feminismo, música e indústria cultural: um olhar sobre...
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Feminismo, Música e Indústria Cultural: um olhar sobre três singles da artista
Beyoncé1
Tauani Susi da Silva Marques de Oliveira2
Monica Christina Pereira de Sousa3
Universidade Veiga de Almeida, Cabo Frio, RJ
RESUMO: A proposta deste artigo é perceber a maneira com que o feminismo exposto
pela artista Beyoncé é recebido pelas fãs brasileiras. Com esse intuito foi realizada uma
pesquisa qualitativa com essas fãs, além de breves análises dos três singles da artista Run
the World (Girls), ***FLAWLESS e Formation com o objetivo de entender a maneira como
as mulheres compreendem o feminismo inserido nas músicas da Beyoncé. Ao mesmo
tempo, o artigo assimila a maneira como a mulher celebridade influencia a mulher
“comum” dentro do cenário da música pop, levando em consideração as motivações
proporcionadas a partir dos discursos de empoderamento feminino inserido nessas músicas.
PALAVRAS-CHAVE: Feminismo; Indústria Cultural, Cultura Pop; Música; Beyoncé.
1. INTRODUÇÃO
Abrangendo como tema o empoderamento e protagonismo feminino através da
Indústria Fonográfica, como meio de inserção de discursos feministas nas mídias de massa,
o artigo tem por objetivo responder se o feminismo da artista Beyoncé comunica e é
recebido pelas fãs brasileiras, se meramente como estratégia de marketing ou como
contribuição ao movimento feminista, tendo como base autores que colaboram na
construção do desenvolvimento em relação à determinação da mulher na sociedade, assim
como os que contribuíram para a compreensão em relação à Indústria Cultural e suas
influências sociais.
Dessa maneira pretende-se demonstrar que apesar de estar inserida em um mercado
criado e explorado pelo sistema capitalista, com reais intenções de venda e
consequentemente gerando lucros, a artista Beyoncé como mulher negra é feminista e suas
fãs brasileiras a enxergam dessa maneira.
O objetivo ainda é compreender o feminismo da artista Beyoncé realizando análises
com base em três letras e videoclipes dos singles Run The World (Girls), ***FLAWLESS e
Formation. Tendo por finalidade também estudar as motivações para o surgimento do
movimento feminista, identificando de que maneira as fãs brasileiras acreditam que o
1 Trabalho apresentado no GP Comunicação, Espaço e Cidadania do XXXIX Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação realizado de 05 a 09 de setembro de 2016. 2 Graduada do Curso Comunicação Social - Publicidade e Propaganda da Universidade Veiga de Almeida
(Cabo Frio, RJ), e-mail: [email protected]. 3 Orientadora do trabalho. Pós Doutoranda da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora
da Universidade Veiga de Almeida (campi Cabo Frio e Tijuca, RJ), e-mail: [email protected].
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feminismo da artista Beyoncé as instiga e motiva outras mulheres, além de compreender o
tamanho da influência da mulher celebridade sobre a mulher “comum”.
A MULHER COMO REFLEXO DE UMA DETERMINAÇÃO SOCIAL
As relações sociais foram construídas ao longo da história e existem vários fatores
que intervêm contribuindo na maneira com que ocorreram. A cultura interfere de maneira
significativa nesse convívio social e em vários aspectos é possível perceber as
diferenciações existentes entre homens e mulheres.
As mulheres sempre foram associadas como um ser alienado ao seu corpo tendo por
finalidade a reprodução, resultando assim na prosperidade da humanidade. Ao contrário, o
homem sempre teve privilégios exatamente por ter seu corpo diferente biologicamente da
mulher. Por isso, Djamila Ribeiro (2013, p. 507) afirma no artigo Para além da biologia:
Beauvoir e a refutação do sexismo biológico que “A aplicação da biologia na questão de
gênero nos faz tomar uma diferença biológica como social”.
Simone de Beauvior evidenciou no livro O Segundo Sexo – Fatos e Mitos (1967) o
modo que a construção desse corpo biológico interferiu na constituição de normas ao longo
dos tempos, as quais interferem nas relações sociais até os dias de hoje. Segundo a autora, a
partir da determinação social feminina pelo seu corpo biológico, quando era compreendida
como uma fêmea e direcionada unicamente para a maternidade e aos assuntos relacionados
à família, ela exprime que existem semelhanças entre as relações humanas e os
comportamentos percebidos em algumas espécies animais no que diz respeito à privação da
fêmea contrapondo a liberdade do macho.
No contexto histórico social os homens sempre foram articulados para serem mais
fortes, mais inteligentes e mais poderosos do que as mulheres. Mas ao analisar o contexto
que engloba as relações sociais entre os sexos é possível perceber que elas não foram tão
frágeis. De acordo com Dowling (2001), no livro O Mito da Fragilidade, em determinados
momentos da história as mulheres eram responsáveis por parte da alimentação da família e
participaram com os homens de equipes esportivas.
