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1 MAPLima FI001 Aula 27 Equação de Schrödinger para Potenciais Centrais Onde a Hamiltoniana possui o formato: H = p 2 2m + V (r ), com r 2 = x 2 . Na Mecˆ anica Cl´ assica, o momento angular ´ e conservado. Na Mecˆ anica Quˆ antica, temos: 8 > < > : [L, p 2 ]=[L, x 2 ]=0 e ) [L,H ]=[L 2 ,H ]=0 estasrela¸c˜ oes caracterizam o problema de potencial central ou de for¸ca central. As comuta¸ oes acima permite que os autoestados de energia possam ser descritos por |E `mi, onde 8 > > > > > > < > > > > > > : H |E `mi = E |E `mi L 2 |E `mi = `(` + 1)~ 2 |E `mi L z |E `mi = m~|E `mi Usando o que aprendemos sobre Harmˆ onicas esf´ ericas, e separando hx 0 |E `mi = R E,` (r )Y m ` (, φe relativamente direto obter a chamada equa¸c˜ ao radial: - ~ 2 2mr 2 d dr ( r 2 d dr ) + `(` + 1)~ 2 2mr 2 + V (r ) R E,` (r )= ER E,` (r ). Observe que indexar R com E, ` faz sentido, pois ` aparece explicitamente. Na aula passada vimos por que a energia n˜ ao depende de m(~), autovalor de L z . Note que o m daequa¸c˜ ao ´ e a massa da part´ ıcula.

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1 MAPLima

FI001 Aula 27

Equação de Schrödinger para Potenciais Centrais Onde a Hamiltoniana possui o formato: H =

p

2

2m+ V (r), com r2 = x

2. Na

Mecanica Classica, o momento angular e conservado. Na Mecanica Quantica,

temos:

8><

>:

[L,p2] = [L,x2] = 0

e )[L, H] = [L2, H] = 0

estas relacoes caracterizam o problema depotencial central ou de forca central.

As comutacoes acima permite que os autoestados de energia possam ser

descritos por |E`mi, onde

8>>>>>><

>>>>>>:

H|E`mi = E|E`mi

L

2|E`mi = `(`+ 1)~2|E`mi

Lz|E`mi = m~|E`miUsando o que aprendemos sobre Harmonicas esfericas, e separando

hx0|E`mi = RE,`(r)Ym` (✓,�) e relativamente direto obter a chamada

equacao radial:⇥� ~2

2mr2d

dr

�r2

d

dr

�+

`(`+ 1)~22mr2

+ V (r)⇤RE,`(r) = ERE,`(r).

Observe que indexar R com E, ` faz sentido, pois ` aparece explicitamente.

Na aula passada vimos por que a energia nao depende de m(~),autovalor de Lz. Note que o m da equacao e a massa da partıcula.

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2 MAPLima

FI001 Aula 27

A substituicao RE`(r) =uE`(r)

rreduz a equacao para:

� ~22m

duE`

dr2+

⇥`(`+ 1)~22mr2

+ V (r)⇤uE`(r) = EuE`(r) com a condicao de

normalizacao: 1 =

Zr2dr R⇤

E`(r)RE`(r) =

Zdr u⇤

E`(r)uE`(r). Assim, uE`(r)

pode ser interpretada como um funcao de onda em uma dimensao de uma

partıcula se movendo em um potencial efetivo: Vef(r) = V (r) +`(`+ 1)~2

2mr2.

Uma nova substituicao permite escrever esta equacao de acordo com o

comportamento esperado de uE`(r) para r ! 0 e r ! 1 (leitura para voces).

Faca

8><

>:

2 ⌘ �2mE/~2

⇢ ⌘ r

uE`(r) = ⇢`+1e�⇢!(⇢)

e obtenha a seguinte equacao diferencial:

d2!

d⇢2+ 2

� (`+ 1)

⇢� 1

�d!d⇢

+⇥VE

� 2(`+ 1)

⇤! = 0. O livro texto resolve

diversos casos. Nao deixe de analisa-los.

Equação de Schrödinger para Potenciais Centrais

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3 MAPLima

FI001 Aula 27

SO(4): Explorando simetria do potencial colombiano Encontramos uma degenerescencia peculiar no espectro do atomo

de hidrogenio. Para a Hamiltoniana H =p2

2m� Ze2

r, calculamos:

En = �1

2mc2

Z2↵2

n2= �13.6eV

Z2

n2, onde ↵ =

e2

~c e a constante de

estrutura fina e n = 1, 2, . . . . Esse valor de energia, para um dado

n, vale para todos os `0s (e seus m0s) variando de 0 ` n� 1.

