ferreira manhães juliana soares 1 fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar,...

8
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011 Adolescência & Saúde 27 RESUMO Atualmente, no contexto fisioterapêutico, encontra-se uma grande demanda de crianças com lesões neurológicas ou atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor. Dentro da etiologia para tais lesões ou atrasos encontra-se a prematuridade, que pode estar relacionada a gravidez na adolescência. Objetivo: verificar o nível de conhecimento dos adolescentes sobre os riscos da gravidez precoce e ressaltar a importância de campanhas educativas no que diz respeito ao aumento de conheci- mento que poderá gerar uma mudança de comportamento através de ações contínuas. Métodos: a amostra foi composta por 31 adolescentes de ambos os sexos, que cursam o ensino médio na Escola Municipal Julião Nogueira, situada em Campos dos Goytacazes/RJ. Para avaliar o nível de conhecimento dos adolescentes foi utilizado um questionário contendo perguntas fechadas aplicado em dois momentos: pré e pós-palestra. Abordando os temas discutidos na palestra. Resulta- dos: a partir da realização do teste qui-quadrado, foi observado que, nos tópicos que abordavam questões sobre fertilização e anatomia do aparelho reprodutor, métodos contraceptivos e riscos da gravidez precoce para mãe e para o bebê, houve aumento significativo no nível de conhecimento pós-palestra, salvo o tópico relacionado ao pré-natal para o qual não houve diferença significativa. Conclusão: Os resultados da pesquisa demonstram o efeito de palestras educacionais no processo de educação sexual, onde foi possível concluir que as palestras constituem importantes ferramentas no que diz respeito ao aumento de conhecimento, o que pode contribuir para prevenção da gravidez precoce. PALAVRAS-CHAVE Educação em saúde, gravidez precoce, bebê de risco, métodos contraceptivos. ABSTRACT Nowadays, in the physiotherapeutic context, we find a great amount of children with neurological problems or tardiness in neuropsicomotor development. In the ethiology of such problems or tardiness, prematurity can be found, which can be related to teen pregnancy. Objective: verify the teen’s level of knowledge about the risks of premature pregnancy, and clarify the importance of educative campaigns on the growth of knowledge that could generate a change in behavior through continuous actions. Methods: the sample group included 31 teenagers of both sexes, that study in middle school at Escola Municipal Julião Nogueira, situated in Campos dos Goytacazes/RJ. To evaluate the level of knowledge of the teens, a questionary form was used, containing objective questions applied in two moments: pre and post-lecture, containing themes discussed in the lecture. Results: through the use of the qui-squared test, a significant growth in the level of post- lecture knowledge was observed, on the topics of fertilization and reproductive system anatomy, contraceptive methods and risks of premature pregnancy to the mother and baby, except for the topic related to pre-natal, to which there was no significant difference observed. Conclusion: The results of the study demonstrate the effect of educational lectures in the process of sexual education, where it was possible to conclude that the lectures consist in important tools in respect to the growth of knowledge, which can contribute to the prevention of premature pregnancy. KEY WORDS Health education, premature pregnancy, baby risk, contraceptive methods. Fisioterapia e educação em saúde: relação entre gravidez precoce e o bebê de risco Physiotherapy and health education: relationship between early pregnancy and at-risk babies Juliana Soares Ferreira Manhães 1 Neidimara França Pereira 1 Stephanie Coelho Fernandes 1 Adelaine de Souza Alves 2 Lara Luiza Campos de Sousa 3 Eduardo Shimoda 4 1 Fisioterapeuta graduada pela Universidade Estácio de Sá de Campos dos Goytacazes; 2 Fisioterapeuta, Mestre em Cognição e Linguagem, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá de Campos dos Goytacazes; 3 Fisioterapeuta, Mestre em Ciências Fisiológicas, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá de Campos dos Goytacazes;. 4 Zootecnista, Doutor em Produção Animal, Docente de Estatística e Coordenador de Mestrado em Pesquisa da Universidade Cândido Mendes de Campos dos Goytacazes Neidimara França Pereira ([email protected]) - Rua São Benedito, 116 – São João da Barra (RJ) – CEP: 28200-000 Recebido em 26/07/2010 - Aprovado em 23/04/2011 > > > > ARTIGO ORIGINAL

Upload: others

Post on 21-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Ferreira Manhães Juliana Soares 1 Fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o ... assistência