O conceito de história foi definido por BLOCH e exemplificado pela autora Louise
A. Tilly no texto Gênero, história das mulheres e história social (1994, p. 30) como “a
ciência dos homens no tempo”, sendo assim ela compreende que a história das mulheres
pode ser entendida como “a ciência das mulheres no tempo”. A mulher é sujeitada à
submissão desde os tempos de Adão e Eva, tendo sido ela criada por Deus a partir da
costela de Adão. Também representa a impureza por desobedecer a ordem Dele e se torna
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pecadora ao comer a maça proibida, por isso “os homens” receberam o castigo do criador.
Mary Del Priore (1997, p. 41) conta no livro História das Mulheres no Brasil que “a Bíblia
já havia representado a mulher como fraca e suscetível”. O comportamento qualificado a
mulher e as tarefas a qual foram designadas têm relação com seu papel dentro da sociedade,
sendo reflexo do que o Estado, a Igreja e da Nobreza acreditava ser o correto.
Nesse contexto é possível perceber que o surgimento de ideias feministas colaborou
para melhorias em relação ao posicionamento da mulher na sociedade, obtendo várias
conquistas para as mulheres quando reivindica a liberdade feminina, a liberação do seu
corpo e de seus pensamentos. Com isso, houve dois momentos que foram fundamentais
para que isso ocorresse, a primeira com o advento da Revolução Industrial no século XIX
onde as mulheres proletárias reivindicavam principalmente o direito ao sufrágio. Ainda
nesse momento, a luta das mulheres brancas contribuiu paras as campanhas anti-
escravatura, pois elas correlacionaram suas reinvindicações por direitos femininos e em
proveito da libertação dos negros. Os interesses eram desconectados quando essas mulheres
compreendiam que os homens negros não eram da equivalência delas e por isso não
poderiam conquistar o direito ao voto por não serem estudados. Sendo assim, as
reinvindicações entre brancas e negras eram diferenciadas em virtude do racismo, como
apontado por Angela Davis no livro Mulheres, classe e raça (2013).
A Revolução Cultural na metade do século XX, que de acordo com Eric Hobsbawn
no livro Era dos Extremos (1995) atingiu proporções mundiais, influenciou nas relações
políticas, econômicas e sociais. As mulheres feministas tinham expectativas sobre elas e
sobre seu lugar social. No artigo Feminismo, história e poder (2010, p. 15) a autora Céli
Pinto explica que o “movimento feminista (...) produz sua própria reflexão crítica, sua
própria teoria”. Tendo conciliado com a Revolução Cultural e Social como o advento do
movimento hippie4 e dos Panteras Negras5 nos EUA, entre outros que reivindicavam
questões específicas. Elas discutiram a relação de poder entre os sexos, não lutaram apenas
por direitos iguais mas também pela autonomia de suas vidas e de seus corpos.
O movimento feminista promovido por mulheres brancas, educadas ou intelectuais
foi importante porque, mesmo que não abrangesse com totalidade a todos os interesses de
4 O movimento hippie foi um comportamento coletivo de contracultura dos anos 60. 5 O Partido dos Panteras Negras (em inglês, Black Panther Party ou BPP), originalmente denominado Partido
Pantera Negra para Auto-defesa (em inglês, Black Panther Party for Self-Defense) foi uma organização
política extraparlamentar socialista revolucionária norte-americana e ligada ao nacionalismo negro.
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outras classes de mulheres, teve sua importância quanto à liberação feminina e por ter
evidenciado e discutido assuntos que eram de interesse de todas.
A escritora Chimamanda Ngozi Adichie define no texto Sejamos todos feministas
(2015) que feminista é “uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica
entre os sexos”. Algumas pessoas compreendem que a mulher é subordinada ao homem
porque faz parte da cultura, mas a cultura se transforma, tendo a função de preservar e dar
continuidade ao povo, mas são as pessoas quem fazem a cultura. “Se uma humanidade
inteira não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura” (ADICHIE,
2015, p. 48).
INTERESSES DA INDÚSTRIA CULTURAL INSERIDOS NO MEIO SOCIAL
Segundo Edgar Morin (2009, p. 14) no livro Cultura de Massas no Século XX o
conceito de cultura pode parecer bastante amplo, sendo que ela “desenvolve, domestica
certas virtualidades humanas, mas inibe ou proíbe outras”. Algumas situações são
universais enquanto outras se diferenciam. Por um lado ela pode ser definida em relação à
qualidades humanas do ser biológico, enquanto em outras são particulares e condizem com
a época e a sociedade vivida, “uma cultura constitui um corpo complexo de normas,
símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os
instintos, orientam emoções” (MORIN, 2009, p. 15).
