fragmentada do processo escolar, onde cada segmento apenas é capaz de

responder pela sua própria área de atuação. O desafio de romper com essa

fragmentação coloca a necessidade de circulação das informações e o esforço de

cada setor em ir além dos seus próprios interesses corporativos.

Diante do que foi posto é necessário pensar uma nova organização que vise

romper com a separação entre concepção e execução, entre pensar e fazer, entre

teoria e prática.

A formação dos profissionais de ensino vem sendo motivo de discussão

intensa, nos últimos anos em nosso país. Esses profissionais são responsáveis,

inquestionavelmente, pelas pesquisas e discussões que vem acontecendo em torno

da esfera acadêmica de formação e em torno de esfera da prática pedagógica.

As discussões sobre a formação docente, entretanto, vêm sendo feitas, via

de regra, em torno de dois contextos: o dos cursos de formação e o da

atualização permanente. O primeiro, entendido no âmbito dos currículos

oferecidos pelos diferentes cursos; o segundo, entendido duplamente no

âmbito do aumento de escolaridade, por intermédio de outros cursos

(extensão, especialização, atualização, mestrado, doutorado) e/ou no

âmbito de políticas de atualização em serviço, por intermédio de ações

promovidas pelas diferentes secretarias de Educação (municipais e

estaduais) (ALVES, 2004, p. 8).

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Para situar a formação continuada na perspectiva deste estudo, é necessário

rever o processo com suas determinações históricas. Diferentes termos foram

utilizados para definir o processo de formação do profissional da educação como:

reciclagem, treinamento, aperfeiçoamento, capacitação, formação permanente e

formação continuada ou formação contínua (KNECHTEL, 1995). Os professores

constroem sua profissão e, enquanto sujeitos e profissionais, buscam sua formação

também em outros espaços, além dos propiciados pelas administrações escolares.

Cada uma dessas terminologias se refere a formação dos educadores,

especificamente do professor, em exercício da sua função e, trazem em sua

trajetória diferentes compreensões e, conseqüentemente, diferentes ações que

foram propostas para a formação em serviço. Não há como delimitar uma época

restrita para cada termo, pois a linha divisória é tênue.

Há no Brasil evidências de programas e práticas de Educação permanente

em diferentes órgãos e Instituições Públicas e Privadas, seja no sentido de formação profissional e treinamento, seja no de aperfeiçoamento e especialização, mas que em seu bojo, encerram um caráter particular e ideológico também imediatista, sem uma abertura de compromisso real com as diferentes classes e os diferentes níveis a que se endereçam tais programas e práticas (KNECHTEL, 1995, p. 138).

Toda e qualquer idéia sobre educação desenvolvida na escola inclui,

necessariamente, um pensar sobre a formação dos profissionais que nela atuam e

uma formação que não se restrinja apenas nas ações de reciclagens pedagógicas e,

sim, “[...] uma formação que transforme a experiência profissional adquirida e

valorize a reflexão formativa e a investigação conjunta em contexto de trabalho”

(ALARCÃO 1998, p. 118).

Criar uma nova cultura não significa somente fazer, individualmente,

descobertas originais; significa, também e especialmente, difundir, criticamente,

verdades já descobertas, ou seja, socializá-las e as fazer base para ações vitais

(GRAMSCI, apud SILVA, 1985). E, o professor sempre foi e continua sendo o

principal difusor da cultura.

Segundo Alves (2004), poucos se dão conta de outro contexto de formação

que, por isso, acaba sendo desconsiderado e, consequentemente, desqualificado: a

prática docente que se gesta no cotidiano escolar. É nesse contexto – a do cotidiano

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escolar – que são forjados os docentes. Nele se aprende a ser professor sendo

professor (ALVES, 2004).

Diante da realidade das escolas há a necessidade de buscar novas

articulações entre formação inicial e continuada, para que a formação do professor

aconteça num processo contínuo pautada na coletividade inserida no contexto

escolar, pois:

[...] a experiência mostra que o professor com iniciativa e boas idéias, sem

uma instituição e equipe escolar que o respaldem, termine em geral absorvido pela lógica escolar dominante. A experiência mostra também que o professor capacitado de forma individual e isolada, quando regressa a sua escola, fica segregado e termina por retomar as suas práticas em pouco tempo. Hoje é urgente superar esse esquema tradicional, altamente individualizado de capacitação. Aponta-se a equipe escolar como sujeito privilegiado de capacitação. E isso se complementa com a proposta de que tal capacitação seja feita na própria escola (TORRES, 1998, p. 185).