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011 Adolescência & Saúde

27

RESUMOAtualmente, no contexto fi sioterapêutico, encontra-se uma grande demanda de crianças com lesões neurológicas ou atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor. Dentro da etiologia para tais lesões ou atrasos encontra-se a prematuridade, que pode estar relacionada a gravidez na adolescência. Objetivo: verifi car o nível de conhecimento dos adolescentes sobre os riscos da gravidez precoce e ressaltar a importância de campanhas educativas no que diz respeito ao aumento de conheci-mento que poderá gerar uma mudança de comportamento através de ações contínuas. Métodos: a amostra foi composta por 31 adolescentes de ambos os sexos, que cursam o ensino médio na Escola Municipal Julião Nogueira, situada em Campos dos Goytacazes/RJ. Para avaliar o nível de conhecimento dos adolescentes foi utilizado um questionário contendo perguntas fechadas aplicado em dois momentos: pré e pós-palestra. Abordando os temas discutidos na palestra. Resulta-dos: a partir da realização do teste qui-quadrado, foi observado que, nos tópicos que abordavam questões sobre fertilização e anatomia do aparelho reprodutor, métodos contraceptivos e riscos da gravidez precoce para mãe e para o bebê, houve aumento signifi cativo no nível de conhecimento pós-palestra, salvo o tópico relacionado ao pré-natal para o qual não houve diferença signifi cativa. Conclusão: Os resultados da pesquisa demonstram o efeito de palestras educacionais no processo de educação sexual, onde foi possível concluir que as palestras constituem importantes ferramentas no que diz respeito ao aumento de conhecimento, o que pode contribuir para prevenção da gravidez precoce.

PALAVRAS-CHAVEEducação em saúde, gravidez precoce, bebê de risco, métodos contraceptivos.

ABSTRACTNowadays, in the physiotherapeutic context, we fi nd a great amount of children with neurological problems or tardiness in neuropsicomotor development. In the ethiology of such problems or tardiness, prematurity can be found, which can be related to teen pregnancy. Objective: verify the teen’s level of knowledge about the risks of premature pregnancy, and clarify the importance of educative campaigns on the growth of knowledge that could generate a change in behavior through continuous actions. Methods: the sample group included 31 teenagers of both sexes, that study in middle school at Escola Municipal Julião Nogueira, situated in Campos dos Goytacazes/RJ. To evaluate the level of knowledge of the teens, a questionary form was used, containing objective questions applied in two moments: pre and post-lecture, containing themes discussed in the lecture. Results: through the use of the qui-squared test, a signifi cant growth in the level of post-lecture knowledge was observed, on the topics of fertilization and reproductive system anatomy, contraceptive methods and risks of premature pregnancy to the mother and baby, except for the topic related to pre-natal, to which there was no signifi cant difference observed. Conclusion: The results of the study demonstrate the effect of educational lectures in the process of sexual education, where it was possible to conclude that the lectures consist in important tools in respect to the growth of knowledge, which can contribute to the prevention of premature pregnancy.

KEY WORDSHealth education, premature pregnancy, baby risk, contraceptive methods.

Fisioterapia e educação em saúde: relação entre gravidez precoce e o bebê de riscoPhysiotherapy and health education: relationship between early pregnancy and at-risk babies

Juliana Soares Ferreira Manhães1

NeidimaraFrança Pereira1

Stephanie Coelho Fernandes1

Adelaine deSouza Alves2

Lara LuizaCampos de Sousa3

Eduardo Shimoda4

1Fisioterapeuta graduada pela Universidade Estácio de Sá de Campos dos Goytacazes; 2Fisioterapeuta, Mestre em Cognição e Linguagem, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá de Campos dos Goytacazes; 3Fisioterapeuta, Mestre em Ciências Fisiológicas, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá de Campos dos Goytacazes;.4Zootecnista, Doutor em Produção Animal, Docente de Estatística e Coordenador de Mestrado em Pesquisa da Universidade Cândido Mendes de Campos dos Goytacazes

Neidimara França Pereira ([email protected]) - Rua São Benedito, 116 – São João da Barra (RJ) – CEP: 28200-000Recebido em 26/07/2010 - Aprovado em 23/04/2011

>

>

>

>

ARTIGO ORIGINAL

Page 2: Ferreira Manhães Juliana Soares 1 Fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o ... assistência

Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011

28

INTRODUÇÃO

A partir da formulação da lei n° 8080 de 19/09/1990, a saúde no Brasil passou a ser vista de forma integral, onde passou a ser dever do estado garantir a saúde através da formulação e execução de políticas que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e não apenas à realização de ações curativas tendo em vista a doença já instalada, mas sim promoven-do o acesso integral e igualitário da população aos serviços de saúde. O processo de educação em saúde apresenta-se como ferramenta efi caz no que diz respeito ao controle de doenças e de graves problemas de saúde pública, como, por exemplo, os altos índices de prematuridade decorrentes de uma gravidez precoce.