No livro Mundialização da Cultura (2000, p. 22), Renato Ortiz expressa que “a
história do sistema mundial se confunde inteiramente com a evolução do capitalismo”, as
manifestações culturais e políticas retratam isso. Uma cultura mundializada está relacionada
à mudanças estruturais, a uma civilização na qual sua territorialidade se globalizou sem
anular as outras manifestações culturais, mas suprindo delas (ORTIZ, 2000).
Segundo Nadja Vladi no artigo O Negócio da Música (2010), a Indústria Cultural
exprime o conceito de produtos culturais voltado para massa. Surge nos Estados Unidos da
América (EUA), sendo “um ambiente dominado pela técnica e pela hegemonia do poder
econômico que tem total controle sobre o consumo da sociedade” (VLADI, 2010, p. 4). A
Indústria Fonográfica, sendo um segmento importante dentro desse contexto, compreende
empresas ligadas a música.
Os produtos gerados pela Indústria Cultural são moldados de forma a atender as
necessidades do consumidor sugerindo entretenimento e lazer ao mesmo tempo em que está
obedecendo à padrões e regras impostas pelo estado. Os autores Theodor Adorno e Max
Horkheimer dizem no texto Dialética do Esclarecimento (1947) que a Indústria Cultural se
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faz presente quando satisfaz às necessidades do consumidor e também as promove. Dessa
maneira faz com que se reconheça como eterno consumidor desse mercado.
Sendo assim, a Cultura Pop é interpretada por estudiosos e autores de maneiras
diferentes. Isso porque, entre outros fatores, existem vários pontos de vistas que extrapolam
as influências diretas moldadas pela conjuntura desse sistema. No texto Temporalidade e
quotidianidade do pop, o autor Fábio Fonseca de Castro expressa essas diversas opiniões
observando duas interpretações diferentes da origem do fenômeno pop:
(...) as fisiológicas, que o compreendem como empobrecimento e como
resultado de um esgarçamento dos tecidos e padrões culturais; e as materialistas,
que o colocam como consequência de um processo de complexificação da
sociedade capitalista, seja descrevendo-o como apropriação de práticas, usos e
costumes culturais por classes desprivilegiadas, seja compreendendo-o como
estágio da cultura capitalista avançada. (CASTRO, 2015, p. 37)
O termo “pop” 6 é definido por Thiago Soares (2015) no texto Percursos para
estudos sobre música pop como problemático por seu caráter “transnacional”, sendo que os
produtos são populares e voltados para o grande público. A música pop é percebida pelas
(SOARES, 2015, p. 21) “expressões sonoras e imagéticas que são produzidas dentro de
padrões das indústrias da música, do audiovisual e da mídia” e está ligada por pelo menos
dois “subtemas”, a “Cultura Pop” e as “Estéticas de Entretenimento”. Sendo que “A Cultura
Pop estabelece formas de fruição e consumo que permeiam um certo senso de comunidade,
pertencimento ou compartilhamento de afetos e afinidades que situam indivíduos dentro de
um sentido transnacional e globalizante” (SOARES, 2015, p. 22 apud BENNET,2000;
REGEV, 2013; SHUKER, 1994).
A música pop dentro da Cultura Pop é o lugar dos artistas “fabricados”, da
emergência da figura do produtor, das poéticas que se ancoram em questões já
excessivamente tratadas, de retomar uma parcela de vivências biográficas sobre
fenômenos midiáticos e de, deliberadamente, entender que estamos diante de
performances, camadas de sentido que envolvem produtos. (SOARES, 2015, p.
25 apud FEATHERSTONE, 1995)
Quando os artistas fabricados conquistam a indústria, o mercado e o público, se
transformam em celebridades sendo compreendidas pelo autor Chris Rojek no livro
Celebridade (2008) como representações da mídia de massa, sendo suas apresentações
públicas encenadas. Ao mesmo tempo em que essa representação é núcleo central do poder
da celebridade também é específico à fraqueza da sua presença. “A construção e
apresentação da celebridade envolve um rosto público imaginário” (ROJEK, 2008, p. 29).
Já Morin (2009) apresenta essas celebridades, definindo-os como artistas célebres, como
6 Oriundo de língua inglesa como abreviação do “popular”, a denominação “pop” assume uma característica
bastante específica em sua língua de origem (SOARES, 2015, p. 19).
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sendo olimpianos modernos7, fazendo parte do encontro entre o real com o imaginário e do
imaginário com o real. O olimpismo de alguns – os artistas, por exemplo - acontece a partir
do imaginário, a partir dos personagens retratados por eles, sendo que ao mesmo tempo em
que informa também se torna um modelo, um exemplo a ser seguido.