A dimensão coletiva na formação continuada dos professores centrada na

escola enquanto possibilidade de mudanças significativas em sua prática é

salientada por Alves (2000) destacando que:

“[...] a formação continuada do professor pode constituir estratégia

privilegiada para conduzir a mudanças que levem a transformação social, porém é necessário que haja novas propostas que interfiram na dimensão conservadora das práticas escolares” (cf. p. 28).

A formação continuada concebida como formação em serviço é aquela onde

o professor, através da reflexão sobre sua prática busca novos meios para realizar o

seu trabalho. Isso evidencia que o processo formativo do professor deve ocorrer ao

longo de sua trajetória profissional, no espaço escolar.

Todavia, não se pode esquecer que a mudança implica tempo, não acontece

imediatamente: é um processo longo em que as ideias são modificadas por

influência das práticas, pois elas modificam-se mais facilmente.

Mudar não é tarefa simples nem solitária, requer princípios de solidariedade e

participação coletiva, pois só assim os agentes sociais – professores e gestores – se

qualificarão no próprio processo de trabalho.

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Segundo Migliori, a verdadeira mudança de paradigma ocorrerá a partir do

momento em que nosso universo entrar em desordem: é preciso que nos sintamos

frustrados, percebendo os erros, para assim tomarmos consciência da necessidade

de reforma. “É um atributo do educador descobrir no universo da desordem novos

caminhos para a transformação, que só acontecerá se conseguirmos modificar os

referenciais, as estruturas básicas do pensamento – o paradigma” (MIGLIORI, 1993,

p. 20).

Diante das mudanças que ocorrem na sociedade contemporânea faz-se

necessário que o professor esteja em constante formação e PORTO salienta que a

formação continuada de professores e as práticas pedagógicas não podem ser

pensadas de forma desarticulada, pois:

[...] a formação continuada é importante condição de mudança das

práticas pedagógicas, entendida a primeira, fundamentalmente, como processo crescente de autonomia do professor e da unidade escolar, e segunda, como processo de pensar-fazer dos agentes educativos e em particular dos professores, com o propósito de concretizar o objetivo educativo da escola (PORTO, 2000, p. 15).

Cabe ressaltar que a melhoria do ensino e a efetividade do trabalho do

educador vão depender de uma série de mudanças globais da sociedade e,

professores bem preparados profissionalmente, engajados no trabalho grupal,

atuando de forma coletiva e interdependente, com vistas atingir os objetivos comuns

no processo educativo. Não basta introduzir inovações, urge primar pelo

envolvimento dos professores nos projetos da escola, numa ação curricular que se

forma no dia-a-dia e na construção coletiva no interior da escola. Só haverá melhoria

na educação quando se conseguir de fato a qualificação dos professores.

3. FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES A PARTIR DE INICIATIVAS DA PRÓPRIA ESCOLA O conhecimento humano, em qualquer área ou aspecto, é um processo em

contínua construção. As exigências cognitivas e afetivas do adulto diferem daquelas

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da infância, mas todos sofrem o impacto das mudanças tecnológicas, econômicas e

sociais, que exigem uma constante adaptação às normas de vida e de trabalho.

Para sua sobrevivência e satisfação pessoal e profissional, o indivíduo necessita

atualizar-se frequente e permanentemente.

Nessa perspectiva, a educação permanente passa a ser um lugar de

aprendizado, discussão, troca e de construção de novos saberes. Sabe-se que o

profissional “[...] não se constrói por acumulação de (cursos, de conhecimentos ou

de técnicas), mas sim, através de um trabalho de reflexão crítica, sobre as práticas e

de (re) construção permanente de identidade pessoal”. (NÓVOA, 1995, p. 25), e da

“[...] identidade profissional individual e coletiva”. (PIMENTA, 1999, p. 28).

Para sedimentar os alicerces da construção de um projeto educacional, a

escola deve constituir-se num centro de atualização e de reflexão sobre a ação

educativa de seus profissionais e essa é uma das tarefas que compete à gestão

escolar.

