felicidade não tem idade - jornal balaio

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Matéria feita por Thalita Vitoreli para a edição do Jornal laboratório do curso de Comunicação Social, Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina

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Page 1: Felicidade não tem idade - Jornal Balaio
Page 2: Felicidade não tem idade - Jornal Balaio

Felicidade não tem idade!Felicidade não tem idade!As agradáveis surpresas que a terceira idade reserva para quem quer, de fato, vivê-la intensamente

A velhice é um estado de espírito, um sinal para os registros: o homem é tão velho quanto ele sente ser. Não é porque já não se tem a mesma vitalidade que é preciso entregar os pontos. A vida acaba para quem permite à alma enrugar-se

ThaliTa ViToreliE eis que a velhice bateu à porta: o corpo can-

sou, a vista enfraqueceu, os passinhos estão len-tos. A pergunta que muitas vezes surge: será que a vida acabou? A resposta vem com uma frase do escritor francês Michel de Montaigne: “Que a velhice não nos surpreenda com mais rugas na alma do que no corpo”. Em outras palavras, a terceira idade reserva possibilidades para quem de fato quer aproveitá-la com intensidade, como mais uma parte da vida e não como o final dela.

Segundo o Médico especialista em geriatria, Marcos Cabrera, para se ter uma velhice feliz “é preciso manter uma atividade física, mental, afetiva e espiritual constantes”. Além disso, ele acredita que é necessário aceitar a chegada da terceira idade como uma fase natural do desen-volvimento humano.

Naide Maria Pasqualino tem 72 anos e seguiu o conselho de Cabrera. É um exemplo de mu-lher que não parou só porque a velhice chegou: canta, vai à igreja, faz alongamento, artesanato, acessa a internet... “Faço de tudo um pouco, não tô morta”, diz ela.

Cabrera acredita que o estilo de vida interfere 51% na longevidade e enfatiza a importância do cuidado que o idoso deve ter com essa questão: “os estilos de vida que tem interferências bio-lógicas são a prática de exercícios, alimentação balanceada, não fumar, não beber em excesso. E a longevidade também recebe influência do esti-lo de vida não biológico, a capacidade afetiva, o envolvimento psíquico do indivíduo com a vida, a dedicação que ele tem ao trabalho e à felicida-de” exemplifica.

E é cuidando do tal do estilo de vida que Dona Naide permanece a todo vapor. Ela, que já tem o seu perfil no Orkut e agora quer aprender a mexer com e-mail e MSN, tem freqüentado

semanalmente aulas de informática: “agente tem que aprender coisas no-vas, diferentes” diz. Além da informática, freqüenta um grupo de atividades físicas. Juntamente com mais 50 senho-ras ela faz uma hora de exercícios e segundo o professor Álvaro José Gon-çalves Neto, que é quem ministra as aulas, Dona Naide “é participativa e animada...uma mulher alto astral”. Para completar, aprendeu a fazer artesanato com meia fina e além de passar o tempo e se distrair ainda ganha um dinheiri-nho extra.

Nem tudo são flores...Naide tem uma vida e uma velhice tranqüi-

las: uma pensão razoável, casa própria, plano de saúde e boa alimentação. Situação bem diferen-te de José Dias: com 415 reais de aposentadoria, mora há 30 anos em um bairro pobre da cidade, depende da saúde pública e nem sempre tem aquela “mistura” sobre a mesa. A vida e a velhi-ce dele são bem mais difíceis, mas nem por isso sua felicidade foi impedida.

Dias tem 71 anos de idade e 32 de retireiro: “trabalhar de capataz de fazenda e lidar com bi-cho não é fácil, é um serviço perigoso e cansa-tivo”, diz ele que, já criou 10 filhos. Ele trocou a fazenda pela cidade e apesar de aposentado trabalha diariamente pegando papel na rua para complementar o orçamento.

Aparentemente, Dias tinha tudo para recla-mar da vida e viver ressentido. Mas não é isso que ele faz. Muito pelo contrário: “se eu mor-resse amanhã eu morria feliz. Agradeço a Deus pela idade que eu tenho e tem gente que nem esse salarinho tem”, diz, com a experiência de quem convive com a miséria e os miseráveis

O geriatra Cabrera acredita que não é so-mente a condição financeira que influencia a terceira idade: “o dinheiro resolve uma questão, mas a pessoa tem que ter vínculo afetivo, amor próprio”. É por isso que a psicóloga e docente da Unifil Alba Maria Mattos Costa acredita que a visão que o idoso tem de sua vida é algo ex-tremamente importante: “ele precisa aprender a ver com bons olhos, aprender a resignificar e dar valor às pequenas coisas, às coisas do dia a dia. É preciso ter bom humor pra enfrentar a terceira idade”.

E é seguindo esses conselhos que persona-gens tão diferentes como Naide e Dias nos mos-tram que a felicidade não tem idade.

Dona Naide: (ao lado) se exercitando durante as aulas de alongamento

que participa frequentemente. Ela também é adepta aos sites de

relacionamentos (acima)

Serviço:Disque Idoso Paraná: 0800-410001

Secretaria Municipal do Idoso: 3372-4502Serviço de Psicologia da Unifil: 3375-7551

O que o Estado e você têm haver com isso?