O fi sioterapeuta, como os demais pro-fi ssionais de saúde, tem sólida formação aca-dêmica para atuar no desenvolvimento de programas de promoção da saúde. Porém, fre-quentemente tem suas atividades profi ssionais reconhecidas na reabilitação e na recuperação de pessoas fi sicamente lesadas com atuação, portanto em níveis de atenção secundária e terciária da saúde1,2.

É dentro desta perspectiva de atuação profi ssional que se insere o fi sioterapeuta pre-ventivo, agindo em programas de promoção e proteção a saúde1.

Dentro do contexto fi sioterapêutico, a alta demanda de pacientes em neuropediatria tem chamado a atenção para o grave problema de saúde pública que atinge nossa sociedade, que é a questão da gravidez precoce, pois esta é considerada um fator predisponente à prema-turidade, que, por sua vez, acaba acarretando impedimentos físicos, mentais ou sensoriais, que interferirão no desenvolvimento da criança.

Crianças com lesões neurológicas ou atra-sos no desenvolvimento precisam de assistência multiprofi ssional, embora a disponibilidade de serviços públicos não supra a alta demanda. Esse fator ressalta a importância de investimento em práticas educativas direcionadas à prevenção da gravidez precoce.

Dados do Ministério da Saúde revelam que um milhão de adolescentes fi cam grávidas por ano, ocorrendo aproximadamente 700 mil par-tos dentro do Sistema Único de Saúde, e cer-ca de 300 mil na rede privada. Há uma grande preocupação com o aumento de gestações em adolescentes com menos de 14 anos de idade. O parto constitui hoje a primeira causa de inter-nação em menores de 20 anos; gravidez, parto e puerpério perfazem, em todas as regiões do país, 80,3% do total de internações3.

Em recente estudo apresentado no XVI Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Wong e Bonifácio4, descrevem o comportamento por idade da fecundidade em diversas regiões do país, mostrando um proces-so de mudança devido à acentuada diminuição das taxas de gravidez também nas mulheres mais jovens, e constatam a aceleração da queda da fecundidade no período de 2000-2005.

Segundo as autoras, a maior queda ocor-reu no grupo etário de 20 a 24 anos, mas houve quedas signifi cativas também no grupo de 15 a 19 anos, e esse fator demonstra o papel funda-mental que questões como renda, nível educa-cional e serviços de saúde preventivos, exercem sobre o comportamento dos jovens frente a se-xualidade, sendo portanto, vistos como deter-minantes no processo de conscientização sobre os riscos da gravidez precoce.

Segundo Ciampo, Daneluzzi e Ricco5, o fato de ser a gestante adolescente faz com que ocor-ra uma intensifi cação dos problemas que acon-tecem durante a gestação, visto que esta surge durante a fase de maturação do organismo e esse fator poderá causar uma série de distúrbios para a mãe e para o bebê; acarretando enor-mes prejuízos sociais e familiares, pois a família e toda a sociedade deverão arcar com os custos da assistência médica dos diversos problemas gerados por uma gravidez precoce (maior inci-dência de cesáreas, abortamento, complicações perinatais e hospitalizações).

Embora as crianças nascidas de mães ado-lescentes apresentem alta predisposição a fato-res de risco tanto biológicos, quanto sociais, os

>

FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELAÇÃO ENTRE GRAVIDEZ PRECOCE E O BEBÊ DE RISCO

Manhães et al.

Page 3: Ferreira Manhães Juliana Soares 1 Fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o ... assistência

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011 Adolescência & Saúde

29

serviços de saúde podem atuar de modo deci-sivo, assumindo o problema que é real e grave, preparando-se para prestar atendimento ade-quado a essa nova população de risco que surge em nossa sociedade, estruturando os Programas de Atendimento Pré-Natal e, por outro lado, co-laborando com todos os mecanismos sociais ne-cessários à prevenção da gravidez na adolescên-cia, com programas educativos de promoção da abstinência e contracepção, palestras, cursos, orientação nas escolas e nos locais de trabalho, visando reduzir o número de jovens que engra-vidam precocemente. Existe a preocupação de se estender aos conceptos, que integram outro grupo de risco, principalmente os prematuros5.

