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Vol. 1, nº 1, 2008. www.marilia.unesp.br/filogenese 194 A relação entre verdade e política em Foucault Felipe Luiz 1 PIBIC/CNPq Resumo: O Foucault genealogista (1970-1980) pensava o saber como uma relação de poder. A partir de uma interpretação e da metodologia nietzscheana, Foucault ligou, portanto, o campo do conhecimento ao campo político. Com isso, o filósofo deslocou-se tanto em relação a sua obra passada, arqueológica, como da maior parte da tradição filosófica ocidental. Nosso objetivo neste pequeno texto é detalhar o modo pelo qual o saber passa a integrar e a ser reconhecido, na obra de Foucault, como primordialmente político, e quais as relações que o poder político e o saber mantém entre si de um ponto de vista filosófico. Portanto, pensar a epistemologia política na obra de Foucault, ou as relações entre saber, poder e verdade. Palavras-chave: Foucault. Política da verdade. Poder-saber. Genealogia. De acordo com Foucault, para Nietzsche o conhecimento não tem uma origem, isto é, um fundamento originário (Ursprung) metafísico, mas foi inventado (Erfindung), fabricado, é um engenho humano, fruto da indústria de animais inteligentes. Sendo invenção, ele não é natural ao homem, não é um instinto; mais exatamente, o conhecimento seria fruto da batalha entre os instintos, como que resultado parcial da guerra entre os instintos, momento de trégua, estabilização temporária da luta entre as três paixões: rir, deplorar e odiar. Para compreendermos o conhecimento devemos parar de tê-lo como beatificado, como nobre, como solene, puro; é através dos políticos, da compreensão das relações de força, do jogo de interesses, de poder, de dominação que poderemos compreender o conhecimento. Portanto o que constitui o conhecimento é a luta entre três más relações, três relações que não respeitam, não aproximam, mas riem do objeto; que não o acolhem, mas deploram, lamentam-no; que não o amam, mas odeiam, buscam destruí-lo. O conhecimento seria uma relação de luta, uma violência contra a natureza, pois não seria natural à natureza ser conhecida; não é um direito, um privilégio do conhecimento conhecer: este força, luta contra, viola o objeto; não há afinidade entre o conhecimento e o objeto; não é um instinto, mas efeito da luta entre os instintos. Mais exatamente, o 1 Graduando em Filosofia da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília. [email protected] . Orientador: Profº. Dr. Ricardo Monteagudo.

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  • Vol. 1, n 1, 2008.

    www.marilia.unesp.br/filogenese 194

    A relao entre verdade e poltica em Foucault

    Felipe Luiz1 PIBIC/CNPq

    Resumo:

    O Foucault genealogista (1970-1980) pensava o saber como uma relao de poder. A partir de uma interpretao e da metodologia nietzscheana, Foucault ligou, portanto, o campo do conhecimento ao campo poltico. Com isso, o filsofo deslocou-se tanto em relao a sua obra passada, arqueolgica, como da maior parte da tradio filosfica ocidental. Nosso objetivo neste pequeno texto detalhar o modo pelo qual o saber passa a integrar e a ser reconhecido, na obra de Foucault, como primordialmente poltico, e quais as relaes que o poder poltico e o saber mantm entre si de um ponto de vista filosfico. Portanto, pensar a epistemologia poltica na obra de Foucault, ou as relaes entre saber, poder e verdade.

    Palavras-chave: Foucault. Poltica da verdade. Poder-saber. Genealogia.

    De acordo com Foucault, para Nietzsche o conhecimento no tem uma origem, isto , um fundamento originrio (Ursprung) metafsico, mas foi inventado (Erfindung), fabricado, um engenho humano, fruto da indstria de animais inteligentes. Sendo inveno, ele no natural ao homem, no um instinto; mais exatamente, o

    conhecimento seria fruto da batalha entre os instintos, como que resultado parcial da guerra entre os instintos, momento de trgua, estabilizao temporria da luta entre as trs paixes: rir, deplorar e odiar. Para compreendermos o conhecimento devemos parar de t-lo como beatificado, como nobre, como solene, puro; atravs dos polticos, da compreenso das relaes de fora, do jogo de interesses, de poder, de dominao que poderemos compreender o conhecimento. Portanto o que constitui o conhecimento a luta entre trs ms relaes, trs

    relaes que no respeitam, no aproximam, mas riem do objeto; que no o acolhem, mas deploram, lamentam-no; que no o amam, mas odeiam, buscam destru-lo. O conhecimento seria uma relao de luta, uma violncia contra a natureza, pois no seria natural natureza ser conhecida; no um direito, um privilgio do conhecimento conhecer: este fora, luta contra, viola o objeto; no h afinidade entre o conhecimento e o objeto; no um instinto, mas efeito da luta entre os instintos. Mais exatamente, o

    1 Graduando em Filosofia da Universidade Estadual Paulista UNESP Campus de Marlia.

    [email protected]. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Monteagudo.

