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REVISTA LINGUASAGEM www.letras.ufscar.br/linguasagem PROJETO DE CENTRO DE PESQUISA Nome: FEsTA - Fórmulas e estereótipos: teoria e análise Coordenador: Prof. Dr. Sírio Possenti Vice-coordenador: Prof. Dr. Tânia Maria Alkmim 1. CARACTERIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA Convivemos com clichês, fórmulas e estereótipos. Em alguns casos, trata-se mais de elementos da língua(gem). Em outros, trata-se de construtos histórico-sociais - pensam-se freqüentemente os grupos humanos por meio de estereótipos, o que freqüentemente condiciona discursos na política, na literatura, na publicidade, na escola, ao mesmo tempo em que é nesses lugares que eles surgem e se mantêm. As fórmulas circulam muito mais do que se imagina, talvez. E numerosos discursos se fundam em estereótipos. Mas não só os discursos atuais estão cheio de fórmulas - clichês, slogans, provérbios, lugares comuns. Desde sempre, “frases” foram separadas de seus contextos ou co-textos e proferidas isoladamente, como se fossem enunciados acima e fora dos textos comuns – sejam esses textos literários, religiosos, políticos, científicos, filosóficos. O fenômeno sempre ocorreu, mas talvez se tenha intensificado no mundo contemporâneo. A mídia é talvez seu principal veículo: manchetes, “olhos”, frases da semama... O que Maingueneau chamou destacabilidade, e seu correlato, a enunciação aforizante, é um fenômeno discursivo que será considerado de forma particular. A relação entre língua, ideologia e sociedade é freqüentemente de mão dupla/tripla. Um estereótipo social pode ser crucial para um texto, um texto pode seguir ou ser uma fórmula. Assim, estamos convictos de que nos dedicaremos a um tema múltiplo, por um lado, e extremamente significativo, por outro. 2. OBJETIVOS Gerais

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PROJETO DE CENTRO DE PESQUISA

Nome: FEsTA - Fórmulas e estereótipos: teoria e análise

Coordenador: Prof. Dr. Sírio Possenti

Vice-coordenador: Prof. Dr. Tânia Maria Alkmim

1. CARACTERIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA

Convivemos com clichês, fórmulas e estereótipos. Em alguns casos, trata-se

mais de elementos da língua(gem). Em outros, trata-se de construtos histórico-sociais -

pensam-se freqüentemente os grupos humanos por meio de estereótipos, o que

freqüentemente condiciona discursos na política, na literatura, na publicidade, na escola,

ao mesmo tempo em que é nesses lugares que eles surgem e se mantêm. As fórmulas

circulam muito mais do que se imagina, talvez. E numerosos discursos se fundam em

estereótipos.

Mas não só os discursos atuais estão cheio de fórmulas - clichês, slogans,

provérbios, lugares comuns. Desde sempre, “frases” foram separadas de seus contextos

ou co-textos e proferidas isoladamente, como se fossem enunciados acima e fora dos

textos comuns – sejam esses textos literários, religiosos, políticos, científicos,

filosóficos.

O fenômeno sempre ocorreu, mas talvez se tenha intensificado no mundo

contemporâneo. A mídia é talvez seu principal veículo: manchetes, “olhos”, frases da

semama... O que Maingueneau chamou destacabilidade, e seu correlato, a enunciação

aforizante, é um fenômeno discursivo que será considerado de forma particular.

A relação entre língua, ideologia e sociedade é freqüentemente de mão

dupla/tripla. Um estereótipo social pode ser crucial para um texto, um texto pode seguir

ou ser uma fórmula.

Assim, estamos convictos de que nos dedicaremos a um tema múltiplo, por um

lado, e extremamente significativo, por outro.

2. OBJETIVOS

Gerais

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Analisar a inter-relação entre os textos-fórmula (provérbios, adivinhas, piadas,

aforismos, clichês, idiomatismos), bem como suas relações com a exterioridade

lingüística, vale dizer, fenômenos histórico-sociais.

Reunir pesquisadores de diversas instituições interessados em desenvolver pesquisas em

torno das questões mencionadas, e sob diversos enfoques.

Específicos:

Estudar as condições de funcionamento dos textos-fórmula, especialmente sua ligação

com as “verdades” correntes, por um lado, e como pretensas formulações de verdades,

por outro.

Estudar os clichês, lugares de sentido estabilizado, derivados dos textos-fórmula.

Estudar a ligação entre estereótipos e humor.

Estudar a relação entre ethos e estereótipos.

Estudar os idiomatismos, lugar de relação particular entre forma e sentido.

Estudar os slogans, textos-fórmula que se fundam em ou impõem verdades comuns.

3. PESQUISADORES:

Sírio Possenti (Doutor / Unicamp)

Tânia Maria Alimim (Doutora / Unicamp)

Vandersi Santana Castro (Doutora – Unicamp)

Sonia Aparecida Lopes Benites (Doutora / UEM / Pós-doutoranda Unicamp)

Fernanda Mussalin (Doutora / UFU / Pós-doutoranda Unicamp

Luciana Salazar Salgado (Doutora / Pós-doutoranda USP)

Roberto Leiser Baronas (Doutor / UFSCar)

Ana Raquel Motta (Doutoranda Unicamp)

4. PROJETOS INDIVIDUAIS

4.1. HUMOR: FÓRMULAS E ESTEREÓTIPOS

Sírio Possenti (DL-IEL/ CNPq)

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Tenho lido e escrito sobre humor nos últimos 15 anos. Se tivesse que resumir o

que se encontra de fundamental neste discurso, diria que são as fórmulas e os

estereótipos. Á própria piada é, em si, uma fórmula. Mas, além disso, as piadas

freqüentemente exploram fórmulas (por exemplo, subvertem provérbios, relêem ou

traduzem “literalmente” idiomatismos etc.) e se referem a estereótipos (baianos,

mineiros, judeus, políticos, médicos, advogados, meninos na escola etc.).

Meu interesse particular, nos projetos que o FEsTA deverá desenvolver, se

concentra na exploração de outras fórmulas pela fórmula piada, ou seja, por piadas nas

quais provérbios, aforismos, charadas, idiomatismos etc. estejam de alguma forma

“presentes” (citados, alterados, aludidos etc.).

