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PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

TÍTULO: A questão da luta pela terra e o Levante dos Posseiros

de 1957 no Sudoeste do Paraná

Autor Lenir Teresinha Algeri Corso

Escola de Atuação Colégio Estadual Júlio Giongo.Ensino Fundamental, Médio e Normal

Município da escola Pranchita

Núcleo Regional de Educação Francisco Beltrão

Orientador Professor Dr. Paulo Koling

Instituição de Ensino Superior UNIOESTE – Campus de Marechal Candido Rondon

Disciplina/Área (entrada no PDE) História

Produção Didático-pedagógica Caderno Pedagógico

Relação Interdisciplinar

(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)

Público Alvo

(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)

Alunos do 3º Ano do Ensino Médio

Localização

(identificar nome e endereço da escola de implementação)

Colégio Estadual Júlio Giongo.

Av. Capibaribe, 1377

Fone: (46) 3540- 1840

Pranchita - PR

Apresentação:

(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

A estrutura fundiária continua sendo um grande desafio brasileiro no século XXI, portanto, a questão agrária é atual e pertinente. Esta temática se refere à luta pela terra e têm a preocupação em estabelecer um diálogo com os conteúdos do eixo estruturante Relações de Poder e de trabalho, que integram o Ensino Médio. Quando nos referimos aos processos de imigração, colonização e luta

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pela terra, a história do Sudoeste do Paraná não pode ser esquecida, pois foi nessa região que ocorreu uma das principais revoltas de "sem-terras”. A Revolta dos Colonos e/ou dos Posseiros, de 1957, significou uma efetiva conquista do direito à propriedade da terra e a efetivação de uma estrutura fundiária com perfil familiar. Hoje, essa região é o resultado de todos esses acontecimentos e as características fundiárias existentes preservam o sentido dessas lutas sociais. Utilizaremos como estratégia de trabalho a pesquisa de campo, com realização de entrevistas com os pais e avós dos alunos para recuperar relatos e memórias que eles têm sobre a Revolta dos Posseiros. Também serão utilizados documentários produzidos sobre a Revolta dos Posseiros de 1957, leitura das entrevistas já produzidas, textos e obras da produção historiográfica, visita ao Assentamento Conquista de Fronteira – SC.

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

LENIR T. ALGERI CORSO PROFESSORA PDE/2010

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: CADERNO PEDAGÓGICO

A QUESTÃO DA LUTA PELA TERRA E O LEVANTE DOS POSSEIROS DE 1957 NO SUDOESTE DO PARANÁ

PRANCHITA

2011

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LENIR TERESINHA ALGERI CORSO

A QUESTÃO DA LUTA PELA TERRA E O LEVANTE DOS POSSEIROS DE 1957

NO SUDOESTE DO PARANÁ

Produção Didático Pedagógico - Caderno Pedagógico Apresentado à Secretaria de Estado da Educação - SEED, como requisito parcial de participação no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE na área de História. Orientador: Professor Doutor Paulo Koling. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE.

PRANCHITA – PR 2011

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A QUESTÃO DA LUTA PELA TERRA E O LEVANTE DOS POSSEIROS DE 1957 NO SUDOESTE DO PARANÁ

http://portaldoprofessor.mec.gov.br.//storage/discovirtual/galerias/imagem/0000001754/0000021404.jpg

TEMA: A LUTA PELA TERRA: UM POUCO DESSA HISTÓRIA

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APRESENTAÇÃO

Este caderno pedagógico é fruto do envolvimento e participação nos

estudos oferecidos pela política de formação continuada para professores da SEED,

o Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – turma 2010.

Esta produção pedagógica foi elaborada para o 3º ano do Ensino Médio, do

Colégio Estadual Júlio Giongo. Ensino Fundamental, Médio e Normal, da cidade de

Pranchita, Estado do Paraná.

O mesmo respeitará o planejamento da escola e as características dos

alunos, integrando conteúdos como a propriedade da terra no Brasil, reforma

agrária, problemas relacionados a uso e posse da terra no Sudoeste do Paraná,

ressaltando a Revolta dos Posseiros de 1957.

A luta pela terra é uma questão interdisciplinar

A temática abordada no relato, no que se refere à luta pela terra no Paraná

pode ser estudada a partir da incursão em diversas disciplinas. É possível ao

professor que trabalha com a questão da terra, buscar referencial teórico na

Geografia para a conceitualização do território social - o que é? Como se

desenvolve? - Também poderá utilizar-se de dados estatísticos sobre ocupação

espacial e populacional para a compreensão da atual estrutura fundiária paranaense

e/ou brasileira.

Interessante também é buscar na literatura: poesias, letras de músicas e

textos que retratem a questão da terra, bem como o modo de viver das comunidades

que habitam nos diversos assentamentos rurais, valorizando assim as tradições

culturais que são vivenciadas através da leitura, da interpretação e da produção

cotidiana do conhecimento histórico-crítico.

Representa a preocupação em estabelecer uma linha de trabalho com base

nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, já que os movimentos sociais se

inserem como um dos conteúdos específicos do eixo estruturante Relações de

Poder.

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO...........................................................................................06

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................08

3. UNIDADE I .....................................................................................................11 A COLONIZAÇÃO DE PRANCHITA

4. UNIDADE II.....................................................................................................17

POR QUE ALGUÉM MIGRA?

5. UNIDADE III....................................................................................................19

PARANÁ: BERÇO DO MST.

6. UNIDADE IV....................................................................................................23

REFORMA AGRÁRIA: UM DESAFIO BRASILEIRO

7. UNIDADE V.....................................................................................................32 SUDOESTE DO PARANÁ: TERRA DE GUERRAS E DISPUTAS

8. AVALIAÇÃO...................................................................................................39

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................41

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Terra no Brasil: de todos ou de poucos?

A partir de 1500, o destino das terras que hoje formam o Brasil passou para

as mãos da Coroa portuguesa, e temos aí o inicio de uma polêmica que dura até

hoje: quem deve ou pode ser o dono da terra? Como essa terra pode ser explorada

para fazê-la produzir e render? Essas perguntas ainda causam inúmeras discussões

e geram disputas entre aqueles que têm a posse ou a propriedade da terra e os que

buscam também o direito de possuir um pedaço de chão para morar, plantar, colher,

criar animais, fazer a terra produzir e tirar dela seu sustento.

Diariamente são noticiados conflitos sociais relacionados à posse da terá e

muito se fala em reforma agrária. O debate sobre a questão agrária no Brasil é

atual e pertinente. A questão agrária apresenta varias dimensões: a concentração de

terras; a expulsão de mão de obra; problemas sociais como, por exemplo, a pobreza

e o desemprego, causados pelo êxodo rural; conflitos sociais e agrários;

camponeses sem terra.

TEIXEIRA, Gerson ex-presidente da Associação Brasileira de Reforma

Agrária (Abra) e integrante do núcleo agrário do PT enfatiza que desde as suas

origens, notadamente com o regime de sesmarias e com a Lei de Terras de

setembro de 1850, a concentração da propriedade fundiária no Brasil foi ampliada e

consolidada como marca ao que parece indissolúvel da nossa história. Tanto que o

século XXI iniciou com a notícia do IBGE sobre a imutabilidade, nos vinte anos até

2006, dos níveis da concentração da terra no país, conforme apurado pelo último

Censo Agropecuário. (fonte: www.mst.org.br, em 21/06/2011)

Há um amplo território em todas as regiões do país para a execução da

reforma agrária com obtenção via desapropriação, sem ameaçar a “eficiência” da

grande exploração do agronegócio.

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A Política da fome!

Segundo Bernardo Monçano Fernandes 1 existe acordos entre os grandes

proprietários, o governo e as empresas multinacionais de implementos e insumo

agrícolas, que criam uma ilha de agricultura mecanizada, onde uma minoria

monopoliza o solo agrícola e o lucro. Aliás, é isso que importa para o mundo

capitalista. Esse mesmo grupo, utilizando-se da mídia, divulga a idéia de que a

criação de médias e pequenas propriedades familiares não é viável e nem rentável.