Apesar de a sobrevida ter melhorado nos últimos anos, a prematuridade é a principal cau-sa de morbidade e mortalidade neonatal, ao passo que a morbidade está diretamente rela-cionada aos distúrbios respiratórios e às compli-cações infecciosas e neurológicas6.

Segundo um estudo desenvolvido na En-fermaria da Clínica Obstétrica do HCFMUSP no período entre dezembro de 1998 e julho de 2002, os bebês prematuros podem apresentar uma série de complicações, dentre elas estão as complicações respiratórias como asfi xia pe-rinatal, displasia broncopulmonar, necessidade de intubação orotraqueal, apneia; as compli-cações infecciosas como onfalite, broncopneu-monia, sepse, monilíase perineal; as complica-ções metabólicas como icterícia, hipoglicemia e as complicações hematológicas como plaque-topenia e anemia6.

No aspecto motor, a imaturidade na época do nascimento contribui para limitação da força muscular, da motricidade, e do controle sobre o corpo. O lactente prematuro difere do a termo pelo fato de ser incapaz de realizar ajustes postu-rais, em virtude do seu baixo tônus muscular e da imaturidade dos seus sistemas de organização7.

Segundo Mierzwa7, uma vez estabelecido o risco da prematuridade, deve-se avaliar e intervir preventivamente para ativar os recursos da crian-ça. Para tanto, na área da saúde, devem-se asse-gurar programas estruturados e continuados de

assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o desenvolvimento e a qualidade de vida dos bebês nascidos prematuramente. E toda essa assistência que o bebê prematuro necessita, principalmente no ambiente hospitalar, acaba acarretando um alto custo fi nanceiro, mostrando assim a necessi-dade de se investir na prevenção.

Se o fi sioterapeuta integra a equipe que dá assistência ao bebê de risco, passa a ser também de sua responsabilidade a elaboração de estra-tégias específi cas para minimizar tal ocorrência. Portanto, o fi sioterapeuta como profi ssional generalista deve atuar em todos os setores de atenção à saúde, incluindo o setor responsável pela criação de estratégias que viabilizem a pre-venção da gravidez.

A orientação sexual é vista como uma es-tratégia efi ciente no que diz respeito à mudança de comportamento dos adolescentes frente à sexualidade, pois o trabalho educativo se expan-de muito além do fornecimento de informações e conhecimentos sobre saúde reprodutiva. É um processo que envolve o resgate do indivíduo, a promoção da autoestima e a conscientização dos riscos vivenciados; somente dessa manei-ra estabelece-se uma postura saudável frente à vida sexual – o sexo responsável, objetivo maior da educação sexual3.

Uma das formas dos profi ssionais da área da saúde se inserirem na escola para a realização das práticas educativas é através do Programa Saúde na Escola (PSE), instituído pelo decreto presidencial nº. 6.286, de 5 de dezembro de 2007 e tem como objetivo ampliar as ações es-pecífi cas de saúde dos alunos da rede pública de ensino. São quatro componentes do PSE: avaliação das condições de saúde; promoção da saúde e prevenção; educação permanente e capacitação dos profi ssionais e de jovens; moni-toramento e avaliação da saúde dos estudantes.

O objetivo deste estudo foi verifi car o nível de conhecimento dos adolescentes sobre os riscos da gravidez precoce, para a mãe e para o bebê e, além disso, ressaltar a importância de campanhas educativas no que diz respeito ao aumento de

FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELAÇÃO ENTRE GRAVIDEZ PRECOCE E O BEBÊ DE RISCO

Manhães et al.

Page 4: Ferreira Manhães Juliana Soares 1 Fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o ... assistência

Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011

30

conhecimento que poderá gerar uma mudança de comportamento através de ações contínuas.

MATERIAIS E MÉTODOS

AMOSTRA

A amostra foi composta por 31 adolescen-tes de ambos os sexos, com idades entre 14 e 19 anos, que cursam o ensino médio na Escola Municipal Julião Nogueira, situada em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro.

Para avaliar o nível de conhecimento dos adolescentes foi utilizado um questionário con-tendo perguntas fechadas, aplicado em dois momentos, pré e pós-palestra, abordando os temas discutidos na palestra.

PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS Num primeiro momento foram distribuídos

os termos de consentimento para os responsáveis pelos alunos menores de 18 anos e para a diretora da escola, autorizando, dessa forma, a pesquisa. Uma semana depois os termos foram recolhidos e, após a seleção dos sujeitos, os mesmos respon-deram ao questionário num primeiro momento.

Após a coleta dos questionários, foi realizada a palestra, composta pelos seguintes temas: apa-relho reprodutor feminino e masculino (estrutu-ras e funções), processo de fecundação, gravidez, adolescência, gravidez na adolescência, riscos para mãe, riscos para o bebê, custos físico, fi -nanceiro e emocional e métodos contraceptivos. Para a realização da palestra foram utilizados data show, modelos anatômicos de pelve masculina e feminina, kit de métodos contraceptivos (méto-dos e folhetos explicativos), e, além disso, houve parceria interdisciplinar com a enfermagem onde foram apresentados os métodos contraceptivos.

O objetivo principal da palestra foi infor-mar sobre os riscos da gravidez na adolescência tanto para a mãe quanto para o bebê e, ainda, como prevenir a gravidez precoce.

Imediatamente após a palestra o ques-tionário foi novamente aplicado, permitindo, dessa forma, comparar os resultados do pri-meiro e do segundo momento, para análise de seus efeitos sobre o nível de conhecimento das adolescentes.

Para análise estatística dos dados levan-tados, foi realizado o teste qui-quadrado para comparar sequências, sendo adotado o nível de signifi cância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise dos resultados a partir da rea-lização do teste qui-quadrado, foi observado que, nos tópicos que abordavam questões sobre fertilização e anatomia do aparelho reprodutor, métodos contraceptivos e riscos da gravidez precoce para a mãe e para o bebê, os resultados obtidos foram considerados signifi cativos, salvo o tópico relacionado ao pré-natal para o qual não houve diferença signifi cativa. Na análise es-tatística dos dados foram descartadas perguntas que envolviam aspectos pessoais.

No Gráfi co 1, é possível verifi car que antes da palestra o índice de acerto dos adolescentes sobre formas de fertilização e sobre a anatomia do aparelho reprodutor foi de 68%; já no ques-tionário aplicado após a palestra as respostas corretas corresponderam a 88%, mostrando que houve um aumento de 20% no número de adolescentes que sabiam sobre o assunto.

O aumento do número de acertos em 20% permite inferir que atuações educativas em cur-to prazo são efi cientes, no que diz respeito ao aumento do conhecimento, diferente do que apontam Jeolás e Ferrari8, que dizem que avaliar conhecimento, atitudes e práticas em um curto prazo, como o da realização de uma palestra, é improdutivo e insufi ciente.

Porém destaca-se que a mudança de com-portamento é fruto de um processo complexo, ideológico, psíquico e afetivo que se realiza a médio e longo prazo, demandando, portanto, uma continuidade de ações e projetos do pró-

>

>

FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELAÇÃO ENTRE GRAVIDEZ PRECOCE E O BEBÊ DE RISCO

Manhães et al.

Page 5: Ferreira Manhães Juliana Soares 1 Fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o ... assistência

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011 Adolescência & Saúde

31

prio serviço de saúde, da escola e da comuni-dade, além de sofrer os efeitos das informações difundidas pelos meios de comunicação9.

No Gráfi co 2, observa-se que o conheci-mento sobre métodos contraceptivos aumen-tou em 42%, e, além disso, pode-se constatar, através da análise das respostas, que 3% das meninas já usaram camisinha feminina e 19% já

fi zeram uso de pílula anticoncepcional, sendo que destas 13% procuraram orientação médi-ca. Em um questionamento mais aprofundado sobre o uso da pílula, 68% das adolescentes afi rmaram que tinham dúvidas sobre o uso da pílula antes da aplicação da palestra e após apenas 3% das adolescentes continuaram com dúvidas sobre o assunto.

GRÁFICO 2. Conhecimentos sobre o uso de métodos contraceptivos

GRÁFICO 1. Conhecimento sobre formas de fertilização e anatomia do aparelho reprodutor

FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELAÇÃO ENTRE GRAVIDEZ PRECOCE E O BEBÊ DE RISCO

Manhães et al.