A pesquisa, por um lado, deverá concentrar-se em mecanismos “internos”, os

lingüístico-discursivos (análise de elementos da estrutura das fórmulas, de sua função

“ideológica” e de sua circulação); por outro, em elementos “externos”, notadamente os

estereótipos (sua possível “origem” histórica, e, especialmente, a explicitação dos

“exageros” a que os estereótipos são submetidos para funcionarem no discurso

humorístico; p. ex., se o advogado cobra, independentemente do resultado da ação e das

posses do “réu”, então ele “toma, assalta”).

Acesso ao lattes: http://lattes.cnpq.br/0113877782649597

Algumas publicações relacionadas aos temas

1998

- Os humores da língua. Campinas, Editora Mercado de Letras. 1998. 152 p

- “Notas sobre provérbios e análise do discurso”. In: : Estudos Lingüísticos,

XXVII. São José do Rio Preto, UNESP-IBILCE. pp. 784-788.

2002

- "Estereotipos e identidad en los chistes". Revista Cuicuilco, Nueva Epoca, Volumen 9,

Número 24, enero-abril 2002 Mexico, Escuela Nacional de Antropología e

Historia. pp. 235-245.

- “Notas sobre el humor político”. In: Signos literários y lingüísticos, 4 (1).

Iztapalaga, Universidad Autónoma Metropolitana. pp. 171 – 194.

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2001

- “O humor e a língua”. in: Ciência Hoje, 30 (176). Rio de Janeiro, SBPC. pp. 72-74

2003

- “As mesmas fantasias”. in Estudos lingüísticos, XXXII. Taubaté, GEL-UNITAU.

(CD-ROM)

- “Limites do humor”. in: Letras, 22 (Língua e literatura: limites e fronteiras). Santa

Maria, UFSM - Programa de Pós-graduação em Letras. pp. 103 -110

2006

- “Uma representação humorística do feminino”. In: Estudos lingüísticos,

XXXIV. www.gel.org.br/4publica-estudos-2006. 8 pgs.

- “Explicar piadas, Freud explica”. In: Polifonia, 12 (1). Cuiabá, UFMT. pp. 01-

20

2007

- “Ethos e corporalidade em textos de humor”. in: Motta, A. R. e Salgado, L. (orgs).

Ethos discursivo. S. Paulo, Editora Contexto. pp. 149-156 . 2007

- “Ler uma piada”. In: Mari, H. Walty, I. e Fonseca, M. N. S. (orgs). Ensaios sobre

leitura 2. Belo Horizonte, Editora PucMinas. pp. 337-351. ISBN 978-85-

60778-11-9 2007

2008

- “Slogans que se retomam” in: Tasso, I. (org.). Estudos do texto e do discurso:

interfaces entre língua(gens), indentidade e memória. São Carlos: Editora

Claraluz. pp. 17-28. ISBN 858863835-5. 2008

- “Humor e diálogo” in: Bastos, N. B. (org). Língua portuguesa - lusofonia,

memória, e diversidade cultural. S. Paul: Educ. pp. 237-246. ISBN976-85-

283-0379-7 2008

Dissertações e teses orientadas

2001

- A polifonia irreverente do texto de humor político – Maria Cristina de Moraes

Tafarello – Doutorado

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2004

- “Análise do discurso humorístico: as relações marido e mulher nas piadas de

casamento” – Gesiane Monteiro Branco Folkis - Doutorado.

2005

- “Piadas regionais: o caso dos gaúchos” – Gustavo Conde - Mestrado.

2007

- “Humor em provérbios alterados” – Márcio Antonio Gatti – Mestrado

4.2 JOGOS VERBAIS: UM ESTUDO SOBRE TRADIÇÃO ORAL

Tânia Maria Alkmim e Vandersi Santana Castro

Ainda como um recurso característico de sociedades de tradição oral, os trava-línguas se

transmitem e se conservam com função lúdica e pedagógica (educativa) – ensinam

enquanto divertem (Calvet 1984). Consistem em enunciados de características

particulares, mais ou menos cristalizados, propostos como desafios ao desempenho (à

elocução) do falante, a quem cabe enunciá-los com rapidez e sem tropeços, sem

equívocos. A dificuldade de articulação/ pronúncia leva ao erro (quando não à cacofonia

e ,esmo ao tabu lingüístico) e ao riso. Nisso consiste o caráter lúdico dessas fórmulas. O

seu caráter pedagógico, educativo, de que o falante mal se dá conta, consiste na fixação

e na prática da pronúncia adequada de consoantes ou encontros consonantais da língua,

que, encadeados no enunciado, exigem particular atenção por parte do falante para a

manutenção dos traços distintivos em questão. Conforme classificação de Weitzel

(2002), os trava-línguas variam em sua constituição, indo dos mais simples (que

destacam um só fonema, um só ponto de articulação), aos compostos (que envolvem

mais de um fonema, mais de um ponto de articulação), até os mais complexos (que

alternam fonemas consonantais e com encontros consonantais). [Escaparia à

classificação do autor casos de trava-línguas que jogam co oposições do tipo

sonora/surda, por exemplo? – signo/desígnio].

Os trava-línguas são encontrados entre vários povos e línguas. Evidentemente,

entre as comunidades de tradição exclusivamente oral, sua importância na transmissão

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de conhecimentos sobre a língua é fundamental. Nas sociedades letradas, esses jogos

lingüísticos também fazem parte, tradicionalmente, da experiência infantil. Apesar de

sua função pedagógica, a escola não parece ter explorado esse material. As questões que

poderiam colocar-se em uma pesquisa sobre esses enunciados formaulaicos se voltariam

para uma avaliação da manutenção ou não dessa tradição: - as crianças de hoje/ e

mesmo os jovens têm familiaridade com esse tipo de enunciado? - em que contextos se

dá a aquisição (ainda que passiva) e o uso desse tipo de jogo lingüístico? - no caso de

não se manter a tradição, que jogo de linguagem ocuparia seu lugar?