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    conhecimento seria contra-instintivo e contra-natural; entre conhecimento e natureza ou

    instinto h violncia, duelo, queda de brao, luta de fora. ao mesmo tempo o que h de mais generalizante - pois solapa as diferenas - e o que h de mais particular - pois desenvolve-se como duelo, visto que relao de fora, maldade contra as coisas. No h essncia do conhecimento ou unidade do conhecimento ou condies universais do conhecimento. Fruto de relaes precrias, resultado parcial da luta que se desenvolve de maneira externa a si, o conhecimento seria, forosamente, mutvel; no h garantias de que o conhecimento no venha a se desfazer algum dia, pois efeito de superfcie, acontecimento, rearranjo temporrio. No h um sujeito soberano e uno, pois no existe continuidade entre conhecimento e instintos (como quer Aristteles por exemplo), mas luta: ou no h sujeito ou h sujeitos. No h conhecimento livre, independente, desinteressado: o conhecimento sempre subserviente, dependente, expresso de interesses; e interesses que no o seus, j que, efeito da luta de outrem, aos instintos e aos seus mandos, interesses, vontades que ele se subordina. Para que se d enquanto conhecimento da verdade, deve haver uma falsificao anterior que institui o verdadeiro e o falso, ou seja, a verdade efeito de uma oposio criada pelo conhecimento e que pode ser datada historicamente no Ocidente: a filosofia platnica. O saber se manifesta por meio do discurso, isto , do documento, seja escrito, seja falado. Na Ordem do discurso, eis a hiptese que consta:

    [...] em todas as sociedades a produo do discurso ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo nmero de procedimentos que tm por funo conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e terrvel materialidade. (FOUCAULT, 2005a, p. 9).

    Ou seja, o discurso, como o saber, no neutro, no desinteressado, mas est vinculado ao poder e ao desejo. O discurso no apenas manifesta ou esconde desejo, objeto desejo; no apenas descreve ou traduz as lutas e as dominaes: objeto de luta, luta-se para dominar o discurso. A ordem do discurso um regime ligado ao desejo e ao poder, que seleciona quais discursos, que controla a produo, circulao e aplicao do discurso. Dentre a diversidade de procedimentos por meio dos quais o discurso coagido, h uma que nos interessa particularmente, a vontade de verdade. Nossa vontade de saber regida e coagida por uma vontade de verdade que data do sculo VI a.C. Olhado por

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    dentro, um discurso verdadeiro ou falso no guarda semelhana com os demais procedimentos de excluso: no arbitrrio, tampouco tem aporte institucional; mas vista de fora, a vontade de verdade se mostra como um procedimento de excluso: histrico, arbitrrio e institucionalmente apoiado. Institucionalmente apoiado, pois, h os sistemas de livros, de edio, as bibliotecas, laboratrios, universidades, etc. Entretanto, o que reconduz a vontade de verdade , sobretudo, a maneira pela qual uma sociedade aplica o saber: formas de valorizao ou no, formas de distribuio de repartio, de atribuio. Desta forma que vontade de verdade mostra-se como sistema de coero: exerce, sobre os demais discursos, presso e poder de coero: os discursos buscam autorizar-se pelo discurso da verdade. H sculos que os dois outros procedimentos de excluso interdio, sujeio e rejeio se orientam no sentido da vontade de verdade: esta os toma, os modifica, os reorienta, ao passo que ela mesma se fortalece e se torna, mais e mais, incontornvel.

