fibrilhação auricular. estudo de caso provisorio

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Ensino Clínico em Especialidades Médico-Cirúrgicas Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular Pensamento …Cuidar, mais do que um saber científico, uma acção técnica ou uma relação interpessoal, deve ser um imperativo moral que fundamente o exercício da Enfermagem na defesa e preservação da dignidade da pessoa que, como enfermeiros cuidamos.” Margarida Vieira Página 3

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

Pensamento

…Cuidar, mais do que um saber científico, uma acção técnica ou uma

relação interpessoal, deve ser um imperativo moral que fundamente o

exercício da Enfermagem na defesa e preservação da dignidade da pessoa

que, como enfermeiros cuidamos.”

Margarida Vieira

 

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

Índice

0. Introdução……………………………………………………………………………..5

I. Desenvolvimento………………………………………………………………………7

1. A Fibrilhação Auricular……………………………………………………….7

1.1. Definições…………………………………………………………………...7

1.2. Epidemiologia……………………………………………………………….8

1.3. Sinais e Sintomas……………………………………………………………8

1.4. Meios de Diagnóstico……………………………………………………….9

1.4.1. Exames Complementares de Diagnóstico…………………......................10

1.5. Tratamento…………………………………………………………………11

2. Processo de Enfermagem…………………………………………………….13

2.1. Avaliação Inicial…………………………………………………………...13

2.2. Apresentação do Caso Clínico…………………………………………….17

2.3. Plano de Cuidados…………………………………………………………18

II. Conclusão……………………………………………………………………………24

III. Bibliografia…………………………………………………………………………26

IV. Anexos

Anexo I – Antecedentes Pessoais da Sra. M.D.

Anexo II – Pacemaker

Anexo III – Actividade Eléctrica do Coração

Anexo IV – Terapêutica medicamentosa da Sra. M.D.

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

0. Introdução

A Fibrilhação Auricular (FA) é a taquiarritmia existente mais frequente, em grande

parte devido ao grande envelhecimento da população e à grande prevalência de doenças

cardiovasculares que se assiste nos nossos dias. Cerca de 4% da população com idade

superior a 65 anos de idade terá fibrilhação auricular, e atingirá cerca de 15% com idade

superior a 75 anos, sendo por isso considerada no final do século passado como uma

“Epidemia do novo milénio” (Ezecowitz, 1999).

“Um doente com FA tem um risco de doença cardiovascular cerca de cinco ou seis

vezes superior ao da população em geral, ajustada à idade, sendo a incidência anual de

acidente vascular cerebral, em doentes com FA cerca de 4.5%”. (Reis & Patrícia &

Dutchmann, 2006).

O presente estudo de caso surge no âmbito do ensino clínico em especialidades médico-

cirúrgicas do 3º ano da Licenciatura em Enfermagem. O referido estágio curricular foi

desenvolvido no Hospital Escala Braga, no serviço de Cardiologia.

Assim sendo, com a realização deste trabalho, são vários os objectivos que se pretende

alcançar, dos quais se salientam:

Conhecer fisiopatologicamente a Fibrilhação Auricular;

Distinguir os diferentes tipos de Fibrilhação Auricular;

Conhecer os sinais e sintomas da patologia;

Saber quais os meios de diagnóstico utilizados;

Compreender as formas de tratamento adequadas a cada caso;

Aplicar o processo de enfermagem, desenvolvendo um plano de cuidados de

para um utente com a patologia descrita;

Passando à descrição da estrutura do estudo de caso, é importante referir que este se

encontra dividido em 5 partes sendo elas a introdução; o desenvolvimento, onde farei

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uma abordagem à patologia e ao processo de Enfermagem; conclusão; bibliografia e um

capítulo de anexos com informação complementar.

Para a realização deste trabalho, foi utilizada pesquisa bibliográfica, pesquisa

cibernética, apontamentos das aulas teóricas, entrevistas informais com o utente em que

o estudo de caso incide, e informação processual do utente.

A metodologia utilizada para a realização deste relatório foi o método de observação

directa, analítico e descritivo.

