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CADERNOS DA EDITORIAL PASTORAL PENITENCIÁRIA UM SERVIÇO ÀS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE E A TODA A SOCIEDADE Cáritas Editorial Po FEVEREIRO 2018

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Page 1: Fevereiro 2018 cadernos da editorial Pastoral PenitenciÁria · Xiii encontro nacional da Pastoral Penitenciária: Fátima, 09 e 10 de fevereiro de 2018 22 ... Caritas´ de 23/09

cadernosda editorial

Pastoral PenitenciÁriaUm serviço às Pessoas em sitUação de Privação de liberdade e a toda a sociedade

CáritasEditorial

PortuguesaCaritas´

Fevereiro 2018

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EDITORIAL CÁRITAS Praça Pasteur, nº 11 — 2.º, Esq. | 1000 –238 [email protected] | Tel. +351 911 597 808, fax. +351 218 454 221

ÍndiceUm serviço às Pessoas em sitUação de Privação de liberdadee a toda a sociedadecoordenação nacional da Pastoral Penitenciária 3

a realidade Prisional em PortUgalalguns dados atuais 7

FUndamentação teológico ‑Pastoral da Pastoral PenitenciÁriaJosé carlos costa, Área religiosa da coordenação nacional da Pastoral Penitenciária 8

a assistência esPiritUal e religiosa nos estabelecimentos Prisionaisricardo cavaleiro, Área Jurídica da coordenação nacional da Pastoral Penitenciária 14

a intervenção da igreJa católica em meio PrisionalPaulo neves, Área social da coordenação nacional da Pastoral Penitenciária 18

“volUntariado Prisional: constatações e desaFios”Xiii encontro nacional da Pastoral Penitenciária:Fátima, 09 e 10 de fevereiro de 2018 22

conclUsões do Xiii encontro nacionalde Pastoral PenitenciÁria 28

algUns conselhos Para qUem visita Pessoas em sitUaçãode Privação de liberdade 31

à conversa com Pe. João gonçalvescoordenador nacional da Pastoral Penitenciária 34

à conversa com o ProF. eUgénio FonsecaPresidente da cáritas Portuguesa 40

à conversa com dr. celso manatadiretor geral da direção geral da reinserção social e serviços Prisionais 43

aPresentação do livro: “o Padre das Prisões PortUgUesas”livraria Ferin ‑ lisboa, 21/02/2018 47

contactos da Pastoral PenitenciÁria de PortUgal 50

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Um serviço às Pessoas em sitUação de Privação de liberdade e a toda a sociedade

coordenação nacional da Pastoral PenitenciÁria

A Pastoral Penitenciária de Portugal é a ação pastoral da Igreja católica em Portugal relacionada com o meio prisional. Trata ‑se de um servi‑ço inserido no Secretariado Nacio‑nal da Pastoral Social e diretamente dependente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, da Conferência Episcopal Portuguesa. Este Serviço é dinamizado, a nível nacional, por uma Equipa de Coor‑denação Nacional da Pastoral Peni‑tenciária que exerce a sua ação em conjunto com as vinte Dioceses e os cinquenta estabelecimentos pri‑

sionais de todo o país procurando estar atenta à realidade prisional em geral e, de um modo especial, às pessoas em situação de privação de liberdade e contexto envolvente.O Serviço da Pastoral Penitenciária de Portugal, diretamente associado à ação social da Igreja Católica abran‑ge os níveis da prevenção, prisão e reinserção, tendo em conta três grandes áreas de atuação: a área re‑ligiosa, a área jurídica e a área social, numa lógica de intervenção global onde é necessário ter em conta o quadro legislativo em vigor (sobre‑tudo, o Decreto ‑Lei n.º 252/2009,

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de 23/09 e a Lei n.º 115/2009, de 12/10) e procurar as melhores res‑postas para esta problemática que abrange toda sociedade em geral e as pessoas em situação de privação de liberdade em particular. De acordo com esta lógica de atua‑ção, este Serviço rege ‑se, em traços gerais, pelos seguintes três grandes objetivos: a) Prevenir a delinquência; b) Levar a paz e a serenidade de Cristo Ressuscitado àqueles que estão em situação de privação de liberdade; e c) Oferecer a quem de‑linquiu um caminho de reabilitação e (re)inserção positiva na sociedade. Para a prossecução destes objetivos, a Pastoral Penitenciária norteia‑‑se por uma Pastoral de encontro pessoal, acolhimento, liberdade, comunhão, esperança, promoção e integração.Tendo em conta o seu enquadra‑mento eclesial, a Equipa de Coor‑denação Nacional da Pastoral Penitenciária colabora diretamente com os Departamentos Diocesanos da Pastoral Penitenciária e com a Equipa ou Equipas de Assistência Espiritual e Religiosa e de Colabora‑dores e Voluntários que lhe está ou

estão associadas. Assim, o Departa‑mento Diocesano da Pastoral Peni‑tenciária é o organismo diocesano funcional que colabora com o bispo diocesano, através de um delegado episcopal nomeado para o efeito, para a promoção e coordenação da ação pastoral da Diocese relaciona‑da com a realidade penitenciária. A nível deste Departamento ainda há muito a fazer, pois, até ao momento, apenas três dioceses têm este servi‑ço devidamente organizado. Por sua vez, a Equipa de Assistência Espiritual e Religiosa é constituída por um delegado episcopal nomea‑do pelo bispo diocesano para o efeito, pelos seus colaboradores e voluntários, formando uma comuni‑dade ou grupo de fieis cristãos que se encontram diretamente compro‑metidos com a realidade prisional, seja a nível do estabelecimento prisional em si, seja a nível da pre‑venção da delinquência, seja a nível ainda da reinserção das pessoas em situação de privação de liberdade. Aqui já existe, efetivamente, uma presença da Igreja católica em to‑dos os estabelecimentos prisionais do país, com diferentes ritmos de

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organização consoante as respeti‑vas Equipas. A nível da assistência espiritual e religiosa em contexto prisional, as tarefas destas Equipas, de acordo com a legislação em vigor, situam ‑se a nível do “atendimento” espiritual e religioso; “celebração de atos de culto”; e “formação”. Por sua vez, a nível do voluntariado, com um enquadramento legal próprio, implicando múltiplas “organizações promotoras de voluntariado”, as tarefas situam ‑se a nível do “desen‑volvimento de atividades de cariz cultural e de ocupação de tempos livres”; “apoio social e económico a reclusos e seus familiares”; e “ativi‑dades relevantes para o processo de reinserção social, designadamen‑te apoio em matéria de emprego e alojamento”.A Igreja católica em geral e a ação social da mesma em particular, através dos Serviços associados à Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária, em virtude da sua identidade e missão, deve estar cada vez mais atenta a esta realidade, pro‑curando caminhos de dignificação e de (re)inserção das pessoas que se encontram em situação de privação

de liberdade, bem como das pessoas que as envolvem, seja a nível pessoal, familiar, profissional e/ou institucio‑nal. Estes Serviços são também um contributo para toda a sociedade, pois, a realidade prisional tem a ver com todos enquanto membros de uma comunidade de onde provêm e para onde voltam as pessoas que se encontram, temporariamente, em situação de privação de liberdade.Neste contexto, a Pastoral Peniten‑ciária de Portugal tem assumido, ao longo dos últimos anos, três grandes preocupações que orientam a sua ação: a) uma crescente formação e acompanhamento dos agentes asso‑ciados à Pastoral Penitenciária em Portugal, assistentes espirituais e religiosos, colaboradores e voluntá‑rios, seja através de encontros, seja através da elaboração e dissemina‑ção de materiais facilitadores da sua ação pastoral; b) a valorização do tempo da pessoa em situação de privação de liberdade, com a pro‑cura da sua rentabilização e sentido, seja a nível reflexivo, seja a nível da sua (re)inserção social; e c) uma aposta numa reinserção positiva na sociedade da pessoa que esteve em

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situação de privação de liberdade, procurando espaços de acolhimen‑to, postos de trabalho e um acom‑panhamento efetivo.Os desafios, neste âmbito pastoral, para cada cristão, são múltiplos, estando o seu alcance à medida da razão e, sobretudo, do coração de cada um. Assim, cada cristão é desafiado: a) a interessar ‑se pelas prisões e pelas pessoas em situação de privação de liberdade enquanto assunto que a todos diz respeito; b) a tornar ‑se colaborador ou volun‑tário prisional, ligado aos serviços da Pastoral Penitenciária; c) a con‑tribuir para a intervenção da Igreja católica em meio prisional (a nível da prevenção, da prisão, e da rein‑serção); d) a colaborar na procura de caminhos de dignificação e de (re)inserção de pessoas em situação de privação de liberdade; e) a cola‑borar com recursos materiais, de acordo com solicitações da Pastoral Penitenciária; f) a organizar sessões temáticas sobre prisões e pessoas em situação de privação de liberda‑de, na sua zona de influência; g) a or‑ganizar campanhas de solidariedade em favor de pessoas em situação de

privação de liberdade, na sua terra/região; h) a solicitar a colaboração dos serviços de Pastoral Peniten‑ciária a nível local e/ou nacional; i) a contactar os Serviços da Pastoral Penitenciária, comentar as suas notí‑cias, fazer sugestões, etc.. A realidade prisional em Portugal, nas suas múltiplas dimensões, re‑comenda, assim, o fomento de um envolvimento crescente de pessoas e instituições capazes de constituir uma mais valia para o processo de (re)inserção de pessoas em situação de privação de liberdade, a começar, pois, por um envolvimento mais intenso e coordenado da Igreja Católica, seja a nível pessoal, seja a nível comunitário, seja ainda a nível institucional.