    Histrico, porque remete ao surgimento da filosofia platnica, separao entre poder e saber no Ocidente, ao fim do sofista e ao surgimento da distino verdadeiro / falso, que dar a forma geral de nossa vontade de saber. Na segunda conferncia de A verdade e as formas jurdicas, Foucault analisa essa questo por meio de uma leitura de uma famosa pea de teatro: o dipo-rei. Dentre diversas, uma interpretao dessa tragdia marca o Ocidente: a de Freud. Para o fundador da psicanlise, dipo seria representativo da estrutura universal do desejo. A criana, no desenvolvimento de sua sexualidade, desejaria a me e buscaria matar o pai, que a impede de realizar seu desejo. Essa estrutura me-pai-filho constituiria o complexo de dipo, verdade atemporal, verdade universal. dipo seria aquele que no sabe diferenciar me e esposa, pai e inimigo, que esquece seus atos: o homem do inconsciente. Em 1972 Deleuze e Guatari publicam O anti-dipo, onde fazem uma releitura do dipo e do complexo de dipo. Este, no seria o que a psicanlise quer, verdade apodtica do desejo, mas sim uma coao, limitao do desejo, preso a famlia e a estrutura familiar burguesa. Foucault: dipo um instrumento de poder, uma maneira de poder mdico e psicanaltico se exercer sobre o desejo e o inconsciente (FOUCAULT, 2005b, p. 30). Foucault, na esteira de Deleuze e Guatari, ler dipo-rei como uma histria de poder. No de desejo ou de intrigas familiar que trata a tragdia, de poder; o ttulo da pea no dipo-incestuoso ou dipo-parricida, mas rei. dipo quer salvar a cidade para manter-se rei, quer prender o

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    assassino de Laio, pois, o mesmo destino pode estar sendo-lhe reservado. tambm uma histria de pesquisa da verdade, e de como a verdade se voltar contra soberano.

    O ttulo da pea em grego Oidpous Basileus; compe o nome de dipo a palavra oidter visto e saber; basileus aquele que exerce poder. Para Freud,

    dipo seria o homem do inconsciente, que no sabia; pelo contrrio, dipo sabia demais e exercia o poder; por isso que ele cair. A pea foi escrita no sculo V a.C. Nessa poca, na Grcia, quem exercia o poder era o tirano. O peculiar ao tirano era, primeiro, a dissimetria da vida; dipo passara de beb condenado a filho do rei de Corinto, para ento tornar-se viajante e rei: vida assimtrica, desequilibrada. Segundo, o tirano tinha a capacidade de reerguer as cidades; dipo chega a uma Tebas atormentada pela Divina Cantora, vence-a, e reergue Tebas; Pricles fez o mesmo com Atenas, etc. Terceiro, o tirano aquele que junta poder e saber; mais propriamente, ele exerce o poder por ser sbio; ora, dipo torna-se rei aps vencer o duelo de charadas com a Esfinge. dipo se diz aquele que encontrou, ao se referir ao que fez resolvendo a charada da Esfinge; quanto aos novos problemas de Tebas, ele diz que precisa encontrar de novo. Encontrar, ele diz algo que se faz sozinho: saber solitrio, autocrtico, saber do tirano; ver , tambm, uma forma de encontrar: dipo, ter visto e saber; qual a punio de dipo? No , como a de Jocasta, a morte; dipo fura os olhos, expulso de Tebas, deixa de ver, de encontrar, de saber; deixa de ser basileus; rei; deixa de poder. dipo, que exercia um poder-saber, deixa de faz-lo; essa punio do tirano, deixar de poder e deixar de saber. assim que se separa saber e poder, e se cria o mito do poder obscuro, ignorante, em contrapartida ao adivinho, e aos filsofos sbios, o mito da antinomia entre saber e poder. Se h o saber, preciso que ele renuncie ao poder. Onde se encontra saber e cincia em sua verdade pura, no pode mais haver poder poltico (FOUCAULT, 2005b, p. 51). H algo mais. At o sculo VI, o discurso verdadeiro, na Grcia, era como que um direito, pronunciado em um ritual: discurso que profetizava, discurso que dizia o justo; a verdade residia na prpria enunciao, e no no contedo do enunciado. J no sculo V, h uma mudana, da enunciao, de quem diz e quando diz, para o prprio enunciado, para seu sentido, forma, seu objetivo sua relao sua referncia (FOUCAULT, 2005a, p. 15). A verdade passou de um direito de quem exerce o poder para um contedo discursivo. Separao entre saber (e verdade) e poder. Mudana que as prticas judicirias de pesquisa da verdade refletem. Na Ilada, Menelau e Antloco