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I. Desenvolvimento

1. A Fibrilhação Auricular

1.1. Definições

A fibrilhação auricular (FA) é uma taquiarritmia supra ventricular, caracterizada por

uma activação auricular descoordenada com consequente deterioração da função

miocárdica.

As aurículas despolarizam caoticamente a frequências de 300 a 600 batimentos/minuto.

A fibrilhação auricular é gerada por um ou mais focos ectópicos de disparo rápido.

A FA tem uma apresentação muito heterogénea, pelo que se torna difícil caracterizá-la.

Podemos distinguir a FA quanto à etiologia, ou seja, pode ser: (1) Isolada, quando o

doente tem um coração estruturalmente normal. Este termo, geralmente, aplica-se a

indivíduos jovens, sem evidências clínicas ou ecocardiográficas de doença

cardiopulmonar; (2) Secundária, quando ocorre na sequência de enfarte agudo do

miocárdio, cirurgia cardíaca, pericardite, miocardite, hipertiróidismo, embolia

pulmonar, pneumonia ou doença pulmonar aguda, ou seja, o problema não está na

arritmia em si, mas sim na doença de base. Para controlar o episódio arrítmico é

necessário controlar a doença preexistente.

Pode ainda falar-se numa classificação baseada no padrão temporal da arritmia.

Segundo esta classificação deve distinguir-se um primeiro episódio detectado de FA,

mesmo que este seja assintomático ou seja auto-limitado de FA recorrente. Se esses

episódios de arritmia são auto-limitados e terminam espontaneamente num período de 7

dias, então diz-se que a FA é paroxística; se for contínua, e necessária a cardioversão

farmacológica ou eléctrica, é designada persistente; se por outro lado, temos uma

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duração superior a um ano, não pode ser utilizada a cardioversão, ou quando realizada

não tem sucesso, estamos perante uma FA permanente.

1.2. Epidemiologia

A Fibrilhação Auricular contribui para cerca de 34% das hospitalizações por disrritmias

cardíacas.

Estima-se que 6 milhões de pacientes na Europa e 2,3 nos Estados Unidos da América

sejam afectados por esta patologia, continuando estes números a crescer devido ao

envelhecimento populacional a que assistimos.

Estudos indicam que a incidência da doença por 1000 pessoas por ano em indivíduos

com idade inferior a 64 anos seja de 3.1% nos homens e 1.9% nas mulheres, estando

significativamente aumentada em pessoas com idade compreendida entre 65 e 74 anos

(19 por 1000 pessoas por ano), aumentando ainda mais em indivíduos nos 80 anos de

vida (38 por 1000 pessoas).

Na população em geral, a incidência é de 0,4% a 1%, sendo esta incidência aumentada

com o aumento da idade.

Em Portugal a prevalência de fibrilhação auricular não está claramente definida. No

entanto, um estudo realizado pela Rede de Médicos identificou uma prevalência de

0.53% numa população com 32.185 utentes de centros de saúde incluídos no estudo.

Estes números aumentam também de acordo com o aumento da faixa etária.

A idade média dos doentes com esta patologia é de 75 anos, no entanto, cerca de um

terço da população tem 80 ou mais anos.

A frequência de fibrilhação auricular sem história de doença cardiopulmonar é inferior a

12%. Esta doença prevalece mais em doentes com Insuficiência Cardíaca ou Doença

Valvular e na severidade destas patologias.

Noutro estudo (Euro Heart Survey), a prevalência de FA idiopática foi de 10%; FA

paroxística de 15%; 10% de FA persistente e 4% de FA permanente.

1.3. Sinais e Sintomas

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Os sintomas da fibrilhação auricular dependem da frequência com que se contraem os

ventrículos. Se esta for pouco rápida (menos de 120 batimentos por minuto), por norma

não se produzirão sintomas, enquanto frequências mais elevadas provocam palpitações

ou dor no peito.