Libâneo explica que:

A formação continuada é outra das funções da organização escolar, envolvendo tanto o setor pedagógico como o técnico administrativo. De modo especial para professores, a formação continuada é condição para a aprendizagem permanente e o desenvolvimento pessoal, cultural e profissional. É na escola, no contexto de trabalho, que os professores enfrentam e resolvem problemas, elaboram e modificam procedimentos, criam e recriam estratégias de trabalho e, com isso, vão promovendo mudanças pessoais e profissionais. (LIBÂNEO, 2001, p.189)

Na escola, a capacitação define-se como formação continuada no trabalho e

não como mero repasse de informações pontuais ou isoladas. É um processo que se

instala através de reuniões coletivas e sistemáticas para estudo, troca de

experiências, reflexões sobre problemas encontrados em sala de aula e tomadas de

decisões em relação ao processo ensino-aprendizagem. Essa formação em serviço

possibilita ao professor que por meio da reflexão sobre sua prática buscar novos

meios de realizar seu trabalho.

Esse processo requer um acompanhamento cotidiano, para apoiar ações

pedagógicas, que pode ser feito pela equipe pedagógica, por um professor de área

ou por um docente mais experiente. Ao mesmo tempo, todo o grupo deverá estar

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atento para as dificuldades e lacunas que vão surgindo e que alimentam a

continuidade da formação.

A capacitação só será efetiva se os professores, ao longo do trabalho,

puderam ampliar sua competência pedagógica e sua consciência social e política.

Esse não é um objetivo simples de atingir, daí a necessidade de elaborar um

programa de formação permanente dentro da escola, onde trabalho individual e

trabalho coletivo estejam articulados num conjunto harmônico, com clareza dos

pontos de partida e de chegada, tendo como eixo norteador a construção do projeto

da própria escola.

A formação continuada é imprescindível e necessária devido a natureza da

profissão docente, porque traz em si possibilidades de mudanças, uma vez que a

finalidade não é apenas atualizar conhecimentos científicos, e sim propiciar a revisão

de um conjunto de atitudes e procedimentos que permita a utilização dos

conhecimentos adquiridos.

Com o programa de formação continuada, entretanto, não se pode ter a

pretensão de superar, de imediato, todos os problemas. Os limites e as

possibilidades das propostas de capacitação precisam ser definidos por etapas, com

garantia de continuidade de propósitos.

Para que isso ocorra é preciso que a escola mude, tanto nos aspectos

psicológicos como nos pedagógicos. É preciso melhorar a infra-estrutura do

ambiente de trabalho para que professor possa estudar, trocar experiências, refletir

“na” e “sobre” a própria prática, para que consiga construir o conhecimento,

enfrentando os desafios que são postos e melhorando a qualidade do ensino de

forma persistente.

O educador cresce se reflete sobre o seu desempenho enquanto profissional

e se reflete sobre a ação que foi desenvolvida. A práxis só acontece quando se

reflete sobre a prática.

A práxis não é uma prática. Convém não se enganar a esse respeito. A práxis é elaboração coletiva, num grupo, das práticas vividas no quotidiano. A prática só pode se situar no plano das elaborações primárias do pensamento, a práxis não. Ela pressupõe um coletivo: um coletivo articulado, nunca massificado ou aglutinado (IMBERT, 2003, p. 74)

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Possibilitar ao professor viver a práxis é como possibilitar aos professores

ocasiões para que eles juntos possam rever a própria prática.

Para a formação de professores, o desafio consiste em conceber a escola

como um ambiente educativo, onde trabalhar e formar não sejam atividades

distantes. A formação deve ser encarada como um processo permanente, integrado

no dia-a-dia dos professores e das escolas, e não como uma função que se mantém

à margem dos projetos educacionais.

O referencial básico para a elaboração de um programa é sempre o conjunto

de características, necessidades e expectativas dos educadores que atuam naquela

escola. E, como identificá-las? Através da fala e da reflexão dos educadores sobre

as dificuldades que encontram no trabalho, quando e como elas aparecem e quais

as possíveis causas e soluções. Este é o primeiro passo para identificar as questões

significativas que devem ser priorizadas no programa de formação. Considerar as

preocupações do grupo como ponto de partida, entretanto, não significa permanecer

no imediatismo de senso comum, mas ir além das aparências, avançar, não apenas

constatando problemas, mas investigando suas raízes, sua origem, desenhando um

contexto no tempo e no espaço que se situam.