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    pretendem disputar uma corrida at um marco e de volta ao ponto de partida; no marco h uma testemunha. Aps o fim, Menelau acusa Antloco de trapaa, que o outro nega; Menelau ento desafia Antloco a jurar por Zeus; diante disto, Antloco confessa a trapaa. A testemunha no invocada, embora ela tivesse visto tudo; o juramento vale como prova de verdade. O juramento uma forma comum tambm no Direito Germnico e no Direito Feudal. encarado como disputa, jogo de provas que tem valor de verdade. No dipo-rei h o juramento como forma de pesquisa da verdade: dipo jura encontrar o assassino de Laio, Creonte jura que no conspira contra dipo. Mas a forma principal de pesquisa judiciria da verdade a testemunha: dos escravos do Citero (que viu Laio entregar-lhe o beb dipo, que viu dipo matar Laio) e de Corinto (que viu o escravo do Citero entregar-lhe dipo e que o entregou a Polbio). Portanto, deslocamento da enunciao da verdade do nvel do juramento pelos deuses (nvel proftico-divino) para o nvel emprico cotidiano da gente comum, de quem v, dos escravos. Esta a grande conquista da democracia grega ao longo do sculo V. Este direito de opor uma verdade sem poder a um poder sem verdade deu lugar a uma srie de grandes formas culturais caractersticas da sociedade grega (FOUCAULT, 2005b, p. 54); desenvolvimento de formas racionais de exposio, prova e demonstrao da verdade (filosofia, sistemas cientficos), desenvolvimento da retrica como forma de expor e convencer e para a verdade; emergncia de novas formas de conhecimento: testemunho, lembrana, inqurito. Portanto, apario das condies de possibilidade do pensamento de Aristteles: saber naturalista, que inquire a natureza, que extrai a verdade das coisas. H ainda mais uma coisa: a eliso da realidade do discurso. Desde o enxotamento do sofista, o Ocidente fez o discurso diminuir de tamanho, elidiu sua realidade material de discurso, achatou-o:

    [...] parece que tomou cuidado para que o discurso aparecesse apenas como um certo aporte entre pensar e falar; seria um pensamento revestido de seus signos e tornado visvel pelas palavras, ou, inversamente, seriam as estruturas mesmas da lngua postas em jogo e produzindo um efeito de sentido. (FOUCAULT, 2005a, p. 46).

    Esse achatamento do discurso, com o correr dos anos, tomou formas diversas entre ns em temas diversos: o sujeito fundante, a experincia originria, a mediao universal; Descartes, fenomenologia, Hegel. Anulao do discurso, reduzido a signos,

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    ao campo do significante: escritura, leitura ou troca. Portanto, tripla separao: poder e saber, desejo e discurso, verdadeiro e falso. A primeira concernente ao mundo poltico-cultural, emergncia da Grcia Clssica. A segunda decorrente do pensamento platnico. A terceira decorrente da emergncia do povo que nos orgulhamos de, scio-culturalmente, descender. a partir da separao entre saber e poder e da distino - instituda pela filosofia platnica e pelo saber das testemunhas - entre verdadeiro e falso que nossa vontade de saber tomar a forma que tem at hoje; forma geral, que funcionou historicamente como procedimento de excluso do discurso. Passou por diversas mudanas durante os sculos que nos separam de Plato, de Aristteles, etc, mas no deixou, nunca, de funcionar como sistema de excluso, como atestam aqueles que ousaram opor-se a ela.

    Mas, por que se fala to pouco dessa vontade de verdade? Como vimos, desde os gregos, o discurso verdadeiro no corresponde, no pode corresponder ao desejo e ao poder; se a verdade no est em jogo, somente o desejo e o poder esto. A verdade no pode reconhecer que uma vontade a guia, portanto, mascara-a, e o faz de tal maneira, que a verdade aparece a ns como rica, fecunda, doce, universal. Por isso no a vemos como sistema de excluso. Este conceituar dar Foucault o subsdio terico para definir a verdade como conjunto das regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso e se atribui ao verdadeiro efeitos especficos de poder [...] conjunto de procedimentos regulados para a produo, a lei, a repartio, a circulao e o funcionamento dos enunciados (FOUCAULT, 2007b, p. 13-14). Ademais, Foucault nos diz de um regime de verdade, presente em todas as sociedades: discursos que funcionam como verdade, regras de enunciao da verdade, tcnicas de obteno da verdade, definio de um estatuto prprio daqueles que geram e definem a verdade; portanto ligao circular entre verdade e poder: poder que produz verdade e a sustenta, verdade que produz efeitos de poder: impossvel desvincular verdade e poder. Foucault tambm nos fala de uma economia poltica da verdade; este termo indica as maneiras, os procedimentos de troca, de mudana, de atribuio, de produo, de incitao, de cesso, de constituio da verdade. Cinco caractersticas dessa economia em nossas sociedades: o discurso cientfico e as instituies que o produzem centralizam a verdade; esta incitada constantemente pelos campos poltico e