O que o Estado e você têm haver com isso?

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Page 3: Felicidade não tem idade - Jornal Balaio

Maria: nome que indica serenidade, vontade de viver. Quem conhece Maria Sales Ferreira, uma senhora de 104 anos, há de concordar. Uma mulher de pele clara e dona de um olhar amoroso. Risada quietinha e constante. Um exemplo para quem quer envelhecer feliz e saudável.

Dona Maria, nasceu em 15 de novembro de 1905 em uma fazenda em Minas Gerais, onde também passou toda sua infância. Quando ainda era estudante encontrou Vinicius – aquele que seria seu futuro esposo: “ele estudava lá...eu estudava cá”, diz ela sorridente. Depois que se formaram eles logo se casaram e tiveram quatro filhos.

Vinícius trabalhava em um banco e em 1951 veio para Londrina ad-ministrar uma filial. Aqui, Dona Maria teve uma vida feliz: criou os filhos, viu os netos crescerem, construiu seu lar. Mas há 10 anos enfrentou um momento difícil: a morte do esposo. Maria entristeceu-se, mas reagiu e resolveu continuar a caminhada que dura até hoje.

Algum segredo?É incrível ver como essa senhora ainda permanece lúcida e ativa. Ad-

mirada eu pergunto: Qual é o segredo Dona Maria? Ela diz que sua vida só faz sentido porque se sente útil: “faço as coisas que eu quero, como e tomo banho sozinha”. Para aproveitar o tempo, ela pinta, cuida de suas orquídeas e assiste televisão. Além disso, Maria é vaidosa: brincos nas orelhas, unhas pintadas e cuidados com a pele.

No que diz respeito à alimentação e à saúde, Maria garante: “eu como muita verdura e legumes e tomo muito leite. Antigamente, bebia um pouco de uísque, mas não fumava e caminhava um pouco”.

Atitudes simples: uma vida sem grandes excessos, nem proibições que garantiram a Maria uma velhice saudável. Atualmente ela não toma nenhum remédio e tem pressão de jovem.

Hoje, quem cuida de Maria é a sua filha Márcia. É visível o amor e cumplicidade entre elas. Para a filha a mãe é uma “graça de Deus, uma fortaleza”. Segundo Márcia, ela não dá trabalho e tem algumas me-recidas regalias: “ganho café na cama todo dia, acredita?”, diz Maria. Márcia já emenda uma resposta, “ela merece isso e muito mais!”.

Quando pergunto quantos anos ainda quer viver, Maria responde: “eu nem penso nisso minha filha, já estava no tempo de ir né, mas....”. Esse mas dito por Maria é sintetizado pelo que falou Seneca – há quase dois mil anos atrás, mas ainda atual para quem a conhece – “Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a . Ela é abundante em prazeres se sou-beres amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres”. Prazeres estes que Maria experimenta desde 1904 até...

Felicidade não tem idade!Felicidade não tem idade!Dona Maria cuida de suas belas orquídeas todos os dias

O terceiro artigo do Estatuto do Idoso diz que: “É obrigação da família, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso a efetivação do direito à vida, à saú-de, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.

Portanto, a responsabilidade pelos idosos é tanto nossa, quanto do governo. Não podemos apenas criticar o Poder Público, nem tão pouco eximi-lo de suas obrigações, mas não devemos esquecer que é também nosso dever zelar pe-los idosos e buscar o cumprimento dos seus direitos.

Segundo a Secretária Municipal do Idoso, Cristina da Silva, aproximadamente 46 mil pessoas maiores de 60 anos moram em Londrina. Cristina afirma que para dar conta de um número tão elevado, a Secretaria Municipal do Idoso trabalha de forma integrada: “as políticas publi-cas voltadas para o idoso tem que estar em cada uma das políticas segmentadas como educação, saúde, lazer...”.

De acordo com Cristina, o município tem dado ênfase

no trabalho com o idoso: “No que se refere à proteção social básica, atuamos através do Bolsa Idoso, do Projeto Geração e AtivaIdade. Em relação à proteção social es-pecial, o município tem auxiliado as instituições de longa permanência e atendido o idoso em situação de risco”.

Mas como foi dito anteriormente, atitudes no plano individual também são necessárias. Segundo a psicóloga Josilene Schimiti “as famílias, os jovens e os profissionais da área precisam mudar a forma de ver o idoso. É preciso haver uma humanização, manter esse idoso na família e fazer com que ele dê e receba amor”. Além disso, Josile-ne enfatiza: “Nós precisamos respeitar suas limitações e valorizar sua vasta experiência”.

Para o geriatra Marcos Cabrera, a sociedade precisa se conscientizar mais com a causa do idoso: “precisamos realmente discutir mais a questão do mercado de tra-balho, o acesso aos bens públicos, ao lazer. Um dia fica-remos velhos e seremos tratados da mesma forma que tratamos os idosos durante a nossa juventude”.

Fotos:Thalita Vitoreli

Desde 1904...Desde 1904...

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