Isto gera uma degenerescencia =n�1X

`=0

(2`+ 1) = n2.

Tal degenerescencia, sera apenas acidental?

Na mecanica classica, aprendemos que as solucoes da equacao de Newton

(ou as de Lagrange) fornecem orbitas fechadas elıpticas e que existiria

alguma constante de movimento (vetor) que manteria o eixo principal das

elipses fixos. Qualquer desvio do potencial 1/r faz o eixo precessionar. Assim,

espera-se que a constante de movimento seja caracterıstica dos potenciais

do tipo 1/r. Classicamente, esta constante de movimento pode ser escrita

por: M =p⇥ L

m� Ze2

rr (Vetor de Lenz ou vetor de Runge-Lenz)

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4 MAPLima

FI001 Aula 27 Qual seria o analogo quantico de M? Primeiro e importante lembrar que,

dados dois operadores vetoriais Hermiteanos, A e B, o operador A⇥B

pode nao ser Hermiteano, pois�A⇥B

�†= �B⇥A (mostre! e discuta

o caso que e Hermiteano, L = r⇥ p). Assim, o analogo quantico para um

produto vetorial de operadores Hermiteanos (para garantir que tambem

seja Hermiteano) eA⇥B�B⇥A

2. Portanto, a versao Hermiteana da

Mecanica Quantica do vetor de Lenz fica M =p⇥ L� L⇥ p

2m� Ze2

rr.

Para que M seja uma “constante de movimento” na mecanica quantica, e

preciso que [M, H] = 0 para H =p2

2m� Ze2

r. Mostre isso. Outras duas

relacoes interessantes sao

8><

>:

L.M = M.L = 0

M2 = 2mH(L2 + ~2) + Z2e4

A algebra para mostrar estas relacoes e tediosa, mas direta.

Note, entretanto, que H so aparece no resultado de M2 porque o

� Ze2

rque aparece na definicao de M e o mesmo da Hamiltoniana.

SO(4): Explorando simetria do potencial colombiano

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5 MAPLima

FI001 Aula 27

Como sempre, uma constante de movimento tem origem em uma simetria. A

simetria que gera M e chamada de SO(4), analoga a SO(3) (grupo Ortogonal

Especial em 3 dimensoes), exceto que ao inves de ser um grupo de rotacoes em

3 dimensoes espaciais, e em 4 dimensoes espaciais. Equivalentemente, e um

grupo de matrizes ortogonais 4⇥ 4 de determinante igual a 1. A ideia e mostrar

que as propriedades do SO(4) geram M como uma constante de movimento da

Hamiltoniana do potencial colombiano e que isso acarreta na degenerescencia

encontrada (nao tao acidental!). Para identificar a simetria responsavel pela

constante de movimento M, e importante revisar algebra de geradores desta

simetria. Com a convencao de que ındices repetidos significa ındices somados,

considere as relacoes

8>>>>>>>>>><

>>>>>>>>>>:

[Li, Lj ] = i~✏ijkLk (conhecida)

[Mi, Lj ] = i~✏ijkMk. Mostre e note que deduzimos esta

expressao para operadores vetoriais, [Vi, Jj ] = i~✏ijkVk

[Mi,Mj ] = �i~✏ijk 2mHLk. Mostre. Esta vai ser util para

deduzir o espectro de H.

SO(4): Explorando simetria do potencial colombiano

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6 MAPLima

FI001 Aula 27 Vamos considerar o problema especıfico de estados ligados e trocar H na ultima

expressao do slide anterior por E < 0. Com esta hipotese e possıvel simplificar o

problema, definindo N ⌘�� m

2E

�1/2M. Assim,

as relacoes do slide anterior ficam

8>>>>>><

>>>>>>:

[Li

, Lj

] = i~✏ijk

Lk

[Ni

, Lj

] = i~✏ijk

Nk

.

[Ni

, Nj

] = i~✏ijk

Lk

.