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a realidade Prisional em PortUgalalgUns dados atUais

Número total de reclusos existen‑tes em Portugal: 13371Número total de estabelecimentos prisionais: 50 Capacidade/Lotação dos estabeleci‑mentos prisionais: 12895Taxa de ocupação: 102,5%Taxa de Preventivos: 15,7% Taxa de condenados: 84,3%Taxa de homens: 94% Taxa de Mulheres: 6%Taxa de reclusos nacionais: 84,2%Taxa de reclusos estrangeiros: 15,8%(Fonte: http://www.dgsp.mj.pt, dados referen‑

tes ao dia 01/03/2018)

Há ainda em Portugal seis (6) Cen‑tros Educativos com cerca de 180 jovens, onde se encontram adoles‑centes entre os 12 e os 16 anos (Fonte: Comissão de Acompanhamento e Fis‑

calização dos Centros Educativos, 2015)

A nível da assistência espiritual e religiosa católica prisional, presen‑te em todos os estabelecimentos prisionais do país, o número de assistentes espirituais e religiosos católicos prisionais é de 44 (42 sa‑cerdotes, 1 diácono permanente e 1 irmã religiosa); por sua vez, o núme‑ro de colaboradores e voluntários ligados à Igreja Católica estima ‑se em cerca de cinco centenas (500 pessoas).

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A pessoa que se encontra em plena liberdade ou aquela que está presa ou privada temporariamente da sua liberdade são iguais: em deveres, di‑reitos e dignidade. A única alteração na liberdade que a prisão provoca na pessoa que é condenada a um período determinado de reclusão é somente ao nível da sua mobilidade, porque a condiciona tanto a nível de espaço como a nível de tempo. O período de detenção não priva nem anula os direitos fundamentais da pessoa que se encontra a cumprir uma pena de prisão, independente‑mente da causa que a determinou. O mesmo acontece com a sua digni‑dade. A pessoa que se encontra pri‑vada da sua liberdade, em nenhum

momento do seu processo criminal (consumação do ato, julgamento, condenação, detenção e reinser‑ção) é desprovida da sua dignidade, porque a dignidade da pessoa é permanente e inalterável. São João Paulo II, na Carta que escreveu para o Jubileu dos Cárceres (ano 2000), lembra ‑nos que “todo o tempo é de Deus, incluindo o tempo da deten‑ção”. Por conseguinte, este tempo “deve ser vivido na plenitude e ser oferecido a Deus como ocasião de verdade, de humildade, de expiação e de fé” (cf. nº3.a). À pessoa privada temporariamente da sua liberdade não se chama “o(a) preso(a)” ou “o(a) criminoso(a)”, mas uma pessoa que tem nome,

FUndamentação teológico ‑Pastoral da Pastoral PenitenciÁriaJosé carlos costa, Área religiosa da coordenação nacional da Pastoral PenitenciÁria

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tem identidade própria e dignidade. Tratando ‑se de uma pessoa ferida, carente a vários níveis, de bens materiais, do afeto familiar, dos bens da fé, dos direitos de cidadania, do amor fraterno, antes de ser julgada e condenada, não deve ser rotulada, estigmatizada ou reduzida a um adjetivo pejorativo de exclusão e discriminatório. Afinal quem é a pessoa para Deus e para nós? Na Bíblia encontramos várias expressões que aludem a esta questão. “Quem é a pessoa para que Deus se ocupe dela?”, questiona o salmista (Salmo 8,4) apresentando algumas dúvidas a respeito da natu‑reza da pessoa. No livro de Job (Job 7, 17 ‑18) deparamos com uma ques‑tão semelhante à do salmista, atra‑vés da qual Job procura interpretar o sentido do sofrimento humano e conhecer a complexidade da pessoa, no sentido de a compreender e va‑lorizar: “Que é o homem, para lhe dares importância e fixares nele a tua atenção…?” (Job 7,17).Em teologia, tudo tem origem em Deus e acredita ‑se que tudo volte para Ele. O Livro do Génesis revela‑‑nos que todas as pessoas são iguais

e possuem a mesma dignidade (Gn 1,26 ‑28). Deus criou o homem e a mulher, não de acordo com as suas espécies (como aconteceu com a ve‑getação e os animais), mas segundo a Sua vontade, imagem e semelhança (Gn 1,27). Todas as pessoas foram criadas à imagem e semelhança de Deus. É aqui que encontramos a fundamentação de todos os direitos e deveres da pessoa em qualquer momento da história. A pessoa, enquanto livre, autónoma e respon‑sável, é chamada à convivência com as demais pessoas e a permanecer em diálogo com Deus. Deste modo, dá continuidade à obra criadora de Deus. O primeiro livro da Bíblia que nos fala de prisões é, precisamente, o livro de Génesis. A primeira perso‑nagem bíblica a fazer a experiência prisional foi José (Gn 39,19 ‑20). Depois da prisão de José, várias pes‑soas da Bíblia fizeram a experiência da privação da liberdade, de forma temporária ou definitiva, entre elas, Jeremias (Jer 32, 2 ‑3); João Baptista (Mt 14, 4; Mc 6,18); Pedro (Act 4,5; 12, 1 ‑4); Paulo (Fl 1,21); e Jesus Cris‑to (Mt 26, 47 ‑57; 27, 26). Todas estas

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experiências prisionais consistiram em momentos de revitalização e libertação interior para o recluso. O relato da ação libertadora de Deus na saída do povo de Israel do Egipto é também um belo exemplo da jus‑

tiça de Deus para com o seu povo oprimido. Deus dá ao povo de Israel a possibilidade de restabelecer a re‑lação, o diálogo e voltar à vida livre e plena. Ao longo da História da Salvação, Deus foi revelando algumas “leis/códigos” de orientação para a hu‑manidade. Com estes códigos de inter ‑relação (na relação fraterna, entre Deus ‑Humanidade e entre esta e Deus) é criada a relação amorosa entre o Deus que liberta e um povo desnorteado e escravi‑zado. Porém, Deus não se cansa em perdoar e reabilitar, afirmando: “Eu

sou o Senhor que te cura” (Ex 15, 26). No Decálogo dos Mandamen‑tos, Deus enumera algumas leis de conduta moral e social, apelando ao respeito pela vida humana e bens alheios: “…Não matarás…, não rou‑barás …” (Ex 20, 2 ‑17). Assim, a vida da pessoa pode tornar ‑se uma vida de paz, harmonia, perdão e amor, ou de revolta, ódio, inveja e escravidão. Mas se a pessoa insiste em escolher um caminho errante, Deus, através do Seu Filho Jesus Cristo, permane‑ce fiel e disponível para nos libertar, ao prometer ficar connosco para sempre: “Estarei convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20).A Igreja procurou sempre atender pastoralmente, segundo as possi‑bilidades legais e circunstanciais de cada momento, os homens e as mulheres privadas de liberdade, através de pessoas preparadas e especialmente vocacionadas nas comunidades cristãs e nos institu‑tos religiosos. A partir do momento que o primeiro homem (Adão) e a primeira mulher (Eva) tiveram que criar uma relação de convivência e respeitar os bens que são comuns a todos, depararam ‑se com inúmeras

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dificuldades (Gn 2,17). Mas a mise‑ricórdia de Deus manifestou ‑se a favor da humanidade, mostrando a Sua capacidade de perdoar, de res‑gatar e libertar todas as pessoas: “Eu vi”, diz o Senhor; “a opressão do meu povo (…), e ouvi o seu clamor; conheço (…) os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar (…)” (Ex 3,7 ‑9). Porque, o que Deus deseja, de verdade, é a conversão do peca‑dor, que ele volte à casa do Pai e à sua chegada que se faça festa (Lc 15, 11 ‑32 ‑ Parábola do filho pródigo). É também responsabilidade de toda a Igreja libertar os nossos irmãos que estão a sofrer e a experimentar a privação de liberdade. No Novo Testamento é em Jesus que encontramos a principal fun‑damentação Teológica da Pastoral Penitenciaria. Jesus inicia a sua ação messiânica anunciando a Boa Notí‑cia de Seu Pai. Não se trata de uma ética, uma doutrina ou um conceito, mas de uma pessoa, o próprio Jesus com a sua Palavra e ações liberta‑doras e portadoras de salvação. Os Evangelhos apresentam Jesus Cristo e o seu modelo de intervenção, em geral, e dos presos, em particular. Ele

próprio nasceu pobre, esteve preso e foi executado. Na sinagoga de Na‑zaré, Jesus anuncia publicamente o seu programa (eu diria, Pastoral) de ação a desenvolver junto daqueles e daquelas que se situam nas margens periféricas da sociedade, ao afirmar: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa ‑Nova aos pobres; enviou ‑me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimi‑dos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor” (Lc 4, 18 ‑19). Jesus veio para libertar e salvar to‑das as pessoas em geral, mas prefe‑rencialmente os que sobrevivem nas redondezas dos principais centros urbanos atuais, identificando ‑se com cada um deles: “…Porque tive fome e destes ‑me de comer; sede e destes ‑me de beber, era peregrino e recolheste ‑me, estava nu e destes‑‑me que vestir, adoeci e visitastes‑‑me, estive na prisão e fostes ter comigo” (Mt 25, 35 ‑36). A Igreja sempre se colocou ao ser‑viço dos mais pobres e indefesos da sociedade, através da sua solicitude e oração. S. Paulo aos hebreus diz

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isso, através da seguinte exortação: “Lembrai ‑vos dos presos, como se estivésseis presos com eles” (Heb 13, 3). Com estas palavras, S. Pau‑lo está a pedir a todos os cristãos um compromisso de comunhão no sofrimento e na privação de liber‑dade, à semelhança da sua ação re‑generadora e de libertação junto do colega de cela Onésimo: “Onésimo que gerei entre algemas” (Filémon 1, 10). Torna ‑se, assim, urgente que a Pastoral Penitenciária comece a fazer parte dos programas pastorais diocesanos e paroquiais. Existe em todas as dioceses muito a fazer no âmbito da prevenção da delinquên‑cia, nas escolas, junto das famílias mais carenciadas e nos bairros so‑cialmente mais vulneráveis. A Igreja, ao longo dos tempos, atra‑vés dos seus representantes mais diretos, tem incentivado os cristãos em geral para esta realidade, ape‑lando à comunhão fraterna com a pessoa presa, através de atitudes concretas. João XXIII, na visita à Pri‑são Regina Coeli, em Roma, deixou o seguinte testemunho: “…Aqui deixo o meu coração”. Paulo VI, na visita à mesma prisão, disse o seguinte:

“Amo ‑vos não por um sentimento romântico ou compaixão humanitá‑ria, mas amo ‑vos verdadeiramente porque descubro em vós sempre a imagem de Deus, a semelhança com Cristo, homem perfeito, que todavia também podeis sê ‑lo”. João Paulo II, na visita à prisão de Papuda (Brasil), fez a seguinte declaração: “a visita que vos faço, embora breve, significa muito para mim. É a visita de um pastor que quer imitar o Bom Pas‑tor”. O Papa Francisco, por sua vez, tem tido uma atenção muito espe‑cial para com as pessoas presas, seja a nível de palavras, seja a nível de gestos, que nos inquietam (vejam‑‑se algumas expressões: “Confesso que muitas vezes penso nas pessoas que vivem nas prisões”; “muitas vezes penso nos que estão presos e me pergunto: porquê eles e não eu?”; “Na história da Igreja, muitos chegaram à santidade através de ex‑periências duras e difíceis; abram a porta de seu coração a Cristo e será Ele a reverter a sua situação”; “quem experimentou o inferno, poderá ser profeta da esperança”; “Não há lugar onde a sua misericórdia não possa chegar, não há espaço nem

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pessoa que ela não possa tocar”; “Estejam certos de que Deus nos ama pessoalmente; para Ele a idade e cultura não têm importância, nem mesmo o que vocês foram, as coisas que fizeram, as metas que alcança‑ram, os erros que cometeram, as pessoas que feriram; não se fechem no passado; transformem ‑no em caminho de crescimento, de fé e de caridade; deem a Deus a possibilida‑de de fazê ‑los brilhar através desta experiência”; a necessidade urgente de “atitudes de bondade, de perdão e de paz”; entre muitas outras). As mensagens de encorajamento do Papa aos presos convidam ‑nos a transformar a nossa mentalidade em relação às pessoas privadas da liber‑dade. A obra de misericórdia “visitar os presos” exige, assim, a visita, a presença, o calor humano que so‑mente outro ser humano pode dar a quem está no “gelo” da reclusão, da solidão e da indiferença. Os Papas, enquanto verdadeiros pastores, vão dando esse exemplo.A pessoa foi criada livre e é chama‑da a ser responsável pelos seus atos e corresponsável por tudo o que acontece aos seus irmãos: “Onde

está o teu Irmão? O que é que lhe fizeste?” (Gn 4, 9 ‑10). Eis a pergunta de Deus a Caim no fratricídio do seu irmão Abel. Se a mesma pergun‑ta fosse dirigida a cada um de nós hoje, que diríamos?

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a assistência esPiritUal e religiosa nos estabelecimentos Prisionaisricardo cavaleiro, Área JUrÍdica da coordenação nacional da Pastoral PenitenciÁria

Segundo Jellinek, a luta pela liberda‑de religiosa está na verdadeira ori‑gem dos direitos fundamentais. De facto, o fenómeno religioso invade o foro mais íntimo das pessoas, que é a sua consciência, estando por isso in‑dissociavelmente ligado ao princípio da dignidade humana, valor supremo da ordem constitucional portugue‑sa. Nas sociedades modernas que se caracterizam pelo multiculturalismo, na medida em que os seus mem‑bros têm diferentes conceções de vida, em resultado da diversidade étnica e religiosa, os conflitos entre as diferentes comunidades que se cruzam no espaço público (escolas, hospitais, tribunais, prisões, etc.) tende a agudizar ‑se, originando uma

tensão permanente entre os diver‑sos interesses em jogo. Aqui iremos abordar, do ponto de vista jurídico, a problemática da assistência espiri‑tual e religiosa no âmbito do Direito Português, a propósito da publica‑ção do Decreto ‑Lei nº. 252/2009 de 23 de Setembro de 2009. A Constituição da República Portu‑guesa (CRP) de 1976, a par de ou‑tras Constituições europeias, prevê, no artigo 41.º, n.º1, a liberdade de religião. Analisando apenas do ponto de vista individual, esta liberdade consiste na faculdade de a pessoa ter ou não ter religião e a de mu‑dar de religião. Compreende ainda o direito de celebrar o respetivo culto e as respetivas festividades; o

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de cumprir os deveres dela decor‑rentes; o direito de a expressar por qualquer forma, através de palavras ou símbolos; o de a manifestar na sua vida pessoal, o direito ao respei‑to dos seus sentimentos religiosos e o direito de difusão da sua religião, respeitando sempre as liberdades dos outros. Como corolário da liberdade de re‑ligião surge o princípio da separação entre o Estado e as igrejas (artigo 41.º, n.º4 CRP), que implica, por um lado, o princípio da não confessionali‑dade do Estado e, por outro, o princí‑pio da liberdade de organização e in‑dependência das igrejas e confissões religiosas. Assim sendo, o Estado não se deve identificar com determinada religião, nem sequer promovê ‑la ou descriminá ‑la. Por outro lado, o Es‑tado não deve ser um instrumento ao serviço de qualquer igreja. Se o domínio do poder político sobre o poder religioso (cesaropapismo) não é desejável, também não o será o domínio do poder religioso sobre o poder político (teocracia).A CRP adota, por isso, um entendi‑mento em que a religião é conside‑rada não um assunto dos poderes

públicos, mas dos cidadãos. Não significa que o Estado possa assumir uma posição anticlerical ou de hos‑tilidade perante os diversos credos, antes pelo contrário, como refere Jorge Miranda, a liberdade religiosa além da sua vertente negativa, que consiste em o Estado não impor nem proibir a ninguém a prática de determinada religião, ela tem também uma vertente positiva, no sentido em que o Estado tem que “permitir e propiciar a quem seguir determinada religião o cumprimen‑to dos deveres que dela decorrem (em matéria de culto, de família ou de ensino, por exemplo) em termos razoáveis”. A liberdade de religião neste sentido deve ser pública e não clandestina, uma vez que possui uma necessária dimensão coletiva e institucional, tal como refere a Declaração Dignitatis Humanae “…o exercício da religião, pela natureza desta, consiste primeiro que tudo, em atos internos, voluntários e livres, pelos quais o Homem se ordena diretamente para Deus; e tais atos não podem ser impedidos por uma autoridade meramente humana. Por sua vez, a própria natureza social

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do Homem exige que este exprima externamente os atos religiosos in‑teriores, entre em comunicação com os demais em assuntos religiosos e professe de modo comunitário a própria religião”. É nesta linha de pensamento que Vitalino Canas refe‑re que o espírito da Constituição se caracteriza por uma “atitude positiva para com a religião como fenómeno socialmente benéfico”. Se é certo que os espaços públicos não se devem identificar com determinada crença, isso não significa, necessariamente, que esses espaços estejam fechados a práticas religiosas. Aliás, se o Esta‑do não tomasse em consideração o fenómeno religioso, estaria a negar uma dimensão essencial do Homem, que é constitucionalmente garantida (artigo 41.º CRP). O Homem é por natureza um ser religioso, pois desde os primórdios da civilização que vive numa constante busca de Deus, ha‑vendo por isso uma “relação íntima e vital que une o Homem a Deus”. Se o Estado é laico, a sociedade e os seus cidadãos não o são.A liberdade de religião compreende então, não apenas a liberdade de professar determinada religião, mas

também a liberdade de viver de acor‑do com os princípios dessa religião. Ora, a vivência de acordo com esses princípios, não se pode resumir ao espaço privado, quer este seja a casa ou o santuário, ela terá que poder ser realizada também no espaço pú‑blico, que é por natureza um espaço livre, em que todos os cidadãos estão num plano de igualdade. Surge, desta forma, uma obrigação de tolerância por parte dos cidadãos de uns para os outros e do Estado para com as diversas manifestações religiosas. Na verdade, o que caracteriza as sociedades democráticas é o seu pluralismo, que se afere pela existên‑cia de um espaço comum aberto a diversas culturas, em que cada uma tem a faculdade de expressar as suas convicções, num clima de liberdade e igualdade, em que cada comunida‑de tem a mesma dignidade. Neste entendimento, a separação entre confissões religiosas e Estado, im‑plica que o estado não possa tomar partido por uma confissão religiosa, assumindo apenas o papel de árbitro, no jogo entre os diferentes credos, que se realiza no espaço público, mas também a imposição do Estado em

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garantir a todos, que queiram, o cum‑primento dos deveres da sua religião.

Assim sendo, a realização de um Es‑tado laico não pode ser feito à custa da limitação da liberdade de religião, antes pelo contrário, o Estado deve criar as condições para que as diferen‑tes religiões se possam desenvolver, no respeito pelos valores constitucionais. A Liberdade de consciência (José La‑mego), a liberdade de religião (Jellinek, Bobbio) e a liberdade de expressão (Stuart Mill, Holmes Jemolo), tal como refere Marcelo Rebelo de Sousa “constituíram ‑se inegavelmente como um espaço matricial de onde brotam todos demais os direitos fundamentais e a garantia desses bens tornou ‑se condição sine qua non para reconhecer a existência de um Estado Constitu‑cional na sociedade contemporânea”.

A Lei n.º 16/2001 de 22 de Junho introduziu no nosso ordenamento jurídico a Lei da Liberdade Religio‑sa, garantindo que “a liberdade de consciência de religião e de culto é inviolável…” tal como decorre já da CRP que só utiliza a designação “in‑violável” quando se refere ao direito à vida e à integridade física (artigos 24º e 25º), o que denota o especial relevo que este direito assume no quadro constitucional! Por sua vez, o Decreto ‑Lei n.º 252/2009, que regulamenta a assistência espiritual e religiosa, pese embora dever ter tido em conta a Concordata entre a Santa Sé e o Estado Português, é a lei que se encontra em vigor e que nos desafia à aplicabilidade possível tendo sempre em conta o maior in‑teresse das pessoas em situação de privação de liberdade.