Identidade é um termo de difícil definição, existem diversas. No livro A identidade
cultural na pós-modernidade, o autor Stuart Hall apresenta três tipos de concepções
diferentes, sendo o sujeito do Iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno que
não tem “uma identidade fixa, essencial ou permanente” (2006, p. 12), é o sujeito
contemporâneo. Pensando na construção da imagem feminina no contexto da cultura pop,
especialmente nos videoclipes, é ainda mais complicado definir sem que haja uma
categorização entre imagens/identidades boas ou ruins (MOZDNENSKI, 2009).
(...) as identidades são construídas e exibidas constantemente por meio de
comportamentos sociais. O uso da linguagem é um dos principais
comportamentos envolvidos nessa produção e projeção de identidades. A
performatividade consiste no modo como desempenhamos atos de
identidades como uma série contínua de performances sociais, linguísticas
e culturais, em vez da expressão de uma identidade anterior, una e
imutável. (...) A performatividade se refere às várias maneiras como a
subjetividade (i.e., os pontos de vista pessoais e visões de mundo, as
experiências do indivíduo, seu background, os quais podem ser pensados
como constituindo o seu self) é construída levando-se em conta as normas
sociais de conduta, as práticas e convenções culturais, as tradições
históricas e as relações de poder entre os participantes da interação. Assim,
a performance, além de ser situadamente única, também depende do
conhecimento socialmente compartilhado e culturalmente variável acerca
das relações sociais. (MOZDNENSKI, 2015 apud BUTLER, 1990;
HOFFNAGEL, 2010; LOPES, 2003; VAN DIJK, 2012)
O principal objetivo da Indústria Fonográfica é lucrar com a comercialização das
músicas. A lógica de produção cultural ocorre através da união de (KAMENACH, 2009, p.
22) “diversos setores de produção de entretenimento e comunicações”. Os meios de
comunicação de massa trabalham juntos na construção de um ideal de mercadoria,
motivando os consumidores a comprarem os produtos gerados pela Indústria Cultural,
impulsionando a massa ao consumo. Os princípios do marketing são utilizados no
desenvolvimento desse ideal de mercadoria criando uma necessidade para o público
consumir esses produtos, essas músicas ou estilos musicais que são veiculados
principalmente no rádio e na televisão (KAMENACH, 2009). O marketing pode ser
definido pela “a atividade, o conjunto de conhecimentos e processos de criar, comunicar,
entregar e trocar ofertas que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e
7 Morin define que “a informação transforma esses olimpos e vedetes da informação”, (MORIN, 2009, p.
105).
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sociedade como um todo”, como o apresentado por Philip Kotler e Kevin L. Keller no livro
Administração de Marketing (2012, p. 3). O marketing abrange a identificação e a
realização das necessidades pessoais e sociais.
As novas tecnologias possibilitam que os artistas produzam investindo menos e em
menor tempo, além de facilitar a propagação das suas obras utilizando a internet. Inclusive
possibilitam maior liberdade de expressão dos usuários, tanto individual como
coletivamente, apontado por Kamenach (2009, p. 27) como “democratização dos meios de
comunicação”. A internet possibilitou a comunicação entre os fãs e consumidores com os
artistas. Os modelos de interação de rede se tornaram uma das principais formas de
relacionamento entre o público e os artistas, havendo uma considerável diminuição no
espaço que separa os dois. Os artistas têm acesso direto aos desejos e as necessidades dos
seus consumidores, que mudaram. Para Kotler, “a chave para atingir os objetivos da
organização consiste em determinar as necessidades e os desejos dos mercados-alvo e
satisfazê-los mais eficaz e eficientemente do que os concorrentes” (KAMENACH, 2009, p.
52 apud KOTLER, 1993, P. 46).
METODOLOGIA
A metodologia aplicada para resolução do problema foi uma pesquisa qualitativa,
sendo realizada uma Entrevista em Profundidade, efetivada individualmente através de uma
videochamada na rede social facebook, em que o pré-requisito para serem entrevistadas era
ser mulher, brasileira e fã da artista Beyoncé. As fãs foram selecionadas por meio da mesma
rede social. Duas foram selecionadas com advento de uma publicação feita na linha do
tempo, outras duas através de uma publicação no grupo The Mrs. Carter Show World Tour -
15/Set/2013 e a última por meio de indicação na publicação feita no grupo Comunicação
2012.1 - UVA CF. As entrevistas foram realizadas entre os dias 15/05/2016 e 24/05/2016,
sendo as entrevistadas:
Bruna Barros, 24 anos, Rio Grande, RS
Dandara Raimundo, 23 anos, Rio de Janeiro, RJ
Flávia Rodrigues, 21 anos, São Pedro da Aldeia, RJ
Natally, 25 anos, São Paulo, SP
Taíssa Moura, 22 anos, Iguaba Grande, RJ
INFLUÊNCIAS FEMINISTAS ENTRE A MULHER CELEBRIDADE E SUAS FÃS
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Entre os diversos gêneros musicais, são diversas as artistas que expressam em suas
músicas argumentações empoderadoras e feministas. Beyoncé aborda em algumas de suas
músicas questões relacionadas à mulheres poderosas sendo líderes e protagonistas, em
outras as decepções e reflexões acerca dos relacionamentos amorosos. Hoje, ela está em
evidência no mercado musical, entre outros motivos, por falar sobre feminismo em seus
trabalhos. Sendo ela uma artista que escreve sobre mulheres para um público feminino, esse
trabalho pretende compreender como o feminismo inserido nas músicas da artista Beyoncé
comunica e é recebido pelas suas fãs brasileiras.