Page 6: Ferreira Manhães Juliana Soares 1 Fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o ... assistência

Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011

32

Apesar de nossa pesquisa ter evidenciado que os adolescentes apresentam um conheci-mento básico sobre métodos contraceptivos, se-gundo Paiva10 e Jeolás11 estudos sobre prevenção com adolescentes apontam para baixos índices de adoção de práticas sexuais seguras. Pesquisas mostram que, na maioria das vezes, o uso do pre-servativo é abandonado quando se conhece o par-ceiro, se tem um só parceiro, se confi a no parceiro, dentre outros motivos. Esse fato aponta para a im-portância de se investir nas ações que possibilitem a mudança de comportamento dos jovens e não apenas o aumento do conhecimento.

No Gráfi co 3, foi abordada a questão dos riscos de uma gravidez precoce para a mãe e para o concepto; foram utilizadas questões sim-ples, como, por exemplo: “você sabe o que é um bebê prematuro?” E os resultados obtidos foram os seguintes: no questionário aplicado antes da palestra, 70% dos adolescentes demonstraram conhecimento sobre o assunto, e, após a pales-tra, 91% dos adolescentes afi rmaram saber so-bre os riscos apontados no questionário.

Diferente do que se imaginava, os indiví-duos apresentaram um alto índice de conheci-mento sobre os riscos de uma gravidez precoce.

Contudo, pode-se perceber que apesar do alto índice de respostas certas, alguns adolescentes ainda não têm uma consciência formada no que diz respeito às consequências que uma gravidez precoce pode acarretar, pois, quando foi questio-nado se estariam preparadas para uma gravidez, 10% dos adolescentes responderam que sim, quando o ideal seria 0%, ressaltando, portanto, a importância de se investir em ações que possibili-tem a conscientização desses adolescentes.

O Gráfi co 4, destaca a visão dos adolescentes sobre o impacto que uma gravidez precoce causa-ria no seu ambiente familiar e no seu contexto so-cial. Os resultados foram os seguintes: no primeiro questionário, 32% acharam que não seria gerado nenhum impacto; após a palestra, 73% afi rmaram que sua vida social seria comprometida.

Segundo Ciampo et al.12, sob diferentes as-pectos a gravidez precoce resulta em grandes prejuízos de ordem familiar e social. Do ponto de vista familiar ressaltam-se as difi culdades comportamentais, estruturais e fi nanceiras. A jovem mãe geralmente está despreparada para a nova função e em virtude desse fato encontra maiores difi culdades para continuar os estudos e inserir-se no mercado de trabalho.

GRÁFICO 3. Riscos da gravidez precoce para a mãe e para o bebê

FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELAÇÃO ENTRE GRAVIDEZ PRECOCE E O BEBÊ DE RISCO

Manhães et al.

Page 7: Ferreira Manhães Juliana Soares 1 Fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o ... assistência

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011 Adolescência & Saúde

33FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELAÇÃO ENTRE GRAVIDEZ PRECOCE E O BEBÊ DE RISCO

Manhães et al.

No Gráfi co 5, foi abordada a importância do pré-natal. A avaliação desse tópico constatou que antes da palestra, 90% dos adolescentes sa-biam sobre o assunto, e, após a palestra, o índice de acertos passou para 95%.

Apesar do conhecimento sobre a impor-tância do pré-natal ter sido alto, segundo dados apresentados na campanha Gravidez Tem Hora, realizada pela Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro em 2007, por temer a reação

da família e de amigos, muitas adolescentes es-condem a gravidez e com isso acabam retardan-do o início do acompanhamento pré-natal, e o resultado é que mais de 10% dos bebês nascem abaixo do peso e prematuros.

De acordo com Ciampo, Daneluzzi e Ricco5, os serviços de saúde devem propor ações efi -cazes junto às jovens adolescentes no tocante à prevenção da gravidez precoce, e, por outro lado, estar preparados para oferecer melhores

GRÁFICO 5. Conhecimentos sobre pré-natal

GRÁFICO 4. Impacto na vida social que uma gravidez precoce causa

Page 8: Ferreira Manhães Juliana Soares 1 Fisioterapia e educação ... · assistência multidisciplinar, iniciando desde a in-ternação na UTI Neonatal, buscando promover o ... assistência

Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 27-34, jul/set 2011

34

REFERÊNCIAS

1. Neuwald M, Alvarenga F. Fisioterapia e educação em saúde: investigando um serviço ambulatorial do SUS. Bol saúde. 2005 [acesso em 10 mar 2009]; 19(2). Disponível em: http://www.esp.rs.gov.br/img2/v19n2_12Fisioterapia.pdf.