A FA provoca irregularidade do ritmo ventricular e compromete e enchimento

ventricular, que normalmente ocorre com as contracções auriculares síncronas (estímulo

auricular) diminuindo, assim, o débito cardíaco. As alterações hemodinâmicas podem

produzir: (1) dispneia paroxística que pode levar a insuficiência cardíaca, (2) angina, (3)

fadiga, (4) tonturas ou (5) síncope. A síncope é uma manifestação incomum, que pode

surgir em pessoas com disfunção do nó sinusal, frequências ventriculares rápidas em

doentes com cardiomiopatia hipertrófica e estenose aórtica valvular.

Em contexto de urgência, a principal sintomatologia resume-se a dor no peito, dispneia

e palpitações.

Na fibrilhação auricular, as aurículas não bombeiam o sangue por completo para

ventrículos, pelo que o sangue estagnado no seu interior pode imobilizar-se e coagular.

Os trombos formados podem mobilizar-se para o interior do ventrículo, penetrar na

circulação geral e chegar a uma artéria mais pequena e obstruí-la (embolia).

A gravidade dos sintomas, a instabilidade hemodinâmica e o risco de embolia vão

orientar as formas de tratamento.

1.4. Meios de Diagnóstico

O diagnóstico de FA é baseado na clínica e exame físico e confirmado com um exame

electrocardiográfico.

A primeira avaliação de um doente com suspeita de FA inclui a caracterização do

padrão de arritmia, determinação da causa, e investigação de factores cardíacos e extra-

cardíacos associados.

Mesmo quando a FA é assintomática é necessário determinar o inicio do episódio e a

duração. Tentar saber se quando a arritmia começa o ritmo é regular ou irregular, saber

se existem sintomas associados: dispneia, angina pectoris, síncope; factores

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correlacionados como hábitos alimentares, ingestão de álcool, medicação, stress

emocional, exercício, sono, entre outros. É ainda importante quantificar os episódios em

termos de número, frequência e duração, bem como resposta a fármacos, a presença de

doença cardíaca ou outras condições reversíveis.

O exame físico pode revelar pulso irregular, pulsações jugulares irregulares, variação da

audibilidade do 1º som cardíaco. Podem ainda ser encontrados outros sinais sugestivos

de doença cardíaca valvular, anormalidades miocárdicas, ou insuficiência cardíaca.

1.4.1. Exames Complementares de Diagnóstico

Electrocardiograma

Qualquer suspeita de FA requer um pedido de electrocardiograma. Para o diagnóstico é

necessário o registo electrocardiográfico em pelo menos uma derivação durante a

disrritmia. Se os episódios forem frequentes, a monitorização por Holter 24 horas pode

ser a utilizada. Se forem raros deve ser usado um gravador de ECG portátil, que grava

os episódios de disrritmia.

Raio x

Radiografia ao tórax póstero-anterior também pode ser requerida para determinação de

um possível aumento da cavidade cardíaca, cardiomegalia e insuficiência cardíaca,

detecção de patologia pulmonar intrínseca e avaliação da vascularização pulmonar.

Ecocardiografia Transtorácica

A Ecocardiografia transtorácica bidimensional é essencial para determinar as dimensões

de ambas as cavidades esquerdas, espessura da parede ventricular esquerda, e função,

bem como na exclusão de doença valvular pericárdica e miocardiopatia hipertrófica.

Podem ainda ser visíveis trombos na aurícula esquerda.

Exame analítico sanguíneo

As análises clínicas de rotina atentam à função tiroideia, níveis electrolíticos e

hemograma.

Holter de Stress

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Podem ainda ser pedidos outros exames particulares como Holter de Stress, onde é

melhor avaliado o controlo da frequência do que num ECG em repouso.

Provas de Esforço

Devem ser feitas se houver suspeita de isquemia miocárdica ou se terapêutica

antiarrítmica estiver a ser utilizada.

Ecocardiograma Transesofágico

Este tipo de exame a informação acerca da estrutura e função cardíaca é mais objectiva.

É o exame mais específico no que diz respeito a detecção de mecanismos potenciais de

embolia cardiogénica e é usado na FA para estratificação de doentes no que diz respeito

ao risco tromboembólico e como guia de avaliação antes de cardioversão.