Cada professor, com seu referencial próprio, percebe cada aspecto do

ambiente da escola de forma muito particular, gerando reações e comportamentos

específicos. Tudo o que acontece na escola é de interesse dos professores, tudo

afeta o seu trabalho em sala de aula e consequentemente a aprendizagem dos

alunos.

[...] o trabalho docente precisa ser concebido e desenvolvido de maneira coletiva, inserido e orientado por um projeto educativo, capaz de expressar os compromissos da escola diante das necessidades comunitárias e sociais. Nessa concepção o professor está em constante processo de desenvolvimento profissional, onde a formação contínua se coloca como elemento central (ALMEIDA, 1999, 39).

As tentativas de mudança reforçam a idéia de que há espaço para uma ação

gestora na perspectiva de uma escola democrática, na discussão junto a toda

comunidade escolar, numa vivência construída, conquistada em todas as instâncias

escolares. Portanto, “[...] caminhar juntos é, para o educador, a forma de crescer e

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cumprir sua tarefa, de concretizar seu papel de militante como intelectual orgânico

com a função diretiva e organizada, isto é, educativa, intelectual.” (GRAMSCI, apud

RODRIGUES, 1997).

É preciso que a escola funcione como uma orquestra, criando a partir das

semelhanças/diferenças entre seus membros, associando-os de forma inovadora,

ultrapassando os limites tradicionais e produzindo novas combinações, novas

harmonias, novos ritmos, num movimento ininterrupto rumo ao conhecer.

Atingir-se-á, assim, uma formação geral de todos os participantes desse

processo, situando-os melhor no mundo de hoje, oportunizando a compreensão

crítica de todas as informações recebidas e propiciando-lhes uma formação

profissional e humana que, cada vez mais, exige a contribuição de várias áreas de

conhecimento.

Destacando a escola como o lócus da formação continuada dos professores,

Candau (1996, p. 144) ressalta que esse processo precisa apoiar-se numa prática

reflexiva, capaz de identificar os problemas e buscar especialmente, “[...] que seja

uma prática coletiva, uma prática construída conjuntamente por grupos de

professores ou por todo o corpo docente de uma determinada instituição escolar”.

Sobre essa questão afirma ainda o autor:

Neste sentido, considerar a escola como lócus de formação continuada

passa a ser uma afirmação fundamental na busca de superar o modelo clássico de formação continuada e construir uma nova perspectiva na área de formação continuada dos professores. Mas este objetivo não se alcança de uma maneira espontânea, não é o simples fato de estar na escola e de desenvolver uma prática escolar concreta que garante a presença das condições mobilizadoras de um processo formativo. Uma prática repetitiva, uma prática mecânica não favorece esse processo. Para que ele se dê, é importante que essa prática seja uma prática reflexiva, uma prática capaz de identificar os problemas, de resolvê-los, e cada vez as pesquisas são mais confluentes, que seja uma prática coletiva, uma prática construída conjuntamente por grupos de professores ou por todo o corpo docente de uma determinada instituição escolar (CANDAU, 1996, p. 57).

A escola pública não têm sido nos últimos um espaço favorável à docência e

à formação de seus professores. Daí a necessidade de se considerar, em processos

de formação, essa dimensão do espaço escolar enquanto contexto do trabalho

coletivo da escola e a construção de saberes, e para que isso ocorra é necessário

que a gestão democrática seja uma prática presente nas escolas.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS As reflexões realizadas no decorrer deste estudo confirmam que desenvolver

o trabalho coletivo dentro da escola, não é tarefa fácil e rápida, mas se constitui um

caminho necessário para a construção de uma escola democrática.

Acredita-se ainda que, por meio do trabalho coletivo e conjunto, a equipe

gestora tenha oportunidade de favorecer e participar da formação continuada do

professor, adequada à realidade da escola em que atua.

Atuar em conjunto é o caminho para enfrentar problemas e encaminhar

soluções na escola. Entretanto, é um percurso cheio de dificuldades.