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a intervenção da igreJa católica em meio PrisionalPaUlo neves, Área social da coordenação nacional da Pastoral PenitenciÁria

A Intervenção da Igreja Católica em meio prisional pode acontecer em três grandes dimensões: a) Dimen‑são Religiosa, envolvendo assisten‑tes espirituais e religiosos e respeti‑vos colaboradores, abrangidos pelo Decreto ‑Lei n.º 252/2009, de 23 de setembro e respetivo regulamento e a Lei n.º 115/2009, de 12de outu‑bro: Código da Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade, de um modo especial os artigos 56.º e 57.º); b) Dimensão Jurídica, envol‑vendo voluntários a nível de apoio e sensibilização a nível processual, no âmbito da Constituição da Repúbli‑ca Portuguesa, Código Penal, Códi‑go de Processo Penal, Regulamento Geral dos Estabelecimentos Prisio‑nais, Lei n.º 115/2009, de 12 de ou‑

tubro, entre outros; e c) Dimensão Social, envolvendo voluntários, no âmbito da Lei do voluntariado ‑ Lei n.º 71/98, de 03 de novembro e da Lei n.º 115/2009, de 12 de outubro, concretamente, o seu artigo 55.º).Estas dimensões orientam ‑se para uma estratégia de intervenção global que procura estar atenta à prevenção, à intervenção em con‑texto prisional e à reinserção social. Assim, neste processo, para além do assistente espiritual e religioso, há que ter em conta o colaborador do serviço de assistência espiritual e religiosa e o voluntário prisional, neste caso, ligada a instituições de cariz católico. Todos estes agentes assumem, segundo o quadro legal em vigor, algumas especificidades às

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quais convém estar atento, como a seguir se apresentam. No que se refere ao Decreto ‑Lei n.º 252/2009, de 23 de setembro, sobre a “Assistência espiritual e religiosa”, logo no seu Preâmbulo se diz que a assistência espiritual e religiosa se distingue de “outras atividades de apoio aos reclusos, designadamente, no quadro do voluntariado”. Por sua vez, o Artigo 9.º refere que a pres‑tação de assistência espiritual e re‑ligiosa diz respeito ao “atendimento pelos assistentes”, à “celebração de atos de culto” e à “formação”; e, nos Artigos 12.º e 13.º refere ‑se que “(…) os assistentes (…) podem in‑dicar colaboradores que os auxiliem, incluindo na celebração de atos de culto espiritual ou religioso (…)”. Por sua vez, no que se refere ao Có‑digo da Execução das Penas e Medi‑das Privativas da Liberdade ‑ Lei n.º 115/2009, de 12 de outubro, os seus Artigos 56.º e 57.º sobre Assistência Religiosa (Título X) expressam o se‑guinte: “1. São garantidos ao recluso a liberdade de consciência, de religião e de culto e o direito à assistência religiosa e à prática de atos de culto, devendo ser criadas as condições

adequadas ao seu exercício (…)” (artigo 56.º); e, sobre os agentes e/ou ministros do culto, expressa: “1. É permitida a assistência religiosa aos reclusos por ministros do respeti‑vo culto, credenciados nos termos da Lei da Liberdade Religiosa” e “2. Podem colaborar na assistência reli‑giosa aos reclusos, com autorização do diretor do estabelecimento pri‑sional, outras pessoas credenciadas para esse fim pela respetiva igreja ou comunidade religiosa, devendo as credenciais ser autenticadas pelo registo das pessoas coletivas religio‑sas” (Artigo 57.º).

A mesma Lei ‑ Lei n.º 115/2009, de 12 de outubro, no seu Artigo 55.º, no que diz respeito ao Voluntariado, refere que: “1 — Os serviços pri‑sionais incentivam, em articulação

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com outras entidades, nos termos do Regulamento Geral, a participa‑ção de instituições particulares e de organizações de voluntários: a) No desenvolvimento de atividades de cariz cultural e de ocupação de tempos livres; b) No apoio social e económico a reclusos e seus fami‑liares; e c) Em atividades relevan‑tes para o processo de reinserção social, designadamente apoio em matéria de emprego e alojamen‑to”. Além disso, continua o mesmo artigo, “Os serviços prisionais asse‑guram o adequado enquadramento da ação das instituições particulares e das organizações de voluntários, nomeadamente através da seleção, acreditação e formação específica dos voluntários; e, os serviços pri‑sionais devem manter a comunidade informada quanto aos objetivos e resultados do trabalho desenvolvi‑do no sistema prisional, de modo a favorecer a participação daquela na execução das penas e medidas pri‑vativas da liberdade”.Face ao exposto, convém distinguir entre “colaboradores” do serviço de assistência espiritual e religiosa e “voluntários”. Assim, os Colabo‑

radores são indicados pelo assis‑tente religioso, credenciados pelo respetivo Bispo e os seus nomes são enviados, através de um ofício, para a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais que emitirá os respetivos cartões de colabo‑radores do serviço de assistência espiritual e religiosa. Por sua vez, os Voluntários são propostos por uma organização promotora de volunta‑riado, alvos de um contrato entre a organização promotora de volun‑tariado e o respetivo voluntário e sujeitos a uma Proposta de Projeto de Voluntariado, no âmbito das ativi‑dades referidas no Artigo 55.º da Lei n.º 115/2009, de 12 de outubro, sen‑do apresentada à Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, a qual é aceite pela mesma e aplicada num determinado estabelecimento prisional.Para este cenário, a Lei n.º 71/98, de 3 de novembro expressa as Bases do enquadramento jurídico do voluntariado referindo, no seu Artigo 2.º, o que é o Voluntariado; no Artigo 3.º, quem é o Voluntário; no Artigo 4.º, as organizações pro‑motoras; no Capítulo III ‑ Direitos e

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deveres do Voluntário; no Capítulo IV ‑ Relações entre o Voluntário e a organização promotora e no Capítulo V ‑ “(…) regulamentação específica de cada sector em que se exerce o voluntariado (…)”. Por sua vez, o Decreto ‑Lei 389/99 de 30 de setembro, que Regulamenta a Lei do Voluntariado, no seu Artigo 2º, so‑bre as organizações promotoras de voluntariado expressa que: “Reúnem condições para integrar voluntários e coordenar o exercício da sua ati‑vidade as pessoas coletivas que de‑senvolvam atividades… de interesse social e comunitário, no domínio cívico, ação social, cooperação para o desenvolvimento, saúde, educação, ciência e cultura, reinserção social, solidariedade social”.De referir que, no âmbito da legis‑lação referida, muitos dos colabo‑radores do serviço de assistência espiritual e religiosa também são voluntários devendo, num e no outro caso, ter em conta o respe‑tivo enquadramento e âmbito de atuação. Em ambos os casos, o que está em causa é a intervenção da Igreja Católica em meio prisional procurando responder a um direito

fundamental das pessoas que se en‑contram em situação de privação de liberdade: “liberdade de consciência, de religião e de culto” e contribuir para uma crescente dignificação das pessoas que aí se encontram.A intervenção da Igreja Católica em meio prisional acontece, assim, atra‑vés de múltiplas ações, em vários âmbitos, contando atualmente com cerca de cinco centenas de colabo‑radores e voluntários que procuram prestar um serviço às Pessoas em situação de privação de liberdade e a toda a Sociedade.

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“volUntariado Prisional: constatações e desaFios”Xiii encontro nacional da Pastoral PenitenciÁria: FÁtima, 09 e 10 de Fevereiro de 2018

Nos passados dias 09 e 10 de fe‑vereiro realizou ‑se, em Fátima, no Seminário do Verbo Divino, o XIII Encontro Nacional da Pastoral Pe‑nitenciária, subordinado ao tema: “Voluntariado e Prisões: Constata‑ções e Desafios”. O primeiro dia foi, sobretudo, dedicado aos Assistentes Espirituais e Religiosos e, o a noite do dia 09 e todo o dia 10 foi dedica‑do também aos colaboradores e vo‑luntários da Pastoral Penitenciária.O dia 09 contou com a presença e partilha de experiências dos assisten‑tes espirituais e religiosos católicos prisionais dos Estabelecimentos Pri‑sionais de: Aveiro, Paços de Ferreira, Polícia Judiciária do Porto, Santa Cruz do Bispo Feminino, Custóias,

Tomar, Viseu, Coimbra, Tires, Covi‑lhã, Guarda, Olhão, Faro, Silves, San‑ta Cruz do Bispo Masculino, Beja, Linhó, Alcoentre, Vale dos Judeus, e Angra do Heroísmo. Este dia incidiu na clarificação do lugar dos assisten‑tes espirituais e religiosos católicos nas prisões, bem como no lugar dos colaboradores e voluntários cató‑licos nas prisões apreciando ‑se os aspetos legais e as suas implicações. Foi ainda apresentado e discutida a oportunidade que representa a recente assinatura do Protocolo entre a Cáritas Portuguesa e Dire‑ção Geral da Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP). A tarde deste dia foi marcada por uma profícua Partilha das práticas de cada um dos

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presentes nos respetivos estabele‑cimentos prisionais, nima linha de “constatações e desafios”.A noite do dia 09 de fevereiro, que já contou também com a participa‑ção de algumas dezenas de Colabo‑radores, Voluntários e simpatizantes ligados à Pastoral Penitenciária foi enriquecida com a Partilha de duas Boas Práticas de Projetos de volun‑tariado prisional, concretamente, o Projeto “A Poesia não tem grades”, cujo mentor e executor do Projeto é o Filipe Lopes; e alguns Projetos da Comunidade Vida e Paz de apoio à Reinserção Social, através do Celes‑tino Cunha, um dos responsáveis do voluntariado da Comunidade Vida e Paz.