Objetivos:

1. Constituir um corpus de textos orais quem envolvam jogos de linguagem, como

línguas secretas infantis, trava-línguas, adivinhas e parlendas – fórmulas de

jogar, fórmulas de escolha...);

2. Analisar os processos e saberes lingüísticos envolvidos;

3. Verificar a vitalidade desses textos orais na atualidade (conhecimento, uso,

memória).

Na primeira etapa, o projeto focalizará os trava-línguas.

Referências bibliográficas

CALVET, L. J. La tradition orale. Paris, PUF. 1984

WEITZEL, A. H. Folcterapias da fala: breve estudo dos trava-línguas e da linguagem

secreta, colhidos em pesquisa na região de Juiz de Fora (MG). Juiz de Fora, UFJF, 2002

Acesso ao lattes:

4.3. CITAÇÕES E TEXTOS-FÓRMULA NA REVISTA VEJA

Sônia Aparecida Lopes Benites (UEM / UNICAMP)

Objetivos: 1. analisar a seção O Brasil em frases, da revista VEJA (edição nº 2077,

setembro de 2008), focalizando a produção de sentidos em citações apresentadas como

representativas do momento sócio-político-cultural do Brasil, no período que vai de

1968 a 2008; 2. analisar as características do discurso relatado, relacionando-o aos

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textos-fórmula; 3. identificar situações em que o discurso relatado deixa de ser

embreado, desvinculando-se da situação de enunciação, ou possui mais de uma

possibilidade de embreagem, remetendo a situações diversas, numa independência

característica dos textos-fórmula; 4. identificar discursos relatados cujas características

formais “imitam” o gênero proverbial, sob forma de captação ou subversão.

Resumo: A pesquisa proposta pretende analisar a seção O Brasil em Frases da revista

VEJA (edição nº 2077, setembro de 2008), de caráter pretensamente histórico,

focalizando especificamente a produção de sentidos em citações apontadas como

representativas da realidade brasileira, no período que vai de 1968 a 2008. Embora

assuma um valor de documento histórico, a seleção de enunciados e de enunciadores e

as glosas do enunciador citante frequentemente provocam uma discordância enunciativa

que resulta numa tensão entre as duas vozes, com nuances de ironia, menosprezo ou

caçoada. As declarações elencadas tecem um texto integral, que atinge coerência pela

unidade semântica estabelecida no confronto entre elas. Seu viés temático volta-se para

as mazelas do Brasil, particularmente as relacionadas à corrupção, impunidade,

desonestidade, desigualdade, ignorância e incompetência. As frases compreendem um

lema e um slogan, ambos referentes ao regime militar, e a declaração de um ex-

embaixador americano no Brasil. As demais são atribuídas a brasileiros bem-sucedidos

em diversas áreas: políticos, artistas, empresários, economistas, esportistas, escritores e

modelos. Tendo como principal aporte teórico os estudos de Authier-Revuz (1998 e

2004) e Maingueneau (2004, 2005 e 2006), a pesquisa objetiva analisar, ao lado do

discurso relatado, os textos-fórmula que remetem à fala do outro, sem que o enunciador

citante se apresente como responsável pela fala citada. A comparação entre ambos

mostra que, contrariamente a tais textos-fórmula, a citação remete à situação de fala e

possui um enunciador identificável. Ela é embreada, portanto. Contudo, pode deixar de

sê-lo ou pode remeter a situações diversas. Um exemplo do primeiro caso é o enunciado

“Que país é esse?”, apontado pela revista como um dos mais significativos proferidos

no Brasil, nos últimos quarenta anos. Originariamente embreado, esse enunciado

desvinculou-se da situação de enunciação, comportando, atualmente, a independência

característica dos textos-fórmula. Outra situação é a do discurso relatado que possui

mais de uma possibilidade de embreagem, ou seja, um enunciado que pode remeter a

situações diversas, como “Ninguém segura este país”, enunciado pela primeira vez em

1970 e repetido em 2008, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em situação

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inteiramente diferente. Considerando que textos-fórmula possibilitam a reflexão sobre

os processos de captação e subversão, que permitem ao enunciador apoiar sua fala sobre

a fala de um outro, a pesquisa pretende verificar a existência de citações com

características que “imitam” o gênero proverbial, seja valorizando-o, seja

desqualificando-o. A opção metodológica escolhida, baseada em Maingueneau (2006),

consiste em desestruturar as unidades instituídas, explorar a dispersão, definindo

percursos, a partir da interpretação de relações estabelecidas no interior do

interdiscurso. Tal procedimento implicará: a identificação de redes de unidades lexicais

ou proposicionais provenientes do interdiscurso; a focalização da retomada ou

transformação de uma mesma fórmula em uma série de textos, ou nas diversas

recontextualizações de “um mesmo texto”; a identificação de percursos formais, como

determinada forma de discurso relatado. Essa circulação no interdiscurso para fazer

aparecer relações invisíveis obedecerá a um conjunto de princípios e técnicas, que

possibilitarão justificar as escolhas operadas.

Acesso ao currículo: http://lattes.cnpq.br/8970977949384491

Principais atividades: é graduada em Letras Anglo-portuguesas, pela Universidade

Estadual de Maringá (1975), mestre em Letras (área de concentração Lingüística) pela

Universidade Federal de Santa Catarina (1978) e doutora em Letras (área de

concentração Filologia e lingüística portuguesa), pela Universidade Estadual Paulista

Júlio de Mesquita Filho (1995). É pesquisadora colaboradora no IEL/Unicamp, onde

desenvolve a pesquisa "Pragmática e Análise do Discurso: um diálogo teórico", em

nível de pós-doutorado, sob a supervisão do professor Sírio Possenti. Desde 1981, é

professora da Universidade Estadual de Maringá, pertencendo atualmente à classe de

professor Associado, nível C. Desenvolve pesquisas em duas linhas: Ensino-

aprendizagem de línguas e Estudos do Texto e do Discurso. No âmbito da primeira, atua

principalmente nos seguintes temas: ensino-aprendizagem de língua materna; formação

do professor; leitura e interação em sala de aula. Em relação à segunda linha, interessa-

se pelas relações existentes entre os conceitos de subjetividade, identidade e autoria,

todos eles perpassados pelo conceito de heterogeneidade do sujeito e de seu discurso.