A primeira pergunta foi “Qual a sua relação com a artista? O que ela representa para
você?”. As fãs relataram essas representações de maneira bastante pessoal. “Ela é uma
inspiração para mim como mulher e como artista, como uma pessoa ética (...)”, disse Bruna.
Beyoncé é referência de mulher negra para Dandara, “Eu não tinha aquele personagem,
aquela artista que eu ia ser. Aí quando eu descobri Destiny’s Child, eu pude ser ela.”, Flávia
relata que tem uma profunda admiração pela artista, “Quando eu penso nisso eu penso que
ela representa tudo para mim”. Para Natally, a cantora é sinônimo de poder, “Ela me
representa como mulher, porque ela é poderosa, sabe?”, enquanto Taíssa revela “ela estava
sempre ali, em algum momento da minha vida ela estava ali. Em algumas músicas ela
estava ali junto!”.
Rojek (2008, p. 51) expressa que “O relacionamento entre celebridades e fãs é
tipicamente mediado pela representação”, o que ele define como “encontros superficiais”
podem gerar conflitos na maneira como os fãs veem a celebridade, porém esses encontros
são escassos e acontecem de modo mais efetivo através da mídia.
A Indústria Cultural envolve segmentos onde existiram e ainda existem várias
artistas que contribuem para que suas vozes sejam ouvidas, suas opiniões sejam expostas e
suas conquistas se tornem relevantes. Porém, em meio a esse espaço existem alguns
obstáculos pelo fato de ser mulher. Isso é consequência de todo um processo histórico em
que a imagem das mulheres foi construída a partir do seu corpo biológico, fazendo com que
fosse expresso uma identidade no ser social. Dessa forma, os homens foram instituídos
como os poderosos que regiam desde a religião até a política, passando pela economia das
sociedades. Sendo assim, a Indústria Cultural que reconhecemos hoje surgiu e foi moldada
a partir do ponto de vista dos seus “criadores” – homens.
No documentário Life is But a Dream (2013) Beyoncé relata:
Em um certo ponto da minha carreira, me senti sobrecarregada. Ser bem sucedida
comercialmente não era o suficiente. Era algo realmente estressante ter que
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engolir isso. Isso me restringia, não podia me expressar. Não quero ter que cantar
sobre as mesmas coisas por mais dez anos. Não se pode crescer assim. Quero
poder cantar o quanto me odeio em um dia, se me sentir assim. Senti que era hora
de arranjar meu futuro. Então estabeleci um objetivo: meu objetivo era ser
independente. (BEYONCÉ, 2013, 5’ 50’’)
A música antes compreendida como arte se transforma em objeto, tendo como
principal objetivo gerar lucros estando diretamente ligado ao domínio de poder econômico.
Beyoncé cantava sobre os mesmos assuntos por anos porque ela era rendável assim e por
isso não era interessante que ela mudasse o repertório.
Mesmo assim, contrariando essas regras, em 2011 a artista lançou o single8 Run the
World (Girls), música que virou um hino para as mulheres por retratar todas elas poderosas
e assumindo posição de liderança, ao mesmo tempo em que são esposas e mães. As fãs
entrevistadas concordaram, é uma música que representa o poder da mulher e quando foram
questionadas quanto ao que a letra e o videoclipe representavam para as mulheres, elas
explicaram “Run the World ele fala sobre empoderamento, sobre a mulher que tá no jogo,
sobre a mulher que trabalha, estuda e cria o filho, e chega cansada (...) a mulher de hoje em
dia” expressa Dandara, enquanto Flávia diz que “A letra toda é basicamente
empoderamento feminino” e a entrevistada Natally, “Run the World deixa muito claro que
mulheres podem fazer o que quiserem. Se ela quiser ser dona de casa ela vai ser, se ela
quiser ser CEO de uma empresa ela vai ser”.