Nesse contexto, os pequenos proprietários não contam com apoio institucional e

financeiro, pois eles não têm condições de produzir, ou seja, são explorados na

venda de seus produtos, na compra de insumos e no pagamento de juros do crédito

rural.

Durante toda a história brasileira a estrutura fundiária se baseou no modelo

de grande latifúndio monocultor. Com o passar do tempo esse modelo foi

solidificando. Hoje vivemos o auge do agronegócio (agrobusines), que emprega

muito pouco. Esses empregos não são estáveis, pois acumulam um número de

trabalhadores sem identidade, que trabalham no meio rural e vivem nas periferias

das cidades, sujeitos a todo tipo de violência e marginalização.

Diante da concentração da terra e a exploração dos trabalhadores, a luta pela

posse e uso da mesma, para o bem comum, é legítima, tornando assim o grande

desafio brasileiro, acabar com a fome e a miséria. Essa é uma questão ética. O

Brasil tem milhares de pessoas passando fome, isso é inaceitável em um país que

possui 25 % dos solos propícios a agricultura. Infelizmente, por tradição histórica,

continuamos sob a dependência dos mercados externos, depredando mais do que

aproveitando os solos e os demais bens disponíveis. Geralmente as tecnologias

aplicadas no agro-negócio ocultam a agressão ao meio-ambiente, a

superexploração dos trabalhadores, quando não o trabalho escravo contemporâneo.

1 Bernardo Monçano Fernandes é geógrafo, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia

da UNESP, Coordenador do Grupo de Trabalho Desenvolvimento to Rural do Conselho Latino Americano de

Ciências Sociais CLACSO e pesquisador da CNPQ.

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Essa é a ética capitalista. Que ética é essa que vale envenenar as águas,

secar a terra, expulsar os trabalhadores, produzir para exportação, álcool, papel

etc.?

Com base nesse contexto, grupos sociais voltam a discutir sobre o tema

reforma agrária, o mesmo foi recolocado na agenda política brasileira, criando

esperança para milhares de pessoas excluídas e marginalizadas. Eles descobrem

que a saída é organizar-se em grupo e lutar coletivamente pela terra própria,

produzir sua sobrevivência, desenvolver a agricultura familiar, baseada na policultura

e no auto-sustento. Segundo estimativas baseadas em censos agropecuários

indicam que os estabelecimentos familiares, detendo uma área três vezes menor

que a do agronegócio, tem quase a mesma participação na produção total. O

relatório da FAO mostra que o simples acesso a terra, somado a um apoio

governamental mínimo, permite aos agricultores no sistema de produção familiar

obter um nível de vida muito superior aos trabalhadores assalariados do campo ou

da cidade, tanto em termos de superação da pobreza rural quanto à situação de

emprego... Por que essa estrutura fundiária, social, justa e economicamente viável

não se concretiza? Por que não se consegue chegar a esse modelo?

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UNIDADE - l

TÍTULO: A COLONIZAÇÃO DE PRANCHITA

Pranchita: um pouco de sua história

É com o conhecimento de onde viemos que saberemos aonde pretendemos ir.

Quer queiramos ou não, são os nossos antepassados que deram a

formação mais substancial do nosso ser social, e do nosso modo de existir. É, pois,

conhecendo a história, as tendências, os modos de viver dos nossos antepassados

que saberemos lutar no presente para construir o futuro, principalmente para as

novas gerações. Desse modo, também a eles ofereçamos o gosto pelo

conhecimento do presente.

A vida do homem em qualquer sociedade, em qualquer lugar e em qualquer

tempo, passa dentro de um espaço, o qual tem características próprias.

Este trabalho tem por objetivo a elaboração de uma reflexão histórica sobre o

passado que marcou a formação histórico-social do Sudoeste paranaense,

especialmente de Pranchita.

Seu território foi ocupado primeiramente por paraguaios que aqui vinham com

o objetivo de explorar a principal riqueza aqui existente, a erva-mate.

Os primeiros habitantes da região onde se localizam os municípios de Pranchita e

Santo Antônio do Sudoeste foram dois paraguaios, Dom Lucca Ferreira e João

Romero, que chegaram em 1902. Eles extraiam a erva-mate, que era uma das

principais riquezas da região. Como não havia estradas, faziam picadas na floresta e

se utilizavam de animais para transporte de cargas.

Os primeiros colonizadores do movimento migratório que formou a última

reocupação chegaram em 1925, eram as famílias dos brasileiros Antonio Colla no

ano de 1925, Gregório Ferreira em 1934, Leonardo Canzi e Júlio Giongo em 1938. O

último trouxe em lombo de burro, máquinas para montar a primeira serraria,

existente ainda hoje no município. Todas as famílias enfrentavam muitas

dificuldades no transcurso da viagem, levando muitos dias para chegar ao local,

devido às más condições dos caminhos e ausência total dos meios de transportes.

Os objetos pessoais eram transportados no lombo dos burros ou cavalos, tendo às

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vezes que acampar, armando barracas ao longo do caminho durante os dias de

chuva. As últimas mudanças foram trazidas em carroças e caminhão movido a

carvão.

Migrantes brasileiros, que vieram dos estados do Rio Grande do Sul e de

Santa Catarina, em sua maioria descendente de ex-imigrantes italianos nascidos

nestes estados e que viviam como colonos. Aqui encontraram solo fértil e terras

baratas onde passaram a cultivar vários produtos agrícolas que serviam para a

subsistência e a explorar a floresta para a produção da madeira que no início do

século XX era abundante, e também a erva-mate que era exportada para a

Argentina.

Por ser uma das maiores comunidades de Santo Antonio do Sudoeste,

Pranchita passou à categoria de distrito administrativo pela Lei 4.384/64, de 26 de

fevereiro de 1964. Em 11 de maio de 1982, o governador José Hosken de Novaes

sancionou a lei estadual 7.574/82, emancipando o município.

Com a criação do município, houve um pequeno avanço na economia de

Pranchita, desenvolvendo a cultura da soja, milho, trigo, feijão, fumo e as serrarias.

Nosso objetivo é revisar a historiografia e a memória social do povo

pranchitense, fazendo-o conhecer o seu passado e compreender dimensões do seu

presente, para que, como integrantes da história atual no município, venham a

contribuir não só na formação cultural atual, mas também com a preservação do

patrimônio histórico-cultural.

Desejamos que este trabalho possa servir como instrumento de trabalho para

as escolas e professores, e também a todos aqueles que se interessam pela história

local. Com o propósito de ser útil e de trazer informações práticas e objetivas sobre

município de Pranchita, sua cultura, sua economia e sua história, e que possa

despertar a todos os leitores, o desejo de conhecê-lo mais profundamente.

ASPECTOS GEOGRÁFICOS DE PRANCHITA

Localizado na Região Sul, o Estado do Paraná, com seus 199.314 km², é

formado por 399 municípios, e entre eles está o município de Pranchita. Rio Claro foi

seu primeiro nome.

O município de Pranchita está localizado no extremo Sudoeste do Paraná.

Seus limites territoriais são: ao Norte, Pérola D’Oeste e Bela Vista da Caroba; ao

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Sul, Santo Antonio do Sudoeste; ao Leste, Ampére; e ao Oeste, a República

Argentina.

MAPA 1: Localização geográfica de Pranchita

Fonte: IPARDES http://www.ipardes.gov.br/

Município de Pranchita

“Que saibamos cuidar da vida que há dentro da gente e em todo lugar.

“Que saibamos cuidar da vida que há, na terra e no mar” (Música: “É preciso cuidar” – Pe. Osmar Coppi).

Pode-se dizer que Pranchita é um dos municípios mais novos do estado do

Paraná, pois com apenas 28 anos de emancipação, conta com uma história

marcante, vivida pelos nossos pais.

Com uma pequena extensão territorial, mas, destaca aqui um solo muito

fértil e plano de onde seus habitantes conseguem segundo suas condições

socioeconômicas, prover sua subsistência.