Seu trabalho mais relevante nessa linha de pesquisa resultou no livro Contando e

fazendo a história: a citação no discurso jornalístico (São Paulo: Arte e Ciência &

Núcleo Editorial Proleitura, 2002), que trata dos aspectos lingüístico-discursivos

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envolvidos no relato de falas, particularmente em textos jornalísticos. Integra três

grupos inscritos no CNPq: “GEPOMI – Grupo de Estudos Político-midiáticos” (UEM),

“Leitura e Literatura na Escola” (Unesp – Assis/ UEL/ UEM/ PUC-RS/ UFG) e

“Questões de teoria e análise em Análise do Discurso” (Unicamp).

Publicações recentes:

Capítulos de livros

Identidade e construção do mundo no (e pelo) discurso: uma reflexão a respeito do

conceito de ethos. In: Ismara Tasso. (Org.). Estudos do texto e do discurso: interface

entre língua (gens), identidade e memória. 1 ed. São Carlos: Editora Claraluz, 2008,

v. 1, p. 103-114.

A intertextualidade na literatura juvenil: uma leitura possível de A marca de uma

lágrima. In: João Luiz Cardoso Tápias Ceccantini e Rony Farto Pereira. (Org.).

Leituras Juvenis: outros modos de ler. 1 ed. São Paulo/Assis: Editora

Unesp/Associação Núcleo Editorial Proleitura, 2007, v. 1, p. 101-110.

O professor de português e seu discurso. In: Vilson J. Leffa. (Org.). A Interação na

Aprendizagem das Línguas. 2ª ed. Pelotas - RS: EDUCAT -Editora da Universidade

Católica de Pelotas, 2006, v. , p. 15-34.

BENITES, S. A. L.; PAZINI, M. C. B.; PEREIRA, R. F. Por uma gramática do chão.

In: Sonia Aparecida Lopes Benites; Rony Farto Pereira. (Orgs.). À roda da leitura:

Língua e literatura no jornal PROLEITURA. 1 ed. São Paulo: Cultura Acadêmica

Editora / Núcleo Editorial Proleitura, 2004, v. 1, p. 91-99.

BENITES, S. A. L.; SILVA, A. G.; MORAES, M. L. Análise Lingüística: teoria e

prática. In: ZANCHETTA Jr., J.; PEREIRA, R. F.; CECCANTINI, J. L. C. T.. (Orgs.).

Pedagogia Cidadã - Cadernos de Formação: Língua Portuguesa. São Paulo: Unesp,

2004, v. 2, p. 149-160.

Organização de livros

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BENITES, S.A.L. E PEREIRA, R.F. (orgs). À roda da leitura: Língua e literatura no

jornal PROLEITURA. 1 ed. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora / Núcleo Editorial

Proleitura, 2004.

4.4. ESTEREÓTIPOS FEMININOS NO DISCURSO PUBLICITÁRIO:

CENOGRAFIAS E PROCESSOS DE INCORPORAÇÃO

Fernanda Mussalin (UFU/UNICAMP/CNPq)

RESUMO

O intuito fundamental deste projeto é abordar a problemática da

construção/reprodução de estereótipos femininos em propagandas publicadas em

revistas destinadas à mulher, entre os anos 1980 e 2000 no Brasil, e sua possível relação

com o processo de identificação da mulher brasileira com tais estereótipos.

Tomarei como base teórica pra desenvolver esse projeto os conceitos de cena de

enunciação (cena englobante, cena genérica e cenografia), dêixis discursiva, ethos e

incorporação, tais como concebidos por Dominique Maingueneau.

Minha hipótese é que a identificação do sujeito-leitor com as identidades

femininas (ou com a identidade feminina plural) construídas no/pelo discurso

publicitário não se dá com as imagens veiculadas pelo anúncio e com os enunciados do

texto da propaganda. Diferentemente, o que este projeto visa sustentar é que essa

identificação implica um processo de incorporação, por parte dos sujeitos-leitores, dos

estereótipos construídos nesse/por esse discurso. Especificando um pouco mais, diria

que esse processo de incorporação ocorre a partir das cenografias (e das dêixis nelas/por

elas construídas), na medida em que instauram um “espaço narrativo simbólico” no

interior do qual o leitor é interpelado a inscrever-se como um co-enunciador que,

ocupando diversos “lugares sociais”, vai se constituindo enquanto sujeito que se move,

incorporando diversas identidades e, supostamente, identificando-se com elas.

Referências bibliográficas

CHARAUDEAU, Patrick, MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do

Discurso. São Paulo: Contexto, 2004.

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MAINGUENEAU, Dominique. O contexto da obra literária. Campinas, Martins

Fontes, 1995.

MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em Análise do discurso. Campinas:

Martins Fontes, 1997.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. 2. ed. São Paulo:

Cortez, 2002.

MAINGUENEAU, Dominique. Gênese dos discursos. Trad. Sírio Possenti. Curitiba:

Criar Edições, 2005.

MAINGUENEAU, Dominique. O discurso literário. São Paulo: Contexto, 2006.

Acesso ao currículo: http://lattes.cnpq.br/0136945472934290

Sobre a pesquisadora: Possui graduação em Letras pela Universidade Estadual de

Campinas (1987), mestrado em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas

(1996) e doutorado em Lingüística pela mesma universidade (2003). É professora da

Universidade Federal de Uberlândia, atuando na graduação e pós-graduação. Tem

experiência na área de Lingüística, com ênfase em Análise do Discurso, realizando

atualmente pesquisas em torno dos seguintes temas: identidade lingüística nacional;

constituição de posicionamentos discursivos no campo da arte (abrangendo literatura,

música e pintura); processos de constituição de identidades femininas no discurso

publicitário; gêneros de discurso. É integrante dos grupos de pesquisa “Questões de

teoria e de análise em análise do discurso” (QTAAD/UNICAMP) e do “Grupo de

Pesquisa em Análise do Discurso” (GPAD-UFU), ambos certificados pelo CNPq.