A letra da música expressa que as mulheres podem ser esposas, mães, trabalharem,
cuidarem dos negócios, ganharem o próprio dinheiro sem precisar necessariamente de um
homem. Uma das reinvindicações do movimento feminista era exatamente o poder fazer as
escolhas, estar onde elas escolhessem e poderia ser cuidando da casa, ingressando na
universidade, trabalhando como professora ou como empresária. A artista comprova algo
construído ao longo da história e retratado nos setores públicos e privados, uma cultura
moldada a partir dos princípios masculinos de dominação. Essa relação existente entre
homens e mulheres é evidenciada quando Morin (2009) diz que a cultura mesmo
desenvolvendo algumas virtualidades humanas também intimida outras.
Beyoncé ressalta na letra sua independência e suas conquistas como mulher. Além
de motivar e afirmar que ela acorda perfeita e anda por aí perfeita assim como as outras
mulheres também são, instigando “Somos perfeitas / Garotas, contem a eles / Digam "eu
8 Músicas que são escolhidas para representar todo o álbum de um artista. Estas, por sua vez, são lançadas,
com maior teor do que as não-singles, nas rádios e são mais divulgadas em premiações e programas de TV do
que as demais músicas. (SOUZA,J., RODRIGUES,S.G., SANTOS,T.R., ALVES,T.V., MOREIRA, J.M,
2014, p. 7)
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estou ótima esta noite”. Sendo assim, fica evidente a importância do single ***FLAWLESS
para as fãs da artista depois de realizada a entrevista em profundidade. Quando
questionadas “dentre esses três singles (Run the World (Girls), ***FLAWLESS e
Formation), você se identifica com maior particularidade com qual? O que faz dessa
música tão representativa para você?“, foi quase unânime ***FLAWLESS como resposta.
Bruna diz “Eu acho que é aquela música que, tipo, eu acordei e vou ser do jeito que eu
quiser e tô ‘cagando’ pra vocês”, Taíssa reforça “Tipo, eu acordei assim, e eu sou assim, e
aceita que dói menos”, Natally exprime “FLAWLESS, porque FLAWLESS fala de
autoestima”, enquanto Flávia diz “eu me identifico mais com FLAWLESS pela questão da
aceitação e a questão de ser meio que universal para todas as mulheres”.
No que diz respeito à representatividade dessa canção para as fãs, é relevante
resgatar que a Cultura Pop abrange diversos gêneros da música popular no qual alguns
autores identificam determinados problemas em relação a expressividade, a estética
apresentada, a maneira como são produzidos e como são consumidos esses produtos sendo
parte da Indústria Cultural. A música é voltada para o grande público e é caracterizada por
ser transnacional, contudo não anula as características inovadoras e criativas que surgem
dentro desse cenário. Parafraseando Morin (2009), Beyoncé é um rosto público imaginado
fazendo parte desse cenário e suas músicas são igualmente espaços imaginados que se
tornam significativas quando a artista se transforma no produto mais original dentro da
cultura de massa. Por isso, quando ela se revela feminista afirmando entre outras coisas, que
todas as mulheres são perfeitas e as convida a dizerem isso, ela desperta o real desejo que as
consumidoras têm em ouvir nas músicas.
O terceiro single estudado foi Formation, lançado em fevereiro de 2016, onde mais
uma vez ela exaltou as questões femininas, mas dessa vez ela ressaltou a causa das
mulheres – e também dos homens – negras, como o racismo. Nessa música Beyoncé
começa questionando “O que aconteceu depois de Nova Orleans? Vadia, estou de volta por
demanda popular”. O trecho faz referência às várias famílias – em sua maioria negra – que
ficaram desabrigadas e sem apoio após a passagem de um furação pela região. A declaração
é do rapper negro Messy Mia9 que foi morto a tiros, também em Nova Orleans, sendo
inclusive outra questão abordada e que fica mais evidente no videoclipe, quando logo no
início ela aparece em cima de uma viatura da polícia encoberta pela água. Em outro
9 Mya era negro, ativista e politicamente incorreto, ele foi morto aos 22 anos de idade, logo após sair do chá
de bebê de seu filho. Apesar da influência que Messy possuía em Nova Orleans, o assassinato dele até hoje
não foi solucionado.
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momento um garotinho negro dança break na frente de policiais brancos quando a cena é
redirecionada a uma pichação em que está escrito “stop shooting us” (em português, parem
de atirar em nós).
A artista também evidencia o fato de ser uma negra sulista, filha de pais negros
nascidos em outros dois estados sulistas. Rebate as críticas feitas ao cabelo da filha
ressaltando de gosta do cabelo afro dela, além de falar sobre o seu nariz fazendo referência
aos Jackson Five. Nesse trecho a artista evidencia as origens dela, o fato de ser negra e
gostar dela dessa maneira, gostar da sua filha e se orgulhar da sua descendência.
No álbum anterior Beyoncé evidenciou através das suas músicas seu ponto de vista
em relação ao feminismo, tanto quanto ao empoderamento e a liberdade feminina ficando
mais esclarecido em ***FLAWLESS. Ao lançar Formation ela declarou não apenas essas
questões, também exaltou a representatividade negra. Essa correlação pode ser feita se
partirmos do que foi esclarecido no texto quando por causa da escravidão os negros eram
diferenciados socialmente dos brancos, sejam eles ricos ou pobres, o que acarreta em
consequências até os dias de hoje.