O Filipe Lopes enveredou pela aven‑tura do seu Projeto “A Poesia não tem grades” há cerca de quinze anos

com o grande objetivo de quebrar preconceitos, a começar pelos seus. A esse propósito criou um modelo de intervenção em meio prisional e na sociedade cujo conteúdo passa, sobretudo, pela poesia e pelo seu potencial de mudar dinâmicas de vida e até de as salvar. Neste sentido, visita prisões, escolas, universidades e outros grupos onde leva o poder da poesia. O seu testemunho sen‑sibilizou todos os presentes, pois, transmitiu essa sua capacidade de tocar, ouvir e respeitar as pessoas que se encontram em situação de privação de liberdade. Face a esta sua experiência, tem já em gestação projetos semelhantes e que passam por artes como a “dança”, o “hu‑mor”, entre outras como ferramen‑tas de libertação de pessoas e con‑textos marcados pela adversidade. O Filipe Lopes brindou ainda todos os presentes com a declamação de algumas poesias cheias de sentimen‑to e com potencial de manifestação da Bondade de todo e qualquer ser humano.Por sua vez, Celestino Cunha, um dos responsáveis do voluntariado da Comunidade Vida e Paz, partilhou a

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identidade e missão da Comunidade Vida e Paz, dando testemunho da sua história de vida que se encontra muito ligada ao percurso que tem feito na Comunidade Vida e Paz des‑de há cerca de vinte e cinco anos a esta parte. A Comunidade Vida e Paz, enquanto entidade de inspira‑ção cristã preocupada em ser uma

resposta efetiva, todos os dias do ano, às pessoas que se encontram na condição de sem abrigo, envolve muitas atividades e projetos que pretendem acompanhar diferentes fases dessas pessoas, seja a nível de satisfação de necessidades básicas, seja a nível de satisfação de necessi‑dades de caráter mais social. Neste sentido foi dado conhecimento dos projetos e das pessoas envolvidas nos mesmos, seja a nível de utentes, seja a nível de voluntários. A partir

do testemunho do Celestino Cunha, o qual incidiu, sobretudo, nas pessoas em condição de sem abrigo, tendo em conta que muitas delas também têm, como disse, percursos de vida associados ao contexto prisional, atrevemo ‑nos a fazer um paralelis‑mo com as pessoas na condição de privação de liberdade, nos seguintes termos: a) ter em conta que a con‑dição de privação de liberdade não se deve misturar com a identidade da pessoa em situação de privação de liberdade; b) considerar que se dizemos que vamos estar com uma pessoa na condição de privação de liberdade, nunca deveremos faltar; c) estar disponíveis para quando a pessoa em condição de privação de liberdade queira fazer a mudança; d) estar atentos à saúde mental dos voluntários; e) dar conta e assumir que a equipa dos voluntários não é perfeita; f) avaliar deve ser uma preocupação de todos e um sinal de respeito pelos que estiveram antes e pelos que estiverem depois; g) pro‑porcionar espaços abertos ao diálo‑go; h) ouvir as pessoas e permitir que se transformem quando quiserem; i) fazer festa como motivação para a

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mudança; j) sensibilizar os outros (escola, comunidade, paróquias, etc.) para a realidade das pessoas em condição de privação de liberdade; k) reconhecer que, em cada um dos voluntários há, de certo modo, algu‑ma ligação às pessoas na condição de privação de liberdade; l) recons‑truir sentidos de vida; m) perceber, pelo voluntariado, a transformação de si próprio.O dia 10 de fevereiro contou com a presença de D. José Traquina, Pre‑sidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Huma‑na e do Dr. Celso Manata, Diretor Geral da Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP). D. José Traqui‑na manifestou o seu agrado pelo estabelecimento do Protocolo de colaboração entre a DGRSP e a Cáritas Portuguesa, pois, ele traduz que nada do que é humano nos deve ser indiferente. Como tal, é funda‑mental trabalhar ‑se, de uma forma articulada, para a inclusão social de pessoas em situação de privação de liberdade. Tal deve ser feito através da criação de empatia e da suscita‑ção de motivação nas pessoas em situação de privação de liberdade

em ordem à definição de horizontes de vida com sentido.Por sua vez, o Diretor Geral da DGRSP, Dr. Celso Manata, debruçando ‑se sobre o Protocolo de colaboração entre a DGRSP e a Cáritas Portuguesa, salientou o muito que já se faz a este nível e o muito que ainda há a fazer, pois, “o horizonte está sempre em aber‑to e, por muito que trabalhemos, nunca alcançamos o objetivo final”. Neste contexto, expressou que “é uma dádiva de Deus podermos ajudar a mudar vidas de pessoas em situações muito difíceis”. Evocando alguns problemas que preocupam a DGRSP, como a sobrelotação de muitas prisões, as penas longas que se verificam em Portugal, a hetero‑geneidade de grupos de pessoas que se encontram nos EP’s, a reinserção de muitas destas pessoas, entre ou‑

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tros, referiu o objeto do Protocolo estabelecido como oportunidade para ajudar a minorar alguns desses problemas. Assim, no âmbito do Pro‑tocolo em causa, depois de salientar as cerca de duas mil ações que orga‑nizações associadas ao voluntariado da Igreja católica fizeram ao longo do ano de 2017, apresentou a todos os presentes alguns desafios que po‑derão ser mais explorados no futu‑ro próximo, a saber: “Sensibilização das universidades, escolas e socie‑dade em geral para estas questões”;

“Acompanhamento dos voluntários em processos formativos”; “Imple‑mentação de Lojas Solidárias para escoamento de múltiplos produtos elaborados em meio prisional”; e “Implementação de espaços de acolhimento para reclusos que se encontrem sem qualquer suporte a esse nível”.Apesar de não se poder contar com a Perspetiva da Cáritas Portuguesa no que diz respeito ao Protocolo estabelecido por o seu Presiden‑te, Eugénio Fonseca, se encontrar

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doente, o Diretor Geral da DGRSP disponibilizou ‑se a responder a múl‑tiplas perguntas que lhe foram feitas enriquecendo em muito a partilha deste momento no sentido de re‑forçar os desafios apresentados.A tarde do dia 10 foi marcada por Trabalho de grupos sobre práticas de Voluntariado católico prisional traduzindo ‑se num Plenário riquíssi‑mo de partilha de múltiplas iniciati‑vas que se vão realizando por todo o país, com dificuldades, mas tam‑bém com a determinação de muitos

em as contrariar procurando gerar percursos de inserção e de apro‑ximação das prisões à sociedade e vice ‑versa.Tendo em conta a intensidade destes dois dias de trabalhos e da partilha realizada elaboraram ‑se e apresentaram ‑se as respetivas Con‑clusões do XIII Encontro Nacional Pastoral Penitenciária como desafios para a reflexão e ação nos próximos tempos e o Encontro encerrou ‑se com a celebração da Eucaristia.

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Nos dias 09 e 10 de fevereiro de 2018, sob a Presidência de D. José Traquina, Bispo de Santarém e Pre‑sidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Hu‑mana, reuniram em Fátima cerca de uma centena de pessoas, provenien‑tes das Dioceses do Algarve, Angra, Aveiro, Beja, Bragança ‑Miranda, Coimbra, Évora, Forças Armadas e Segurança, Guarda, Leiria ‑Fátima, Lisboa, Porto, Portalegre e Castelo‑‑Branco, Santarém, Setúbal e Viseu, para participar no XIII ENCON‑TRO NACIONAL DE PASTORAL PENITENCIÁRIA, organizado pela Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária.Assistentes espirituais e religiosos, colaboradores e voluntários, ligados à Pastoral Penitenciária ou por ela

interessados, refletiram sobre o tema “Voluntariado e Prisões: Cons‑tatações e Desafios”.Esteve presente o Senhor Diretor Geral da Direção Geral de Reinser‑ção e Serviços Prisionais, Dr. Celso Manata, o qual manifestou o seu apreço por este serviço da Igreja Católica em Portugal, constatando o muito que se vai fazendo e lançando alguns desafios para complementar essa colaboração. Da parte da Pasto‑ral Penitenciária, pela voz do Pe. João Gonçalves, coordenador nacional da Pastoral Penitenciária, complementa‑da pela de D. José Traquina, reiterou‑‑se a vontade de continuar a cola‑borar numa crescente humanização da realidade da reclusão chamando especialmente a atenção para a ne‑cessidade de uma reinserção positiva

conclUsões do Xiii encontro nacional de Pastoral PenitenciÁria

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das pessoas privadas de liberdade na sociedade. As constatações sobre o Tema “Vo‑luntariado e Prisões” passaram pela reflexão sobre o seu enquadramen‑to legal, com especial incidência no Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade (Lei n.º 115/2009 de 12 de outubro), no Regulamento Geral dos Estabeleci‑mentos Prisionais (Decreto ‑Lei n.º 51/2011 de 11 de abril) e na Lei do Voluntariado (Lei n.º 71/98, de 03 de novembro). Todas as constatações foram acompanhadas de uma pro‑fícua partilha de boas práticas, seja de Projetos de voluntariado ligados

a instituições de cariz católico, seja de Projetos ligados a outras institui‑ções da sociedade civil.Os desafios sobre o Tema “Volunta‑riado e Prisões”, em virtude da par‑tilha de Boas práticas efetuada e do Protocolo celebrado recentemente entre a Direção Geral da Reinserção e Serviços Prisionais e a Cáritas Portuguesa expressam ‑se em cinco grandes dimensões:a) Desenvolver competências pes‑soais, sociais e profissionais de pes‑soas em situação de reclusão. Aqui, competências como a auto estima, a comunicação, o trabalho em equipa, a gestão de conflitos; a tomada de

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decisões, entre outras, deverão ser as mais almejadas;b) Proporcionar o acesso a espaços, momentos e oportunidades de de‑senvolvimento pessoal, social e pro‑fissional. Aqui, a preocupação com a abertura de casas de acolhimento para pessoas em situação de privação de liberdade que não tenham outra forma de acolhimento, bem como o desenvolvimento de atividades ocupa‑cionais e de escoamento dos respe‑tivos produtos elaborados através de lojas solidárias, deverão ser objeto de análise e de desejável concretização;c) Estimular a participação de pes‑soas em situação de reclusão no desenvolvimento de atividades em prol da comunidade e do território envolvente. Aqui, a ligação a contex‑tos exteriores aos estabelecimentos prisionais, potenciando o desenvol‑vimento local, será um sinal de apro‑ximação das pessoas em situação de reclusão à sociedade e vice ‑versa;d) Capacitar pessoas em situação de reclusão para a assunção crescente de responsabilidades no âmbito de uma cidadania ativa e participativa, dando especial ênfase à dimensão laboral. Aqui, o desenvolvimento de

atividades geradoras de autonomia, sobretudo, a nível laboral, serão ga‑rantia de sucesso de percursos de reinserção social; e) Sensibilizar universidades, escolas e a sociedade em geral para uma perspetiva inclusiva de pessoas em situação de reclusão. Aqui, o diálogo com a sociedade civil gerará aber‑tura de mentalidades e de cora‑ções traduzindo ‑se num crescente ambiente de proximidade do qual todos beneficiarão. No âmbito destes Desafios, cuidar dos voluntários é um imperativo éti‑co e um requisito fundamental para transformar problemas em opor‑tunidades, crises em crescimento, prisões em espaços de liberdade.O que move os “voluntários” pre‑sentes neste Encontro, tanto ontem, como hoje, como amanhã, é, afinal, a humanidade partilhada, onde o rosto de cada pessoa em situação de pri‑vação de liberdade reflete o rosto de Jesus Cristo que somos chama‑dos a visitar (“Estive preso, e fostes visitar ‑me”(Mt 25) e a contemplar. Assim reconstruiremos vidas, tanto dentro como fora das prisões.