Coordena o Círculo de Estudos do Discurso (CED), um grupo de estudos vinculado ao

GPAD. Atualmente desenvolve, em nível de pós-doutoramento, o projeto “Uma

abordagem discursiva sobre as relações entre ethos e estilo”, sob a supervisão do Prof.

Dr. Sírio Possenti (IEL/UNICAMP).

Publicações mais recentes:

Capítulos de livros

BERTOLDO, Ernesto Sérgio; MUSSALIM, Fernanda. Análise do Discurso: aspectos

da discursividade no ensino. In: BERTOLDO, Ernesto Sérgio; MUSSALIM, Fernanda.

REVISTA LINGUASAGEM www.letras.ufscar.br/linguasagem

(orgs.). Análise do Discurso: aspectos da discursividade no ensino. Goiânia: Trilhas

Urbanas, 2006, p. 15-21.

MUSSALIM, Fernanda. A constituição de identidades como efeito discursivo: em pauta

as reflexões dos primeiros modernistas sobre a constituição de uma identidade nacional.

In: NAVARRO, Pedro (org.). Estudos do Texto e Discurso: mapeando conceitos e

métodos. 1 ed. São Carlos: Claraluz, 2006, p. 271-278.

MUSSALIM, Fernanda. O fragmento como índice da natureza axiológica dos gêneros

do discurso: um caminho para a reconstituição da história da modernidade estética. In:

SANTOS, João Bosco Cabral dos; FERNANDES, Cleudemar Alves. (orgs.). Análise do

Discurso: objetos literários e midiáticos. Goiânia: Trilhas Urbanas, 2006, p. 101-109.

MUSSALIM, Fernanda. Considerações em torno do conceito de contra-cultura no

ideário estético modernista. In: FERNANDES, Cleudemar Alves, SANTOS, João

Bosco Cabral dos. (orgs.). Percursos da Análise do Discurso no Brasil. São Carlos:

Claraluz, 2007, p. 177-184.

MUSSALIM, Fernanda. A Progressão referencial: um processo de recategorização

produtor de heterogeneidade semântica. In: FONSECA-SILVA, Maria da Conceição;

PACHECO, Vera; LESSA-DE-OLIVEIRA, Adriana. (orgs.). Em torno da lingua(gem):

questões e análises. Vitória da Conquista: Editora da UESB, 2007, p. 331-358.

MUSSALIM, Fernanda. Uma abordagem discursiva sobre as relações entre ethos e

estilo. In: MOTTA, Ana Raquel, SALGADO, Luciana (orgs). Ethos discursivo.

São Paulo: Contexto, 2008, p. 70-81.

MUSSALIM, Fernanda. A propósito das unidades não-tópicas em Análise do Discurso.

In: POSSENTI, Sírio, BARONAS, Roberto Leiser (orgs). Contribuições de

Dominique Maingueneau para a Análise do Discurso do Brasil. São Carlos: Pedro

& João Editores, 2008, p. 95-109.

Artigos em periódico

REVISTA LINGUASAGEM www.letras.ufscar.br/linguasagem

MUSSALIM, Fernanda. A constituição de identidades femininas no discurso

publicitário. Estudos da Língua(gem): representações do feminino. Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia, v.5, n.1, (jun., 2007). Vitória da Conquista:

Edições Uesb, 2007, p. 109-124.

MUSSALIM, Fernanda, MENDONÇA, Marina Célia. Apontamentos acerca da crença

na neutralidade do discurso: em pauta a problemática da produção de sentidos. In:

FIGUEIREDO, M. F., MENDONÇA, M.C., ABRIATA, V.L.R. (orgs.) Sentidos

em movimento: identidade e argumentação. Franca: Ed. da Unifran, 2008.

Livros

MUSSALIM, Fernanda, MEIRELLES, Helena Henry. Viver aprender unificado 5 e 6

séries: linguagem e matemática. São Paulo: Educação de Jovens e Adultos.

Global, 2007. Livro do Estudante. 320 p.

MUSSALIM, Fernanda, MEIRELLES, Helena Henry. Viver aprender unificado 5 e 6

séries: linguagem e matemática. São Paulo: Educação de Jovens e Adultos.

Global, 2007. Livro do Professor. 237 p.

MUSSALIM, Fernanda. Lingüística I. Curitiba: IESDE Brasil, 2008. 151 p.

Organização de livros

TRAVAGLIA, Luiz Carlos, BERTOLDO, Ernesto Sérgio, MUSSALIM, Fernanda, et

al. (orgs.). Lingüística: caminhos e descaminhos. CD-Rom. Uberlândia: EDUFU,

2006.

BERTOLDO, Ernesto Sérgio, MUSSALIM, Fernanda (orgs.). Análise do Discurso:

aspectos da discursividade no ensino. Goiânia: Trilhas Urbanas, 2006. 298 p.

FERNANDES, Cleudemar Alves, BERTOLDO, Ernesto Sérgio, MUSSALIM,

Fernanda, et al. (orgs.). Análise do Discurso: perspectivas. Uberlândia: EDUFU,

2007.

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4.5. SLOGANS POLÍTICOS E PUBLICITÁRIOS BRASILEIROS: PROBLEMAS

DE CITAÇÃO, DESTACABILIDADE E HIPERENUNCIAÇÃO?

Roberto Leiser Baronas (DL-PPGL-UFSCar)

O slogan é digno de um lugar importante dentre os problemas de comunicação e

controle sociais, principalmente numa sociedade panóptica e multimidiática como a

nossa. Embora pouco estudado, esse enunciado de curta extensão ocupa posição central

entre os problemas da propaganda política partidária e governamental e da publicidade

privada. Estribada nos pressupostos teórico-metodológicos da Analise do Discurso de

orientação francesa, especificamente em recentes trabalhos teóricos e analíticos de

Dominique Maingueneau (2005; 2006; 2007 e 2008), essa pesquisa visa a analisar o

funcionamento discursivo de slogans políticos e publicitários brasileiros do final dos

anos noventa até os dias atuais.