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    econmico; h um grande consumo e uma grande difuso da verdade; h grandes aparelhos de produo e difuso da verdade: universidades, exrcito, escritura, mdia; por ltimo, ela objeto de debates polticos e confrontos sociais. Portanto, por trs de todo saber, de todo conhecimento, o que est em jogo uma luta de poder. O poder poltico no est ausente do saber, ele tramado com o saber (FOUCAULT, 2005b, p. 51). O discurso deve ser analisado em termos de estratgia, em termos de guerra, de poltica, de interesse, como objetivo e meio de luta, mesmo porque, na constituio mesma do conhecimento e, por conseguinte, do discurso, est numa relao de fora. Da mesma forma a verdade no existe fora das relaes de poder, pois ela mesma uma relao de poder, fruto de relaes de poder, exercendo efeitos de poder. A verdade no s faz integra as relaes de poder como, ela mesma, uma relao de poder. Nem saber nem discurso nem verdade so livres, desinteressadas: o interesse as funda. Tampouco se contrape ou so isentas de poder: o poder as constitui, as atravessa, e isso que garante seus efeitos. Foucault, simplificando, dir em Vigiar e punir que toda relao de poder constitui um campo correlato de saber e que toda relao de saber constitui um campo correlato de poder. Afirmaes duras para a maior parte do pensamento filosfico ocidental e que vo na contramo do Iluminismo movimento que, lembremos, o fundador da modernidade. A razo, longe de libertar os homens, os submete a intrincadas relaes de dominao; o saber, longe de ser o anteparo para os abusos polticos e o obscurantismo, , ele mesmo, uma relao de poder e de sujeio. Da concepo foucaultiana de saber extramos todas as conseqncias, exceto uma: a do sujeito. Desde Aristteles, o sujeito uma unidade: dos instintos ao saber mais alto, o sujeito se complementa, se fecha. O sujeito cartesiano, por exemplo; Descartes, aps definir o cogito, pergunta-se: o que uma coisa que pensa (res cogitans)? uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que no quer, que imagina tambm e que sente (DESCARTES, 1999, p. 262); unidade, complementao, que vai dos atos volitivos imaginao, do conhecimento aos sentimentos, aos instintos. Mas, se o conhecimento fruto da batalha entre os instintos, e se instintos e conhecimento lutam entre si, a unidade desfeita, o sujeito se desfaz: h sujeitos ou no h. Foucault dissolve o sujeito. Essa concepo refletir nas anlises do poder: grandes estratgias de dominao e de produo de efeitos que so sem sujeito. Alm disso, no correr da pesquisa Foucault dir que o prprio sujeito, que o prprio

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    indivduo fruto de relaes de dominao, efeito do poder. Se nosso objetivo esclarecer a epistemologia poltica em Foucault e como j dissemos de sua epistemologia, resta-nos adentrar em sua parte propriamente poltica: nas relaes de poder que se imiscuem, fundam e so fundadas pelo saber e pela verdade. Roberto Machado, na introduo da Microfsica do poder, diz que inexiste uma teoria do poder em Foucault. A concepo de poder deste filsofo parcial, pois, deriva de pesquisas especficas: a constituio da priso, as relaes entre sexo e verdade, o aparato psiquitrico. Deve-se somar a isso o fato de que no h uma coisa, com estatuto ontolgico prprio, que se chama poder em Foucault: no existe, diz Machado,

    [...] o poder como uma realidade que ele [Foucault] procuraria definir por suas caractersticas universais. No existe algo unitrio e global chamado poder, mas unicamente formas dspares, heterogneas, em constante transformao. (FOUCAULT, 2007b, p. X).