Este município tem uma característica essencial para as novas possibilidades

socioambientais, pois é rico em áreas de mananciais, com rios que formam

cachoeiras e ambiente favoráveis ao lazer e à tranqüilidade a seus proprietários e

visitantes.

O espaço de Pranchita é banhado pelos rios Capanema, Rio Jacuntinga, Rio

Claro, Rio Pranchita, Rio Santo Antonio, Rio Lajeado Grande e Rio Aurora. O mais

importante é o Rio Santo Antonio que demarca os limites do município com a

Argentina. Do ponto de vista climático, o município tem um clima temperado

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Dados Gerais sobre o município de Pranchita:

• Localização: extremo Sudoeste do estado do Paraná.

• Sua área territorial é de 226 km²

• Sua altitude média é de 460 metros acima do nível do mar.

• Distância da capital: 604 km, pela rodovia BR 116.

• Vegetação: o tipo de floresta presente no município é semelhante ao da

região do Sudoeste paranaense caracterizado por Florestas Sub-Tropical

perenifólia e sub-perenifólia, onde predominam arvores de grande porte, tais

como: pinheiro, peroba, angico, cedro, loro, ipê, canela. Também se encontra

a erva-mate ou chimarrão, bebida muito apreciada pela população

pranchitense.

• População: 5.632 habitantes.

• População urbana: 3.609 habitantes.

• População rural: 2.023habitantes.

• Principais culturas agrícolas: soja, feijão, trigo, alho, fumo, mandioca, além da

criação de frango, a produção de leite e hortaliças. Principal atividade

econômica: a agricultura.

• Padroeira: Nossa Senhora do Carmo. A padroeira foi escolhida por ser a

mesma da cidade de Colorado – RS, onde residiam as famílias dos primeiros

colonizadores.

• Data da emancipação do município: 11/05/1982.

• Comunidades rurais: Canzianópolis (distrito). Comunidades: Alto Evangelho,

Santa Cruz Baixa, São Marcos, Vista Gaúcha, Bom Retiro, Alta Aparecida,

Linha Toledo, São Catarina, São Roque, Linha Pilatti, Três Irmãos, Linha

Colorado, Nova Esperança, Km 16, Linha Fank, São José, São João e Linha

Tristacci.

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ATIVIDADES

Conhecer o local e o tempo em que vivemos implica compreender a

sociedade onde estamos inseridos, como foi se formando ao longo do tempo, como

foi transformando o espaço que ocupa e qual nosso papel e possibilidades de ação

nessa mesma sociedade.

Para isso, passaremos os aspectos Históricos do Município de Pranchita,

com suas características físicas, econômicas e populacionais.

Uma forma de conhecer o espaço em que vivemos é pesquisar sobre as

famílias que aqui vivem, qual a sua origem, onde moravam, etc. Quem mais deveria

conhecer a história de uma localidade é quem vive ali. Conhecer e registrar a

história local são super importante e deve envolver a participação de professores,

alunos, pais e comunidade em geral e isto requer trabalho, organização e

comprometimento, superando uma prática de mera transmissão de fatos e contribui

efetivamente para que todas as pessoas se percebam construindo a história. O

objetivo principal é estimular nos participantes a vontade de conhecer e registrar a

vida, em suas diferentes formas e momentos. Desse modo, poderão se sentir parte

da grande teia da vida.

Quantas vezes sentamos ao lado de nossos avôs ou mesmo de nossos pais

para escutar aquelas longas histórias que compuseram a vida e a trajetória da nossa

família e, portanto, a trajetória da nossa vida? Quantas vezes paramos para pensar

na importância do nosso passado, nas origens de nossa família, e mais, de nossa

comunidade? Indo um pouco mais longe, quantas vezes paramos para pensar de

que forma a cultura da nossa cidade e de nosso país influencia o nosso modo de ver

as coisas?

Pois é. Nós somos aquilo que vivemos. Somos um pouquinho da vida de

nossos pais e avós, do nosso bairro, das pessoas que estão à nossa volta, seja na

cidade ou no país onde vivemos.

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ATIVIDADES

1. Para conhecer mais sobre nosso município, vamos fazer uma pesquisa

utilizando o roteiro abaixo:

• Principais grupos colonizadores

• Origem do nome e por quê

• Principal função econômica no passado.

2. A principal técnica utilizada para perceber que memória também é documento,

podendo contribuir para ampliar os conhecimentos históricos é chamar para sala de

aula os avôs de nossos alunos para dar aula. Inicialmente devemos ter claros os

objetivos que se quer alcançar, quem serão os entrevistados e preparar um roteiro

de perguntas para a entrevista.

Roteiro de perguntas para o entrevistado: 1- Identificação: nome, idade, local de residência. 2- Local de procedência: em que local sua família ou a de seus pais moravam

antes de vir para o sudoeste do Paraná. Em que época ocorreu a mudança para Pranchita?

3- Motivo: qual foi o motivo que levou sua família ou da de seus pais ou avós saírem de onde moravam e escolher o município de Pranchita para viver?

4- Qual é o meio de sobrevivência da família? Comentar sobre. 5- Questionar o leva as pessoas à emigração? O que foi bom e o que não foi

bom? 6- Existe algum fato/acontecimento que tenha marcado sua vida? Lembra de

algum acontecimento que merece ser destacado? 7- O que mais marcou sua memória daquele período? O que não esquece? 8- Investigar sobre o conhecimento que seus pais ou avós tem sobre o Levante

dos Posseiros de 1957, ocorrido no Sudoeste do Paraná. Descobrir se participaram do movimento, se conhece alguém que participou e como foi essa participação?

9- Após as entrevistas é preciso organizar as informações coletadas para depois produzir uma história em quadrinhos.

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UNIDADE - II

TÍTULO: POR QUE ALGUÉM MIGRA?

Leia o poema e o texto a seguir e responda as questões abaixo.

Sonho imigrante A terra do sonho é distante E seu nome é Brasil Plantarei a minha vida Debaixo do céu anil. Minha Itália, Alemanha Minha Espanha, Portugal Talvez nunca mais eu veja Minha terrinha natal. Aqui sou povo sofrido Lá eu serei fazendeiro Terei gado, terei Sol O mar de lá é tão lindo Natureza generosa Que faz nascer sem espinho O milagre da rosa. (...)

Milton Nascimento e Fernando Brant.

A contribuição de estrangeiros na formação do povo brasileiro tem sido uma

característica de nosso processo histórico. As grandes correntes imigratórias do

século XIX e XX fizeram parte de um contexto de mudanças políticas e econômicas

em nosso país. O Brasil precisava de mão de obra; muitos europeus e asiáticos

precisavam de trabalho e de melhores condições de vida.

Em seus países de origem, esses imigrantes passavam, naquela época,

muitas dificuldades, como guerras, pouca terra, pobreza, fome. Em geral, eram

famílias de camponeses do “velho mundo” procurando novas terras para cultivar e

paz para viver. A Europa parecia não dar mais esperança e muita gente. Já o Brasil,

uma nação nova parecia oferecer mil possibilidades.

De 1886 a 1914, quase três milhões de imigrantes vieram para o Brasil na

tentativa de “fazer a América”. Eles fizeram do Brasil uma das três nações do mundo

que mais se abriram para fluxo migratório – Estados Unidos e Canadá são as outras

duas. (...) embora seja em seu fundamento, uma nação luso-africana, o Brasil se

tornaria, também, especialmente no sul, um país altamente europeizado.

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Por que alguém migra? Basicamente, porque espera ter uma vida melhor do

que vinha tendo até então. Para grande parte, vida melhor significa mais dinheiro, ou

simplesmente, menos miséria: um pedaço de terra para lavrar, um emprego seguro,

um pequeno negócio.