1.5. Tratamento

Os tratamentos para a fibrilhação auricular têm como objectivo o controlo da velocidade

de contracção dos ventrículos, o tratamento da perturbação responsável pelo ritmo

anómalo e o restabelecimento do ritmo normal do coração. Na fibrilhação auricular o

tratamento passa também pela prevenção de formação de coágulos e embolias.

É importante a diminuição da frequência ventricular para aumentar a eficácia de

bombeamento do coração. Para esse efeito é utilizada a digoxina, um fármaco do grupo

dos digitálicos que retarda a condução dos impulsos para os ventrículos. Quando a

administração de digoxina não é eficaz, combina-se com outro fármaco (um beta

bloqueador, ou um bloqueador dos canais do cálcio, que aumente a sua eficácia.

O tratamento da doença subjacente raramente melhora as arritmias auriculares, a não ser

que a doença seja o hipertiróidismo.

Por vezes, a fibrilhação auricular pode voltar a um ritmo normal de forma espontânea,

mas é mais frequente que seja necessário intervir para conseguir esta normalidade.

Embora esta reversão possa conseguir-se com certos fármacos antiarrítmicos, uma

descarga eléctrica (cardioversão) é o tratamento mais eficaz. O êxito dos meios

utilizados depende do tempo transcorrido desde o início das anomalias no ritmo

cardíaco (as probabilidades de êxito são menores depois de 6 meses ou mais), do grau

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de dilatação dos ventrículos e da gravidade que atingiu a doença cardíaca subjacente.

Mesmo quando se consegue a conversão, o risco de a arritmia reaparecer é elevado,

inclusive quando se administram fármacos preventivos, anti-arrítmicos como quinidina,

procainamida, propafenona ou flecainida.

Se todos os outros tratamentos não surtirem efeito, “destrói-se” o nódulo aurículo-

ventricular mediante a ablação com cateter (fornecendo energia de radiofrequência

através de um cateter introduzido no coração). Este procedimento interrompe a

condução desde as aurículas em fibrilhação para os ventrículos, ou seja as aurículas e os

ventrículos ficam electricamente desconectados, pelo que se requer a colocação de

um pacemaker artificial permanente para que os ventrículos se contraiam. Esta ablação

do nó aurículo-ventricular é usada em indivíduos com fibrilhação auricular permanente

sintomática. Contudo, este procedimento não abole a actividade fibrilhosa das aurículas.

Outras opções de tratamento incluem a implantação de um pacemaker simples ou duplo

auricular e cardiodesfibrilhadores auriculares implantáveis.

O risco de embolias sistémicas é elevado com a fibrilhação auricular persistente. Os

doentes são, idealmente estabilizados com varfarina durante 4 semanas com o objectivo

de ratio normalizada internacional (INR) de 2:3, antes de se fazer uma tentativa de

cardioversão farmacológica ou eléctrica. Contudo, se o doente estiver

hemodinâmicamente instável ou apresentar sintomas refractários, a necessidade de

cardioverter electricamente pode tornar-se necessária. Esta cardioversão só pode ser

realizada se não forem observados trombos através ecocardiografia transesofágica.

Dado o risco de formação de trombos, mesmo após a cardioversão bem sucedida para

ritmo sinusal, até que as aurículas se contraiam eficazmente e em sincronia, é

recomendada a terapêutica anticoagulante pelo menos 4 semanas após a cardioversão.

Se a cardioversão não tiver sido eficaz, é mantido o tratamento com varfarina ou com

ácido acetilsalicílico numa dose diária de 325 mg.

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

2. Processo de Enfermagem

O processo de enfermagem é segundo Sorensen e Luckmann (1998, pag.145), uma série

de etapas e acções planeadas inter-relacionadas, dirigidas à satisfação de necessidades do

ser humano e que visa a resolução dos seus problemas de saúde. O processo de enfermagem

é, portanto, um elemento fundamental que orienta a prática dos cuidados de

enfermagem ao doente/família/comunidade, de forma a assisti-los no desempenho de

actividades que contribuam para promover a saúde e prevenir a doença.