Os trabalhos de Maingueneau que ancoram nossa pesquisa têm em comum o

fato de proporem um novo olhar para se pensar questões realcionadas à enunciação do

discurso de outrem. Se Benveniste ao pensar os procedimentos subjetivos de

transformação da língua em discurso pode ser considerado o primeiro estudioso a tratar

da citação no interior da lingüística, por sua vez, Mikail Bakhtin ao trabalhar a polifonia

no interior do discurso de Dostoiéwski foi o primeiro estudioso a pensar essa mesma

problemática no âmbito do discurso. Maingueneau contudo avança em relação a estes

dois estudiosos, pois tratará da enunciação do discurso reportado com base em um

mirante totalmente novo, ou seja, refeletirá sobre a enunciação desse tipo de discurso na

relação de inscrição enunciativa que os enunciadores do discurso de outrem mantêm

com a comunidade a qual pertencem ou a qual buscam pertencimento.

Como corpus de slogans políticos mobilizaremos os veiculados pelos

candidatos a presidente do Brasil nas eleições presidenciais de 1998, 2002 e 2006. E

como corpus de slogans publicitários tomaremos alguns dos slogans veiculados nos

mais diversos textos publicitários pelo jornal Folha de S. Paulo; Revista Veja e Carta

Capital, também a partir de 1998 até os dias de hoje. Para a seleção destes últimos,

adotaremos a problemática desenvolvida por Maingueneau (2008) para os enunciados

destacados. Tais enunciados segundo Maingueneau estão relacionados a uma

enunciação ‘aforizante’, distinta da enunciação usual que sustenta os textos”. Desse

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modo, trabalharemos com os slogans publicitários que constroem cenas enunciativas

aforizantes, isto é, enunciados que constroem essas cenas com o “estatuto de um

condensado semântico”, que ora subvertem, ora reproduzem o interdiscurso que os

sustenta. Ademais, objetivamos verificar em que medida tanto os slogans políticos

quanto os publicitários constroem cenas que além de aforizantes são também

“morabilizantes”, isto, cenas destinadas a engendrar determinadas práticas de

subjetivação nos indivíduos.

Composta em forma de três grandes hipóteses de trabalho, a pesquisa realizará

primeiramente, uma rápida discussão teórica acerca do arcabouço teórico-metodológico

desenvolvido por Dominique Maingueneau, a partir da publicação do livro Gênese dos

Discursos em 1984 no tocante à problemática da heterogeneidade enunciativa. Trata-se

de realizar uma espécie de cartografia da maneira como Maingueneau vem tratando a

questão da heterogeneidade do início dos anos oitenta até os dias atuais. Na segunda

hipótese, refletiremos sobre o papel das diversas mídias na constituição histórica dos

slogans políticos e publicitários. Na terceira, e última, trabalharemos com as categorias

destacabilidade, sobreasseveração e sobreasseverador e hiperenunciação e particitação

desenvolvidas por Dominique Maingueneau (2005; 2006; 2007 e 2008), procurando

verificar inicialmente como os slogans se difereciam de outros enunciados de curta

extensão: adágios, máximas, provébios, etc.

Ao empreendermos a diferenciação enunciada não buscaremos somente realizá-

la em termos de descrição de significante e de significado ou de descrição de estilo

verbal, conteúdo temático e estrutura composicinal, isto é, em termos de gênero

discursivo, mas além disso, tentaremos verificar as razões pelas quais alguns desses

enunciados se apresentam com mais condições do que outros de serem destacados do

seu co-texto e, por conta disso, dados a circular nas diversas mídias e, também como

cada um desses enunciados constrói um ethos apropriado para os seus enunciadores,

mobilizando distintos fiadores.

PALAVRAS-CHAVE: Slogan; discurso; política; mídia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MAINGUENEAU, D. Gênese dos discursos. Trad. Sírio Possenti. Curitiba, PR: Criar

Edições, 2005.

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_____. Cenas da Enunciação. Org. de Sírio Possenti e Maria Cecília Perez de Souza-e-

Silva. São Paulo, SP. Parábola Editorial, 2008.

_____. Polifonia e cena da enunciação na pregação religiosa. In. LARA, G. M. P. [et

alli] (Orgs.) Análises do discurso hoje. v. 01. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2008.

Trabalhos publicados sobre slogans

BARONAS, R. L. Slogan político, poder e identidade: efeito bonsai. In: Maria da

Conceição Fonceca-Silva; Sírio Possenti. (Org.). Mídia e rede de memória. 1 ed. Vitória

da Conquista: Editora Universitária UESB, 2007, v. 01, p. 161-176.

BARONAS, R. L. Slogans políticos brasileiros: uma leitura discursiva. Tese de

Doutorado. UNESP, Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus de Araraquara, Programa

de Pós-Graduação em Lingüística e Língua Portuguesa, 2003.

BARONAS, R. L. Slogan político: um gênero discursivo da modernidade. In: II

Congresso Internacional da Associação Brasileira de Lingüíitica - ABRALIN, 2001,

Fortaleza. Anais do Seminário do Grupo de Estudos Lingüísticos do Nordeste - Gelne,

2001.

BARONAS, R. L. Configurações da memória discursiva em slogans políticos. In: Maria

do Rosário Gregolin. (Org.). Filigranas do Discurso: as vozes da história. 01 ed.

Araraquara - SP: Cultura Acadêmica - Laboratório Editorial - FCL/UNESP -

Araraquara, 2000, v. 01, p. 69-81.

Endereço para o CV lattes: http://lattes.cnpq.br/4613001301744682

4.6. SLOGANS SOBRE LIVRO E LEITURA

Luciana Salazar Salgado (USP/FAPESP)

Objetivos: 1. observar os modos de circulação dos slogans sobre livro e leitura,

considerando sua participação num movimento nacional de formação de leitores; 2.

analisar as características discursivas dos slogans considerando-os como enunciações

cujos efeitos de sentido transitam entre uma verdade universal perene (é importante ser

um leitor) e a produção de verdades circunstanciais (a leitura como acesso a modos de

ser socialmente valorizados num dado momento histórico).