    O poder s existe em ato, s existe enquanto relao exercida ou que se exerce j. Alm disso, a prpria concepo de saber de Foucault impediria uma teoria do poder: o saber que sempre parcial, sempre a se fazer, resultado temporrio da batalha. Tambm o objetivo de Foucault no constituir uma teoria ou cincia do poder; a genealogia busca, sobretudo, as relaes entre poder e saber em campos especficos e a anlise da ao e constituio de relaes de poder nesses campos. As anlises de Foucault so sempre fragmentrias, sempre a se fazer. Mas Foucault trabalhou com uma concepo de poder que se repetiu ao longo da pesquisa genealgica. E isto no deriva de uma teoria unitria e global do poder, mas de uma concepo metolgica, de um modelo de anlise, que Foucault chama, em alguns momentos, de esquema guerra-represso, em outros, e mais constantemente, de modelo de Nietzsche, ou de modelo da guerra ou da batalha ou de estratgico, ou, ainda, da luta. O que vale notar que a partir dos postulados desse modelo podemos dizer que h sim uma teoria de poder em Foucault: definio de mtodos de ao do poder em locais heterogneos (escola, priso, oficina, clnica, asilo, campo discursivo, etc.), pesquisas de dinastia do poder poltico (como se constituiu as relaes de poder nesses locais, a que interesses respondiam, sua maneira de ao), os saberes que se constituram a partir de ou constituram esse poder, a ao conjunta de saber-poder, etc. E procedendo desse modo,

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    Foucault no deixa de observar o que Machado define. Portanto, podemos dizer que h uma teoria do poder em Foucault, se com isso compreendermos que os modelos analticos e a genealogia impuseram, enquanto resultado prtico, efetivo das pesquisas, uma concepo do poder que constante nas obras do segundo Foucault. Dito isto, cabe agora levantar o que esse modelo de Nietzsche (e a quais modelos ele se ope) e, mais detalhadamente, indicar como se o poder pode gerar saber. No curso preciso defender a sociedade, Foucault expor o seu modelo de anlise das relaes de poder. Como aqui nos importa levantar o conceito de poder em Foucault, no entraremos nos meandros da questo, indo direto ao que nos interessa: o modelo da guerra. O esquema da guerra-represso consta, neste curso, como a tentativa de Foucault constituir anlises do poder fora do liberalismo e do marxismo. Estas concepes h sculos fundamentam as anlises do poder no Ocidente e, por isso mesmo, alm dele h pouca coisa a ser dita; primeiro, negar o poder enquanto forma-mercadoria (que se vende, troca, aliena), pois s existe em ato; segundo, que seu objetivo fundamental no reconduzir relaes econmicas, mas, sim, estabelecer relaes de fora. Assim, Foucault frmula a hiptese de Nietzsche: se o poder relao de fora, o melhor modelo de anlise no outro que o da guerra. famosa proposio do estrategista prussiano Clausewitz: a guerra a poltica continuada por outros meios, Foucault emenda: a poltica (le pouvoir) a guerra, a guerra continuada por outros meios (FOUCAULT, 1999, p. 22). As anlises pelo esquema da guerra devem fundamentar-se em: 1. tcnicas de dominao: mostrar quais as tcnicas de sujeio, de dominao e de fabricao dos sujeitos; 2. heterogeneidade das tcnicas de dominao: mostrar como os agentes operadores da dominao se apiam uns nos outros ou se negam em suas especificidades, em suma, mostrar que a dominao no um todo homogneo, mas mltiplo, lquido, que pode se virar contra si; 3. efeitos de dominao: procurar as tcnicas de dominao em suas condies de possibilidade, isto , no que as garante enquanto tcnicas de dominao. Da hiptese de Nietzsche, h concluses a extrair: primeiro, sendo guerra, as relaes de poder de nossas sociedades se formaram em determinado momento histrico na e pela guerra e a poltica seria a sano e a reconduo do desequilbrio das foras manifestado na guerra (FOUCAULT, 1999, p. 23); segundo, se poltica a continuao da guerra, sob a aparente paz, a guerra continua, guerra silenciosa, mas

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    que no cessa: as lutas pelo com e do poder so manifestaes da guerra, em suma, tudo que no est em guerra, continua a guerra; por ltimo, se a guerra funda o poder poltico, a guerra o fim do poder poltico: a guerra das guerras, guerra ltima. H outro ponto interessante: se fala-se em batalha, luta, afrontamento, preciso que algum lute contra algum; ora, se h luta entre algum, h tambm sujeitos, um n terico, que, ao que tudo indica, Foucault no desatou. Quem luta contra quem? Todos contra todos, guerra de todos contra todos. Mas no confundamos com Hobbes, pois para este o estado, a soberania, a sociedade, surgem como maneira de acabar com a guerra; para Foucault o estado e a sociedade surgem como formas de perpetuar a guerra, indicam que algum venceu, mesmo que temporariamente a guerra; so efeitos da dominao, como que para assegur-la.