Este é um processo contínuo que propicia aos enfermeiros uma abordagem sistemática e

actualizada dos cuidados aos doentes. As finalidades do processo de enfermagem

incluem, a manutenção da saúde, a prevenção da doença, a promoção da recuperação, o

restabelecimento do bem-estar e plena actividade e finalmente, o apoio na morte.

Adaptado às condições muitas vezes imprevisíveis, da vida humana, o processo de

enfermagem é composto por cinco fases e acções planeadas.

2.1. Avaliação Inicial

A avaliação inicial é a primeira fase do processo. Envolve uma colheita completa de

informação subjectiva e objectiva, bem como a apresentação do caso clínico. É nesta

fase que se inicia a preparação para a alta clínica. Este suporte de dados é empregado

para a posterior identificação dos problemas/necessidades do utente. É através desta

avaliação que se consegue estabelecer, então, um plano de cuidados adequado a cada

pessoa. A eficiência do plano de cuidados é utilizada como auxílio para redefinir

problemas, à medida que estes se vão alterando.

Diagnóstico de Admissão no Serviço de Internamento:

Fibrilhação Auricular com digoxinémia

Identificação do utente

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

Nome: Sra. M.D.

Data de Nascimento: 05.01.1930

Sexo: Feminino

Altura: 1.49 m

Peso: 52 Kg

Naturalidade: Amares

Estado civil: Viúva

Profissão: Reformada

Religião: Católico

Raça: Caucasiano

Data de Admissão: 02/02/2011

Antecedentes

Antecedentes Clínicos Familiares: O utente desconhece antecedentes

familiares relevantes.

Antecedentes Clínicos Pessoais e Sociais:

- Cardiopatia Valvular (estenose aórtica de gravidade interrogada);

- Fibrilação Auricular Persistente;

- Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica;

- Insuficiência Renal.

Factores de Risco Cardiovascular

- Hipertensão Arterial;

Hospitalizações anteriores: Refere nunca ter sido hospitalizada.

Transfusões: Não realizou nenhuma transfusão.

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

Cirurgias anteriores: Refere não ter sido submetida a qualquer cirurgia.

Percepção de saúde – Gestão de saúde

Uso de substâncias: - Tabaco: Não fuma.

- Álcool: Não bebe bebidas alcoólicas.

- Drogas: Não consome qualquer tipo de drogas.

Auto-vigilância: - Auto-exame da mama: Não faz.

- Controlo de Glicemia Capilar: Não faz.

- Controlo de Tensão Arterial: Avalia em farmácias.

Padrão Nutricional/Metabólico

Nutrição – Metabolismo: Refere fazer 6 refeições diárias. Opta por cozidos e

grelhados. Prefere peixe. Não abusa do consumo de sal.

Padrão Sono/Repouso

Hábitos de Sono: A utente refere que costuma dormir cerca de sete a oito horas

por noite. Deita-se por volta das 21h.

Padrão Cognitivo/Perceptivo

Estado de Consciência: Obteve 15 valores na Escala de Coma de Glasgow.

Auxiliares de Visão: Óculos

Auxiliares de Audição: Não

Padrão de Autopercepção/Autoconhecimento

Auto-percepção: O utente não apresenta conhecimentos sobre a patologia que

lhe foi diagnosticada.

Padrão de Eliminação

Eliminação Intestinal: Refere evacuar todos os dias, uma vez por dia.

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

Eliminação Vesical: Refere que a urina tem as seguintes características: cor

amarelada e límpida.

Padrão de Actividade/Exercício

Actividade – Exercício: A utente refere não praticar qualquer tipo de exercício

físico.

EXAME FÍSICO

- Temperatura axilar: 36,5ºC

- Pressão arterial: Sistólica: 129 mmHg / Diastólica: 76 mmHg

- Respiração: Tipo: mista / Amplitude: ampla / Simetria: simétrica

- Frequência Cardíaca: 40 bpm / Ritmo: arrítmico

- Dor: sem dor na admissão

EXAME FÍSICO GERAL

Aparência Geral (Técnica: Inspecção): A utente apresenta estatura baixa. O

utente apresentou-se comunicativo, colaborante, acessível e disponível sempre

que solicitado.