Sobre o single Formation as fãs brasileiras exprimiram acreditar que Beyoncé está
falando dela e de outras mulheres negras. Existe a intenção de empoderar as mulheres
negras. Bruna diz “(...) eu acho que é mais para ela se mostrar... o poder da mulher negra
(...) aí foi mais direcionado para as mulheres negras, para elas se aceitarem, para elas não
aceitarem o racismo”. Flávia confirma “o Formation agora vem com uma causa, eu acho
que ela (...) deu uma repaginada mais, puxando mais para a aba dela (...) ela é negra. (...) E
é uma causa justa, que está ali, que as vezes ninguém presta atenção”. Dandara supõe
“muitas pessoas embranqueceram a Beyoncé, e foi quando ela virou e falou “não gente,
peraí, eu sou negra e eu sou “foda”. E é isso, vocês aceitam, vocês aceitam e agora eu estou
puxando todos os meus irmãos negros para serem “fodas” juntos comigo”.
A letra e o videoclipe de Formation evidenciam as reivindicações e manifestos dos
negros, sendo exaltando sua beleza ou fazendo críticas ao descaso em relação à comunidade
negra. Nessa canção fica evidente a questão da territorialidade quando ela exprime estar
falando de Nova Orleans e que é texana, da mesma maneira de quando ela é exibida
juntamente com outras negras na sala, todas elegantes e bem vestidas fazendo referência a
como as sinhás – mulheres brancas – se vestiam na época de escravidão, demonstrando que
esse momento passu, tendo elas conquistado aquele espaço também. Ao mesmo tempo,
existe um reconhecimento de qualquer negro que tenha acesso a esse trabalho, por se tratar
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de um acontecimento que todos eles têm em comum e isso pode ser explicado pelo exposto
no quando Ortiz denomina a cultura hoje como mundializada.
Tendo exposto essa contextualização, a finalidade da pesquisa era saber das fãs
brasileiras da artista Beyoncé se elas consideravam o feminismo inserido nas músicas como
sendo estratégia de marketing. Por isso, depois de questionadas quanto à relação delas com
a artista, a maneira como consumiam os produtos lançados, o entendimento sobre o
movimento feminista além de indagar se consideravam as letras das músicas
empoderadoras, as entrevistadas foram questionadas “você acredita que Beyoncé fale de
feminismo estrategicamente para agregar a sua imagem artística perante o público? - De
que maneira isso é percebido?”. As entrevistadas Bruna e Taíssa fizeram pontuações
parecidas. Ambas sinalizaram que a artista já havia exposto em outros momentos da
carreira, canções com teor empoderador e acreditam que a estratégia de marketing não é
uma ferramenta utilizada pela Beyoncé com o intuito de se promover.
(...) eu acho que não. Porque, na minha opinião o feminismo é uma coisa que (...)
está mais forte agora, tá recente agora, porque as pessoas entenderam o que é o
feminismo. E se tu vê as músicas antigas dela, tipo Irreplaceble, é tipo, é
totalmente feminista (...) não é jogada de marketing. (BRUNA, 2016)
Eu acho que hoje não (...) Ela já vinha fazendo desde o comecinho, pegando para
ver todas as letras, ela sempre teve alguma mensagem tipo “mulher, você pode”.
(...) é uma oportunidade para ela brilhar, óbvio! Mas ela já tá naquele nível que...
tipo, “caguei para vocês”! (...) E aí, tem o respeito de todo o cenário musical, das
mulheres que se espelham nela. (TAÍSSA, 2016)
Natally acredita haver estratégia quanto ao posicionamento feminista da artista, mas
não relacionado à comercialização que o assunto vai proporcionar, evidenciando que a
artista vai faturar abordando ou não essas questões na sua música.
Obviamente que ela vai ganhar dinheiro com isso, ela é uma artista. Mas eu
acredito que ela é uma imagem forte (...) ela vai ganhar dinheiro usando ou não o
racismo, a questão é ela estar falando de questões sociais, de questões que a gente
vive, de realidade das pessoas e que ela vai ganhar dinheiro se ela falar ou não
disso. (...) É importante que ela aproveite que ela tem essa fama, que ela tem isso
tudo para poder empoderar mais mulheres por aí. (NATALLY, 2016)
Flávia não duvida que haja estratégia de marketing em torno do feminismo da
Beyoncé, até por existirem assessores e diretores que possam influenciar nesse sentido, mas
prefere acreditar que a artista realmente apoie a causa, por considerar importante.