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Resumo: Com base num arquivo de boletins eletrônicos, diários ou semanais, emitidos

por instituições públicas e privadas ligadas ao livro e à leitura, diferentes caminhos de

leitura se dão, conforme as articulações entre eles e as remissões a outros veículos,

eventos, mídias etc. Esse grande fluxo de informações faz crer que há novidades nas

formas de criação, produção e distribuição dos livros, e também nas formas de

mediação da leitura, que se põem cada vez mais contundentemente como estímulo a

uma prática social emancipadora. O fato é que há hoje no Brasil uma efervescência no

mundo dos livros, e é possível verificar isso nesses documentos, principalmente nas

manchetes dos boletins, nos títulos dos fóruns e blogs, nos slogans das campanhas. É

sobre esta modalidade de texto-fórmula que nossa pesquisa se concentra,

acompanhando, na dinâmica rede construída por esses boletins e seus links, os traços de

cada campanha, cada cena de enunciação em que se instituem, nas quais as palavras de

ordem (ou de sedução) conclamam (ou convidam) à leitura e ao consumo de livros. Para

tanto, é possível partir do confronto de duas campanhas. Uma delas de 2005, expressa

no slogan "Ler é gostoso. Tem que ler", patrocinada pelo Fundo Pró-Leitura, que desde

2004 reúne entidades comerciais ou não, que se comprometiam a contribuir com 1% de

seu faturamento para atividades ligadas ao setor livreiro e editorial, constituindo um

fundo de verbas não contingenciáveis, cujo destino, portanto, seria decidido pelas

próprias entidades contribuintes. A campanha estreou na Rede Globo de Televisão e

também foi veiculada em diversas rádios, estrelada por dois jovens atores em evidência

nas novelas televisivas da época, e propunha a leitura como uma atividade da moda,

divertida. No mesmo ano, amplamente organizado em torno de iniciativas educacionais

e de produção cultural, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra abriu os

trabalhos da Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, estado de São Paulo,

com os primeiros cursos de nível superior em funcionamento e variadas ações de

extensão que procuram articular suas escolas pelo território nacional. Em 2007, essas

ações incluíram uma campanha nacional de doação para o acervo de suas bibliotecas.

Endossando a campanha, o patrono da Escola Nacional, professor Antonio Candido, diz

nos cartazes, panfletos e mensagens que circularam na internet: "Não ter acesso ao livro

é ser privado de um alimento fundamental". Como se vê, as conjunturas de

aparecimento desses dois enunciados lhes conferem traços que, por assim surgirem e

circularem, renovam confrontos que fazem do mundo do livro uma unidade

aparentemente necessária – todos concordam que o livro e a leitura importam muito –

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feita de uma heterogeneidade irredutível – o livro é um passatempo gostoso/ o livro é

alimento fundamental. Nossa hipótese é de que há, ainda, variações desses

posicionamentos, e é esse feixe de enunciados sintetizados em slogans que estudaremos.

acesso ao currículo: http://lattes.cnpq.br/5206927424265495

principais atividades: graduada em Letras (Francês e Português) pela FFLCH/USP

(1992), tem licenciatura em Língua Portuguesa pela FE/USP (1994) e especialização em

Comunicação de Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM

(1995). É mestre em Educação (área de concentração: Ciência e Linguagem) pela

FE/USP (1998) e doutora em Lingüística (área de concentração: Análise do Discurso)

pelo IEL/UNICAMP (2007). Trabalhou com variados projetos de editoria no núcleo

técnico Confraria de Textos e tem experiência em edição de textos, com ênfase em

projetos editoriais coletivos e assessoria para coleções, tanto nas atividades executivas

quanto nas de pesquisa e análise. Atualmente trabalha na pesquisa "Formação de

leitores e de leituras" em nível de pós-doutoramento no Departamento de Lingüística da

FFLCH/USP, sob supervisão da Profa. Dra. Norma Discini, como bolsista Fapesp.

publicações recentes:

artigos em periódico

O autor e seu duplo nos ritos genéticos editoriais. Eutomia - revista on line de

Literatura e Lingüística da UFPE, v.1, 2008, p. 525-546.

Resenha do livro "Cenas da enunciação" de D. Maingueneau. DELTA - PUC/SP. São

Paulo: LAEL - PUC de São Paulo, 2008, p. 34-40.

A interlíngua de 'Atrás da catedral de Ruão'. Crítica Companhia – revista on line, ano

II, s/p., 2006.

Um ethos para Hércules - considerações sobre o tratamento editorial de textos.

Gragoatá (UFF) , v.21, 2006, p. 373 - 389.

capítulos de livro

Um ethos para Hércules - produção dos sentidos e tratamento editorial de textos. In:

REVISTA LINGUASAGEM www.letras.ufscar.br/linguasagem

Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 82-94.

Inclusão personalizada: feita "só pra você". In: Desafios do Consumo. Petrópolis:

Vozes, 2007, p. 208-219.

Um acontecimento discursivo sobre a terra. In: Análise do Discurso: literatura e mídia.

Goiânia: Trilhas Urbanas/GPAD-ILEEL-UFU, 2006, p. 241-252.

tradução de artigo

A propósito do ethos. In: Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.

organização de livro

MOTTA, A.R.; SALGADO, L.S. Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008.

4.7. A PALAVRA PROVERBIAL NO RAP BRASILEIRO

Ana Raquel Motta (UNICAP / Fapesp)

Objetivos: 1. observar e descrever o funcionamento de formas cristalizadas nas práticas

verbais da comunidade discursiva do rap nacional; 2. analisar a importância dessa marca

específica para esse funcionamento discursivo; 3. analisar as teorias lingüísticas da

paremiologia, geralmente de base semântica, em termos discursivos.

Resumo: Na produção verbal do rap nacional, destacam-se formas verbais cristalizadas,

com forte presença de slogans, máximas, provérbios, ditos populares e aforismos. Além

de formas já conhecidas, há também uma “proverbialização” na forma lingüística do

que é relativamente “novo” nesses textos, isto é, mesmo o que não é uma forma verbal

cristalizada e conhecida, causa a impressão de que “poderia ser”. Pretendo descrever e

analisar esse fenômeno, tendo como base um arquivo de práticas discursivas do rap

nacional, que inclui CDs, DVDs, shows, clipes e programas de rádio. Pretendo ainda

verificar a pertinência e operacionalidade de postular o “gênero proverbial” (cf.