Estado mental e discurso (Técnica: Inspecção): Não apresenta nenhuma

alteração a nível mental. Encontra-se consciente e orientado no tempo e no

espaço.

Cabeça e pescoço: O utente apresenta um couro cabeludo limpo, com bastante

cabelo, e o pescoço encontra-se na posição anatómica correcta normal.

Olhos: Olhos simétricos. Pestaneja simetricamente e involuntariamente. Por

vezes os olhos encontram-se lacrimejantes.

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

Boca: Não apresenta desvio da comissura labial. Os lábios são rosados e

encontram-se hidratados. Não possui prótese dentária e apresenta a mucosa da

cavidade oral hidratada.

Nariz e seios perinasais: Nega qualquer problema.

Ouvidos: O utente não possui auxiliar de audição. Refere ouvir bem.

Sistema Cutâneo e unhas: Não possui qualquer tipo de maceração.

Sistema Respiratório: Os níveis de O2 da utente baixam para os 93% sem

canula binasal a 4l/min.

Sistema neurológico: Não apresentou durante o internamento convulsões,

alterações na memória e estado de consciência.

Capacidades motoras: Sem grandes incapacitações na mobilização, no entanto

refere medo em mobilizar-se sozinha.

2.2. Apresentação do Caso Clínico

A Sra. M.D., 81 anos, recorreu ao serviço de urgência por apresentar dispneia para

médios esforços e dor abdominal difusa com aumento do perímetro abdominal e edema

dos membros inferiores. Sem sintomas em repouso.

Refere, ainda, tonturas ocasionais, sem dor torácica ou perda de conhecimento.

À admissão apresenta Insuficiência Cardíaca. Electrocardiograma revela fibrilhação

auricular com resposta ventricular lenta, períodos de bigemismo ventricular e bloqueio

completo do ramo direito.

Analiticamente com hiperdigoxinémia e insuficiência renal.

Internada em OBS para vigilância, por agravamento da função respiratória e da

digoxinémia e períodos de Bloqueio aurículo-ventricular completo assintomático,

motivo pelo qual foi transferida para o serviço de Cardiologia.

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

2.3. Plano de Cuidados

Para que o plano de cuidados seja eficazmente elaborado, é necessário que se

associem as várias fases do processo de enfermagem.

Os dados recolhidos na avaliação inicial, convenientemente analisados e

avaliados, levam à segunda fase deste processo, o diagnóstico de enfermagem: a

identificação dos problemas de saúde e das necessidades do ser humano, com possível

resolução através das intervenções de enfermagem.

O diagnóstico analisado e avaliado levará a uma terceira fase: Planeamento de

acções e actividades de enfermagem que visam dar termo ao diagnóstico identificado na

fase anterior. Este planeamento de tarefas – Plano de cuidados – é a determinação

global da assistência de enfermagem que o ser humano deve receber diante do

diagnóstico estabelecido. Este plano de cuidados é sistematizado em termos do conceito

de assistir em enfermagem, isto é, encaminhar, supervisionar (observação e controle),

orientar, ajudar e executar cuidados.

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

Inicio Diagnósticos de Enfermagem Intervenções de Enfermagem Termo Horário

03.02.2011 Auto cuidado higiene, dependente em grau

moderado

-Providenciar privacidade do utente;

-Assistir cuidados de higiene no leito;

-Assistir utente na aplicação de creme hidratante

-Vigiar a pele;

- Ensinar e instruir a utente relativamente a

técnicas e estratégias adaptativas para este auto

cuidado, após implantação de pacemaker.

10.02.2011 Manhã

03.02.2011 Auto cuidado vestir-se, dependente em grau

moderado

-Providenciar privacidade;

-Providenciar bata/pijama do utente;

-Incentivar doente a despir-se e a vestir-se.