Imagine uma região onde uma tradicional ordem estabelecida começa a

entrar em crise, onde existe uma luta entre os poderosos para exercer o poder, onde

os antigos posseiros começam a perder suas velhas posses para grandes

companhias que se utilizam da força para expulsá-los. A conclusão é a de que esta

é uma região tensa, bastando um pequeno atrito para que se transforme a tensão

em guerra, em luta. Os colonos que se deslocaram para o Sudoeste do Paraná, a

partir da década de 40, queriam terra para morar, trabalhar e produzir. Migrar para o

Sudoeste significava lutar para sobreviver como pequeno produtor familiar.

1- Pesquise no dicionário qual a diferença entre emigrar e imigrar.

2- Segundo o poema de Milton Nascimento e Fernando Brant, o que os

imigrantes europeus esperavam conseguir no Brasil? E o que fez eles emigrarem?

3- Em sua família e no local onde mora, você observa a presença de

imigrantes europeus, asiáticos ou africanos? Se isto acontece, identifique a procedência deles e quais suas influencias na nossa cultura.

4- As influências estrangeiras em nossas vidas, hoje, chegam,

principalmente, através dos meios de comunicação.

5- Relacione influências estrangeiras em nosso meio, identifique os países de origem e o que há de positivo e de negativo nessas influencias.

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UNIDADE - III

TÍTULO: PARANÁ: BERÇO DO MST.

Você sabia que o MST, maior movimento social de luta pela terra existente no país foi organizado nacionalmente num encontro realizado no Paraná?

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra é uma das organizações sociais

do campo que, na história do Brasil, se sobressai pelas suas ações, conquistas e,

principalmente pela sua organização. No final da década de 70, o país vivia o

processo de democratização, onde ressurgiu as organizações camponesas. Mas foi

em janeiro de 1984, na cidade de Cascavel, na região oeste do Paraná, onde as

lideranças das lutas camponesas que, desde 1979, vinham realizando diversas

ocupações de terra, decidem organizar-se como um movimento nacional que ficou

conhecido como “Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”, que tinha como

objetivo a luta pela terra e pela reforma agrária. Esse foi o primeiro encontro

nacional de camponeses que organizavam a luta pela terra. Os participantes vieram

de diversos estados para compartilharem os anseios e as experiências. Deste modo,

serviu para orientar objetivos, a linha ideológica, e definir a concepção do movimento

como uma organização autônoma dos trabalhadores rurais.

Com a sua fundação, o MST organizou-se em grupos de camponeses nos

diversos estados, onde sobreviveu, e ao longo dessa caminhada, enfrentou muitas

dificuldades. Sua luta teve crescimentos consideráveis em todo território brasileiro,

mesmo com a violência dos latifundiários, da polícia e a indiferença governamental

que seguem a política neoliberal, principalmente para o campo que visam priorizar a

agro-exporação.

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Diante dos conflitos pelos quais o Movimento enfrenta externamente, se

desenvolve no seu interior, uma política de princípios de organização (como a

direção coletiva, a disciplina, a vinculação com a base e o estudo). Assim, o

movimento que começou com uma luta dos trabalhadores rurais pela terra, percebe

que além de distribuir a terra necessária se faz resgatar a dignidade do camponês.

Democratizar o capital, organizando as agroindústrias de forma cooperada nas mãos

dos agricultores. É preciso democratizar a educação como uma forma de levar a

cidadania para a população do campo.

O MST sempre soube que a Reforma Agrária só avançaria com a luta de

massas. Desta forma, as ocupações aumentam o cada ano. A estratégia de luta se

consolida como uma forma legítima, concreta e contundente de enfrentamento que

exige solução e gera unidade entre os sem terra.

Em um de seus artigos Frei Betto enfatiza:

“Passará à história o presidente que ousar alterar a estrutura fundiária brasileira – arcaica, injusta, concentradora de terras e de renda, e socialmente excludente. Sem a reforma agrária, problemas que tanto inquietam a população brasileira. Desemprego, violência urbana, favelas, fluxo migratório, trabalho escravo, desmatamento florestal e desequilíbrio ambiental - tendem a se agravar. E a perdurar a nossa posição de país periférico, distante do grau de desenvolvimento das nações socialmente menos injustas”.

Ainda segundo FREI BETO, hoje, o MST luta pela democratização da terra de

modo a priorizar a produção de alimentos para o mercado interno (120 milhões de

potenciais consumidores), por meio de pequenas e médias propriedades, e livre do

controle das empresas transnacionais, garantindo soberania alimentar ao nosso

país. Uma mudança sustentável da estrutura fundiária requer novo padrão

tecnológico capaz de preservar o meio ambiente e implantar no interior do Paraná e

em pequenos municípios agroindústrias na forma de cooperativas familiares, com

gestão direta, e facilitar a todos o acesso à educação de qualidade.

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Segundo Frei Betto, não se pode admitir que as terras do Brasil passem à

propriedade de estrangeiros apenas porque têm mais dinheiro. Elas deveriam estar

ao alcance das famílias beneficiárias do Bolsa Família. Assim, o governo já não

precisaria se preocupar em aumentar-lhes a mesada. Mais do que comida, fogão e

geladeira, essas famílias precisam ter condições de acesso à terra, de modo a se

emanciparem da tutela federal e produzirem a própria renda.

Todos os direitos da cidadania - voto das mulheres, legislação trabalhista,

SUS, aposentadoria - foram conquistados por movimentos sociais. E a história de

todos eles, em qualquer país ou época, não difere do que hoje enfrenta o MST:

incompreensões, perseguições, massacres e assassinatos (Eldorado dos Carajás,

Dorothy Stang, Chico Mendes) etc. Se o preço da liberdade é a eterna vigilância, o

da democracia é socializar o poder, evitando que seja privilégio de uma casta ou

classe.

ATIVIDADES

Um fato marcante ocorrido no campo durante as últimas décadas é o

“Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra”, o MST, que visa à posse da terra

para os que nela trabalham à reforma agrária com o fim dos latifúndios improdutivos,

ao estabelecimento de uma política agrícola que atenda ao pequeno agricultor

auxiliando-o a se manter na própria região e ao respeito pelas terras indígenas,

também ameaçadas pelos latifúndios.

A seguir você tem dois textos. O primeiro é um trecho do Estatuto da Terra e

o segundo é a proposta para reforma agrária do Movimento dos Sem Terra, leia-os e

depois responda as questões abaixo:

TEXTO 1:

Art.16 – A Reforma Agrária visa a estabelecer um sistema de relações entre o

homem, a justiça social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o

desenvolvimento econômico do País, com a gradual extinção do minifúndio e do

latifúndio. (Lei Nº 4.504 de março de 1964)

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TEXTO 2

Essa proposta de reforma agrária é parte dos anseios da classe trabalhadora

brasileira de construir uma nova sociedade: igualitária e socialista. Desta forma, as

propostas de medidas necessárias fazem parte de um amplo processo de mudanças

na sociedade e, fundamentalmente, da alteração da atual estrutura capitalista de

organização da produção.

A reforma agrária tem por objetivo:

Garantir trabalho para todos, com a conseqüente distribuição de renda;

Produzir alimentação farta, barata e de qualidade para toda população

brasileira, possibilitando segurança alimentar para toda sociedade;

Garantir o bem-estar social e a melhoria das condições a todos os brasileiros.

De maneira especial aos trabalhadores e, prioritariamente, aos mais pobres.

(www.mst.org.br).

O total de pessoas acampadas no País passou de 400 mil para menos de 100

mil entre 2003 e 2010, segundo estimativas da direção nacional do Instituto Nacional

de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

ATIVIDADES

1) De acordo com as informações contidas nos textos acima, o que seria a

reforma agrária? Os dois textos sugerem o mesmo entendimento?

2) Segundo o MST, quais benefícios a reforma agrária traria ao povo

brasileiro, principalmente aos mais pobres?

3) Considerando que a população brasileira é de aproximadamente 190

milhões, que porcentagem corresponde à parcela populacional dos sem

terra? Em sua opinião, o numero de sem-terra é grande o suficiente para

tornar-se um problema nacional? Justifique sua resposta.

4) Na região onde você vive existem movimentos pela reforma agrária? Dê

sua opinião sobre esses movimentos.