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algUns conselhos Para qUem visita Pessoas em sitUação de Privação de liberdade

conselhos de reclUsos, de FUncionÁrios Prisionais e de oUtros volUntÁrios

O voluntário católico prisional, enquanto alguém disposto a dar o seu tempo junto de pessoas em situação de privação de liberdade, é chamado a ter em conta atitudes empáticas e que passam por uma sadia capacidade de escuta, parti‑lha, paciência, prudência, otimismo, alegria, fé, esperança e caridade. Interpelado pela Palavra de Jesus, é chamado a evangelizar e a ser evan‑gelizado e a descobrir o Seu rosto nos que estão na prisão, sem juízos

de valor e sem preconceitos. Esta presença deve ser percorrida em grupo, partilhando dificuldades e sendo sinal de fraternidade. Vejam‑‑se alguns Conselhos – de pessoas em situação de privação de liber‑dade, de funcionários prisionais e de outros voluntários para quem visita pessoas que se encontram em situação de privação de liberdade e que poderão ajudar a moldar essa presença.

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Conselhos dos ReClusosO que se deve evitar... O que se deve ter em conta...

‑ Não queremos salvadores perfeitos, para acalmar consciências e preencher vazios existenciais; ‑ Não nos tratem com paternalismos, ou como alguém que é preciso salvar; ‑ Não nos perguntem porque es‑tamos aqui, pois estamos fartos de interrogatórios; ‑ Não nos deem ordens, pois, o que sabem das nossas vidas?; ‑ Não privilegiem os mais ricos ou famosos, pois, todos precisamos de atenção; ‑ Se não estão dispostos a vir assidua‑mente, não venham.

‑Tratem ‑nos como pessoas normais e que se note que se preocupam connosco; ‑ Olhem ‑nos nos olhos, pois, senão sentimos que nos desvalorizam ou temem; ‑ Se lhes contamos porque estamos aqui, escutem ‑nos sem pressa e sem juízos; ‑ Contem ‑nos também algo das vossas vidas, como amigos; ‑ Façam ‑nos sentir úteis e sentir que a nossa ajuda pode ser importante; ‑ Falem ‑nos de coisas de fora da prisão, pois, estamos fartos de temas vazios; ‑ Gostamos que nos visitem alguns idosos, como se fossem os avós que pouco conhecemos.

Conselhos dos funCionáRiosO que se deve evitar... O que se deve ter em conta...

‑ Não coloquem os reclusos contra os funcionários; ‑ Não dificultem o nosso trabalho por desconhecimento do regulamento (a prisão tem as suas próprias normas); ‑ Não façam trabalho de técnicos, nem se substituam aos profissionais; ‑ Não introduzam coisas proibidas na prisão nem usem informação sigilosa.

‑ Saibam para onde vêm e como fun‑ciona a prisão (os novos devem vir acompanhados); ‑ Colaborem connosco para prestar‑mos o melhor serviço possível; ‑ Criem uma relação connosco, saúdem ‑ ‑nos e aprendam os nossos nomes; ‑ Convidem ‑nos para tomar café, e outras vezes convidamos nós; ‑ Sorriam, pois, tensões/dramas não faltam.

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Conselhos de outRos voluntáRiosO que se deve evitar... O que se deve ter em conta...

‑ Não agraves situações pessoais com pessimismos, pois, a tua missão é transmitir esperança; ‑ Se estás inseguro afetivamente, não vás à prisão; ‑ Não leves nem tragas nada da prisão, ainda que pareça insignificante; ‑ Não prometas o que não podes cum‑prir, nem dês falsas esperanças, pois, arriscas ‑te a perder a credibilidade.

‑ Deves ser cortês e educado: uma simples saudação ou um sor‑riso são sinais de humanidade e proximidade; ‑ Quando um recluso se aproxima de ti para te saudar, dá ‑lhe a mão, sempre; ‑ Escuta, olhando nos olhos; ‑ Sê sensível e forte, sem sentimentalismos; ‑ Deves ser paciente: por exemplo, se uma porta não abre é porque outra se está a fechar.

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Editorial Cáritas (EC): A Pastoral Penitenciária pretende afirmar ‑se como um serviço da Igreja para com as pessoas em situação de pri‑vação de liberdade e para com toda a sociedade. Enquanto Coordena‑dor Nacional deste Serviço, quais são os principais desafios que se lhe colocam?

PadrE João GonçalvEs (PJG): O serviço da Pastoral Penitenciária é uma resposta da Conferência Episcopal à presença da Igreja jun‑to de pessoas em sofrimento e, muitas vezes, em abandono social e mesmo familiar. O Cristão sente que tem de estar onde está a dor humana, onde exista alguém em situação de sofrimento ou de dor,

seja qual for a sua causa. Sabemos que uma Pessoa, a viver momentos em privação de liberdade, é uma dessas situações que requerem uma presença, que não pode ser de passagem, ou de uma simples visita, mais ou menos formal, mais ou menos ocasional. Os Cristãos vão à Cadeia, mas levam consigo a exigência moral e evangélica de voltar, de voltar sempre; não vamos às Prisões “dar” cursos, deixar um diploma, porventura inconsequente em relação à sua integração familiar, social e laboral. O Cristão vai, dando seguimento a uma chamada de Deus, respondida livremente, para andar por perto do Mestre, aprender com Ele, e depois ser considerado capaz de ir,

à conversa comPe. João gonçalvescoordenador nacional da Pastoral PenitenciÁria

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em seu nome e em nome da Igreja, anunciar o Evangelho da Salvação, da Libertação, da Liberdade! Os desafios que se colocam à Pas‑toral Penitenciária são estes mes‑mos: tomar a consciência de que a Pessoa Presa perde o uso a sua li‑berdade, por um tempo, mas nunca perde a sua dignidade de Pessoa! E, por estar em situação de especial sofrimento, vulnerabilidade e até de julgamento muitas vezes “po‑pular”, trata ‑se de uma Pessoa a gritar por justiça, por amor, por ca‑rinho, por afetos, por misericórdia. A justiça humana, regulada pelas leis de um país mesmo de “estado de direito”, nem sempre responde ao sentido da profunda justiça, que nunca se pode dissociar da mise‑ricórdia ‑ que tem a sua fonte em Deus e passa para o sentir e o ver profundo dos critérios legais de um País.Outro desafio, é a relação da Sociedade, toda, na envolvência do sistema penitenciário, e numa grande proximidade às Pessoas que elaboram as Leis; bem como, e especialmente, numa relação

amorosa, e sem complexos, com as pessoas em situação de privação de liberdade, de suas famílias, das vítimas dos crimes, da vizinhança, da Comunidade eclesial paroquial, no sentido de envolver toda a gente no processo de um irmão em fragilidade, em desespero, em abandono, que carrega uma marca que lhe puseram, e de que está a ser difícil libertar ‑se! Se cometeu um ilícito, um crime, se já “pagou” à sociedade por isso, se ressarciu os prejudicados, as Dioceses, as Paróquias, os Centros Sociais, Paroquiais ou não, com as suas va‑lências, serviços e Técnicos, todos deveriam estar muito atentos a estas Pessoas, quer enquanto estão em tempo de reclusão, quer quan‑do falta um certo e longo tempo para a saída. Também se deve olhar para as saídas “precárias”, “jurisdi‑cionais”, de tal modo que a Pessoa não esqueça que o seu lugar é viver em liberdade, e que isso se aprende ou reaprende. É fácil perceber que quem esteve fora da vida “real”, te‑nha muitas dificuldades em entrar e sentir ‑se no seu lugar…que é a

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vida em liberdade! Que é voltar para o seu lugar. As Comunidades Cristãs, especial‑mente as Paróquias, por serem a realidade de maior proximidade, deveriam encontrar mecanismos para saberem e acompanharem as pessoas das suas Comunidades que estão em reclusão. Por outro lado, as mesmas Paróquias, têm de estar atentas, e criar mecanismo de boa e segura informação, para saberem quem, nas suas áreas de residência, está a cumprir, em sua casa, uma penalização, que é, ver‑dadeiramente, um tempo de prisão, com vigilância eletrónica – pulseira elétrica. É um fenómeno cada vez mais frequente, e isso tem a ver com as Comunidades de proximi‑dade, e falamos especialmente de Paróquias. Daqui se pode concluir que este serviço deve ser feito em rede pastoral, em união com os Capelães – Assistentes Espirituais e Religiosos dos Estabelecimentos Prisionais, por todas as razões, e especialmente para se afinarem processos de boa e eficaz atuação, seja junto da pessoa em “reclusão”,

seja junto de familiares e da vizi‑nhança. Impõe ‑se a criação de um Departamento ou secretariado de Pastoral Penitenciária, em todas as Dioceses e, cada vez mais se sente essa necessidade mesmo em cada Paróquia ou grupos de Paróquias vizinhas. Ou, então, o Grupo de Pastoral sócio caritativo da Pa‑róquia assume uma pessoa, pelo menos, para cuidar diretamente destes casos. O diálogo próximo e frequente com os Serviços do Ministério da Justiça, com a Comissão de Liber‑dades, Direitos e Garantias, e com a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais é uma atitude que deve ser tida como boa, neces‑sária e frequente. De contar ainda com técnicas e usar a imaginação, e a boa formação assente em boa literatura existente, para se orga‑nizarem serviços de Prevenção, de Reinserção e de acompanhamento na prisão.

EC: A Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária tem parti‑lhado algumas ações com a Cáritas

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Portuguesa. Qual o balanço que faz dessa colaboração e que horizontes prevê para a mesma?