Eu não boto minha mão no fogo (...) Mas, eu acho que no final é importante é
passar a mensagem. Se ela conseguir passar a mensagem de empoderamento
feminino, do movimento feminista em si e tudo mais, eu acho que no final o
recado tá dado e é isso que importa. (...) Eu não duvido não, mas eu espero
profundamente do fundo do meu coração - risos - que ela realmente apoie a causa
de coração, porque é isso o que importa. (FLÁVIA 2016)
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A entrevistada Dandara diz ter consciência de algumas pessoas alegarem e
acreditarem no feminismo da Beyoncé sendo meramente estratégia de marketing, mas ela
não considera, e releva o fato da música da artista realmente empoderar outras mulheres.
(...) a Beyoncé ela é uma artista que ela é muito visada, em qualquer lugar do
mundo. (...) Até os países que são proibidos algumas apresentações, algumas
letras de música dela, as pessoas têm consciência que essa mulher existe, do quão
influente essa mulher é. E, eu acho que o fato da Beyoncé ter se mostrado
feminista e ter entrado na causa, por mais que muitos digam que seja jogada de
marketing eu acho que é uma coisa que faz mudar, porque por mais que essas
jogadas de marketing para ela, mulher rica, no topo da Indústria Fonográfica
mundial, mas para aquela menina que começou a ouvir agora, que está se
empoderando, não é. (DANDARA, 2016)
Assim sendo, é possível constatar que as fãs não consideram o feminismo da artista
Beyoncé como sendo unicamente uma estratégia de marketing, além de confirmar a
hipótese de que quanto mais músicas empoderadoras forem lançadas, consequentemente
maior será o número de mulheres empoderadas, visto que as entrevistadas afirmaram se
interessar pelo feminismo também por meio do conhecimento obtido através das canções da
artista. Quando não, a inserção desse discurso contribuiu para uma maior identificação com
a exposição da mulher no espaço midiático. Dessa maneira, o empoderamento feminino
inserido nas músicas da artista Beyoncé, assim como a propagação do feminismo se tornam
relevantes levando em consideração o meio em que a artista está inserida culturalmente
envolvida, dominada masculina e machista, como apontado anteriormente neste trabalho.
Contudo para que haja uma resposta com maior exatidão é necessário um
aprofundamento maior no que envolve o público feminino da artista Beyoncé, suas
perspectivas e opiniões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Beyoncé é uma artista. É uma mulher negra em evidência sendo percebida em meio
a Indústria Fonográfica hoje não mais pela relação com o pai ou por ser esposa do rapper
Jay Z, ambos importantes nesse cenário. Ela é considerada uma das maiores artistas globais
no cenário musical, ela tem representatividade. Nem por isso, nem por representar tanto
poder em meio ao cenário artístico e musical ela foi preservada das consequências de estar
inserida em uma sociedade estabelecida por homens e em um ambiente de trabalho também
dominado por eles e isso pelo fato de ser mulher.
O feminismo inserido no discurso da artista pode ter sido percebido e exaltado nos
últimos trabalhos, porém antes mesmo dessas percepções acerca desses trabalhos ela já
tinha escrito e lançado outras músicas de teor tão empoderador quanto as em evidencia no
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momento. Beyoncé sendo uma personalidade forte dentro do cenário pop internacional
transmite informação através de um produto midiático que antes era proposto apenas como
mercadoria de consumo, tendo como único objetivo entreter os consumidores enquanto
enriquecia os grandes empresários.
As músicas, videoclipes e notícias que são vinculadas a ela são expostos em vários
países do mundo, as pessoas se interessam pelos produtos que a envolvem e pela
informação que ela dissemina. Portanto, uma mulher como Beyoncé expor que é feminista e
se propor a explicar o significado com sua música é bastante relevante. Por isso, a
compreensão midiática da artista para as questões de representatividade e marketing não
minimizam a importância da resistência dela a sociedade machista e racista.
Independentemente das mensagens em seus discursos ela vai abranger muitas
pessoas, vai gerar reconhecimento, da mesma forma vai desapontar alguns outros, fato é
que ela vai continuar faturando milhões seja cantando sobre amor ou sobre o
empoderamento feminino por ter se consolidado em meio ao cenário musical. Ela é
respeitada quando grita que as mulheres vão dominar o mundo, quando expõe para todos
que é feminista e quando em frente a milhões de telespectadores crítica a violência ainda
sofrida pelos negros, evidenciando também ser negra. Dessa maneira, ela representa as
mulheres brancas, as negras e as feministas. Ela se torna importante meio de
conscientização pois abrange problemas e questionamentos globalizados.
Sendo assim, este trabalho considera a partir das análises dos três singles e das
entrevistas realizadas com as fãs da artista Beyoncé, que a Indústria Cultural tem um papel
fundamental para que ocorram mudanças socioculturais em relação às mulheres,
evidenciando a partir deste trabalho ás mulheres negras.
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