Lysardo-Dias, 2001) para explicar o funcionamento das formas cristalizadas nesse

discurso.

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Os estudos que, direta ou indiretamente, se debruçam sobre o “gênero

proverbial” - ou formas sentenciosas em geral - enfrentam uma dificuldade inicial: a

definição de provérbio e a validade ou não de sua separação das demais formas fixadas.

Na presente pesquisa não será diferente. Partirei de considerações sobre a definição de

provérbio, sua validade e operacionalidade. Essas análises têm sido feitas sobre bases

semânticas, e pretendo verificar em que medida é possível fazer uma paremiologia de

base discursiva.

Os estudos de paremiologia têm larga tradição, principalmente quando ligados à

antropologia, como a pesquisa da “sabedoria dos povos” ou “das nações”. O interesse

dos lingüistas pelo tema nunca foi muito grande, pois os provérbios sempre foram

considerados uma manifestação lingüística menor, uma curiosidade folclórica fora do

sistema. Eram considerados divertidos apenas.

No entanto, de duas décadas para cá os estudos lingüísticos da paremiologia têm

aumentado, juntamente com a maior importância que tem sido dada para os estereótipos

como peças fundamentais para entendimento dos mecanismos conectivos de uma língua

e de suas anáforas associativas, em particular quando eles envolvem frases genéricas,

em que as noções de sujeito, tempo e espaço não são ligadas a realidades eventuais, e

sim a uma generalidade atemporal, não identificada no espaço e com sujeito genérico.

Daí a ligação dos provérbios, que são um tipo de frase genérica, com os estereótipos da

doxa social.

Outro campo da Lingüística que tem conduzido a atenção da área para a

paremiologia são os estudos com interface informatizada, como os dicionários bilingües

automáticos, a tradução automatizada e o processamento informatizado de fala.

Problema já há muito conhecido dos professores de língua estrangeira, a tradução de

idiomatismos, expressões e frases fixadas se apresenta como um dos pontos mais

desafiantes no processamento automático de uma língua. O que pode significar que seja

um dos pontos mais fecundos e formadores dessa língua.

Anscombre, semanticista pioneiro nos estudos lingüísticos da argumentação e

pesquisador da palavra proverbial, defende que os provérbios fazem parte da língua

enquanto sistema, e não somente enquanto manifestações de algum tipo de folclore

marginal. Ao contrário disso, constituem um sub-sistema do sistema geral da língua.

Além de concordar com Anscombre no que diz respeito à sistematicidade das

estruturas proverbiais na língua em geral, tal idéia se mostra especialmente forte para o

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corpus da presente pesquisa, o rap nacional, uma vez que as estruturas lingüísticas

fixadas parecem ser o ponto principal nesse sistema discursivo.

No entanto, sendo essa uma pesquisa discursiva, a palavra proverbial será

analisada em um discurso que está sendo estudado, verificando qual o lugar dessa

palavra nesse funcionamento discursivo, e por quê.

acesso ao currículo: http://lattes.cnpq.br/4097133468025132

principais atividades: graduada em Bacharelado em Letras pelo IEL/Unicamp (1996).

Graduada em Licenciatura em Letras pelo IEL/Unicamp (1996). Mestre em Lingüística

pelo IEL/Unicamp (2004), área de concentração Análise do Discurso, com orientação

do Prof. Dr. Jonas de Araújo Romualdo. Atualmente é doutoranda em Lingüística pelo

IEL/Unicamp (ingresso em 2006), área de concentração Análise do Discurso, com

orientação do Prof. Dr. Sírio Possenti e bolsa da Fapesp. É professora do curso de

Letras das Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas, METROCAMP (desde

2007, com autorização da Fapesp). É monitora da área de Língua Portuguesa do Cefiel

(Centro de Formação de Professores do IEL/Unicamp).

publicações recentes:

artigos em periódico

MOTTA, Ana Raquel. Resenha do livro "Gênese dos Discursos" de Dominique

Maingueneau. DELTA - volume 24.2. São Paulo: LAEL – PUC-SP, 2008.

MOTTA, Ana Raquel. Romaria: uma análise semiótica. Significação – Revista de

Cultura Audiovisual (ISSN 1516-4330), v. 27, p. 151-168. São Paulo: ECA/USP,

2007.

MOTTA, Ana Raquel . Heterogeneidade Enunciativa nos Racionais MCs. revista on

line Anais do SETA (ISSN 1981-9153), v. 1, p. 63-68. Campinas: IEL/Unicamp,

2007. Disponível em: http://www.iel.unicamp.br/seer/seta/ojs/

MOTTA, Ana Raquel . A favela de influência. Sínteses (ISSN 1981-1314) v. 10, p. 597-

607. Campinas: IEL/Unicamp, 2006.

capítulos de livro

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MOTTA, Ana Raquel. Entre o artístico e o político. In: MOTTA, A.R. & SALGADO,

L. S. Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 97-106.

organização de livro

MOTTA, A.R.; SALGADO, L.S. Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008.

membro de corpo editorial:

Revista Sínteses (ISSN 1981-1314) - volume 11/ 2006

disponível em: http://www.iel.unicamp.br/seer/sinteses/ojs/viewissue.php?id=1

Anais do SETA (ISSN 1981-9153) – volume 1/ 2007

disponível em: http://www.iel.unicamp.br/seer/seta/ojs/

membro de comissão organizadora de evento:

FOSSEY, Marcela Franco; SILVA, Daniel Nascimento e; MOTTA, Ana Raquel;

CASELLA, César Augusto de Oliveira; PEREIRA DA SILVA, Raynice Geraldine;

MELLO, Carlos Augusto; RODRIGUES, Fábio Della Paschoa; ANDRADE, Aroldo

Leal de. XII SETA - Seminário de Teses em Andamento - IEL/Unicamp 2006.