PJG: A Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária, sendo um ser‑viço da Igreja Católica diretamente dependente da Conferência Epis‑copal Portuguesa e que desenvolve a sua ação em cooperação com as mais diversas organizações da mes‑ma Igreja, considera que a Cáritas Portuguesa assume um papel da má‑xima importância, uma vez que, por ter uma grande preocupação pelo específico da sua Missão, que é estar por perto e tentar as melhores res‑postas para as carências que se lhe apresentem. De um modo especial, conta ‑se com a sua forte estrutura e formação dos seus dirigentes e téc‑nicos, e ainda com a sua dimensão nacional. Como tal, a Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária encontrou na Cáritas a possibilidade real para criar e desenvolver parce‑rias, que ultrapassem o mero for‑malismo, mas se traduzam em real cooperação. Assim, como está exa‑rado no Protocolo assinado entre as

duas Entidades – Cáritas Portuguesa e Direção Geral da Reinserção e Serviços Prisionais – o que se espera é o seu desenvolvimento, tão rápido quanto possível e de forma segura, que possamos conquistar a confiança de pessoas e estruturas, de modo a darmos corpo e realização ao que ali é assumido como compromissos recíprocos. A Coordenação da Pastoral Penitenciária assume a sua parte de cooperação e de desempenho de algumas ações a propostas ali adiantadas; sentimo‑‑nos como verdadeiros e principais parceiros deste Protocolo, que muito longe nos pode levar, como esperamos, e muito nos sugere e impulsiona para que façamos. Como Pastoral Nacional, estamos já a di‑vulgar o elenco de compromissos e de ações que compõem o seu articulado. É um passo enorme, que vai favorecer os Reclusos, na área do trabalho e da formação profissional, bem como a colocação no mercado, em lojas solidárias, dos trabalhos realizados pelos reclusos, como ain‑da o esforço por encontrar e criar casas de transição e de acolhimento

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temporário, para as saídas precárias, condicionais e mesmo definitivas; estas “casas” destinam ‑se, por agora, a estadias curtas, onde se podem desenvolver critérios e formação laboral, e implementar as condições necessárias e convenientes, para a inserção social, familiar e laboral. O balanço, embora incipiente, é alta‑mente positivo e criador de novas esperanças para as Pessoas privadas de liberdade, que podem ver neste Protocolo mais uma janela de Verda‑deira e confiante Esperança!

EC: A partir do tema do Encontro Nacional de Pastoral Penitenciária deste ano: “Voluntariado e Prisões: Constatações e Desafios”, enquan‑to responsável nacional por este Serviço, gostaria de deixar algum apelo para os que são ou que quei‑ram ser voluntários neste contexto?

PJG: Este XIII Encontro de Pastoral Penitenciária Nacional foi prepara‑do com uma recolha de dados, o mais próximos possível da realida‑de, tentando saber ao certo quan‑tos Grupos de pessoas, ligadas à

Igreja Católica alimentam projetos de Voluntariado nas nossas Prisões. Com a excelente colaboração da Direção Geral, conseguimos saber de grupos, de ações e de pessoas reclusas “atingidas” por estes pro‑jetos, que a todos nos impressio‑nou, muito, pela positiva! Esta foi a constatação, de grande riqueza, que nos serve de fundamentação para os nossos projetos e progra‑mas e para novas iniciativas. Esta foi a principal constatação, para além de termos verificado que alguns grupos deveriam ter uma ligação mais próxima do Capelão, uma vez que se trata de Grupos da Igreja Católica! E Conclui ‑se tam‑bém que, assim como estas ações se realizaram e realizam com real proveito, muitas mais se poderiam realizar, de modo mais coordenado, sem cortar a iniciativa privada, mas enriquecida com a patilha de experiências, e com a colocação no mercado de trabalhos realizados com os Reclusos, e o convite para que Empresas e outras entidades empregadoras se aproximem desta realidade, e sintam força e amor a

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esta causa, tentando a formação profissional, real e realista, que proporcionasse o emprego, na saída. Perante o que já se faz – e é tanto! – podemos concluir que muito mais, e talvez melhor, ou de melhor qualidade, se pode realizar nas nossas Casas de Reclusão. E este é um dos bons desafios. Sinto também que se abre um enorme campo ao verdadeiro Voluntariado, e verificamos que as pessoas que dedicam o seu tempo, o seu saber e a sua Fé ao serviço dos Irmãos Reclusos, se entusiasmam de tal modo que nunca mais querem deixar este Voluntariado, onde to‑dos somos realmente queridos e desejados. As Pessoas em Reclusão reconhecem e apreciam a nossa presença, como presença de ami‑gos desinteressados, que lá estão, apenas por eles, porque os amam. Acredito que muita gente capaz, ao saber do que se fala e do muito que se pode fazer, com real provei‑to, quer para o presente do tempo de reclusão, quer, especialmente para preparar o futuro, muitas mais pessoas se apresentariam a fazer

a sua preparação, para prestarem este grande e nobre serviço! En‑tendo ainda que, se nas nossas co‑munidades, mais se falasse destas problemáticas, que são nossas, de toda a gente, muito mais pessoas se ofereceriam para realizar ações de Voluntariado nas Cadeias. E é isso que espero, e sinto, como um processo desafiante!

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Editorial Cáritas (EC): A Cáritas Portuguesa e a Direção Geral da Reinserção e Serviços Prisionais assinaram, em março do ano pas‑sado, um Protocolo de colaboração que tem uma especial incidência em ações de voluntariado que se poderão implementar em favor das pessoas em situação de privação de liberdade. Qual é, na sua perspeti‑va, a importância deste Protocolo e quais os contributos que poderá dar a Cáritas Portuguesa a esse nível?

EuGénio da FonsECa (EF): É, sem dúvida, da máxima importância termos tido a feliz oportunidade de assinar um Protocolo com a Direção Geral da Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), dado

que o seu objetivo se inscreve, ple‑namente, no fundamento essencial da Cáritas que é a defesa e promo‑ção da dignidade humana. Propor‑cionar a liberdade de ser e de estar, sem condicionar a mesma possibi‑lidade a outrem é fundamental. Ser privado deste direito por razões que tenham a ver com o seu mau uso, não pode negar esta conse‑quência como reparação pelo mal praticado. Todavia, a penalização é a privação da liberdade, mas nunca más condições de bem ‑estar, nem ausência de oportunidades para ser devolvido à liberdade com a certeza de que retoma a nor‑malidade da vida e, se necessário, mudar, radicalmente, o rumo da vida. Todas estas realidades devem

à conversa com o ProF. eUgénio FonsecaPresidente da cÁritas PortUgUesa

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ter como exigência, incontornável, o respeito pela dignidade de cada pessoa. Esta é a essência do Proto‑colo que assinámos com a DGRSP. Para o concretizar é fundamental a adesão de pessoas, bem motivadas e preparadas que, voluntariamente, queiram levar os seus saberes aos estabelecimentos prisionais. Sem o apoio das comunidades cristãs, dos seus diferentes grupos pastorais, concretamente, de ação social, não é possível encontrar meios para a concretização do Protocolo, que abrange também o acompanha‑mento das famílias dos reclusos e destes aquando do regresso à li‑berdade ou da mudança de medida punitiva.

EC: A Cáritas Portuguesa tem partilhado algumas ações com a Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária. Qual o balanço que faz dessa colaboração e que hori‑zontes prevê para a mesma?

EF: Esta partilha nada tem a ver com a celebração do Protoco‑lo com a DGRSP, já existia antes,

como deve acontecer com todas as organizações eclesiais. É vulgar a defesa de trabalho em rede, mas tem sido mais fácil a concretização desta necessária metodologia com instâncias oficiais e da sociedade civil. Faz, assim, todo o sentido essa partilha que, reconheço, deve ser mais intensificada por cada uma das instituições, na área da mis‑são acometida a cada uma, sendo certo que existe nítida comple‑mentaridade, dada a componente fortemente social que a realidade do sistema penitenciário tem no nosso país, assim como nos outros. É importante deixar claro que a assinatura do Protoloco pela Cári‑tas Portuguesa e não pelo Serviço Nacional de Pastoral Penitenciária teve apenas a ver com aspetos da legislação civil do país.

EC: A partir do tema do Encontro Nacional de Pastoral Penitenciária deste ano: “Voluntariado e Prisões: Constatações e Desafios”, gostaria de deixar algum apelo para os que são ou que queiram ser voluntários neste contexto?

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EF: Na resposta à primeira questão já deixei dois apelos que conside‑ro da maior pertinência. Mas, mais diretamente aos que se dedicam graciosamente, ou que possam vir a dedicar ‑se, à ajuda da humaniza‑ção das cadeias e/ou ao apoio a ex ‑reclusos em situação de rein‑serção social, deixo alguns pedidos: só aceitem uma missão nesta área, se acreditam que todo o ser hu‑mano tem, no mais âmago de si mesmo, uma dignidade intocável; sejam capazes de ver na pessoa em situação de reclusão, apenas uma pessoa, sabendo distinguir sempre entre o que ela é e o delito que praticou; abusem de compaixão para com cada um dos reclusos, mas sem cair em qualquer tipo de ingenuidade; ajam sempre em con‑sonância com a restante equipa, partilhando todas as preocupações e necessidades, sem nunca devassar a privacidade do recluso; deixem‑‑se, enfim, envolver pelo sonho de que “até das pedras podem brotar flores”.

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à conversa com dr. celso manatadiretor geral da direção geral da reinserção social e serviços Prisionais

Editorial Cáritas (EC): A Direção Geral da Reinserção e Serviços Pri‑sionais e a Cáritas Portuguesa assina‑ram, em março do ano passado, um Protocolo de colaboração que tem uma especial incidência em ações de voluntariado que se poderão im‑plementar em favor das pessoas em situação de privação de liberdade. Qual é, na sua perspetiva, a impor‑tância deste Protocolo e quais são os contributos que poderá dar a Direção Geral da Reinserção Social e Serviços Prisionais a esse nível?