Dizer que há ainda muito que errar, aprender e estudar mostra que enfrentar,

de modo partilhado, as questões educacionais exige tempo e paciência, não

admitindo desânimo nem desistência, sempre visando o ensino de boa qualidade.

As exigências postas pela sociedade apontam novos objetivos para a escola,

para seus profissionais e por consequência para a formação dos educandos. Assim,

a escola deve ser repensada coletivamente em relação à sua organização como um

todo e em relação à sala de aula, especificamente. Para que isso ocorra, os

profissionais da educação necessitam de espaço para trocar idéias, refletir sobre as

práticas pedagógicas em cada unidade escolar, evitando o alienamento e

contribuindo para a socialização do conhecimento com vistas à educação contínua

no coletivo escolar.

O trabalho de construção do coletivo escolar é caracterizado pela articulação

da equipe gestora em torno da função social da escola. Ele não supõe apenas a

existência de profissionais que atuem lado a lado numa mesma escola, mas exige

dos educadores que tenham pontos de partida (princípios) e pontos de chegada

(objetivos) comuns, tendo como fio condutor a proposta pedagógica da unidade de

ensino, construída coletivamente e inserida em um contexto social, histórico e

geográfico.

“Se não existe espaço, se as dificuldades são muitas, cabe a cada um, em seu nível, trabalhar e exercer o papel de educador, não como um missionário ou exercendo um sacerdócio, mas como um profissional realista e consciente do seu papel, esclarecido quanto às limitações e possibilidades que existem de se fazer educação hoje” (MOURA, p. 8-13).

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Conclui-se que a construção do trabalho coletivo, coerente e articulado, em

torno da formação continuada, exige dos educadores;

v Uma participação consciente e comprometida, passando da posição de

tutelado para uma atitude de autonomia responsável;

v Uma participação qualitativa, crítica e reflexiva, passando da ação efetiva no

interior da escola para uma atuação cidadã na sociedade como um todo;

v Disponibilidade para socializar conhecimentos de modo contínuo, visando os

avanços da sociedade e das ciências em geral;

v Atuar, na escola, em prol da construção do trabalho coletivo;

v Uma atuação que conquiste parceiros, adeptos e seguidores com condições

de interferir na realidade educacional atendendo às exigências presentes no

contexto escolar e comunitário;

v Uma profunda clareza quanto às condições/situação da unidade escolar:

contexto onde se insere, clientela atendida, profissionais que abriga, política

educacional veiculada pelo sistema escolar, currículo vivenciado, valores

presentes na realidade social;

v Um perfil profissional que os impulsione a querer crescer, mudar, transformar,

participar do processo de criação de uma nova escola, de uma nova

sociedade.

Com as questões e discussões sobre formação continuada abordadas neste

trabalho, pretende-se iniciar um processo de busca de partilha e de troca,

considerando o espaço escolar como lócus privilegiado para a formação permanente

do professor, pois está vinculada ao desenvolvimento organizacional da escola,

como diz Barroso, uma formação centrada na escola, ou seja:

“[...] uma formação que faz do estabelecimento de ensino o lugar onde

emergem as actividades de formação dos seus profissionais, com o fim de identificar problemas, construir soluções e definir projetos” (BARROSO, 1997, p.74).

A educação é uma tarefa e um encargo coletivo. Portanto, é fundamental que

a gestão escolar contribua decisiva e decididamente para a reformulação coletiva de

projetos que respondam aos desafios do mundo atual, pois até o presente: “os

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discursos foram ouvidos juntos, muitos pensados juntos e jamais formulados

juntos” (ALVES, 1992, p. 145).

“É pensando criticamente a prática de hoje ou de

ontem que se pode melhorar a próxima prática”.

Paulo Freire

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. I. de. Sindicato como instância formadora dos professores: novas contribuições ao desenvolvimento profissional. 1999. Tese. (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.

ALVES, Maria Leila. Educação continuada comprometida com a transformação social. 298 f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual de Campinas, Campinas: 2000.

ALVES, Neila Guimarães. Formação de professores: possibilidades do imprevisível. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. ALVES, Nilda, et. al. (org) Formação de Professores: pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 1992.

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