10.02.2011 Manhã

SOS

03.02.2011 Risco de Infecção (CVP nº 20 na face interna do

antebraço esquerdo)

-Vigiar sinais de infecção no local da inserção do

Cateter Venoso Periférico;

-Optimizar cateter venoso periférico.

-Trocar circuitos (3 em 3 dias);

-Trocar CVP (3 em 3 dias);

-Vigiar se o material se encontra em boas

condições;

-Prevenir possíveis complicações.

10.02.2011 Manhã

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

08.02.2011

Auto-cuidado alimentar-se, dependente em grau

moderado

- Assistir o utente no auto cuidado alimentar-se;

- Ensinar ao utente estratégias adaptativas para

este auto cuidado, após implantação de

pacemaker.

10.02.2011 13.00h

08.02.2011 Ferida cirúrgica presente, na região infraclavicular

direita

-Vigiar penso da ferida cirúrgica;

-Vigiar ferida cirúrgica;

-Executar tratamento à ferida cirúrgica, utilizando

técnica asséptica;

-Ensinar sobre complicações da ferida;

-Ensinar sobre precauções de segurança após

implantação de pacemaker e cuidados a ter com a

ferida cirúrgica;

- Imobilizar membro inferior nas primeiras 12h;

- Explicar à utente o motivo da imobilização.

3/3 dias

Manhã

08.02.2011 Risco de Infecção por ferida cirúrgica na região

infraclavicular direita

-Vigiar sinais de infecção no local da ferida;

-Ensinar sobre possíveis complicações.

Sem

horário

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

08.02.2011 Conhecimento sobre cuidados a ter com o

pacemaker, não demonstrado

- Ensinar utente/prestador de cuidados sobre

estratégias facilitadoras das actividades de vida do

doente com pacemaker definitivo;

- Ensinar utente/prestador de cuidados sobre

cuidados a ter com interferências

electromagnéticas;

-Ensinar utente/prestador de cuidados acerca dos

cuidados a ter com o local da ferida cirúrgica;

- Ensinar utente/prestador de cuidados sobre

cuidados a ter com a actividade física do utente;

- Informar utente/prestador de cuidados sobre

cuidados a ter com manutenção do pacemaker;

- Dar panfletos ao utente/prestador de cuidados

alusivos ao Programa de Educação para a saúde;

- Identificar as carências existentes acerca de todo

o processo;

-Explicar os procedimentos ao utente/prestador de

cuidados;

- Avaliar a compreensão do prestador de cuidados,

no que diz respeito à informação transmitida;

09.02.2011 Sem

horário

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

- Proporcionar oportunidade para questões/dúvidas.

Inicio Atitude Terapêutica Intervenções de Enfermagem Termo Horário

03.02.2011 Soroterapia – Bomba perfusora a 42ml/h

- Administrar soro fisiológico a 42 ml/h.

- Vigiar a funcionalidade da bomba perfusora

(estar alerta para alarmes);

- Vigiar a permeabilidade e funcionalidade da veia

puncionada;

- Vigiar sinais inflamatórios no local da inserção

do cateter.

07.02.2011 Sem horário

04.02.2011 Balanço Hídrico

- Monitorizar entrada e saída de líquidos;

- Vigiar ingestão hídrica;

-Vigiar eliminação urinária;

-Ensinar sobre ingestão hídrica.

09.02.2011 Sem horário

03.02.2011 Regime Medicamentoso

- Preparar medicação;

- Confirmar nome da utente, fármaco, hora, via de

administração, dose e validade (6 certos);

- Administrar terapêutica;

10.02.2011 09.00

12.00

13.00

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

-Ensinar utente sobre terapêutica medicamentosa. SOS

03.02.2011 Sinais Vitais

-Monitorizar pressão arterial 1 vez por turno ou

sempre que se justifique;

-Monitorizar Saturações de Oxigénio 1 vez por

turno ou sempre que se justifique;

-Monitorizar Frequência Cardíaca;

-Informar sobre hábitos de saúde correctos.