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UNIDADE - IV

TÍTULO: REFORMA AGRÁRIA: UM DESAFIO BRASILEIRO

A má distribuição de terra no Brasil tem razões históricas e a luta pela reforma

agrária envolve aspectos econômicos, políticos e sociais. A questão fundiária atinge

os interesses de um quarto da população brasileira, que tira seu sustento do campo,

entre grandes e pequenos agricultores, pecuaristas, trabalhadores rurais e os sem-

terra. Montar uma nova estrutura fundiária que seja socialmente justa e

economicamente viável é um dos maiores desafios do Brasil.

O que se entende por Reforma Agrária?

Segundo o Estatuto da Terra (1964), que diz em sua Lei 4.504, Art.1º,

“considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor

distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de

atender aos princípios de justiça social e ao aumento da produtividade. Uma reforma

dessas pode acontecer com o propósito de melhorar socialmente a condição de vida

das pessoas envolvidas, tornar aquela sociedade mais igualitária, fazendo uma

distribuição mais eqüitativa da terra, ou então para propiciar maior aproveitamento

econômico de uma região e da renda agrícola, ou mesmo ter os dois propósitos ao

mesmo tempo” (IBGE, 2005).

A criação do Estatuto da Terra propôs mudanças da estrutura agrária

brasileira, entretanto, a mesma nunca foi colocada em prática, pois, o Estado

mantinha sob seu controle a questão agrária.

De acordo, com o artigo da Revista Veja on-line, o problema de má

distribuição de terras faz parte do processo histórico, que, durante toda a história do

Brasil, tanto os camponeses, quanto os trabalhadores em geral, foram mantidos a

margem do poder por meio da violência. Houve agitações e conflitos no campo. Com

efeito, houve lutas pela distribuição das terras: os quilombolas, os indígenas, os

camponeses nordestinos (canudos) e sulistas (contestados). Os camponeses

brasileiros resistiram de várias formas, a exploração dos latifundiários. Além disso,

organizaram-se coletivamente e reivindicaram a reforma agrária.

No Brasil, existe uma grande concentração das propriedades rurais, onde

grande parte é improdutiva, estando reservada a especulação imobiliária. Com isso,

exclui-se a grande maioria, determinando-se o latifúndio monocultor e exportador.

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Seria esse o modelo de desenvolvimento almejado por grande parcela da

população?

Esse é o grande desafio brasileiro no século XXI, serão muitas cercas para

derrubar: a do latifúndio, das terras que não estão sendo utilizadas em sua função

social, das terras devolutas, da violência e dos massacres.

Em várias regiões do Brasil já houve a distribuição de terras, onde latifúndios

improdutivos foram transformados em espaços para pequenas propriedades

produtivas. Nestes assentamentos, os cidadãos antes excluídos produzem para a

sua própria sobrevivência, além de gerar recursos para o município e contribuir com

impostos fiscais.

Esse não seria o caminho para um país, com grandes extensões de terras

férteis e mão-de-obra abundante, diminuir a fome e a exclusão social?

ATIVIDADES

ATIVIDADE 1

Dicionário da terra: organizados em grupos, os alunos deverão montar o dicionário da terra, dando o conceito dos seguintes termos:

1- Agregado 2- Agricultura de exportação 3- Agricultura familiar 4- Agroindústria 5- Agropecuária 6- Alimento orgânico 7- Alimento transgênico 8- Aristocracia 9- Arrendamento 10- Assentamento rural 11- Associativismo 12- Bóia-Fria 13- Caboclo 14- Campesinato 15- Capitanias Hereditárias 16- Canudos 17- Colonato 18- Colônia 19- Colonização 20- Colono 21- Comissão Pastoral da Terra

(CPT)

22- Companhia colonizadora 23- Contestado 24- Cooperativa 25- Coronelismo 26- Êxodo rural 27- Emigração 28- Imigração 29- Jagunço 30- Latifúndio 31- migração 32- Minifúndio 33- Monocultura 34- Oligarquia 35- Policultura 36- Plantation 37- Posseiro 38- Reforma agrária 39- Sem terra 40- Sesmaria 41- Sindicato rural 42- Usocapião.

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ATIVIDADE 2

A luta pela Reforma Agrária é um dos mais antigos movimentos sociais

registrados na Historia.

Sem dúvida quando o povo se organiza, consegue reivindicar os seus direitos

com mais força, aumentando as chances de alcançar êxito em suas lutas. O MST

vem organizando os trabalhadores sem-terra em nosso país, mas sua atuação tem

sido motivo de muitas polemicas.

a) Faça uma pesquisa em jornais, revistas, livros, internet, sobre o

“Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra” (MST), e escreva sua

opinião, apresentando argumentos contra ou a favor. Apresentação em

classe, com discussão sobre o assunto. Anotem:

• Os nomes dos principais grupos que lutam pela Reforma Agrária no

Brasil;

• Os argumentos que apresentam a favor dessa luta;

• Os métodos que utilizam para realizá-la;

• Os principais grupos que se opõem à Reforma Agrária e quais os

argumentos que apresentam para justificar sua posição.

b) Como você acha que está a divisão de terras no Brasil hoje?

c) Em sua opinião, qualquer pessoa pode comprar alguns alqueires de terra

para poder viver no campo? Investigue qual é a medida de um alqueire e

sue valor na região onde você vive. Analise se esse valor é acessível para

um indivíduo que vive de salário mínimo, por exemplo. Com este salário,

quanto tempo levaria para conseguir o dinheiro necessário para a compra

de um alqueire de terra?

d) O que um agricultor precisa para permanecer no campo e desenvolver um

trabalho que garanta seu sustento e o da família? O que pode garantir

qualidade de vida a uma criança que vive no campo?

e) Apresentação para a classe do resultado da pesquisa.

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ATIVIDADE 3

TERRA: PRIVILÉGIO E PODER Aquele montão de terra

Que a gente perde de vista Tem terra que embrenha na mata

Tem terra na beira da pista Tem terra sem plantação (...)

Algum dia vai mudar? Será que vai ser diferente?

Há gente que não tem terra E terra que não tem gente.

Márcia Bertoletti

Autor desta charge é Márcio Baraldi,chargista. Charge cedida pelo próprio autor em 19/06/2011. http://www.marciobaraldi.com.br/baraldi2/ - Acessado em 19/06/2011.

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• Observe com atenção a charge acima.

Discuta com seu grupo e responda as seguintes questões: • Qual é o título da primeira figura? • O que o autor quis expressar nessa figura? • Qual é o titulo de segunda figura? • O que o autor quis expressar nessa figura? • Compare as duas figuras e tente explicar a relação entre elas. Anote em seu

caderno. ATIVIDADE 4

• Observe a charge abaixo e faça uma análise critica sobre a mesma.

“Terra para todos”.

Fonte: www.brasilescola.com Acessado em 01/07/2011

ATIVIDADE 5

Organizados em grupos, os alunos deverão ler as principais linhas do

Programa Agrário do MST, com propostas para a agricultura e para a população do

campo, extraído das páginas do MST em 30/06/2011 e fazer uma conclusão critica

das mesmas.

1.Terra

- A terra e os bens da natureza são um patrimônio dos povos que habitam cada território e devem estar a serviço da humanidade. A propriedade, posse e uso da terra e dos bens da natureza devem estar subordinados aos interesses gerais do povo brasileiro, atendendo às necessidades de toda a população.

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- Estabelecer um tamanho máximo da propriedade rural, para cada agricultor,

estabelecido de acordo com cada região. Desapropriar todas as fazendas acima

deste módulo, independente do nível de produtividade.

- Garantir o acesso à terra a toda família que quiser trabalhar e viver nela.

- Desapropriar todas as propriedades rurais de empresas estrangeiras, bancos,

indústrias, empresas construtoras e igrejas, que não dependem da agricultura para

suas atividades.