A Pergunta e: qual a operacao de simetria gerada por L e N? Embora, longe de

obvio, a resposta e: rotacao em quatro dimensoes espaciais. Para perceber isso,

note que rodar e misturar dois eixos ortogonais (pense na rotacao ao redor de z

onde, x e y se misturam). O numero de geradores de rotacao em um espaco de

dimensao ne

e o numero de pares de eixos ortogonais deste espaco. Ou seja:

Cne,2 =

ne

(ne

� 1)

2

8>>>>>><

>>>>>>:

ne

= 2 =) C2,2 = 1 : Lz

ne

= 3 =) C3,2 = 3 : L(Lx

, Ly

, Lz

)

ne

= 4 =) C4,2 = 6 : L e N

(Lx

, Ly

, Lz

Nx

, Ny

, Nz

SO(4): Explorando simetria do potencial colombiano

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7 MAPLima

FI001 Aula 27 No espaco tridimensional, vimos que o momento angular orbital L = r⇥ p

e responsavel pela rotacao (suas componentes, Lx

, L

y

, e L

z

sao os geradores

de rotacao). Vimos isso claramente, quando rodamos um ket generico |↵iao redor do eixo z. Isto e decorrente de ter o operador momento linear p

como gerador de translacao no espaco <3

. Ou seja, combinacoes do tipo

L

z

= xp

y

� yp

x

misturam os eixos x e y, como e esperado de uma rotacao

ao redor do eixo z. Para generalizar para 4 dimensoes espaciais,

troquemos

8><

>:

x, y, z =) x

1

, x

2

, x

3

p

x

, p

y

, p

z

=) p

1

, p

2

, p

3

e escreva

os geradores

8><

>:

L

1

= L

23

= x

2

p

3

� x

3

p

2

L

2

= L

31

= x

3

p

1

� x

1

p

3

L

3

= L

12

= x

1

p

2

� x

2

p

1

Agora, inventamos uma quarta dimensao x

4

com seu momento conjugado p

4

.

Isto permite definir

8><

>:

N

1

⌘ L

14

= x

1

p

4

� x

4

p

1

N

2

⌘ L

24

= x

2

p

4

� x

4

p

2

N

3

⌘ L

34

= x

3

p

4

� x

4

p

3

com [xi

, p

j

] = i~�ij

Note que [N1

, L

2

] = [x1

p

4

� x

4

p

1

, x

3

p

1

� x

1

p

3

] = p

4

[x1

, p

1

]x3

+ x

4

[p1

, x

1

]p3

E ) [N1

, L

2

] = i~(x3

p

4

� x

4

p

3

) = i~N3

(conforme querıamos no slide 4).

Mostre que esta definicao de N satisfaz todas as regras de comutacao.

SO(4): Explorando simetria do potencial colombiano

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8 MAPLima

FI001 Aula 27

SO(4): Explorando simetria do potencial colombiano

Estamos prontos para usar o que vimos na aula passada, ou seja, se

[H,⌥] = 0 =) H⌥|ni = En⌥|ni.Isto e: se |ni e autoket de H com autovalor En,⌥|ni tambem e.

Primeiro defina os operadores

8><

>:

I ⌘ (L+N)/2

K ⌘ (L�N)/2

e prove que

8>>>>>><

>>>>>>:

[Ii, Ij ] = i~✏ijkIk

[Ki,Kj ] = i~✏ijkKk

[Ii,Kj ] = 0

e depois que

8><

>:

[I, H] = 0

[K, H] = 0

Dois momentos angulares que sao constantes de movimento e

comutam entre si. Os autovalores de I2 e K2 sao, respectivamente

i(i+ 1)~2 e k(k + 1)~2, com i, k = 0, 1/2, 1, 3/2 . . . . Note tambem

que I2 �K2 = L.N = 0, o que obriga i = k.

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9 MAPLima

FI001 Aula 27

SO(4): Explorando simetria do potencial colombiano Finalmente, note que I2 +K2

=

1

2

(L2+N2

) =

1

2

(L2 � m

2EM2

). Com

ajuda da ultima equacao do slide 2 para M2, reproduzida aqui para

facilitar, M2=

2

mH(L2

+ ~2) + Z2e4 ! m

2EM2

= L2+ ~2 + Z2e4m

2E

temos: 2k(k + 1)~2 =

1

2

(�~2 � Z2e4m

2E) que pode ser re-escrita como

(4k2 + 4k + 1)~2 = (2k + 1)

2~2 = �Z2e4m

2E,

o que permite escrever E = �mZ2e4

2~21

(2k + 1)

2. Agora basta fazer

n = 2k + 1 para reconhecer o espectro obtido pela solucao da equacao

de Schrodinger. Note que a degenerescencia obtida por simetria e:

(2i+ 1)(2k + 1) = (2k + 1)

2= n2,

conforme havıamos mostrado pela solucao da equacao diferencial.

Note que achamos o espectro do atomo de hidrogenio, sem resolver

a equacao diferencial: apenas explorando a simetria do problema.