2. Ribeiro K. A atuação da fi sioterapia na atenção primária à saúde: refl exões a partir de uma experiência universitária. Rev Fisioter Bras. 2002; 3.

3. Saito M, Leal M. O exercício da sexualidade na adolescência: a contracepção em questão. Rev Paul Pediatr. 2003 [acesso em 29 nov 2009]; 25(1-2). Disponível em: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/572.pdf.

4. Wong L, Bonifácio G. Evidências da diminuição do tamanho das coortes brasileiras: fecundidade abaixo do nível de reposição nas principais regiões metropolitanas - 2004 a 2006. XVI Encontro nacional de estudos populacionais, Caxambu - MG, 2008 [acesso em 29 nov 2009]. Disponível em: http://www.abep.nepo.unicamp.br/ encontro2008/docspdf/ABEP2008_1955.pdf.

5. Ciampo L, Daneluzzi J, Ricco R. Mãe adolescente: estudo em uma unidade básica de saúde. Rev Paul Pediatr. 2000 [acesso em 10 mar 2009]; 22(3). Disponível em: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/476.pdf.

6. Rades E, Bittar R, Zugaib M. Determinantes diretos do parto prematuro eletivo e os resultados neonatais. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [ Internet]. 2004 Set [acesso em 29 nov 2009]; 26(8): 655--6662 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v26n8/a10v26n8.pdf.

7. Mierzwa T. Análise de prontuários de acompanhamento de bebês de alto risco participantes de um programa de intervenção precoce [Trabalho de conclusão de curso] Cascavel. Faculdade Assis Gurgacz, 2007 [acesso em 29 junho 2009]. Disponível em: http://www.fag.edu.br/tcc/2007/Fisioterapia/analise_de_prontuarios_de_acompanhamentos_de_bebes_de_alto_risco_participantes_de_um_programa_de_intervencao_precoce.pdf.

8. Jeolás L, Ferrrari R. Periódicos eletrônicos: Ofi cinas de prevenção em um serviço de saúde para adolescentes: espaço de refl exão e de conhecimento compartilhado. Ciênc Saúde Coletiva. 2003 [acesso em 04 nov 2009]; 8(2). Disponível em: www.scielo.br/pdf/csc/v8n2/a21v08n2.pdf.

9. Ayres et al. Vulnerabilidade e prevenção em tempos de Aids. In: Barbosa RM, Parker R. Sexualidade pelo avesso: direitos, identidades e poder. Rio de Janeiro: IMS/UERJ, 1999. p. 49-72.

10. Paiva V. Sexualidade e gênero num trabalho com adolescentes para a prevenção do HIV/Aids. In: Parker et al. A Aids no Brasil (1982-1992). Rio de Janeiro: Relumé-Dumará. 1994. p. 231-50.

11. Jeolás L. Os jovens e o imaginário da Aids: entre o risco e a prevenção. Serviço social em revista. 1999 [acesso em 05 nov 2009]; 2(1). Disponível em: http://www.uel.br/revistas/ssrevista/n1v2.pdf.

12. Ciampo et al. Tendência secular da gravidez na adolescência. Rev Paul Pediatr. 2004 [acesso em 10 mar 2009]; 26 (1). Disponível em: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1049.pdf.

>

condições de atendimento visando suprir todas as necessidades de sobrevivência das futuras mães e dos fi lhos, pois o atendimento pré-natal recebido pelas mães acaba minimizando os pro-blemas e difi culdades. Com orientação e atendi-mento adequados, podem-se reduzir os índices de morbimortalidade no período perinatal.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir, por meio dos resultados obtidos, que o objetivo da pesquisa foi alcan-

çado, pois apesar dos adolescentes apresenta-rem um nível de conhecimento básico sobre os assuntos abordados no questionário, foi consta-tado que esse conhecimento aumentou após a realização da palestra. Na análise estatística dos resultados, os tópicos que abordam as questões dos métodos contraceptivos e dos riscos de uma gravidez precoce foram considerados signifi can-tes, mostrando dessa forma que palestras são fer-ramentas efi cazes no que diz respeito ao aumen-to de conhecimento e que este, se continuado, poderá refl etir em uma mudança de comporta-mento do jovem frente a sua sexualidade.

>

FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELAÇÃO ENTRE GRAVIDEZ PRECOCE E O BEBÊ DE RISCO

Manhães et al.34