2. Organização da produção no meio rural

- A produção agrícola será orientada para a produção de alimentos saudáveis para

todos os brasileiros, implantando o princípio da Soberania Alimentar. A produção

será organizada com o desenvolvimento de todas as formas de cooperação agrícola,

como: mutirões, organização comunitária, associações, cooperativas, empresas

públicas e de prestação de serviços.

- Promover uma agricultura diversificada com técnicas agroecológicas, sustentáveis,

que rompa com a monocultura, sem agrotóxicos e transgênicos, gerando uma

alimentação saudável.

3. A água

- A água não deve se tornar uma propriedade privada, seja para consumo, seja para

agricultura, pois está subordinada aos interesses sociais. Será considerado de

domínio público todos os rios, lagos, reservatórios, barragens, lençóis freáticos e

nascentes de água.

4. O papel do Estado

- O Estado deve usar todos os instrumentos de política agrícola, como garantia de

preços, crédito, fomento à transição e consolidação da produção agroecológica,

seguro, assistência técnica, armazenagem, etc, para o cumprimento desse

programa de Reforma Agrária. Deve garantir ainda a compra de todos os produtos

alimentícios do setor camponês e da Reforma Agrária para a redistribuição a todo o

país.

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- Fortalecer e reestruturar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(Incra) e a Companhia Nacional da Abastecimento (Conab) como instrumentos para

a implementação desta política agrícola. Criar um instituto público vinculado ao

programa de Reforma Agrária, com a função de garantir a assistência técnica

pública e gratuita, além de capacitação, em coordenação com outros organismos

públicos de pesquisa.

5. A industrialização do interior do país

- O programa de Reforma Agrária deve ser um instrumento para levar a

industrialização ao interior do país, promovendo um desenvolvimento harmônico

entre as regiões, gerando empregos, em especial para os jovens e as mulheres.

Este processo devera ocorrer por meio da instalação de agroindústrias nos

municípios, comunidades e assentamentos do interior do país.

6. Um novo modelo tecnológico

- A produção agrícola brasileira deve ser reorganizada através de um novo sistema

de planejamento e modelo tecnológico orientado pelo enfoque agro ecológico e

participativo. O aumento da produtividade da terra e do trabalho deve estar em

equilíbrio com o meio ambiente, preservando a natureza e a produção de alimentos

saudáveis.

- Desenvolvimento de pesquisas e tecnologias agro ecológicas e adequadas ao

agro-ecossistema, promovendo sustentabilidade cultural, social, econômica e

ambientalmente.

- Formação massiva em agroecologia para camponeses em todo o país, em especial

da juventude.

7. A educação no campo

- Universalização do acesso à educação escolar em todos os níveis e com

qualidade, em escolas públicas e gratuitas, construídas nos assentamentos e nas

comunidades rurais, para jovens e adultos do campo.

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8. Infra-estrutura social no meio rural

- Implantação de um amplo programa de construção e melhoria das moradias no

meio rural, com acesso a energia elétrica, de fontes renováveis e alternativas, água

potável, transporte público, serviços de informática, saúde preventiva e atividades

culturais, em todas as comunidades rurais.

- Desenvolver um programa de democratização dos meios de comunicação de

massa, para que as comunidades possam ter suas rádios comunitárias, acesso aos

canais de TV comunitários, entre outros.

ATIVIDADE 6

Leia o poema abaixo, reflita , pense, questione, debata. Faça um desenho que represente o que o autor quis dizer através do poema.

Confissões do Latifúndio - Pedro Casaldáliga

Por onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada. Por onde passei, plantei a morte matada. Por onde passei, matei a tribo calada, a roça suada, a terra esperada... Por onde passei, tendo tudo em lei, eu plantei o nada.

Fonte: www.mst.org.br/Acessado em 30/06/2011.

ATIVIDADE 7

Organizados em grupos os alunos deverão ler as questões abaixo, refletir,

pensar, questionar, debater e respondê-las. Apresentar para a classe o resultado

das questões abaixo.

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Qual é a importância da terra para os agrupamentos humanos? Por que

historicamente percebemos uma ligação estreita dos seres humanos com a terra,

seu uso e sua posse?

No Brasil a terra é fonte de poder e é uma mercadoria que pode ser

comprada, vendida, alugada, hipotecada. Esta é a regra no mundo capitalista.

A quem pertence ou deve pertencer a Terra? Por que alguns têm acesso à

terra e a tudo o que ela pode oferecer e outros não? Existiram conflitos relacionados

à sua posse no sudoeste do Estado do Paraná e também em nosso município?

ATIVIDADE 8

Pesquisa de campo: Visita ao assentamento Conquista da Fronteira – SC,

munidos de máquina fotográfica, gravadores, filmadoras, caneta e papel. Os alunos

farão um relato de suas pesquisas para debater em sala de aula. Durante a

apresentação farão uma exposição de vídeos e fotos e coletadas durante a visita.

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UNIDADE - V

TÍTULO: SUDOESTE DO PARANÁ: TERRA DE GUERRAS E DISPUTAS

A história do Sudoeste do Paraná foi marcada por várias lutas por delimitação

de fronteiras e/ou lutas para garantir o direito de uso da terra.

A primeira foi a chamada “Questão de Palmas”, litígio territorial entre Brasil e

Argentina envolvendo uma área que hoje corresponde a praticamente todo o Oeste

catarinense e Sudoeste do Paraná. Outros conflitos - Tratados de Madri (1750) e

Santo Ildefonso (1777), que demarcaram as fronteiras entre as possessões

portuguesas e espanholas na América do Sul. Porém uma das mais marcantes foi a

Revolta dos Posseiros de 1957: levante agrário que envolveu colonos, posseiros,

companhias imobiliárias de terras e o governo federal e estadual. Trata-se de um

assunto complexo, cujos primeiros conflitos e manifestações pela posse de terra

iniciaram bem antes de 1957.

A disputa pelas terras foi um dos principais problemas enfrentados pelo

governador do Paraná, Moysés Lupion (1947 a 1951 e 1956 a 1960), principalmente

em seu segundo mandato (1956-1960) como governador do Estado, época em que

ocorreu a Revolta dos Posseiros de 1957.

A REVOLTA DOS POSSEIROS DE 1957

http://portaldoprofessor.mec.gov.br.//storage/discovirtual/galerias/imagem/0000001754/0000021404.jpg

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Em seus estudos sobre o Levante dos Posseiros, Wachowicz observa que

quando poderosos interesses do capital se instalaram no Sudoeste Paranaense, a

violência tornou-se inevitável. Eram milhares de colonos posseiros de um lado e os

interesses do capital do outro. Observou-se que o inicio do apelo para a violência

não partiu dos colonos. Foram os próprios grupos econômicos que apelaram para a

violência. (WACHOWICZ, 1985, p. 209).

Para Battisti, o contexto da Revolta de 1957 foi marcado, a nível nacional, por

novas formas de exploração capitalista no campo, manifestando-se nos vários

aspectos que compõem a realidade brasileira. É nesse período que a

produçãoagrícola dos principais centros urbano-industriais e capitais, começou a ter

na agroindústria seu primeiro mercado. Para entendermos este processo,

precisamos retornar ao início da colonização da região, cujo marco foi a criação do

Território Federal do Iguaçu e a instalação da Colônia Agrícola General Osório

(CANGO), no início da década de 1940, projetados para promover a colonização

dirigida ao longo da fronteira com a Argentina (BATTISTI, 2006, p.65).

Com a criação da CANGO, ganhou impulso o fluxo de migrantes dos estados

do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em quantidade muito maior que a

capacidade de atendimento da colonizadora. Em 1950, a Colônia contava com 7.147

pessoas, enquanto a região totalizava 76.373 habitantes. Em 1956, a CANGO

contava com 15.284 pessoas e uma fila de outros 26.000 esperava cadastramento,

em 1960 a região estava com 230.379 pessoas, sendo 119.787 na área rural

(GOMES, 2005, p. 21).