10.02.2011 Manhã

SOS

03.02.2011 Telemetria

- Vigiar ritmo cardíaco através da monitorização

contínua por telemetria;

- Avaliar ritmo cardíaco através de monitorização

contínua por telemetria.

08.02.2011 Sem horário

03.02.2011 Oxigenoterapia

- Administrar Oxigenoterapia por canula binasal a

4 l/min;

- Vigiar SatO2;

- Informar sobre oxigenoterapia;

- Vigiar respiração/sinais de dificuldade

respiratória;

-Optimizar oxigenoterapia.

09.02.2011 Sem horário

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

II. Conclusão

Conclui-se, então, que a Fibrilhação auricular é a principal causa de acidente vascular

cerebral, devido à elevada probabilidade de formação de trombos na auricular que

acabam por se deslocar para o ventrículo e entrar na circulação sanguínea, obstruindo

artérias. Deste modo, é necessária uma correcta e eficaz trombofilaxia de doentes com

FA, de modo a diminuir a incidência de doença cardiovascular.

A FA ocorre quando se desenvolve uma actividade eléctrica caótica nas aurículas,

inibindo completamente o nódulo sinusal. Daqui resulta que a aurícula deixa de se

contrair de forma organizada e bombeia o sangue de forma menos eficiente.

Quanto à etiologia pode, então, distinguir-se FA isolada de FA secundária.

Relativamente à classificação num padrão temporal, esta patologia pode ser paroxística,

persistente ou permanente.

Como também tive oportunidade de averiguar, a principal sintomatologia resume-se a

dor no peito, dispneia e palpitações.

São vários os exames complementares de diagnóstico a que se pode recorrer, no

entanto, um exame electrocardiográfico confirma a presença de FA. Deste modo, é

importante um rápido diagnóstico para que se escolham as formas de tratamento

adequadas a cada caso em especifico.

O principal objectivo do tratamento da FA é o controlo da velocidade de contracção dos

ventrículos e a resolução da perturbação responsável pela anormalidade do ritmo

cardíaco. Este tratamento habitualmente é feito apenas com digoxina ou então, quando

não surte efeito, a digoxina é combinada com um beta-bloqueador, ou bloqueador dos

canais de cálcio. No caso da Sra. M.D., o tratamento com digoxina não estava a resultar,

uma vez que devido à insuficiência renal de que era portadora, fazia com que esta

substância não fosse correctamente excretada, resultando em digoxinémia. Noutros

casos, procede-se à ablação do nódulo sino-auricular e posterior implantação de um

pacemaker. Como foi o caso desta utente. Em situações de emergência, e se o

tratamento farmacológico não reverter a situação clínica, pode ser necessária a

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

cardioversão farmacológica ou eléctrica. Esta última só pode ser realizada quando não

existe presença de trombos. O tratamento anticoagulante é importantíssimo, mesmo

após a cardioversão.

No contexto desta patologia, foi aplicado o processo de Enfermagem à Sra. M.D. e

elaborado um plano de cuidados para a mesma utente que possuía FA.

Desta forma, pode concluir-se que todos os objectivos delineados para a realização

deste trabalho foram atingidos.

O bom senso médico e o rápido diagnóstico é deveras necessário para que a FA não seja

uma emergência médica.

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Estudo de Caso da Sra. M.D. - Fibrilhação Auricular

III. Bibliografia

Sorensen e Luckmann – Enfermagem fundamental. 1ª Edição, Lisboa:

Lusodidacta, 1998

Apontamentos das Unidades Curriculares

Phaneuf, M. (2001); “ Planificação de Cuidados: um sistema integrado e

personalizado” Quarteto Editora, Coimbra. ISBN: 972-8535-78-3

Simposium Terapêutico 2002 para Windows, versão 6.1

http://www.fcsaude.ubi.pt/thesis/upload/118/735/pamelaferreira_tesed.pdf

http://www.jornaldocentrodesaude.pt/Jcs/NotCorpo.asp?Id=9

http://www.sppneumologia.pt/textos/?imc=51n78n

http://www.adrnp-sede.org.pt/insuficienciarenal.html

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