CElso Manata (CM): O Protocolo assinado com a Cáritas Portuguesa, no Dia Nacional da Cáritas, cele‑brado em 19 de março de 2017, formaliza e estrutura uma coope‑ração de longa data que resulta

da partilha de valores comuns que convergem para objetivos partilha‑dos. Refiro ‑me, nomeadamente, à promoção da dignidade humana na privação da liberdade, à promoção de percursos de reinserção social que permitam aos(às) recluso(as) optar por um modo de vida social‑mente responsável, sem cometer crimes, provendo às suas necessi‑dades após a libertação. Este Protocolo contribui de forma relevante para a prossecução do ideário ressocializador do sistema penal português, bem como para prossecução da missão da DGRSP na vertente de reinserção social e prevenção da reincidência, pela aposta que faz nas áreas do desen‑volvimento e da responsabilidade pessoal, social e profissional, bem

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como da solidariedade. Em suma, na construção de cidadanias ati‑vas e participativas. Trata ‑se de gerar oportunidades e caminhos de transformação e inclusão, cen‑trados nas necessidades dos(as) reclusos(as), em cooperação com a comunidade, numa rede de múlti‑plas parcerias que atuam de forma conjugada e complementar.O Protocolo celebrado permite acrescentar valor à atividade já de‑senvolvida pela Cáritas Portuguesa enquanto serviço da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mo‑bilidade Humana, da Conferência Episcopal Portuguesa, sistemati‑zando a intervenção, organizada em torno de planos de atividades anuais, passíveis de serem moni‑torizados e avaliados, tanto em termos globais, como no que diz respeito a cada um dos projetos que os integram. Para projetos mais estruturados, de são exemplo as respostas de acolhimento resi‑dencial ou de integração laboral, ponderamos o recurso a projetos piloto que encerram a virtualida‑de de complementar a avaliação

criteriosa, prévia a estratégia de disseminação. Para além da integração dos volun‑tários e voluntárias da Cáritas Por‑tuguesa, na dinâmica do Programa de Voluntariado em Meio Prisional, o reconhecimento da importância deste contributo compromete a DGRSP na criação das condições necessárias para que os projetos e ações da Cáritas Portuguesa, necessariamente conjuntos, se desenvolvam intramuros e em cooperação com a comunidade envolvente de cada estabeleci‑mento prisional. Foi isto, aliás, que ficou firmado no Protocolo e que resulta do seu clausulado. Trata ‑se, pois, de um compromisso que as‑sumimos de um modo consciente e tencionamos implementar de forma consequente.

EC: O Voluntariado prisional asso‑ciado a instituições de inspiração católica é uma presença efetiva em muitos estabelecimentos pri‑sionais do nosso país. Como vê a presença destas pessoas e grupos em contexto prisional e que mais

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valias podem elas constituir para as pessoas em situação de privação de liberdade e para o sistema prisional em geral?

CM: O contributo dos voluntários e voluntárias associados a insti‑tuições católicas merece o maior respeito e reconhecimento pelo testemunho de dádiva na huma‑nização do tempo e espaços de reclusão.Tal como ficou vertido no Proto‑colo, são também estes voluntários e voluntárias que assumem a po‑tenciação das dimensões do Ser (identidade pessoal e social), do Ter (recursos pessoais) e do Fazer (agir e concretizar). Complemen‑tando a intervenção dos vários profissionais da DGRSP, aportam uma dimensão relacional, também pelo exemplo vivencial de valores humanistas, motivadores e gerado‑res de mudança e transformação, tanto no plano individual como coletivo.Acreditamos que, respeitando o perfil e disponibilidade de cada um(a) destes(as) voluntários e vo‑

luntárias, o seu contributo pode enquadrar ‑se em todas as áreas definidas no Programa de Volun‑tariado em Meio Prisional, desde a visita solidária, à ligação com a comunidade de origem/inserção, ao desenvolvimento de competên‑cias pessoais e sociais, ao apoio a atividades educativas e formativas, ao desenvolvimento de atividades culturais e artísticas, à promoção do desporto e estilos de vida saudável, ao apoio a necessidades jurídicas, ao relaxamento e meditação, à melho‑ria dos espaços prisionais e à oferta de bens. Acreditamos que a Cáritas Portuguesa, enquanto serviço para a animação da Ação Social da Igreja em Portugal, pode aqui prestar um importante contributo.

EC: A partir do tema do Encontro Nacional de Pastoral Penitenciária deste ano: “Voluntariado e Prisões: Constatações e Desafios”, enquan‑to Diretor Geral da Direção Geral da Reinserção e Serviços Prisionais, gostaria de deixar algum apelo para os que são ou que queiram ser vo‑luntários neste contexto?

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CM: Ser voluntário(a) nas prisões portuguesas é assumir o compro‑misso, com humildade, de promo‑ver humanidade e responsabilidade social. O grande desafio passará por colocar em ação os valores da Cáritas, transportando para os contextos de privação da liberda‑de, valores como os da dignidade e da centralidade da pessoa huma‑na e, especialmente, a partilha na crença do potencial transformador que todos encerramos na constru‑ção de autonomia e de liberdade com responsabilidade.Para além do devido reconheci‑mento, o apelo que deixo vai no sentido de partilharem com a co‑munidade a grandeza do trabalho que quotidianamente realizam nos estabelecimentos prisionais, con‑tribuindo assim para a desconstru‑ção de crenças estigmatizantes que em nada favorecem os processos de inclusão e reinserção social.

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aPresentação do livro: “o Padre das Prisões PortUgUesas”

livraria Ferin ‑ lisboa, 21/02/2018

No passado dia 21 de fevereiro realizou ‑se na Livraria Ferin, em Lisboa, uma Sessão de apresentação do Livro “O padre das prisões por‑tuguesas ‑ Ensaio baseado na vida do Pe. João Gonçalves”, editado pela Cáritas Portuguesa, concentrando nesta histórica Livraria cerca de meia centena de pessoas. A Sessão contou com a apresenta‑ção da obra pela professora de Di‑reito Penal da Faculdade de Direito de Lisboa, Dr.ª Inês Ferreira Leite, e com intervenções do Presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonse‑ca, a autora da obra, Inês Leitão e o Coordenador da Pastoral Peniten‑ciária, Pe. João Gonçalves. O Presidente da Cáritas Portuguesa congratulou ‑se com a feliz edição

desta obra, pois, nada do que é hu‑mano deve ser indiferente à Cáritas, neste caso, os assuntos relacionados com as pessoas que estão presas, in‑cluindo a necessidade da respetiva reinserção social. A apresentadora do Livro, Dr.ª Inês Ferreira Leite, salientou a dimensão de humanismo que perpassa todo o livro e incidiu a sua atenção, sobre‑tudo, em dois capítulos da obra ‑ o III e o IV, onde se inserem, respeti‑vamente, os subtítulos “Onde está o teu irmão?” e “Perdão e Reconcilia‑ção”. A esse propósito, referiu que “nós não nos definimos nem pelo melhor dia da nossa vida, nem pelo pior dia da nossa vida! Nós somos todos os dias, com dias bons e com dias menos bons!”. Perante uma

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sociedade composta por pessoas demasiado julgadoras dos atos dos outros e pouco juíz dos próprios atos, referiu, exige ‑se uma lógica de compreensão da pessoa, inclusive, da sua maldade. Numa sociedade envolvente marcada pelo “tabu de compreender o falhanço”, os nos‑sos juízos penais assumem uma du‑reza reforçada, pelo que urge a sua compreensão. A Dr.ª Inês Ferreira Leite aproveitou para recomendar a leitura da obra a todos os presen‑tes, bem como aos seus alunos de Direito Penal e a toda a sociedade. A autora do livro, para além de sa‑lientar a mudança que o contacto com o Pe. João Gonçalves operou na sua perceção das pessoas em situação de privação de liberdade, referiu a necessidade de a sociedade falar mais das prisões e de as colo‑car na ordem do dia, à semelhança do modo como encara e se envolve nas questões associadas às escolas e aos hospitais, entre outras organiza‑ções da sociedade. O Pe. João Gonçalves, por sua vez, com emoção, salientou a necessi‑dade de “não desistir das pessoas”, sobretudo, das que se encontram

“condenadas” por algum crime que cometeram. Como tal, convidou to‑dos os presentes a assumir algumas atitudes fundamentais perante as pessoas mais frágeis: disponibilidade, capacidade de escuta, partilha de tempo e atenção. Numa época que o Papa Francisco considerou como estando em risco de “globalização da indiferença” requer ‑se, como antídoto, relações de fraternidade, inclusive para com as pessoas que entram nas nossas cadeias. Para Sessões de apresentação de obras das Editorial Cáritas deve contactar ‑se Maria Luísa Correia: E ‑mail ‑ [email protected]; ou telemóvel ‑ 218 454 220.

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LIVROS DA EDItORIAL CáRItAS COm ESPECIAL INtERESSE PARA A PAStORAL PENItENCIáRIA

“Criminalidade, geração e educação de menores”

“Proteção Social e reeducação de menores”

“Palavras de Liberdade”;

“O padre das prisões portuguesas”;

“Cuidar do Outro”;

“O cuidar como relação de ajuda”

“Pobreza e Relações Humanas”;

“Criança sem a sua infância”

“Institucionalização no feminino”;

“Crimes e criminosos”;

“O Pensamento Social do Papa Francisco” – volumes I e II

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contactos da Pastoral PenitenciÁria de PortUgal

Página web: www.pastoralpenitenciariadeportugal.ptFacebook: https://www.facebook.com/PastoralPenitenciáriaPortugal Twitter: https://twitter.com/Pastoral_peniteE ‑mail: [email protected]

CONFERêNCIA EPISCOPAL PORTuGuESACOMISSãO EPISCOPAL DA PASTORAL SOCIAL E DA MOBILIDADE HuMANACoordenação Nacional da Pastoral PenitenciáriaQuinta do Bom PastorEstrada da Buraca, 8 ‑12 | 1549 ‑025 LISBOATel. 218 855 460

Coordenador Nacional da Pastoral PenitenciáriaPe. João GonçalvesCasa Sacerdotal Rua São Tiago, n.º 8 | 3814 ‑506 AveiroE ‑mail: [email protected]óvel: 966555915

Equipa de Coordenação Nacional da Pastoral PenitenciáriaÁrea Religiosa: Pe. João Nogueira (962436020) e Pe. Davide Matamá (915806085)Área Social: Paulo Neves (962360276)Área Jurídica: Ricardo Cavaleiro (963173480)Área da Comunicação: Inês Leitão (964972597)