A CANGO era um órgão público federal e os lotes de terra eram distribuídos

gratuitamente, o que era mais um fator que favorecia a grande migração interna para

a região. A CANGO realizou na região um eficiente trabalho de povoamento e

colonização, construindo obras de infra-estrutura, dinamizando a vida social e

cultural da comunidade, dando inicio para o grande progresso que o Sudoeste

possui hoje (LAZIER, 2003, p. 150).

Lazier narra que a CITLA, (Clevelândia Industrial e Territorial LTDA), empresa com

sede em Mariópolis, apareceu na Região em 1950 como sendo proprietária de cerca

de 500.000 hectares de terra, apresentando titulo fornecido pelo governo federal. O

governador do Paraná era um dos sócios da CITLA e tanto o governo do Paraná,

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como o governo federal, pertenciam ao mesmo partido – o PSD. Por isso, foi

possível a referida negociata, que foi cognominada “a maior bandalheira da

República” (LAZIER, 2003, p. 150).

Ainda utilizando-me de mais uma citação de Lazier (2003, p. 151), além da

CITLA, duas outras Companhias – a Companhia Comercial e Agrícola Paraná e a

Companhia

Colonizadora Apucarana – passaram a percorrer a região forçando os posseiros a

comprar-lhes as terras. Como houve resistência, pois os posseiros foram alertados

de ilegalidade do titulo da CITLA, as referidas empresas passaram a utilizar

jagunços para amedrontar os posseiros. Os conflitos entre jagunços e posseiros

foram se agravando. Cansados de serem roubados, cansados de serem

massacrados, cansados de injustiças, os posseiros e o povo do Sudoeste do Paraná

resolveram colocar um paradeiro naquele estado de coisas, fazendo justiça com as

próprias mãos.

O autor Krüger relata que, diante da resistência dos colonos, os jagunços

passam das ameaças às ações de banditismo puro. Incêndios de casas, roças e

galpões, espancamentos, mutilações, saques e extorsões, violências sexuais, tortura

e assassinatos, além de cobrança de pedágio nas estradas, tornam-se métodos

comuns para fazer os colonos pagar por suas posses. (KRÜGER, 2004, p. 2074).

Battisti também nos relata que na tentativa de se defender dos jagunços,

muitos colonos aliaram-se a bandidos e também praticaram arbitrariedades. Conta

Wachowicz (1987, p. 175) que colonos da fronteira- da localidade de Capanema -

pediram ajuda de Pedro Santin, um conhecido valentão da região (BATTISTI, 2006,

p.65).

Pedro Santin tinha sido posseiro em Capanema e, desde março estava

refugiado na Argentina (GOMES, 2005, p. 78). Este reuniu 11 colonos e atacou o

escritório da Colonizadora Apucarana na localidade de Lageado Grande. Cercou o

escritório e ateou fogo. Os que iam pulando para fora eram eliminados (BATTISTI,

2006, p. 65).

Este grupo empreendeu o episódio conhecido como a “tocaia” do km 17,

ocorrido em setembro de 1957, no atual município de Pranchita, na estrada entre

Santo Antonio do Sudoeste e Capanema. Gerentes das companhias e colonos

teriam marcado uma reunião para discutir a situação de conflito pela posse da terra.

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Mas, a reunião foi desmarcada pelos gerentes das companhias, que suspeitavam de

alguma armação. Os colonos não foram avisados e seguiam para a reunião. Os

diretores das companhias mandaram uma camioneta com o motorista e um jagunço,

que iam dando carona aos colonos que estavam na estrada. No local da “tocaia”, o

grupo de Santin abriu fogo contra o veículo e seus ocupantes. Morreram sete

pessoas: os dois funcionários da Companhia e cinco colonos. Um desses

colonosera pai de um dos atacantes. Mais uma vez os colonos sentiram-se

ludibriados pelas companhias. O ódio acumulado durante muito tempo pelos colonos

explodiu em toda a sua fúria (GOMES, 2005, p. 80).

O envolvimento de autoridades com o crime é confirmado por Wachowicz

“autoridades do governo do Estado colaboraram nesse esquema. Nas delegacias de

polícia da região Sudoeste, foram colocados delegados submissos, que acatavam

inclusive ordens emanadas dos gerentes das companhias”. Tal situação não poderia

ser mais contundente em termos do desmascaramento do discurso político da

classe hegemônica de que o Estado equivalia a uma instância superior e autônoma

para intermediar as relações entre as classes e grupos sociais na perspectiva de

garantir o bem estar a todos (WACHOWICZ, 1987, p. 172).

A situação dos colonos era desesperadora. O discurso do senador Othon

Maeder, em dois de outubro de 1957, historiando os principais acontecimentos do

Sudoeste teve repercussão nacional. Os principais jornais e revistas do país

começaram a enviar repórteres e fotógrafos para a região. Os políticos

oposicionistas resolveram agir (WACHOWICZ, 1987, p. 190).

Segundo Battisti, começam, então, os conflitos, culminando no movimento de

massa conhecido por Revolta Camponesa, Levante dos Posseiros ou Revoltos dos

Colonos, em 10 de outubro de 1957, quando milhares de colonos posseiros

pegaram em armas e apoderaram-se dos principais municípios do Sudoeste do

Paraná, expulsando e substituindo as autoridades constituídas. (BATTISTI, 2006, p.

65).

Ainda utilizando-me de Battisti, ele enfatiza que os posseiros receberam apoio

decisivo de comerciantes e profissionais liberais, vinculados a grupos econômicos

e/ou partidos de oposição ao governador, entretanto os posseiros assumiram a

revolta porque concebiam a propriedade da terra como espaço de trabalho e

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relações, orientado para garantir a produção e a reprodução da vida e não como

fonte de poder, especulação ou acumulação (BATTISTI, 2006, p. 65).

Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná - GETSOP

O autor Lazier relata que “após a expulsão das companhias imobiliárias, a luta

continuou para transformar os posseiros em proprietários. Essa bandeira de luta

uniu todo o sudoeste” (LAZIER, 2003, p. 152).

A esse respeito Lazier escreve que na campanha eleitoral de 1960 para a

Presidência da República surgiram, entre outras, a candidatura do Marechal Lott,

pelo PSD e PTB, e de Jânio Quadros, pela UDN e pequenos partidos. Uma

comissão de líderes da região esteve na capital federal para conversar com os

candidatos sobre a situação dos posseiros e solicitar providencia para a legalização

de suas terras. Inicialmente procuraram o Marechal Lott, que não quis assumir

compromisso sobre o assunto. Depois foram ao Jânio Quadros, que prometeu caso

fosse eleito, solucionar o problema dos posseiros, desapropriando a área e titulando

a para eles. Diante da promessa de Jânio Quadros, quase todo o Sudoeste votou

nele. (2003, p.152)

Sendo eleito Presidente, da República, um dos primeiros atos foi, realmente,

desapropriar a área em litígio. Pelo Decreto nº 50.379, de 27/03/1961, Jânio

Quadros desapropriou declarando de utilidade publica, a gleba Missões e parte da

gleba Chopim, ou seja, o Sudoeste do Paraná. Considerando a urgência na solução

do problema, o presidente assinou no dia 25/04/1961, o Decreto nº 51.494,

determinando regime de urgência para a desapropriação (2003, p.152).

Ainda segundo Lazier, com a renúncia do Presidente Jânio Quadros, assumiu

o Poder Executivo o vice-presidente João Goulart, que tomou novas medidas em

favor dos posseiros do Sudoeste do Paraná. Em 19/03/1962, pelo Decreto nº

51.431, o presidente João Goulart criou o Grupo Executivo para as Terras do

Sudoeste do Paraná (GETSOP), com a finalidade de programar e executar os

trabalhos necessários para a efetivação da desapropriação, bem como executar a

colonização das glebas desapropriadas (LAZIER, 2003, p. 152).

Até sua extinção, em janeiro de 1974, foram regularizados e expedidos

43.383 títulos de propriedade de terra, correspondentes a 56.936 lotes, sendo

12.413 títulos urbanos e 30.970 títulos rurais. O município que mais títulos recebeu

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do GETSOP foi Francisco Beltrão com 7.550 títulos, seguido de Dois Vizinhos, com

6.492 títulos. (LAZIER, 2003, p.152).