    Do esquema guerra-represso, este ltimo termo duramente criticado por Foucault; por isso falamos somente em modelo da guerra ou de Nietzsche. J exposto este modelo, devemos agora buscar o que viria a ser esse poder que no represso, mas que produz; esse poder que no centralizado, mas disperso; esse poder que, longe de ser somente estatal, se confronta, por vezes com esse estado; esse sub-poder, que se dispe em rede; desse poder que no se detm em lugar nenhum, mas investe o que h de mais nfimo e mais fundamental em uma sociedade: o corpo. Outra mudana refere-se ao regime poltico do corpo; o Absolutismo tratava o corpo comum, corpo das gentes, como algo a ser castigado ou expurgado, algo que deve ficar annimo em benefcio do corpo que deve aparecer, o do monarca. A maior parte das punies era a nvel corporal: o suplcio, marcaes com ferro, aoitamento. Regime poltico de visibilidade do corpo que vai do mais alto ao mais baixo, isto , quanto mais importante -se politicamente, mais o corpo deve aparecer. A partir do final do sculo XVIII at 1840 (data da inaugurao da colnia penal para crianas de Mettray) cada vez se insinuar no Ocidente um outro regime poltico do corpo, com vastos reflexos penais. Com efeito, o corpo deixar de ser aquilo que deve ser punido castigado, aoitado, marcado, linchado; em 1789, dir Mably: que o castigo, se assim posso me exprimir, fira mais a alma que o corpo (FOUCAULT, 2006, p. 18); da todo o humanismo das penas corretivas, da recuperao dos presos. O corpo ser valorizado, trabalhado e investido a fim de se produzi-lo enquanto corpo politicamente dcil e economicamente til. Para tanto o poder passar a investir o corpo atravs de uma tcnica: a disciplina.

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    A disciplina uma tecnologia poltica do corpo. Pelos meios mais diversos ela se inscreve diretamente nos indivduos, forjando-os. Por exemplo, a arquitetura e o projeto do panptico de Bentham:

    [...] a moral reformada; a sade preservada; a indstria revigorada; a instruo difundida; os encargos pblicos aliviados; a economia assentada, como deve ser, sobre uma rocha; o n grdio da Lei sobre os Pobres no cortado, mas desfeito tudo por uma simples idia arquitetnica. (2000, p. 15).

    Ou a disciplina manifestada no campo do saber: preocupaes com o onanismo infantil, com a pureza da raa, da espcie, com o sexo, com a educao, com a pureza social, com a loucura e a razo, com os comportamentos, com os movimentos. Assim,

    constituio da medicina social, da medicina sanitria, da psiquiatria, da psicologia, da sociologia, da criminologia, da sexologia. Portanto, infiltrao da disciplina na sociedade: escola, hospital, asilo, fbrica, exrcito, reparties pblicas, na priso. Concebida como um modelo arquitetnico para as prises, a idia do panoptismo bem simples: em um edifcio circular, as celas ocupam a circunferncia; no centro, uma torre de vigilncia; no h, entre os presos, comunicao, pois as celas so individuais; cada cela possui duas entradas, a janela e as grades, de maneira a garantir que esteja sempre iluminada; na torre de vigilncia, um guarda que pode, simplesmente virando o pescoo, ver todas as celas, ao passo que das celas os presos no podem ver se esto, de fato sendo vigiados, graas a um jogo de venezianas da torre; a sensao s uma nos presos: esto sempre me vigiando, no h como escapar ou o que fazer seno cooperar. Sem coero fsica, sem fora, sem suplcios que duram horas, sem carrascos ou sangue, o preso termina por se comportar, por se entregar a sua

    conscincia, saindo, da, inteiramente reformado. Era este o projeto de Bentham e o objetivo da mquina panptica. Nessa pequena idia, nesse pequeno princpio, Foucault enxergar uma nova forma de poder terrvel, o panoptismo:

    [...] o panoptismo uma forma de poder que repousa no mais sobre o inqurito mas sobre algo totalmente diferente que eu chamaria de exame [...] Vigilncia permanente sobre os indivduos por algum que exerce sobre eles um poder [...] e enquanto exerce esse poder tem a possibilita tanto de vigiar quanto de constituir, sobre aqueles que vigia, a respeito deles, um saber que deve determinar se um individuo se conduz ou no

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    como deve, conforme ou no regra, se progride ou no, etc... [...] ele [o saber] se ordena em torno da norma, em termos do que normal ou no, correto ou no, do que se deve ou no fazer. (2005b, p. 87-88).