Dezenas de viaturas do GETSOP trabalharam pelo progresso da região e de

seus habitantes. Nos setor educacional foi significativa a participação do GETSOP.

Construiu 221 escolas, sendo 51 unidades de alvenaria e 170 de madeira.

OGETSOP ajudou de todas as formas o Sudoeste do Paraná. Os dados publicados,

extraídos do “Relatório Final das Atividades do GETSOP”, revelam a verdadeira

reforma agrária efetuada no Sudoeste do Paraná (LAZIER, 2003, p. 153).

A autora Gomes relata que o primeiro trabalho do GETSOP foi medir

demarcar, dividir os lotes, respeitando a posse e a decisão dos ocupantes. Segundo

o relatório final desse órgão, que encerrou suas atividades em 1973, o GETSOP

enfrentou, no inicio, dificuldades de aceitação dos colonos. Por isso, os trabalhos de

medição e demarcação foram acompanhados por elementos do Exército Nacional,

tendo em vista a boa aceitação que o Exercito tinha na região (GOMES, 2005, p.

118).

Lazier relata que, na história do Brasil, a Revolta de 1957 foi a única revolta

que a parte mais fraca, no caso os colonos, obtiveram a vitória. Com a GETSOP,

ocorreu um verdadeiro exemplo de Reforma Agrária, efetuada no Sudoeste do

Paraná, na gleba Missões e parte da gleba Chopim. A atuação do GETSOP,

transformando cerca de 50.000 posseiros em proprietários, foi um marco na marcha

do Sudoeste do Paraná para a modernidade capitalista. (LAZIER, 2003, p.153).

Ainda segundo Gomes (2005, p. 118), quando o GETSOP encerrou suas

atividades, em 1973, haviam sido titulados 32.256 lotes rurais e 24.661 urbanos. O

movimento de 57 tinha atingido seus objetivos: num primeiro momento, a expulsão

das companhias de terra e, num segundo, a conquista do titulo de propriedade

(GOMES, 2005, p. 119).

A afirmação acima é também confirmada por Abramovay, quando ele diz que

os agricultores do Sudoeste orgulham-se por não ter sido necessário em nenhum

momento da ocupação o uso das armas que tinham. Este caráter pacífico da

Revolta não me parece ter resultado de uma imposição “manipuladora” do Dr. Walter

Pecoits, mas correspondeu aos próprios objetivos dos colonos. Não se tratava

absolutamente de uma “revolução política”, de ocupar definitivamente as cidades,

nelas implantando uma espécie de “república camponesa” local. O rápido acordo

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conquistado junto ao governo estadual e, posteriormente, o imediato abandono das

cidades ocupadas, corresponde à própria limitação dos objetivos procurados pela

Revolta. Lutava-se pela lei e pela propriedade (ABRAMOVAY, 1981, p. 48).

ATIVIDADES

a- Questionar o papel da CANGO, CITLA E GETSOP na ocupação do Sudoeste

do Paraná.

b- Analisar a importância da pequena propriedade no desenvolvimento do

Sudoeste do Paraná.

c- Fazer uma pesquisa junto aos sindicatos e prefeitura sobre a estrutura agrária

no seu município.

d- Fazer uma síntese do texto acima com uma conclusão critica do mesmo.

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AVALIAÇÃO

O método utilizado pelo professor em sala de aula não é algo definitivo,

acabado e inquestionável, mas reformulado por novas experiências, novas reflexões

e mudanças sociais, pela participação do aluno, bem como da família e da

comunidade escolar.

Uma educação escolar voltada para a cidadania e para o conhecimento

requer um aluno sujeito e não mero objeto do conhecimento. Cremos que educar

não é apenas de depositar conhecimentos predeterminados na cabeça dos alunos,

mas desenvolver a capacidade de produção, de pesquisa e de uma consciente

intervenção social.

O ensino de História deve proporcionar ao aluno inquietar-se diante dos

conteúdos, e a ter curiosidade investigativa fronte a textos e diferentes documentos.

Ao mesmo tempo, espera-se que o aluno relacione a aprendizagem escolar à sua

experiência de vida, como telespectador, internauta, consumidor, constituinte de

uma família e de uma sociedade – sujeito histórico, enfim.

Os alunos deverão ser avaliados a partir da participação nas atividades

propostas. Ao final das aulas, eles devem redigir uma redação, individual ou em

grupo, que contemple os temas sugeridos.

E nesta aula o professor poderá avaliar o aprendizado em cada uma das etapas

do trabalho desenvolvido:

1- Por meio das percepções e reações dos alunos diante das discussões e dos

registros escritos produzidos em todas as atividades da aula.

2- Através da análise do poema e da capacidade de relacioná-lo às descobertas

anteriores sobre o assunto (as razões pelas quais os imigrantes europeus

vieram para o Brasil).

3- Como também a partir da análise e da participação/contribuições no grupo e

em debate.

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Para avaliar o aluno, utilizaremos os seguintes critérios:

1. Desempenho e participação do aluno durante as aulas;

2. Envolvimento e crescimento no processo de ensino-aprendizagem;

3. Apresenta clareza nas tarefas escritas;

4. Inclui pesquisas relativas aos assuntos tratados;

5. Adota uma organização que facilita a compreensão.

Instrumentos:

1. Avaliação oral, através de debates, exposições, questionamentos, relatos

de pesquisas;

2. Provas, testes e trabalhos escritos;

3. Trabalho em grupo;

4. Entrevistas;

5. Auto-avaliação.

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REFERÊNCIAS BATTISTI, Elir. Professor do ISF – Instituto Sapientia de Filosofia, e FESC – Fundação de Ensino Superior de Clevelândia. As disputas pelas terras do Paraná: os conflitos fundiários dos anos 50 e 80 do século XX. BONETI, Lindomar Wessler. O Significado histórico do Levante Armado dos colonos do Sudoeste do Paraná ocorrido em 1957. In: Coleção Cadernos Unijuí. Ijuí – RS, 1997, 20p. GOMES, Iria Zanoni, 1957 A Revolta dos Posseiros. 3ª edição – Curitiba. Criar Edições, 2005. KRÜGER, Nivaldo. Sudoeste do Paraná – História de Bravura, Trabalho e Fé. Curitiba: Gráfica e Editora Posigraf, 2004, 300p. LAZIER, Hermógenes, Análise Histórica da Posse da Terra no Sudoeste Paranaense. 3ª edição/ maio de 1998. . Paraná: terra de todas as gentes e de muita história. Gráfica e Editora Ltda. Francisco Beltrão, 2003, 319 p. PARANÁ, Diretrizes Curriculares da Educação Básica: História – SEED, 2008, 93p. PINSKY, Jaime e Carla. O que e como ensinar: Por uma História prazerosa e conseqüente. In: KARNAL, Leandro, (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo, Contexto, 2005, 216 p. SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História. 1ª edição. São Paulo, Scipione, 2004. WACHOWICZ, Ruy Christovam, Paraná, Sudoeste: ocupação colonização. Curitiba. Lítero-Técnica, 1985, 313p. DELL’ AGOSTINHO,Adriana de Oliveira Gabardo,Historia: trabalho, cultura e poder na sociedade brasileira – ontem e hoje, volume 3, Curitiba, Base Editora, 2005, p.53 a 55. PÁGINA NA INTERNET: www.ibge.gov.br/.../historico_conteudo.php. Acessado em 05/04/2011. www.prefpranchita.cm.br/2008. Acessado em 13/02/2010. http://www.marciobaraldi.com.br/baraldi2/ - Acessado em 19/06/2011. www.mst.org.br /Acessado em 30/06/2011.

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http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/apc/layout3/nest.php?tipo=Contextualizando&PHPSESSID=2011072021584985 Acessado em julho/2011. http://www.patrialatina.com.br/colunaconteudo.php?idprog=647bba344396e7c81709

02bcf2e15551&cod=545&codcolunista=43. Acessado em 25/07/2011.

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