    E mais: O trplice aspecto do panoptismo vigilncia, controle e correo parece ser uma dimenso fundamental e caracterstica das relaes de poder que existem em nossa sociedade (FOUCAULT, 2005b, p. 103). Um poder que se exerce sobre o corpo; que vigia os indivduos; que busca control-los; corrigi-los de acordo com a norma. Certamente bem diverso das representaes jurdicas ou repressivas que sempre se fez do poder. Pelas suas caractersticas, no pode tampouco ser identificado com o estado, pois est abaixo deste; tampouco pode ser reduzido a mente dos homens, como algo representado, aceitado e/ou interiorizado; um sub-poder ou um micropoder, espalhado pela rede social, que vai at o corpo dos homens, que investe esse corpo, que controla, que produz. Seu imperativo um s: como fazer do tempo e do corpo dos homens, da vida dos homens, algo que seja fora produtiva? (FOUCAULT, 2005b, p. 122). Esse exerccio de poder vir acompanhado de um saber do corpo que no a cincia de seu funcionamento (FOUCAULT, 2006, p. 26), mas que ser o embrio desse conhecimento, dessas cincias to confusas para ns e que tanta dificuldade Foucault teve para enquadr-las em seu triedro dos saberes em As palavras e as coisas, e que o Ocidente nomeou de cincias humanas: temos que deixar de descrever sempre os efeitos do poder em termos negativos: ele 'exclui', 'reprime', 'recalca', 'censura', 'abstrai', 'mascara', 'esconde'. Na verdade, o poder produz; ele produz realidade, produz campos de objetos e rituais de verdade. O individuo e o conhecimento que dele pode se ter se originam nessa produo (FOUCAULT, 2006, p. 161). O poder uma relao de fora, que tem como objetivo a dominao e o controle. Sua ao no somente repressiva, mas produtiva: produz individualidades, efeitos, corpos, saber, verdade, realidades, sujeitos. Foi Heidegger que disse que aquilo que mais se d o que menos se v; por ser to quotidiano, esse poder o que se esconde melhor, pois naturalizado; no est tambm, evidentemente, nesta coisa surgida depois da Revoluo Francesa, que ns chamamos de vida poltica. Nas sociedades contempornea as relaes de poder, a ao do poder, vai at a menor parte de uma sociedade, o corpo dos indivduos que a compe a fim de trabalh-lo, adestr-lo portanto, materialidade das relaes de poder; a fim de alcanar esses corpos dispersos,

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    mltiplos e heterogneos, o poder constitui grandes tticas e estratgias e as pem a funcionar atravs de aparelhos, de discursos, de instituies, de dispositivos; intrnseco a esses aparatos, o poder vai fundo no corpo social, se enraza e passa a combater para consumar a dominao; luta mvel contra as pequenas ou grandes resistncias, pois no se detm, e, luta astuciosa, busca usar as vitrias do adversrio a seu favor. A estratgia, enquanto categoria para se pensar o poder, deriva diretamente do modelo da guerra. A constituio da priso como forma privilegiada de pena estratgia do poder disciplinar, bem como o internamento dos loucos, a medicalizao da loucura, a universalizao do ensino, etc. Portanto, poder-luta que afronta, submete, domina, prende, censura, mas que se vale no s desses meios na guerra; poder que mede as melhores solues, que, cuidadosamente, pensa como dominar, como consolidar sua dominao, como aument-la, que busca fazer da resistncia do adversrio arma contra ele; que elabora tticas, que as rene em estratgias globais, que, diante do inesperado, busca us-lo a seu favor. Eis a epistemologia poltica, obviamente em linhas gerais; eis como verdade e poder se relacionam e relacionaram, seja com aquela gerando poder, no campo discursivo, atravs de mecanismos restritivos de produo e circulao do discurso, seja com o poder, por meio de estratgias, mecanismos e ao disciplinar, justificando-se por meio da verdade e dando a ela efetividade e materialidade plena, naquilo que Foucault chamou efeitos de verdade: verdade-poder se aplicando sobre o mundo. Da mesma forma, o exame, que constitui a disciplina, no s liberou epistemologicamente as cincias humanas, como serviu e serve de justificativa e motivo para uma srie de aes do poder, como a eugenia, a represso e deslocamento das classes perigosas, a submisso dos no-sexualmente saudveis, e toda uma srie de atos que, por si s, justificariam, cada um, uma pesquisa. No entanto, no isso que aqui nos cabe e, por crermos ter atingido nosso fim, encerramos nosso texto.

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